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HISTÓRIA DO FOTOJORNALISMO
Os primórdios da atividade fotojornalística
Revolução Industrial
A evolução tecnológica como principal fator para
que novos direcionamentos fossem dados aos
processos de representação e reprodução da
imagem estática
FOTOGRAFIA E VERDADE
Logo após o surgimento da daguerreotipia, os primeiros profissionais a
atuarem na área da fotografia buscaram conquistar para essas imagens o
status de arte.
Até então, não havia uma ideia consolidada que associasse a imagem à
transmissão de informações. A fotografia viria a mudar radicalmente essa
realidade; entretanto, isso demoraria ainda algumas décadas.
Inicialmente, os fotógrafos – muitos deles artistas habituados a produzirem
imagens por outras técnicas – copiaram os modos de representação da
realidade consagrados pela pintura. A ideia era fazer da fotografia uma
imagem artística, fazendo-a parecer-se cada vez mais com uma pintura.
PRIMÓRDIOS DO FOTOJORNALISMO
❑ “As primeiras manifestações do que viria a ser o fotojornalismo notam-se quando os primeiros entusiastas da fotografia apontaram a câmara para um acontecimento, tendo em vista fazer chegar essa imagem a um público, com intenção testemunhal” (SOUSA, 1998);
❑ Desde meados do século XIX a fotografia é utilizada como imagem de informação; entretanto, a publicação destas imagens ainda dependia dos artistas, os quais produziam gravuras a partir das fotografias;
❑ Entretanto, apesar da dificuldade técnica na reprodução de fotografias no jornal, outro aspecto influenciava neste fato: as pessoas, em geral, atribuíam um valor privilegiado ao desenho e à pintura;
❑ Desde a década de 1840 já se produziam daguerreótipos sobre acontecimentos, com o intuito de informar as pessoas sobre o fato, mostrar como as coisas tinham acontecido. Em 1842 surge a The Illustrated London, a primeira revista ilustrada. Em 1860, ela já havia atingido uma tiragem de 300 mil exemplares, demonstrando a existência de um mercado consumidor interessado na informação imagética;
Em 1842 acontece o marco inicial dos
primeiros indícios do que seria o fotojornalismo
propriamente dito.
Nessa época se principiam os processos de
reprodução da imagem.
Também surgem as confusões entre forma de
impressão X autoria.
Existia apenas a prensa, para imprimir com
qualidade cópias da imagem fotográfica.
Gravuristas e pintores tinham seus serviços
feitos a partir de um original fotográfico,
reproduzidos na madeira e somente depois
seria impressa.
Walter Benjamin chamaria anos mais tarde
de “perda da aura da obra de arte”.
“É importante frisar que nesse período
o fotojornalismo ainda estava se
desenhando como gênero da
fotografia que podia ser considerada
como um espelho do real, muito
próximo da pintura, portanto, ainda
uma forma de arte que acabara de ser
descoberta.” (Walter Benjamin)
Daguerreótipo feito pelo alemão Carl
Friedrich Stelzner, de um trágico
incêndio em Hamburgo.
O incêndio foi reproduzido com base
em um original fotográfico e impresso
em half tonena revista semanal “The
Illustrated London News”.
Carl Fiedrich Stelzner.
Carl Fiedrich Stelzner.
IMPRESSÃO EM MEIO-TOM
Processo de impressão por meios
mecânicos, no qual se usam chapas ou
matrizes preparados fotograficamente.
A retícula de meio-tom (retícula
uniforme também produzida
fotograficamente) é composta de
pontos que variam em frequência
(número por centímetro), tamanho ou
densidade, produzindo gradações
tonais que permitem a reprodução de
uma imagem em tom contínuo.
Victor Hugo em seu leito de morte. Nadar. 23 de maio de 1885.
Gravura de Victor Hugo em seu leito de morte publicada no
jornal L’Illustration em 30 de maio de 1885. Reverendo Henri
Dochy.
A fotografia deve ser analisada à luz das imagens de consumo que, no século XIX, conquistam cada vez mais clientes.
A invenção do formato cartão de visita, por Disderi, provoca uma verdadeira “febre” fotográfica: as pessoas passam a adquirir fotografias – especialmente os retratos – às dúzias. Reter os traços fisionômicos de uma pessoa a preços relativamente módicos, enfim, passou a ser uma realidade.
Observa-se também, neste período, um interesse em registrar o exótico e o desconhecido: realizam-se várias expedições fotográficas à África e ao Oriente Médio para abastecer o mercado de cartões postais. Havia, ainda, um grande mercado consumidor para a fotografia estereoscópica e outros divertimentos públicos e privados relacionados à fotografia.
O mercado consumidor da fotografia no século XIX
Lanterna Mágica pertencente a Militão Augusto de
Azevedo.
Caixa ótica de origem francesa. Primeira metade do século XIX.
Disco para aparelho de Fenacistoscópio
Maxime Du Camp
Maxime Du Camp
INOVAÇÕES TÉCNICAS ❑ À medida em que surgiam inovações técnicas no campo da fotografia, novos usos eram dados a estas imagens e, consequentemente, havia todo um conjunto de mudanças sociais;
❑ Daguerreótipo: imagem única (dificultava a difusão da informação imagética); longos tempos de exposição (impunha grandes restrições temáticas); alto custo da imagem fotográfica (atividade restrita a poucos profissionais e a um mercado consumidor restrito);
❑ Colódio úmido: imagem múltipla (facilitava a difusão da informação imagética); menores tempos de exposição (facilitou a execução de certos tipos de fotografia); preparação da chapa na hora de fazer a foto (restrições de registro em situações de ação);
❑ Cartão de visita: imagem múltipla (ajudou a ampliar o gosto pela serialização da imagem); baixo custo de produção (ampliou o acesso da população à fotografia, contribuindo para formar o mercado consumidor para as revistas ilustradas); técnica simples, com fotografias destituídas de grandes elaborações estéticas (prioriza a informação “objetiva” fornecida pela foto, e não suas qualidades plásticas).
A primeira reportagem extensa de guerra: Roger Fenton
na Guerra da Criméia
A Guerra da Crimeia foi um conflito que se estendeu de 1853 a 1856, na
península da Criméia (no mar Negro, ao sul da atual Ucrânia), no sul da
Rússia e nos Bálcãs. Envolveu, de um lado o Império Russo e, de outro, uma
coligação integrada pelo Reino Unido, a França, o Piemonte-Sardenha (na
atual Itália) - formando a Aliança Anglo-Franco-Sarda - e o Império Turco-
Otomano (atual Turquia). Esta coalizão, que contou ainda com o apoio do
Império Austríaco, foi formada como reação às pretensões expansionistas
russas.
Roger Fenton, fotógrafo oficial do Museu Britânico, foi convidado pelo editor
Thomas Agnew a fotografar os acontecimentos dessa guerra. Gravuras feitas
a partir dessas imagens, posteriormente, foram publicadas no The Illustrated
London News e no Il Fotografo.
Foto: James Robertson.
Roger Fenton na Guerra da Crimeia
“As fotos da Guerra da Crimeia realizadas por Roger Fenton possuem, de fato,
um condicionalismo que ultrapassa o dos limites definidos pelas tecnologias.
Sendo uma expedição encomendada pelo empresário Thomas Agnew, com a
primeira cobertura ‘fotojornalística’ de guerra nasce a censura prévia ao
fotojornalismo. Daí serem imagens que nada revelam da dureza dos combates.
Em vez disso, mostram a ‘falsa guerra’, os soldados bem instalados, longe da
frente. É ainda a guerra vestida com a sua auréola de heroismo e de epopeia,
como tradicionalmente era representada pela pintura.” (p. 34);
“Durante a Guerra da Crimeia salientou-se ainda um outro fotógrafo, também
britânico: James Robertson. Ele, provavelmente, foi o primeiro a fotografar
mortos em combate (...)” (p. 35)
Nasce o fotojornalismo: a guerra como tema privilegiado
Da Guerra da Crimeia em diante, todos os grandes acontecimentos serão
reportados fotograficamente.
A exemplo do que aconteceu com as fotos da Crimeia, nos Estados Unidos
levantam-se também problemas tecnológicos na hora de reproduzir em revistas
ilustradas fotografias como as da Guerra de Secessão – o primeiro evento a
ser massivamente coberto por fotógrafos.
Na cobertura desse conflito pontificaram, entre outros, nomes importantes para
a história do fotojornalismo, como Mathew Brady, freelance que havia sido o
fotógrafo oficial de Lincoln, e os seus colaboradores mais importantes,
Alexander Gardner, Timothy O’Sullivan e George N. Barnard.
As práticas de construção imagética tiveram influências durante a Guerra de
Secessão. Gardner chega a rearranjar um corpo de um sulista na célebre foto
de um soldado morto intitulada “Home of a rebel sharpshooter”, de 1863. Aliás,
o mesmo corpo pode ter sido usado para uma outra foto, intitulada “A
sharpshooter’s last sleep”.
Timothy O’Sullivan. The Harvest of Death. 1863
Foto: Timothy O’Sullivan.
Equipamento de George N. Barnard. 1864.
Alexander Gardner. Home of a rebel sharpshooter. 1863.
A cobertura da Guerra de Secessão já apresenta alguns aspectos importantes do
desenvolvimento do fotojornalismo:
❑ As primeiras noções relacionadas ao que posteriormente se denominaria como Direito
de Autor na fotografia. A associação de Mathew Brady com seus colaboradores ruiu quando
estes começaram a reclamar do fato de Brady assinar todas as fotos, incluindo a desses
últimos.
❑A descoberta definitiva, por parte dos editores das publicações ilustradas, de que os
leitores também queriam ser observadores visuais; a fotografia passa a ser vista como uma
força atuante e capaz de persuadir devido ao seu “realismo”, à verossimilhança;
❑ A percepção de que a velocidade entre o momento de obtenção da foto e o da sua
reprodução era fundamental numa esfera de concorrência: o recurso ao comboio para
transportar as fotos até a redação tornou-se um procedimento de rotina, que terá começado
a acentuar a cronomentalidade dos fotojornalistas envolvidos e a tornar a “atualidade” num
critério de valor-notícia também fotojornalístico; por vezes, as fotografias das batalhas eram
publicadas menos de uma semana após a sua realização.
❑ A aquisição da idéia de que era preciso estar perto do acontecimento quando este
tivesse lugar;
❑ A emergência da noção de que a fotografia possuía uma carga dramática
superior à da pintura e que era nisto que residia o poder do novo medium; essa
carga dramática ser-lhe-ia principalmente outorgada pelo fato de a câmera
“registrar” o que é focado no visor; assim, o observador tende a intuir que se
estivesse lá veria a cena da mesma maneira;
❑A guerra é despida da sua auréola de epopéia;
❑ Como a cobertura fotográfica da Guerra Civil que assolou os Estados Unidos
foi a “estória” dos exércitos da União, já que a Confederação não possuía
jornais ilustrados bem estruturados, evidencia-se que a imagem da guerra é,
frequentemente, a imagem que dela dá o vencedor ou, pelo menos, que em
todo caso, a imagem final da guerra é conformada pela imprensa mais forte.