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  • i

    Ciências da Comunicação Vinte Anos de Investigação em Portugal

    Teresa Antas de Barros; Sónia Ferreira; Paula Lobo;

    Salomé Morais; Paula Rodrigues; Filomena Sobral; Luís

    Sousa

    978-989-99840-4-2 Viseu, 2019 © O conteúdo desta obra está

    protegido por Lei. Qualquer forma de reprodução, distribuição,

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    desta obra carece de expressa autorização do editor e dos seus

    autores. Os artigos, bem como a autorização da publicação de

    imagens, são da exclusiva responsabilidade dos autores.

    998 páginas

    Paula Rodrigues

    Pedro Araújo

    SOPCOM / Instituto Politécnico de Viseu

    Título |

    Editores |

    ISBN |

    eBook |

    Design |

    Paginação |

    Edição |

  • ii

    COMISSÃO CIENTÍFICA

    Paulo Serra | Presidente do Congresso

    Ana Catarina Pereira – Universidade da Beira Interior Ana Lúcia Terra – Instituto Politécnico do Porto Anabela Gradim – Universidade da Beira Interior António Bento – Universidade da Beira Interior Carlos Camponez - Universidade de Coimbra Catarina Moura – Universidade da Beira Interior César Neto – Instituto Politécnico de Lisboa Elsa Costa e Silva – Universidade do Minho Felisbela Lopes – Universidade do Minho Filipa Subtil – Instituto Politécnico de Lisboa Filomena Sobral – Instituto Politécnico de Viseu Francisco Mesquita – Universidade Fernando Pessoa Gisela Gonçalves – Universidade da Beira Interior Helena Lima – Universidade do Porto Helena Pires – Universidade do Minho Jorge Martins Rosa – Universidade Nova de Lisboa Jorge Pedro Sousa – Universidade Fernando Pessoa

    José Gomes Pinto – Universidade Lusófona de Humanidades e

    Tecnologias Luís Bonixe – Instituto Politécnico de Portalegre

    Luís Nogueira – Universidade da Beira Interior Luís Nuno Sousa – Instituto Politécnico de Viseu Madalena Oliveira – Universidade do Minho Manuel Cunha – Universidade Católica Portuguesa Margarida Toscano – Rede de Bibliotecas Escolares Maria da Luz Correia – Universidade dos Açores Nuno Moutinho – Universidade do Porto Óscar Mealha – Universidade de Aveiro Patrícia Teixeira – Universidade Fernando Pessoa Paula Espírito Santo – Universidade de Lisboa Paula Lobo Ramalhão – Instituto Politécnico de Viseu Pedro Coutinho Simões – Instituto Politécnico de Viseu Pedro Jerónimo – Instituto Miguel Torga Salomé Morais – Instituto Politécnico de Viseu

    Teresa Ruão – Universidade do Minho

    Vânia Baldi – Universidade de Aveiro

  • iii

    COMISSÃO ORGANIZADORA

    Teresa Antas de Barros | Coordenadora

    Ana Mafalda Portas Matias – Instituto Politécnico de Viseu Belmiro Rego – Instituto Politécnico de Viseu Catarina Rodrigues – Instituto Politécnico de Viseu Cristina Azevedo Gomes – Instituto Politécnico de Viseu Filipa Pereira – Instituto Politécnico de Viseu Ivone Ferreira da Silva – Instituto Politécnico de Viseu João Paulo Balula – Instituto Politécnico de Viseu Luísa Paula Fernandes Augusto – Instituto Politécnico de Viseu Madalena Oliveira – Universidade do Minho Nuno Moutinho – Universidade do Porto Paula Rodrigues – Instituto Politécnico de Viseu Paulo Pinto da Silva – Instituto Politécnico de Viseu Paulo Serra – Universidade da Beira Interior Sónia Ferreira – Instituto Politécnico de Viseu Teresa Gouveia – Instituto Politécnico de Viseu

  • iv

    ÍNDICE

    PREFÁCIO ............................................................................................................................................ 1

    G.T. 1 - CIBERCULTURA 7

    BRUNO VIANA, JOÃO FAUSTINO E PAULO COSTA

    AS REPRESENTAÇÕES DO BRASIL NOS MEDIA ONLINE PORTUGUESES: UM

    PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DE DOUTORAMENTO ................................................................ 8

    BRENO SCAFURA

    A MONETIZAÇÃO DO CULTO: UMA REFLEXÃO SOBRE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO

    DAS COMUNIDADES DE FÃS NOS MEDIAS DIGITAIS E SUAS INTERFACES COM A

    ECONOMIA CRIATIVA .................................................................................................................. 21

    RICARDO SOUZA E JOSILÉIA KIELING

    O @MOR MIDIATIZADO: UMA ANÁLISE SOBRE A FORMA COMO AS PESQUISAS

    APREENDEM A MIDIATIZAÇÃO DOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS .............................. 38

    MARIA CENTENO E HELENA PINA

    AS PLATAFORMAS MUSEOLÓGICAS DIGITAIS E A CULTURA DE PARTICIPAÇÃO ............. 52

    G.T. 2 - CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO 65

    FERNANDA RIBEIRO E ARMANDO SILVA

    A INFOCOMUNICAÇÃO COMO PROJETO COMUM DE DIÁLOGO E PRÁTICA ....................... 66

    RAIMUNDA RIBEIRO, LÍDIA OLIVERIA E CASSIA FURTADO

    FERRAMENTAS INFOCOMUNICACIONAIS EM AMBIENTES DE ENSINO E

    INVESTIGAÇÃO NA ÁREA DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NO

    BRASIL ........................................................................................................................................... 77

    ISABEL DINIZ, ANA ALMEIDA E CASSIA FURTADO

    ACESSIBILIDADE COMUNICACIONAL: DESAFIOS E OPORTUNIDADES DAS

    BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS BRASILEIRAS E PORTUGUESAS ........................................ 95

    ANA TERRA

    A GESTÃO DA INFORMAÇÃO PESSOAL E AS COMPETÊNCIAS

    INFOCOMUNICACIONAIS .......................................................................................................... 113

    PEDRO AMADO E RITA ALBUQUERQUE

    DESIGN E DESENVOLVIMENTO DE UM PROTÓTIPO DE BAIXO CUSTO DE

    AVALIAÇÃO DA EXPERIÊNCIA DE LEITURA ........................................................................... 124

  • v

    RITA MAIA

    UM MUSEU DIGITAL COMUNITÁRIO COMO UMA ESTRATÉGIA DE AMPLIAÇÃO DE

    TERRITÓRIO SIMBÓLICO NO CIBERESPAÇO PELO POVO NEGRO DO ILÊ AIYÊ .............. 133

    JULIANA LOBO E MARIA ANTUNES

    A PLATAFORMA DIGITAL COLABORATIVA COMO REPOSITÓRIO DE PRESERVAÇÃO

    DA MEMÓRIA CULTURAL: O CASO DO FESTIVAL GUARNICÊ DE CINEMA ........................ 141

    G.T. 3 - COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO 157

    CRISTINA PONTE, JOSÉ SIMÕES, TERESA CASTRO E SUSANA BATISTA

    MEDIAÇÕES PARENTAIS NO USO DE MEIOS DIGITAIS POR CRIANÇAS DE 3-8 ANOS .... 158

    ANA OLIVEIRA

    HÁBITOS DE CONSUMO MEDIÁTICO E NOVOS LÍDERES DE OPINIÃO – AS REDES

    SOCIAIS E A REDEFINIÇÃO DE PAPÉIS .................................................................................. 169

    G.T. 4 - COMUNICAÇÃO E POLÍTICA 188

    ANNA COUTINHO

    O CARTAZ É UMA ARMA! UM ESTUDO DA PRODUÇÃO CARTAZÍSTICA DO MRPP,

    ENTRE 1974 E 1976 .................................................................................................................... 189

    ANELISA MARADEI

    COMUNICAÇÃO NO TWITTER EM MOMENTOS DE PROTESTO: DELIBERAÇÃO

    EFETIVA OU DEBATES DISPERSOS? ...................................................................................... 205

    SARA CALADO

    A COBERTURA DA CAMPANHA ELEITORAL PARA AS PRESIDENCIAIS 2016 NO

    TELEJORNAL DA RTP1 .............................................................................................................. 221

    FELIPE SOARES

    INFLUENCIADORES NA CIRCULAÇÃO DE INFORMAÇÕES E OPINIÕES NAS MÍDIAS

    SOCIAIS: ANÁLISE DE DUAS REDES DO TWITTER ............................................................... 239

    G.T. 5 - COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL 252

    VICTOR THEODORO, CAMILA BARTHS E GISELA GONÇALVES

    VINTE ANOS DE INVESTIGAÇÃO EM PORTUGAL: ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA ÀS ATAS

    DO GT COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL DA SOPCOM ..................... 253

    MAFALDA EIRÓ-GOMES, ANA RAPOSO E CÉSAR NETO

    SETE ANOS DE INVESTIGAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS - PERCURSOS DO

  • vi

    PRIMEIRO MESTRADO EM GESTÃO ESTRATÉGICA DAS RELAÇÕES PÚBLICAS EM

    PORTUGAL .................................................................................................................................. 268

    ANABELA MATEUS

    O CONHECIMENTO EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E EM RELAÇÕES

    PÚBLICAS NO BRASIL E EM PORTUGAL: DISTINTAS REALIDADES .................................... 284

    ANA MARCELO E ANA DÍAZ

    ON-LINE BRANDING: ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DE DESIGNERS DE MODA

    PORTUGUESES .......................................................................................................................... 304

    ANGÉLICA DIAS E ANA MELO

    AS MARCAS SEM FINS LUCRATIVOS COMO INSTRUMENTOS IMPULSIONADORES

    DAS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS .................................................................... 321

    CAMILA BARTHS, VICTOR THEODORO E GISELA GONÇALVES

    PROCESSO COMUNICACIONAL EM INSTITUIÇÕES DE SAÚDE: REFLEXÕES SOBRE

    AS RELAÇÕES DE PODER ........................................................................................................ 336

    VANESSA SOUZA

    IDENTIDADES PLURAIS, VISÃO SINGULAR A GESTÃO DA COMUNICAÇÃO

    INTERCULTURAL EM EQUIPES DE PROJETOS VIRTUAIS .................................................... 346

    DANIELA FONSECA E JOSÉ MATOS

    A COMUNICAÇÃO INTERNA NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: O CASO DA

    UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO – UTAD ........................................ 355

    G.T. 6 - CULTURA VISUAL 374

    MELISSA DOS SANTOS E RITA SILVA

    MUSEU VIRTUAL DOS GRAFFITI FEITOS POR MULHERES EM SALVALDOR .................... 375

    CIBELE MENDES E MILENA MATOS

    CULTURA VISUAL EM LISBOA - A CANTARIA DE LIOZ NO CEMITÉRIO DOS

    PRAZERES .................................................................................................................................. 387

    G.T. 7 - ECONOMIA E POLÍTICAS DE COMUNICAÇÃO 400

    JAIRO COELHO

    OS PROVEDORES DA RTP E SEUS DISCURSOS: ONZE ANOS DE PRODUÇÃO

    MEDIÁTICA E ADMINISTRATIVA ............................................................................................... 401

    FERNANDO PAULINO E VIVIANE BROCHARDT

    DIREITO À INFORMAÇÃO SOBRE AGROTÓXICOS E O PARA 2015 ..................................... 419

  • vii

    G.T. 8 - ESTUDOS FÍLMICOS 435

    MARTA ALVES

    A DIGITALIZAÇÃO DO CINEMA E A EMERGÊNCIA DO CINEMA PRO-AM ............................ 436

    INÊS COELHO

    AUTHOR, WHERE ART THOU? ................................................................................................. 452

    ANA PEREIRA

    CINEMA DE MULHERES: BREVES PROPOSTAS DE ANÁLISE FÍLMICA .............................. 466

    ANNA SALUSTIANO

    O CANDOMBLÉ NAS LENTES DO FILME BARRAVENTO, DE GLAUBER ROCHA (1962) .... 480

    HELENA SANTANA E MARIA SANTANA

    O APÓSTOLO DE FERNANDO CORTIZO: COMO A MÚSICA SE EXPRESSA IMAGEM] ...... 489

    G.T. 9 - ESTUDOS TELEVISIVOS 502

    CARLOS CANELAS, JORGE ABREU E JACINTO GODINHO

    AS CONSEQUÊNCIAS DE OS JORNALISTAS DA SIC EDITAREM EM VÍDEO

    CONTEÚDOS INFORMATIVOS .................................................................................................. 503

    VANDA FERREIRA E MARIA TABORDA

    HIBRIDIZAÇÃO E TABLOIDIZAÇÃO DOS TELEJORNAIS: ANÁLISE SISTEMÁTICA DOS

    TELEJORNAIS DE HORÁRIO NOBRE PELO REGULADOR DE MEDIA (2008-2016) ............. 514

    G.T. 10 - GÉNERO E SEXUALIDADES 529

    MANUELA RIBEIRO E CIBELE MENDES

    GÊNERO, ESPETÁCULO E COMUNICAÇÃO: ENTRE O CABOCLO E A CABOCLA DO

    DOIS DE JULHO .......................................................................................................................... 530

    VERA MARTINS E ROSANE ROSA

    AS MULHERES (RE) NOMEIAM O MUNDO: ALGO DE FEMINISMOS NAS REDES

    SOCIAIS NA INTERNET .............................................................................................................. 541

    ANTÓNIO PENA

    ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO PARA CONSEGUIR ENVELHECIMENTO COM

    QUALIDADE DE VIDA.ATIVIDADES FÍSICAS, CULTURAIS E SOCIAIS – O “EU” E O

    “OUTRO” – VALORIZAÇÃO DO PRAZER SEXUAL .................................................................. 555

  • viii

    G.T. 11 - HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO 573

    JORGE SOUSA

    SUBSÍDIO PARA O ESTUDO DAS ORIGENS DO JORNALISMO ICONOGRÁFICO EM

    PORTUGAL: REVISTAS ILUSTRADAS, GRAVURA E FOTOGRAFIA (1835-1914) ................. 574

    FERNANDO STRONGREN

    TRIBUNA DO POVO E O JORNALISMO ANARQUISTA NO INTERIOR DO BRASIL

    (1916-1917) ................................................................................................................................. 600

    HELENA LIMA E OLÍVIA PESTANA

    A PERDA DAS COLÓNIAS PORTUGUESAS NA ÍNDIA. ENQUADRAMENTOS

    NOTICIOSOS NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS E JORNAL DO COMÉRCIO ..................................... 615

    MARCO GOMES

    O JORNALISMO ITALIANO NOS ANOS 70: LIBERDADE DE IMPRENSA, PROCESSOS

    DE CONCENTRAÇÃO E NOVAS PRÁTICAS DISCURSIVAS ................................................... 625

    G.T. 12 - JORNALISMO E SOCIEDADE 641

    ANA FONSECA E INÊS AMARAL

    DO TRADICIONAL ESPAÇO PÚBLICO AO “NOVO” DIGITAL: A APROPRIAÇÃO PELA

    AUDIÊNCIA NOS MEIOS DIGITAIS. PARA UM ESTUDO DO PANORAMA PORTUGUÊS ..... 642

    FRANCISCO VERRI E ÉBIDA SANTOS

    O ENQUADRAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL EM PORTUGAL E NO BRASIL: UMA

    ANÁLISE DO CORREIO DA MANHÃ (PT) E DA FOLHA DE S. PAULO (BR) ........................... 650

    ANDREIA FREITAS, ANA SILVA E SUSANA AMANTE

    RE[A]PRESENTAÇÕES DO JORNALISMO DE INVESTIGAÇÃO NA VOZ DOS

    PROFISSIONAIS DE COMUNICAÇÃO ....................................................................................... 663

    BÁRBARA AVRELLA E BEATRIZ DORNELLES

    AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA NO CONTEXTO LOCAL-REGIONAL:

    UM ESTUDO COMPARATIVO DO BRASIL E PORTUGAL ....................................................... 684

    NELSON OLIVEIRA, LUÍSA CAMPOS, MARIA NEVES, MARIA RIBEIRO E MARIA BARBOSA

    A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA IMAGEM DO OUTRO NA IMPRENSA REGIONAL: OS

    REFUGIADOS NO DISCURSO DE DOIS DOS MAIS REPRESENTATIVOS JORNAIS DA

    BEIRA INTERIOR ....................................................................................................................... 697

    JÚLIA BARROS E JOÃO JÚLIA BARROS E JOÃO ROCHA

    ELEIÇÕES DE CABO VERDE: DA LUSA ÀS REDACÇÕES ..................................................... 712

    JÚLIO PINTO

    A TIPOGRAFIA NA WEB, CASO DE ESTUDO NOS JORNAIS ONLINE PORTUGUESES ...... 726

  • ix

    G.T. 13 - PUBLICIDADE 740

    ANTÓNIO ROSA

    UMA TIPOLOGIA DO ANÚNCIO PUBLICITÁRIO ...................................................................... 741

    PAULO SILVA, CLÁUDIO SEABRA E ISABEL CUNHA

    SMARTPHONES: O SISTEMA NERVOSO DA COMUNICAÇÃO LÍQUIDA ............................... 757

    EDUARDO BORBA, MARCELO ZUFFO E FRANCISCO MESQUITA

    ESTUDOS DA PUBLICIDADE EXTERIOR: DO CARTAZ CAMALEÓNICO À REALIDADE

    VIRTUAL ...................................................................................................................................... 776

    ANA MARQUES E JOSÉ ANDRADE

    O PROCESSO DE DEBRANDING: ESTUDO DE CASO DO BANCO PORTUGUÊS CAIXA

    GERAL DE DEPÓSITOS ............................................................................................................. 785

    ANABELA GRADIM E RICARDO MORAIS

    PERCEPÇÃO DA TRANSGRESSÃO EM PUBLICIDADE ......................................................... 797

    G.T. 14 - RÁDIO E MEIOS SONOROS 802

    MAURO MAIA

    RÁDIO E MEIOS SONOROS EM PORTUGAL E NO BRASIL: ORIGENS E

    ABORDAGENS DAS PESQUISAS ............................................................................................. 803

    BÁRBARA AVRELLA E THUANNY CAPPELLARI

    O CASO JBS: UMA ANÁLISE DE ENQUADRAMENTO NO JORNALISMO OPINATIVO

    NO RÁDIO .................................................................................................................................... 817

    MARIA ANTUNES E RAMÓN SALAVERRÍA

    UCCTUNES: ANÁLISE AOS PODCASTS DE ÁUDIO CRIADOS PELOS UTILIZADORES

    PORTUGUESES E DISPONIBILIZADOS NO ITUNES ............................................................... 832

    JÉSSICA OLIVEIRA

    TENDÊNCIAS DE DIVULGAÇÃO DE CONTEÚDOS RADIOFÓNICOS NAS

    PLATAFORMAS DIGITAIS: O CASO DA M80 RÁDIO .............................................................. 842

    G.T. 15 - RETÓRICA 832

    FRANCISCA AMORIM

    A RETÓRICA – DISCIPLINA DOS ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO: UMA REFLEXÃO

    SOBRE A RETÓRICA NO PANORAMA ACADÉMICO PORTUGUÊS ....................................... 861

    JOSÉ DOMINGUES

    RETÓRICA ................................................................................................................................... 876

  • x

    HADASSA DAVID

    A TEORIA DE CHOMSKY E A LÓGICA DA PROPAGANDA ..................................................... 886

    G.T. 16 - SEMIÓTICA 900

    MANUEL ALBINO

    A GEOMETRIA COMO EXPRESSÃO ......................................................................................... 901

    SAMUEL MATEUS

    DA PERSUASÃO ARGUMENTATIVA À PERSUASÃO SEDUTORA ......................................... 916

    MANUEL ALBINO

    PROPOSTA DE UM META-SISTEMA ROBUSTO E SINTÉTICO DE ANÁLISE

    SEMIÓTICA DE SISTEMAS DE REPRESENTAÇÃO ................................................................ 926

    PRISCILA KROLOW

    ANÁLISE DO DISCURSO DE FELICIDADE DA INFLUENCIADORA DIGITAL GABRIELA

    PUGLIESI #AVIDAEMARA .......................................................................................................... 939

    G.T. 17 - TURISMO E TERRITÓRIO 952

    PATRÍCIA PINTO, ANA MATIAS E TERESA BARROS

    CONTRIBUIÇÕES DO MARKETING TERRITORIAL PARA AS ESTRATÉGIAS DAS

    SMART CITIES: O CASO DA CIDADE DE VISEU ..................................................................... 953

    LUÍSA AUGUSTO E SARA SANTOS

    CIDADES E TERRITÓRIOS: O DIALOGISMO DAS AUTARQUIAS E O ENVOLVIMENTO

    DOS PÚBLICOS ONLINE ........................................................................................................... 967

  • 1

    PREFÁCIO

    Paulo Serra

    Presidente da Direção da Sopcom

    1.

    Publicam-se, agora, as Atas do X Congresso da Sopcom – Associação Portuguesa

    de Ciências da Comunicação, que teve lugar em Viseu nos dias 27 a 29 de novembro de

    2017, subordinado ao tema “Ciências da Comunicação: Vinte anos de investigação em

    Portugal”.

    A justificação do tema do Congresso parece mais ou menos óbvia: celebrando a

    Sopcom, em 2017, os seus vinte anos de existência, teria todo o sentido desafiar os

    congressistas a desenvolverem uma reflexão simultaneamente retrospetiva e prospetiva

    acerca do campo das Ciências da Comunicação em Portugal no decurso dessas duas

    décadas.

    Como procurámos mostrar noutro texto (Serra, 2017), ao longo desse período as

    Ciências da Comunicação afirmaram-se, em Portugal, como um campo autónomo de ensino

    e de investigação em relação às disciplinas que (entre nós e não só) estiveram na sua

    origem, nomeadamente a Sociologia e a Filosofia. Assim, para além dos novos cursos de

    graduação e pós-graduação que foram sendo criados um pouco por todo o país, foram

    criados centros de investigação que, a partir de 2003, passaram a ser avaliados pela FCT

    em painéis específicos da área, tendo nesse ano sido avaliados 8 centros, 5 deles pela

    primeira vez. Ao mesmo tempo, a partir de 1999, ano de publicação do primeiro número da

    Comunicação e Sociedade pelo Centro de Estudos de Comunicação da Universidade do

    Minho, verifica-se a criação de várias revistas científicas, que assim se juntam à Revista de

    Comunicação e Linguagens para perfazer as cerca de duas dezenas que atualmente

    existem, das quais quatro se encontram indexadas na Scopus (Comunicação e Sociedade,

    Estudos em Comunicação, Media & Jornalismo e Observatorio (OBS*)). A própria Sopcom

    projetou-se em termos nacionais e internacionais, tornando-se parceira de instituições como

    o Observatório da Comunicação (OberCom), a Associação Portuguesa de Sociologia (APS),

    o Sindicato de Jornalistas, a Asociación Española de Investigación de la Comunicación (AE-

    IC), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), a

    Asociación Galega de Investigadores en Comunicación (Agacom), a Associação Cabo-

    verdiana de Ciências da Comunicação (Mediacom), ou a Associação Moçambicana de

  • 2

    Ciências da Informação e da Comunicação (Acicom), com algumas das quais integra

    federações como a Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom) ou a

    Confederação Ibero-Americana das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação

    (Confibercom), participando ainda os seus investigadores em grupos de trabalho e estruturas

    diretivas de associações como a ECREA, o IAMCR ou a ICA. Ao nível interno da Sopcom,

    os seus Grupos de Trabalho (GT) foram também evoluindo ao longo dos anos, criando-se

    uns, extinguindo-se outros, mantendo-se no X Congresso apenas seis dos dezassete que

    estiveram presentes no I Congresso, que teve lugar em Lisboa em 1999.

    Quanto à escolha da cidade de Viseu para a realização do X Congresso ela surgiu,

    por um lado, da vontade expressa pelos docentes, investigadores e responsáveis da Escola

    Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu, que asseguraram todas as

    condições necessárias para o efeito e, por outro lado, da intenção assumida da Direção da

    Sopcom de contrariar a tendência que entre nós marca (também) a realização dos

    congressos científicos, quase sempre em Lisboa ou noutras cidades do litoral. Para além

    disso, Viseu é neste momento uma cidade em franco desenvolvimento, que aposta

    decididamente na qualidade de vida e na cultura e que, assim, faz jus ao seu passado de

    local de muitos povos e culturas, da pré-história aos dias de hoje.

    2.

    Pode-se perguntar se, num tempo em que as ciências em geral privilegiam a

    publicação de artigos em revistas indexadas e se desvaloriza os congressos e as atas como

    forma de comunicação entre cientistas, estes últimos ainda podem ter um sentido que não

    meramente estatutário e ritual – ou, na pior das hipóteses, turístico. A nossa resposta, a esta

    questão, é claramente afirmativa.

    É um facto que, com a publicação das primeiras revistas cientificas, em 1665 (Journal

    des Sçavants e Philosophical Transactions), e a proliferação das mesmas a partir do século

    XIX, a revista científica vai tornar-se, progressivamente, a forma dominante de comunicação

    entre cientistas, substituindo nesse papel as cartas eruditas e os próprios livros (Kronick,

    1962, pp. 5-6; Garfield, 1980, p. 394).

    No entanto, é de notar que muitas dessas revistas aparecem ligadas a academias e

    sociedades científicas - é o caso da própria Philosophical Transactions, ligada à Royal

    Society of London – que, entre outras coisas, garantem a credibilidade do conteúdo e da

    autoria, muitas vezes anónima, dessas publicações (Kronick, 1978). Irá surgir mesmo um

    tipo de revistas que Kronick identifica como “atas de sociedades” (society proceeedings),

    resultantes da apresentação oral ou escrita e da discussão de trabalhos dos membros das

  • 3

    sociedades nos encontros mais ou menos regulares das mesmas – e cujo primeiro exemplo

    claramente identificável será, segundo o mesmo autor, a Saggi di Naturali Esperienze,

    publicada pela Accademia del Cimento em Florença, em 1666-67 (Kronick, 1962, pp. 110-

    148).

    Quanto aos objetivos dessas reuniões associativas regulares, que emergem pelos

    finais do século XVII, elas visavam permitir aos cientistas “fomentar a investigação e/ou

    comunicar os seus resultados uns aos outros e ao mundo em geral” e, deste modo, escapar

    ao “conservantismo e tradições desgastadas” que caracterizavam as universidades

    medievais (Garrison, 1934, pp. 293-4). É nesse contexto que surgem, também, os

    congressos científicos, sendo que o primeiro Congresso Médico “foi realizado por 46

    médicos de Roma, reunidos todas as segundas-feiras entre 10 de março de 1681 e 8 de

    junho de 1682” (Garrison, 1934, p. 294).

    Assim, podemos constar que nos tempos iniciais da ciência moderna, nos séculos

    XVII e XVIII, revistas e “congressos” coexistem e articulam-se, numa lógica de

    complementaridade, no contexto das associações científicas. Foi sobretudo já no decurso

    do século XIX que, ao privilegiar o laboratório e o artigo cientifico, a comunicação entre

    cientistas subvalorizou o papel das conferências científicas e dos artigos em conferências

    (conference papers), esquecendo que estes podem assumir um papel complementar

    daqueles na “criação e manutenção de redes cientificas” (Rowley-Jolivet, 1999, § 3).

    A este respeito, pode-se mesmo afirmar que “há uma relação simbiótica entre

    laboratórios e conferências” (conferences), e isso no que se refere quer aos inputs quer aos

    outputs de uns e outras. Assim, o laboratório é essencial para alimentar a conferência com

    resultados, métodos e problemas; a conferência é, por sua vez, uma forma de o laboratório

    ganhar visibilidade e reconhecimento na comunidade científica de um determinado campo,

    bem como de estabelecimento de contactos e redes nacionais e internacionais de que muito

    pode beneficiar (Rowley-Jolivet, 1999, § 8-9). Para além disso, as conferências e as redes

    científicas que elas alimentam contribuem para “alargar a cultura científica dos

    participantes”, contrariando a tendência para uma especialização cada vez mais estreita e,

    ainda, para “reforçar a coesão social no seio da comunidade de discurso” (Rowley-Jolivet,

    1999, § 10).

    3.

    Voltemo-nos, agora, especificamente para os congressos científicos.

    De acordo com os dicionários da língua, a palavra congresso vem do latim

    congressus, e significa “encontro, reunião”. A palavra latina derivará, por sua vez, de

  • 4

    congredi, significando “caminhar com”. O congresso científico é, deste modo, um caminhar

    com o outro e ao encontro do outro.

    Ao eleger a reunião e o encontro como forma de comunicação, o congresso contrasta

    com outras formas de comunicação científica, umas mais tradicionais, outras mais recentes.

    Assim, e ao contrário da tradicional lição, que também se carateriza pela reunião e pelo

    encontro, o congresso acentua o diálogo e a discussão entre o que transmite e o que recebe,

    fazendo com que um e outro se confundam em ambos os papéis. Ao contrário do artigo ou

    do livro, que se caraterizam pela comunicação escrita e afastada no espaço e no tempo, o

    congresso acentua a resposta imediata e potencialmente mais completa.

    Sendo um encontro simultaneamente dialogante e agonístico entre cientistas, o

    congresso não se limita à transmissão, partilha e discussão do saber - ele contribui, também,

    para o seu aumento, abrindo novas perspetivas e novas direções em relação ao que já se

    sabe e ao que há para saber.

    Para isso, o congresso – o encontro, a reunião – exige tempo. Nessa medida, ele

    está mais do lado da slow science do que da fast science, desta ciência que foi “mobilizada”

    a partir do século XIX (Stengers, 2013) e que tende a privilegiar a publicação em revistas

    científicas, em geral em língua inglesa, com o maior fator de impacto possível e, idealmente,

    com mais rapidez que os restantes investigadores/competidores.

    Por isso mesmo, apesar do papel que os meios de comunicação online têm vindo a

    assumir nos últimos anos na comunicação em geral e na comunicação científica em

    particular, o congresso em presença parece ter ainda futuro, pelas vantagens que só o

    contacto físico entre cientistas pode trazer, nomeadamente nos espaços e tempos mais

    sociais e mais informais deste tipo de eventos (Sohn, 2018).

    Esse contacto permite, para além da apresentação e discussão mais completas de

    resultados, métodos e problemas, possibilidades como “o networking, a transferência de

    conhecimento e o desenvolvimento da carreira” (Zierath, 2016, p. 1155), ou “o brainstorming,

    o networking e o estabelecimento de conexões vitais que podem levar a novas iniciativas,

    documentos e financiamento” (Oester, Cigliano, Hind-Ozan e Parsons, 2017, p. 1), e que os

    meios de comunicação online não permitem por si sós.

    Deste modo, não é apenas de saber – da sua partilha e do seu desenvolvimento –

    que se trata nos congressos. Trata-se, também, de à volta desse saber, a pretexto dele, os

    cientistas de um determinado campo se construírem como (consciência de) comunidade,

    uma característica da ciência cuja importância foi há muito enfatizada por autores como

    Charles Sanders Peirce, Robert Merton, Michael Polanyi ou Thomas Kuhn.

  • 5

    4.

    Mas um congresso não permanece – não pode permanecer - apenas nas memórias

    dos seus conferencistas e participantes.

    E isso não só porque, como diziam os romanos, “Verba volant, scripta manent”, mas

    também porque uma coisa é falar, outra é escrever.

    Com efeito, longe de ser uma espécie de materialização ou corporização de um

    pensamento que lhe seria preexistente, a escrita ensina-nos o nosso próprio pensamento.

    Assim, a afirmação de Merleau-Ponty de que “há uma significação ‘linguageira’ da linguagem

    que realiza a mediação entre a minha intenção ainda muda e as palavras, de tal modo que

    minhas palavras me surpreendem a mim mesmo e me ensinam o meu pensamento”

    (Merleau-Ponty, 1960/1991, p. 94) ganha ainda mais sentido quando a aplicamos à palavra

    escrita, sobretudo quando aquilo que escrevemos resulta não só do que nós pensámos mas

    também do que os outros pensaram sobre o que nós pensámos, da nossa reposta a isso,

    enfim, do diálogo e da discussão.

    Neste sentido, podemos considerar que o artigo apresentado numa conferência

    científica se situa a meio caminho entre a conversa e o artigo cientifico: não sendo tão

    informal como a primeira, ele não é, no entanto, tão estruturado e definitivo como o segundo

    – é, na sua essência, um texto experimental que precisa de ser confrontado com a prova do

    que lhe é diferente e mesmo contrário (Rowley-Jolivet, 1999): a prova da discussão, primeiro,

    a prova da escrita para as atas, depois.

    As presentes Atas constituem, em nosso entender, um verdadeiro exemplo dessa

    dupla prova. As suas cerca de mil páginas permitem apenas antever o imenso labor que

    antes, durante e depois do congresso coube aos autores dos diversos textos. Esse labor

    não se restringe, contudo, aos autores propriamente ditos – já que, como refere Chartier

    (1994, p. 17), “os autores não escrevem livros: não, eles escrevem textos que se tornam

    objetos escritos, manuscritos, gravados, impressos e, hoje, informatizados”. O mesmo é

    dizer que os livros implicam a mediação de muitos outros “autores” para além dos autores

    propriamente ditos - os editores, os revisores, os programadores, os distribuidores, etc. –

    sem os quais o livro não poderia existir, e que também contribuem para lhe imprimir

    determinadas formas, conteúdos e sentidos.

    Pelo labor desses outros “autores” cabe, mais uma vez, uma palavra de

    agradecimento aos docentes, investigadores e responsáveis da Escola Superior de

    Educação do Instituto Politécnico de Viseu que, em devido tempo, se propuseram o desafio

    de organizar o X Congresso da Sopcom.

  • 6

    Referências

    Chartier, R. (1994). A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

    Garfield, E. (1980). Has scientific communication changed in 300 years? Essays of an Information Scientist, 4, 394-400. Disponível em: http://garfield.library.upenn.edu/essays/v4p394y1979-80.pdf

    Garrison, F. (1934). The medical and scientific periodicals of the 17th and 18th centuries: With a Revised Catalogue and Check-List. Bulletin of the Institute of the History of Medicine, 2(5), 285-343. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/44438343

    Kronick D. A. (1978). Authorship and authority in the scientific periodicals of the seventeenth and eighteenth centuries. The Library Quarterly, 48 (3), 255-275. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/4306967

    Kronick, D. A. (1962). A history of scientific and technical periodicals: The origins and development of the scientific and technological press, 1665-1790. New York: Scarecrow Press.

    Merleau-Ponty, M. (1960/1991). Sobre a fenomenologia da linguagem. In: Signos (pp. 89-104). S. Paulo: Martins Fontes.

    Oester, S., Cigliano, J. A., Hind-Ozan, E. J. & & Parsons, E. C. M. (2017). Why conferences matter: An Illustration from the International Marine Conservation Congress. Frontiers in Marine Science, 4, 257. DOI: 10.3389/fmars.2017.00257

    Rowley-Jolivet, E. (1999). The pivotal role of conference papers in the network of scientific

    communication. ASp [Online], 23-26. DOI: 10.4000/asp.2394

    Serra, J. P. (2017). Disciplinas, paradigmas e olhares: o lugar de Paquete de Oliveira na construção do campo das Ciências da Comunicação em Portugal. Revista Comunicando, 6 (1), 131-143.

    Sohn, E. (2018). The future of the scientific conference. Nature, 564, 580-582. DOI: 10.1038/d41586-018-07779-y

    Stengers, I. (2013). Plaidoyer pour une science "slow". In: Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences (pp. 83-112). Paris: La Découverte.

    Zierath, J. R. (2016). Building bridges through scientific conferences. Cell, (167), 1155-1158.

    DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.cell.2016.11.006

  • 7

    G.T. 1

    - CIBERCULTURA

  • 8

    AS REPRESENTAÇÕES DO BRASIL NOS MEDIA ONLINE PORTUGUESES: UM

    PROJETO DE INVESTIGAÇÃO DE DOUTORAMENTO

    REPRESENTATIONS OF BRAZIL IN THE PORTUGUESE ONLINE MEDIA: A

    DOCTORAL RESEARCH PROJECT

    Bruno César Brito Viana1 João Paulo de Jesus Faustino2

    Paulo Frias da Costa3

    Resumo

    As relações histórico-culturais e afetivas entre Brasil e Portugal são bem mais complexas do que aparentam. São dois povos unidos não somente pela ancestralidade luso-brasileira, mas por uma história em comum, pela cultura e pela língua portuguesa, um elo que nunca se perderá. Este documento traz o esboço de uma investigação cujo foco está na análise comparativa das representações simbólicas sobre o Brasil utilizadas em quatro jornais online portugueses: Diário de Notícias, Público, Correio da Manhã e Jornal de Notícias. A análise se concentrará nas notícias produzidas durante todo o ano de 2016, período de realização das Olimpíadas, do impeachment da ex-Presidente da República, bem como de crises políticas e económica. O estudo pretende investigar quais as representações/imagens sobre o Brasil foram propagadas pelos quatro periódicos, por meio de suas produções noticiosas publicadas em suas versões online; com foco nas práticas discursivas e rotinas jornalísticas utilizadas pelos jornais na construção da notícia sobre o Brasil. A investigação proposta se trata de uma pesquisa histórico-descritiva, de mJtodo hipotético-dedutivo, com abordagem de métodos mistos: qualitativa-quantitativa.

    Abstract

    The historical-cultural and affective relations between Brazil and Portugal are much more complex than they seem. They are two peoples united not only by Luso-Brazilian ancestry, but by a common history, by the culture and the Portuguese language, a link that will never be lost. This document presents the outline of an investigation that focuses on the comparative analysis of the symbolic representations about Brazil used in four Portuguese online newspapers: Diário de Notícias, Público, Correio da Manhã and Jornal de Notícias. The analysis will focus on the news produced throughout the year 2016, the period of the Olympics, the impeachment of the former President of the Republic, as well the political and economic crises. The study intends to investigate which representations / images on Brazil were propagated by the four newspapers, through their news productions published in their online versions; focusing on the discursive practices and journalistic routines used by the newspapers in the construction of news about Brazil. The proposed research is a historical-descriptive research, of hypothetical-deductive method, with approach of mixed methods: qualitative quantitative.

    1 Universidade do Porto, Portugal. E-mail: [email protected]. 2 Universidade do Porto, Portugal. E-mail: [email protected]. 3 Universidade do Porto, Portugal. E-mail: [email protected].

    PALAVRAS-CHAVE Brasil, jornalismo, Internet, Portugal, representação.

    KEYWORDS Brasil, journalism, Internet, Portugal, representation

  • 9

    Introdução

    As representações do Brasil em Portugal começaram ainda em 1500, com o achado,

    na época, de um Novo Mundo. A outrora América portuguesa teve início enquanto uma

    construção social e histórica europeia (Chauí, 2000). Tal feito culminou no surgimento do

    que hoje é o Brasil, a maior nação lusófona do mundo.

    Desde então, Brasil e Portugal compartilham uma história, língua e cultura em

    comum. As representações continuaram ao longo do tempo e no intuito de aprofundar o

    entendimento das relações bilaterais entre os dois países lusófonos, bem como, da própria

    história em conjunto e da formação do povo brasileiro, torna-se necessário investigar as

    representações simbólicas atuais. É interessante perceber se há representações que se

    mantiveram nestes 517 anos e quais as representações contemporâneas se verificam. Com

    uma relação e história tão peculiar, a outrora colónia e metrópole mantém atualmente

    relações privilegiadas, sendo o Brasil um tema bastante presente nos media portugueses.

    Para além disto, o Brasil se tornou um país emergente, que tem conquistado espaço

    de liderança económica, sendo atualmente a nona maior economia global, segundo o World

    Bank (2017). Recentemente foi sede das Olimpíadas de 2016 e também da Copa do Mundo

    de 2014. Também tem sido protagonista de graves crises no âmbito político e económico,

    tendo ainda o ano de 2016 sido emblemático pelo agravamento das crises e que culminou

    no impeachment da ex-presidente da República, Dilma Rousseff. Neste sentido delimitou-se

    o ano de 2016 como recorte temporal para os objetivos deste estudo.

    Para Silverstone (2002), investigar os media é encará-los como um processo de

    mediação de significados, que transitam entre os limites da representação e da experiência.

    Soma-se a isso o facto de que a formação da identidade do povo brasileiro também está

    ligada à projeção da imagem do Brasil no exterior (Bignami, 2002). Trabalha-se imagem aqui

    como uma forma de representação social, como uma construção mental, uma ideia, opinião,

    juízo de valor que se estabeleceu sobre algo ou alguém (Baldissera, 2003; Moscovici, 2007).

    Ao optar por investigar tais representações simbólicas do Brasil nos media online de

    Portugal, considera-se o alcance e potencial da Internet, bem como as novas práticas

    jornalísticas neste ambiente digital e online. Estima-se que atualmente haja mais de três mil

    milhões de usuários da Internet44, um número crescente, que representa cerca de 49% da

    população mundial. Com o advento da sociedade da informação e da cibercultura observou-

    se intensas transformações não somente nos campos das relações interpessoais, mas

    também na experiência da comunicação e da mediação entre o utilizador e a notícia.

    Atualmente, não somente as audiências, mas também o jornalista precisar lidar com o

    44Dados estatísticos disponíveis em: http://www.internetworldstats.com/stats.htm.

  • 10

    excesso de informação, além da função de representar a realidade por meio das produções

    jornalísticas. Percebe-se que a forma de se produzir e consumir notícias já não é a mesma.

    Observa-se novas práticas não só na forma, conteúdo, como também na relação com o

    público. As tecnologias emergentes permitiram o surgimento de um jornalismo voltado para

    as plataformas digitais. O jornalismo apresentou - e ainda apresenta, pois, o processo está

    em curso - significativas alterações em suas práticas que envolvem as etapas de recolha,

    tratamento e apresentação da informação, dando origem ao que hoje se chama de

    Ciberjornalismo.

    Segundo Canavilhas (2001), as possibilidades multimédia, hipertextual, interativo, de

    personalização e memória são as principais características do ciberjornalismo. Com base na

    convergência entre texto, som e imagem em movimento, esta nova modalidade de

    jornalismo online pode explorar muitas das potencialidades que a internet oferece. Assim, o

    utilizador pode escolher o seu próprio percurso de leitura, bem como manter uma nova

    relação com os meios de comunicação social e jornalistas. Soma-se isto a fenómenos como

    a convergência dos media e as recorrentes inovações tecnológicas das fases Web 2.0, que

    trouxe mais interatividade, e da fase Web 3.0 que traz mais personalização de conteúdo.

    Tudo isto junto tem provocado desafios e ocasionado reflexões, bem como adaptações aos

    novos cenários e contextos profissionais que se apresentam.

    O objetivo da investigação descrita neste documento é de descobrir as

    representações simbólicas/imagens do Brasil publicadas nos media online portugueses,

    durante todo o ano de 2016. Para além disto, também há o intuito de realizar uma análise

    comparativa das práticas/rotinas jornalísticas utilizadas. Adotou-se os seguintes jornais

    lusitanos para efeitos de investigação: Diário de Notícias, Público, Correio da Manhã e o

    Jornal de Notícias. Sobre os jornais Diário de Notícias e Público, estes são considerados

    periódicos de referência (Faustino, 2004; Fidalgo, 2000; Sousa, 2002) para os leitores

    lusófonos da Europa e África. Já o Correio da Manhã apresenta uma linha editorial que

    prioriza o noticiário oriundo de temas policiais e assim como o Jornal de Notícias é produzido

    para ser um jornal de leitura fácil e rápida, com predominância de temas locais.

    A partir da revisão de literatura verificou-se que as representações do Brasil no

    noticiário estrangeiro são atreladas, em grande parte, ao elemento exótico, a uma ideia de

    lugar paradisíaco e de riquezas. Imagem essa que faz parte do próprio mito fundacional

    brasileiro e continua sendo atual, principalmente em Portugal. Entretanto novas imagens

    surgem no contexto atual e somam-se à essa já tradicional representação do Brasil. Para

    tanto, levantam-se quatro hipóteses acerca da imagem brasileira: a primeira se refere ao

    fato do Brasil continuar sendo tratado pelo viés da cultura e de caráter exótico; a segunda é

    sobre a economia brasileira; a terceira diz respeito a uma predominância de imagens

  • 11

    negativas do Brasil, no tocante à violência e a quarta sobre um Brasil mais noticiado por

    questões da política nacional. A intenção é de confirmar ou refutar tais hipóteses.

    O projeto de investigação aqui apresentado consiste em um documento introdutório

    com o objetivo de descrever os procedimentos metodológicos e científicos para o

    desenvolvimento de uma tese de doutoramento, já em andamento, no âmbito do programa

    doutoral em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais (ICPD) da Universidade do

    Porto/Aveiro. A investigação descrita neste projeto é uma reflexão realizada no âmbito das

    Ciências Sociais Aplicadas, especificamente no campo da Comunicação e dos media, a

    tratar também das práticas sociais decorrentes do fenómeno observado.

    Questão de Investigação

    A melhor forma de iniciar um trabalho de investigação em Ciências Sociais consiste

    em procurar enunciá-lo sob a forma de uma questão de investigação, segundo postulados

    de Quivy & Campenhoudt (2008). Devido a complexidade inerente aos projetos de

    investigação em Ciências Sociais, uma questão bem formulada serve como um guia para os

    estudos a serem realizados, um fio condutor, que apresenta explicitamente o que se

    pretende saber, elucidar ou compreender melhor. Neste sentido, evita-se maiores riscos de

    desvios e mudanças de escopo em todas as fases de desenvolvimento do projeto. Deve-se

    formular uma questão de investigação que seja: clara, concisa e precisa, viabilizando

    interpretações convergentes quanto aos seus objetivos; além disto que também seja

    exequível., realista e pertinente (Quivy & Campenhoudt, 1998).

    Ao utilizar o método 5W1H (Jang & Woo, 2005), pode-se vislumbrar de forma

    pragmática o contexto de investigação proposto, a partir das repostas à seguintes seis

    questões:

    Quem? Brasil.

    O quê? Representações simbólicas.

    Onde? Nas produções noticiosas de quatro jornais online portugueses.

    Quando? Durante todo o ano de 2016.

    Como? Através da seleção e recolha de notícias que tratem sobre o Brasil

    Por quê? A análise da representação simbólica do Brasil trará uma atualização da

    conjuntura de representação social do Brasil no exterior, tendo como base Portugal, país

    com o qual sempre manteve relações e cooperações em diversos níveis.

  • 12

    Dessa forma, tendo por base os princípios supracitados, a pergunta de investigação

    para a presente investigação é: De que forma o Brasil é representado pelos jornais online

    portugueses?

    Na tentativa de se responder esta questão, a presente investigação se apoiará em

    um aporte teórico constituídos por estudos das ciências sociais, bem como na análise dos

    dados do estudo empírico. Espera-se que o diálogo entre o discurso representado pela

    literatura do assunto e os dados coletados possam não só responder à questão proposta,

    bem como levantar novos questionamentos e encaminhar futuras novas investigações.

    Hipóteses

    A partir da questão de investigação acima posta e da revisão de literatura sobre o

    tema, foram levantadas as seguintes hipóteses:

    O Brasil é exposto nas produções jornalísticas lusitanas por meio de uma imagem

    que foca questões como a violência urbana, corrupção, inoperância das instituições públicas

    e desigualdade social;

    A economia do Brasil é tema de interesse para os media portugueses;

    A cultura brasileira é bastante pautada pelos periódicos lusitanos, principalmente em

    notícias referentes a manifestações culturais como a música, o esporte, e as produções

    audiovisuais brasileiras, por exemplo;

    A política no Brasil e as ações daí decorrentes, bem como os políticos brasileiros,

    são bastante noticiados pelos media portugueses;

    A investigação “Um olhar sobre o Brasil: Análise de notícias do jornal The New York

    Times” (Viana, 2010), realizada como trabalho de conclusão do curso de Jornalismo,

    analisou como o Brasil foi exposto pelo The New York Times em suas notícias, no período

    de janeiro a março de 2010. Os resultados mostraram que o Brasil foi demarcado pelo

    periódico como um país exótico e com muitos problemas internos, mas que também tem

    sido reconhecido por avanços na área económica. Os resultados ainda apontaram a

    utilização dos estereótipos do Brasil no exterior (local paradisíaco com belas praias e belezas

    naturais, a terra do samba e futebol), que se misturam também com a imagem de uma nação

    que possui muitos problemas internos, notadamente: o crime e a corrupção.

    Já a dissertação de mestrado “A imagem do Brasil na mídia impressa portuguesa:

    um estudo do caso Diário de Notícias e Público” (Viana, 2014), apresentada, em março de

    2014, ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN) foi uma

    continuidade dos estudos sobre a representação do Brasil nos media do estrangeiro. A

  • 13

    dissertação analisou a imagem do Brasil em Portugal, durante os anos de 2012 e 2013.

    Verificou-se que o Brasil é muito mais noticiado em Portugal do que antes se imaginava. A

    imagem de uma nação cultural e exótica ainda é viva e predominante, aliada ao reforço da

    imagem de uma de terra de oportunidades, graças ao desenvolvimento económico

    vivenciado pelo país nos últimos anos. As temáticas mais trabalhadas pela imprensa

    portuguesa sobre o Brasil foram Cultura e Política, respetivamente. Isso evidenciou que

    entre as novas imagens pelas quais o Brasil é representado no exterior, em Portugal,

    especificamente, estava a de um país mais sério, que é bastante tratado, também, por

    questões políticas.

    Objetivo Geral

    O objetivo geral é investigar a representação social do Brasil nas produções

    noticiosas dos media online portugueses, por meio de um estudo comparativo entre as

    práticas discursivas utilizadas pelos periódicos Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias

    e Correio da Manhã.

    Objetivos Específicos

    a) Identificar as representações simbólicas construídas pelos media online

    portugueses, mediante Análise Crítica do Discurso e Análise do Conteúdo, adotando

    os jornais Diário de Notícias, Público, Jornal de Notícias e Correio da Manhã como

    objetos de investigação, durante o ano de 2016.

    b) Comparar as práticas discursivas dos quatro jornais portugueses estudados, com

    enfoque nos critérios de seleção e de construção da notícia, a fim de verificar como

    isso resulta na representação do Brasil que é difundida por meio das produções

    noticiosas de cada veículo.

    c) Para além da representação, investigar as práticas/rotinas jornalísticas utilizadas

    pelos quatro jornais portugueses definidos para estudo, correlacionando tais práticas,

    com foco nas suas dimensões e temporalidades.

    d) Interpretar os resultados aferidos, juntamente com entrevistas realizadas com os

    diretores e jornalistas dos periódicos, utilizando as Teorias do Jornalismo como

    suporte.

    Metodologia

    A investigação proposta é de caráter histórico-descritiva, de método hipotético-

    dedutivo, com procedimento de estudo de caso – dos periódicos Diário de Notícias, Público,

  • 14

    Jornal de Notícias e Correio da Manhã – e abordagem de métodos mistos – qualitativo-

    quantitativo – (Creswell, 2010). A análise sistemática do corpus se dará, simultaneamente,

    por duas abordagens. Trata-se de um projeto de triangulação concomitante, no qual as duas

    fases de análise possuem o mesmo peso e se caracterizam por terem os seus dados obtidos

    simultaneamente.

    5

    Figura 1 – Modelo de Projeto de Triangulação Concomitante5

    Fonte: Creswell (2010: 247)

    A investigação de métodos mistos é mais do que a simples coleta e análise de

    diferentes tipos de dados. Na verdade, envolve o uso das duas abordagens em conjunto. A

    escolha desse método se deu por considerar que ele proporciona uma maior compreensão

    dos problemas de investigação. O desenvolvimento e legitimidade adquirida, tanto pela

    pesquisa qualitativa, quanto pela quantitativa, nas ciências humanas e sociais, proporcionou

    o uso da pesquisa de métodos mistos que, com o passar do tempo, ganhou mais

    popularidade. “Por fim, pode-se obter mais insights com a combinação das pesquisas

    qualitativa e quantitativa do que com cada uma das formas isoladamente” (Creswell, 2010:

    283).

    A estratégia metodológica adotada na pesquisa ainda inclui o método funcionalista,

    a análise comparativa entre os jornais lusitanos e a aplicação de entrevistas

    semiestruturadas. As técnicas a serem utilizadas são: a) Pesquisa bibliográfica; b) Pesquisa

    de campo; c) Análise Crítica do Discurso; d) Análise documental; e) Análise de conteúdo.

    55 Note-se que o termo “QUAN” refere-se a quantitativo e o termo “QUAL” a qualitativo.

  • 15

    Etapas do Estudo

    A primeira etapa do projeto corresponde à revisão bibliográfica e a formação do

    Estado da Arte. A segunda etapa corresponde à formação do corpus de análise, seguido da

    terceira etapa que será a análise (quantitativa e qualitativa) dos documentos recolhidos e

    que formam o corpus analítico. A quarta e última etapa corresponderá à redação da tese,

    com a exposição e reflexão pertinente dos resultados obtidos durante toda a investigação.

    A respeito da análise do corpus, a primeira fase, de caráter quantitativo, se refere à

    quantificação das produções noticiosas dos jornais delimitados, mediante análise de

    conteúdo. E a segunda, de caráter qualitativo, a partir da discussão das imagens e

    representações simbólicas do Brasil contidas nas produções noticiosas, bem como das

    práticas jornalísticas dos periódicos supracitados, mediante análise crítica do discurso, e

    com o suporte das Teorias do Jornalismo (Sousa, 2002), notadamente a do Newsmaking

    (Wolf, 1999). O intuito é de comprovar, ou não, as hipóteses previamente levantadas. Ao

    final, os resultados das análises quantitativas e qualitativas são discutidos, comparados e

    mesclados, a fim de determinar se há convergência, diferenças ou alguma combinação. O

    intuito principal é enriquecer os resultados alcançados pela investigação e testar, por meio

    do método hipotético-dedutivo, a pertinência ou não das hipóteses levantadas; bem como

    realizar inferências, deduções e comparar os resultados obtidos.

    Além do estudo da representação, também se considera para a investigação

    proposta a pesquisa de campo. Essa consiste na visita às redações dos jornais delimitados

    para estudo, na intenção de observar o processo de construção da notícia para a ambiência

    online. O intuito é descobrir de que forma as novas tecnologias digitais tem modificado as

    redações e as práticas jornalísticas. Também durante a pesquisa de campo, vislumbra-se a

    aplicação das entrevistas com os diretores dos jornais e jornalistas. Será utilizada a

    metodologia das entrevistas semiestruturadas.

    O método da análise documental está a ser utilizado para a formação do corpus de

    análise, que consiste na recolha de notícias dos quatro jornais selecionados como amostra

    dos media online portugueses. No período estabelecido como recorte histórico para

    formação do corpus foi realizada a leitura “flutuante” (Bardin, 2004) diária dos quatro jornais

    selecionados. Durante este processo, foram estabelecidos alguns critérios para a coleta do

    material jornalístico, sendo selecionadas apenas aquelas produções que:

    a) Abordem diretamente sobre o Brasil;

    b) Discorram sobre instituições, empresas e personalidades ligadas à nação brasileira;

    c) Mesmo sobre outras temáticas, que tratem de forma significativa e apresentem

    conteúdo relevante sobre o Brasil.

  • 16

    Relativamente à recolha de notícias dos jornais delimitados, esta ocorreu durante

    todo o ano de 2016. Para tanto, utilizou-se do sistema de busca do indexador de notícias,

    disponibilizado online, chamado “Busca Tretas6”6, que permite localizar todos os artigos

    disponibilizados por jornais online na internet. Procedeu-se a busca a partir da palavra-chave

    “Brasil”, o que acarretou na seleção pelo software, de todas as notícias, no período e jornais

    delimitados, que possuíssem o termo “Brasil” ou derivados, como “brasileiro” e “brasileira”,

    por exemplo. Foram selecionados pelo indexador de notícias cerca de seis mil peças

    jornalísticas. No momento, efetua-se uma filtragem do material, a fim de se eliminar as

    publicações que não sejam de interesse para os objetivos deste estudo. As produções

    noticiosas selecionadas estão salvas em ficheiros do Microsoft Excel, contendo informações

    como a data, hora de publicação, URL, autor, além do texto integral.

    Após a formação do corpus de análise, são estabelecidas algumas variáveis de

    análise – unidades de registro – para os documentos e categorias analíticas para agrupar

    tais unidades. A descrição se dará logo após a aferição de resultados; a interpretação, com

    inferências, ocorrerá numa discussão juntamente com os dados qualitativos, com o suporte

    das Teorias do Jornalismo.

    A fim de mensurar os dados das produções jornalísticas, se estabeleceu um conjunto

    de unidades de registro, apoiadas por categorias de análise. Assim, em cada documento

    será identificada a unidade de registro e a categoria analítica em que tal documento se

    encaixa. De acordo com Bardin (2004), a análise categorial é a ferramenta mais generalizada

    na aplicação da análise de conteúdo e tem por objetivo tomar em consideração a totalidade

    de um “texto”, passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a

    frequência de presença (ou ausência) de itens de sentido.

    A considerar que a amostra dos media online portugueses é composta por quatro

    jornais, e que se estabeleceu o recorte histórico de todo o ano de 2016, têm-se um elevado

    número de produções noticiosas para análise. Neste sentido vislumbra-se a utilização do

    software SPSS para este momento de análise quantitativa, a fim de estabelecer relações

    estatísticas entre as unidades de registro da grelha de análise de conteúdo. A escolha deste

    software deu-se por considerar suas funcionalidades e utilização gratuita para alunos da

    Universidade do Porto. Para Coutinho (2015), o SPSS se constitui um auxiliar para um

    investigador que tenha procedido uma recolha de dados quantitativos e tenha o intuito de

    descrever, analisar e relacionais tais dados ou mesmo contrastar hipóteses da investigação.

    66Disponível em https://busca.tretas.org.

  • 17

    A seguir, têm-se a grelha de análise (tabela 2) desenvolvida para a investigação

    proposta, na qual estão expostos os elementos mais significativos a serem observados nos

    documentos.

    Tabela 1: Grelha de análise de conteúdo

    Já na fase qualitativa, a análise sistemática das notícias a partir da perspectiva da

    Análise Crítica do Discurso (ACD), terá como suporte os estudos de Charaudeau (2006),

    Unidade de Registro

    Categoria de Análise Regra de Enumeração / Classificação

    TEMA

    • Cultura

    • Crimes

    • Desporto

    • Economia

    • Pessoas

    • Política

    • Outros

    • Sociedade

    Frequência

    GÉNEROS JORNALÍSTICOS Salaverría e Díaz-Noci (2003)

    INFORMATIVOS

    • Notícia INTERPRETATIVOS

    • Reportagem

    • Crônica INFOGRAFIA ONLINE

    • Infografia DIALÓGICOS

    • Chat

    • Entrevista

    • Fórum

    • Enquete

    • Vinheta e tira cômica OPINIÃO

    • Editorial

    • Artigo

    • Coluna

    • Crítica e resenha

    • Carta ao diretor

    Frequência

    VALORES-NOTÍCIA

    • Importância

    • Interesse

    • Negatividade

    • Proximidade

    Presença (ou Ausência)

    FONTES DE INFORMAÇÃO

    • Agências

    • Autoridades

    • Oficiais

    • Media Sociais

    • Outros Media

    Presença (ou Ausência)

    ELEMENTOS MULTIMÉDIA

    • Áudio

    • Enquete

    • Fotografia

    • Fotogaleria

    • Hiperlinks

    • Infografia

    • Recursos Interativos

    • Vídeo

    Presença (ou ausência)

  • 18

    Fairclough (1995, 2001), van Dijk (1985, 1990) e Wodak (2001). A análise crítica do discurso

    tenta evitar estabelecer uma simples relação de determinação entre os textos e o social. É

    importante levar em consideração as afirmativas de que o discurso é estruturado pela

    dominação e que cada discurso é produzido e interpretado numa dada perspectiva histórica,

    isto é, está situado no tempo e no espaço. Além disso, as estruturas de dominação são

    legitimadas pelas ideologias dos grupos que detém o poder. Segundo Ruth Wodak (2001),

    a abordagem complexa defendida pelos proponentes da ACD possibilita a análise das

    pressões verticalizadas e das possibilidades de resistência às relações desiguais de poder,

    que figuram como convenções sociais.

    A partir dessa perspectiva, as estruturas dominantes estabilizam as convenções e as

    naturalizam, fazendo com que os efeitos da ideologia e do poder na produção de significados

    sejam mascarados e assim assumam formas estáveis e naturais. Para Maingueneau (2011),

    o discurso só adquire sentido no interior de um universo de outros discursos, lugar no qual

    ele deve traçar seu caminho. “Para interpretar qualquer enunciado, é necessário relacioná-

    lo a muitos outros — outros enunciados que são comentados, parodiados, citados, etc.”

    (Maingueneau, 2011,p. 55).

    Pretende-se utilizar o software IRAMTUEQ, de distribuição livre, desenvolvido pelo

    Laboratoire d'Études et de Recherches Appliquées en Sciences Sociales (LERASS) da

    Universidade de Toulouse, para auxiliar na análise de dados textuais, juntamente com a

    técnica da ACD. Busca-se se analisar elementos como a macroestrutura, a apontar os

    enquadramentos, temas e subtemas abordados por cada jornal. Também será observado,

    especificamente, como se construiu a teia discursiva nas temáticas abordadas nas

    produções noticiosas. Considera-se também elementos da estrutura textual como

    importantes de serem analisados, notadamente: os títulos, parágrafos e formatos.

    Resultados

    Esperam-se resultados que para além de responder à questão de investigação e

    alcançar os objetivos, possam gerar contribuições científicas para o campo da comunicação

    social. Contribuições essas documentadas na forma de resultados intermediários, em artigos

    científicos e resultados completos, incluindo toda a caminhada até a obtenção de respostas

    válidas para a questão de investigação na tese de doutorado.

    Conclusões

    A contribuição da investigação aqui proposta será inédita para a área científica da

    comunicação luso-brasileira, pois trará uma atualização da conjuntura de representação

  • 19

    social do Brasil no exterior, tendo como base Portugal, país com o qual sempre manteve

    relações e cooperações em diversos níveis.

    Há de se considerar, também, que os jornais delimitados para estudo são voltados

    também para o mundo lusófono, grupo esse que o Brasil faz parte, sendo a nação

    atualmente com mais falantes de língua portuguesa no mundo. Uma relação mais estreita

    entre os dois países é de extrema importância, ao se considerar um contexto mais amplo,

    que envolve as relações da União Europeia com a América Latina. A contribuição da

    investigação segue sendo importante também para os estudos do jornalismo e suas relações

    com as novas tecnologias digitais.

    Referências Bibliográficas

    Baldissera, R. (2003). Imagem-conceito, a indomável orgia dos significados. Anais do 26º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Belo Horizonte-MG, setembro de 2003. São Paulo:Intercom.

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    Moscovici, S. (2007). Representações sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis, RJ: Vozes.

  • 20

    Quivy, R. & & Campenhoudt, L. Van (1998). Manual de investigação em ciências sociais. Lisboa: Gradiva.

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  • 21

    A MONETIZAÇÃO DO CULTO: UMA REFLEXÃO SOBRE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO

    DAS COMUNIDADES DE FÃS NOS MEDIAS DIGITAIS E SUAS INTERFACES COM A

    ECONOMIA CRIATIVA

    MONETIZATION CULT: A REFLECTION ON CONTENT PRODUCTION OF FAN

    COMMUNITIES IN DIGITAL MEDIA AND INTERFACE WITH CREATIVE ECONOMY

    Breno Enzo Scafura1

    Resumo

    Debruçado em questões contemporâneas oriundas das modificações recorrentes nos protocolos que configuram os medias e a sua influência no tecido social, o artigo aqui proposto guisa compreender melhor as tensões que envolvem o sujeito e o atual panorama infocomunicacional se concentrando na figura do fã de vídeo jogos que se apropria dos objetos de culto inerentes em diferentes games para produzir conteúdo intelectual como atividade econômica. Em seu primeiro degrau será proposto o entendimento do conceito de Economia Criativa, pensando a produção de conteúdo na internet como possível atividade geradora de riqueza. Após refletir sobre o referido fenômeno em conjunto com inquietações presentes na dinâmica de consumo e agenciamento cultural na contemporaneidade, a pesquisa evocará discussões voltadas para as posturas adotadas pelas comunidades de fãs fronte aos novos espaços informacionais, objetivando refletir sobre o agenciamento cultural promovido por determinados fãs de videojogos que se apropriam dos medias sociais como suporte para desenvolver conteúdo intelectual capitalizável.

    Abstract

    Overturned in contemporary topics originating from recurrent modification in the protocols that configure the media and your influence in the social fabric, the article proposed guise better comprehend the tensions involving the actual panorama of communication and information concentrating in the figure of the videogames fan that appropriates of the worship objects inherent in different games for produce intellectual content as economic activity. On it first step will be proposed the understanding of the Creative Economy concept, thinking in the content production as a possible wealth-generating activity. After reflecting on the aforementioned phenomenon together with concerns about the dynamics of consumption and cultural agency in contemporary times, the paper will evoke discussions aimed at the postures adopted by the fan communities facing the new information spaces, focusing on reflecting on the cultural agency promoted by certain video game fans who appropriate social media as support for developing capitalizable intellectual content.

    1 UNIFACS, UCP, Brasil. Email: [email protected].

    PALAVRAS-CHAVE economia criativa, cultura participativa, comunidades de fãs, medias sociais, contemporaneidade.

    KEYWORDS creative economy, participatory culture, fan communities, social media, contemporary.

  • 22

    Introdução

    Dos diversos entraves sociocomunicacionais gerados pela contemporaneidade

    destacam-se aqueles que perpassam transversalmente questões relacionadas à tecnologia,

    comunicação e cultura. A mediatização, conceito que abarca estes tensionamentos, age de

    modo dinâmico, reconfigurando e criando novos protocolos socioculturais. As constantes

    mudanças no tecido social vêm inquietando pesquisadores de diferentes eixos do

    conhecimento. Mediante a este panorama de intensas práticas discursivas, Muniz Sodré

    conceitua a mediatização como “uma ordem de mediações socialmente realizadas no

    sentido da comunicação entendida como processo informacional, a reboque de

    organizações empresariais e com ênfase em tipo particular de interação” (Sodré 2002, p.21).

    Sodré (2002) acredita que os processos de mediatização se tornaram mais

    expressivos com a difusão das tecnologias digitais, principalmente aquelas que estão ligadas

    à internet. Tratando deste tal impacto sociotécnico na lógica contemporânea de diferentes

    cearas da sociedade, Manuel Castells (1999) chama de “Era da Informação” a interacção

    entre processos sociais. Para o autor a revolução tecno-informacional fez “surgir uma nova

    estrutura social dominante, a sociedade em rede; uma nova economia, a economia

    informacional/global; e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real” (Castells 1999, p.

    411).

    Eis que fronte este cenário mediado por uma configuração mediatizada a produção

    cultural também se adequou à evidente presença dos media no cotidiano. A explosão

    tecnológica, que colocou os meios de produção a serviço da sociedade, horizontalizou os

    processos de produção e disseminação cultural, dando ao consumidor a capacidade de

    participar mais ativamente do fluxo informacional. Se apropriando da tecnologia, aqueles

    que “apenas” consumiam passaram a actuar como agentes no cenário mediático. A Cultura

    Participativa (Levy, 1997; Jenkins, 2006; 2009) evocada pela descentralização da

    disseminação de informação elevou a produção de conteúdo intelectual à um novo patamar

    no relevo mediático e abriu portas para que produtores de conteúdo originados da audiência

    pudessem gerar valor económico através de suas actividades de agenciamento cultural.

    O conceito de Cultura da Participação lidaremos aqui está ligado a relação

    desenvolvida entre a sociedade e os meios de comunicação como ambientes de construção

    coletiva de significados e, também, espaço para a difusão de conhecimento produzido, ideias

    e informações. No que tange a internet, ambiente base de nossa investigação, Pierre Levy

    (1997) se refere ao ambiente digital originado por esta como um cyberespaço, espaço

    definido pelo próprio como “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de

    computadores e das memórias dos computadores”. Para Henry Jenkins (2006; 2009) a

  • 23

    sociedade encara a rede mundial de computadores como “um veículo para ações coletivas

    - soluções de problemas, deliberação pública e criatividade alternativa”.

    Deparado com os questionamentos que se desenvolvem a partir da reconfiguração

    contemporânea na ordem que regem as práticas de consumo, produção e disseminação de

    conteúdo, o presente artigo almeja refletir sobre o papel desempenhado pelos agentes culturais

    originados da democratização e desestandardização dos protocolos dos media. Tendo como

    objecto de análise uma série de indivíduos pertencentes à comunidade de fãs de videojogos

    – já consagrados pelas suas comunidades os produtores de conteúdo observados já são

    capazes de gerar valores através de suas atividades de agenciamento – que reverberam

    conteúdo em plataformas digitais, principalmente nos medias sociais, o artigo tem como

    objectivo principal ponderar sobre maneira com que estes indivíduos agenciam suas

    comunidades, voltando o olhar principalmente para as suas presenças digitais e a maneira

    com que são usadas as ferramentas de monetização e disseminação do conteúdo gerado,

    e verificar a possibilidade de os enquadrarmos como membros de uma classe de criativos

    capazes de gerar valor simbólico e económico em torno do próprio esforço intelectual.

    Fãs como Membros Pertencentes da Classe Criativa

    Uma economia pautada no capital intelectual. Aqueles que desdobram sua

    criatividade a ponto de tornar tangível, em forma de produtos ou serviços, seus esforços,

    podem ser considerados representantes de um recente paradigma econômico, a Economia

    Criativa. Apesar de não ser algo novo e que sempre esteve presente na sociedade (Howkins,

    2001), o conceito de economia criativa ainda se mostra turvo - o que deixa em aberto a

    possibilidade de novos estudos se empenharem em desnudar entraves envolvendo sua

    complexidade.

    Afim de entender melhor as tensões evocadas pelo capital criativo, Richard Caves

    (2000) apontou como indústria criativa o conjunto de instituições que produzem bens e

    serviços dotados de “dose substancial de esforço artístico ou criativo”. Focado no grupo que

    realiza e faz parte do movimento econômico pautado na criativa, Florida (2002) chamou

    atenção para uma classe emergente que se apropria de seus símbolos e ritos para

    posicionar-se economicamente. Ele nomeou esta casta de indivíduos como “classe criativa”,

    que é composta por aqueles que subvertem a cultura de maneira criativa objetivando exercer

    uma atividade econômica. Posteriormente, Stuart Cunnigham (2006), preocupado em

    melhor definir o conceito, fala das indústrias criativas como “activities wich have their origin

    in individual creativity, skills and talent and which have potential for wealth and job creation

    trough generation and exploitation of intellec- tual property”. De forma mais direta, o conceito

    de economia se condensa nas práticas que têm como “matéria-prima a criatividade”. Dentro

  • 24

    deste campo estão atividades relacionadas às artes, produção cultural, cinema, arquitetura,

    moda, media, design, dentre outras. Estas atividades são dotadas de peculiaridades

    específicas germinam da exploração da produção intelectual como metáfora econômica.

    O entendimento da contextualização da Economia Criativa se torna de suma

    importância para que o documento proposto possa dialogar com as questões inerentes nas

    imbricações originárias do engajamento do fã, especialmente aquele que faz parte da

    gamecultura, em interfaces que o levam ao campo da economia criativa. A princípio

    podemos aferir que o conteúdo produzido pelo fã, ao gerar riqueza, fator crucial para ser

    considerado uma de cunho econômico, é metáfora da economia criativa.

    Para Howkins (2001), existem dois tipos de forças criativas que levam a geração de

    um produto criativo, a criatividade enquanto motivação pessoal, que segundo ele está ligada

    à “nossa realização como indivíduos, e que é privada e pessoal, e a criatividade que encontra

    como estímulo um mercadológico, mais presente, de acordo com suas palavras, nas

    “sociedades industriais ocidentais que dão mais valo ao ineditismo, à inovação científica e a

    tecnologia e os direitos de propriedade”. Apesar de ser considerada uma tendência da

    comunicação na contemporaneidade, a produção de conteúdo muito mais se baseia numa

    vontade própria do que num investimento. Aqueles que produzem conteúdo ascendem na

    comunidade através de muito esforço e muitos deles começaram suas atividades como

    hobbie. Um exemplo que ilustra de maneira clara esta nova posição do fã diante de seus

    fetiches é a história do youtuber BRKsEDU. Eduardo Benenvuti, o BRKsEDU para a

    comunidade gamer, é um analista financeiro que frustrou- se com a carreira de economista

    e decidiu fazer algo diferente. Eduardo costuma dizer em seus vídeos que sempre foi fã de

    games. Em um vídeo22 publicado em quatro de maio de 2015, Eduardo se coloca como um

    grande entusiasta do segmento, enquadrando-se como um fã da velha guarda, mas que

    também transita entre as expressões contemporâneas da cultura dos jogos eletrônicos.

    Motivado por este forte vínculo com a cultura gamer, em julho de 2010, Eduardo Benevuti

    criou o que seria um dos maiores e mais influentes canais brasileiros no Youtube com a

    temática de jogos. Atualmente, detentor da incrível marca de 5,286,932 inscritos e

    817,706,665 visualizações33, Eduardo Benevuti largou seu antigo estilo de vida e passou se

    dedicar de corpo e alma ao projeto. Seu trabalho é tão relevante que as atuais gigantes do

    entretenimento em videojogos já demonstraram interesses em parcerias, convidando o

    youtuber para testar seus jogos. Sua influência na comunidade é tão grande que Edu tem

    até bordões. Imagens de cunho humorístico com gafes e momentos de descontração em

    22https://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iio.

    33Visualizado no dia 9/03/2017.

    http://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iio

  • 25

    seus vídeos circulam na rede. Segundo ele44, hoje, o canal é a sua principal fonte de renda,

    o que o admite como produtor intelectual criativo. Em seu profile no gigante da reprodução

    de vídeos online, Eduardo descreve BRKsEDU como um “canal de gameplays e vlogs de

    games e entretenimento!” e ainda conclui: “ou seja: tenho o melhor trabalho do mundo!”.

    Assim como Eduardo Benenvuti, outros fãs se apropriam do seu culto para

    desempenhar atividades de cunho. Através das plataformas digitais, mais horizontais por

    natureza, os membros das comunidades de fãs enquanto um ambiente mais democrático

    onde podem agenciar suas manifestações culturais. A cultura da participação está

    favorecendo o aparecimento de uma legião de fãs que profissionalizam o culto e colhem de

    sua dedicação frutos do capital. Comumente, aqueles que alcançam o status de

    embaixadores da comunidade ou seja, representantes eleitos democraticamente através da

    relevância de seus conteúdos, conseguem, de certa forma, monetizar as suas atividades.

    De acordo com Howkins (2001), “a criatividade não é necessariamente uma atividade

    econômica, mas poderia se tornar caso produza uma ideia com implicações econômicas ou

    um produto comerciável”. Trocando em miúdos, a capacidade de fãs de tornar seu conteúdo

    rentabilizável, como Eduardo fez com seu canal no Youtube, enquadra suas atividades no

    hall da economia criativa.

    A classe de fãs produtores, que emergem dos ritos de sua cultura tal como Eduardo,

    é uma metáfora do que Richard Florida (2002) chamou de classe criativa, que para ele é

    uma das forças que compõe a Economia Criativa e as modificações nos paradigmas

    econômicos tradicionais. Segundo o autor o mundo está mudando drasticamente desde a

    Revolução Industrial e isso não é reflexo exclusivo da evolução tecnológica e dos processos

    de globalização.

    Na tentativa de definir com exatidão está classe emergente, Florida observou a

    existência de dois grupos distintos de criativos. Aqueles que fazem parte de um Creative

    Core, coração da classe criativa, e que incluem cientistas, engenheiros, professores

    universitários, poetas e novelistas, artistas, designers, e etc. Para ele, estes encontram-se

    no centro das atividades criativas por conta da sua capacidade de gerar ineditismo. No outro

    grupo, os criativos que trabalham na Indústria Criativa, os indivíduos pertencentes executam

    funções dentro de projetos perspectivados pela visão criativa da economia. São pagos para

    pensarem e repensarem suas formas usuais de trabalho, com o intuito de gerar inovações,

    tanto nos processos quanto nos produtos a que se dedicam.

    Partindo do ponto de vista de Florida, poderíamos enquadrar os fãs que produzem

    conteúdo dentro do Creative Core, pois suas atividades estão enxertadas de particularidades

    44Depoimento retirado do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iioz.

    http://www.youtube.com/watch?v=Qjvgsoo7Iio

  • 26

    pessoais, novas óticas de enxergar e reproduzir a própria cultura. A produção de conteúdo

    desses é uma narrativa original, que mistura elementos de sua criatividade com signos

    oriundos das manifestações culturais que perpetuam. Por fim, podemos dizer que os fãs

    podem ser considerados verdadeiros representantes da classe criativa. Eles se munem dos

    signos contidos em suas culturas e os desdobram em conteúdos para a comunidade, que,

    ao os perceberem como representantes, elevam suas produções ao ponto de se tornarem

    monetizáveis mediante seu consumo.

    A Monetização do Culto

    Para endorsar a perspetiva apresentada elencaremos neste momento as maneiras

    mais usuais com que os fãs reverberam sua ansia participativa de forma a promover a

    geração de capital; sendo essa uma característica primordial para tornarem-se ativos na

    economia criativa (Florida, 2002). Dentre elas estão aspectos que consideramos

    contemporâneos à forte presença da tecnologia no espaço infocomunicacional e, também,

    aspectos que ocorrem decorrente da construção de suas imagens perante a comunidade

    que agenciam, no nosso caso são os adeptos das gamecultura.

    Voltando a premissa de que os produtores de conteúdo eleitos embaixadores de suas

    comunidades são exemplos do que Gramsci (1975) conceitua como “intelectuais orgânicos”,

    estes agenciam e são agenciados por aqueles que representam através do reconhecimento

    de suas contribuições para o desenvolvimento do grupo a que fazem parte. Sem este status

    de representante, torna-se muito difícil ascender à classe criativa no que tange a ideia de

    uma economia baseada no produto do intelecto e da criatividade. Trocando em miúdos, o

    produtor de conteúdo é um membro da comunidade que a representa, mas que também

    depende da sua legitimação e apoio.

    Como já discutido anteriormente, o papel da tecnologia nessa nova pirâmide de

    consumo é fundamental. O apoio da tecnologia, principalmente da internet e suas

    ferramentas sociais, favoreceu o aparecimento de mais intelectuais orgânicos. No que tange

    o nicho do nosso corpus de pesquisa, os jogos eletrônicos, o espaço digital é ainda mais

    influente, pois boa parte das trocas sociais desenvolvidas por seus membros advém de

    plataformas que se baseiam em protocolos tecnológicos.

    Observando representantes influentes da gamecultura e que já atingiram o patamar

    de membros ativos da economia criativa, sendo alguns de