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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ INSTITUTO DE TECNOLOGIA EM FÁRMACOS – FARMANGUINHOS Aplicação do princípio de Quality by Design no processo de desenvolvimento analítico de métodos indicativos de estabilidade JULIANA ALVIM PAIXÃO CHAVES RIO DE JANEIRO 2017

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ – FIOCRUZ INSTITUTO DE TECNOLOGIA EM FÁRMACOS – FARMANGUINHOS

Aplicação do princípio de Quality by Design no processo de

desenvolvimento analítico de métodos indicativos de estabilidade

JULIANA ALVIM PAIXÃO CHAVES

RIO DE JANEIRO

2017

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INSTITUTO DE TECNOLOGIA EM FÁRMACOS

Juliana Alvim Paixão Chaves

Pós-Graduação em Tecnologia Industrial Farmacêutica do Instituto de Tecnologia em Fármacos

ORIENTADORA: Prof. Dra. Margareth Borges Coutinho Gallo

RIO DE JANEIRO 2017

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FICHA CATALOGRÁFICA

C512a Chaves, Juliana Alvim Paixão

Aplicação do princípio Quality by Design no processo de desenvolvimento analítico de métodos indicativos de estabilidade. / Juliana Alvim Paixão Chaves. – Rio de Janeiro, 2017. xiv, 55 f. ; 30 cm. Orientadora: Margareth Borges Coutinho Gallo Monografia (Especialização) – Instituto de Tecnologia em Fármacos-Farmanguinhos, Pós-graduação em Tecnologias Industriais Farmacêuticas, 2017. Bibliografia: f. 51-55 1. Desenvolvimento Analítico. 2. Analytical Quality By Design. 3. Controle de Qualidade. I. Título.

CDD 615.1

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JULIANA ALVIM PAIXÃO CHAVES

Monografia apresentada junto ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu do Instituto de

Tecnologia de Fármacos – Farmanguinhos/FIOCRUZ, como requisito final à obtenção do título

de Especialista em Tecnologias Industriais Farmacêuticas.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dra. Margareth B. C. Gallo

Presidente da Banca (Orientadora). Farmanguinhos/FIOCRUZ

__________________________________________________

Prof. Dra. Karen Medeiros Gonçalves

Laboratório de Tecnologia Farmacêutica, Farmanguinhos/FIOCRUZ

__________________________________________________

MSc Carla Giordani Testa

Laboratório Farmacêutico da Marinha

Rio de Janeiro

2017

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Dedicatória

Este trabalho é dedicado às mulheres fortes da minha família: Minha mãe Adailza,

minha vó Adahil, minha madrinha Leila (in memorian), minhas tias Adahil e Lilian e

minha sogra Joia. Vocês são muito especiais na minha vida e são mulheres tão belas,

cada qual a sua maneira, que me inspiram a ser cada vez melhor. Amo muito todas

vocês!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus que me possibilitou persistir no caminho do

saber para a conclusão de mais essa etapa importante da minha vida.

À minha família, sobretudo, minha mãe e minha avó, que sempre me

possibilitaram uma vida cheia de carinho e que não mediram esforços para que eu

pudesse alcançar todos os meus objetivos, sempre confiando na minha capacidade.

Ao meu esposo David que no início dessa especialização era meu namorado e

nesse turbilhão de acontecimentos na minha vida sempre me ajudou com ideias,

estando comigo em meus momentos de apreensão e dúvidas, me mostrando uma

visão cada vez mais linda da vida, tornando tudo mais fácil.

À professora Margareth Gallo que confiou em meu trabalho desde o início e cujo

incentivo e apoio foram fundamentais.

Às coordenadoras do curso, Elisabeth e Carmem pelo carinho e por tornarem

essa caminhada muito mais agradável e feliz.

Aos amigos e colegas de turma pelos bons momentos de convívio.

Ao Laboratório Farmacêutico da Marinha, minhas chefes Fernanda Pereira e

Patrícia Pires e meus colegas de trabalho que me incentivaram, permitiram minha

liberação para realização da minha especialização e contribuíram para que fosse

possível a conclusão desse curso com a dedicação necessária.

Por fim, agradeço à todas as outras pessoas que direta ou indiretamente

colaboraram para a realização desse trabalho.

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“A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos e

ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o

horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe,

jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para

isso: para que eu não deixe de caminhar”.

Eduardo Galeano

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RESUMO

CHAVES, Juliana Alvim Paixão. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DE QUALITY BY DESIGN

NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ANALÍTICO DE MÉTODOS INDICATIVOS

DE ESTABILIDADE. Rio de Janeiro, 2017. Curso de Pós-Graduação Lato Sensu do

Instituto de Tecnologia em Fármacos – Farmanguinhos/FIOCRUZ.

As ciências analíticas são consideradas uma parte integrante do desenvolvimento

farmacêutico, sendo etapa primordial do ciclo de vida do produto farmacêutico. O

desenvolvimento de Métodos Indicativos de Estabilidade (MIEs) por Cromatografia

Líquida de Alta Eficiência (CLAE) utilizando a abordagem tradicional (OFAT – One-factor-

at-time - Um fator de cada vez), no qual um único parâmetro é otimizado para a resposta

esperada enquanto os outros permanecem constantes é baseada no desenvolvimento

empírico. Nessa abordagem, o desenvolvimento é impulsionado pelos dados obtidos e

é realizado, geralmente, de forma retrospectiva, a variabilidade não é entendida e,

portanto, não é evitada. Esse tipo de abordagem apresenta um risco elevado de falhas

durante a transferência de metodologia, podendo levar a necessidade de

desenvolvimento de um método alternativo e revalidação, aumentando o custo e tempo

para o desenvolvimento de métodos. Abordagens mais atuais são baseadas em um novo

paradigma onde a qualidade não deve ser testada nos produtos e sim planejada e

construída durante os processos de desenvolvimento e de produção - Quality by Design

(QbD). Esta monografia visa apresentar os conceitos do QbD no contexto analítico,

conhecido como Analytical Quality by Design (AQbD).

Palavras Chave: Desenvolvimento Analítico, Analytical Quality By Design e

Controle de Qualidade

ABSTRACT

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CHAVES, Juliana Alvim Paixão. APPLICATION OF THE PRINCIPLE OF QUALITY BY

DESIGN IN THE PROCESS OF ANALYTICAL DEVELOPMENT OF INDICATIVE

METHODS OF STABILITY. Rio de Janeiro, 2017.

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu do Instituto de Tecnologia em Fármacos –

Farmanguinhos/FIOCRUZ.

The analytical sciences are considered an integral part of pharmaceutical

development, being a primordial stage in the pharmaceutical product life cycle. The

development of Stability-Indicating Methods (SIM) by High Performance Liquid

Chromatography (HPLC) using the traditional one-factor-at-time (OFAT) approach, in

which a single parameter is optimized for expected response while others remain

constant, is based on empirical development. In this approach, development is driven by

the data obtained and it is performed, generally, retrospectively; variability is not

understood and, therefore, is not avoided. This type of approach presents a high risk of

failures during technology transfer, which may lead to the need of developing an

alternative method and revalidation, increasing the cost and time for the development of

methods. Current approaches are based on a new paradigm where quality should not be

tested on products but rather to build by design - Quality by Design (QbD). This

monograph aims to present QbD concepts in the analytical context, in which it is being

applied, known as Analytical Quality by Design (AQbD).

Key Words: Analytical Development, Quality By Design e Quality Control

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ÍNDICE DE TABELA

Tabela 1 - Comparação entre a abordagem tradicional e por AQbD ........................................ 17

Tabela 2 - ATP para IFA e Produto (JAYAGOPAL; SHIVASHANKAR, 2017) ........................... 20

Tabela 3 - Atributos Potenciais mais comuns de um método ..................................................... 21

Tabela 4 - Análise de risco para o desenvolvimento de método analítico usando FMEA...... 24

Tabela 5 - Amostras avaliadas no estudo de degradação forçada ............................................ 33

Tabela 6 – Reações de estresse realizadas durante um estudo de degradação forçada ..... 33

Tabela 7 - Exemplo de softwares empregados no desenvolvimento e otimização de métodos

por CLAE ............................................................................................................................................. 34

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Tipos de estabilidade e testes relacionados (Adaptado de SILVA et al.., 2009) .... 7

Figura 2 - Recolhimentos de medicamentos relacionados à ocorrência de impurezas - FDA

............................................................................................................................................... 9

Figura 3 – Os diferentes tipos de perfil de degradação (Adaptado de BRASIL, 2015b) ...... 13

Figura 4 - Etapas seguidas durante o desenvolvimento de um método pela abordagem AQbD

............................................................................................................................................. 18

Figura 5 - Diagrama de espinha de peixe mostrando a análise de causa e efeito para um

método de RP-HPLC para substâncias relacionadas (Adaptado de JAYAGOPAL e

SHIVASHANKAR, 2017) ...................................................................................................... 23

Figura 6 - Representação do Espaço de Concepção com apenas um CQA – Resolução do

IFA (Adaptado de KARMARKAR et al., 2011) ...................................................................... 30

Figura 7 - Representação do Espaço de Concepção para vários CQAs (Adaptado de

KARMARKAR et al., 2011) .................................................................................................. 30

Figura 8 - Fluxograma para o desenvolvimento analítico de MIEs por AQbD ..................... 32

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ÍNDICE DE SIGLAS

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ADS - Analytical Design Space

AQbD - Analytical QbD

ATP - Analytical Target Profile

RP-HPLC-UV/DAD - CLAE Por Fase Reversa Acoplado a um Detector de Fotodiodo

CP - Consulta Pública

CQA - Critical Quality Atribute

CLAE - Cromatografia Líquida de Alta Eficiência

DoE - Design of Experiments

DS - Design Space

EMA - European Medicines Agency

EDF - Estudo de Degradação Forçada

FMEA - Failure Modes, Effects Analysis

FDA - Food and Drug Agency

IFA - Insumo Farmacêutico Ativo

ICH - International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for

Registration of Pharmaceuticals for Human

MODR - Method Operable Design Region

MIE - Método Indicativo de Estabilidade

OMS - Organização Mundial de Saúde

PBSD -Plackett Burman Screening Design

PMA - Potential Method Atributes

PD - Produtos de Degradação

PAR - Proven Acceptable Range

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QbD - Quality by Design

QbT - Quality by Testing

QTPP - Quality Target Product Profile

RDC - Resolução da Diretoria Colegiada

RPN – Risk Priority Number

OOS – Out off Specification

OOT – Out off Tendency

OFAT – One-factor-at-time - Um fator de cada vez

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SUMÁRIO

1. Introdução ...................................................................................................................................... 1

1.1 Justificativa ................................................................................................................................. 3

1.2 Objetivos ..................................................................................................................................... 5

1.2.1 Geral ....................................................................................................................................... 5

1.2.2 Específicos .............................................................................................................................. 5

1.3 Metodologia ................................................................................................................................ 5

2. O CENARIO DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA FARMACEUTICA........................................................... 6

2.1 Histórico da Qualidade na Indústria Farmacêutica – Estabilidade de Medicamentos ................ 6

2.2 Desenvolvimento de Métodos Indicativos de Estabilidade por CLAE ........................................ 10

3. QUALIDADE DESDE O PROJETO/Concepção – QUALITY BY DESIGN ............................................... 14

4. QUALIDADE ANALÍTICA BASEADA NO PROJETO (AQbD) - ANALYTICAL QUALITY BY DESIGN ......... 16

4.1 Elementos da Qualidade Analítica por Concepção -AQbD ........................................................ 19

4.1.1 Perfil Analítico Alvo - Analytical Target Profile (ATP) ............................................................ 19

4.1.2 Atributo Crítico de Qualidade – Critical Quality Atribute (CQA)........................................... 21

4.1.3 Análise de Risco - Risk Assessment ...................................................................................... 22

4.1.4 Planejamento Experimental – Design of Experiments (DoE) ............................................... 27

4.1.5 Delineamento Espacial/Área de Concepção - Design Space (DS) ......................................... 28

4.1.6 Estratégia de Controle/Monitoramento - Analytical Control Strategy (ACS) ....................... 31

4.1.7 Monitoramento Contínuo do Método (CMM) ..................................................................... 31

4.2 Amostras utilizadas no Desenvolvimento de MIEs .................................................................... 32

4.3 Softwares utilizados no AQbD ................................................................................................... 33

5 CONCLUSÃO.................................................................................................................................. 35

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS ....................................................................................................... 37

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1. INTRODUÇÃO

Estudos de produtos de degradação (PD) e de impurezas em medicamentos têm

sido exaustivamente discutidos pela área farmacêutica-industrial no Brasil desde a

publicação da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 58 em 2013 (BRASIL, 2013)

que estabeleceu parâmetros para a notificação, identificação e qualificação de PD em

medicamentos com substâncias ativas sintéticas e semissintéticas, classificados

como novos, genéricos e similares.

Esta normativa tinha como prazo para entrar em vigor no final de dezembro de

2015. Porém, dada a complexidade que essa implementação requeria, a norma foi

atualizada pela RDC nº 53 de 4 de dezembro de 2015 (BRASIL, 2015a) que estendeu

os prazos para a implementação, de acordo com a classe farmacêutica do medica-

mento. Depois, os prazos e classes de medicamentos a terem seus estudos de de-

gradação realizados foram novamente atualizados pela RDC 171 de 24 de agosto de

2017 (BRASIL, 2017a). Atrelada à RDC 53/2015 , a ANVISA publicou o Guia n°04 -

Guia para obtenção do perfil de degradação, identificação e qualificação de PD em

medicamentos - em 04 de dezembro de 2015 (BRASIL, 2015b), o qual expressa o

entendimento da Agência sobre as melhores práticas com relação a procedimentos,

rotinas e métodos considerados adequados ao cumprimento de requisitos técnicos ou

administrativos exigidos na RDC n° 53/2015, mais especificamente, na realização de

estudos de degradação forçada e estudos de perfil de degradação, na identificação e

qualificação de PD (BRASIL, 2015b). Além desses tópicos, esse guia apresenta o es-

tudo de degradação forçada como uma ferramenta para o desenvolvimento de méto-

dos indicativos de estabilidade (MIE), cuja definição está apresentada abaixo (BRASIL,

2015a):

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2

“Métodos analíticos quantitativos indicados para análise de

amostras de estabilidade, validados, capazes de detectar, ao

longo do tempo, mudanças nas propriedades físicas,

químicas ou microbiológicas de uma substância. Métodos

específicos capazes de mensurar com exatidão o teor do

insumo farmacêutico ativo, produtos de degradação e outros

componentes de interesse, sem interferência. A classificação

de um método como indicativo de estabilidade também

depende da finalidade à qual ele é proposto. Um método pode

ser indicativo de estabilidade somente para teor, sendo capaz

de quantificar um IFA em meio aos seus produtos de

degradação sem quantificar todos os produtos de

degradação relevantes; ou somente para produtos de

degradação, sendo capaz de quantificar todos os produtos de

degradação relevantes, mas não o IFA; ou ainda indicativo de

estabilidade para ambos os aspectos, ou seja, para teor e

para produtos de degradação”.

Os MIE desempenham um papel chave na regulação farmacêutica atual e a ne-

cessidade de utilização desse tipo de método passou a ser uma exigência em contex-

tos regulatórios diversos como, por exemplo, na obtenção de registro e em alterações

pós-registro (BRASIL, 2014), em estudos de estabilidade, no desenvolvimento de mé-

todos de dissolução, etc. No entanto, devido ao fato da ANVISA ter sido aceita como

membro da International Conference on Harmonisation of Technical Requirements for

Registration of Pharmaceuticals for Human (ICH), a partir de novembro de 2016, criou-

se a Consulta pública (CP) 285/2017 (BRASIL, 2017b) para estimular o diálogo entre

as várias partes interessadas a fim de alinhar as exigências da RDC 53/2015 ao que

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é preconizado pela ICH, resultando na RDC 171/2017, a qual revisa a aplicabilidade

da RDC 53/2015 em relação aos produtos já registrados.

Uma das abordagens mais atuais para o desenvolvimento de métodos segue a

tendência de implementação do conceito de Quality by Design (QbD), o qual diz que

a qualidade não deve ser testada nos produtos e sim planejada e construída durante

os processos de desenvolvimento e de produção. No contexto analítico, esse conceito

vem sendo ampliado e conhecido como Analytical QbD (AQbD). O conceito de QbD é

abordado na ICH Q8 (R2) e explora o desenvolvimento sistemático, conduzido pelo

conhecimento, realizado de forma prospectiva, baseado em ciência e na análise de

riscos, onde a variabilidade explorada e entendida é focada na qualidade do produto

e em um método mais robusto e econômico. Nesta conjuntura, a abordagem QbD

pode ser uma estratégia preferida e recomendada a ser seguida no desenvolvimento

de métodos analíticos de forma a obter flexibilidade regulatória, favorecer a transfe-

rência de tecnologia, reduzir os resultados fora de especificação (OOS) e fora de ten-

dência (OOT), apresentar alto grau de robustez e melhor custo efetivo (ICH, 2009) O

QbD é focado no desenvolvimento farmacotécnico e é obrigatório nos países que se-

guem o ICH.

1.1 Justificativa

Considerando que muitas metodologias serão desenvolvidas para atender à

RDC nº 53 de 2015 (BRASIL, 2015a), a utilização de novas abordagens e ferramentas

no desenvolvimento de métodos torna-se relevante, principalmente com o intuito de

reduzir o tempo, custo, riscos e retrabalho, trazer maior flexibilidade regulatória e gerar

uma documentação de melhor qualidade para auxiliar o desenvolvimento

farmacotécnico. Com isso, o uso do conceito de Analytical Quality by Design será

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apresentado nessa monografia com o objetivo de introduzir essa abordagem como

uma abordagem útil no desenvolvimento de método analítico associado aos estudos

de degradação forçada de fármacos e medicamentos.

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1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

Realizar o levantamento bibliográfico acerca do tema Quality by Design e

avaliar a sua aplicabilidade nos métodos analíticos, especialmente em

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE).

1.2.2 Específicos

Apresentar os elementos da Qualidade Analítica por Concepção.

Apresentar um fluxograma para o desenvolvimento analítico de métodos

indicativos de estabilidade baseado no conceito de AQbD;

Identificar os principais softwares e abordagens aplicadas nas ciências

analíticas;

1.3 Metodologia

A prospecção para o conceito QbD aplicado a métodos analíticos foi realizada

em base de dados científicos com as seguintes palavras-chave, principalmente:

Quality by Design, Analytical Quality by Design, Stability Indicating Method, Automated

Method Development. Após análise dos artigos, livros e normas nacionais e

internacionais, cerca de 40 documentos foram selecionados para constituir a amostra

bibliográfica utilizada nesta monografia, baseado no seu grau de importância científica.

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2. O CENARIO DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA FARMACEUTICA

2.1 Histórico da Qualidade na Indústria Farmacêutica – Estabilidade de

Medicamentos

A descoberta de novos fármacos no início do século XX veio acompanhada do

conhecimento de diversos efeitos adversos a medicamentos que, no entanto, não

eram claramente estudados e entendidos (HALEEM et al., 2015). Várias tragédias

mundiais como, por exemplo, o caso da Talidomida, nas décadas de 60/70

estimularam um aumento substancial na publicação de leis, normas e diretrizes no

âmbito de assegurar a qualidade, eficácia e segurança de medicamentos, indicando

uma maior preocupação dos órgãos reguladores e maior controle do desenvolvimento

e produção por parte das indústrias (HALEEM et al., 2015). Ainda naquela época,

foram estabelecidas as primeiras normas de farmacovigilância e as primeiras

alternativas para a previsão do prazo de validade de medicamentos. Na década de 90,

Japão, EUA e União Europeia se reuniram na ICH gerando a harmonização da

documentação acerca dos estudos de estabilidade com o melhor entendimento das

diferentes zonas climáticas entre os países (CAPUCHO; MASTROIANNI; CUFFINI,

2008).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu estabilidade farmacêutica como

a capacidade do produto farmacêutico manter as suas propriedades químicas, físicas,

microbiológicas e biofarmacêuticas dentro dos limites especificados durante todo o

seu prazo de validade (BAJAJ et al., 2012).

A estabilidade de produtos farmacêuticos depende de fatores ambientais, como

temperatura, umidade e luz, e de outros relacionados com o próprio produto, como

propriedades físico-químicas de substâncias ativas e excipientes farmacêuticos,

forma farmacêutica e sua composição, processo de fabricação, tipo e propriedades

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dos materiais da embalagem (BRASIL, 2005).

Para garantir a integridade química, física, microbiológica, terapêutica e

toxicológica do medicamento e do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) dentro dos limites

de aceitação especificados são realizados estudos de estabilidade, onde são

avaliadas as influências dos fatores ambientais em função do tempo na sua

embalagem primária. As variáveis avaliadas nos estudos de estabilidade podem ser

classificadas conforme demonstrado na Figura 1 (SILVA et al., 2009). A estabilidade

química provavelmente é o aspecto mais importante da estabilidade farmacêutica,

pois a sua falta pode ocasionar perda de pureza e potência, gerando perda de

eficiência farmacêutica e o aparecimento de produtos de degradação tóxicos ou não,

dentre outras consequências.

Figura 1 - Tipos de estabilidade e testes relacionados (Adaptado de SILVA et al..,

2009)

A ANVISA publicou a Resolução RE n° 01/2005 (BRASIL, 2005) que contém o

Guia para a Realização de Estudos de Estabilidade. Esta regulamentação está

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direcionada, principalmente, aos testes de estabilidade para determinação do prazo

de validade dos medicamentos e período de utilização em embalagem e condições

de armazenamento específicas. Estes testes podem ser realizados juntamente com

os estudos de pré-formulação, sendo os estudos de incompatibilidade fármaco-

excipientes e degradação forçada, assim como o desenvolvimento de métodos

indicativos de estabilidade, essenciais nessa etapa de desenvolvimento. Segundo a

ANVISA, devem ser realizados 3 tipos de estudo de estabilidade: Acelerado,

acompanhamento e longa duração.

ESTUDO DE ESTABILIDADE ACELERADO: Estudo projetado para acelerar a

degradação química e/ou mudanças físicas de um produto farmacêutico em condições

forçadas de armazenamento. Os dados assim obtidos, juntamente com aqueles

derivados dos estudos de longa duração, podem ser usados para avaliar efeitos

químicos e físicos prolongados em condições não aceleradas e para avaliar o impacto

de curtas exposições a condições fora daquelas estabelecidas no rótulo do produto,

que podem ocorrer durante o transporte.

ESTUDO DE ESTABILIDADE DE ACOMPANHAMENTO: Estudo realizado para

verificar se o produto farmacêutico mantém suas características físicas, químicas,

biológicas, e microbiológicas conforme os resultados obtidos nos estudos de

estabilidade de longa duração.

ESTUDO DE ESTABILIDADE DE LONGA DURAÇÃO: Estudo projetado para

verificação das características físicas, químicas, biológicas e microbiológicas de um

produto farmacêutico durante e, opcionalmente, depois do prazo de validade esperado.

Os resultados são usados para estabelecer ou confirmar o prazo de validade e

recomendar as condições de armazenamento.

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Entre os anos de 2013 e 2017, a ANVISA publicou diversas legislações tratando

sobre produtos de degradação e métodos indicativos de estabilidade. Essa evolução

dos regulamentos e diretrizes demonstra a preocupação das Agências reguladoras na

garantia da segurança de medicamentos para a população.

No cenário mundial, o site do FDA reporta um crescente aumento no número de

recolhimentos relacionados a impurezas, conforme o recorte apresentado na Figura 2

os dados foram retirados do site do FDA no recorte de tempo apresentado na figura.

Figura 2 - Recolhimentos de medicamentos relacionados à ocorrência de impurezas

- FDA

A realização do estudo de degradação forçada e o desenvolvimento de MIEs em

paralelo ao processo de desenvolvimento de medicamentos leva a um melhor

entendimento sobre a estabilidade da molécula e dos produtos, gerando subsídios

para um melhor desenvolvimento da formulação, do processo de fabricação e das

condições de armazenamento. Apesar de não haver um conjunto de condições

padronizadas aplicável a todos os medicamentos e IFA, um estudo de degradação

forçada e um desenvolvimento de métodos concebidos e executados de maneira

organizada e sistemática com grande embasamento teórico traz celeridade,

diminuição de falhas e maior garantia de qualidade e segurança.

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2.2 Desenvolvimento de Métodos Indicativos de Estabilidade por CLAE

A cromatografia líquida foi definida no início dos anos 1900 pelo trabalho do

botânico russo Mikhail S. Tswett. Seus experimentos se concentraram na separação

de um extrato de planta em uma coluna de carbonato de cálcio usando éter de petróleo.

Enquanto a amostra passava através da coluna por gravidade, bandas de diferentes

cores iam se formando. Ele relacionou as faixas separadas aos compostos que

poderiam estar originalmente contidos no extrato. Ele havia descoberto uma

separação analítica desses compostos com base na força da atração química de cada

composto em relação ao carbonato de cálcio (fase estacionária) ou ao éter (fase

móvel). Os compostos que eram mais fortemente atraídos pela fase estacionária

retardavam a sair, enquanto outros compostos mais fortemente atraídos pela fase

móvel eram retirados mais rapidamente da coluna. Tswett nomeou a técnica

descoberta de cromatografia (das palavras gregas chroma, que significa cor e gráfico,

significando escrever literalmente, escrita de cor). Curiosamente, o nome russo Tswett

significa cor. Hoje, a cromatografia líquida, em suas várias formas, tornou-se uma das

ferramentas mais poderosas na química analítica (MALDANER; JARDIM, 2012).

A cromatografia moderna surgiu a partir de Martin e Synge, em 1941, quando

concluíram que para o melhor desempenho da cromatografia líquida, era necessária

uma fase estacionária com partículas de tamanho reduzido, sendo necessário o

incremento de pressão para forçar a fase móvel a passar pela coluna, surgindo assim

a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) (MALDANER; JARDIM, 2009).

O desenvolvimento de MIE usando CLAE por fase reversa acoplado a um

detector de fotodiodo (RP-HPLC-UV/DAD) tem sido largamente empregado

(RIDDHIBEN et al., 2011; KAVITHA et al., 2013; BLESSY et al., 2014). A grande

popularidade dessa técnica em estudos de estabilidade é devido a sua alta

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capacidade de resolução, sensibilidade e seletividade. Além disso, as colunas

cromatográficas e os equipamentos de alta tecnologia presentes no mercado

impulsionam essa técnica para sua grande difusão, emprego e consolidação no

mercado farmacêutico. Compostos não voláteis, termicamente instáveis e

iônicos/polares podem ser analisados por essa técnica. A metodologia por RP-HPLC-

UV/DAD permite a quantificação e determinação da pureza de pico. No entanto, a

detecção por UV é limitada apenas a compostos que apresentem grupos cromóforos.

Caso contrário, outros métodos de detecção devem ser utilizados (RIDDHIBEN et al.,

2011).

Para o desenvolvimento do MIE, não é aconselhável utilizar apenas amostras do

IFA ou medicamento no final do estudo de estabilidade de longa duração. Isto porque,

em geral, a degradação é pequena, sendo passível de ocorrer dois tipos de problemas

(BRASIL, 2015b):

1. Caso seja observada uma ligeira redução no resultado de teor sem observação

de produtos de degradação, não é possível saber se a ligeira redução é

somente uma variação intrínseca da análise ou se houve, de fato, degradação

e o PD não está sendo detectado.

2. Caso não seja observada variação de teor, não é possível saber se realmente

não houve degradação ou se não há separação entre o pico do IFA e de seus

PD.

Por esses motivos, é necessário causar deliberadamente a degradação em

maior escala do IFA e/ou medicamento, expondo-os a condições mais extremas que

aquela praticada no estudo de estabilidade de longa duração. Ou seja, é necessário

realizar o estudo de degradação forçada também chamado de estudo de estresse

(BRASIL, 2015b). Nesse contexto, o estudo de degradação forçada (EDF) é a

ferramenta utilizada para se obter um perfil de degradação para o desenvolvimento

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do método indicativo de estabilidade com seletividade adequada. Além disto, o EDF

fornece informações acerca das possíveis rotas de degradação de um determinado

produto, dependendo das condições de estresse às quais a substância em análise é

submetida (BRASIL, 2015b).

Como o desenvolvimento analítico é também um processo, a aplicação dos

conceitos de QbD podem ser implementados para o planejamento e desenvolvimento

deste processo, sobretudo para métodos indicativos de estabilidade que utilizam um

número elevado de amostras provenientes do EDF. Na prática, o perfil de degradação

obtido no EDF, conhecido como “perfil potencial”, é diferente do perfil obtido no estudo

de estabilidade, denominado de perfil de degradação “real”, tanto qualitativamente

(compostos diferentes) quanto quantitativamente (concentrações diferentes), mas do

ponto de vista qualitativo, o perfil “real” está contido no perfil “potencial”. Os perfis de

degradação obtidos no estudo de estabilidade acelerada e de longa duração também

podem ser qualitativa e quantitativamente diferentes, conforme exemplificado na

Figura 3 (BRASIL, 2015b).

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Figura 3 – Os diferentes tipos de perfil de degradação (Adaptado de BRASIL, 2015b)

Como o objetivo do MIE é separar com resolução e seletividade o IFA dos seus

produtos de degradação e de possíveis excipientes, o grau de polaridade desses

compostos pode ser muito variável, e, por esse motivo, a cromatografia no modo

reverso é o tipo de técnica mais apropriada.

No entanto, a existência de múltiplas variáveis a serem consideradas, como

proporção de fase móvel, colunas cromatográficas, concentrações, temperatura de

análise, condições de degradação, etc, que resultem e garantam a qualidade final do

método, torna o desenvolvimento mais eficiente e exige um planejamento de

experimentos – Design of experiments (DoE) para que a aplicação do QbD (o DoE

está incluído no QbD; corresponde a uma das etapas) e determinação do design

space (DS) reduzam o risco de falhas, devido ao estudo das interações entre as

variáveis possíveis, possibilitando uma estratégia de controle e monitoramento

contínuo do método (TURPIN et al., 2008).

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3. QUALIDADE DESDE O PROJETO/CONCEPÇÃO – QUALITY BY DESIGN

Segundo o ICH, QbD é definido como uma abordagem sistemática para o

desenvolvimento que começa com objetivos predefinidos e enfatiza a compreensão

de produtos e processos e o controle de processos, com base em ciências e gestão

de risco de qualidade (ICH, 2009). O termo Quality by Design, cuja tradução é

conhecida como: "Qualidade desde o projeto" ou "Qualidade por Concepção", foi

criado na década de 1960 pelo engenheiro elétrico Joseph Moses Juran que

acreditava que o produto deveria ser construído com qualidade, segurança e eficácia

desde a sua concepção (YU, 2008). A qualidade deve ser controlada em cada etapa

do processo para maximizar a probabilidade de que o produto final alcance seus

atributos de qualidade e as suas especificações. A principal meta do QbD é incorporar

qualidade em produtos farmacêuticos através de planejamento bem definido, tendo

surgido pela necessidade de maior flexibilização nos processos de fabricação, pois

apresenta-se como uma abordagem proativa, sistemática e científica, com base em

análise de risco de desenvolvimento de um produto (RAMAN; MALLU; BAPATU, 2015).

A abordagem de desenvolvimento de produtos pelo QbD é uma alternativa à

abordagem tradicional, a qual é realizada de forma empírica e baseada em testes, o

que pode originar problemas de qualidade, reprodutibilidade e de fabricação de difícil

identificação da causa raiz, gerando um aumento de custo, principalmente na fase de

escalonamento devido ao desconhecimento das fontes de variabilidade (RATHORE;

WINKLE, 2009).

A utilização do conceito de QbD reflete o grau de maturidade e de entendimento

do processo fabril em todas as etapas, sua utilização requer o envolvimento de uma

equipe multidisciplinar, onde os conhecimentos são interligados desde a concepção

do produto e seu desenvolvimento até a etapa pós-regulatória (PRAMOD et al., 2016).

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O guia ICH Q8(R2) introduziu o conceito de área do projeto (design space), que

é a “combinação multidimensional e interação de variáveis de entrada e parâmetros

de processo que proporcionam garantia de qualidade do medicamento”, sendo

possível entender os efeitos de cada variável e suas interações criando uma região

de trabalho para obter as condições mais eficientes e que não comprometam a

qualidade do produto/metodologia, além de proporcionar uma flexibilidade regulatória

para mudanças, pois mudanças concebidas dentro da DS não são consideradas

mudanças, dessa forma não é necessário um processo de alteração regulatória pós-

registro. Com isso, a realização de novos estudos e a otimização de projetos,

principalmente nos processos de transferência de tecnologia, sem a aprovação formal

dos órgãos reguladores, é uma oportunidade para a melhoria contínua (ICH, 2009).

De acordo com o ICH Q8(R2), os elementos de QbD são, resumidamente:

Quality Target Product Profile (QTPP) - Este elemento identifica quais os

atributos são necessários para que se possa atingir a qualidade e segurança desejada

do produto. Trata-se do escopo do produto. Relaciona o perfil de qualidade, os

parâmetros que precisam ser alcançados para garantir a qualidade do produto.

Critical Quality Atribute (CQA) – São as propriedades ou características físico-

químicas, biológicas ou microbiológicas do produto acabado que tem impacto direto

no QTPP e que devem estar dentro de um limite apropriado, intervalo ou distribuição

para garantir a qualidade desejada para o produto.

Risk Assessment (Análise de risco) – Gerenciamento do risco que identifica

qual atributo do produto e parâmetros do processo que geram potencial efeito no CQA

do produto.

Design Space (DS) – Combinação multidimensional da interação entre variáveis

de entrada e parâmetros de processo que garantem a qualidade esperada do produto.

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A utilização do QbD como ferramenta para o desenvolvimento de métodos é

focada na qualidade dos resultados analíticos que, consequentemente, levam a uma

maior qualidade do medicamento. A utilização dessa abordagem para o

desenvolvimento de metodologias analíticas é relativamente mais nova e apresenta

alguns desafios para a sua implementação, especialmente porque não é uma

exigência regulatória ainda. Nos tópicos a seguir estão descritas a abordagem, os

termos e o fluxo de trabalho referenciados na literatura científica e no programa piloto

de pesquisa conjunta do FDA e EMA (European Medicines Agency) , que visa realizar

uma avaliação paralela de áreas relevantes nas indústrias que usam a abordagem

QbD com o objetivo de facilitar o entendimento das duas agências acerca dos novos

conceitos regulatórios que essa abordagem proporciona (ICH, 2009; GRAUL et al.,

2011)

4. QUALIDADE ANALÍTICA BASEADA NO PROJETO (AQBD) - ANALYTICAL QUALITY BY DESIGN

O modelo tradicional de desenvolvimento de métodos é baseado na abordagem

Quality by Testing (QbT). Nessa abordagem, o método preliminar é definido a partir

de um método farmacopeico. Caso contrário, na inexistência daquele, a maioria dos

pesquisadores realiza uma pesquisa bibliográfica para definir o método de partida ou

realiza um gradiente exploratório usando CLAE no modo reverso acoplada a um

detector UV/DAD, se o analito possuir grupamento cromóforo (RAMAN; MALLU;

BAPATU, 2015).

A utilização da abordagem QbD para desenvolvimento analítico é conhecida

como Analytical Quality by Design (AQbD) e segue a tendência descrita pelo ICH Q8

para o desenvolvimento farmacêutico, sendo ratificada pela publicação da USP de

2013, na qual é discutido o conceito moderno de um modelo de ciclo de vida (lifecycle

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management of analytical procedures), baseado no QbD, descrito nas diretrizes Q8,

Q9 e Q10 da ICH, aplicado a procedimentos analíticos. O FDA ressaltou os benefícios

do QbD no contexto analítico no Fórum Internacional de Processos em Química

Analítica - IFPAC 2013 (LIONBERGER et al., 2008; BONDI; DRENNEN, 2011; REID

et al., 2013) e, de acordo com o ICH Q8, os dois tipos de abordagem são comparados

na Tabela 1.

O conceito de ciclo de vida descrito no ICH Q8 é adaptável aos procedimentos

analíticos se considerarmos um método analítico como um processo e o resultado

desse processo como o resultado relatável, ou seja, o valor que será comparado ao

critério de aceitação. O objetivo da aplicação dos princípios do QbD aos

procedimentos analíticos é alinhar, de forma holística, a variabilidade do procedimento

analítico com os requisitos do produto a ser testado e melhorar a confiabilidade do

procedimento pela compreensão, redução e controle das fontes de variabilidade.

Tabela 1 - Comparação entre a abordagem tradicional e por AQbD

TRADICIONAL AQbD

Inicia com uma abordagem empírica de tentativa e erro

Inicia com uma abordagem baseada em ciência com objetivos definidos

Performance do método é avaliada durante a validação

A performance é avaliada durante o estabelecimento do ATP

Pouco entendimento das variáveis analíticas

Avaliação sistemática das variações individuais e suas interações

Qualidade do método baseada na validação

A qualidade é desenhada durante o desenvolvimento pela robustez e

reprodutibilidade

Verificação e transferência do método são atividades separadas

Qualificação de desempenho e verificação são atividades contínuas

durante o ciclo de vida

Não existe flexibilidade regulatória às mudanças

Alterações dentro do MODR não são consideradas mudanças e não exigem

submissões pós-registro

Não há espaço para melhorias Flexibilidade na implementação de

melhorias

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O fluxo típico para o desenvolvimento de métodos por AQbD está demonstrado

na Figura 4 e cada elemento será explicado com detalhes no tópico 4.1.

Figura 4 - Etapas seguidas durante o desenvolvimento de um método pela

abordagem AQbD

A melhor compreensão das variáveis que afetam o desempenho de um

procedimento analítico fornece maior garantia de que os atributos de qualidade do

produto testado poderão ser avaliados de forma confiável. O método desenvolvido

passa a ter um monitoramento contínuo para demonstrar que atende aos critérios

predefinidos ao longo de seu uso. A implementação de mudanças no procedimento é

baseada no conhecimento adquirido durante a vida útil do procedimento, o que

garante que o procedimento permanece adequado para o uso pretendido. A chave

para a abordagem geral é a compreensão da variabilidade geral, incluindo a

variabilidade resultante do processo de fabricação, das amostras estressadas e

contaminadas bem como o procedimento analítico. O entendimento da variabilidade

do método permite que pequenas mudanças possam ser implementadas, o que

favorece ajustes em transferências de metodologias (LLOYD; BERGUM, 2014).

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Ao avaliar a robustez durante o desenvolvimento do método e através da

interação de vários fatores simultaneamente, diferentemente do que é feito atualmente,

onde o quesito robustez é avaliado através de variações individuais de parâmetros

(BRASIL, 2017c), a compreensão da influência combinada de diferentes fatores no

método e na sua resposta é muito melhor entendida, diminuindo as dificuldades em

transferências de metodologias entre setores ou em diferentes laboratórios, o que

poderia ocasionar a necessidade de revalidação (PERAMAN; BHADRAYA;

PADMANABHA REDDY, 2015).

4.1 Elementos da Qualidade Analítica por Concepção -AQbD

4.1.1 Perfil Analítico Alvo - Analytical Target Profile (ATP)

O ATP é o equivalente ao QTPP no planejamento do processo, trata-se do

escopo do método. É a etapa principal em AQbD, a qual se inicia com a definição do

propósito/finalidade do método que, por conseguinte, estará fundamentado no

conhecimento prévio das propriedades da molécula que será quantificada como, por

exemplo, suas vias e mecanismos de degradação, suas impurezas processuais e

produtos de degradação, suas interações com os excipientes contidos no produto final,

a faixa de concentração juntamente com as características de desempenho desejadas

– as especificações - e os limites de aceitação. Para isto, a pesquisa bibliográfica,

denominada neste contexto de Estudo do Estado da Arte, é parte fundamental do ATP

e vai definir os vários aspectos do método como a seleção das fases, do instrumento,

a preparação do padrão e da amostra e etapas do procedimento como sonicação,

centrifugação, agitação mecânica, entre outros, como exemplificado na Tabela 2

(JAYAGOPAL; SHIVASHANKAR, 2017).

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Os critérios definidos no ATP referem-se aos atributos de dados de qualidade do

resultado relatável, isto é, precisão e incerteza de medição, que incluem todas as

fontes de variabilidade. Identificar o resultado do método como o resultado relatável

fornece um alvo para o desenvolvimento e ajuda a assegurar que o procedimento é

desenvolvido para requisitos de desempenho predeterminados que estão diretamente

ligados à qualidade dos dados. A utilização do ATP introduz atributos de desempenho

e altera a forma como atualmente definimos e avaliamos as características de

desempenho analítico. O ATP serve como ponto de referência para avaliar a aptidão

de um procedimento analítico não apenas na fase de desenvolvimento, mas também

durante todas as mudanças dentro do ciclo de vida analítico (ROZET et al., 2012).

Tabela 2 - ATP para IFA e Produto (JAYAGOPAL; SHIVASHANKAR, 2017)

ATP Alvo Justificativa

Amostra IFA ou medicamento

Desenvolver um método analítico para Quantificação de determinada molécula no IFA ou medicamento, podendo ser o princípio ativo ou outros componentes

Tipo de Método Fase reversa ou fase

normal Baseado na polaridade da molécula

que influencia o alvo do método

Instrumento CLAE, CG,

potenciometria

Baseado na disponibilidade de grupamento cromóforos, volatilidade e

outras características estruturais e moleculares do método que devem ser

explicadas

Características da amostra

Forma farmacêutica - Sólido, Líquido, Supositórios,

Comprimidos de liberação prolongada

A técnica de extração da amostra deve ser alvo, a necessidade de sonicação,

agitação mecânica, centrifugação, filtração deve ser definida

Preparação do padrão e amostras

Diluente Justificado com base na solubilidade e

pKa do IFA

Aplicação do método

Doseamento do IFA, produtos terminados ou

intermediários

A aplicação do método é alvo do desenvolvimento de método como:

doseamento de IFA, Produto Terminado, Produto intermediário,

amostras de estabilidade, uniformidade de conteúdo.

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4.1.2 Atributo Crítico de Qualidade – Critical Quality Atribute (CQA)

Em paralelo com a definição do ICH para o desenvolvimento de produtos, os

atributos críticos de qualidade no contexto analítico são os aspectos que afetam a

segurança, desempenho e eficácia do método (ICH, 2009). Um CQA se refere às

propriedades ou características do método que podem ter impacto direto no ATP e

que devem estar dentro de um limite apropriado, intervalo ou distribuição para garantir

o desempenho desejado, devendo ser controlado (LIONBERGER et al., 2008; YU,

2008). Logo, considerando o desenvolvimento de um método por CLAE, os

parâmetros cromatográficos como assimetria, número de pratos teóricos, resolução

entre os picos, pureza de pico, fator de capacidade, etc, são exemplos típicos de

CQAs que se relacionam ao resultado desejado de um método seletivo (JAYAGOPAL;

SHIVASHANKAR, 2017).

Em conjunto com o CQA, os atributos potenciais do método (Potential Method

Atributes -PMAs), que incluem todas as características que podem impactar no

desenvolvimento e desempenho do método como as relacionadas aos recursos

humanos, equipamentos, materiais, ambiente, métodos e medidas, devem ser

descritos para posterior análise de risco (KOCHLING et al., 2016). A Tabela 3

apresenta alguns destes atributos.

Tabela 3 - Atributos Potenciais mais comuns de um método

Recursos Humanos

Treinamento

Comunicação

Habilidades Individuais

Materiais

Pureza

Armazenamento

Manuseio

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Tabela 4 - Atributos Potenciais mais comuns de um método

Equipamentos

Detector

Volume morto

Método de eluição

Tipo de Injetor

Tipo de forno de coluna

Fase estacionária

Método

Número de analitos

Fase móvel

Concentração

Diluente

Estabilidade das soluções

Processo de preparação das soluções

Tempo de análise

Fluxo

Volume de Injeção

Tipo de filtração

Medida

Tempo de retenção

Parâmetros de adequabilidade do sistema

Integração

Limites de Detecção e Quantificação

Ambiente Temperatura

Umidade

4.1.3 Análise de Risco - Risk Assessment

A identificação dos CQAs e PMAs faz parte do gerenciamento de risco. A

aplicação do processo de gerenciamento de risco está descrita no ICH Q9. A definição

dos atributos de qualidade críticos e a análise de risco desses atributos devem ser

realizadas desde os estágios iniciais do desenvolvimento do método até ao

monitoramento contínuo do método. Em geral, pode-se utilizar um diagrama de

espinha de peixe (Ishikawa) para avaliação do risco. A Figura 5 demonstra um

exemplo de identificação de riscos através de um diagrama de espinha de peixe para

um método analítico típico (RAMAN; MALLU; BAPATU, 2015). O diagrama de Ishkawa

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apresenta resultados voltados para a identificação e agrupamento dos riscos. Após a

identificação dos riscos dos CQAs identificados, a análise de riscos pode ser realizada

utilizando a ferramenta FMEA (Failure Modes, Effects Analysis), exemplificada na

Tabela 5, de onde podem ser definidos quais atributos poderiam ser estudados e

incluídos no planejamento e a categorização dos riscos para priorização das ações

preventivas/corretivas, com o objetivo de analisar as falhas no planejamento e

execução do processo de desenvolvimento de métodos e consequentemente

melhorá-lo. O valor de RPN (Risk Priority Number) é uma multiplicação dos índices de

severidade, ocorrência e detecção, que direcionam a tratativa dos riscos.

Nesse caso, sendo considerado de 0 – 100 – risco baixo, 100 – 200 – risco

moderado e > 200 – risco alto.

Figura 5 - Diagrama de espinha de peixe mostrando a análise de causa e efeito para um método de RP-HPLC para substâncias relacionadas (Adaptado de JAYAGOPAL

e SHIVASHANKAR, 2017)

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Tabela 5 - Análise de risco para o desenvolvimento de método analítico usando FMEA

Objeto de Estudo: Desenvolvimento de Método Analítico por RP-HPLC-UV/DAD

Parâmetro Falha Potencial Dano ou Efeito Causa da falha

Oco

rrên

cia

(O)

Se

veri

dad

e (S

)

Det

ecç

ão (

D)

RPN

Seletividade

Interferência do placebo

Detecção e quantificação incorreta do IFA Desenvolvimento do método. Método de eluição (gradiente ou isocrático) não ade-

quado. 2 8 2 32

Qualidade dos rea-gentes

Detecção incorreta de impurezas Não utilização de reagentes de grau

HPLC 1 8 4 32

Separação não su-ficiente

Detecção e quantificação incorreta do IFA. Detec-ção incorreta de impurezas. Balanço de massas

inconsistente Desenvolvimento do método. 5 10 6 300

Interferência do di-luente

Detecção e quantificação incorreta do IFA Desenvolvimento do método. Diluente

não adequado. 1 8 2 16

Resolução

pH da Fase móvel Ionização de componentes da mistura. Alteração

nos tempos de retenção. Não detecção de impure-zas. Balanço de massas inconsistente.

Desenvolvimento do método. Erro de pre-paro pelo analista. Equipamento não cali-

brado corretamente. 4 8 3 96

Tamanho de partí-cula da coluna

Alteração nos tempos de retenção. Não detecção de impurezas. Balanço de massas inconsistente.

Desenvolvimento do método. Coluna com armazenamento incorreto.

4 6 5 120

Ruído Dificuldade na detecção de impurezas. Dificuldade

na integração dos picos.

CLAE sem qualificação ou com lavagem do sistema deficiente. Lâmpadas com nú-mero de horas acima do recomendado.

1 5 1 5

Gradiente Alteração no tempo de retenção. Modificação na separação, especificidade e seletividade dos pi-

cos. Não detecção de impurezas.

Desenvolvimento. CLAE sem qualifica-ção. Erro na configuração do método pelo

analista. 4 6 3 72

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25

Objeto de Estudo: Desenvolvimento de Método Analítico por RP-HPLC-UV/DAD

Parâmetro Falha Potencial Dano ou Efeito Causa da falha

Oco

rrên

cia

(O)

Se

veri

dade

(S

)

Det

ecç

ão (

D)

RPN

Estabilidade das soluções

pH do diluente Degradação do pico principal. Aumento de impure-

zas potenciais.

Desenvolvimento do método. Erro de pre-paro pelo analista. Equipamento não cali-

brado corretamente. 3 5 1 15

Compatibilidade do filtro

Alteração na recuperação. Aparecimento de picos que podem ser confundidos com impurezas.

Teste de filtro não realizado ou realizado incorretamente. Troca de material pelo

analista. 1 5 1 5

Temperatura Degradação dos analitos. Aumento de impurezas potenciais. Evaporação do diluente. Precipitação

do analito.

Armazenamento das soluções não esta-belecido ou estabelecido incorretamente.

Erro de armazenamento pelo analista. Falta de controle de temperatura.

1 5 1 5

Procedimento de extração

Degradação dos analitos. Aumento de impurezas potenciais. Evaporação do diluente. Precipitação

do analito. Modificação na separação e na recupe-ração.

Desenvolvimento do método. Ausência de definição no método. Erro do analista.

2 6 3 36

Formato do pico

Tipo de coluna Altera as interações analito x fase estacionária.

Mudança na resolução e tempo de análise. Desenvolvimento do método. Troca de

material. 5 10 3 150

pH e fração de or-gânico do diluente

Incompatibilidade com a fase móvel. Precipitação. Solubilidade do analito. Mudança na resolução e

inconsistência no balanço de massas.

Desenvolvimento do método. Erro de pre-paro pelo analista.

4 7 4 112

pH da Fase móvel Ionização dos componentes da mistura. Alteração

da separação, resolução e balanço de massas. Desenvolvimento do método. Erro de pre-

paro pelo analista. 3 8 3 72

Volume de injeção Ultrapassa os limites de absorção. Dificulta a de-

tecção de PD em baixa concentrações Desenvolvimento. CLAE sem qualifica-ção. Erro na configuração do método.

2 5 1 10

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26

Objeto de Estudo: Desenvolvimento de Método Analítico por RP-HPLC-UV/DAD

Parâmetro Falha Potencial Dano ou Efeito Causa da falha

Oco

rrên

cia

(O)

Se

veri

dade

(S

)

Det

ecç

ão (

D)

RPN

Balanço de massas

Fator resposta dos PDs

Falta de entendimento sobre a degradação e apa-recimento de impurezas.

Desenvolvimento de métodos. Pesquisa bibliográfica. Ausência da identificação de

impurezas. 6 10 6 360

Pureza do pico principal

Falta de especificidade e seletividade dos picos. Não detecção de impurezas.

Desenvolvimento de métodos. Pesquisa bibliográfica. Ausência da identificação de

impurezas. 6 10 6 360

Ausência de grupa-mentos cromóforos

Não detecção de impurezas. Desenvolvimento de métodos. Pesquisa

bibliográfica. Ausência da identificação de impurezas.

4 6 2 48

Tempo de corrida insuficiente

Não detecção de impurezas. Desenvolvimento de métodos. Pesquisa

bibliográfica. Ausência da identificação de impurezas.

4 6 2 48

Recuperação

Compatibilidade do filtro

Alteração na recuperação. Aparecimento de picos que podem ser confundidos com impurezas. Não

detecção de impurezas.

Teste de filtro não realizado ou realizado incorretamente. Troca de material pelo

analista. 1 5 1 5

Fator resposta dos PDs

Falta de entendimento sobre a degradação e apa-recimento de impurezas.

Desenvolvimento de métodos. Pesquisa bibliográfica. Ausência da identificação de

impurezas. 6 10 6 360

Solubilidade dos PDs

Não aparecimento de PDs. Balanço de massas in-consistente.

Desenvolvimento de métodos. Pesquisa bibliográfica.

6 10 6 360

Tempo de extração Balanço de massas inconsistente. Desenvolvimento do método. Ausência de

definição no método. Erro do analista. 2 6 3 36

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27

4.1.4 Planejamento Experimental – Design of Experiments (DoE)

Em geral, o planejamento, delineamento ou desenho experimental engloba todo

o percurso desde a colocação de um problema à interpretação de resultados, visando

atingir eficiência estatística bem como economia de recursos. Assim, e tendo em con-

sideração a finalidade do estudo a realizar, existem vários modelos de desenho expe-

rimental que podem ser seguidos.

Segundo o ICH Q8 (R2), o delineamento experimental é um método estruturado

e organizado para determinar a relação entre os fatores que afetam um processo e os

resultados desse processo (ICH, 2009). A utilização do DoE organiza e estrutura a

quantidade de informação coletada, criando um racional para os experimentos e mi-

nimizando a quantidade de experimentos a ser executado (WEISSMAN, 2014). Esta

definição pode ser aplicada para o desenvolvimento analítico para determinar a rela-

ção entre os parâmetros instrumentais do método e o desempenho do método. O DoE

pode ser realizado com uma variável por vez (isoladas - os intervalos de aceitação)

ou com várias variáveis (multifatorial, em conjunto – a área de concepção) e suas

relações e respostas.

O planejamento multifatorial permite verificar várias condições num mínimo de

experimentos e as variáveis críticas do método são identificadas com a ajuda de da-

dos estatísticos obtidos com o auxílio de softwares e com a área multidimensional

estabelecida (Method Operable Design Region - MODR) (JAYAGOPAL;

SHIVASHANKAR, 2017). Como exemplo, o modelo de Plackett-Burman (Plackett-Bur-

man Screening Design (PBSD)), que é um planejamento investigativo em dois níveis

fracionários fatoriais (estuda N-1 variáveis usando N experimentos, onde N é um múl-

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28

tiplo de 4), identifica principalmente os fatores relevantes, ou principais efeitos; intera-

ções entre os fatores são geralmente consideradas insignificantes e são negligencia-

das. Ao permitir estudar um grande número de fatores, o PBSD identifica os fatores a

serem examinados de forma mais intensa, permitindo a tomada de decisão inteligente

para futuras pesquisas e desenvolvimento (HEYDEN et al., 2001).

4.1.5 Delineamento Espacial/Área de Concepção - Design Space (DS)

O principal componente do desenvolvimento de um método cromatográfico por

AQbD é o DS (ROZET et al., 2013). Esse conceito também pode ser relatado como

MODR ou Analytical Design Space (ADS) ou Proven Acceptable Range (PAR) que

designa a combinação multidimensional e interação de variáveis de entrada e

parâmetros de processo que proporcionam a garantia de qualidade do resultado

analítico (LIONBERGER et al., 2008; TURPIN et al., 2008; SCHMIDT; MOLNÁR, 2013;

LLOYD; BERGUM, 2014; PERAMAN; BHADRAYA; PADMANABHA REDDY, 2015). O

método é delineado em uma área na qual são delimitadas as zonas de robustez. O

DS fornece flexibilidade regulatória frente a pequenas alterações no método, em

outras palavras, apenas as alterações realizadas fora do DS são consideradas

mudanças passíveis de gerar a necessidade de alteração pós-registro (NADPARA et

al., 2012).

O DS é um domínio multivariado de fatores de entrada, onde as respostas

obtidas estão dentro dos limites predefinidos, com um nível aceitável de probabilidade.

Nas Figura 6 e Figura 7 estão exemplificados diferentes DS para melhor entendimento

desse conceito. A região em branco é a região em que as condições cromatográficas

atendem aos parâmetros de adequabilidade do sistema predefinidos, é uma região

comum para faixas de operação de múltiplos CQAs (ICH, 2009).

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29

O DS é gerado a partir da realização dos experimento práticos, segundo o DoE,

e através da avaliação das interações e respostas da combinação dos CQAs, gerando,

desta forma, faixas aceitáveis para essas variáveis, obtendo a região de robustez para

os atributos críticos do método (RAMAN; MALLU; BAPATU, 2015). Para definir o DS

é preciso implementar modelos estatísticos como a modelagem bayesiana, as

simulações de Monte-Carlo ou as técnicas de bootstrapping. Esses modelos permitem

a inclusão da incerteza dos parâmetros e estimam a probabilidade de encontrar as

especificações delimitadas (ROZET et al., 2013). Através de um DoE baseado no

modelo PBSD, a análise dos resultados, os efeitos médios, o desvio padrão e os erros

para geração do DS podem ser calculados usando os métodos estatísticos de Youden

e Steiner, Vander Heyden e Waters e Dovetoglou (WATERS e DOVLETOGLOU, 2006;

HEYDEN et al., 2001; VANAJA e SHOBHA RANI, 2007).

Na Figura 6, temos a representação de um Espaço de Concepção com apenas

um CQA – Resolução do IFA em função do pH e da temperatura da coluna e na Figura

7, o espaço de concepção com vários atributos representados. As áreas hachuradas

indicam as regiões que não atendem os requerimentos inseridos no software. A área

em branco representa as regiões onde as condições indicadas nas colunas podem

ser alteradas sem que se percam os requerimentos especificados.

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30

Figura 6 - Representação do Espaço de Concepção com apenas um CQA –

Resolução do IFA (Adaptado de KARMARKAR et al., 2011)

Figura 7 - Representação do Espaço de Concepção para vários CQAs (Adaptado de

KARMARKAR et al., 2011)

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31

A definição do DS é a etapa final de desenvolvimento do método. Todo

conhecimento obtido através da pesquisa bibliográfica e do planejamento do estudo

realizado anteriormente é computado para a realização dos experimentos e, por fim,

para definir o melhor DS.

4.1.6 Estratégia de Controle/Monitoramento - Analytical Control Strategy (ACS)

Em AQbD, a estratégia de controle é planejada para garantir que o desempenho

do método venha de encontro aos pré-requisitos do ATP. É obtida através dos vários

dados coletados durante a fase de desenvolvimento do método, dos dados

estatísticos obtidos no DoE, MODR, nos estudos de robustez, nos estudos de

degradação forçada, nos estudos de estabilidade e de compatibilidade e no processo

de verificação do método. Dessa forma, a estratégia de controle pode fornecer notas

e comentários de prevenção a respeito dos cuidados com o grau do reagente, marca

do equipamento, tipo de coluna, sensibilidade com respeito ao pH, proporção de

orgânico na fase móvel, etc (JAYAGOPAL; SHIVASHANKAR, 2017).

4.1.7 Monitoramento Contínuo do Método (CMM)

O CMM é a fase final da AQbD e segue a mesma abordagem do que já é

estabelecido para um método analítico de rotina, ou seja, o desempenho do método

deve ser monitorado ao longo do seu tempo de vida para assegurar que o método

permaneça em conformidade com os critérios pré-definidos. Na indústria farmacêutica,

é representado usando cartas de controle ou outras ferramentas para rastrear dados

de adequação do sistema e investigações relacionadas ao método. Esse

monitoramento contínuo permite que um analista detecte, identifique e corrija qualquer

desempenho anormal ou fora da tendência do método analítico (RAMAN; MALLU;

BAPATU, 2015).

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32

A Figura 8 exemplifica um fluxograma proposto para o desenvolvimento de um

método indicativo de estabilidade usando a abordagem AQbD, contemplando todos

os seus elementos.

Figura 8 - Fluxograma para o desenvolvimento analítico de MIEs por AQbD

4.2 Amostras utilizadas no Desenvolvimento de MIEs

A parte experimental do desenvolvimento de um MIE difere dos demais métodos

principalmente sobre o tipo de amostra que será utilizada. Para o desenvolvimento de

um MIE é necessária a realização do EDF. Segundo o Guia n° 4/2015 (BRASIL,

2015b), o EDF deverá ser conduzido nas amostras determinadas na Tabela 6, com

seus respectivos controles nas mesmas condições experimentais de degradação

forçada/estresse exemplificadas na Tabela 7 (BAERTSCHI, 2011).

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33

Tabela 6 - Amostras avaliadas no estudo de degradação forçada Padrões de referência IFA e Impurezas conhecidas disponíveis

Branco Branco submetido ao estresse Placebo Placebo submetido ao estresse Fármaco Fármaco submetido ao estresse

Formulação Formulação submetida ao estresse

Tabela 7 – Reações de estresse realizadas durante um estudo de degradação forçada

Condição de estresse

Procedimento comumente utilizado

Ácida HCl 0,1 – 1 M, temperatura ambiente até uso de refluxo Alcalina NaOH 0,1 – 1 M, temperatura ambiente até uso de refluxo Oxidante H2O2 3 – 30%, temperatura ambiente até 80°C

Aquecimento 50 – 150°C, em umidade mais baixa possível Umidade 50 – 150°C, em umidade controlada (usualmente 75% UR)

Fotolítica

Exposição à luz conforme o ICH (>1.200.000 lux/hora) Irradiação em UV com lâmpada de mercúrio (254 e 365 nm)

Expor o material à luz fluorescente do laboratório, monitorando a temperatura ou utilizando-se uma amostra

controle Íons metálicos Soluções de sais de Ferro III ou Cobre II.

Para a aplicação do AQbD, recomenda-se o uso da amostra oriunda do EDF cujo

pico do IFA tenha atingido uma redução entre 10 a 30 % da sua área (para evitar a

ocorrência de degradação secundária) e que apresentou a formação de maior

quantidade de produtos de degradação e/ou com baixa resolução entre os picos,

considerada o pior caso, para a avaliação dos experimentos propostos no DoE.

4.3 Softwares utilizados no AQbD

Geralmente, a indústria farmacêutica utiliza softwares específicos ou

ferramentas estatísticas e computacionais para criar um DS e um DoE para o

desenvolvimento, a otimização e a transferência de métodos cromatográficos baseado

nas determinações dos requisitos. Os softwares buscam a melhor condição

cromatográfica para atender os requisitos exigidos para o método par a criação do

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34

DoE que define os experimentos de triagem, variando principalmente os fatores que

tem maior influência sobre a seletividade como, por exemplo, coluna, pH e modificador

orgânico. A partir dos resultados obtidos na triagem, realiza-se o refinamento do

método para obtenção da melhor condição cromatográfica. Diferentes fatores

secundários são avaliados no refinamento como, por exemplo, vazão, temperatura,

volume de injeção, inclinação do gradiente. Os dados obtidos na otimização fazem

parte da avaliação de robustez do método. Diversos softwares, como os listados na

Tabela 8, permitem a utilização do conceito de AQbD. A literatura demonstra que o

desenvolvimento de métodos através da utilização de softwares automatizados pode

ser realizado em um tempo total de até 30 horas. A diminuição no tempo de

desenvolvimento de métodos impacta diretamente no tempo de resposta e no custo

operacional. A criação do DS, que relaciona todos os fatores definidos no

planejamento do experimento, fornece um ganho expressivo de eficiência

cromatográfica, gerando condições cromatográficas ideais e minimizando o risco de

falhas na etapa de avaliação da robustez durante a validação do método e também

de ocorrência de problemas no método durante a sua vida útil e transferência (BHATT;

RANE, 2011; KARMARKAR et al., 2011; PATIL; PETHE, 2013; REID et al., 2013;

SCHMIDT; MOLNÁR, 2013; WOLF-DIETER et al., 2014; KOCHLING et al., 2016).

Tabela 8 - Exemplo de softwares empregados no desenvolvimento e otimização de métodos por CLAE

ChromSword® (Merck, Alemanha) Pesos (Perkin-Elmer Corp., EUA) DryLab® (Instituto Molnár, Alemanha) Diamond (ATI, EUA) LC-Simulator® (ACD Labs, Canadá) Osiris (Datalys, França)

Fusion® (Smatrix, EUA) Prisma (GraphPad Software, EUA) Umetrics™ Suite (MKS, Suiça) ISOS (Agilent, EUA)

Statistica (Statsoft, EUA) MatLab (MathWorks, EUA)

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35

5 CONCLUSÃO

A implementação da abordagem AQbD é relativamente nova nas ciências

analíticas e não é um processo simplório, uma vez que necessita de mudança de

cultura da empresa e de investimento inicial direto (compra de softwares e

equipamentos) e indireto (qualificação e/ou contratação de recursos humanos) para

sua implementação. Os desafios são muitos e exigem grande envolvimento e

interesse da alta direção da empresa. De maneira global, a harmonização das

terminologias e conceitos precisa ser revista, assim como uma maior qualificação dos

profissionais e grupos de pesquisas atuantes na área analítica.

Os resultados obtidos a partir da aplicação da abordagem AQbD, ainda que seja

difícil o entendimento de forma clara perante os colaboradores, incluem métodos mais

robustos e desenvolvidos de maneira sistemática, com melhor conhecimento sobre o

processo de desenvolvimento e o entendimento das interações das variáveis

analíticas, o que possibilita ajustes focados no aprimoramento dos métodos, baseados

em ciência e gestão de riscos. Portanto, qualidade é agregada não só ao

desenvolvimento analítico, como também, aos produtos farmacêuticos de modo geral.

Em uma análise de custo-benefício, os elementos da AQbD geram economia e trazem

celeridade ao desenvolvimento de métodos, além de diminuir a necessidade de

redesenvolvimento ao longo do ciclo de vida do método.

A abordagem AQbD deverá continuar a crescer dentro da indústria farmacêutica

e é possível que que ela seja utilizada como requisito regulatório, uma vez que suas

bases teóricas e regulatórias estão descritas de forma consistente no panorama

farmacêutico global, inclusive por órgãos renomados como ICH, FDA, WHO, USP e

EMA.

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36

A utilização da AQbD apresenta uma mudança de paradigma dentro de uma

empresa, promovendo o desenvolvimento tecnológico, a melhora na transferência de

tecnologia, contribuindo na produção de medicamentos com qualidade, segurança e

eficácia e facilitando os processos de registro no que concerne o desenvolvimento de

metodologias para o controle físico-químico, sobretudo, no desenvolvimento de

métodos indicativos de estabilidade.

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37

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS

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1. ed. Pharmaceutical Science and Technology, 2011.

BAJAJ, S.; SAKHUJA, N.; SINGLA, D.; BAJAJ PRINCIPAL, S. Stability Testing of

Pharmaceutical Products. Journal of Applied Pharmaceutical Science, v. 2, n. 2012,

p. 129–138, 2012.

BHATT, D. A.; RANE, S. I. QbD approach to analytical RP-HPLC method development

and its validation. International Journal of Pharmacy and Pharmaceutical

Sciences, v. 3, n. 1, p. 179–187, 2011.

BLESSY, M.; PATEL, R. D.; PRAJAPATI, P. N.; AGRAWAL, Y. K. Development of

forced degradation and stability indicating studies of drugs - A review. Journal of

Pharmaceutical Analysis, v. 4, n. 3, p. 159–165, 2014.

BONDI, R. W.; DRENNEN, J. K. Quality by Design and the Importance of PAT in QbD.

Separation Science and Technology, v. 10, n. C, p. 195–224, 2011.

BRASIL, 2017a. RDC 171 de 24 de agosto de 2017. Revisa a aplicabilidade da Re-

solução da Diretoria Colegiada - RDC nº 53, de 4 de dezembro de 2015, para altera-

ções pós-registro e os prazos desta Resolução para produtos já registrados. Agência

Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em: http://www.lex.com.br/le-

gis_27495934_RESOLUCAOC_N_171_DE_22_DE_AGOSTO_DE_2017.aspx.

Acesso em: 25/08/2017.

BRASIL, 2017b. CP 285/2017. Proposta de Resolução da Diretoria Colegiada (RDC)

que altera os prazos relacionados à Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº

53/2015. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:

http://www.lex.com.br/legis_27277328_CONSULTA_PU-

BLICA_N_285_DE_16_DE_JANEIRO_DE_2017.aspx. Acesso em: 25/08/2017.

BRASIL, 2017c. RDC 166 de 25 de julho de 2017. Estabelece critérios para a

validação de métodos analíticos. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/coifa/pdf/rdc166.pdf. Acesso em:

09/09/2017.

BRASIL, 2005. Resolução - RE No 1 de 29 De Julho de 2005. Guia para a realização

de estudos de estabilidade. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível

em: <http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/legis/01_05_re_comentada.pdf>.

Acesso em: 22/05/2017.

Page 52: HVLJQ QR SURFHVVR GH GHVHQYROYLPHQWR DQDOtWLFR … · 2018-08-15 · idloxuhv gxulqj whfkqrorj\ wudqvihu zklfk pd\ ohdg wr wkh qhhg ri ghyhorslqj dq dowhuqdwlyh phwkrg dqg uhydolgdwlrq

38

BRASIL, 2013. Resolução - RDC No 58 de 20 de dezembro de 2013. Estabelece

parâmetros para a notificação, identificação e qualificação de produtos de degradação

em medicamentos com substâncias ativas sintéticas e semissintéticas, classificados

como novos, genéricos e similares, e dá outras providências. Agência Nacional de

Vigilância Sanitária. Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0058_20_12_2013.pdf>.

Acesso em: 19/05/2017.

BRASIL, 2014. Resolução - RDC No 60 de 10 de outubro de 2014. Dispõe sobre os

critérios para a concessão renovação do registro de medicamentos com princípios

ativos sintéticos e semissintéticos, classificados como novos, genéricos e similares, e

dá outras providências. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em:

<http://www.poderesaude.com.br/novosite/images/publicacoes_13.10.2014-III.pdf>.

Acesso em: 19/05/2017.

BRASIL, 2015a. Resolução - RDC No 53 de 04 de dezembro de 2015. Estabelece

parâmetros para a notificação, identificação e qualificação de produtos de degradação

em medicamentos com substâncias ativas sintéticas e semissintéticas, classificados

como novos, genéricos e similares, e dá outras providências. Agência Nacional de

Vigilância Sanitária. Disponível em:

<ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/informe_eletronico/2015/iels.dez.15/Iels22

7/U_RS-MS-ANVISA-RDC-53-REP_041215.pdf>. Acesso em: 22/05/2017.

BRASIL, 2015b. Guia n°4 de 08 de dezembro de 2015. Agencia Nacional de

Vigilância Sanitária. Guia para obtenção do perfil de degradação, e identificação e

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