ii universidade federal do rio de janeiro instituto de química

121
ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química Departamento de Química Analítica Programa de Pós Graduação em Química Área de Concentração: Química de Resíduos AVALIAÇÃO DA SOLUBILIDADEM EM LÍQUIDO PULMONAR SIMULADO DOS METAIS PRESENTES NO REJEITO GERADO POR UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA DE ZINCO Rosilda Maria Gomes de Lima Tese submetida ao corpo docente do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de DOUTOR EM CIÊNCIAS. IQ/UFRJ Rio de Janeiro, RJ Brasil 2012

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Page 1: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

ii

Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química Departamento de Química Analítica Programa de Pós Graduação em Química Área de Concentração: Química de Resíduos

AVALIAÇÃO DA SOLUBILIDADEM EM LÍQUIDO PULMONAR SIMULADO DOS METAIS PRESENTES NO REJEITO GERADO POR UMA INDÚSTRIA

METALÚRGICA DE ZINCO

Rosilda Maria Gomes de Lima

Tese submetida ao corpo docente do Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de DOUTOR EM CIÊNCIAS.

IQ/UFRJ

Rio de Janeiro, RJ – Brasil

2012

Page 2: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

iii

Page 3: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

iv

Este trabalho foi realizado sob a orientação dos Professores Dr. Júlio Carlos Afonso, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Dra. Kenya Moore de Almeida S. D. Cunha, do Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Novo México.

Page 4: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

v

Existe somente uma idade para a gente ser feliz,

somente uma época na vida de cada pessoa

em que é possível sonhar e fazer planos

e ter energia bastante para realizá-los

a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida

e viver apaixonadamente

e desfrutar tudo com toda intensidade

sem medo nem culpa de sentir prazer.

Fase dourada

em que a gente pode criar e recriar a vida

à nossa própria imagem e semelhança

e vestir-se com todas as cores

e experimentar todos os sabores

e entregar-se a todos os amores

sem preconceito, nem pudor.

Tempo de entusiasmo e coragem

em que todo desafio é mais um convite à luta

que a gente enfrenta

com toda disposição de tentar algo novo,

de novo e de novo,

e quantas vezes for preciso.

Essa idade tão fugaz na vida da gente

chama-se PRESENTE.

(autor desconhecido)

Page 5: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo que consegui até aqui e, com sua benção, ainda

conseguirei.

Aos meus pais Isaac Gomes de Lima e Maria Paula de Lima, pela minha

existência, que tanto contribuíram, com muito sacrifício, pela minha educação e pelo

meu caráter.

Ao meu grande amigo Reginaldo José Farias da Silva, pela dedicação e afeto.

Ao meu muito querido orientador e grande amigo Prof. Júlio Carlos Afonso.

A Luana Gomes Carneiro, bióloga e bolsista de doutorado da CNEN/IRD e a

Dra. Maristela Santos da CNEN/IRD, que com sua inestimável ajuda no

levantamento dos dados experimentais tornou possível à realização desta tese.

A Professora Kenya Dias da Cunha, coorientadora e idealizadora desta tese.

A aluna Stella Salin da PUC-Rio, pela ajuda na irradiação das amostras no

acelerador Van der Graarf.

Ao José Luis Mantovano, Valdir Gante e ao Cláudio Vianna pelas análises por

fluorescência de raios x.

Em especial, ao Prof. Jari Nóbrega Cardoso, do IQ/UFRJ, exemplo de

professor e figura humana que sempre considerei como grande mestre, pelos

momentos excepcionais que passamos na etapa de obtenção dos créditos.

As bibliotecárias do Instituto de Engenharia Nuclear, Luana Sales e Maria

Bernarda Teixeira Duarte pela inestimável ajuda na obtenção dos artigos científicos

para referência neste estudo.

Page 6: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

vii

Ao Instituto de Engenharia Nuclear pelo apoio a este trabalho.

Agradeço, enfim, a todos aqueles que colaboraram direta ou indiretamente

para a realização deste trabalho.

Page 7: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

viii

RESUMO

de LIMA, Rosilda Maria Gomes. AVALIAÇÃO DA SOLUBILIDADE EM LÍQUIDO

PULMONAR SIMULADO DOS METAIS PRESENTES NO REJEITO GERADO POR

UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA DE ZINCO. Orientadores: Prof. Dr. Julio Carlos

Afonso e Kenya Moore de Almeida Silva Dias da Cunha. Rio de Janeiro: UFRJ/IQ,

2012. Tese (Doutorado em Química)

O presente estudo avalia a solubilidade em líquido pulmonar simulado de

partículas de metais geradas pela ação do intemperismo sobre o rejeito sólido

estocado a céu aberto, pertencente a Cia Mercantil Ingá, localizada na Ilha da

Madeira, Baia de Sepetiba, Rio de Janeiro. Amostras de bioindicadores

transportados para a região e coletados alguns meses depois indicaram que os

habitantes da Ilha da Madeira tem estado expostos a elementos-traços como zinco,

cádmio, mercúrio e chumbo, produzidos no processamento industrial dos minérios

hemimorfita e willemita para obtenção de lingotes de zinco.

Ensaios de solubilidade do rejeito sólido em líquido pulmonar simulado (LPS)

numa base temporal variando de 10 minutos a 1 ano e determinadas

quantitativamente por PIXE (Particle Induced X Ray Emission), comprovam que os

habitantes podem estar contaminados com estas substâncias. Os parâmetros

específicos de solubilidade obtidos nos estudos experimentais para os metais Zn,

Cd, Cr, Ni e Mn presentes na fração de dissolução rápida no líquido pulmonar

simulado foram 0,945; 0,473; 0,226; 0,3 e 0,497 respectivamente, e os tempos de

seus respectivos valores de meia vida de dissolução para a fração rápida foram fr =

2,082 dias; fr = 0,09 dias; fr = 0,37 dias; fr = 0,332 dias e fr = 0,99 dias e para a fração

de dissolução lenta foram fr = 146,95 dias; fr = 63 dias; fr = 86,64 dias; fr = 79,66 dias

e fr = 59,84 dias. Esses valores indicam que esses metais apresentam uma absorção

moderada no líquido pulmonar simulado e podem ser classificados como tipo M,

conforme orientação da Comissão Internacional de Proteção Radiológica (ICRP). O

uso dos parâmetros de solubilidades permitiu uma representação mais realista do

comportamento cinético da escória dentro do corpo humano e, consequentemente,

uma avaliação mais realista de risco do trabalhador devido à inalação de aerossóis

contendos os metais Zn, Cd, Cr, Ni e Mn.

Page 8: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

ix

ABSTRACT

de LIMA, Rosilda Maria Gomes. EVALUATION OF SOLUBILITY IN SIMULATED

LUNG FLUID OF METALS PRESENT IN THE SLUDGE FROM A METALLURGICAL

INDUSTRY TO PROEDUCE METALLIC ZINC. Advisors: Prof. Dr. Julio Carlos

Afonso and Kenya Moore Almeida Silva Dias da Cunha. Rio de Janeiro: UFRJ/IQ,

2012. (D.Sc. in Chemistry)

The objective of this study was to determine the solubility parameters (rapid and

slow dissolution rates, rapid and slow dissolution fractions) metal particles present in

a pile of sludge accumulated under exposure to weathering from the Cia Mercantil

Ingá, located at the Ilha da Madeira, Sepetiba Bay, Rio de Janeiro. Plant samples

collected in the neighboring of the pile and bioindicators placed in the region and

collected after some months indicated that the inhabitants of Ilha da Madeira have

been exposed to trace elements such zinc, cadmium, mercury and lead, produced

during the processing of zinc minerals (hemimorphite - Zn4(OH)2Si2O7.H2O, and

willemite - Zn2SiO4).

A static dissolution test in vitro was used to determine the solubility

parameters using a simulated lung fluid (SLF), on a time basis ranging from 10 min to

1 year. The metal concentrations in the sludge samples and in the SLF were

determined using Particle Induced X-rays Emission (PIXE). In conclusion, this study

confirms the harmful effects on the neighboring population of the airborne particles

containing these metals that came from the sludge. The solubility parameters

obtained for Zn, Cd, Cr, Ni and Mn present in the rapid dissolution fraction in SLF

were 0.945; 0.473; 0.226; 0.300 and 0.497, respectively, and the corresponding

times for half life of dissolution of the rapid fraction were fr = 2.082 days; fr = 0.09

days; fr = 0.37 days; fr = 0.332 days ad fr = 0.99 days; for the slow dissolution fraction

times were fr = 146.95 days; fr = 63 days; fr = 86.64 days; fr = 79.66 days and fr =

59.84 days. These values indicate that these metals present a moderate absorption

level in SLF, and may be classified as M type, according to the International

Commission on Radiological Protection (ICRP). The use of solubility parameters

allowed a better description of the kinetic behaviour of the sludge in the human body

and, therefore, a better evaluation of the worker’s risk du to inhalation of airbone

particles containing Zn, Cd, Cr, Ni and Mn.

Page 9: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

x

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 16

1.1 – Objetivo 19

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

20

2.1 – Comportamento biocinético de materiais particulados 22

2.2 – Modelo pulmonar sugerido na publicação 66 da Comissão

Internacional de Proteção Radiológica

24

2.2.1 – Modelos de deposição 25

2.2.2 – Mecanismos de liberação 26

2.3 – Medidas in vitro de taxa de dissolução 28

2.4 – Líquido pulmonar simulado (LPS) 30

2.4.1 – Fatores que afetam os testes de solubilidade em LPS 32

2.5 – Bioindicadores 32

2.5.1 – Biomonitoramento com plantas superiores 34

2.5.2 – Tillandsia Usneoides L. 35

2.6 – A área de estudo 37

2.7 – A Cia Mercantil e Industrial Ingá 38

2.8 – Processamento dos minérios de zinco da Cia Mercantil e Industrial

Ingá

39

2.9 – Principais elementos no passivo da Cia Mercantil e Industrial Ingá e

suas implicações ambientais e na saúde humana

43

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS 50

3.1 – Origem das amostras 50

3.2 – Amostras utilizadas nos ensaios de solubilidade em LPS 51

3.3 – Preparação do líquido pulmonar simulado 52

3.4 – Preparação das amostras e realização dos ensaios em LPS 52

3.5 – Determinação da solubilidade 56

3.6 – Exposição da Tillandsia Usneoides 57

3.7 – Técnicas analíticas 60

3.7.1 – Preparação das amostras de Tillandsia Usneoides 60

Page 10: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

xi

3.7.2 – Preparação das amostras solubilizadas em LPS 61

3.8 – Metodologias baseadas na radiação x 61

3.8.1 – Fluorescência de raios x por dispersão de energia (EDXRF) 62

3.8.2 – PIXE 63

3.8.3 – Difração de raios x (DRX) 73

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 73

4.1 – Análise química dos rejeitos 73

4.2 – Análise das amostras de bioindicadores 78

4.3 – Caracterização das amostras utilizadas nos ensaios de solubilidade 79

4.4 – Testes de solubilidade in vitro 83

4.4.1 – Análise dos metais no líquido pulmonar simulado (LPS) 83

4.4.2 – Determinação dos parâmetros de solubilidade 86

4.2.3 – Determinação dos valores dos parâmetros de dissolução 89

CONCLUSÕES 96

REFERÊNCIAS 98

APÊNDICE A 121

APÊNDICE B 122

Page 11: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

xii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Principais tipos de deposição de partículas no sistema

respiratório

23

Figura 2 - Modelo pulmonar ICRP 66 25

Figura 3 - Rotas de liberação de partículas no trato respiratório 26

Figura 4 - Modelo de transporte de partículas – ICRP 66 27

Figura 5 - Tillandsia Usneoide L. 36

Figura 6 - Vista panorâmica do porto de Itaguaí 37

Figura 7 - Vista aérea da Ilha da Madeira 38

Figura 8 - Vista do passivo ambiental da Cia Ingá 39

Figura 9 - Processo hidrometalúrgico para obtenção de zinco utilizado na

Cia Ingá

42

Figura 10 - Amostras de diferentes colorações recolhidas na pilha de

rejeitos

51

Figura 11 - Esquema mostrando os pontos de coleta das amostras 51

Figura 12 - Amostras coletadas nas diferentes fatias da pilha de rejeitos 52

Figura 13 - Esquema simplificado do arranjo experimental para o estudo in

vitro

55

Figura 14 - Arranjo experimental utilizados nos ensaios de solubilidade 56

Figura 15 - Tillandsia Usneoides em seu habitat no Sítio da Baleia 58

Figura 16 - Coleta de amostras de Tillandsia Usneoides 59

Figura 17 - Pontos de exposição da Tillandsia Usneoides 59

Figura 18 - Esquema simplificado do processo de emissão de raios x por

fluorescência

62

Figura 19 - Vista frontal do equipamento de raios x SHIMATZU 800 HS 63

Figura 20 - Esquema simplificado do processo de emissão de raios x

induzidos por prótons – PIXE

64

Page 12: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

xiii

Figura 21 - Esquema simplificado do arranjo experimental utilizado no

PIXE

65

Figura 22 - Arranjo experimental da linha do PIXE no acelerador Van der

Graaff

66

Figura 23 - Curva de eficiência absoluta do detector de raios x 70

Figura 24 - Curva do limite de detecção do método PIXE para elementos

leves

71

Figura 25 - Curva do limite de detecção do método PIXE para elementos

pesados

71

Figura 26 - Concentração relativa dos elementos presentes nas amostras

de diferentes colorações coletadas na pilha de rejeitos da Ingá.

73

Figura 27 - Espectro por fluorescência de raios x dos elementos pesados

presentes na pilha de rejeitos

74

Figura 28 - Espectro por fluorescência de raios x dos elementos leves

presentes na pilha de rejeitos

75

Figura 29 - Difratograma do resíduo branco. Os picos correspondem a

Fe2O3 (A), CaSO4 (B) e CaSO4.1/2 H2O (C).

77

Figura 30 - Difratograma do resíduo preto. Os picos correspondem a Fe2O3

(A) e SiO2 (B).

77

Figura 31 - Difratograma do resíduo vermelho. Os picos correspondem a

Fe2O3 (A) e ZnSO4.H2O (B).

77

Figura 32 - Elementos encontrados na tillandsia usneoide após 40 dias de

exposição absorvendo os aerossóis da área de estocagem de

rejeitos.

79

Figura 33 - Elementos encontrados nas fatias da pilha de resíduos 80

Figura 34 - Concentração dos elementos presentes na amostra usada nos

ensaios de solubilidade em LPS

82

Figura 35 - Concentração de metais do LPS 85

Figura 36 - Comportamento dos elementos solubilizados em LPS

provenientes do resíduo da Cia. Mercantil e Industrial Ingá

85

Figura 37 - Curva de solubilidade da massa de zinco acumulada dissolvida 86

Page 13: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

xiv

em LPS

Figura 38 - Curva de solubilidade da massa de cádmio acumulada

dissolvida em LPS

87

Figura 39 - Curva de solubilidade da massa de manganês acumulada

dissolvida em LPS

87

Figura 40 - Curva de solubilidade da massa de cromo acumulada

dissolvida em LPS

88

Figura 41 - Curva de solubilidade da massa de níquel acumulada

dissolvida em LPS

88

Figura 42 - DRX do resíduo combinado 90

Page 14: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

xv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Composição iônica do líquido pulmonar simulado (LPS) e

intersticial humano

54

Tabela 2 Teor dos elementos presentes nas amostras utilizadas nos

ensaios de solubilidade

81

Tabela 3 Concentração acumulada de elementos no LPS 84

Tabela 4 Parâmetros de solubilidade determinados para zinco, níquel,

cromo, cádmio e manganês presentes no resíduo

89

Tabela 5 Valores de meia-vida para as taxas de dissolução rápida e

lenta

89

Tabela 6 Dados de solubilidade para sulfatos anidros e hidratados de

Zn, Cd, Cr, Ni e Mn

91

Page 15: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

16

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

Com o advento da revolução industrial, na Inglaterra, por volta de 1800, o

meio ambiente passou a ser mais exposto a resíduos e substâncias tóxicas

decorrentes dessa nova era econômica. Essencialmente, os resíduos são

subprodutos da crescente demanda por insumos e bens diversos produzidos pelas

indústrias. Os problemas causados pelos resíduos, em sua maior parte dispostos no

meio ambiente sem tratamento adequado, impactam de forma adversa os diferentes

ecossistemas naturais.

A aceleração, a partir do final da II Guerra Mundial, do desenvolvimento

industrial e do crescimento urbano desordenado foi acompanhada de um

substancial aumento da poluição ambiental, fazendo com que, nas últimas décadas,

a sociedade viesse a se preocupar de forma mais efetiva em avaliar e controlar os

riscos devido à exposição a compostos orgânicos, metais pesados e radionuclídeos

naturais para seres humanos e o meio ambiente (Roser et al, 1962; Costa Ribeiro et

al., 1975; Carvalho et al., 1988; Dias da Cunha et al., 1998a, 1998b; Dias da Cunha

et al., 2000; Mafra et al., 1991; Chen Xing-Na et al., 1993; Narayana et al., 1995;

Papastefanou, 1996; Wang et al., 1996; Azeredo, 1998).

Os metais ocorrem naturalmente na crosta terrestre nos mais variados teores

sem que, em geral, causem danos ambientais ou ao ser humano, por estarem na

forma de compostos insolúveis e relativamente estáveis nos ambientes em que se

encontram. No entanto, quando um metal se concentra a partir de determinados

níveis pode haver danos à flora e fauna (incluindo seres humanos).

Este fato pode ocorrer devido a processos antrópicos ou naturais

(vulcanismo, erosões causadas por ventos, água, etc.). Os processos naturais como

a lixiviação e o transporte de aerossóis são os principais responsáveis pela

dispersão dos elementos no meio ambiente (Hinds, 1982).

A presença de poluentes de origem antrópica (oriundos das atividades

humanas) já foi identificada em regiões remotas do planeta, como na Antártica,

onde se observou partículas contendo cromo, níquel, cobre, zinco, vanádio e

chumbo na fração fina de aerossóis (Artaxo et al,1992; Dalia, 2002) e depositadas

em camadas de gelo (Dias da Cunha et al, 2004).

Page 16: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

17

Dentre as fontes de poluição antrópica se destacam os processos industriais,

o uso de fungicidas e pesticidas e a queima de combustíveis fósseis. Dentre os

diversos setores da economia que geram resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, as

mineradoras, são as que mais têm contribuído para o aumento da poluição

ambiental. Os processos de extração e beneficiamento de minérios e estocagem de

resíduos produzem efluentes que podem ser dispersos para o meio ambiente e,

quando inalados e/ou ingeridos por trabalhadores e/ou pela população local podem

causar sérios danos à saúde. A rigor a principal causa do aumento da exposição de

populações a metais é o beneficiamento de minérios contendo esses elementos,

seguido pelas indústrias que os processam para obtenção dos mesmos ou de seus

compostos (Pulford et al, 2009; Mackenzie et al, 2002; Macklin et al, 2006).

O comportamento de metais como zinco, chumbo, cádmio, mercúrio, arsênio,

cromo e vanádio no meio ambiente e em seres humanos vem sendo largamente

estudado (Pfeiffer, 1989; Lacerda et al, 1993; Lacerda et al, 1997; Peters et al,

1997; Guimarães et al, 1999; de Matos et al, 2000; Machado et al, 2001). No

entanto, poucos são os dados disponíveis sobre a solubilidade destes metais no

trato respiratório. É raro, também, estudos de efeitos combinados de elementos

metálicos, quaisquer que sejam, no meio ambiente e na saúde humana.

O comportamento das substâncias tóxicas no meio ambiente e os efeitos sobre

o ser humano estão associados às características do meio em que se encontram, às

concentrações e às propriedades físico-químicas dos elementos (Apostolli, 1998). As

principais vias de contaminação do ser humano são a inalação e a ingestão. O efeito

da exposição do ser humano ao metal depende também das características

fisiológicas do indivíduo.

Na interação dos metais com os organismos vivos podem-se distinguir duas

fases principais: fase toxicocinética (metabolismo) e fase toxicodinâmica (efeito).

O comportamento biocinético dos metais no corpo humano é função de

parâmetros fisiológicos, bioquímicos e físico-químicos. Após a inalação ou ingestão do

metal, seu comportamento no organismo é influenciado pelas reações químicas que

ocorrem nas diferentes partes do corpo humano, sendo as mesmas dependentes da

especiação do elemento introduzido no organismo. A idade, as condições de saúde e

hábitos alimentares do indivíduo influenciam no processo de absorção dos metais.

Para avaliar os riscos devidos à inalação de partículas contendo metais, é

necessário determinar o tamanho das mesmas (o que determina o local de deposição

Page 17: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

18

da partícula no trato respiratório), a concentração e a cinética das partículas ao

penetrarem no trato respiratório (ICRP, 1979). A forma química determina a

solubilidade da partícula no líquido pulmonar e o comportamento biocinético do

elemento (Watson, 1983; Snipes, 1994; ICRP, 1994). O comportamento biocinético

das partículas pode ser simulado levando em consideração suas propriedades físicas

e as propriedades morfológicas e fisiológicas do trato respiratório (Lippmann et al,

1969; Lippmann, 1970; Barnes, 1971; Morgan et al., 1983; ICRP, 1994).

Uma vez depositadas no trato respiratório, as partículas são removidas por

dois mecanismos de depuração: a remoção mecânica e a dissolução. O processo de

depuração por dissolução-absorção é aquele no qual ocorre a dissociação dos

constituintes da partícula, fenômeno esse que depende de sua composição química

(Watson, 1983; Snipes, 1994; ICRP, 1994). As partículas inaladas podem também ser

removidas do trato respiratório superior por remoção mecânica graças a movimentos

ciliares; desse modo, elas são deglutidas e transferidas para o trato gastrointestinal.

Uma outra possível fonte de contaminação é a ingestão de alimentos. A

absorção de metais pelos alimentos pode ocorrer devido à contaminação do solo ou à

deposição de partículas nos alimentos durante o cultivo, estocagem ou preparo.

Desse modo, a ingestão de alimentos deve ser considerada na avaliação do risco,

pois os metais podem ser introduzidos através do trato gastrointestinal. Como na

inalação, o comportamento biocinético dos elementos dependerá de parâmetros

físicos, químicos e biológicos, estudos realizados sugerem que os compostos dos

elementos presentes nas partículas do aerossol diferem daqueles encontrados nos

alimentos, onde já foram metabolizados pelas plantas ou animais, podendo estar em

uma forma mais solúvel do que nas partículas do aerossol (Cooper, 1985). A

população dos Estados Unidos ingere, em média, 100 mg/dia de solo através da

inalação, ingestão de alimentos ou água contaminados por partículas transportadas

pelo ar (Linsalata et al., 1986).

Os dados existentes na literatura sobre o comportamento biocinético dos

metais baseiam-se em estudos com voluntários, vítimas de acidentes e principalmente

com animais, sendo a especiação dos elementos determinada através de medidas

indiretas (Harrison et al., 2001). Estes estudos mostram que a análise de amostras de

fluidos biológicos de indivíduos expostos fornece importantes informações sobre o

comportamento dos metais. A excreção fecal caracteriza a incorporação via ingestão

enquanto que a excreção urinária caracteriza a incorporação sistêmica.

Page 18: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

19

OBJETIVOS

O objetivo deste estudo é a determinação da solubilidade em líquido

pulmonar simulado de partículas geradas pela ação do intemperismo natural sobre

o rejeito sólido estocado a céu aberto pertencente uma indústria de produção de

lingotes de zinco e cádmio, localizada na Ilha da Madeira, Baia de Sepetiba, Estado

do Rio de Janeiro. Essa empresa, cuja falência foi decretada em 1998, tinha como

principal atividade a produção de zinco de alta pureza e cádmio. Seus estoques de

resíduos, acumulados durante mais de 30 anos, contaminaram e ainda ameaçam e

fragilizam o equilíbrio ecológico da Baía de Sepetiba.

Objetivos específicos

Identificar e quantificar os metais presentes na pilha de resíduos;

Determinar a presença de metais e outros elementos na atmosfera da região

próxima ao entorno da pilha de rejeitos com o auxílio de bioindicadores.

Determinar a solubilidade dos metais presentes, principalmente Zn e Cd, em

líquido pulmonar simulado (LPS) variando a base temporal entre 10 min e

360 dias.

Page 19: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

20

CAPÍTULO 2

REVISÃO DA LITERATURA

Os processos associados à mineração são fontes de geração de partículas em

suspensão que se dispersam no ar, expondo os trabalhadores e as populações

próximas a essas indústrias ao risco de inalação e ingestão desses particulados.

Partículas sólidas e líquidas em suspensão no ar são definidas como

aerossóis. O tamanho destas partículas pode variar de 0,001 a 100 μm (Hinds,

1982). O transporte de partículas exerce um papel importante em nosso

ecossistema. A fertilização de diversas espécies de plantas ocorre através do

transporte de pólen, porém os aerossóis também são responsáveis pelo transporte

de vírus, bactérias, fungos e, principalmente de partículas de poluentes. As fontes

geradoras de aerossóis podem ser naturais, como o solo, a evaporação de águas de

rios, lagos e oceanos, processos de respiração das plantas e fenômenos naturais,

como erupção de vulcões, dentre outros. Dentre as fontes antrópicas, destacam-se

os processos industriais, como a mineração, os processos de beneficiamento, a

siderurgia, a liberação dos gases emitidos pela queima de combustível nos veículos

automotores e as queimadas nas áreas rurais.

As partículas de aerossóis podem ser transportadas por longas distâncias

através das correntes atmosféricas, influenciando na qualidade do ar e nas

condições climáticas locais, regionais e/ou globais. A intensidade desses efeitos vai

depender das propriedades físicas e químicas do aerossol (Bowen, 1973).

Os aerossóis também podem ser classificados em primários e secundários.

Os aerossóis primários são aqueles formados por partículas provenientes

diretamente da fonte, enquanto os aerossóis secundários são formados por

partículas ou aglomerados resultantes de reações químicas que ocorrem na

atmosfera (Seinfeld, 1986).

As partículas transportadas pelo ar possuem tamanhos, forma, composição

química e propriedades ópticas diferentes dependendo do processo de geração. A

determinação da distribuição dos tamanhos das partículas requer o emprego de

técnicas específicas para cada faixa de tamanho. Esta medida é importante em

diversos estudos, como o efeito do particulado nas mudanças climáticas ou na

avaliação do risco devido à inalação das partículas (Seinfeld, 1986).

Page 20: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

21

A via respiratória é a via de maior importância para toxicologia ocupacional. A

grande maioria das intoxicações ocupacionais é decorrente da aspiração de

substâncias contidas no ar ambiental. A área da superfície pulmonar total é de

aproximadamente 90 m2, a superfície alveolar de 50 a 100 m2, e o total de área

capilar é cerca de 140 m2. O fluxo sanguíneo contínuo exerce uma ação de

dissolução muito eficaz e muitos agentes químicos podem ser absorvidos

rapidamente a partir dos pulmões. Os agentes passíveis de sofrerem absorção

pulmonar são os gases, vapores e os aerossóis. Essas substâncias poderão sofrer

absorção, tanto nas vias aéreas superiores, quanto nos alvéolos. Geralmente, não é

dada muita atenção à absorção destes compostos nas vias aéreas superiores.

Deve-se considerar, no entanto, que, muitas vezes, a substância pode ser absorvida

na mucosa nasal, evitando sua penetração até os alvéolos. A retenção parcial ou

total dos agentes no trato respiratório superior está ligada à hidrossolubilidade da

substância. Quanto maior a sua solubilidade em água, maior será a tendência de ser

retido no local. Visto sob este ângulo, a umidade constante das mucosas que

revestem estas vias constitui um fator favorável. Há, no entanto, a possibilidade da

ocorrência de hidrólise química, originando compostos nocivos, tanto para as vias

aéreas superiores, quanto para os alvéolos. Isto é importante porque os produtos

formados, além dos efeitos irritantes, favorecem também a absorção deles ou de

outros agentes pela mucosa já lesada. Assim, nem sempre, a retenção de gases e

vapores nas vias aéreas superiores é sinônimo de proteção contra eventuais efeitos

tóxicos.

A determinação da solubilidade de compostos no trato respiratório é um

parâmetro muito importante na avaliação dos efeitos tóxicos desses compostos. Os

estudos de dissolução de compostos via inalação podem ser realizados in vitro e in

vivo. Os ensaios in vivo leva a uma série de questões conflitantes de ordem

científica, ética, legislativa, humanitária e econômica. Por exemplo, a utilização de

animais, para estudos de identificação de perigos potenciais de produtos químicos,

exige várias regulamentações que se destinam a proteger os animais de laboratório

de dor desnecessária, angústia, sofrimento ou dano duradouro (Sabbioni e Balls,

1995).

Page 21: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

22

Os ensaios in vitro vem despertando um crescente interesse no estudo da

toxicologia dos metais. Eles podem oferecer uma base mais mecanicista para a

compreensão de efeitos tóxicos sistêmicos de órgãos em nível celular e molecular

(Sabbioni e Balls, 1995).

2.1 - Comportamento biocinético de materiais particulados

Para avaliar os riscos devido à incorporação de partículas é necessário

determinar as taxas de deposição, a concentração e a cinética dessas partículas ao

penetrarem no trato respiratório (Barnes, 1971; Cooke, 1974; Morgan et al., 1983;

Lippmann et al., 1969; Lippmann, 1970).

As partículas inaladas são depositadas no tecido pulmonar como resultado de

processos físicos, anatômicos e fisiológicos, que podem ocorrer durante qualquer

parte do ciclo respiratório. Entre os fatores que afetam a deposição, destacam-se o

diâmetro aerodinâmico, a forma, a higroscopicidade e a carga elétrica da partícula.

Os fatores físicos determinam a extensão da sedimentação, impactação, difusão e

precipitação eletrostática das partículas depositadas. A anatomia e a geometria do

trato respiratório são importantes fatores biológicos que determinam os principais

sítios de deposição. A deposição ocorre durante a inspiração, mas também pode

ocorrer durante a expiração (WH0, 2001).

As taxas de deposição das partículas variam de acordo com vários fatores,

dentre eles: idade, condições de respiração, volume respirado e se a respiração é oral

ou nasal. Devido às características de seletividade do trato respiratório, as partículas

com diâmetros aerodinâmicos entre 3 e 4 μm são depositadas, preferencialmente, nas

vias aéreas superiores e na região traqueobronquial. As partículas com diâmetro

aerodinâmico abaixo de 2,5 μm são depositadas, preferencialmente, na região

pulmonar (Task Group, 1966, Lippmann et al., 1969; Lippmann, 1970). A deposição

de partículas nessa região não é aleatória, sendo influenciada por fatores físicos.

Existem três mecanismos principais de deposição das partículas inaladas no

trato respiratório como se observa na Figura 1: impactação, sedimentação e difusão

(Lima, 2008; Heyder, 2004). Os mecanismos de deposição de partículas por

impactação e sedimentação predominam para partículas com diâmetros

aerodinâmicos iguais ou maiores que 0,1 m.

Page 22: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

23

Figura 1: Principais tipos de deposição de partículas no sistema respiratório:

difusão, difusão-sedimentação e sedimentação-impactação.

O risco devido à incorporação de metais pode ser estimado através de

modelos matemáticos que representam o comportamento metabólico do metal.

Usualmente, esses modelos matemáticos são desenvolvidos considerando o tipo de

incorporação, a concentração do metal, e a forma química do elemento, e em casos

de inalação, a solubilidade do metal no pulmão. A interpretação dos dados de

bioanálise constitui uma forma de avaliar a incorporação de metais por seres

humanos. Os modelos biocinéticos permitem avaliar as concentrações presentes

nos órgãos e as frações excretadas pelas fezes e urina em função do tempo. Estes

modelos biocinéticos foram desenvolvidos pela Comissão Internacional de Proteção

Radiológica (ICRP) para descrever o comportamento dos elementos (radioativos ou

não) e seus compostos no corpo humano.

O modelo proposto pela publicação nº 30 da ICRP (ICRP 30, 1979), é um

modelo geral que descreve o corpo humano dividindo-o em compartimentos, que

representam os órgãos e tecidos. Após a incorporação do radionuclídeo, metal ou

composto que pode ocorrer através do trato respiratório (inalação), do trato

gastrintestinal (ingestão) ou através da pele (absorção), uma fração é transferida

para o sangue e outros fluidos biológicos, caracterizando uma incorporação

sistêmica, podendo se depositar temporariamente em vários compartimentos até ser

eliminado pela urina, fezes ou suor. Os parâmetros deste modelo estão baseados no

Homem de referência (Apêndice A), descrito em detalhes na publicação no 23 (ICRP

23, 1975).

Diâmetro de particulas (µm)

Dep

osi

ção t

ota

l

Difusão Difusão

Sedimentação

Sedimentação

Impactação

Page 23: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

24

A publicação nº 30 da ICRP (ICRP 30, 1979) considera três modelagens que

simulam, respectivamente: sistema respiratório, que compreende as regiões naso-

faringeal, traqueo-bronquial, pulmonar e linfática; o sistema gastrintestinal, formado

pelos compartimentos do estômago, intestino delgado, intestino grosso superior e

intestino grosso inferior; e o sistêmico que leva em consideração a distribuição e a

retenção de radionuclídeos nos órgãos e tecidos do corpo, após a entrada dos

compostos químicos no sangue. As três modelagens juntas representam a retenção

e distribuição de compostos químicos no corpo. (Pereira, 2006).

Os modelos sistêmicos propostos pela publicação nº 30 da ICRP, são

modelos simples, unidirecionais e não consideram a recirculação. Uma vez

incorporado, seja por inalação ou ingestão, uma fração do radionuclídeo é

transferida para o sangue e distribuída para os órgãos de preferencial deposição e

para a excreção. A disponibilidade de informações sobre a anatomia e fisiologia do

trato respiratório e também sobre deposição, liberação e efeitos biológicos causadas

pelas partículas radioativas depositadas no pulmão, mostrou que a publicação nº 30

da ICRP deveria ser revisada (Pereira, 2006).

2.2 - Modelo pulmonar proposto na publicação 66 da International

Commission on Radiological Protection – ICRP

O modelo proposto na publicação supracitada (ICRP, 1994) leva em

consideração informações sobre a deposição e retenção de material particulado

entre 0,6 nm e 100 m, distribuição e absorção de gases inalados, mecanismos de

liberação mecânica, influência do fumo, poluentes no ar e doenças do trato

respiratório. Faz considerações para diferentes faixas etárias (recém-nascido, 1 ano,

5 anos, 10 anos, 15 anos e indivíduo adulto), sexo e é aplicável, tanto para inalação

de gases, quanto de particulados. O modelo divide o trato respiratório em duas

regiões principais (Figura 2): extratorácica e torácica. A região extratorácica é

composta pelas passagens respiratórias: anterior (nariz) e posteriores (laringe,

faringe e boca).

Page 24: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

25

Erro!

Figura 2: Modelo pulmonar proposto na ICRP 66

2.2.1 – Modelos de deposição

O modelo de deposição avalia a fração de um determinado aerossol que se

deposita em cada região do trato respiratório para todos os tamanhos de interesse

prático (0,6 nm – 100 µm). Para a região extratorácica (ET), as medidas de eficiência

de deposição estão relacionadas ao tamanho do particulado e ao fluxo de ar inalado,

e são classificadas por dimensões anatômicas para permitir a avaliação da

deposição em diferentes grupos (sexo, idade e etnia). Para a região torácica (figura

2), um modelo teórico de transporte de gases e deposição de partículas é usado

para calcular a deposição nas regiões bronquial (BB), bronquiolar (bb) e alveolar (AI)

e quantificar os efeitos do tamanho dos pulmões dos indivíduos e a taxa de

respiração. No modelo de deposição de partículas, as regiões são tratadas como

uma série de filtros, durante a inalação e a exalação, e a eficiência é avaliada,

Page 25: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

26

considerando que propriedades aerodinâmicas e termodinâmicas do aerossol atuam

de maneira competitiva. Os parâmetros de deposição são estabelecidos para quatro

níveis distintos de atividade: dormindo, sentado, sob exercício leve e sob exercício

pesado.

2.2.2 - Mecanismos de liberação

As rotas de liberação de partículas no trato respiratório são apresentadas na

Figura 3. Assume-se que as partículas depositadas na passagem nasal (ET1) são

removidas por meios extrínsecos, como o assoar do nariz. Em outras regiões os

mecanismos de liberação competem entre si, são eles: o transporte de partículas

para o trato gastrointestinal e para os nódulos linfáticos (liberação mecânica) e a

absorção no sangue.

Figura 3: Rotas de liberação de partículas no trato respiratório

O modelo assume que a taxa de transporte de partículas é a mesma para

qualquer material inalado, de acordo com o modelo de compartimentos que

descreve o transporte de qualquer material no trato respiratório, conforme

apresentado na Figura 4. Nesse modelo, o material que se deposita em (ET1) é

liberado para o meio ambiente. Na região (ET2), o material que chega, em sua maior

parte, é liberado rapidamente para o trato gastrointestinal e uma pequena fração

(0,05%) fica retida nas suas paredes (ETseq). Na região torácica, o material é

depositado nas regiões bronquial (BB) e bronquiolar (bb) e removido pelo movimento

mucociliar. A deposição na região AI foi dividida em três compartimentos,

assumindo-se 30% em AI1, 60% em AI2 e 10% em AI3. Os processos de liberação

mecânica das partículas são responsáveis pelo transporte superficial, que

representa o processo rápido de remoção mucociliar para o sistema gastrintestinal,

Page 26: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

27

proveniente das regiões bronquial e bronquiolar e um processo de remoção mais

lenta proveniente da região AI. Esses transportes mecânicos de liberação competem

com a absorção do material pelo sangue.

Figura 4: Modelo de transporte de partículas pelos compartimentos (ICRP, 1994)

O processo de absorção dos compostos pelo sangue é composto de dois

estágios, dependentes do tempo. O primeiro estágio é a absorção das partículas que

já estão dissolvidas (fase rápida) e o segundo é a absorção pelo sangue das

partículas que são progressivamente dissociadas e dissolvidas. De acordo com o

grau de absorção pelos fluidos corporais, os compostos podem ser classificados em:

Tipo F (rápido) – compostos que são prontamente absorvidos pelo sangue.

Há uma significativa absorção na região ET2, a parte mais interna da região

extratoráxica, e na região BB. Parte do material inalado permanecerá no

muco até ser deglutido e não será absorvido pelo epitélio. Para tais

compostos a ICRP considera que, na ausência de dados experimentais

específicos, a taxa de dissolução rápida é Sr = 100 d-1 (t1/2 »10 minutos).

Tipo M (moderado) – compostos com taxa intermediária de absorção. Para

tais compostos o percentual rapidamente absorvido é na ordem de 10%, e o

tempo de retenção na fase lenta é da ordem de 100 dias. Isto é representado

pela fração dissolvida rapidamente por fr = 0,1; Sr = 100 d-1; e a taxa de

dissolução então é Ss = 0,0005 d-1.

Tipo S (lento) – compostos relativamente insolúveis. A ICRP assume que,

para esse tipo de composto, a fração absorvida na fase rápida é igual a 0,1%.

Page 27: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

28

Para os 99,9% restantes a taxa de absorção para o sangue é 0,0001 d -1. Isto

é representado por fr = 0,001; Sr = 100 d-1; Ss = 0,0001 d-1.

A fase rápida é observada imediatamente após a inalação, quando o

composto é considerado insolúvel (tipo S) uma significante fração é absorvida

lentamente como resultado da ligação com componentes do trato respiratório (ICRP

66, 1994). A fração prontamente absorvida do composto é denominada fr e a taxa

de dissolução na fase rápida é Sr. A fração remanescente (1 - fr) dissolve mais

lentamente com a taxa Ss.

Baseado no que foi descrito, a avaliação da exposição a partículas que possam

conter substâncias tóxicas exige a determinação das taxas em que os materiais são

transferidos para o sangue, o tempo de retenção, e o tempo de depuração no trato

respiratório e o tempo de meia vida de dissolução. O modelo matemático adotado

pela ICRP para representar a distrubuição do metal após a incorporação via inalação

considera a solubilidade dos compostos no fluido pulmonar. O cálculo do risco

devido à inalação é necessário para classificar os compostos como de rápida,

moderada ou lenta dissolução no pulmão (ICRP, 2002).

A dissolução do material pode ser afetada pela natureza da partícula e do

solvente, bem como da forma de contato entre o soluto e o solvente. As

propriedades químicas dos cátions e dos anions constituintes do material particulado

são os fatores que mais afetam a solubilidade. As propriedades texturais que afetam

a dissolução do material incluem a área superficial especifica e a forma cristalina do

mesmo. Ainda deve ser considerado no estudo de solubilidade o pH do meio em que

se encontra a partícula (Moss et al., 1980).

A taxa de dissolução no líquido pulmonar de um elemento ou composto

determina a fração deste que será absorvida em um intervalo de tempo. Nos

estudos sobre a toxicologia de um elemento ou substância esta taxa determina a

fração inalada que estará disponível para absorção sistêmica.

2.3 - Medidas in vitro de taxa de dissolução

Os estudos sobre a taxa de dissolução são multidisciplinares e podem ser in

vitro ou in vivo. Os estudos in vitro simulam as condições de absorção em laboratório

enquanto que em estudos in vivo utilizam cobaias.

Page 28: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

29

A taxa de dissolução no trato respiratório de diferentes metais vem sendo

estudada e os fatores que afetam essas taxas, como temperatura, pH, granulometria

da amostra, foram publicadas por Kanapilly et al. (1973), Moss et al. (1980), Eidson

et al. (1989, 1994) e Cubster et al. (1994).

Testes in vitro são frequentemente utilizados como um método de seleção

para a classificação dos materiais de acordo com suas solubilidades, e os resultados

são utilizados para formular modelos na hipótese de os dados de dissolução in vivo

ainda não estarem disponíveis.

Os testes in vitro utilizam soluções simuladoras dos fluidos corporais, como o

Líquido Pulmonar Simulado (LPS), para estimar a taxa de dissolução e a fração do

material que é dissolvida de acordo com o tempo de contato com o LPS. Para a

situação de monitoramento ocupacional, principalmente onde um grande número de

amostras deve ser analisada, os testes in vitro produz ótimos resultados quando o

objetivo é determinar a fração rapidamente solúvel (fr) para o composto de interesse.

(Stradling, 1995).

Existem diversos métodos, entre os quais se destacam:

Método estático

Nesse sistema, que é considerado de mais fácil implementação (Ansoborlo et

al., 1998), a amostra é colocada em um recipiente no qual a solução pode passar

pelas paredes e as partículas ficam retidas. O recipiente poroso é imerso em um

outro maior contendo uma solução; após determinados intervalos de tempo

determina-se a parte dissolvida numa solução oriunda da amostra. Um meio filtrante

muito usado é o do tipo filtro sanduíche (Kanapilly et al., 1973; Eidson e Mewhinney,

1981; Dennis et al., 1982; Cubster et al., 1994; Ansoborlo, 1998). Segundo Stradling

et al. (1989; 1996), filtros do recipiente poroso tem porosidade de 0,1 m.

Membranas de polipropileno promovem a exposição das duas faces dos filtros à

amostra de um lado e à solução do outro.

Método batelada

Neste método a amostra é agitada com a solução à temperatura controlada

em intervalos de tempo pré-selecionados. Após esse procedimento a solução é

Page 29: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

30

separada e analisada. A suspensão é filtrada (Kalkwarf, 1983; Ansoborlo et al.,

1989). Uma alternativa é a centrifugação da mistura, sendo a solução sobrenadante

analisada (Dennis et al., 1982). Nesse teste há um contato direto entre o material e a

solução. Este método é facilmente implementado em análise de rotina.

Método dinâmico (flow–through)

Nesse sistema a solução passa através de uma membrana filtrante onde a

alíquota para análise é coletada de tempos em tempos (Kanapilly e Goh, 1973;

Kanapilly et al., 1973; Cooke e Holt, 1974; Kalkwarf, 1983; Allen et al., 1981; Duport

et al., 1991). Ar é injetado para facilitar a mistura e simular as condições de oxidação

na região pulmonar. Essa técnica não é fácil de ser implementada em rotina, pois

um grande volume de solução é necessário, muito embora ela possa ser recirculada.

Método de fluxos paralelos (parallel-flow)

A solução passa do filtro para um coletor de filtrado (Kanapilly et al., 1973;

Ansoborlo et al., 1989, 1990). A maior parte da solução não passa pelo filtro, pois há

uma difusão da amostra. Assim como no sistema anterior, uma grande desvantagem

é o grande volume da solução necessário, mas uma importante vantagem é a

estabilidade da taxa de fluxo por vários dias.

2.4 - Líquido Pulmonar Simulado (LPS)

As taxas de dissolução dependem de vários fatores, porem um dos mais

importantes é a composição da solução na qual as partículas entram em contato. Os

estudos iniciais relatados na literatura foram realizados com amostras de plasma

real, mas as dificuldades associadas à deterioração bacteriana do plasma impediam

a obtenção de resultados fidedignos. Por isso, fluidos simuladores são utilizados nos

estudos da atualidade. Existem diferentes arranjos experimentais e soluções de sais

para simular a interação mecânica de particulados com o ambiente pulmonar. A

maioria dos experimentos são realizados em pH fisiológico (7,3), concentrações de

Page 30: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

31

CO2 pulmonar (5% vol.), e temperaturas de 25ºC (ambiente) ou 370C (a do corpo

humano).

As soluções mais comuns utilizadas para simular o líquido pulmonar são: os

soros simulados ultrafiltrados (SUF), fluido simulador do soro (SLF) e a chamada

solução de Gamble (Gamble, 1967; Cooke et al., 1974; Moss, 1979; Kalkwarf, 1983;

Dennis et al., 1982; Avhadaluna, 1984; Ansoborlo et al., 1989, 1992, 1998; Duport et

al., 1991).

A solução de Gamble é um tipo de fluido pulmonar simulado, ou uma solução

que imita os fluidos liberados pelas células alveolares. O fluido enche o espaço entre

as células alveolares e atua para reduzir a tensão superficial da água nos pulmões,

facilitando as trocas gasosas (Daniel and Orgeig, 2003). A solução foi desenvolvida

pela primeira vez em 1942 como um método in vitro para determinar a toxicidade de

compostos nos pulmões e foi validado para compostos radioativos utilizando testes

in vivo (Damon et al., 1984).

Nos raros estudos publicados, a solução de Gamble foi utilizada para avaliar a

bioacessibilidade de compostos industriais e artificiais, incluindo o cádmio (Koshi,

1979), a sílica (Scholze e Conradt, 1987) e compostos presentes nas partículas de

aerossóis, absorvidas no processo de inalação (Davies e Feddah, 2003). Solos

naturais e poeiras também têm sido avaliados, sobretudo, partículas radioativas

(Garger et al., 2003) e uma publicação recente sobre contaminação por chumbo em

solos (Wragg & Klinck, 2007). A solução de Gamble original era uma mistura de

água e sais inorgânicos incluindo cloretos, carbonatos e fosfatos, mas a maioria dos

pesquisadores modificaram a solução para incluir proteínas e outros componentes

orgânicos, por estarem presentes nos fluidos alveolares. No entanto, a adição de

proteínas podem afetar os resultados a reprodutibilidade, devido à putrefação no

laboratório (Takaya et al., 2006). O tempo de residência no pulmão para as

partículas devem ser levados em conta quando se realiza dissoluções com fluidos

pulmonares simulados, estudos realizados por Wragg e Klinck determinou um

mínimo de 100 horas para fornecer uma estimativa razoável de bioacessibilidade do

metal nos pulmões (Wragg & Klinck, 2007). Uma das principais desvantagens de se

utilizar a solução de Gamble é a falta de literatura sobre o assunto. O método tem

ainda de ser validado para a maioria dos compostos.

No entanto, a toxicidade e reatividade dos compostos nos pulmões é

altamente dependente da sua solubilidade em fluidos pulmonares.

Page 31: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

32

2.4.1 - Fatores que afetam os testes de solubilidade com LPS

Nos testes de solubilidade alguns fatores devem ser observados, tais como:

granulometria da amostra, temperatura e pH. Quanto à granulometria, alguns

autores recomendam usar amostra peneirada com granulometria menor que 400

mesh (diâmetro < 37 μm) (Mansur, 1988; Duport, 1991; Reif, 1994; Santos, 1997;

Lima, 2007). Essa granulometria de 0,037 mm (400 mesh) ou 37 μm é o tamanho

máximo das partículas abaixo do qual são considerados suficientemente pequenas

para permanecerem em suspensão no ar formando aerossóis (Laurel et al., 2007).

Segundo Kanapilly (1973), não são determinantes as variações na

temperatura entre a ambiente (25 oC) e a controlada em 37 ºC, com base em

estudos com minérios, incluindo os radioativos.

No ambiente pulmonar, o pH situa-se em torno de 7,4. Por esse motivo todos

os testes realizados com LPS o pH é ajustado para esse valor. Nos sistemas em que

a renovação é continua, o pH é ajustado com borbulhamento de ar contendo 5% vol.

de CO2 (Kanapilly, 1973; Fisher, 1993), correspondendo ao CO2 no ar de saída dos

pulmões, ou com O2 contendo 5% vol. de CO2 (Twining, 1993). Nos processos

estático e dinâmico, com e sem renovação de LPS, o pH é ajustado com adição de

HCl 0,5 mol.L-1 (Dennis, 1982; Thein, 1982).

2.5 - Bioindicadores

Bioindicadores são animais e/ou vegetais que podem incorporar substâncias,

especialmente metais, ou modificar seu comportamento devido a mudanças no meio

ambiente. A observação dessas modificações e a determinação da concentração

dessas substâncias nesses organismos têm sido largamente usadas nos estudos para

monitorar o meio ambiente (Loppi et. al., 1998).

As espécies bioindicadoras são altamente sensíveis à poluição, elas revelam

informações sobre o ambiente através das mudanças ocorridas no organismo e/ou

nas comunidades ou populações, ou ainda pela presença de determinadas

substâncias nos tecidos do organismo (Loppi et. al., 1998; Wolterbeek, 2001). Essas

espécies podem ser classificadas em bioindicadores passivos ou ativos. São

Page 32: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

33

passivos, aqueles que se encontram presentes no sistema que se deseja estudar, e

ativos, os que são introduzidos deliberadamente no sistema (Sloof, 1995).

Algas, peixes e moluscos se encontram entre os organismos mais utilizados

nos estudos da qualidade das águas de rios, lagos e mares. Os moluscos, devido à

sua limitada mobilidade, fácil identificação e capacidade de concentrar metais têm

sido largamente empregados nos estudos de impacto ambiental. Diversos tipos de

moluscos têm sido utilizados como bioindicadores de contaminação por metais. Em

Cuba, os moluscos Tarebia granifera Lamark foram utilizados para identificar

contaminação por metais pesados nos rios da cidade de Pinar del Rio (Pedrero,

2000); os moluscos Perna perna foram utilizados para determinar concentrações de

metais pesados na Baía de Guanabara (Lima, 1997).

Por outro lado, nos estudos de qualidade do ar, as espécies vegetais são as

mais usadas. Um exemplo é a determinação de concentrações de metais em folhas

de Bauhinia blakeana (flor nacional de Hong Kong) ao redor de templos e

monastérios dessa cidade (Lau & Lau, 2001). As espécies vegetais tipicamente

empregadas são fungos, liquens, cascas de árvores e folhas de plantas (Wolterbeek,

2001).

Nos ecossistemas florestais os elementos presentes no ar são absorvidos

principalmente pelas folhas das plantas, mas os elementos transportados pela raiz

podem dificultar a interpretação dos dados analíticos com respeito às partículas

depositadas (Loppi, 2000). Desta forma, folhas e cascas de árvores recebem a

contribuição dos elementos a-bsorvidos pela raiz da planta. Já os liquens

(associações simbióticas de fungos com algas verdes microscópicas) e os musgos

absorvem os nutrientes diretamente da atmosfera e da água (Loppi, 1998).

Os liquens crescem em solos, rochas, árvores e estruturas artificiais, sendo

encontrados tanto em regiões de climas tropicais e subtropicais, como nas regiões

de clima extremo como o Ártico, a Antártica e os desertos (Lyman, 1996). Desde

meados do século XIX eles têm sido utilizados como bioindicadores nos estudos da

qualidade do ar. Em 1866, Wylliam Nylander foi o primeiro a associar o

desaparecimento dos liquens com a poluição. A tolerância do líquen à poluição varia

com a espécie e as características climáticas (Lyman, 1996).

A avaliação da qualidade do ar empregando liquens é interessante devido às

suas múltiplas aplicações, permitindo realizar transplantes para avaliar efeitos de

impacto ambiental e fazer estudos retrospectivos do meio ambiente, como o

Page 33: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

34

realizado por Sloof (1996) ao comparar o conteúdo de metais no líquen Parmelia

coperata, coletado em 1996, com exemplares da mesma espécie coletados em

1980, em Toscana, Itália. No Brasil, embora já tenham sido identificadas cerca de

2800 espécies diferentes de liquens, o emprego destas espécies como

bioindicadores é escasso. A qualidade do ar em diferentes regiões de São Paulo foi

avaliada determinando-se a concentração de metais na espécie Canoparmelia

texana (Coccaro et al., 2000; Saiki et al., 1997).

As principais vantagens do uso de bioindicadores nos estudos para avaliar a

qualidade do ar são: a facilidade de coleta, o baixo custo e a obtenção de

informações sobre o passado da região. Outra vantagem é a possibilidade de

determinar uma distribuição espacial das concentrações de poluentes em liquens

coletados a diferentes distâncias e direções da fonte (Saiki et al., 1997; Carreras,

2001). No entanto esta técnica não fornece informações sobre a concentração no ar

dos elementos ou sobre a faixa de tamanhos das partículas.

2.5.1 - Biomonitoramento com plantas superiores

As plantas superiores, em sua grande maioria, possuem raízes fincadas no

solo e capturam os poluentes presentes na atmosfera através da casca, talos, folhas

e flores. O uso destas plantas é mais indicado para o biomonitoramento de

substâncias orgânicas e inorgânicas, sobretudo no tocante à contaminação de solos

(Schulz et al., 1984). Essas plantas representam uma importante ligação com a

cadeia alimentar por serem organismos autotróficos. As exceções são as

Bromeliaceae, nativas da América do Sul, cuja subfamília Tillandsioideae, que

compreende várias espécies epífitas, apresenta um crescimento lento e uma

extraordinária capacidade de retenção de nutrientes e água da atmosfera,

mostrando também possuir enorme capacidade para bioacumulação de metais

pesados (Pignata et al., 2002; Wannaz et al., 2005; Husk et al., 2004).

As plantas superiores são utilizadas principalmente para a determinação de

impactos decorrentes de contaminações por metais pesados. Para o monitoramento

de metais pesados presentes em aerossóis atmosféricos de áreas onde há

deposição de metais a céu aberto, o uso de plantas superiores que não utilizam o

solo como substrato é preferível, devido à facilidade de padronização das condições

para obtenção de resultados comparáveis em locais diferentes e também épocas

Page 34: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

35

diferentes, evitando principalmente o acúmulo de elementos-traço provenientes do

solo.

2.5.2 - Tillandsia Usneoides L.

A Tillandsia Usneoides L. é uma bromélia da família das Monocotiledôneas

(peculiares da flora neotropical), subfamília tillandsioideae. Estas plantas (Brighina et

al., 1997) são epífitas aéreas, pois sua sobrevivência depende totalmente do ar e da

água atmosféricos, não se fixando através de raízes ou outras estruturas similares.

Estas plantas apresentam uma elevada superfície de exposição, e é isto que permite

a absorção e acumulação de elementos presentes na atmosfera; outro fato relevante

é que esta espécie apresenta um crescimento bastante lento, permitindo um ótimo

biomonitoramento da qualidade do ar.

Em toda a América Latina, as espécies Tillandsia e todas as epífitas vivem em

árvores ou substratos inertes tais como fios de eletricidade, galhos secos, estruturas

metálicas, construções etc, devido às escamas absorvedoras presentes na

superfície das folhas. Por meio dessa estrutura epidérmica pluricelular que, em

diferentes graus de complexidade e efetividade funcional, caracteriza todos os

membros das bromélias, as Tillandsia absorvem água e nutrientes diretamente do

ar; suas raízes não desempenham papel absorvedor (característica das plantas

terrestres) e têm somente a função de ancorar a epífita ao substrato. Em face

dessas razões, essas plantas são muito apropriadas para monitoramento da

poluição atmosférica; a capacidade da Tillandsia para sobreviver em condições

extremas está baseada nas suas características morfológicas e fisiológicas.

Alguns autores recomendam o uso de várias espécies de Tillandsias, como T.

caput medusae, T. recurvata, T. schiedeana, T. usneoides, T. capillaris e T.

aeranthos. Ainda segundo esses autores a área superficial e a extensão das asas

nas folhas das Tillandsia, que variam com a espécie, são os principais fatores da

ação biomonitora das mesmas (Brighina et al., 1997; wannaz et al., 2005; Flores,

1987; Schrimpff, 1984).

A Tillandsia Usneoides L. (Figura 5), vulgarmente conhecida como barba de

bode, é uma epífita aérea largamente distribuída e representativa da família das

Bromeliaceae tropical e subtropical. A Tillandsia Usneoides L. apresenta alta

superfície de exposição, devido à sua forma e estrutura, o que permite a

Page 35: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

36

acumulação de elementos atmosféricos, é adaptável a regiões secas e quentes,

podendo ser largamente utilizada como bioindicador em áreas tropicais e

subtropicais (Calasans & Malm, 1997; Macintire et al., 1952)

Figura 5:Tillandsia Usneoides L.

Um dos trabalhos mais importantes realizados com esse biomonitor foi

realizado por Husk et al. (2004), que monitoraram ao longo de 25 anos (entre 1973 e

1998) a variação das concentrações de diversos metais pesados no estado norte-

americano da Flórida. Esses estudos justificam o uso desta planta como

bioindicadora por acumulação de metais oriundos de poluição atmosférica.

Diversos estudos foram realizados no Brasil no biomonitoramento da poluição

atmosférica com a Tillandsia Usneoide L. nos últimos anos, sobretudo no

biomonitoramento de metais pesados presentes na atmosfera. Destacam-se a

avaliação do risco à exposição ocupacional por contaminação com mercúrio

metálico na cidade do Rio de Janeiro (Calasans & Malm, 1997; Amado Filho et al.,

2002), e a contaminação do ar atmosférico da cidade de São Paulo com

concentrações elevadas de Al, As, Ba, Cr, Sb, Ti, V, Zn, Hg e outros elementos-traço

(Figueiredo et al., 2001; Figueiredo et al., 2004).

Page 36: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

37

2.6 – A área de estudo

A Baía de Sepetiba pertence ao litoral do Estado do Rio de Janeiro, nela se

situa a Restinga de Marambaia, que a delimita ao Oceano Atlântico. A Baía de

Sepetiba, corpo de águas salinas e salobras, recebe a cada ano cerca de 1,2 milhão

de m3 de sedimentos. O lixo, o esgoto e os contaminantes oriundos de rejeitos

industriais vêm provocando o assoreamento dos corpos hídricos da região. Em

comparação com os outros setores industriais, o setor metalúrgico é o de maior

relevância, tanto em função da quantidade do material quanto no impacto poluidor nas

águas e sedimentos da Baía de Sepetiba, com o lançamento de efluentes líquidos e

resíduos tóxicos sem o devido tratamento (Torres, 2003).

Nessa baía encontra-se o antigo Porto de Sepetiba, hoje Porto de Itaguaí

(Figuras 6 e 7), que foi inaugurado em 1982. Ele ocupa uma área de 10,4 milhões de

m2 no Município de Itaguaí, ao sul e a leste da Ilha da Madeira. A ampliação e

expansão do canal de acesso visando sua adequação para o recebimento de navios

cada vez maiores exigiu a realização de obras de dragagem para o aprofundamento

do canal, o que significou uma intervenção potencialmente poluidora no ambiente

natural. Neste porto, o terminal de minérios inclui o pátio de estocagem de minério

de ferro da Companhia Portuária Baía de Sepetiba (CPBS), empresa coligada à

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), de carvão metalúrgico e coque de hulha da

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e alumina e cimento portlant da Valesul

Alumínio S.A. (Julianelli, 2008).

Figura 6: Foto panorâmica do Porto de Itaguaí

Page 37: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

38

Figura 7: Vista aérea da Ilha da Madeira, onde se localiza o Porto de Itaguaí e a Cia

Mercantil e Industrial Ingá (www.naval.com.br, setembro de 2009)

2.7 - A Cia Mercantil e Industrial Ingá

Localizada no município de Itaguaí, Ilha da Madeira, a Cia Mercantil e Industrial

Ingá (Grupo Industrial Domício Gondim Barreto), que tinha como principal atividade a

produção de zinco de alta pureza, iniciou sua produção por volta de 1962 através do

uso do minério silicatado hemimorfita (Zn4Si2O7)(OH)2 e willemita (Zn2SiO4), oriundos

da região de Vazante (Minas Gerais). Essa produção gerou grandes quantidades de

resíduos, representado hoje o maior passivo ambiental do estado do Rio de Janeiro,

um dos maiores do país e, por isso, o maior risco potencial de agressão ao

ecossistema da região (Magalhães, et al., 2000). Seus estoques de resíduos,

acumulados durante quase 30 anos, contaminaram e ainda ameaçam e fragilizam o

equilíbrio ecológico da Baía de Sepetiba (Figura 8), devido a elementos como zinco,

cádmio, mercúrio e chumbo, os quais poluem o solo, a água e atingem o manguezal

local.

Em 1998 foi decretada a falência da Cia Mercantil e Industrial Ingá, que foi

condenada em novembro de 2000 pela justiça por contaminação da água com metais

Page 38: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

39

pesados lançados na Baía de Sepetiba. A empresa deveria, segundo as exigências

judiciais, construir um aterro industrial e remover, em sessenta dias, os cerca de três

milhões de toneladas de resíduos químicos deixado na Ilha da Madeira (Figuras 7 e 8),

o que não ocorreu até o final de 2009 (Villas Boas et al., 2008). Até 2008, a Cia

Mercantil e Industrial Ingá, encontrava-se sob intervenção Federal, o que limitava a

atuação do Estado (FEEMA, 2008) disponível em http://www.feema.rj.gov.br/baia-

sepetiba.asp?cat=75, acesso em junho de 2009. Com a aquisição de toda a área pela

Usiminas, os trabalhos de envelopamento e isolamento dos resíduos da massa falida

deveriam ter sido reiniciados.

Figura 8: Vista aérea do passivo ambiental da Ingá (http://urutau.proderj.rj.gov.br,

setembro de 2009)

2.8 – Processamento dos minérios de zinco da Cia Mercantil Ingá

Levando-se em conta que o zinco é obtido principalmente a partir de sulfetos,

especialmente a blenda de zinco (ZnS), toda a tecnologia mundial de extração de

zinco é voltada para eles. Desta forma, foi necessário o desenvolvimento de um

processo para o beneficiamento do minério nacional silicatado. No depósito de

Vazante o mineral predominante é a willemita, silicato de zinco (Zn2SiO4), ocorrendo

ainda a hemimorfita (também designada como calamina), em quantidade

Page 39: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

40

significativa, Zn4(Si2O7)(OH)2. Estes minérios estão associados a rochas

carbonáticas. Os teores de zinco variam entre 16% e 39% m/m, contendo ainda

cerca de 30% m/m de sílica (SiO2). A Cia. Ingá utilizou o processo hidrometalúrgico

desenvolvido pelo químico Hugo Radino, para a calamina (Barone, 1973). Esse

processo era constituído de sete etapas:

1) Moagem: era utilizado um moinho com moagem lenta por via úmida (adição de

água), obtendo-se uma polpa para o processo de lixiviação. Nesta etapa junto

com o minério era adicionada pirolusita.

2) Lixiviação: adicionava-se ácido sulfúrico à polpa em batelada; além do Zn as

outros componentes eram também solubilizadas, tais como Fe, Si, As, Sb, Co,

Ni, Mg, Al, Cd. Nesta etapa o Fe(II) era oxidado a Fe(III) pela adição de pirolusita,

adicionada na etapa anterior.

2 FeSO4(aq) + 3 ZnO(s) + MnO2(s) + 2 H2SO4(aq) + H2O →

2 Fe(OH)3(s) + 3 ZnSO4(aq) + MnSO4(aq)

3) Neutralização: na reação de lixiviação era utilizado um excesso de ácido

sulfúrico de modo que, ao final da reação, o excesso de ácido é neutralizado pela

adição de leite de cal (suspensão aquosa de Ca(OH)2), ocorrendo também a

precipitação do Fe(OH)3 e de impurezas como As, Sb e Si na forma de sais de

cálcio de seus respectivos oxoânions .

4) Filtração: operação executada em filtro-prensa onde o lixiviado rico em ZnSO4

era separado do resíduo.

5) Purificação: nesta etapa, antes do processo eletrolítico para obtenção do zinco

metálico, ocorria a eliminação de algumas impurezas, as quais influenciavam

desfavoravelmente o rendimento do processo eletrolítico. A eliminação de cobre,

cobalto, níquel e cádmio era feita através da cementação com zinco em pó. Este

processo se dava em duas etapas: na primeira etapa ocorre a eliminação do Cd.

Na segunda etapa, ocorre a eliminação do Co, As e do Ni pela adição de zinco

em pó, sulfato de cobre e arseniato de sódio. Estas duas etapas produzem duas

Page 40: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

41

tortas distintas que são os rejeitos do processo hidrometalúrgico somados aos

sólidos da etapa de filtração, origem de todo histórico do passivo ambiental da

Cia Mercantil e Industrial Ingá. O filtrado obtido era enviado para o processo

eletrolítico.

6) Eletrólise: a recuperação do zinco por eletrólise era efetuada pela aplicação de

uma corrente elétrica através de ânodos de chumbo-prata (0,4 % m/m de prata) e

cátodos de alumínio (99,5 % m/m), levando à deposição do zinco metálico no

cátodo. Gás oxigênio é liberado no ânodo.

Zn2+(aq) + 2 e- → Zn0(s)

2 H2O → O2 + 4 H+ + 4 e-

A obtenção do zinco por células eletrolíticas é afetada por vários fatores, os

quais devem ser estritamente controlados. Entre eles podemos citar: superfície do

eletrodo, concentração de íons, pureza do eletrodo metálico, tipo de precipitado,

temperatura, presença de coloides, presença de substâncias orgânicas, densidade

da corrente e impurezas no eletrólito.

Aditivos orgânicos tais como cola, ácido tânico e goma arábica são

frequentemente usados para aumentar a eficiência da corrente de uma célula de

zinco e para melhorar as características físicas do produto final. Às vezes sais do

próprio metal são usados para a mesma finalidade. Os aditivos se combinam com as

impurezas, arrastando-as juntamente com a lama anódica.

O zinco era removido do cátodo a cada 24 h. O zinco obtido por este

processo é muito puro (99,995 % m/m), contendo menos de 50 mg.kg -1 de

impurezas, sendo o chumbo a principal. Finalmente o zinco obtido na forma de

placas será enviado à fundição.

7) Fundição: as placas de Zn obtidas na etapa de eletrólise eram fundidas em

fornos sob rigoroso controle da temperatura e sob vigorosa agitação; o material

fundido é resfriado sob a forma de lingotes.

A Figura 9 mostra o fluxograma do processo hidrometalúrgico de obtenção de

lingotes de zinco a partir do minério de Vazante.

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42

Figura 9: Processo hidrometalúrgico para obtenção de Zn utilizado na Cia. Mercantil e Industrial Ingá.

Page 42: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

43

No processo de extração do metal, era produzido um resíduo sólido rico em

impurezas contidas no minério e também outros obtidos na purificação do lixiviado

sulfúrico (etapa 5). Estes resíduos continham basicamente os elementos cádmio

(Cd), chumbo (Pb), manganês (Mn), cromo (Cr), níquel (Ni), cobalto (Co), zinco (Zn),

arsênio (As), silício (Si), alumínio (Al), cobre (Cu) e ferro (Fe). Segundo a norma

NBR 10004 da ABNT, este resíduo deve ser classificado como perigoso, ou seja,

resíduo classe I. O resíduo era disposto no pátio da indústria, sem condições

apropriadas de armazenamento, aume20ntando os riscos de contaminação do

ambiente, principalmente por Cd, As e Zn.

2.9 - Principais elementos no passivo da Cia Mercantil e Industrial Ingá e suas

implicações ambientais e na saúde humana

Dadas as inter-relações das populações humanas e o ambiente natural, não é

adequado tratar em separado saúde e meio ambiente. A união destas duas áreas é

uma tendência em nível mundial no trato desse tipo de questão (Pinto, 2005). Segundo

Diaz (1999), saúde ambiental se refere aos aspectos da saúde e qualidade de vida

humana determinados por fatores ambientais, sejam estes físicos, químicos, biológicos

ou sociais. Refere-se também à teoria e à prática de avaliação, correção, controle e

preservação daqueles fatores que, presentes no ambiente, podem afetar

potencialmente de forma adversa a saúde humana de gerações presentes e futuras.

No contexto ambiental e de saúde humana, uma das principais situações de

risco devido aos processos que envolvem substâncias químicas está na possibilidade

de contaminação por agentes tóxicos. Na literatura atual encontram-se os “metais

pesados” são geralmente elementos-traço que ocorrem na natureza, de um modo

geral, em concentrações na ordem de ng.kg-1. A denominação elemento-traço é mais

aceita atualmente devido à não distinção entre metal e não-metal e sua ocorrência

em baixas concentrações.

Alguns metais são essenciais à dieta humana, tais como Zn, Mo, Mn, Fe e

Cu, e também são importantes no metabolismo dos organismos aquáticos;

participam ainda de processos fisiológicos como fotossíntese, cadeia respiratória e

fixação de nitrogênio. Porém, mesmos esses elementos essenciais, quando em

concentrações acima das necessárias podem ser tornar tóxicos (Pinto, 2005).

Page 43: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

44

Embora a população não habite a área da Companhia Mercantil e Industrial

Ingá, as consequências que os elementos ali presentes podem causar ao homem

são contundentes, pois a contaminação cumulativa do cádmio provoca sérias

doenças no organismo humano, podendo se acumular lentamente nos ossos,

fígado, rins, pâncreas e tireoide. Já o zinco, também cumulativo, causa sérios

problemas fisiológicos, principalmente nos peixes, tornando-os impróprios para o

consumo. O homem, ao se alimentar sistematicamente desses peixes

contaminados, pode adquirir problemas de pele e nas mucosas (Pinto, 2005).

Os dados de monitoramento da qualidade das águas da Baía de Sepetiba

confirmam a contaminação dos sedimentos por elementos-traço, em concentrações

muito elevadas, principalmente cádmio e zinco. Os demais metais, como chumbo,

cromo, cobre, níquel e mercúrio apresentam, esporadicamente, níveis elevados de

concentração, devendo ser adotadas medidas de controle para monitoramento

ambiental (Magalhães, et al., 2000).

O zinco em quantidades adequadas é um elemento essencial e benéfico para

o metabolismo humano, sendo que a atividade da insulina e diversos compostos

enzimáticos dependem da sua presença. A deficiência do zinco em animais pode

conduzir a atraso no crescimento. A presença de zinco é comum nas águas naturais.

Os padrões para águas de abastecimento público indicam 5,0 mg/L como valor

máximo permissível (Pinto, 2005). Concentrações superiores conferem sabor e uma

certa opalescência a águas alcalinas (Baird, 1998).

A ingestão excessiva de zinco pode causar efeitos tóxicos, o pâncreas é

aparentemente o órgão mais afetado, seguido dos ossos (aves e mamíferos). Os

sintomas são anorexia, depressão, diarréia, vontade de comer e beber em excesso

e em casos mais sérios, convulsões e morte (Guidry, 2008). A inalação de vapores

de Zn causa grande irritabilidade e lesões ao sistema respiratório (Brito Filho, 1988).

O arsênio é amplamente distribuído na biosfera. A água do mar não poluída

contém 2–3 µg.L-1, a crosta terrestre possui uma concentração média de 2 µg.kg-1, e

a concentração em organismos marinhos varia de 1 a mais de 30 µ.g -1 (Barra et al.,

2000).

Os principais modos de intoxicação por arsênio ocorrem via ingestão de água

contaminada. A intoxicação por arsênio pode resultar em efeitos tóxicos, agudos ou

crônicos, relativos a exposições curtas ou longas, respectivamente, ocasionando

diferentes patologias (Borba et al., 2004).

Page 44: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

45

Na Europa, o níquel é incluído na Lista II da Comissão Européia (Diretório de

Substâncias Perigosas) e por causa de sua toxicidade, persistência e potencial para

bioacumulação. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica os compostos de

níquel no Grupo I (cancerígenos para humanos) e o níquel metálico no Grupo II

(possível cancerígeno para humanos).

O níquel pode ser introduzido no ambiente por fontes naturais e antrópicas.

No ser humano e demais mamíferos a poeira inalável contendo níquel, induz

pneumonite aguda, disfunções no sistema nervoso central, problemas de pele como

dermatite e câncer de pulmão e da cavidade nasal (Guidry, 2008).

O chumbo é conhecido pela humanidade há mais de 5 mil anos e ocorre numa

variedade de minérios, sendo a galena (PbS) a mais importante fonte primária e

principal fonte comercial (ATSDR, 1995). Ocorre também associado a outros

minérios, principalmente os que contêm zinco. A contaminação por chumbo de

origem antrópica resulta de operações de mineração e metalurgia, combustão de

chumbo na gasolina (chumbo tetraetila, antidetonante), fundições de metais, fábrica

de baterias e indústrias químicas.

Nos oceanos a concentração de chumbo varia com a profundidade, em águas

superficiais os valores médios mundiais variam de 3 a 20 pmol L-1 e em águas

profundas os valores médios mundiais variam de 14 a 150 pmol L-1.

O chumbo ocorre naturalmente em plantas e resulta de processos de captação

e incorporação. Assim como em outros compartimentos ambientais, a medida dos

níveis originais de chumbo em plantas é dificultada pela contaminação generalizada

dos diferentes biomas terrestres, através de décadas de uso do metal, no qual se

inclui a aplicação direta de agentes químicos contendo chumbo na agricultura e a

contaminação por fertilizantes.

Do ponto de vista da toxicidade crônica ao homem, a administração diária de 1

mg do metal é suficiente para determinar a intoxicação por chumbo. Uma vez

absorvido o chumbo passa à corrente sanguínea e mais de 95% fica ligado aos

eritrócitos, causando aumento da fragilidade e redução do tempo de vida das

células. O chumbo possui grande afinidade por ossos, bioacumulando-se com o

tempo de exposição. A quantidade máxima que o homem pode suportar em seu

organismo normalmente é estimada em 165 mg.

A intoxicação em indivíduos adultos manifesta-se por anemia, irritação

excessiva, constipação, cegueira noturna, cólicas e excesso de urina. Os sintomas

Page 45: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

46

em crianças incluem irritabilidade, perda de apetite, vômitos ocasionais, dor

abdominal intermitente.

O cobre é um micronutriente essencial que participa de uma série de funções

fisiológicas nos animais e vegetais, integrando a estrutura de algumas proteínas e

enzimas que participam na defesa contra a ação de radicais livres e na respiração

celular, além de atuar como co fator enzimático (Schuler et al., 2000). A toxicidade

do cobre pode ser atribuída a disfunções resultantes de interações inapropriadas

entre o metal e estruturas celulares. A exposição aguda ao cobre pode acarretar

irritação nos olhos, nariz e garganta, espessamento e esverdeamento da pele,

irritação das fossas nasais, úlceras e carcinoma pulmonar. A ingestão excessiva de

cobre pode acarretar ainda cirrose, hepatite, convulsões, alterações psiquiátricas,

distúrbios comportamentais, psicose, cataratas, defeitos tubulares renais, arritmia,

osteoporose, doença degenerativa das juntas, etc. (Ramos, 2005). Desta forma,

apesar do cobre ser tratado como um elemento vital, este pode representar um

perigo para a natureza, quando presente em concentrações elevadas, devendo

então seu lançamento para o ambiente estar sob controle.

Quimicamente o cádmio é similar ao zinco e esses dois metais geralmente

participam de processos geoquímicos juntos. Entre os metais pesados que

despertam maior preocupação do ponto de vista ambiental, o Cd tem sido incluído

em listas de controle ambiental prioritário.

O envenenamento agudo por cádmio se caracteriza por aumento da pressão

sanguínea, danos nos rins, destruição dos testículos e destruição das células

vermelhas sanguíneas. A inalação de poeira de oxido de cádmio resulta em edema e

morte do tecido pulmonar. Por ser similar ao zinco, o cádmio pode substituir o mesmo

em algumas enzimas, alterando suas estruturas e impossibilitando a atividade catalítica

(Manaham, 2000; Eisler, 2000).

Estudos laboratoriais com camundongos e ratos demonstraram

conclusivamente que a injeção de cádmio causa tumores nos testículos. Entre os

humanos, as evidencias ainda não são suficientemente conclusivas. O cádmio

realmente é tido como um agente cancerígeno associado ao câncer de pulmão em

humanos (Guidry, 2008).

A exposição humana à cromose dá pela inalação do ar contaminado e pela

ingestão de água e alimentos contaminados. As doenças decorrentes da exposição

a cromo(III) e (VI) incluem câncer pulmonar e de estômago em trabalhadores de

Page 46: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

47

indústrias produtoras de compostos de cromo, e fábricas de produção de pigmentos.

Em trabalhadores de galvanoplastia ocorre ulceração e perfuração de septo nasal,

ulcerações nas mãos e dedos, incidências de disfunções renais, dentre outros

sintomas.

Existem riscos tanto para ingestão de baixas quanto de altas concentrações

de cromo, a faixa de concentração que preenche os requisitos biológicos e previne a

toxicidade é bastante estreita. O resultado da maioria dos estudos indica que o

Cr(VI) é mais tóxico que o Cr(III). Na maioria dos países são estabelecidos níveis de

risco mínimo (NRM) para exposição a aerossóis contendo cromo hexavalente, o

NRM é uma estimativa de exposição humana diária a substâncias perigosas,

presentes no meio ambiente, sem o risco considerável de se observar efeitos

adversos durante um determinado tempo de exposição. A Agency for Toxic

Substances and Disease Registry estabeleceu NRM de 5 x 10-5 mg/m3 a névoas

contendo ácido crômico e a outros aerossóis contendo Cr(VI) (ASTDR, 2000).

A exposição humana ao alumínio tem aumentado em função da solubilidade e

biodisponibilidade de plantas e ambientes aquáticos, incrementado por chuvas

ácidas e emissões industriais. Não existem evidências que o alumínio tenha alguma

função essencial em animais ou humanos. No que concerne a toxicidade no

organismo por exposição excessiva há relatos de encefalopatias graves em

pacientes com insuficiência renal crônica atribuída às altas concentrações de

alumínio presentes na água usada na preparação de procedimentos para diálise.

Níveis de alumínio no cérebro e em outros tecidos de indivíduos afetados foram

consistentemente elevados. O excesso por ingestão de alumínio também afeta o

esqueleto pela redução da formação óssea, resultando em osteoporose.

O silício é o segundo elemento mais abundante da crosta terrestre, não é

encontrado livremente na natureza, mas ocorre principalmente na forma de óxido e

silicatos. A hemimorfita e wilemita são exemplos de silicatos minerais.

O silício e seus compostos inorgânicos comuns não são tóxicos, passam pelo

sistema digestivo completamente intactos. A inalação de suas partículas, porém,

pode causar pneumocomiose e silicose (Dias, 2001), que leva à perda da

capacidade pulmonar, além de tosse, infecções, dispnéia e distúrbios cardíacos.

Page 47: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

48

O manganês é um elemento essencial para seres vivos, desempenhando um

papel importante no sistema nervoso, na mineralização dos ossos, no metabolismo

energético e de proteínas, na regulação metabólica e na proteção celular.

Entretanto, a exposição crônica a este metal, principalmente durante estágios

embrionários ou pós-natais, pode induzir diversos eventos tóxicos, onde o sistema

nervoso central é o alvo principal. Alta exposição ao manganês tem sido associada a

doenças tais como mal de Alzheimer, esclerose lateral amiotrófica, mal de

Parkinson, esquizofrenia, e autismo.

O ferro, elemento essencial a todas as formas de vida, é um componente

chave na manutenção do equilíbrio celular. Muitos processos biológicos são

intermediados por enzimas que requerem o ferro com co-fator para o seu

funcionamento. Tanto a deficiência quanto o excesso de ferro são prejudiciais ao

organismo humano. A deficiência de ferro leva à anemia hipocrômica microcítica, à

alteração do metabolismo muscular e a disfunção do sistema imunológico. Quando a

sobrecarga do ferro é prolongada ocorre acúmulo de hemossiderina nos tecidos

produzindo hemossiderose e hemocromatose, que se caracteriza por pigmentação

da pele, lesão pancreática com diabetes, cirrose hepática, carcinoma hepático e

atrofia das gônadas (Ganong, 1993; Omara et al., 1998).

A exposição humana ao ferro pode dar-se através do ar, alimentos e bebidas

e exposição ocupacional.

O cobalto, assim como todos os micronutrientes essenciais, apresenta duas

zonas de exposição incompatíveis com a vida: tanto a deficiência como o excesso

podem levar a doenças ou à morte (National Research Council, 1989; Mertz et al.,

1994). Para a população em geral, a dieta representa a principal fonte de exposição

ao Co. Não existe recomendação oficial para ingestão diária de Co, exceto no que

se refere à vitamina B12 (National Research Council, 1989).

A variedade de elementos envolvidos neste estudo de caso mostra quanto

insidiosas podem ser as consequências de uma contaminação ambiental e o

comprometimento da saúde causadas pela má gestão de uma atividade econômica.

Em se tratando de um dos maiores passivos ambientais do país, o estudo da

interação dos compostos dos metais presentes na pilha de rejeitos com o trato

respiratório trará importantes informações que podem balizar outros estudos de caso

em ambientes tropicais como o do presente estudo, e ainda corroborar estudos já

realizados. O concurso de diversas técnicas analíticas e metodologias de avaliação

Page 48: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

49

de impacto ambiental é necessário para se chegar a um conjunto de dados confiável

e interpretável.

Page 49: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

50

CAPÍTULO 3

MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Origem das amostras

Obteve-se, junto a Usiminas em fevereiro de 2009, autorização para coleta de

amostras da pilha de resíduos da Cia Mercantil e Industrial Ingá. Informações

obtidas de antigos funcionários constam que os resíduos eram estocados com

utilização de dragas mecânicas e eram distribuídos de forma aleatória; à medida que

a altura da pilha aumentava ela era aplainada e compactada, de modo que mais

resíduos pudessem ser colocados. Isso aconteceu durante toda a vida útil da fábrica

(1962-1998).

Com o objetivo de se conhecer a área de estudo e as principais substâncias

químicas envolvidas várias amostras foram coletadas, em maio de 2009. Foi

possível distinguir com clareza as diferentes colorações da pilha: resíduos pretos e

brancos depositados no topo da pilha de resíduos, e marrom claro a marrom

avermelhado, sendo esta última, a cor característica da pilha. Foram coletadas

amostras de topo em posições aleatórias, apenas em função de suas cores,

raspando a superfície com uma espátula em vários pontos da pilha de resíduos das

três colorações observadas com o objetivo de se determinar a causa das diferentes

colorações. Foram coletadas 10 amostras de 15 g de cada coloração.

A figura 10 mostra as diferentes colorações das amostras recolhidas na pilha

úmida.

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51

Figura 10: Amostras de diferentes colorações recolhidas na pilha de resíduos

3.2 – Amostras utilizadas nos ensaios de solubilidade em Líquido Pulmonar

Simulado

Devido ao tamanho da pilha de resíduos e considerando seu formato

aproximado

de um pentágono, esta foi dividida em cinco partes, conforme a Figura 11.

Figura 11: Esquema mostrando os pontos de coleta das amostras.

Foram recolhidas 6 amostras de cada fatia, aproximadamente 15 g de

amostra de cada ponto a uma profundidade de 5 cm, essa pouca profundidade foi

considerada partindo da premissa que os aerossóis são formados a partir do topo da

pilha de resíduos, e também porque a partir de resultados em amostras coletadas

previamente a coloração se apresentava homogênea. As seis amostras de cada

parte foram misturadas com auxílio de um misturador helicoidal, fabricado pela

Marconi, colocadas em estufa a 100ºC durante 2 h, moídas em moinho pulverizador

de panela marca Herzog, modelo HSM 100 e peneiradas a 0,037 mm (400 mesh)

(Figura 12).

I

II

III

IV

V

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52

Figura 12: Amostras coletadas nas diferentes fatias da pilha de resíduos

3.3 - Preparação do Líquido Pulmonar Simulado (LPS)

A solução utilizada nesse estudo é a solução de Gamble (Gamble, 1962), que

pode ser considerada como uma solução padrão para líquido pulmonar. A composição

iônica desta solução é similar à do líquido intersticial pulmonar e à do plasma

sanguíneo (Kalkwarf, 1983). As composições iônicas do Líquido Pulmonar Simulado e

do líquido pulmonar são apresentadas na Tabela 1. Os sais utilizados para a

preparação do líquido pulmonar simulado foram de grau PA (Merck).

3.4 - Preparação das amostras e realização dos ensaios em LPS

As amostras foram peneiradas em peneiras de 0,037 mm (400 mesh) e

homogeneizadas. Uma amostra de 0,05 g de cada amostra foi adicionada a 50 mL

da solução de LPS e mantida sob agitação magnética por 1 min em temperatura

ambiente (~25oC), não existe consenso na literatura quanto a relação entre a massa

da amostra e o volume de LPS utilizados nesses experimentos, os valores

encontrados nas diversas publicações em que foram usados massas sólidas os

valores variam de 10 µg a 500 mg para volumes de 20 mL a 200 ml de LPS (Cooke

et al., 1974; Dennis et al., 1982), entretanto a relação de 100 µg de amostra para

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53

100 mL de LPS é a relação mais comumente utilizada (Dias da cunha et al., 2011;

Dias da Cunha et al., 2010; Lima, 2004). Cada solução foi transferida para um

recipiente de Teflon e mantida fechada com um sistema de rosqueamento. Da

mesma solução inicial de LPS foi retirada uma alíquota de 50 mL e mantida como

controle, utilizando-se o mesmo sistema. As amostras da solução foram coletadas

em uma base temporal de 10 min, 30 min, 1 h, 2 h, 4 h, 6 h, 12 h, denominadas de

fração rápida, e uma base temporal, denominada fração lenta com 1 dia, 3 dias, 5

dias, 7 dias, 14 dias, 21 dias, 30 dias, 60 dias, 90 dias,120 dias, 160 dias, 210 dias,

280 dias e 360 dias. Os ensaios foram realizados em triplicata.

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54

Tabela 1: Composição iônica do líquido pulmonar simulado (LPS) e intersticial humano

(Kalkwarf, 1983)

Íon Líquido pulmonar (meq L-1) LPS (meq L-1)

Ca2+ 5,0 5,0

Mg2+ 2,0 2,0

K+ 4,0 4,0

Na+ 145,0 145,0

Total de cátions 156,0 156,0

HCO3- 31,0 31,0

Cl- 114,0 114,0

H5C6O73- (citrato) 1,0 1,0

H3C2O2- (acetato) 7,0 7,0

HPO42- 2,0 2,0

SO42- 1,0 1,0

Proteína 1,0 não contém

Total de ânions 156,0 156,0

Seguindo a inalação de partículas de aerossóis insolúveis, os alvos

prioritários no corpo humano são os pulmões. A dose no pulmão será, em geral,

dependente do compartimento pulmonar depositado, do tamanho das partículas,

densidade e taxa de solubilidade nos fluidos pulmonares. No entanto, o líquido

pulmonar simulado modela a solução original bem aproximada em termos de

composição iônica, pH, e condições gerais (Moss, 1979).

Page 54: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

55

A figura 13 mostra o esquema simplificado do arranjo experimental para o

estudo in vitro na determinação da solubilidade das amostras em LPS.

Figura 13: Esquema simplificado do arranjo experimental para o estudo in vitro da

determinação da solubilidade das amostras em líquido pulmonar simulado.

Tanto no sistema estático quanto nos sistemas dinâmicos (descritos em

detalhe no ítem 2.3 do capítulo 2), os resultados obtidos por alguns autores em

ensaios de solubilidade de radionuclídeos em LPS, foram bastante parecidos (Moss

et al., 1980; Eidson et al., 1994). O sistema de batelada foi escolhido nesse caso por

ser o sistema de mais fácil implementação (Arsobolo et al., 1998). O pH é o fator

mais determinante e deve se mantido próximo a 7,4, o que é facilmente conseguido

no sistema de batelada. Nos sistemas dinâmicos o pH do LPS é ajustado com

borbulhamento de CO2. Embora em qualquer sistema escolhido inicialmente o pH

seja ajustado com HCl 0,5 mol L-1(Dennis, 1982; Thein, 1982).

A figura 14 mostra o arranjo experimental utilizado (modelo estático) para o

estudo in vitro da solubilidade em líquido pulmonar simulado.

Recipiente teflon = 47 mm e V = 120 mL

Filtro Nuclepore 0,1 µm

Suporte de filtro

Válvula para controle de fluxo

Bécher

Page 55: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

56

Figura 14: Arranjo experimental utilizado para os ensaios de solubilidade em LPS.

3.5 - Determinação da solubilidade

Os experimentos in vitro representam valores que correspondem à cinética de

dissolução dos compostos. A razão entre a fração dissolvida e a fração não

dissolvida foi quantificadas baseadas nos dados experimentais correspondentes às

frações de dissolução rápida (ƒr) e às frações de dissolução lenta (fs). A taxas (lenta

e rápida) de dissolução “λ” no tempo t são obtidas através da relação λ = ln 2/t. O

percentual não dissolvido é definido como um percentual de massa do metal não

dissolvido no LPS, em relação a massa inicial do metal presente na amostra de

resíduo. As frações e as taxas de dissolução são determinadas, através de uma

função que compreende o somatório de duas exponenciais que envolvem duas

constantes de frequência de primeira ordem e dois coeficientes fracionários. O ajuste

foi realizado utilizando-se o programa Origin® 6.0 (Microcal Software Inc.). A função

que representa a fração do metal não dissolvido e do metal dissolvido é dada pelas

equações a seguir:

yu = fr exp(- λrt) + fsexp(- λst) (1)

y = 1 - yu (2)

onde:

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57

yu = é a fração não dissolvida

fr = é a fração de dissolução rápida

λr = é a taxa de dissolução rápida (frequência de dissolução rápida)

fs = é a fração de dissolução lenta

λs = é a taxa de dissolução lenta (frequência de dissolução lenta)

t = é o intervalo de tempo para a dissolução

y = é a fração dissolvida

Considerando-se o corpo como um único compartimento que elimina sua

atividade por intermédio da excreção urinaria, pode-se determinar que uma curva

exponencial do tipo Ae" é suficiente para reproduzir os dados experimentais de

corpo inteiro. Obtendo-se o valor de λ encontra-se o valor da meia vida de

dissolução. Esta pode ser definida como sendo o intervalo de tempo necessário para

que o número de partículas presentes em cada tempo num único compartimento

seja reduzido à metade como resultado de um processo que não seja o decaimento

radioativo isotópico (Brownell et al., 1968)

T1/2 vida dissolução = In 2/λ (3)

3.6 - Exposição da Tillandsia Usneoides

As amostras de tillandsias usneoides foram coletadas em uma área de Mata

Atlântica, situada em propriedade particular chamada Sítio da Baleia, que fica

localizada no costão de Grumari, município do Rio de Janeiro (zona oeste). Trata-se

de uma área de proteção ambiental, pouco atingida por poluentes aéreos e materiais

particulados. As figuras 15 e 16 mostram as amostras de tillandsias em seu habitat e

o processo de coleta.

Na área de estudo foi empregado o biomonitoramento ativo, que consiste da

transferência das tillandsias coletadas nos locais não poluídos para área de

realização do monitoramento. Uma amostra de controle foi mantida no ambiente de

coleta. As amostras foram colocadas em galhos de árvores nativas da área de

estudo e sobre estruturas metálicas localizadas no pátio da falida Cia Mercantil e

Page 57: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

58

Industrial Ingá. Após 40 dias de exposição, as amostras foram coletadas e

analisadas.

Figura 15 - Tillandsia usneoides no seu habitat, no Sítio da Baleia, costão de

Grumari, Rio de janeiro

Figura 16 - Coleta das amostras de Tillandsias usneoides

Page 58: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

59

A figura 17 mostra os pontos escolhidos no entorno do pátio da Cia Mercantil

Industrial Ingá para a exposição das tillandsias.

Figura 17 – Exposição da Tillandsia usneoide

3.7 - Técnicas analíticas

As amostras foram analisadas por três técnicas: Fluorescência de Raios X

(FRX), Difração se Raios x (DRX) e Emissão de Raios x Induzido por Próton (PIXE),

descritas a seguir.

3.7.1 – Preparação das amostras de tillandsias usneoides

No laboratório, as amostras foram secas em estufa a 50oC durante 7 dias,

sendo depois calcinadas em mufla a 400oC, durante 72 h. Foram utilizados, em

média, 25 gramas de massa verde. Ao final da calcinação, houve uma perda de

massa de cerca de 98%. A massa obtida após a calcinação, foi dissolvida numa

solução de HF/HNO3 1:10 e levadas ao forno de microondas em potência máxima

até a secura. A seguir o resíduo seco foi retomado com 1 mL de HNO3 0,1 M. Uma

alíquota de 2 μL dessa amostra foi transferida para o centro de um alvo construído

com um filme Mylar® de polipropileno com 1,5 µm de espessura, sendo seca por

lâmpada de raios infravermelhos. As amostras de tillandsias usneoides foram

Page 59: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

60

analisadas pela técnica de PIXE, por apresentar concentrações abaixo dos limites

de quantificação para a FRX.

Para a preparação das amostras foram, necessários vários experimentos até

que fosse estabelecida uma rota que não deixasse resíduo, após a retomada final

com HNO3 0,1 M.

Não existe consenso quanto à questão da lavagem da planta, antes do

preparo das amostras para análise. Na tillandsia usneoides, as folhas e o talo são

recobertos por escamas, que são responsáveis pela maior parte da absorção de

água e de aerossóis. A lavagem pode remover a maior parte dos resíduos e

particulados absorvidos para o interior dessas escamas (Brighina et al.,1997). O

procedimento geralmente adotado para a preparação das amostras é a não lavagem

das folhas (Quevauviller, 1995), principalmente com o gênero tillandsia, o que

garante que os elementos provenientes de deposições secas também sejam

medidos (Calasans & Malm, 1997; Brighina et al., 1997; Amado Filho et al., 2002;

Husk et al., 2004).

3.7.2 – Preparação das amostras solubilizadas no LPS

Após o término de cada experimento o líquido foi filtrado em membrana de

Nuclepore 0,1 m e transferido para um béquer de Teflon. Os volumes de líquido

filtrado foram, então, reduzidos para 10 mL sobre uma placa aquecedora a 600C. A

redução de volume foi necessária para garantir a identificação dos elementos

presentes em concentrações abaixo do limite de detecção das técnicas analíticas

utilizadas, para a determinação dos elementos solubilizados no LPS.

Para a análise por fluorescência de raios x, a irradiação da amostra é feita

diretamente no líquido obtido após a evaporação sobre placa de aquecimento.

Para a análise por PIXE, 2 µL da amostra foram transferidos para um filme de

polipropileno de 1,5 µm de espessura e secas sob lâmpada de raios infravermelhos.

3.8 – Metodologias baseadas na radiação x

Os raios x são empregados nas mais variadas linhas de pesquisa, sendo

algumas delas: (1) a difratometria de raios x, responsável pela análise da estrutura e

constituição de muitas substâncias químicas complexas, possibilitando a

Page 60: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

61

identificação da composição mineralógica da amostra, e a (2) fluorescência de raios

x, que proporciona a determinação da composição química de elementos presentes

em amostras. A fluorescência de raios x (XRF – X-Ray Fluorescence) é uma técnica

analítica multielementar e não destrutiva usada para obter informações qualitativas e

quantitativas da composição elementar das amostras. Esta metodologia está

baseada na produção e detecção de raios x característicos emitidos pelos elementos

constituintes da amostra, quando irradiada com elétrons, prótons, raios x ou raios y

de energia apropriada. A XRF basicamente divide-se em duas variantes analíticas: a

mais comum, baseada na dispersão por comprimento de onda (WDXRF), e a

dispersão por energia (EDXRF). As variantes da técnica EDXRF, além da

convencional, são: (1) a fluorescência de raios x por reflexão total (TXRF – Total

Reflection X-Ray Fluorescence), possuindo vantagens como emprego de

quantidades diminutas das amostras (da ordem de 5 µL) e menores valores de

limites de detecção em relação à EDXRF convencional; (2) a microfluorescência de

raios x (µ-XRF), sendo a única a fornecer informações sobre a distribuição elementar

na amostra. Nestas técnicas e variantes, normalmente se utiliza raios x de

elementos alvo (Mo, Rh etc.), e mais recentemente raios x da luz síncrotron. E uma

técnica pouco difundida, mas de grande interesse devido aos seus baixos limites de

detecção é a emissão de raios x induzida por prótons (PIXE – Proton Induced X-Ray

Emission).

3.8.1 – Fluorescência de raios x por dispersão de energia (EDXRF)

A fluorescência de raios x por dispersão de comprimento de onda (EDXRF) é

uma técnica instrumental não destrutiva, multielementar, que não requer pré-

tratamento químico elaborado, de baixo custo, fornecendo resultados rápidos e que

permite determinar a concentração de elementos em uma amostra utilizando a

intensidade dos raios-x característicos de cada elemento que a constitui (Figura 18).

Esta técnica tem adquirido um importante papel nos dias de hoje, devido à

possibilidade de detecção simultânea de vários elementos numa ampla faixa de

número atômico e concentrações.

Page 61: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

62

Figura 18 – Esquema simplificado do processo de emissão de raios x por

fluorescência

A figura 19 mostra o equipamento de Fluorescência de Raios-x utilizado nas

determinações semiquantitativas, o carrossel de amostras e o computador com o

programa de interpretação dos dados.

O equipamento empregado foi o modelo EDX 800 HS, Shimadzu, com tubo de

ródio, com voltagem aplicada de 50 KV e amperagem de 1000 µA, detetor de Si – Li

resfriado com nitrogênio líquido. Os limites de detecção para os elementos mais

pesados é da ordem de 1 ppm (mg kg-1), para os elementos ditos leves tais como

Ca, K, Mg e Na e, os limites de detecção são mais altos, em torno de 10 ppm. As

análises foram realizadas na Divisão de Química do Instituto de Engenharia Nuclear.

Page 62: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

63

Figura 19 - Vista frontal do equipamento de raios x Shimatsu EDX 800 HS

3.8.2 - PIXE

O PIXE (Particle Induced X ray Emission) se baseia na emissão de raios x

característicos induzidos pela colisão de partículas carregadas. Os elementos

presentes na amostra são identificados e quantificados através da análise dos

espectros de raios x característicos emitidos pela amostra. Este método vem sendo

utilizado na identificação e quantificação de elementos traços com número atômico Z

>11 (sódio - Johansson e Johansson, 1976) em diferentes áreas de estudo tais

como: geologia, arqueologia, biologia, ciência dos materiais e nos estudos

ambientais, para quantificação de metais presentes em amostras de solo, água e

partículas transportadas pelo ar (de Pinho, 1979; Flores et. al., 1993).

Quando uma partícula carregada incide sobre um alvo, existe a probabilidade

de que um elétron de uma camada mais interna seja ejetado de sua órbita como

resultado da colisão da partícula com o átomo da amostra. A ejeção do elétron

resulta na criação de uma vacância e deixa o átomo num estado excitado. O

relaxamento do átomo ocorre quando um elétron de uma camada ou subcamada

imediatamente superior preenche a vacância. Se a vacância for produzida nas

camadas mais internas K e L, quando o elétron da camada mais externa preenche a

Page 63: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

64

vacância, libera-se energia, que pode ser cedida a outro elétron ou emitida na forma

de fótons (raio x). Esse raio x se deve ao fato dos fótons emitidos serem

monoenergéticos e revelarem detalhes da estrutura atômica do elemento químico,

assim sua energia e intensidade relativa permitem a identificação do elemento de

origem. O esquema do processo de emissão de raios x induzidos pela colisão de

partículas carregadas e mostrado na figura 20:

Figura 20 - Esquema simplificado do processo de emissão de raios x induzidos

pela colisão de partículas carregadas e o espectro de PIXE

A demanda pelo PIXE no campo das ciências ambientais aumentou muito nos

últimos anos, por conta da necessidade da analise de amostras de aerossóis

compostas por elementos de número atômico (Z) elevado (Johansson, 1976; De

Pinho et al., 1979; Artaxo et al., 1992; Flores et al., 1993; Dias da Cunha et al.,

1995).

Em relação aos diversos métodos espectrométricos o PIXE tem algumas

vantagens importantes: a seção de choque para a excitação dos átomos com feixe

de prótons de baixa energia não varia muito com Z se comparado ao método de

ativação neutrônica. Em combinação com um método de concentração o método de

PIXE é capaz de determinar elementos de interesse em níveis de mg kg-1, μg kg-1 e

mesmo abaixo (Johansson, 1995). Assim, esse método torna-se uma importante

ferramenta de pesquisa para determinação de elementos-traço no meio ambiente

assim como em organismos humanos e tecidos.

As amostras foram irradiadas com feixe de prótons de 2,0 MeV e uma corrente

de 20 nA. O feixe de prótons é obtido no acelerador eletrostático Van de Graaff de

Page 64: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

65

4,0 MV da PUC-Rio. Na figura 21 é apresentado um esquema simplificado do arranjo

experimental.

Detector Si-PIN

Feixe de

Protóns

Colimador

Copo de

Faraday

Alvo

Detector Si-PIN

Feixe de

Protóns

Colimador

Copo de

Faraday

Alvo

Detector Si-PIN

Feixe de

Protóns

Colimador

Copo de

Faraday

Alvo

Figura 21 - Esquema simplificado do arranjo experimental utilizado para o PIXE

As amostras são fixadas em um disco suporte com capacidade de 39 alvos,

que se localiza perpendicularmente à direção do feixe de prótons (figura 22). A

pressão interna na câmara de espalhamento é inferior a 2 x 10-6 torr. No arranjo

experimental foram utilizados dois colimadores de 4 e 5 mm e a carga integrada no

copo de Faraday situado após o alvo. A carga e o tempo de irradiação foram

contados utilizando um Timer Counter Ortec EG7G modelo 994. Os raios x

característicos emitidos pelos elementos presentes nas amostras foram detectados

por um detector do tipo Si-PIN, com janela de berílio, marca Ampitex, modelo XRT-

100. Os espectros de raios x foram analisados em um analisador multicanal (marca

NORLAND) e armazenados em um computador conectado à saída do multicanal.

Page 65: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

66

Figura 22 - (a) Arranjo experimental da linha de PIXE no acelerador Van der Graaff

(b)Detalhe do suporte de amostras

O número (NX) de raios x emitidos por unidade de volume depende da seção

de choque do elemento para produção de raios-X por prótons de energia E, do

número de átomos do elemento presentes na amostra e do número de prótons que

incidem sobre a amostra (de Pinho, 1979). Deste modo, dNX é dado por:

dvzyxnyxPEdN XX ,,, (2)

onde:

dv é o elemento de volume;

n (x, y, z) é o número de átomos do elemento por unidade de volume;

P (x, y) é o número de prótons por unidade área do feixe incidente com energia

X (E) – seção de choque do elemento para produção de raios X devido a prótons de

energia E;

Uma fração do número total de raios x induzidos na amostra é auto-absorvida.

Esta fração pode ser quantificada considerando-se a espessura da amostra (z) e o

coeficiente de atenuação da amostra ( ).

A fração de raios x detectada pelo detector depende da geometria o arranjo

experimental. Como a amostra e o detector estão em vácuo (10-6 torr), pode-se

desprezar a atenuação dos raios x pelo meio. Deste modo, o número de raios x é

dado por:

dvzyxnyxPeEdN z

XX ,,,4 (3)

onde:

Ω é o ângulo sólido do detector;

t é a espessura do alvo;

Page 66: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

67

é o coeficiente de absorção linear da amostra;

é a eficiência do detector.

Como a seção de choque para a produção de raios x, EX , depende da

energia do próton incidente a espessura “t” da amostra, esta deve ser fina o

suficiente de modo que o efeito de perda do próton incidente seja pequeno, podendo

ser desprezado. Nesta aproximação pode-se também desprezar o efeito de

absorção dos raios x emitidos. No caso de alvos finos a seção de choque de

produção de raios x para prótons incidindo com uma energia E0, EE XX 0

sendo E a energia do próton depois de atravessar o alvo.

Supondo-se um feixe de prótons com densidade homogênea, o número de

prótons por seção reta do feixe é dado por:

S

PyxP ,

(4)

onde:

P – número total de partículas do feixe;

S – área do feixe;

Deste modo, o número total de raios x emitidos pela amostra por unidade de volume

é dado por:

dzdydxzyxnS

PEN XX ,,

40

(5)

O número total (N) de átomos de um elemento num volume (V) é dado por:

Ν = ∫[n(x, y, z)dxdydz]

(6)

N se relaciona com a massa (M) do elemento presente na amostra através da

seguinte expressão:

A

NMN a

(7)

Page 67: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

68

onde:

M – massa do elemento;

Na – número de Avogrado;

A – massa atômica do elemento.

Assim o número de raios x produzidos por um feixe de prótons com energia Eo

é:

AS

MQEN xx 90

1066,24 (8)

onde:

M é a massa do elemento presente na amostra ( g);

4 é o ângulo sólido do detector (esterorradianos),

S é a área coberta pelo feixe (mm2),

Q é a carga total que atravessa a amostra ( C),

0Ex é a seção de choque do elemento para a produção de raios X induzida por

prótons de energia E0 (barns).

Para se identificar e quantificar os elementos presentes na amostra é preciso

conhecer a contribuição de cada um deles no espectro de raios x total.

A análise é feita com espectros padrões, que são obtidos a partir da

irradiação de amostras monoelementares de elevado grau de pureza, nas mesmas

condições que a amostra analisada.

3.8.2.1 - Calibração

A curva de eficiência absoluta é determinada, irradiando-se alvos padrões

conhecidos nas mesmas condições experimentais das amostras. Este procedimento,

descrito em detalhes na literatura, evita a necessidade de correções devido à

geometria do arranjo experimental (Paschoa, et al., 1977; Dias da Cunha, 1988). A

curva de eficiência absoluta está representada na figura 23.

Page 68: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

69

1 10

1E-11

1E-10

1E-9

1E-8

1E-7

1E-6

1E-5

Regressão Polinomial

Y = A + B1*X + B2*X^2 + B3*X^3 + B4*X^4

Parametros Valores Erro

------------------------------------------------------------

A 0,83151 5,09915

B1 -2,12181 2,33986

B2 0,66949 0,39745

B3 -0,06552 0,02962

B4 0,00209 8,17707E-4EF

ICIE

NC

IA A

BS

OL

UT

A

Energia (keV)

Figura 23 - Curva de eficiência absoluta do detector de Raios-X.

3.8.2.2 - Limite de detecção

O limite de detecção do método PIXE foi determinado pela equação abaixo:

XBgNLMD *3

(9)

onde NXBg é o número de contagem da radiação de fundo na região de interesse.

O limite de detecção do método PIXE para cada elemento depende da energia

das partículas incidentes, da seção de choque dos elementos irradiados e do arranjo

experimental. Devido a variação da seção de choque foram determinadas duas

curvas de limite de detecção, uma para os elementos leves (Z ≤ 42), identificados

pelas linhas Kα e outra para os elementos pesados (Z ≥ 43), identificados pelas

linhas Lα. Nas Figuras 24 e 25 são apresentadas as curvas dos limites de detecção

para os elementos de linhas de energia Kα e Lα, respectivamente.

Page 69: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

70

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30

0,01

0,1

1

10

100

Energia [Kev]

[n

g]

Figura 24 - Curva do limite de detecção do método PIXE, para os elementos leves

(Z 42), identificados pelas linhas de energia Kα.

2 4 6 8 10 12 14 16

0,1

1

[ng]

Energia keV

Figura 25 - Curva do limite de detecção do método PIXE, para os elementos

pesados Z 43), identificados pelas linhas de energia Lα.

A uniformidade do feixe foi obtida com o sistema de colimadores utilizado.

Assim, ao se garantir que toda amostra estava dentro da área do feixe, foram

eliminadas as incertezas associadas à não uniformidade do feixe e não

Page 70: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

71

homogeneidade da amostra.

3.8.2.3 - Análise de espectros

Os espectros multielementares, obtidos das amostras, foram analisados com

auxílio do computador, usando-se programa FITU que foi desenvolvido para este fim

no laboratório Van der Graaff, Departamento de Física da Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro. A contribuição de cada elemento presente na amostra foi

determinada comparando-a ao espectro padrão.

O espectro padrão é obtido, irradiando-se, nas mesmas condições

experimentais das amostras, um alvo do elemento de interesse. O espectro padrão

(espectro monoelementar) é sobreposto ao espectro da amostra (espectro

multielementar). O alvo padrão é normalizado em relação à contribuição do elemento

no espectro da amostra e em seguida é subtraída a contribuição do elemento no

espectro da amostra. Os espectros dos elementos com Z ≤ 42 são normalizados em

relação às linhas Kα e Kβ e os espectros dos elementos mais pesados Z ≥ 43 são

normalizados em relação às linhas Lα e Lβ.

3.8.2.4 - Incertezas do método

As principais fontes de erro no método PIXE são a espessura do alvo, a não

homogeneidade do feixe, o aquecimento da amostra e a sobreposição de picos no

espectro de diferentes elementos.

A espessura não nula das amostras ocasiona a diminuição da energia dos

prótons ao penetrar no material, causando uma variação na seção de choque de

ionização e consequentemente, no número de raios x emitidos. A absorção desses

raios pela própria amostra é também causada pela espessura das amostras. Estes

efeitos podem conduzir a uma quantificação errônea dos elementos presentes.

Efetuando-se as correções para amostras grossas ou preparando-se amostras

suficientemente finas, para que a perda de energia e a auto-absorção possam ser

consideradas desprezíveis, o erro pode ser negligenciado (Johansson & Johansson,

1976).

Page 71: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

72

A distribuição dos elementos na amostra geralmente não é homogênea. É por

esta razão que se precisa utilizar um feixe homogêneo para bombardear as

amostras. A utilização de um difusor produz um feixe com uma distribuição

aproximadamente gaussiana, e atravessando o colimador, com um diâmetro menor

do que a largura da gaussiana permite que só a parte central do feixe atinja a

amostra. Desta forma é possível conseguir um feixe uniforme, de modo que a taxa

de raios x emitidos por cada elemento corresponda apenas ao número de átomo do

mesmo presente na amostra (de Pinho et al., 1979).

Quando um feixe muito intenso incide sobre a amostra, pode provocar

aquecimento e perda de massa de elementos voláteis. Para eliminar esta fonte de

incerteza deve ser utilizado feixe de baixa intensidade.

Ao analisar o espectro de raios x de amostras multielementares se observa a

sobreposição de linhas de raios x dos elementos presentes. Para elementos com

numero atômico entre 20 e 50 é frequente encontrar a sobreposição da linha Kβ de

um elemento com número atômico Z com a linha Kα do elemento com número

atômico Z + 1. Enquanto que para elementos com número atômico maior que 50 a

sobreposição ocorre entre as linhas Lα e Lβ (de Pinho et al., 1979).

3.8.3 – Difração de raios x (DRX)

A técnica da difração de raios x foi utilizada para identificar as fases

cristalinas presentes nas amostras de resíduos coletadas e utilizadas nos ensaios

com LPS. As amostras analisadas foram preparadas conforme descrito no item 3.4 e

secas em estufa a 100 oC. Os difratogramas de raios x foram obtidos pelo metodo do

pó em um difratômetro Shimadzu, Modelo XRD-6000 no Laboratório de Raios x do

Instituto de Engenharia Nuclear. Utilizou-se nesta operação um contador cintilador

de NaI, com um tubo de raios x operado sob tensão de 40 kV e corrente de 30 mA, e

as exposições de dose foram feitas com radiação de Cu Kα, com velocidade de

varredura de 4° min-1, e ângulo 2(θ) variando de 5° a 80o.

Page 72: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

73

CAPÍTULO 4

RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 – Análise química dos resíduos

As amostras coletadas em fevereiro de 2009 na pilha de resíduos foram

analisadas pelo método da fluorescência de raios x para avaliação da

concentração dos elementos presentes.

A Figura 26 mostra um gráfico de colunas com os resultados obtidos por

essa técnica em função das diferentes colorações das amostras recolhidas na

pilha.

P Mg Al Si S K Ca Ti Cr Mn Fe Ni Zn Cu Sr Rb Zr Pb Cd

1E-3

0,01

0,1

1

10

100

µg/g

Elementos

Resíduo branco

Resíduo preto

Resíduo vermelho

Figura 26: Concentração relativa dos elementos presentes nas amostras de

diferentes colorações coletadas na pilha de resíduos.

As Figuras 27 e 28 mostram, respectivamente, o espectro de fluorescência

de raios x para elementos pesados e elementos leves (a partir do sódio)

presentes na pilha de resíduos. Embora se refiram ao resíduo vermelho, as

concentrações relativas aos resíduos branco e preto se assemelham muito,

reflexo da presença dos mesmos elementos em todos eles.

Page 73: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

74

Figura 27: Espectro por fluorescência de raios x dos elementos pesados

presentes no resíduo vermelho.

Page 74: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

75

Figura 28: Espectro por fluorescência de raios x dos elementos leves presentes no resíduo vermelho.

Page 75: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

76

O resíduo preto observado em vários pontos da superfície da pilha é devido à

presença de ferro. O minério de ferro presente é a magnetita, confirmado através de

análise por difração de raios x; ele foi trazido pelos ventos diretamente do Porto de

Itaguaí, que é atualmente um terminal de minérios, que inclui o pátio de estocagem de

minério de ferro da Companhia Portuária Baía de Sepetiba (CPBS), empresa coligada

à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD); do carvão metalúrgico e coque de hulha da

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e alumina da Valesul Alumínio S.A. Essa é a

característica que diferencia o resíduo preto dos demais resíduos.

A presença dos sulfatos de cálcio anidro e hemi-hidrato, no caso do resíduo

branco, tem correspondência com a cor desse resíduo, pois esses compostos são

brancos. Mais exatamente, os silicatos e os sulfatos precipitados na etapa de ajuste do

pH com cal, somados ao carbonato de estrôncio utilizado na etapa de precipitação do

chumbo (Delmonte, 2010), etapa que antecede a eletrólise, são os compostos que

conferem a coloração branca observada em algumas regiões da superfície da pilha de

resíduos. Esta é a característica que diferencia o resíduo branco dos demais resíduos.

As nuances de coloração variando de marrom claro a marrom avermelhado

lembrando a coloração de um tijolo, conforme apresentado na figura 12 são

decorrentes do processo de filtração utilizado, quando o processo de filtração é por

filtro rotativo, a coloração tende ao marrom claro e quando decorrente do processo de

filtração com filtro prensa tende ao marrom avermelhado (Delmonte, 2010). No filtro

prensa o percentual de umidade no rejeito é muito menor, em comparação com o filtro

rotativo. Essa é a característica que diferencia o resíduo vermelho dos demais. Face à

sua origem, o resíduo vermelho é o mais abundante dentre todos.

As figuras 29 a 31 mostram os espectros de difração de raios x dos três

resíduos - branco, preto e vermelho. Os difratogramas têm em comum a presença de

óxido de ferro(III), particularmente destacado no caso do resíduo preto, fato esse em

consonância com a origem desse resíduo, discutida anteriormente.

O difratograma do resíduo vermelho apresenta uma importante característica: a

presença de sulfato de zinco, oriundo do processamento dos minérios de zinco. A

questão deste sal ser monoidratado se refere à sua menor solubilidade em água, em

relação aos demais sulfatos de zinco hidratados (Weast, 1982).

A partir do exposto nos parágrafos anteriores, pode-se concluir que os resíduos

foram depositados no local da pilha atual uns sobre os outros, sem qualquer processo

Page 76: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

77

de mistura ou homogeneização induzido. A ação do vento e da chuva promoveu uma

certa mistura entre eles, levando à presença dos mesmos elementos em todos os tipos

de resíduos identificados na pilha.

Figura 29: Difratograma do resíduo branco. Os picos correspondem a Fe2O3 (A),

CaSO4 (B) e CaSO4.1/2 H2O (C).

Figura 30: Difratograma do resíduo preto. Os picos correspondem a Fe2O3 (A) e

SiO2 (B).

Figura 31: Difratograma do resíduo vermelho. Os picos correspondem a Fe2O3 (A) e

ZnSO4.H2O (B).

B B

B

B

A

B

4000

2000

0 In

ten

sid

ad

e (

u.

a.)

10 20 30 40 50 60 70

2 (θ)

B B B

B

B

B

B B A A

A A

A

A

A A

6000

4000

2000

0

Inte

nsid

ad

e (

u.

a.)

10 20 30 40 50 60 70

2 (θ)

B B

B B B

B

A A A

A

A A

A

A

4000

2000

0 In

ten

sid

ad

e (

u.

a.)

10 20 30 40 50 60 70

2 (θ)

B

A

A A B A A

A

A A

A

A A C

C

Page 77: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

78

4.2 – Análise das amostras de bioindicadores

Amostras de bioindicadores tillandsias usneoides, inseridas na área da Cia

Mercantil e Industrial Cia Industrial e Mercantil Ingá, confirmaram a presença de

vários metais na atmosfera do local onde se encontra a pilha de resíduos. A Figura

34 mostra as concentrações de elementos nas amostras de bioindicadores,

coletadas a uma distância de 5 m e de 100 m da massa de resíduos, após 40 dias

de exposição e analisadas pelo método PIXE, em comparação com uma amostra de

controle mantida no local de coleta das tillandsias. Tanto a amostra de controle

quanto as amostras transferidas para o local de estudo se mantiveram verdes

durante os 40 dias de duração do experimento, indicando suas condições

fisiológicas e metabólicas capazes de acumular elementos da atmosfera.

Julianelli (2008) realizou um estudo detalhado da caracterização dos

aerossóis gerados pela ação intempérica sobre o rejeito sólido inspecionado

estocado a céu aberto, determinando a concentração elementar e o tamanho

aerodinâmico das partículas. A caracterização foi realizada em amostras de ar e

também determinou os elementos presentes nas partículas transportadas pelo ar e

depositadas nas folhas das árvores, no entorno da área da Cia Mercantil e Industrial

Ingá. A análise das amostras realizada pelo método PIXE mostraram a presença de

Al, S, K, Ca, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Co, Cu, Zn e Cd.

Os resultados das amostras de tillandsias usneoides apresentados na Figura

32 confirmam os resultados de amostras coletadas por Julianelli e demonstram que

a população está efetivamente exposta a aerossóis contendo partículas de metais

oriundas da pilha de resíduos sob análise.

Page 78: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

79

K Ca Ti Cr Mn Fe Cu Zn Cd Pb

1E-6

1E-5

1E-4

1E-3

0,01

0,1

1

10

µg/g

Elemento

100 m da área de processo

5 m da área de processo

amostra de controle

Figura 32: Elementos encontrados na tillandsia usneoide após 40 dias de

exposição absorvendo os aerossóis da área de estocagem de resíduos.

Embora seja assumido que a área onde as tillandsias usneoides foram coletadas

seja uma área sujeita a poucos poluentes por ser de proteção ambiental, alguns

elementos foram encontrados, são eles: K, Ca, Ti, Cr, Mn, Fe, Cu e Zn. A presença do

potássio se explica pela absorção dos aerossóis marinhos, bem como o cálcio. O

titânio e o cromo, provavelmente são transportados pelos ventos de áreas onde

existem construções de edifícios e obras em geral onde o uso de cimento e tintas são

comuns. O zinco e o cobre se originam do próprio metabolismo da floresta de mata

atlântica onde o Costão do Grumari está inserido. O ferro se origina dos contrafortes

que separam as regiões do Grumari e Guaratiba, esses contrafortes apresentam

teores de ferro maiores em comparação a outras regiões montanhosas do estado do

Rio de Janeiro. Os elementos Cd e Pb não foram encontrados na amostra de controle.

4.3 - Caracterização das amostras utilizadas nos ensaios de solubilidade em LPS

As fatias I, II, III, IV e V, coletadas para essa finalidade, foram misturadas

formando um lote único, com o objetivo de formar uma amostra representativa do teor

Page 79: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

80

médio dos elementos presentes. A figura 33 apresenta a análise por Fluorescência de

Raios x, onde os mesmos elementos foram encontrados em todas as fatias,

apresentando variações nas suas concentrações.

Ca S Pb Fe Mg Si Zn Cr Sr P Cd Ni Rb Ti

0,01

0,1

1

10

100

mg

/g

Elemento

I

II

III

IV

V

Figura 33: Elementos encontrados nas fatias da pilha de resíduos.

As amostras de resíduo utilizadas nos ensaios de solubilidade em líquido

pulmonar simulado (LPS) foram analisadas pelo método PIXE para determinação da

composição elementar. Os elementos encontrados nas amostras utilizadas nos

ensaios de solubilidade e suas concentrações são apresentados na Tabela 2 e na

Figura 33. Foram encontrados os elementos K, Ca, Ti, V, Cr, Mn, Fe, Ni, Cu, Zn, As,

Rb e Cd. Na técnica de PIXE foi utilizada uma folha de alumínio, conforme descrito

no capítulo 3, que funciona como filtro de raios x de baixa energia, por essa razão,

os elementos P, Mg, Si, S e Sr que são mostrados no espectro de fluorescência de

raios x não são determinados no método PIXE. Os elementos presentes no resíduo

estão presentes no minério original ou foram adicionados na etapa do processo

hidrometalúrgico para obtenção de lingotes, conforme descrito detalhadamente no

capítulo 2, item 2.8. A grande concentração de Fe nas amostras coletadas junto a

Cia Mercantil e Industrial Ingá indica que partículas contendo Fe (magnetita) foram

Page 80: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

81

transportadas pelo vento por meio de aerossóis do porto de Sepetiba conforme

explicado no item anterior, somado à concentração presente no minério calamínico.

Cabe salientar que a presença de vanádio(V) indica que a população também

está exposta a aerossóis provenientes da queima de diesel produzidos pelos

veículos de carga que circulam pelo porto de Itaguaí (Julianelli, 2008; Neves, 2005).

Tabela 2 – Teor dos elementos presentes nas amostras utilizadas nos ensaios de

solubilidade em LPS.

Elemento Concentração, µg/g-1

K 6,224 x 10-2

Ca 1,877 x 10-1

Ti 2,028 x 10-2

V 8,760 x 10-3

Cr 1,588 x 10-2

Mn 6,636 x 10-2

Fe 3,216 x 10+4

Ni 8,210 x 10-3

Cu 4,520 x 10-3

Zn 1,092 x 10+3

As 3,289 x 10-2

Rb 3,772 x 10-2

Cd 2,441 x 10-1

Page 81: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

82

K Ca Ti V Cr Mn Fe Ni Cu Zn As Rb Cd

1E-7

1E-6

1E-5

1E-4

1E-3

0,01

0,1

1

10

100

1000

10000

µg

/g

Elemento

Figura 34: Concentração dos elementos presentes na amostra usada nos ensaios

de solubilidade em LPS.

Os altos teores encontrados para o Zn e o Cd nessas amostras se explicam

pelo próprio processo de beneficiamento e processamento hidrometalúrgico dos

minérios, gerando grandes quantidades de resíduos, incluindo metais pesados e

impurezas de outros metais. O minério utilizado apresentava um teor médio de 23%

m/m de zinco e 0,03% m/m de cádmio. Na etapa de flotação, estes elementos eram

concentrados e podiam apresentar valores de até 45% m/m em Zn e 0,06% m/m de

cádmio. Após a etapa de beneficiamento físico do minério, o minério era tratado com

ácido sulfúrico e, após filtração, produzia o principal rejeito sólido que podia

apresentar até 7% em massa de zinco e 0,01% de Cd, e era depositado no entorno

da área de produção, formando a pilha de resíduos atual.

Delmonte (2010) realizou um estudo de caracterização da pilha de resíduos e

a análise granulométrica indicou textura variando de franco-siltosa a silte, com

tamanho de partículas variando de 0,2 µm a 50 µm, similares à areia na forma e

composição mineral, se apresentado suave e sedosa ao toque. Os ensaios de

permeabilidade realizados segundo a norma ABNT NBR-14545 (2000), indicou

valores para os coeficientes de permeabilidade entre 1,0 x 10-4 e 5,0 x 10-6 cm s-1.

De acordo com a classificação de permeabilidade de Terzaghi e Peck (1967), esses

valores indicam um grau de permeabilidade de baixa à praticamente impermeável,

Page 82: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

83

indicando que os contaminantes têm dificuldade de percolar. A granulometria do

resíduo é muito baixa, e as partículas provenientes da pilha de resíduos têm

facilidade de permanecer em suspensão nos aerossóis formados a partir da região

que contém a pilha (Laurel et al, 2007).

4.4 - Testes de solubilidade in vitro

4.4.1 – Análise dos metais no Líquido Pulmonar Simulado (LPS)

Na preparação da solução de Gamble foram utilizados reagentes de grau

analítico PA. Os elementos achados, quando da determinação da composição

elementar (Figura 35) são, na verdade, impurezas encontradas nos reagentes

utilizados e estavam dentro da especificação do fabricante, exceto Ca e K,

constantes nos seus rótulos e boletins de garantia. A composição do LPS está

apresentada na Tabela 1 do capítulo 3. As concentrações de K e Ca estão de

acordo com a composição do LPS.

O procedimento de preparo das amostras e dos ensaios com LPS estão

descritos detalhadamente no item 3.4 do capítulo 3. Na Tabela 3 são apresentados

os elementos selecionados para esse estudo que foram solubilizados e as

quantidades relativas solubilizadas cumulativamente no LPS em cada base

temporal. Os ensaios foram realizados em triplicata re a tabela 3 apresenta o valor

médio, os valores de desvio padrão são apresentados no apêndice B.

Os contaminantes de interesse considerados foram os metais zinco, cádmio,

cromo, manganês e níquel devido às suas altas concentrações nas amostras

coletadas e aos seus efeitos tóxicos em potencial à saúde humana. Conforme

avaliação da exposição dos contaminantes detectados na área da Cia Mercantil e

Industrial Ingá, publicado por Guidry (2008), esses elementos foram encontrados em

toda a área, incluindo águas superficiais e subterrâneas, solos, manguesais, lagoas

e área industrial.

As vias de exposição consideradas foram: ingestão, inalação e contato

dérmico com o solo; ingestão e contato dérmico com água superficial e ingestão e

contato dérmico com a água subterrânea. Os receptores são os moradores

residenciais da Ilha da Madeira e os trabalhadores da Cia Industrial e Mercantil Ingá.

Page 83: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

84

O quociente de perigo não carcinogênico (HQ) foi ultrapassado para as vias de

exposição por ingestão e inalação de solo por trabalhadores da Cia Industrial e

Mercantil Ingá. A inalação de solo se apresentou como a via mais crítica (Guildry,

2008).

Tabela 3 – Concentração acumulada de elementos no LPS

Fração de massa acumulada

Tempo (dias) Cr Mn Ni Zn Cd

0,00694 0,02216 0,06513 0,06325 0,06972 0,10443

0,08333 0,05981 0,09871 0,10071 0,15682 0,30886

0,16666 0,10368 0,13849 0,14661 0,16968 0,36012

0,25 0,14606 0,17787 0,19664 0,18871 0,39379

0,5 0,18901 0,23410 0,23611 0,21045 0,46583

1 0,23063 0,29259 0,27459 0,23180 0,49639

5 0,27558 0,46317 0,33025 0,82113 0,51624

7 0,31918 0,50634 0,36755 0,91057 0,51624

14 0,36669 0,58253 0,41694 0,92131 0,51854

21 0,41965 0,65092 0,45661 0,93321 0,58641

30 0,48151 0,69923 0,52437 0,94522 0,62697

60 0,54707 0,73476 0,58251 0,94846 0,69259

90 0,68659 0,79156 0,64687 0,95775 0,81693

120 0,75078 0,86912 0,77542 0,96652 0,85086

160 0,83962 0,91144 0,84397 0,97600 0,87729

210 0,91591 0,95100 0,88345 0,98387 0,97136

280 1 1 0,94834 0,98763 1

360 1 1 1 1 1

Page 84: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

85

K Ca Cr Mn Cr Fe Ni Zn

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

µg/

L

Elemento

Figura 35: Concentração de metais do LPS

Na Figura 36 é apresentado um gráfico que mostra o comportamento dos

metais solubilizados no LPS, com base na Tabela 3. A velocidade de dissolução é

muito próxima para todos os elementos até aproximadamente 15 h de exposição,

quando então começa uma diferenciação entre eles, na ordem Zn > Mn ~ Cd > Cr ~

Ni.

0 50 100 150 200 250 300 350

0,1

1

µg

/L

Tempo (dias)

Cr

Mn

Ni

Zn

Cd

Figura 36: Comportamento dos elementos solubilizados (base cumulativa) em LPS

provenientes do resíduo da Cia Mercantil e Industrial Ingá.

Page 85: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

86

4.4.2 - Determinação dos parâmetros de solubilidade

Os experimentos in vitro representam valores que correspondem à cinética de

dissolução dos compostos. A taxa de dissolução para a fração rápida foi

determinada, considerando-se os intervalos a seguir: 10 min, 30 min, 60 min, 120

min, 240 min, 360 min e 720 min. As amostras empregadas para a obtenção das

taxas de dissolução da fração lenta foram coletadas nos intervalos: 1, 3, 5, 7, 14, 21,

30, 60, 90, 120, 160, 210, 280 e 360 dias. As razões entre as frações dissolvidas e

não dissolvida foram quantificados com base nos dados experimentais

correspondentes as frações de dissolução rápida (ƒr) e as frações de dissolução

lenta (fs).

As curvas de solubilidade que representam os elementos Zn, Cd, Mn, Cr e Ni

provenientes da pilha de resíduos da Cia Mercantil e Industrial Ingá são

apresentados nas Figuras 37, 38, 39, 40 e 41, respectivamente.

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0y = 0.94477*exp(0.3324t) + 0.05523*exp(0.00472t)

Fra

çã

o d

e z

inc

o n

ão

dis

so

lvid

o

Tempo[dias]

Figura 37: Curva de solubilidade da massa de zinco acumulada não dissolvida em

LPS

Page 86: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

87

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Tempo [dias]

y = 0.47335*exp(7.6799t) + 0.52665*exp(0.0110t)F

raçã

o d

e c

ád

mio

o d

isso

lvid

o

Figura 38: Curva de solubilidade da massa de cádmio acumulada não dissolvida em

LPS.

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

y=0.49673*exp(0,7025t)+0.50327*exp(0,01158t)

Fra

ção

de m

an

gan

ês n

ão

dis

so

lvid

o

Tempo [dias]

Figura 39: Curva de solubilidade da massa de manganês acumulada não dissolvida

em LPS.

Page 87: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

88

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

y=0.22568*exp(1,8718t)+0.77432*exp(0,00785t)

Fra

çã

o d

e c

rom

o n

ão

dis

so

lvid

o

Tempo [dias]

Figura 40: Curva de solubilidade da massa de cromo acumulada não dissolvida em

LPS.

0 50 100 150 200 250 300 350 400

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

y=0.29969*exp(2,09t)+0.70031*exp(0,0087t)

Fra

çã

o d

e n

íqu

el

o d

iss

olv

ido

Tempo [dias]

Figura 41: Curva de solubilidade da massa de níquel acumulada não dissolvida em

LPS.

Page 88: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

89

4.2.3 - Determinação dos valores dos parâmetros de dissolução

Os parâmetros experimentais fr (fração de dissolução rápida), fs (fração de

dissolução lenta), λr (taxa de dissolução rápida) e λs (taxa de dissolução lenta) foram

determinados para o zinco, cádmio, manganês, cromo e níquel presentes na pilha

de resíduos de acordo com as equações 1 e 2, descritas no item 3.5 do Capítulo 3, e

são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 – Parâmetros de solubilidade determinados para zinco, níquel, cromo,

cádmio e manganês presentes no resíduo

Metal fr r (d-1) fs s (d

-1)

Zinco 0,945 0,332 0,055 0,005

Niquel 0,300 0,332 0,700 0,009

Cromo 0,226 1,872 0,774 0,008

Cádmio 0,473 7,680 0,527 0,011

Manganês 0,497 0,703 0,503 0,012

Os valores de meia-vida foram calculados para esses metais de acordo com a

equação 3, descrita no item 3.5 do Capítulo 3 e são apresentados na tabela 5.

Tabela 5: Valores de meia- vida para as taxas de dissolução rápida e lenta

Metal t1/2 de dissolução rápida (d) t1/2 de dissolução lenta (d)

Zinco 2,082 146,95

Niquel 0,332 79,66

Cromo 0,370 86,64

Cádmio 0,090 63,00

Manganês 0,990 59.84

Page 89: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

90

O zinco mostrou uma fração de dissolução rápida bastante elevada (0,945, o

mais elevado de todos os metais), indicando que a maioria do elemento foi

rapidamente dissolvido no LPS (Figura 36), embora a correspondente meia-vida de

dissolução (2,082 dias) seja elevada (Tabela 5) e λr seja o menor dentre todos os

elementos (Tabela 4). Dados de DRX do resíduo combinado utilizado nos ensaios

com LPS (Figura 41) apresentam duas fases cristalinas significativas: Fe2O3 e

ZnSO4.H2O (os outros elementos não foram detectados devido às suas abundâncias

muito baixas nas amostras). O difratograma da Figura 41 se assemelha em muito ao

da Figura 31 para o resíduo vermelho, visto que ele é o resíduo dominante na pilha

de resíduos. De acordo com dados da Tabela 6, (Weast, 1982), a solubilidade do

sulfato de zinco é elevada (especialmente o heptaidratado), mas o monoidrato é

menos solúvel que os demais sulfatos do metal. Esta característica somada a um

alto teor de zinco no resíduo pode explicar a sua λr baixa. A fração de dissolução

rápida de zinco está associada à presença de sulfatos de zinco ao passo que a

fração de dissolução lenta provavelmente está associada às espécies silicato

originadas do minério. A meia-vida para a fração de dissolução lenta, está perto de

150 dias (também o valor mais elevado para todos os metais), que concorda com o

valor baixo de λs (Tabela 4), indicando que após a inalação, uma pequena

quantidade de zinco permanece no pulmão por longo tempo antes de ser dissolvida.

Figura 41: DRX do resíduo combinado. Os picos representam: Fe2O3 (A) e

ZnSO4.H2O (B).

B B B

B

B

B

B

B B A A

A A

A

A

A A

6000

4000

2000

0

Inte

nsid

ad

e (

u.

a.)

10 20 30 40 50 60 70

2-teta (º)

Page 90: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

91

Tabela 6: Dados de solubilidade para sulfatos anidros e hidratados de Zn, Cd, Cr, Ni

e Mn (Weast, 1982)

Composto Zn

g/100 mL H2O

Cd

g/100 mL H2O

Mn

g/100 mL H2O

Ni

g/100 mL H2O

XSO4 solúvel

350 (20ºC)

[ZnSO4.H2O]

755 (0ºC) 520 (5ºC) 293 (0ºC)

XSO4.7H2O 965 (20ºC) solúvel 1720 (10ºC) 756 (15ºC)

XSO4.6H2O solúvel 1130 (0ºC)

[3CdSO4.8H2O]

1474 (5ºC) 625 (0oC)

O zinco é um elemento essencial para o metabolismo humano, sendo

fundamental para a produção de insulina, podendo o organismo desenvolver os

vários tipos de diabetes se não for produzido esse hormônio e outros diversos

compostos dependem da presença de zinco. O pâncreas pode sofrer efeitos tóxicos

sérios pela ingestão excessiva de zinco bem como os ossos em aves e mamíferos.

Podem causar sintomas tais como anorexia, depressão, diarréia, vontade de comer

e beber em excesso e em casos mais sérios, convulsões e morte (Guidry, 2008). A

inalação de vapores de Zn causa grande irritabilidade e lesões ao sistema

respiratório (Brito Filho, 1988).

A principal via de incorporação para compostos de zinco é a ingestão através

dos alimentos. Dados de ingestão máxima diária são facilmente encontrados na

literatura com faixas variando entre 4,6 a 18,6 mg ao dia, enquanto dados

quantitativos de absorção via inalação quase não estão disponíveis, embora seja

comprovado que o zinco acumulado por exposição ocupacional de trabalhadores

indicou ocorrência de absorção pelo trato pulmonar, através de exames de sangue e

urina (Hamdi, 1969; Trevisan et al., 1982). Os raros dados encontrados na literatura

para parâmetros de solubilidade referem-se a um estudo in vitro utilizando LPS,

onde os autores determinaram a taxa de dissolução do ZnO de pureza analítica em

solução de Gamble em dois diferentes pHs onde foi usado o líquido simulado

Page 91: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

92

extracelular (pH = 7,4) e o líquido pulmonar intracelular (pH = 4,5). Os valores

diferem muito dos valores encontrados em nossos estudos.

Embora o cádmio (Figura 37) e o manganês (Figura 38) apresentem valores

comparáveis para as frações de dissolução rápida, os seus valores de meia-vida são

bastante diferentes (bem como as suas taxas de dissolução rápida). Já os valores

de taxa de dissolução lenta (λs) são baixos, mas eles não diferem muito entre si

(Tabelas 4 e 5). Em particular, o cádmio apresenta a maior taxa de dissolução

rápida. Sulfatos de cádmio e manganês são muito solúveis em água (Tabela 6).

Essa taxa de dissolução rápida relativamente alta para o cádmio e tempo de meia

vida baixo, quando comparada aos outros elementos presentes na escória é

bastante preocupante quando se leva em conta a toxicidade deste elemento. O

cádmio está classificado na categoria 1 de elementos carcinogênicos ao ser humano

humanos, e sua inalação aumenta sobremaneira o risco de câncer pulmonar (IPCS,

1992).

Esse elemento é mais eficientemente absorvido pelos pulmões (25-60%) do

que pelo sistema gastrointestinal (5-10%). Sua solubilidade via inalação é

dependente da solubilidade, tamanho das partículas e do local onde é depositado no

trato respiratório (RAIS, 1991). Os resultados obtidos para cádmio no presente

trabalho indicam um valor alto biodisponível para absorção sistêmica e o tempo de

meia-vida relativamente baixo indica que esse elemento pode se bioacumular, após

translocação para os diversos órgãos e tecidos por exposição continuada. Tendo em

conta a toxicidade do cádmio, o resíduo em estudo pode representar efeitos nocivos

à saúde, confirmando assim os seus efeitos sobre o habitante da vila e / ou os

trabalhadores da planta que inalaram partículas do ar produzidas a partir desse

resíduo. (Julianelli, 2008; Pitassi, 2009).

O manganês (Mn) está presente nesse resíduo devido à adição de pirolusita

(MnO2) em excesso na etapa do processo de lixiviação do minério com H2SO4, o

óxido de manganês (IV) era reduzido a MnSO4 conforme a reação que se segue:

MnO2 + 4H+ + 2e- ═ Mn2+ + 2H2O

E0 = + 1,23 V

Page 92: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

93

O excesso de pirolusita permaneceu no resíduo. Os resultados obtidos

demonstraram que a fração de dissolução rápida (fr = 0,497) corresponde ao

MnSO4, formado na etapa de lixiviação. Esse composto apresenta uma alta taxa de

dissolução (r = 0,703 d-1). Os resultados obtidos para a fração de dissolução lenta

correspondem ao MnO2 que não reagiu com o H2SO4, permanecendo como

pirolusita numa fase sólida. A exposição ocupacional ao manganês e seus

compostos tem sido bastante estudada e valores máximos permitidos para

partículas em suspensão contendo esse elemento estão publicados na literatura por

vários órgãos internacionais de controle ambiental, sendo da ordem de 1 mg m-3 por

8 h de exposição diária (Martins e Lima, 2001).

Os pulmões, o sistema nervoso central e o sistema reprodutivo são os órgãos

do corpo afetados pela inalação de partículas contendo manganês. É sabido que os

compostos solúveis desse elemento (sobretudo cloretos e sulfatos) desaparece da

corrente sanguínea muito rapidamente, apresentando uma meia-vida plasmática de

0,5 a 5 min, sendo excretado na urina, quando a via de incorporação é por inalação.

Não se deve confundir tempo de meia-vida de dissolução com meia-vida plasmática;

esta última refere-se ao tempo de decaimento à metade de um elemento no sangue

(já translocado do compartimento pulmonar para o sangue), a partir do momento que

este atinge o clearance de concentração (Siqueira, 1984). Portanto, os compostos

solúveis são rapidamente excretados pelo organismo, não causando danos por

exposição em curto prazo. Os relatos de doenças causadas pelo manganês citam a

contaminação interna por seus compostos insolúveis, principalmente, o MnO2, que,

após ser inalado e translocado para o sistema sanguíneo, se aloja preferencialmente

no cérebro e ossos, permanecendo por longos períodos nesses órgãos. Não são

conhecidos os mecanismos que o corpo usa para excreção do manganês, mas

sabe-se que é dependente da concentração de ferro no organismo (WHO, 1999).

O níquel (Figura 40) apresentou o valor mais baixo para a fração de

dissolução rápida, e também uma baixa meia-vida de dissolução nesta situação

(0,332 dias). Os seus sulfatos são menos solúveis em água do que aqueles

correspondentes dos outros metais (Tabela 6). A sua meia-vida para a fração de

dissolução lenta foi apenas ligeiramente maior do que para o cádmio e manganês,

provavelmente, a natureza desta fração é semelhante para estes três metais.

Page 93: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

94

Os compostos de níquel são classificados pela Organização Mundial da

Saúde (OMS) no grupo I correspondente a compostos potencialmente cancerígenos

para o ser humano. Níquel e seus compostos são absorvidos pelo trato respiratório,

essa absorção aumenta com o aumento da solubilidade dos compostos (IPCS,

1991). Os pulmões translocam os compostos solúveis mais rapidamente, porém,

tanto compostos de níquel solúveis quanto os insolúveis nos fluidos pulmonares

podem causar inflamação. A reação é mais rápida para os compostos solúveis

(Benson et al., 1986). Entretanto, os compostos insolúveis são muito lentamente

removidos dos fluidos pulmonares, acumulando ao longo do tempo, podendo levar

ao desenvolvimento de tumores no pulmão. As normas de exposição a poeiras

contendo níquel por trabalhadores limita em 0,1 mg m-3 para os compostos solúveis

e 1 mg m-3 por 8 horas de exposição diária para compostos insolúveis (NOHSC,

1995).

O cromo (Figura 39) encontra-se na maior parte das listas nacionais e

internacionais de metais de elevada toxicidade, para os quais se aplicam rígidos

procedimentos de controle (ASTDR, 2000). O cromo ocorre na hemimorfita e na

welemita como impureza em substituições isomórficas de macroelementos

constituintes da rede cristalina destes minérios, onde sua concentração pode variar

de 1 a 40 µg g-1 (Alloway, 1994); a concentração de cromo em efluentes descartados

no meio ambiente permitida pela União Europeia e pela USEPA é inferior a 2 mg L-1

(Baral e Engelken, 2002).

No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), por meio da

Resolução 397, de 3 de abril de 2008, limita a concentração de cromo(VI), no

máximo, em 0,1 mg L-1, e 1,0 mg L-1 em cromo(III), seguindo os critérios da

comunidade internacional. A concentração de cromo total encontrada no resíduo foi

de 16 mg.kg-1, o que leva a uma concentração da ordem de 150 vezes maior que o

permitido pelo CONAMA. No processo hidrometalúrgico que era utilizado para

obtenção do zinco de alta pureza, o concentrado do minério era lixiviado com H2SO4

na presença de pirolusita, o pH era ajustado entre 2 e 3 com cal e filtrado, gerando a

torta de descarte, que formou a massa de resíduos ao longo de mais de 30 anos

(Silva, 2005; Delmonte 2010). Este meio reacional, embora oxidante, não era

suficiente para oxidar o cromo(III) presente no minério flotado a cromo(VI), conforme

demonstrado nas equações de oxirredução a seguir:

Page 94: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

95

MnO2 + 4H+ + 2e- ═ Mn2+ + 2H2O E0 = + 1,23 V

2Cr3+ + 7H2O ═ Cr2O7= + 14H+ + 6e- E0 = - 1,33 V

3MnO2 + 2Cr3+ + H2O ═ 3Mn2+ + Cr2O7= + 2H+ E0 = - 0,10 V

O cromo(III) possui toxicidade apenas em elevadas concentrações (Anderson,

1997), e levando-se em conta que a principal via de introdução dos compostos de

cromo é a pulmonar. O cromo na concentração em que se encontra no resíduo e,

consequentemente, nos aerossóis formados a partir deste, se torna extremamente

perigoso para o homem, principalmente as formas insolúveis. O comportamento do

cromo no LPS deve ser atribuído ao cromo(III) presente na forma de sulfato,

(Cr2(SO4)3, (Cr2(SO4)3.xH2O), sendo que a forma anidra é bem menos solúvel em

água do que as formas hidratadas.

Page 95: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

96

CONCLUSÕES

As técnicas de fluorescência e difração de raios x permitiram detectar e

identificar as diferenças em termos de composição química e fases cristalinas dos

três tipos de material existentes na pilha de resíduos da Cia Industrial e Mercantil

Ingá (preto, branco e vermelho). Na composição da amostra representativa das

diferentes amostras tomadas, a primeira apresenta características próximas do

resíduo vermelho por ser este o predominante na pilha de resíduos. Além do óbvio -

essa pilha é basicamente composta pelos resíduos dos minérios de zinco

processados e dos próprios processos de obtenção do zinco -, a análise química

evidenciou a presença de elementos de fontes externas (Fe e V), fato esse

relacionado à exposição direta da pilha de resíduos às intempéries naturais (chuva,

vento etc.).

Embora se reconheça que não foi feito um estudo pormenorizado, as

amostras de tillandsias usneoides comprovaram o impacto ambiental e à saúde da

população causados pelos aerossóis gerados a partir da pilha de resíduos em

estudo, corroborando estudos da literatura envolvendo esta mesma pilha sob outras

óticas de estudo. A técnica PIXE se revelou apropriada para estudos face aos limites

de detecção muito baixos, e aos teores dos elementos de interesse presentes nas

tillandsias.

Os testes de solubilidade em líquido pulmonar simulado (LPS), através de

ensaios in vitro em sistema estático revelaram um comportamento substancialmente

diferente daquele assumido pela planta industrial da Cia Industrial e Mercantil Ingá:

que os compostos presentes na pilha de resíduos eram estáveis e apresentavam

baixa mobilidade no solo e na água. Os compostos de zinco, níquel, cromo, cádmio

e manganês apresentaram duas frações de dissolução: rápida (Zn > Mn ~ Cd > Ni ~

Cr) e lenta. Segundo a ICRP 66, de acordo com o grau de absorção dos metais

pelos fluidos corporais, os compostos dos elementos supracitados podem ser

classificados em compostos do tipo M, de absorção moderada, em que 10% dos

compostos apresentam meia-vida de até 10 min, e os restantes 90% com uma meia

vida de até 140 dias. Consequentemente, esses compostos podem ser transferidos

a partir dos pulmões para os fluidos corporais e, em seguida, metabolizados pelo

Page 96: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

97

corpo humano, confirmando o caráter tóxico da pilha de resíduos, como

demonstrado em alguns estudos anteriores.

As frações de dissolução rápida do zinco, níquel, cromo, cádmio e manganês

são associados a espécie sulfato hidratadas, provenientes da etapa de digestão dos

minérios de zinco com H2SO4. A fração de dissolução lenta para esses metais está

associada às espécies sulfato na forma anidra, silicatos (oriundos dos minérios

originais) e óxidos (caso do manganês - MnO2).

Estudos deste porte e detalhamento, embora possam exigir um tempo

considerável para a sua consecução, são raros no Brasil, e um estudo envolvendo

um passivo ambiental do porte como o da Cia Industrial e Mercantil Ingá serve como

exemplo para que regiões mineradoras (em atividade ou que venham a entrar em

operação), indústrias de processamento de minérios e indústrias que fabricam

materiais metálicos possam ter um monitoramento ambiental mais apurado,

prevenindo impactos ambientais e danos à saúde de seus funcionários e da

população do entorno. O estudo com biomarcadores (como as tillandsias) pode ser

mais detalhado, envolvendo amostragens em períodos mais regulares e em mais

locais no entorno da fonte de geração de aerossóis contendo metais.

Como em todos os estudos envolvendo toxicologia ambiental, os ensaios in

vitro devem ser corroborados e validados por meio de ensaios in vivo, para que os

dados obtidos possam servir de referência para estudos de toxicologia ocupacional.

Page 97: ii Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química

98

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Apêndice A

Homem de Referência

De acordo com a Comissão Internacional de Proteção Radiológica em sua

publicação ICRP-23 de 1975, o Homem de Referência é defino como: homem

caucasiano de origem europeia ou norte-americana, 20 a 30 anos de idade, pesando

70 kg, 170 cm de altura, e que vive em uma temperatura de 10 a 20ºC.

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122

Apêndice B

Desvio padrão dos valores médios obtidos a partir de três medidas para as massas solubilizadas (fração acumulada) no Líquido

Pulmonar simulado.

Tempo Zinco Cádmio Cromo Níquel Manganês

0,00694 0,000739797 0,002320711 0,001517399 0,004565359 0,003906495

0,08333 0,007354346 0,004185547 0,013708242 0,004922103 0,001276715

0,16666 0,003894663 0,0085539 0,064652681 0,000701498 0,002392551

0,25 0,007336968 0,004668651 0,006326002 0,004812858 0,005441296

0,5 0,016269988 0,002103735 0,023020332 0,001218647 0,002253886

1 0,009787237 0,008942108 0,009683037 0,001747598 0,005423403

5 0,011522712 0,004536827 0,014702554 0,001964052 0,0051603

7 0,005456272 0,007094392 0,013146908 0,003089903 0,006960374

14 0,004099036 0,006552225 0,003809423 0,003938477 0,003058545

21 0,00760862 0,004403646 0,00374992 0,024478355 0,000910604

30 0,002003597 0,003260966 0,001566174 0,002212442 0,002144691

60 0,008442962 0,003366616 0,021799288 0,007497206 0,003425318

90 0,00718662 0,006588695 0,008750437 0,002803373 0,001336712

120 0,001741379 0,004951121 0,001323102 0,001701294 0,0098767

160 0,003843176 0,010515137 0,006344021 0,005469177 0,007651588

210 0,010684002 0,007420081 0,009927948 0,002586987 0,007014984

280 0,009049083 0 0 0,001334016 0

360 0 0 0 0 0