homma, a. k. o. (1990). a dinâmica do extrativismo vegetal na amazônia uma interpretação...

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(õ) ISSN 0101-2835 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA O) Vinculada ao Mmistério da Aqricultura e Refon~a Aqrária - MARA ' Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Umido - CPATU Belém, PA A DINÂMICA DO EXTRATIVISMO VEGETAL NA AMAZÔNIA: UMA INTERPRETAÇÃO TEÓRICA 1990

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Estudo sobre o extrativismo vegetal na Amazônia

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  • () ISSN 0101-2835Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPAO) Vinculada ao Mmistrio da Aqricultura e Refon~a Aqrria - MARA 'Centro de Pesquisa Agropecuria do Trpico Umido - CPATUBelm, PA

    A DINMICA DO EXTRATIVISMOVEGETAL NA AMAZNIA:

    UMA INTERPRETAO TERICA

    1990

  • ISSN 0101-2835

    ~

    Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria - EMBRAPA~ Vinculada ao Ministrio da Agricultura e Refo~a Agrria - MARA~ Centro de Pesquisa Agropecuria do Trpico Umido - CPATU

    Belm, PA

    / O ~I !:!; o.)-I '

  • EMBRAPA-CPATU. Documentos, 53

    Exemplares desta publicao podem ser solicitados :EMBRAPA-CPATUTrav. Dr. Enas Pinheiro, slnTelefones: (091) 226-6622, 226-6612Telex: (091) 1210Caixa Postal, 4866240 Belm, PA

    Tiragem: 1.000 exemplares

    Comit de PublicaesJoaquim Ivanir Gomes (Presidente)Dilson Augusto Capucho FrazoEmesto Maus da Serra FreireFrancisco Jos Cmara FigueirdoLuiz Octvio Danin de Moura CarvalhoMilton Guilherme da Costa MotaPermnio Pascoal Costa Filho (Vice-Presidente)Walmir Salles Couto

    rea de PublicaesClio Francisco Marques de Melo - CoordenadorClia Maria Lopes Pereira - NonnalizaoRuth de Ftima Rendeiro Palheta - Reviso GramaticalFrancisco de Assis Sampaio de Freitas - Datilografia

    Homma, Alfredo Kingo OyamaA dinmica do extrativismo vegetal na Amaznia: umainterpretao te6rica. Belm: EMBRAPA-CPATU, 1990.38p. il. (EMBRAPA-CPATU. Documentos, 53).

    1. Extrativismo vegetal-Brasil-Amaznia. L EMBRAPA.Centro de Pesquisa Agropecuria do Tr6pico mido, Belm,PA. II. Ttulo. nr. Srie.

    CDD: 338.174909811

    EMBRAPA - 1990

  • SUMRIO

    Resumo

    Abstract

    Introduo .

    O extrativismo Vegetal como Ciclo Econmico .A Classificao da Atividade Extrativa e o Processo de Evoluo do

    Mercado .A Influncia da Domestcaco de Recursos Extrativos .A Permanncia do Sistema Extrativo como Ativos Fixos .A Descoberta de Substitutos Sintticos no Contexto do Extrativismo

    Vegetal .Uma Interpretao para o Processo de Extrao Madeireira na Ama-

    znia .A Natureza Te6rica do Esgotamento do Recurso Extrativo .A Expanso da Fronteira Agrcola e o Crescimento Populacional ..

    Concluses .

    Referncias Bibliogrficas .

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    6

    6

    8

    101321

    23

    25272833

    36

  • IA IIlDlSnCIA 00 EDU1'PIJ[SIIlOl w:GIP.TlAL D~: 1!IWi DW1IJl(p1mTlAO 1'ERIa1

    Alfredo Kingo Oyama Homma2

    IEs.IC: O objetivo desse estudo foi de interpretar a dinmi-ca do extrativismo vegetal na Amaznia. Apesar de se tratar derecursos naturais renovveis, o que permitiria sua extraoad i_fi.it.-, em tErmos potenciais, so evidenciadas na evo-luo de sua extrao trs fases distintas: expanso, estag-nao e declnio. Dentre as causas endgenas que levam ao de-saparecimento da atividade extrativa esto: (1) aquelas ine-rentes extrao do recurso em si, dado o desequilbrio nataxa de regenerao; (2) o processo de domesticao e (3) odesenvolvimento de substitutos industriais, dada a incapaci-dade do setor extrativo em atender demanda crescente. O es-tudo aponta tambm variveis exgenas ao processo extrativo:a expanso da fronteira agrcola e o crescimento populacio-nal que, por requererem maior demanda de terras, destrem abase extrativa, independentemente de sua rentabilidade. O me-lhor conhecimento das relaes econmicas que orientam o pro-cesso extrativo poder ser til na consecuo de medidas con-servacionistas e preservacionistas, com vistas a assegurareqidade para as futuras geraes.

    Termos para indexao: extrativismo vegetal, recursos natu-rais.

    1parte da tese de doutoramento do autor (Homma 1989), apresentada a Univer-sidade Federal de Viosa. Esta pesquisa contou com recursos da EMBRAPA edo CNPq.

    2Econ Agrc., D.Sc., Pesquisador daEMBRAPA-CPATU. CaixaPostal48, CEP66001. Belm, PA.

  • 'mE BJ)YI!VMI[CS OF :I!l:XIBACI':nJIl: EOOIIODIIY :or 1lHIIIJ:~ mmam: It. 1lHIIIJ:ORElITCIt.lL.JlJM[l!!JIWRltt'flt.l'Ulfi

    IAlllB$U/AU: lhe main objective of this study was to explain thedynamic of extractive economy in the Amazon region. Despitebeing a renewable natural resource, which allows for its ex-traction aal! :inniFinn:i1t:1WI111, three distinct phases are cleary ob-served: expansion, stagnation and decline of extraction. lhemain endogenous factors that are exhausting natural resourcesare: (1) those inherent to extraction i tself, considering thedisequilibrium in regeneration rate; (2) the domesticationprocess and (3) the development of industrial substitutes inview of the difficulty of the extractive sector to support theincrease of demand growth. lhe study also points out exogenousvariables that affect extractive economy such as expansion ofagricultural frontier and population increase. lhe agricul-tural frontier expansion and population growth demand moreland thus de s tr oyi nq the extractive base, independently of itsprofi tabili ty. lhe best knowledge of economic relations toorient the extraction process will be useful in carrying outconservationist and preservationist measures, in order to se-cure equity for future generations.

    lndex terms: Extractivism, natural resources.

    o extrativismo vegetal na regio Norte doBra-sil, segundo dados do Censo Demogrfico de 1980, apesarde sua tendncia decrescente, envolve mais de 100 mil pes-soas, representando 13,80%da populao economicamente ati-va do setor primrio. Dentre os principais produtos ex-trativos que foram ou so, ainda, de importncia para aeconomia regional, esto o cacau, a borracha (seringuei-ra), a castanha-do-brasil e a madeira. Outros produtos ex-trativos, como as gomas no-elsticas, fibras, sementesoleaginosas, tanantes, medicinais e txicos tm tambmdestaque na economia regional.

    Historicamente, a Amaznia brasileira teve asua presena garantida no cenrio nacional, graas aos

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  • recursos que podiam ser extrados de sua floresta. A se-ringueira, que tem origem na Amaznia, j participou co-mo segundo produto na pauta das exportaes brasileiras,por cerca de 30 anos (1887-1917) e, ainda hoje continuatendo expressividade econmico-social.

    A despe ito da grande importncia que o extra-tivismo vegetal desempenhou na formao econmico-socialda Amaznia e do Brasil, os enfoques e o tratamento dis-pensados a esse setor tm na literatura sido predominan-temente descritivos e pouco analticos. A teoria dos re-cursos naturais tem sido completamente ignorada na an-lise do extrativismo vegetal na Amaznia (Homma, 1980,1982a, 1982b, 1983a, 1983b, 1985, 1986, 1989, May 1986,1989, Mendes 1981).

    o propsito desse trabalho o de especularsobre o contexto terico do extrativismo vegetal na Ama-znia. Um rpida anlise da economia do setor primrio daregio amaznica caracteriza alguns pontos fundamentais.Na evoluo histrica, o extrativismo vegetal vem perden-do a sua participao relativa no setor primrio. Pode--se afirmar que at 1953, a economia da Amaznia era es-sencialmente extrativa, uma vez que mais da metade da ren-da do setor primrio provinha do extrativismo vegetal.

    Esforos governamentais vm sendo empreendi-dos pelo governo federal desde a dcada de 50 com vistas expanso dos plantios racionais de seringueira. O gua-ran hoje obtido integralmente dos plantios domestica-dos.

    Vrios produtos extrativos, como a borrachanatural (borracha sinttica), pau-rosa (linalol sintti-co), timb (DDT), entre outros, tm sofrido a concorrn-cia de substitutos sintticos. A extrao madeireira temapresentado elevadas taxas de crescimento a partir dad-cada de 70 na regio amaznica.

    A expanso da fronteira agrcola e o cresci-mento populacional tm sido associados s grandes taxasde desmatamento na regio. Para alguns produtos extrati-vos evidencia-se o esgotamento das reservas existentes.H um interesse por parte da pesquisa agropecuria na do-mesticao de vrios recursos extrativos. A partir de 1985reacendeu-se a importncia da implementao de reservas

    rrI

  • extrativistas como decorrncia de movimentos de serin-gueiros autnomos do Acre (Allegretti 1987, Seminrio ...(1988) .

    Esses fatos mostram que a evoluo do extra-tivismo vegetal, apesar de dizer respeito a recursos na-turais renovveis, est sujeito a causas complexas queensejam o surgimento de questes cujas respostas levariam compreenso do fenmeno extrativo. Como ocorre o ocasoda atividade extrativa? Qual a influncia da domestica-o e da descoberta de substitutos industriais no setorextrativo? Por que as atividades extrativas, independen-temente de sua rentabilidade, so substitudas por ou-tras atividades? Qual a influncia da expanso da fron-teira agrcola e do crescimento populacional sobre abasedos recursos naturais? Qual a razo dos fracassos daspo-lticas de domesticao? As reservas extrativistas podemser consideradas como modelo de desenvolvimento vivel pa-ra a Amaznia?

    No caso da Amaznia, essas causas explicammui tas das razes que levam expanso, estagnao e aodeclnio dos vrios produtos de origem extrativa. A com-preenso dos fenmenos subjacentes ao extrativismo vege-tal na Amaznia, tanto das causas endgenas extrao dosrecursos em si, como das exgenas ao processo, reveste--se de fundamental importncia para a conservao, pre-servao e utilizao racional dos recursos naturais naregio.

    A busca dessas respostas levou ao desenvol-vimento desta anlise. Procurou-se nesse trabalho, men-cionar os principais aspectos tericos que orientam o pro-cesso extrativo vegetal na Amaznia (Homma 1989).

    Quatro fases caracterizam a evoluo da ex-trao dos recursos vegetais na regio amaznica (Fig. 1) .Na primeira, observa-se franco crescimento da extrao,favorecida pela existncia de melhores reservas ou pelaposio monopo1stica que caracteriza o mercado dorecur-so. A extrao madeireira na Amaznia constitui exemplodessa situao.

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  • A fase estacionria representa um equilbrioentre a oferta e a demanda perto da capacidade mxima deextrao. Nessa fase, os extratores fazem todo o esforopara manter a produo atingida, mesmo a despe ito da ele-vao dos custos unitrios, para atender aos compromissosdo mercado criado. Os preos passam a elevar-se a partirdessa fase, dada a incapacidade do setor em aumentar aproduo para atender ao crescimento da demanda. A pol-tica de estmulo produo racional oumedidasprotecio-nistas para o setor extrativo podem ser adotadas. No ca-so da borracha, por exemplo, os preos para omercadoin-terno chegam a ser trs vezes mais altos que os domerca-do externo. Procura-se estimular os plantios racionais e,paradoxalmente, conseguir retardar o processo de extin-o do extrativismo (Homma 1983). A castanha-do-brasilparece estar comeando a atingir a fase estacionria.

    A fase de declnio, causada pela reduo dosrecursos e pelos aumentos nos custos de extrao, leva queda paulatina da sua extrao. O esgotamento provocadeclnio na quantidade e qualidade do recurso natural aser ofertado e reduz o volume de extrao para o mesmo es-foro anterior. O caso da extrao de pau-rosa exempli-fica uma situao dessa natureza.

    A fase de plantio domesticado comea a se es-boar durante a fase estacionria, desde que as disponi-bilidades tecnolgicas para a domesticao e a existn-cia de preos favorveis criem condies para o plantio.

    li. CllASS:n::JF:[CliO DA A1'][W][][J).ADEED'RA'I'PIA E OPROC:IlSSO DE EWWO 00 lImRCAOO

    A atividade extrativa caracteriza-se pela ofer-ta fixa determinada pela natureza. O incio da extraopode ser entendido como tendo uma oferta potencial (S) dedeterminado recurso natural como um bem livre (Fig. 2a).As curvas de oferta e demanda no tm interseo, uma vezque a extrao do recurso se destina essencialmente uti-lizao direta dos prprios extratores.

    Com o tempo, dado o crescimento do mercado,a melhoria dos processos de transporte e comercializaoe obras de infra-estrutura, essas tenderiam a entrar em

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  • equilbrio com o crescimento da demanda. A curva de deman-da vai-se deslocando gradati vamente para a direita atatingir a limitao do recurso para determinada rea es-pacial. A curva de oferta passa a assumir caractersticasde inelasticidade em relao quantidade, ficando na ver-tical (Fig. 2b).

    Essa evoluo do mercado depende tambm do tipode extrao. Os recursos extrativos na Amaznia esto su-jeitos a dois tipos de extrao: o de coleta e o de ani-quilamento.

    No caso de coleta, a integridade da planta--matriz geradora do recurso mantida intacta. Comoexem-pIo, podem ser mencionados o extrativismo da seringueirae da castanha-do-brasil. Desde que a taxa de recuperaocubra a taxa de degradao, essa forma de extrativismo as-seguraria uma extrao ad inffunitua (Fig. 2c).

    Outro tipo de extrao o de aniquilamento,em que h destruio da planta-matriz objeto de interes-se econmico (Fig. 2c). A extrao madeireira, a do pau--rosa e a do palmito constituem exemplos dessa categoria.Quando essa extrao supera a velocidade de recuperao,o caminho natural sua gradativa escassez at tornaran-ti-econmica essa atividade. Normalmente, quando atingeesse nvel, os estragos causados colocam em risco a sobre-vivncia da espcie, levando-a extino.

    Para algumas espcies, a extrao feita tan-to por aniquilamento para uma finalidade e de coleta paraoutra finalidade. Como exemplo desse caso tpico, tem-seo do aaizeiro, na qual so obtidos o palmito por'aniqui-lamento e o vinho pela coleta de seus frutos.

    Mesmo para o extrativismo de coleta.essesre-cursos no deixam de ser aniquilados, uma vez que essesno fazem parte de uma extrao racional, por depredao,aumente de uma produtividade imediata ou a sua substitui-o por outras atividades mais competitivas.

    Em ambas as situaes, predOmina o carter ri-cardiano da extrao: os melhores recursos so extrados,inicialmente, em determinada rea espacial e numhorizon-te de curto prazo. Essa perspectiva nem sempre se ver f >-ca, quando se considera o contexto dos recursos extrati-

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  • t\)

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    ...

    FIG. 2 - potencial de recurso extrativo, processo inicial e fasefinal do extrativismo por aniquilamento e coleta.

  • vos vegetais disponveis da floresta amaznica. As gran-des distncias e as dificuldades de escoamento para osmercados, as condies de salubridade e o desconhecimen-to do potencial fazem com que, muitas vezes, os estoquesde melhor qualidade no estejam sendo utilizados.

    A rigidez da oferta do setor extrativo e odeslocamento da curva de oferta para a esquerda pela re-duo das fontes de recursos levam por conseguinte, a ele-vao dos preos a cada nvel de equilbrio. Dado o fatode atingir o ponto em que a oferta passaria a ser inels-tica, onde os preos atingiram nveis elevados que seriamestimulados a domesticao do cultivo, o seu abandono, asua substituio por outras atividades ou a descoberta desubstitutos sintticos.

    A domesticao dos recursos extrati vos foiiniciada a partir do perodo pr-histrico neoltico, is-so , h cerca de dez mi 1 anos. A partir dessa poca, estima--se que das 300.000 espcies existentes na face daTerra,cerca de 3.000, encontradas primi tivamente na natureza fo-ram, progressivamente, selecionadas, adaptadas e cultiva-das. Dessas, apenas 100 espcies de plantas so cul tivadasem larga escala e apiam a produo rural e inmeras ativi-dades que as complementam (Acarrini 1987, Heiser 1973).Na regio amaznica e em outras reas tropicais, o pro-cesso de domesticao constitui fenmeno em curso. Esseaspecto torna oportuna a anlise do processo de domes ti-cao, uma vez que para a maioria das plantas cul tivadas,informaes relativas a esse processo foram perdidas notempo.

    O processo de domesticao no acontece de ma-neira uniforme para os produtos extrati vos. O sentido maisimportante da racionalizao consiste nas vantagens ad-vindas da reduo dos custos de produo e do aumento daprodutividade da terra e do trabalho. Com isso, alm dasvantagens prticas, possibilita quebrar a rigidez impos-ta pela inelasticidade da oferta do setor extrativo que,alm da limitao fixa do estoque, depende, quase que ex-clusi vamente, do deslocamento de mo-de-obra para o au-mento na extrao. Esse aspecto inviabiliza o atendimen-to ao crescimento de demanda numa perspectiva de longo

    13

  • prazo. Por outro lado, a domesticao leva produo deum bem idntico e com qualidade muitas vezes superior aodo produto extrativo. A quantidade extrada de determi-nada espcie vegetal domesticada poder ser obtida numarea florestal muito menor. Assim, a domesticao do re-curso extrativo da regio amaznica tem efeito positivona preservao e conservao dos recursos florestais daregio. O reverso poder tambm ocorrer. Com a domestica-o, os recursos extrativos passam a ser desvalorizados,permitindo a entrada de outras alternativas econmicasmais lucrativas e intensificando a destruio dos recur-sos naturais.

    A conseqncia visvel da domesticao asua capacidade de ampliar a oferta, contrastando com anatureza esttica ou declinante do extrati vismo. Isso fazcom que o nvel de preo do produto decresa, provocandotambm a reorganizao dos fatores de produo e ainvia-bilizao do extrativismo vegetal.

    A anlise do efeito da domesticao dos re-cursos extrati vos vegetais pode abordar seus efei tos dis-tributivos. Como essa mudana lenta, formam-se dois gru-pos distintos: um dedicado ao setor extrati vo e outro de-dicado a cultivar, racionalmente, o produto extrativo,conforme a tecnologia disponvel para a domesticao.

    A Fig. 3 mostra os dois grupos que ofertam omesmo produto. Essa ilustrao grfica consiste na adap-tao do modelo de Evenson (1983) para analisar os bene-fcios da difuso de tecnologia agropecuria entre duasregies.

    A curva SI a curva de oferta do produto ex-trativo perfeitamente inelstica, SI + S2 a.cur-va de ofer-ta conjunta do produto extrativo mais a produo domes-ticada, com predomnio da ltima, a curva DD a procura doproduto (Fig. 3).

    O preo inicial de equilbrio Po ao qual osextratores fornecem Ql e a produo domesticada a quan-tidade Q2.

    Mantida inalterada a tecnologia usada na do-mesticao, ou em uma situao de curto ou de mdio pra-zo, a tendncia da curva de oferta do extrativismo man-

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  • ter-se inelstica e se deslocar para a esquerda. O esgo-tamento e a depredao das reservas levam a uma partici-pao menor do extrativismo no mercado.

    Preo

    cPo ------Pl

    Q Ouantidade

    FIG. 3 - Modelo de equilbrio entre a oferta conjunta (ex-trativa e domesticada) e a demanda.

    Com o aperfeioamento tecnolgico dos produ-tores, maior quantidade ser ofertada. A curva de ofertaagregada desloca-se para Sl+ S'2, o preo cai para P1; aquantidade ofertada oriunda do extrativismo permaneceQ1'A Fig. 4 ilustra os preos reais recebidos pelos serin-galistas na Amaznia no perodo 1890/1985. Isso confirmao carter preditivo da teoria da domesticao. Os altospreos que prevaleciam at 1910 e a limitada oferta deborracha extrativa estimularam os plantios domesticadosno Sudeste asitico, mas por sua vez, foraram a queda

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  • 2100

    Cri /t

    1900

    1700

    ~ 900

    700

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    100II

    1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1985

    FIG. 4 - Evoluo do preo real de borracha natural recebido pelos seringalistas na Ama-znia (1890/1985).

  • nos preos. Dessa .forma, o excedente do produtor que ex-plora o extrativismo decrescer no montante equivalente rea PoCC'Pl e o excedente da produo domesticada ganha(AC'E'B' - ACEB) , que pode ser positiva ou negativa, de-pendendo das elasticidades da oferta e da procura.

    Dentre as posies extremas admitidas pelateoria, existem combinaes vrias que podem ser observa-das no ambiente amaznico. A modificao do modelo de Pai-va (1971, 1975) utilizada para interpretar os diversosgraus de domesticao atingidos para as diferentes esp-cies extrativas. A opo pelo plantio domesticado, segun-do essa concepo, est fundamentada na vantagem econ-mica.

    guisa de exemplo, descrevem-se trs situa-es, duas extremas, domesticao pura e extrati vismo pu-ro, e uma terceira, em que os dois tipos de explorao soencontrados simultaneamente.

    Os produtos usados como exemplo so: guara-n, borracha e madeira.

    Guaran - No caso do guaran, o grande de-senvolvimento da procura a despeito de sua instabilidadeensejou grande expanso do plantio racional na dcada de70. A produo atual supera em cinco vezes a da dcada de60, quando se praticava, exclusivamente, o extrativismo(Fig. 5). O guar-an j alcanou o "Status" de cul tura do-mesticada.

    O extrativismo vegetal com seus baixos ndi-ces de produtividade, por planta e por hectare, conside-rando a distribuio aleatria na floresta, exibe uma cur-va de oferta inelstica Se (Fig. 6). Os altos custos daprocura de material e produo fazem com que a curva deoferta situe-se em nveis altos e sem condies deinter-seo com a demanda do produto. Aos preos que equilibram"a oferta e procura no mercado, no h espao para o ex-trativismo.

    semelhana do guar-an , o cacau outro exem-plo de produto originrio da Amaznia, cuja produo ex-trativa foi integralmente substituda pela domesticada.

    17

  • I1400

    1300

    1200

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    1000-- Exlraliva

    ---- Racional900

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    III,

    I,~ I1I II I I\II III Ii, I

    /,--IIIIII

    1937 1940 1950 1960 1970 1980 1985

    FIG. 5 - Evoluo da produo extrati va e racional degua-ran no Brasil, 1973/1985.

    18

  • po

    FIG. 6 - Equilbrio no mercado de produto totalmente do-mesticado.

    Borracha - A extrao da seringueira repre-senta um caso de convivncia do extrativismo com a pro-duo domesticada. No Brasil, o produto do extrativismo(Se) maior e mais importante que o da cultura domesti-cada (Sd). de se esperar que esse quadro se reverta.Progressos tecnolgicos nos plantios domesticados, alia-dos depredao dos estoques de rvores que poderiam cons-tituir objeto de atividade extrativa, combinaro, even-tualmente, a expanso da oferta domesticada com a reduoda oferta extrativa (Fig. 7).

    Enquanto as duas opes coexistem, o preo dereferncia (Pr) da borracha definido pelo custo de ex-trao, dada as medidas protecionistas que aindaprevale-cem (Fig. 7).

    As razes para a coexistncia tecnolgica socomplexas. Resultam de processo histrico, polticas depreos e de importao, longo perodo para o incio daproduo, risco de pragas e doenas, bem como o capi talextrativo representado pelo estoque de seringueiras na-tivas.

    o extrativismo da seringueira, apesar de to-dos os esforos com vistas a promover o seu plantio embases racionais desde o incio do sculo, ainda contri-

    19

  • buiu em 1984 com 79,2% da produo de borracha natural doPas. A produo extrativa dever permanecer ainda por umlongo tempo.

    Pr~--~--~~--~~------~

    P

    o o b

    FIG. 7 - Participao do produto extrativo (dominante) edo produto de cultura domesticada naofertaglo-balo

    Madeira - A extrao madeireira na Amazniarepresenta um exemplo de extrativismo puro. Agrandedis-ponibilidade de estoque faz com que tenha uma curva decusto marginal SeSe muito elstica na fase inicial (Fig.8).

    A abundncia do estoque de recurso natural,ou a onerosa adoo do processo domesticado com a tecno-logia de domesticao ainda em fase embrionria ou no--disponvel, dificulta a produo domesticada. A curvaSdSd no facilmente identificvel (Fig. 8). Ela tende,por isso, a situar-se em nvel mais elevado, provavelmen-te acima do nvel de preo estabelecido no ponto em queapenas a curva de oferta extrativa cruza a da demanda. Ocaso do extrativismo da madeira exemplo tpico, emque,praticamente, toda a produo proveniente da extraodo estoque existente. O processo domesticado pode tercus-tos mais elevados para o atual estadio de tecnologia, co-mo pode ser at inferior, mas a sua adoo e difuso de-pendero sempre do recurso de capital extrativo existen-te.

  • PSd-----

    Pr

    o a Q

    FIG. 8 - Oferta dependente exclusivamente do extrativis-mo.

    As evidncias anteriores chamam a ateno pa-ra o fato de que existem outras causas econmicas, almda lucratividade, mesmo com a disponibilidade de tecnolo-gia de domesticao, na manuteno de extrativismo na for-ma integral ou parcial.

    Para melhor ilustrar esse problema, utilizou--se o comentrio de Schuh (1973) sobre o mecanismo deau-tocontrole de Paiva (1971), com base na teoria dos ativosfixos de Johnson, que foi elaborada para explicar porquealguns recursos so fixos e outros variveis na agricul-tura. A teoria de Johnson (Johnson & Hardin 1955) funda-menta-se na observao emprica de que muitos insumosagrcolas apresentam grande divergncia entre o preo aque podem ser adquiridos (seu preo de aquisio) e o pre-o a que podem ser vendidos (seu valor de sucata). Nes-sas circuntncias, o uso dos recursos podem ser fixado sobuma faixa bastante ampla de condies econmicas.

    A divergncia quanto ao valor do "ativo fixo"do estoque de re.cursos naturais faz com que se torne di-

    21

  • fcil, na Amaznia, a disseminao dos plantios domesti-cados de seringueira e da castanha-do-brasil (Fig. 9). Osestoques de seringais e castanhais nativos representamgrande capital natural para serem simplesmente abandona-dos, em comparao com a situao em que se fossem efe-tuados plantios, em bases racionais que levariam mais desete anos, no caso da seringueira, para gerar qualquerretorno ao investimento. Por outro lado, tem um valor desucata muito baixo, o equivalente ao valor de terras dematas, o que leva os que no so interessados na ativi-dade, como os pecuaristas, a conduzirem a sua derrubadapara implantao de pastagens. por essa razo que ado-mesticao est intimamente relacionada com a fixidez dosestoques de recursos naturais existentes.

    PreOrecurso

    oL----------------L------------------------Xl Recurso utrotivo

    FrG. 9 - Caracterizao dos recursos extrativos como "Ati-vo Fixo".

    Nessa circunstncia, supondo que um seringa-lista tenha um estoque de seringueiras nativasequivalen-te a OX1, o valor do produto marginal desse recurso em ex-trao dado pela curva VPMg. Supondo que partisse parao plantio domesticado para ter o equivalente a OXl em se-ringueiras, o valor do produto marginal do capitalneces-srio seria OK3, e, se fosse colocado venda, atingiria

    22

  • valor equivalente a OK1. Dessa forma, o seringalista notem incentivo para efetuar plantios racionais, enquantoovalor do capital extrativo estiver entre esses dois ex-tremos. Assim, o ativo no abandonado mesmo diante deuma conjuntura de mercado particularmente desfavorvel.

    IA ~IA DE SUBSH'I1lI1tOS sJLIIh'inoos IRIOOOIH/lt'IIIXItO> 00 EDBIATIVl:SIIIO VEGErM.

    A substituio de matrias-primas de origemvegetal por outras produzidas pela indstria qumica de-senvolveu-se de maneira acentuada. Ela vem se constitu-indo tambm em determinante da desintegrao do extrati-vismo desde a extrao do pau-brasil. A importncia eco-nmica dessa madeira para fins tintoriais iniciou-se trsanos aps a descoberta do Brasil, quando a Coroa Portu-guesa permitiu, a Ferno de Noronha, o arrendamento paraa extrao; essa extrao perdurou por mais de trsscu-los e meio e as reservas se estendiam na faixa litorneado Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte. Em meados do s-culo XIX, com a descoberta dos corantes sintticos, ve-rificou-se a substituio dos corantes vegetais e animaispor anilinas.

    No caso da reglao amaznica, a descoberta desubstitutos industriais exerceu influndia sobre varlOSprodutos extrativos. porm no principal produto extra-tivo, a borracha, que a produo do substituto industrialse processou com maior intensidade. A produo em grandeescala foi iniciada em conseqncia da 11 Guerra Mun-dial. Esse adicionou novo componente de presso econo-mia extrativa, que j tinha sofrido o impacto da domes-ticao no Sudeste asitico. Hoje, o consumo de borrachasinttica mais do que o dobro da natural. A descobertado DDT em 1939 reduziu a importncia do timb na Amaz-nia, cujo princpio txico, a rotenona, extradadasra-zes daquela planta, era utilizada como inseticida; a dolinalol fez surgir um substituto para o leo essencial depau-rosa. A dos chicles sintticos reduziu o volume e ovalor das gomas no-elsticas.

    O limite do estoque de recursos extrativos ea incapacidade de regenerao adequada impossibilitam o

    Z3

  • atendimento do crescimento do consumo. Com isso, a eleva-o do nvel de preos passa a estimular o desenvolvimen-to de substitutos sintticos e o processo dedomesticaode essncias extrativas. O primeiro caso, desenvolvimen-to de produtos sintticos, privilgio dos pases tecno-lgicamente mais avanados, teve efeito de quebrar o mo-noplio e o domnio geogrfico de certos recursos extra-tivos com desdobramentos: tanto no setor extrativo vege-tal em si, como no desenvolvimento dos plantios racio-nais. Acrescenta-se tambm a independncia quanto aos fa-tores climticos e de riscos de pragas e doenas na pro-duo de substitutos sintticos.

    Dasgupta e Stiglitz (1981) ofereceram impor-tante contribuio ao relacionar a depredao dos recur-sos naturais e incerteza quanto poca futura do apare-cimento de tecnologia que permite o desenvolvimento doproduto substituto. Uma explanao terica desse fenme-no pode ter implicaes teis para o entendimento decer-tos fatos histricos do extrativismo vegetal.

    A substituio do recurso extrativo pelo pro-duto sinttico pode decorrer de trs causas bsicas: au-mento do custo do recurso natural, considerando seu es-gotamento; reduo no custo de produo do substituto, de-corrente do aprimoramento tecnolgico, e a incapacidadedo setor extrativo em atender a crescente demanda dopro-duto considerado.

    A Fig. 10 ilustra uma situao de incertezaquanto a poca do aparecimento do substituto, com aumen-to no custo do recurso natural, considerando seu esgota-mento. A interpretao desse resultado direta; uma vezque o substituto est em uso, o estoque remanescenteper-der todo seu valor econmico. Dessa forma, para evitar aperda de capital decorrente da sobra de algum estoque, opreo precisa crescer a uma taxa que compense osproprie-trios dos recursos. Se o preo for muito baixo, os re-cursos sero levados exausto e haver probabilidade daeconomia ficar sem o recurso e nenhum substituto. Com ainveno, o preo cai vertiginosamente, fica menorquep,e os preos passam a obedecer a regra de Hotelling (Ho-telling 1931). A queda de preo tem a propriedade deque,quando o preo do recurso atinge p, todo o estoque do re-curso natural exaurido e o substi tuto produzido e ven-dido ao preo p.

    24

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    FIG. 10 - Movimento de preo em condio de incerteza,com a inveno do substituto ocorrendo em T1 ea inovao em T2.

    UIIIM IlRtlt1l:RPRII:AiO PARA O PmlCII:SSO DEEU'RAO IWlEIREIRA 10 AIIAZVL\

    A Fig. 11 mostra para o caso da madeira, queo estoque total pode ser apresentado pela oferta fixaSo, determinada pela natureza que representaria uma si-tuao de equilibrio de longo prazo (Homma 1980, 1982,1985). medida que os estoques forem se esgotando, a ten-dncia a representao da oferta deslocar-se paraaes-querda (Sl)' Alm da extrao em si, concorrem para essedeslocamento a expanso da fronteira agrcola e o cres-cimento populacional.

    A curto prazo, enquanto o estoque de recursonatural for relativamente abundante, a curva de oferta(01) ser elstica. A incorporao de novas reas de ex-trao, que, em geral, acompanha a expanso da fronteiraagrcola, promove o seu deslocamento para a direita (02),a despeito de seu esgotamento em termos de estoque total.

    25

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    FIG. :11 - Evolues hipotticas de mercado para recurso natural renovvel comgrande es-toque.

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  • Essa esquematizao permi te interpretar a ra-zo da queda dos preos dos recursos naturais, mesmo como crescimento da demanda.

    Conforme a magnitude da expanso do consumodo recurso natural em relao extrao, os preos deequilbrio podem apresentar tendncia crescente (Fig.l1a),decrescente (Fig. 11b) e constante (Fig. 11c). Natural-mente, nesses grficos, as curvas de oferta de curtopra-zo apresentam-se superdimensionadas em relao s do es-toque do recurso natural. Assume-se que a demanda apre-senta-se bastante ativa, dada a inexistncia de um subs-tituto prefeito.

    O carter de recurso natural renovvel asse-gura a permanncia da curva de oferta fixa, So' desde quea extrao se processe em nveis que possibilitem a auto--regenerao da espcie extrativa. Se a extrao ocorrerem condies cuja regenerao no seja possvel ou comodecorrncia da depredao e/ou da expanso da fronteiraagrcola, haver gradativa diminuio do recursoremanes-cente. Isso faz com que a curva de oferta fixa, So, des-loque-se para a esquerda, Sl, sucessivamente.

    A caracterstica durante essa fase de extra-o a abundncia do recurso natural para o perodo detempo considerado. Esse fato faz com que a oferta tenhacondies de se expandir para atender s necessidades deconsumo. A mdio e a longo prazo, o destino final ser aestabilizao e o declnio de extrao.

    Na opinio de Smi th (1968), a extrao de re-cursos naturais est sujeita a dois tipos de externa1i-dade: a do estoque e a da congesto. O primeiro caso ocor-re quando o custo de extrao influenciado, inversamen-te, pela massa do recurso natural. J naexternalidadedacongesto, o custo tende a crescer, medida em que omaior nmero de extratores converge para extrao de de-terminado estoque de recurso natural. Negri (1989) intro-duz o conceito de externalidade estratgica. Esse decor-re da competio entre os extratores para apropriar osrecursos naturais cujos direitos de propriedade so in-

    Z1

  • definidos e o acesso no exclusivo. A propriedade dorecurso assegurada pela rapidez na apropriao. Nesseartigo, pretende-se acrescentar a idia do esgotamentocomercial na extrao de recursos extrativos, como outramodalidade de externalidade. esgotamento comercial le-va a um desinteresse pela extrao medida que osrecur-sos vo se esgotando e antecede o esgotamento fsico de-fini tivo do recurso extrati vo. o que est ocorrendo como extrativismo do pau-rosa.

    Como no processo de esgotamento h reduo naquantidade ofertada, trs possibilidades so discutidas.Na primeira situao apresentada, os preos mostram ten-dncia crescente (Fig. 12a), supondo que a demanda tenhaexpanso positiva ou mesmo constante. Essa situao es-taria condizente com a valorizao do recurso, dada suaescassez, e sem a possibilidade de descoberta de substi-tutos sintticos ou sucedneos naturais. Empiricamente,parece evidenciar que, na extrao de recursos extrati-vos destinados a fins industriais, h necessidade mnimapara atender escala de beneficiamento. Isso faz com quecertas firmas, que empregavam esses recursos naturais,deixem de utiliz-Io, ocasionando redu~o do seu consu-mo (Fig. 12b e 12c). Esse efeito causa queda nos preosdos recursos naturais ou os mantm constantescontrarian-do o Princpio de Hotelling (Hotelling 1931).

    IA EXPMSo DIA nmmrn!:][RJA IAGllOOU J!!: Oam5iCJIlJIII!!JIW'O roPIlJl!...IACI:m.u.

    A partir da dcada de 50, o processo de po-voamento da Amaznia volta-se para acompanhar a expansoda fronteira agrcola, com a abertura das vias rodovi-rias de penetrao. Com isso intensifica-se a competiopor mais terra para a agricultura.

    Adotando como ponto de partida o ciclo que seinicia com a abertura de rodovias, intensificadaapartirda dcada de 70, vislumbra-se a Amaznia como a regio queproporciona oferta ilimitada de terra. Trata-se deanalo-gia para o caso da terra do modelo clssico de Lewis (1954),que supe oferta ilimitada de mo-de-obra.

    Essa metodologia foi utilizada por Kazmer

    2B

  • ~(o), ( b)p p(e)

    S2 IS1

    o (J O Q O QFIG. l2 - Evolues hipotticas de mercado para recurso natural renovvel na fase de-

    clnio de extrao.

  • (1977), para analisar a incorporao da fronteira sibe-riana, na ltima dcada do sculo passado, Russia. Aexpanso da fronteira agrcola na Amaznia foi impulsio-nada pela reduo do custo de uso da terra em relao aoutras reas do Pas, decorrente da abertura de rodoviasna regio.

    Com a abertura de rodovias, cria-se uma ofer-ta adicional de terras nas suas laterais e nas lateraisdas estradas vicinais. Estimando uma extenso de cincoquilmetros para cada lado da estrada recm-construda,chega-se concluso de que cada quilmetro aberto, acresceuma oferta potencial mnima de 1000 hectares. Na Fig. 13pode-se visulizar a situao do custo do uso da terra naAmaznia antes do incio da expanso da fronteira agr-cola (CUT-AE), compreendendo o perodo anterior dcadade 50. A curva CUT-DE representa o custo do uso da ter-ra aps o incio da expanso da fronteira agrcola, po-ca em que esse custo mais baixo, dados os acrscimos naoferta de terra posta disposio. Nessa faixa, as me-lhores terras so ocupadas inicialmente, medida em queessa rea vai sendo incorporada, o custo do uso da terrasobe drasticamente, dada a melhoria no sistema de comu-nicao e da migrao que pressiona novas reas. O custodo uso da terra nas reas extra-Amaznia (CUT-EA), com umarede rodoviria e outras infra-estruturas sociais j de-senvolvidas, apresenta um aumento do custo do uso da ter-ra mais suave.

    Como os agricultores tendem a mover-se em di-reo das terras com baixo custo do uso da terra, OA re-presenta a quantidade de terra utilizada na Amaznia an-tes da expanso da fronteira agrcola; AB, a terra cul-tivada no Brasil, exceo da Amaznia, e CDE, a redu-o no custo do uso da terra decorrente do seu cul tivonaAmaznia, supondo serem as culturas e criaes ecologi-camente possveis. Observa-se, contudo, uma tendncia especializao para determinadas atividades querepresen-tam maiores vantagens comparativas, como a pimenta-do--reino, ou de carter ge~al, como a pecuria e as cultu-ras de subsistncia. .

    Com a abertura de rodovias, o custo do uso daterra na Amaznia apresenta-se horizontal em sua maior ex-tenso, e ento; sobe br-usc amerrte, A,'porohorizontal re-

  • fere-se ao custo de uso da terra contgua estrada. Ocusto vai aumentando medida que se afasta dela. O usoda terra na Amaznia aumenta de OA para OH, enquanto o daregio extra-Amaznia decresce da AB para HB. Esse decl-nio, que decorre da natureza esttica da anlise, no sig-nifica que essas reas ficaram desativadas. H o aumentona demanda de terra pela expanso de outras cul turas e porproblemas de concentrao de propriedades nessas reas. Amigrao de mo-de-obra e capital deve ser suficientepa-ra a quantidade de terra AH (Fig. 13).

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    o A H B Terra em uso

    FIG. ~3 - Demanda de terra e custo do uso da terra ante-rior expanso da fronteira agrcola (CUT-AE),posterior expanso da fronteira agrcola (CUT--DE) e da rea extra-Amaznia (CUT-EA).

    A expanso da fronteira agrcola com a aber-tura de estradas vai incorporando quantidades crescentesde reas de matas virgens, reduzindo seu estoque origi-nal. Isso faz com que a curva de oferta So se desloque pa-ra SI pela transferncia de Qo - Ql para terra agricul-tvel (Fig. 14).

    No mercado de terra para atividade extrativaque eX1Ja a manuteno da floresta primitiva, como oca-so do extrativismo de coleta (castanha-do-brasil, serin-gueira etc), h demanda de terra DoDo que, inicialmente,

    31

  • estava em equilbrio ao preo Po. A incorporao de Qo - Qlao processo de expanso da fronteira agrcola, aumenta ocusto de oportunidade da terra, elevando-se seu preo pa-ra Pl. Esse aspecto tende a inviabilizar a atividade ex-trativa, tanto pelo aumento no custo de oportunidade daterra como pela reduo do estoque disponvel do recursoextrativo. A conseqncia imediata a reduo contnuado contingente de extratores, deslocando a curva de de-manda de terra DoDo para a esquerda.

    PreoTerra

    Po

    Do

    Do

    o Qo TArea moto virgem

    FIG. 14 - Efeito no preo de terra de mata virgem pelaincorporao de terras no processo de expansoda fronteira agrcola.

    No caso do extrativismo de aniquilamento (ma~deira), alm de depender do estoque de mata remanescen-te, a extrao acompanha a prpria oferta de terra agri-cultvel, pelo menos num contexto de curto prazo. Amdioprazo, vai depender do estoque de mata remanescente.

    32

  • A interpretao da dinmica do extrativismovegetal na Amaznia mostra que mesmo um recurso naturalrenovvel est sujeito a duas causas bsicas de instabi-lidade: uma pertinente extrao do recurso em si e ou-tra referente ao exgena extrao.

    No primeiro caso, quando motivada pela extra-o do recurso, a perda da estabilidade decorre da inca-pacidade de regenerao da espcie por causa da veloci-dade de extrao para atender ao intenso crescimento dademanda. Na segunda categoria, enquadram-se as causas quetomaram maior sentido nos ltimos tempos como a domesti-cao, o aparecimento de substitutos industrializados, aexpanso da fronteira agrcola e o crescimentopopulacio-nal. Naturalmente, essas causas no aparecem isoladamen-te e apresentam interdependncia entre si.

    Reala-se que a importncia principal da do-mesticao reside no aumento da produtividade da terra eda mo-de-obra, permitindo manipular a oferta de longoprazo, obtendo magnitude de produo inatingvel com oextrativismo, a custos mais reduzidos. Em pocas remotas,provavelmente, razes de economia de tempo e a facilida-de para obter o produto levaram ao processo de domesti-cao.

    A domesticao de essncias tem sido uma se-quencia natural da fase extrativa. A descoberta deppodu-tos sintticos segue-se ao cultivo domesticado. Diantedas atuais caractersticas do mercado de mo-de-obra, doprogresso tecnolgico nas cincias agronmicas e da tec-nologia de produtos sintticos, a domesticao de essn-cias extrativas potenciais e a descoberta de substitutosprescindiro dessas fases intermedirias.

    Em termos de excedente, os produtos que con-seguem maior benefcio para o produtor tm maiores chan-ces de ver sua inovao tecnolgica aceita. Essas opor-tunidades aumentam se a demanda for perfeitamente els-tica. O fato de a caracterstica da maioria dos produtosextrativos de apresentar demanda preo-inelstica podeestar condicionando a lenta domesticao dessas essn-cias.

  • Para algumas situaes, o produto sintticopode levar substituio integral do produto extrativoou domesticado. Na prtica, no acontece como prescreve ateoria que, com o aparecimento do substituto, o estoqueremanescente do recurso natural ou do plantio domestica-do passa a ter seu valor desprezado. O produto natural(extrativo ou domesticado), dado seu grau de substitui-o, torna-se necessrio para a prpria expanso do pro-duto sinttico e adquire valor prprio, devido as suas ca-ractersticas especficas. Esse aspecto tem levado va-lorizao de certos produtos naturais, cujos substitutossintticos tenham apresentado aspectos negativos para asade humana e para o meio ambiente.

    Quando o custo de produo do substi tuto passaa elevar-se ouo preo do produto natural decresce, podeocorrer o processo de reverso de substituio. Nos doiscasos, pode ocorrer o consumo do recurso natural originalcom preos equivalentes aos do substituto sinttico. Es-se aspecto no focalizado na teoria de substituio derecursos naturais. Essa reverso tende a ocorrer dosubs-tituto industrial para o plantio domesticado e/ou para orecurso extrativo, desde que haja grande disponibilidadede estoque.

    A extrao econmica do recurso natural noleva destruio total do recurso em si, pois anecessi-dade da lucratividade limitar a extrao s quantidadesviveis em que os preos sejam superiores aos custos deextrao. margem esses preos e custos tendem a se gua-lar. Essas constataes no devero ensejar a ocupaoindiscriminada da regio amaznica. Alteradas as suposi-es bsicas da anlise, as foras econmicas nodelimi-taro o alcance dessa expanso. Encerrado o ciclo econ-mico de extrao do recurso natural, os danos causados aoprocesso de regenerao e de mudana do ambiente seroexacerbados pela presso do aumento populacional, pelaexpanso da fronteira agrcola, por outras alternativaseconmicas e pelo surgimento de obras de infra-estruturaque levam substituio integral dos recursos restantese extrao para fins de sobrevivncia. Essas mudanasprovocam o processo de depredao da base dos recursos na-turais.

    A demanda de terra agricultvel, consideran-

    34

  • do-se a expanso da fronteira agrcola e o crescimentopopulacional, torna-se a causa mais importante da dimi-nuio das reservas florestais existentes. A medida queaoferta de terras agricultveis aumenta, reduz-se a ofer-ta de terras para a atividade extrativa. Com isso, opre-o de terras para atividade extrativa torna-se mais altoe verifica-se a reduo dessa atividade. No caso do ex-trativismo de aniquilamento, como o da madeira, essa ex-trao avana com a prpria oferta de terraagricultvel,ao contrrio do extrativismo de coleta, que depende doestoque remanescente de floresta primitiva. Essa substi-tuio da cobertura florestal para a expanso da frontei-ra agrcola independente da rentabilidade da atividadeextrativa.

    A transferncia de mo-de-obra do setor ex-trativo para a agricultura deveria significar maior con-servao e preservao dos recursos florestais, por re-duzir a intensidade de extrao. O que se observa, noen-tanto, o paradoxo de acelerar o processo de destruiodesses recursos.

    O desengajamento dos extratores aumenta a ex-panso agrcola, promovendo a derrubada de matas para suaatividade de subsistncia. A manuteno dos extratores,atravs de tcnicas que permitam a extrao auto-susten-tada e resguardada da presso de expanso da fronteiraagrcola e do crescimento populacional, poderia minimi-zar o impacto da destruio dos recursos florestais.

    Enquanto a mo-de-obra considerada como in-sumo bsico para impulsionar a economia extrati va, Q cres-cimento populacional, atravs do aumento da densidade de-mogrfica, passa a agir negativamente. As caractersticascom que so conduzidas a agricultura e a pecuria regio-nais foram o avano da fronteira agrcola com extremavelocidade na ocupao de novas reas de mata virgem.

    O crescimento populacional, fator de desapa-recimento da atividade extrativa, fora a competio pormais terra agricultvel para a produo de alimentos epara o processo de urbanizao. Demandam-se cada vez maio-res extenses de recurso terra.

    Essa anlise terica mostra a fragilidade daeconomia extrativa que, mesmo dependente de recurso na-

    35

  • tural renovvel, apresenta fases distintas de evoluo. Nocaso da regio amaznica, alm da no-observncia aos re-quisitos mnimos para promover a regenerao adequada dosestoques de recursos extrativos, a expanso da fronteiraagrcola e o crescimento populacional so causas princi-pais da destruio dos estoques de recursos naturais. Es-ses aspectos tericos devem ser levados em conta quandose intenta colocar o extrativismo vegetal como modelo vi-vel de desenvolvimento agrcola, de preservao e decon-servao dos recursos naturais da regio amaznica.

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