histÓrias de livros: um estudo tÉorico e grÁfico

73
UM ESTUDO TÉORICO E GRÁFICO HISTÓRIAS DE LIVROS: DORA MARIA BACÊLO LADEIRO

Upload: others

Post on 20-Oct-2021

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UM ESTUDO TÉORICO E GRÁFICOHISTÓRIAS DE LIVROS:

DORA MARIA BACÊLO LADEIRO

RELATÓRIO DE PROJETO ORIENTAÇÃO Professor Joaquim Antero Magalhães Ferreira

PROJETO PARA OBTENÇÃO DE GRAU DE MESTRE Mestrado em Design Gráfico e Projetos EditoriaisFaculdade de Belas Artes da Universidade do PortoAno letivo 2018/2019

PORTO, 2019

AGRADECIMENTOS

à minha família, pelo incentivo

ao Filipe, pelo apoio

ao Marco e à Catarina, pela amizade

à Marta e à Elisa, pela disponibilidade

à Lourdes Pereira e à Lurdes Paiva, pela ajuda

ao professor Antero Ferreira, pela dedicação

e a todos os que contribuiram para este projeto

Abílio BandeiraAna FreitasJoão AparícioJorge SilvaJosé Mário SantosJosé Rui Teixeira

RESUMO

PALAVRAS-CHAVE

livros; histórias; design editorial; grafismos; inspiração

O objeto Livro — duradouro suporte de trans-missão de informação — tem a capacidadede contar histórias para além daquelas nele impressas. O presente projeto surge do desejo,por parte da autora, de aprofundar conheci-mentos acerca do Livro, e dos seus responsá-veis, através destas histórias. Paralelamente, e em simultâneo, é propósito da mesma, continuar a prática do design editorial no seguimento do primeiro ano de mestrado.

Numa primeira fase, foram analisados livros que marcaram a história deste objeto, desde os primeiros suportes de escrita até ao livro atual, bem como considerações sobre o seu futuro. A seguir, observaram-se outros que representam uma determinada categoria como Livros Proibidos e Livros Destruídos. Por fim, fez-se um estudo sustentado na reali-zação de entrevistas, acerca dos responsáveis pelo livro tal como o encontramos nos nossos dias, começando na conceção do livro, com o Autor, e terminando no renascimento do mesmo, com o Conservador-restaurador. Na segunda fase, deu-se uso aos grafismos das obras analisadas, como inspiração, no design dos artefactos que constituem o projeto.

Desta forma, este projeto pretende ser uma coletânea de histórias e uma narrativa sobre a exploração do tema Livro à luz da perspetivado design editorial, tanto em termos de con-teúdo como em termos gráficos.

HISTÓRIAS DE LIVROS

ABSTRACT

KEYWORDS

books; stories; editorial design; graphics; inspiration

The object Book — long-lasting tool for the transmission of information — has the ability to tell stories beyond the ones printed in it. The current project appears from the desire, of the author, to deepen the knowledge on the Book and those responsible for it, using these stories. In parallel, and at the same time, it’s the author’s intention to further the editorial design practice following the first year of the master’s degree.

The first step was to analyze the books that define the history of this object, from the first writing tools to the present-day book, as well as considerations of its future. Then, others which represent a certain category, such as Forbiddenand Destroyed Books. Finally, a study sustained on interviews, of those responsible for the book nowadays, starting from the conception of the book, with the Author, and finishing on the rebirth of it, with the Conservator-restorer. The second step was to use the graphics of the analyzed books, as inspiration, for the design of the artefacts that compose the project.

Therefore, this project is a collection of stories and an investigation on the theme Book in light of the perspective of editorial design, when it comes to the content, but also the graphics.

HISTÓRIAS DE LIVROS

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIG. 1, p. 27The judgement of the dead in the presence of Osiris

FIG. 2, p. 31Diamond Sutra, 868

FIG. 3, p. 35The Book of Kells, TCD MS 58, folio 204r, Luke 4:7 – 13, Trinity College Dublin

FIG. 4, p. 39Apocalipse do Lorvão, PT-TT-MSML-B-44_m0136

FIG. 5, p. 39Apocalipse do Lorvão, PT-TT-MSML-B-44_m0137

FIG. 6, p. 43Biblia Latina, Gutenberg Bible or 42 Line Bible

FIG. 7, p. 47The Canterbury Tales, 2.ª ed., folio 21v

FIG. 8, p. 47The Canterbury Tales, 2.ª ed., folio 22r

FIG. 9, p. 51The Plantin Polyglot Bible. Biblia Sacra Hebraice, Chaldaice, Graece, & Latine

FIG. 10, p. 55 The Story of the Glittering Plain, 1891, University of Iowa, page 4

FIG. 11, p. 55The Story of the Glittering Plain, 1891, University of Iowa, page 5

FIG. 12, p. 59Leaves of Grass, Grabhorn Press, 1930

FIG. 13, p. 63Sheila Hicks, Weaving as Metaphor, 2006

FIG. 14, p. 69Page from The Voynich Manuscript

FIG. 15, p. 69Page from The Voynich Manuscript

FIG. 16, p. 73Tristram Shandy, 1.ª ed.

FIG. 17, p. 77Married Love, Marie Stopes, 1918

FIG. 18, p. 81Decadência, Judith Teixeira, 2.ª ed.

FIG. 19, p. 85House of Leaves, Mark Z. Danielewski, p. 138

FIG. 20, p. 85House of Leaves, Mark Z. Danielewski, p. 139

HISTÓRIAS DE LIVROS

LISTA DE ABREVIATURAS

a.C.

c.

d.C.

ed.

fig.

figs.

m.

n.

prof.

rest.

séc.

vol.

BD

CDU

EB

EUA

FBAUP

FLUP

PSR

UCP

UP

antes de Cristocerca dedepois de Cristoediçãofigurafigurasmorreu emnasceu emprofessorrestauradoraséculovolumeBanda DesenhadaClassificação Decimal UniversalEscola BásicaEstados Unidos da AméricaFaculdade de Belas Artes da Universidade do PortoFaculdade de Letras da Universidade do PortoPartido Socialista Revolucionário Universidade Católica PortuguesaUniversidade do Porto

HISTÓRIAS DE LIVROS

ÍNDICE

ResumoAbstractLista de IlustraçõesLista de AbreviaturasIntrodução

ESTADO DA ARTE

O Livro dos Mortos [c. 1250 a.C.]Sutra Diamante [868]Livro de Kells [800 – 900]Apocalipse do Lorvão [1189]Bíblia de 42 Linhas [1456]Os Contos de Cantuária [1483]Bíblia Poliglota de Plantin [1573]História da Planícia Brilhante [1891]Folhas de Relva [1930]Tecer como Metáfora [2010]

OBRAS DE ESTUDO

O Manuscrito de Voynich [xv – xvi] A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, Cavalheiro [1759 – 67]Amor Casado ou Amor no Casamento [1918]Decadência [1923]Casa de Folhas [2000]

CASOS DE ESTUDO

Abílio BandeiraJosé Rui TeixeiraJorge SilvaJosé Mário SantosLurdes PaivaJoão AparícioAnabela BacêloAna Freitas

Fichas Técnicas das ObrasConclusãoFontes e Referências

7

9

11

13

17

25

29

33

37

41

45

49

53

57

61

67

71

75

79

83

23

65

91

93

95

97

99

101

103

105

87

107

125

129

1.

2.

3.

ANTES DO PAPEL

ERA DO PAPEL

MANUSCRITOS MEDIEVAIS

MANUSCRITO PORTUGUÊS

TIPOS MÓVEIS

XILOGRAVURA

OFICINAS TIPOGRÁFICAS

PADRÕES DE BELEZA

REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA

ATUALIDADE E FUTURO

LIVROS MISTERIOSOS

LIVROS ÚNICOS

LIVROS PROIBIDOS

LIVROS DESTRUÍDOS

LIVROS CURIOSOS

AUTOR

EDITOR

DESIGNER

ENCADERNADOR

ALFARRABISTA

BIBLIOTECÁRIO

CONSUMIDORA

CONSERVADORA-REST.

HISTÓRIAS DE LIVROS

INTRODUÇÃO

Na sequência do primeiro ano do Mestrado emDesign Gráfico e Projetos Editoriais, este proje-to é uma continuação da aprendizagem acerca do objeto Livro, e da exploração da disciplina do design editorial.

Assim, o projeto tem como objetivo, numa pri-meira fase, estudar teórica e graficamente vá-rios exemplares de Livro ao longo do tempo e,numa segunda fase, dar uso aos resultados des-se estudo para a criação de um conjunto de artefactos, inspirado, visualmente, nas obras analisadas. Pretende-se contar histórias acerca dos livros do nosso passado, da nossa História, mas também ouvir histórias atuais de quem lida com livros no seu dia-a-dia, numa altura em que os formatos digitais monopolizam a sociedade, hipotecando o futuro do livro.

Desta forma, o projeto divide-se em duas partes,correspondentes a dois livros: o primeiro (Rela-tório), intitulado Histórias de livros ; e o segundo (Projeto), Conversas de livros.

Ambos são um exercício de design editorial inspirado nas obras analisadas e com foco nalegibilidade dos textos.

17

HISTÓRIAS DE LIVROS

HISTÓRIAS DE LIVROS

1.ª PARTE A primeira parte deste projeto e, portanto, o presente livro, estrutura-se da seguinte for-ma: 1. Estado da Arte, 2. Obras de Estudo e 3. Casos de Estudo. Pretende-se, no Estado daArte, fazer uma breve introdução à história do livro ao longo do tempo, dando uso a obras que refletem importantes momentos nesta história. Começando por perceber os primeiros suportes de escrita utilizados e criados pelo Homem, ainda antes do livro ter o formato com o qual estamos familiarizados atualmente, passando pela invenção do papel por Ts’ai Lun na China, e a impressão com tipos móveis por Gutenberg na Alemanha, até ao livro atual, e reflexão sobre o seu futuro, com recurso a obras que são verdadeiros marcos da História do Livro.

O segundo capítulo, Obras de Estudo, dedica-se ao estudo e análise de obras, que, não se inserindo na História do Livro, continuam a ser relevantes para o estudo deste objeto e representam um tipo de livro: livros misteriosos, livros únicos, livros proibidos, livros destruídos e livros curiosos. Com foco na obra em si, no seu conteúdo e grafismos, no autor e nas circunstâncias.

Os títulos das obras foram traduzidos para português, pela autora, de forma a uni-formizar a leitura; no entanto, o título original de cada obra pode ser consultado nas Fichas Técnicas das Obras. Este projeto rege-se pelo Novo Acordo Ortográfico.

Para estes capítulos foram usados, como referência, livros como O Livro: Impressão e Fabrico de Douglas McMurtrie; História do Livro de Svend Dahl, O Aparecimento do Livro de Lucien Febvre e Henri-Jean Martin (livros clássicos acerca do tema), de forma a estru-turar toda a informação, complementando com livros mais recentes, como A Companion to the History of the Book, editado por Simon Eliot e Jonathan Rose e History of the Book in 100 Books de Roderick Cave e Sara Ayad, entre outros.

O último capítulo, Casos de Estudo, apresenta entrevistas (orais e escritas) que pre-tendem oferecer um panorama geral dos responsáveis pelo Livro na atualidade. Foram assim realizadas oito conversas onde cada uma representa uma fase do processo e ‘vida’ do livro, ordenadas temporalmente: 1. Autor, 2. Editor, 3. Designer, 4. Encadernador, 5. Alfarrabista, 6. Bibliotecário, 7. Consumidor e 8. Conservador-restaurador.

À exceção do editor José da Cruz Santos (editora Modo de Ler) todos os contactadosno âmbito deste projeto acederam ao convite de forma positiva. Aquele foi contactado por email, declinando o convite por não poder assumir mais um compromisso; assim, para o substituir no papel de Editor, a Lurdes Paiva, enorme ajuda neste projeto, sugeriu o editor José Rui Teixeira (Cosmorama). Alguns entrevistados eram já conhecidos da autora, enquanto que outros foram sugestão do orientador, Prof. Antero Ferreira.

19

HISTÓRIAS DE LIVROS

Conversas de livros expõe todo o conteúdo das entrevistas realizadas, dando uso aos elementos gráficos recolhidos das obras analisadas na primeira parte do projeto. Todo o trabalho criativo produzido nos dias de hoje é inspirado ou influenciado, propositada-mente ou não, pelo que já foi realizado anteriormente. Tudo o que existe serve como influência na criação de um produto que está ainda por nascer. Assim, as obras estu-dadas na primeira parte são a principal inspiração, do ponto de vista gráfico, para esta segunda parte do projeto. Desta forma, as escolhas gráficas são muito importantes para o projeto, visto que refletem todo o estudo realizado e as que foram inspiradas em deter-minada obra estão devidamente discutidas e explicadas ao porme-nor na Introdução de Conversas de livros.

CONVERSAS DE LIVROS

2.ª PARTE

21

HISTÓRIAS DE LIVROS

ESTADO DA ARTE

O Estado da Arte relata brevemente a história do livro através de uma seleção de obras (livros) que representam um capítulo/marco, nesta história, desde a era antes do papel até ao livro atual. Assim, as obras foram selecionadas de acordo com os seguintes critérios: represen-tação de um marco na história do livro; facilidade de recolha de informação acerca do livro, autor e história; facilidade de recolha de imagens, fotografias e/ou digitalizações do livro; diversidade no género/tipo/assunto do livro (livros religiosos, livros informativos, livros de ficção); grau de popularidade do livro (livros célebres, livros menos conhecidos); história curiosa e interessante acerca do livro//autor/circunstâncias em que foi criado; e, pelo menos uma obra portuguesa. Certas obras selecionadas eram já do conhecimento da autora, enquanto que outras foram descobertas através de pesquisa ou por sugestão de outrem.

Cada parte deste capítulo divide-se em três: 1. Contexto histórico, 2. Obra selecionada e 3. Análise gráfica. Na primeira parte são abordadas as circunstâncias históricas que envolvem a obra e o período da História em questão; na segunda, toda a atenção é focada na obra e no autor; e na terceira é feita uma análise gráfica dos elementos da obra para que sejam utilizados como inspiração no desenho dos artefactos (neste caso, estes são assinalados a vermelho).

Na análise gráfica escolheram-se apenas dados relativos às características físicas/gráficas, sendo que no capítulo das Fichas Técnicas das Obras há um estudo mais aprofundado. Nas dimensões das obras coloca-se sempre a altura primeiro, e a largura a seguir. Quanto às imagens pretendeu-se mostrar ao leitor um spread completo de cada obra, no entanto, isto não foi possível em todos os casos. Aqui, optou-se por apresentar apenas uma página, deixando o outro lado do spread em branco.

1.

23

HISTÓRIAS DE LIVROS

Compreende-se que o primeiro esforço do ser humano para ‘tornar visíveis o pensa-mento e o sentimento de forma duradoura’ (McMurtrie, 1965) foram os desenhos e gravu-ras em pedra. Podemos ainda hoje apreciar alguns dos primeiros registos do homem feitos em pedra/rocha, metal, cerâmica e placas de argila, devido às suas propriedades de conservação. No entanto, muitos registos feitos em materiais deterioráveis como, por exemplo, peles, madeira, cascas de árvore, não duraram até aos nossos dias.1

Por volta de 2900 a.C., os Egípcios criaram um suporte de escrita barato, prático e portátil, que rapidamente se tornou popular — o papiro — feito a partir da planta do mesmo nome que crescia em abundância nas margens do rio Nilo,2 mas que hoje se encontra praticamente extinta.3

Em 1250 a.C., escreveu-se no Egito O Livro dos Mortos de Ani. Este papiro continha fórmulas mágicas e religiosas que serviam para proteger e auxiliar o morto durante a sua viagem para o Duat — o Reino dos Mortos — e em caso de sucesso, atingir a imortalidade. Este livro comprava-se já preparado, acrescentando-se apenas o nome do proprietário; no entanto, não era acessível às classes inferiores, já que custava duas vacas, um escravo, ou seis meses do pagamento de um operário.4 O papiro mais célebre representa o Tribunal dos Mortos perante Osíris e o momento onde o coração de Ani está a ser pesado numa balança contra uma pena, que simboliza Maat, a verdade e a ordem. Se o coração fosse mais leve que a pena, a alma transcendia ao paraíso, enquanto que, se fosse mais pesado, o coração era devorado por Ammut e a alma desaparecia. ‘O coração podia falar, então os fei-tiços asseguravam que este não revelava nenhum facto condenatório acerca do dono.’ (2011)5 Assim, o livro funcionava da seguinte forma: se a fórmula cento e vinte cinco, porexemplo, fosse lida pelo defunto no momento em que é pesado o coração, a balança equilibrava-se magicamente e o morto estava salvo e tornava-se imortal.6 Este papiro foi adquirido pelo Museu Britânico em 1880.7

Ao papiro sucedeu o pergaminho, usado provavelmente desde 1500 a.C. e feito a partir de peles de carneiros, cabra, ovelha ou vitelos, este último de melhor qualidade e chamado velino. O rei de Pérgamo é, normalmente, creditado por esta invenção. Reza a História que quando os egípcios impediram a exportação de papiro para esta cidade, os seus habitantes tiveram de inventar uma nova superfície de escrita. O pergaminho foi aperfeiçoado e como era mais duradouro acabou por ultrapassar o papiro, tornando-se no séc. iv o principal suporte de escrita usado na Europa até ao aparecimento do papel.8

ANTES DO PAPEL

O LIVROS DOS MORTOS [c. 1250 a.C.]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965 (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 24 – 5.

2. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, p. 22.

3. HUNTER, Dard. 1978 (1.ª ed.: 1943)Papermaking: The History and Technique of an Ancient Craft. (cópia da 2.ª ed. de 1947). New York: Dover Publications, p. 18.

4. ROSE-MARIE, e Rainer Hagen. 2006. Egipto. Pessoas — Deuses — Faraós. Lisboa: Taschen, p. 167.

5. Tradução da autora. Original: ‘The heart could speak and so spells ensured that it did not reveal any damning facts about its owner.’MUSEUM, The British. 2011. ‘Journey through the afterlife Ancient Egyptian Book of theDead’. [Consult. 17/06/2019]. https://www.britishmuseum.org/pdf/3665_BOTD_schools_Teachers.pdf.

6. EDITORES Reunidos, S.A. 1998. Egipto: Um Tesouro da Humanidade. Vol. 1. Lisboa: Planeta DeAgostini, pp. 86 – 7.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 2, p. 23.

8. IDEM, ibidem, pp. 31 – 2.

25

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. MUSEUM, British. ‘Collection online: papyrus’. [Consult. 10/07/2019]. https://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details.aspx?objectId=113335&partId=1.

FIG. 1

ANTES DO PAPEL

O LIVROS DOS MORTOS [c. 1250 a.C.]

DIMENSÕES 420 × 760 mm 1

TÉCNICA manuscrito e ilustrado

TINTA preta 2 (texto), branca, vermelha, laranja, amarela e verde (ilustrações)

ANÁLISE GRÁFICA ilustração e texto perfeitamente integrados, texto segue as formas das ilustrações e funciona como parte da imagem; margens superiores e inferiores substanciais

27

2. Características gráficas assinaladas a vermelho, usadas como inspiração para o design editorial dos artefactos Histórias de Livros e Conversas de Livros.Informações mais deta-lhadas acerca das esco-lhas gráficas podem ser encontradas na introdução do livro Conversas de Livros.

HISTÓRIAS DE LIVROS

Diz-se que a invenção do papel foi feita no ano de 105 d.C. por Ts’ai Lun (50 – 121), um alto funcionário da corte imperial, na dinastia Han, que experimentou usar redes de pesca, farrapos, cascas de árvore, cânhamo, para criar uma nova superfície de escrita que substituísse a cara seda, e o pesado bambu, e, assim foi, o primeiro papel produzido com fibras vegetais.1 Após a sua invenção aquele fez um comunicado ao Imperador explicando o processo de fabrico do papel, pelo qual foi muito louvado. Ts’ai Lun, foi também quem criou a primeira fábrica de papel da história na província de Honan, no Turquestão.2

Em 1900, Wang Yuanlu — sacerdote taoista — começou a restaurar uma das Caver-nas de Mil Budas (colónia de trogloditas de 366 d.C.), no deserto do Turquestão e perce-beu que por detrás de um antigo fresco nas paredes havia tijolo e não pedra. Mais tarde, descobriu-se que o tijolo tapava a entrada para uma sala cheia de rolos de manuscritos. Já em 1907, Aurel Stein [(1862 – 1943) investigador célebre na história da China] veio inves-tigar a sala secreta e descobriu mil cento e trinta maços, cada um deles com uma dúzia de rolos, ou mais. Estes documentos datavam de 406 d.C. a 997. Acredita-se que este esconderijo tivesse sido feito por volta de 1035 com o objetivo de impedir que o precioso conteúdo não fosse parar a mãos inimigas.

Entre estes rolos de papel estava um dos documentos mais valiosos da história da humanidade, o mais antigo livro impresso — uma versão chinesa do Sutra Diamante um conceituado texto budista. No final deste livro está uma declaração que indica que foi estampado em 11 de Maio de 868 por Wang Chieh. É este o primeiro impressor de livros e o primeiro livro impresso de que há notícia. Este documento e mais trezentos dos rolos encontrados naquela caverna estão agora entre os grandes tesouros do Museu Britânico.3

ERA DO PAPEL

SUTRA DIAMANTE [868]

1. ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño e Imagen, Universidad de Barcelona — Facultad de Bellas Artes, p. 60.

2. IDEM, ibidem.

3. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 111 – 2.

29

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. LIBRARY, British. ‘The Diamond Sutra’. [Consult. 10/07/2019]. https://www.bl.uk/collection-items/the-diamond-sutra.

ERA DO PAPEL

FIG. 2

SUTRA DIAMANTE [868]

DIMENSÕES c. 5 m total de largura (7 secções) 1

TÉCNICA xilogravura

TINTA preta

ANÁLISE GRÁFICA xilogravura e texto claramente separados

31

HISTÓRIAS DE LIVROS

MANUSCRITOS MEDIEVAIS

LIVRO DE KELLS [800 – 900]

Entretanto, na Europa, os manuscritos eram ainda copiados laboriosamente pelos escri-bas, que conservaram aquilo que possuímos da história e literatura da Antiguidade.

‘Como é grande a nossa dívida para com as gerações de escribas anónimos que co-piaram e recopiaram tantas vezes, durante séculos, para que pudéssemos ter a epo-peia imortal de Homero, os dramas dos grandes trágicos gregos, os diálogos de Platão, as obras científicas de célebres pensadores antigos como Aristóteles e Euclides, a poesia de Vergílio e Horácio — para só mencionar parte de um todo de valor incal-culável!’ (McMurtrie, 1965)1

O livro, tal como o conhecemos agora, foi uma invenção tardia na Europa. A transição do rolo para o códice generalizou-se só no séc. iv, quando os juristas do Baixo Império Romano perceberam que este formato era mais conveniente para os seus livros de leis. Este formato era também prático para os cristãos, que ‘transportavam de um lado para o outro, escondidos nas suas roupas, textos que eram proibidos pelas autoridades Romanas’. (Manguel, 1996)2 As folhas de pergaminho eram dobradas ao meio para formar duas folhas, e os grupos de folhas eram ligados pelas dobras, como ainda se faz hoje em dia. Os textos primitivos eram simples, mas mudaram quando a riqueza e a procura de livros aumentaram.

A partir do séc. vi, na Irlanda, a arte do livro começou a ser aperfeiçoada e, um século depois, após a chegada de São Patrício à Ilha Verde, produziram-se, nos mosteiros irlande-ses, manuscritos de beleza inigualável, perfeitos no que toca à caligrafia e iluminura. Um dos mais belos exemplos é o famoso Livro de Kells.3 Há várias teorias acerca do local onde foi escrito e iluminado e respetiva autoria. Alguns acreditam ter sido em Iona, Escócia, no final do séc. viii, obrigando-se aquele a ser evacuado para Kells devido a ataques Vikings. Mas também há os que acreditam que o livro foi já escrito em Kells, por monges e que, apesar dos vários ataques a esta população, se tenha mantido a salvo, até ser transferido para o Trinity College, em Dublin, em 1661.4 O livro é célebre pela sua beleza, decorações abstratas, imagens de animais, plantas e humanos, que representam a vida e a mensagem de Jesus. Pensa-se que este livro tenha sido reproduzido por quatro escribas e por três artistas, e tinha como finalidade ser exposto e usado em celebrações especiais. Não era adequado ao uso diário visto que, ao contrário das imagens elaboradas e cuidadas, o texto continha passagens em falso ou repetidas.5

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Traduzido por Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 99.

2. MANGEL, Alberto. 2014 (Toronto, 1996). A History of Reading. eBook ed. New York: Penguin Books, p. 62.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 95.

4. IDEM, ibidem, p. 98.

5. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, p. 60.

33

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. DUBLIN, Trinity College. ‘The Book of Kells’. [Consult. 20/06/2019]. https://www.tcd.ie/library/manuscripts/book-of-kells.php.

MANUSCRITOS MEDIEVAIS

FIG. 3

LIVRO DE KELLS [800 – 900]

DIMENSÕES 330 × 255 mm (340 fólios) 1

TÉCNICA manuscrito e iluminado

TINTA preta (texto), azul, verde, amarela, laranja, lilás, vermelha (letras capitulares e decorações)

ANÁLISE GRÁFICA letra capitular muito elaborada e decorada; letras decoradas coloridas no interior; texto alinhado à esquerda; anotações na margem exterior em certas páginas; margem inferior maior que margens restantes

35

HISTÓRIAS DE LIVROS

Na Idade Média, Portugal deparava-se com um clima de instabilidade devido a guerras, doenças e epidemias que amedrontavam os cristãos.1 O Apocalipse, último livro do Novo Testamento, que simboliza o ‘fim do mundo pecador, da luta entre o bem e o mal que terminará com a vitória de Cristo’ (2010), vinha assegurar aos cristãos de que, no final, Cristo iria triunfar, devolvendo-lhes a fé. Porém, este texto precisava de ser interpretado e comentado de forma a a ser inteligível para o comum cristão. É aqui que surge o Comentário ao Apocalipse, pelo monge Beato de Liébana (m. 798), produzido nas Astúrias no séc. viii (cerca de 786). O Apocalipse do Lorvão, copiado em 1189, pelo monge Egeas (ou Egas), no Mosteiro do Lorvão, é uma cópia do original feita pelo monge Beato de Liébana.2

O Apocalipse do Lorvão é talvez uma das primeiras obras primas da arte portu-guesa que se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. Foi para lá levado pelo historiador Alexandre Herculano (1810 – 77), que em 1853 e 1854, andou pelos mosteiros de Portugal à procura de documentos que fossem importantes para a história do nosso país.3 Para além do texto gótico composto por um conjunto de citações, este códice manuscrito contém sessenta e seis iluminuras em amarelo (cor dominante, pigmento venenoso) e vermelho. Nas suas páginas em pergaminho estão imagens de animais, humanos, elementos de decoração geométricos e abstratos, que representam cenas bíblicas e do quotidiano medieval.

Este livro foi considerado pela unesco (em 2015) um dos mais belos documentos da civilização medieval ocidental.4

MANUSCRITO PORTUGUÊS

APOCALIPSE DO LORVÃO [1189]

1. PINHEIRO, Paula Moura. 2015. ‘Visita Guiada — Mosteiro do Lorvão’. [Consult. 16/05/19]. http://ensina.rtp.pt/artigo/apocalipse-do-lorvao-raridade-do-seculo-xii/.

2. TOMBO, Arquivo Nacional da Torre do. 2010. ‘Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 15/05/19]. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091.

3. LUSA. 2015. ‘Livro do Apocalipse do Lorvão considerado memória do mundo da unesco’. [Consult. 15/05/19]. https://www.tsf.pt/cultura/interior/livro-do-apocalipse-do-lorvao-considerado-memoria-do-mundo-da-unesco-4832097.html.

4. FERREIRA, Carolina, e Paulo José Oliveira. 2015. ‘Manuscritos medievais portugueses na Memória do Mundo: Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 20/05/19]. http://ensina.rtp.pt/artigo/manuscritos-medievais-portugueses-na-memoria-do-mundo/.

37

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. TOMBO, Torre do. 2010. ‘Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 16/05/2019]. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091.

FIGS. 4, 5

MANUSCRITO PORTUGUÊS

APOCALIPSE DO LORVÃO [1189]

DIMENSÕES 345 × 245 mm (221 fólios) 1

TÉCNICA manuscrito e iluminado

TINTA preta (texto), vermelha (certas palavras, letras capitulares, iluminuras), amarela (iluminuras)

ANÁLISE GRÁFICA letra capitular decorada e pintada a vermelho, assim como certas outras letras; ilustrações abundantes; texto justificado e em coluna dupla; numeração de página apenas nas páginas direitas; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior.

39

HISTÓRIAS DE LIVROS

TIPOS MÓVEIS

BÍBLIA DE 42 LINHAS [1456]

Não há qualquer prova que as invenções do Oriente tenham influenciado a criação de tipos móveis na Europa,1 que acabaram por surgir da necessidade de se reproduzir livros rapida-mente e em abundância.

Tal invenção foi apenas possível porque todos os requisitos, a seguir descritos, eram já possíveis nesta altura: ‘1) uma substância abundante e fácil de obter como o papel para receber a impressão; 2) uma tinta que pudesse aplicar-se às superfícies metálicas e passasse ao papel sob pressão; 3) uma prensa para comprimir fortemente o metal tintado contra o papel; 4) todos os materiais e processos do trabalhador de metais que pudes-sem proporcionar uma liga própria para metal de tipo e que tornasse possível a gravação de tipos ou matrizes, a construção de moldes e um método conveniente de fundição.’ (McMurtrie, 1965) O que faltava era apenas alguém capaz de tornar realidade aquilo que se pretendia alcançar.2

A impressão com tipos móveis apareceu assim na Europa nos meados do séc. xv, com um processo criado por Johannes Gutenberg (c. 1400 – 68). Gutenberg nasceu por volta do ano 1400 3 na Mogúncia, Alemanha, e as suas experiências com tipografia começaram trinta anos depois em Estrasburgo. Em 1450, de volta às suas origens, torna-se sócio de Johann Fust (1400 – 66), que financia o projeto da Bíblia; no entanto, após um processo judicial entre os dois, esta relação profissional termina (sociedade dura seis anos).4 Mais tarde, Fust associa-se a Peter Schoeffer (1425 – 1503) e tornam-se os impressores mais ilustres da Mogúncia.

A Bíblia de 42 Linhas, foi um projeto apenas conseguido devido à combinação da mestria de técnica e produto; Gutenberg, com a invenção dos tipos móveis e Schoeffer com a fórmula gráfica.5 Esta obra é considerada o primeiro livro impresso da Europa. Foi terminada na Mogúncia em 1456,6 e estima-se que foram produzidas cento e oitenta cópias, das quais apenas cerca de cinquenta ainda existem.7 Visualmente, este livro é semelhante aos manuscritos da altura e, um pormenor interessante é a 1.ª letra de cada frase ser co-lorida a vermelho de forma a guiar o leitor ao longo do texto. ‘Uma nova idade de infor-mação começava na Europa, movida pelo poder da palavra impressa’ (Fry, 2008)8 e assim se dá a transição entre o manuscrito e o livro impresso.

Em 1457, Fust e Schoeffer terminam a impressão do famoso Saltério, usando três co-res 9 e marcando esta data como uma das mais importantes da história da tipografia, já que foi este o primeiro livro impresso datado e assinado da Europa.

Com o aparecimento dos tipos móveis e o aumento da demanda, os encadernadores que revestiam manuscritos passaram também a revestir incunábulos. A partir de 1480, as oficinas de encadernação de convento perdem importância enquanto que as priva-das ganham e tornam-se numerosas. Entretanto, os encadernadores, de forma a corres-ponder às necessidades, modificam a sua técnica para poderem trabalhar mais depressa e começam a produzir encadernações de menor qualidade, mas que satisfazem os clientes mais vastos e menos ricos.10 ‘Depois de Gutenberg, pela primeira vez na História, cente-nas de leitores possuíam cópias idênticas do mesmo livro, e (até que o leitor desse a um volume uma marca privada e uma história pessoal) um livro lido por alguém em Madrid era o mesmo lido por alguém em Montpellier’(Manguel, 2014).11

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 124.

2. IDEM, ibidem, p. 150.

3. ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño e Imagen, Universidad de Barcelona — Facultad de Bellas Artes, p. 30.

4. IDEM, ibidem, p. 68.

5. IDEM, ibidem, pp. xxi – ii.

6. IDEM, ibidem, p. 72.

7. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, p. 98.

8. Tradução da autora. Original: ‘a new information age was dawning in Europe, fueled by the power of the printed word’. McGRADY, Patrick. 2018. ‘The Machine That Made Us’. min. 4:44 – 4:51. https://www.youtube.com/watch?v=uQ88yC35NjI.

9. IDEM, ibidem, nota n.º 3, p 92.

10. FEBVRE, Lucien, e Henri-Jean Martin. 1958. O Aparecimento do Livro. Tradução de Henrique Tavares e Castro. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, pp. 145 – 7.

11. Tradução da autora. Original: ‘After Gutenberg, for the first time in history, hundreds of readers possessed identical copies of the same book, and (until a reader gave a volume private markings and a personal history) the book read by someone in Madrid was the same book read by someone in Montpellier. ‘MANGEL, Alberto. 2014 (1.ª ed.: 1996). A History of Reading. eBook ed. New York: Penguin Books, p. 148.

41

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. ENCYCLOPEDIA, New World. ‘Gutenberg Bible’. [Consult. 21/06/2017]. https://www.newworldencyclopedia.org/entry/Gutenberg_Bible.

TIPOS MÓVEIS

FIG. 6

DIMENSÕES 445 × 307 mm (221 fólios) 1

TÉCNICA impressão, caligrafia e iluminura

TINTA preta (texto), vermelha (certas palavras, letras capitulares, decorações), azul (letras capitulares, decorações), verde e amarelo (decorações)

ANÁLISE GRÁFICA

letra capitular decorada e elaborada; texto justificado e em coluna dupla; páginas não numeradas; margens inferiores maiores, margens exteriores, interiores e superiores semelhantes.

43BÍBLIA DE 42 LINHAS [1456]

HISTÓRIAS DE LIVROS

A impressão com xilogravura (método de gravura que utiliza madeira como matriz) já se fazia na Europa no séc. xiv e a maioria das obras produzidas nesta altura, e que se conservaram até aos dias de hoje e das quais temos conhecimento, têm um carácter reli-gioso. Isto deve-se, sobretudo, ao facto deste tipo de obras serem usadas e guardadas por adultos, ao contrário, por exemplo, dos livros escolares usados por crianças diariamente, que não chegaram aos nossos dias.1 Os primeiros livros xilogravados da Europa produ-ziram-se na Holanda e na Alemanha desde 1430, grande parte em latim e com ilustrações feitas à mão.2 Estes primeiros livros tinham como objetivo ensinar as lições da Bíblia a quem não sabia ler, contudo, é possível que a xilogravura tenha sido já utilizada anterior-mente em cartas de jogo.3

A impressão de livros em Inglaterra começou em 1476, lançada por William Caxton (1422– 91), o primeiro impressor inglês.4 Trabalhou como tradutor antes de iniciar o seu trabalho como impressor e fez aprendizagens relativas à impressão em Colónia, na Alemanha. Em 1473, abriu loja como impressor em Bruges, Bélgica, e imprimiu o primeiro livro em inglês Coleções da História de Tróia, mas três anos depois mudou o seu negócio para Westminster e foi aqui que imprimiu a sua célebre edição dos Contos de Cantuária (1476), de Geoffrey Chaucer (c. 1343 – 1400).5 Vamos focar-nos, todavia, na versão ilustrada xilogravada de 1483. Contos de Cantuária é um longo poema escrito no final do séc. xiv por Chaucer que retrata a viagem de um grupo de peregrinos desde Londres até à Catedral de Cantuária. Esta segunda versão foi impressa com tipos mais pequenos, contendo assim menos páginas e custando menos a produzir. Para além disso, era também uma versão mais apelativa, pois foram acrescentadas vinte e seis xilogravuras,cada uma no início de um novo conto; todas elas são imagens de peregrinos a cavalo, àexceção de uma, que os retrata sentados à mesa, para uma refeição.6

Wynkyn de Worde (1455 – 1534) foi o sucessor de Caxton e tomou conta do seu negócio em Westminster. Wynkyn produzia livros que, na sua visão, se poderiam tornar verdadei-ros best-sellers, como romances, livros de poesia, de medicina, ou guias para uma boa vida. Por outro lado, imprimia também livros dedicados a outro tipo de clientes e, em 1511, imprimiu, em Londres, o primeiro livro inglês de anedotas, Demaundes Joyous. Wynkyn chegou também a fazer a sua edição de Os Contos de Cantuária.7 Usava papel do moinho de John Tate [(1448 – 1507), o primeiro produtor de papel da Inglaterra] e foi o primeiro impressor inglês a usar o itálico, e também, em 1495, o primeiro a usar tipos musicais.8

XILOGRAVURA

OS CONTOS DE CANTUÁRIA [1483]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 143.

2. ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño e Imagen, Universidad de Barcelona — Facultad de Bellas Artes, p. 107.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 137.

4. ELIOT, Simon, and Jonathan Rose. 2007. A Companion to the History of the Book. Blackwell Publishing Ltd, p. 213.

5. CAVE, Roderick, and Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, p. 102.

6. LIBRARY, British. ‘William Caxton’s illustrated second edition of The Canterbury Tales’. [Consult. 06/05/2019]. https://www.bl.uk/collection-items/william-caxton-and-canterbury-tales.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 3, p. 216.

8. IDEM, ibidem, nota n.º 4, p. 104.

45

HISTÓRIAS DE LIVROS

FIGS. 7, 8

XILOGRAVURA

OS CONTOS DE CANTUÁRIA [1483]

DIMENSÕES ?

TÉCNICA impressão e xilogravura

TINTA preta (texto e xilogravuras), vermelha (letras capitulares)

ANÁLISE GRÁFICA texto alinhado à esquerda; letras capitulares elaboradas e pintadas a vermelho; xilogravuras entre o texto; capítulo sinalizado em cima e a meio da grelha de texto; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior.

47

HISTÓRIAS DE LIVROS

No séc. xv, Veneza era o principal centro do comércio e indústria e tornou-se também nos finais do mesmo século um importante centro tipográfico.1 Entre outros, é importante destacar o trabalho do italiano Aldo Manuzio (1449 – 1515) como relevante na história da tipografia.

Manuzio dedicava-se à tipografia com a finalidade de produzir livros de obras que considerava as melhores, mas, de forma a serem acessíveis ao maior número de leitores. ‘Com o crescimento das bibliotecas privadas, os leitores começaram a considerar volu-mes grandes não apenas difíceis de manusear e incómodos de transportar, mas também inconvenientes de armazenar.’ (Manguel, 1996)2 Manuzio criou assim métodos que solu-cionassem estes problemas e ‘o êxito que alcançou com eles exalçaram-no como o primei-ro grande editor que fomentou a procura de livros de formatos completamente novos’. (Mc Murtrie, 1965) Para que um comprador de poucos recursos pudesse pagar as suas obras, Aldo teve de reduzir o custo da produção, diminuindo o tamanho e volume dos li-vros que editava. Eram assim volumes impressos em pequenos caracteres e de tamanho manuseável. Alguns destes exemplares podemos agora encontrá-los nas grandes biblio-tecas.3 Este novo formato de livro rapidamente se tornou popular por toda a Europa.4

Outro caso célebre na constituição de uma oficina tipográfica deu-se em Antuérpia, Bélgica, por Christophe Plantin (c. 1514 – 89). Plantin nasceu em Toraine e antes de se tor-nar um grande tipógrafo trabalhou num estabelecimento onde vendia livros e estampas, mas, nos tempos livres encadernava livros. A certa altura, um homem, que o tomou por outra pessoa, aleijou-o no braço, deixando-o incapacitado e incapaz de continuar a usar instrumentos de dourador. Mudou então de rumo profissional e começou, aos poucos, a publicar livros em 1555. Depois, em 1562, foi obrigado a deixar Antuérpia por alguns meses, devido a uma acusação de impressão de um livro herético, que tinha sido impresso na sua oficina, porém, sem o seu conhecimento. Permaneceu em Paris durante um ano e alguns meses e, quando pôde finalmente regressar a Antuérpia, o seu negócio estava arruinado e a sua casa vazia de mobília. Mas, Plantin não se deu como vencido e com alguma ajuda, restabeleceu a sua tipografia, criou uma sociedade editora com alguns burgueses ricos da cidade e associou-se ao Estado e à Igreja.5 Apesar de tantas dificul-dades, Plantin manteve sempre a força de vontade e transformou a sua oficina tipográfica numa das maiores de sempre.

A obra que celebrizou Plantin, e o seu maior projeto, foi a Bíblia Poliglota termi-nada em 1573. Esta obra foi iniciada em 1568 e comissionada pelo rei Filipe II de Espanha (1527– 98), que lhe pediu treze cópias em velino para uso pessoal. As línguas usadas nesta Bíblia foram Latim, Hebreu, Caldeu e Siríaco.6 Mas, Plantin teve também algum azar rela-tivamente a este livro, visto que o rei não queria autorizar a sua publicação sem que o papa concordasse, facto consumado apenas quando foi eleito um novo papa. Porém, o livro permanecia envolto em suspeitas e a Inquisição teve ainda de fazer um exame ao texto que durou anos e só em 1580 o livro pôde finalmente circular.7

OFICINAS TIPOGRÁFICAS

BÍBLIA POLIGLOTA DE PLANTIN [1573]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 219.

2. Tradução da autora. Original: ‘As private libraries grew, readers began to find large volumes not only difficult to handle and uncomfortable to carry, but inconvenient to store.’ MANGUEL, Alberto. 2014 (1.ª ed.: 1996). A History of Reading. eBook ed. New York: Penguin Books, p. 147.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, pp. 226 – 7.

4. ELIOT, Simon, and Jonathan Rose. 2007. A Companion to the History of the Book. Blackwell Publishing Ltd, p. 223.

5. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 382.

6. CHRISTIE’S. 2018. ‘The Finest Bible in All Christendom’. [Consult. 09/05/2019]. https://www.christies.com/features/The-finest-Bible-in-all-Christendom-9278-3.aspx.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 385.

49

HISTÓRIAS DE LIVROS

OFICINAS TIPOGRÁFICAS

FIG. 9

BÍBLIA POLIGLOTA DE PLANTIN [1573]

DIMENSÕES ?

TÉCNICA impressão

TINTA preta

ANÁLISE GRÁFICA letra capitular elaborada; texto justificado e em coluna dupla; colunas separadas por linha; texto e notas separados por linhas; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior; margem interior mínima.

51

HISTÓRIAS DE LIVROS

Quando William Morris (1834 – 96) se começou a dedicar à impressão do livro, em 1888, os padrões de beleza da imprensa inglesa não eram elevados e a tipografia era descuidada e sem encanto. O percurso no mundo do livro para Morris começou quando este estava a preparar uma exposição e se apercebeu que todos os livros, que tinha escrito e que tinham sido impressos, não se relacionavam visualmente com a exposição e não eram dignos de ser expostos. Acreditava que esta degradação dos padrões de beleza se devia ao uso dos processos mecânicos para uma impressão mais rápida e vasta. Morris tomou então medidas pelas próprias mãos e participou numa conferência acerca da arte de imprimir.1

Com a ajuda de Emery Walker (1851 – 1933), Morris começou a experimentar a cria-ção de tipos que fizessem justiça às suas obras. Arranjou uma casa em Hammersmith, que pudesse usar para a impressão de livros perto da sua residência e, em 1891, criou a Imprensa Kelmscott.2 A História da Planície Brilhante, um romance de fantasia escrito pelo próprio, foi o primeiro livro editado pela tipografia e Morris tinha planeado impri-mir apenas vinte exemplares para presentear aos seus amigos mas, quando saiu um anún-cio sobre o seu trabalho, houve muitos pedidos e acabaram por ser impressos cerca de duzentos exemplares.3 Este livro é um perfeito exemplar do estilo que tanto caracteriza Morris, extremamente rico em ornamentos e decorações. História da Planície Brilhante foi o único livro impresso duas vezes pela Kelmscott, já que, em 1894 o livro teve uma 2.ª edição com um formato maior, um tipo de letra diferente e novas ilustrações pelo artista Walter Crane (1845 – 1915).4

Em 1895 Morris já se tinha mudado pela segunda vez para uma tipografia maior e impresso vários outros livros. Morris dedicou-se a elevar os padrões de beleza na arte de imprimir e procurou melhorar os materiais e processos de produção, mas teve várias críti-cas acerca da legibilidade das suas obras. Diziam que os livros impressos pela Kelmscott eram ricos em decoração e beleza, mas os caracteres não eram legíveis, nem as obras de formato manuseável. Ainda assim, os livros de Morris marcam o renascimento da arte tipográfica e da arte de imprimir, sejam eles de fácil ou difícil leitura.

Desde a sua morte, várias imprensas particulares têm usado as suas ideias, pondo em prática processos de fabrico mais manual e vários prelos particulares começaram tam-bém a aparecer com o entusiasmo crescente pela manufatura de livros. Um dos mais im-portantes discípulos de Morris foi Charles Ricketts (1866 – 1931), com a sua Imprensa Vale. Ricketts desenhava tipos, dava grande uso a ornamentos e decorava, maioritariamente, sob a influência de Morris. Uma das grandes publicações desta tipografia foi a Trabalhos de Shakespeare (1900 – 03). Em 1904, Ricketts terminou a sua atividade, atirando ao rio Tamisa as punções e as matrizes e derretendo as letras, com medo que fossem cair em mãos inaptas.5

PADRÕES DE BELEZA

HISTÓRIA DA PLANÍCIE BRILHANTE [1891]

1. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 473 – 6.

2. ELIOT, Simon, e Jonathan Rose. 2007. A Companion to the History of the Book. Blackwell Publishing Ltd, p. 346.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 477.

4. WHITE, Andrew. 2018. ‘The Story of the Glittering Plain’. [Consult. 13/05/2019]. https://rosenbach.org/blog/the-story-of-the-glittering-plain/.

5. IDEM, ibidem, nota n.º 1, p. 485.

53

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. GALLERY, William Morris. ‘The Story of the Glittering Plain (1891)’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.wmgallery.org.uk/collection/artists-64/kelmscott-press-1891-1898/initial/k/page/3/object/the-story-of-the-glittering-plain-k8-1891.

PADRÕES DE BELEZA

FIGS. 10, 11

HISTÓRIA DA PLANÍCIE BRILHANTE [1891]

DIMENSÕES 207 × 146 mm 1

TÉCNICA impressão

TINTA preta (texto, letras capitulares, decorações), vermelha (títulos)

ANÁLISE GRÁFICA texto justificado; letra capitular no início de cada capítulo elaborada e decorada; nome de capítulo a letras maiúsculas; parágrafos assinalados por símbolo; margens inferior e exterior maiores que margens superior e interior.

55

HISTÓRIAS DE LIVROS

REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA

FOLHAS DE RELVA [1930]

A imprensa de William Morris não era apenas influente na Europa, mas também nos eua e várias imprensas seguiam os seus ideais. Por volta dos anos 20, houve um crescimento no que diz respeito à impressão mais precisa e a certa altura foi comissionada à imprensa Grabhorn Press, de São Francisco, uma edição do clássico americano Folhas de Relva, de Walt Whitman (1819 – 92).1 Esta imprensa era formada pelos irmãos Edwin (1889 – 1968) e Robert Grabhorn (1885 – 1965). Estes eram considerados aventureiros e as suas obras não seguiam apenas um género, visto que ali foram editados livros com a maior variedadede formas e estilos, que se adequavam ao conteúdo do livro. Durante esta altura as edi-ções limitadas tinham bastante sucesso; a produção terminou em 1930, e foram impres-sas quatrocentas cópias. A fonte usada para esta obra foi a Goudy Newstyle, desenhada pelo americano Frederic W. Goudy (1865 – 1947).2 Inicialmente, os irmãos Grabhorn planearam usar apenas texto, sem ilustração, decorando apenas algumas iniciais, mas ficaram desiludidos com o resultado final e então contrataram o artista Valenti Angelo (1897 – 1982) para produzir ilustrações simples a preto e branco. O tipo de letra de Goudy e as ilustrações xilogravadas de Valenti Angelo foram a combinação perfeita para esta edição do épico de Whitman, que é reconhecida como a melhor publicação da tipografia Grabhorn Press.3

Outra imprensa particular de grande importância foi a Ashendene de C.H. St. John Hornby (1867 – 1946), que começou por imprimir livros como forma de distração na casa de verão do pai, em Ashendene. A sua primeira publicação foi em 1895, O Jornal de Joseph Hornby e, tal como a primeira publicação de Kelmscott, destinava-se apenas a amigos, sendo apenas impressos trinta e três exemplares. Em 1901, já tinha criado um novo tipo, Subiaco, que usou na impressão de O Inferno de Dante, em 1902.4

Podemos também referenciar outra tipografia. Em 1923, foi fundada em Londres a Tipografia Nonesuch, por Francis Meynell (1891 – 1975) e os seus sócios, que queriam aperfeiçoar a arte da impressão com dispositivos mecânicos, satisfazendo a demanda em termos de quantidade, mas também qualidade, o que falhava nesta altura. Meynell tinha como objetivo criar bons livros, sem a pressão de adotar apenas um estilo, assim, impri-miam-se ali obras de grande variedade de formatos, estilos tipográficos e assuntos. Queria que fossem livros produzidos à ‘máquina, mas bem feitos, atraentes e até excelentemente impressos; muita gente os compra não como peças de museu ou objetos de colecionador, mas como livros para se usarem…’. (McMurtrie, 1965) Talvez a maior obra prima desta Imprensa tenha sido a edição das obras de Shakespeare, publicada ente 1929 e 1933.5

Por esta altura ocorriam grandes alterações nas áreas da pintura, escultura, arquitetura, marcando uma revolução de liberdade artística e o mesmo aconteceu com a tipografia. No séc. xx o fabrico do livro seguia ideais de engenheiros, e a forma deveria corresponder à função. Aqui desapareceram os ornamentos e decorações e reduziram-se os tipos à sua forma mais simplificada, correspondendo à finalidade de serem de fácil leitura. Na Alemanha pós-guerra (1914 – 18) faziam-se ‘esforços tenazes para romper os laços da tra-dição tipográfica’ (McMurtie, 1965) e apareceram imensos novos criativos, a célebre Bau-haus e o tipo Futura.6

1. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, p. 126.

2. IDEM, ibidem.

3. IDEM, ibidem.

4. McMURTRIE, Douglas C. 1965. (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p. 486.

5. IDEM, ibidem, p. 518.

6. IDEM, ibidem, pp. 522 – 5 (citação p. 523).

57

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. BONHAMS. ‘Lote 50 — Grabhorn Press’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.bonhams.com/auctions/21845/lot/50/?category=list.

FIG. 12

REVOLUÇÃO TIPOGRÁFICA

FOLHAS DE RELVA [1930]

DIMENSÕES 365 × 247 mm 1

TÉCNICA impressão

TINTA preta (texto, xilogravuras), vermelha (títulos)

ANÁLISE GRÁFICA títulos em maiúsculas; xilogravuras entre o texto; texto alinhado à esquerda; numeração de página na margem interior; margem inferior enorme, margens exterior e superior semelhantes, margem interior mínima.

59

HISTÓRIAS DE LIVROS

TECER COMO METÁFORA [2006]

Com a invenção da Internet e a posterior criação de novos métodos de leitura, há quem acredite que o fim do livro tradicional está a chegar. Mas há quem seja dono de outra opinião. Umberto Eco (1923 – 2016) declara que ‘para ler, é necessário um suporte. Esse suporte não pode ser exclusivamente o computador. Se passares duas horas no computa-dor a ler um romance, os teus olhos irão tornar-se bolas de ténis (...). Além disso, o computador depende da presença da eletricidade e não pode ser lido numa banheira, nem mesmo deitado de lado na cama (...) o livro é como a colher, o martelo, a roda ou a tesoura. Uma vez inventados, não se pode fazer melhor.’ (Eco, 2009)1 Grande parte dos suportes criados, como os discos, CD’s, disquetes, etc ...(suportes muito mais recentes que o livro) já caíram em desuso, e estão agora esquecidos em caixas nas nossas gara-gens. As invenções atuais estarão apenas em uso até à próxima inovação tecnológica, e o ciclo repete-se. Mas o livro continua.2 O livro ‘capaz de guardar memória e experiência, é um instrumento verdadeiramente interativo, que nos permite começar e terminar um texto onde quisermos, anotar nas margens,...’. (Manguel, 1996)3 Enquanto que o formato e-book tem vantagens, como a sua forma compacta de armazenar informação, a grande desvantagem é o facto de apenas se limitar a conter texto.4 No entanto, ler, apresenta muitas mais variáveis, o papel, o toque, o tamanho e o peso do livro, o cheiro, a ação de virar as páginas, ... , impossível de transferir para um aparelho tecnológico. E é aqui que se situa a designer do Tecer como Metáfora, Irma Boom (n. 1960).

Irma Boom é uma designer gráfica holandesa conhecida como ‘rainha dos livros’, já que, durante a sua carreira, o seu foco principal tem sido o design de livros. Já teve clientes (ou comissários, como a Irma prefere chamar-lhes), como Chanel, Ferrari, Rijksmuseum, e cinquenta dos seus livros fazem parte da Coleção do MoMA, em Nova Iorque. Em cada novo projeto ‘Boom procura um ponto de partida editorial muito específico para traduzir para uma forma excecional. E com cada nova publicação ela parece reinventar o livro.’ 5

Tecer como Metáfora, acerca do trabalho da designer de têxteis, Sheila Hicks, foi publi-cado em 2006 e esteve envolto em imensas dificuldades para Irma já que o editor do livro de Londres e o comissário de Nova Iorque não conseguiam perceber a sua ideia para o livro. Irma pediu ‘confiem em mim e deem-me liberdade para criar este livro’. Sheila não queria comprometer o seu conceito e estavam em desacordo acerca da capa do livro. O editor insistia que o trabalho de Sheila deveria estar na capa, mas Irma sabia que se colocasse uma fotografia de um têxtil na capa, apenas pessoas interessadas em design de têxteis (poucas) se iriam interessar pelo livro. Após quatro anos, o livro finalmente foi publicado, tal como Irma Boom queria e foi um enorme sucesso, (já foi reimpresso quatro vezes) e tornou-se o manifesto para o livro da designer.6 Entre outros interessantes pormenores, o livro apresenta um texto de Arthur C. Danto (1924 – 2013) que se inicia com um tamanho de letra grande e, a cada virar de página, o tamanho diminui até atingir o tamanho nor-mal do texto para o resto do livro; as bordas das páginas do livro são desiguais e apre-sentam uma textura que remete também para o trabalho com tecido de Sheila.

Não sabemos qual será o futuro do livro, mas entendemos que certos livros nunca poderão ser transferidos ou traduzidos para um formato e-book. Irma Boom respondeu da seguinte forma a uma pergunta acerca do fim do Livro: ‘...o livro impresso não precisa que o defendam. Sobreviveu durante, mais ou menos, seiscentos anos. A forma como a informação se espalha depende das invenções dessa altura; a pintura tem sobrevivido, a fotografia e o livro...’ (Boom, 2014)7

ATUALIDADE E FUTURO

1. ECO, Umberto; Jean-Claude Carrière; Jean-Philippe de Tonnac. 2017 (Paris, 2009). Não Contem com o Fim dos Livros. Tradução de Joana Chaves. 1.ª ed. Lisboa: Gradiva Publicações, p. 16.

2. IDEM, ibidem, pp. 22 – 32.

3. MANGUEL, Alberto. 2014 (Toronto, 1996). A History of Reading. eBook ed. New York: Penguin Books, p. 14.

4. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, p. 245.

5. MILTENBURG, Anne. 2014. ‘Reputations: Irma Boom’. Eye Magazine 88. [Consult. 18/06/2019]. http://www.eyemagazine.com/feature/article/reputations-irma-boom.

6. CHANNEL, Louisiana. 2014. ‘Irma Boom — My Manifesto for a Book.’ Entrevista por Christian Lund. [Consult. 18/06/2019]. https://channel.louisiana.dk/video/irma-boom-my-manifesto-book.

7. Tradução da autora. Original ‘...the printed book does not need any defender. It has survived 600 years or so. The way information spreads depends on the inventions of that time; paintings have survived, photos, and the book...’IDEM, ibidem, nota n.º 4.

61

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. AMAZON. ‘Sheila Hicks: Weaving as Metaphor’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.amazon.com/Sheila-Hicks-Metaphor-Graduate-Decorative/dp/0300116853.

ATUALIDADE E FUTURO

FIG. 13

TECER COMO METÁFORA [2006]

DIMENSÕES c. 210 × 150 mm 1

TÉCNICA impressão

TINTA preta (texto), cores (fotografias)

ANÁLISE GRÁFICA texto alinhado à esquerda; título enorme e sem entrelinha; imagens separadas de texto, página ou páginas dedicadas apenas a imagem; texto começa com corpo grandee vai diminuindo em cada página até atingir o corpo de texto usado no resto do livro; numeração de página alinhada à esquerda, mas mais interior que a grelha do texto.

63

HISTÓRIAS DE LIVROS

2.

OBRAS DE ESTUDO

Este capítulo dedica-se ao estudo e análise de obras, que não fazendo sentido serem coloca-das no Estado da Arte de forma a representar uma fase da História do Livro, são interessantes e curiosas. Portanto, merecem ser apreciadas, e contribuem, cada uma de forma diferente para este estudo acerca do Livro. Sendo assim, cada uma representa uma categoria de livro: livros misteriosos, livros únicos, livros proibidos, livros destruídos e livros curiosos, e o foco está no livro em si, no autor, e nas circunstâncias envolventes da obra.

Quanto aos critérios de escolha das obras, seguiu-se um processo semelhante ao do Estado da Arte. Assim, os critérios foram os seguintes: representação de determinado tipo de livro; facilidade de recolha de informação acerca do livro, autor e circunstâncias; facili-dade de recolha de imagens, fotografias e/ou digitalizações do livro; diversidade no género//tipo/assunto do livro; grau de popularidade do livro (livros célebres, livros menos conhecidos); história curiosa e interessante acerca do livro//autor/circunstâncias em que foi criado; e, pelo menos uma obra portuguesa.

65

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS MISTERIOSOS

1. BLUMBERG, Naomi. 2016. ‘Voynich Manuscript’. Encyclopaedia Britannica. [Consult. 30/05/2019]. https://www.britannica.com/topic/Voynich-manuscript.

2. THOMAS, Scarlett. 2016. ‘The Voynich manuscript: the unbreakable encryption?’. The Guardian. [Consult. 04/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/booksblog/2016/aug/27/voynich-manuscript-unbreakable-encryption.

3. UNIVERSE, Fractal. 2017. ‘Terence McKenna — The Voynich Manuscript (Lecture)’. [Consult. 04/06/2019]. min. 1:03 –1:29. https://www.youtube.com/watch?v=WTBOaaeTxm8.

4. UNIVERSITY, Yale. ‘Voynich Manuscript’. Beinecke Rare Book and Manuscript Library. [Consult. 07/06/2019]. https://beinecke.library.yale.edu/collections/highlights/voynich-manuscript.

5. BAX, Stephen. 2017. ‘The world’s most mysterious book — Stephen Bax.’ [Consult. 07/06/2019]. https://ed.ted.com/lessons/the-world-s-most-mysterious-book-stephen-bax.

6. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

O MANUSCRITO DE VOYNICH [xv – xvi]

O Manuscrito de Voynich é um códice escrito em pergaminho entre o séc. xv e xvi,1 deco-rado com imensas gravuras curiosas que acompanham um texto, até agora indecifrável, e que ilustram ‘coisas’ que parecem familiares, mas, na realidade, não existem,2 mantendo, durante décadas, a reputação do manuscrito mais misterioso de sempre.

O livro é ‘escrito em escrita cursiva, cuidadosamente ilustrado com bizarros desenhos lineares pintados com aguarelas. Desenhos de plantas, desenhos de pequenas mulheres nuas a tomar banho num estranho sistema de canalização, que foi identificado de forma variada, como representando vários órgãos do corpo humano ou até fontes primitivas.’(McKenna)3 E não só. O manuscrito divide-se em seis secções: botânica, astronomia, bio-logia, cosmologia, farmacêutica e culinária.

Acredita-se, até ao momento, que aquele foi descoberto por Wilfrid Michael Voynich (1865 – 1930), num convento em 1912. Foi escrito na Europa e chegou a pertencer ao impera-dor Rudolf II (1562 – 1612), da Alemanha, que o comprou a John Dee (1572 – 1608), um místico que praticava alquimia e divinação, acreditando ser um trabalho de Roger Bacon (1214 – 92), filósofo inglês. Desde 1969 está guardado na Beinecke Rare Book and Manus-cript Library, na Universidade de Yale.4

Todo ele é escrito num alfabeto que à primeira vista parece familiar e que apresenta todas as características para que seja real, mas nunca foi visto antes. Existem várias teorias acerca deste texto: uma é que foi escrito em cifra, e, portanto, foi desenhado com o propósito de esconder o seu verdadeiro significado; outra diz que não passa de uma farsa, sem qualquer sentido, orquestrada por um charlatão na tentativa de enriquecer. A última, e talvez a mais plausível, dadas as características dos caracteres e da forma como se organizam, é que o manuscrito tenha sido escrito numa língua real, mas numa escrita desconhecida, ou seja, talvez se trate de um alfabeto criado para representar uma língua que era, na altura, apenas falada, e não ainda escrita.

Acerca do significado do livro em si e do seu autor, há também imensas teorias: há quem diga que se trata de uma espécie de enciclopédia acerca da cultura do povo que o escreveu; há quem acredite que foi escrito por um grupo de bruxas italianas ou que foi trazido para a Terra por marcianos; há também a teoria de que foi escrito por Roger Bacon, por John Dee, ou até pelo próprio Voynich.5

Criptologistas, historiadores, estudiosos de química, matemática, filosofia medieval, entre outros, tentaram, desde que foi descoberto, decifrar este livro, sem sucesso (ou sem sucesso comprovado). Foram escritos e publicados vários livros e dissertações acerca do seu significado e há quem alegue mesmo ter decifrado o código.6 Mas, por enquanto, na-da foi provado e o verdadeiro significado do livro permanece um mistério.

67

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. SHAILOR, Barbara A. ‘Beinecke MS 408 – Cipher Manuscript’. Yale University. https://pre1600ms.beinecke.library.yale.edu/docs/pre1600.ms408.HTM.

LIVROS MISTERIOSOS

FIGS. 14, 15

O MANUSCRITO DE VOYNICH [xv – xvi]

DIMENSÕES 225 × 160 mm 1

TÉCNICA manuscrito e ilustrado

TINTA preta (texto), azul, verde, vermelha, amarela (ilustrações)

ANÁLISE GRÁFICA texto e ilustrações integrados; margens variam de página para página; páginas sem numeração; ilustrações com legendas.

69

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS ÚNICOS

1. MULLAN, John. 2018. ‘The Life and Opinions of Laurence Sterne: the first unapologetic literary celebrity’. The Guardian. [Consult. 11/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/booksblog/2018/mar/18/the-life-and-opinions-of-laurence-sterne-the-first-unapologetic-literary-celebrity.

2. GOODREADS. ‘The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman’. GoodReads. [Consult. 11/06/2019]. https://www.goodreads.com/book/show/76527.The_Life_and_Opinions_of_Tristram_Shandy_Gentleman.

3. McCRUM, Robert. 2013. ‘The 100 best novels: No 6: The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman by Laurence Sterne (1759)’. The Guardian. [Consult. 11/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/2013/oct/28/100-best-novels-tristram-shandy-sterne.

4. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

5. IDEM. ‘The ‘stuff’ of Tristram Shandy’. British Library. [Consult. 11/06/2019]. https://www.bl.uk/restoration-18th-century-literature/articles/the-stuff-of-tristram-shandy#.

6. LIBRARY, British. ‘Laurence Sterne’. British Library. [Consult. 11/06/2019]. https://www.bl.uk/people/laurence-sterne.

7. Cave, Roderick, and Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: The British Library, pp. 166 – 7.

8. IMDb. 2005. ‘A Cock and Bull Story (2005)’. IMDb. [Consult. 11/06/2019]. https://www.imdb.com/title/tt0423409/.

9. DICTIONARY, Cambridge. ‘cock-and-bull story’. Cambridge Dictionary. [Consult. 11/06/2019]. https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/cock-and-bull-story.

A VIDA E OPINIÕES DE TRISTRAM SHANDY, CAVALHEIRO [1759 – 67]

Em 1759 Laurence Sterne (1713 – 68) publica os dois primeiros volumes do seu romance mais célebre A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, Cavalheiro. Foi com esta obra prima original que Sterne se tornou uma das primeiras celebridades literárias, ainda hoje reco-nhecido e influente pelo seu estilo narrativo e visual.1 ‘(Tristram Shandy) … é um dos mais inventivos, idiossincráticos, divertidos e deliciosamente conversativos romances de sempre.’ (Mullan, 2018) Este estranho romance, de texto irregular e singulares elementos visuais, celebra as possibilidades infinitas da arte da ficção.2

Sterne nasceu na Irlanda em 1713 e foi, durante grande parte da sua vida, membro da igreja perto de Iorque, Inglaterra. Inicialmente, Tristram Shandy foi rejeitado por um editor londrino, mas assim que foi publicado independentemente, em 1759, esgotou num instante. Para além dos primeiros dois volumes, foram ainda publicados mais sete, ao longo de sete anos.3 Tristram é o narrador desta história e começa, desde o momento da sua conceção, a tentar contar a história da sua vida, mas vê-se, constantemente, inter-rompido pelo desejo de descrever as muitas peculiaridades da sua família.

Os truques visuais são talvez a maior característica deste romance e auxiliam na progressão da narrativa da história.4 Cada página é uma experiência: desde traços que variam em comprimento e que dividem frases do texto, quase como se o narrador estivesse a fazer pausas para decidir o que contar a seguir ; às páginas em preto, representando a morte de certa personagem; aos capítulos desaparecidos propositadamente; às páginas em branco onde o leitor deve desenhar uma das personagens tal como a imagina, às linhas retas ou curvas e ondulantes, aos asteriscos para omitir certas cenas, e muito mais.5

Em 1768, Sterne começa a escrever o seu segundo romance, Uma Viagem Sentimen-tal por França e Itália, por Mr. Yorick (o seu alter-ego), mas morreu com cinqueta e quatro anos, em Londres, sem o conseguir terminar.6 A sua ficção foi elogiada por Voltaire (1694 – – 1778) e Goethe (1749 – 1816), e serviu como inspiração a autores como Diderot (1713 –– 84), Virginia Woolf (1882 – 1941) e James Joyce (1882 – 1941).7 Em 2005, foi feita uma adaptação deste livro, um romance essencialmente impossível de filmar, para o cinema; ‘Tristram Shandy: A Cock and Bull Story’, realizada por Michael Winterbottom e prota-gonizada por Steve Coogan.8 A expressão ‘A Cock and Bull Story’ presente no romance de Sterne, significa uma história fantasiosa, obviamente uma mentira, mas contada como se se tratasse de uma história real.9

71

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS ÚNICOS

FIG. 16

A VIDA E OPINIÕES DE TRISTRAM SHANDY, CAVALHEIRO [1759 – 67]

DIMENSÕES ?

TÉCNICA impressão

TINTA preta

ANÁLISE GRÁFICA letra capitular no início de cada capítulo; numeração de página ao centro e em cima; capítulo a maiúsculas; texto justificado; diversos elementos gráficos interessantes, sempre com um propósito, exemplos: asteriscos, traços, linhas retas e curvas, ...; margens inferior, superior, interior e exterior semelhantes.

73

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS PROIBIDOS

1. CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library, pp. 230 – 1.

2. FALCON-LANG, Howard. 2010. ‘The secret life of Dr. Marie Stopes’. BBC News. [Consult.30/05/2019]. https://www.bbc.com/news/science-environment-11040319.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

4. DEBENHAM, Marian Clare. 2018. ‘Married Love: the 1918 book by Marie Stopes that helped to launch the birth-control movement’. Independent. [Consult. 30/05/2019]. https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/books/marie-stopes-birth-control-married-love-book-sex-eugenics-a8274036.html.

5. BBC. ‘Marie Stopes (1880 – 1958)’. [Consult. 30/05/2019]. http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/stopes_marie_carmichael.shtml.

AMOR CASADO OU AMOR NO CASAMENTO [1918]

Os livros de bem-estar e de autodesenvolvimento já não eram uma ideia nova, quando, no séc. xx, a repressão da mulher resultou no movimento sufragista, e, em muitos casos também, no interesse das mulheres concentrarem-se mais na sua vida pessoal e, conse-quentemente, em tudo o que envolve a gravidez e a saúde sexual feminina.1

Marie Stopes (1880 – 1958), filha de arqueólogo e de uma estudiosa de Shakespeare e sufragista, desde pequena dizia que a sua carreira se iria dividir em duas vertentes, uma científica e uma humanitária. E assim foi. Dois anos após a sua graduação na University College London, já com uma medalha de ouro na área da Biologia, participou numa des-coberta muito importante acerca da evolução das plantas, e doutorou-se, em Munique, nos hábitos sexuais de certas plantas primitivas. Nesta altura a Universidade de Manches-ter convidou-a a dar uma palestra, pensando que, devido ao seu estatuto como a mais nova doutorada em ciência e conhecida pelo nome Dr. Stopes, se tratava de um homem. Quando perceberam que Stopes era uma mulher, tentaram cancelar, em vão, a palestra. Marie teve ajuda de amigos e apoiantes de alto estatuto que lutaram para que a palestra, de facto, se realizasse. Em 1907, Marie foi numa expedição para o Japão e fez uma desco-berta monumental acerca do dilema de Charles Darwin relacionado com a origem evo-lutiva das flores.

Continuou a trabalhar como cientista, até que um dia se deparou, na Biblioteca Britânica, com um armário cheio de livros dedicados à sexualidade humana. Por volta desta altura, Marie estava insatisfeita com o seu casamento com o botânico canadiano Reginald Gates, (divorciados em 1915, o caso foi a tribunal onde Marie afirmava que Reginald era impotente e que o casamento deveria ser anulado, já que nunca tinha sido consumado) e começou cada vez mais a interessar-se por questões relacionadas com a vida sexual no casamento.2

Em 1918, escreveu Amor Casado ou Amor no Casamento, um manual sexual para casais, numa tentativa de demonstrar como melhorar um casamento e evitar o sofrimento. Até 1931 foi proibida a distribuição do livro nos Estados Unidos, por ser considerado obsceno, e até escandaloso, tendo em conta a mentalidade da altura. Foi condenado pela igreja católica, pela imprensa e pelo estabelecimento médico. No entanto, em Londres, foi imediatamente publicado por Fifield & Co. com ajuda de Humphrey Roe (1878 – 1949), um empresário de Manchester. Amor Casado esgotou rapidamente e muitas mulheres escreveram cartas a Stopes pedindo-lhe mais conselhos e ajuda. Em novembro do mesmo ano (1918) publicou outro livro Maternidade Sábia que lidava, sobretudo, com meios de contraceção. Amor Casado ou Amor no Casamento teve imenso sucesso entre as mulheres da classe média, enquanto que Maternidade Sábia foi bastante importante para as classes mais pobres. Também no mesmo ano, Marie Stopes casa-se com Humphrey Roe e juntos abrem, em 1921, a primeira clínica de planeamento familiar britânica que disponibilizava ajuda grátis para mulheres casadas.3

Dito isto, Marie tinha um lado menos positivo: as suas visões e opiniões controver-sas. Marie apoiava a eugenia, comunicava e chegou a enviar um livro de poesia a Hitler e acreditava na criação de uma super raça.4 Marie continuou sempre a lutar por um melhor acesso a métodos contracetivos para as mulheres e dedicou-se à poesia durante as últi-mas décadas da sua vida.5

75

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS PROIBIDOS

FIG. 17

AMOR CASADO OU AMOR NO CASAMENTO [1918]

DIMENSÕES ?

TÉCNICA impressão

TINTA preta

ANÁLISE GRÁFICA texto justificado; nome do capítulo sinalizado alinhado ao meio e em cima; numeração de página no canto superior e exterior.

77

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS DESTRUÍDOS

1. SOUSA, Martim de Gouveia e. 2014. Decadência (1923), de Judith Teixeira — o início da coragem literária. [Consult. 08/06/2019]. http://wwweuropa.blogspot.com/2014/02/decadencia-1923-de-judith-teixeira-o.html.

2. OLIVEIRA, Andreia. 2013. Judith Teixeira: a boca é o vazio cheio da periferia. Cadernos de Literatura Comparada. n.º 29. [Consult. 08/06/2019], p. 248. http://ilc-cadernos.com/index.php/cadernos/article/view/339/318.

3. ALMEIDA, Joyce Maia. 2014. Sodoma Divinizada: um manifesto em favor de Botto.[Consult.08/06/2019]. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/105270.

4. BARBOSA, Sara. 2014. Quem tramou Judith Teixeira? (Uma História com Fantasmas). Estrema: Revista Interdisciplinar de Humanidades. n.º 4. [Consult. 08/06/2019]. https://www.academia.edu/11718831/Quem_tramou_Judith_Teixeira._Uma_hist%C3%B3ria_com_fantasmas.

5. IDEM, ibidem, nota n.º 2.

6. IDEM, ibidem, nota n.º 4, p. 13.

DECADÊNCIA [1923]

Decadência, de Judith Teixeira (1880 – 1959), foi sugerido pela Lurdes Paiva em conversa acerca de livros destruídos, durante a entrevista para os Casos de Estudo. Judith dos Ramos Teixeira, filha de mãe solteira, nasceu em Viseu no ano de 1880, e morreu em Lisboa, em 1959, com oitenta e seis anos.1

Judith foi poetisa e ficcionista e a época em que escreveu foi marcada por vários acon-tecimentos históricos: ‘o regicídio e a passagem para a I República,…, bem como o surgi-mento dos primeiros movimentos feministas em Portugal, a favor da educação e instrução da mulher, …; ou ainda a conturbada década de vinte, de ‘ressaca pós-Orpheu’ e invadida pelas vanguardas, na qual se começava a perspetivar a implantação de um regime dita-torial rígido e de moral inflexível que punia severamente aqueles que se afastassem das normas estabelecidas.’(Oliveira, 2013) 2

Quando publicou a sua primeira coletânea de poemas Decadência, em 1923, envolveu--se num escândalo celebremente conhecido como ‘Literatura de Sodoma’, do qual fizeram também parte Raul Leal (1886 – 1964) com Sodoma Divinizada (um manifesto provocató-rio) e António Botto (1897 – 1959) com Canções (livro de poesia de carácter homossexual).3 Esta polémica resultou na apreensão e destruição dos três livros, por ordem do Governo Civil de Lisboa, devido a acusações de indecência.

Decadência é uma compilação de poemas acerca da sensualidade do corpo feminino e das relações amorosas entre mulheres,4 que, na altura, chocou alguns, mas também agradou a muitos. As opiniões e críticas acerca dos seus poemas eram então muito pola-rizadas: por exemplo, enquanto Fernando Pessoa desprezava o seu trabalho, Aquilino Ribeiro dava-lhe imenso valor. Judith foi ridicularizada, humilhada, discriminada e esque-cida, já que após outra polémica em 1926 pelo livro de poemas Nua, não houve mais notícia dela até à sua morte.Todavia, a partir do início do séc. xxi, voltou a ser lembrada e reconhecida, sendo considerada por muitos a única poetisa modernista da sua geração.5

Escrevem-se livros, dissertações, textos e artigos; dedicam-se blogs inteiros à sua vi-da e obra e o seu nome volta a circular em Portugal. ‘O fantasma de Judith Teixeira venceu os que a quiseram tramar, condenando-a a um silêncio que julgavam eterno, mas que não parece ficar para a História a não ser como símbolo de uma repressão sobre as referên-cias ao homoerotismo no feminino que, embora muito atenuada, ainda está longe, nos nossos dias, de ter sido completamente vencida.’(Barbosa, 2014)6

79

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS DESTRUÍDOS

FIG. 18

DECADÊNCIA [1923]

DIMENSÕES ?

TÉCNICA impressão

TINTA preta (texto) e vermelha (título, capitular)

ANÁLISE GRÁFICA primeira palavra de cada poema a maiúsculas; texto alinhado à esquerda; numeração de página entre parêntesis reto, alinhado ao meio e em baixo.

81

HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS CURIOSOS

1. POOLE, Steven. 2000. ‘Steven Poole is intrigued by the warping of space in Mark Z Danielewski’s House of Leaves’. The Guardian. [Consult. 05/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/2000/jul/15/fiction.reviews.

2. HAWTHORNE, Elise. 2010. ‘Font Functions in ‘House of Leaves’’. [Consult. 07/06/2019]. https://postprintfictions.wordpress.com/2010/03/14/font-functions-in-house-of-leaves/.

3. POES, TruePsycho. 2009. ‘Mark Z. Danielewski — Interview w. Borders Vision’. [Consult. 07/06/2019]. min. 4:40 – 4:56. https://www.youtube.com/watch?v=P6J0JIjVKfI.

4. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

5. Tradução da autora. Original: ‘The book has an amazing way of crawling beneath your skin and taking root. When I read it my sleep schedule, already astoundingly bad, became even more irregular and bizarro’. THOMAS, Jake. 2007. ‘Jake Thomas’s Reviews — House of Leaves’. GoodReads. [Consult. 07/06/2019]. https://www.goodreads.com/review/show/2291429.

6. Tradução da autora. Original: ‘…you’ve got to just commit to it. Let the book’s reality capture you,…. When you’re done, you’ll probably find that the House has taken up some space inside you, and you’ll wonder if the nightmares will actually come, assuming they haven’t already’.WHEATON, Wil. 2012. ‘Wil Wheaton’s Reviews — House of Leaves’. GoodReads. [Consult. 07/06/2019]. https://www.goodreads.com/review/show/487485621?book_show_action=true&from_review_page=1.

CASA DE FOLHAS [2000]

Assim como Borges escrevia ficção acerca de livros que imaginava, mas que não queria escrever e que, portanto, não existem, Mark Danielewski (n. 1966) escreveu este livro de ficção acerca de um filme que não existe.1

Este livro chama imediatamente à atenção por duas razões: em primeiro lugar, pelo curioso layout do texto. Grande parte deste é escrito em Times e Courier; cada tipo de letra representa uma narrativa diferente,2 e estas por vezes baralham-se. Para além disto, há também notas que fazem referência a livros, pessoas, sítios que não existem e que contro-lam, por vezes, páginas inteiras. A certa altura, outros elementos começam a aparecer: passagens riscadas com letras de cores diferentes, composições de texto dinâmicas, caixas de texto por cima de texto, caixas de texto sem texto, texto ao contrário, texto na diagonal, notas em branco, pedaços da página em branco, pedaços da página em preto, biblio-grafias misturadas a meio do texto, outros estilos de tipo de letra adicionados à mistura, páginas apenas com um parágrafo, páginas apenas com uma frase, páginas apenas com uma palavra, páginas com corpo de texto enorme, fotografias, equações matemáticas, desenhos, esquemas e muito mais (pelas semelhanças apresentadas, talvez tenha sido inspirado no livro de Laurence Sterne A Vida e Opiniões de Tristram Shandy, Cavalheiro).

Em segundo lugar, torna-se curioso pelas opiniões de quem já o leu. Mas antes disso, é importante expor a sinopse do livro. Pelas palavras do autor: ‘a história é acerca de uma família que se muda para uma pequena casa em Virgínia, onde se apercebem que o inte-rior da casa é maior que o exterior apenas por uns milímetros.’(Danielewski, 2009)3 Esta descoberta é documentada e filmada pelo pai, Will Navidson, um célebre fotojornalista e o filme fica conhecido como ‘The Navidson Record’. Este filme fascina outra personagem da história, um idoso cego de nome Zampanò, que morre no seu apartamento e ali deixa folhas e folhas de escrituras, um verdadeiro manuscrito académico, acerca do ‘Navidson Record’. Johnny Truant, um tatuador, descobre o manuscrito de Zampanò e ao começar a investigá-lo cai numa espiral de alucinações, delírio e terror. Assim, Casa de Folhas é um diário sobre um manuscrito, sobre um livro, sobre uma casa. A composição textual pare-ce acompanhar o estado mental das personagens no seu declínio até à loucura e este é o tipo de livro que apenas se pode, ou deve, ler em papel, sendo que reproduções digitais não lhe farão justiça e reproduções em áudio não o conseguirão traduzir.4

As opiniões na Internet são variadas; enquanto há pessoas que consideram este livro uma confusão cansativa e sem qualquer sentido, há quem tenha ficado afetado, com noites sem pregar olho, e com a sensação de que algo terrível está prestes a acontecer. Apresenta-se a seguir duas críticas:

‘O livro tem uma forma fantástica de se penetrar na tua pele e ganhar raiz. Quando o li o meu horário de sono, que já era incrivelmente mau, tornou-se ainda mais irre-gular e bizarro.’ (Jake Thomas, 2007)5

‘…tens de te comprometer com o livro. Deixar a realidade do livro capturar-te, … Quando o acabares de ler, vais provavelmente perceber que a Casa tomou algum espaço dentro de ti, e vais começar a duvidar se os pesadelos irão realmente acon-tecer, presumindo que ainda não começaram.’ (Wil Wheaton, 2012)6

83

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. DANIELEWSKI, Mark Z. 2000. House of Leaves. 2.ª ed. New York: Pantheon Books.

LIVROS CURIOSOS

FIGS. 19, 20

CASA DE FOLHAS [2000]

DIMENSÕES 230 × 174 mm 1

TÉCNICA impressão

TINTA preta (texto), vermelha, azul (certas palavras)

ANÁLISE GRÁFICA palavra ‘house’ sempre a azul, ‘minotaur’ e passagens riscadas sempre a vermelho; texto justificado, texto alinhado à esquerda, texto alinhado ao meio, texto ao contrário; texto na diagonal; diversas grelhas de paginação, a certa altura todas as páginas têm grelhas diferentes; etc.… numeração de página alinhada ao meio em baixo; margens variadas.

85

HISTÓRIAS DE LIVROS

3.

CASOS DE ESTUDO

Neste capítulo são apresentadas conversas//entrevistas tidas com oito pessoas que repre-sentam as fases no processo e vida de um livro, ordenadas no tempo, desde a sua idealização, à sua criação, publicação, venda e, ultimamente, conservação e restauro. Assim, este capítulo divide-se em:

1. Autor, Abílio Bandeira: livro Há Horas do Diabo (2016), publicado pela Chiado Books (Lisboa), e oficial de justiça.

2. Editor, José Rui Teixeira: fundador da Cosmorama Edições (Porto), autor e teólogo.

3. Designer, Jorge Silva: fundador do ateliê Silva Designers (Lisboa), autor, editor e professor.

4. Encadernador, José Mário Santos: fundador da Invicta Livros (Porto), e engenheiro civil.

5. Alfarrabista, Lurdes Paiva: fundadora da livraria Gostar de Ler (Porto).

6. Bibliotecário, João Aparício: na Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades (Viseu) e professor.

7. Consumidora, Anabela Bacêlo: professora de História na Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades (Viseu).

8. Conservadora-restauradora, Ana Freitas: conservadora de papel na Reitoria da Universidade do Porto.

Estas conversas têm como objetivo aprender sobre as pessoas por detrás dos livros que compramos, conhecendo-as melhor através dessa ferramenta que as marcou. Pretendia-se deixar cada entrevistado à vontade para contar pequenas histórias, sendo que, nos casos em que isto foi possível, essas aparecem em destaque no livro Conversas de livros.

87

HISTÓRIAS DE LIVROS

3. No primeiro momento de cada conversa, refletimos sobre a infância e percurso escolar de cada entrevistado; no segundo momento analisou-se a carreira e trabalho de dia-a-dia; e, no terceiro momento, aprendemos sobre os livros que cada um leu ou lê.

Neste capítulo foram selecionadas apenas as perguntas e respostas iniciais de cada con-versa, que funcionam como uma espécie desneak peak e introdução a cada entrevistado. O total das conversas pode ser consultado no Conversas de livros, dedicado exclusivamente ao conteúdo destas conversas (funcionando assim como uma espécie de Anexos).

Relativamente à natureza das entrevistas, quatro foram feitas presencialmente, três por email, e uma por chat do Facebook. Nas entre-vistas escritas, ficou ao critério do entrevistadoreger-se pelo Antigo ou pelo Novo Acordo Orto-gráfico. A entrevista da Lurdes Paiva (Alfarrabis-ta), foi, inicialmente, feita oralmente e trans-crita, e após contacto com a mesma, esta fez uma revisão escrita.

89

HISTÓRIAS DE LIVROS

AUTOR

1. Enid Blyton (1897 – 1968) autora de Os Cinco (1942 – 63),coleção de 21 livros. Título Original: The Famous Five ; e de Os Sete, (1949 – 63), coleção de 15 livros. Título Original: The Secret Seven.

2. Júlio Verne (1828 – 1905), autor de Viagem ao Centro da Terra de 1864.

3. Alexandre Dumas (1802 – 70), autor de Os Três Mosqueteiros de 1844.

ABÍLIO BANDEIRA [18/03/19] entrevista escrita

Em minha casa sempre houveram livros; em criança, como a minha mãe trabalhava, ficava muitas vezes sozinho; uma das minhas brincadeiras preferidas era espalhar livros pelo chão, fazendo com eles ruas e largos, como se fosse uma aldeia; cada livro era uma casa e, depois, havia uns bonecos de plásticos que vinham de brinde nos gelados da ‘Olá’ e com eles fazia famílias, cada uma com sua casa (em cima do seu livro). Aos poucos, os livros foram-me também despertando o interesse, acabando, às vezes, por começar a ler determinado livro e esquecer-me de brincar com os bonecos.

Lia tudo o que me aparecia, mas comecei por ser um apaixonado pela banda dese-nhada, ainda hoje tenho uma coleção de bd’s antigas; mais tarde vieram Os cinco e Os sete da Enid Blyton,1 Júlio Verne, 2 Alexandre Dumas 3 e todo o género de litera-tura juvenil que conseguia encontrar ou que o pouco dinheiro que tinha conseguia comprar; era a época das bibliotecas; quem queria ler tinha que as frequentar. Tive também a sorte de ter um pai que nunca me recusou dinheiro para comprar livros, para livros nunca. Sorte mesmo.

Comecei por escrever poesia, coisas simples, com treze, catorze, quinze anos, por aí… paixões, dúvidas existenciais, coisas assim como esta:

NÃO SEI SE TE AMO (1975)Sei lá se te amo,se é teima ou ensejo?se te quero,ou se apenas te desejo?Sei que gosto de te ver,que ao pé de tifico sem jeito,e dou por mim a tremer,e em vez de dizero que quero dizer,gaguejo.E eu não sei,se este desejoque tenho de um beijo,e de ouvir os teus passos,é ou não saudadedos teus braços,que eu nunca abracei.Eu não sei...Eu não sei se é amor,mas se não for,desculpa, por favor,então é porque nunca te amei.

O SEU GOSTO POR LIVROS COMEÇOU DESDE CEDO?

QUE TIPO DE LEITOR ERA ENQUANTO CRIANÇA?

E O GOSTO PELA ESCRITA? APARECEU CEDO?

91

HISTÓRIAS DE LIVROS

EDITOR

1. Jacob (1785 –1868) e Wilhelm Grimm (1786 ––1859), autores de contos como A Capuchinho Vermelho.

2. Hans Christian Andersen (1805 – 75), autor de contos como A Pequena Sereia.

3. Oscar Wilde (1854 –1900), autor de O Retrato de Dorian Gray (1890).

4. Sophia de Mello Breyner Andersen(1919 – 2004), poetisa e autora de A Fada Oriana (1958).

5. José Antonio Ramos Sucre (1890 –1930), autor de Formas do Fogo (1929).

6. Para morrer (2004).

7. Melopeia (2004).

JOSÉ RUI TEIXEIRA [23/04/19] entrevista escrita

Era uma criança que gostava de ler. A casa da minha infância tinha uma boa biblio-teca, o que permitiu que me afeiçoasse ao livro-objeto mesmo antes de aprender a ler. Confesso que não lia muito (ou, pelo menos, não era ainda o leitor tendencialmente compulsivo que viria a ser no ensino secundário), mas creio que lia bem..., ou seja, creio que conseguia desdobrar a caixa-de-ressonância que os livros me ofereciam para habitar. As minhas primeiras leituras foram as narrativas dos irmãos Grimm,1 de Hans Christian Andersen 2 e de Oscar Wilde,3 mesmo antes dos contos de Sophia.4

Eu licenciei-me em Teologia na Universidade Católica Portuguesa, Porto. A minha primeira escolha era História/Arqueologia; porém, o desejo de ser presbítero da Igreja trouxe os necessários estudos teológicos. Quando fui à Faculdade de Letras da Universidade do Porto para me candidatar a Arqueologia, regressei a casa inscrito no mestrado em Filosofia. O doutoramento em Literatura (também na flup) adiou a licenciatura em Arqueologia. Seguiu-se um pós-doutoramento (na Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da ucp, Braga) sobre a questão do ‘desterro’ em diferentes contextos histórico-culturais da Literatura portuguesa. Atualmente, desenvolvo um segundo pós-doutoramento, sobre o poeta venezuelano José Antonio Ramos Sucre,5 na Faculdad de Filología da Universidad de Salamanca.

Eu tive sempre muito interesse na edição. Tinha uns doze anos quando editei uma espécie de publicação sobre História, que reproduzia e vendia aos meus familiares e vizinhos. Depois, fundei e dirigi várias publicações literárias, eclesiais e académicas. Em 2004, tendo publicado um livro nas Quasi Edições (Para morrer 6), tinha alguns poemas inéditos que decidi reunir num livro despretensioso, intitulado Melopeia,7 com a chancela Cosmorama, ainda sem a ideia de que aí nascia um projeto editorial.

QUE TIPO DE LEITOR ERA ENQUANTO CRIANÇA?

COMO FOI O SEU PERCURSO ACADÉMICO?

COMO SURGIU A COSMORAMA E QUAL FOI O PRIMEIRO LIVRO QUE EDITOU?

93

HISTÓRIAS DE LIVROS

DESIGNER

JORGE SILVA [04/04/19] entrevista oral

Venho de uma família muito remediada, e fiz um percurso escolar muito atípico. Fiz a instrução primária, o ciclo preparatório e, depois, os meus pais queriam que eu fosse para o liceu; eu insisti em ir para uma escola industrial e, portanto, estava a preparar-me para ser um eletricista. Não por nada de especial...eu sempre fiz bonecos, sempre desenhei. Mas não tinha uma leitura daquilo que poderia ser um ensino dedicado às artes, ou qualquer outra coisa parecida. O design era uma coisa desconhecida, não é? Como disciplina e como profissão. Andei numa escola industrial durante quatro anos, e a seguir ao 25 de Abril participei mais ativamente naquele período bastante efervescente e revolucionário. Tive uma atividade políti-ca substancialmente intensa durante aquela década.

E, então, por volta de 75, achei que já não fazia sentido; não tinha qualquer interesse emseguir uma carreira de ensino técnico, ou de engenharia, ou de outra coisa qualquer, que uma escola industrial faria supor. Passei para a António Arroio [Escola Artística] e de alguma maneira, é como se tivesse posto o contador a zeros. Fiz aquilo a que na altura se chamava o Curso Complementar de Artes Gráficas e que me daria, digamos, acesso às Belas Artes. Só que aquele foi um período muito conturbado na política e no ensinoe fomos obrigados a fazer o 12.º ano. Nessa altura andava na tropa, que foi também um estorvo e, por isso, só consegui chegar às Belas Artes em 81, graças à passagem administrativa em geometria descritiva no 12.º ano. Ao contrário, nunca teria posto os pés naquela faculdade e hoje, provavelmente, até nem estaríamos aqui a falar. A geometria descritiva era para mim um obstáculo intransponível, como depois voltou a ser nas Belas Artes. Estive seis anos nas Belas Artes; tive uma ativ-idade associativa bastante intensa, arranjei um emprego de part-time pelo meio, como designer, numa agência de publicidade. Depois, mais tarde, também, num ateliê de design. E as disciplinas teóricas, e, sobretudo, a geometria descritiva foram um travão e um obstáculo que eu não consegui ultrapassar.

Portanto, andei seis anos nas Belas Artes e não passei do 3.º ano, incompleto ainda porcima! Portanto, nem sequer sou bacharel, sou, academicamente falando, o tipo me-nos habilitado do meu ateliê. Somos oito pessoas e eu sou o que tem menos habili-tações literárias. Naturalmente, isso não foi um obstáculo para eu fazer o meu trabalho e a minha carreira como designer; enfim, vale o que vale. Às vezes, sinto a falta de alguma disciplina que poderia ter aprendido mais facilmente na escola. No entanto, a escola foi muito importante para mim, porque me deu uma espécie de GPS para toda a vida, em função também de uma geração de colegas, de artistas plásticos e gráficos, designers, fotógrafos, etc…pelos quais eu também oriento a minha vida, ou, porque estou pior que alguns deles, ou porque estou melhor. Concluindo, foi muito importante a escola, não pela habilitação académica, que não foi muito relevante, de facto, para o meu trabalho exterior, mas foi importante em termos geracionais.

COMO FOI O SEU PERCURSO ESCOLAR? SEMPRE QUIS SER DESIGNER?

95

HISTÓRIAS DE LIVROS

ENCADERNADOR

1. Alexandre Herculano (1810 –77), autor de O Bobo (1843).

2. Olivença 1801 (2004), de Manuel Amaral.

JOSÉ SANTOS [13/03/19] entrevista oral

COMO COMEÇOU O SEU GOSTO POR LIVROS E COMO FOI O SEU

PERCURSO ESCOLAR?

O meu gosto por livros começou na idade escolar, na escola primária, havia lá muitos livros em casa e eu gostava dos que tivessem imagens, que me chamassem à atenção. E depois quando havia a feira do livro, que antigamente era aqui na Avenida dos Aliados, a minha mãe levava-me sempre aí e lá me comprava um livrito. E o gosto pela leitura acentuou-se, mais ou menos, pela altura da 4.ª classe, quando eu me apaixonei por dois temas, história e geografia. Naquela época estas disciplinas eram dadas com alguma profundidade no ensino primário, e eu quis começar também a aprofundar essas áreas; lembro-me que aos doze anos, contrariamente a todas as sugestões, eu resolvi pegar num livro improvável, O Bobo do Alexandre Herculano,1

que para os doze anos, é um texto um bocadito pesado. Habituei-me muito cedo a consultar o dicionário e com o tempo tive sorte de ter tido sempre bons profes-sores a português. Andei no liceu Alexandre Herculano, essa coisa que está agora a cair, onde tive sempre bons professores a português, aliás o liceu tinha sempre bons professores, embora fosse sempre muito melhor a matemática do que fui a português.

Quando se inaugurou aqui a ponte da Arrábida, uma operação muito complexa, mormente na colocação do cimbre central, fui com o meu pai ver aquilo. Vieram até pessoas do estrangeiro e muita gente dizia que aquilo ia cair quando se tirasse o suporte, mas não caiu e ainda lá está. Claro que fiquei muito intrigado com a obra e perguntei ao meu pai como é que aquilo era possível, e ele disse: ‘eu sei lá, eu sou comerciante, isso foi feito por um engenheiro, o Edgar Cardoso. Por isso, se queres saber, tens de um dia te tornar engenheiro e consultar o projeto.’ E eu fiquei com aquilo na cabeça e disse: se eu puder vou tirar o curso de Engenharia. Aquilo ficou-me sempre a martelar e como fui sempre muito bom aluno a matemática não tive grandes dificuldades.

Sou também um leitor relativamente rápido. Para ter uma ideia tive que ir a Lisboa no outro dia e li na viagem de ida e volta o livro Olivença,2 e não estive continuamente a ler, de vez em quando, via a paisagem e ia ao bar. Portanto, sou um engenheiro que gosta muito de história e geografia e literatura, porque sempre gostei muito de português. Mas agora acho que já nem sei nada, porque diariamente sou confron-tado com palavras esquisitíssimas, antigamente chamava-se substantivo, agora já nem sei como se chama, se hoje fosse fazer um exercício de português, reprovava. E foi assim que começou o meu gosto pela leitura e pelos livros. A seguir veio a coleção de livros de primeira edição; os livros de primeiras edições normalmente são livros estragados, que precisam de um conserto. E eu comecei a usar os serviços de um encadernador, para mos consertar. E, às tantas, já sabia mais acerca do assunto do que ele, e fui desafiado para fazer a Invicta Livro, tarefa que aceitei com a máxima das facilidades, porque é algo que eu gosto.

97

HISTÓRIAS DE LIVROS

ALFARRABISTA

1. As Gémeas no Colégio de Santa Clara (1941– 45), coleção (original) de 6 livros, de Enid Blyton (1897–1968). Título Original: The Twins at St. Clare.

LURDES PAIVA [14/03/19] entrevista oral

COMO COMEÇOU O SEU GOSTO POR LIVROS?

Em criança tive muita dificuldade em falar. Tropeçava e arrastava as palavras, sobretudo aquelas que tinham as consoantes sonoras, e os meus irmãos (sou a sétima de oito) não me poupavam. Na altura, o silêncio era a minha melhor arma. Lembro-me que na época havia uma divulgação profusa da Disney com as traduções brasileiras. Achava aquele português horrível e, certo e seguro, não acrescentava nada à educação e formação intelectual dos meus irmãos. Logo, era a minha vingança pessoal. Colocava um banco para chegar ao contador da luz e para assim poder desligá-lo. Entretanto era só preciso esconder os Mickeys e substituí-los por outros que eu ponderava serem melhores. Creio que esta minha desarmonia para articular as palavras e a voz ser determinantemente nasalada, surtiu o fascínio pela leitura e pela boa dicção, uma vez que era cerebral, já que a minha era péssima.

QUE TIPO DE LEITORA ERA ENQUANTO CRIANÇA?

Ávida por estar no meu canto sem ser incomodada e ter os livros por companhia. Ávida para treinar as palavras em silêncio e saber dizê-las e articulá-las bem, para os meus irmãos deixa-rem de caçoar ou galhofarem à minha conta. Como éramos, e somos, muitos e eu sendo a sétima de oito, tinha acesso a uma diversidade de géneros, nomeadamente Enid Blyton: Os Cinco ; Os Sete ; As Gémeas 1… Os livros escolares, que os abria regularmente e fixava os meus olhos nas suas belas páginas, os livros do meu Pai, e a escolha recaía no sistema Político… , somam-se às evidências; tinha por vizinhos de frente, um casal amoroso, sem filhos, que nos acarinhavam muito e de idade avançada; tínhamos livre acesso à sua moradia e, claro está, aos meus olhos parecia-me que tinham imensos livros, dependor policial, espionagem e literatura russa e brasileira. As capas daquelas coleções, Ângulo Negro, Vampiro, Rififi, Escara-velho de Ouro e outros, fascinavam-me e, daí lê-los, compulsivamente!

Há algumas dezenas de anos, fazia parte do programa de Português, incentivar a leitura.Era proposto a cada aluno levar um livro para assim se fazer permuta entre os cole-gas de turma e se constituir uma pequena biblioteca. Tudo começou pelos meus tropeções nas palavras e, em contraponto, ter desenvolvido o amor à língua mãe, bem como a preocupação imanente de ouvir a boa articulação e dicção da mesma.

99

HISTÓRIAS DE LIVROS

BIBLIOTECÁRIO

JOÃO APARÍCIO [08/04/19] entrevista escrita

COMO COMEÇOU O SEU GOSTO POR LIVROS?

O gosto pela leitura e pelos livros acompanha-me desde pequeno; lembro-me de contactar com livros ou revistas ainda antes de entrar para a então chamada escola primária, com cinco anos. Não sei se já conseguia ler algumas palavras, mas, certa-mente, que lia as imagens e apreendia o sentido dos livros de banda desenhada. Sei que já conhecia o alfabeto e era capaz de escrever o meu nome antes de frequentar a escola. Penso que devido ao facto de ter um irmão dois anos mais velho do eu, que também gostava de ler, e por tentar acompanhá-lo em tudo o que ele fazia, incluindo a leitura, tal ajudou-me a desenvolver esse gosto mais precocemente.

QUE TIPO DE LEITOR ERA ENQUANTO CRIANÇA?

Era bom leitor. Lia tudo que o podia e sempre que podia. É preciso contextualizar. Vivia numa aldeia, a apenas 5 km de Viseu, mas, ainda assim, uma aldeia com todas aslimitações próprias dos meios isolados. Para além da escola, das brincadeiras de rua com outras crianças e da ajuda nos trabalhos do campo, que eram uma espécie de trabalhos forçados, não se passava nada. A televisão resumia-se a dois canais, estavam por inventar os videojogos e a Internet, não havia formação em modali-dades desportivas nem investimento em atividades culturais ou artísticas. A leitura era mais dos que uma ocupação do tempo livre: era um escape, uma fuga a largas horas de aborrecimento. Então lia, lia com sofreguidão. Tinha prazer na leitura, era como um vício. A banda desenhada da Walt Disney, mais conhecida como ‘os livros do tio Patinhas’, marcou profundamente os meus primeiros anos como leitor. Aindame lembro de muitos almanaques e Disney Especiais que li e reli na altura, ainda em edição brasileira: os campeões, os astronautas, os desportistas, cabuladores e caça-gazeteiros e muitos outros, emprestados, trocados ou comprados numa tabacaria, já muito manuseados e a preço económico. Depois, as histórias tradicionais e contos infantis (um livro que muito me encantou na altura e nunca mais vi em circulação foi O Vale Mágico). Os livros de Enid Blyton, da coleção Os Cinco e de Os Sete foram uma porta de entrada para novas experiências de leitura, de momentos emocionantes de aventura e de mistério. Com a visita da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian, a diversidade de leituras aumentou ainda mais.

Nesse tempo, os meus pais não incentivavam a leitura recreativa. Consideravam-na pouco formativa e até perniciosa, insistindo na prioridade de centrar a atenção aos livros da escola e nas aprendizagens escolares. Para contornar este clima de censura, desenvolvíamos estratégias arriscadas, como ler livros de banda desenhada camufla-dos nos manuais escolares e ler na cama, ao deitar, com os livros escondidos debaixo das cobertas. O prazer da leitura compensava o risco de uma possível repreensão…

Nas férias grandes havia maior distensão. Nas horas de maior calor, até que alguém selembrasse de me chamar, passava horas seguidas, deitado na cama, a ler. São hábitos que ainda tenho hoje: ler antes de adormecer e, quando o livro é mesmo estimulante, ler largos capítulos deitado na cama.

101

HISTÓRIAS DE LIVROS

CONSUMIDORA

1. O Colégio das Quatro Torres (1946 – 51), coleção (original) de 6 livros, de Enid Blyton (1897–1968). Título Original: The Malory Towers.

ANABELA BACÊLO [27/04/19] entrevista escrita

QUE TIPO DE LEITORA ERA ENQUANTO CRIANÇA?

Enquanto criança já gostava muito de ler, ‘tipo’ devoradora! Os meus livros preferidos: contos das princesas da Disney, contos dos irmãos Grimm, as aventuras da Anita, as coleções da Enid Blyton (Os Cinco; O Colégio das Quatro Torres 1) e de banda dese-nhada (Disney e Super Heróis).

A LEITURA ERA ALGO QUE A SUA FAMÍLIA ENCORAJAVA DURANTE A INFÂNCIA?

Sim, o meu Pai e a minha Mãe ofereciam-me muitos livros. Na rua de Luanda, onde vivi na infância, havia uma livraria onde ia muitas vezes com a minha Mãe, o que era fantástico! Lembro-me, como se fosse hoje, do meu entusiamo quando o meu Pai nos ofereceu (a mim e à minha irmã) uma caixa enorme, cheiinha de livros e revistas de banda desenhada que um amigo, por ir mudar de ramo comercial, lhe deu para as suas meninas.

COMO FOI O SEU PERCURSO ACADÉMICO?

O meu percurso escolar foi entre Luanda, Angola, onde nasci e vivi até junho de 1975 e Portugal. Frequentei o pré-escolar, a escola primária, o 3.º ciclo, até ao 8.º ano, em Luanda. O segundo ciclo, num colégio, em Viseu, o 9.º ano, em Oliveira de Frades, o ensino secundário em S. Pedro de Sul. Depois, surgem as dúvidas: começar a trabalhar ou ir para a Universidade? Optei por continuar a estudar. Direito ou História? Foram dias de dúvidas mas, o fascínio pelas grandes civilizações do passado, venceu e fiz a licenciatura em História, na Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra. Terminado o ensino superior ‘mergulhei’ no ensino. Sou professora de História do ensino básico e secundário na Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades. Adoro a minha profissão.

103

HISTÓRIAS DE LIVROS

CONSERVADORA-RESTAURADORA

1. Uma Aventura (1982–2019), coleção de 61 livros, de Isabel Alçada (n. 1950) e Ana Maria Magalhães (n. 1946).

2. António Mota (n. 1957), autor de A Casa das Bengalas (1995).

3. Alice Vieira (n. 1943), autora de Rosa. Minha Irmã Rosa (1979).

ANA FREITAS [15/03/19] entrevista oral

COMO COMEÇOU O SEU GOSTO POR LIVROS E COMO FOI O SEU

PERCURSO ACADÉMICO?

Eu venho de uma família onde crescemos sempre rodeados por livros; os meus pais sempre leram muito. Assim, as memórias mais recentes que tenho são livros de banda desenhada, do Tintin, do Astérix. Depois, lembro-me de nas férias de verão, devia ter à volta de oito anos, ir com a minha mãe para o seu trabalho, e nos espaços mais mortos, havia uma livraria lá perto, a livraria Contraste, e eu ia lá e com o dinheiro da mesada comprava livros. Livros de Uma Aventura,1 depois, o António Mota,2 a Alice Vieira,3 portanto, sim, os livros sempre me acompanharam.

É claro que, depois, havia uma altura, quando eu estava na escola, que eu não sabiaaquilo que ia seguir, não é? Acabei por seguir Artes a partir do 10.º ano, só que mantive as opções sempre muito abertas, por isso tive Física, Química, Matemática e, depois, quando terminei o 12.º ano, decidi entrar em Arquitetura. Eu já sabia mais ou menos o que queria, só que o curso de Conservação e Restauro só havia em Lisboa e em Tomar e eu não queria sair do Porto. Então achei que indo para Arquitetura acabava por chegar lá, só que ia dar uma volta muito grande e não ia ter ao mesmo sítio, mas podia acabar por chegar à Conservação do Património. E a questão é que no 1.º ano tive uma cadeira, que era a cadeira de projeto, e eu não conseguia projetar nada; então, soube que tinha de sair e acabei por tomar essa opção. Estive esse ano a estudar para os exames nacionais e depois fui para Lisboa; estive lá cinco anos, que era o tempo de duração do curso. Depois, terminei em 2006; já sabia que a área que queria era Papel e Documentos Gráficos, por isso, os dois últimos anos, o 4.º e o 5.º, foram já direcionados para essa área. Terminei em 2006 e comecei a trabalhar aqui na Biblioteca em Novembro de 2006 como voluntária; depois, estive um tempo a recibos verdes, mas sempre em Conservação e Restauro.

105

HISTÓRIAS DE LIVROS

FICHAS TÉCNICAS DAS OBRAS

A seguir apresentam-se fichas técnicas das obras analisadas nos capítulos Estado da Arte e Obras de Estudo, por ordem de aparecimento. Nas dimensões das obras coloca-se sempre a altura primeiro, e a largura a seguir. Relati-vamente à Classificação Tipográfica, seguiu-se a proposta do Prof. Doutor Enric Tormo i Ballester, assumida pelo departamento de Desenho e Imagem, da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona. Nos casos em que a informação é desconhecida, ou pouco viável, usa-se um ponto de interrogação (?); e nos casos em que a informação não faz sentido, como, no parâmetro da Localização Atual, em livros produzidos em série, usa-se o símbolo meia-risca (–).

107

HISTÓRIAS DE LIVROS

ESTADO DA ARTE

1. FERREIRA, Joaquim Antero Magalhães. 2003. Oficina Alvares Ribeiro: Uma família de impres-sores, editores, livreiros e papeleiros, do Porto e de Vizela (Portugal), do século xviii ao xx. Departamento de Diseño y Imagen, Universidad de Barcelona – Facultad de Bellas Artes. Classificação Tipográfica em todas as fichas técnicas segue a proposta do Prof. Doutor Enric Tormo i Ballester, assumida a partir de 1998.

2. MUSEUM, British. ‘Collection online — papyrus’. [Consult. 10/07/2019]. https://www.britishmuseum.org/research/collection_online/collection_object_details.aspx?objectId=113335&partId=1.

3. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

4. IDEM, ibidem, nota n.º 2.

5. LIBRARY, British. ‘The Diamond Sutra’. [Consult. 10/07/2019]. https://www.bl.uk/collection-items/the-diamond-sutra.

6. IDEM, ibidem, nota n.º 3.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 5.

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

O LIVRO DOS MORTOS [c. 1250 a.C.]

SUTRA DIAMANTE [868]

?1250 a.C.coleção de textos (autores desconhecidos)Tebas, Egito (Túmulo de Ani)egípcio (hieróglifo)papirorolomanuscrito e ilustradomanuscritas/caligráficas 1

670 × 420 mm 2

cdu: 2 (Religião/Teologia), 25 (Religiões do Mundo Antigo) 3

única1British Museum (Londres, Inglaterra)EA10470,3 4

?868coleção de textos (autores desconhecidos)Turquestão, Ásia Central (Caverna de Mil Budas)chinêspapelroloxilogravura manuscritas/caligráficasc. 5 m total (7 secções unidas) 5

pretacdu: 2 (Religião/Teologia), 24 (Budismo) 6

versão chinesa1British Library (Londres, Inglaterra)Or 8210 (cota estante) 7

preta (texto), branca, vermelha, laranja, amarela e verde (ilustrações)

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

109

HISTÓRIAS DE LIVROS

ESTADO DA ARTE

1. NORMAN’S, Jeremy. ‘The Book of Kells’.[Consult. 05/09/2019]. http://www.historyofinformation.com/detail.php?id=199.

2. DUBLIN, Trinity College. ‘The Book of Kells’. [Consult. 20/06/2019]. https://www.tcd.ie/library/manuscripts/book-of-kells.php.

3. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

4. DUBLIN, Trinity College. ‘Book of Kells Digital’. [Consult. 05/04/2019]. https://digitalcollections.tcd.ie/home/index.php?DRIS_ID=MS58_003v.

5. TOMBO, Torre do. 2010. ‘Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 16/05/2019]. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091.

6. IDEM, ibidem, nota n.º 3.

7. IDEM, ibidem, nota n.º 4.

LIVRO DE KELLS [800 – 900]

Leabhar Cheanannais800 – 900St. Jerome e Eusebius of Caesarea 1

Iona, Escócia ou Kells, Irlandalatimvelinocódicemanuscrito e iluminadomanuscritas/caligráficas330 × 255 mm (340 fólios) 2

cdu: 2 (Religião/Teologia), 27 (Cristianismo) 3

única1Trinity College Library (Dublin, Irlanda)IE TCD MS 58 4

APOCALIPSE DO LORVÃO [1189]

Apocalipse do Lorvão1189Beato de LiébanaSão Mamede Lorvão, Portugallatimpergaminhocódicemanuscrito e iluminadomanuscritas/caligráficas345 × 245 mm (221 fólios) 5

cdu: 2 (Religião/Teologia), 27 (Cristianismo) 6

única1Torre do Tombo (Lisboa, Portugal)PT/TT/MSML/B/44 7

preta (texto), azul, verde, amarela, laranja, lilás, vermelha (letras capitulares e decorações)

preta (texto), vermelha (certas palavras, letras capitulares, iluminuras), amarela (iluminuras)

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

111

HISTÓRIAS DE LIVROS

ESTADO DA ARTE

1. ENCYCLOPEDIA, New World. ‘Gutenberg Bible’. [Consult. 21/06/2017]. https://www.newworldencyclopedia.org/entry/Gutenberg_Bible.

2. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

4. LIBRARY, British. ‘Begin. [fol. 1 recto:]’. [Consult. 21/06/2017]. http://explore.bl.uk/primo_library/libweb/action/dlDisplay.do?vid=BLVU1&search_scope=LSCOP-ALL&docId=BLL01018826226&fn=permalink.

5. IDEM, ibidem, nota n.º 2.

6. IDEM, nota n.º4, Begin. ‘[fol. 2 recto:]’. [Consult. 21/06/2019]. http://explore.bl.uk/primo_library/libweb/action/dlDisplay.do?vid=BLVU1&search_scope=LSCOP-ALL&docId=BLL01000672478&fn=permalink.

BÍBLIA DE GUTENBERG [1456]

OS CONTOS DE CANTUÁRIA [1483]

Gutenberg Bible, 42 Line Bible ou Biblia Latina1456–Mogúncia, Alemanhalatimpapel; velinolivroimpressãogóticas445 × 307 mm 1

cdu: 2 (Religião/Teologia), 27 (Cristianismo) 2

1.ªc. 50 existentes

várias, exemplos: 018826226 (British Library); etc 4

The Canterbury Tales1483Geoffrey ChaucerWestminster, Inglaterrainglêspapellivroimpressão e xilogravuragóticas?preta (texto e xilogravuras), vermelha (letras capitulares)cdu: 8 (Língua, Linguística, Literatura), 82 (Literatura) 5

2.ª?British Library (Londres, Inglaterra)000672478 (British Library) 6

preta (texto), vermelha, azul, verde e amarela (certas palavras, letras capitulares, decorações)

várias, exemplos: Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa, Portugal); Bristish Library (Londres, Inglaterra); Gutenberg Museum, (Mogúncia, Alemanha); etc 3

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

113

HISTÓRIAS DE LIVROS

ESTADO DA ARTE

1. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

2. GALLERY, William Morris. ‘The Story of the Glittering Plain (1891)’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.wmgallery.org.uk/collection/artists-64/kelmscott-press-1891-1898/initial/k/page/3/object/the-story-of-the-glittering-plain-k8-1891.

3. IDEM, ibidem, nota n.º 1.

BÍBLIA POLIGLOTA DE PLANTIN [1573]

HISTÓRIA DA PLANÍCIA BRILHANTE [1891]

Biblia Polyglotta1573–Antuérpia, Bélgicalatim, hebreu, caldeu e siríacopapel; velinolivroimpressãocom patilha?pretacdu: 2 (Religião/Teologia), 27 (Cristianismo) 1

única13 (velino)Museum Plantin-Moretus (Antuérpia, Bélgica)?

The Story of the Glittering Plain1891William MorrisLondres, Inglaterrainglêspapellivroimpressãocom patilha; decorativas207 × 146 mm 2

preta (texto, letras capitulares, decorações), vermelha (títulos)cdu: 8 (Língua, Linguística, Literatura), 82 (Literatura) 3

1.ª???

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

115

HISTÓRIAS DE LIVROS

ESTADO DA ARTE

1. BONHAMS. ‘Lote 50 – Grabhorn Press’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.bonhams.com/auctions/21845/lot/50/?category=list.

2. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

3. CENTER, Bard Graduate. ‘Sheila Hicks’. [Consult. 05/09/2019]. https://store.bgc.bard.edu/sheila-hicks-weaving-as-metaphor-edited-by-nina-stritzler-levine-with-arthur-c-danto-and-joan-simon/

4. AMAZON. ‘Sheila Hicks: Weaving as Metaphor’. [Consult. 22/06/2019]. https://www.amazon.com/Sheila-Hicks-Metaphor-Graduate-Decorative/dp/0300116853.

5. IDEM, ibidem, nota n.º 2.

6. IDEM, ibidem, nota n.º 3.

FOLHAS DE RELVA [1930]

TECER COMO METÁFORA [2010]

Leaves of Grass1930Walt WhitmanSão Francisco, Estados Unidos da Américainglêspapellivroimpressão e xilogravuracom patilha365 × 247 mm 1

preta (texto, xilogravuras), vermelha (títulos)cdu: 8 (Língua, Linguística, Literatura), 82 (Literatura) 2

1.ª400várias?

Weaving as Metaphor2010Nina Stritzlier-Levine (editora); Arthur C. Danto; Joan Simon 3

Nova Iorque, Estados Unidos da Américainglêspapellivroimpressãocom patilhac. 210 × 150 mm 4

preta (texto), cores (fotografias)

1.ªprodução em série–isbn: 978-0300116854 6

cdu: 7 (Arte. Recreação. Entretenimento. Desportos), 7 A/Z (Artistas e sua obra) 5

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

117

HISTÓRIAS DE LIVROS

OBRAS DE ESTUDO

1. SHAILOR, Barbara A. ‘Beinecke MS 408 – Cipher Manuscript’. Yale University. https://pre1600ms.beinecke.library.yale.edu/docs/pre1600.ms408.HTM.

2. IDEM, ibidem.

3. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

4. LIBRARY, British. ‘The life and opinions of Tristram Shandy, Gentleman’. [Consult. 22/06/2019]. http:/explore.bl.uk/primo_library/libweb/action/dlDisplay.do?vid=BLVU1&search_scope=LSCOP-ALL&docId=BLL01003497998&fn=permalink.

O MANUSCRITO DE VOYNICH [xv – xvi]

A VIDA E OPINIÕES DE TRISTRAM SHANDY, CAVALHEIRO [1759 – 1767]

Voynich Manuscriptxv – xvidesconhecidoEuropadesconhecidapergaminhocódicemanuscrito e ilustradomanuscritas/caligráficas225 × 160 mm 1

preta (texto), azul, verde, vermelha, amarela (ilustrações)desconhecidoúnica1

Beinecke MS 408 2

The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman1759 (primeiros 2 volumes) – 1767 (último volume, 9 ao todo)Laurence SterneIorque, Inglaterrainglês?livroimpressãocom patilha?pretacdu: 8 (Língua, Linguística, Literatura), 82 (Literatura) 3

1.ª?várias, exemplo: British Library (9 volumes, 1.ª ed.)003497998 (n.º do sistema British Library) 4

Yale University – Beinecke Rare Book & Manuscript Library (New Haven, eua)

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

119

HISTÓRIAS DE LIVROS

1. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

2. Informação facultada pela Invicta Livro.

3. IDEM, ibidem nota n.º 1.

OBRAS DE ESTUDO AMOR CASADO OU AMOR NO CASAMENTO [1918]

DECADÊNCIA [1923]

Married Love or Love in Marriage1918Marie StopesLondres, Inglaterrainglêspapellivroimpressãocom patilha?preta

1.ª???

Decadência1923Judith TeixeiraLisboa, Portugalportuguêspapellivroimpressãocom patilha340 × 240 mm 2

preta (texto) e vermelha (título, capitular)cdu: 8 (Língua, Linguística, Literatura), 82 (Literatura) 3

2.ª???

cdu: 3 (Ciências Sociais), 30 (Teorias, Metodologias e Métodos nas Ciências Sociais em Geral) 1

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

121

HISTÓRIAS DE LIVROS

OBRAS DE ESTUDO

1. DANIELEWSKI, Mark Z. 2000. House of Leaves. 2.ª ed. New York: Pantheon Books.

2. SOCIAIS, Centro de Estudos. Universidade de Coimbra. https://www.ces.uc.pt/biblioteca/documentos/CDU.pdf.

3. IDEM, ibidem, nota n.º1.

CASA DE FOLHAS [2000]

House of Leaves2000Mark DanielewskiNova Iorque, euainglêspapellivroimpressãocom patilha; sem patilha230 × 174 mm 1

preta (texto, imagens), vermelha, azul (certas palavras)cdu: 8 (Língua, Linguística, Literatura), 82 (Literatura) 2

2.ªprodução em série–isbn: 0-375-70376-4 3

TÍTULO ORIGINAL

ANO

AUTOR

ORIGEM

LÍNGUA

SUPORTE

OBJETO

TÉCNICA

TIPOGRAFIA

DIMENSÕES

TINTA

ASSUNTO

EDIÇÃO

EXEMPLARES

LOCALIZAÇÃO

COTA

123

HISTÓRIAS DE LIVROS

CONCLUSÃO 125

Tendo em conta que vivemos numa época repleta de novas soluções digitais em que o livro tradicional pode estar em risco, é imperioso continuar a defendê-lo, atribuindo-lhe o valor merecido. Assentando nesta realidade, este projeto reúne informação relativa à história do livro, às obras que a marcaram, mas também a perspetivas distintas de quem lida atualmentecom o Livro no seu dia-a-dia. Visto que há várias obras e estudos centrados no campo da história do livro, foi intenção da autora fazer uma abordagem diferente, mais acessível e mais geral, usando como base de pesquisa obras diversificadas, sempre com a propósito de contar histórias.

Inicialmente, foi feita uma investigação anco-rada em determinadas obras, selecionadas à medida que o estudo foi desenvolvido. À volta destas, construiu-se uma breve introdução à história do livro, importante para contextualizar este objeto e o seu progresso até ao presente. A última parte deste capítulo, contempla tam-bém uma curta reflexão sobre o futuro do livro. Ao longo desta pesquisa foram ‘descobertos’ exemplares que não entrando no capítulo da História do Livro, devem, igualmente, ser apre-ciados. Formou-se assim o segundo capítulo com livros misteriosos, proibidos e destruídos, entre outros, e mais histórias relevantes que merecem fazer parte deste estudo. Em terceiro lugar, apresentam-se as entrevistas (que foram uma decisão tomada logo no início do projeto quando a ideia era ainda embrionária), com o objetivo de conhecer quem está hoje envolvido na indústria do livro. Nos capítulos anteriores abordou-se o passado do livro, mas aqui, o focoé o presente. Nalguns casos conseguiu-se obter ainda mais histórias curiosas acerca deste ob-jeto, cheias de valor por serem contadas direta-mente por quem as vivenciou.

Posteriormente, fez-se um exercício de design editorial composto pelos artefactos Histórias delivros e Conversas de livros que, graficamente, HISTÓRIAS DE LIVROS

127

auxilia no reconto de todas estas histórias, já que é quase totalmente inspirado nas obras analisadas nos primeiros dois capítulos do projeto. Pretendeu-se, também, nesta fase, incluir o leitor no processo de paginação dos artefactos, assinalando e explicando cada escolha com recurso ao uso da cor vermelha.

Pelo exposto, espera-se que este projeto seja uma ferramenta útil para quem deseja aprendersobre o Livro em geral assim como para futuros alunos de design editorial, e/ou para quem pretenda estudar mais especificamente, por exemplo, o papel do autor/editor/designer, etc.

Diga-se em abono da verdade, que a elaboraçãodeste projeto teve certas limitações, especial-mente de carácter temporal. No que diz respeitoàs entrevistas, estas foram realizadas relativa-mente cedo no decurso do projeto (por volta do mês de abril de 2019), dado que a autora tinha, inicialmente, planeado entregar o projeto na 1.ª fase, em junho. Como a entrega foi adiada para o mês de setembro, o projeto cresceu, podendo as entrevistas, por esse facto, possibilitar a for-mulação de mais uma ou duas perguntas. Poder-se-ia, talvez, acrescentar uma questão relacionada com o futuro do livro, onde ficás-semos a perceber a opinião do entrevistado acerca desse assunto. Todavia, devido especial-mente à disponibilidade dos entrevistados, não foi possível fazer essa melhoria. Por outro lado, idealmente, ter-se-ia conseguido obter pelo menos uma história relativa a livros de cada entrevistado, facto que não se verificou.

Se o projeto pudesse ser continuado, a primeira etapa seria corrigir os pontos suprarreferidos. De seguida, arquitetar-se-ia uma ampliação e, consequente melhoria de cada capítulo, com mais histórias de livros que aprofundem a His-tória do Livro; histórias de livros de outras cate-gorias, por exemplo, Livros Perdidos e histórias de livros conseguidas em entrevistas adicionais (poder-se-ia entrevistar dois/três autores, dois//três editores, dois/três designers, etc.).HISTÓRIAS DE LIVROS

LIVROS

FONTES E REFERÊNCIAS

REFERÊNCIAS CITADAS

CAVE, Roderick, e Sara Ayad. 2014. A History of the Book in 100 Books. London: British Library.

ECO, Umberto. 2014 (Milão, 1980). The Name of the Rose. ebook. 1 ed. Boston, New York: Mariner Books.

ECO, Umberto, Jean-Claude Carrière, e Jean-Philippe de Tonnac. 2017 (Paris, 2009). Não Contem com o Fim dos Livros. Tradução de Joana Chaves. 1.ª ed. Lisboa: Gradiva Publicações.

EDITORES Reunidos, S.A. 1998. Egipto: Um Tesouro da Humanidade. Vol. 1. Lisboa: Planeta DeAgostini.

ELIOT, Simon, e Jonathan Rose. 2007. A Companion to the History of the Book. Blackwell Publishing Ltd.

FEBVRE, Lucien, e Henri-Jean Martin. 1958. O Aparecimento do Livro. Tradução de Henrique Tavares e Castro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

HUNTER, Dard. 1978 (1.ª ed.: 1943). Papermaking: The History and Technique of an Ancient Craft. (cópia da 2.ª ed. de 1947). ed. New York: Dover Publications.

MANGEL, Alberto. 2014 (Toronto, 1996). A History of Reading. eBook ed. New York: Penguin Books.

McMURTRIE, Douglas C. 1965 (Nova Iorque, 1937). O Livro: Impressão e Fabrico. Tradução de Maria Luísa Saavedra Machado. 3.ª ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

ROSE-MARIE, e Rainer Hagen. 2006. Egipto. Pessoas — Deuses — Faraós. Lisboa: Taschen.

ALANÍS, Luz María Ranguel. 2011. Del arte de imprimir o la Biblia de 42 líneas: aportaciones de um estúdio crítico. Departamento de Diseño y Imagen, Universidad de Barcelona – Facultad de Bellas Artes.

ALMEIDA, Joyce Maia. 2014. Sodoma Divinizada: um manifesto em favor de Botto. [Consult. 08/06/2019]. https://lume.ufrgs.br/handle/10183/105270.

BARBOSA, Sara. 2014. Quem tramou Judith Teixeira? (Uma História com Fantasmas). Estrema: Revista Interdisciplinar de Humanidades. n.º 4. [Consult. 08/06/2019]. https://www.academia.edu/11718831/Quem_tramou_Judith_Teixeira._Uma_hist%C3%B3ria_com_fantasmas.

FERREIRA, Joaquim Antero Magalhães. 2003. Oficina Alvares Ribeiro: Uma família de im-pressores, editores, livreiros e papeleiros, do Porto e de Vizela (Portugal), do século xviii ao xx.Departamento de Diseño y Imagen, Universidad de Barcelona – Facultad de Bellas Artes.

129

DISSERTAÇÕES

HISTÓRIAS DE LIVROS

LINKS BAX, Stephen. 2017. ‘The world’s most mysterious book — Stephen Bax’. [Consult. 07/06/2019]. https://ed.ted.com/lessons/the-world-s-most-mysterious-book-stephen-bax.

BBC. ‘Marie Stopes (1880 – 1958)’. [Consult. 30/05/2019]. http://www.bbc.co.uk/history/historic_figures/stopes_marie_carmichael.shtml.

BLUMBERG, Naomi. 2016. ‘Voynich Manuscript’. Encyclopaedia Britannica. [Consult. 30/05/2019]. https://www.britannica.com/topic/Voynich-manuscript.

CENTER, Bard Graduate. ‘Sheila Hicks’. [Consult. 05/09/2019]. https://store.bgc.bard.edu/sheila-hicks-weaving-as-metaphor-edited-by-nina-stritzler-levine-with-arthur-c-danto-and-joan-simon/

CHANNEL, Louisiana. 2014. ‘Irma Boom - My Manifesto for a Book’. Entrevista por Chris-tian Lund. [Consult. 18/06/2019]. https://channel.louisiana.dk/video/irma-boom-my-manifesto-book.

CHRISTIE’S. 2018. ‘The Finest Bible in All Christendom’. [Consult. 09/05/2019]. https://www.christies.com/features/The-finest-Bible-in-all-Christendom-9278-3.aspx.

DEBENHAM, Marian Clare. 2018. ‘Married Love: the 1918 book by Marie Stopes that helped to launch the birth-control movement’. Independent. [Consult. 30/05/2019]. https://www.independent.co.uk/arts-entertainment/books/marie-stopes-birth-control-married-love-book-sex-eugenics-a8274036.html.

DICTIONARY, Cambridge. ‘cock-and-bull story’. Cambridge Dictionary. [Consult. 11/06/2019]. https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/cock-and-bull-story.

DUBLIN, Trinity College. ‘Book of Kells Digital’. [Consult. 05/04/2019]. https://digitalcollections.tcd.ie/home/index.php?DRIS_ID=MS58_003v.

DUBLIN, Trinity College. ‘The Book of Kells’. [Consult. 20/06/2019]. https://www.tcd.ie/library/manuscripts/book-of-kells.php.

FALCON-LANG, Howard. 2010. ‘The secret life of Dr. Marie Stopes’. BBC News. [Consult. 30/05/2019]. https://www.bbc.com/news/science-environment-11040319.

FERREIRA, Carolina, e Paulo José Oliveira. 2015. ‘Manuscritos medievais portugueses na Memória do Mundo: Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 20/05/19]. http://ensina.rtp.pt/artigo/manuscritos-medievais-portugueses-na-memoria-do-mundo/.

GOODREADS. ‘The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman’. GoodReads. [Consult. 11/06/2019]. https://www.goodreads.com/book/show/76527.The_Life_and_Opinions_of_Tristram_Shandy_Gentleman.

HARLITZ-KERN, Erika. 2015. ‘10 things you should know about the Book of Kells’. [Consult. 13/05/19]. https://bookriot.com/2015/11/05/10-things-know-book-kells/.

131

HISTÓRIAS DE LIVROS

LINKS HAWTHORNE, Elise. 2010. ‘Font Functions in House of Leaves’. [Consult. 07/06/2019]. https://postprintfictions.wordpress.com/2010/03/14/font-functions-in-house-of-leaves/.

IMDb. 2005. ‘A Cock and Bull Story (2005)’. IMDb. [Consult. 11/06/2019]. https://www.imdb.com/title/tt0423409/.LIBRARY, British. ‘Laurence Sterne’. British Library. [Consult. 11/06/2019]. https://www.bl.uk/people/laurence-sterne.

LIBRARY, British. ‘William Caxton’s illustrated second edition of The Canterbury Tales’. [Consult. 06/05/2019]. https://www.bl.uk/collection-items/william-caxton-and-canterbury-tales.

LUSA. 2015. ‘Livro do Apocalipse do Lorvão considerado memória do mundo da unesco’. [Consult. 15/05/19]. https://www.tsf.pt/cultura/interior/livro-do-apocalipse-do-lorvao-considerado-memoria-do-mundo-da-unesco-4832097.html.

McCRUM, Robert. 2013. ‘The 100 best novels: No 6: The Life and Opinions of Tristram Shandy, Gentleman by Laurence Sterne (1759)’. The Guardian. [Consult. 11/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/2013/oct/28/100-best-novels-tristram-shandy-sterne.

McCRUM, Robert. ‘The ‘stuff’ of Tristram Shandy’. British Library. [Consult. 11/06/2019].https://www.bl.uk/restoration-18th-century-literature/articles/the-stuff-of-tristram-shandy#.

McGRADY, Patrick. 2018. ‘The Machine That Made Us’. [Consult. 02/05/19]. https://www.youtube.com/watch?v=uQ88yC35NjI .

MILTENBURG, Anne. 2014. ‘Reputations: Irma Boom’. Eye Magazine 88. [Consult. 18/06/2019]. http://www.eyemagazine.com/feature/article/reputations-irma-boom.

MULLAN, John. 2018. ‘The Life and Opinions of Laurence Sterne: the first unapologetic literary celebrity’. The Guardian. [Consult. 11/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/booksblog/2018/mar/18/the-life-and-opinions-of-laurence-sterne-the-first-unapologetic-literary-celebrity.

MUSEUM, The British. 2011. ‘Journey through the afterlife Ancient Egyptian Book of the Dead’. [Consult. 17/06/2019]. https://www.britishmuseum.org/pdf/3665_BOTD_schools_Teachers.pdf.

NORMAN’S, Jeremy. ‘The Book of Kells’. [Consult. 05/09/2019]. http://www.historyofinformation.com/detail.php?id=199.

OLIVEIRA, Andreia. 2013. Judith Teixeira: a boca é o vazio cheio da periferia. Cadernos de Literatura Comparada. n.º 29. [Consult. 08/06/2019]. http://ilc-cadernos.com/index.php/cadernos/article/view/339/318.

PINHEIRO, Paula Moura. 2015. ‘Visita Guiada — Mosteiro do Lorvão’. [Consult. 16/05/19].http://ensina.rtp.pt/artigo/apocalipse-do-lorvao-raridade-do-seculo-xii/.

133

HISTÓRIAS DE LIVROS

LINKS POES, TruePsycho. 2009. ‘Mark Z. Danielewski — Interview w. Borders Vision’. [Consult. 07/06/2019]. min. 4:40 – 4:56. https://www.youtube.com/watch?v=P6J0JIjVKfI.

POOLE, Steven. 2000. ‘Steven Poole is intrigued by the warping of space in Mark Z. Da-nielewski’s House of Leaves’. The Guardian. [Consult. 05/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/2000/jul/15/fiction.reviews.

SOUSA, Martim de Gouveia e. 2014. Decadência (1923), de Judith Teixeira — o início da coragem literária. [Consult. 08/06/2019]. http://wwweuropa.blogspot.com/2014/02/decadencia-1923-de-judith-teixeira-o.html.

THOMAS, Jake. 2007. ‘Jake Thomas’s Reviews — House of Leaves’. GoodReads. [Consult. 07/06/2019]. https://www.goodreads.com/review/show/2291429.

THOMAS, Scarlett. 2016. ‘The Voynich manuscript: the unbreakable encryption?’. The Guardian. [Consult. 04/06/2019]. https://www.theguardian.com/books/booksblog/2016/aug/27/voynich-manuscript-unbreakable-encryption.

TOMBO, Arquivo Nacional da Torre do. 2010. ‘Apocalipse do Lorvão’. [Consult. 15/05/19]. https://digitarq.arquivos.pt/details?id=4381091.

UNIVERSE, Fractal. 2017. ‘Terence McKenna — The Voynich Manuscript (Lecture)’. [Consult. 04/06/2019]. https://www.youtube.com/watch?v=WTBOaaeTxm8.

UNIVERSITY, Yale. ‘Voynich Manuscript’. Beinecke Rare Book and Manuscript Library. [Consult. 07/06/2019]. https://beinecke.library.yale.edu/collections/highlights/voynich-manuscript.

WHEATON, Wil. 2012. ‘Wil Wheaton’s Reviews — House of Leaves’. GoodReads. [Consult. 07/06/2019]. https://www.goodreads.com/review/show/487485621?book_show_action=true&from_review_page=1.

WHITE, Andrew. 2018. ‘The Story of the Glittering Plain’. [Consult. 13/05/2019]. https://rosenbach.org/blog/the-story-of-the-glittering-plain/.

135

HISTÓRIAS DE LIVROS

REFERÊNCIAS NÃO CITADAS

ANSELMO, Artur. 1981. Origens da Imprensa em Portugal. Lisboa: Imprensa Nacional — Casa da Moeda.

BAÉZ, Fernando. 2009 (Barcelona, 2004). História Universal da Destruição dos Livros. Tradução de Maria de Luz Veloso. 1.ª ed. Lisboa: Texto Editores.

CLARK, John Willis. 1901. The Care of Books. The Project Gutenberg eBook ed. London: Cambridge at the University Press.

GUEDES, Fernando. 1987. O Livro e a Leitura em Portugal - Subsídios para a sua História, séculos xviii – xix. Lisboa: Editorial Verbo e São Paulo.

GUEDES, Fernando. 2001. O Livro como Tema — História, Cultura, Indústria. Lisboa: Verbo.

MARTINS, José Vitorino de Pina. 2007. Histórias de Livros para a História do Livro. Lisboa: Edições da Fundação Calouste Gulbenkian.

MARTINS, Maria Teresa Payan. 2012. Livros Clandestinos e Contrafações em Portugal no século xviii. Lisboa: Edições Colibri.

RAVEN, James. 2018. What is the History of the Book?. eBook ed. Cambridge, UK: Polity Press.

LIVROS

137

HISTÓRIAS DE LIVROS

FIGURAS Fig. 1, The judgement of the dead in the presence of Osiris https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:The_judgement_of_the_dead_in_the_presence_of_Osiris.jpg.

Fig. 2, Diamond Sutra, 868https://www.plumplumcreations.com/tag/diamond-sutra/.

Fig. 3, The Book of Kells, TCD MS 58, folio 204r, Luke 4:7 – 13, Trinity College Dublinhttp://blogs.ucc.ie/wordpress/theriverside/2017/05/29/the-book-of-kells-student-exhibition-ma-in-medieval-history-introduction-to-the-book-of-kells/.

Fig. 4, Apocalipse do Lorvão, PT-TT-MSML-B-44_m0136https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4381091.

Fig. 5, Apocalipse do Lorvão, PT-TT-MSML-B-44_m0137https://digitarq.arquivos.pt/viewer?id=4381091.

Fig. 6, Biblia Latina, Gutenberg Bible or 42 Line Biblehttps://www.smu.edu/Bridwell/SpecialCollectionsandArchives/Exhibitions/PeterSchoefferPrinterofMainz/GUTENBERGFUSTANDSCHOEFFER/Gutenberg-Bible.

Fig. 7, The Canterbury Tales, 2.ª ed., folio 21vhttps://www.bl.uk/treasures/caxton/search.asp.

Fig. 8, The Canterbury Tales, 2.ª ed., folio 22rhttps://www.bl.uk/treasures/caxton/search.asp.

Fig. 9, The Plantin Polyglot Bible. Biblia Sacra Hebraice, Chaldaice, Graece, & Latinehttps://www.christies.com/lotfinder/Lot/the-plantin-polyglot-bible-6154617-details.aspx.

Fig. 10, The Story of the Glittering Plain, 1891, University of Iowa, page 4http://digital.lib.uiowa.edu/cdm/ref/collection/morris/id/9829/.

Fig. 11, The Story of the Glittering Plain, 1891, University of Iowa, page 5http://digital.lib.uiowa.edu/cdm/ref/collection/morris/id/9829/.

Fig. 12, Leaves of Grass, Grabhorn Press, 1930https://www.sothebys.com/buy/6885a11e-dd2e-4b90-92fe-703947841217/lots/66fdeeb7-638e-4dab-8fb6-03bd8d14495d.

Fig. 13, Sheila Hicks, Weaving as Metaphor, 2006https://www.flickr.com/photos/7571644@N08/3993484536/in/photostream/.

Fig. 14, The Voynich Manuscripthttps://en.wikipedia.org/wiki/File:Voynich_Manuscript_(66).jpg.

Fig. 15, The Voynich Manuscripthttps://commons.wikimedia.org/wiki/File:Voynich_Manuscript_(141).jpg.

139

HISTÓRIAS DE LIVROS

FIGURAS

ENTREVISTADOS

Fig. 16, Tristram Shandy, 1.ª ed.http://diariodiborderline.blogspot.com/2013/10/cambiamento-di-prospettiva-lultimo.html.

Fig. 17, Married Love, Marie Stopes, 1918https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Marie_Stopes,_Married_love,_1918_Wellcome_L0028936.jpg.

Fig. 18, Decadência, Judith Teixeira, 2.ª ed.https://oportunityleiloes.auctionserver.net/view-auctions/catalog/id/1962/lot/709819/?url=%2Fview-auctions%2Finfo%2Fid%2F1962%2F.

Fig. 19, House of Leaves, Mark Z. Danielewski, p. 138Digitalização da autoraDANIELEWSKI, Mark Z. 2000. House of Leaves. 2.ª ed. Nova Iorque: Pantheon Books.

Fig. 20, House of Leaves, Mark Z. Danielewski, p. 139Digitalização da autoraDANIELEWSKI, Mark Z. 2000. House of Leaves. 2.ª ed. Nova Iorque: Pantheon Books.

141

Abílio BandeiraAutor do livro Há Horas do Diabo, publicado em 2016 pela Chiado Books (Lisboa), e oficial de justiça.

José Rui TeixeiraEditor, fundador da Cosmorama Edições (Porto), autor e teólogo.

Jorge SilvaDesigner, fundador do ateliê Silva Designers (Lisboa), professor na f baup, editor e autor.

José Mário Santos Encadernador, fundador da Invicta Livros (Porto), e engenheiro civil.

Lurdes Paiva Alfarrabista e fundadora da livraria Gostar de Ler (Porto).

João Aparício Bibliotecário na Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades (Viseu) e professor.

Anabela BacêloProfessora de História na Escola Básica e Secundária de Oliveira de Frades (Viseu).

Ana FreitasConservadora de papel na Reitoria da Universidade do Porto.

HISTÓRIAS DE LIVROS

ORIENTAÇÃOJoaquim Antero Magalhães Ferreira

REVISÃOLourdes PereiraAnabela Bacêlo

TIPOGRAFIAHeurística (Andrej V. Panov, 2014)Archivo (Omnibus Type, 2012)

PAPELMunken Lynx 120 gramas

IMPRESSÃONorcópia – Porto, Portugal

ENCADERNAÇÃODora Ladeiro

TIRAGEM4 exemplares

AGRADECIMENTOSMariana LadeiroClara MartinsJosé LadeiroAnabela BacêloFilipe CarmoMarco OliveiraCatarina AlmeidaElisa GarisMarta EstevesLourdes PereiraLurdes PaivaAbílio BandeiraJosé Rui TeixeiraJorge SilvaJosé Mário SantosJoão AparícioAna Freitas

PORTO, 2019