ii conunipa: a revolução social no brasil/programa reivindicativo e programa revolucionário

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  • 8/3/2019 II CONUNIPA: A revoluo social no Brasil/Programa reivindicativo e programa revolucionrio

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    2 Srie Documentos, Poltica & Teoria Vol. 2 - UNIPA

    Imagem:

    Capa:A Luta pela Terra: a marcha de uma coluna humana. Foto de Sebastio Salga-do, 1996, Paran ocupao da fazenda Giacometi pelo MST.

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    Srie Documentos, Poltica & Teoria Vol. 2 - UNIPA 3

    A Revoluo Social no BrasilResolues do II Congresso da Unio Popular Anarquista

    Realizado nos dias 14, 15, 21 e 22 de fevereiro e 13 e 14 demaro de 2004, no estado do Rio de Janeiro

    Programa Reivindicativo ePrograma Revolucionrio

    Srie Documentos, Poltica & Teoria

    Volume 2

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    NDICE

    A Revoluo Social no Brasil

    Introduo 7

    I - Resolues sobre Ideologia e Teoria 10

    1 O Pensamento Guia 10

    2 Ideologia e Teoria Anarquistas: os elementos constitutivos 11

    A Ideologia 11

    A Teoria 13

    3 O Anarquismo e sua verdadeira histria 15

    II - Resolues sobre a Poltica Popular Revolucionria 19

    4 As Duas Ferramentas da Luta Revolucionria 20

    5 Anlise Bakuninista da sociedade brasileira - Teses sobre a revo-luo social no Brasil

    22

    6 Uma Estratgia Revolucionria para o Brasil 28

    7 - Um Programa para a Revoluo Social brasileira 32

    O Problema do Poder... 32

    O que destruir... 34

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    O que construir ... 36

    Programa da Revoluo Social Brasileira e seus 40 pontos 37

    8 Encerramento do II Congresso 43

    Programa Reivindicativo e Programa Revolucionrio

    1 - Situao Revolucionria e Programa Revolucionrio 45

    2 - O Programa Reivindicativo e a formao da Situao Revolucio-nria

    48

    3 - Orientaes para a Luta Popular: o Programa Reivindicativo 52

    4 Orientaes para a Situao Revolucionria: o Programa Revolu-cionrio

    57

    5 A rvore e a Semente: o Papel e Interdependncia dos Progra-mas

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    A Revoluo Social no BrasilResolues do II Congresso da UNIPA

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    Introduo

    O II Congresso da Unio Popular Anarquista se realizou nos meses defevereiro (14,15,21 e 22) e maro (13 e 14) de 2004 com os seguintes objeti-vos: definir as bases tericas da organizao; abordar construtivamente aquesto da estratgia e do programa revolucionrio para o Brasil.

    O II Congresso visou definir os alicerces bsicos para uma poltica po-pular revolucionria de longo prazo, que espera contribuir para que o anar-

    quismo seja uma opo real para as massas populares e fora propulsora daluta de classes. O Congresso foi dividido em blocos de discusso, nos quais seapresentam as resolues: Bloco 1 ideologia e teoria, e Bloco 2 - polticapopular revolucionria, compreendendo os temas da estratgia e do pro-grama.

    O II Congresso de nossa organizao se d num momento histricoque preciso qualificar. Depois da vitria do PT (Partido dos Trabalhadores)

    nas eleies presidenciais de 2002, muitas iluses foram desfeitas, j que oGoverno Lula se mostrou profundamente comprometido com os empresriose o imperialismo. O governo do PT exemplifica a tese clssica do anarquismosegundo a qual o reformismo tende a assumir um papel reacionrio ao com-pactuar com e implementar a poltica burguesa.

    O caso do PT apresenta as conseqncias da via reformista, oposob a qual este partido se formou e aprofundou gradualmente durante osanos at chegar a ser o que hoje, um partido que implementa polticas neo-liberais.

    Se as eleies burguesas somente se apresentam num ciclo de iluso-frustrao das massas, a Revoluo Social o nico meio para corrigir as in-justias histricas da sociedade brasileira, promovendo a destruio do Esta-do e do Capitalismo e a construo do Socialismo. A Revoluo Social umanecessidade das massas e uma aspirao da nossa organizao.

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    O Brasil um pas de cerca 180 milhes de habitantes, est entre as10 economias mais importantes do mundo, mas ainda tm crianas morren-do de fome, pessoas assassinadas pela polcia, que fica impune, empresrios

    que exploram seus trabalhadores como se estes fossem escravos, e escravosde verdade nas fazendas do interior do pas.

    A opo pelo anarquismo a opo pela Revoluo Social, j quenenhuma ideologia poltica revolucionria, alm do anarquismo, formulouum programa efetivamente socialista, que suplantasse a burguesia e o capi-tal. Logo, a opo pelo anarquismo a opo pela eliminao definitiva dosistema social capitalista, raiz dos principais problemas do povo: misria,

    opresso, injustia, explorao e fome. Mas para isso preciso de meios con-cretos e orientaes polticas claras.

    Por outro lado, a ideologia anarquista enquanto expresso do socia-lismo revolucionrio, a nica capaz de dar respostas reais as aspiraespopulares, transformando radical e efetivamente a sociedade brasileira.

    No entanto a atual conjuntura do pas apresenta o reformismo como

    uma das foras predominantes nas organizaes populares, que emperram aluta revolucionria e desviam as massas de um projeto socialista. Entre aatual situao e a misso revolucionria do anarquismo existe uma srie deobstculos que precisam ser derrubados.

    no sentido de superar tais obstculos que o II Congresso abordouproblemas fundamentais da luta revolucionria, fixando orientaes justas emeios efetivos para luta pelo socialismo. Sabemos das dificuldades impostas

    pelos nossos inimigos e pelas nossas prprias limitaes. Mas devemos estara altura de nossos propsitos.

    Sabemos tambm que no estamos sozinhos nesta luta, o que mui-to bom. Outros revolucionrios esto trabalhando no mesmo sentido. E oconjunto dos revolucionrios no est s. O povo continua sua luta cotidiana,pelo po, pela dignidade, pela vida e se junta cada vez mais caminhadarevolucionria. Temos conscincia que a nossa luta uma luta de longo pra-

    zo, e nos preparamos para tal.

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    A Unio Anarquista traz para si, enquanto minoria ativa, a responsa-bilidade de ser a primeira a tomar parte na luta das massas e a ltima a recu-ar dela; traz para si tambm a responsabilidade de desenvolver a luta ideol-

    gica, a luta poltica e a luta terica de forma a nunca deixar o movimentopopular desarmado nestes nveis perante os seus principais inimigos.

    Mas a principal responsabilidade da organizao, a sua misso ltima, sustentar a causa do povo e agir enquanto amigo do povo, atuando no seiodas Lutas do povo. A causa do povo, se no longo prazo representada pelosocialismo, hoje expressa em cada reivindicao concreta, em cada direitosocial ou poltico, que a organizao tem o dever de defender e lutar para

    ampliar.

    Nossa organizao visa atuar no como "representante", distante,encastelado em palcios e gabinetes, mais enquanto amigo do povo, quevive suas dificuldades, compartilha suas dores e alegrias nas favelas e palafi-tas, nas escolas e fabricas, nos sertes e campos do interior do pas, orien-tando, ajudando, trabalhando em conjunto.

    para honrar estes compromissos que o II Congresso se reuniu. A-baixo seguem as resolues das discusses e esperamos que elas possamaglutinar a militncia revolucionria e o movimento de massas.

    Agora o momento de lanar as bases do trabalho, reunir foras eimpulsionar as lutas. Fazer com que nossa organizao e sua poltica revolu-cionria alcancem as massas do campo e das cidades, trilhando com o povo ocaminho da Revoluo Social.

    Nem um Passo Atrs!!!

    Nas lutas concretas e nos sonhos de libertao de todos osoprimidos de nossa terra!!!

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    I - Resolues sobre Ideologia e Teoria

    "As reticncias, as meias verdades, os pensamentos castrados,

    as atenuaes complacentes e concesses de frouxa diplomacia, no soos elementos de que se formam as grandes coisas: elas s se fazem com

    grandes coraes, um esprito justo e firme, um objetivo claramente de-

    terminado e uma grande coragem. Ns empreendemos uma coisa bas-

    tante grande senhores, elevemo-nos a altura do nosso empreendimento:

    grande ou ridculo, no h termo mdio, e para que ele seja grande,

    preciso que pelo menos pela nossa audcia e pela nossa sinceridade

    tambm nos tornemos grandes.

    ... ns sabemos que em poltica no existe nenhuma prtica honesta e -

    til possvel, sem uma teoria e um objetivo claramente determinados."

    Mikhail Bakunin

    O II Congresso tratou de dar definies claras sobre o tema da Ideologiae da Teoria Anarquista e de se posicionar perante as diversas experincias hist-ricas fundamentais para o anarquismo. Isto fundamental j que sobre a ideo-logia e a teoria que se fundam a poltica revolucionria, e so elas que alimentame fornecem os critrios para formulao do programa, da estratgia, da polticarevolucionria. preciso termos definies claras e firmes, sem hesitaes, comoafirmado pelo prprio Bakunin.

    1 O Pensamento Guia

    Nossa organizao reconhece como guia o pensamento poltico revolu-cionrio de Mikhail Bakunin. Toda a ao poltica da organizao estabelecidasobre a crtica da sociedade capitalista e a concepo de socialismo elaboradapelo revolucionrio anarquista, fundador da nossa ideologia.

    A Unio entende tambm que este pensamento foi objetivado em umaprtica poltica revolucionria, manifesta na organizao revolucionriaAliana e

    no movimento de massas representado pelaAssociao Internacional dos Traba-lhadores.

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    O Bakuninismo a base terica da poltica popular e revolucionria denossa organizao. Esta base terica contm uma anlise crtica da sociedadecapitalista e das teorias liberais, indicando que caminho prtico seguir durante aluta poltica e os objetivos a serem estabelecidos e alcanados. Sem partir destabase terica impossvel desempenhar uma atuao poltica revolucionria a-narquista verdadeira e eficaz.

    O Bakuninismo, enquanto pensamento-guia da nossa organizao, com-preende livros, textos e experincias do revolucionrio anarquista Mikhail Baku-nin. Este pensamento inclui diversas teorias (sobre a sociedade, a economia, arevoluo, a organizao poltica) que foram produzidas em relao dialtica coma prtica poltica revolucionria anarquista.

    Bakunin tomou por base as formulaes de Pierre-Joseph Proudhon(chamava a si e a sua organizao de proudhonista), e por isso podemos dizerque o Bakuninismo compreende o proudhonismo, sendo seu aperfeioamento eaprofundamento. O Bakuninismo sinnimo de anarquismo e por isso se consti-tui na nica fonte histrica legtima para a definio da ideologia anarquista e deseus elementos constitutivos.

    Desta forma, a poltica revolucionria anarquista necessita do pensa-mento e das teorias do Bakuninismo. Podemos dizer que o anarquismo enquan-to ideologia revolucionria e proletria sinnimo de Bakuninismo.

    O Pensamento Guia compreende a totalidade das formulaes polticase tericas historicamente construdas por Bakunin, assim como a experinciaconcreta em que se inserem. Em termos materiais representada pela sua obrapoltica e intelectual (livros, panfletos, organizaes).

    Cabe agora delimitar os elementos fundamentais deste pensamento po-ltico, que sintetizados e simplificados fornecem os termos para a definio cor-reta de uma ideologia e uma teoria.

    2 Ideologia e Teoria Anarquistas: os elementos constitutivos

    A Ideologia

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    A organizao tem como seu centro de estruturao a ideologia anar-quista. A ideologia, entendida como sistema de idias, valores e aspiraes, seconstitui como motor da prtica poltica anarquista. Ela se apresenta ao mesmotempo como eixo e como frmula geral de entendimento do anarquismo.

    O Congresso entendeu que 4 elementos constituem os princpios ideol-gicos (as idias/valores e aspiraes) que caracterizam o anarquismo: Socialismoe Liberdade, Luta Classista e Organizao. As idias de socialismo e liberdadecomo aspiraes e as de luta classista e organizao como valores mximos.

    Estes quatro princpios ideolgicos no foram definidos arbitrariamente.Eles surgiram da experincia histrica em que se forjou o nosso pensamento

    guia. o pensamento guia que afirma a importncia da organizao.

    Bakunin diz " h no povo uma fora elementar, mas esta precisa ser am- parada por uma organizao que permita mais do que a sublevao por si s,

    mas tambm a vitria revolucionria por uma preparao longa e prolongada".Para Bakunin, tambm a organizao (a associao) o nico caminho das mas-sas para a libertao, a emancipao pela prtica.

    Mas a organizao no se explica por si s. A organizao s faz sentidoem face de outra idia, a luta classista. Bakunin afirma: "Que desta organizao,cada vez maior, da solidariedade militante do proletariado contra a explorao

    burguesa deva sair e surja efetivamente a luta poltica do proletariado contra a

    burguesia, quem duvida disso?".

    A luta se apresenta como fator positivo de movimento da sociedade e dahistria: "Esta harmonia, a ausncia de luta, a ausncia de vida, a morte. Em

    poltica o despotismo. Olhem para toda a histria e convenam-se que em to-das as pocas em todos os paises em que h desenvolvimento e exuberncia da

    vida, do pensamento, da ao criadora e livre, houve divergncia, luta intelectual

    e social, luta de partidos polticos ..."

    As noes de luta classista e organizao se manifestam assim como i-dias/valores sempre presentes tanto na teoria quanto na prtica poltica deBakunin. So elas que caracterizam e sintetizam o fundamental do anarquismo.

    A crtica bakuninista da sociedade capitalista conjugada com outrasduas idias que sintetizam as aspiraes fundamentais do anarquismo: "Que a

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    liberdade sem o socialismo o privilegio, a injustia; e que o socialismo sem a

    liberdade a escravido e a brutalidade..."

    Socialismo e Liberdade, dois termos unidos dialeticamente pela concep-o anarquista, quando separados se apresentam apenas como deformao. Arevoluo social se apresenta como nico meio possvel e necessrio para a reali-zao de tais aspiraes. As concepes de luta classista e organizao dos anar-quistas se vinculam aspirao socialista e libertria; estas se vinculam a prticada luta e da organizao.

    Socialismo, Liberdade, Organizao e Luta Classista; estas idi-as/valores e aspiraes constituem os elementos bsicos da ideologia anarquista.

    So estes elementos que fazem do anarquismo o que ele .

    Amparada de um lado na crtica terica da sociedade capitalista, e deoutro numa experincia revolucionria, com as quais constitui uma unidade dia-ltica em permanente movimento, a ideologia anarquista tem uma dimensoprpria, sendo o motor da prtica poltica anarquista.

    A Teoria

    "Nenhum aparente acordo de opinies polticas suficiente para

    superar o antagonismo de interesses que divide a burguesia e os traba-

    lhadores. Comunidade de convices e idias so e devem ser subsidi-

    rias de uma comunidade de interesses e predisposies de classe. A vida

    domina o pensamento e determina a vontade. Esta uma verdade que

    nunca deve se perder de vista quando queremos compreender qualquer

    fenmeno poltico e social. Se nos desejamos estabelecer uma sincera

    comunidade de pensamentos e vontades entre os homens, nos devemosfunda-la sobre condies similares de vida, ou sobre uma comunidade de

    interesses."

    Mikhail Bakunin

    O bakuninismo se apia no materialismo e na dialtica, duas ferramen-tas tericas que determinam toda a compreenso anarquista da realidade. Quemanalisa a sociedade, de acordo com o materialismo, tal qual expresso por Baku-nin, tem a experincia concreta como critrio para a construo do conhecimen-to.

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    Neste sentido, a ao e o pensamento dos indivduos determinada dia-leticamente por aquilo que eles prprios so e fazem, pelas posies que estabe-lecem entre si nas relaes sociais.

    Dessa forma, o que interessa o que seres humanos fazem em suas a-es e no o que eles dizem que fazem. As idias no determinam a realidadepor si s, mas fazem parte da realidade.

    A concepo dialtica Bakuninista o que possibilita a visualizao do fa-to da relao social ser movida pelo conflito, pela luta. A dialtica a ferramentaque permite ver o carter instvel da sociedade, de como ela se organiza e comoela muda pelo conflito atravs da histria.

    Um dos pilares bsicos do pensamento Bakuninista dado pela crtica daeconomia poltica, da filosofia e da jurisprudncia, realizada atravs da adooda perspectiva da teoria do valor trabalho, tomando Pierre Jospeh Proudhoncomo base de seu pensamento.

    A teoria do valor trabalho serve como base para a crtica da propriedadeprivada (da terra e dos meios de produo), que neste pensamento vista numa

    relao direta de interdependncia com as formas de governo, ou seja, com oEstado. Assim, a partir da anlise da sociedade capitalista, o pensamento Baku-ninista conclui que a propriedade privada mantm uma relao de interdepen-dncia necessria com o estatismo, representando na verdade duas faces damesma moeda: o Capitalismo.

    A propriedade privada um roubo. Este roubo continuo que organiza asociedade capitalista. Esta organizao faz com que a sociedade se divida: de um

    lado a Burguesia, que detm os meios de produo, os meios de poder e violn-cia e os meios de conhecimento, vivendo da explorao do trabalho propiciadapela propriedade privada; de outro o Proletariado, a massa numerosa da popula-o que obrigada a viver do trabalho (atividade assalariada) e que se encontrasubmetida violncia e ao arbtrio da burguesia.

    Esta diviso da sociedade produz incessantemente a pobreza, a explora-o brutal e a violncia, ou seja, a injustia que tem como contrapartida a luta declasses. A anlise da sociedade capitalista, a partir de uma perspectiva materialis-ta e dialtica, permitiu a construo de uma estratgia poltica e um programa

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    revolucionrio, que viabiliza a construo de uma nova sociedade. Da anlise seextraram orientaes para a ao e luta poltica.

    Coletivismo foi o conceito desenvolvido por Bakunin, que sintetizou aomesmo tempo a anlise crtica das relaes capitalista de produo e da proprie-dade privada (elaborada por Proudhon) e uma conseqente soluo para a ques-to social.

    Entendendo que o produto do trabalho resultado de uma fora coleti-va, ele afirmou que somente a propriedade coletiva poderia ser uma frmula

    justa de organizao social e que somente o trabalho gera o direito de participa-o no produto. Logo, o coletivismo supe que todos os direitos (polticos e civis)

    decorrem do trabalho.

    O Pensamento Bakuninista assim fundamentado. Esta perspectiva que marca o carter socialista e revolucionrio do anarquismo. A Revoluo So-cial, como destruio simultnea do Estado e da Propriedade Privada - em oposi-o revoluo poltica, que no transforma o sistema social vigente (sntese dosistema poltico e do sistema econmico) - uma conseqncia lgica destespostulados tericos.

    A coletivizao uma conseqncia necessria do postulado terico quev o trabalho coletivo da sociedade como fonte geradora do valor e das riquezas,e a propriedade privada conseqentemente como roubo.

    3 O Anarquismo e sua verdadeira histria

    O Pensamento Bakuninista seria negligenciado, combatido, e deturpadono sculo XIX, principalmente devido derrota da Comuna de Paris (1871) e arepresso generalizada lanada sobre a Associao Internacional dos Trabalha-dores (AIT), iniciando-se o seu abandono aps a morte de Bakunin (1876). Nosculo XX este processo consolidou-se.

    Trs distintas correntes polticas se formam como caricaturas, desvios e

    oposio ao bakuninismo/anarquismo no correr do sculo XIX: o revisionismo, oecletismo e o liquidacionismo.

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    ORevisionismo fundado na reviso dos postulados fundamentais doanarquismo tais como sistematizados por Bakunin. O Revisionismo ataca os fun-damentos ideolgicos, tericos, estratgicos e programticos do anarquismo,inverte seu significado e assim simula reivindic-los, buscando confundir-se como anarquismo.

    Historicamente o Revisionismo nasce e desenvolve-se a partir de duasmatrizes diferenciadas: uma delas tem suas razes nos EUA do final do sculo XIXcom figuras como Benjamin Tucker e possui um carter francamente liberal; aoutra destas matrizes se origina a partir da reviso dos pressupostos bsicos doanarquismo com a introduo da noo de comunismo em oposio de coleti-vismo como eixo do programa anarquista.

    O comunismo: "de cada um de acordo com suas possibilidades, a cadaum de acordo com suas necessidades" vai romper com pressuposto de funda-mentar os direitos civis e polticos no trabalho e vai atacar a existncia de umprograma claro e definido para o anarquismo.

    O comunismo foi introduzido como eixo do programa anarquista atravsda reviso proposta conjuntamente por Errico Malatesta e Carlos Cafiero no

    congresso da Internacional Anti-autoritria de 1875 e tem em Kropotkin seuprincipal difusor.

    No entanto, ao longo do tempo as duas matrizes tenderam a convergir ehoje o Revisionismo apresenta um carter individualista, educacionista e liberalque amalgama as duas matrizes originais. A verso mais bem acabada desta con-vergncia a proposta de "sntese" elaborada por Vline e Sebastien Faure nadcada de 1920.

    O Ecletismo Definimos desta maneira o posicionamento poltico quedefende a equivalncia entre o anarquismo e o revisionismo. O ecletismo reco-nhece e legitima o revisionismo e a confuso que ele proporciona com relao aoanarquismo.

    Para o ecletismo, o individualismo revisionista e o coletivismo anarquistase equivalem, o evolucionismo cientificista do revisionismo e o materialismoanti-cientificista do anarquismo tambm se equivalem, o educacionismo peque-no-burgus revisionista e o classismo proletrio anarquista no se chocam, bemcomo o romantismo lrico revisionista e a concretude programtica anarquista.

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    Para os eclticos estas posies opostas no s se equivalem como cons-tituem uma unidade harmnica no interior de um pretenso "movimento anar-quista" amplo ao infinito. O ecletismo caracteriza-se pela tentativa de conciliaoterica e prtica entre revisionismo e anarquismo, o que por sua prpria nature-za favorece o revisionismo.

    O ecletismo historicamente nasce com as hesitaes polticas do militan-te italiano Errico Malatesta e expressou todo seu potencial destrutivo quando dapolmica em torno da Plataforma Organizacional (do Grupo Dielo Trouda).

    Liquidacionismo o desvio que se fundamenta na ruptura com o ele-mento estratgico principal do anarquismo, a saber: a necessidade e/ou a cen-

    tralidade da organizao poltica anarquista (o partido anarquista) na conduodo processo revolucionrio.

    O liquidacionismo pode assumir, assim como assumiu, diversas formasmas a principal destas formas foi o anarco-sindicalismo, que liquidou a organiza-o especificamente anarquista e/ou seu papel de centralidade em nome de umasuposta "anarquizao" do sindicalismo, conduzindo historicamente a uma esp-cie de reformismo extra-parlamentar e "libertrio".

    O revisionismo educacionista (que reivindicava o nome de anarco-comunismo), e o individualismo literrio como linha pequeno-burguesas predo-minaram em certos pases at 1900, tendo como principais expoentes Piotr Kro-potkin e Elise Reclus. O revisionismo, ao abdicar e combater os pressupostosbsicos do anarquismo (ideologia, teoria, estratgia e programa) e ao implemen-tar sua poltica educacionista e cientifico-evolucionista, afastou-se da luta e dacausa do povo.

    O anarco-sindicalismo apareceu como resposta estagnao revisionistano incio do sculo XX, entretanto como alternativa liquidacionista. Mas no en-tanto, atritando em aspectos secundrios, o liquidacionismo, o ecletismo e orevisionismo tenderam a confluir e se misturar, prtica e teoricamente.

    Na Revoluo Russa (1917-1921) as contradies do revisionismo, doanarco-sindicalismo e do ecletismo foram explicitadas. A ausncia dos grupos depropaganda em relao luta revolucionria e o oportunismo dos individualistasfoi denunciada somente com a tentativa de resgate parcial e "instintivo" do a-narquismo operado pelo Grupo Anarquista-Comunista de Gulai-Pol/Ucrnia.

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    Este Grupo que animou o grande movimento popular conhecido como"Makhnovitschina". Depois no exlio Nestor Makhno e Piotr Arshinov, figurascentrais do movimento, iriam fundar o Grupo DieloTrouda e tentar desenvolver oaprofundamento organizativo e terico que resultaria na formulao do docu-mento chamado "A Plataforma Organizacional".

    A organizao reconhece e reivindica a Plataforma e o grupo Dielo Trou-da como representante de tentativa de resgate do anarquismo, que se aproxi-mou das formulaes centrais do Bakuninismo. A Plataforma uma grande con-tribuio para o aprofundamento da teoria e poltica anarquista.

    Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), os Amigos de Durruti(a-

    grupao de oposio na Federao Anarquista Ibrica e na Confederao Na-cional do Trabalho) expressou uma resposta anarquista legtima degeneraodo conjunto do movimento anarco-sindicalista espanhol (compreendendo a FAI eCNT).

    A crtica dos Amigos de Durruti era dirigida a traio operada por qua-dros histricos do movimento anarco-sindicalista, pela capitulao da FAI e daCNT atravs da adoo de uma poltica "ministerialista" de colaborao com a

    burguesia espanhola e o stalinismo. Esta traio, indicaram os Amigos de Durruti,se devia principalmente a ausncia de formulaes tericas e ideolgicas claras ede um programa revolucionrio.

    A organizao reconhece e reivindica os Amigos de Durruticomo expe-rincia fiel a elementos importantes do bakuninismo , que contribuiu como umraio de luz na escurido para a elucidao de uma srie de questes polticas etericas, denunciando as debilidades e a degenerao do chamado "movimento

    anarquista" espanhol, e em certo sentido, internacional.

    Na Amrica Latina, a fundao da FAU(Federao Anarquista Uruguaia)em 1956 marca o esforo de dar flego ao anarquismo e a luta revolucionria nocontinente. A FAU aprofundou questes importantes do anarquismo, principal-mente no que toca a organizao especfica, a estratgia de luta no movimentode massas e ao lugar da violncia na poltica revolucionria.

    A organizao reconhece e reivindica a FAUcomo experincia que fiela elementos fundamentais do bakuninismo e que contribuiu em ampla medidapara o aprofundamento terico e poltico de questes pertinentes.

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    A organizao, fundada assim sobre o pensamento Bakuninista, reivindi-ca as contribuies de militantes e organizaes revolucionrias anarquistas quese enquadram dentro dos parmetros bsicos deste pensamento.

    Entendemos tambm que esta experincia histrica do sculo XX enri-quece o pensamento Bakuninista, mas mostra tambm o quanto o anarquismofoi sendo expurgado do movimento real das lutas populares devido ao negligen-ciamento do Bakuninismo.

    O II Congresso entendeu tambm que, para aprofundar o bakuninismo necessrio desenvolver uma luta terica ferrenha contra o revisionismo, o ecle-tismo e o liquidacionismo, tanto quanto o liberalismo e o reformismo. esta luta

    dentre outras que qualificar o conjunto da poltica revolucionria da organiza-o.

    II - Resolues sobre a Poltica Popular Revolucionria

    "Que teve ento de fazer a Internacional? Teve primeiramente

    de afastar as massas operrias da poltica burguesa, teve de eliminar do

    seu programa todos os programas polticos burgueses. Mas a poca de

    sua formao, no havia no mundo outra poltica que a da Igreja ou da

    monarquia, ou da aristocracia ou da burguesia (... ) A Internacional teve,

    portanto, de comear por desbravar o terreno, e como do ponto de vista

    da emancipao do trabalho, toda poltica se encontrava ento infestada

    de elementos reacionrios teve de excluir do seu seio todos os sistemas

    polticos conhecidos, a fim de poder fundar, sobre as runas do mundo

    burgus, a verdadeira poltica dos trabalhadores ..."

    Mikhail Bakunin

    "Ningum pode querer destruir sem ter pelo menos uma imagi-

    nao distante, verdadeira ou falsa, da ordem das coisas que deveria,

    segundo ele, suceder que existe presentemente; e quanto mais viva a

    imaginao nele, mais forte se torna a sua fora destrutiva, e mais ele se

    aproxima da verdade, isto , mais est conforme ao desenvolvimento ne-cessrio do mundo social atual, mais os efeitos da sua ao destrutiva se

    tornam salutares e teis. Pois a ao destrutiva sempre determinada,

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    no s na sua essncia e no grau da sua intensidade, mas tambm nos

    seus modos, nas suas vias e nos meios que emprega, pelo ideal positivo

    que constitui a sua inspirao primeira."

    Mikhail Bakunin

    Hoje, no Brasil de 2004, assim como no sculo XIX, preciso separar oproletariado das influencias da poltica burguesa. Por isso o Congresso discutiutambm a forma de dar meios concretos a uma verdadeira poltica dos trabalha-dores, formulando assim umapoltica popular revolucionria.

    Sem teoria revolucionria, no h movimento revolucionrio. E sem pol-

    tica revolucionria, a teoria revolucionria fica condenada a esterilidade. Por issomunidos de uma teoria revolucionria devemos formular uma poltica revolucio-nria, que articulada dialeticamente com a primeira, impulsionar o processo darevoluo social no Brasil.

    4 As Duas Ferramentas da Luta Revolucionria

    O II Congresso abordou a questo das ferramentas necessrias a luta re-volucionria do povo, aprofundando as discusses realizadas no I Congresso(2003). As bases de argumentao das resolues aqui contidas esto no texto" A Alma e o Corpo", que aprofunda teoricamente as orientaes do primeirocongresso.

    O Congresso considerou que a poltica popular revolucionria, funda-

    mentada na ideologia anarquista e no pensamento bakuninista, exige duas fer-ramentas: a Organizao Poltica Revolucionria Anarquista e seu Brao deMassas.

    Estas duas ferramentas mantm uma relao dialtica de constituio edesenvolvimento: o crescimento do brao de massas, na sua imerso nas lutasconcretas e materiais do povo, possibilita o crescimento da organizao revolu-cionria, j que novos militantes nascem nelas.

    As duas ferramentas se apresentam sempre em conjunto num movimen-to contnuo. Pensadas isoladamente elas implicam em contradio.

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    A Unio Anarquista compreende que uma organizao poltica revolu-cionaria anarquista deve se apoiar nos quatro pilares plataformistas: UnidadeTerica, Unidade Ttica, Responsabilidade Coletiva e Federalismo. Este quadril-tero que orienta a estrutura de funcionamento da nossa organizao.

    A Unidade Terica da Unio est assegurada pela adoo do bakuninis-mo como pensamento guia, ou seja, de uma concepo materialista e dialtica. Aunidade ttica se verifica na sua atuao concreta e obtida graas a primeira; oFederalismo a relao social que garante a distribuio igualitria do poderdecisrio; a responsabilidade coletiva o contra-ponto do livre acordo: tudo que decidido livremente se torna de responsabilidade obrigatria de todos.

    A misso da organizao anarquista preparar e dirigir/direcionar a lutarevolucionria pelo socialismo, atravs da insero na luta poltica de massas,amparado num planejamento estratgico harmnico global; sua estratgia geral

    permanente supe: 1)a realizao de uma revoluo social (ou a mudana dosistema social capitalista pela fora coletiva do povo); 2) o anti-colaboracionismo.A organizao poltica a principal ferramenta para isso, mas no a nica.

    Como no existe anarquismo fora da ao, e como no existe revoluo

    social sem a participao das massas, a organizao anarquista tem necessaria-mente de participar das lutas das massas.

    O II Congresso considerou que o conjunto das organizaes popularesconstrudas e amparadas pela organizao, e que se alinham com sua orientao,sero chamadas de Brao de Massas. O Brao de Massas da Organizao Polti-ca Revolucionria Anarquista outra ferramenta necessria a luta revolucion-ria.

    O Brao de Massas se apresenta como organizao de massas reivindica-tiva, mas como forma distinta das organizaes de tipo sindical ou representati-vo. O que diferencia o Brao de Massas das organizaes de tipo sindical queela j apresenta uma maior definio ideolgica. No se contenta com os mto-dos reformistas (eleies burguesas,clientelismo), se dispe a ao direta e aoboicote da poltica burguesa.

    O objetivo do Brao de Massas fazer a luta poltica com uma orienta-o revolucionria, mas seu programa no se confunde com o programa da or-ganizao poltica. O Brao de Massas o elo da organizao especfica com a

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    vida cotidiana do povo e seus problemas materiais. Sua funo lutar para resol-ve-los e aprofundar o grau de desenvolvimento ideolgico e organizativo dasmassas, sempre comeando da realidade material e concreta.

    Os programas da organizao especfica e do brao de massas so com-plementares, mas distintos. O programa mximo, o socialismo, portado pelaorganizao. O Brao de Massas tem por finalidade organizar o povo na base deinteresses comuns, para o exerccio da solidariedade e da luta.

    Logo, ele no pergunta se as pessoas so socialistas, se elas querem osocialismo, ou se so anarquistas. Ele pergunta: proletrio? Est disposto a seorganizar com os demais trabalhadores para lutar por melhores condies devi-

    da? isso que permite que as pessoas que no conhecem nada do socialismo,vo aprendendo sobre ele pela prtica de luta e convivncia em comum.

    Estas so ento as Duas Ferramentas da nossa luta: organizao polticae organizao de massas, que sendo distintas, afirmam sua unidade na dialticaprtica da vida.

    5 Anlise Bakuninista da sociedade brasileira - Teses sobre arevoluo social no Brasil

    "Pela flor do proletariado, eu entendo sobretudo esta grande

    massa, estes milhes de no civilizados, de deserdados, de miserveis e

    de analfabetos que o Sr.Engels e o Sr. Marx pretendem submeter ao re-

    gime paternal de um governo muito forte...Por flor do proletariado, eu

    entendo esta carne para governo, esta grande canalha popular que, es-tando quase virgem de toda civilizao burguesa, traz no seu seio, nas

    suas paixes, nos seus instintos, nas suas aspiraes,em todas as neces-

    sidades e misrias de sua posio coletiva, todos os germes do socialismo

    futuro, e que s ela suficientemente forte para inaugurar e para fazer

    triunfar a Revoluo Social"

    Mikhail Bakunin

    Para definir uma estratgia revolucionria correta para o Brasil, foi preci-so analisar detidamente a sociedade brasileira. Esta anlise foi construda a partir

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    da perspectiva bakuninista e est desenvolvida no texto "Quem somos ns equem so nossos inimigos?", apresentado no Congresso.

    De acordo com a concepo anarquista o Sistema Social capitalista divi-de a sociedade em burguesia e proletariado. A burguesia (classe dominante) estsubdividida e se compe das diferentes fraes econmicas (estabelecidas pelocritrio das atividades econmico-sociais) da mesma forma que o proletariado. na diferenciao destas fraes e nas mltiplas interaes que desenvolvem quese realizam os vrios regimes polticos e econmicos e na transformao do car-ter das composies entre estas fraes que pode se compreender as modifica-es de conjuntura e a abertura de possibilidades no contexto da luta socialistarevolucionria.

    Por conseguinte, as divises especficas e concretas da sociedade do oscontornos concretos da conjuntura em que atuamos, sendo indispensvel umacaracterizao precisa destas relaes para que possamos desenvolver umaperspectiva de atuao correta na luta de classes.

    A sociedade capitalista se divide em:

    Burguesia Rural incluem-se aqui os grandes proprietrios de terra, lati-fundirios, que controlam a produo agrcola.

    Burguesia Comercial - incluem-se aqui os donos das grandes lojas docomercio atacadista e varejista, donos das cadeias de servios (hotis, lanchone-tes, shoppings ).

    Burguesia Financeira - incluem-se aqui os donos de Bancos, Financiado-

    ras e Agencias de Crdito e demais Especuladores, que controlam e atuam nomercado financeiro.

    Burguesia Industrial - incluem-se aqui os proprietrios das unidadesprodutivas, como as fbricas e industrias.

    Burguesia Militar - incluem-se aqui os oficiais das foras armadas e desegurana.

    Pequena-Burguesia Urbana - incluem-se aqui os proprietrios de pe-quenos negcios, que so relativamente menos importantes quando compara-dos com os investimentos do grande capital. Pequena-Burguesia Rural - inclu-

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    em-se aqui os proprietrios de pequenas parcelas de terra, comparadas com oslatifndios do grande capital, mas que exploram o trabalho alheio.

    Proletariado Industrial - incluem-se aqui fundamentalmente os oper-rios e empregados de todas as fbricas e unidades de produo (excludos a tec-nocracia empresarial).

    Proletariado do Comrcio e Servios - incluem-se aqui diversas categori-as: 1) funcionrios pblicos civis e militares, (excludos aqui a tecnocracia esta-tal); 2) funcionrios do setor de servios, comrcio e do setor financeiro (exclu-dos aqui a tecnocracia empresarial).

    Proletariado Ruralinclui todos assalariados que trabalham em estabe-lecimentos agrcolas (fazendas, chcaras e etc).

    Camponesestrabalhadores que tem a posse de pequenos lotes de ter-ra, empregando seu prprio trabalho e da sua famlia (no exploram outros),visando sua subsistncia e no o lucro.

    Proletariado Marginal incluemse aqui todos aqueles que tem ativi-

    dades de trabalho marginais as instituies de produo-circulao capitalista(ou seja, os desempregados, camels, biscateiros e etc), seja no campo ou nacidade

    O II Congresso, incorporando tal anlise da sociedade brasileira se colo-cou as seguintes questes: quais os sujeitos sociais da revoluo brasileira e qualo seu lugar na luta revolucionria? Quais as principais contradies da socieda-de?

    Tomando por base todos os dados apresentados, o II Congresso enten-deu que seria preciso qualificar as contradies inerentes ao sistema social capi-talista, ou seja, que fazem parte da dinmica das relaes sociais e instituiespolticas e econmicas, manifestas no cotidiano do pas. As contradies, ou osconflitos estruturais da sociedade brasileira podem ser assim resumidos:

    1) Burguesia Industrial e Proletariado Industrial dada pelas relaes detrabalho e a luta pelos direitos dos trabalhadores contra a acumulao de capital.

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    2) Burguesia Comercial e Proletariado do Comrcio e Servios dada pe-las relaes de trabalho e a luta pelos direitos dos trabalhadores contra a acumu-lao de capital.

    3) Burguesia Financeira e Proletariado do Comrcio e Servios dada pe-las relaes de trabalho e a luta pelos direitos dos trabalhadores contra a acumu-lao de capital.

    4) Burguesia Rural, Pequena Burguesia Rural com o Proletariado Rural eCamponeses dada pelas relaes com a terra, as relaes de trabalho e os di-reitos a elas associados.

    5) Estado e Proletariado do Comrcio e Servios dada pelas relaes detrabalho e luta pelos direitos dos trabalhadores contra a acumulao de capital.

    6) Estado e Proletariado Marginal dada pela excluso das relaes detrabalho, tendo objetos diversos de disputa, mas envolvendo principalmentedireitos sociais e civis.

    7) Estado, Burguesia v.s. camadas populares dada por fatores diversos

    (polticos, histricos, culturais), envolvendo principalmente direitos sociais e civise se d devido ao racismo e machismo existente na sociedade brasileira.

    8) Proletariado brasileiro v.s Imperialismo Internacional dada pelascondies estruturais de formao do capitalismo brasileiro, o proletariado explorado ao mesmo tempo pela Burguesia Nacional e suas parceiras, as Burgue-sias dos pases Imperialistas.

    Estas contradies/conflitos se manifestam cotidianamente na socieda-de brasileira. A violncia policial contra os negros, a represso s formas de tra-balho informal (como a dos trabalhadores ambulantes), a tolerncia institucionalpara com a violncia contra as mulheres so exemplos das contradies entreEstado e Camadas Populares e Estado e Proletariado Marginal.

    As greves, dissdios coletivos, ocupaes de terra so indicadores dasformas de conflito existentes entre Burguesia (Industrial, Comercial, Financeira erural) e Proletariado (Industrial, Do Comrcio e Servios, Proletariado Rural e

    Campesinato).

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    Logo, as relaes sociais dentro do sistema social capitalista so marca-das por conflitos contnuos e diversos. Estas contradies so assim a base mate-rial sobre a qual poltica revolucionria tem de agir, de forma a explicitar as con-tradies e criar maiores dificuldades para o Estado e a burguesia no pas.

    Cabe agora identificar, quais so as principais fraes econmicas a se-rem mobilizadas num processo revolucionrio no pas e justificar o porque. Estasforas principais marcaro o prprio desenvolvimento da estratgia revolucion-ria, de maneira que a revoluo social s se viabilizar desta maneira.

    Devemos lembrar determinados pressupostos tericos e ideolgicos doanarquismo. O bakuninismo recusa o determinismo econmico. Mas do ponto de

    vista revolucionrio, a situao econmica estratgica porque o proletariadoque far a revoluo social.

    Mas outras contradies (raciais, de gnero) tambm so consideradasimportantes, mas sempre em relao e nunca fora de umapoltica de classe.

    Na concepo materialista do pensamento bakuninista, que orientanossa discusso, as condies materiais de existncia e dentre elas as condies

    econmicas, o que determinam a vida em sociedade. Assim, a posio econ-mica, o tipo tnico, o gnero e etc. marcam profundamente a vida de uma pes-soa.

    A revoluo ento, para ser efetivamente uma revoluo social, deve seruniversal - quer dizer, articular campo e cidade, e todos os seguimentos da popu-lao proletria: jovens, idosos,crianas, mulheres. Logo, o proletariado industri-al, do Comrcio e Servios, o proletariado marginal, de um lado, e o proletariado

    rural e o campesinato, de outro, devem ser todos mobilizados em sua diversida-de interna.

    desta mobilizao, unio e comunidade de interesses que se forja aClasse Trabalhadora ou Proletria, construda dialeticamente na prpria luta declasses, superando o fracionismo e a falta de identidade comum de classe.

    Nenhuma frao econmica mais revolucionria ou conservadora quea outra, e nem mesmo so uma outra coisa em sua totalidade. Conseqente-mente, nenhuma deve sair da revoluo com mais poder ou com privilgios, pormaior que tenha sido a sua importncia na luta revolucionria.

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    Do ponto de vista econmico, quanto maior a pobreza, menor o grau devinculao de interesses entre uma determinada frao e o sistema econmico.O que significa que ela dispe de um potencial, um instinto como dizia Bakunin,que faz com que ela possa desempenhar um determinado papel poltico em rela-o ao sistema econmico.

    Mas por outro lado, as condies econmicas e polticas do pas, geradaspelo sistema social capitalista, possui especificidades que marcam profundamen-te a sua existncia, e que diferenciam a sua populao, e condicionam a prpriaao revolucionria.

    Quais sero ento as foras principais da revoluo brasileira?

    O II Congresso, levando em considerao os elementos de nossa teoria,entendeu que no Brasil, existem duas fraes proletrias que sero as forasprincipais: 1) o proletariado marginal: 2) o campesinato. Eles constituem umamassa de pelo menos 47 milhes de pessoas (mais que o dobro das demais fra-es proletrias da sociedade brasileira).

    So tambm a parcela da populao em que os nveis de pobreza sos

    maiores e as condies de vida so mais precrias. No que as demais fraes doproletariado gozem de condies muito superiores, mas nestas fraes, elas tmgraus realmente absurdos.

    preciso tambm definir o que chamamos de fora principal. Por foraprincipal, entendemos as principais fraes a serem mobilizadas devido: 1) aoantagonismo potencial de seus interesses, expresso pelas condies materiais deexistncia (pobreza, violncia, injustia) sob que vivem; 2) a quantidade demo-

    grfica destas fraes, que faz com elas tenham um peso especfico pelo fato deserem muito volumosas, logo, poderem mobilizar grandes efetivos e ter umgrande potencial poltico.

    Segundo nosso entendimento, asfora principais da revoluo social noBrasil sero compostas pelo proletariado marginale o campesinato. O proletari-ado marginal, ao contrrio dos segmentos sociais mais instrudos, engajados naeconomia formal e auferindo rendimentos elevados, aquela frao que propor-cionalmente menos se engaja em atividades polticas e associativas. Justamentepor isso que devemos empenhar nossos esforos no sentido de sua organizaoe mobilizao.

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    Entretanto, as demais fraes do proletariado iro desempenhar papelestratgico em cada momento da luta revolucionria. O carter estratgico decada frao econmica acompanha na verdade a posio real e local do grupo detrabalhadores concretos que ela rene em seu interior, dos ramos econmicos esua importncia no conjunto da economia e sociedade.

    6 Uma Estratgia Revolucionria para o Brasil

    O II Congresso, tomando como pressuposto as teses sobre a revoluosocial no Brasil, elaborou a estratgia da organizao. O II Congresso entendeu

    que na atual conjuntura:

    1. o povo se encontra desarmado para a luta poltica revolucionria e;

    2. divido pela poltica burguesa e isolado em seus problemas setoriais e;

    3. submetido ao jugo burgus e reformista, sem o contato com uma orga-nizao anarquista de larga escala e seus mtodos de luta e;

    4. que o anarquismo ainda no uma fora ideolgica e poltica importan-te no Brasil;

    Sendo assim, ao abordar a questo da estratgia revolucionria, tinha-seem mente esta leitura da situao concreta do pas e do anarquismo dentro dele.

    Mas mesmo diante desta situao e da misria e violncia em que asmassas se encontram submetidas no Brasil, as lutas populares no cessam. Estasso as lutas reivindicativas (por melhores condies de vida, como as greves eocupaes de terra) e lutas reativas (como as dos moradores de favelas, quereagem contra a violncia policial).

    Podemos citar vrias lutas do tipo ocorridas em diversas partes do pasno ano de 2003. Em Salvador e Joo Pessoa, a luta dos estudantes pobres; no Riode Janeiro, a luta dos camels e dos moradores de favelas contra a violncia daguarda municipal e da polcia militar; no campo, a luta dos sem-terra e indgenas,

    ocupando o latifndio.

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    Mas as lutas isoladas, por mais importantes que sejam, tendem a recuar.As conquistas obtidas podem ser perdidas. E a misria somente no suficientepara impulsionar a luta pelo socialismo. Para romper este isolamento e limitaodas lutas reivindicativas, preciso uma estratgia para a luta poltica.

    No centro desta estratgia est a necessidade de uma luta ideolgicaferrenha contra o reformismo e sua poltica de colaborao de classes, contra oliberalismo e contra os valores e prticas capitalistas (o autoritarismo, o individu-alismo e etc). Sem a luta ideolgica (agitao e propaganda), impossvel desen-volver uma luta poltica revolucionria a partir do movimento de massas (a con-verso da agitao e da propaganda em organizao concreta e vice-versa).

    A luta ideolgica assim conjugada com a luta poltica de massas (reativae reivindicativa), precisa ser orientada por uma estratgia. Esta estratgia revo-lucionria e socialista nega as formas de luta do reformismo: a tomada do Estadoburgus (do "poder poltico"), atravs das eleies e a conseqente subordina-o das lutas populares a esta estratgia e objetivo. No Brasil j vimos aonde levaesta estratgia.

    A estratgia revolucionria a negao desta via, que alem de tudo

    uma fraude, pois identifica o governo representativo com o prprio poder polti-co burgus. No entanto, este poder reside na situao de classe da burguesia eno se subordina ao sistema eleitoral.

    A luta poltica de massas deve no somar para "a tomada do poder pol-tico burgus", mas sim boicota-lo. A luta popular deve ser autnoma, e no su-bordinada a dinmica do sistema poltico burgus.

    O II Congresso, tendo por a base a situao atual do pas, do proletariadobrasileiro e do anarquismo, formulou ento um planejamento estratgico basea-do em metas concretas a serem alcanadas pela organizao, dividido em trsetapas:

    1 Etapa: "Ir ao Povo"

    Objetivos: Consolidar a Organizao Poltica Revolucionria Anarquistae o seu Brao de Massas; expandir ambos na Cidade e no Campo.

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    Construir organizaes populares autnomas em meio ao proletariadodo campo e da cidade, principalmente a populao mais pobre, que se encontrana sua grande maioria sem organizao poltica; desenvolver a luta ideolgicadentro do movimento de massas, difundindo o programa socialista revolucion-rio e combatendo o reformismo, criando uma poltica popular, estimulando aseparao do proletariado da poltica burguesa; fazer do anarquismo uma alter-nativa organizativa real para as massas.

    2 Etapa: "Construir a unidade proletria"

    Objetivos: Aumentar a capacidade combativa em todos os nveis de lu-ta (poltico, terico e etc.). Expandir a Organizao e o Brao de Massas para as

    cinco regies do pas.

    Fazer o conjunto mais amplo das organizaes populares se desprende-rem da tutela estatal e burguesa, situao em que se encontram, por exemplo,os sindicatos; preparar as massas para as exigncias da luta revolucionria; coor-denar as diversas lutas locais, trabalhando no sentido de formar uma amplaFrente dos Oprimidos (Unir a ao das diversas fraes proletrias da sociedade);promover a unidade das foras revolucionrias na base do nosso programa.

    3 Etapa: "Ruptura"

    Objetivos: Enraizar a organizao e seu brao de massas em todas asreas estratgicas da sociedade (geogrficas, econmicas e etc.); lanar a ofen-siva para a ruptura revolucionria.

    Consolidar as condies objetivas e subjetivas para o desenlace revolu-

    cionrio; desencadear a ofensiva de ruptura revolucionria da ordem, entenden-do por isso as aes de mltiplos nveis que visam a destruio do Estado bur-gus e a implantao do Poder Popular.

    As trs etapas somadas constituem o que o II Congresso definiu comoLongo Prazo, as duas primeiras somadas o Mdio Prazo e a primeira somente ade Curto Prazo.

    Para viabilizar a Revoluo Social, do ponto de vista da nossa organiza-

    o, preciso antes de qualquer coisa dar ao anarquismo uma expresso de

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    massas; preciso inseri-lo nas lutas populares, como pr-requisito para qualqueriniciativa.

    A primeira etapa da nossa estratgia revolucionria, com nfase na lutaideolgica e na organizao poltica das massas populares fundamental para odesenvolvimento da luta poltica revolucionria e socialista no Brasil.

    Nesta primeira etapa necessria a "disperso" das aes da poltica re-volucionria anarquista, "ir ao povo" em todos os pontos onde este se encontra.Priorizar a formao de organizaes populares de novo tipo (autnomas) noplano local e o "trabalho de formiga" junto base.

    A segunda etapa compreende o trabalho no sentido de concentraodas foras do proletariado brasileiro; a formao de uma ampla frente dos opri-midos, com novas instncias de coordenao de massas; o aprofundamento dasaes conjuntas e a radicalizao, fazendo as lutas reivindicativas e reativas te-rem cada vez mais motivao ideolgica.

    A terceira etapa da nossa estratgia se configura na forma mais avana-da de luta das massas. A preparao e execuo da ruptura revolucionria, exige

    a maturidade das massas, uma slida poltica classista e a formao de outrosinstrumentos organizativos.

    A estratgia precondio de todas as expectativas revolucionrias. Oque no se pode ter iluses. Sem uma estratgia revolucionria, no haverrevoluo. Adotando uma estratgia reformista, somente o reformismo serproduzido. E na hora das lutas decisivas, as massas se encontraro sem a prepa-rao adequada, embriagadas pelas iluses reformistas, como no golpe militar de

    1964. Sem condies mnimas de agir.

    A caminhada das massas populares em direo ao socialismo dependede uma adequada estratgia, que tem de ser necessariamente revolucionria. ALuta Ideolgica e a Luta Poltica de Massas, orientadas pelo boicote ao sistemapoltico burgus (as eleies), constitui a nica via para o Socialismo, que maisque um sonho uma necessidade, pois os problemas materiais do povo nosero solucionados dentro capitalismo.

    A nossa organizao anarquista ir permanecer na oposio poltica, in-dependentemente do regime poltico ou econmico e do partido governante,

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    enquanto o sistema social capitalista no for destrudo e substitudo por umsistema socialista.

    At a vitria, a organizao s atua junto ao povo, e sempre s participado poder do povo: na sua vitria ou na sua derrota. Sabemos que o caminho longo. Mas j iniciamos nossa marcha.

    7 - Um Programa para a Revoluo Social brasileira

    O Problema do Poder...

    O Problema do Poder atravessa todas as dimenses da vida. Mas ele sedesdobra fundamentalmente em dois: 1) o Problema Poltico; 2) o ProblemaEconmico. A soluo do problema poltico se vincula organicamente a resoluodo problema econmico. Mas falaremos do primeiro problema.

    A soluo do problema poltico abre caminho para a soluo do proble-ma do poder. Mas este s ser totalmente resolvido com a resoluo do proble-

    ma econmico e de todos os problemas fundamentais da vida de um pas. E so-mente o programa revolucionrio pode resolver o problema do poder.

    O II Congresso discutiu a questo do Programa Anarquista para a Revo-luo Social no Brasil. O II Congresso entendeu que a questo do Programa sedivide em duas partes: 1) a caracterizao clara do Programa Permanente; 2)medidas claras para a soluo dos problemas especficos da sociedade brasileira.

    Segundo o pensamento bakuninista o Programa Permanente tem 2 pon-tos fundamentais: 1) Destruio do Estado e tomada do Poder pelo Povo; 2) Des-truio do Capitalismo; Coletivizao dos meios de Produo e de toda Proprie-dade Privada.

    O primeiro implica que o Povo vai tomar para si (com a destruio do Es-tado) o poder legislativo, executivo e judicirio; o segundo, que a propriedadeprivada se torna propriedade coletiva, e as decises sobre a produo deixam deser tomadas por empresas ou burocracias para ser tomada pelo Proletariado.

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    Mas o que sucederia a destruio do Estado? Que organizaes substitu-iriam as organizaes de Estado?

    Segundo a concepo anarquista de organizao federalista (de Prou-dhon e Bakunin), um ponto fundamental para a formao do organismo polticorevolucionrio de gesto da sociedade que o prprio proletariado deve sersujeito do processo poltico, isto significa que eles devem estar representados(no sentido de estar desempenhando um papel ativo e no no sentido de ser"substitudo" por algum que fala e faz algo em nome deles) dentro deste orga-nismo.

    Por isso devem ter representao dentro do organismo poltico, todos os

    trabalhadores, do campo e da cidade, e todas camadas populares (mulheres,minorias tnicas, raciais e nacionais), mas respeitando um critrio de classe.

    Este processo de organizao deve se dar de "baixo para cima", porqueparte da iniciativa das prprias pessoas, dos locais concretos em que esto, aorganizao e coordenao das lutas.

    Esta forma de organizao poltica revolucionria teve dois grandes mo-

    mentos de manifestao: a Comuna de Paris (organismo de poder popular sadodo levante de maro de 1871 na Frana) e a Revoluo Russa (1917). A maiorcontribuio destas experincias o legado dos "Soviets/Conselhos", que soadequados formulao bakuninista anterior de programa permanente revolu-cionrio.

    preciso lembrar que os soviets so parte de uma determinada experi-ncia histrica. Os soviets tinham uma organizao similar da Comuna de Paris.

    E "Comuna" era o termo pelo qual Bakunin designava a unidade territorial bsicade um sistema socialista-federalista. Eles apareceram no momento avanado daluta revolucionria do povo.

    Os Soviets (Conselhos), enquanto forma de manifestao do poder po-pular, foram o melhor exemplo de consolidao do Poder Popularnum SistemaPoltico e Econmico. ento a partir da formulao Bakuninista e da experin-cia dos Conselhos que formulamos nosso sistema poltico.

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    E Sistema Socialista (ou Socialismo de Conselhos) - como chamaremosdaqui por diante o Sistema Social (Poltico e Econmico) de uma sociedade semClasses e sem Estado, ou seja, o nosso Programa Permanente.

    O que destruir...

    Para entender melhor o nosso programa, devemos realizar uma anliseconcreta da sociedade burguesa como um todo, e especialmente da estruturainstitucional do Estado em questo. preciso saber minimamente como o Estadoe o Capitalismo se organizam, para sabermos exatamente o que significa destruiro Estado.

    O Estado Brasileiro se divide em trs Poderes (Executivo, Legislativo, Ju-dicirio). Ele tambm se organiza territorialmente, em Unio, Estados e Munic-pios. O Executivo Federal corresponde instituio da Presidncia da Repblica,o Estadual aos Governadores, e os dos Municpios aos Prefeitos.

    O poder legislativo composto por um Senado e uma Cmara Federal(que juntos formam o Congresso Nacional), Assemblias Legislativas Estaduais eCmaras de Vereadores Municipais. O Judicirio tm os tribunais divididos em

    Comarcas, que so jurisdies prprias, e diversos Tribunais Especiais (Justia,Eleitoral, de Contas).

    O Estado tem sob seu controle no nvel Federal a Poltica Monetria eFiscal, Agrcola e Industrial, compartilhando estas e as funes tributrias comEstados e Municpios.

    importante notar que o Estado um dos mais importantes agentes e-

    conmicos; o Estado um patro/empregador, pois a administrao pblica um vetor de empregos para o setor tercirio, e tambm proprietrio, de empre-sas, das estradas, recursos materiais e minerais existentes no solo e subsolo,alm de ser o normatizador da poltica financeira (taxa de cambio e juros) e tri-butria.

    Alm das funes e organizaes econmicas que integram a estruturado estado Nacional, temos tambm os corpos policiais (federal, civil e militar) eas foras armadas (marinha, exrcito e aeronutica).

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    De maneira sucinta, podemos dizer que esta a estrutura fundamentalque tem de ser destruda. Uma estrutura que tem atribuies polticas, militarese econmicas, que se organiza hierrquica e territorialmente. Este o Estado,enquanto conjunto de instituies e relaes concretas. fundamentalmenteisto que dever ser destrudo.

    O Mercado constitudo pelas empresas e proprietrios individuais. E-xistem milhares de empresas, que so proprietrias de imveis, bens, terras.Para destruir o capitalismo preciso aniquilar as relaes de explorao do tra-balho e acumulao de capital que se do necessariamente nas instituies eco-nmicas capitalistas ou seja, as lojas, fbricas, fazendas, etc..

    Nestas instituies que se constituem as posies sociais da populao.A condio de burgus e proletrio se cria e recria fundamentalmente, mas noexlusivamente, devido a esta organizao econmica. Na cidade a propriedadeprivada assume diversas formas (lojas, bancos, fabricas e etc); no campo, ela seapresenta especialmente sob a forma da propriedade privada da terra (as fazen-das).

    a propriedade privada, e conseqentemente as relaes econmicas

    capitalistas, que devem ser destrudas no momento da ofensiva revolucionria.Abolindo a propriedade privada, as relaes econmicas capitalistas, estarocriadas as condies necessrias para a construo e consolidao do sistemasocialista.

    O que construir ...

    O nosso Programa supe a destruio do Estado e a ascenso das mas-

    sas populares ao poder. Isto se daria pela substituio das antigas formas esta-tais por um organismo poltico revolucionrio nacional, um Congresso do Povo.Esteorganismose constituir de baixo para cima, sendo o Congresso do Povo otopo de um universo grande de organizaes populares, da qual a base so osConselhos Revolucionrios.

    As mltiplas organizaes criadas pelo povo no processo de luta, nomomento da ruptura revolucionria, devero ser articuladas atravs de um pro-cesso federalista, para a formao dos Conselhos Revolucionrios. A fuso dascomisses de fbrica, com os comits de bairro e de escolas/universidades (e/ou

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    de camponeses) numa determinada zona de municpio (um ou mais bairros)formaro os Conselhos Revolucionrios.

    Isto quer dizer que a organizao poltica ir acompanhar a distribuiolocal do proletariado por setor e ramo da economia: nos setores primrio (agr-rio), secundrio (industrial) e tercirio (comrcio e servios); na indstria auto-mobilstica, petroleira, qumica, metalrgica, de alimentos, de roupas e calados,de eletroeletrnicos, de construo civil, no funcionalismo pblico; no campo, oproletariado rural das usinas e fazendas; nas cidades, as massas excludas domercado de trabalho formal, residentes nas periferias e favelas metropolitanas,por bairro; nas unidades de ensino, em escolas e universidades.

    O Conselho Revolucionrio uma unidade territorial, um poder localque articula diretamente as organizaes populares/proletrias ali existentes. OConselho tem de ser a expresso direta da diversidade existente nas camadaspopulares e fraes proletrias.

    Os diversos Conselhos Revolucionrios (de bairro ou distrito) organiza-dos que suplantam o poder das prefeituras, formando Conselhos Municipais. Aarticulao de vrios municpios governados por Conselhos Revolucionrios den-

    tro de um estado o que suplantariam o Governo Estadual e a Assemblia Legis-lativa, formando os Conselhos Regionais. Os Conselhos Regionais articuladosentre si que constituiriam o Congresso do Povo.

    Mas a consolidao de um sistema poltico supe uma revoluo vitorio-sa, o que somente acontece quando se consegue suprimir os poderes centrais(legislativo, executivo e judicirio e as foras repressivas) e consolidar por com-pleto o organismo poltico revolucionrio nacional.

    Historicamente os Conselhos surgiram como organismos de mobilizao,estabelecendo progressivamente uma dualidade de poder em relao ao Estadoat o suplantarem por completo.

    Se num primeiro momento pode parecer que os conselhos que aqui rei-vindicamos confunde-se com a perspectiva do leninismo, importante deixarclaro porm que em Lnin os Conselhos (sovietes) substituem o parlamento nasua relao com o poder executivo do Estado. Em nossa concepo anarquista osConselhos Revolucionrios so a mais fiel, firme e intransigente negao do po-der de Estado, constituindo-se como expresso verdadeira do poder popular.

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    O Programa da Revoluo Social Brasileira e seus 40 pontos

    O Programa acima descrito o programa permanente do anarquismoNo entanto existem questes especficas de cada Nao. O II Congresso estipu-lou um programa que responde prontamente aos problemas fundamentais dasmassas e da construo do socialismo no Brasil

    Este Programa foi formulado a partir de uma cuidadosa anlise da socie-dade brasileira. O programa se apresenta como um conjunto de medidas quecombinadas (e somente combinadas) produzem um efeito de mudana positivana sociedade.

    Para estabelecer tais medidas o II Congresso discutiu e identificou umconjunto de Questes centrais que afetam a sociedade brasileira: 1) QuestoPoltico-Econmica: 2) Questo da Dependncia Externa; 3) Questo Agrria; 4)Questo Urbana; 5) Questo da Desigualdade Regional; 6) Questo da Violn-cia; 7) Questo tnico-Racial; 8) Questo de Gnero; 9) Questo Ecolgica.

    A Questo Poltico-Econmica e sua resoluo pr-condio para asoutras, que so em grande medida geradas ou reforadas devido ao problema

    poltico-econmico. As manifestaes mais cruis deste problema so: 1) a mis-ria, a fome e a opresso; 2) a desigualdade de renda; 3) o desemprego. Estesproblemas especficos so resultados necessrios do capitalismo; por isso, paraacabar com eles, preciso atacar a organizao poltico-econmica capitalista.

    A Questo da Dependncia Externa se vincula diretamente a organiza-o capitalista. Os problemas econmicos so agravados por ele. Suas manifesta-es so: 1) a transferncia de renda (capital) do Brasil para os pases imperialis-

    tas e organismos internacionais; 2) ingerncia poltica e militar nos assuntos dopas; 3) imposio de limites as atividades econmicas e cientficas.

    A eliminao do sistema capitalista implica uma desarticulao quase to-tal dos mecanismos da Dependncia Externa. Mas falta ainda eliminar determi-nadosdispositivos que agem no sentido de favorecer o imperialismo. Eliminandoos fatores restantes da Dependncia, estamos consolidando a liquidao do capi-talismo.

    A Questo Agrria e A Questo Urbana tambm se relacionam direta-mente e em grande parte com a questo poltico-econmica, mas no se redu-

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    zem a ela. Elas dizem respeitos as condies gerais de vida (mortalidade, moradi-a, acesso a servios bsicos como sade e educao, e etc.), e preciso enfrenta-las a fim de corrigir, dentre outras questes, a organizao espacial e geogrficaoriunda da explorao capitalista e, neste sentido, da formao histrica do pas.

    A Questo da Desigualdade Regional uma conseqncia tambm dahistria do capitalismo no Brasil. A concentrao do trabalho, da educao e detodos os recursos em duas regies do pas (Sul/ Sudeste) segue a lgica de con-centrao de capital nas mos da burguesia. Ele se manifesta: 1) na concentraoregional da renda; 2) na concentrao populacional; 3) nos grandes ndices demisria fora da regio concentradora.

    Para desconcentrar o poder poltico, e no permitir a gerao de "elitesproletrias", preciso ento desconcentrar todas as atividades e recursos eco-nmicos, permitindo assim a maior igualdade econmica, poltica e social.

    A Questo da Violncia no Brasil, apesar de articulada com a organiza-o poltica-econmica, engendrado por uma lgica poltica estrutural especfi-ca do Brasil e por uma estratgia repressiva bem contempornea.

    Suas manifestaes so: 1) a violncia da represso social, movida peloaparelho repressivo de Estado, que mata milhares de pessoas por ano, impune-mente; 2) a violncia da represso poltica, que se combina com a primeira, como extermnio das manifestaes polticas populares; 3) a violncia difusa do povocontra o povo.

    Resolver o problema da violncia resolver uma das piores mazelas denossa sociedade; salvar a vida de milhares de pessoas, vtimas de uma socieda-

    de corrupta e autoritria.

    A Questo tnico-Racial histrica na sociedade brasileira. Ele antecedea formao do capitalismo, mas marcou a prpria formao do capitalismo nopas. O incio da industrializao excluiu os negros, incentivou o "branqueamen-to" atravs do estmulo a migrao (de europeus).

    Hoje a influncia do racismo na sociedade brasileira se manifesta: 1) nasupremacia branca, j que a burguesia brasileira, a classe dominante, majorita-riamente branca; 2) na misria da maioria da populao negra e indgena; 3) nos

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    maiores ndices de assassinatos de negros pelas foras repressivas; 4) na difusode preconceitos racistas.

    A destruio do capitalismo atravs da revoluo social anarquista impli-ca a destruio da supremacia branca, j que a burguesia liquidada; as soluespara os problemas anteriores (violncia, desigualdade econmica) elimina neces-sariamente os trs primeiros problemas. Mas para garantir efetivamente a su-presso do racismo preciso medidas especficas.

    como diz Proudhon: "O principio federativo aparece aqui intimamenterelacionado com o da igualdade social das raas e do equilbrio das fortunas. O

    problema poltico, o econmico e o das raas constituem um mesmo e nico pro-

    blema, que se trata de resolver pela mesma teoria e pela mesma jurisprudn-

    cia."(Proudhon, Do Princpio Federativo, p.127).

    A Questo de Gnero tambm imbricada com a organizao capitalista,j que o capitalismo reproduz uma estrutura patriarcal. No Brasil isto se manifes-ta nos seguintes problemas; 1) o empresariado majoritariamente masculino,enquanto grande parte do proletariado composto de mulheres; 2) as mulheresrecebem menores salrios; 3) violncia domstica contra a mulher; 4) os precon-

    ceitos contra a mulher.

    O problema da igualdade poltica e econmica resolvidos pela revoluosocial, precisam ser consolidados por medidas que impeam a gerao de novasdesigualdades e a reproduo de preconceitos e prticas inaceitveis. Nestesentido, o solucionamento do problema da desigualdade de gnero um com-plemento necessrio a consolidao da revoluo social.

    O ltimo tema, A Questo Ecolgica poderia ser tambm o primeiro. Elese relaciona diretamente a reproduo da prpria sociedade. O sistema socialistatem ser ecologicamente vivel. A Questo Ecolgica se manifesta: 1) na depreda-o ambiental, na matana de animais e destruio da flora; 2) no esgotamentode recursos necessrios a sobrevivncia da sociedade; 3) na deteriorao dascondies gerais de vida.

    A eliminao do capitalismo muda a lgica da atividade econmica, di-minuindo a depredao ambiental. Mas se torna necessrio ter medidas quefaam com que estes trs problemas sejam efetivamente resolvidos. Disso de-pende a prpria viabilidade da sociedade socialista.

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    O II Congresso, tratando com estes problemas da sociedade brasileira,que esto dados na atual conjuntura e que tendem a se aprofundar nos prximosanos, definiu um conjunto de medidas programticas a serem defendidas pelaUnio Anarquista, como poltica a ser empreendida aps a ruptura revolucion-ria:

    Medidas do Programa

    A Questo Poltico-Econmica:

    1. supresso do poderes legislativo, executivo e judicirio do Estado bur-gus;

    2. instaurao do Congresso do Povo como organismo poltico mximo daNao;

    3. instituir o trabalho como base de todos os direitos, civis, polticos e so-ciais

    4. instituir o mandato imperativo e a revogabilidade para todos os cargosdo sistema poltico e econmico;

    5. Instituir a total liberdade de imprensa e propaganda, associao e reuni-o;

    6. Expropriao de toda propriedade privada e estatal seguida de sua Cole-tivizao

    7. Igualdade de todos os salrios por hora trabalhada8. Reduo da jornada de trabalho para que todos trabalhem

    A Questo da Dependncia Externa

    9. Liquidao dos acordos comerciais, financeiros e polticos (divida exter-na, merco sul, ALCA etc...)

    10. Liquidao dos organismos militares e diplomticos estrangeiros em te-rritrio nacional

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    11. Nacionalizao e coletivizao das empresas estrangeiras, o que significapassa-las para o controle da classe trabalhadora brasileira.

    A Questo Agrria:

    12. Distribuio de terra para os que nela trabalham e para o povo.13. Incentivo a explorao coletiva da terra com respeito posse individual

    e familiar

    14. Incentivo migrao urbano-rural;15. Capacitao profissional e tcnica para as atividades agropecurias;

    A Questo Urbana

    16. Desconcentrao populacional das metrpoles com nfase na ruraliza-o e na migrao inter e intra-regional;

    17. Desconcentrao territorial das instituies de interesse pblico bemcomo sua universalizao

    18. Estabelecer a posse dos inquilinos com o fim dos aluguis;19. Promoo de um massivo programa de construo de casas populares,

    visando garantir o acesso moradia digna para todos.

    20. Transformar determinadas propriedades burguesas nas cidades (comohotis de luxo, manses, Shoppings, condomnios) em espaos de inte-

    resse pblico e uso coletivo.

    A Questo da Desigualdade Regional

    21. Desconcentrao regional das atividades econmicas industriais e agr-colas (Redistribuir as atividades do sul-sudeste pelas regies norte,nordeste e centro oeste)

    22. Promover a distribuio regional das instituies do interesse pblicocomo: sade, educao, "previdncia" etc...

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    23. Desconcentrao das atividades estratgicas como: gerao de ener-gia, telecomunicao etc;

    24. Planificar a economia de acordo as potencialidades regionaisA Questo da Violncia

    25. Liquidao das foras armadas e de segurana do estado26. Distribuio de armas para o povo e a promoo do treinamento mili-

    tar

    27. Organizao de milcias populares28. Consolidao das foras armadas revolucionrias;29. Promoo do revezamento entre as atividades de trabalho e militares

    (treinamento militar, servio nas milcias ou foras armadas revolu-cionrias).

    30.

    Liquidao das atividades e organizaes criminosas e para militares

    A Questo tnico-Racial

    31. Combate a todo tipo de manifestao do racismo e desigualdade racialno campo poltico e cultural

    32. Valorizao da populao afro descendente e indgena bem como doseu patrimnio histrico cultural

    33. Garantir o respeito aos direitos dos povos indgenas e das comunida-des remanescentes de quilombo e a demarcao imediata de suas te-rras

    A Questo de Gnero

    34. Combate a todo tipo de manifestao do machismo e sexismo e a desi-gualdade de gnero no campo poltico e cultural;

    35. Reprimir com toda fora necessria a violncia contra a mulher

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    36. Eliminar a explorao sexual e combater prostituioA Questo Ecolgica

    37. Promoo da planificao da economia com base no equilbrio ecolgi-co (utilizao e renovao dos recursos naturais)

    38. Promoo da educao ambiental para todos39. Promoo da substituio do uso de recursos no renovveis por re-

    cursos renovveis, com base na pesquisa cientfica e tecnolgica;

    40. Promoo do desenvolvimento tecnolgico de forma ecologicamenteresponsvel

    8 Encerramento do II Congresso

    O Congresso se encerrou entendendo queo final dos debates e suas resolu-

    es so apenas o inicio de uma longa batalha revolucionria. O Congresso cum-priu seus objetivos. Ele lanou bases slidas para a formao de uma organizaopoltica revolucionria anarquista e de uma poltica popular revolucionria.

    Cabe agora o trabalho paciente, contnuo e perseverante. A defesa intransi-gente da nossa ideologia e poltica revolucionria. a intransigncia revolucion-ria o principal mecanismo de fora da Unio Popular Anarquista; a intransign-cia na defesa dos interesses do povo, dos princpios ideolgicos e organizativosque visam a libertao do proletariado.

    No transigir significa no se vender ao capitalismo e ao reformismo; per-manecer fiel aos postos de combate do bakuninismo. A revoluo social dependeda firmeza ideolgica das vanguardas populares, e o conjunto do povo dependeda revoluo social. Honremos nossos compromissos enquanto amigo do povo edefensores da causa do povo. Tenhamos s um dever: fazer a revoluo.

    Combativos e Pacientes, Avante a Luta, Sempre!Viva a Revoluo Social!!! Anarquismo Luta!!!

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    Programa Reivindicativo ePrograma Revolucionrio

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    Este documento um complemento as Resolues do II Congresso daUnio Popular Anarquista e ao Programa Revolucionrio formulado por ele. umdocumento poltico que determina as orientaes da Unio para a luta popularno curto e mdio prazo, assim como apresenta o nosso programa de longo prazode reivindicaes.

    Este documento ento: a) discute a distino entre Programa Revolu-cionrio e o Programa Reivindicativo; b) define um conjunto de orientaes emedidas prticas a serem adotadas pelas organizaes de massa nas suas lutas eapresenta o programa revolucionrio da unio anarquista.

    Discutir a diferena e a relao entre o Programa Reivindicativo e o Pro-

    grama Revolucionrio tambm faz parte da reflexo terica sobre a organizaoanarquista e a organizao de massas. Como afirmado no documento poltico ARevoluo Social no BrasilResolues do II Congresso da UNIPA, a Organiza-o Anarquista porta um Programa Revolucionrio enquanto as Organizaes deMassas portam um Programa Reivindicativo.

    Tais programas no s no so contraditrios como so necessariamentecomplementares. Eles acompanham a dialtica da organizao poltica com a

    organizao de massas. Assim, a formulao de tal questo fundamental paracompreendermos com clareza o papel do anarquismo na revoluo.

    Para isso preciso compreender a relao entre programa e conjunturahistrica, como a cada conjuntura corresponde um programa especfico. E estaconjuntura depende fundamentalmente da correlao de foras entre as classessociais. Ou seja, o programa est vinculado diretamente a dinmica da luta declasses e ao problema do poder.

    1 - Situao Revolucionria e Programa Revolucionrio

    O Programa Revolucionrio se relaciona diretamente a situao revolu-cionria. Sem uma Situao Revolucionria, ou seja, uma guerra de classes, impossvel colocar o programa revolucionrio em prtica.

    O Programa Revolucionrio muda toda a organizao da sociedade. Talmudana se processa por meio do emprego da fora revolucionria do proleta-

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    riado. Mas tal fora no o ponto de partida da luta poltica, mas sim o ponto dechegada.

    O proletariado se encontra com diferentes graus de organizao, expe-rincia e conscincia revolucionria nos diferentes pases, e mesmo dentro dediferentes regies num mesmo pas. Somente quando esta organizao e cons-cincia alcanam graus elevados (combinado com outros fatores objetivos) queexplode uma situao revolucionria. Esta situao fruto do conflito poltico eeconmico entre as organizaes concretas do proletariado (comits de fbrica,sindicatos, movimentos de desempregados, de associaes comunitrias) e oEstado e organizaes burguesas.

    Foi isso que aconteceu na Rssia de 1917; foi isso que aconteceu duran-te a Guerra Civil Espanhola em 1936. So dois exemplos de situaes revolu-cionrias. No caso da Rssia, a I Guerra Mundial provocou a deterioraoeconmica e social do pas. O proletariado se mobilizou, se armou e derrubou oregime czarista (a monarquia). Na Espanha, o levante Franquista (do GeneralFranco, comandante do Exrcito espanhol e simpatizante do nazismo-fascismo)provocou a Guerra Civil. O Povo tomou os quartis para lutar contra o golpe deestado. Mas estas situaes revolucionrias s se colocaram em razo de um

    processo histrico especfico.

    Na Rssia existia uma histria de luta de massas e luta armada contra oCzar. Vrios Partidos polticos (Partido Operrio Social-Democrata daRssia/POSDR, Partido Operrio Social-Democrata da Rssia/POSDR-Bolchevique, o Partido Socialista Revolucionrio) e movimentos sociais (a Uniodos Camponeses, o Congresso dos Soviets, o Sindicato dos Ferrovirios, os Co-mits de Fbrica e do Exrcito) existiam, seja desde o incio de 1900, seja sendo

    formados no perodo da revoluo de 1905 ou nos anos de 1916-1917, durante acrise da guerra.

    Na Espanha, existia a CNT (Confederao Nacional do Trabalho, fundadaem 1910), organizao de sindicatos com cerca de 1 milho de filiados. Almdela, existia a Unio Geral dos Trabalhadores. Existiam tambm as organizaespolticas, a FAI (Federao Anarquista Ibrica), o PSOE (Partido Socialista Oper-rio Espanhol), o PSUC (Partido Socialista Unificado da Catalunha).

    Tambm havia um fermento de lutas polticas intensas. Durante a dca-da de 20 houve uma ditadura e luta armada. Em 1931 foi derrubada a monarqui-

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    a. Em 1934 houve vrios levantes insurrecionais localizados organizados pelaFAI/CNT. Nos primeiros meses de 1936 foram realizadas dezenas de greves ge-rais, com ocupao de fbrica.

    A Situao Revolucionria caracterizada por esta grande mobilizaoproletria e pelo povo em armas. Em 1917, POSDR-Bolchevique, conseguiu den-tro da situao revolucionria colocar seu programa para o movimento de mas-sas, e graas fora deste movimento derrubou o governo provisrio em Outu-bro de 1917. Na Espanha, o movimento anarco-sindicalista, carente de um pro-grama e degenerado internamente foi levado colaborao com a burguesia.Mesmo dentro de condies favorveis no foi feita uma revoluo.

    O que importa dizer que somente dentro da situao revolucionria que o programa revolucionrio realizvel. Por isso, como coloca Bakunin, nose deve comear a falar ao proletariado dos problemas gerais do capitalismo,mas sim dos problemas especficos do trabalhador no seu local de trabalho emoradia.

    Sabendo que a Situao Revolucionria fruto de um processo histrico,no podemos cometer o erro de colocar o carro na frente dos bois. No pode-

    mos ignorar o grau de experincia e conscincia do proletariado de um pas den-tro de uma conjuntura histrica. No podemos cometer o contra-senso de pro-por algo que no podemos realizar no curto prazo.

    Por isso, o programa da organizao poltica revolucionria, o programarevolucionrio, no a base da formao do movimento de massas. Este pro-grama uma aspirao que deve ser sempre colocada em pauta pela minoriaativa e seus militantes. As organizaes de massa tm de ter um programa espe-

    cfico, um Programa Reivindicativo. Programa adequado ao grau de organizao,de experincia e conscincia do proletariado.

    Fique claro, entretanto, que o programa revolucionrio no pode ser abase de mobilizao e critrio de recrutamento do movimento de massas; mas desde o incio a base de recrutamento e mobilizao da organizao polticarevolucionria.

    O Programa Revolucionrio visa dar solues permanentes aos maiorese mais gerais problemas do povo. Este programa s ser realizado por meio do

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    uso da fora revolucionria. Esta s e possvel atravs de um processo histricode luta e organizao.

    Este processo gera uma situao de dualidade de poder: as organizaesde classe do proletariado contra as organizaes de classe da burguesia. A Insur-reio Popular provoca a ruptura da ordem. Sua vitria garante a aplicao doprograma. A dualidade de poder resolvida pela luta de classes. Consolida-se oPoder Popular, morre o Poder Burgus e Estatal.

    Mas alm dos problemas gerais e duradou