https estudogeral.sib.uc.pt bitstream 10316 14617 1 relatório de estágio joana

88
 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Mestrado em Gestão Relatório do Estágio Curricular As Práticas Contabilísticas com a Introdução do Sistema de Normalização Contabilística Joana Andreia Cadete Soares Março/2010

Upload: jane-maria-de-oliveira

Post on 15-Oct-2015

46 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

    Mestrado em Gesto

    Relatrio do Estgio Curricular

    As Prticas Contabilsticas com a Introduo do Sistema de Normalizao Contabilstica

    Joana Andreia Cadete Soares

    Maro/2010

  • F.E.U.C.

    2

    Agradeo ao Professor Mrio Augusto pelo acompanhamento, preocupao e

    elucidao que me proporcionou ao longo do meu perodo de estgio.

    Ao Dr. Rogrio Domingues e ao Dr. Fernando Gomes por toda a pacincia e ateno que sempre tiveram comigo, sem os quais no teria sido possvel realizar o meu

    estgio. equipa de trabalho da T.S.E.,Lda. pelos esclarecimentos e acompanhamento que me proporcionaram, sempre com muita pacincia e boa disposio.

    Finalmente, e no de menor importncia, minha famlia e ao Joo Pedro que me apoiaram sempre nos momentos em que precisei. E ao Paulo, pelas vezes em que esteve

    presente.

  • F.E.U.C.

    3

    ndice

    Introduo ..................................................................................................................... 5

    Captulo 1: Apresentao do Local e Objecto de Estgio ................................................ 6

    1.1 A T.S.E. ............................................................................................................. 6

    1.2 A Contabilidade Financeira ............................................................................... 7

    Captulo 2: A Aprendizagem ao Longo do Estgio .......................................................... 8

    2.1 O Software de Contabilidade ............................................................................. 8

    2.2 As Bases Principais do Trabalho Contabilstico ................................................ 9

    2.2.1 As Caractersticas Qualitativas da Informao Financeira .............................. 9

    2.2.2 Os Princpios Contabilsticos ......................................................................... 11

    2.3 As Tarefas Contabilsticas ............................................................................... 13

    2.3.1 O Processo de Arquivo, Classificao e Lanamento .................................... 14

    2.3.1.1 A Chegada dos Documentos Contabilsticos........................................... 14

    2.3.1.2 O Arquivo ................................................................................................ 15

    2.3.1.3 A Classificao e o Lanamento: ............................................................ 19

    2.3.2 Prticas de Controlo Interno ........................................................................... 20

    2.3.2.1 A Reconciliao Bancria ....................................................................... 21

    2.3.2.2 A Reconciliao de Terceiros .................................................................. 23

    2.3.3 As Obrigaes Fiscais .................................................................................... 24

    2.3.3.1 O Apuramento do Imposto sobre o Valor Acrescentado ......................... 25

    2.3.3.2 O Imposto sobre os Rendimento das Pessoas Colectivas ........................ 28

    2.3.3.3 O Imposto sobre os Rendimento das Pessoas Singulares ........................ 33

    2.3.3.4 Processamento de Salrios....................................................................... 35

    2.3.3.5 Segurana Social...................................................................................... 35

    2.3.4 O Encerramento de Contas ............................................................................. 36

    Captulo 3: O Sistema de Normalizao Contabilstica (S.N.C.) ................................... 38

    3.1 Apresentao do S.N.C. ................................................................................... 38

    3.1.1 A Estrutura Conceptual do S.N.C. ................................................................. 40

    3.1.2 As N.I.C., as N.C.R.F. e as Normas Interpretativas ....................................... 44

    3.1.3 O Cdigo de Contas ....................................................................................... 47

    3.1.4 As Demonstraes Financeiras ...................................................................... 50

    3.1.4.1 As Demonstraes de Resultados ............................................................ 52

  • F.E.U.C.

    4

    3.1.4.2 O Balano ................................................................................................ 54

    3.1.4.3 A Demonstrao de Fluxos de Caixa ...................................................... 57

    3.1.4.4 A Demonstrao das Alteraes do Capital Prprio ............................... 59

    3.1.4.5 Os Anexos ............................................................................................... 61

    3.1.4.6 As Alteraes das Demonstraes Financeiras: do P.O.C. ao S.N.C. ..... 63

    3.2 O fim do P.O.C., o incio do S.N.C. ................................................................ 64

    3.2.1 Algumas Modificaes de Carcter Geral ................................................ 64

    3.2.2 Mudanas Trazidas pelas N.C.R.F. .......................................................... 67

    Anlise Crtica ............................................................................................................ 72

    Bibliografia ................................................................................................................. 74

    ANEXOS ......................................................................................................... 76

  • F.E.U.C.

    5

    Introduo

    O presente relatrio tem por objectivo expor os conhecimentos por mim

    adquiridos no mbito do meu estgio curricular na T.S.E. Tcnicos ao Servio das

    Empresas, Lda., integrado no plano de estudos da opo de variante profissional do 2

    ciclo, Mestrado em Gesto. O meu estgio decorreu na rea da contabilidade geral, teve

    incio em 28 de Setembro de 2009 e terminou no final de Fevereiro do corrente ano de

    2010.

    proposta, neste relatrio, uma apresentao dos procedimentos contabilsticos

    comuns que fazem parte do quotidiano da vida profissional dos contabilistas. Nele

    considerada a actual transio para um novo sistema contabilstico. tambm feita uma

    anlise sobre os principais aspectos relativos sua estrutura e mudanas que vm

    introduzir s prticas contabilsticas tradicionais. Para um seguimento mais claro das

    matrias expostas, este relatrio encontra-se dividido em trs partes: uma primeira onde

    dado a conhecer o local de estgio e onde se faz uma breve exposio da contabilidade

    como rea de estudo de especial interesse gesto, e em constante evoluo nos ltimos

    anos, uma segunda onde so abordadas as tarefas contabilsticas, quer as tenha

    desempenhado quer no, e uma terceira onde so abordados os aspectos principais do

    actual Sistema de Normalizao Contabilstica, assim como as mudanas mais evidentes

    que este vem trazer.

    No final feita uma anlise crtica ao contedo do presente relatrio. O

    objectivo que o leitor no s fique a conhecer as actividades correntes desenvolvidas

    num gabinete de contabilidade, mas tambm que se aperceba da intrnseca relao entre

    contabilidade e fiscalidade, assim como da importncia do trabalho contabilstico como

    base de apoio gesto. Adicionalmente pretende-se ainda que o leitor se sinta um pouco

    mais familiarizado com o sistema contabilstico que recentemente entrou em vigor,

    tornando um pouco mais claras as informaes que at recentemente tm sido um pouco

    confusas para alguns.

  • F.E.U.C.

    6

    Captulo 1: Apresentao do Local e Objecto de Estgio

    1.1 A T.S.E.

    O meu estgio desenrolou-se na T.S.E. Tcnicos ao Servio das Empresas,

    Lda., actualmente sediada na Rua Padre Estvo Cabral, n 120 (Edifcio Tricana), sala

    301, 3000-316 Coimbra. A sua principal actividade a prestao de servios de

    contabilidade organizada e pode ser contactada pelo nmero de telefone 239 832 704,

    pelo fax 239 832 183, ou por e-mail para [email protected].

    A T.S.E., Lda. iniciou a sua actividade no ano de 1994, sob o cdigo de

    actividade econmica 74120, e o N.I.P.C. 503 231 401. O seu capital social de 5.000,

    distribudo pelos dois scios: o Dr. Fernando Gomes e o Dr. Rogrio Domingues, e

    desde ento a sua actividade tem decorrido ininterruptamente. Actualmente a equipa de

    trabalho constituda por oito trabalhadores, alm dos scios da empresa e de uma

    recepcionista, que tm sido contratados ao longo dos anos, medida que as

    necessidades da empresa vo crescendo. Tambm o seu negcio tem prosperado apesar

    das dificuldades conjunturais que as empresas tm vivido, e actualmente encontra

    clientes por todo o pas. Uma das causas para este sucesso a aposta na diversificao

    dos servios oferecidos que consistem na tradicional contabilidade (a rea em que se

    desenrolou o meu estgio), controlo de gesto, consultoria de gesto e estudos

    econmicos e de fiscalidade.

    O principal objectivo da T.S.E., Lda. satisfazer os seus clientes mediante a

    aposta na rapidez e na qualidade dos servios oferecidos. Para a empresa, essencial

    defender em primeiro lugar os interesses dos clientes, no obstante o respeito pelas

    consideraes legais e fiscais que lhes d activamente a conhecer, o que lhe tem

    conferido uma imagem forte, baseada na credibilidade. No interessa tanto T.S.E.,

    Lda. ter muitos clientes, como faz questo de esclarecer aos seus funcionrios, mas sim

    assistir a bons clientes. So considerados bons clientes aqueles que tm um carcter

    credvel, e de preferncia que representem um bom volume de negcios. Desta forma

  • F.E.U.C.

    7

    possvel trabalhar de forma mais rpida e eficaz, de acordo com a imagem que a T.S.E.,

    Lda. faz questo de transparecer sobre os seus servios.

    1.2 A Contabilidade Financeira

    A contabilidade a base de todo o conhecimento necessrio para desempenhar

    todo o trabalho financeiro nas empresas. Esta foi talvez a primeira mensagem que o

    Dr. Fernando Gomes e o Dr. Rogrio Domingues me durante o meu estgio na T.S.E.,

    Lda. Foi neste esprito que o percorri, consciente de que, na minha opinio, no podia

    ter escolhido uma melhor rea como ponto de partida para o mundo profissional.

    A contabilidade, na sua origem, limitava-se ao papel de classificao e registo

    das variaes sucessivas de determinadas grandezas, dando a conhecer a sua extenso

    em qualquer momento. Permitia ento ultrapassar as limitaes inerentes memria

    humana, alm de consistir num meio de prova em discrdias e litgios. Hoje, um dos

    mais poderosos instrumentos de apoio gesto, desempenhando um papel de

    informao crucial para a empresa e seus stakeholders, movida pela globalizao dos

    negcios e pelas mudanas econmicas ocorridas na Unio Europeia. A necessidade de

    assumir um carcter mais global moveu o crescente movimento de normalizao

    contabilstica, que pretende fundamentalmente criar uma metodologia comum, a ser

    seguida pelas unidades econmicas visando, fundamentalmente, a comparabilidade das

    informaes inter-unidades, a universalidade dos dados recolhidos e a sua

    compreensibilidade pelos diversos agentes econmicos (Borges, Rodrigues, &

    Rodrigues, 1997).

    Em Portugal, o processo de normalizao contabilstica tem-se vindo a

    desenvolver mais activamente desde 1976. Tendo o 25 de Abril sido um marco no incio

    deste desenvolvimento, at 1988 o nosso pas viu a criao da Comisso de

    Normalizao Contabilstica (C.N.C.) e a publicao do primeiro Plano Oficial de

    Contas (P.O.C.), fortemente influenciado pela normalizao contabilstica francesa.

    Desde ento at 1991 verificaram-se diversos ajustamentos normativos nacionais 4 e

    7 Directiva da U.E., dada a adeso portuguesa Unio Europeia, o que moveu a

    publicao de um novo P.O.C. De 1992 a 2004 a C.N.C. publicou diversas Directrizes

    Contabilsticas com o objectivo de desenvolver e interpretar o P.O.C., muitas delas

    prximas das normas do International Accounting Standards Board (I.A.S.B.). A

    partir de 2004 assistiram-se a poderosas modificaes, nomeadamente na adopo das

  • F.E.U.C.

    8

    Normas Internacionais de Contabilidade (N.I.C.) por entidades cujos valores

    mobilirios estivessem admitidos negociao num mercado regulamentado (2005), no

    ajustamento das normas nacionais s directivas comunitrias e na publicao pela

    C.N.C. do Projecto de Novo Modelo Contabilstico, ao qual designou Sistema de

    Normalizao Contabilstica (2007). Este tinha em vista a adopo e adaptao das

    N.I.C. e das Normas Internacionais e de Relato Financeiro, bem como as respectivas

    interpretaes. Apesar de ter sido prevista a sua entrada em vigor em 2008, como

    sabido tal s aconteceu neste presente ano de 2010.

    Na T.S.E., Lda. comeou-se a elaborar o trabalho contabilstico de acordo com o

    novo cdigo de contas no final de Fevereiro. Apesar de se experimentar alguma

    estranheza logo no processo de classificao, os maiores inconvenientes reflectiram-se

    apenas no perodo de tempo mais alongado necessrio para realizar as tarefas dado o

    processo de habituao e interiorizao do novo cdigo de contas. Prevendo este

    contratempo o Dr. Rogrio Domingues e o Dr. Fernando Gomes optaram por

    direccionar toda a equipa para o trabalho luz do novo sistema atempadamente, a fim

    de evitar atrasos.

    Captulo 2: A Aprendizagem ao Longo do Estgio

    2.1 O Software de Contabilidade O software de contabilidade utilizado na T.S.E., Lda. o

    Contabilidade Geral v3.0, da PSIC Programao e Sistemas

    Informticos, Lda. A T.S.E., Lda. esfora-se por ter o software que

    permite um trabalho mais simples e rpido, pelo que tem muitas

    teclas de atalho para as diversas funes que executa.

    A PSIC faz actualizaes constantes ao programa, sendo portanto regular a visita

    de funcionrios da empresa na T.S.E., Lda. que instalam as novas funcionalidades e

    instruem a equipa de trabalho sobre as novas funes. Actualmente, dentro de diversas

  • F.E.U.C.

    9

    funcionalidades, este programa abrange o plano oficial de contas de acordo com a

    nomenclatura do S.N.C., o apuramento automtico do I.V.A., a elaborao das

    demonstraes financeiras das empresas, assim como a elaborao de declaraes

    peridicas e anuais e de oramentos.

    2.2 As Bases Principais do Trabalho Contabilstico

    conhecimento geral que a informao dada deve ter uma natureza credvel

    para que os destinatrios possam tirar concluses apropriadas. Costa (2007) vem-nos

    explicar que esta necessidade se faz sentir mais fortemente quando o assunto se trata de

    demonstraes financeiras. De todas as pessoas envolvidas nas demonstraes

    financeiras (as que preparam, as que auditam, as que analisam e as que a utilizam), os

    utentes so indubitavelmente aqueles que devem ser privilegiados, para que possam

    tomar decises econmicas adequadas realidade. De acordo com o I.A.S.B., este

    grupo bastante heterogneo, incluindo desde investidores a financiadores, Governos e

    seus departamentos e fornecedores, clientes, trabalhadores e o pblico em geral. Todos

    tm diferentes necessidades de informao, mas todos necessitam das demonstraes

    financeiras para a obter. Da advm a necessidade de uma boa preparao da informao

    financeira.

    Tendo a informao financeira to grande importncia, estabeleceu-se que esta

    deve obedecer a uma srie de conceitos, princpios, normas e caractersticas qualitativas,

    que asseguram a sua utilidade aos utentes. Antes de tudo o resto, estas devem apresentar

    uma imagem verdadeira e apropriada da posio financeira das entidades, dos seus

    resultados e fluxos de caixa.

    2.2.1 As Caractersticas Qualitativas da Informao Financeira

    O P.O.C. estabelece trs caractersticas qualitativas da informao financeira: a

    relevncia, a comparabilidade e a fiabilidade. Actualmente, os pargrafos 24 a 46

    da Estrutura Conceptual do S.N.C. que abordam o mesmo tema, identificam quatro

    caractersticas qualitativas principais, trs delas as j consideradas no P.O.C. A forma

    como se devem considerar estas caractersticas no tratamento da informao financeira

  • F.E.U.C.

    10

    relatada abaixo, tendo-se optado por incluir tambm a nova caracterstica trazida pelo

    S.N.C.: a compreensibilidade.

    Compreensibilidade:

    A informao proporcionada pelas demonstraes financeiras deve ser

    rapidamente compreensvel pelos utentes, pressupondo-se que estes no s tenham um

    conhecimento razovel dos aspectos empresariais, econmicos e contabilsticos, como

    tambm tenham vontade de estudar cuidadosamente a informao apresentada.

    Relevncia:

    Considera-se relevante a informao que influencia as decises econmicas dos

    utentes, ao ajud-los a avaliar os acontecimentos passados, presentes ou futuros. A

    relevncia da informao afectada pela sua natureza e materialidade, sendo por vezes

    a sua natureza suficiente para determinar se a informao ou no relevante. Contudo a

    informao tambm deve ser material, ou seja, a sua omisso ou inexactido

    influenciam as decises econmicas tomadas pelos utentes com base nas demonstraes

    financeiras.

    Fiabilidade:

    Para ser de confiana, a informao financeira deve representar fidedignamente

    os acontecimentos que pretende dar a conhecer. Uma grande parte da informao

    financeira est sujeita ao risco de no representar de forma fidedigna o que pretende

    retratar, devido essencialmente a dificuldades associadas identificao das operaes e

    a outros acontecimentos a serem valorizados ou devido s tcnicas de valorimetria e

    apresentao, pelo que por vezes pode ser prefervel no divulgar mesmo os efeitos

    financeiros de determinados elementos. Uma alternativa divulg-los em conjunto com

    o risco de erro inerente ao seu reconhecimento e valorizao.

    A fiabilidade encontra-se directamente associada necessidade de contabilizar

    os acontecimentos de acordo com a sua substncia e realidade econmico-financeira, e

    no apenas com a sua forma legal. A informao presente nas demonstraes

    financeiras deve ento ser neutra, de forma que no possa influenciar a tomada de uma

    deciso a fim de atingir um resultado pretendido. Tambm se devem preparar as

    demonstraes financeiras com base na prudncia, ou seja, incluindo um grau de

    precauo no exerccio dos juzos necessrios, dadas as incertezas que rodeiam os

    acontecimentos com que frequente os tcnicos depararem-se neste trabalho.

  • F.E.U.C.

    11

    Comparabilidade:

    Os utentes devem ser capazes de comparar as demonstraes financeiras de uma

    empresa ao longo do tempo, com o objectivo de se identificarem tendncias na sua

    posio financeira e no seu desempenho, e entre diferentes empresas, para o mesmo

    efeito. Isto exige que a valorimetria e exposio dos efeitos financeiros dos

    acontecimentos semelhantes devam ser respeitadas consistentemente, pelo que os

    utentes devem ser informados das polticas contabilsticas usadas na preparao das

    demonstraes financeiras, assim como de eventuais alteraes, seus efeitos e seus

    motivos. H que referir no entanto que a consistncia no deve ser seguida se a poltica

    contabilstica no puder obedecer relevncia e fiabilidade.

    A relevncia e a fiabilidade da informao financeira podem estar sujeitas a

    limitaes de tempestividade, equilbrio entre benefcio e custo, e equilbrio entre as

    caractersticas qualitativas. Entende-se pois que prefervel divulgar a informao

    financeira no tempo apropriado, mesmo que se corra o risco de no se obter o mximo

    de fiabilidade. As estimativas contabilsticas auxiliaro a esta incompatibilidade entre

    tempestividade e fiabilidade. E enquanto o equilbrio entre benefcio e custo mais um

    caso difuso do que uma caracterstica qualitativa, tratando-se apenas de uma questo de

    que o custo, com a divulgao da informao, no seja superior ao benefcio que esta

    oferece aos utentes, o equilbrio entre as caractersticas qualitativas muitas vezes

    necessrio, sendo a importncia das mesmas a maior parte das vezes atribuda pelo

    julgamento profissional.

    2.2.2 Os Princpios Contabilsticos

    Os princpios contabilsticos so regras e guias de contabilidade relativos a

    assuntos diversos, como a mensurao ou a valorimetria. Estes constam no P.O.C., nas

    directrizes contabilsticas e interpretaes tcnicas, e orientam a preparao das

    demonstraes financeiras, de forma a transparecerem uma imagem verdadeira e

    apropriada da empresa. No P.O.C. so descriminados os seguintes princpios

    contabilsticos fundamentais:

  • F.E.U.C.

    12

    Continuidade considera-se que a empresa opera continuamente,

    ilimitadamente, pelo que no necessita nem tenciona reduzir o seu

    volume de operaes ou entrar em liquidao;

    Consistncia as empresas no alteram as suas polticas contabilsticas

    de um exerccio para o outro. Se o fizer, e a alterao tiver efeitos

    relevantes, esta deve ser referida;

    Especializao ou acrscimo os proveitos e os custos so reconhecidos

    quando obtidos ou incorridos, independentemente do seu recebimento ou

    pagamento, devendo incluir-se nas demonstraes financeiras nos

    perodos a que respeitam;

    Custo histrico os registos contabilsticos tm por base o custo de

    aquisio ou de produo, quer a unidades monetrias nominais quer a

    constantes;

    Prudncia deve-se integrar um grau de precauo nas contas, quando

    se realizarem estimativas exigidas em condies de incerteza, sem no

    entanto permitir a criao de reservas ocultas ou provises excessivas, ou

    a deliberada quantificao de activos e proveitos por defeito, ou de

    passivos e custos por excesso;

    Substncia sobre a forma os acontecimentos devem contabilizar-se de

    acordo com a sua substncia e a realidade financeira, e no somente com

    a sua forma legal;

    Materialidade as demonstraes financeiras devem evidenciar todos os

    elementos relevantes.

    Actualmente, ao abrigo do S.N.C., a materialidade, a substncia sobre a forma e

    a prudncia integram o grupo das caractersticas qualitativas secundrias. Por outro lado

    a Estrutura Conceptual, nos pargrafos 22 e 23, determina dois pressupostos

    subjacentes: o regime de acrscimos e o princpio da continuidade, que encontram

    correspondncia nos respectivos princpios explcitos no P.O.C. Adicionalmente, o

    mesmo documento guarda os pargrafos 97 a 99 para o tema da Mensurao dos

    elementos das demonstraes financeiras, onde se encontra referncia ao custo

    histrico, em conjunto com outros mtodos de mensurao (mais frente tratados, no

    captulo 1.1 A Estrutura Conceptual do S.N.C., da terceira parte). Desde j se

    conseguem observar algumas modificaes com a entrada em vigor do novo sistema

  • F.E.U.C.

    13

    contabilstico. De facto, uma das questes que foi colocada pelo Prof. Doutor Teixeira

    dos Santos na audio pblica do sistema de normalizao contabilstica, em Maio de

    2008, foi a insuficincia do normativo contabilstico nacional, com base nos princpios

    contabilsticos geralmente aceites para dar resposta s novas exigncias de relato

    financeiro internacional.

    2.3 As Tarefas Contabilsticas

    Durante o meu estgio na T.S.E., Lda. tive oportunidade de desempenhar

    algumas tarefas contabilsticas tpicas de serem atribudas aos recm contratados pela

    empresa. Isto significa que estive integrada nos diferentes processos de trabalho

    principais que foram decorrendo ao longo do meu perodo de estgio, acompanhando-os

    numa ptica de aprendiz da prpria empresa, contribuindo, sempre que possvel, um

    pouco para o seu decorrer. Esta parte do meu relatrio de estgio ento dedicada

    abordagem das diferentes tarefas contabilsticas realizadas na T.S.E., Lda.,

    principalmente daquelas com que tive contacto.

    Comeo pela descrio do principal processo contabilstico que fez parte do meu

    estgio: o arquivo de documentos, a sua classificao e lanamento. Respeitando a

    ordem dos trabalhos, seguidamente abordarei o tratamento das reconciliaes bancrias

    e de terceiros, continuando com a apresentao dos trabalhos relacionados com as

    obrigaes fiscais, nomeadamente a tarefa de apuramento do Imposto sobre o Valor

    Acrescentado. So ainda tratados os temas do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas

    Colectivas, do imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares, os descontos para a

    Segurana Social, o Processamento de Salrios e o Encerramento de Contas. No entanto

    no tive oportunidade de ter contacto directo com estes ltimos durante o meu estgio,

    assim como com a reconciliao de terceiros, pelo que estas partes do relatrio so

    tratadas com base em pesquisa efectuada, quer em livros e sites, quer informando-me

    junto aos profissionais sobre o funcionamento destes trabalhos.

    Com a entrada em vigor do S.N.C. estes trabalhos sofrero mudanas relevantes,

    directamente visveis pela aplicao de um novo cdigo de contas, mas tambm com a

    utilizao de novos critrios assentes numa filosofia diferente. No entanto, neste

    captulo a exposio ser feita base no P.O.C., reservando-se a parte final deste relatrio

    ao tratamento das novidades trazidas pelo novo sistema contabilstico.

  • F.E.U.C.

    14

    2.3.1 O Processo de Arquivo, Classificao e Lanamento

    Este processo foi, sem dvida, aquele que mais vezes concretizei durante o meu

    estgio. o trabalho mais importante a ser desempenhado, visto que serve de suporte a

    todos os outros. Apresenta-se esquematicamente esta ordem de trabalhos abaixo:

    Esquema 1: O Processo de Arquivo, Classificao e Lanamento.

    2.3.1.1 A Chegada dos Documentos Contabilsticos

    Os documentos contabilsticos das empresas so, por regra, entregues

    mensalmente. A ttulo de exemplo, entre os mais comuns encontram-se:

    Facturas, recibos e vendas a dinheiro emitidas pelas empresas;

    Facturas, recibos e vendas a dinheiro de fornecedores e outros credores;

    Notas de crdito emitidas pelas empresas e pelos fornecedores;

    Depsitos bancrios;

    Extractos e documentos de despesas bancrias;

    Recibos de salrios;

    Despesas diversas.

    sobre estes documentos que se ir processar todo o registo contabilstico, pelo

    que importante estarem em posse da empresa o mais cedo e da forma mais completa

    possvel. Infelizmente, a partir das observaes retiradas durante o meu estgio, foi

    possvel comprovar que nem todas as empresas clientes das T.S.E., Lda. tm esse

    cuidado, o que por vezes dificulta e atrasa a evoluo do processo, exigindo aos

    contabilistas uma constante requisio de documentao em falta.

    Quando os documentos contabilsticos das empresas chegam T.S.E., Lda. so

    recebidos por uma recepcionista que os coloca numa estante preparada para o efeito. A

    cada prateleira da estante reserva-se uma ou mais letras do abecedrio a fim de que,

    desde a sua recepo, os documentos fiquem guardados na prateleira com a letra

    Chegada dos Documentos T.S.E.,Lda.

    Arquivo dos Documentos

    Classificao

    Lanamento

  • F.E.U.C.

    15

    correspondente inicial do nome da empresa. Assim, quando se inicia o processo de

    arquivo, basta ir buscar os documentos prateleira.

    Antes de se iniciar o processo de arquivo, deve-se verificar se existem

    documentos em falta, que devem ser pedidos imediatamente aos clientes, ou se

    necessrio imprimir documentos contabilsticos presentes na base de dados da T.S.E.,

    Lda., visto a empresa tambm realizar outras tarefas, alm da contabilidade geral, para

    os seus clientes.

    2.3.1.2 O Arquivo

    Na T.S.E., Lda. h especialmente a ideia comum de que o arquivo parte

    essencial de todos os trabalhos contabilsticos; sem um bom arquivo os outros

    trabalhos complicam-se, pelo que este processo nunca visto como sendo suprfluo.

    Para controlo de gastos com os clientes, a T.S.E., Lda. dispe de folhas de controlo

    mensais, onde os funcionrios anotam o nmero de dossiers utilizados no arquivo dos

    documentos das empresas e as despesas com correio gastos com cada cliente, que lhes

    sero posteriormente cobrados.

    De acordo com o estipulado no artigo 35, n 5 do Cdigo do Imposto sobre o

    Valor Acrescentado (C.I.V.A.), as facturas ou outros documentos equivalentes, devem

    ser datados, numerados sequencialmente, e conter os seguintes elementos:

    Nomes, firmas ou denominaes sociais do fornecedor/prestador de

    servios e do destinatrio/adquirente;

    Sede ou domiclio do fornecedor/prestador de servios e do

    destinatrio/adquirente;

    Nmero de identificao fiscal do fornecedor/prestador de servios e do

    destinatrio/adquirente;

    Denominao e quantidade dos bens adquiridos/servios prestados,

    especificando os elementos necessrios determinao da taxa aplicvel;

    O preo, lquido de imposto, assim como outros elementos includos no

    valor tributvel;

    As taxas de imposto aplicvel e o montante de imposto devido;

    O motivo justificativo da no aplicao do imposto, quando aplicvel.

  • F.E.U.C.

    16

    No artigo 19, n 2, do mesmo cdigo vem especificado que s se confere direito

    deduo o imposto mencionado em facturas e documentos equivalentes passados em

    forma legal. Deste modo, necessrio proceder a uma conferncia da documentao

    entregue pelos clientes para fins contabilsticos, a fim de se certificar que obedecem os

    requisitos exigidos por lei. Ainda h o costume de, quando surgem novos fornecedores

    das empresas, verificar a validade do seu nmero de identificao fiscal no site

    http://ec.europa.eu/taxation_customs/vies/vieshome.do.

    Conferida a validade legal dos documentos e separados aqueles que no

    cumprem os requisitos exigidos para devoluo ao cliente, prepara-se a documentao

    para ser arquivada. Comea-se ento por fazer uma ordenao mensal dos documentos,

    seguida de uma ordenao do tipo de despesas. Conforme a empresa, o arquivo pode

    envolver desde apenas um dirio, o de operaes diversas, a quatro: este acrescido do

    dirio de caixa, do de compras e do de vendas. Nos casos em que as empresas requerem

    a utilizao de mais dirios, geralmente empresas que apresentam mais documentos,

    estes devem ser distribudos pelos dirios da seguinte forma:

    Dirio de Caixa neste dirio arquivam-se todos os documentos

    relativos a entradas e/ou sadas de dinheiro em caixa, ou seja, que

    movimentem a conta 11 caixa. Muitas vezes as empresas no

    esclarecem que documentos so pagos por meios bancrios ou por caixa

    pelo que, na dvida, estes documentos so arquivados neste dirio e a sua

    classificao feita utilizando a conta 11. data de elaborao da

    reconciliao bancria fazem-se as correces necessrias, mediante um

    dbito na conta 11 e um crdito na 12 depsitos ordem.

    Dirio de Compras neste dirio, tal como o nome indica, so

    arquivados todos os documentos relativos s compras a fornecedores das

    empresas. Neste dirio no existe movimentao de dinheiro, utilizando-

    se apenas a conta do fornecedor a crdito. Esta ser posteriormente

    debitada no documento que servir de comprovativo de pagamento.

    Dirio de Vendas tal como no dirio de compras, este dirio contm os

    documentos relativos s vendas ou prestaes de servios que a empresa

  • F.E.U.C.

    17

    realizou. Neste dirio os recebimentos de clientes so debitados em

    caixa, e posteriormente, quando necessrio, sero transferidos para a

    conta de depsitos ordem por um lanamento correctivo que credite a

    conta 11 e debite a conta 12, em documento comprovativo. Quando se

    realiza o arquivo, deve-se confirmar se a numerao dos documentos

    sequencial, no s neste ms como relativamente ao ms anterior.

    Dirio de Operaes Diversas este dirio tem um carcter residual,

    perante a existncia dos outros, abrangendo assim todos os documentos

    que no tm lugar em nenhum dos restantes dirios. Quando existe

    apenas este dirio o arquivo deve ser feito colocando em primeiro lugar

    so colocadas os documentos relativos s vendas, seguindo-se

    ordenadamente aqueles relativos s compras, s despesas, despesas

    diversas (geralmente estes tratam-se de facturas/recibo emitidas por caixa

    registadora), documentos fiscais, bancrios (incluindo pagamentos),

    processamento de salrios e listagem de cheques.

    Os dirios encontram-se organizados com separadores relativos aos meses do

    ano, sendo o ms de Janeiro o primeiro a arquivar e o de Dezembro o ltimo. Os

    documentos so arquivados no ms da respectiva emisso, no caso das facturas e vendas

    a dinheiro, ou no ms de pagamento, quando se tratam de comprovativos de pagamento.

    Respeitando a ordem dos documentos apresentada na tabela anterior, arquiva-se por

    ordem alfabtica, ficando o A acima e o Z abaixo, e por ordem de emisso, ficando,

    dentro do mesmo fornecedor ou credor, os mais antigos abaixo e os mais recentes

    acima.

    frequente serem os funcionrios da T.S.E., Lda., a organizarem a apresentao

    de alguns documentos, como as listagens de cheques, as despesas diversas e os recibos

    emitidos pela empresa. No primeiro caso, com base nos canhotos dos cheques que as

    empresas entregam T.S.E., Lda., elabora-se, para cada ms, uma folha de Excel (ver

    anexo 1) com os cheques emitidos pela empresa nesse ms. No caso de as empresas

    emitirem cheques provenientes de diferentes contas bancrias realiza-se uma folha para

    cada uma delas. A numerao dos cheques em cada ms deve ser sequencial,

    comeando no nmero que se segue ao ltimo nmero da listagem do ms anterior. Para

    cada cheque identifica-se, alm do nmero, a data de emisso, o destinatrio, a conta

  • F.E.U.C.

    18

    respectiva de fornecedor e o montante pago. Mais tarde, na classificao, pode

    acontecer que esteja presente na listagem um cheque cujo pagamento j tenha sido

    registado. Neste caso indica-se ou sublinha-se no documento de registo o nmero do

    cheque e pe-se um visto no local que devia ser preenchido com a conta de fornecedor.

    Outras vezes acontece que os cheques sejam pr-datados. Nesta situao o espao

    guardado para registo da conta de fornecedor deve ser preenchido com a indicao em

    maisculas pr-datado, registando-se de novo este cheque no ms a que relativo,

    abaixo ou acima da sequncia numrica da listagem desse ms.

    As despesas diversas so separadas de acordo com a sua tipologia (geralmente

    almoos, portagens e estacionamentos, despesas com gasleo para cada carro, material

    de escritrio, produtos para limpeza, higiene ou conforto, revistas e jornais, de entre

    outras), agrafando-se e somando-se os totais daquelas que, sendo respeitantes mesma

    conta de custos e mesma percentagem de I.V.A., so pagas por caixa ou pelos scios

    das empresas. As que so pagas por meios bancrios devem permanecer isoladas para

    que sejam classificadas e lanadas isoladamente, a fim de serem fceis de identificar

    quando se elaborarem as reconciliaes bancrias. Todas elas so no final agrafadas a

    uma folha de operaes diversas (ver anexo 2), um documento em Word que

    consiste numa tabela na qual se indicam as despesas que a ela so agrafadas, o I.V.A. de

    cada, quando aplicvel, o total, e as respectivas contas de movimento a crdito e a

    dbito.

    Os recibos emitidos pelas empresas por vezes so tratados na T.S.E., Lda.,

    sobretudo quando se tratam de clnicas mdicas. Estes so organizados respeitando a

    numerao sequencial, e afectos ao ms em que foram emitidos. Os recibos de

    numerao sequencial, relativos ao mesmo ms, so ento agrafados e os seus totais so

    somados e evidenciados numa folha pequena de operaes diversas, semelhante

    descrita no pargrafo anterior, que agrafada aos recibos. Desta vez, nesta folha,

    indicado o intervalo de recibos a que est agrafada e as contas a dbito e a crdito, alm

    do referido total. Normalmente no h cuidados relativos ao I.V.A., visto as clnicas

    mdicas serem isentas do imposto.

    Por fim, h ainda a referir que, em regra, existem, para cada empresa, duas

    pastas adicionais: a dos documentos oficiais e a dos bancos. Na primeira so

    arquivados documentos oficiais, como o Modelo 22, as Declaraes do I.V.A., ou

    documentos da Conservatria. Na segunda so arquivados os recibos dos fornecedores e

    credores, assim como os extractos bancrios das empresas.

  • F.E.U.C.

    19

    2.3.1.3 A Classificao e o Lanamento:

    Terminado o arquivo inicia-se a classificao dos documentos. Cada documento

    arquivado d origem a um registo contabilstico cuja classificao feita com uma

    lapiseira vermelha preferencialmente do lado direito do documento, num espao em

    branco, para posteriormente ser mais rpida a visualizao.

    Havendo bastantes casos dignos de consulta do Cdigo do Imposto sobre o

    Valor Acrescentado para conhecer as especificidades inerentes s diversas

    classificaes dos documentos, deixo aqui especial referncia ao artigo 21, que define,

    de acordo com a situao especfica da empresa, que o gasleo pode ser dedutvel na

    sua totalidade ou em metade. Se no primeiro caso o procedimento equivalente ao de

    qualquer documento com I.V.A. dedutvel, no segundo deve-se conhecer o montante de

    imposto e multiplic-lo por 50%, que ser afecto a uma conta de I.V.A. dedutvel. A

    parte restante deve ser somada base tributvel, que ser englobada numa conta de

    custos. Outro caso comum, e portanto relevante mencionar, so as refeies

    (almoos), cuja classificao varia conforme o valor da despesa apresentada. Aquelas

    cujo valor apresentado igual ou inferior a vinte e cinco euros so consideradas

    despesas de deslocao, enquanto as que apresentam um valor superior so consideradas

    despesas de representao.

    Concluda a classificao inicia-se o lanamento; ou seja, insere-se a

    classificao feita manualmente em cada documento, de forma ordenada, no programa

    de contabilidade. Existem fundamentalmente sete tipos de movimentos, sendo que os

    que realizei eram essencialmente de natureza corrente:

    Lanamentos de abertura relativos aos valores iniciais das contas, no

    incio da escrita;

    Lanamentos correntes tratam-se daqueles que registam as operaes

    e acontecimentos durante o exerccio econmico;

    Lanamentos de estorno pretendem rectificar as omisses, duplicaes

    e erros cometidos nos lanamentos que foram efectuados;

    Lanamentos de regularizao tm em vista rectificar o saldo das

    contas que no correspondam realidade, o que leva a serem efectuados

  • F.E.U.C.

    20

    no final de cada exerccio econmico, antes do apuramento de resultados

    e do balano;

    Lanamentos de transferncia ou de apuramento de resultados tm

    por objectivo transferir os saldos das contas de custos e de proveitos para

    as contas de resultados, permitindo a posterior descriminao dos

    resultados da empresa;

    Lanamentos de encerramento ou fecho so realizados aps o

    apuramento de resultados e a elaborao do balano a fim de fechar as

    contas que apresentam saldos;

    Lanamentos de reabertura registam, no incio de cada exerccio

    econmico, os valores iniciais das contas, correspondentes aos saldos

    finais das contas do exerccio anterior.

    No final de cada trabalho preenche-se uma folha de controlo trimestral,

    indicando que estes trabalhos j foram realizados para o cliente em causa. A concluso

    do processo , por vezes, dificultada por razes de ordem prtica, como j tive

    oportunidade de referir: sem a totalidade dos documentos referentes a determinada

    empresa o trabalho contabilstico no se encontra sempre actualizado. No sentido de

    minimizar esta perda, a T.S.E., Lda., tenta-se sempre que a informao esteja

    organizada e tratada o mais cedo possvel, dentro das possibilidades, a fim de dar

    resposta atempada a outros trabalhos e necessidades posteriores.

    2.3.2 Prticas de Controlo Interno

    As prticas de controlo interno adoptadas so importantes para assegurar a

    confiana e integridade da informao, verificar a conformidade com as polticas e

    evitar erros involuntrios, entre outras. Na T.S.E., Lda. as prticas mais relevantes de

    controlo interno adoptadas so as reconciliaes bancrias e de terceiros (alm da

    referida numerao dos documentos ao efectuar os lanamentos). Esta tarefa sofre

    influncias do S.N.C. essencialmente na medida em que este vem atribuir um novo

    cdigo de contas e um novo conjunto de normas a ter em considerao no trabalho de

    registo contabilstico. Os procedimentos para a elaborao das reconciliaes bancrias

    e de terceiros so descritas seguidamente.

  • F.E.U.C.

    21

    2.3.2.1 A Reconciliao Bancria

    Para responder necessidade de conferncia das entradas e sadas de meios

    monetrios das contas bancrias efectuam-se as reconciliaes bancrias. Estas tm por

    objectivo verificar a igualdade dos saldos bancrios e contabilsticos no final do ano e

    coincidncia dos movimentos bancrios com os contabilsticos.

    A conta de depsitos ordem pode ser movimentada a dbito por movimentos

    como os depsitos, ordens de transferncias bancrias de terceiros s empresas ou juros

    vencidos pelos depsitos, e a crdito por movimentos como cheques emitidos,

    pagamentos e transferncias a terceiros. Um dbito evidenciado no extracto bancrio

    corresponder portanto a um crdito registado na contabilidade.

    Descrevendo mais pormenorizadamente o processo, as reconciliaes bancrias

    so efectuadas em folhas do Excel, para cada conta, relativamente a cada ms, nas

    quais se registam as diferenas encontradas entre os extractos bancrios e o extracto

    contabilstico da conta bancria desejada. Cada folha tem no topo o nome da empresa, o

    nome do banco e o n de conta, assim como o perodo a que a reconciliao se refere. O

    perodo remonta sempre desde o primeiro dia do ano (ou o primeiro dia do ms em que

    a empresa passou a ser cliente da T.S.E., Lda., caso se tenha tornado cliente durante o

    ano corrente), at ao ltimo dia do ms sobre o qual se est a fazer a reconciliao. Para

    efectuar este trabalho so preenchidos dois quadros: no primeiro inserem-se os valores

    que se encontram nos registos contabilsticos, mas no nos extractos bancrios; no

    segundo apresentam-se os valores evidenciados nos extractos bancrios, mas dos quais

    no existe registo na contabilidade.

    No primeiro quadro, para cada valor que se encontre nos extractos

    contabilsticos da conta bancria que no conste no extracto bancrio, indica-se a data

    do registo contabilstico (a mesma data utilizada na descrio ao se ter lanado o

    documento), o dirio em que o documento se encontra, o nmero de ordem do

    documento (atribudo no trabalho de lanamento), o seu descritivo, a indicao se o

    valor em causa foi debitado (coloca-se a letra D) ou creditado (coloca-se a letra C),

    e o valor. Todos estes dados so apresentados no extracto contabilstico.

    Exemplificando, um quadro simples poderia ser deste tipo:

  • F.E.U.C.

    22

    Quadro1: Valores presentes no Extracto Contabilstico que no constam do Extracto Bancrio.

    O segundo quadro semelhante a este, embora s se indique a data de

    movimento do valor, a descrio, a indicao de dbito ou crdito e o valor, que

    constam no extracto bancrio. Exemplificando, o segundo quadro poderia assumir esta

    forma:

    Quadro2: Valores presentes no Extracto Bancrio que no constam do Extracto Contabilstico.

    No final da folha de clculo inserem-se os valores totais do extracto bancrio e

    do extracto contabilstico. So ainda apresentados automaticamente os valores totais de

    cada quadro, que so somados ao total do extracto contabilstico. Este total dever

    corresponder ao total do extracto bancrio, caso contrrio, a diferena ser indicada por

    uma soma controlo, indicando que foram cometidos erros neste trabalho. Utilizando os

    quadros apresentados, e assumindo um total contabilstico de 20.000,00 e um total

    bancrio de 20.123,91, esta ltima parte assumiria a seguinte forma:

  • F.E.U.C.

    23

    Esquema 2: Controlo do trabalho de Reconciliao Bancria.

    No final das conciliaes estarem elaboradas, elaboram-se as correces. Este

    trabalho passa por, utilizando a ltima conciliao bancria do ano, verificar no

    primeiro quadro os valores registados e verificar se o lanamento foi mal efectuado, se

    respeitam a valores que se encontram na coluna de baixo, ou se s iro aparecer no

    extracto bancrio mais tarde. Seguidamente, no segundo quadro, seleccionam-se as

    informaes que podem ser tratadas contabilisticamente, daquelas em que necessria

    mais informao por parte do cliente para serem posteriormente registadas. Faz-se ento

    o registo contabilstico das operaes em trnsito e que so possveis de serem lanadas

    com base no extracto bancrio. Para o efeito fotocopia-se o mesmo, anexando a

    fotocpia a uma folha de operaes diversas, na qual se vai fazer a classificao da

    informao presente no extracto anexado, que deve estar sublinhada a marcador

    fluorescente. As restantes informaes sero igualmente classificadas e lanadas logo

    que possvel. Estes novos documentos so normalmente arquivados e lanados no final

    do ms de Dezembro.

    2.3.2.2 A Reconciliao de Terceiros

    Este processo consiste na comparao dos extractos contabilsticos com os

    extractos do cliente, a fim de se verificar o igual lanamento dos movimentos em ambas

    as contabilidades. Recai usualmente sobre as contas de clientes, fornecedores,

    Segurana Social, I.V.A. e Emprstimos.

    Detectadas as divergncias deve-se procurar conhecer as causas, consultando-se

    os movimentos e documentos correspondentes. Uma vez encontradas, deve-se proceder

    regularizao das diferenas utilizando para o efeito uma folha de operaes

    diversas. Usualmente estas divergncias devem-se a erros de lanamento, utilizando-se

    contas de clientes erradas ou movimentos em duplicado ou na existncia de duas contas

    Total do primeiro quadro

    Total do segundo quadro

    Soma Controlo

  • F.E.U.C.

    24

    correntes relativas ao mesmo cliente, de entre outras. Nalguns casos ainda se verifica a

    falta do lanamento de algumas facturas de fornecedores, por falta de entrega T.S.E.,

    Lda. Mais uma vez o papel das empresas clientes quanto ao envio da documentao

    necessria crucial para um desempenho rpido e eficaz no trabalho realizado na

    T.S.E., Lda.

    2.3.3 As Obrigaes Fiscais

    A contabilidade e a fiscalidade mantm uma relao muito prxima, dado que a

    fiscalidade se interessa por conhecer os registos contabilsticos para efeitos de

    tributao. A tributao e contabilizao de impostos so problemas que cabem

    contabilidade resolver, independentemente das consideraes que possam ser feitas em

    torno dos mesmos. Desta forma, quaisquer alteraes ocorridas ao nvel da

    contabilidade produziro efeitos no mbito da fiscalidade. Contudo Como do

    conhecimento de todos o casamento entre a contabilidade e a fiscalidade nem

    sempre perfeito. (Silva, 1992, p. 303). Estas duas reas devem ser vistas sob uma

    perspectiva de complementaridade, tendo conscincia que, enquanto a contabilidade

    visa a apresentao de uma imagem verdadeira e apropriada da situao patrimonial da

    empresa, a fiscalidade tem como objectivo arrecadar receitas fiscais imprescindveis ao

    equilbrio oramental, pelo que cada uma salvaguardar a sua identidade.

    Com a entrada em vigor do S.N.C. o maior impacto fiscal ocorreu na alterao

    feita ao Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas e legislao

    complementar com o objectivo de adaptar as regras de determinao do lucro tributvel

    s N.I.C. J em diversos pases, e agora tambm em Portugal, o modelo de

    contabilizao dos impostos sobre os lucros das empresas evoluiu do mtodo do

    imposto a pagar para o mtodo do reconhecimento dos efeitos tributrios das operaes

    realizadas.

    So ento seguidamente apresentadas as obrigaes fiscais das empresas a que a

    T.S.E., Lda. mais frequentemente d resposta. No entanto, no meu perodo de estgio

    apenas tive oportunidade de proceder ao apuramento do I.V.A., pelo que as restantes

    sero tratadas de uma forma menos detalhada.

  • F.E.U.C.

    25

    2.3.3.1 O Apuramento do Imposto sobre o Valor Acrescentado

    Na altura em que Portugal perspectivava a adeso C.E.E., adoptou-se o sistema

    comum do I.V.A., regulamentado por diversas directivas do Conselho das Comunidades

    Europeias, em detrimento do antigo imposto de transaces. O I.V.A. trata-se de um

    imposto reditcio, sendo o mais importante ao financiamento do Oramento de Estado.

    caracterizado como um imposto indirecto e plurifsico, dado que incide sobre todas as

    fases do processo produtivo, atravs do chamado mtodo subtractivo indirecto1, das

    facturas, do crdito de imposto ou sistema dos pagamentos fraccionados. Pretende ainda

    ser um imposto neutro, dado que, independentemente do nmero de fases do circuito

    econmico, a sua carga fiscal incidente sobre o bem ser a mesma, no induzindo

    portanto os operadores a integrarem-se por motivos fiscais2.

    Sendo um imposto geral sobre o consumo, incide (de acordo com o especificado

    no artigo 1 do Cdigo do Imposto sobre o Valor Acrescentado - C.I.V.A.), sobre:

    As transmisses de bens e prestaes de servios efectuadas em territrio

    nacional, a ttulo oneroso, por um sujeito passivo agindo como tal;

    As importaes de bens;

    As operaes intracomunitrias efectuadas no territrio nacional e

    reguladas no Regime do I.V.A. nas Transaces Comunitrias (R.I.T.I.).

    Existem no entanto algumas isenes, como o caso das prestaes de servios

    mdicos, com que me deparei durante o meu estgio. Estas encontram-se definidas nos

    artigos 9, 13, 14 e 15 do C.I.V.A., tratando todo o Captulo II das matrias

    respeitantes s isenes em geral.

    O Decreto-Lei n 186 de 12 de Agosto, que entrou recentemente em vigor,

    aplicvel aos casos de prestaes de servios efectuadas a sujeitos passivos que tenham

    sede noutro Estado membro, nos termos do artigo 6 do C.I.V.A., assim como s

    transmisses intracomunitrias de bens e operaes assimiladas, efectuadas ao abrigo do

    R.I.T.I. O seu objectivo a luta contra a fraude fiscal associada a este tipo de operaes,

    1 O mtodo subtractivo indirecto trata-se da tcnica de liquidao e deduo do imposto em cada uma das fases do circuito econmico, quando as transaces sucedem entre sujeitos passivos do imposto com direito deduo. 2 Existir neutralidade relativamente ao consumo, quando o imposto no influi nas escolhas dos

    diversos bens ou servios por parte dos consumidores. Um imposto ser neutro na perspectiva da produo, se no induz os produtores a alteraes na forma de organizao do seu processo produtivo. (Palma, 2009).

  • F.E.U.C.

    26

    pelo que veio alterar a periodicidade dos prazos de envio do Anexo Recapitulativo

    Declarao Peridica de I.V.A., que foi autonomizado na Declarao Recapitulativa

    (ver anexo 3), para uma regularidade mensal ou eventualmente trimestral. Esta

    declarao tambm vem agora abranger sujeitos passivos que efectuem servios de

    carcter comunitrio.

    O trabalho de apuramento de I.V.A. uma responsabilidade atribuda aos

    sujeitos passivos, para que possam cumprir as suas obrigaes de pagamento de imposto

    (vide artigo 28 do C.I.V.A.). Este trabalho, na T.S.E., Lda., realizado

    informaticamente, com recurso ao programa de contabilidade. Para tal, deve-se

    confirmar em primeiro lugar que todas as contas se encontram fechadas, que no

    existem falhas na numerao nem documentos no saldados. Selecciona-se ento a

    opo de apuramento, preenchendo-se os dados requeridos pelo programa.

    Automaticamente emitido um lanamento no dirio do apuramento de I.V.A. que,

    alm de indicar o imposto a pagar ou a recuperar e conta acessria, descrimina as contas

    relativas ao imposto deduzido, liquidado e regularizaes utilizadas durante o perodo.

    esquematicamente e recorrendo ao uso de razes, o trabalho contabilstico efectuado

    pelo programa traduz-se do seguinte modo:

    (1) Transferncia do saldo da conta I.V.A. dedutvel; (2) Transferncia do saldo da conta I.V.A. liquidado; (3) Transferncia das regularizaes favorveis ao sujeito passivo; (4) Transferncia das regularizaes favorveis ao Estado; (5) Transferncia do I.V.A. reportado de perodos anteriores relativamente ao qual a empresa no solicitou o reembolso.

    Esquema 3: I.V.A. a pagar ou a receber.

    Se a conta 2435 apresentar saldo credor, este transferido para a conta 2436

    I.V.A. a pagar. Ao contrrio, se apresentar saldo devedor, transferido para a conta

  • F.E.U.C.

    27

    2437 I.V.A. a recuperar. Ou seja, quando o imposto liquidado superior ao

    dedutvel existe imposto a entregar ao Estado, caso contrrio, existe a recuperar.

    Manualmente confirmam-se os valores apresentados nas contas movimentadas.

    Para isso recorre-se a balancetes analticos do perodo, normalmente da classe 3

    existncias, 4 imobilizaes, 6 custos e perdas, e 7 proveitos e ganhos. Nestes

    balancetes encontram-se as contas a que se associou I.V.A. nos lanamentos efectuados,

    ou seja, -nos dado a conhecer o total dos valores tributveis (vide artigos 16 e 17 do

    C.I.V.A.). Estes totais so somados de acordo com o critrio do I.V.A. que sobre eles

    recaia, conforme seja deduzido, liquidado ou regularizado, mesma taxa3. Em seguida,

    multiplica-se a estes resultados o valor da taxa de imposto correspondente.

    Consequentemente devem-se obter os montantes apresentados originalmente pelo

    programa; se tal no se verificar, necessrio conferir os documentos para se detectar o

    motivo do erro, e no final refazer a conferncia. No fim, imprime-se o lanamento do

    apuramento do imposto e folha agrafam-se os balancetes. So colocados em local

    prprio para posterior preenchimento da declarao peridica de I.V.A. (ver anexo 4)

    por um membro da equipa especialmente designado para o efeito.

    De acordo com o artigo 40, a declarao peridica de I.V.A. deve ser entregue

    at dia 10 do segundo ms seguinte quele a que respeitam as operaes, quando o

    volume de negcios do ano anterior iguala ou supera os 498.797,00. Na T.S.E., Lda.

    estas empresas so vulgarmente designadas de I.V.A. mensal. Em alternativa, deve

    ser entregue at ao dia 15 do segundo ms seguinte ao trimestre do ano a que respeitam

    as operaes, quando o volume de negcios no ano anterior for inferior ao valor de

    referncia. Estas so chamadas de empresas de I.V.A. trimestral. Esta distino to

    importante na T.S.E., Lda., que condiciona a arrumao dos dossiers das empresas. No

    final, se o resultado do clculo do montante de imposto indicar que existe imposto a

    recuperar, possvel optar entre o reporte e o reembolso. Caso contrrio deve ser pago

    de acordo com os prazos e nos locais estipulados para os diferentes casos de sujeitos de

    I.V.A. presentes no artigo 26 do C.I.V.A.

    Finalizando, ainda importante salientar que s se verifica o direito deduo

    sobre o imposto mencionado em facturas e documentos equivalentes passados em forma

    legal (vide artigo 19, n2 do C.I.V.A.), sendo que os requisitos para que um documento

    seja passado de forma legal esto consagrados no artigo 36 C.I.V.A. Este aspecto

    3 As taxas de I.V.A. em vigor encontram-se estabelecidas no artigo 18 do Cdigo do Imposto sobre o

    Valor Acrescentado.

  • F.E.U.C.

    28

    justifica em grande parte a ateno necessria ao trabalho inicial de conferncia dos

    documentos. Tambm de especial interesse a consulta do artigo 21 do mesmo

    documento, dedicado ao tema da excluso do direito deduo, sendo que os casos

    mais frequentes com que me deparei durante o estgio foram os relativos deduo das

    despesas de gasleo, estipulado na alnea b), do n 1 e das despesas de transportes e

    viagens de negcios, presente na alnea c), do mesmo nmero.

    2.3.3.2 O Imposto sobre os Rendimento das Pessoas Colectivas

    O Cdigo sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (C.I.R.C.) foi aprovado

    pelo Decreto-Lei n442-B/ 88, de 30 de Novembro e entrou em vigor em 1 de Janeiro de

    1989. De acordo com a lei, o I.R.C. deve ser entregue anualmente ao Estado e incide

    sobre os rendimentos obtidos no perodo de tributao pelos sujeitos passivos, nos

    termos dos artigos 1 e 3 do I.R.C. Trata-se portanto de um imposto directo e real, dada

    a sua incidncia sobre a manifestao imediata da capacidade contributiva, sendo que se

    reflecte apenas sobre o rendimento das pessoas colectivas.

    De acordo com o artigo 2, n1 do C.I.R.C., este imposto recai sobre:

    Sociedades comerciais ou civis sob forma comercial, cooperativas,

    empresas pblicas e restantes pessoas colectivas de direito pblico ou

    privado, cuja sede ou direco efectiva se situa em territrio portugus;

    Entidades desprovidas de personalidade jurdica, com sede ou direco

    efectiva em territrio portugus, cujos rendimentos no so tributveis

    em imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (I.R.S.) ou em

    I.R.C. directamente na titularidade de pessoas singulares ou colectivas;

    Entidades, com ou sem personalidade jurdica, que no tenham sede nem

    direco efectiva em territrio portugus, e cujos rendimentos nele

    obtidos no estejam sujeitos a I.R.S.

    Existem diferentes especificidades a ter em conta no clculo do I.R.C. de acordo

    com as entidades em causa, tal como se pode verificar ao consultar sumariamente o

    contedo do C.I.R.C. O caso mais usual recai no entanto sobre as empresas residentes

    em Portugal, que exercem a ttulo principal actividade comercial, industrial ou agrcola.

  • F.E.U.C.

    29

    Contudo, com a entrada em vigor do S.N.C. surgiu a necessidade de se

    efectuarem alteraes ao C.I.R.C. e legislao complementar, de forma a adaptar as

    regras de determinao do lucro tributvel dos sujeitos passivos s N.I.C. Em resposta

    foi publicado o Decreto-Lei n 159/2009, de 13 de Julho, que manteve a estrutura do

    dito cdigo, efectuando as alteraes necessrias adaptao das novas regras e nova

    terminologia, cujos efeitos entraram em vigor a 1 de Janeiro do corrente ano de 2010.

    No artigo 2 do mencionado Decreto-Lei encontram-se mencionados os artigos

    do C.I.R.C. que foram objecto de alteraes. De acordo com as notas iniciais do mesmo

    Decreto-Lei, pretendido que o novo C.I.R.C. mantenha a estreita ligao entre a

    contabilidade e a fiscalidade que j existia e, sempre que no se encontrem estabelecidas

    as regras fiscais prprias, se verifique o acolhimento do tratamento contabilstico

    decorrente das actuais normas de contabilidade. No dispensando a leitura do captulo

    3.2.3 O fim do P.O.C., o incio do S.N.C, so apresentadas em seguida algumas das

    modificaes mais relevantes previstas no dito Decreto-Lei com a entrada em vigor do

    S.N.C.

    No sentido de manter a estreita ligao entre a contabilidade e a fiscalidade, o

    novo C.I.R.C. aceita o emprego do justo valor em instrumentos financeiros cuja

    contrapartida seja reconhecida nos resultados, desde que a fiabilidade da determinao

    do justo valor seja assegurada. O princpio da realizao aplicado aos instrumentos

    financeiros mensurados ao justo valor cuja contrapartida seja reconhecida em capitais

    prprios, assim como s partes de capital superiores a 5% do capital social tambm de

    destacar. Salvo excepo, este modelo ainda pode ser aplicado valorizao dos activos

    biolgicos consumveis. No mesmo sentido sobressaem outras iniciativas como o

    acolhimento do modelo do custo amortizado para apurar os rendimentos e gastos

    resultantes do emprego da taxa de juro efectiva, a aceitao do valor realizvel lquido

    para o clculo do ajustamento dos inventrios, o novo regime fiscal utilizado nos

    instrumentos financeiros derivados e nas operaes de cobertura, assim como o actual

    regime de contratos de construo.

    Nalguns casos a mudana do referencial contabilstico foi responsvel pela

    eliminao de algumas normas fiscais que se tornaram desnecessrias. Noutras reas

    verificou-se a adopo de diferentes graus de separao entre o tratamento contabilstico

    e o fiscal, salvaguardando os interesses da fiscalidade. Outra preocupao foi a

    eliminao dos constrangimentos contabilidade causados pela legislao fiscal.

  • F.E.U.C.

    30

    De especial interesse ainda a referncia ao valor a incluir no lucro tributvel

    sobre as vendas e as prestaes de servios, o qual corresponde ao valor nominal da

    contraprestao recebida, evitando-se o diferimento intrnseco considerao do efeito

    financeiro. Por outro lado, os pagamentos decorrentes de aces a trabalhadores e

    membros dos rgos estaturios consideram-se gastos a incluir no clculo do lucro

    tributvel, no perodo de tributao em que sejam exercidos, pelas quantias liquidadas

    ou pela diferena entre o valor dos instrumentos de capital prprio atribudos e o

    respectivo preo de exerccio pago. Por ser difcil controlar a razoabilidade da deciso

    de reconhecimento das imparidades e a sua quantificao determinou-se que s so

    dedutveis fiscalmente as perdas por imparidade em crditos, bem como as que

    advenham de desvalorizaes excepcionais em activos fixos tangveis, em activos

    biolgicos no consumveis e em propriedades de investimento, cujas causas anormais

    sejam comprovadas.

    Ainda no mbito das dedues fiscais, o novo C.I.R.C. possibilita a deduo das

    provises para garantias a clientes, definindo-se o seu limite de acordo com os encargos

    sobre as mesmas, suportados nos trs perodos de tributao anteriores. Adicionalmente,

    so considerados gastos os crditos incobrveis resultantes de procedimentos

    extrajudiciais de conciliao para viabilizao de empresas em situao de insolvncia

    ou em situao econmica difcil. Por motivos de imparcialidade permite-se que os

    sujeitos passivos deduzam as contribuies suplementares para fundos de penses e

    equiparveis destinadas cobertura de responsabilidades com benefcios de reforma que

    resultem da aplicao dos novos referenciais contabilsticos.

    A declarao peridica de rendimentos (o Modelo 22, apresentado no anexo 5

    deste relatrio) aplicvel s empresas que exercem a ttulo principal actividade

    comercial, industrial ou agrcola, por designao do artigo 120, n 1 do C.I.R.C., deve

    ser enviada anualmente, via internet, at ao ltimo dia do ms de Maio; e o seu regime

    de determinao do lucro tributvel presente na referida declarao encontra-se

    estipulado no artigo 17 do C.I.R.C. Com base nos artigos 20, 21,23 e 24 do C.I.R.C,

    o clculo do mencionado lucro tributvel traduz-se na equao abaixo indicada:

    Esquema 4: O Apuramento do Lucro Tributvel.

    Lucro Tributvel =

    Resultado Lquido + variaes patrimoniais positivas no reflectidas no resultado - variaes patrimoniais negativas no reflectidas no resultado

  • F.E.U.C.

    31

    Anote-se que esta tarefa facilitada pelo facto das empresas terem a sua

    contabilidade organizada, conforme os termos do n3 do artigo 17 do C.I.R.C.

    Seguindo a estrutura do Modelo 22, no quadro 9 do mesmo modelo apurada a matria

    colectvel da seguinte forma:

    Esquema 5: O Apuramento da Matria Colectvel.

    De acordo com o artigo 52, n 1 do C.I.R.C., os prejuzos fiscais tm um

    perodo mximo de seis anos. Por fim, no quadro 10 do Modelo 22 efectuado o

    clculo de montante de I.R.C. a pagar ou a recuperar, tal como evidenciado em

    seguida:

    Esquema 6: O Clculo do I.R.C. a Pagar/ Recuperar.

    As taxas aplicveis encontram-se nos artigos 87 e 88 do C.I.R.C. e as

    especificaes inerentes liquidao de I.R.C. so tratadas no captulo V Tributao.

    Eventualmente pode haver lugar a liquidaes adicionais, nos termos do artigo 99 do

    C.I.R.C. Nos casos evidenciados no n 1 do artigo 94 o I.R.C. objecto de reteno na

    fonte, continuando este tema a ser tratado at ao artigo 98.

    As regras sobre o pagamento do I.R.C. encontram-se no artigo 104 do C.I.R.C.

    De acordo com o n 1, o pagamento do imposto deve ser efectuado nos seguintes

    termos:

    1) Matria Colectvel * Taxa = Colecta

    2) Colecta dedues (relativas a dupla tributao internacional, benefcios fiscais, pagamento especial por conta)

    = I.R.C. liquidado

    3) I.R.C. liquidado + resultado da liquidao Retenes na Fonte Pagamentos por Conta = I.R.C. a pagar (se >0) / recuperar (se 0)

    ou

    I.R.C. a recuperar - I.R.C. de exerccios anteriores + Derrama + Tributao Autnoma + Juros de mora e compensatrios + reposio de benefcios fiscais = Total a recuperar (

  • F.E.U.C.

    32

    Mediante trs pagamentos por conta efectuados, salvo excepo, em

    Julho, Setembro e 15 de Dezembro do ano a que respeita o lucro

    tributvel;

    At ao ltimo dia do prazo fixado para o envio da declarao de

    rendimentos, pela diferena entre o imposto nela calculado e as

    importncias entregues por conta;

    At ao dia do envio da declarao de substituio, pela diferena entre o

    imposto total nela presente e as importncias j pagas.

    Os sujeitos passivos ficam dispensados de efectuar os pagamentos por conta

    quando o imposto do exerccio de referncia para o respectivo clculo for inferior a

    199,52. Adicionalmente, tambm no so efectuados os pagamentos ou recebimentos

    referidos nas alneas seguintes, se o seu montante for inferior a 24,94. Quanto ao

    reembolso, este sucede quando os sujeitos passivos enviam o Modelo 22 dentro do

    prazo legal, desde que no tenha erros de preenchimento, at ao fim do terceiro ms que

    se segue ao seu envio.

    De acordo com o artigo 97 do C.I.R.C., o clculo do pagamento por conta parte

    do imposto liquidado relativo ao perodo de tributao imediatamente anterior, lquido

    da deduo referida na alnea d) do n 2 do artigo 90. Para um volume de negcios

    desse perodo igual ou inferior a 498.797,90, calculado 70% do montante do imposto

    do exerccio anterior repartido por trs pagamentos. Quando o volume de negcios

    exceda o valor de referncia, o valor passa a ser 90%. Conforme estipulado no artigo

    106 do C.I.R.C., recai sobre os sujeitos passivos um ou dois pagamentos especiais por

    conta, em Maro ou Maro e Outubro, respectivamente, do ano a que respeita. O

    montante do pagamento corresponde a 1% do volume de negcios do perodo de

    tributao anterior, com limite mnimo de 1.000 e, quando superior, ser igual a este

    limite acrescido de 20% do excedente, at um mximo de 70.000. A este montante so

    deduzidos os pagamentos por conta efectuados no perodo de tributao anterior.

    Finalizando, refira-se ainda que, ao abrigo do artigo 130 do C.I.R.C., salvo

    excepo, os sujeitos passivos de I.R.C. vm-se obrigados a manter em ordem um

    processo de documentao fiscal relativo a cada perodo de tributao, constitudo at

    ao termo do prazo para entrega da declarao anual de informao contabilstica e

    fiscal, pelo prazo de 10 anos.

  • F.E.U.C.

    33

    2.3.3.3 O Imposto sobre os Rendimento das Pessoas Singulares

    O Cdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (C.I.R.S.) foi

    aprovado pelo Decreto-Lei n 442-A/88, de 30 de Novembro e entrou em vigor a 1 de

    Janeiro de 1989. O Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (I.R.S.) trata-se

    de um imposto nico e directo, visto que sujeita, em regra, o rendimento dos

    contribuintes a uma taxa de tributao e tributa directamente a manifestao da

    capacidade contributiva. O montante de imposto a pagar varia com o rendimento dos

    sujeitos passivos, sendo subjectivo, por diferir de sujeito para sujeito.

    O I.R.S. incide ento sobre o valor anual dos rendimentos de seis categorias

    diferentes, aps respectivas dedues e abatimentos. Estas categorias, de acordo com o

    artigo 1, n 1 do C.I.R.S. tratam-se das:

    Categoria A Rendimentos do trabalho dependente;

    Categoria B Rendimentos empresariais e profissionais;

    Categoria E Rendimentos de capitais;

    Categoria F Rendimentos prediais;

    Categoria G Incrementos patrimoniais;

    Categoria H Penses.

    Nos termos do artigo 57, n 1, do C.I.R.S., os sujeitos passivos de I.R.S. devem

    apresentar anualmente uma declarao oficial (Modelo 3 e anexos) relativa aos

    rendimentos do ano anterior e outros elementos informativos relevantes para a sua

    situao tributria concreta (vejam-se os artigos presentes no cdigo relativos s

    diversas categorias), sendo que este cdigo contempla algumas especificidades para a

    tributao do imposto, de acordo com a situao do sujeito passivo. A ttulo de exemplo

    pode-se apontar o disposto no n 2 do artigo 13 do C.I.R.S., o qual define que quando

    exista agregado familiar, o imposto devido pelo conjunto dos rendimentos das pessoas

    que o constituam, considerando-se sujeitos passivos aquelas a quem cabe a sua direco.

    Segue-se esquematicamente a forma de apurar o I.R.S. a pagar ou a receber, sendo de

    especial interesse a consulta do C.I.R.S. para melhor compreenso trabalho:

  • F.E.U.C.

    34

    Esquema 7: A Determinao do I.R.S. a pagar/receber.

    Na T.S.E., Lda. preenchida a declarao de I.R.S. e respectivos anexos (ver

    anexo 6). Tal como estipulado no artigo 60 do C.I.R.S., a declarao deve ser

    entregue em suporte de papel, de 1 de Fevereiro a 15 de Maro, quando os sujeitos

    passivos tenham recebido rendimentos das categorias A e H, ou de 16 de Maro a 30 de

    Abril nos restantes casos; ou, alternativamente, via internet, sendo os prazos de 10 de

    Maro at 15 de Abril para o primeiro caso e de 16 de Abril at 25 de Maio para o

    segundo. Para efeitos de liquidao do imposto, de acordo com o artigo 76, n 1 do

    C.I.R.S., tendo sido apresentada a declarao at 30 dias aps o termo do prazo legal, a

    liquidao tem por objecto o rendimento colectvel com base nos elementos declarados,

    sendo que as diversas taxas gerais aplicveis se encontram no artigo 68.

    O pagamento do imposto, de acordo com o artigo n97 do C.I.R.S., deve ser feito

    no ano seguinte quele a que respeitam os rendimentos at 31 de Agosto, quando a

    liquidao efectuada no prazo previsto na alnea a) do artigo 77, at 30 de Setembro,

    se for efectuada no prazo previsto pela alnea b) do mesmo artigo, ou at 31 de

    Dezembro, se a liquidao for efectuada nos termos da alnea c). Esclarece-nos no

    entanto o artigo 99, n 1, do C.I.R.S., que as entidades devedoras de rendimentos de

    trabalho dependente e de penses, salvo algumas excepes so obrigadas a reter o

    imposto no momento do seu pagamento, enquanto por sua vez as regras da reteno na

    fonte para rendimentos de outras categorias se encontram no artigo101. De acordo com

    o n 3 do artigo 98 as quantias retidas devem ser pagas at ao dia 20 do ms seguinte

    quele em que foram deduzidas. Por outro lado o artigo 102, n 1, do mesmo cdigo

    esclarece-nos que a titularidade de rendimentos da categoria B determina a

    obrigatoriedade dos sujeitos passivos pagarem trs pagamentos por conta do imposto

    devido, igualmente at ao dia 20 de cada um dos meses de Julho, Setembro e

    Dezembro. Estes temas so mais profundamente tratados nos artigos 98 a 105.

    1) Rendimento Bruto da Categoria Dedues Especficas da categoria = Rendimento Lquido Total

    2) Rendimento Lquido Total (soma do rendimento lquido de todas as categorias relativamente a todos os elementos do agregado familiar)

    Abatimentos = Rendimento Colectvel

    3) Rendimento Colectvel (o coeficiente conjugal determina o escalo de taxa) X Taxa = Colecta

    4) Colecta - Dedues Colecta = I.R.S. a pagar/receber

  • F.E.U.C.

    35

    2.3.3.4 Processamento de Salrios

    Outro dos trabalhos efectuados na T.S.E., Lda. o processamento de salrios.

    Esta tarefa tambm realizada informaticamente, utilizando um programa prprio para

    o efeito. O processamento de salrios efectuado com base na assiduidade de cada

    trabalhador e o seu salrio base. O programa emite automaticamente o recibo de cada

    trabalhador e o mapa de remuneraes a partir do qual se elaboram as guias de

    pagamento de retenes de I.R.S. e os descontos para a Segurana Social (em que parte

    cabe ao trabalhador, e outra parte Entidade contratante), sendo estes entregues em

    seguida aos clientes para posterior pagamento Social at ao dia 20 e ao dia 15,

    respectivamente, do ms seguinte ao processamento de salrios. No processamento

    salrios, para alm dos j referidos descontos tambm se efectuam outros, tais como,

    contribuies para Sindicatos e outras associaes, no tendo prazo de pagamento to

    apertado normalmente pago nas mesmas datas.

    Contabilisticamente, as contas de remunerao ao pessoal, de remunerao dos

    rgos sociais e de subsdio de alimentao so debitadas por contrapartida das contas

    de remuneraes a pagar aos rgos sociais, remuneraes a pagar ao pessoal, reteno

    na fonte sobre rendimentos de trabalho dependente e contribuies para a Segurana

    Social. Os encargos patronais so contabilizados utilizando as contas de encargos sobre

    remuneraes (para os rgos sociais e para o pessoal) a dbito e a conta de

    contribuies para a Segurana Social a crdito.

    2.3.3.5 Segurana Social

    O sistema de solidariedade e de Segurana Social administrado pelo Estado

    portugus e sustem-se sobre o desenvolvimento princpio da solidariedade. A sua

    finalidade a de conferir o direito proteco social e desenvolver e adaptar as suas

    normas aos condicionalismos de ordem familiar, demogrfica e econmica, tal como

    designa a Lei 17/2000, de 8 de Maro no artigo 21 e 22. Em termos mais concisos,

    este sistema cobre, ao abrigo do subsistema previdencial (vide artigo 49), situaes de:

    Doena, invalidez, velhice ou morte;

    Acidentes de trabalho e doenas profissionais;

    Desemprego;

  • F.E.U.C.

    36

    Maternidade, paternidade e adopo.

    De acordo com os artigos 1 e 2 do Decreto-Lei 103/80, de 9 de Maio, quer os

    beneficirios, quer as entidades empregadoras tm a obrigao de se inscreverem como

    contribuintes da segurana social, devendo contribuir (segundo a designada Taxa Social

    nica) para a mesma com as percentagens legalmente estabelecidas sobre as

    remuneraes. As contribuies dos beneficirios deve ser descontada partida na sua

    remunerao e pagas pela entidade patronal, em conjunto com a sua prpria

    contribuio

    No caso dos trabalhadores por conta de outrem, de acordo com os artigos 3 e

    10 do Decreto-Lei 199/99, de 8 de Junho, o montante de contribuies a pagar

    determinada pela aplicao de taxas contributivas s remuneraes legalmente

    consideradas como base de incidncia contributiva. A taxa actualmente em vigor para o

    regime geral de 34,75% dos quais cabem 11% aos trabalhadores e 23,75% entidade

    empregadora. Para os membros dos rgos estaturios das pessoas colectivas e

    entidades equiparadas, de acordo com o artigo 13, a taxa contributiva de 31,25%, dos

    quais 21,25% cabem s entidades empregadoras e 10%, aos trabalhadores. Salvo

    excepo, o pagamento deve ser feito at ao dia 15 do ms seguinte quele a que dizem

    respeito.

    No prximo ano entrar em vigor o novo Cdigo dos Regimes Contributivos do

    Sistema Previdencial da Segurana Social, pela Lei 110/2009, de 16 de Setembro, pelo

    que sero registadas algumas alteraes. Em jeito de finalizao ainda h a referir o

    facto da Segurana Social aplicar diversas especificaes nos regimes contributivos que

    expe, conforme a situao profissional dos sujeitos passivos.

    2.3.4 O Encerramento de Contas

    Entre Maro e Maio, na T.S.E., Lda., procede-se ao trabalho de encerramento de

    contas, aps lanados todos os documentos do ltimo ms do ano. Constituintes destas

    operaes de fim de exerccio so todos os registos contabilsticos no correntes que

    tenham em vista o apuramento de resultados e a elaborao das demonstraes

    financeiras. Os pontos de partida para este trabalho so os balancetes de verificao do

    fim do exerccio e a inventariao do patrimnio das empresas, que efectuada pelas

  • F.E.U.C.

    37

    mesmas. Assim, ao iniciar-se este trabalho h sempre o cuidado de se actualizarem as

    reconciliaes bancrias e as reconciliaes de terceiros.

    Esquematicamente esta tarefa tem o seguinte seguimento:

    Esquema 8: O Encerramento de Contas.

    Assim, os primeiros lanamentos a serem efectuados so os chamados

    lanamentos de regularizao, no ms 13, que visam rectificar os saldos contabilsticos

    das contas e os valores inventariados, que geralmente ocorrem devido a erros, omisses

    e incorrecta aplicao de critrios valorimtricos (ex.: apuramento das diferenas de

    cmbio). Em resultado obtm-se o balancete rectificado. A partir daqui o trabalho

    realizado de forma automtica, informaticamente. O programa calcula os resultados do

    exerccio e efectua o encerramento de contas, aps determinar o I.R.C. estimado, no

    ms 14.

    No entanto, dando continuidade explicao, o primeiro passo seria a

    elaborao dos lanamentos de apuramento de resultados, com os quais se transferem os

    saldos das contas de custos e proveitos para as respectivas contas de resultados (ver

    anexo 7), a fim de se determinar o resultado lquido do exerccio. Obtm-se assim o

    balancete de encerramento, a partir do qual se efectuaro os lanamentos de

    encerramento de contas que vm saldar as contas que ainda apresentam saldo no

    balancete. No incio do exerccio econmico seguinte, as contas so reabertas e o

    programa realiza automaticamente os designados lanamentos de abertura, debitando as

    contas que apresentavam saldo devedor, e creditando aquelas que apresentavam saldo

    credor, pelos valores respectivos.

    At agora, as demonstraes financeiras deviam ser elaboradas respeitando a

    Directriz Contabilstica n 18/97, devendo as entidades dispostas no n1 do artigo 2 do

    Decreto-Lei 410/89, de 24 de Novembro seguir as normas estipuladas no P.O.C.,

    Balancete de

    Verificao

    Balancete de

    Rectificado

    Balancete de

    Encerramento

    Lanamentos de

    Regularizao

    Demonstrao de Resultados por natureza,

    funo e Anexos

    Lanamentos de Apuramento de

    resultados

    Lanamentos de

    Fecho de Contas

    Fim do Trabalho do Exerccio Balano

  • F.E.U.C.

    38

    devendo portanto apresentar a demonstrao de resultados (por origens e por funes), o

    balano e respectivos anexos, assim como a demonstrao de origens e aplicao de

    fundos e demonstrao de fluxos de caixa. Para as sociedades por quotas, sociedades

    annimas e cooperativas que data de encerramento no ultrapassem dois dos trs

    limites definidos no artigo 262 do Cdigo das Sociedades Comerciais (um total de

    balano de 1500.000, um total de vendas lquidas e outros proveitos de 3.000.000 e

    um nmero de trabalhadores empregados em mdia durante o exerccio de 50), o artigo

    3 do Decreto-Lei n 410/89 permite a apenas a apresentao dos modelos menos

    desenvolvidos do balano, da demonstrao de resultados e anexo.

    Com a entrada em vigor do S.N.C. as demonstraes financeiras devero

    obedecer a novos moldes. Este tema abordado no subcaptulo 3.1.4 Demonstraes

    Financeiras deste relatrio.

    Captulo 3: O Sistema de Normalizao Contabilstica (S.N.C.)

    3.1 Apresentao do S.N.C.

    O Sistema de Normalizao Contabilstica entrou em vigor a 1 de Janeiro do

    actual ano de 2010, sob aprovao do Decreto-Lei n 158/2009, de 13 de Julho, ao final

    de uma longa caminhada da contabilidade no sentido da normalizao contabilstica.

    Este Decreto-Lei no s promoveu a criao do S.N.C., como veio revogar o P.O.C. e

    legislao complementar, identificando as entidades a que se aplica. Alm deste

    documento legal, ainda se contam com a presena de Portarias e Avisos na base deste

    novo sistema contabilstico. Esta nova realidade vem ento trazer comunidade

    tcnica uma nova realidade contabilstica e de relato financeiro (Almeida, Dias, &

    Carvalho, 2009, p. 3), que se pretende clarificar um pouco neste captulo.

    O objectivo que o S.N.C. se revele um modelo baseado em princpios e no em

    regras, aderente ao modelo do I.A.S.B.4 presente na Unio Europeia, e ao mesmo tempo

    4 O I.A.S.B. veio substituir o papel do I.A.S.C. Os seus membros, de diversas nacionalidades, so

    responsveis pelas I.F.R.S.s (International Financial Reporting Standards), e pela aprovao das

  • F.E.U.C.

    39

    que garanta a compatibilidade com as Directivas Contabilsticas Comunitrias.

    Pretende-se portanto que este seja um sistema suficientemente flexvel para acolher

    oportunamente as alteraes s normas do I.A.S.B. O S.N.C. vem atender s

    necessidades de relato financeiro das diversas empresas e permite uma

    intercomunicabilidade quer horizontal, quer vertical, evidenciada no esquema

    explicativo que se segue:

    Esquema 9: A Composio do S.N.C. Fonte: (Almeida, Dias, & Carvalho, 2009)

    luz deste esquema, facilmente se observa que o Sistema de Normalizao

    Contabilstica funciona como um todo composto por quatro elementos principais,

    acrescidos das normas interpretativas:

    normas interpretativas propostas pelo International Financial Reporting Interpretations Committee (I.F.R.I.C.), tambm designadas I.F.R.I.C.s. O anterior I.A.S.C. publicava as I.A.S. (International Acconting Standards), cujas normas interpretativas eram as S.I.C., sendo que desde ento algumas I.A.S. foram modificadas e outras excludas.

    Decreto-Lei n 158/2009, de 13 de Julho

    Sistema de Normalizao Contabilstica

    Estrutura Conceptual (E.C.)

    Est

    rutu

    ra C

    once

    ptua

    l (E

    .C.)

    R

    egime para P

    equenas Entidades - O

    po

    Modelos de Demonstraes

    Financeiras (M.D.F.)

    Modelos de Demonstraes Financeiras para

    Pequenas Entidades (M.D.F.)

    Cdigo de Contas (C.C.)

    Normas Contabilsticas e de Relato Financeiro

    (N.C.R.F.)

    Norma Contabilstica e de Relato Financeiro

    para Pequenas Entidades

    (N.C.R.F. - P.E.)

    Normas Interpretativas (N.I.)

  • F.E.U.C.

    40

    A Estrutura Conceptual;

    As Normas de Contabilidade e de Relato Financeiro;

    As Demonstraes Financeiras;

    O Cdigo de Contas.

    Existem dois nveis de normalizao: para as entidades em geral, s quais se

    aplicam estes quatro parmetros, e para as pequenas entidades, com menores exigncias

    de relato financeiro, nomeadamente por no serem obrigadas elaborao das

    demonstraes de fluxos de caixa e a demonstrao das alteraes do capital prprio. As

    Normas Contabilsticas e de Relato Financeiro (N.C.R.F.) so assim simplesmente

    substitudas por apenas uma Norma Contabilstica e de Relato Financeiro para Pequenas

    Entidades (N.C.R.F.-P.E.), de carcter opcional, alm do conjunto de demonstraes

    financeiras exigido ser mais reduzido (balano, demonstrao de resultados por

    naturezas e por funes e anexos).

    ainda relevante evidenciar o papel da legislao complementar ao Decreto-Lei

    n 158/2009, de 13 de Julho, que, tal como j se referiu, constam nas Portarias e nos

    Avisos. Se s primeiras se reserva a apresentao dos modelos de demonstraes

    financeiras e do cdigo de contas, a Estrutura Conceptual, as Normas Interpretativas, as

    Normas Contabilsticas e de Relato Financeiro e a Norma Contabilstica e de Relato

    Financeiro para Pequenas Entidades encontram-se publicadas como avisos.

    3.1.1 A Estrutura Conceptual do S.N.C.

    A Estrutura Conceptual o documento fundamental compreenso da

    uniformizao do S.N.C. Como tal, deve nortear os procedimentos tcnicos subjacentes

    implementao e consolidao do novo sistema contabilstico. Segundo o pargrafo 2

    do Aviso n 15652/2009, relativo Estrutura Conceptual do S.N.C., a sua finalidade

    estabelecer conceitos que esto subjacentes prestao e apresentao das

    demonstraes financeiras para utentes externos sendo o propsito desta estrutura

    conceptual:

    (a) ajudar os preparadores das informaes financeiras na aplicao das

    Normas Contabilsticas e de Relato Financeiro (N.C.R.F.) e no tratamento

    de tpicos que ainda tenham de constituir assunto de uma dessas normas;

  • F.E.U.C.

    41

    (b) ajudar a formar opinio sobre a aderncia das demonstraes financeiras

    s N.C.R.F.;

    (c) ajudar utentes na interpretao da informao contida nas demonstraes

    financeiras preparadas; e

    (d) proporcionar aos que estejam interessados no trabalho da C.N.C.

    informao acerca da sua