hoje20

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Variações Canção do Exílio

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CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá.Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem que ainda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias.

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Analise:

• Romantico ,idealiza • extremamente nacionalista• Saudosista• Comparação de qualificação

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Nova canção do exílioLuis Fernando Verissimo

Minha terra tem PalmeirasCoríntians, Inter e Flamas pelo que se viu na Argentina não jogam mais futebol por lá.

Os amigos que aqui gorjeiamdizem que a coisa vai aos trancosFalam de promessas de aberturae de um suposto novo Santos

Nosso céu tem mais estrelas,mas no chão continua o assombro:a melhor conjunção do horóscopoé a de quatro estrelas no ombro.

Nossas várzeas tem mais floresnossas flores mais pesticidas.Só se banham em nossos riosdesinformados e suicidas.

Nossos bosques têm mais vidaporque nas cidades se morre.Quando não é assaltante ou vizinhoé um motorista de porre.

Em cismar, sozinho, à noite,mais prazer encontrava eu lá.Agora sei que cismar pode,mas sozinho, e à noite, não dá!

Minha terra tem palmeirasmas anda escasso o arvoredo.Tudo se corta, queima e derrubamenos, claro, o Figueiredo.

Minha terra tem primoresde que os amigos me falam até tarde.Lembro samba, feijoada, bons paposmas quem é essa Bruna Lombardi?

Nossos bancos têm mais jurosnossos corruptos mais favores

nossos pobres mais desgraçanossa vida mais amores.

O sabiá, eu sei, já não cantapor questões ecolo-genéticas.Mas ninguém sentiu muita falta,agora existem as Frenéticas.

Descobriram um sabiá renitenteque insistia em cantar, por mania.Seu número não passou na Censura:ele insistia em cantar: "Anistia!".

Leio Veja, IstoÉ, JB,mas o pacote chega atrasado.Estou atualizadíssimocom o Brasil do mês passado.

Minha terra tem novidadesque compreendo mal e mal.Mandei perguntar: "E o biorritmo?"Responderam: "É lento e gradual."

Às vezes nos reunimospara grandes sessões nostalgia.Um disco do Chico, um retratoou uma leva de ambrosia.

Minha tem saboresque tais não encontro eu cá.Todos os vinhos exíliopor um gole de guaraná!

Há coisas que não acreditoentre o trágico e o cômico.Peste suína, carnaval subvencionadová lá - mas o senador biônico...

Minha terra tem palmeirasonde cantava o sabiá.Grande questão só há uma:a Júlia fica com o Cacá?

Mas não permita Deus que eu morrasem que eu volte para lá.

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analise

• Irônico• Novo contexto histórico• Reconhecimento da estrutura embora com novos

elementos (contraditórios)• Discurso objetivo• Senso de justiça• Desconstroi a imagem “pintada” pelo original• Elementos da realidade• Nega o outro (fala da derrota da argentina)

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NOVA CANÇÃO DO EXÍLIOUm sabiá na palmeira, longe.Estas aves cantam um outro canto.O céu cintila sobre flores úmidas.Vozes na mata, e o maior amor.Só, na noite,seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe.Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz.(Um sabiá, na palmeira, longe.)Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe.

Carlos Drummond de Andrade.

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analise

• Nostalgico• Deslocamento de espaço• Retrata a “marca do poeta”

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CANÇÃO DO EXÍLIOMinha terra tem macieiras da CalifórniaOnde cantam gaturamos de VenezaOs poetas da minha terraSão pretos que vivem em torres de ametista,Os sargentos do exército são monistas, cubistas,Os filósofos são polacos vendendo à prestações.A gente não pode dormirCom os oradores e os pernilongosOs sururus em família têm por testemunha a Gioconda.Eu morro sufocadoEm terra estrangeira.Nossas flores são mais bonitasNossas frutas são mais gostosasMas custam cem mil réis a dúzia.Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadeE ouvir um sabiá com certidão de idade !

Murilo Mendes.

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• As coisas for a do seu lugar• Deslocamento cismico

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CANÇÃO DO EXÍLIO ÀS AVESSAS

Minha Dinda tem cascatas Onde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueirosDa ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiam não fazem cocoricó.O meu céu tem mais estrelasMinha várzea tem mais cores.Este bosque reduzidoDeve ter custado horrores.E depois de tanta planta,Orquídea, fruta e cipóNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem piscina,Heliporto e tem jardimFeito pelas Brasil’s GardenNão foram pagos por mim.Em cismar sozinho à noiteSem gravata e paletóOlho aquelas cachoeirasOnde canta o curió.No meio daquelas plantasEu jamais me sinto só.Não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió.Pois no meu jardim tem lagoOnde canta o curió

E as aves que lá gorjeiamSão tão pobres que dão dó.Minha Dinda tem primores de floresta tropicalTudo ali foi transplantado

Nem parece naturalOlho a jabuticabeiraDos tempos da minha avó.Não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió.Até os lagos das carpasSão de água mineral.Da janela do meu quartoRedescubro o PantanalTambém adoro as palmeirasOnde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Finalmente, aqui na Dinda,Sou tratado a pão-de-lóSó faltava envolver tudoNuma nuvem de ouro em pó.E depois de ser cuidadoPelo PC com xodó,não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió.

Jô Soares.

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• Crítica política• Posição ideológica bem marcada• Humor• Irônico• Particularidade espacial

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• Canção do Exílio Facilitada

… sabiá …papá …maná … sofá … sinhá … cá? bah!

José Paulo Paes

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analise

• Exalta a rima• banalização

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• CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA• Minha terra tem palmares

Onde gorjeia o marOs passarinhos daquiNão cantam como os de láMinha terra tem mais rosasE quase tem mais amoresMinha terra tem mais ouroMinha terra tem mais terraOuro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu morraSem que volte pra São PauloSem que eu veja a rua 15E o progresso de São Paulo.

Oswald de Andrade

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análise

• Exaltação de SP

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À MINHA TERRA !

(No momento de avista-la depois de uma viagem.)

De leite o mar - lá desponta Entre as vagas susurrando A terra em que scismando Vejo ao longe branquejar! É baça e proeminente, Tem d'Africa o sol ardente, Que sobre a areia fervente Vem-me a mente acalentar. Debaixo do fogo intenso, Onde só brilha formosa, Sinto n'alma fervorosa O desejo de a abraçar: É a minha terra querida, Toda d'alma, - toda - vida, - Qu'entre gozos foi fruida Sem temores, nem pesar. Bem vinda sejas ó terra, Minha terra primorosa, Despe as galas - que vaidosa Ante mim queres mostrar: Mesmo simples teus fulgores,

Os teus montes tem primores, Que às vezes falam de amores A quem os sabe adorar! Navega pois, meu madeiro Nestas aguas d'esmeraldas, Vai junto do monte ás faldas Nessas praias a brilhar! Vae mirar a natureza, Da minha terra a belleza, Que é singella, e sem fereza Nesses plainos d'alem-mar! De leite o mar, - eis desponta Lá na extrema do horizonte, Entre as vagas - alto monte Da minha terra natal; É pobre, - mas tão formosa Em alcantis primorosa, Quando brilha radiosa, No mundo não tem igual!

Maia Ferreira

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análise

• Nacionalista• Recupera a imagem da inviolabilidade de sua

terra natal, mesmo longe não esquece