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1 APOSTILA DO 3º BIMESTRE DA TERCEIRA SÉRIE DE 2020 - PROFESSOR MARCOS PAIVA Identificando os tipos de fontes energéticas A produção e o consumo mundial de energia estão diretamente vinculados às três dimensões do desenvolvimento sustentável: meio ambiente, sociedade e economia. Segundo a Agência Internacional de Energia, o consumo mundial deve crescer 1,6% ao ano entre 2006 e 2030, o que representará um aumento de 45% ao longo desse período. Os combus- tíveis fósseis devem continuar responsáveis por cerca de 80% da energia consumida no planeta, e o maior crescimento na sua demanda ocorrerá na China e na Índia, onde a redução nos índices de pobreza extrema tem levado à incorporação de milhões de pessoas ao mercado de consumo. Já nos países desenvolvidos e em alguns emergentes, haverá redução na participação percen- tual dos combustíveis fósseis e aumento de fontes renováveis e menos poluentes em suas matri- zes energéticas, com crescimento no consumo de biomassa, energia eólica, energia solar e ou- tras. Em 2010, os Estados Unidos, a China, a Alemanha, a Espanha e a Índia foram os países que mais investiram na busca de fontes renováveis e não poluentes de energia. Segundo o Conselho Mundial de Energia Eólica, as turbinas instaladas nesses países produziram 74% da energia eólica mundial (145 868 MW). Isso supera em quase 50% o total de energia elétrica consumida no Bra- sil. Neste bimestre vamos estudar as principais fontes de energia utilizadas atualmente para en- tendermos algumas questões: qual é a importância estratégica das fontes de energia para a eco- nomia, a sociedade e o meio ambiente? Qual foi a importância do petróleo e do carvão mineral ao longo do século XX e qual é o papel desses combustíveis no mundo atual? Quais são as for- mas de obtenção de eletricidade e quais suas vantagens e desvantagens? Qual é o papel das fontes alternativas e da energia nuclear no mundo atual? Por que o uso da biomassa vem cres- cendo? As fontes de energia podem ser renováveis ou não-renováveis, de acordo com a sua capaci- dade de se recompor ou não na natureza. Ela é renovável quando pode ser obtida a partir de recursos naturais considerados inesgotáveis (energia hidrelétrica, solar, eólica, biomassa e ou- tras). E a fonte de energia é não-renovável quando é constituída por recursos que existem em quantidade limitada no planeta e tendem a esgotar-se, como é o caso do petróleo, do carvão e do gás natural. Podem ser também primárias ou secundárias, de acordo com a utilização das fontes. Ela é considerada primária quando a energia fornecida é utilizada diretamente para um trabalho ou geração de calor. Como exemplo, podemos citar o fogão a lenha, onde o carvão gera calor e co- zinha os alimentos. A energia é considerada secundária quando se usa a mesma lenha para ali- mentar uma caldeira, que por sua vez gera energia elétrica. Então, a energia elétrica é secundá- ria.

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APOSTILA DO 3º BIMESTRE DA TERCEIRA SÉRIE DE 2020 - PROFESSOR MARCOS PAIVA

Identificando os tipos de fontes energéticas

A produção e o consumo mundial de energia estão diretamente vinculados às três dimensões do desenvolvimento sustentável: meio ambiente, sociedade e economia.

Segundo a Agência Internacional de Energia, o consumo mundial deve crescer 1,6% ao ano entre 2006 e 2030, o que representará um aumento de 45% ao longo desse período. Os combus-tíveis fósseis devem continuar responsáveis por cerca de 80% da energia consumida no planeta, e o maior crescimento na sua demanda ocorrerá na China e na Índia, onde a redução nos índices de pobreza extrema tem levado à incorporação de milhões de pessoas ao mercado de consumo.

Já nos países desenvolvidos e em alguns emergentes, haverá redução na participação percen-tual dos combustíveis fósseis e aumento de fontes renováveis e menos poluentes em suas matri-zes energéticas, com crescimento no consumo de biomassa, energia eólica, energia solar e ou-tras.

Em 2010, os Estados Unidos, a China, a Alemanha, a Espanha e a Índia foram os países que mais investiram na busca de fontes renováveis e não poluentes de energia. Segundo o Conselho Mundial de Energia Eólica, as turbinas instaladas nesses países produziram 74% da energia eólica mundial (145 868 MW). Isso supera em quase 50% o total de energia elétrica consumida no Bra-sil.

Neste bimestre vamos estudar as principais fontes de energia utilizadas atualmente para en-tendermos algumas questões: qual é a importância estratégica das fontes de energia para a eco-nomia, a sociedade e o meio ambiente? Qual foi a importância do petróleo e do carvão mineral ao longo do século XX e qual é o papel desses combustíveis no mundo atual? Quais são as for-mas de obtenção de eletricidade e quais suas vantagens e desvantagens? Qual é o papel das fontes alternativas e da energia nuclear no mundo atual? Por que o uso da biomassa vem cres-cendo?

As fontes de energia podem ser renováveis ou não-renováveis, de acordo com a sua capaci-dade de se recompor ou não na natureza. Ela é renovável quando pode ser obtida a partir de recursos naturais considerados inesgotáveis (energia hidrelétrica, solar, eólica, biomassa e ou-tras). E a fonte de energia é não-renovável quando é constituída por recursos que existem em quantidade limitada no planeta e tendem a esgotar-se, como é o caso do petróleo, do carvão e do gás natural.

Podem ser também primárias ou secundárias, de acordo com a utilização das fontes. Ela é considerada primária quando a energia fornecida é utilizada diretamente para um trabalho ou geração de calor. Como exemplo, podemos citar o fogão a lenha, onde o carvão gera calor e co-zinha os alimentos. A energia é considerada secundária quando se usa a mesma lenha para ali-mentar uma caldeira, que por sua vez gera energia elétrica. Então, a energia elétrica é secundá-ria.

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Finalmente, as fontes de energia podem ser convencionais ou alternativas. A energia con-vencional está difundida na sociedade e é usada em grande quantidade há muito tempo. Pode-mos citar como exemplo o carvão e o petróleo. Já a energia alternativa não está muito difundida na sociedade, está em fase de pesquisa em alguns países, seu custo de implantação ainda é ele-vado e é utilizada em pequenas quantidades. É o caso das energias solar e eólica. Agora que você já conhece os tipos de energia existentes, vamos estudar um pouco mais sobre alguns tipos de fontes energéticas existentes no planeta. FONTES NÃO RENOVÁVEIS: COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

Os combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural – assim chamados por se ori-ginarem de restos de animais e vegetais soterrados com os materiais sólidos que formam as ro-chas sedimentares) são a principal fonte de energia atualmente em utilização no mundo, com destaque para o petróleo. Veja o gráfico a seguir:

Em 1973 ocorreu a primeira crise mundial do petróleo, quando o preço desse combustível

praticamente quadruplicou em poucos meses. Por isso, ao se compararem os dados estatísticos de energia daquele ano com os recentes, é possível perceber a variação ocorrida na distribuição mundial da oferta energética.

Observe no gráfico que entre 1973 e 2010 o consumo mundial de energia quase duplicou, passando de 6,1 para 12,7 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (TEPs). Dessa forma, embora a participação percentual do petróleo no consumo mundial de energia tenha caído de 46,1% para 32,4%, houve grande aumento quantitativo na sua demanda mundial, que passou de 2,5 para 4 milhões de TEPs ao ano. 1. Petróleo

O petróleo é um hidrocarboneto fóssil de origem orgânica encontrado em bacias sedimenta-res resultantes do soterramento de antigos ambientes aquáticos. Seus diversos subprodutos se apresentam em todos os estados de agregação: sólido (asfalto e plásticos, entre outros), líquido (óleos lubrificantes, gasolina e outros combustíveis) e gasoso (gás combustível). Em suas formas

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de ocorrência natural, é utilizado há muito tempo: na vedação dos reservatórios de água cons-truídos pelos incas; na pavimentação, em conjunto com pedras, das estradas romanas e na ve-dação de antigas embarcações. Desde a década de 1930, com a construção das primeiras indús-trias petroquímicas, o petróleo é uma matéria-prima importantíssima, presente de forma cons-tante em nosso cotidiano nas mais diversas formas: materiais de construção e de embalagem, ingredientes de tintas, de fertilizantes e de produtos farmacêuticos, além de inúmeros tipos de plásticos. Sua utilização como fonte de energia iniciou-se em 1859, na Pensilvânia, Estados Uni-dos, quando Edwin Drake, um perfurador de poços, encontrou petróleo a apenas 21 metros de profundidade e passou a comercializá-lo com as cidades – para ser utilizado na iluminação públi-ca –, com as indústrias e com as companhias de trem – em substituição ao carvão mineral usado nas máquinas a vapor.

O petróleo é um combustível fóssil de grande importância no nosso dia-a-dia. Existem muitos produtos que derivam do petró-leo, como, por exemplo, fertili-zantes, roupas, pasta de dentes, garrafas e canetas de plástico. Quase todos os plásticos têm origem no petróleo. O Oriente Médio continua a ser o principal protagonista na indústria petro-lífera. Veja o gráfico ao lado. E abaixo os principais países pro-dutores de petróleo no mundo.

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Observe que ocorrem grandes variações na cotação do barril de petróleo; de 1970 a 2011 houve oscilação de aproxima-damente 11 dólares a 110 dóla-res em sua cotação média anual no mercado mundial (para saber o valor atual do barril, consulte o site da Opep: <www.opec.org>).

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2. Carvão mineral e Gás Natural

O carvão mineral e o gás natural ocupam, respectivamente, a segunda e a terceira posições no consumo mundial de energia: o carvão mineral é responsável por aproximadamente 40% da geração de eletricidade, e o gás natural, por cerca de 20%. Isso significa que mais da metade da energia elétrica produzida no planeta é obtida em usinas que utilizam carvão mineral ou gás natural como fonte primária de energia.

Entre as fontes não renováveis de energia, o carvão mineral é a mais abundante, principal-

mente nos países do hemisfério norte. Além disso, segundo estimativas, quando o petróleo se esgotar, as reservas de carvão ainda terão uma vida útil muito longa. Isso o torna hoje o substi-tuto imediato do petróleo em situação de crise e aumento de preço. Observe a tabela abaixo.

O uso do carvão mineral, porém, acarreta sérias agressões ambientais, pois sua estrutura mo-lecular contém enorme quantidade de carbono e enxofre que, após a queima, são lançados na atmosfera na forma de gás carbônico (CO2), que agrava o efeito estufa, e de dióxido de enxofre (SO2), o grande responsável pela chuva ácida.

O carvão mineral é uma rocha metamórfica de origem sedimentar e não deve ser confundido com o vegetal, obtido da madeira carbonizada em fornos. No que se refere à sua utilização práti-ca, o carvão mineral é muito mais eficiente, pois possui grande poder calorífero e sua queima libera muito mais energia que a do carvão vegetal, o que amplia suas possibilidades de utilização em atividades siderúrgicas e na produção de energia em usinas termelétricas.

Além de constituir fonte de energia, o carvão mineral é importante matéria-prima da indús-tria de produtos químicos orgânicos, como piche, asfalto, corantes, plásticos, inseticidas, tintas e náilon, entre outros.

Ele é classificado em turfa, linhito, antracito e hulha. Essa distinção existe em razão das con-dições ambientais e da época de formação do carvão. Os maiores produtores mundiais de carvão são a China, os Estados Unidos, a Rússia, o Cazaquistão, a Índia, a Polônia, a Alemanha, a África do Sul e a Austrália.

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Já o gás natural, além de ser mais barato e facilmente transportável por meio de dutos, apre-senta uma queima quase limpa (pouco poluente) em comparação ao carvão e ao petróleo.

Trata-se de uma fonte de energia muito versátil, pois pode ser utilizada na geração de energia elétrica (em usinas térmicas), nas máquinas e altos-fornos industriais, nos motores de veículos, nos fogões e no aquecimento das residências, entre outros. Em razão disso, vem sendo cada vez mais empregado nos transportes, na termeletricidade, na produção industrial e no consumo doméstico.

A partir da década de 1980, o consumo de gás natural vem apresentando forte expansão. Se-gundo a Agência Internacional de Energia, entre 1973 e 2011, a produção mundial mais que do-brou, passando de 1,2 bilhão para 3,3 bilhões de metros cúbicos, mas, mesmo assim, manteve a terceira posição na matriz energética mundial. Entre as fontes utilizadas em usinas termelétricas, saltou do quarto para o segundo lugar, ficando atrás apenas do carvão.

O Brasil importa atualmente 24 milhões de metros cúbicos de gás da Bolívia, cerca de 50% do gás nacional. A Bolívia é fortemente dependente da exportação de gás natural, e com a Argenti-na autossuficiente no suprimento de gás natural, o Brasil aparece naturalmente como o principal mercado consumidor para o gás boliviano.

O carvão resulta da transformação química de grandes florestas soterradas, sendo utilizada na produção de energia elétrica e aquecimento. A vantagem desse tipo de energia é a facilidade do seu transporte. A maior desvantagem é o seu grau elevado de poluição, além de sua queima contribuir para a chuva ácida. O gás natural pode ser obtido na natureza, através de escavações, estando associado ou não ao petróleo. Pode ser usado na produção de energia elétrica, combus-tível para veículos, caldeiras e fornos de fábricas, etc. A vantagem desse tipo de energia é que ela emite poucos poluentes. A desvantagem é que os custos para a distribuição dessa energia ainda são muito elevados.

3. Energia Nuclear

Desde o início deste século, em razão do agravamento do aquecimento global, a utilização da energia nuclear para obtenção de energia elétrica voltou à agenda internacional como importan-te alternativa à queima de combustíveis fósseis. Em 2010, as usinas nucleares foram responsá-veis por cerca de 10,3% de toda a energia elétrica produzida no mundo.

Assim como nas termelétricas, o que movimenta a turbina de uma usina nuclear é o vapor de água, só que neste caso o aquecimento da água para produzir o vapor é feito a partir da fissão nuclear, realizada a partir da quebra de átomos de urânio.

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A energia nuclear pode ser obtida através da quebra de átomos de urânio. É utilizada na pro-dução de energia elétrica e armas atômicas. A vantagem desse tipo de energia é que ela não emite poluentes. A desvantagem é que ainda falta tecnologia para tratar o lixo nuclear.

Em vários países é grande a produção de energia elétrica em usinas nucleares, apesar do alto custo de instalação, funcionamento e conservação. Em muitos deles houve o esgotamento das possibilidades de produção hidrelétrica e há carência de combustíveis fósseis para a produção de energia em centrais termelétricas. Observe os dados da tabela.

Apesar de apresentarem algumas vantagens em relação aos outros tipos de usinas, como, por exemplo, o custo do quilowatt-hora produzido, que é menor que o obtido em usinas termelétri-cas que utilizam carvão como fonte primária, as usinas nucleares são potencialmente muito mais perigosas por utilizarem fontes primárias radiativas, e demandam um alto custo para a destina-ção final dos seus rejeitos – o lixo atômico.

A grande vantagem de uma central térmica nuclear é a enorme quantidade de energia que pode ser gera-da, isto é, a potência gerada, para pouco material usado (o isótopo 235 do urânio).

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Em caso de acidentes (como o de Tree Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979; o de Cher-nobyl, na Ucrânia, em 1986; e o de Fukushima, no Japão, em 2011, causado por terremoto se-guido de tsunami), a radiatividade leva anos ou mesmo décadas para se dissipar.

O acidente de Chernobyl

Pelo menos 30 pessoas morreram no acidente, no dia 26 de abril de 1986, como consequên-cia da explosão nuclear. De acordo com relatório da ONU divulgado em 2005, mais de 4 mil pes-soas morreram ou vão morrer vítimas de doenças provocadas pelos altos níveis de radiação de Chernobyl. Atualmente fala-se em centenas de milhares de pessoas contaminadas pela radiação. Até hoje as áreas do entorno continuam inabitáveis, com elevado índice de radiação.

O acidente nuclear de Fukushima

Depois da tragédia de Fukushima, no Japão, em 2011, a preocupação com a segurança das usinas nucleares voltou ao centro das atenções em diversos países. O governo alemão, por exemplo, vai desativar todas as suas usinas nucleares até 2022.

Nos Estados Unidos, cinco usinas foram fechadas e outras quatro deverão ter o mesmo des-tino nos próximos anos.

FONTES DE ENERGIA RENOVÁVEIS

As fontes de energia renováveis podem ser utilizadas novamente e são o resultado do apro-veitamento de recursos naturais como o Sol, o vento, as marés, as ondas, o calor da Terra e resí-duos como restos agrícolas ou lixo orgânico. Além das matérias-primas dessas fontes serem abundantes, utilizá-las significa não esgotá-las. Os recursos renováveis representam atualmente cerca de 20% do fornecimento total de energia no mundo.

1- Biomassa

Biomassa é qualquer tipo de matéria orgânica não fóssil, vegetal ou animal, que possibilite obtenção de energia. Entre os produtos mais utilizados destacam- se o etanol obtido da cana-de-açúcar, da beterraba, do milho e da madeira; o lixo orgânico (cuja decomposição nos aterros produz biogás); a lenha; o carvão vegetal; e os diversos tipos de óleos vegetais que podem ser transformados em biodiesel (soja, dendê, mamona, algodão e trigo, entre outros).

A utilização de biomassa como fonte de energia é muito antiga, remonta ao tempo em que o ser humano controlou o fogo e começou a queimar lenha para se aquecer e cozinhar os alimen-tos. Atualmente, vem aumentando bastante seu consumo por causa da instabilidade do preço do petróleo e, em geral, por sua queima produzir menos poluentes do que a dos combustíveis fósseis.

Hoje em dia ela é considerada uma das principais alternativas na busca por maior diversifica-ção na matriz energética, visando reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, porque possi-bilita a obtenção de energia elétrica e de biocombustíveis. O etanol e o biodiesel são combustí-veis não tóxicos e biodegradáveis, cuja queima em substituição aos derivados de petróleo reduz

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de 40% a 60% a emissão de gases que provocam o efeito estufa. Além disso, por serem isentos de enxofre em sua composição, não causam chuva ácida.

Desde 2005, quando entrou em vigor o Protocolo de Kyoto, muitos países aceleraram a busca por fontes de energias renováveis e menos poluentes, cujo consumo está em expansão em esca-la mundial. A produção de biocombustíveis vem apresentando grande possibilidade de cresci-mento econômico e geração de empregos na agricultura e nas usinas, com efeito multiplicador nos demais setores que integram sua cadeia produtiva (máquinas, equipamentos, fertilizantes, setores de serviços, comércio e transporte).

A expansão da produção e do consumo dos biocombustíveis depende muito do preço do bar-ril de petróleo, que, como vimos, sofre grandes oscilações em função da ocorrência de guerras e crises econômicas. Quando aumenta o preço do barril de petróleo, há tendência de busca de fontes mais baratas e os biocombustíveis ganham competitividade; ao contrário, nas épocas em que cai o preço do barril de petróleo, os biocombustíveis perdem mercado.

Porém, independentemente das oscilações no preço do petróleo, o setor de biocombustíveis e toda sua cadeia produtiva têm recebido incentivo governamental em alguns países, como Es-tados Unidos, Brasil, Alemanha e França, embora sua produção e consumo sejam mais caros que a utilização de óleo diesel e gasolina. Isso ocorre graças às vantagens que ele oferece em termos sociais, estratégicos e ambientais, como a geração de empregos, a segurança energética, a redu-ção na emissão de poluentes e o declínio no volume das importações, o que melhora o resultado da balança comercial.

2- Energia das marés

A energia das marés ou energia maremotriz, é uma forma de geração de eletricidade obtida a partir das alterações de nível das marés, através de barragens (que aproveitam a diferença de altura entre as marés alta e baixa) ou através de turbinas submersas (que aproveitam as corren-tes marítimas).

O sistema mais utilizado é o de barragens, que consiste na construção de diques que captam a água durante a alta da maré. Essa água armazenada é então liberada durante a baixa da maré, passando por uma turbina que gera energia elétrica.

3- Energia das ondas

A energia das ondas é provocada pela ação do vento sobre a superfície do mar. A energia conti-da nas ondas produz energia mecânica que é transformada em energia elétrica. Quando a onda se desfaz e a água recua, o ar desloca-se em sentido contrário, passa por uma turbina e entra numa câmara para produzir energia. Hoje em dia, utiliza-se mais o movimento de subida/descida da onda para fornecer energia a um gerador que está dentro de um cilindro à superfície da água.

4- Hidroeletricidade

Os rios que apresentam desnível acentuado em seu percurso tendem a apresentar potencial hidrelétrico aproveitável, principalmente se seu suprimento de água for garantido por clima ou

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hidrografia favoráveis. Não é necessária a ocorrência de quedas d’água, mas de desníveis que possibilitem a construção de uma barragem que forme uma represa e crie uma queda artificial. Trata-se de uma forma não poluente, barata e renovável de obtenção de energia, embora o ala-gamento de grandes áreas por causa da construção das barragens e do represamento da água cause impacto ambiental.

Dessa forma, a construção de uma barragem deve ser precedida de minucioso estudo do im-pacto ambiental e arqueológico, para que se avalie a viabilidade técnica, social, ambiental e eco-nômica do represamento.

No Brasil, as usinas hidrelétricas, que têm a maior capacidade instalada de produção no país, produzem energia mais barata e com menos impactos ambientais, quando comparadas às usinas termelétricas e termonucleares. Observe, no gráfico abaixo, o custo de produção de energia elétrica no Brasil, segundo a fonte.

Segundo o Ministério de Minas e Energia, o potencial hidrelétrico brasileiro é estimado em mais de 243 mil MW, e a capacidade nominal instalada de produção estava, em 2011, na casa dos 108 mil MW, ou seja, cerca de 44% do potencial disponível. Até o final da década de 1980, as hidrelétricas produziam cerca de 90% da eletricidade consumida no país, mas em 2011 essa par-ticipação tinha recuado para cerca de 74%, principalmente por causa da construção de usinas termelétricas movidas a gás natural e biomassa.

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O maior potencial hidrelétrico instalado no Brasil está na bacia do rio Paraná, da qual, em 2011, 72% da disponibilidade já havia sido aproveitada. Em seu rio principal localiza‑se a usina de Itaipu, e destacam‑se também os rios Grande, Paranapanema, Iguaçu e Tietê. Eles drenam a região onde se iniciou efetivamente o processo de industrialização brasileiro e que, além da de-manda mais elevada, conseguiu exercer maior pressão política na alocação de recursos investi-dos em infraestrutura.

O maior potencial hidráulico disponível do país localiza‑se nas bacias do Amazonas, do qual somente 1% é aproveitado. Em Rondônia, no rio Madeira, duas usinas de médio porte estavam em construção em 2012: Santo Antônio (licitada em 2007) e Jirau (licitada em 2008), cada uma com cerca de 3 mil MW de potência. Nesse mesmo ano estava sendo construída a usina de Belo Monte, no rio Xingu, a maior delas, com potência de 11 233 MW (cerca de 2/3 da capacidade de Itaipu).

5- Energia geotérmica

É a energia calorífica que vem da terra, resultando do fluxo de calor das camadas mais pro-fundas, devido ao magma e à radioatividade natural das rochas. Este recurso está geralmente associado às áreas de atividade vulcânica, sísmica ou magmática. As altas temperaturas são aproveitadas para a produção de energia elétrica.

A energia geotérmica, em alguns casos, também é utilizada para o aquecimento de água em áreas residenciais ou até em cidades inteiras durante o inverno, quando se aproveita a água quente para uso. Há também o uso do aquecimento interno da Terra para a produção de calor e para a utilização em aquecedores ou aparelhos térmicos em geral utilizados em estufas, campos de pesca, áreas de lazer, entre outros.

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No Brasil, a energia geotérmica é utilizada apenas dessa forma, em algumas localidades onde o aquecimento da água pode ser aproveitado, quase sempre em áreas de lazer, pois não há ne-cessidade de aquecimento da água residencial em razão do clima. Duas cidades que utilizam suas fontes térmicas para o turismo são Poços de Caldas (MG) e Caldas Novas (GO).

6- Energia Solar

A energia solar é obtida através de placas de material semicondutor, como o silício, instaladas nos telhados ou áreas externas de residências e indústrias. Pode ser utilizada no aquecimento e produção de energia elétrica. A vantagem é que ela não emite poluentes. A desvantagem é que ela exige grandes investimentos iniciais.

Nas cidades, seu uso vem se intensificando em residências, hotéis, hospitais, clubes e outros, que buscam redução dos custos da eletricidade. Sua captação é realizada por coletores para o aquecimento e por células fotovoltaicas para converter a energia solar em eletricidade.

7- Energia Eólica

A energia eólica pode ser obtida através dos movimentos dos ventos captados por pás de turbinas ligadas a geradores. Ela pode ser utilizada na produção de energia elétrica. A vantagem desse tipo de energia é que ela não emite poluentes.

Sua exploração comercial teve início há mais ou menos na década de 70 quando ocorreu a crise do petróleo e os países europeus começaram a investir em outras formas de energia. No Brasil, o custo da geração de energia através dos ventos é de cerca de US$70 a US$80 por MWh, o que a torna competitiva com a energia nuclear e termoelétrica. Só no nordeste brasileiro o potencial eólico existente é de 6.000 MW, sendo a região brasileira que apresenta o maior po-tencial. Até 2003 a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) havia registrado cerca de 92 em-preendimentos não iniciados para ao aproveitamento de energia eólica que agregariam 6.500 MW a produção nacional de energia elétrica.

O único ponto fraco das turbinas que geram energia através dos ventos é a poluição sonora e a poluição visual. Esta última é menos impactante, e depende mais do ponto de vista particular de cada um. Mas a poluição sonora gerada pelas turbinas, de acordo com a especificação do equipamento, pode inviabilizar a construção destes sistemas muito próximos de regiões habita-das por causar desconforto aos moradores. Entretanto, existem modelos aero geradores de héli-ces de alta velocidade que produzem menor ruído e são até mais eficientes que os modelos de turbinas de múltiplas pás, mais barulhentos.

Compreendendo a importância geopolítica do petróleo

Dando continuidade aos nossos estudos, agora vamos compreender a importância geopolíti-ca do petróleo, tanto para os países chamados de produtores, os quais extraem petróleo nos seus territórios, quanto para os países consumidores, cujas economias dependem da importação do petróleo. Para isso, vamos entender a importância das fontes energéticas para as economias dos países. Há muito tempo, já se sabia que para que houvesse um desenvolvimento econômico

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e social, era preciso desenvolver também as fontes de energia. Então o ser humano passou a buscar fontes de energia que pudessem suprir suas necessidades. Nasce aí a relação de interde-pendência entre o progresso econômico e social, as fontes de energia e as demandas da socie-dade. Assim, quanto mais desenvolvido economicamente é um país, maior é o seu consumo energético. E quanto menos desenvolvido é o país, menor é o seu consumo energético. Observe a figura abaixo e repare como algumas regiões do planeta se destacam pela maior utilização de combustíveis fósseis, especialmente o petróleo, e como essas regiões são justamente as que contêm os países mais ricos do planeta.

Mas nem tudo é tão simples quanto parece. Alguns países, os que consomem mais petróleo do que produzem, precisam importar esse combustível fóssil para poder suprir suas demandas energéticas. É o caso, por exemplo, do Japão, da Alemanha e dos EUA, que precisam importar, respectivamente, cerca de 80%, 60% e 25% do petróleo utilizado em seus países. Há também países que produzem mais petróleo do que o necessário para seus países, o que faz com que se tornem países “exportadores de petróleo”, como é o caso de alguns países do Oriente Médio, como o Kuwait e a Arábia Saudita. Nesse caso específico, produzem, respectivamente, cerca de 665% e 431% a mais do que o necessário para seus países, tornando-os peças-chave no cenário energético mundial (L`État du monde, 2005).

Dessa forma, devido à suma importância do petróleo na economia de vários países, estabe-leceu-se uma tensão entre países produtores e consumidores de petróleo. Vamos contar essa história do começo: Até 1960, sete grandes empresas petrolíferas dominavam o mundo do pe-tróleo, determinando aumento ou redução de preços de acordo com suas conveniências. Eram chamadas de “sete irmãs”, devido aos acordos que faziam para a divisão do mercado mundial e das estratégias que adotavam juntas. Porém, os países produtores, que pouco se beneficiavam com a exploração do petróleo, resolveram mudar esse quadro, e decidiram criar a OPEP – Orga-nização dos Países Exportadores de Petróleo. A OPEP é formada atualmente por doze países: Arábia Saudita, Irã, Venezuela, Emirados Árabes Unidos, Angola, Nigéria, Iraque, Líbia, Kuwait, Argélia, Qatar e Equador. Os objetivos da OPEP era unificação dos preços do barril de petróleo e de cotas de produção, para evitar que uma possível superprodução abaixasse o preço do petró-leo. Com o passar dos anos, essa organização se fortaleceu, e, com a conscientização de que o petróleo é uma fonte de energia não-renovável, os países membros começaram a aumentar os preços dos barris.

O fato dos países membros da OPEP se localizarem no Oriente Médio, uma região marcada por conflitos políticos, religiosos e econômicos faz com que haja oscilações no preço do petróleo. Isso foi constatado entre os anos 1970 e 1990, quando alguns conflitos como a Guerra de Yom Kippur, entre Egito, Síria e Israel (1973), a Revolução Islâmica no Irã (1979), a Guerra Irã-Iraque (1980), Guerra do Kuwait (1990), repercutiram na oferta e no preço do petróleo, levando alguns países a investir em novas fontes de energia para suprir suas necessidades básicas econômicas. Devido a isso, o Oriente Médio, que é responsável por cerca de 60% das reservas de petróleo do mundo, passou a sofrer forte influência externa, que foi e ainda é responsável pelas interferên-cias em alguns regimes de governo da região.

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Analisando a matriz energética brasileira

Depois de conhecermos os tipos de fontes de energia e a questão geopolítica do petróleo, que envolve vários países, chegou a hora de estudarmos o nosso país. Como será que o Brasil produz energia para suprir as necessidades dos vários setores econômicos brasileiros, como o industrial, comercial, de serviços, residencial, etc.? Será que ele investe mais nas fontes renová-veis ou nas fontes não-renováveis? Somos autossuficientes ou não? Para respondermos essas questões, primeiro temos que entender o que é “matriz energética”.

Matriz energética é o conjunto das fontes primárias e secundárias de energia disponíveis, soma-do às formas disponíveis para transformá-las e, também, ao modo como essa energia é usada.

O consumo de energia no Brasil

O Brasil possui um potencial energético privilegiado se comparado ao de muitos outros paí-ses. A utilização de fontes renováveis, como o aproveitamento hidrelétrico, e a obtenção de energia a partir da biomassa (com base em produtos orgânicos de origem vegetal) como fonte primária são expressivas, e a produção de petróleo e gás natural, fontes não renováveis, vem aumentando gradualmente. Observe o gráfico abaixo.

Ao compararmos a matriz energética brasileira com a matriz energética mundial, constata-mos que nosso país está ecologicamente mais correto do que a média mundial, visto que cerca de 43,5% das nossas fontes energéticas são renováveis: hidráulica e eletricidade, lenha, carvão vegetal, produtos da cana-de -açúcar, além de outras, como gás obtido em aterros, subprodutos de plantações diversas, etc.

Porém, nos últimos anos, as fontes renováveis perderam terreno para outras fontes de ener-gia não renováveis, como as termelétricas movidas a carvão ou a gás. A participação das fontes

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renováveis em nossa matriz energética caiu de 44,1 % em 2011, para 43,5% em 2016, enquanto que no mundo ela aumentou sua participação, de 12,9% para 14,1% em 2016.

Em 2011, o Brasil apresentou uma dependência de importação de 8,3% do total da energia consumida no país, destacando-se as importações de carvão mineral e derivados de petróleo e de energia elétrica do Paraguai, que é sócio do Brasil na usina de Itaipu.

Para atingir a autossuficiência energética, são necessários investimentos na produção, trans-missão e distribuição, além de modernização dos sistemas de transporte urbano, de cargas e da produção industrial, visando à diminuição de consumo nesses setores. Como vimos, 44,1% do consumo total de energia é obtido no Brasil de fontes renováveis: hidráulica e eletricidade, le-

nha, carvão vegetal, produtos da cana- -de -açúcar, além de outras, como gás obtido em aterros, subprodutos de plantações diversas, etc. É o que se observa nos gráficos a seguir, nos quais fica

evidente que os maiores consumidores de energia são os setores industrial e de transportes.