idealizacaco andrea(2)

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Revista Litteris História Julho de 2010 Número 5 Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Número 5 A idealização da santidade através dos escritos hagiográficos no tardo antigo mediterrânico Andrea Dal Pra de Deus ( UFPR) 1 Resumo As obras hagiográficas do VII século da Hispania revestem-se de uma chave política e histórica, pois, definem a posição das hierarquias eclesiásticas e as tensões entre poderes centrais e locais poderes episcopais, monásticos, e o controle do patrimônio de uns e outros. Esta relação de poderes se deve a aprovação dos comportamentos individuais dos homens que as hagiografias sancionam. Há, por certo, uma difusão pública através das hagiografias da qualidade de um uir sanctus. Tratar, pois, da documentação hagiográfica com a metodologia da pesquisa histórica, propicia uma pesquisa comprometida em extrair das informações discorridas no texto sobre a vida de um homem santo, o alicerce contextual. PALAVRAS-CHAVES: Hagiografias; Antiguidade Tardia; unidade político-religiosa; santidade; eremitismo Abstract The hagiographic works of the seventh century Hispania are of a key political and historical, because defining the position of the ecclesiastical hierarchy and the tensions between central and local powers - powers episcopal, monastic, and control of assets from each other. This relationship of power is due to approval of the individual behaviors of men who were awarded the hagiographies. There are, of course, a public dissemination through the hagiographies of the quality of a uir sanctus. The hagiographic documents must be treat through the history methodology because there will be a research engaged to extract the information of context. KEY WORDS: hagiography; Late Antiquity, politico-religious unit; sanctity; eremitic 1 Andrea Dal Pra de Deus, doutoranda em História- linha Cultura e Poder- pós graduação em História da Universidade Federal do Paraná. Desenvolve pesquisas pertinentes ao âmbito tardo antigo mediterrânico desde a graduação (iniciação científica) e mestrado (dissertação defendida nesta área). e- mail: [email protected]

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  • Revista Litteris Histria Julho de 2010 Nmero 5

    Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Nmero 5

    A idealizao da santidade atravs dos escritos

    hagiogrficos no tardo antigo mediterrnico

    Andrea Dal Pra de Deus ( UFPR)1

    Resumo

    As obras hagiogrficas do VII sculo da Hispania revestem-se de uma chave poltica e

    histrica, pois, definem a posio das hierarquias eclesisticas e as tenses entre

    poderes centrais e locais poderes episcopais, monsticos, e o controle do patrimnio de uns e outros. Esta relao de poderes se deve a aprovao dos comportamentos

    individuais dos homens que as hagiografias sancionam. H, por certo, uma difuso

    pblica atravs das hagiografias da qualidade de um uir sanctus. Tratar, pois, da

    documentao hagiogrfica com a metodologia da pesquisa histrica, propicia uma

    pesquisa comprometida em extrair das informaes discorridas no texto sobre a vida

    de um homem santo, o alicerce contextual.

    PALAVRAS-CHAVES: Hagiografias; Antiguidade Tardia; unidade poltico-religiosa;

    santidade; eremitismo

    Abstract

    The hagiographic works of the seventh century Hispania are of a key political and

    historical, because defining the position of the ecclesiastical hierarchy and the tensions

    between central and local powers - powers episcopal, monastic, and control of assets

    from each other. This relationship of power is due to approval of the individual

    behaviors of men who were awarded the hagiographies. There are, of course, a public

    dissemination through the hagiographies of the quality of a uir sanctus. The

    hagiographic documents must be treat through the history methodology because there

    will be a research engaged to extract the information of context.

    KEY WORDS: hagiography; Late Antiquity, politico-religious unit; sanctity; eremitic

    1 Andrea Dal Pra de Deus, doutoranda em Histria- linha Cultura e Poder- ps graduao em Histria da Universidade Federal do Paran. Desenvolve pesquisas pertinentes ao mbito tardo antigo

    mediterrnico desde a graduao (iniciao cientfica) e mestrado (dissertao defendida nesta rea). e-

    mail: [email protected]

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    A idealizao da santidade atravs dos escritos hagiogrficos no tardo antigo

    mediterrnico

    Andrea Dal Pra de Deus (UFPR, Curitiba, Brasil)

    O VII sculo insere-se numa condio particular dentro do processo de

    estruturao social do tardo-antigo, pois, segundo documentaes, podemos nos

    referenciar a este sculo como um perodo que espreita o mundo rural, em detrimento

    do modelo poltico tradicional, at ento, que concentrava poder no ambiente citadino.

    A partir deste stimo sculo, novas relaes de poder, que j estavam em processo e

    estruturao desde o III sculo, sobressaem-se, paulatinamente.i

    No que concerne poltica, os estudos historiogrficos sobre o perodo

    concentram-se em discusses a cerca da necessidade de unidade poltica que neste

    momento do reino hispano-visigodo parece esforar-se para, realmente, efetivar.

    Preservam-se as teorias polticas unicistas, que convergem a uma centralizao de

    poder, a volta da monarquia, como mecanismo de proteo da unidade do reinoii.

    Dentro desta construo, terico-poltica, de que a monarquia concentra poderes,

    insere-se, no mesmo passo, a tendncia em se focar, tambm, uma unidade religiosa.

    Deste modo, um reino que professe uma nica f, o catolicismo niceno, agrega os

    sditos ao representante poltico escolhido por Deus, o rei hispano-visigodo. Tal

    afirmao, erige-se como prerrogativa da fidelidade do homem Deus, e, portanto, ao

    seu reiiii

    . De fato, tais pressupostos so construes tericas que contrapostas ao

    contexto do perodo, produzem elementos contraditrios.

    Os estudos dos aspectos poltico-religiosos que envolvem o desenvolvimento

    histrico da sociedade hispano-visigoda so descritos pela historiografia, especialista

    no temaiv

    , alicerados na discusso sobre o poderv.

    A monarquia catlica hispano-visigoda, por exemplo, foi uma instituio que

    testemunhou rebelies, usurpaes e conspiraes. Tal evidncia ressalta que na

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    prtica mesmo sendo uma instituio divina, a monarquia era alvo de disputas e

    dissenses. Da mesma maneira, a prpria f crist no era uma unanimidade. Mesmo

    num reino, juridicamente, dito cristo uma srie de prticas pags se perpetuaramvi

    .

    Disputas de poder tambm fizeram parte do ncleo religioso do reino. As

    hierarquias eclesisticas disputavam poder entre si. As obras hagiogrficas do VII

    sculo da Hispania revestem-se de uma chave poltica e histrica, pois, definem a

    posio das hierarquias eclesisticas e as tenses entre poderes centrais e locais

    poderes episcopais, monsticos, e o controle do patrimnio de uns e outros. Esta

    relao de poderes se deve a aprovao dos comportamentos individuais dos homens

    que as hagiografias sancionam. H, por certo, uma difuso pblica atravs das

    hagiografias da qualidade de um uir sanctus, que demonstra a idealizao da santidade

    difundida no mediterrnico tardo antigo.

    Percebemos que h uma tenso entre as hierarquias eclesisticas seculares e os

    monges do deserto, que nem sempre se reportavam a organizao eclesisticavii

    . Tal

    tenso seria um equvoco, uma vez que a doutrina da ecclesia pregoa uma perfeita

    conciliao entre a hierarquia secular e os monges.

    Apesar de existir uma tradio oral de relatos, a conformao escrita de uma

    hagiografia feita por membros da hierarquia eclesistica ou das elites aristocrticas,

    o que influencia a presena de acontecimentos histricos no relato. A postura oficial

    das hierarquias eclesisticas e/ou aristocrticas ao considerar os requisitos para um

    homem ser considerado modelo de emulao e admirao, transforma as obras

    hagiogrficas em um produto ideolgico a servio dos segmentos aristocrticos que

    projetam uma srie de mensagem que lhes diz respeitoviii

    .

    Segundo estudos de Frighetto, sobre as fontes do noroeste peninsular, em meados

    do sculo VII a Hispania testemunha um surto evangelizador, com forte apelo

    ideolgico em relao unio do cristianismo com a instituio monrquica. Alm

    disso, atesta que este processo de evangelizao acontece atravs do sincretismo que

    visava tornar o cristianismo mais palatvel s populaes rurais paganizadasix. Essa

    manifestao no um acontecimento qualquer, mas um ato de induo divina. De

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    certa forma, as hagiografias fazem parte deste ministrio de converso, pois so textos

    fronteirios, no sentido de que edificam o fiel e divulgam preceitos cristos que

    restringiam-se aos homens da ecclesia, para a sociedade em geral, incorporando

    elementos do cotidiano da cultura-poltica do stimo sculo.

    A vida dos santos e outros documentos histricos, em particular as regras

    monsticas, conformam uma tipologia complexa que determinada pelas

    circunstncias polticas, sociais, econmicas e culturais, e que se repartem em zonas

    geogrficas que seguem o curso dos rios e fundam no ocidente diversos modelos de

    vida monsticax. Em cada rea geogrfica h uma combinao entre uma tradio

    crist e uma cultura preexistente.

    As hagiografias so documentaes de tanta relevncia para o estudo da cultura-

    poltica do tardo-antigo quanto os textos jurdicos, as crnicas, os conclios. A

    despeito da imagem de textos de natureza fantstica, as hagiografias, pouco a pouco,

    dentro da historiografia, so acrescidas de importncia, pois vertem elementos que nos

    auxiliam na reconstruo de como a sociedade na qual foram produzidas se

    relacionava, no apenas com o espiritual, mas entre si.

    As obras hagiogrficas especficas da Hispania visigoda so poucas e singulares

    no que concerne a caractersticas formais e contedo. Uma das caractersticas comum

    a todas as obras so as implicaes polticas que possuem, seja por seus personagens,

    seus autores e a finalidade ou finalidades com que foram escritasxi

    .

    O eremitismo tem um papel primordial na concepo crist de contemplao a

    Deus. Atesta um estranhamento ao mundo; d vazo solido como caminho

    introspeco; expe as circunstncias do deserto deserto geogrfico, de gentes, de

    alimentos como cenrio propcio a uma experincia espiritual que somente se torna

    verdica por meio da ausncia, abrindo espao para uma srie de intervenes divinas

    ligadas ao sobrenaturalxii

    .

    De fato, as hagiografias so documentaes essenciais para se compreender a

    difuso do cristianismo dentro de um segmento especfico da sociedade- a ecclesia.

    Um aparato didtico que conluia a cultura especfica de uma pocaxiii

    , e desenvolve

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    um papel social que se estende do fim do imprio romano at, pelo menos, o sculo

    Xxiv

    .

    A cultura poltica do VII sculo na Hispania caracterizada pela descentralizao

    poltica oriunda da atomizao do poder poltico em poderes regionais, que se

    escoram sob diferentes interesses e produzem disputas de poder poltico e social

    conforme a cadncia dos acontecimentos que favorecem ou arrunam determinados

    grupos. O cristianismo e sua organizao administrativa possuem dentro de seus

    quadros funcionais cises pois a ala de influncia de determinados grupos polticos

    atinge tambm os partcipes do clero, que sancionam leis para o reino, atravs dos

    conclios, que propiciam amparar suas perspectivas polticas. Dissenses partidrias

    postas de lado, as hierarquias eclesisticas esforam-se por manter uma atmosfera de

    unidade e coeso, que nem sempre uma realidade. caracterstica deste perodo

    histrico a inexistncia de contornos ntidos em conceitos polticos, pois o movimento

    de idias, que incorpora elementos de pocas precedentes e recicla-os segundo os

    ditames contextuais, bastante saliente. Quanto ao modo de vida de um uir sanctus a

    impreciso evidenciada devido s diferentes correntes filosficas no seio da

    cristandade. O eremetismo difundido na regio do Bierzo, na antiga gaellecia romana,

    inscreveu-se na histria atravs dos escritos hagiogrficos de Valrio. A partir desta

    compilao disseminou-se uma perspectiva de prtica asctica testemunha da ecloso

    dos uiri sancti.

    No stimo sculo percebemos que o paganismo era bastante forte na regio

    do norte da pennsula ibricaxv

    . O carter carismtico dos evangelizadores que se

    disseminavam sobre estas regies repousa sobre uma vida de grande austeridade com

    prticas penitenciais, em meio a pobreza, a castidade, e o isolamento. A crena de que

    os demnios habitavam os desertos era um estmulo aos monges lanarem-se ao

    isolamento destas regies, uma vez que poderiam confrontar sua bagagem de

    conhecimento cristo e de prticas espirituais com o desafio extra-sensorial da

    persuaso de demnios. Nestas ocasies a admirao da populao rural ao

    testemunhar os sacrifcios fsicos e espirituais dos monges suscitava converses e

    imitaes. No raro, as notcias de milagres espalhavam-se.

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    Num perodo em que a poltica no se desvincula de conceitos religiosos, a

    ascenso espiritual manifesta-se com especial interesse poltico. O culto aos homens

    santos marcou a vida do tardo-antigo e um fenmeno de produo paralela ainda

    vigente em distintas culturasxvi

    . A idealizao da santidade, proposta pelos monges

    eremitas, repercute na escrita das hagiografias tardo antigas, das quais destaco as

    obras de Valrio de Bierzo por contemplar mincias, ainda pouco estudadas pela

    historiografia, que congregam um celeiro de virtudes e prticas crists bastante

    importantes para o desenvolvimento da conduta crist legitimada atravs da doutrina e

    da conduta no mediterrnico tardo antigo e medieval.

    As perspectivas eremticas, presentes na compilao hagiogrfica que Valrio

    do Bierzo realizou, representam uma auctoritas no mbito scio-poltico tardo-antigo

    e, estende-se, talvez, ao medievo. A valorizao moral e religiosa da poltica

    inerente ao cenrio que se estrutura a partir do sculo IV. O propsito moralizante e

    edificante das hagiografias cristaliza modelos e guias de orientao para os cristos.

    possvel que as hagiografias contidas na compilao de Valrio j fossem

    conhecidas e suas histrias circulassem em alguma medida. No entanto, o propsito de

    Valrio de dedicar-lhes a organizao, atravs da cpia e estruturao documental,

    refora o empenho pessoal do monge em criar um registro sobre a histria do

    eremitismo, ou, at mesmo, de sua prpria histriaxvii

    . Sua autobiografia cumpre em

    muito esta funo, mas a compilao hagiogrfica salienta humanidade a trajetria

    dos homens santos no tempo, ou seja, pode ser um prottipo da histria da perspectiva

    eremtica. Registrar prticas eremticas um meio de valoriz-las. Ao que tudo indica,

    Valrio do Bierzo pontua o sagrado para alm da investidura religiosa. A santidade

    deslocada da ascenso social s hierarquias eclesisticas que representam a

    aristocracia hispano-visigoda, para o homem ad eremi loca.

    Tambm, notvel, que, ao explorarmos Valrio e suas hagiografias percorremos

    a anlise de seu tempo precedente e, deste modo, acompanhamos o movimento de

    idias no seio da intelectualidade crist. A inspirao de Fructuoso de Braga sobre a

    personalidade de Valrio refletida em seu influxo ao movimento monsticoxviii

    .

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    Significativamente, a obra de Martinho de Braga, no sexto sculo, um expoente

    deste processo. De correctione rusticorum dirigida aos camponeses e apresenta

    como sinnimos as palavras rusticus e paganus, demonstrando, portanto, que a

    populao rural era demasiadamente no adepta do cristianismo. Sabemos que o

    cristianismo, originariamente, foi uma religio dos ambientes urbanos, mas,

    progressivamente foi se expandindo as comunidades rurais. Percebemos que apesar da

    historiografia, muitas vezes, compactuar da idia de que o cristianismo foi uma

    religio das minorias intelectuais, a conjuntura poltico-social do tardo-antigo aliada

    anlise de documentos do perodo, demonstra que mesmo as cidades, especialmente as

    mais populosas e com movimento comercial, serem focos da difuso do cristianismo,

    o ambiente das montanhas e campos foi abrangido no processo de converso de uma

    maneira bastante interessante. Enquanto nas cidades os bispos poderiam pregar o

    evangelho segundo mtodos de apostolado individual, como o ensino oral em escolas,

    disseminao de obras literrias de carter apologtico e rituais litrgicos como hinos

    e cnticos, os monges que se dedicaram a instruir os rusticus desenvolveram

    atividades carismticas, que difundiam a pratica da castidade, penitencias e a pobreza,

    como maneira de irradiar a nova f a estas populaes. Neste sentido, as hagiografias

    de Valrio de Bierzo, configuram-se como um mtodo de evangelizao bastante

    significativo, j que implantam tais prticas como santificadoras, por entre a

    populao campesina.

    O uir sanctus de Valrio um prottipo bastante prximo daquele representado

    por S. Martinho de Toursxix

    . O modelo de santidade de Valrio submete-se a tradio

    eremtica. A Compilao Hagiogrfica de Valrio do Bierzo bastante original,

    apresentando o eremita como prottipo de sanctus numa poca em que as normas

    conciliares hispano-visigodas apontavam todo o contrrioxx

    . Os conclios IV (633) e

    VII de Toledo (646) chegam a estipular em seus cnones a submisso dos eremitas ao

    bispo de sua diocese, tendo-lhe que prestar obedincia e submissoxxi

    . Deste modo a

    Compilao Hagiogrfica de Valrio do Bierzo bastante original, na medida em que

    apresenta o eremita como prottipo do sanctus numa poca em que as normas

    conciliares hispano-visigodas apontavam todo o contrrio. A prtica de uma vida

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    eremita exposta como caminho da perfeio elemento agregador de conceitos

    noo de vida espiritual e ascenso social durante o tardo-antigo.

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    SCHLESINGER, H. & PORTO, H. Dicionrio Enciclopdico das Religies, vol. I.

    Petrpolis: Vozes, 1995, p. 1224.

    i GARCA MORENO, L.A. El Fin do Reino Visigodo de Toledo. p. 147

    ii Vide FRIGUETTO, R. .Religio e poder no reino hispano-visigodo de Toledo: a busca da unidade

    poltico-religiosa e a permanncia das prticas pags no sculo VII. Iberia (Logroo), Logroo, v. 2, p.

    190-205, 2000.

    iii

    Vide DAL PRA DE DEUS, A. Para o Bem-Comum: a idia de fidelitas nas Sentenas de Isidoro de

    Sevilha (HISPANIA, sc. VII), Dissertao de Mestrado UFPR, Curitiba, 2009

    iv AHERNE, C.M.; BERMEJO GARCIA, E. ; BRUYNE, D.; CODNER MERINO, C.; CORULLN,

    I.; DIAZ Y DIAZ, M.C; DAZ MARTINEZ.; DELEHAYE, H.; DURANY CASTRILLO, M.;

    FERNANDEZ POUSA, R.; FERNANDEZ ALONSO, J.; FONTAN, A.; FRIGHETTO, R.; GARCA

    MORENO, L.A.; GARCA VILLADA, Z.; GRCIA RODRIGUEZ.; GONZLEZ ECHEGARAY, J.;

    MARTIN HERNANDEZ, F.; ORLANDIS, J.; RODRIGUEZ GONZALEZ.

    v Cf. FRIGUETTO, R. . A Relao entre Cultura e Poder Na Antigidade Tardia: O Caso da Hispania

    Visigoda. Histria. Questes e Debates, Curitiba-Paran, v. 14, p. 219-230, 1998; Poder e sociedade na

    Hispania romana e visigoda na antiguidade tardia. Revista de Cincias Humanas (Curitiba), Curitiba, v.

    10, p. 173-183, 2003; Algumas consideraes: o poder poltico na Antiguidade Clssica e na Antiguidade

    Tardia. Stylos (Buenos Aires), Buenos Aires, v. 13, p. 37-47, 2004.

    vi Com efeito, a existncia do paganismo e de suas permanncias na sociedade hispano-visigoda do

    sculo VII so, de fato, muito significativas. In: FRIGHETTO, R. Religio e Poder no Reino Hispano-visigodo de Toledo: a busca da unidade poltico-religiosa e a permanncia das prticas pags no sculo

    VII. In: Iberia Revista de La Antigedad, n 2, 1999, p. 134 vii

    Observamos que a vida anacortica/eremtica passou a ser considerada pelos padres conciliares hispano-visigodos como ilegtima e, conseqentemente, no reconhecida. Sinal disso so os cnones 52

    do IV Conc. De Toledo de 633 e o 5 do VII Conc. Toledo de 646. Em ambos o termo uagi encontra-se

    associado todos aqueles que vivem de forma solitria fora de comunidades cenobticas reconhecidas. Ou

    seja, os anacoretas e eremitas passaram a ser considerados pelas hierarquias episcopais hispano-visigodas

    como verdadeiras ameaas ao monacato cenobtico e em ultima instancia ao modelo hierrquico

    eclesistico pois seu exemplo inquieto, irresponsvel e averso obedincia hierrquica poderia provocar

    insubordinao e conflitos eclesisticos. In: FRIGHETTO, R. A valorizao da vida eremtica na compilao hagiogrfica de Valrio do Bierzo (s. VII). SBPH- Anais da XXII Reunio. Rio de Janeiro,

    2002, p. 118

    viii

    VELZQUEZ, I. Hagiografia Y Culto a los Santos em La Hispania Visigoda: Aproximacin a SUS

    manifestaciones literrias. Mrida: Museo Nacional de Arte Romano, Cuadernos Emeritenses 32, 1995, p. 157.

    ix

    FRIGHETTO, R. Religio e Poder no reino hispano-visigodo de Toledo; a busca da unidade poltico-

    religiosa e a permanncia das prticas pags no sculo VII. In: Iberia, 1999, p. 149

    x LECLERQ, J. Monachisme, Sacerdoce et Missions au moyen Age. In: Studia Monastica. Barcelona,

    23-1, 1981, p.308

  • Revista Litteris Histria Julho de 2010 Nmero 5

    Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Nmero 5

    xi

    VELZQUEZ, I. Hagiografa Y Culto a los Santos em La Hispania Visigoda: aproximacin a SUS

    manifestaciones literrias. In: Cuadernos Emeritenses- 32. Mrida: Museo nacional de Arte Romano,

    1995, p. 150-151

    xii

    No isolamento social o individuo consegue entrar em consonncia com o Deus cristo. Um Deus que

    repetidamente aparece nas escrituras como mostrando seu desejo por meio de aes naturais incomuns,

    que ocorrem, exatamente, nessas reas vazias. Passagens com Gneses, xodo no Velho testamento so

    recuperadas quando, no Novo testamento, Jesus prope o mesmo tipo de isolamento. N do A

    xiii Gregrio de Tours em Liber Vitae Patrum expressa que melhor falar sobre a vida de um homem

    santo do que as vidas dos homens santos, pois o destaque da vida de um, entre aqueles que servem a

    Deus, sustenta a vida de todos os outros. Essa utilizao de modelos caracterstica da instruo

    eclesistica do tardo-antigo. Os modelos bblicos so recorrentes nos mais variados escritos. Se

    analisarmos obras como as de Isidoro de Sevilha, notaremos Davi sendo exposto como modelo de rei para

    a monarquia hispano-visigoda. In: ISIDORO DE SEVILHA. Sentencias. ed. CAMPOS, J. e ROCA, I.

    Madrid, 1971. Antes, disto, Leandro de Sevilha no III conclio de Toledo de 589 j comparava o rei

    Recaredo com o modelo bblico do novo testamento no homem novo, aquele que se batizava e ressurgia

    com nova vida. Enfim, fazia parte da justificao da poca, a utilizao de modelos do passado como

    instrutores do comportamento do presente. N do A.

    xiv

    O uir sanctus da poca romana somente teve sua vida compilada sob a forma de hagiografia a partir do

    V sculo e mais adiante. Por isso, no devemos subestimar a variedade de formas de escrita hagiogrfica,

    entrementes, pois a suposta similaridade de textos resultado destes serem conformados depois da poca

    de sua produo e, possivelmente, alterados sem sua forma original. Vide WOOD, I & CHRYSOS, E.

    (org) East and West: modes of communication. Proceedings of the first plenary Conference of Merida WOOD, I. "The use and abuse of latin hagiography in the early medieval west Leiden: Brill, 1999 xv

    Segundo registros dos conclios episcopais de 681, 683, 693 , 694 e a legislao civil de 654 o

    paganismo presente na Hispania, entre as classes mais baixas e at mesmo dentro do clero subsistem

    crenas pags.N do A.

    xvi

    MALDONADO, Pedro Castillo. Los Mrtires Hispanorromanos y su culto em La Hispania de La

    Antugedad tardia. Granada: editorial Universidad de granada, 1999, p.9

    xvii

    Segundo Daz y Daz a Compilao hagiogrfica de Valrio apresenta um prlogo copiado de Rufino

    quando este escreve historia monachorum e apresenta s vidas de Joo, Paulo, Antnio, Hilrio, Germano

    e Paulino. H ainda trechos extrados de Cassiano, alguns enxertos de texto de Valrio mesclados a

    alguns pequenos ragmentos de textos de Sulpcio Severo. Tal fato denota que Valrio teve acesso a uma

    biblioteca rica, que ele conhece bem o seu ofcio haja vista que os clssicos textos sobre monasticismo so de seu conhecimento e que soube produzir um conhecimento que instrui os monges. In: DIAZ Y DIAZ, M.C. La Vida de S. Fructuoso de Braga. Braga: 1974, p. 89, n. 3

    xviii

    Vide DIAZ Y DIAZ, M.C. La Vida de S. Fructuoso de Braga. Braga: 1974, p. 89, n. 3

    xix

    So Martinho de Tours. Bispo de tours. Pai do monasticismo na Glia, Martinho era filho de pais

    pagos, tendo nascido na Pania e servido no exercito romano at sua converso ao Cristianismo. Depois

    de viver como um recluso, fundou uma comunidade de Eremitas em Linug, perto de Poitiers, que se

    torna o primeiro mosteiro de toda a Glia. Depois fundou Marmoutier, nos arredores de Tours, antes de

    aceitar com reluntncia o bispado em Tours, por volta de 372. Seu discpulo Sulpcio Severo, descreveu a

    obra missionria e os milagres de Martinha em De vita Beati Martini (c 410). Martinho morreu em

  • Revista Litteris Histria Julho de 2010 Nmero 5

    Revista Litteris ISSN 1983 7429 www.revistaliteris.com.br Nmero 5

    novembro 397 em Caudes e foi sepultado em Tours, onde sua Igreja se tornou um centro de peregrinao.

    N do A xx

    Valrio apresenta na sua compilao hagiogrfica a figura do eremita como uir sanctus, diferindo,

    portanto, dos relatos hagiogrficos oficiais, que colocavam o uir sanctus como aquele que atingia a

    plenitude de seu status com a dignidade episcopal. Vide FRIGHETTO, R. A Valorizao da Vida

    Eremtica na Compilao Hagiogrfica de Valrio do Bierzo (sculo VII). Rio de janeiro: SBPH,

    Anais da XXII reunio, 2002, p. 117-123

    xxi

    FERNNDEZ, J. Sobre La autobiografia de San Valrio Y Su Ascetismo. Hispania Sacra 2.1949 p.

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