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IDENTIFICAÇÃO DE AREAS DESMATADAS NO CERRADO
BRASILEIRO COM AVANÇO DA AGRICULTURA.
IDENTIFICATION OF AREAS CLEARED IN ADVANCE WITH BRAZILIAN SAVANNAH AGRICULTURE
SANTANA¹, Márcia Nayane ¹ Graduanda do Curso Tecnológico em Gestão Ambiental. [email protected] RESUMO O presente trabalho consiste em apresentar dados referentes às áreas desmatadas decorrentes do avanço das atividades da agricultura no decorrer das décadas de 1980 a 2009. Para tanto, estudos sobre a ocupação do cerrado enfatizando alguns aspectos sócio-econômicos e políticos que sugerem entendimento de como se deu a configuração territorial nessas áreas, e quais foram suas implicações mediante a inserção de políticas governamentais atreladas ao II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975), como o Programa para o Desenvolvimento do Cerrado (POLOCENTRO), Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER). Conseqüentemente, desde a década de 1970, os solos dos cerrados vêm passando por processo degratativos via implementação de técnicas importadas que foram sendo introduzidas na agricultura brasileira. Isso reduziu drasticamente as áreas de vegetação nativa, colocando em risco a sobrevivência de várias espécies, devido ao não uso sustentável de seus recursos naturais. Atualmente, o cerrado ainda vem sofrendo todo tipo de agressões provinientes das práticas antrópicas, induzidas pelo poder econômico, na procura de aumento de áreas para a expansão da agricultura. Metodologia utilizada consistiu em revisão da literatura que aborda sobre o assunto, na utilização de imagens de satélite, consulta eletrônicas a órgãos oficiais, programas computacionais tais como Word, Arcgis, Envi, Excell. Os dados obtidos foram catalogados, organizados e sistematizados e representados em tabelas e gráficos. Conclui-se que nas regiões sudeste, sudoeste e noroeste, onde são encontradas as áreas de maior representatividade territorial, quanto ao desmatamento e desenvolvimento agrário. Palavras-chave: Cerrado, Desmatamento, Agricultura Brasileira, Geoprocessamento. ABSTRACT The present work is to present data on deforested areas arising from the progress of the activities of agriculture during the decades from 1980 to 2009. Thus, studies on the occupation of some cerrado emphasizing socio-economic and political understanding as to suggest was the territorial configuration in these areas, and what were its implications on the integration of government policies linked to the National Development Plan II (1975) and the Program for the Development of the Cerrado (POLOCENTRO), Program for Japanese-Brazilian Cooperation for the Development of the Cerrado (PRODEC). Consequently, since the 1970s, the soils have been closed through the process degratativos track implementation of techniques that have been imported introduced in Brazilian agriculture. This drastically reduced the areas of native vegetation, placing at
risk the survival of many species due to non-sustainable use of natural resources. Currently, the cerrado is still suffering every kind of human aggression provinientes practice, influenced by the economic power in areas of increased demand for the expansion of agriculture. Methodology was to review the literature on the subject it addresses, the use of satellite images, consult the official electronic, computer programs such as Word, Arcgis, Envi, Excel. The data were cataloged, organized and systematized and represented in tables and graphs. It is concluded that in regions southeast, southwest and northwest, where they found the areas of territorial representation, as the deforestation and agricultural develompmente. Key words: Savannah, Deforestation, Brazilian Agriculture, Geoprocessing. INTRODUÇÃO
Os estudos sobre a ocupação dos cerrados enfatizam alguns aspectos sócio-
econômicos e políticos, que sugerem entendimento de como se deu a configuração da
região e quais foram suas implicações mediante a inserção de políticas governamentais,
principalmente na região central do pais, como o Polocentro – Programa para o
Desenvolvimento do Cerrado e o Prodecer – Programa de Cooperação Nipo-Brasileira
para o Desenvolvimento do Cerrado, além de projetos introduzidos de forma inadequada
e impostos a região, desconsiderando o seu potencial econômico natural,
descaracterizando a fragilidade da estrutura genética das espécies, ocasionando
degradações, muitas vezes, irreversíveis. Resultaram alterações significativas na
interação do homem e o meio.
O Cerrado é um dos ‘hotspots’ para a conservação da biodiversidade mundial.
Nos últimos anos mais da metade dos seus 2 milhões de km² originais foram degradados
para cultivos de pastagens plantadas e culturas anuais, o mesmo possui a mais rica flora
dentre as savanas do mundo (>7.000 espécies), com alto nível de endemismo. Contendo
uma grande riqueza de espécies de aves, peixes, répteis, anfíbios e insetos, embora a
riqueza de mamíferos seja relativamente pequena, mesmo assim as taxas de
desmatamento no Cerrado têm sido historicamente superiores às da floresta Amazônica e
o esforço de conservação do bioma é muito inferior ao da Amazônia: apenas 2,2% da
área do Cerrado se encontram legalmente protegida. Entretanto as principais ameaças à
biodiversidade do Cerrado são a erosões dos solos, as degradações dos diversos tipos de
vegetação presentes no bioma e a invasão biológica causada por gramíneas de origem
africana. O uso do fogo para a abertura de áreas virgens e para estimular o rebrotamento
das pastagens também é prejudicial, embora o Cerrado seja um ecossistema adaptado ao
fogo. Mesmo assim á estudos que comprovam que uma alteração na cobertura vegetal
altera a hidrologia do bioma e afetam a dinâmica e os estoques de carbono no
ecossistema.
O clima dessa região é estacional, onde um período chuvoso, que dura de
outubro a março, é seguida por um período seco, de abril a setembro. A precipitação
média anual é de 1.500mm e as temperaturas, são geralmente amenas ao longo do ano,
entre 22°C e 27°C em média. Os remanescentes de Cerrado que existem nos dias de hoje
desenvolveram-se sobre solos muito antigos, intemperizados, ácidos, depauperados de
nutrientes, mas que possuem concentrações elevadas de alumínio (muitos arbustos e
árvores nativos do Cerrado acumulam o alumínio em suas folhas – Haridasan, 1982).
Para torná-los produtivos para fins agrícolas, aplicam-se fertilizante e calcário aos solos
do Cerrado. A pobreza dos solos, portanto, não se constituiu em obstáculo para a
ocupação de grandes extensões de terra pela agricultura moderna, especialmente a cultura
da soja, um dos principais itens da pauta de exportações do Brasil, e as pastagens
plantadas.
Portanto, o problema da degradação dos recursos naturais vem ocorrendo em
ritmo acelerado que algumas regiões já se encontram em estado caótico, apresenta a
destruição de ecossistemas naturais e, conseqüentemente, comprometendo a
biodiversidade, a qualidade de vida do próprio homem e o desenvolvimento econômico.
Desde da década de 70, a região do cerrados vêm passando por processos degradativos
via a implementações de técnicas importadas que foram sendo introduzidas na agricultura
brasileira e outras. Isto reduziu as áreas de vegetação nativa, colocando em risco prévio a
extinção de várias espécies nativas. Devido ao não uso-sustentável de seus recursos
naturais e outras atividades realizadas inadequadamente, comprometendo-o por inteiro.
E a região dos cerrados não foge desta dinâmica, pois atualmente, vem sofrendo todo tipo
de agressões provenientes das práticas antrópicas, devido ao poder econômico, na
procura de maiores extensões de áreas para as diversas atividades dentre eles agricultura
sem atestar para os grandes impactos ambientais posteriores.
A temática ambiental vem tentando ao longo dos anos buscar alternativas com
intuito de conservar e preservar os recursos naturais. Tanto é que este processo muitas
vezes resulta em conflitos de interesses entre a conservação da natureza, a população
local e o próprio planos regionais, implementados por políticas públicas.
Ressalta-se que as atividades da agricultura intensiva brasileira iniciaram-se
nas regiões sul e sudeste e, que posteriormente essas regiões enfatizam em estado de
esgotamento de terras, as quais propiciaram essa atividade migrar para as áreas do
Centro-Oeste do País, caracterizadas por cerrado. Isto ocorreu devido tanta a sua posição
geográfica quanto a suas características físico-ambientais que propiciaram a expansão
agrícola moderna baseada na tecnologia da “Revolução Verde”.
Dessa forma, de modo geral, a proposta deste trabalho pretende mostrar de
maneira cartográfica as áreas desmatadas no cerrado devido ao avanço das atividades
agrícolas. Para tanto, procedeu-se de levantamento e revisão bibliográfica em livros,
revista e artigos científicos, alguns mapas do IBGE, imagens do satélite MODIS do ano
de 2002.
METODOLOGIA
Um estudo recente,que utilizou imagens do satélite MODIS do ano de 2002,
concluiu que 55% do Cerrado já foram desmatados ou transformados pela ação humana
(Machado et al., 2004a), o que equivale a uma área de 880.000km², ou seja quase três
vezes a área desmatada na Amazônia brasileira. As taxas anuais de desmatamento
também são mais elevadas no Cerrado: entre os anos de 1970 e 1975, o desmatamento
médio no Cerrado foi de 40.000km² por ano – 1,8 vezes a taxa de desmatamento da
Amazônia durante o período 1978–1988 (Klink & Moreira, 2002). As taxas atuais de
desmatamento variam entre 22.000 e 30.000km² por ano (Machado et al., 2004a),
superiores àquelas da Amazônia.
A partir da necessidade de se mapear a cobertura vegetal nativa do Cerrado,
foram utilizadas imagens de satélite do sensor MODIS (Moderate Resolution Imaging
Spectroradiometer) que está instalado a bordo de dois satélites americanos lançados em
2000: Terra e Aqua. Esse sensor fornece imagens com resolução espacial de 250, 500 e
1.000 metros e com uma resolução espectral variando de 620 nanômetros a 14.385
micrômetros, num total de 32 bandas. As imagens podem ser geradas com uma
freqüência quase que diária e cobrem uma vasta área geográfica (aproximadamente 2.300
x 2.300 km). Desta forma, apenas seis imagens cobrem toda a área central do Cerrado
(Figura 3 e Figura 4), o que torna essa fonte de informações espaciais muito atrativa para
o monitoramento de grandes regiões geográficas. Maiores detalhes sobre as
características do satélite, das imagens e da disponibilidade podem ser obtidas em
http://modis.gsfc.nasa.gov/.
Embora existam outras iniciativas de mapeamento da cobertura vegetal (Eva
et al. 2002, Hodges 2002) (Figura 5), esse trabalho representa uma das primeiras
iniciativas de mapeamento de um bioma específico de uma maneira mais precisa do que
os trabalhos globais.
Um mosaico de imagens MODIS obtidas entre abril e agosto de 2002 foi feito
para toda a área core do Cerrado (Figura 2). Um total de 9 imagens do tipo MOD43b4
(h12v9, h13v9, h14v9, h12v10, h13v10, h14v10, h12v11, h13v11, h14v11) foram
utilizadas na construção do mosaico, que tinha a resolução espacial de 1 km 1 km
(dimensão de cada célula da imagem). Apenas a área core de Cerrado foi considerada nas
análises. Por problemas no imageamento do sensor, a banda 5 (infra-vermelho médio) foi
substituída pelo NDVI (índice normalizado de vegetação) gerado com a combinação das
bandas 1 e 2 do MODIS. Uma vez que as imagens MODIS já vêm geo-referenciadas, nós
simplesmente reprojetamos o mosaico para o sistema lat/long.
Foram definidas seis classes temáticas baseadas na sensibilidade do sensor, no
conhecimento de campo e nas análises de imagens LANDSAT disponíveis. As classes
utilizadas foram: Áreas antrópicas sem cobertura de vegetação nativa; Áreas naturais em
terrenos nunca inundados; Áreas naturais em terrenos sazonalmente ou permanentemente
inundados; Água; Superfícies naturalmente sem vegetação nativa; Áreas não classificadas
A classificação do mosaico de imagens foi do tipo supervisionada (Mather
1987, Richards 1993), onde conjuntos de pixels (células) correspondentes às classes
citadas acima foram selecionados para a extração de alguns parâmetros estatísticos.
Utilizamos a rotina de classificação por máxima verossimilhança (MAXLIKE) e o
programa Imagine ERDAS (versão 8.6). Uma vez que não foram realizados trabalhos de
campo para a verificação da precisão da classificação, optamos simplesmente por fazer
uma inspeção visual do resultado, comparando-o com imagens Landsat ETM disponíveis
para algumas regiões onde a Conservação Internacional tem atuação.
Figura 1. Mapa de vegetação do Brasil (adaptado de IBGE 1993) mostrando a área
central do bioma do Cerrado e encraves em outros biomas (na cor laranja) e as áreas de
tensão ecológica ou áreas de transição existentes nas áreas de contato dos biomas (na cor
cinza).
Figura 2. Área central do Cerrado no Brasil. Adaptado de IBGE (1993).
Figura 3. Órbitas e passagens dos satélites Terra e Aqua no Brasil.
Figura 4. Mosaico de imagens do sensor MODIS para o Brasil (composição bandas 6 –
canal vermelho, 2 – canal verde e 1 – canal azul). As imagens possuem uma resolução
espacial de 1 km e são de agosto de 2002.
Figura 5. Mapeamento da cobertura vegetal realizada.
Figura 6. Mapa resultante da classificação das imagens MODIS mostrando as áreas
desmatadas na parte central do Cerrado e os principais blocos remanescentes de
vegetação nativa.
Figura 7. Representação da estimativa de cobertura vegetal nativa do Cerrado elaborada
por Mantovani e Pereira (1998). Cada quadrícula da figura significa uma cena do satélite
LandSat, onde estão representadas as variações na porcentagem de cobertura.
Figura 8. Evolução da produção e da área plantada de soja no Cerrado, de acordo com dados da
FNP Consultores – Agrianual 2003.
REERENCIAL TEORICO
O cerrado constitui o segundo maior sistema biogeográfico e
morfoclimático do Brasil e da América do Sul, que ocupava originalmente mais de 200
milhões de hectares e foi reduzido a cerca de 55%, estendendo atualmente fragmentado.
Esta fragmentação faz parte da diferença estabelecida no Código Florestal onde trata-se
os diferentes biomas brasileiros: enquanto é exigido que apenas 20% da área dos
estabelecimentos agrícolas sejam preservadas como reserva legal no Cerrado, nas áreas
de floresta tropical na Amazônia esse percentual sobe para 80%.
Abriga um rico patrimônio de recursos naturais renováveis que se adaptaram
às difíceis condições climáticas, edificas e hídricas que determinaram sua própria
existência. Entretanto, apesar de suas restrições à agricultura, nas últimas décadas às
diversas fitofisionamias do cerrado foram sacrificadas com a nova fronteira agrícola do
país, a ponto de já serem atualmente uma das maiores regiões produtoras de grãos do
Brasil e serem reconhecidas como a última grande fronteira agrícola do mundo. O
cerrado corresponde a uma das áreas prioritárias para a conservação (DIAS, 1996).
Com a ocupação do cerrado, no início da década de 70, com o incentivo
governamental e adoção de mecanização, a vegetação nativa começou a ser derrubada.
Essa ocupação proporcionou uma gradativa mudança de paisagem, principalmente na
cobertura vegetal (ALMEIDA, et al., 1998).
Essas modificações estão vinculadas ao processo de expansão das fronteiras
de ocupação no Brasil que tem se dado, predominantemente, através do deslocamento de
força trabalho, num movimento intensivo e desordenado que, infelizmente, não poupou a
região Central do Brasil, ao contrário, tornou-se e foi alvo de políticas governamentais
que incentivaram sua ocupação. A cobertura e o melhoramento das rodovias
proporcionaram um maior fluxo migratório para essa região, e conseqüentemente, a
morte de animais silvestres, vítimas de atropelamentos nas estradas e de reduções de sues
territórios, além de aumentar a demanda por terras, trabalho etc, que exerceram e ainda
exercem forte pressão sobre os remanescentes.
A utilização de insumos agrícolas permitiu o melhoramento do solo de áreas
antes consideradas improdutivas que chegou de forma intensiva por vezes interferindo
violentamente em ambientes complexos e poucos conhecidos. O aumento da população
refletiu-se no crescimento desordenado dos centros urbanos, que pela falta de
planejamento, não conseguiram evitar o lançamento in natura” do esgoto doméstico e
industrial, nos cursos d’água. O desmatamento desses ambientes acelerou a erosão e o
empobrecimento dos solos.
Em geral, a ocupação do cerrado considerando seus recursos naturais, aponta
como determinantes para o recente modelo de desenvolvimento adotado e também como
potenciais para o de exploração, onde entre outros fatores, a diversificação da produção
com a valorização dos recursos naturais existentes, dentro de uma visão sistêmica, são
valorizados.
Rosa (1998) relata a pouca atenção que tem sido dispensado aos recursos
naturais esgotáveis onde o cerrado tem sido tratado apenas como uma área potencial para
produção de grãos, sem considerar as suas particularidades climáticas e do solo e a sua
diversidade florística e faunística, as quais, se melhor estudadas, poderiam apontar para
alternativas de exploração menos agressivas e mais interativas com o meio.
Assim, seja por sua extensão, sua importância como fronteira de exploração agropecuária
ou pela sua biodiversidade, o cerrado brasileiro ocupara lugar de destaque no cenário
nacional. Sua ocupação e exploração têm se dado de forma desordenada, muitas vezes
importando modelos tecnológicos que não consideram sequer a fragilidade desse
ecossistema pouco conhecido. A facilidade de investimento por parte de órgãos
governamentais e a intensa propaganda por parte de empresas nacionais ou
internacionais, com interesse na exploração intensiva das áreas, contribuíram para o tipo
de exploração existente na região (ROSA, 1998).
DISCUSSÒES e RESULTADOS
Considerando a resolução das imagens utilizadas (1 km x 1 km) e a falta de
verificação em campo, os resultados apresentados devem ser encarados com ressalva. Um
dos problemas que visualmente chamam a atenção é a tendência de superestimação das
áreas nativas, a despeito do cuidado tomado para a delimitação das áreas de treinamento
durante a fase inicial de classificação. Em algumas regiões do mapa resultante (Figura 6),
grandes blocos de vegetação nativa se destacam, em especial para as regiões central e
oeste do estado de Minas (na área da Serra da Canastra), no oeste da Bahia, norte de
Goiás, sul do Maranhão e Piauí e na região da Ilha do Bananal (estado de Tocantins). Em
outras situações, onde a ocupação humana é discreta ou a cobertura vegetal é muito
esparsa (como no leste do Mato Grosso do Sul e no Triângulo Mineiro), também houve
uma superestimação da cobertura vegetal. Assim, o resultado obtido com a classificação
das imagens MODIS pode ser encarado como um indicador de regiões ou localidades
onde há uma predominância da vegetação de cerrado.
A despeito dessa situação, as imagens MODIS representam atualmente o meio
mais rápido e mais barato (as imagens são distribuídas gratuitamente) para se mapear
grandes extensões, aspecto que também era objeto de avaliação desse estudo.
Com base nos resultados, calculamos que a área já desmatada para o Cerrado até
o ano de 2002 era de 54,9% da área original (cerca de 1,58 milhões de hectares). Apesar
do problema da superestimação mencionado acima, pode-se perceber que as áreas com os
mais expressivos blocos de vegetação nativa correspondem às seguintes regiões: Serra do
Espinhaço, no centro-leste do estado de Minas Gerais; Serra da Mesa em Goiás e norte
do Distrito Federal; Região da Ilha do Bananal, na planície do rio Araguaia; Oeste do
estado da Bahia e Sul dos estados do Piauí e Maranhão
As três primeiras regiões citadas acima correspondem àqueles locais onde as
características do terreno (grande declividade, solos pouco profundos ou sujeitos à
inundação periódica) representam um impeditivo à implantação de grandes projetos de
agricultura que, como será visto mais adiante, representam uma grande ameaça
atualmente ao Cerrado. As duas últimas regiões destacadas acima (oeste da Bahia e sul
do Piauí e Maranhão) representam aqueles locais onde existem boas condições de
ampliação das áreas de agricultura, mas a falta de infra-estrutura básica ainda é um fator
impeditivo.
Por outro lado, as grandes áreas desmatadas que se destacam no mapeamento
realizado correspondem ao estado de Goiás, leste do Mato Grosso do Sul, centro do
Tocantins, extremo oeste da Bahia e Triângulo Mineiro. Nessas regiões a ocupação
humana já está bastante consolidada e aparentemente foi motivada pela implantação de
pastagens para a criação de gado de corte, conforme sugerido por Dias (1994).
Segundo (MACHADO, 2004) Talvez a primeira tentativa de avaliar o tamanho da
área perdida do Cerrado tenha sido compilada por B.F. Dias (Dias 1994), quando foram
organizados dados de fontes diversas (IBGE, IBAMA e INCRA). Os dados utilizados
indicaram que em 1985, a área do Cerrado convertida em paisagem antropizada chegava
a 37% da área original do bioma. As estimativas de Dias (1994) também sugeriam que
um total de 56% do Cerrado correspondia a ‘paisagens naturais manejadas’, sendo que
nessa categoria enquadra-se com maior importância a criação extensiva de gado de corte.
Naquela época, as áreas extensivas de plantio (excluindo-se as áreas de reflorestamento)
representavam apenas 7,4% da área desmatada.
Em 1998, o Ministério do Meio Ambiente - MMA com o apoio do Banco Mundial
- GEF iniciou a realização de uma seqüência de seminários voltados para a identificação
das áreas e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade brasileira (MMA
2002). O Cerrado foi o primeiro bioma brasileiro a ser avaliado de uma forma global com
o objetivo de elaborar um diagnóstico da sua situação. Com o advento do Seminário,
Mantovani e Pereira (1998) elaboraram um estudo preliminar objetivando a identificação
do estado da cobertura vegetal nativa no Cerrado.
O estudo foi baseado na análise de imagens Landsat que cobriram todo o Cerrado e
Pantanal, num total de 144 cenas (Figura 7). Cada uma dessas cenas, que cobrem uma
área de 185x185 km, foi dividida em 100 quadrículas (com um tamanho aproximado de
34.000 ha), para que fosse realizada uma inspeção visual da situação das áreas
remanescentes. Foi adotada uma escala de percentagem de cobertura, incluindo as classes
‘não cerrado’ (áreas desmatadas), ‘cerrado não antropizado’ (áreas nativas em bom
estado de conservação), ‘cerrado antropizado’ (áreas nativas com algum grande de
alteração ambiental) e ‘cerrado fortemente antropizado’ (áreas nativas muito alteradas).
Nessa escala de porcentagem vemos que as áreas desmatadas ou não cerrados são de
49,11%, cerrado não antropizado 16,77%, cerrado antropizado 17,45%, fortemente
antropizado 16,72.
Com a analise deste trabalho e de outros autores como (Dias 1994, Mantovani e
Pereira 1998) veremos que as estimativas entre o período de 1985 e 1993 (considerando a
data das imagens utilizadas por Mantovani e Pereira 1998), a perda da área do Cerrado
foi, em média 1,5% ao ano. A essa taxa de conversão, seria esperado que o Cerrado
venha a perder aproximadamente 3 milhões de hectares ao ano, se considerarmos a área
original de 2,045 milhões de quilômetros quadrados.
Entre o período de 1993 e 2002, a taxa média de desmatamento do Cerrado foi um
pouco menor, com uma média de 0,67% ao ano. Com esse valor, a perda anual do
Cerrado seria de 1,36 milhões de hectares ao ano, também se considerando uma área
original de 2,045 milhões de quilômetros quadrados. Uma estimativa mais conservadora
seria obtida quando se utiliza uma taxa que representa a média dos dois períodos
considerados (entre 1985 e 1993 e entre 1993 e 2002). Essa taxa média seria de
aproximadamente 1,1% ao ano, um numero que representa uma perda anual de 2,2
milhões de hectares para o Cerrado, caso as políticas públicas continuem sendo
conduzidas de forma antagônica.
Com isso a perspectiva, a conservação do Cerrado fica quase impossível, pois por
um lado o Ministério do Meio Ambiente - MMA trabalha para que o porcentual de áreas
protegidas no Cerrado aumente para um patamar maior (hoje as unidades de conservação
representam 2,2% da área original do Cerrado (Rylands et al., no prelo), o Ministério da
Agricultura trabalha com uma perspectiva de utilização de aproximadamente 100 milhões
de hectares adicionais para a expansão da agricultura.
Baseando nisso pode, considerar uma retirada anual de 2,215 milhões de hectares
(assumindo uma taxa conservativa de 1,1% ao ano), considerando a existência de 34,22%
de áreas nativas remanescentes (baseado na estimativa dada por Mantovani e Pereira
[1998] para as classes ‘cerrado não antropizado’ e cerrado ‘antropizado’) e considerando
que as unidades de conservação (que representam 2,2% do Cerrado) e as terras indígenas
(que representam 2,3% do Cerrado) serão mantidas no futuro, seria de se esperar que o
Cerrado desaparecesse no ano de 2030.
CONCLUSÃO
Conforme foi descrito no presente trabalho a degradação do Cerrado teve
diversas origens, mas a sua principal fonte de degradação foi os planos de
desenvolvimento imposto pelo governo na década de 70, isso ocasionou diversas
maneiras de ocupação do solo e ameaça a biodiversidade do bioma.
Nesse pretexto a agricultura tornou-se a grande vilã, principalmente o cultivo
de soja no Cerrado revela-se em grande destaque de acordo co a figura 8 vemos que a
evolução de área plantada de 1995 a 2002 chega a ser surpreende o aumento da plantação
para acompanhar a produção.
Dados obtidos no banco de dados do IBGE (Sidra – disponível em
http://www.ibge.gov.br) indicam que a área ocupada pela cultura da soja tem aumentado
enormemente no país (Figura 9). De acordo com o anuário estatístico do agronegócio
(Agrianual de 2003), mesmo considerando que a tecnologia tem aumentado a
produtividade, que passou de aproximadamente 2,5 toneladas por hectare em 1995 para
2,9 toneladas por hectare em 2002 , a área plantada tem aumentado em uma proporção
muito maior. A área destinada ao plantio da soja praticamente dobrou de tamanho,
indicando que o bom momento do mercado pode estar atraindo cada vez mais
empreendedores para a atividade.
Essa tendência de aumento pode ser vista também em regiões localizadas na
fronteira agrícola. Nessas áreas percebe-se que a introdução da soja pode mudar em
pouco tempo a realidade local.De forma que, culturas tradicionais como a mandioca,
tipicamente associada a pequenas propriedades, tem decaído ao longo do tempo. O dado
ilustra que as culturas tradicionais devem estar cedendo lugar para modernas culturas
mecanizadas como a soja, algodão, milho, milheto, sorgo e girassol.