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REVISTA DO PROFESSOR, jan./mar. 2007 29 (89): Porto Alegre, 23 29-34, CLASSE MULTISSERIADA Horta para aprender Espaço na escola para práticas de educação ambiental e de cidadania A vida na cidade tem distancia- do as pessoas de hábitos de culti- vo por vários motivos, que vão desde a falta de tempo e de espa- ço físico até a substituição de ati- vidades. Estas razões, entretanto, não são únicas nem as mais signi- ficativas. Com o processo tecno- lógico, as pessoas foram incorpo- rando em suas práticas novos va- lores, e estes valores não parecem contemplar atividades que se apro- ximam da natureza, do zelo am- biental e da produção primária, que é crucial para a manutenção da vida no planeta. Essas ativida- des passaram a ser desvalorizadas não só no contexto urbano, mas, com uma velocidade alarmante, atingem também as populações do interior. Além disso, a promoção da saú- de permite que as pessoas adqui- ram maior controle sobre sua pró- pria qualidade de vida. Pela ado- ção de hábitos saudáveis não só os indivíduos, mas também suas fa- mílias e comunidade se apoderam de um bem, um direito e um re- curso aplicável à vida cotidiana. A Organização Mundial da Saú- de (OMS) define que uma das melhores formas de promover a saúde é por meio da escola por- que ela é um espaço social onde muitas pessoas convivem, apren- dem e trabalham, onde os estudan- tes e os professores passam a maior parte do seu tempo. Além disso, é na escola que os progra- mas de educação e saúde podem • JORGE LUIZ FORTUNA Biólogo e Médico Veterinário. Especialista em Educação Científica em Biologia e Saúde e em Educação para Gestão Ambiental. Mestre em Higiene e Processamento de Produtos de Origem Animal. Professor de Microbiologia do Curso de Ciências Biológicas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus X – Teixeira de Freitas/BA. E-mail: [email protected] ter a maior repercussão, benefi- ciando os alunos na infância e na adolescência. Nesse sentido, os professores e todos os demais profissionais tornam-se exemplos positivos para os alunos, suas fa- mílias e para a comunidade na qual estão inseridos. Não se trata de formar um gru- po para produzir alimentos na hor- ta, mas de um movimento de ação participativa, cuja forma de uso transcende a função utilitária da ação, para incorporar o hábito de plantio e cuidado com as plantas, bem como resgatar os valores socioculturais e educacionais por meio desta atividade. A idéia é tor- nar a horta escolar um laboratório de transformação de ensino e aprendizagem, onde se incorpore a política da transversalidade do conhecimento e da cidadania. Objetivos äObjetivo Geral Mobilizar crianças, adolescen- tes, professores, enfim, toda a comunidade escolar, para o uso da horta como um processo de socialização e resgate social e educacional, além de implantar a Educação Ambiental de forma interdisciplinar e vivenciada, onde a natureza possa ser compreendi- da como um todo dinâmico e o ser humano, como parte integran- te e agente de transformações do mundo em que vive. äObjetivos Específicos • Estimular o cuidado, o respeito e o horta_aprender.p65 30/11/2006, 23:53 29

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REVISTA DO PROFESSOR, jan./mar. 200729

(89):Porto Alegre, 23 29-34,

CLASSE MULTISSERIADA

Horta para aprenderEspaço na escola para práticas de educação ambiental e de cidadania

A vida na cidade tem distancia-do as pessoas de hábitos de culti-vo por vários motivos, que vãodesde a falta de tempo e de espa-ço físico até a substituição de ati-vidades. Estas razões, entretanto,não são únicas nem as mais signi-ficativas. Com o processo tecno-lógico, as pessoas foram incorpo-rando em suas práticas novos va-lores, e estes valores não parecemcontemplar atividades que se apro-ximam da natureza, do zelo am-biental e da produção primária,que é crucial para a manutençãoda vida no planeta. Essas ativida-des passaram a ser desvalorizadasnão só no contexto urbano, mas,com uma velocidade alarmante,atingem também as populações dointerior.

Além disso, a promoção da saú-de permite que as pessoas adqui-ram maior controle sobre sua pró-pria qualidade de vida. Pela ado-ção de hábitos saudáveis não só osindivíduos, mas também suas fa-mílias e comunidade se apoderamde um bem, um direito e um re-curso aplicável à vida cotidiana.

A Organização Mundial da Saú-de (OMS) define que uma dasmelhores formas de promover asaúde é por meio da escola por-que ela é um espaço social ondemuitas pessoas convivem, apren-dem e trabalham, onde os estudan-tes e os professores passam amaior parte do seu tempo. Alémdisso, é na escola que os progra-mas de educação e saúde podem

• JORGE LUIZ FORTUNABiólogo e Médico Veterinário.Especialista em Educação Científica emBiologia e Saúde e em Educação paraGestão Ambiental.Mestre em Higiene e Processamento deProdutos de Origem Animal.Professor de Microbiologia do Curso deCiências Biológicas da Universidade doEstado da Bahia (UNEB) – Campus X –Teixeira de Freitas/BA.E-mail: [email protected]

ter a maior repercussão, benefi-ciando os alunos na infância e naadolescência. Nesse sentido, osprofessores e todos os demaisprofissionais tornam-se exemplospositivos para os alunos, suas fa-mílias e para a comunidade na qualestão inseridos.

Não se trata de formar um gru-po para produzir alimentos na hor-ta, mas de um movimento de açãoparticipativa, cuja forma de usotranscende a função utilitária daação, para incorporar o hábito deplantio e cuidado com as plantas,bem como resgatar os valoressocioculturais e educacionais pormeio desta atividade. A idéia é tor-nar a horta escolar um laboratóriode transformação de ensino eaprendizagem, onde se incorpore

a política da transversalidade doconhecimento e da cidadania.

Objetivos!Objetivo Geral

Mobilizar crianças, adolescen-tes, professores, enfim, toda acomunidade escolar, para o uso dahorta como um processo desocialização e resgate social eeducacional, além de implantar aEducação Ambiental de formainterdisciplinar e vivenciada, ondea natureza possa ser compreendi-da como um todo dinâmico e oser humano, como parte integran-te e agente de transformações domundo em que vive.

!Objetivos Específicos• Estimular o cuidado, o respeito e o

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afeto pela atividade de horticultura.• Promover o estudo de técnicasde plantio e cultivo de hortaliças.• Estimular o hábito de utilizaçãode hortaliças na alimentação.• Promover, por meio das diferen-tes disciplinas, atividades de ex-perimentação de conteúdos, a fimde disseminar os diferentes co-nhecimentos.• Implantar a Educação Ambien-tal de forma dinâmica, destacan-do o papel primordial do ser hu-mano na preservação dos seresvivos e, conseqüentemente, donosso planeta.

MetodologiaTodos os profissionais, assim

como toda a comunidade escolar,estão convidados a participar di-retamente em todas as etapas des-te projeto. A escolha das hortali-ças e todo o processo de planeja-mento e execução da horta devemser feitos com a participação di-reta dos alunos.

As diferentes turmas ou os di-ferentes níveis em classes multis-seriadas devem e podem ter umaescala de preparo, plantio e cui-dado dos canteiros. Isso garanteque elas se envolvam nos trabalhose, além de modificar hábitos ali-mentares, também estarão obten-do informações diversas e admi-nistrando com responsabilidadeum projeto da escola. Assim, a par-ticipação direta dos alunos pro-porciona motivação para o traba-lho e para o aprendizado.

Para facilitar o andamento dapreparação e construção da hortaescolar, as atividades específi-cas foram divididas em etapas.

Atividades específicas

1 LocalizaçãoSol e água são prioridades na

vida das plantas e, por isso, o lu-gar onde serão montados os can-teiros tem de receber, no mínimo,cinco horas diárias de luz solar eter por perto uma fonte de água

limpa. Em resumo, o local apro-priado para o cultivo das hortali-ças deve apresentar as seguintescaracterísticas:• terreno plano;• terra revolvida;• boa luminosidade (se possívelvoltada para o nascente);• disponibilidade de água para ir-rigação e boa drenagem;• localização longe de sanitáriose esgotos;• isolado, com pouco trânsito depessoas e animais.

2 Uso de materiaisAlguns materiais para o prepa-

ro, monitoramento e manejo docanteiro da horta serão necessá-rios, além de ferramentas agríco-las para auxiliar no preparo e noplantio das hortaliças. No Quadro1 estão relacionados os materiaise as ferramentas com suas respec-tivas quantidades.

3 Preparo dos canteirosAntes de iniciar a preparação

dos canteiros, deve-se limpar oterreno com auxílio de algumasferramentas, como enxada, anci-nho e carrinho-de-mão.

Com o auxílio de enxadas,enxadões e pás, revolve-se (revi-ra-se) a terra aproximadamente a20 cm de profundidade. Com osancinhos, desmancham-se os tor-rões, retiram-se pedras e outros

objetos, nivelando o terreno.Caso o solo necessite de cor-

reção de pH, podem ser utilizadoscal hidratada e adubos químicos.

A demarcação dos canteirosdeve ser feita com o auxílio dasestacas de madeira e cordas. Asmedidas dos canteiros serão de:1,20 m de largura, 5 m de compri-mento e cerca de 40 cm de altura.O espaçamento de um canteiro aoutro deve obedecer a distância de50 cm. Para segurar a terra nas la-terais da horta é possível usar tijo-los ou bambus ou garrafas pet.

4 AdubaçãoA adubação do terreno poderá

ser feita com produtos químicosindustrializados ou com resíduosvegetais e animais, tais como pa-lhas, galhos, restos de cultura, cas-cas e polpas de frutas, pó de café,folhas, esterco de boi ou de fran-go. Além disso, é necessário mis-turar terra preta e húmus à terrados canteiros, no momento emque a terra está sendo revolvida(revirada).

Restos de alimentos, folhas egalhos secos que iriam para o lixopodem se transformar em exce-lente adubo natural (orgânico)para vasos de flores, horta e jar-dim. Uma receita simples para sefazer adubo orgânico consiste emproduzí-lo numa composteira, doseguinte modo: (1) consiga uma

• Enxadas (2) • Enxadões (2)

• Pás (2) • Regadores (4)

• Ancinhos (2) • Sachos (2)

• Carrinho-de-mão (1) • Cal hidratada (30 kg)

• Terra preta (50 kg) • Húmus (20 kg)

• Estacas de madeira (± 30 de 0,5 m cada) para demarcar e cercar os canteiros

• Cordas (20 m) para demarcar e cercar os canteiros

• Sementes e/ou mudas (abóbora, beterraba, cenoura, espinafre, pepino, quiabo,salsa, alface, cebola, couve, pimentão, erva-cidreira, hortelã, menta, boldo, erva-doce, etc.)

QUADRO 1 MATERIAIS E FERRAMENTAS

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lata de 20 litros (ou mais) ou umcaixote, perfure a tampa e as late-rais e coloque num local arejado;(2) forre o fundo com uma cama-da de material vegetal (folhas se-cas, por exemplo) e sobre ela jo-gue uma fina camada de terra; (3)diariamente, deposite lixo orgâni-co – restos de alimentos (semossos ou espinhas de animais) –,cascas de legumes, ovos ou fru-tas bem picados, pó de café ouchá, ou vegetais verdes picados(como poda de grama, folhas ver-des ou secas, serragem, cinzasvegetais), sempre alternando ca-madas de matéria orgânica seca eúmida; (4) cada camada de mate-rial orgânico deve ser coberta comuma camada fina de terra, sendoque a última camada da compos-teira deve ser de terra e (5) man-tenha o recipiente coberto, paranão atrair moscas, e em local are-jado. Com o passar do tempo(aproximadamente três meses), omaterial ficará com um aspecto deterra preta e sem nenhum cheiro,pronto para o uso em vasos, jar-dim ou horta.

5 Escolha das hortaliçasAs principais hortaliças que po-

derão fazer parte da horta escolarsão as que constam no Quadro 2.

6 SemeaduraAs hortaliças são semeadas nos

canteiros e ficam ali até a épocada colheita.

A profundidade da linha de se-meadura deve ser de 2 cm para assementes menores e 2,5 cm paraas maiores. A precisão da semea-dura é muito importante, pois seas sementes ficarem muito fundasnão germinam e, se ficarem noraso, podem ser levadas pela água.

O espaçamento de uma cova aoutra varia de acordo com ahortaliça a ser plantada, devendoser respeitado o espaço físico queirá ocupar quando ela estiver de-senvolvida (crescida) e pronta paraa colheita.

7 Cuidados com a hortaA horta deve ser regada duas

vezes ao dia: uma rega na parte damanhã e outra no final do dia. Nun-ca deverá ser regada nos horáriosde sol muito forte e com incidên-cia direta sobre as plantas.

O solo do canteiro deve rece-ber água de maneira uniforme, atéque ela se infiltre abaixo das se-mentes ou raízes, sempre toman-do cuidado para não encharcar aterra, evitando o aparecimento defungos e o apodrecimento dasraízes das plantas. Na rega, deve-se utilizar o regador e nunca man-gueiras ou borrachas com jatos,para evitar que o solo seja lavado

e com isso os nutrientes sejamperdidos.

A horta deve ser mantidas, comcuidados: as ervas daninhas e ou-tras sujidades devem ser retiradascom a mão e, a cada colheita, deveser feita a reposição do adubo paragarantir a qualidade da terra e dashortaliças.

8 Controle de pragasPara evitar o aparecimento de

pragas, como os pulgões, e doen-ças, alguns cuidados devem sertomados. O ideal é não cultivaruma única hortaliça no canteiro,pois cada planta retira um tipo denutriente do solo e atrai diferen-

Abóbora ago. – jan. 150 – 180 dias

Acelga mar. – ago. 60 – 70 dias

Agrião todo o ano 60 – 70 dias

Alface fev. – ago. 60 – 80 dias

Beterraba todo o ano 75 – 90 dias

Boldo todo o ano 40 – 60 dias

Capim-cidreira todo o ano 40 – 60 dias

Cebola mar. – jun. 170 – 180 dias

Cenoura out. – jun. 80 – 90 dias

Chicória todo o ano 70 – 90 dias

Coentro todo o ano 35 – 40 dias

Couve todo o ano 80 – 90 dias

Erva-doce todo o ano 40 – 60 dias

Espinafre mar. – jul. 60 – 90 dias

Hortelã todo o ano 40 – 60 dias

Nabo todo o ano 60 – 90 dias

Pepino ago. – abr. 60 – 90 dias

Pimentão ago. – fev. 130 – 150 dias

Quiabo ago. – fev. 60 – 80 dias

Rabanete todo o ano 30 – 40 dias

Rúcula todo o ano 35 – 40 dias

Salsa todo o ano 40 – 50 dias

QUADRO 2 PRINCIPAIS HORTALIÇAS

HORTALIÇAS ÉPOCA DE PLANTIO COLHEITA

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tes tipos de praga.Nas bordas dos canteiros, con-

vém cultivar salsa, cebolinha ecoentro. Estas plantas funcionamcomo repelentes para algumas pra-gas. O cultivo de ervas medicinais,como capim-cidreira, hortelã,menta e boldo ao redor da horta,também é muito eficaz para espan-tar algumas pragas

Pode-se, também, fazer uso deprodutos naturais, como a Caldade Fumo, receita de preparo eutilização bastante simples(Quadro 3).

9 ColheitaÉ feita de duas maneiras: arran-

co e corte. Deve-se respeitar osdiferentes tipos de hortaliças esuas estruturas, tais como: alface,chicória, mostarda são colhidascom o pé inteiro. Beterraba, ce-noura e rabanete, basta arrancar.Salsa, cebolinha e rúcula devemser cortadas três dedos acima dosolo, podendo ser colhidas mui-tas vezes. No caso do espinafre,deve-se cortar apenas os ramosmaiores. Da couve, retiram-se asfolhas maiores com cuidado paranão danificar os brotos centrais.Tanto o espinafre quanto a couvepodem ser colhidos diversas ve-zes durante o ano.

Outras atividades

O trabalho prático de constru-ção da horta nos remete à refle-

xão sobre dois aspectos muitoimportantes que envolvem os alu-nos, o professor, a comunidade.São eles:– o social, fonte de desenvolvi-mento conceitual da criança, doseu aprendizado como produto datroca de experiências e da intera-ção com o professor, os colegase a comunidade escolar. O fazeruma horta é uma ferramenta quepromove as relações interindivi-duais e sua significação culturalque resulta em domínio do pró-prio pensamento;– o operacional, das ações, deoutras múltiplas atividades queconduzem ao alcance do objetivo,se considerarmos que o conheci-mento está intimamente ligado àação e à experiência do sujeitosobre o objeto.

Então: construir uma horta éuma forma de aprender a pensare, como fala Raths, pensar é umaforma de aprender.

Ao longo das tarefas realizadaspara que uma horta fique pronta eque todos possam saborear seusprodutos, são necessárias inúme-ras horas de reflexão, de explora-ção do pensamento, de estudo, derevisão de conceitos, de aprendi-zagem de diferentes conteúdos.Isso nos sugere a realização de umtrabalho multidisciplinar no qualé possível abordarmos todas asáreas do conhecimento (Matemá-tica, Ciências, Geografia, Histó-ria, Língua Portuguesa, Educação

Física, Artes, Saúde, Ética, etc.),simultâneo à execução da hortapropriamente dita, sob a forma deatividades ou de situações-proble-ma criadas em função das neces-sidades que forem surgindo.

Exemplificamos a seguir.

"LocalizaçãoObservar o lugar e o espaço

onde se situa a escola e dentro daescola.• Construir a noção de lugar e deespaço.• Observar a natureza para deter-minar pontos cardeais e estações,(se possível), reconhecer dia/noite, Sol, Lua, Terra, demais pla-netas, zonas climáticas, chuvas,temperaturas.• Localizar-se e localizar diferen-tes pontos no espaço.• Construir e usar, se possível, ins-trumentos de orientação espaciale de tempo, como bússola e reló-gio de sol.• Explorar formas simples deescalas.• Construir plantas (da escola, dacasa, do bairro, da própria horta,etc.).• Explorar a medição do tempo –dias, horas, minutos, segundos.

Ingredientes• 50 gramas de fumo de corda (rolo)picado;• 6 litros de água;• 1 colher de café de pimenta-do-rei-no em pó.

Modo de preparo• Ferver um litro de água com o fumopicado até a mistura ficar bem escura.• Deixar esfriar, coar e acrescentar apimenta-do-reino em pó.• Adicionar os restantes cinco litrosde água à mistura.

Aplicação• Pulverizar as folhas no final da tarde.• Repetir a operação até que os pul-gões ou outras pragas desapareçam.

Nota: As plantas não devem ser mo-lhadas (regadas) após cada aplica-ção, observando-se que o seu con-sumo só deve ser feito após dez diasda última pulverização.

Receita da Calda de FumoQUADRO 3

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• Explorar os movimentos de ro-tação e translação.• Descobrir o valor dos mapas e asua linguagem, legendas, etc.• Identificar os recursos naturaisda região.• Identificar a construção da hortacomo forma de transformação doespaço pelo homem e seu trabalho.• Comparar solos.• Estabelecer o valor da água paraa horta, para o homem e os animais.

"Uso de materiais• Explorar os materiais e as ferra-mentas que serão utilizados naconstrução da horta: do que sãofeitos, quem os faz, as indústriasenvolvidas, o valor da mão-de-obra, o emprego e o desemprego,etc.• Realizar operações matemáticaspara definir quantidades de terra,de adubo, de húmus, de sementes,de corda, de cal, etc.• Realizar pesquisa de preçospara a aquisição dos produtosnecessários.• Organizar textos, cartas, folderspara solicitar a participação e oauxílio da comunidade em relaçãoà horta.• Confeccionar cartazes para a pro-moção do trabalho de construçãoda horta.• Planejar e realizar entrevistascom a comunidade para identifi-

cação de fatos relacionados aocultivo de diferentes hortaliças ououtros, na região.• Testar o manuseio dos materiaise ferramentas

"Preparo dos canteiros• Calcular o perímetro e a área dahorta como um todo.• Realizar operações matemáticaspara estabelecer a quantidade decanteiros, o perímetro e a área decada um.• Marcar e preparar os canteiros.• Realizar expressões numéricasrelacionadas ao tipo e às quanti-dades de sementes a serem utili-zadas para o plantio e, se possí-vel, previsão de colheita.

"Adubação• Realizar pesquisa sobre a neces-sidade e o valor da adubação naterra.• Identificar os benefícios e osmalefícios de produtos químicosem plantações, especialmente,em hortas.• Estabelecer relações de seme-lhança e diferença entre lixo or-gânico e lixo seco (ou limpo),seus usos e aproveitamento.• Realizar campanha para coleta delixo orgânico para construir acomposteira.• Realizar campanha para coleta delixo limpo (sucata) para ser apro-

veitado na escola (construção debrinquedos e outros).• Construir brinquedos e jogospara as crianças de educação in-fantil ou 1a série.• Preparar adubos, conforme oexplicado no texto.• Explorar as unidades de medi-das (comprimento, capacidade,volume).• Aplicar o adubo, se necessário.

"Escolha das hortaliças• Estabelecer relações entre há-bitos, costumes e alimentação dosantigos habitantes da região comos atuais.• Buscar informações sobre o usode hortaliças entre os antigos e osatuais moradores da comunidade.• Pesquisar o modo de vida e osacontecimentos históricos queenvolvem a produção de alimen-tos na comunidade.• Identificar as principais hortali-ças utilizadas na comunidade, es-tabelecendo diferenças entre ver-duras, legumes, ervas usadas paratempero, chás, etc.• Comparar e estabelecer diferen-ças e semelhanças entre horta,pomar, lavoura, roça, etc.• Listar os nomes das hortaliçasmais utilizadas na região, na casade cada aluno, na escola.• Fazer um levantamento das pos-sibilidades culinárias oferecidaspelas diferentes hortaliças.• Selecionar as hortaliças que se-rão plantadas.• Pesquisar, no dicionário, o sig-nificado do termo vitamina eidentificar o valor vitamínico decada uma das hortaliças a seremplantadas nos canteiros.

"Semeadura e cuidados• Realizar operações matemáticaspara determinar o número de co-vas a serem feitas para a semea-dura, em cada canteiro.• Fazer a semeadura das hortali-ças selecionadas.• Observar e analisar os processosde germinação e crescimento dasdiferentes hortaliças plantadas.

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CLASSE MULTISSERIADA• Elaborar relatórios: da germina-ção, do crescimento ou do desen-volvimento da horta e das plantase, posteriormente, do uso dasmesmas na escola.• Estabelecer uma rotina para oscuidados necessários ao desenvol-vimento da horta da escola, emsala de aula, atribuindo tarefas acada aluno.• Dividir as responsabilidades doscuidados para com as hortas, emgeral.

"Controle de pragas• Pesquisar as diferentes pragasque assolam as hortas, na região ena escola.• Definir os malefícios ou doen-ças causadas por insetos, vermesou outras pragas ao homem, pelaingestão de hortaliças mal lavadasou mal cuidadas.• Identificar os estados da água –sólido, líquido, gasoso – e pro-cesso de ebulição na realização dareceita da Calda de Fumo.• Buscar informações sobre o usode agrotóxicos, da Calda de Fumoe de outros produtos que possamser utilizados na horta sem prejuí-zo ao consumo.• Descobrir os porquês da exis-tência de horário específico paraaplicação da Calda de Fumo nashortliças e da necessidade do con-sumo das folhas apenas 10 diasapós a aplicação (última).• Estabelecer as vantagens e desvan-tagens do cultivo de hortaliças demodo orgânico e com agrotóxicos.

"ColheitaObservar os procedimentos

adequados à colheita das diferen-tes hortaliças.• Definir um cardápio a ser utili-zado na escola, com o aproveita-mento dos produtos da horta.• Participar do preparo do cardá-pio escolhido.• Simular uma vendinha para comer-cializar os produtos da horta.• Estabelecer os mecanismos ne-cessários para a conservação dashortaliças colhidas.

• Calcular os gastos realizadospara o preparo, manutenção, cui-dados, desenvolvimento da hortae colheita dos produtos.

Ao professor compete fazer oaproveitamento dessas sugestõese de outras criadas por ele dentrodas suas possibilidades e das con-dições da escola, de modo que osalunos consigam desenvolver-se,resolvendo as situações e encon-trando soluções para os problemasque eventualmente surgirem.

Essa é a melhor forma de pro-mover a construção do conheci-mento e o aprender a aprender,pensando e tornando-se um cida-dão útil a si mesmo, ou outro, àcomunidade.

CronogramaA atividade iniciar-se-á tão

logo todo o material e as ferra-mentas, solicitados estiverem àdisposição, assim como definidaa escolha do local da horta. O tra-balho deverá ser realizado duran-te todo o ano letivo, com o auxí-lio e a participação de toda a co-munidade escolar.

RecursosSerão necessários os recursos

da própria instituição de ensino e/ou qualquer outro tipo de recursofinanceiro, tais como ajudas decusto, doações, auxílios de em-presas particulares, patrocínios,entre outros.

CulminânciaEste trabalho está estruturado

para atender alunos da EducaçãoInfantil e do Ensino Fundamen-tal. Todas as áreas do conheci-mento poderão e deverão traba-lhar integradas na horta escolar,a partir de um planejamento pré-vio. Os subtemas, como cultivode plantas usadas como remédio,criação de minhocas, controle depragas, adubação e outros serãodesenvolvidos pelas turmas deacordo com a série e poderão sertrocados a cada ano. As questões

socioambientais surgirão do pla-nejamento e das atividades nahorta, como, por exemplo: de-senvolvimento sustentável, ali-mentação e fome, lixo e seus pro-blemas, etc. Ao final, poderá sermontada uma Feira Ecológica,como um evento de culminância,onde, além da exposição dos tra-balhos sobre os temas surgidosao longo do ano, poderão sermostrados, comercializados, uti-lizados em diferentes receitas eexperimentados diversos produ-tos colhidos na horta escolar, taiscomo legumes, verduras, tempe-ros, plantas medicinais, plantasornamentais e outros, sendoabordadas também questões re-lacionadas a problemas ambien-tais e consumo, incentivando, as-sim, o hábito de utilização dehortaliças na alimentação.

AvaliaçãoAo final do ano letivo, toda a

comunidade escolar deverá reu-nir-se para avaliar os pontos e ospositivos e os negativos do que foiexecutado durante o ano, além depropor as principais modificaçõespara o ano seguinte, por meio deum questionário que será prepa-rado pelo professor.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO ITUANA DE PROTEÇÃOAMBIENTAL – AIPA. Dica Ecológica: ComoFazer um Ótimo Adubo Orgânico. Disponível em:<http:/ /aipa.org.br/urt-147-3-dica_compos-to.htm>. Acesso em: 08 ago. 2005.

CENTRO EDUCACIONAL SIGMA. ProjetoHorta. Disponível em: <http://www.sigma.g12.br/projetos_horta.asp>. Acesso em: 23 maio 2005.

HORTA Viva: Educação Ambiental. Horta Escolarnuma Perspectiva de Educação Ambiental. Dispo-nível em: <http://www.hortaviva.com.br>. Aces-so em: 23 maio 2005.

HORTAS Escolares, Ensinar É Plantar: o AmbienteHorta Escolar como Espaço de Aprendizagem noContexto do Ensino Fundamental. Florianópolis:Instituto Souza Cruz; UFSC; Secretaria de Educa-ção e Desporto. Santa Catarina. 2002.

IRALA, C. H.; FERNANDEZ, P. M.; RECINE, E.Manual para Escolas: a Escola PromovendoHábitos Alimentares Saudáveis, a Horta. Brasília:UNB, 2001.

MARANGON, Cristiane. Uma Horta Suspensa paraas Crianças. Nova Escola, São Paulo, n. 162, p.46-47, maio 2003.

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