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II JORNADA DISCENTE DO PPHPBC (CPDOC/FGV) INTELECTUAIS E PODER Simpósio 5 | Arquivo, história e política A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO SOB A AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS: UM ESTUDO DE CASO DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA DO CPDOC E DA BASE DE DADOS ACCESSUS Renan Marinho * O presente trabalho propõe um estudo sobre a utilização dos recursos de pesquisa disponibilizados pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil para seus usuários. Pretende-se construir conhecimentos sobre a forma que os usuários do centro de informação histórica interagem com os recursos informacionais, de pesquisa além de construir um conhecimento sobre quais pontos demandam por aperfeiçoamento. O estudo, inevitavelmente, procurará conhecer os diferentes tipos de usuários e discutir, à luz da Ciência da Informação, os conceitos de organização, representação e recuperação da informação. Assim sendo, a base de dados Accessus servirá de estudo de caso para a concretização deste projeto. A base de dados Accessus é o sistema utilizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil para organização e disponibilização de seu acervo. Criado em 2000, teve sua primeira grande revisão em 2009 e está disponível na internet, o que possibilita aos pesquisadores realizar pesquisas tanto local quanto virtualmente. O sistema fora desenvolvido exclusivamente para atender as demandas que o Centro possuía no tocante à organização e disponibilização de seu acervo. * Bibliotecário do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas; aluno do Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais CPDOC/FGV

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II JORNADA DISCENTE DO PPHPBC (CPDOC/FGV)

INTELECTUAIS E PODER

Simpósio 5 | Arquivo, história e política

A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO SOB A AVALIAÇÃO DOS USUÁRIOS: UM ESTUDO DE CASO DO SERVIÇO DE REFERÊNCIA DO CPDOC E DA BASE DE DADOS

ACCESSUS

Renan Marinho*

O presente trabalho propõe um estudo sobre a utilização dos recursos de

pesquisa disponibilizados pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História

Contemporânea do Brasil para seus usuários. Pretende-se construir conhecimentos sobre

a forma que os usuários do centro de informação histórica interagem com os recursos

informacionais, de pesquisa além de construir um conhecimento sobre quais pontos

demandam por aperfeiçoamento. O estudo, inevitavelmente, procurará conhecer os

diferentes tipos de usuários e discutir, à luz da Ciência da Informação, os conceitos de

organização, representação e recuperação da informação. Assim sendo, a base de dados

Accessus servirá de estudo de caso para a concretização deste projeto. A base de dados

Accessus é o sistema utilizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História

Contemporânea do Brasil para organização e disponibilização de seu acervo. Criado em

2000, teve sua primeira grande revisão em 2009 e está disponível na internet, o que

possibilita aos pesquisadores realizar pesquisas tanto local quanto virtualmente. O

sistema fora desenvolvido exclusivamente para atender as demandas que o Centro

possuía no tocante à organização e disponibilização de seu acervo.

* Bibliotecário do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas; aluno do Mestrado Profissional em Bens Culturais e Projetos Sociais CPDOC/FGV

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Conhecer e, conseqüentemente indicar aos pesquisadores os melhores caminhos

no desenvolvimento de uma pesquisa em um determinado acervo constitui uma das

principais missões do bibliotecário de referência no trabalho com informação histórica

de modo especial. Esse aspecto é denominado na área da Ciência da Informação como

‘serviço de referência’. O serviço de referência compreende o processo de

direcionamento da demanda pela informação à sua localização. Por isso, parte do

conhecimento consiste em saber onde encontrar a informação através de suas fontes e

assim podemos reconhecer que o conhecimento das fontes de informação constitui um

importante ramo do saber (Grogan, 1995).

As fontes para a informação histórica são, tradicionalmente, especializadas. Essa

característica reforça a importância de o profissional ser um sensível conhecedor das

fontes de informação histórica existentes, já que isso irá influenciar significativamente

na trajetória de pesquisa do usuário. Os acervos arquivísticos, por sua vez, possuem

diversas particularidades e por isso não tendem a seguir uma estrutura de organização,

disponibilização e acessibilidade homogênea como acontece nos casos dos tradicionais

acervos bibliográficos. Numa afirmação enfática, Grogan (1995) diz que a experiência

indica, freqüentemente, o caminho para a solução de um problema. Ainda conforme o

autor, os usuários desses centros de informação terão melhores condições de otimizar o

aproveitamento de um determinado acervo se assistidos por um bibliotecário (Grogan,

1995).

No recorte do estudo, que se dedicará a um Centro de informação com acervo

específico na área de História, essa característica ganha corpo. Em sua maioria, os

acervos de informação especializada valem-se de determinadas particularidades em sua

metodologia de organização que podem tornar mais complexo o trabalho de busca do

usuário. Por isso, a pesquisa acaba por requerer destes usuários a necessidade de uma

maior capacitação para o acesso aos determinados acervos com seus respectivos

recortes históricos, recaindo assim sobre o profissional da informação a atribuição de

responder questões típicas do atendimento de referência, como os tradicionais “Eu

quero saber tudo o que tem no acervo sobre x (x é um tema ou fato histórico

hipotético)”. Situações como essa compreendem demandas por informação com as

quais os profissionais que trabalham em serviços de informação se deparam

freqüentemente. Todavia, se nos dedicarmos a uma breve reflexão perceberemos que

uma resposta para essa pergunta seria impossível.

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Aos profissionais que trabalham como mediadores do acesso à informação cabe

promover uma interação com a respectiva demanda e traduzir essa percepção em uma

linguagem apropriada para a realização da busca. Dessa forma, os profissionais

orquestram as demandas de usuários com os caminhos que ele deve percorrer para obter

maior chance de êxito. Por isso, o diálogo com o usuário é fundamental, uma vez que

tudo aquilo que esse usuário consegue explicitar e verbalizar traduz-se como

necessidade de informação. Quando isso não ocorre, cabe ao profissional bibliotecário

identificar essa necessidade não explicitada e agir de maneira adequada. Para Grogan

(1995) um dos principais pontos do serviço de referência é a experiência do profissional

já que para ele não existe substituto para essa qualidade.

Além dos fazeres tradicionais, os profissionais da informação se utilizam de

recursos importantes, principalmente os desenvolvidos pelas tecnologias da informação,

que servem como ferramentas de facilitação desse serviço de organização e

disponibilização da informação. Tais ferramentas foram sendo incorporadas à realidade

dos centros de informação e assim, tornaram-se personagens fundamentais nos arquivos

e unidades de informação em geral. Nesse contexto, podemos afirmar que as bases de

dados são a maior expressão da aplicação das tecnologias da informação aos serviços de

organização e disponibilização de informação nos centros de documentação. É sobre

essa ferramenta que recairá o estudo proposto neste projeto. Mais especificamente, o

foco é interação dos usuários do Centro de Pesquisa e Documentação de História do

Brasil com a respectiva base de dados do Centro – Accessus, bem como a informação é

representada através de sua indexação já que essa metodologia diz respeito aos pontos

de acesso à informação organizada.

O fenômeno mais notável ocorrido nas três décadas de idade da indústria da informação foi a emergência e a popularidade do produto de informação conhecido como bases de dados. Pode-se dizer que as atividades relacionadas ao ciclo de produção de bases de dados criaram as bases da indústria da informação como ela é hoje conhecida” (SAYÃO, 1994: .1)

Para Sayão (1994) esse foi um processo relativamente lento que teve sua

explosão na década de 90, mas já em fins dos anos 60 e início dos 70 se podia

contabilizar no mundo desenvolvido um número já extraordinário de bases. Para ele um

marco importante da utilização de técnicas para a recuperação da informação, que se

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pode caracterizar como base de dados, se deu em 1951 quando U.S. Bureau of the

Census teve de processar o censo realizado nos Estados Unidos no ano anterior. No

processamento das informações desse censo o autor diz que “uma base numérica cujo

suporte físico era um deck de cartões perfurados”. O marco da preocupação em fazer

parte desse novo padrão informático pela Ciência da Informação no Brasil foi a criação,

em fins da década de 80 da LINCE. A Linguagem Comum de Recuperação de

Informações em Linha foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Ciência e

Tecnologia como uma maneira de criar uma linguagem de consulta padronizada para os

sistemas brasileiros para ser adotado como linguagem padrão do SPA – Serviço Público

de Acesso a Base de Dados. A partir daí foi apenas uma questão tempo para que esse

tipo de ferramenta de recuperação da informação começasse a fazer parte, mesmo que

timidamente, das pesquisas nos centros de informação. Pouco a pouco ao longo dessa

década, as bases de dados foram substituindo os catálogos de fichas bibliográficas ou

inventários arquivísticos na busca pelas informações de um determinado acervo. A

partir da expansão do ambiente web na década seguinte esse movimento se aproximou

dos recursos do ambiente virtual e explorou a capacidade de disponibilização em

servidores remotos, passando a estar presente também em diversos pontos

simultaneamente. Portanto a disponibilização remota foi apenas um segundo passo já

que atualmente alguns sistemas de recuperação de dados deixaram de agregar somente a

disponibilização de bases de dados on line. Ainda na primeira década desse novo

século, os padrões meramente online, que permitiam o acesso ao caminho para

localização da informação propriamente dita, passam também a oferecer a consulta

efetiva à informação desejada. Ou seja, os usuários podiam acessar apenas as

referências bibliográficas ou códigos de classificação que os remetiam ao efetivo texto,

livro, documento ou conteúdo de modo geral (Marcondes e Sayão, 2001). Agora a

tecnologia se aplica de maneira ainda mais abrangente e com a digitalização dos

suportes da informação possibilita que o conteúdo informacional também esteja

acessível. Atualmente com os recursos tecnológicos nas pesquisas em bases de dados

pode, além de proporcionar acesso à localização da informação, disponibilizar

efetivamente o conteúdo através das formas digitais dos registros informacionais. Na

abordagem proponho uma periodização da evolução dos sistemas de recuperação da

informação em arquivos desde o momento mais simples considerando em termos de

acesso local até sua capacidade colaborativa.

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Não menos importante é explorar também nesse contexto a questão dos

profissionais que trabalham com essas ferramentas de pesquisa, já que quanto mais

complexas elas se apresentam mais será exigido destes personagens que servem de

mediadores entre a informação, o acesso e o usuário. Cada vez mais esse processo

exige, principalmente dos bibliotecários, a percepção de um modelo de usuário

particular que Sayão (1994) denomina de ‘modelo cognitivo’ que se apresenta baseado

no valor da informação. Para o autor,

Neste modelo, a percepção do valor da informação é uma variável que está em função dos vários papéis que o usuário pode assumir no processo de transferência de informação e do seu quadro comportamental face à informação eletrônica e o sistema de informação. (SAYÃO, 1994: 16)

O aperfeiçoamento dos sistemas informatizados de recuperação da informação é

importante porque, de acordo com Marcondes e Sayão (2001) o uso convergente de

tecnologias de comunicação e de conteúdos em formato digital, cujo paradigma é a

Internet, tem contribuído para criar um novo ambiente de acesso, disseminação,

cooperação e promoção do conhecimento.

Enquanto que oferecer acesso aos documentos originais autênticos para todos que os peçam nas salas de leitura dos arquivos tornou-se uma atividade corriqueira nos últimos 150 anos, o desafio de hoje é trazer o conhecimento sobre o conteúdo dos arquivos via internet para as mesas das pessoas em seus lares. [...] Esse é o impacto mais fundamental em nossa profissão e nossas instituições. (BRUEBACH, 2007: 40)

No contexto desse estudo, meu objetivo é trazer essa discussão para a realidade

da área arquivística, que devido a peculiaridade deste acervo, percebe-se uma carência

de sistemas apropriados para informações arquivísticas. Cada vez mais as bases de

dados se voltam para disponibilização online além de, inspiradas no conceito web 2.0,

se basearem no princípio colaborativo. Os sistemas de informação tendem a se amparar

no constante aperfeiçoamento, já que abrem a possibilidade de modificação ou

contribuição por parte dos indivíduos que usam o serviço, explorando a capacidade

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colaborativa dos indivíduos. Essas iniciativas ainda são modestas no campo da Ciência

da Informação, mas já começam a ser aplicadas. Por estar sendo apresentado ao mundo

virtual como um novo padrão de uso, o princípio da colaboratividade tende a se

disseminar rapidamente na área da Ciência da Informação. Estas características se

apresentam como motivos contundentes para aceitação desta ferramenta por parte dos

profissionais que trabalham com organização da informação e principalmente da

Arquivologia, isso porque esses acervos têm características sempre muito complexas,

que tornam especialmente peculiar os processos de organização e representação da

informação em softwares informatizados. Diferentemente de como acontece no caso dos

acervos bibliográficos, os acervos arquivísticos não possuem pacotes desenvolvidos

para gerenciamento de bibliotecas, por exemplo. A ausência desses sistemas para gestão

arquivística pode ser explicada principalmente pela peculiaridade de cada acervo

composto por arquivos. Essa é uma importante observação que inspira o

desenvolvimento do trabalho, já que a maioria das bases de dados para informação

arquivística tende a ser iniciativa particular das instituições, como no caso do Accessus.

Vale ressaltar que serão consideradas as opiniões das duas modalidades de

usuários: tanto aquele usuário que demanda por informação – usuário externo, quanto

aquele que alimenta as informações e trabalha no processo técnico das instituições –

usuário interno. Para o segundo tipo de usuário o estudo poderá usufruir do processo de

atualização do Accessus que foi realizado no ano de 2009. Esse processo levou em

consideração a opinião de todos os profissionais que trabalham na organização do

acervo e que alimentam a base. Essa atualização levou em conta basicamente as

questões de avaliação sobre o que deveria ser modificado e o que deveria ser

incrementado. Foram ouvidas as demandas do bibliotecário e dos analistas de

documentação, que em cada caso, sugeriram através de relatórios o que deveria ser

incorporado, atualizado, adicionado ou até mesmo excluído. Por isso o resultado dessa

consulta pode servir para produzir reflexões importantes sobre a própria base. Perceber

a partir daí quais são quais são as características convergentes e divergentes de cada

ferramenta. Além disso, trazer também para o debate a tendência da web 2.0, que dá

conta de uma participação mais colaborativa por parte daqueles que utilizam qualquer

serviço de interação humana. Um exemplo dessa tendência se confirma na nova versão

do Accessus pela criação do recurso ‘Comente!’, que convida aos utilizadores a

enviarem informações complementares ou discrepantes daquelas informadas na base.

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A explosão informacional favorecida principalmente pelas tecnologias da informação e

comunicação tem colocado os profissionais da área diante de um grande desafio. Além

de organizar o conhecimento produzido, através da aplicação dos métodos tradicionais

de tratamento técnico, os profissionais da Ciência da Informação empenham-se em se

apropriar de meios tecnológicos para a disseminação de toda essa informação

organizada. Através do uso de tecnologias, a Ciência da Informação promoveu grandes

transformações em seus fazeres, aperfeiçoando principalmente as formas de acesso à

informação. Para Fonseca (2005) a Ciência da Informação percebeu ao longo dos

últimos 20 anos na Europa e América do Norte, e no Brasil na última década, que seu

caráter científico de ciência social é interdisciplinar por natureza. Esse processo impacta

a área da Ciência da Informação e a coloca em reação a essas novas exigências da

explosão informacional. Para a autora a área inicia seus primeiros esforços na

sistematização de informações bibliográficas, até a chegada do que é conhecido

atualmente como era da ciência da informação. Assim, podemos destacar esses aspectos

como principais do ponto de vista da Ciência da Informação: a organização da

informação e sua disponibilização ou disseminação. De um lado a primeira idéia

apresenta-se como óbvia se levarmos em consideração que toda a informação produzida

tem no seu potencial de geração de novos conhecimentos a preocupação com sua

organização, que objetiva sempre sua disponibilização. De nada serviria a acumulação

do conhecimento se este não pudesse ser recuperado da melhor maneira possível.

Igualmente inútil seria implementar dispendiosos esforços para organização e

tratamento técnico das informações contidas em acervos se este procedimento não

apresentasse como pressuposto a criação de condições para disponibilização desse

conhecimento. Foi motivada por essas demandas que a área tendeu a se aproximar do

uso de tecnologias, e hoje a utilização desses recursos baseados na tecnologia da

informação e comunicação encontra-se presente em grande parte das áreas arquivística e

biblioteconômica. Neste aspecto podemos encontrar um forte argumento para

compreender a crescente incorporação dos sistemas automatizados de recuperação de

informação por parte da Ciência da Informação.

A facilitação do acesso é dada pelo uso, cada vez mais aperfeiçoado, das bases

de dados – uma das expressões mais sensíveis do papel exercido pela tecnologia nas

rotinas de pesquisa. Características como essa, aliada à explosão informacional, também

ajudam na proliferação desses sistemas de bases de dados. Mas, mesmo diante desse

cenário, ainda não existe de acordo com Mesquita et al (2006), na realidade brasileira,

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da parte dos profissionais envolvidos na aplicação prática desses sistemas como

bibliotecários e arquivistas, uma contrapartida relacionada à avaliação sistemática

dessas bases de dados junto ao usuário final. Para os autores, esses profissionais deviam

dedicar mais atenções ao funcionamento das bases de dados aplicadas à realidade dos

serviços de informação e à escassa literatura da área que trate do assunto.

Como recuperar tem como premissa disseminar, há o esforço dos profissionais da

informação para divulgação de seus acervos. Alguns meios podem ser utilizados para

tornar um acervo conhecido para um determinado público e podemos perceber que as

políticas de facilitação do acesso são a principal fonte divulgadora de um determinado

acervo. As tecnologias proporcionaram novas e eficazes maneiras de promoção de

informações, e a internet é a maior prova delas. É nesse cenário que se apóiam as

iniciativas de disponibilização de sistemas de recuperação da informação no meio

virtual. A simples disponibilização de uma base de dados na internet, por exemplo, gera

uma divulgação de acervos e instituições até então inimaginável. E é nesse panorama

que as ferramentas de bases de dados proliferaram e continuam se apresentando como

fundamentais em realidades de demanda por informação. Esse processo leva as

demandas por informação a se tornarem cada vez mais virtuais, modificando padrões

tradicionais, fazendo assim com que surjam novas formas de acesso, formas essas que

modificam completamente os perfis dos usuários. Assim, a virtualização do acesso

pressupõe um outro ou novo perfil de usuário, sendo, portanto também, um fator de

exclusão deixando de fora aqueles incapazes de acompanhar essas transformações.

A Ciência da Informação incorporou o uso da tecnologia aos seus métodos e fazeres,

propiciando uma verdadeira revolução eletrônica nas metodologias tradicionais e a

transformação de suportes habituais da informação em mídias digitais catalogadas e

disponibilizadas por sistemas informatizados. Suporte esse que concede mais

flexibilidade, tanto ao acesso quanto à preservação de acervos de informação nos seus

suportes tradicionais. Esses novos suportes levam a reflexões importantes, como por

exemplo, os debates acerca da custódia dos arquivos. A relativização deste aspecto tem

provocado novos debates, principalmente sobre a relativização da custódia, que são

provenientes principalmente do advento do documento eletrônico, que passa a existir

virtualmente. Para Rondinelli (2005) esses debates podem ser analisados sob o ponto de

vista das implicações tecnológicas que envolvem a guarda de documentos eletrônicos. A

autora afirma que essa relativização se dá no ambiente eletrônico, no qual as instituições

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arquivísticas não tem mais que assumir a custódia física dos documentos para cumprir

seu papel arquivístico de controle e proteção dos documentos.

Os avanços proporcionados pela tecnologia possibilitaram e continuam possibilitando

que as unidades de guarda de informação tenham em sua gama de prestação de serviços

formas mais diversificadas de atendimento aos usuários. Um dos mais relevantes

significados dessa revolução eletrônica está expresso na disponibilização da informação

on line. Configura-se, portanto, como um dos impactos mais fundamentais da revolução

eletrônica para os profissionais da informação e suas instituições na atuação das

unidades de informação.

A transformação trazida pela informatização das técnicas tradicionais impacta

fortemente a área e consequentemente esses fazeres são colocados sob avaliação. A

partir da percepção da ausência de preocupação com o usuário, no contexto a ser

estudado, é que o trabalho se propõe a avaliar a base Accessus e seus recursos sob o

ponto de vista dos utilizadores do serviço. No campo da Biblioteconomia, por exemplo,

práticas como a catalogação foram atingidas diretamente com a aplicação de sistemas

informáticos de recuperação da informação na realidade das bibliotecas e, assim,

decretaram o fim das formas de catalogação. O que me leva a concluir que uma prática

primordial desenvolvida nas bibliotecas está atualmente resumida à alimentação das

bases de dados sob as regras do Código de Catalogação Anglo-Americano. Já na área

arquivística novas situações surgiram e hoje fazem parte da discussão, como por

exemplo a questão da custódia. A custódia dos arquivos sempre foi uma característica

muito marcante já que a qualidade da unicidade dos acervos concede à instituição

detentora de tais acervos status e responsabilidade. Com a disponibilização das bases na

web, e em alguns casos, do próprio documento, tem levado debates a respeito da

relativização da custódia. Ainda no tocante às transformações temos, no serviço de

referência, as técnicas praticadas tanto nos acervos bibliográficos quanto arquivísticos,

uma grande mudança nas relações diretas entre profissionais da informação e seus

usuários. Foi com a informatização das unidades de informação que os emails passaram

a fazer parte do serviço de referência, bem como a idéia de se acostumar a mediar o

acesso dos usuários por intermédio de outras tecnologias como a internet e o telefone:

um novo usuário acabara de surgir. Pela primeira vez aquele usuário que estava passível

de ter sua demanda interpretada ou traduzida não estava mais diante do bibliotecário.

A percepção da importância que esse cenário impõe à área da Ciência da Informação

pode ser entendida na afirmação de Bruebach (2007) uma instituição que não esteja

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presente na web literalmente não existe: à regra ‘publique ou pereça’ juntou-se a ‘esteja

na rede ou desapareça’, e ainda como lema: presença na web ou nada (BRUEBACH,

2007, p.40). A aceleração do tempo, a febre de memória e a revolução tecnológica no

manejo dos registros documentais redundaram em uma espécie de fetiche da

digitalização.

A disponibilização da informação em bases de dados on line possibilita novas

formas de relacionamento entre as instituições e os pesquisadores. Se antes os usuários

necessitavam dispor de tempo equivalente ao horário de atendimento das instituições

detentoras da custódia, agora sequer precisa informar a intenção de pesquisa ou agendar

uma consulta. Com apenas alguns cliques, um usuário estará pesquisando todo o acervo

da instituição além de, se for o caso, acervos digitais. O usuário pode ter disponível a

informação desejada na tela de seu computador doméstico às 3 horas da madrugada, por

exemplo. Assim como numa loja virtual, em que não há necessidade de vendedores, a

disponibilização de ferramentas de pesquisa na internet possibilita o uso relativamente

indiscriminado e irrestrito dessa informação, que se obriga a dispor de ferramentas

amparadas na tecnologia da informação para no mínimo saber acerca da utilização

desses serviços, como por exemplo, a utilização dos cadastros de login. Favorecendo e

ampliando assim as condições de acesso, através da expansão da capacidade de

abrangência de determinado centro de informação. Esse novo ambiente nos permite

identificar que a presença virtual de uma determinada instituição de pesquisa, com suas

respectivas ferramentas e serviços, colocam em questão todo o serviço de referência que

assume um novo perfil, exigindo dos bibliotecários novas formas de interação com seus

usuários e fontes de pesquisa. Assim sendo, as atenções devem se voltar para a

observação do que está sendo oferecido em meio virtual, bem como praticar uma

preocupação com esse universo. Torna-se fundamental, portanto, desenvolver e

implementar meios de análise sobre os recursos, além de permitir formas de conseguir o

feedback dos usuários destas ferramentas.

O estudo se motivará pela inovação proposta pelas novas tendências ancoradas

no conceito web 2.0 de possibilitar a customização do software. Trarei o debate sobre os

recursos desse novo padrão da internet focado na colaboratividade. Neste conceito

podemos perceber que o novo padrão para o ambiente virtual se baseia num constante

aperfeiçoamento por parte daqueles que utilizam esse ambiente para assim desenvolvê-

los e torná-los cada vez melhores. O conceito não se aplica exclusivamente à internet,

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mas a todo o universo informático. O constante aperfeiçoamento está, cada vez mais,

ganhando espaço e importância. Softwares de computador ganham visibilidade

exatamente pelo fato de serem dotados da possibilidade de criação de versões melhores

a partir de sua codificação aberta. Exemplos desse conceito podem ser observados em

alguns softwares, que se apresentam em diversas versões criadas pelos próprios

utilizadores dispostos a corrigir, aperfeiçoar, inovar, gerando novos sistemas mais bem

identificados com o público e com a atualidade. Esse novo comportamento surge no

bojo da web 2.0, que extrapola as fronteiras virtuais e atinge grande parte da cadeia

produtora de bens e serviços ligados à tecnologia.

Nesse contexto, a área da Ciência da Informação se volta para essa tendência e deve

se preocupar com esse novo padrão de usuário, aproveitando-se do conceito

colaborativo em processos de avaliação eficazes não somente das bases de dados

informatizadas oferecidas aos usuários dos serviços de informação, mas também sobre

como esses usuários interagem com essas ferramentas. Esse pode ser considerado um

processo cognoscível absolutamente particular, se considerarmos principalmente as

técnicas de representação das informações organizadas nas bases de dados.

Dessa maneira o presente projeto pretende estudar as questões de linguagens a

serem utilizadas em mecanismos de recuperação informatizada da informação e sua

receptividade junto ao usuário. Assim, explorando os conceitos de organização da

informação, representação, padronização de linguagens e problemas de revocação e

precisão que são as medidas mais comuns para avaliar a qualidade de um sistema de

busca e recuperação de informação.

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