igov.doc "justiça electrónica"

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MANUAIS DE REFERÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA # # # 0 0 0 3 3 3 MAI’09 COM O PATROCÍNIO Justiça Electrónica COM A COLABORAÇÃO

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A Justiça portuguesa já leva três anos de simplificação e desmaterialização de processos e meios. O Ministério da Justiça tem levado a cabo esta missão, apoiado em projectos como o Hermes ou o CITIUS. Este documento pretende ser um guia de referência sobre a informatização da Justiça Portuguesa e a simplificação e desmaterialização dos processos notariais e judiciais.

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MANUAIS DE REFERÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ### 000333 MAI’09

COM O PATROCÍNIO

JustiçaElectrónica

COM A COLABORAÇÃO

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iGOVDOC#03 2

JUSTIÇA ELECTRÓNICA

Uma edição

índice 03

Prefácio Luis Goes, Presidente do Conselho de Administração do ITIJ

04

Opinião Carlos Sousa, director geral adjunto da OKI Systems Ibérica em Portugal

06

Enquadramento Evolução da Justiça Electrónica | Contributo das TIC | Informatização dos Tribunais

14

Entrevista João Tiago Silveira, Secretário de Estado da Justiça

18

Passo-a-Passo Processo Electrónico: Uma Dívida Passo a Passo

26

Casos Práticos Os principais projectos no âmbito do CITIUS

34

Referências Entidades | Legislação | Documentos | Portais

ficha técnica Directora Ana Pinto Martinho

Coordenação Editorial André Julião

Redacção Antónia Marques

Colaboraram nesta edição Luís Goes João Tiago Silveira Joel Timóteo Pereira Henrique Martins Gomes

Conceito editorial e gráfico Paulo Rodrigues

Propriedade

Espiral Conhecimento, Lda. www.espiral-net.com Av. 25 de Abril, nº. 39-B, 2º C 2800-298 Almada E-mail: [email protected] Telef.: 21 276 24 62 Fax: 21 274 46 64

www.i-gov.org

O iGOV é um meio de comunicação social independente dedicado às temáticas da modernização administrativa (Registo ERC: 125024) E-mail: [email protected] Parcerias: [email protected] Comercial: [email protected]

Disponibilidade

Versão Digital: www.i-gov.org

Versão Digital

patrocínio

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Opinião Joel Timóteo Ramos Pereira, Juiz de Direito de Círculo

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Opinião Henrique Martins Gomes, Advogado

colaboração

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA PREFÁCIO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

A A desmaterialização na Justiça é um aposta ainda recente, mas que tem vindo a dar passos consistentes e inovadores. O ano de 2005 marcou a história da desmaterialização na Justiça. Logo a 5 de Junho daquele ano, o projecto «Desmaterialização, eliminação e simplificação de actos e processos na Justiça» foi considerado um dos 10 projectos emblemáticos de investimento, no âmbito do «Programa de Investimentos em Infra-estruturas Prioritárias (PIIP)». O que foi esse projecto e quais as sua primeiras concretizações são algumas das notas que vos quero deixar. O projecto visa três grandes objectivos: (1) eliminar e simplificar actos e procedimentos nos registos e notariado; (2) desmaterializar actos e processos nos registos; (3) desmaterializar os processos judiciais. Para execução dos primeiros dois objectivos foram criados inúmeros balcões únicos, serviços de valor acrescentado e serviços online. O último dos objectivos assinalados – a desmaterialização dos processos judiciais – está igualmente a ser cumprido e têm-se verificado progressos assinaláveis. A este propósito, não poderia deixar de aludir ao projecto CITIUS – Desmaterialização dos Processos Judiciais. Em 2005, o fluxo dos processos nos tribunais era maioritariamente processado em papel. Os advogados e os solicitadores não podiam entregar peças processuais por via electrónica sem envio de cópias em papel. Os juízes e os magistrados do Ministério Público não podiam praticar actos nas aplicações informáticas. A Polícia de Segurança Pública (PSP) não podia enviar as participações por via electrónica para o Ministério Público.

Em 2009, a realidade é outra. Os juízes, os magistrados do Ministério Público, os advogados, os solicitadores, a PSP, os funcionários judiciais, os serviços de registo, praticam actos em aplicações informáticas que dialogam entre si. Uma nota final, de justiça, para todos aqueles que colaboraram no sucesso destes novos serviços. O projecto da «Desmaterialização, eliminação e simplificação de actos e processos na Justiça» tem sido essencialmente desenvolvido por serviços públicos e por funcionários públicos, o que bem atesta a capacidade destes para concretizarem projectos ambiciosos e tarefas complexas, quando são responsavelmente motivados e coordenados.

A desmaterialização de Actos e Processos na Justiça

Por Luís Goes Pinheiro, Presidente do Conselho Directivo do Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça

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OPINIÃO JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

N Não falar sobre a crise vai, seguramente, contra a corrente do que se fala e escreve actualmente. Estes «ajustamentos económicos» levam a que as empresas se adaptem, procurem novas formas de fazer negócios e continuem a funcionar de forma diferente, mas necessariamente adaptadas ao meio em que se encontram. As empresas têm que entender que, existindo ou não crise, devem ter sempre em mente a optimização dos seus activos, a simplicidade dos processos operacionais e a adequação dos recursos humanos à realidade do mercado e às perspectivas futuras. Actualmente, já existem soluções que permitem, não só disponibilizar à empresa activos adequados à realidade, como também libertar os fluxos financeiros e os investimentos para produtos directamente relacionados com a actividade primária.

O aluguer operacional de equipamentos já é uma realidade ao dispor de qualquer empresa, permitindo, desta forma, ter sempre um nível de custos ajustado aos resultados da actividade principal. Podemos dar como exemplo o parque informático de uma empresa, que se exige que seja actual, funcional e adaptado à realidade de mercados em constante mutação estratégica. Os equipamentos informáticos actuais levam necessariamente a procedimen-tos mais eficazes e a recursos humanos mais aproveitados para o «core» da empresa. Para o gestor tradicional, a impressão é um serviço que pode perfeitamente ser dispensado por ser encardo como um fardo. Nada de mais errado! Com a chegada desta crise global, as propostas de empresas especializadas na impressão empresarial e profissional, como a OKI, são ainda mais

Soluções de Impressão no Centro da Rentabilização

Por Carlos Sousa, director geral adjunto da OKI Systems Ibérica em Portugal

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA OPINIÃO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

pertinentes e essenciais, particularmente para o gestor moderno, que sabe interpretar as oportunidades. Umas das soluções disponíveis, hoje, são os planos de retoma, que incentivam à actualização do parque de impressão, reduzindo custos e gastos energéticos e ambientais. No caso da OKI, esta ferramenta de gestão permite às empresas renovar todo o seu parque de impressão antigo, ou mesmo obsoleto, por equipamento tecnologicamente avançado, com a inovadora e eficaz tecnologia laser/LED, beneficiando da recolha do material antigo e recebendo um valor de retoma pelo mesmo. Uma solução que permitirá à empresa fazer muito do trabalho de impressão «in-house», deixando de contratar o serviço em «outsourcing», mais dispendioso e, por vezes, de qualidade menor. Outra solução dirige-se às pequenas empresas e aos profissionais independentes – os mais duramente atingidos pela crise global – e denomina-se Programa Integrado de «Custo x Página», em que, numa das suas formas - o Flatrate -, converte o custo mensal de impressão num custo fixo previsível. Em termos de produto, existem actualmente inúmeras soluções profissionais de elevada qualidade, ao menor preço e para uma elevada produtividade, como é o caso da mais recente, OKI MC860, o mais pequeno e barato multifuncional laser/LED A3 do mercado. Estas propostas da OKI Printing Solutions, mais o «software» de controlo de impressão, permitem ao gestor moderno e preocupado com a sua

empresa gerir melhor os seus recursos e alocar meios a outras actividades. E com a utilização do inovador e avançado sistema Laser/LED de impressão, pode ser produzido material de promoção e divulgação dos produtos e serviços com grande qualidade, posicionando a empresa na linha da frente para aproveitar as oportunidades e estar pronta para receber a retoma.

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ENQUADRAMENTO JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

A A complexidade e a morosidade do sistema judicial português tornaram-se um mito, ao ponto de quem tem que recorrer aos tribunais pensar duas vezes e, por vezes, desistir. Para acabar de vez que este mito, e, porventura, dar origem a outro, este bem mais real - o de uma justiça moderna, simples e eficaz -, o Ministério da Justiça (MJ) considerou, em 2005, que era hora de apostar na simplificação dos serviços judiciais, dotando os funcionários dos organismos que tutela de mecanismos para tornar o seu trabalho, e consequentemente, a vida dos cidadãos que necessitam de recorrer à justiça, mais fácil. Apresentado como investimento emblemático e prioritário para a modernização da Adminis-tração Pública, o projecto «Desmaterialização, eliminação e simplificação de actos e proces-sos na Justiça» foi dado a conhecer a 25 de Julho de 2005, no Centro de Estudos Judiciários

(CEJ), e, dada a importância que lhe era atri-buída pelo Governo, contou com as presenças do ministro da Justiça, Alberto Costa, e do secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira. Na génese deste processo de simplificação e modernização estava a melhoria do atendi-mento aos cidadãos e às empresas, eliminan-do os actos e os procedimentos que fossem considerados redundantes e dotando os tribunais, os juízes, os magistrados do Ministério Público, os advogados e demais intervenientes nesta área, de ferramentas tecnológicas capazes de acelerar essa mudança, que se adivinhava urgente e prioritária. Em todo este projecto, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) foram consi-deradas como um meio prioritário para se conseguir alcançar os fins desejados. Com um

Modernizar e Simplificar como Prioridade

No seu terceiro ano de vida, o programa Simplex tem tentado simplificar as relações dos organismos públicos entre si e com os seus principais clientes: cidadãos e empresas. A modernização foi o caminho, o objectivo é poupar tempo e dinheiro.

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA ENQUADRAMENTO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

orçamento na ordem dos 13,69 milhões de euros (que abrange, não só a desmate-rialização e simplificação de processos e a eliminação de actos e procedimentos na Justiça mas também os serviços de Registo e Notariado), este projecto norteou-se, desde o início, pela necessidade de redução dos prazos dos actos judiciais.

Aplicações informáticas preponderantes A simplificação da Justiça passou, em muito, pelo desbloqueio da Acção Executiva. Entre as medidas adoptadas para este efeito, conta-se o acesso electrónico dos solicitadores aos registos da Segurança Social, aos registos civil, comercial, automóvel e predial, a entrada automática dos dados dos intervenientes no processo e que constem do requerimento executivo electrónico nas aplicações informá-ticas dos tribunais, a delimitação rigorosa das competências dos juízos de execução e a entrega electrónica do requerimento execu-tivo, através da Internet. Além disso, a autuação de 120 mil processos que se encontravam nas secretarias de execução e a entrada em funcionamento de uma aplicação informática, que impede que um solicitador que esteja com a actividade suspensa possa ser designado, desempenha-ram, igualmente, um papel de destaque em todo o processo. Todavia, para que a simplificação fosse possível, foi necessário desburocratizar alguns actos que levavam a perdas de tempo, tanto para os cidadãos como para as empresas. Nomea-damente, no que respeita aos registos civil, predial e comercial, sendo possível, hoje em dia, efectuar, do princípio ao fim, vários actos, apenas por via electrónica.

A desmaterialização de alguns procedimentos, que agora são efectuados electronicamente, foi outra das medidas implementadas pelo Ministério da Justiça. Assim, foram desmaterializados os actos de injunção, diversos actos e processos da Justiça e ainda outros no âmbito da investigação criminal, vertente do projecto que ainda está em curso. Todo este processo, que teve início em 2006, foi alavancado numa alteração da gestão dos tribunais e na modernização dos mesmos, principalmente no que toca à instalação de redes informáticas e de equipamento e aplicações conducentes a melhorar o desem-penho e o acesso dos vários intervenientes no sistema judicial. Neste mesmo ano, foi lançado o Portal da Justiça, que tem como objectivo principal melhorar o relacionamento com os cidadãos e as empresas, e onde é possível encontrar variada informação sobre o sistema judicial português.

• Criação de 496 balcões únicos, que concentram, num mesmo local, vários actos relacionados com um determinado processo;

• Criação de 13 novos serviços online, onde é possível efectuar, do princípio ao fim, um determinado serviço;

• Descentralização de serviços como o Registo de Nascimento;

• Supressão e redução de preços de alguns actos, deixando de ser necessário apresentar documentos que estão disponíveis noutras instituições públicas.

Actos de modernização da Justiça entre 2005 e 2008

‘‘o projecto norteou-se, desde o início, pela necessidade de redução dos prazos dos actos judiciais’’

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ENQUADRAMENTO JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

T Tornar a justiça mais célere e perceptível aos cidadãos foi desde sempre um dos objectivos de quem tem por missão gerir esta importante e vital área da vida em sociedade. Em Portugal, cabe ao Ministério da Justiça (MJ) tomar as medidas que tornem tal possível. O crescente peso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no dia-a-dia dos cidadãos e das empresas e a sua utili-zação pelos vários organismos da Adminis-tração Publica levou a que a sua introdução no «mundo» da Justiça passasse a ser uma prioridade. O objectivo foi o de sempre. Mais eficiência, maior celeridade e melhor percepção das decisões. Ou seja, aproximar o «tempo da justiça» da verdadeira Justiça. Em 2005, tem início este projecto, que foi considerado uma das 10 iniciativas emble-máticas de desenvolvimento. No final de 2008, quatro anos passados, e embora ainda subsis-tam problemas e dúvidas, muita coisa foi feita. As medidas implementadas levaram a que Portugal figure entre os países da União Europeia que mais tem feito neste domínio. De acordo com o relatório «European Judicial Systems – Edition 2008 (data 2006): Efficiency and Quality of Justice», da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (CEPEJ), «Portugal é um dos países com muito elevado grau de informatização nos tribunais», com «muito elevado nível de implementação de equipa-

mentos informáticos para utilização por juízes e oficiais de justiça» e «elevado nível de imple-mentação de equipamento para comunica-ção entre tribunais e o seu ambiente». O projecto, que se queria emblemático, além dos tribunais, abrangeu também os serviços dos Registos, onde várias medidas foram toma-das para desmaterializar processos, sendo ago-ra possível efectuar um vasto número de actos via Internet.

Objectivos da Justiça Electrónica A introdução das Tecnologias de Informação e Comunicação na área da Justiça teve como objectivo desmaterializar, desburocratizar e simplificar actos e processos. Com a Justiça Electrónica foram eliminados e simplificados actos e procedimentos nos servi-ços de registo e notariado, foram desmateria-lizados actos e processos nos serviços de registo e foram desmaterializados actos e processos judiciais. Objectivo final: melhorar o serviço prestado aos cidadãos e às empresas. No que se refere à desmaterialização dos processos nos tribunais, através do Citius, o que se pretendeu foi melhorar o acesso à Justiça, tornando possível o relacionamento com os tribunais através da Internet, uma vez que passou a ser possível praticar vários actos online.

As TIC foram um aliado imprescindível da simplificação e desmaterialização dos actos e processos na Justiça. A sua introdução nos tribunais e generalização aos intervenientes nos processos judiciais levou a que se entrasse na era da Justiça Electrónica.

O Caminho da Justiça Electrónica

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA ENQUADRAMENTO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

A melhoria da gestão através da utilização de novos instru-mentos também foi outra das prioridades, bem como a sim-plificação e a eliminação de rotinas, que levaram a ganhos de tempo e celeridade no despacho de processos. Aplicações à medida Ao nível dos tribunais, o projecto Justiça Elec-trónica materializou-se na disponibilização de aplicações informáticas adaptadas às neces-sidades dos juízes, do Ministério Público, dos mandatários e das secretarias, que levaram à introdução de novos procedimentos de trabal-ho e à eliminação de rotinas e de actos des-necessários. Entre as aplicações informáticas disponibiliza-das está o Citius, com versões diferentes para juízes e magistrados do Ministério Público (MP), mandatários e secretarias judiciais. A formação de todos estes intervenientes não foi esque-cida. Além da formação das pessoas já no

activo, antes e aquando da implementação do Citius, o Centro de Estudos Judiciários (CEJ) utiliza já esta ferra-menta durante a formação dos juízes e dos magistrados do MP. Para que fosse possível tra-balhar com segurança nesta aplicação, foram criados certificados digitais e cartões de assinatura digital qualifi-cada, que foram distribuídos a mais de 95 por cento dos magistrados de 1ª instância ainda antes de 2009. Isto porque a segurança e a

inviolabilidade dos actos praticados nos pro-cessos judiciais são aspectos essenciais para que se garanta a justiça. Todo este processo levou a que, a 5 de Janeiro de 2009, o fluxo processual dos tribunais cíveis e de família estivesse integralmente coberto por

‘‘em 2009, o «processo electrónico» abrangeu 74 por cento dos processos, ou seja, cerca de 620 mil’’

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ENQUADRAMENTO JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

aplicações informáticas, que são utilizadas por todos os intervenientes nos processos (juízes, advogados, Ministério Público, oficiais de justiça e solicitadores). Passou a estar-se perante um verdadeiro «pro-cesso electrónico», que segundo o Ministério da Justiça, é «mais transparente, mais célere e leva a uma redução significativa da circula-ção de papel pelos tribunais», embora o papel ainda por lá tenha que permanecer mais algum tempo, mas melhor organizado. Segun-do o MJ, o «processo electrónico» aplica-se à maioria dos processos existentes nos tribunais judiciais de 1ª instância. Em 2009, esta medida abrangeu 74 por cento dos processos, ou seja cerca de 620 mil. Esta desmaterialização ainda não terminou. Ainda este ano, entre os tribunais e os advogados, e entre advogados, passaram a existir notificações electrónicas, sempre que o Citius é utilizado.

Dado que esta medida necessitará, certamen-te, de um tempo de adaptação, entre 15 de Abril e 1 de Julho de 2009, as notificações electrónicas convivem em simultâneo com as notificações em papel. Processo electrónico: para quem e para quê… A aplicação informática Citius tornou a justiça em justiça electrónica. Este projecto abrange os juízes e magistrados do Ministério Público, os advogados e solicitadores, as secretarias judiciais e o Centro de Estudo Judiciários (CEJ): • Citius Magistrados Judiciais - Permite ao juiz

elaborar e assinar electronicamente deci-sões, a circulação, por via electrónica, dos processos entre o juiz e a secretaria do tribunal e conhecer os processos atribuídos, de forma imediata, conforme a fase em que se encontram os mesmos.

• Citius Entrega de Peças Processuais – per-

mite ao advogado/solicitador apresentar peças processuais e documentos ao tribu-

• Ministério da Justiça (MJ) • Centro de Estudos Judiciários (CEJ) • Direcção-Geral da Administração da Justiça

(DGAJ) • Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ) • Instituto das Tecnologias de Informação na

Justiça (ITIJ)

Entidades envolvidas na Justiça Electrónica

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA ENQUADRAMENTO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

nal, através da Internet, sem necessidade do envio de cópias em papel, assim como consultar processos judiciais e diligências.

• Citius Injunções - permite a entrega, o

pagamento e a tramitação, de forma totalmente electrónica, do procedimento de Injunção. Esta desmaterialização veio permitir a entrega da Injunção por via electrónica, através da Internet, por formu-lário electrónico ou ficheiro informático, bem como o pagamento electrónico das taxas da Injunção.

• Citius Secretaria - possibilita a comunica-

ção exclusivamente electrónica entre os vários tribunais. Com a sua introdução, foram criados vários automatismos na distri-buição de processos, foi diminuído o trabal-ho burocrático relacionado com a autua-ção do processo, tornou-se possível a co-municação meramente electrónica dentro do tribunal e deu-se valor jurídico aos actos de mero expediente elaborados na aplica-ção, evitando-se, assim, a impressão e a in-corporação destes nos processos.

• Citius Centro de Estudos Judiciários - teve

início em Setembro de 2007, com a instala-ção no CEJ das aplicações informáticas Citius existentes nos tribunais, para que os auditores tenham contacto e sejam forma-dos, desde o início, com recurso às aplica-ções e com os meios que irão usar enquan-to magistrados.

Citius

• 1.356 magistrados judiciais com a aplicação instalada

• 1.341 (99%) dos juízes frequentaram sessões de esclarecimento

• 1.295 (96%) cartões de assinatura digital emitidos • + de 1.235 (94%) computadores portáteis

distribuídos • 167 sessões de formação efectuadas • + de 1.850 mil actos praticados na aplicação Citius Entrega de Peças Processuais (desde 7 Abril 2008)

• + de 1 milhão peças processuais entregues • + de 11.500 utilizadores diferentes a aceder à

aplicação, por semana • + de 13 mil utilizadores diferentes a aceder à

aplicação por semana Citius Injunções (desde 5 de Março de 2008)

• + de 585 mil injunções recebidas por via electrónica • 97% das injunções entregues por via electrónica,

directamente através da aplicação • + de 400 mil títulos executivos obtidos Citius CEJ (desde Outubro 2007)

• 353 computadores portáteis entregues • 352 cartões de assinatura digital entregues • 52 sessões de formação ministradas, utilizando a

aplicação

CITIUS Factos e Números

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ENQUADRAMENTO JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

O O início das tentativas de informatizar os tribunais remonta à década de 80 do século passado. Revelaram-se infrutíferas, mas nem por isso as tentativas deixaram de existir. A questão essencial para que esta tarefa fosse bem sucedida era o desenvolvimento de apli-cações informáticas adaptadas às verdadeiras necessidades e especificidades dos tribunais e do sistema judicial. Ora, tal só veio a acontecer na segunda metade da década de 90, do século XX. Passados mais de 10 anos sobre o início deste processo, o Ministério da Justiça (MJ) encontra-se a terminar a renovação do parque informá-tico dos serviços que tutela, incluindo, natural-mente, os tribunais. Este projecto, que deverá estar concluído até final do primeiro semestre de 2009, levou à aquisição de 14.984 compu-

tadores e de 5.050 impressoras, que já estão instalados e distribuídos pelos magistrados. Além do investimento no parque informático, o MJ investiu, nos últimos quatro anos (de 2005 a 2008), 7,5 milhões de euros no desenvolvimento de aplicações informáticas de apoio aos tribunais e aos serviços de registo. Este investimento em software tornou possível o processo electrónico, que abrange já 74 por cento dos tribunais de primeira instância, o que corresponde a cerca de 300 instituições. Além da necessidade de software específico, outra das causas apontadas para o atraso na informatização dos tribunais era o processo de aquisição de bens e serviços que existia anteriormente. A compra de material informático era dema-siado centralizada, o que tornava o processo de tomada de decisão demasiado lento, face à rapidez com que evoluía a informática. Des-de a decisão da compra até à chegada do equipamento aos tribunais, este tornava-se praticamente obsoleto, havendo a necessi-dade de quase ter de se iniciar, de novo e de imediato, um novo processo de aquisição. A questão sempre premente dos muitos processos que entopem os tribunais, o que na altura significava papel e mais papel, levou a que a informatização dos mesmos se tornasse vital, já com o século XXI à porta. Também por

Os computadores e as redes informáticas já não são um mundo desconhecido dos tribunais portugueses. Mas nem sempre foi assim. No final do século XX, esta era uma realidade ainda distante, embora não tenham faltado as tentativas de a tornar possível.

Tribunais e Computadores Da Promessa à Realidade

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA ENQUADRAMENTO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

esta altura, os vários intervenientes nesta área olharam para a Internet como uma mais-valia para disponibilizar e aceder à informação. Em 1996, surgiram os portais institucionais do Supremo Tribunal de Justiça, do Conselho Su-perior de Magistratura da Ordem dos Advo-gados, da Associação Sindical dos Juízes Portu-gueses e do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Já no final da década de 90, mais concre-tamente em 1999, os Tribunais da Relação de Évora, Lisboa e Porto lançam-se na «rede». Menos papel e mais celeridade Todo este processo, que irá continuar, teve sempre como objectivo modernizar e simplifi-car o trabalho dos tribunais, de quem neles trabalha, e de quem a eles tem que recorrer. Um registo criminal, que antes demorava entre 15 dias a um mês a ser enviado a um tribunal que o solicitasse, passou, em 1997, a ter resposta imediata. A utilização do correio electrónico passou a fazer parte do dia a dia dos advogados, solicitadores, funcionários de Justiça, magistra-dos e juízes, facilitando a circulação dos actos processuais. A aplicação informática H@bilus, cujo projecto teve início em 1999 e foi desenvolvido pela Divisão de Informática dos Tribunais (da actual DGAJ - Direcção-Geral da Administração da Justiça), veio simplificar o trabalho dos oficiais de justiça e automatizar a maior parte dos actos processuais. O SITAF (Sistema Informático dos Tribunais Administrativos e Fiscais) foi criado em 2003 pela Portaria n.º 1417/2003, de 30 de Dezem-

bro, que estabeleceu o regime de apresen-tação de peças processuais e documentos por via electrónica, da tramitação informática e do tratamento digital dos tribunais de jurisdição administrativa e fiscal. Outro projecto desenvolvido pelo Ministério da Justiça foi o Linius, que é baseado em Linux. Este projecto, que resulta de uma parceria do ministério com o Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), tem como objectivo possibilitar a utilização de progra-

mação livre por todos os profissionais da Justiça, reduzindo, ao mesmo tempo, os custos em tecnologias de informação, através do de-senvolvimento do Linius e da sua divulgação como projecto dinâmico e ferramenta de tra-balho adequada aos procedimentos judiciais. Todos estes passos levaram a que os tribunais portugueses estejam hoje na era da Internet, e que, embora ainda haja papel a circular, este tenha um peso menor nos processos e nos actos que têm que ser praticados pelos vários intervenientes nos mesmos, dos advogados aos juízes, dos magistrados do Ministério Público aos funcionários das secretarias dos tribunais.

‘‘além do investimento no parque informático, o MJ investiu, nos últimos quatro anos, 7,5 milhões de euros no desenvolvimento de aplicações informáticas de apoio aos tribunais’’

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ENTREVISTA JOÃO TIAGO SILVEIRA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

A Apontado como exemplo, a nível nacional e internacional, o processo de desmaterialização da Justiça portuguesa tem conhecido avanços importantes nos últimos anos. O processo electrónico, que passou a vigorar no passado mês de Janeiro, é o culminar de um conjunto de procedimentos rumo a uma Justiça mais rápida, ágil e transparente. João Tiago Silveira, secretário de Estado da Justiça, desvenda o funcionamento desta ini-ciativa, fazendo um balanço dos projectos mais importantes implantados na Justiça.

iGOV: Quais os principais avanços que a Justiça portuguesa vai conhecer em 2009? João Tiago Silveira (JTS): A principal novidade é que, desde o passado dia 5 de Janeiro, Portugal passou a ter um processo electrónico na larga maioria dos processos dos tribunais portugueses. Este processo electrónico abrange todos os processos nas áreas cível, de família e laboral dos tribunais portugueses de primeira instância, o que significa cerca de 74 por cento dos processos judiciais em Portugal. Na prática, quer dizer que todo o caminho do processo, desde o momento em que um advogado põe uma acção, até ao momento da decisão final do juiz, passando pela secretaria, pelo Ministério Público, por todos os documentos que o advogado envia para o tribunal e pela consulta do processo pelo causídico, se faz por via electrónica.

A desmaterialização da Justiça portuguesa tem avançado a passos largos. O último, e porventura um dos mais significativos, entrou em vigor a 5 de Janeiro e engloba já 74 por cento de todos os processos judiciais em Portugal.

Processo Electrónico é «Revolução» na Justiça

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JOÃO TIAGO SILVEIRA ENTREVISTA

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

iGOV: Quais as principais vantagens do processo electrónico? JTS: O processo electrónico tem grandes vantagens para as pessoas, fundamental-mente três. A primeira é que passa a haver muito melhor acessibilidade e muito mais transparência, porque as pessoas passam a aceder ao processo muito mais facilmente. A segunda é que o processo electrónico oferece boas condições para a justiça ser mais rápida e a terceira é que o processo em papel fica muito mais reduzido. O processo fica mais acessível porque o advogado ou o solicitador pode consultá-lo sempre que quiser, por via electrónica, através da Internet, via Citius. Desde 5 de Janeiro, como os juízes e o Ministério Público passaram a ter de decidir com assinaturas electrónicas, em formato electrónico, assim que assinam digitalmente o processo, o advogado passou a poder ver, no processo, a decisão que foi tomada, com toda a segurança da assinatura electrónica que o juiz utilizou e que ele próprio utilizou também. O conhecimento sobre o processo, o acesso ao mesmo e a transparência relativamente à actividade do tribunal passam a estar muito mais acessíveis às pessoas e aos advogados e solicitadores que as representam. iGOV: Como pode este projecto acelerar a Justiça? JTS: O Citius e o processo electrónico criam condições para a justiça ser mais rápida, fundamentalmente porque há muitas rotinas, praxes e procedimentos ancestrais que esta-vam associados ao processo em papel e que deixam de existir.

O processo em papel passou a ser muito mais reduzido, deixando de ser necessário imprimir muitas coisas que antes tinham de ser impres-sas e produzidas em papel, assinadas, carim-badas, furadas e colocadas no processo. Eram centenas de páginas e despachos, que não tinham a ver com a decisão da causa ou do conflito, que faziam perder tempo e que acresciam, em morosidade, ao processo. Isso deixou de acontecer e deixou de ter que ser feito, porque a aplicação informática passou a registar tudo.

O fluxo do processo passou a poder ser muito mais rápido. A circulação do processo entre o advogado, o juiz, a secretaria, o Ministério Público e demais intervenientes, passou a ser feita por via electrónica. iGOV: Pode exemplificar? JTS: Havia um acto, no âmbito do processo em papel, que ocorria dezenas de vezes, em cada processo judicial: a conclusão. Tratava-se do acto através do qual o funcionário judicial entregava o processo ao juiz para ele o poder

‘‘a circulação do processo entre o advogado, o juiz, a secretaria, o Ministério Público e demais intervenientes,

passou a ser feita por via electrónica’’

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ENTREVISTA JOÃO TIAGO SILVEIRA

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despachar. Cada vez que o processo ia ao juiz, o oficial de justiça tinha de produzir a conclusão, imprimi-la, rubricá-la, furá-la e colocá-la no processo em papel. Como isto ocorria dezenas de vezes, em cada processo, acabava por significar muito tempo perdido. Com o processo electrónico, acabámos com isso, uma vez que este regista quando é que o processo passa para o juiz, poupando todo o tempo que as várias dezenas de conclusões faziam gastar ao tribunal, sem que tivesse nada a ver com a decisão do conflito que era preciso resolver. iGOV: O processo electrónico vai então simplificar a Justiça? JTS: Claro, porque ao reduzirmos o processo em papel, fizemos com que tivesse muito menor dimensão do que tinha antes. Isto porque muitas das decisões ou actos que ocorreram no processo, e que não têm nada a ver com a decisão final, que não significam nada para a decisão do conflito, em que o tribunal se deve centrar, deixam de ter de ficar no processo em papel e estão apenas registados electronicamente. Por exemplo, o despacho do juiz a marcar uma data para a audiência não tem a ver com o conteúdo da decisão que ele vai tomar, portanto não precisa de ficar no processo em papel, basta estar na aplicação informática.

O processo fica reduzido em tamanho e melhor organizado, porque as partes mais importantes passam a estar assinaladas com separadores coloridos, o que faz com que possa ser mais facilmente consultado. iGOV: Que balanço faz do Citius e do todo o processo de desmaterialização na Justiça portuguesa? JTS: O Citius tem sido um enorme sucesso porque, hoje, é possível, aos advogados e solicitadores, com as iniciativas de natureza electrónica, enviarem peças processuais para os tribunais. Já não precisam de se deslocar nem de enviar correio para o tribunal, podendo fazer tudo através do Citius, com a redução de custos implícita. O mesmo com o Citius Injunção. O que fizemos foi lançar uma ferramenta electrónica que permite que todo o processo, desde o envio, até à verificação do estado do pedido de injunção e ao trabalho na injunção que a secretaria judicial faz, seja electrónico e feito com mecanismos de gestão de processos e com a utilização de assinaturas digitais. Neste momento, mais de 97 por cento das injunções enviadas para os serviços judiciais portugueses são enviadas por via electrónica, através do Citius. A outra vertente do projecto Citius é a criação de ferramentas de trabalho internas para os tribunais terem mais meios para poderem trabalhar. A utilização de ferramentas informáticas pelos juízes e magistrados do Ministério Público simplifica os procedimentos e faz com que o processo possa andar mais depressa, bem como que passem a ter mecanismos de gestão dos seus processos que antes não tinham.

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JOÃO TIAGO SILVEIRA ENTREVISTA

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Antes do Citius Magistrados Judiciais, um juiz não tinha facilmente a noção de quantos processos lhe estavam atribuídos e em que fase estavam esses processos. O Citius Magistrados Judiciais permite ao juiz saber isso, como lhe permite assinar despachos e decisões com assinaturas digitais e com a segurança de ter sido mesmo aquele o documento que assinou, segurança essa que não existe em processo em papel. Neste momento, já temos o Citius Magistrados Judiciais disponibilizado na generalidade dos tribunais de primeira instância, mais de 99 por cento dos juízes da primeira instância já tiveram formação, mais de 96 por cento já tem assinatura electrónica e mais de 94 por cento já aderiram a um programa de substituição dos desktops por computadores portáteis. iGOV: E no que se refere ao Ministério Público? JTS: Com o Ministério Público, o processo é semelhante, sendo que apostámos muito na formação e na construção de ferramentas adaptadas ao trabalho das pessoas, neste caso, dos magistrados, que podem ver os seus processos, saber em que fase estão, praticar actos com assinaturas digitais, relacionar-se electronicamente com as secretarias e fazer com que o processo tenha menos tempos mortos. Os níveis de formação e disponibilização de assinaturas electrónicas também são muito elevados, o que significa que já temos um bom efeito e um fluxo processual, do princípio até ao fim, electrónico, o que permite poupar

muito papel e não ter muitos dos tempos mortos que muitas vezes tínhamos no processo judicial, por causa do papel. iGOV: Está prevista a replicação do Citius noutros países? JTS: Temos feito um grande esforço para divulgar o que estamos a fazer internamente. Os resultados têm sido muito bons e a generalidade dos países fica muito surpresa quando apresentamos os nossos projectos em conferências internacionais. No ano passado, estive na conferência de eJustice da Presidência Francesa a apresentar os resultados de Portugal, em matéria de desmaterialização de registos, de criação de balcões únicos, como a Empresa na Hora e o Casa Pronta, e em matéria de desmateria-lização de processos judiciais, como o Citius, e pude verificar que nós estamos bem mais à frente do que a maioria dos países da União Europeia nesta matéria. E não devemos ter medo de o dizer. Na área dos tribunais, o projecto Citius foi um grande passo que tivemos, em 2008, com uma série de novos serviços que antes não existiam. Já em 2009, o Citius Magistrados Judiciais e o Citius Ministério Público, nas áreas cível, de família e laboral, passaram a ser obrigatórios como ferramentas de uso. Isto significa que os tribunais têm hoje um processo muito mais baseado em fluxos informáticos, mais simples e muito menos baseados em rotinas de papel.

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PASSO A PASSO PROCESSO ELECTRÓNICO

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A partir de 5 de Janeiro de 2009, com a entrada em vigor do processo electrónico, muito mudou na forma de trabalhar dos tribunais cíveis. O fluxo processual passou a estar integralmente coberto por aplicações informáticas, utilizadas por todos os interve-nientes: juízes, Ministério Público, oficiais de justiça, advogados e solicitadores. ENTREGA DE PEÇAS PROCESSUAIS Os advogados interagem, através do Citius, com os tribunais, sem necessidade de se deslocarem aos mesmos. Assim, podem, a partir do seu escritório, apresentar uma petição inicial de uma acção de processo ordinário, para cobrança de uma dívida. Ao estar registado no Citius, o advogado acede, através da Internet, à aplicação «Citius – Entrega de Peças Processuais» e, consoante o tipo de peça a enviar para o tribunal, selecciona a finalidade pretendida, que pode ser: «iniciar novo processo», «juntar a processo existente», «apensar a processo existente» ou «juntar a procedimento de injunção».

No caso de uma petição inicial, com a qual se vai iniciar um novo processo, o advogado opta por «iniciar novo processo» e tem que seguir as instruções do «Assistente de entrega de Peça Processual», indicando o tribunal, a espécie e o objecto do processo que vai dar entrada. Quando a acção a desenvolver é apenas a de juntar uma peça a um processo já existente, estes dados já se encontram preenchidos.

O advogado preenche depois um formulário, cujos dados já integram a peça processual, onde consta o nome das partes, das testemun-has e a caracterização do processo. Final-mente, é anexada a peça e os documentos

Processo Electrónico Uma Dívida Passo a Passo A entrega de um processo judicial por via electrónica, através da aplicação Citius, compreende seis passos fundamentais. Saiba quais.

VER VÍDEO

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PROCESSO ELECTRÓNICO PASSO A PASSO

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assinados electronicamente, os quais são enviados pelo sistema para o tribunal.

Depois de enviar a peça e/ou os documentos, o advogado pode visualizar o comprovativo da entrega dos mesmos no tribunal, assim como a própria peça assinada electronica-mente.

DISTRIBUIÇÃO As peças processuais enviadas pelos advo-gados, através do Citius, entram directamente na secção central e são distribuídas, diária-mente, às 9h00 e às 13h00, de forma automá-tica, e sem qualquer intervenção humana. Após a distribuição, o processo entra na sec-ção de processos correspondente. Os advoga-dos não têm que se deslocar ao tribunal onde dará entrada o processo. REMESSA DO PROCESSO AO MAGISTRADO Depois de distribuído o processo por via elec-trónica, a secretaria judicial, através da aplica-ção «Citius Secretaria», pode visualizar os docu-mentos e enviar o processo, electronicamente, para o juiz ou para o Ministério Público, conso-ante a situação. Esta aplicação permite uma economia de custos e de tempo, uma vez que não é preciso imprimir e entregar, em mãos, os processos, sendo todo este acto desma-terializado. O acto de envio do processo para o juiz é designado de «abertura de conclusão electrónica».

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PASSO A PASSO PROCESSO ELECTRÓNICO

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ELABORAÇÃO DE DESPACHO E DEVOLUÇÃO À SECÇÃO Após o envio do processo, por via electrónica, pela secretaria judicial, os juízes e os magistra-dos do Ministério Público podem visualizar os mesmos através das aplicações informáticas específicas para cada um deles, o «Citius Ma-gistrados Judiciais», para os juízes e o «Citius Ministério Público», para os magistrados do Ministério Público. Além de visualizar os processos, tanto os juízes como os magistrados do Ministério Público po-dem, por via electrónica, organizar o trabalho e proferir os despachos ou decisões. Os despachos e as decisões, depois de assinados electronicamente, são remetidos via web, para a secretaria judicial.

RECEBIMENTO DO DESPACHO PELA SECRETARIA JUDICIAL É também por via electrónica que a secretaria recebe o despacho ou decisão e que toma as medidas conducentes ao seu cumprimento. A secretaria judicial irá notificar os advogados do despacho e/ou decisão, informando os mesmo dos passos seguintes, que podem ser, por exemplo, a data para a audiência de julgamento.

CONSULTA DO PROCESSO PELOS ADVOGADOS Após todos estes procedimentos, os advo-gados, mais uma vez através da aplicação «Citius Entrega de Peças Processuais», podem acompanhar a tramitação dos processos, sem se deslocar ao tribunal, e ter conhecimento das decisões tomadas e dos próximos passos a dar.

O processo em papel foi substancialmente reduzido e organizado de forma mais simples, tornando-se mais fácil de manusear. Passou a ter marcadores coloridos, que indicam as principais peças processuais, sendo mais fácil a sua consulta. Consequentemente, deixam de existir muitas tarefas burocráticas associadas à impressão, à numeração, à assinatura e à colocação no processo físico de documentos que não têm relevância para a decisão ou que são repetidos. Assim, foram definidos 15 separadores, 12 que se podem aplicar a vários tipos de processos e três definidos para certos processos específicos.

O Novo Processo em Papel

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PROCESSO ELECTRÓNICO PASSO A PASSO

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Para que fosse possível tornar electrónico o processo judicial, foram tomadas algumas medidas para dotar os tribunais e os intervenientes nos processos judiciais das ferramentas necessárias. Foram emitidos 2.419 cartões de assinatura electrónica (96 por cento dos magistrados judiciais e 95 por cento dos magistrados do Ministério Público) e foram distribuídos 2.350 computadores (94 por cento dos magistrados judiciais e 92 por cento dos magistrados do Ministério Público). Foram ainda ministradas 286 sessões de esclarecimento (167 para magistrados judiciais e 119 para magistrados do Ministério Público), o que permitiu formar 2.492 magistrados (99 por cento dos magistrados judiciais e 98 por cento dos magistrados do Ministério Público). Além disso, foram organizadas 45 sessões para mandatários judiciais (mais de 10 mil advogados e solicitadores) e foram realizadas cinco sessões públicas, percorrendo o país de norte a sul (Braga, Porto, Coimbra, Lisboa e Faro), para divulgação sobre os novos procedimentos nos tribunais, decorrentes da desmaterialização. Houve ainda lugar à elaboração e distribuição de 2.500 kits (com o material de apoio, incluindo guias rápidos de utilização da aplicação e das novas regras da desmaterialização) a magistrados judiciais e do Ministério Público. Neste contexto, foram produzidos e facultados 8 mil manuais sobre o Citius, com perguntas e respostas, para oficiais judiciais. Foram ainda recrutados, formados e afectados 100 novos elementos para o apoio à fase inicial do projecto Citius junto dos tribunais.

Desmaterializar os Processos

Citius: Actos dos Funcion. Judiciais

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Citius: Actos das Partes

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Citius: Actos dos Magistrados

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OPINIÃO JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA

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INTRODUÇÃO O Citius é uma plataforma informática multifa-cetada, partilhada por Juízes, magistrados do Ministério Público, oficiais de justiça, advogados e solicitadores, os quais, com acessos diferencia-dos, podem praticar a generalidade dos actos processuais por tramitação electrónica de dados. Com a presente reflexão, visa-se aferir da abran-gência, benefícios e dificuldades que esta plata-forma de trabalho representa, em particular para os Juízes portugueses, na medida em que o siste-ma de trabalho, operacionalidade e funcionali-dade de tal plataforma é distinta da utilizada pelos oficiais de justiça e mandatários forenses. TRANSIÇÃO DO SUPORTE FÍSICO PARA O SUPORTE ELECTRÓNICO 2.1. Desmaterialização O Citius não é apenas uma ferramenta de tra-balho. É uma verdadeira plataforma de des-materialização dos processos judiciais. Assim, quer a entrega de peças processuais pelos mandatários, quer a elaboração de pareceres por magistrados do Ministério Público, quer a prolação de despachos, despachos finais ou sentenças pelos Juízes, quer a prática de actos pela secretaria, têm que ser efectivados por transmissão electrónica de dados, sendo essa prática obrigatória para oficiais de justiça e magistrados e, na prática, também para mandatários forenses, na medida em que, se o não efectivarem, não beneficiam da redução de custas processuais nem da dispensa da junção de duplicados, cópias e comprovativos da notificação à parte contrária.

2.2. Abrangência A transição para o suporte electrónico não é total, porque o processo físico continua a existir, ainda que circunscrito a apenas alguns actos. 2.2.1. No que se refere aos processos pendentes, porque os actos processuais anteriormente prati-cados não são de digitalização obrigatória para inserção no sistema, tal significa que a par da conclusão electrónica, a secretaria continua a remeter o processo físico ao Juiz. 2.2.2. Já relativamente aos novos processos, o art.º 23.º da Portaria n.º 114/2008, na redacção introduzida pela Portaria n.º 1538/2008, de 30.12, embora todos os actos devam constar do suporte electrónico, alguns deles, os classificados como «não relevantes para a decisão material» não podem constar do suporte físico. 2.2.3. Se é certo que o Citius não dispensa todo o papel, dispensa algum (quiçá parte significativa) dele. Os despachos de expediente não são im-pressos, só os de mérito o são, mas compete à secção imprimir os despachos e não ao Juiz, que apenas o profere e os assina electronicamente. Esta constitui uma forma efectiva de redução do dispêndio de tempo e recursos por parte do Juiz, com a consequente maior celeridade na sua tramitação. ASPECTOS POSITIVOS 3.1. Suportes Não se pode deixar de reconhecer como louvável o procedimento de desmaterialização dos processos judiciais, mantendo, no entanto, um suporte físico das peças relevantes em sede do mérito da causa por forma a permitir a sua consulta pelas partes ou por terceiros que,

Citius: O processo digital?

Por Joel Timóteo Ramos Pereira, Juiz de Direito de Círculo

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JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA OPINIÃO

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relativamente à mesma, tenham algum interesse directo. 3.1.1. Acesso transparente e imediato Quer os juízes, quer os oficiais de justiça, quer os mandatários forenses que adiram à prática dos actos processuais por tramitação electrónica de dados passam a poder consultar e analisar todo o processo, de forma automática, imediata e intuitiva. 3.1.2. Existência de suporte informático dos actos O formato no qual são gravados os actos praticados por funcionários e magistrados (PDF) permite uma consulta específica, com possibili-dade de pesquisa de termos, bem como a cópia de porções do texto para utilização em peças processuais. 3.1.3. Possibilidade de representação de todo o processo num ficheiro digital Mediante a funcionalidade designada de «repre-sentação electrónica do processo», é possível ao Juiz obter um ficheiro informático, no qual seja gravado, por ordem cronológica, todo o histórico do processo, permitindo que o mesmo seja guar-dado num suporte externo para consulta ou arquivo. 3.1.4. Descongestionamento das secretarias e arquivos A expressiva redução do suporte físico em papel do processo judicial é significativamente relevan-te na gestão dos espaços das secretarias judiciais e dos arquivos. Por outro lado, passando os processos a serem objecto de consulta por parte dos mandatários,

directamente através da Internet, reduz-se o tempo dispendido pelos oficiais de justiça no atendimento presencial, disponibilizando-lhes mais tempo para a tramitação processual. 3.1.5. Circulação de informação apenas por via electrónica Sobretudo com referência aos novos processos cujos actos estejam integralmente vertidos no sistema, passa a ser possível ao Juiz praticar todos os actos, sem ter que aguardar ou consultar o processo em papel. A plataforma permite também a inserção de notas que podem funcionar como «lembretes» para o Juiz sobre determinada questão, incidente ou elemento processual. 3.1.6. Dados estatísticos O Citius fornece ainda a possibilidade de uma pormenorizada gestão processual, designada-mente com a aferição do cumprimento de prazos, número de processos distribuídos, número de actos praticados, número de decisões de mérito proferidas, etc. 3.1.7. Gravações áudio das audiências de julgamento As gravações dos depoimentos prestados em audiência de julgamento ficam disponibilizadas no sistema Citius, em ficheiro áudio, que permite a sua audição, em qualquer fase posterior do processo, quer pelo Juiz de Primeira Instância, quer pelos Juízes Desembargadores, em fase de recurso, na percepção dessa prova produzida em audiência, prevendo-se que, futuramente, esta funcionalidade também esteja acessível aos mandatários do processo.

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OPINIÃO JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA

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4 QUESTÕES DE FUNCIONALIDADE E OPERACIONALIDADE 4.1. Segurança do sistema e backup dos dados Não se duvida que, à partida, o sistema Citius garante a autenticidade e a fidedignidade da autoria da prática dos actos processuais, já que a plataforma (no que se refere aos magistrados judiciais) só está acessível através da rede (LAN) do Ministério da Justiça, a qual se encontra isolada do exterior através de sistemas de firewall e monitorização de tráfego. No entanto, é de crucial importância que sejam realizadas todas as operações necessárias a manter a integralidade, segurança e protecção dos dados, bem como a cópia permanente de todos os dados num servidor redundante. 4.2. Dificuldades de aposição da assinatura electrónica Por vezes, ocorre um erro de sistema, que impede a aposição da assinatura electrónica no acto processual praticado. Esta é aposta mediante a utilização de um smartcard para cuja utilização é necessário inserir um pin (código), sendo cognoscível do sistema a partir do endereço de correio electrónico profissional, associado à identificação do Juiz e que também tem que estar configurada no sistema Citius. Esta situação só é ultrapassável com a remoção da opção de controlo de erros da assinatura e a impressão, pelo Juiz, da decisão, em formato de papel, procedendo após à sua assinatura autógrafa (pelo seu punho no documento). 4.3. Apresentação de documentos em suporte de papel De acordo com o disposto no art.º 3.º, n.º 1 da Portaria n.º 114/2008, de 06.02, a apresentação

de peças processuais e documentos por trans-missão electrónica de dados dispensa a remessa dos respectivos originais, duplicados e cópias, mas tal dispensa não prejudica o dever de exibição das peças processuais em suporte de papel e dos originais dos documentos juntos pelas partes, por transmissão electrónica de dados, sempre que o juiz determine. 4.4. Falta de ficheiros editáveis 4.4.1. O facto da plataforma do sistema Citius converter automaticamente todos os actos, quando concluídos, em formato PDF, não edi-tável após a ordem de remessa para a secre-taria, cria a dificuldade da impossibilidade da utilização, com toda a formatação subjacente, em actos futuros. 4.4.2. Com efeito, mesmo quando se utilize um programa profissional, a maioria das conversões do formato PDF para rtf, doc ou txt, embora mantenham parágrafos, tabelas e tabulações, criam caixas de texto em cada um desses parágrafos, o que cria trabalho adicional de edição. A solução mais razoável será o Citius permitir duas operações, a saber, uma de conversão do ficheiro para versão final (em PDF) e, relativamente a determinadas peças proces-suais pré-definidas (articulados, despacho sanea-dor, sentença, acórdão, decisões de mérito), manter o original do ficheiro de trabalho, em formato doc/rtf, apenas para consulta/edição. 4.4.3. Do mesmo modo, os articulados elabo-rados pelos mandatários das partes devem ser remetidos segundo o mesmo formato (PDF), o que obsta a que o Juiz possa seleccionar matéria de facto alegada, quer para efeitos de saneamento dos autos e selecção da matéria de facto assente e controvertida, mas também em sede de decisão de mérito, salvo nos mesmos termos supra enunciados, de copy-paste impuro

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JOEL TIMÓTEO RAMOS PEREIRA OPINIÃO

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e tal se a versão com que o ficheiro tiver sido gra-vada permitir essa edição limitada. E se é certo que o n.º 6 do art.º 152.º do Código de Processo Civil preceitua o dever de as partes representadas por mandatário facultarem ao tribunal, sempre que o juiz o solicite, um ficheiro informático contendo as peças processuais escritas apresentadas pela parte em suporte de papel, tal dever está subordinado, porque praticado no mesmo sistema Citius, à remessa desse ficheiro em formato PDF, o que obsta o efeito útil pretendido dar com a norma. 4.5. Resolução gráfica Esta tem sido uma das maiores reclamações por parte dos Juízes, a saber, a aplicação Citius instalada nos computadores portáteis, além de obrigar a uma postura corporal, incorrecta e inadequada para a saúde, face à exposição contínua e intensiva e à resolução gráfica do programa, gera, não apenas um cansaço corporal, mas sobretudo ocular. Para uma visualização de todos os itens do programa, sem utilização de barras de deslocamento horizontais ou verticais, é necessária a configuração das propriedades gráficas (configurações de vídeo/resolução de tela) para a resolução optimizada de 1680x1050 píxeis. Todavia, tal resolução torna muitas das funções e botões do programa em tamanho muito reduzido. Estas dificuldades são facilmente ultrapassáveis com o fornecimento de monitores de secretária com resoluções, no mínimo de 19”, bem como de teclados e ratos externos ou de equipamentos de levantamento do computador portátil, que permitam a prática dos actos sem o desconforto físico e oftalmológico.

4.6. Limitação do processador de texto A aplicação de processamento de texto do sistema é muito limitada. Não assume a forma-tação, a inserção de tabelas, tabulações e espaçamento das linhas, parágrafos e nume-rações que sejam configuradas num proces-sador externo. 4.7. Virtual Private Network O sistema Citius para Magistrados não permite o seu acesso fora da rede interna (LAN) do Mi-nistério da Justiça. Deste modo, não podem ser praticados quaisquer actos fora dos Tribunais, quando é consabido que muitas (grande parte) das decisões de mérito são proferidas pelos Juízes fora do horário de expediente e dos dias úteis de funcionamento da secretaria. A tecnologia já existe, designa-se Virtual Private Network (VPN) e permite simular, necessaria-mente com a inserção de um acesso perso-nalizado e palavra-passe, uma outra rede (in casu, seria a rede do Ministério da Justiça), permitindo assim ao Magistrado aceder ao sistema Citius, em qualquer lugar e em qualquer momento, apenas com uma ligação comum à Internet. CONCLUSÃO O processo digital chegou, mas ainda não é só digital, nem aliás se prevê que o seja a curto prazo. As vantagens da utilização da plataforma Citius são inegáveis. Mas subsistem questões de natureza funcional e operacional, que, contudo, são facilmente ultrapassáveis com adaptações de conteúdo essencialmente informático, sem interferência na gestão normal da tramitação processual. Urge assegurar a segurança e fidedignidade do sistema contra intrusões externas e adulterações internas.

Licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Joel Timóteo Ramos Pereira é criador, administrador e webmaster do Verbo Jurídico (portal de direito – www.verbojuridico.pt). Autor e administrador da Revista Digital «In Verbis», Joel Timóteo Ramos Pereira é ainda webmaster do sítio do Tribunal da Relação do Porto, conferencista e autor de diversos estudos e pareceres jurídicos publicados em vários Boletins e Revistas.

Joel Timóteo Ramos Pereira

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CASOS CITIUS ENTREGA DE PEÇAS PROCESSUAIS

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

O desenvolvimento de uma aplicação electró-nica que permitisse tornar mais simples e célere a tramitação dos processos judiciais e que se adequasse às necessidades específicas dos mandatários judiciais (advogados e solicita-dores) levou o Ministério da Justiça, através da Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) e do Instituto das Tecnologias de

Informação na Justiça (ITIJ), a criar o Citius – Entrega de Peças Processuais. Em vigor, para todos os tribunais, desde 7 de Abril de 2008, o Citius – Entrega de Peças Pro-cessuais tem como objectivo facilitar o acesso de advogados e solicitadores aos processos judiciais, descongestionando o atendimento nos tribunais e levando à melhoria do seu fun-cionamento. Através desta aplicação, é possível aos advo-gados e solicitadores proceder à apresenta-ção de peças processuais e respectivos docu-mentos, conhecer o resultado da distribuição de processos, consultar processos judiciais e as diligências que lhes dizem respeito e acom-panhar o estado das suas notas de honorários, no âmbito do apoio judiciário. O âmbito de utilização do Citius – Entrega de Peças Processuais abrange os seguintes pro-cessos: acções declarativas cíveis, acções

Citius - Entrega de Peças Processuais Descongestiona Tribunais

O Citius - Entrega de Peças Processuais veio permitir a utilização da Internet para acesso e trabalho de advogados e solicitadores nos processos judiciais. O uso intenso desta ferramenta, desde 1 de Setembro de 2008, tem contribuído para a melhoria do funcionamento dos tribunais.

• + de 1 milhão de peças processuais e documentos entregues via Internet;

• + de 13 mil utilizadores diferentes a aceder à aplicação, por semana;

• + de 10 mil utilizadores a trabalhar em simultâneo;

• Entre 25% a 50% de redução nas custas processuais

Citius Entrega de Peças Processuais - em números

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CITIUS ENTREGA DE PEÇAS PROCESSUAIS CASOS

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

executivas cíveis, providências cautelares e notificações judiciais avulsas. Entre as vantagens da utilização do sistema por parte dos advogados e dos solicitadores, está o facto de deixar de ser necessário ir ao tribunal, ou aos correios, para entregar peças processuais e documentos associados às mes-mas. Assim torna-se mais rápido e mais fácil efectuar estas diligências. Deixa de ser necessário tirar várias fotocópias dos mesmos documentos, sendo que a segu-rança de todos estes procedimentos está as-segurada, uma vez que os advogados e solici-tadores possuem um certificado digital, pessoal e intransmissível, para a entrega das peças processuais, recebendo, de imediato, um com-provativo de entrega. Redução de custos e garantia de segurança Outra das vantagens do Citius – Entrega de Peças Processuais é a redução de custos. Ao utilizarem o sistema, os mandatários estão a beneficiar de uma redução da taxa de justiça e das custas judiciais, havendo ainda uma redução dos custos indirectos, que resultam, por exemplo, das deslocações ao tribunal, que deixam de existir. A entrada em vigor desta aplicação veio reduzir o constante trânsito do processo em pa-pel entre a secretaria e os advogados (em especial, desde 15 de Abril de 2009, com o iní-cio das notificações electrónicas). Veio ainda automatizar o circuito entre os vários interve-nientes no processo e incentivar a utilização, pelos magistrados, de um instrumento de ges-tão, que lhes permite ter uma visão abrangen-te do trabalho que estão a desenvolver, tendo

um conhecimento exacto e imediato dos pro-cessos que lhes estão atribuídos. A segurança deste procedimento teve que ser devidamen-te acautelada. Desta forma, os advogados e solicitadores utilizam, para a entrega das peças, assinaturas electrónicas, que são emitidas pela Ordem dos Advogados e pela Câmara dos Solicitadores, sendo que a data e hora de entrega das mesmas é, de imediato, certificada. Foi tam-bém instalado um sistema de comunicação encriptada entre o utilizador e o sistema dos tribunais. Para que os novos mandatários judiciais este-jam aptos a trabalhar com o Citius – Entrega de Peças Processuais, o Ministério da Justiça tem vindo a apostar na sua formação, através do estabelecimento de protocolos de forma-ção com as faculdades de direito. Desta forma pretende-se que os alunos tenham, durante o curso, um contacto directo com os serviços online da Justiça.

Citius – Entrega de Peças Processuais Entidade: Ministério da Justiça (MJ) / Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça (ITIJ) / Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) URL: http://www.mj.gov.pt; http://www.itij.mj.pt; http://www.dgaj.mj.pt Implementação: 2008 Desenvolvimento: Interno Contactos: MJ - Tel.: 213 222 300; E-mail: [email protected] ITIJ - Tel.: 213 189 000; E-mail: [email protected] DGAJ - Tel.: 217 906 200; E-mail: [email protected]

Projecto

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CASOS CITIUS MAGISTRADOS JUDICIAIS E MINISTÉRIO PÚBLICO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

O O Citius, sistema informático que permite a tramitação electrónica de processos, tem uma versão específica para os juízes e outra para o Ministério Público (MP), e ainda uma versão que visa as secretarias judiciais. O desenvolvimento deste projecto pelo Minis-tério da Justiça teve subjacente a ideia da sim-plificação dos processos judiciais, bem como a de uma melhor gestão e organização do tra-balho dos tribunais, o que conduz à criação de condições para que haja uma tramitação mais célere dos processos judiciais. No que concerne às secretarias judiciais, o facto de os processos tramitarem por via elec-trónica permite um decréscimo do trabalho relacionado com esta questão, o que leva a que os recursos humanos tenham tempo dispo-ível para outras tarefas. Através do Citius, os juízes e os magistrados do MP passam a prati-

car actos numa aplicação informática, total-mente desmaterializados e com assinaturas electrónicas, deixando de o fazer no processo em papel. E, embora o papel não desapareça por completo, a sua preponderância torna-se menor e deixa de ser imprescindível o seu ma-nuseamento, sempre que é necessário praticar algum acto. Entre os actos praticados no Citius, incluem-se os despachos e as sentenças. O relacionamen-to dos juízes e dos magistrados do MP com a secretaria judicial também passa a processar-se por via electrónica, o que leva a uma redução da circulação de papel nos tribunais, criando condições para uma melhor gestão dos mesmos. Outra das funcionalidades do Citius é fornecer mais informação de gestão dos processos aos juízes e aos magistrados do MP, uma vez que

Magistrados com Procedimentos mais Céleres O sistema Citius – Magistrados Judiciais e Ministério Público permite aos juízes e aos magistrados do Ministério Público (MP) uma maior celeridade na apreciação e tramitação dos processos, uma vez que todo o processo é efectuado por via electrónica. As secretarias judiciais agradecem.

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CITIUS MAGISTRADOS JUDICIAIS E MINISTÉRIO PÚBLICO CASOS

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lhes permite saber o estado dos mesmos, se a secretaria cumpriu os despachos e em que prazo, qual o número de processos que lhes es-tão distribuídos, assim como o número de des-pachos ou sentenças proferidas e de que espécie. Acesso exclusivo na rede do MJ A segurança no acesso ao Citius foi uma das preocupações do Ministério da Justiça (MJ) e do Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça (ITIJ). Para que não ocorra nenhuma usurpação de identidade e para que se saiba, com certeza, quem acedeu e praticou actos no processo, este acesso só é efectuado atra-vés de um sistema de «username» e «pass-word», ou através da utilização de um «smart-card», com a introdução de um código PIN. O acesso online fora da rede do Ministério da Justiça também não é permitido. Ao acederem ao Citius, os juízes e os magis-trados do Ministério Público ficam a conhecer os processos que lhes estão atribuídos, poden-do organizá-los e geri-los, assim como definir o acesso aos mesmos e classificá-los de acordo, por exemplo, com a Lei-Quadro da Política Criminal. Além do trabalho específico, como a elabora-ção de despachos, o envio do processo para a secretaria, a assinatura de vários documen-tos em simultâneo, a leitura do processo e a possibilidade de alterar um documento com-vertido em versão final, os destinatários do Citius podem também efectuar tarefas mais relacionadas com a configuração do sistema. Assim, estes profissionais podem configurar a correcção automática do texto, criar ou usar modelos de decisões, escolher o tipo de letra da versão final do documento, ter uma repre-

sentação electrónica do processo, folheá-lo e elaborar o índice de matérias. O Citius permite ainda o acesso a listagens de processos dos magistrados, a utilização de duas agendas disponíveis (uma pessoal e outra de alarmes), assim como a consulta das duas agendas da secretaria, que se referem às «Diligências Marcadas» e ao «Final de Prazos».

Citius Magistrados Judiciais e Ministério Público Entidade: Ministério da Justiça (MJ) / Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça (ITIJ) / Direcção-Geral da Administração da Justiça (DGAJ) / Direcção-Geral da Política de Justiça (DGPJ) URL: http://www.mj.gov.pt; http://www.itij.mj.pt; http://www.dgaj.mj.pt ; http://www.dgpj.mj.pt Implementação: 2008 Desenvolvimento: Interno Contactos: MJ - Tel.: 213 222 300; E-mail: [email protected] ITIJ - Tel.: 213 189 000; E-mail: [email protected] DGAJ – Tel.: 217 906 200; E-mail: [email protected] DGPJ – Tel.: 217 924 000; E-mail: [email protected]

Projecto

• + de 2.800.000 actos praticados na aplicação (1.850.000 por juízes e 950 mil por magistrados do Ministério Público);

• + de 246 sessões de esclarecimento (166 para juízes e 113 para magistrados do MP);

• + de 2.400 magistrados - 1.341 (99%) juízes e 1.142 (96%) magistrados do MP – participaram nas sessões de esclarecimento;

• + de 2.400 cartões de assinatura digital distribuídos – 1.295 (96%) para juízes e 1.124 (95%) para magistrados do MP;

• + de 2.200 PCs portáteis entregues – 1.235 (91%) a juízes e 1.048 (93%) a magistrados do MP.

Citius Magistrados Judiciais e Ministério Público - em números

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CASOS BALCÃO NACIONAL DE INJUNÇÕES

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S Sendo o procedimento de Injunção um instrumento simples e rápido de cobrança de dívidas, a sua desmaterialização poderia ainda torná-lo mais eficiente e mais barato. Esta foi a ideia subjacente à criação do Balcão Nacional de Injunções (BNI), que permite a tramitação electrónica deste tipo de processos.

A Injunção é uma providência que permite que o credor de uma dívida obtenha, de forma célere e simplificada, um título execu-tivo, sem necessidade de promover uma acção declarativa num tribunal. O título exe-cutivo é um documento essencial para que se possa proceder à cobrança judicial da dívida através dos tribunais, por meio de uma acção executiva, que viabilize a respectiva penhora. A criação do BNI, que entrou em funciona-mento a 5 de Março de 2008, tornou possível aos advogados/solicitadores entregar Injun-ções por via electrónica, tanto através da apli-cação Citius, como por formulário electrónico ou ficheiro informático. Além da entrega das Injunções, também o pagamento das taxas da Injunção, quer por Multibanco, quer por «homebanking», passou a ser efectuado por essa via. Outra das vantagens da desmaterialização deste processo está consubstanciada no facto de toda a tramitação da Injunção junto do Balcão Nacional de Injunções ser efectuada por via electrónica, sendo também por esta via que a mesma é enviada para o tribunal, caso haja oposição. Nestes casos, o reque-rente é avisado, para que possa acompanhar devidamente o procedimento. Os meios elec-trónicos são também utilizados na formação do título executivo com base na Injunção, que é necessário para a apresentação de uma acção executiva. Do papel para o código electrónico As principais vantagens da criação do BNI, uma secretaria-geral com competência exclusiva para a tramitação electrónica do procedimento de Injunção e que se situa no

Desmaterializar o processo de Injunção, tornando-o mesmo mais simples, rápido e barato, foi o mote para a criação do Balcão Nacional de Injunções (BNI). Cerca de 97 por cento das Injunções são já tratadas por via electrónica.

Injunções Mais Simples, Rápidas e… Baratas

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BALCÃO NACIONAL DE INJUNÇÕES CASOS

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

Porto, são a simplicidade, a rapidez, a redução de custos e a transparência. No que concerne à simplificação dos procedi-mentos, o BNI permite a entrega e o paga-mento das Injunções sem deslocações. Por outro lado, a criação do título executivo elec-trónico torna desnecessário juntar a Injunção em papel ao requerimento executivo. A recu-peração do IVA também passa a ser feita sem necessidade de entrega de certidões em pa-pel, bastando para tal um código electrónico. A automatização dos procedimentos permite igualmente uma tramitação mais rápida, uma vez que a ordem de notificação é electrónica, assim como todos os processos associados à mesma. A redução dos custos é outra das van-tagens da entrega electrónica de Injunções. Isto porque as taxas de justiça são reduzidas em 50 por cento, havendo também uma redução dos custos associados às deslocações às secretarias judiciais, que dantes eram obrigatórias. Via electrónica cobre 97 por cento dos procedimentos Uma maior transparência é uma mais-valia ga-rantida pela possibilidade de o utente poder acompanhar, por via electrónica, o anda-mento de todos os procedimentos relaciona-dos com a Injunção que requereu. Além disso, há uma maior especialização dos funcionários na tramitação das Injunções, o que permite uniformizar procedimentos, assim como o descongestionamento dos tribunais. Isto porque, com a existência do BNI, os funcio-nários de 231 secretarias judiciais passaram a ter mais tempo para realizar outras tarefas.

Além dos benefícios para os utentes, a criação do BNI traz também vantagens para a própria gestão dos tribunais. A explicação é simples: quando as Injunções são entregues junto de um tribunal, em formato electrónico, em vez de circularem via Citius, aquele tribunal dá entrada dos processos na aplicação informáti-ca, sendo depois todo o procedimento efec-tuado pelos serviços do BNI. Desde a sua entrada em funcionamento, a 5 de Março de 2008, o BNI já recebeu mais de 585 mil Injunções, o que corresponde a uma média, por semana, de cerca de 856 Injunções entregues. Em média, e também por semana, recorrem ao Citius Injunções cerca de 171 utilizadores. Actual-mente, 97 por cento dos procedimentos de Injunção são entregues, exclusivamente, através da aplicação informática Citius, sendo que 90 por cento desses procedimentos findam no BNI. Outros números associados a este projecto mostram que 83 por cento dos procedimentos de Injunção que findam no BNI são por aposição da fórmula executória e que o prazo para finaliza-ção dos procedimentos, em 48 por cento dos ca-sos, se situa entre em menos de três meses. Refira-se ainda que, dos procedimentos de Injunção en-trados no BNI, cerca de 59 por cento corres-ponde a dívidas de valor inferior a 500 euros.

Balcão Nacional de Injunções (BNI) Entidade: Inst.Tecnologias Informação na Justiça (ITIJ) URL: http://www.itij.mj.pt Implementação: Março de 2008 Desenvolvimento: Interno Contactos: Tel.:213 189 000; E-mail:[email protected]

Projecto

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OPINIÃO HENRIQUE MARTINS GOMES

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

M Muito se tem dito e escrito sobre a informatização da Justiça e a desmateriali-zação dos processos Judiciais. E frequentes, a esse respeito, têm sido os lugares-comuns, as críticas (muitas vezes infundadas), e a rejeição da novidade. Feliz ou infelizmente, esta aversão à mudança constitui um traço característico, não apenas da nossa Era, mas de toda uma existência secular pontualmente visitada por velhos do Restelo, acostumados às práticas e procedi-mentos instalados. Ora, saudosismos à parte, certo é que a História resulta, justamente, de confrontos com monstrengos e moinhos de vento, nada se alcançando sem a curiosidade inerente à dú-vida, e sem a necessária determinação que, para lá dos obstáculos, impulsiona no sentido da descoberta de algo concreto e seguro. Ora, a plataforma Citius constitui, actualmente, a dúvida dos novos «navegadores», que é por estes mais temida, do que entendida. Deixemos, então, a mera teoria e a opinião vã, e debrucemo-nos antes sobre factos e ques-tões eminentemente práticas, afastando pre-conceitos e desmistificando os virtuais entraves à realização da justiça resultantes da utilização do Citius. Regulada pelas Portarias n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, n.º 457/2008, de 20 de Junho, e n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro, e subsidia-riamente pelo Código de Processo Civil, esta plataforma assume versões distintas consoante o interveniente processual que a utilize: seja o Magistrado Judicial, seja o Magistrado do Ministério Público ou o Advogado. No que em particular concerne aos Advogados, entende-se indispensável um

reparo prévio: a utilização do Citius não é, para estes, obrigatória – vide artigo 150.º, n.º 1 e n.º 2 do Código de Processo Civil. Ressalvam-se, no entanto, os Requerimentos de Injunção e de Execução, sempre que o Requerente ou o Exequente seja representado por mandatário. Nestes casos, deverão os advogados enviar o respectivo requerimento por via electrónica, ou seja, via Citius, sob pena do pagamento de uma multa no valor de ½ UC (48 €) - vide artigo n.º 19.º do Decreto-Lei n.º 269/98, de 1 de Setembro, com a redacção introduzida pela Lei n.º 67-A/2007, de 31 de Dezembro, e de acordo com a nova redacção do artigo 810.º, n.º 11 do C.P.C. que entrou em vigor em 31/03/2009 (Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20 de Novembro). Não obstante, o envio de peças processuais via Citius tem vantagens incontornáveis, no-meadamente, a eliminação dos custos asso-ciados ao envio pela via postal e, mais impor-tante ainda, a enorme poupança dos custos com o papel – vide a dispensa de duplicados e cópias legais prevista nos termos do disposto no artigo 3.º, n.º 1, da Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, na redacção aplicável. Por outro lado, se o advogado enviar a primei-ra ou única peça processual via Citius benefi-ciará, imediatamente, de uma redução de 25 por cento do valor da taxa de justiça a liquidar – Artigo 6.º, n.º 3 do Regulamento das Custas Processuais, na parte actualmente em vigor. Mais, se no âmbito do mesmo processo judicial, as demais peças processuais forem enviadas via Citius, 1/3 do valor da taxa de justiça paga será convertido em pagamento antecipado dos encargos com o processo judicial – Artigo 22.º, n.º 5 do Regulamentos das Custas Processuais.

(in) Citius

Por Henrique Martins Gomes, Advogado

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HENRIQUE MARTINS GOMES OPINIÃO

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

Já no que respeita ao envio do requerimento injuntivo via Citius, o Requerente beneficia de uma redução imediata de 50 por cento do valor da taxa de justiça a liquidar – artigo 6.º, n.º 4 do Regulamento das Custas Processuais, na parte actualmente em vigor. Mas, se as vantagens descritas agradam fun-damentalmente aos clientes, também os advogados são beneficiados pelas funciona-lidades constantes da plataforma, já que lhes permitem, entre outras, aceder a informações relevantes para a definição da estratégia processual e para a condução do processo. Destacamos, em particular, a possibilidade de consulta de todos os actos praticados pelos su-jeitos processuais nos processos judiciais em que aqueles sejam mandatários, e, até mes-mo, o conhecimento antecipado do teor de peças processuais - passíveis de resposta - que a secretaria judicial ainda não notificou ao mandatário – veja-se o caso da Contestação em que são invocadas excepções. No entanto, e para uma boa utilização da pla-taforma, há que ultrapassar, previamente, todas as barreiras informáticas, instalando o certificado digital no browser (Internet Explo-rer), o adobe reader, o java, e ainda um conversor de ficheiros Word em formato PDF (para os utilizadores do Word 2007 aconselha-se o download do plug-in disponível na página da Microsoft). Ditam, ainda, as novas leges artis que não deverá proceder-se ao envio da primeira peça processual, via Citius, no último dia de um prazo judicial e, muito menos, próximo da meia-noite, pois o que potencialmente puder correr mal, nesse dia correrá. Existem, contudo, vozes críticas que se insurgem contra a

plataforma, invocando a persistência de erros, desconformidades, imprecisões e até blo-queios de funções. Assim é. Mas, dada a sua natureza mutável, em cons-tante evolução e aperfeiçoamento, compete aos seus utilizadores a adopção de um com-portamento activo, de preocupação e interes-se, no sentido de identificar tais erros, transmi-tindo-os ao ITIJ (Instituto das Tecnologias de In-formação na Justiça) para que este possa cor-rigi-los, um a um, melhorando o seu funcio-namento. A plataforma Citius está assim bem longe de ser uma versão final, estanque, dependendo da colaboração dos intervenientes processuais e das suas sugestões para tornar-se menos falível, mais fiável e, sobretudo, mais útil para todos. O que apenas se alcançará com uma atitude participativa e altruísta, em contra-ponto com o lusitano hábito de derrubar o esforço alheio, com vista à valorização do trabalho próprio. Bastará, para isso, que nos orgulhemos de participar num projecto que, apesar de controverso, contribuirá para uma Justiça mais célere. Ironicamente, só o tempo o dirá.

Henrique Martins Gomes é licenciado em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pós-graduado em Direito Processual Forense, pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa. Além disso, frequenta o mestrado em Ciências Jurídico-Penais, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e possui um curso pós-graduado sobre Propriedade Industrial, da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Henrique Martins Gomes

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REFERÊNCIAS JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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ENTIDADES MJ - Ministério da Justiça Morada: Praça do Comércio – 1149-019 Lisboa Tel. (+351) 213 222 300 E-mail: [email protected] URL: http://www.mj.gov.pt

CEJ - Centro de Estudos Judiciários Morada: Largo do Limoeiro – 1149-048 Lisboa Tel. (+351) 218 845 600 E-mail: [email protected] URL: http://www.cej.mj.pt

DGAJ - Direcção-Geral da Administração da Justiça Morada: Av. D. João II, 1.08.01 DE – 1990-097 Lisboa Tel. (+351) 217 906 200 E-mail: [email protected]

DGPJ - Direcção-Geral da Política de Justiça Morada: Av. Óscar Monteiro Torres, 39 – 1000-216 Lisboa Tel. (+351) 217 924 000 E-mail: [email protected] URL: http://www.dgpj.mj.pt

INML – Instituto Nacional de Medicina Legal Morada: Largo da Sé Nova, 43 – 3000-213 Coimbra Tel. (+351) 239 854 220 E-mail: [email protected] URL: http://www.inml.mj.pt

ITIJ - Instituto das Tecnologias de Informação na Justiça Morada: Av. Casal Ribeiro, 16 – 1049-068 Lisboa Tel. (+351) 213 189 000 E-mail: [email protected] URL: http://www.itij.mj.pt

PGR - Procuradoria-Geral da República Morada: Rua da Escola Politécnica, 140 – 1269-269 Lisboa Tel. (+351) 213 921 900 URL: http://www.pgr.pt/

Provedor de Justiça Morada: Rua Pau da Bandeira, 9 – 1249-088 Lisboa Tel. (+351) 213 926 600 E-mail: [email protected] URL: http://www.provedor-jus.pt

PORTAIS Ministério da Justiça http://www.mj.gov.pt

Diário da República Electrónico http://www.dre.pt

Procuradoria-Geral da República http://www.pgr.pt

Provedor de Justiça http://www.provedor-jus.pt

Portal «Tribunaisnet» http://www.tribunaisnet.mj.pt

LIVROS

CITIUS - Comunicação Electrónica com os Tribunais no Âmbito do Processo Civil – Envio de peças processuais, requerimento de injunção, requerimento executivo, legislação

Autor: Rui Maurício Editora: Petrony. Ano: 2008.

CITIUS - Prática de Actos Judiciais no âmbito do Processo Civil – Magistrados Judiciais e do Ministério Público Autor: Rui Maurício Editora: Petrony. Ano: 2009.

Prontuário de Formulários e Trâmites Volume 1 – Processo Civil Declarativo Autor: Joel Timóteo Ramos Pereira Editora: Quid Juris. Ano: 2008.

Prontuário de Formulários e Trâmites Volume 2 – Procedimentos e Medidas Cautelares Autor: Joel Timóteo Ramos Pereira Editora: Quid Juris. Ano: 2008.

Justiça de A a Z – Três Anos de Governo Autor: Ministério da Justiça Editora: Ministério da Justiça Ano: 2008.

Referências

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA REFERÊNCIAS

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JUSTIÇA ELECTRÓNICA

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LEGISLAÇÃO Portaria n.º 1538/2008, de 30 de Dezembro Regula a tramitação electrónica da apresentação de peças processuais e documentos por transmissão electrónica de dados, a apresentação do requerimento de interposição de recurso, das alegações e contra-alegações de recurso e da reclamação contra o indeferimento do recurso e a subida dos recursos e a notificação por transmissão electrónica de dados. MJ Deliberação n.º 3191/2008, de 3 de Dezembro Regulamenta o funcionamento da base de dados de perfis de ADN para fins de investigação civil e criminal no Portal do Ministério da Justiça. Documento aprovado pelo Conselho Médico-Legal em reunião de 15 de Julho de 2008 para dar cumprimento ao artigo 39.º da Lei n.º 5/2008, de 12 de Fevereiro. MJ Portaria n.º 457/2008, de 20 de Junho Altera a Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro, que regula vários aspectos da tramitação electrónica dos processos judiciais. MJ Portaria n.º 220-A/2008, de 4 de Março Cria uma secretaria-geral designada por Balcão Nacional de Injunções (BNI). MFAP Lei n.º 5/2008, de 12 de Fevereiro Aprova a criação de uma base de dados de perfis de ADN para fins de identificação civil e criminal. Assembleia da República Portaria n.º 114/2008, de 6 de Fevereiro Regula vários aspectos da tramitação electrónica dos processos judiciais. MJ Portaria n.º 593/2007, de 14 de Maio Define os meios de assinatura electrónica e os sistemas informáticos a utilizar na prática de actos processuais em suporte informático pelos magistrados e pelas secretarias judiciais. MJ Portaria n.º 170/2007, de 6 de Fevereiro Estabelece os requisitos da apresentação de requerimentos de certificados do registo criminal e da respectiva transmissão, por via electrónica, aos serviços de identificação criminal da Direcção-Geral da Administração da Justiça. MJ Portaria n.º 728-A/2006, de 24 de Julho Regulamenta a entrega do procedimento de injunção através da Internet. MJ Decreto-Lei n.º 116-A/2006 de 16 de Junho Procede à criação do Sistema de Certificação Electrónica do Estado - Infra-Estrutura de Chaves Públicas e designa a Autoridade Nacional de Segurança como Autoridade Credenciadora Nacional. PCM Resolução do Conselho de Ministros n.º 50/2006, de 5 de Maio Determina a criação de um serviço público que permita a realização voluntária de comunicações entre a Administração Pública, os serviços e organismos da administração autónoma, as entidades administrativas independentes e os tribunais, os cidadãos e as empresas, através do envio por correio electrónico. Conselho de Ministros

Resolução do Conselho de Ministros nº 171/2005, de 3 de Novembro Aprova a criação da Entidade de Certificação Electrónica do Estado. Conselho de Ministros Despacho conjunto n.º 89/2005, de 28 de Janeiro

Valor probatório dos documentos electrónicos, a assinatura electrónica e a actividade de certificação de entidades certificadoras - pagamento de taxas por parte das entidades certificadoras. MFAP e MJ Despacho conjunto n.º 651/2004, de 9 de Novembro Plano de Acção para a Justiça na Sociedade da Informação. PCM e MJ Decreto Regulamentar n.º 25/2004, de 15 de Julho

Regulamenta o Decreto-Lei nº 290-D/99, de 2 de Agosto, que aprova o regime jurídico dos documentos electrónicos e da assinatura digital. MJ Portaria n.º 642/2004, de 16 de Junho Regula a forma de apresentação a juízo dos actos processuais enviados através de correio electrónico, assim como as notificações efectuadas pela secretaria aos mandatários das partes. MJ Portaria n.º 1417/2003, de 30 de Dezembro Regula o funcionamento do sistema informático dos tribunais administrativos e fiscais (SITAF), estabelecendo aspectos específicos da apresentação de peças processuais e documentos por via electrónica, bem como a tramitação e acesso informático dos processos entrados nos tribunais da jurisdição administrativa e fiscal a partir de 1 de Janeiro de 2004. MJ

DOCUMENTOS Orçamento de Estado 2009 – Ministério da Justiça Este documento apresenta os valores do Orçamento de Estado para 2009 que se destinam ao Ministério da Justiça. Pode encontrar-se aqui os dados referentes às várias áreas de actuação deste Ministério, bem como os valores que são adjudicados a cada uma delas. 17 Medidas para Desbloquear a Reforma da Acção Executiva São apresentadas, neste documento, as 17 medidas tomadas pelo Ministério da Justiça para desbloquear a reforma da Acção Executiva. Desmaterialização do Procedimento de Injunção e Balcão Nacional de Injunções Todo o processo que levou à desmaterialização do procedimento de Injunção e à criação do Balcão Nacional de Injunções (BNI) está resumido neste documento.

Referências