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Roberto Cardoso de Oliveira (1928 - 2006) Paulistano, formado em filosofia pela USP, Cardoso de Oliveira declarou ter entrado “por acaso” na antropologia. Logo após concluir seu bacharelado, assistiu a conferência “A situação do Índio brasileiro”, organizada por Darcy Ribeiro. Ficou amigo de Darcy e foi convidado a trabalhar no Serviço de Proteção ao Índio (SPI), no Rio de Janeiro. Em 1954, foi admitido no Museu do Índio, criado pelo SPI. Em 1955, Roberto experiencia, pela primeira vez, o trabalho de campo, completando sua passagem para a antropologia. Entre os Terêna, no Mato Grosso do Sul, Roberto trabalha a questão da assimilação deste grupo indígena na sociedade nacional brasileira. Publica, então, em 1960,

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Identidade Etnia e Estrutura Social

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Page 1: Identidade RCO Final

Roberto Cardoso de Oliveira (1928 - 2006)

Paulistano, formado em filosofia pela USP, Cardoso de Oliveira declarou ter entrado “por acaso” na antropologia. Logo após concluir seu bacharelado, assistiu a conferência “A situação do Índio brasileiro”, organizada por Darcy Ribeiro. Ficou amigo de Darcy e foi convidado a trabalhar no Serviço de Proteção ao Índio (SPI), no Rio de Janeiro. Em 1954, foi admitido no Museu do Índio, criado pelo SPI.

Em 1955, Roberto experiencia, pela

primeira vez, o trabalho de campo, completando

sua passagem para a antropologia. Entre os

Terêna, no Mato Grosso do Sul, Roberto

trabalha a questão da assimilação deste grupo

indígena na sociedade nacional brasileira.

Publica, então, em 1960, “O processo de

assimilação dos Terêna”.

Page 2: Identidade RCO Final

Doutorou-se em Ciências na Universidade de São Paulo em 1966.

Realizou estágio pós-doutoral no Departament of Social Relations da

Universidade de Harvard, EUA, entre 1971 e 1972. Participou

ativamente na implementação de políticas voltadas para o

desenvolvimento da Antropologia no país: criou cursos, fundou

revistas, gerou programas de pesquisa. Sua trajetória no ensino da

Antropologia foi marcada por procedimentos que lançaram as bases

do caminho a ser trilhado pelos novos antropólogos brasileiros. Sua

ativa participação em agências de incentivo, de financiamento de

pesquisa e associações científicas foi fundamental para a

implementação de políticas voltadas para o desenvolvimento da

Antropologia no país.

Page 3: Identidade RCO Final

“Identidade, etnia e estrutura social”, o sexto livro de Roberto Cardoso de Oliveira, foi publicado em 1978 e explana os principais conceitos trabalhados pelo autor, como etnia, identidade étnica e fricção interétnica.

Apresentaremos, nos slides que seguem, os tópicos principais dos capítulos um e dois.

Page 4: Identidade RCO Final

Capítulo 1

Identidade étnica, identificação e manipulação

Objetivo: “discutir o conceito de identidade étnica, descrever algumas modalidades de sua constituição e examinar as possibilidades de sua explicação para, finalmente, sugerir sua

relevância para a investigação das relações interétnicas”

Page 5: Identidade RCO Final

Como propõe Barth, entende grupo étnico não como uma unidade

portadora de cultura, mas como um tipo organizacional (organizational type).

Inicia, assim, sua argumentação pela qual critica a teoria d aculturação,

decorrente, na época, ao culturalismo da antropologia norte-americana. Segundo uma definição concensual, um grupo étnico tem quatro características:

perpetua-se biológicamente; “compartilha valores culturais fundamentais”, característica a qual,

segundo Barth, não deveria ser considerada de central importância, mas sim uma implicação, um resultado;

“compõe um campo de comunicação e interação”; identifica-se e é identificado como constituinte de uma de uma categoria

que se distingue de outras categorias da mesma ordem.

Page 6: Identidade RCO Final

Continuando sua crítica ao culturalismo, o qual se concentra nas diferenças entre traços culturais, Cardoso de Oliveira problematiza:

“Até onde esse critério dá conta da persistência da identificação étinica de pessoas e grupos, quando praticamente não se 'observam' traços culturais manifestos diferenciais?”

Concentrando-se no que socialmente efetivo – grupo étnico como forma de organização social, preferencialmente do que em termos culturais.

Page 7: Identidade RCO Final

Duas dimensões de identidade: pessoal e social

Interconectadas e situadas em diferentes níveis de realização

Identidade constrativa: pertence ao âmbito das relações interétnicas – Surge pela oposição nós/ outros. Identidade étnica em situação de contato Fricção interétnica

Relação entre identidade e valor. Segundo Erickson, identidade e iseologia seriam dois aspéctos do mesmo processo.

Relação de status entre cada relaão culturalmente possível; identidade étnica como uma categoria semelhante a papel ( F. K. Lehman)Em contexto de fricção interétnica, “as relação se dão em termos de dominação e sujeição, (...) na media em que implica o confronto com outra(s) identidade(s) e a(s) apreende num sistema de representações de conteúdo ideológico”

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Identificação em contextos intertribais:

Casos de regiões interculturais

Alto Xingu (Manget) – categorias intertribais, pelas quais afirmam suas respectivas identidades; organizational types

Chaco- zona de intensa colonização secular, com sistemas de relações intertribais de menor operacionalidade;

Manipulação de identidades – exemplo Layâna e Terêna

Minoria étnica

Identidade étnica/ grupo étnico

Identidade histórica

Surrendered Identity: “uma identidade latente que é renunciada como método e em atenção a uma práxis ditadas pelas circunstãncias, mas que a qualquer momento pode ser atualizada, invocada”

Caso limite

Estigmatização: meio de remover minorias de uma competição

Page 9: Identidade RCO Final

A identificação no confronto com os brancos

Crítica à antropologia americanisca, que se refere apenas ao contato do conquitador europeu com as populações aborígenes quando usa o termo relações interétnicas e deixa de lado a relação com os grupos negros.

Relações entre etnias de escalas diversas, implicam em:

Hierarquia de status

Estrutura de classes

No meio rural: índios identificados como camponeses No meio urbano: identificados como trabalhadores

braçais Como se fosse um colonialismo interno, a relação entre brancos e índios é

de dominação e sujeição e a identificação étnica é alcançada por manipulações de regras sociais

Page 10: Identidade RCO Final

Caboclismo – evitar a identificação tribal

Identidade negativa – uma consciência negativa de si, pelas constínuas situações de descriminação

Categoria abstrata “índio”

Ideia romântica de índio

Verdadeiros índios

Índio decadente/ bugre

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Possibilidades de explicação

Modos de identificação: pertencem à ordem discurso ideológico.

Estudo intensivo de uma ideologia étnica

Conjunto articulado de modos de identificação no interior de um sistema de valores

Cultura

Valores – pontos de vista dos agentes

um padrão de “perceber, crer, avaliar e agir” (Goodenough)

Sistema interétnico

“Cultura de contato” em lugar de “Sistema intercultural”, a qual permite perceber como coexistem diferentes valores, assim como os mecanismos de identificação étnica.

Mais do que um sistema dinâmico de valores, é um conjunto de representações da situação de contato

Gramaticidade das identidades sociais (Goodenough)

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Três tipos de situação de contato:

Unidades étnicas relacionadas simetricamente (Xingu)

Unidades assimétricas e hierarquicamente justapostas (Chaco)

Unidades étnicas relacionadas assimétricamente, sob um sistema de dominação e sujeição

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Capítulo II – Um conceito antropológico de identidade

Relação entre identidade e ideologia

Segundo Erickson, são dois aspéctos do mesmo processo;

Maior maturação individual

Identidade inclusiva; solidariedade ligando identidades.

Concepção egocêntrica de identidade Identidade social ou psicossocial – ideologia como

condição desta identidade Ideologia como um sistema, “ um corpo coerente de imagens, ideias e

ideais compartilhados que, seja baseado num dogma formulado, numa Weltanschauung implícita, numa altamente estruturada imagem do mundo, num credo político ou mesmo num credo científico (especialmente se aplicado ao homem), ou num modo de vida, provê os participantes de uma orientação coerente e total, ainda que sistematicamente simplificada, no espaço e no tempo, nos meio e nos fins” (Erickson)

Identidade – representação de si que pode ser inclusa a este corpo coerente de imagens e ideias compartilhadas.

Identidade social como ideologia e forma de representação coletiva

Page 14: Identidade RCO Final

Ideologia, crença e representações coletivas

Objeto de uma sociologia do conhecimento – o senso comum gerado pela realidade social cotidiana, as representações ideológicas da experiênia vivida.

Ideologia – presente nas ações, não se separa da experiência vivida.

Função contrária à da ciência: reconstruir, em um plano imaginário, um discurso relativamente coerente ao que é vivido; dar forma às representações

É um saber organizado diferente da ciência. Pode, assim, ser consciente ou inconsciente

Representação coltiva – difere-se de ideologia, na medida em que é sempre inconsciente, desprovida do carater sistêmico inerente ao discuro ideológico.

Referência a Durkheim: inconsciência devida ao acumulo de saber por gerações. As representações coletivas são como um “ser social” irredutível apreendido fragmentariamente.

Crença coletiva – o ser consciente como principal característica

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Relação entre crença e reprentação coletiva

Lèvi-Strauss: crença no Xamã – gramaticalidade do sistema social dependente da atualização da categoria Xamã. A legitimação nos poderes de um Xamã, torna-se possível por meio de um substrato cultural constituído por certas representações coletivas.

Nicole Belmont: a morte aos pés do condenado à morte – mostra uma variedade de crenças populares (conscientes) que se articulam em torno de representações coletivas (inconscientes)

As representações coletivas são subjacntes às crenças às quais conferem eficácia, enquanto as crenças conferem uma atualização às representações.

Desafagem a nível simbólico: “a crença tem por função representar a representação” (Belmont).

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Identidade étnica como ideologia

Identidade:

Emerge da dialética entre indivíduo e sociedade, sendo formada por processos sociais - os quais são determinados pela estrutura social -, mantida e remodelada pelas relações sociais (Berger & Luckmann)

Tipos de identidade social

Relações de identidade (Goodenough)

Pelo menos duas identidades combinadas – relações de identidades gramaticais

Em um sistema interétnico – gramaticalidade das relações de indentidade em função das etnias em contato

Caboclo/ civilizado: gramaticais

Caboclo/ teku (nome do clã) – não gramaticais

Page 17: Identidade RCO Final

Natureza ideológica da identidade étnica: as ideias organizadoras não se encontram a nível consciente, mas ao nível do inconsciente coletivo.

Ao identifcar-se como caboclo, dá forma às representações negativas expressas no discurso dos brancos, carregado de preconceitos e esteriótipos.

Ideologia étnica de um momento de contato.

O etnocentriscomo como inerente à identidade ética pela incapacidade universal que a ideologia étnica tem de se relativizar.

Conclusões:

“A identidade étnica, como uma forma ideológica de representações coletivas, pode ser surpreendida na crista de uma crise, seja de uma 'identidade psicossocial' (…), seja de uma sociedade indígena”;

Caboclo- categoria social resultante desta crise;

Identidade étnica como identidade crítica – denuncia, por sua própria alienação, as condições dramáticas do contato interétnico.

Peculiaridade do conceito antropológico de identidade: representações coletivas, ideologia, identidade étnica são inteligíveis, apenas, se referidas ao sistema de relações sociais que lhes deram origem.