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TATIANA TELLES E KOELER DE MATOS HOMICÍDIOS: RETRATOS DO CRIME Trabalho Final do Mestrado Profissional, apresentado à Universidade do Vale do Sapucaí, para obtenção do Título de Mestre em Ciências Aplicadas à Saúde. POUSO ALEGRE MG 2017

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TATIANA TELLES E KOELER DE MATOS

HOMICÍDIOS: RETRATOS DO CRIME

Trabalho Final do Mestrado Profissional,

apresentado à Universidade do Vale do

Sapucaí, para obtenção do Título de Mestre

em Ciências Aplicadas à Saúde.

POUSO ALEGRE – MG

2017

TATIANA TELLES E KOELER DE MATOS

HOMICÍDIOS: RETRATOS DO CRIME

Trabalho Final do Mestrado Profissional,

apresentado à Universidade do Vale do

Sapucaí, para obtenção do Título de Mestre

em Ciências Aplicadas à Saúde.

ORIENTADORA: Prof.ª Dra. Maria José Azevedo de Brito Rocha

COORIENTADORES: Prof. Dra. Daniela Francescato Veiga

Prof. Dr. José Dias da Silva Neto

POUSO ALEGRE – MG

2017

Matos, Tatiana Telles e Koeler de

Homicídios: Retratos do crime / Tatiana Telles e Koeler de Matos. – Pouso

Alegre: UNIVAS, 2017.

xiii, 61f. : il

Trabalho Final do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde,

Universidade do Vale do Sapucaí, 2017.

Título em inglês: Homicide: portraits of crime

Orientadora: Profª. Drª. Maria José Azevedo de Brito Rocha

Coorientadores: Profª. Drª. Daniela Francescato Veiga/ Prof. Dr. José Dias da

Silva Neto

1. Ferimentos e lesões. 2. Homicídio. 3. Crime. 4. Violência. 5. Projeto de lei.

I. Título

iii

UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍ

MESTRADO PROFISSIONAL EM

CIÊNCIAS APLICADAS À SAÚDE

COORDENADOR: Prof. Dr. Taylor Brandão Schnaider

Linha de Atuação Científico-Tecnológica: Gestão e qualidade em lesões teciduais.

iv

Aos meus pais,

JULIO FREDERICO KOELER e CLARISSE TELLES FROTA,

que me ensinaram as mais importantes lições, dadas sem a necessidade de nenhuma palavra.

Ao meu esposo,

AIRTON FERREIRA DE MATOS,

o exemplo vivo da mais pura expressão do amor, com seu apoio incondicional,

inquestionável e imensurável de sempre.

Aos meus filhos,

RAYANNE KOELER e DANIEL TELLES E KOELER DE MATOS,

que compreenderam minha ausência nos mais variados momentos,

e por me impulsionarem na busca constante por me tornar uma pessoa melhor.

Ao meu avô,

PROFESSOR WALTER TELLES (IN MEMORIAM),

apaixonado pela medicina e pela docência, sendo minha maior inspiração,

e me guiando profissionalmente.

v

AGRADECIMENTOS

À PROFA. DRA. MARIA JOSÉ AZEVEDO DE BRITO ROCHA, Professora

Orientadora do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde da Universidade do

Vale do Sapucaí (UNIVÁS), que com sua preciosa orientação, me norteou de forma

carinhosa, compreensiva e dedicada. Seus ensinamentos e ponderações certamente me

estimularam a jamais desistir frente a qualquer dificuldade. Sua forma de ensinar é um

exemplo. Jamais terei palavras suficientes para agradecer a amizade, disponibilidade e

dedicação.

Ao PROF. DR. TAYLOR BRANDÃO SCHNAIDER, Coordenador do Mestrado

Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde da UNIVÁS, pela exemplar dedicação ao

trabalho e à ciência.

À PROFA. DRA. DANIELA FRANCESCATO VEIGA, coorientadora deste

trabalho, Coordenadora Adjunta e Professora Orientadora do Mestrado Profissional em

Ciências Aplicadas à Saúde da UNIVÁS, por todas as orientações e ensinamentos.

Ao meu coorientador, PROF. DR. JOSÉ DIAS DA SILVA, Professor Orientador

do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde da UNIVÁS, pela confiança e

disponibilidade.

À PROFA. DRA. ADRIANA RODRIGUES DOS ANJOS MENDONÇA,

PROFA. DRA. DIBA MARIA SEBBA TOSTA DE SOUZA e PROF. DR. MANOEL

ARAÚJO TEIXEIRA, Professores do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde,

pela participação e contribuições na banca de qualificação.

A todos os professores do Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde,

pelos conhecimentos transmitidos e pelo exemplo a ser seguido.

Ao GUILHERME OLIVEIRA SANTOS, secretário dos cursos Stricto Sensu, pelo

apoio, incentivo e por não me deixar desistir quando titubeei frente às dificuldades físicas. As

palavras de apoio vêm nas mais diferentes formas.

vi

Ao amigo WATERSON ROCHA GOMES BRANDÃO, Médico Legista Especial

da Policia Civil do Estado de Minas Gerais, pela amizade fiel, disponibilidade e orientação

constante.

Aos auxiliares de necropsia SEBASTIÃO LUMUMBA MELO e VANDERLEI

RODRIGUES, pela dedicação incondicional ao mundo da medicina legal, verdadeiros

exemplos de profissionalismo e dedicação à profissão.

À MIREIA DE FATIMA PIRES DOS SANTOS, colaboradora do Posto Médico

Legal de Pouso Alegre, por toda a sorridente dedicação à equipe.

Ao Vereador GIACOMO HENRIQUE COSTANTI, nobre edil do município de

Santa Rita do Sapucaí, que guiado pelo verdadeiro espírito do homem público, transformou a

teoria em uma realidade melhor para a população.

A DEUS, pela oportunidade de constante evolução.

vii

“O erro é irmão gêmeo da experiência.

Somente dois tipos de pessoas nunca erram:

os natimortos e aqueles que jamais ousaram galgar nada na vida”

(Professor Walter Telles 1912-2002)

viii

SUMÁRIO

1 CONTEXTO ............................................................................................................................ 1

2 OBJETIVO .............................................................................................................................. 5

3 MÉTODOS .............................................................................................................................. 6

3.1 Delineamento do estudo ....................................................................................................... 6

3.2 Considerações éticas ............................................................................................................. 6

3.3 Critérios de elegibilidade ...................................................................................................... 6

3.3.1 Critérios de inclusão .......................................................................................................... 6

3.3.2 Critérios de não inclusão ................................................................................................... 6

3.3.3 Critérios de exclusão ......................................................................................................... 6

3.4 Amostra ................................................................................................................................ 7

3.5 Procedimentos ...................................................................................................................... 7

3.6 Análise Estatística ................................................................................................................ 9

4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 11

5 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 37

5.1 Aplicabilidade ..................................................................................................................... 48

5.2. Impacto Social ................................................................................................................... 49

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 51

7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 52

NORMAS ADOTADAS .......................................................................................................... 56

APÊNDICE I – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ............................................... 57

APÊNDICE II – AUTORIZAÇÃO DA SUPERINTENDÊNCIA TÉCNICO CIENTÍFICA

PARA ACESSO AOS DADOS DO POSTO MÉDICO LEGAL DE POUSO ALEGRE ........... 59

APÊNDICE III – QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO ............................................. 60

APÊNDICE IV – TABELA 10 ................................................................................................ 61

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Taxas de homicídios (por 100 mil habitantes) e distribuição dos homicídios

por municípios .......................................................................................................................... 61

Tabela 2 - Prevalência das lesões teciduais provocadas por instrumento ou meio ................. 13

Tabela 3 - Distribuição das motivações, locais atingidos e causa da morte dos homicídios ... 14

Tabela 4 - Distribuição das realizações de exames de teor alcoólico, toxicológico e apuração

da autoria do crime ................................................................................................................... 15

Tabela 5 - Distribuição dos homicídios por local do óbito, zona e existências de iluminação

pública, água encanada, áreas de lazer, escolas e bares no local do crime ............................... 16

Tabela 6 - Distribuição dos instrumentos e motivação por local atingido pela lesão tecidual 17

Tabela 7 - Distribuição dos instrumentos, ou meio, por motivação ........................................ 18

Tabela 8 - Distribuição do instrumento ou meio utilizado por características. ....................... 19

Tabela 9 - Distribuição das motivações dos crimes por características................................... 22

Tabela 10 - Distribuição dos locais atingidos pelas lesões teciduais por características......... 23

x

LISTA DE FIGURAS E QUADRO

Figura 1 - Taxas de homicídios (por 100 mil habitantes) por municípios .............................. 11

Figura 2 - Distribuição dos homicídios por municípios .......................................................... 12

Figura 3 - Distribuição dos homicídios por mês do ano. ......................................................... 13

Figura 4 - Mapa perceptual para instrumento ou meio, local do corpo atingido e motivação –

dimensões 1 e 2 ........................................................................................................................ 24

Figura 5 - Mapa perceptual para instrumento ou meio, local do corpo atingido e motivação –

dimensões 2 e 3 ........................................................................................................................ 25

Figura 6 - Mapa perceptual para instrumento ou meio, local do corpo atingido e motivação –

dimensões 1 e 3 ........................................................................................................................ 26

Figura 7 - Mapa perceptual para método empregado .............................................................. 27

Figura 8 - Mapa perceptual para método empregado no crime e sexo .................................... 28

Figura 9 - Mapa perceptual para método empregado no crime e faixa etária ......................... 29

Figura 10 - Mapa perceptual para método empregado no crime e cor. ................................... 30

Figura 11 - Mapa perceptual para método empregado no crime e zona. ................................ 31

Figura 12 - Mapa perceptual para método empregado no crime e infraestrutura do local. ..... 32

Quadro 1 - Classificação do instrumento, ou meio e lesão tecidual ........................................ 8

xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

DEPPC Departamento de Polícia Civil

DRPC Delegacia Regional de Polícia Civil

MPCA Mestrado Profissional em Ciências Aplicadas à Saúde

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PCMG Polícia Civil do Estado de Minas Gerais

REDS Registro e Evento de Defesa Social

SIM Sistema de Informação sobre Mortalidade

UNIVÁS Universidade do Vale do Sapucaí

xii

RESUMO

Contexto: A identificação das características dos locais e grupos populacionais com maior

risco de homicídios e da relação das lesões letais com a motivação do crime pode auxiliar na

avaliação de contextos mais vulneráveis e na definição de políticas públicas para o

enfrentamento deste grave problema social. Objetivo: Tecer um retrato do crime de

homicídio, identificando as correlações entre fatores socioculturais e os crimes. Métodos:

Realizou-se levantamento de crimes de homicídio nos arquivos do Posto Médico Legal de

Pouso Alegre (MG): área de abrangência da 1ª Delegacia Regional de Policia Civil do 17º

Departamento de Policia Civil, em 2015, em vítimas de ambos os sexos e todas as idades.

Foram avaliados dados sociodemográficos e características das lesões teciduais que levaram à

morte, o instrumento causador da lesão fatal, a relação entre método e contexto sociocultural e

motivação do crime e o local geográfico de ocorrência. Foram traçados os lugares de maior

incidência do crime e realizada uma visita técnica aos locais, para preenchimento de ficha de

avaliação, considerando as condições de moradias (zona rural ou urbana, presença de água

tratada), de serviços públicos (presença de iluminação pública, escolas e áreas de lazer no

bairro) e presença de bares no perímetro. Resultados: Encontrou-se associação entre

instrumentos contundentes, perfuro-contundentes, lesões na cabeça e crimes motivados por

uso de álcool e drogas (p<0,001). Observou-se ainda associação entre uso de álcool e

presença de iluminação no local do crime (p<0,011) e entre drogas e presença de bares

(p<0,025). Crimes passionais associaram-se ao sexo feminino e uso de álcool e drogas ao

masculino (p<0,001). A maioria dos homicídios ocorreu em indivíduos com idade inferior a

45 anos. Conclusão: A falta de serviços públicos como áreas de lazer, escolas e iluminação

associou-se a crimes por motivação passional. A motivação do crime relacionou-se ao uso de

drogas em Pouso Alegre e à presença de bares em Santa Rita do Sapucaí.

Palavras chave: Ferimentos e lesões, Homicídio, Crime, Violência, Projeto de lei.

xiii

ABSTRACT

Context: Identifying the characteristics of places and population groups with the highest risks

of homicides and the relationship between lethal injuries and the motivation of crime can help

in the evaluation of more vulnerable contexts and in the creation of public policies to deal

with this serious social problem. Objective: Take a picture of the homicide crime, identifying

the correlations between sociocultural factors and crimes. Methods: A survey on homicide

crimes was carried out in the 2015 archives of the Legal Medical Office of Pouso Alegre,

Minas Gerais State, Brazil, covered by the 1st Regional Police Station of the 17th Civil Police

Department. It included individuals of both genders and ages. Sociodemographic data were

evaluated in conjunction with the color of skin, injuries that led to death, the instrument that

caused the fatal lesion, the relationship between the method and the sociocultural context and

the motivation of the crime, and the geographical location of occurrence. The sites of highest

incidence of crime was detected, followed by a technical visit to the sites in order to identify

the housing conditions (rural or urban area, presence of treated or non-treated water), public

services (presence of light in public spaces, Schools and leisure areas in the neighborhood)

and presence of bars in the perimeter. Results: There was an association between blunt

instruments, gunshot wounds, head injuries, and crimes motivated by alcohol and drug use. It

was also observed an association between alcohol use and presence of light in public spaces at

the crime scene, and between drugs and the presence of bars. Passionate crimes are associated

with females, while the use of alcohol and drugs are associated with males. Most homicides

victims were under the age of 45. Conclusion: The lack of public services such as recreation

areas, schools, and public light has been associated with crimes motivated by passion. The

motivation of the crimes was related to drug use in the city of Pouso Alegre, and presence of

bars in the city of Santa Rita do Sapucaí.

Keywords: Wounds and injuries, Homicide, Crime, Violence, Draft bill

1

1 CONTEXTO

A Medicina Legal aplica o conhecimento dos diversos ramos da Medicina às

solicitações do Direito. Mas pode-se dizer que é ciência e arte ao mesmo tempo. É ciência

porque sistematiza suas técnicas e seus métodos para um objetivo determinado, e é arte

também porque, mesmo aplicando técnicas e métodos muito exatos e sofisticados em busca

de uma verdade reclamada, necessita de qualidades instintivas bastante necessárias para

demonstrar de forma significativa a sequência lógica do resultado da lesão violenta. Uma arte

estritamente objetiva e racional, capaz de colocar o analista dos fatos diante de uma

concepção precisa e coerente. O fazer da Medicina Legal é técnico e científico a exigir

recursos e práticas, mas a montagem da diagnose é puramente arte. Como ciência

experimental ela é um saber dedutivo, e não indutivo: tem uma conclusão empírica, nunca

completa, e suas conclusões são sempre prováveis. Mesmo assim, o provável nunca é uma

abstração, mas aquilo que se situa entre o possível e o real: a chamada "probabilidade

objetiva". A Medicina Legal é bem mais uma ordem do pensar do que do ser (FRANÇA,

2015).

A violência, em sua origem e manifestações, é um fenômeno sócio-histórico que

acompanha toda a experiência da humanidade (MINAYO, 2005). Portanto, a violência não é,

em si, uma questão de saúde pública. Transforma-se em problema para a área, porém, porque

afeta a saúde individual e coletiva e exige, para sua prevenção e tratamento, formulação de

políticas específicas e organização de práticas e de serviços peculiares ao setor.

As maiores justificativas para o estudo científico da violência urbana estão

estampadas nas manchetes de jornais e da mídia de uma maneira geral. O significado da

violência na vida urbana está presente no expressivo número de agentes de segurança

privados, que já ultrapassa o contingente policial, ou por trás da crescente indústria de

blindagem de automóveis, ou ainda, na maneira reticente e esquiva com a qual se convive no

espaço público e se fortificam as próprias residências (DINIZ e BATELLA, 2006).

Para Lombroso (1886) a etiologia do crime é eminentemente individual e deve ser

buscada no estudo do delinquente. É dentro da própria natureza humana que se pode descobrir

a causa dos delitos. Assim, parte da ideia da completa desigualdade fundamental dos homens

honestos e criminosos. Preocupado em encontrar no organismo humano traços diferenciais

que separassem e singularizassem o criminoso, extrai da autópsia de delinquentes uma

“grande série de anomalias atávicas, sobretudo uma enorme fosseta occipital média e uma

hipertrofia do lóbulo cerebeloso mediano (vermis) análoga a que se encontra nos seres

inferiores”.

2

Durkheim (1983) trouxe uma nova concepção, completamente diversa de todas as

formuladas até àquele momento, posto que classifica o crime como “fato social”, dando o

caráter de generalidade e normalidade e afirmando que está presente em todas as sociedades..

Somente dá ao crime o caráter patológico se este atingir taxas muito acima ou muito abaixo

das habituais para aquela sociedade. Ainda, além de normal, considerou o crime útil à

sociedade, pois lhe inflige renovações. Alterando a visão sobre o crime, o mesmo ocorreu em

relação ao criminoso, sendo que o autor abandona a visão de que este representa algo

“parasitário” e lhe dá a função de “agente regulador da sociedade”.

Estudos na área da Criminologia, em especial da Escola de Chicago, apontam a

importante influência do espaço urbano na criminalidade. O crescimento espacial e a explosão

demográfica revelam novos atores sociais, novas tensões e novos problemas, como o aumento

da taxa de crimes, revelados pela mistura de culturas e precárias condições de vida

(FREITAS, 2003).

É inegável a importância dos estudos acerca dos movimentos sociais, relações

sociais, psicologia social, o crime e a delinquência, o comportamento das massas; uma

variedade de temas que ainda hoje são muito atuais e suscitam novas práticas investigativas

que permitam entender como, a organização dos espaços urbanos e a apropriação desses pelos

grupos, podem influenciar ações governamentais que interfiram nessas dinâmicas (GOMES,

2005).

A sociologia da Escola de Chicago serviu de base para a criação de diversas

outras teorias que contribuem diretamente para a prevenção da criminalidade, pois somente

através de políticas públicas é possível essa prevenção (FREITAS, 2003).

O relatório mundial sobre a prevenção da violência, publicado pela

Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2014, aponta que no mundo todo, cerca de meio

milhão de pessoas são assassinadas a cada ano. A OMS revela lacunas na prevenção da

violência em todo o mundo, destacando a falta de conhecimento sobre a extensão do

problema. O relatório também evidencia que a prevenção da violência constitui uma das

cinco prioridades indicadas como as mais importantes por cinco milhões de cidadãos que, por

meio de consultas globais realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU),

transmitiram suas opiniões sobre o foco da nova agenda de desenvolvimento (OMS, 2014).

O maior bem do ser humano é sua própria vida. Portanto, tê-la ceifada seria o

crime mais grave que poderia ocorrer a alguém. O legislativo, procurando proteger o bem

mais importante do ser humano, ao redigir o Código Penal, Decreto Lei nº 2.848 de 07 de

dezembro de 1940, em seu artigo 121, criou o crime de homicídio (Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de 6 a 20 anos) (BRASIL, 1940).

3

Assim, o Estado prevê pena restritiva de liberdade para aquele que matar alguém.

Configurado o crime, faz-se necessária a intervenção da polícia como instrumento de

repressão daqueles que desafiaram a ordem social.

A Policia Civil do Estado de Minas Gerais é dividida para fins operacionais em 18

áreas territoriais de atuação denominadas Departamentos de Policia Civil (DEPPC). Estes,

por sua vez, são divididos em Delegacias Regionais de Polícia Civis (DRPC), com número

variável por Departamento (MINAS GERAIS, 2013).

O 17º Departamento de Policia Civil (17º DEPPC) é composto por três Delegacias

Regionais, sendo estas: 1ª Delegacia Regional de Policia Civil, com sede em Pouso Alegre; 2ª

Delegacia Regional de Policia Civil, com sede em Itajubá; 3ª Delegacia Regional de Policia

Civil, com sede em São Lourenço (MINAS GERAIS, 2013).

A 1ª Delegacia Regional de Policia Civil (1ª DRPC) do 17º Departamento de

Policia Civil (17º DEPPC) atende 35 municípios, sendo a maior Regional do Estado de Minas

Gerais em número de municípios atendidos. A ela estão subordinadas as delegacias de polícia

das 14 comarcas que atendem estes municípios (MINAS GERAIS, 2013).

O Posto Médico Legal de Pouso Alegre é responsável pela realização das

necropsias de mortes por causa externa da área abrangida. Um dos principais objetivos da

necropsia médico-legal é determinar quais foram as lesões letais que acometeram o periciado,

sendo esta determinação crucial para esclarecer o crime de homicídio (FRANÇA, 2015).

O estudo das lesões teciduais que causaram a morte torna-se extremamente

relevante, já que existem divergências de instrumentos ou meios utilizados para causar as

lesões fatais, podendo dizer muito sobre o contexto sociocultural e motivação do crime

(KUBRIN, 2003).

A diversidade de panoramas culturais e sociais entre os municípios atendidos gera

índices de criminalidade dos mais distintos entre eles. Mesmo municípios muito próximos

geograficamente apresentam índices de homicídios bastante diferentes, e ainda, um mesmo

município não apresenta índices iguais em seus bairros. Segundo Diniz e Batella (2006), a

violência urbana parece ter deixado de ser privilégio dos grandes centros urbanos e passado

agora a afligir as cidades médias. Compreender este fenômeno e seus condicionantes pode ser

uma forma de desenvolver medidas de prevenção em prol do indivíduo vulnerável e da

própria sociedade.

Efetivamente se reconhece quão complexo é o fenômeno homicida, bem como a

diversidade de características que o influenciam, mas se desconhece como se constitui tal

multiplicidade. Quantos foram os crimes de homicídio em determinada área? Onde e como

são os “hot points” de ocorrência deste crime? Quais foram as lesões fatais mais prevalentes?

4

O que o método escolhido para provocar as lesões pode dizer sobre o contexto sociocultural e

a motivação do crime? Em suma, quais são os fatores sociais determinantes e passíveis de

intervenção por parte do Estado? São estas algumas das questões que servem de ponto de

partida para o presente trabalho.

Desta forma, a análise das características dos locais com maior risco de

homicídios, dos grupos populacionais mais atingidos, e da relação das lesões teciduais letais

com a motivação do crime, pode auxiliar na identificação de contextos mais vulneráveis e na

definição e focalização de políticas públicas para o enfrentamento deste grave problema social

e de saúde pública.

5

2 OBJETIVO

Tecer um retrato do crime de homicídio, identificando as correlações entre fatores

socioculturais e os crimes de homicídio ocorridos na área da 1ª DRPC do 17º DEPPC.

6

3 MÉTODOS

3.1 Delineamento do estudo

Trata-se de um estudo primário, observacional, retrospectivo, transversal,

descritivo, realizado em centro único – Posto Médico – Legal – Pouso Alegre (MG).

3.2 Considerações éticas

O estudo obedeceu aos preceitos contidos na resolução 466/12 do Conselho Nacional

de Saúde, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Vale

do Sapucaí (UNIVÁS), segundo protocolo número 1.452.155 (APÊNDICE 1). A coleta de dados

teve início após a autorização da Superintendência de Polícia Técnico-Científica (APÊNDICE 2)

para uso dos dados do arquivo do Posto Médico-Legal na pesquisa.

Foi estabelecido e mantido o mais absoluto sigilo em relação a todos os dados

coletados. As informações obtidas foram analisadas em conjunto, não sendo divulgada a

identificação de nenhum dado em particular.

3.3 Critérios de elegibilidade

3.3.1 Critérios de inclusão

Foram incluídos no estudo casos registrados como suspeita de homicídio na

requisição da autoridade policial, ou no Registro de Evento de Defesa Social (REDS) que

gerou a requisição; casos que embora não tenham inicialmente sido considerados suspeitos de

homicídio foram determinados posteriormente pela autoridade policial como tal; de ambos os

sexos; todas as idades; com o ano da morte em 2015.

3.3.2 Critérios de não inclusão

Não foram incluídos os casos de morte de causa indeterminada “per si”, ou seja,

aquela de causa natural, em que não se pode determinar a causa da morte por alguma razão de

limitação técnica.

3.3.3 Critérios de exclusão

Foram excluídos casos de homicídios constados em exumações realizadas no ano

de 2015, em que a data da morte era anterior a este período.

7

3.4 Amostra

A amostra deste estudo foi composta por 336 perícias de necropsia realizadas,

sendo que 21 foram necropsias após exumação de cadáver. Sessenta encaixavam-se nos

critérios de inclusão, ou seja, eram casos registrados como suspeita de homicídio na

requisição da autoridade policial, ou no REDS, que gerou a requisição e casos que, embora

não tenham inicialmente sido considerados suspeitos de homicídio, foram determinados

posteriormente pela autoridade policial como tal.

Dois casos foram excluídos por se tratarem de homicídios constados em

exumações realizadas no ano de 2015, em que a data da morte era anterior a este período.

Foram analisadas as ocorrências de crimes por homicídio no ano de 2015 na área

de 35 municípios atendidos pela 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil (DRPC) do 17º

Departamento de Polícia Civil (DEPPC) em Pouso Alegre e foram considerados os

municípios com mais de 10.000 habitantes.

As vítimas apresentaram uma média de idade de 39 anos (DP=15,1 anos), sendo

observada uma idade mínima de 12 anos e máxima de 79 anos.

3.5 Procedimentos

Após revisão bibliográfica sobre homicídio e a influência do espaço urbano no

crime, foi realizado o levantamento de dados sobre a ocorrência de crimes de homicídio na

área de abrangência da 1ª DRPC do 17º DEPPC, utilizando os arquivos do Posto Médico

Legal de Pouso Alegre, que atende perícias de óbitos por homicídio de toda a área estudada.

Para tal, pesquisou-se o número de necropsias por homicídio no ano de 2015, a partir da

definição de suspeita de homicídio descrita na solicitação de necropsia, ou no REDS, que a

gerou. Foram estudadas as características das lesões teciduais que levaram à morte do

periciado, o instrumento ou meio utilizado para causar a lesão fatal (Quadro 1), a relação entre

o método escolhido para provocá-la e o contexto sociocultural e motivação do crime, o local

geográfico de ocorrência da lesão fatal, e outros dados que se mostraram relevantes, tais como

sexo, cor e idade dos periciados.

8

Quadro 1 - Classificação do instrumento, ou meio e lesão tecidual

Instrumentos Exemplos de objetos Mecanismos Lesões

Perfurante Agulha, Chave de fenda

Penetração de instrumento de

aspecto pontiagudo, alongado

e fino, e de diâmetro transverso

reduzido.

Punctória

Cortante Faca, bisturi

Instrumento de gume afiado,

agindo por mecanismo de

deslizamento.

Cortante ou

incisa

Contundente Martelo, socos, madeira Instrumentos que agem por

pressão ou esmagamento. Contusa

Pérfuro-cortante Punhal, faca Instrumento age perfurando e

cortando.

Pérfuro-cortante

ou pérfuro-incisa

Corto-

contundente Machado, facão

Instrumento com peso, de

gume pouco afiado, age por

pressão e deslizamento.

Corto-contusa

Pérfuro-

contundentes Projétil de arma de fogo

Instrumento age perfurando e

contundindo, sendo mais

perfurantes que contundentes.

Pérfuro-contusa

Fonte: França, 2015

Uma vez determinados estes dados, foram traçados os locais de maior incidência do

crime na área estudada, ou seja, os “hot points” de ocorrência de homicídio. Foi realizada uma

visita técnica a esses locais, para preenchimento de uma ficha de avaliação, onde foram

analisadas as condições de moradias locais (zona rural ou urbana, presença de água tratada), as

condições de serviços públicos (presença de iluminação pública, escolas e áreas de lazer no

bairro), além de presença de bares no perímetro do local de ocorrência do crime (APÊNDICE

3).

Os dados obtidos foram analisados com o objetivo de se determinar quais seriam

os fatores socioculturais envolvidos nestes locais, passíveis de resolução por parte do Estado,

para sugerir políticas de prevenção de novas ocorrências. Os locais de crime podem ser

classificados quanto à relação do ambiente com o fato, dividindo-se em local imediato (onde

ocorreu o fato e se encontra a maioria dos vestígios); local mediato (local adjacente ao que

ocorreu o fato, podendo haver lá vestígios do delito) ou local relacionado (locais que se

vinculam de alguma forma ao crime) (FRANCO, 2008).

9

Para a caracterização da região de ocorrência, quanto à zona urbana ou zona rural

foi utilizado o local imediato de ocorrência do crime, ou seja, aquele abrangido pelo corpo de

delito e o seu entorno, não se levando em consideração o local mediato. Ocorre que nem

sempre o crime foi perpetrado no local imediato, lembrando-se sempre da tentativa de

ocultação de cadáver. No presente estudo, foi levado em consideração o local onde foi

encontrado o cadáver, ainda que este não tenha sido o local onde o crime foi cometido.

3.6 Análise Estatística

Os dados foram analisados descritivamente. Para as variáveis categóricas foram

apresentadas frequências absolutas e relativas e para as variáveis numéricas, medidas-resumo

(média, quartis, mínimo, máximo e desvio padrão).

As existências de associações entre duas variáveis categóricas foram verificadas

utilizando-se o teste exato de Fisher devido ao tamanho da amostra.

Para se avaliar a distribuição dos homicídios ao longo dos meses do ano

empregou-se o teste de Qui-Quadrado para uma amostra.

Para a avaliação das associações entre método do crime (instrumento ou meio,

local do corpo atingido e motivação), das características demográficas (idade, sexo, cor,

situação conjugal) e do local do crime (zona, iluminação pública, água encanada, área lazer,

escolas e bares) simultaneamente, empregou-se a análise de correspondência. A análise de

correspondência é uma técnica multivariada que tem por finalidade examinar a relação entre

as variáveis qualitativas de uma tabela de contingência através de um mapa perceptual,

facilitando a interpretação da dependência entre as variáveis (CARVALHO et al., 2002).

Inicialmente foram considerados, via análise de correspondências, o instrumento

ou meio, local do corpo atingido e motivação, que compreendem o método do crime, para

compreender-se as suas inter-relações. Em seguida, foram incorporadas as informações das

características demográficas (idade, sexo, cor, situação conjugal) e de local do crime (zona,

iluminação pública, água encanada, área lazer, escolas e bares).

Cada categoria da variável corresponde a um ponto no mapa. As categorias das

variáveis localizadas em posições próximas apontam associações entre as mesmas. Assim, a

análise de correspondência permite verificar associações entre os níveis de uma mesma

variável e também entre os níveis de variáveis distintas estabelecendo, portanto, a relação

entre elas.

10

A análise de correspondência baseia-se na estatística de Qui-Quadrado que numa

tabela de contingência verifica a hipótese de independência entre duas variáveis qualitativas a

partir das frequências marginais. A ideia por trás desta técnica é a busca de uma representação

ótima de uma tabela de contingência em uma dimensão espacial menor. A análise fatorial

descreve a relação entre as variáveis numa dimensão espacial reduzida. Entretanto, tal técnica

requer que os dados sejam quantitativos. A análise de correspondência, por outro lado,

permite que as variáveis sejam qualitativas. A dimensão de uma tabela de contingência é dada

pelo mínimo entre o número de categorias da linha e coluna da tabela subtraída de 1.

Autovalores são gerados para cada dimensão e indicam a contribuição relativa de cada

dimensão na explicação da variabilidade total das variáveis. O pesquisador seleciona o

número de dimensões baseado no total da variabilidade explicada desejada.

Para todos os testes estatísticos utilizou-se um nível de significância de 5%. As

análises estatísticas foram realizadas com o uso do software estatístico SPSS 20.0 e STATA

12.

11

4 RESULTADOS

Dos 35 municípios atendidos pela 1ª DRPC do 17º DEPPC, 18 tiveram registros

de crimes de homicídio no ano de 2015. Os 17 demais não apresentaram tais ocorrências

naquele período.

Considerando-se o perfil das vítimas dos casos estudados, de uma forma geral,

88,33% eram homens, 78,33% estavam na faixa etária adulta entre18 e 59 anos, 66,67% eram

brancos e 45% solteiros.

Estratificando-se por sexo, 79,24% dos homens (n=53) apresentavam idades entre

18 e 59 anos, 72,26% eram brancos e 45,28% eram solteiros. Considerando-se o sexo

feminino, 71,43% das mulheres (n=7) estavam na faixa etária de adulto jovem (19 a 43 anos),

100% eram brancas e 57,14% eram casadas, ou estavam em união estável.

De acordo com a tabela 1 (APÊNDICE 4) e figura 1, pode-se notar que os

municípios de Senador José Bento e Munhoz apresentaram as maiores taxas de homicídios,

entretanto, tal resultado deve-se ao fato desses dois municípios apresentarem populações

pequenas – inferiores a 10 mil habitantes.

Figura 1 - Taxas de homicídios (por 100 mil habitantes) por municípios

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

Senador José Bento

Munhoz

Cordislândia

Inconfidentes

Extrema

Itapeva

Silvianópolis

Pouso Alegre

Santa Rita do Sapucaí

Jacutinga

São Gonçalo do Sapucaí

Borda da Mata

Cambuí

Camanducaia

Bueno Brandão

Conceição dos Ouros

Ouro Fino

Monte Sião

57,6

31,7

28,0

27,4

27,2

21,2

15,9

13,2

12,1

12,0

11,9

10,7

10,5

9,1

8,9

8,9

6,0

4,3

12

Considerando-se os municípios com mais de 10 mil habitantes, nota-se que, os

municípios de Extrema, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí e Jacutinga foram os que

apresentaram as maiores taxas de homicídio (27,2 homicídios/100 mil habitantes, 13,2/100

mil habitantes, 12,1/100 mil habitantes e 12,0/100 mil habitantes, respectivamente). A

participação desses quatro municípios na totalidade de homicídios foi de 60% (Figura 2).

Entretanto, o maior índice de criminalidade foi identificado nos municípios de

Extrema, Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí. (Figura 2). Desta forma, o estudo baseou-se

na população de Extrema, Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí, sendo que, apenas nestes

municípios foi realizada a visita técnica.

Figura 2 - Distribuição dos homicídios por municípios

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0

Pouso Alegre

Extrema

Santa Rita do Sapucaí

Jacutinga

São Gonçalo do…

Cambuí

Munhoz

Inconfidentes

Itapeva

Borda da Mata

Camanducaia

Ouro Fino

Senador José Bento

Cordislândia

Silvianópolis

Bueno Brandão

Conceição dos Ouros

Monte Sião

N=19 (31,7%)

N=9 (15,0%)

N=5 (8,3%)

N=3 (5,0%)

N=3 (5,0%)

N=3 (5,0%)

N=2 (3,3%)

N=2 (3,3%)

N=2 (3,3%)

N=2 (3,3%)

N=2 (3,3%)

N=2 (3,3%)

N=1 (1,7%)

N=1 (1,7%)

N=1 (1,7%)

N=1 (1,7%)

N=1 (1,7%)

N=1 (1,7%)

13

A figura 3 mostra que as ocorrências dos homicídios não foram homogêneas ao

longo dos meses do ano (p<0,001), tendo sido observadas em outubro e novembro as maiores

ocorrências (acima de 18%) (Teste Qui-Quadrado para uma amostra).

Figura 3 - Distribuição dos homicídios por mês do ano.

Quanto ao instrumento ou meio que provocou as lesões teciduais, observa-se que

os instrumentos pérfuro-contundentes (36,7%), contundentes (25%) e pérfuro-cortantes (25%)

foram os mais frequentes (Tabela 2).

Tabela 1

Tabela 2 - Prevalência das lesões teciduais provocadas por instrumento ou meio

N (%) IC95%

Instrumento ou meio

Pérfuro -contundente 22 (36,7 %) 24,6% -50,1%

Contundente 15 (25,0 %) 14,7% -37,9%

Pérfuro -cortante 15 (25,0 %) 14,7% -37,9%

Físico-químico 4 (6,7 %) 1,8% - 16,2%

Corto-contundente 2 (3,3 %) 0,4% - 11,5%

Físico por componente térmico 1 (1,7 %) 0,04% - 8,9%

Cortante 1 (1,7 %) 0,04% - 8,9% Fonte: Elaborada pela autora (2017).

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

N=5 (8,3%)

N=1 (1,7%)

N=5 (8,3%)

N=10 (16,7%)

N=2 (3,3%)N=4 (6,7%)

N=4 (6,7%)N=3 (5,0%)

N=14 (23,3%)

N=11 (18,3%)

N=1 (1,7%)

14

Conforme a tabela 3, nota-se que 25%, 23% e 21,7% dos homicídios foram

devido a crimes passionais, causas ignoradas e uso de drogas, respectivamente. Os locais mais

frequentemente atingidos pela lesão tecidual foram a cabeça (41,7%) e o tórax (41,7%). Além

disso, verificou-se que 35% e 21,7% das vítimas tiveram traumatismo craniano e hemorragia

interna aguda como causa de morte, respectivamente.

Tabela 3 - Distribuição das motivações, locais atingidos e causa da morte dos homicídios

N %

Motivação 60 100,0

Passional 15 25,0

Uso de drogas 13 21,7

Uso de álcool 6 10,0

Roubo 6 10,0

Outras 6 10,0

Ignorada 14 23,3

Local atingido pela lesão tecidual 60 100,0

Cabeça 25 41,7

Pescoço 7 11,7

Pescoço e tórax 1 1,7

Todo o corpo 2 3,3

Tórax 25 41,7

Causa da morte 60 100,0

Asfixia 3 5,0

Carbonização 1 1,7

Esgorjamento 1 1,7

Hemorragia interna aguda 13 21,7

Politraumatismo 1 1,7

Politraumatismo corto-contuso 1 1,7

Politraumatismo pérfuro-contuso 9 15,0

Traumatismo cervical 1 1,7

Traumatismo Craniano 21 35,0

Traumatismo Torácico 8 13,3

Indeterminado 1 1,7

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Pouco mais de 25% dos homicídios tiveram realizações de exames de teor

alcoólico ou toxicológico nas vítimas. Por outro lado, 75% dos casos tiveram a autoria do

crime apurada (Tabela 4).

15

Dos casos em que foi realizado o exame de teor alcoólico, dois deles tiveram

resultado negativo, três tiveram resultado indeterminado (inadequação da amostra) e os outros

10 casos tiveram resultados positivos, com teores alcoólicos oscilando entre 8,9 a 27,2 mg/dl

de álcool no sangue da vítima.

Assim como o exame de teor alcoólico, o exame toxicológico das vítimas foi

realizado em apenas 16 (26,67%) dos casos (Tabela 4). Destes, oito casos tiveram resultado

negativo para as substâncias pesquisadas e três casos mostraram resultado indeterminado

(inadequação da amostra). Na pesquisa de drogas de abuso, três casos foram positivos para

cocaína e seus derivados e um dos casos revelou-se positivo para cocaína e cannabis. Em um

caso estudado identificou-se a presença do pesticida aldicarb (popularmente conhecido como

chumbinho), utilizado na tentativa de envenenar a vítima.

Tabela 4 - Distribuição das realizações de exames de teor alcoólico, toxicológico e apuração

da autoria do crime

N %

Realização do Exame de teor alcoólico

60

100,0

Não 45 75,0

Sim 15 25,0

Realização do Exame toxicológico

60

100,0

Não 44 73,3

Sim 16 26,7

Autoria do crime apurada

60

100,0

Não 15 25,0

Sim 45 75,0

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

A tabela 5 assinala que, 46,7% das vítimas tiveram como local de óbito a via

pública, sendo que, mais de 30% dos locais do crime tinham iluminação pública, áreas de

lazer e escolas. Além disso, 51,7% dos locais tinham água encanada e 18,3% tinham bares.

16

Tabela 5 - Distribuição dos homicídios por local do óbito, zona e existências de iluminação

pública, água encanada, áreas de lazer, escolas e bares no local do crime

N %

Local do óbito 60 100,0

Via pública 28 46,7

Domicílio 16 26,7

Hospital 14 23,3

Outros 2 3,3

Zona 60 100,0

Sem visita* 27 45,0

Zona rural 10 16,7

Zona urbana 23 38,3

Iluminação pública 60 100,0

Sem visita* 27 45,0

Não 10 16,7

Sim 23 38,3

Água encanada 60 100,0

Sem visita* 27 45,0

Não 2 3,3

Sim 31 51,7

Área lazer 60 100,0

Sem visita* 27 45,0

Não 14 23,3

Sim 19 31,7

Escolas 60 100,0

Sem visita* 27 45,0

Não 15 25,0

Sim 18 30,0

Bares 60 100,0

Sem visita* 27 45,0

Não 22 36,7

Sim 11 18,3 *Sem visita – Foram selecionados os três municípios com maiores taxas de homicídios, nos demais não foram

realizadas visitas técnicas. Entretanto, pelo tamanho da amostra e categorização das variáveis, todos os dados

foram computados para a análise estatística.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Considerando-se a distribuição dos instrumentos e motivação por local atingido

pela lesão, verificou-se associação apenas entre a região anatômica da lesão tecidual e

instrumento (p<0,001). Desta forma, pode-se observar que 52% dos ferimentos na cabeça

foram ocasionados por instrumentos contundentes. No tórax, 52% dos ferimentos foram

provocados por instrumentos pérfuro-cortantes. Já no pescoço, 57,1% das lesões foram devido

a material físico-químico (Tabela 6).

17

Tabela 6 - Distribuição dos instrumentos e motivação por local atingido pela lesão tecidual

Região anatômica da lesão tecidual Total p*

Cabeça Pescoço Pescoço e

tórax Todo o corpo Tórax

N % N % N % N % N % N %

Instrumento ou

meio

2

5

100,0

%

7 100,0

%

1 100,0% 2 100,0

%

25 100,0

%

60 100,0

%

<0,00

1

Contundente 1

3

52,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 50,0% 1 4,0% 15 25,0%

Cortante 0 0,0% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 1,7%

Corto-

contundente

1 4,0% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 3,3%

Físico por

componente

térmico

0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 50,0% 0 0,0% 1 1,7%

Físico-químico 0 0,0% 4 57,1% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 6,7%

Pérfuro-

contundente

1

1

44,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 11 44,0% 22 36,7%

Pérfuro-cortante 0 0,0% 1 14,3% 1 100,0% 0 0,0% 13 52,0% 15 25,0%

Motivação 2

5

100,0

%

7 100,0

%

1 100,0% 2 100,0

%

25 100,0

%

60 100,0

% 0,780

Passional 6 24,0% 3 42,9% 0 0,0% 0 0,0% 6 24,0% 15 25,0%

Uso de drogas 8 32,0% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 4 16,0% 13 21,7%

Uso de álcool 2 8,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 4 16,0% 6 10,0%

Roubo 3 12,0% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 2 8,0% 6 10,0%

Outras 3 12,0% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 2 8,0% 6 10,0%

Ignorada 3 12,0% 1 14,3% 1 100,0% 2 100,0

%

7 28,0% 14 23,3%

*p – nível descritivo do Teste exato de Fisher.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

Conforme tabela 7, não se verificou associação entre instrumento e motivação

(p=0,881).

18

Tabela 7 - Distribuição dos instrumentos, ou meio, por motivação

Motivação

Total

p* Passional Uso de

drogas

Uso de

álcool Roubo Outras Ignorada Tórax

N % N % N % N % N % N % N % N %

Instrumento 15

100,0

% 13

100,

0% 6

100,0

% 6

100,0

% 6

100,0

% 14

100,0

% 60

100,0

% 60

100,0

% 0,881

Contundente 2

13,3

% 4

30,8

% 2

33,3

% 2

33,3

% 1

16,7

% 4

28,6

% 15 25,0% 15

25,0

%

Cortante 0 0,0% 0

0,0

% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 7,1% 1 1,7% 1 1,7%

Corto-contundente 0 0,0% 1

7,7

% 1

16,7

% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 3,3% 2 3,3%

Físico por

componente térmico 0 0,0% 0 0,0

% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 7,1% 1 1,7% 1 1,7%

Físico-químico 2

13,3

% 0

0,0

% 0 0,0% 1

16,7

% 1

16,7

% 0 0,0% 4 6,7% 4 6,7%

Pérfuro-contundente 6

40,0

% 6

46,2

% 1

16,7

% 2

33,3

% 3

50,0

% 4

28,6

% 22 36,7% 22

36,7

%

Pérfuro-cortante 5

33,3

% 2

15,4

% 2

33,3

% 1

16,7

% 1

16,7

% 4

28,6

% 15 25,0% 15

25,0

%

*p – nível descritivo do Teste exato de Fisher.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

De acordo com a tabela 8, verificou-se associação apenas entre instrumento e

presenças de água encanada (p=0,014) e área de lazer (p=0,024) no local do crime. Nota-se

que os locais com água encanada tiveram a maior porcentagem de crimes com uso de

instrumentos pérfuro-contundentes (51,6%) comparativamente aos locais sem água. Além

disso, os locais sem lazer tiveram a maior porcentagem também de crimes com uso de

instrumentos pérfuro-contundentes (64,3%), comparativamente aos locais com lazer. Desta

forma, locais com água encanada e sem lazer tiveram a maior porcentagem de crimes,

revelando características de maior vulnerabilidade.

O instrumento perfuro-contundente foi utilizado em 22 dos casos (36,7%), sendo

que, em todos estes, o objeto utilizado foi o projetil de arma de fogo. Assim, ao estratificar

por sexo, 71,4% das mulheres e 32,1% dos homens foram a óbito por tiro.

19

Tabela 8 - Distribuição do instrumento ou meio utilizado por características.

Instrumento ou meio p*

Contundente Cortante

Corto-

contunden-

te

Físico por

componen-

te térmico

Físico-

químico

Pérfuro-

contundente

Pérfuro-

cortante Total

N % N % N % N % N % N % N % N %

Sexo 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,323

Feminino 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 14,3% 5 71,4% 0 0,0% 7 100,0%

Masculin. 14 26,4% 1 1,9% 2 3,8% 1 1,9% 3 5,7% 17 32,1% 15 28,3% 53 100,0%

Faixa

Etária 12 21,4% 1 1,8% 2 3,6% 1 1,8% 4 7,1% 21 37,5% 15 26,8% 56 100,0% 0,069

<= 25 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 7,7% 1 7,7% 10 76,9% 1 7,7% 13 100,0%

26 - 35 2 16,7% 0 0,0% 1 8,3% 0 0,0% 1 8,3% 5 41,7% 3 25,0% 12 100,0%

36 - 45 3 27,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 9,1% 2 18,2% 5 45,5% 11 100,0%

46 - 55 5 41,7% 1 8,3% 1 8,3% 0 0,0% 0 0,0% 2 16,7% 3 25,0% 12 100,0%

56+ 2 25,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 12,5% 2 25,0% 3 37,5% 8 100,0%

Cor 13 22,4% 1 1,7% 2 3,4% 1 1,7% 4 6,9% 22 37,9% 15 25,9% 58 100,0% 0,210

Branca 9 22,5% 1 2,5% 0 0,0% 0 0,0% 3 7,5% 16 40,0% 11 27,5% 40 100,0%

Parda 3 27,3% 0 0,0% 2 18,2% 1 9,1% 0 0,0% 4 36,4% 1 9,1% 11 100,0%

Preta 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 14,3% 2 28,6% 3 42,9% 7 100,0%

Situação

Conjugal 11 21,2% 1 1,9% 2 3,8% 1 1,9% 3 5,8% 19 36,5% 15 28,8% 52 100,0% 0,848

Solteiro 6 22,2% 1 3,7% 2 7,4% 1 3,7% 2 7,4% 9 33,3% 6 22,2% 27 100,0%

Casado 4 26,7% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 6,7% 7 46,7% 3 20,0% 15 100,0%

União

estável

1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 3 42,9% 3 42,9% 7 100,0%

Divorciado 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 3 100,0% 3 100,0%

Zona 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,088

Sem visita 10 37,0% 1 3,7% 1 3,7% 0 0,0% 3 11,1% 6 22,2% 6 22,2% 27 100,0%

Zona rural 0 0,0% 0 0,0% 1 10,0% 0 0,0% 1 10,0% 6 60,0% 2 20,0% 10 100,0%

Zona

urbana

5 21,7% 0 0,0% 0 0,0% 1 4,3% 0 0,0% 10 43,5% 7 30,4% 23 100,0%

Iluminação

pública 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,106

Sem visita 10 37,0% 1 3,7% 1 3,7% 0 0,0% 3 11,1% 6 22,2% 6 22,2% 27 100,0%

Não 1 10,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 10,0% 1 10,0% 6 60,0% 1 10,0% 10 100,0%

Sim 4 17,4% 0 0,0% 1 4,3% 0 0,0% 0 0,0% 10 43,5% 8 34,8% 23 100,0%

Água

encanada 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,014*

Sem visita 10 37,0% 1 3,7% 1 3,7% 0 0,0% 3 11,1% 6 22,2% 6 22,2% 27 100,0%

Não 1 50,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 50,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 100,0%

Sim 4 12,9% 0 0,0% 1 3,2% 1 3,2% 0 0,0% 16 51,6% 9 29,0% 31 100,0%

Área

lazer 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,024*

Sem visita 10 37,0% 1 3,7% 1 3,7% 0 0,0% 3 11,1% 6 22,2% 6 22,2% 27 100,0%

Não 0 0,0% 0 0,0% 1 7,1% 1 7,1% 1 7,1% 9 64,3% 2 14,3% 14 100,0%

Sim 5 26,3% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 7 36,8% 7 36,8% 19 100,0%

Escolas 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,175

Sem visita 10 37,0% 1 3,7% 1 3,7% 0 0,0% 3 11,1% 6 22,2% 6 22,2% 27 100,0%

Não 1 6,7% 0 0,0% 1 6,7% 1 6,7% 1 6,7% 8 53,3% 3 20,0% 15 100,0%

Sim 4 22,2% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 8 44,4% 6 33,3% 18 100,0%

Bares 15 25,0% 1 1,7% 2 3,3% 1 1,7% 4 6,7% 22 36,7% 15 25,0% 60 100,0% 0,255

Sem visita 10 37,0% 1 3,7% 1 3,7% 0 0,0% 3 11,1% 6 22,2% 6 22,2% 27 100,0%

Não 3 13,6% 0 0,0% 0 0,0% 1 4,5% 1 4,5% 12 54,5% 5 22,7% 22 100,0%

Sim 2 18,2% 0 0,0% 1 9,1% 0 0,0% 0 0,0% 4 36,4% 4 36,4% 11 100,0%

*p – nível descritivo do Teste exato de Fisher

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

20

Segundo a tabela 9, verificaram-se associações entre motivações e todas as

características, exceto faixa etária (p=0,602) e situação conjugal (p=0,053). Desta forma, tem-

se que:

Sexo: verificou-se que a motivação de todos os crimes contra vítimas mulheres foi

passional. Nos homens, esta porcentagem foi de apenas 15,1%.

Cor: as vítimas de cor parda apresentaram a maior porcentagem de morte com

causa inicialmente apontada como sendo por uso de álcool (36,4% contra no máximo 14,3%),

comparativamente às de cor branca ou preta. A motivação dos crimes contra vítimas de cor

branca foi passional (32,5%) e contra vítimas de cor preta foi o uso de drogas.

Zona: as vítimas cujos locais de crime não foram visitados apresentaram a maior

porcentagem de motivação devido a roubo e outras motivações (37% contra no máximo

8,6%), comparativamente à zona rural e urbana. Na zona rural, 70% dos crimes foram devido

à motivação passional, enquanto que, na zona urbana, 39,1% dos crimes relacionaram-se ao

uso de drogas.

Iluminação pública: as vítimas cujos locais de crime não foram visitados

apresentaram a maior porcentagem de motivação devido a roubo e outras motivações (37%

contra no máximo 8,6%), comparativamente aos locais visitados. Em locais sem iluminação,

observou-se que, 60% dos crimes foram por motivação passional. Já nos locais com

iluminação, 43,5% teve como motivação o uso de drogas

Água encanada: as vítimas cujos locais de crime não foram visitados

apresentaram a maior porcentagem de motivação devido a roubo e outras motivações (37%

contra no máximo 6,4%), comparativamente aos locais visitados. Verificou-se uma maior

porcentagem de crime por uso de drogas (35,5%) em locais com água encanada.

Área de lazer: as vítimas cujos locais de crime não foram visitados apresentaram a

maior porcentagem de motivação devido a roubo e outras motivações (37% contra no máximo

14,2%), comparativamente aos locais visitados. Em locais sem área de lazer observou-se uma

maior porcentagem de crimes por motivação passional (50%). Entretanto, em locais com

áreas de lazer, a motivação relacionou-se, em 43,1% dos casos, ao uso de drogas.

Escolas: as vítimas cujos locais de crime não foram visitados apresentaram a

maior porcentagem de motivação devido a roubo e outras motivações (37% contra no máximo

6,7%), comparativamente aos locais visitados. Em locais sem escolas observou-se uma maior

porcentagem de crimes por motivação passional (46,7%). Nos locais com escolas, 38,9% dos

crimes teve como motivação o uso de drogas.

21

Bares: as vítimas cujos locais de crime não foram visitados apresentaram a maior

porcentagem de motivação devido a roubo e outras motivações (37% contra no máximo

9,1%) comparativamente aos locais visitados. Já em locais com bares, verificou-se uma maior

porcentagem de crime por uso de drogas (54,5%). Apesar de apenas 18,3% de locais com

bares (Tabela 5), a tabela 9 mostra a associação ente bares e criminalidade (54,5%).

Observa-se ainda que, o crime motivado pelo uso de drogas, foi identificado em

30,8% em jovens com menos de 25 anos, sendo que, de uma maneira geral, a maioria das

vítimas tinha menos de 45 anos de idade.

O instrumento perfuro contundente foi utilizado em 22 casos (33,67%), sendo

que, em todos estes, o objeto utilizado foi o projétil de arma de fogo, ou seja, o tiro.

Estratificando-se por sexo, 71,43% das mulheres (n=5) e 32,07% dos homens (n=17) foram

vítimas de óbito por tiro (Tabela 9).

22

Tabela 9 - Distribuição das motivações dos crimes por características

Motivação

*p

Passional Uso de

drogas

Uso de

álcool Roubo Outras Ignorada Total

N % N % N % N % N % N % N %

Sexo 15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0% 0,001*

Feminino 7 100,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 7 100,0%

Masculino 8 15,1% 13 24,5% 6 11,3% 6 11,3% 6 11,3% 14 26,4% 53 100,0%

Faixa Etária 15 26,8% 12 21,4% 6 10,7% 6 10,7% 6 10,7% 11 19,6% 56 100,0% 0,602

<= 25 4 30,8% 4 30,8% 2 15,4% 0 0,0% 0 0,0% 3 23,1% 13 100,0%

26 – 35 1 8,3% 3 25,0% 2 16,7% 2 16,7% 2 16,7% 2 16,7% 12 100,0%

36 – 45 3 27,3% 3 27,3% 0 0,0% 1 9,1% 2 18,2% 2 18,2% 11 100,0%

46 – 55 2 16,7% 2 16,7% 2 16,7% 2 16,7% 2 16,7% 2 16,7% 12 100,0%

56+ 5 62,5% 0 0,0% 0 0,0% 1 12,5% 0 0,0% 2 25,0% 8 100,0%

Cor 15 25,9% 13 22,4% 6 10,3% 6 10,3% 6 10,3% 12 20,7% 58 100,0% 0,010*

Branca 13 32,5% 8 20,0% 1 2,5% 6 15,0% 4 10,0% 8 20,0% 40 100,0%

Parda 1 9,1% 2 18,2% 4 36,4% 0 0,0% 0 0,0% 4 36,4% 11 100,0%

Preta 1 14,3% 3 42,9% 1 14,3% 0 0,0% 2 28,6% 0 0,0% 7 100,0%

Situação

Conjugal

15 28,8% 11 21,2% 5 9,6% 6 11,5% 5 9,6% 10 19,2% 52 100,0%

0,053

Solteiro 6 22,2% 9 33,3% 3 11,1% 2 7,4% 1 3,7% 6 22,2% 27 100,0%

Casado 7 46,7% 1 6,7% 0 0,0% 3 20,0% 1 6,7% 3 20,0% 15 100,0%

União estável 2 28,6% 1 14,3% 2 28,6% 0 0,0% 2 28,6% 0 0,0% 7 100,0%

Divorciado 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 33,3% 1 33,3% 1 33,3% 3 100,0%

Zona 15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0% 0,004*

Sem visita 6 22,2% 2 7,4% 4 14,8% 5 18,5% 5 18,5% 5 18,5% 27 100,0%

Zona rural 7 70,0% 2 20,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 10,0% 10 100,0%

Zona urbana 2 8,7% 9 39,1% 2 8,7% 1 4,3% 1 4,3% 8 34,8% 23 100,0%

Iluminação

pública

15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0%

0,011*

Sem visita 6 22,2% 2 7,4% 4 14,8% 5 18,5% 5 18,5% 5 18,5% 27 100,0%

Não 6 60,0% 1 10,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 3 30,0% 10 100,0%

Sim 3 13,0% 10 43,5% 2 8,7% 1 4,3% 1 4,3% 6 26,1% 23 100,0%

Água

encanada

15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0%

0,041*

Sem visita 6 22,2% 2 7,4% 4 14,8% 5 18,5% 5 18,5% 5 18,5% 27 100,0%

Não 1 50,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 50,0% 2 100,0%

Sim 8 25,8% 11 35,5% 2 6,5% 1 3,2% 1 3,2% 8 25,8% 31 100,0%

Área lazer 15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0% 0,006*

Sem visita 6 22,2% 2 7,4% 4 14,8% 5 18,5% 5 18,5% 5 18,5% 27 100,0%

Não 7 50,0% 3 21,4% 0 0,0% 1 7,1% 1 7,1% 2 14,3% 14 100,0%

Sim 2 10,5% 8 42,1% 2 10,5% 0 0,0% 0 0,0% 7 36,8% 19 100,0%

Escolas 15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0% 0,024*

Sem visita 6 22,2% 2 7,4% 4 14,8% 5 18,5% 5 18,5% 5 18,5% 27 100,0%

Não 7 46,7% 4 26,7% 0 0,0% 1 6,7% 0 0,0% 3 20,0% 15 100,0%

Sim 2 11,1% 7 38,9% 2 11,1% 0 0,0% 1 5,6% 6 33,3% 18 100,0%

Bares 15 25,0% 13 21,7% 6 10,0% 6 10,0% 6 10,0% 14 23,3% 60 100,0% 0,025*

Sem visita 6 22,2% 2 7,4% 4 14,8% 5 18,5% 5 18,5% 5 18,5% 27 100,0%

Não 8 36,4% 5 22,7% 1 4,5% 1 4,5% 0 0,0% 7 31,8% 22 100,0%

Sim 1 9,1% 6 54,5% 1 9,1% 0 0,0% 1 9,1% 2 18,2% 11 100,0%

*p – nível descritivo do Teste exato de Fisher.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

23

Verificou-se apenas associação entre região anatômica da lesão tecidual e água

encanada (p=0,013). Desta forma nota-se, em locais com água encanada, maior porcentagem

de vítimas com lesão no tórax (51,6%) comparativamente a locais sem água encanada.

(Tabela 10).

Tabela 10 - Distribuição dos locais atingidos pelas lesões teciduais por características

Local atingido pela ferida

Total *p Cabeça Pescoço

Pescoço

e tórax Todo o corpo Tórax

N % N % N % N % N % N %

Sexo 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,745

Feminino 4 57,1% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 2 28,6% 7 100,0%

Masculino 21 39,6% 6 11,3% 1 1,9% 2 3,8% 23 43,4% 53 100,0%

Faixa Etária 22 39,3% 7 12,5% 1 1,8% 2 3,6% 24 42,9% 56 100,0% 0,829

<= 25 5 38,5% 1 7,7% 0 0,0% 1 7,7% 6 46,2% 13 100,0%

26 – 35 6 50,0% 1 8,3% 0 0,0% 0 0,0% 5 41,7% 12 100,0%

36 – 45 3 27,3% 1 9,1% 0 0,0% 0 0,0% 7 63,6% 11 100,0%

46 – 55 4 33,3% 3 25,0% 0 0,0% 1 8,3% 4 33,3% 12 100,0%

56+ 4 50,0% 1 12,5% 1 12,5% 0 0,0% 2 25,0% 8 100,0%

Cor 23 39,7% 7 12,1% 1 1,7% 2 3,4% 25 43,1% 58 100,0% 0,919

Branca 17 42,5% 5 12,5% 1 2,5% 1 2,5% 16 40,0% 40 100,0%

Parda 4 36,4% 1 9,1% 0 0,0% 1 9,1% 5 45,5% 11 100,0%

Preta 2 28,6% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 4 57,1% 7 100,0%

Situação Conjugal 21 40,4% 6 11,5% 1 1,9% 2 3,8% 22 42,3% 52 100,0% 0,776

Solteiro 11 40,7% 4 14,8% 0 0,0% 1 3,7% 11 40,7% 27 100,0%

Casado 7 46,7% 1 6,7% 1 6,7% 1 6,7% 5 33,3% 15 100,0%

União estável 3 42,9% 1 14,3% 0 0,0% 0 0,0% 3 42,9% 7 100,0%

Divorciado 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 3 100,0% 3 100,0%

Zona 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,140

Sem visita 13 48,1% 5 18,5% 0 0,0% 0 0,0% 9 33,3% 27 100,0%

Zona rural 3 30,0% 2 20,0% 0 0,0% 0 0,0% 5 50,0% 10 100,0%

Zona urbana 9 39,1% 0 0,0% 1 4,3% 2 8,7% 11 47,8% 23 100,0%

Iluminação pública 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,121

Sem visita 13 48,1% 5 18,5% 0 0,0% 0 0,0% 9 33,3% 27 100,0%

Não 3 30,0% 1 10,0% 0 0,0% 2 20,0% 4 40,0% 10 100,0%

Sim 9 39,1% 1 4,3% 1 4,3% 0 0,0% 12 52,2% 23 100,0%

Água encanada 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,013*

Sem visita 13 48,1% 5 18,5% 0 0,0% 0 0,0% 9 33,3% 27 100,0%

Não 0 0,0% 1 50,0% 0 0,0% 1 50,0% 0 0,0% 2 100,0%

Sim 12 38,7% 1 3,2% 1 3,2% 1 3,2% 16 51,6% 31 100,0%

Área lazer 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,240

Sem visita 13 48,1% 5 18,5% 0 0,0% 0 0,0% 9 33,3% 27 100,0%

Não 5 35,7% 2 14,3% 0 0,0% 1 7,1% 6 42,9% 14 100,0%

Sim 7 36,8% 0 0,0% 1 5,3% 1 5,3% 10 52,6% 19 100,0%

Escolas 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,199

Sem visita 13 48,1% 5 18,5% 0 0,0% 0 0,0% 9 33,3% 27 100,0%

Não 5 33,3% 2 13,3% 1 6,7% 1 6,7% 6 40,0% 15 100,0%

Sim 7 38,9% 0 0,0% 0 0,0% 1 5,6% 10 55,6% 18 100,0%

Bares 25 41,7% 7 11,7% 1 1,7% 2 3,3% 25 41,7% 60 100,0% 0,395

Sem visita 13 48,1% 5 18,5% 0 0,0% 0 0,0% 9 33,3% 27 100,0%

Não 7 31,8% 1 4,5% 1 4,5% 2 9,1% 11 50,0% 22 100,0%

Sim 5 45,5% 1 9,1% 0 0,0% 0 0,0% 5 45,5% 11 100,0%

*p – nível descritivo do Teste exato de Fisher.

Fonte: Elaborada pela autora (2017).

24

A análise de correspondência considerando-se o instrumento ou meio, local do

corpo atingido e motivação apontou a existência de três dimensões que representam 75,1% do

comportamento (associação) dos dados. Os mapas perceptuais podem ser visualizados nas

figuras 4 a 6.

Na figura 4, observa-se a proximidade entre instrumento físico por componente

térmico (F-CT) e todo o corpo, apontando associação entre esse instrumento e local atingido.

Nota-se ainda, no canto direito a associação entre lesão tecidual no pescoço e material físico-

químico (FQ). Na porção central, observa-se a proximidade entre lesão no pescoço e tórax

(PESC-T) e motivação ignorada (M-I), lesão no tórax (T) e instrumentos pérfuro-cortantes (P-

cortante) e pérfuro-contundentes (P-CTD). Finalmente, identifica-se a proximidade entre uso

de instrumentos contundentes (CTD), pérfuro-contundentes (P-CTD), lesões na cabeça e

crimes motivados por usos de droga e álcool.

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, Todo o corpo: Todo o

corpo, T:Tórax

Figura 4 - Mapa perceptual para instrumento ou meio, local do corpo atingido e motivação –

dimensões 1 e 2

25

Nas figuras 5 e 6 as associações observadas são bastante similares às da figura 4.

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, Todo o corpo: Todo o

corpo, T:Tórax

Figura 5 - Mapa perceptual para instrumento ou meio, local do corpo atingido e motivação –

dimensões 2 e 3

26

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, Todo o corpo: Todo o

corpo, T:Tórax

Figura 6 - Mapa perceptual para instrumento ou meio, local do corpo atingido e motivação –

dimensões 1 e 3

Na análise a seguir, além do método (instrumento ou meio, motivação e local do

corpo atingido), foram incorporadas as informações das características demográficas e de

locais do crime.

A análise de correspondência resultante apontou a existência de duas dimensões

que representam 76,3% do comportamento (associação) dos dados.

Para facilitar a interpretação dos resultados apresentou-se inicialmente somente o

mapa para o método (Figura 7) e, em seguida, a esse mapa foi acrescida uma característica

por vez, exceto para variáveis de local do crime, que podem ser visualizadas num único

gráfico.

27

Conforme a figura 7, novamente observa-se uma associação similar à observada

na figura 4. Visando facilitar a visualização, as figuras a seguir foram limitadas apenas à

porção central.

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, Todo o corpo: Todo o

corpo, T:Tórax

Figura 7 - Mapa perceptual para método empregado

A figura 8 revela uma associação entre crimes passionais e vítimas do sexo feminino.

Já para os homens, observa-se uma associação com uso de drogas e álcool (Tabela 9), lesões

teciduais no tórax e uso de instrumento pérfuro-cortante.

28

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, T:Tórax

• Sexo – FEM: Feminino, MASC: Masculino

Figura 8 - Mapa perceptual para método empregado no crime e sexo

Considerando-se a figura 9, nota-se uma associação entre crimes por uso de drogas e

álcool em vítimas de até 45 anos de idade (Tabela 9). Já para os crimes passionais ou roubos

encontram-se associados a vítimas com mais de 46 anos e uso de instrumento pérfuro-cortante

(Tabela 8).

em

asc

29

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, T:Tórax

• Faixa Etária – 25: ≤ 25 anos, 26-35: 26 a 35 anos, 36-45: 36 a 45 anos, 46-55: 46 a 55 anos, 56+:≥ 56 anos

Figura 9 - Mapa perceptual para método empregado no crime e faixa etária

Nota-se uma associação entre crimes passionais ou motivados por roubo, uso de

instrumento pérfuro-cortante e vítimas de cor branca (Tabela 9). Adicionalmente, nota-se no

mapa uma proximidade entre vítimas de cor preta, lesões na cabeça, uso de instrumentos

pérfuro-contundentes e outros motivos para o crime. As vítimas pardas, por sua vez,

encontram-se associadas a lesões teciduais no tórax (Figura 10).

4

2

3

2

30

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, T:Tórax

• Cor – BR: branca, PD: parda, PR: preta

Figura 10 - Mapa perceptual para método empregado no crime e cor.

Observa-se uma associação entre crimes passionais e zona rural. Entretanto, este

resultado explica os homicídios, seguido de suicídio, numa mesma família no município de

Extrema. Além disso, nota-se no mapa uma proximidade entre zona urbana e uso de

instrumentos contundentes (Figura 11).

31

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, T:Tórax

• Zona – UR: urbana, RU: rural

Figura 11 - Mapa perceptual para método empregado no crime e zona.

A figura 12 mostra uma associação entre crimes passionais ou motivados por roubo, e

locais do crime sem visita. Além disso, nota-se no mapa uma proximidade entre crime

motivado por uso de álcool e presença de iluminação no local do crime e entre droga e

presenças de bares. Verifica-se ainda a proximidade entre uso de objeto pérfuro-cortante e

locais sem lazer ou escolas.

32

Legenda:

Motivação- Passional, Drogas: Uso de drogas, Álcool: Uso de álcool, Roubo: Roubo, Outras: outras

motivações, M-I: Motivação ignorada

Instrumento- CTD: Contundente, C: Cortante, C-CTD: Corto-contundente, F-CT: Físico por componente

térmico, FQ: Físico-químico, P-CTD: Pérfuro-contundente, P-cortante: Pérfuro- cortante

X Local da lesão tecidual - CAB: Cabeça, PESC: Pescoço, PESC-T: Pescoço e tórax, T:Tórax

• Infraestrutura – A: Água, IL: Iluminação, B: Bares, L: Lazer, E: Escola, N-Não, S: Sim; Sem visita:

Locais sem visita

Figura 12 - Mapa perceptual para método empregado no crime e infraestrutura do local.

33

4.1 Produto

Com base nos resultados, observa-se que no município de Santa Rita do Sapucaí

não houve uma motivação predominante, ou seja, as motivações inicialmente apontadas no

REDS para que os agressores perpetrassem os crimes eram diferentes. Assim, não se pode

traçar uma relação entre as ocorrências dos crimes e uma maior motivação naquele município.

A criminalidade no município de Santa Rita do Sapucaí não está ligada às

condições de moradia, iluminação pública ou presença de escolas, e a presença de áreas de

lazer não foi um fator determinante para a ocorrência dos crimes. Em contrapartida, no

presente estudo, identificou-se uma relação entre espaço urbano e a criminalidade nesta

localidade, com associação entre a ocorrência de bares no perímetro e motivação do crime.

Desta forma, assinala-se como fator sociocultural determinante nesta localidade a

ocorrência de crimes em locais com a presença de bares no perímetro, sugerindo-se como

política de prevenção de novas ocorrências, a criação de leis municipais que restrinjam e

fiscalizem o seu funcionamento em localidades com alto índice de criminalidade violenta

como fator passível de resolução por parte do Estado. Para tanto, busca-se como produto a

criação de um Projeto de Lei do município de Santa Rita do Sapucaí, que regulamente e limite

o funcionamento de bares e estabelecimentos análogos (casas noturnas, distribuidoras de

bebidas, etc.).

Assim, foi proposta a criação de um Projeto de Lei municipal, que regulamente a

abertura e funcionamento de bares no município, como fator passível de intervenção para a

prevenção dos crimes de homicídio.

A proposta foi encaminhada para o Vereador Giácomo Henrique Costanti, que,

com base neste trabalho, propôs a criação do referido Projeto de Lei.

Uma vez apresentadas as justificativas para a criação deste, o mesmo foi

encaminhado para a realização de parecer da comissão de finanças, onde recebeu parecer

favorável e foi encaminhado para votação, sem quaisquer emendas.

34

35

36

37

5 DISCUSSÃO

Segundo o Dicionário infopédia da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico, a

palavra “Retrato” pode ser definida como “descrição exata de alguma coisa; reprodução”, ou

ainda “conjunto das características gerais que representam uma categoria de seres ou de

coisas” (PORTO, 2017). Assim, buscou-se descrever fielmente as particularidades das vítimas

de homicídio, as características dos locais de ocorrência, as motivações registradas como

determinantes para o crime e os fatores socioculturais envolvidos, capturando o lapso

temporal do ano de 2015, buscando de fato tecer um retrato dos crimes de homicídio

ocorridos na área da 1ª DRPC do 17º DEPPC.

Por se tratar de um estudo retrospectivo, a coleta de dados sofreu a limitação da

informação apresentada nos prontuários.

No presente estudo, considerando-se a distribuição de casos de homicídio entre os

meses do ano de 2015, identifica-se uma oscilação com picos nos meses de abril, ao sair do

verão e em outubro e novembro, ao terminar o inverno. E uma queda nos meses de fevereiro,

maio a setembro e no mês de dezembro. Observa-se que há realmente uma maior prevalência

de homicídios no outono e primavera e uma queda na frequência no final do outono e durante

o inverno. Vale ressaltar que as temperaturas médias na região sofrem grande queda a partir

da segunda quinzena do mês de maio, o que corrobora com a teoria de Quetelet de diminuição

dos crimes de homicídios quando as temperaturas médias caem (QUETELET, 1984).

Segundo BRITO e FERREIRA (2012), ao analisarem a variação dos homicídios

em Minas Gerais, entre os anos de 2003 a 2010, as observações mensais mostraram os meses

de dezembro, março e outubro como os de maior concentração, apresentando totais superiores

à média mensal do período. Os meses de julho, junho, e agosto, respectivamente,

concentraram os menores totais. Dessa maneira, os homicídios mostraram-se mais

concentrados no outono e na primavera e, menos frequentes, no inverno, notando-se

comportamentos diferenciados ao longo dos anos. Entretanto, no presente estudo, que avaliou

apenas o ano de 2015, não é possível afirmar um tipo de comportamento, ou padrão do

homicídio com características sazonais, sendo, no entanto, uma perspectiva de pesquisa ao

longo do tempo.

Tal observação vem ao encontro das leis térmicas de Quetelet (QUETELET,

1984), que em sua segunda lei, assevera que os crimes contra as pessoas são cometidos

principalmente no verão, pois a temperatura, o calor, as paixões humanas são despertadas. Isto

pode ser explicado pelo fato dos dias serem mais longos e, portanto, com mais tempo para o

contato com os outros. Neste estudo, os picos dos homicídios foram identificados na mudança

38

das estações verão/outono em abril e inverno/primavera em outubro e novembro. Este aspecto

pode também estar relacionado à mudança do horário. De fato, a maior ocorrência dos crimes

foi observada quando começou o horário de verão (outubro e novembro), ou seja, com a

possibilidade de dias mais longos, de estar mais tempo fora de casa e de maior contato

interpessoal.

Segundo Rotton e Cohn (2002), as teorias que buscam explicar as relações

climáticas com a criminalidade violenta, enfatizam os estados emocionais, ou os padrões de

comportamento, como as associadas às atividades de rotina, ou seja, assinalando o quanto as

atividades cotidianas podem ser influenciadas pelas variáveis analisadas.

Por outro lado, altas temperaturas podem levar ao consumo de mais bebidas

alcoólicas (SILM e AHAS, 2004). No presente estudo, a criminalidade mostrou-se associada à

presença de bares e de iluminação no local do crime, ao uso de álcool e outras drogas, em

adultos jovens com menos de 45 anos de idade. A associação entre o uso de drogas e a

presença de água encanada, ou de uso de álcool e presença de iluminação pode estar

relacionada também à presença de bares.

O uso de álcool e outras drogas e a falta de perspectivas, pela própria falta de

acesso à educação e ao lazer, pode potencializar e desencadear comportamentos agressivos

(MALVASI, 2012), tal como se verificou neste estudo.

Por outro lado, o fato dos crimes passionais estarem associados à falta de escolas

e de lazer revela o quanto a educação pode ser tão importante no gerenciamento do

comportamento de frustração nas relações afetivas e sociais (CERQUEIRA, 2016). De notar

que, nas áreas sem lazer e sem escolas, o instrumento utilizado para ferir foi o pérfuro -

cortante; talvez por ser de mais fácil acesso e de proximidade entre o agressor e vítima.

Ainda neste estudo, a presença de bares e a ausência de locais para usufruto do

lazer associou-se ao uso de armas de fogo em crimes passionais, revelando a extrema

violência contra a vida de um outro ser humano. Como se os instintos mais primitivos se

sobressaíssem à própria civilização (SANTIAGO e COELHO, 2010).

Sapori et al. (2017), ao analisarem a dinâmica da incidência de homicídios na

cidade de Belo Horizonte nas duas últimas décadas, a partir de alterações na conformação do

mercado de drogas ilícitas, evidenciaram a forte presença de arma de fogo nos homicídios

ocorridos na cidade, tal como identificado neste estudo Assim, afirmam que as chances de que

uma morte dessa natureza seja cometida por arma de fogo é 3,5 vezes maior que as chances

de que se tenha o mesmo crime cometido por algum outro instrumento.

Segundo Waiselfisz (2013), estudos coincidem na afirmação de que a vitimização

homicida no país é notada e fundamentalmente masculina. A feminina só representa

39

aproximadamente 8% do total de homicídios, mas com características bem diferenciadas da

mortalidade masculina. Ainda assim, apesar desse baixo índice, em 2011, acima de 4,5 mil

mulheres foram vítimas de homicídio. Barros et al. (2001), afirmaram que o predomínio do

sexo masculino na mortalidade por homicídios está relacionado à maior exposição deste

estrato a potenciais fatores de risco como o consumo de álcool, consumo de drogas lícitas ou

ilícitas, e utilização de armas de fogo, tal como se verificou neste estudo. No presente estudo

foram registrados sete casos de homicídios no sexo feminino, sendo estes 11,67% do total, e

53 casos de homicídios no sexo masculino, representando 88,33% do total, revelando um

resultado semelhante ao encontrado na literatura.

Quando se avalia a motivação inicialmente apontada como sendo o uso de drogas,

é que se encontra a maior mortalidade masculina, sendo 13 casos, ou seja, 24,5% dos homens.

E em seis casos, ou seja, 11,32% dos homens, o motivo apontado foi o uso imoderado de

álcool. Vale ainda ressaltar, que este número pode ter sido ainda maior, já que em outros

casos, a despeito da motivação inicialmente alegada, é muito provável que tivesse havido o

consumo de álcool, ou outras substâncias, durante a perpetração do crime. Para Nestor (2002),

pessoas que apresentam abuso de substâncias têm um risco de 12 a 16 vezes maior de se

envolver em comportamento violento do que outras que não usam substâncias. Nota-se que

estes dados refletem a necessidade de um maior combate ao tráfico de drogas e um maior

controle de vendas de bebidas alcoólicas por parte do Estado.

Considerando-se o risco e analisando-se a idade das vítimas, observa-se que as

idades variam de 12 a 79 anos, mas em apenas quatro casos (6,6%) tratavam-se de

adolescentes (menores de 18 anos), e cinco casos (8,3%) tratavam-se de idosos (acima de 60

anos). Quatro casos (6,67%) tinham idade ignorada pois eram indivíduos desconhecidos e

sem maiores informações. A maior taxa de ocorrência está, portanto, na faixa etária adulta (18

a 59 anos), ou seja, em indivíduos que, em tese, estariam em fase e processo de produção na

sociedade, que totaliza 47 casos (78,3%). De fato, estratificando-se a idade pelo sexo, tem-se

que das sete vítimas do sexo feminino, duas eram adolescentes (12 e 14 anos), e cinco

estavam na faixa etária de adulto jovem (19, 21, 32, 36 e 43 anos). Tal fato demonstra mais

uma vez pode demonstrar a vulnerabilidade das vítimas escolhidas. Estudos apontam que a

prevalência de óbito por homicídios no Brasil é maior entre indivíduos de cor da pele negra.

Segundo Soares et al. (2007), que analisaram a mortalidade por homicídios no Brasil em 2003

e sua tendência de 1980 a 2003 utilizando o banco de dados do Sistema de Informação sobre

Mortalidade nacional (SIM), pessoas do sexo masculino negros, pretos e pardos apresentaram

maiores riscos de óbito por homicídio do que pessoas do sexo masculino brancos em quase

todas as faixas etárias.

40

Soares et al. (2007) relatam que em Minas Gerais a vitimização por homicídio

atinge muito mais negros do que brancos, independentemente do nível educacional dos

primeiros, o que significa que a raça é mais importante do que a educação, o status

socioeconômico ou a classe social. Em Minas Gerais, a vitimização de negros foi sempre

maior que o dobro da vitimização de brancos.

Vale ressaltar que os estudos sobre raça, seguindo recomendação de integrantes

do movimento negro, não estratificam a cor da pele negra em negra e parda, utilizando tão

somente a cor negra (BATISTA, 2004). No presente estudo, para a caracterização de cor da

pele, foram utilizados dados constantes na declaração de óbito, que define o indivíduo como

sendo de cor branca, preta, parda, indígena ou amarela.

Não foram encontrados registros de homicídios em indivíduos de cor de pele

classificadas como indígena ou amarela. Dois casos foram classificados como ignorados,

sendo que nestes casos, a vítima foi encontrada em processo avançado de putrefação

cadavérica, o que prejudicou a avaliação da cor da pele. Observa-se que diferente dos citados

estudos, na região estudada, a prevalência de óbitos por homicídio foi significativamente

maior em indivíduos de cor branca.

Considerando-se a cor da pele, observou-se diferença quanto à motivação do

homicídio. O crime com características passionais aconteceu em maior porcentagem em

indivíduos de cor branca (32,5%), o uso de drogas em indivíduos de cor preta (42,9%) e o uso

de álcool em indivíduos de cor parda (36,4%). Ao estratificar-se a variável cor da pele pelo

sexo, identificou-se que as sete vítimas do sexo feminino eram brancas.

Soares et al. (2007) afirmaram que diversos estudos, em outros países e no Brasil,

apontam que o risco de vitimização por homicídios é mais baixo entre indivíduos casados do

que entre solteiros. Tal fato se deve à menor exposição dos indivíduos casados a situações de

risco. Pesquisas realizadas por Soares e Borges (2004), com dados referentes ao Brasil,

apontaram que indivíduos solteiros apresentavam uma taxa de risco mais elevada,

independentemente da idade e gênero.

O presente estudo vai parcialmente ao encontro destas informações, pois os dados

obtidos mostraram que dentre os 60 casos estudados, os indivíduos solteiros eram em número

de 27, representando 45% do total. Porém, ao estratificar por sexo, nos casos de homicídios

com vítimas mulheres, apenas três dos sete a vítima era solteira. Em três casos a vítima era

casada, e em um caso havia união estável.

Dos casos classificados como ignorados, quatro eram indivíduos desconhecidos, e

sem maiores informações, e quatro apesar de qualificados civilmente, não constavam os dados

na declaração de óbito quanto à situação conjugal. No presente estudo, ao considerar-se a

41

motivação do crime por situação conjugal, 46,5% dos crimes, seja por motivo passional, ou

por uso de álcool (28,6%), aconteceram em casados, ou com união estável, respectivamente, e

em 33,3% dos solteiros e por uso de drogas.

Quanto à causa declarada da morte, pode-se observar que a análise isolada da

variável “Causa declarada da morte” é pouco esclarecedora, uma vez que os casos foram

declarados de maneira diversa bastante evasiva. Quando analisadas em conjunto, as variáveis

causa declarada da morte e instrumento ou meio causador da lesão fatal, os dados mostraram-

se mais esclarecedores, sendo que, a maioria dos homicídios foi causado por traumatismo

craniano provocado por instrumento contundente (13 casos, ou 21,67 %), seguido de

traumatismo perfuro-contuso (9 casos, ou 15 %) e hemorragia interna aguda causada por

instrumento pérfuro-cortante (8 casos, ou 13,33 %), revelando a agressividade do ato.

Quanto à região do corpo atingida pela lesão fatal, em 25 dos casos a lesão foi

perpetrada contra a cabeça da vítima (41,67%) e em 25 casos a lesão fatal foi desferida na

região do tórax (41,67%). As demais regiões que foram evidenciadas neste estudo foram

pescoço (7 casos, ou 11,67 %) e tórax (1 caso, ou 1,67 %). Em dois casos (3,33%) todo o

corpo da vítima foi atingido, a morte em um destes casos se deu por carbonização e em outro

caso por espancamento.

O fato das regiões escolhidas para a lesão fatal serem mais prevalentes em tórax e

cabeça mostram a intenção realmente homicida do autor, descartando a possibilidade de

serem classificadas como lesão corporal seguida de morte, onde a intensão do autor seria a de

lesar a vítima e não de matá-la.

O instrumento perfuro-contundente utilizado em 22 casos (33,6%) para provocar a

lesão fatal também demonstra esta característica de intensão homicida ao provocar a lesão.

Nos casos estudados todos os instrumentos perfuro-contundentes foram projeteis de arma de

fogo, ou seja, percebe-se claramente a intensão do autor em matar a vítima; não só de lesá-la.

Quando se analisa isoladamente os 15 casos (25%) onde foi utilizado o

instrumento contundente para provocar a lesão fatal, verifica-se que em 13 destes casos a

cabeça foi o local escolhido pelo autor para desferir o golpe fatal, e em apenas um caso a

lesão fatal foi perpetrada contra o tórax, e como já dito anteriormente, um caso a morte

sobreveio por espancamento, ou seja, as lesões foram desferidas contra todo o corpo da

vítima.

Já a análise isolada dos 15 casos (25%) onde foi utilizado o instrumento pérfuro-

cortante para provocar a lesão fatal, identifica-se que em 13 destes casos o autor desferiu o

golpe fatal contra o tórax da vítima, pela facilidade de se atingir uma região nobre que tem a

maior área exposta. Em um caso analisado o autor desferiu golpes fatais não só no tórax, mas

42

também no pescoço da vítima, e em um caso o local atingido pelo instrumento pérfuro-

cortante foi o pescoço.

Dos 60 casos estudados, 45 (75%) tiveram sua autoria apontada no registro da

ocorrência pela Policia Militar e em 15 casos (25%) não houve inicialmente qualquer registro

de autoria. Sobre a motivação, 14 casos (23,3%) não tiveram inicialmente a sua motivação

apontada.

Figueiredo et al. (2013) asseveram que qualquer classificação da motivação dos

crimes de homicídio resume-se à tentativa de classificar representações subjetivas das

testemunhas, dos agentes de investigação sobre as manifestações de testemunhas e de outros

elementos relacionados ao crime e do pesquisador deste conjunto de percepções. Em síntese,

pode-se dizer que as classificações constituem tentativas de padronização de fatos sociais

multifacetados e que, no caso dos crimes de homicídio, são reconstruídos a partir da

perspectiva dos atores envolvidos no procedimento de inquérito policial.

Segundo Moraes (2014) ocorre que é grande a possibilidade de a pessoa que

aciona a polícia para comunicar uma ocorrência de homicídio ser, ela própria, uma

testemunha presencial do fato criminoso ou ter alguma relação com vítimas ou autores. Isso a

torna uma testemunha potencial para a investigação que será iniciada. Além disso, o ato do

acionamento é sempre um momento de forte emoção, aspecto que pode favorecer a extração

de dados e informações que, posteriormente, por uma infinidade de razões, podem não ser

obtidas.

Ainda de acordo com Moraes (2014), não existe consenso a respeito do momento

mais adequado para que as testemunhas prestem seus depoimentos. Enquanto alguns autores

defendem a ideia de que as testemunhas não devem ser ouvidas instantes após o crime (pois o

momento de forte emoção faria com que fornecessem informações desencontradas e nem

sempre verdadeiras), outros já dizem que o ideal é que os depoimentos sejam colhidos o mais

rapidamente possível (pois, sob forte emoção, testemunhas tendem a falar tudo o que sabem

sobre o caso, sem pensar em possíveis consequências ou represálias).

Logo, as informações que são colhidas pela Polícia Militar quando da lavratura do

Registro de Evento de Defesa Social (REDS, antigo Boletim de Ocorrência) e que apontam

inicialmente a autoria do crime, bem como a sua motivação, podem ser confirmadas ou

descartadas posteriormente pela Polícia Judiciaria quando da investigação do crime. Assim

como os casos em que a autoria ou motivação não foi inicialmente apurada podem ser

elucidados quando da investigação criminal.

Quanto à motivação do crime, considerando-se os homicídios ditos passionais,

onde o autor possui envolvimento emocional com a vítima, seja por relação afetiva direta ou

43

indireta (relacionamento amoroso com a vítima ou com alguém que se relaciona com a

vítima) foram 15 casos (25%), e todos estes tiveram a sua autoria inicialmente apurada.

Um dado que cabe ressaltar, ao analisar-se a distribuição por sexo, é que a

motivação apontada nos sete casos de homicídios, cujas vítimas são do sexo feminino, foi

passional. Logo, 100% dos homicídios perpetrados contra mulheres tiveram motivação

passional. Nos outros oito casos a vítima era do sexo masculino, sendo que em um caso foi

inicialmente apurado como se tratando de motivo passional por relacionamento homossexual

e em quatro casos a autoria apurada foi a companheira da vítima.

Seis casos (10%) tiveram como motivação apontada o roubo, sendo que em três

casos (5%) a vítima foi roubada, caracterizando o latrocínio, previsto no parágrafo 3º, artigo

157 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940 (código penal), que diz o seguinte:

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave

ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à

impossibilidade de resistência:

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a

quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo

da multa. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)

Em outros dois casos (3,3%), a vítima do homicídio era na verdade o autor de

uma tentativa de roubo, onde o autor do homicídio, ao defender-se, matou o autor da tentativa

de roubo. Logo, avoca-se a excludente de ilicitude prevista no Código Penal, Decreto Lei nº

2.848 de 07 de dezembro de 1940, que em seu art. 23, assevera que “não há crime quando o

agente pratica o fato: II - em legítima defesa (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) ”.

Em um caso (1,67%), a vítima acusou o autor de roubo. Tal motivo torna-se ainda

mais fútil quando se explora o motivo inicialmente alegado, de que a vítima havia acusado o

autor do furto de um rolo de papel higiênico. Como os envolvidos eram pessoas em situação

de indigência, moradores de rua, pode ser que outros fatores ligados ao abuso de álcool e/ou

outras substâncias estivessem envolvidos no ato. O que se observa neste estudo é que, a

motivação, seja ela qual for, tem sempre como finalidade e objetivo um motivo torpe e fútil

que, é o ato de matar e, portanto, de suprimir a presença do outro.

O estudo da presença de iluminação pública no local do crime vem ao encontro

das teorias de que, a falta de iluminação pública nas ruas das cidades, contribui

significativamente para a falta de segurança da população (AVER, 2013).

Para Aver (2013), áreas urbanas que melhoram a iluminação podem aumentar a

percepção de segurança e contribuir para a diminuição dos índices de criminalidade. Ao

analisar-se as características ambientais dos locais onde os delitos ocorrem pode-se inferir

44

quais são tais características e eliminá-las ainda na fase do projeto. Assim, o autor cita a

iluminação como uma grande aliada das cidades na luta contra a violência urbana, já que é

uma grande inibidora de atos de vandalismo, roubo e agressões. Neste estudo, foi a presença

de iluminação que esteve associada ao uso de álcool, talvez porque associada à presença de

bares. E locais sem iluminação associaram-se a 60% dos crimes passionais.

Segundo Ferreira (2011), o ambiente adequado às condições de salubridade das

moradias e consequentemente da qualidade de vida dos indivíduos também depende

diretamente do nível de atendimento dos serviços de saneamento e abastecimento de água.

Assim, utilizou-se este critério para avaliação das condições de moradia na área adjacente ao

local do crime.

Vasconcelos e Costa (2005) apresentam alguns dados sobre a violência no Distrito

Federal (a partir das estatísticas de mortalidade do Ministério da Saúde – Sistema de

Informações sobre Mortalidade, 2002) e refletem sobre a distribuição espacial dos índices

apontando que, aquelas regiões com menor renda familiar, caracterizadas pela vulnerabilidade

e acesso precário aos equipamentos de infraestrutura urbana (educação, saúde, transporte,

habitação, lazer, e ainda, a dificuldade de inserção no mercado de trabalho), apresentam as

maiores taxas de homicídio. Assim, foram levantados dados sobre a existência de áreas de

lazer e escolas no perímetro do bairro onde ocorreram os homicídios. De fato, neste estudo, o

acesso precário a alguns equipamentos de infraestrutura urbana, como escolas e lazer

associou-se à criminalidade. Este dado pode estar também relacionado à falta de perspectivas

que podem provocar comportamentos de intolerância à frustração mais agressivos (RIBEIRO

e CANO, 2016).

O critério de possuir bares visíveis no perímetro de ocorrência do crime mostrou-

se necessário devido à alta incidência de crimes envolvendo o uso imoderado de álcool. Neste

quesito, foi quantificado o número de bares dentro do perímetro do crime. De fato, encontrou-

se associação entre a presença de bares, uso de álcool e outras drogas, crimes passionais e uso

de armas de fogo.

O bar é uma construção urbana propícia à ocorrência de atos desviantes onde, de

acordo com a teoria dos padrões criminais, coexistem no mesmo espaço um motivado

ofensor, potenciais vítimas, e muitas vezes, ausência de segurança. Contudo, deve-se salientar

que a área a qual o bar está localizado pode influenciar a ocorrência do crime, de modo que,

existem elementos socioeconômicos e estruturais da própria região que podem se contrapor

aos efeitos negativos da presença do mesmo e moldar um ambiente seguro (LIPTON e

GRUNEWALD, 2002).

45

Nesta linha de pensamento, e considerando-se a análise de teor alcoólico e exame

toxicológico, verificou-se que em apenas 15% das vítimas foi realizada. Isso se deve ao fato

de que a requisição desses exames não obedeciam a um protocolo próprio no ano estudado,

cabendo ao médico legista responsável pelo exame pericial a solicitação ou não dos referidos

exames quando avaliasse como fundamental. Estes dados demonstraram a necessidade de

uma maior padronização no protocolo de investigação, no sentido de coletar exames de teor

alcoólico e toxicológico das vítimas, para possibilitar maiores estudos sobre o tema, bem

como políticas públicas de prevenção. Assim, a partir de 2016, e dentro da pesquisa deste

trabalho, foi instituído protocolo interno para a solicitação destes exames em todos os casos

de homicídio, afim de ajudar na instrução do inquérito e processo criminal. Quando

analisados os resultados dos exames de teor alcoólico, tem-se que dois terços destes foram

positivos. Tal dado pode indicar a relação entre o consumo de álcool e outras drogas e o

aumento da ocorrência do crime de homicídio.

POUSO ALEGRE

Pouso Alegre é um município que possui uma área de 543,068 km², e sua

população estimada pelo IBGE em 2016 era de 143.846 habitantes, sendo o segundo

município mais populoso do Sul de Minas e o 17º do estado de Minas Gerais (IBGE, 2016).

Localiza-se às margens da Rodovia Fernão Dias, a 373 km de Belo Horizonte.

Foram levantados 19 casos (31,67%) de homicídio, e a maioria das vítimas eram

homens, brancos, solteiros. Destes, apenas dois casos tiveram como local imediato a zona

rural, e 17 destes homicídios se deram em zona urbana.

Em 16 casos o local de ocorrência do crime tinha iluminação pública satisfatória,

e em apenas três casos os homicídios ocorreram em locais com precária ou nenhuma

iluminação pública. Percebe-se que não houve interferência quanto à presença de iluminação

pública na ocorrência destes crimes.

Dezoito casos aconteceram em locais com água encanada, e apenas um caso teve

como local imediato uma localidade onde não havia água encanada. Assim, presume-se que as

condições de moradia não foram determinantes para a ocorrência dos crimes.

Quanto à presença de áreas de lazer o perímetro do bairro onde ocorreram os

crimes, em seis casos não havia áreas de lazer, enquanto nos outros 13 casos, identificou-se a

presença de áreas de lazer no bairro. Tal observação vai ao encontro à afirmação de que a

falta de área de lazer predisporia à maior ocorrência de crimes de homicídio (ABRAMOVAY

e PINHEIRO, 2003). Não obstante, esta afirmativa mostra-se falaciosa no município de Pouso

Alegre.

46

Enquanto que em oito casos não havia escola no perímetro do bairro, em 11 casos

havia. Percebe-se assim, que a presença de escolas não foi um fator determinante para a

ocorrência ou não destes crimes. Quanto à presença de bares visíveis no perímetro do crime,

em 12 casos não havia bares visíveis e em sete casos havia um bar visível no perímetro.

Percebe-se que há pouca relação entre a ocorrência de bares no perímetro do crime nesta

localidade. Tais dados apontam que não se pode correlacionar, no presente estudo, uma

relação entre espaço urbano e a criminalidade nesta localidade.

Na análise de dados deste município, quanto à motivação do crime, encontrou-se

clara relação entre o uso de drogas e os crimes ocorridos, uma vez que a motivação

inicialmente apontada em 47,3% dos crimes deste município se deve ao uso de droga. Os

instrumentos ou meios mais utilizados para cometer os crimes neste município foram perfuro-

contundente (n=6, 31,5%) e pérfuro-cortante (n=6, 31,5%).

EXTREMA

Extrema é um município cuja população estimada era de 33.082 habitantes em

2016 (IBGE, 2016). Situa-se a 492 km da capital do Estado de Minas Gerais. Seu nome deve-

se à sua localização geográfica: sua zona urbana é a cidade mais ao sul de Minas Gerais. É o

último município mineiro para quem deixa o Estado em direção a São Paulo pela rodovia

Fernão Dias (BR-381), que liga as capitais São Paulo e Belo Horizonte.

No presente estudo, foram levantados nove casos (15%) de homicídio, sendo que

houve a interferência de um único episódio, ocorrido em zona rural. Devido a isto, o

município de Extrema apresenta-se discrepante dos demais, por ter apresentado uma taxa de

55,5% de homicídios cujas vítimas eram mulheres. Nesta localidade, a maioria das vítimas

eram mulheres, brancas, solteiras. As outras localidades onde ocorreram homicídios cujas

vítimas eram mulheres foram Munhoz e Bueno Brandão. Porém o número de homicídios

nestas localidades foi muito baixo para considerar que há relevância estatística em relação ao

sexo. Este episódio também explica o fato do município de Extrema apresentar o maior índice

de homicídios cometidos por motivo passional da região (77,7%).

Porém, o município de Extrema, apesar de figurar no presente estudo como o

segundo em números de casos absolutos, não pode ser encarado como um local de alta

criminalidade homicida, uma vez que houve a interferência de um único episódio com a morte

de cinco pessoas simultaneamente, da mesma família, em que o autor, por motivo passional,

com o uso de arma de fogo, cometeu os crimes e suicidou-se em seguida.

Pela interferência do mencionado caso que vitimou toda uma família em um

único local e um único ato, não se pode afirmar que a presença de áreas de lazer ou escolas

47

possa interferir no processo criminal, uma vez que os citados casos ocorreram todos em uma

área onde não havia área de lazer ou escola.

Em oito dos nove casos não havia bares visíveis no perímetro do crime. Apenas

um único caso havia um bar visível no perímetro do crime. Assim, não se pode relacionar a

ocorrência dos crimes à presença de bares no perímetro nesta localidade.

Não foi evidenciado no presente estudo uma relação entre espaço urbano e a

criminalidade nesta localidade. Porém sugere-se a implementação de políticas públicas

municipais para a instalação de iluminação nas zonas rurais, par aumentar a sensação de

segurança do cidadão residente nestas áreas.

SANTA RITA DO SAPUCAÍ

Santa Rita do Sapucaí é um município cuja população estimada era de 41.425

habitantes em 2016 (IBGE, 2016). É conhecida como "O Vale da Eletrônica", devido aos

centros educacionais e empresas dessa área situados na cidade. O município está

compreendido numa área de 321 quilômetros quadrados e dista 420 quilômetros da capital do

estado, Belo Horizonte.

Nesta localidade foram levantados cinco casos (8,3%) de homicídios, onde a

maioria das vítimas eram homens, brancos, solteiros, sendo que todos os casos se deram em

zona urbana, em todos a iluminação pública era presente e satisfatória, havia água encanada e

escolas no bairro. Estas observações mostram que a criminalidade no município não está

ligada às condições de moradia, iluminação pública ou presença de escolas.

Quanto à presença de áreas de lazer no perímetro do bairro onde ocorreram os

crimes, em dois casos não haviam áreas de lazer, enquanto nos outros três casos, havia a

presença de áreas de lazer no bairro. Percebe-se que a presença de áreas de lazer não foi um

fator determinante para a ocorrência dos crimes.

Não houve uma motivação que se destacasse das demais nesta localidade, pois

cada um dos cinco casos teve uma motivação apontada diferente do outro (Causas ignorada,

passional, separar briga, uso de drogas e uso imoderado de álcool), não se podendo traçar uma

relação entre as ocorrências dos crimes e uma maior motivação naquele município. Já quando

se trata do instrumento ou meio escolhido, 60% das vítimas foram mortas com o uso de

instrumentos perfuro-contundentes, ou seja, tiros.

Em contrapartida, quando se analisa a presença de bares visíveis no perímetro do

crime, em apenas dois casos não havia bares visíveis. Nos outros três casos, em dois casos

havia um bar visível no perímetro, e em um caso havia três bares visíveis no perímetro.

Percebe-se que neste município há relação entre a ocorrência de bares no perímetro do crime.

48

Tal padrão de concentração corrobora com as teorias que analisam a relação entre

criminalidade e álcool, sugerindo que existe uma associação espacial positiva entre a presença

de estabelecimentos que vendem bebida alcoólica e crimes violentos (ZHU et al., 2004;

LIPTON e GRUNEWALD, 2002).

Assim, foi evidenciado no presente estudo uma relação entre espaço urbano e a

criminalidade nesta localidade, onde há relação entre a ocorrência de bares no perímetro do

crime.

5.1 Aplicabilidade

Para Figueiredo et al. (2013), levantar a discussão acerca da violência é questão

de utilidade pública, haja em vista tratar-se de problemática que dissemina o medo, impõe

custos socioculturais e políticos, além de gerar reações pautadas igualmente na violência.

Dentro deste conceito, insere-se a aplicabilidade social do presente estudo, uma vez que os

resultados obtidos apontaram fatores sociais envolvidos no crime de homicídio ocorridos nas

localidades estudadas, que são passíveis de intervenção por parte do Estado.

No município de Pouso Alegre, evidencia-se como fator sociocultural

determinante a ocorrência de uso, e consequentemente, de tráfico de drogas nesta localidade.

Portanto, sugere-se como política de prevenção de novas ocorrências, o maior combate ao

crime de tráfico de drogas, com o maior uso do aparato de inteligência policial para a

identificação e combate dos focos de tráfico de drogas como fator passível de resolução por

parte do Estado.

Nos locais deste município, considerando-se a ocorrência dos crimes de

homicídio, identificou-se que, em 68,4% dos casos havia áreas de lazer no bairro. Portanto,

assinala-se que uma atitude de prevenção passível de implementação imediata e de baixo

custo, seria a utilização destas áreas de lazer para criação de programas de prevenção social à

criminalidade, que possuam foco na prevenção e na redução de homicídios dolosos de

adolescentes e jovens, tais como o “Programa Fica Vivo! ”, do Governo do Estado de Minas

Gerais. O uso de drogas, como motivação do crime, ao mostrar-se associado à presença de

iluminação, água encanada, áreas de lazer, escolas, e bares, pode revelar que, estratégias de

educação mais adequadas precisam ser implementadas.

No município de Extrema, a despeito de não ser uma localidade com habituais

índices elevados de homicídios, evidencia-se como fator sociocultural determinante nesta

localidade a ocorrência de crimes passionais, sugerindo-se como política de prevenção de

novas ocorrências, uma maior abordagem educativa nas escolas sobre o tema, com palestras

49

para pais e alunos acerca da necessidade de prevenção dos crimes deste gênero como fator

passível de resolução por parte do Estado. Cabe, entretanto, acrescentar ainda que, a partir dos

resultados observou-se que, dos três municípios estudados, apenas Extrema não figura como

localidade com habituais índices elevados de homicídios. Na realidade, o destaque deste

município no presente estudo relacionou-se à ocorrência de um único episódio que vitimou

cinco pessoas de uma mesma família.

No município de Santa Rita do Sapucaí, evidencia-se como fator sociocultural

determinante a ocorrência de crimes em locais com a presença de bares no perímetro,

sugerindo-se como política de prevenção de novas ocorrências, a criação de leis municipais

que restrinjam e fiscalizem o funcionamento de bares em localidades com alto índice de

criminalidade violenta como fator passível de resolução por parte do Estado.

Este estudo ao apontar fatores sociais determinantes ao crime, mostra a

necessidade de intervenções, que possam prevenir e diminuir os índices da criminalidade

violenta nos locais estudados. Desta forma, foram propostas políticas de prevenção de novas

ocorrências para os municípios de Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí, que poderão ser

posteriormente estendidas a outras regiões a ser avaliadas dentro do protocolo deste estudo.

5.2. Impacto Social

O “Programa Fica Vivo!” é um programa de prevenção social à criminalidade que

possui foco na prevenção e na redução de homicídios dolosos de adolescentes e jovens,

atuando em áreas que registram maior concentração de homicídios e que, frente aos resultados

do presente estudo, poderá ser adaptado ao município de Pouso Alegre. O programa articula

dois eixos de atuação: Proteção Social (promove oficinas de esporte, cultura e arte; realiza

projetos locais, de circulação e institucionais; faz atendimentos individuais dos jovens e

promove Fóruns Comunitários e articula com os serviços públicos para encaminhamentos de

adolescentes e jovens) e Intervenção Estratégica (operacionalização de Policiamento

Preventivo Especializado).

Silveira et al. (2010) avaliaram o “Programa Fica Vivo! ” desde seu início, em

2002, até 2006, por meio de comparações entre as taxas médias de homicídio registradas em

locais em que ele havia sido implantado e as de outras áreas violentas sem o programa. Sua

relevância sobre a dinâmica criminal pôde ser constatada seis meses após a implantação, com

a redução de 47% dos homicídios no local. Como resultado, os autores perceberam uma

tendência de queda, embora não uniforme, nos homicídios nas favelas com programa

implantado, mas não nas localidades onde o programa não havia sido instalado.

50

Foi ainda proposta a criação de um Projeto de Lei municipal, que regulamente a

abertura e funcionamento de bares no município, como fator passível de intervenção para a

prevenção dos crimes de homicídio.

Vários municípios brasileiros já possuem em seu código de postura leis que

regulamentam o funcionamento de bares e estabelecimentos congêneres (distribuidoras de

bebidas, casas de shows, casas noturnas, etc.). No município de Santa Rita do Sapucaí, o

levantamento inicial realizado pela Câmara Municipal aponta que apenas cerca de 15% destes

estabelecimentos possuem a documentação necessária para funcionamento, tais como alvarás

e inspeções do Corpo de Bombeiros. Não existem leis municipais que regulamentem quais

são as exigências de documentações, limites de distância de escolas, ou o horário de

funcionamento dos mesmos.

Sugere-se ainda uma maior atenção do aparato policial para o controle e

operações de apreensão de armas de fogo, uma vez que chama atenção o número elevado de

ocorrência de homicídios por tiro.

Este trabalho traz a possibilidade de mudança de protocolos de investigação do

crime e de novas políticas públicas para a gestão e diminuição da criminalidade em três

municípios de Minas Gerais, que podem servir de modelo para outras regiões.

51

6 CONCLUSÃO

A falta de serviços públicos como áreas de lazer, escolas e iluminação associou-se

a crimes por motivação passional.

Em Pouso Alegre a motivação do crime relacionou-se ao uso de drogas e em

Santa Rita do Sapucaí à presença de bares.

52

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http://www.univas.edu.br/mpcas/docs/normas.pdf.

57

APÊNDICE I – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

58

59

APÊNDICE II – AUTORIZAÇÃO DA SUPERINTENDÊNCIA TÉCNICO CIENTÍFICA

PARA ACESSO AOS DADOS DO POSTO MÉDICO LEGAL DE POUSO ALEGRE

60

APÊNDICE III – QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO

Número do caso: ___________/2015

REDS:___________________________

Data da ocorrência: ____________________ Horário da ocorrência: _______________

Local da ocorrência do óbito: ( ) Hospital ( ) Outros estabelecimentos de saúde ( ) Domicilio

( ) Via pública ( ) Outros

Informações sobre a Vítima:

Idade: ____________

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Cor: ( ) Branca ( ) Preta ( ) Parda ( ) Indígena ( ) Amarela

Situação Conjugal: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Separado/Divorciado ( ) União estável

Ocupação Habitual: ________________________________________

Local da ocorrência do fato que gerou o óbito segundo o REDS:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Causa da Morte: _____________________________________________________________

Local atingido pela ferida fatal: _________________________________________________

Instrumento ou meio: _________________________________________________________

Foi realizado exame teor alcoólico ( ) Sim Resultado ________________________ ( ) Não

Foi realizado exame toxicológico ( ) Sim Resultado _________________________ ( ) Não

Visita ao Local da ocorrência: ( ) Sim ( ) Não

( ) Zona Urbana ( ) Zona Rural

Possui iluminação Pública ( ) Sim ( ) Não

Água encanada ( ) Sim ( ) Não

Possui área de lazer no perímetro do Bairro ( ) Sim ( ) Não

Possui escolas no perímetro do Bairro ( ) Sim ( ) Não

Possui bares visíveis no perímetro ( ) Sim Quantos? ______________ ( ) Não

Foi apurada a autoria do crime ( ) Sim ( ) Não

Motivação ligada a uso/tráfico de drogas ( ) Sim ( ) Não

Motivação passional/sentimental ( ) Sim ( ) Não

Outras Motivações: ___________________________________________________________

61

APÊNDICE IV – TABELA 1

Tabela 11 - Taxas de homicídios (por 100 mil habitantes) e distribuição dos homicídios por

municípios

Municípios de

ocorrência

Número

absoluto de

homicídios –

2015

Estimativa

populacional

para 2015

Número de

homicídios

por 100.000

habitantes

Participação no

total de crimes

por homicídio

(%)

Borda da Mata 2 18.682 10,7 3,3

Bueno Brandão 1 11.223 8,9 1,7

Camanducaia 2 21.955 9,1 3,3

Cambuí 3 28.669 10,5 5,0

Conceição dos Ouros 1 11.262 8,9 1,7

Cordislândia 1 3.573 28,0 1,7

Extrema 9 33.082 27,2 15,0

Inconfidentes 2 7.290 27,4 3,3

Itapeva 2 9.436 21,2 3,3

Jacutinga 3 24.930 12,0 5,0

Monte Sião 1 23.022 4,3 1,7

Munhoz 2 6.304 31,7 3,3

Ouro Fino 2 33.390 6,0 3,3

Pouso Alegre 19 143.846 13,2 31,7

Santa Rita do Sapucaí 5 41.425 12,1 8,3

São Gonçalo do Sapucaí 3 25.274 11,9 5,0

Senador José Bento 1 1.735 57,6 1,7

Silvianópolis 1 6.283 15,9 1,7

Fonte: Fonte: Elaborada pela autora (2017) e IBGE (2016).