historiografia das ações sociais nas instituições ... · sociedade como um todo, é preciso um...

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1 Historiografia das Ações Sociais nas Instituições Escolares do Estado São Paulo em Parceria com o Terceiro Setor INÊS OLINDA BOTELHO DE ARAÚJO 1 IVANISE FRANCO PEREIRA 2 JULIANO MOTA PARENTE 3 NEISE MARINO CARDOSO 4 MAGALI APARECIDA LEITE PENTEADO CHAGURI 5 CO AUTORA: SUELI MARIA PESSAGNO CARO6 Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL - Americana O termo Terceiro Setor surgiu no Brasil na década de 90 denominando as atividades desenvolvidas pela sociedade civil organizada, que por meio de ações sócio- educativas, culturais, ou ligadas ao meio ambiente, saneamento, saúde, buscavam atingir seus objetivos valorizando essencialmente a área social, marcadamente caracterizada por ações de fins não lucrativos, ou seja, que não objetivavam lucro. Contudo o Terceiro Setor, com o perfil e a estrutura como conhecemos hoje, originou-se no século XVI logo após a chegada dos portugueses ao Brasil, que começaram a desenvolver ações filantrópicas de cunho assistencialista, predominantemente de incentivo a prática da caridade cristã. Essas ações, que eram desenvolvidas pela igreja católica, tinham como principal objetivo ajudar na subsistência da população, melhorando a sua qualidade de vida, auxiliando em aspectos como saúde, higiene e educação. A afetividade era muito presente, 1 Professora da FUMEC - Campinas – EJA. Mestranda em Educação pela UNISAL. E-mail: [email protected] . Fone: (19) 3231-2918. 2 Professora da FATEC - São Paulo. Mestranda em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected] . Fone: (19) 3468-5140. 3 Professor da Anhanguera Educacional. Mestrando em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected] . Fone: (19) 3828-5023. 4 Professora do IMESSM – Botucatu. Mestranda em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected] . Fone: (14) 3814-6989. 5 Professora do IMESSM – Botucatu. Mestranda em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected] . Fone: (14) 3814-2123. 6 Professora doutora do Curso de mestrado em Educação –UNISAL - Americana e diretora de pós graduação da UNISAL – [email protected]

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Historiografia das Ações Sociais nas Instituições Escolares do

Estado São Paulo em Parceria com o Terceiro Setor INÊS OLINDA BOTELHO DE ARAÚJO1

IVANISE FRANCO PEREIRA2 JULIANO MOTA PARENTE3 NEISE MARINO CARDOSO4

MAGALI APARECIDA LEITE PENTEADO CHAGURI5 CO AUTORA: SUELI MARIA PESSAGNO CARO6

Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL - Americana

O termo Terceiro Setor surgiu no Brasil na década de 90 denominando as

atividades desenvolvidas pela sociedade civil organizada, que por meio de ações sócio-

educativas, culturais, ou ligadas ao meio ambiente, saneamento, saúde, buscavam atingir

seus objetivos valorizando essencialmente a área social, marcadamente caracterizada por

ações de fins não lucrativos, ou seja, que não objetivavam lucro.

Contudo o Terceiro Setor, com o perfil e a estrutura como conhecemos hoje,

originou-se no século XVI logo após a chegada dos portugueses ao Brasil, que começaram a

desenvolver ações filantrópicas de cunho assistencialista, predominantemente de incentivo a

prática da caridade cristã.

Essas ações, que eram desenvolvidas pela igreja católica, tinham como principal

objetivo ajudar na subsistência da população, melhorando a sua qualidade de vida,

auxiliando em aspectos como saúde, higiene e educação. A afetividade era muito presente,

1 Professora da FUMEC - Campinas – EJA. Mestranda em Educação pela UNISAL. E-mail: [email protected]. Fone: (19) 3231-2918. 2 Professora da FATEC - São Paulo. Mestranda em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected]. Fone: (19) 3468-5140. 3 Professor da Anhanguera Educacional. Mestrando em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected]. Fone: (19) 3828-5023. 4 Professora do IMESSM – Botucatu. Mestranda em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected]. Fone: (14) 3814-6989. 5 Professora do IMESSM – Botucatu. Mestranda em Educação pela UNISAL E-mail: [email protected]. Fone: (14) 3814-2123. 6 Professora doutora do Curso de mestrado em Educação –UNISAL - Americana e diretora de pós graduação da UNISAL – [email protected]

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visto que os religiosos enxergavam a caridade e o amor fraternal como uma forma de

minimizar seus sofrimentos.

Em 1543 foi inaugurada a Santa Casa de Misericórdia de Santos, considerada a

primeira instituição filantrópica do Brasil. Ao longo dos anos, agravada pela situação de

miséria, que vivia a população brasileira, surgiram muitas outras instituições como esta,

com os mesmos objetivos e atuações similares.

Na década de 70, a ação filantrópica tomou força, principalmente através das ONGs

(organizações não governamentais) e várias instituições começaram a surgir no Brasil,

carregando a bandeira em defesa dos direitos políticos, civis e humanos, recebendo respaldo

positivo da população que via nessas atividades, uma forma de exigir seus direitos que

deveriam ser garantidos pelo Estado.

Segundo ASHOKA e McKINSEY & COMPANY (2001)

As ONGs surgidas nas décadas de 70 e 80 configuraram um novo modelo de organização e gerenciamento de recursos. Ao contrário dos períodos anteriores, em que as organizações vinculavam-se ao Estado, tanto administrativa, como economicamente, com o surgimento das ONGs o vínculo passa a ser com as agências e instituições financiadoras internacionais (p. 14-15).

No Brasil a denominação terceiro setor é bastante recente, sendo pela primeira vez

utilizada por Rubens César Fernandes em sua obra Público Porém Privado (1994), ao

diferenciá-lo dos outros setores da sociedade: o Estado (primeiro setor) e as empresas

privadas (segundo setor).

O terceiro setor pode ser definido como uma organização privada com objetivo

público ou associativo, sem fins lucrativos. Segundo essa definição, podemos ainda

classificar as organizações do terceiro setor em entidades sociais, que desenvolvem

atividades de cunho social (associações, ONGs) e as organizações de cunho associativo,

como, por exemplo, os clubes. (SAZI, 2003)

Outra definição para terceiro setor pode ser: “Conjunto de iniciativas privadas, de

caráter público, com fins não econômicos, tais como associações e fundações,

marcadamente solidárias e destinadas ao interesse público”.

(www.pr.senac.br)

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Conforme dados do IBGE, existem hoje no Brasil em torno de 275 mil

fundações privadas e entidades sem fins lucrativos, sendo concentradas na sua maioria no

sudeste onde existem em torno de 120 mil.

O Terceiro Setor movimenta hoje cifras correspondentes a 1,5% do PIB6 e a

previsão é de que nos próximos anos, este índice suba para 5% equivalendo-se aos

percentuais de outros países. (ASHOKA e McKINSEY & COMPANY, 2001)

A estimativa é de que hoje, no Brasil, existam cerca de 1,5 milhões de pessoas

trabalhando no terceiro setor. Esse crescimento deve-se fundamentalmente ao engajamento

de empresas privadas que vêm realizando parcerias com as entidades do terceiro setor,

viabilizando equipamentos e recursos financeiros para a implementação de programas

sociais..

Frente a um panorama de pobreza completa em todos os segmentos da sociedade e

do abandono dos poderes públicos, além da ausência de políticas sociais eficientes, percebe-

se cada vez mais a importância da participação das organizações da sociedade civil,

realizando parcerias que venham a minimizar os problemas sociais, permitindo não só a

subsistência financeira das famílias atendidas pelas ações sociais, mas, sobretudo, criando

uma nova consciência de cidadania e respeito ao ser humano, que passa impreterivelmente

pela educação da população, ressaltando a inserção social e explicitando os direitos e

deveres do cidadão.

As parcerias do Estado com a sociedade civil intensificaram um processo de descentralização, que instigaram um fortalecimento das relações entre elas, abrindo espaços para a ampliação da atuação do Estado e o desenvolvimento de novas ações (NOGUEIRA, 2004).

Para RIFKIN (1997) citado por COELHO (2002)

O problema do terceiro setor brasileiro é que ele ainda não tem consciência de sua condição. Falta-lhe uma identidade. Sem identidade não há poder. Sem poder não há como o terceiro setor tratar como iguais o mercado e o governo; e enquanto isso não acontecer, ele não poderá começar a lidar com os problemas que a sociedade civil enfrenta em seus respectivos países (p.68).

6 PIB (produto interno bruto) em 2004 foi de R$ 1,769 trilhão. (fonte IBGE) 1,5% PIB = R$ 26,5 bilhões.

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.

No entanto,se o terceiro setor pretende construir uma história de contribuição para a

sociedade como um todo, é preciso um posicionamento mais firme incisivo e de resistência,

sem o qual sua proposta será meramente cúmplice com um discurso evasivo e inexpressivo

dos poderes públicos, não passando de uma falácia que insinua, mas não convence.

Terceiro Setor é uma expressão com significados múltiplos e de diferentes sentidos

históricos,porém, não se trata mais do terciário, que se compunha das atividades da agricultura e

da indústria, mas de uma nova ordem social que faz o papel do Estado – o primeiro setor, e usa o

Mercado – o segundo setor.

. Nos EUA ele é associado ao termo associações voluntárias – fenômeno constitutivo da

própria nação e cultura americana – “sem fins lucrativos”. Não só grandes empresas, mas

também pequenos e médios empresários, apóiam ou investem no setor como forma de diminuir o

pagamento de taxas e impostos. Fundações são criadas para gerir os recursos destinados a obras

sociais, muitas delas dedicam-se a educação. Após a Segunda Guerra Mundial a expressão

ONG – Organização Não-Governamental – incorporou-se ao campo do Terceiro Setor.

Inicialmente, a nomenclatura ONG esteve associada à Organização das Nações Unidas e se

referia a um universo de entidades que não representavam governos, mas tinham presença

significativa em várias partes do mundo, tais como a Organização Internacional do Trabalho,

Cruz Vermelha, UNESCO, entre outras.

No Chile e no Brasil, as ONG´s encontraram o campo de atuação dado pelos regimes

políticos militares vigentes nos anos 70 e parte dos anos 80. Nesse período surgem ONG´s de luta

contra o regime político e de luta por direitos e condições mínimas de sobrevivência cotidiana no

que diz respeito às necessidades básicas.

O cenário das ONGs latino-americanas se alterou nestes últimos dez anos. A mudança das

formas de financiamento, a escassez de recursos e as mudanças internas em seus critérios e

diretrizes criou um cenário que levou à necessidade de gerarem recursos próprios e lutarem pelo

acesso aos fundos públicos. Passaram a buscar auto-suficiência financeira7 e a economia informal

tornou-se uma das principais saídas. Com isso as atividades de militância política, via pressões

7 Independentes em termos, pois sabe-se que a principal fonte de financiamento e agenda vêm de países avançados, além de recursos estatais.

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sociais, passaram para um segundo plano e as atividades produtivas ganharam centralidade no

dia-a-dia das ONGs.

Surgem então ONGs sem perfil caritativo ou filantrópico, com princípios, métodos,

objetivos, e focos de atuação diversos. Muitas redescobrem ideais socialistas e redefinem o mito

e as utopias das comunidades autogestionadas, outras propõem projeto de desenvolvimento auto-

sustentável dentro de uma economia capitalista. Outras ainda, investem em campanhas educativas

(educação não-formal) consolidando a atuação da sociedade civil organizada que busca, através

de suas atividades específicas e direcionadas, complementar a formação da criança, do

adolescente e do adulto em diferentes focos de atuação, porém quase sempre delimitada a um

determinado agrupamento social.

Outro resultado das mudanças da conjuntura sobre as ONGs foi a necessidade de

qualificação de seus quadros. Os “antigos” militantes foram procurar programas de

especialização e pós-graduação.

Neste contexto, “novas” entidades próximas ao modelo norte-americano non-profits8,

articuladas às políticas sociais neoliberais, dentro do espírito da filantropia empresarial,

emergiram atuando em problemas da realidade nacional, como as crianças em situação de risco,

alfabetização de jovens e adultos, preservação do meio ambiente, organização pela paz, contra

fome, contra violência em geral. É importante salientar que a partir dos anos 90 o Banco

Mundial9, enquanto agência financiadora, adotou uma postura de diálogo e privilegiamento de

ações e parcerias com as ONGDS10 (a maioria dos empréstimos do Banco envolve parcerias com

ONGs). Segundo Gohn (2001: 80), em 1994 metade dos financiamentos aprovados já envolviam

ONGDS de diferentes tipos e objetivos, o que nos mostra uma grande mudança, visto que entre

1973 e 1988 apenas 6% dos projetos financiados envolviam ONGs (Ibid)

Rapidamente o universo das ONGs alterou seu discurso, passando a enfatizar as políticas de parceria e cooperação com o Estado, destacando que estão em uma nova era, onde não se trata mais de dar as costas ao Estado ou apenas criticá-lo, mas de alargar o espaço público no interior da sociedade civil, democratizar o

8 Expressão que designa ausência de lucro, ou seja, sem fins lucrativos. 9 O Banco Mundial, concebido durante a Segunda Guerra Mundial, Bretton Woods, Estado de Novo Hampshire (EUA), inicialmente ajudou a reconstruir a Europa pós-guerra. È a maior fonte mundial de assistência para o desenvolvimento, proporcionando cerca de US$30 bilhões anuais em empréstimos para os seus países clientes. O Banco usa os seus recursos financeiros, o seu pessoal altamente treinado e a sua ampla base de conhecimentos para ajudar cada país em desenvolvimento numa trilha de crescimento estável, sustentável e eqüitativo. Atualmente a principal meta do trabalho do Banco Mundial é a redução da pobreza no mundo em desenvolvimento. 10 Organizações Não-Governamentais de Desenvolvimento Social.

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acesso dos cidadãos em políticas públicas e contribuir par a construção de uma nova realidade... (Gohn, 2001: 81)

Contudo, para Martins (2006),

o problema é que a (des)ordem neoliberal vivida contemporaneamente no Brasil, e em outros países latino-americanos, priorizou o individualismo, reduziu o espaço e a força de expressão dos interesses populares induzindo-o à passividade ético-política, piorou as condições de vida das classes subalternas, e aumentou consideravelmente o desafio daqueles que pretendem construir uma outra ordem econômica, social, política e cultural 11.

Do século passado para cá o número de ONGs aumentouconsideravelmente12.

Diariamente são criadas fundações e associações e organizações para promover o

desenvolvimento econômico local, impedir a degradação ambiental, defender direitos civis e

atuar em áreas onde o Estado é incipiente ou não consegue penetrar.

as ações desenvolvidas pelas ONGsforem cada vez mais direcionadas e específicas, delimitadas por um agrupamento social, sem qualquer vinculação com as demais ações desenvolvidas por outras organizações, na mesma ou em outras comunidades, não há (na verdade) a preocupação em conhecer e transformar globalmente a realidade. (Ibid)

Ao contrário, ocorre a produção e reprodução da vida e suas relações sociais sob forma

capitalista, (re)alimentando esse sistema, tornando a sobrevivência das amplas camadas

subalternas quase que um desafio diário, com fins paliativos que promovem ajustes parciais, sem

afetar a dinâmica global do modo de vida dos atores envolvidos.Assim, a classe trabalhadora

ainda é alvo de grandes desigualdades. Por estas causas é que as ações sociais nas instituições

escolares persistem na luta em prol de um trabalho de apoio efetivo à educação

formal.Descreveremos a seguir alguns modelos que apesar das dificuldades, erros e até

desconhecimentos das verdades que as envolvem politicamente ainda permanecem ativas.

11 Parágrafo do texto titulado “Educação sócio-comunitária em construção” de autoria de Marcos Francisco Martins, docente vinculado ao Programa de Mestrado em Educação do UNISAL, a ser publicado. 12 Um estudo publicado em 2004 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), em parceria com a ABONG (Associação Brasileira das Organizações Não-Governamentais) e o GIFE (Grupo de Institutos, fundações e Empresas) revelou que no ano de 2002 havia 276 mil fundações e associações sem fins lucrativos (FASFIL) no País. Contudo, os dados da pesquisa apontam uma imensa pluralidade e heterogeneidade dessas organizações sem fins lucrativos: igrejas, hospitais, escolas, universidades, associações patronais e profissionais, entidades de cultura e recreação, meio ambiente, de desenvolvimento e defesa de direitos, etc. As organizações voltadas para o desenvolvimento e defesa de direitos, para a promoção do meio ambiente e para o desenvolvimento rural, perspectivas de atuação em que as ONG´s se enquadram, perfazem um pequeno grupo de organizações dentro do universo associativo brasileiro. Contudo, esse grupo teve um crescimento grande na última década, tendo triplicado seu número, entre 1996 e 2002, ao passar de pouco mais de 2.800 organizações para aproximadamente 8.600 em seis anos.

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CEETEPS - Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”

Nas décadas de 50 e 60 do século recém findo, com a profunda transformação do sistema

econômico brasileiro e a expansão do setor industrial que passou a contar com parques diversificados e

com a presença de multinacionais, o Ensino Profissional reorganiza-se para atender às demandas sociais

emergentes, e aliviar de forma ainda tênue a desigualdade que se instalava nem nosso país.Assim com

o objetivo de qualificar e preparar o jovem para os desafios da dinâmica global,surgiram as escolas

técnicas públicas como:

Os CEETEPS – Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza13 que iniciaram

suas atividades em 6 de outubro de 1969, na época ainda denominado de Centro Estadual de Educação

Tecnológica de São Paulo porém, as primeiras reuniões do Conselho Estadual de Educação para a

criação da instituição aconteceram em 1963, quando surgiu a necessidade de formação profissional para

acompanhar a expansão industrial paulista.

A idéia de criar um Centro Estadual voltado para a Educação Tecnológica ganhou consistência

quando Roberto Costa de Abreu Sodré assumiu o Governo do Estado de São Paulo, em 1967. Em

outubro de 1969, o governador assinou o decreto-lei que criou a Entidade Autárquica destinada a

articular, realizar e desenvolver a educação tecnológica nos graus de ensino Médio e Superior.

Conforme análise de Luiz Antonio Cunha, quando a lei 5692/71 decretou obrigatoriedade

do ensino técnico de 2º grau, a idéia era a de acabar com os cursos clássico e científico e também com a

especificidade das famosas escolas técnicas industriais e das escolas normais, pois seus cursos seriam,

como o de todas as demais escolas de 2º grau, profissionalizantes, isto é, confeririam aos estudantes

uma habilitação profissional como técnico ou auxiliar técnico. Com essa medida, o governo objetivava

diminuir a demanda e a pressão que se fazia sobre o ensino superior, o que não ocorreu.

Em 10 de abril de 1973, o decreto 1.418 dá denominação ao Centro Estadual de Educação

Tecnológica e altera a constituição de seus cursos. Os cursos superiores existentes (Sorocaba e São

13 Antônio Francisco de Paula Souza (1869-1977), engenheiro, político e professor, nasceu em Itu/SP. Foi o fundador da Escola Politécnica de São Paulo, hoje integrada à Universidade de São Paulo. Seu desejo era introduzir no Brasil um ensino técnico voltado para a formação de profissionais preocupados com o trabalho e não apenas com discussões acadêmicas.

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Paulo) constituem-se em Faculdade, com a denominação de Fatec - Faculdade de Tecnologia de São

Paulo, conforme parecer 681/72, aprovado pelo Egrégio Conselho Estadual de Educação, em 22 de

maio de 1972. O Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo passa, então, a denominar-se

Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza” e é reconhecida como entidade mantenedora

da Faculdade de Tecnologia de São Paulo.

Contudo, as dificuldades na implantação do ensino profissionalizante tiveram como

conseqüência a desorganização do ensino público, de caráter geral nas escolas públicas de 2º grau, bem

como a desestruturação curricular. Porém, as Escolas Técnicas continuam a ser a principal fonte de

fornecimento de mão-de-obra especializada, não só de nível médio, como, também, em algumas delas,

de nível superior.

A partir de 1980 iniciou-se o processo de entrada das escolas técnicas na instituição, quando

foram transferidas pelo Governo do Estado, na gestão de Paulo Maluf, seis escolas técnicas: eram as

chamadas escolas conveniadas, que se originaram na década de 60 de um convênio entre a prefeitura do

município-sede da escola, que doava o terreno para a construção, o governo federal, que construía e

equipava as escolas, e o governo do estado, que ficava responsável pela manutenção das escolas,

incluindo a folha de pagamento de professores e funcionários. Essas escolas se localizavam em São

Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Campinas, Americana, Jundiaí e Mococa. Cada uma delas

tinha gestão própria, critérios diversos para seleção e remuneração de seus professores e funcionários.

Com o término do convênio, em 1980, a Secretaria da Educação do estado de São Paulo buscou uma

alternativa para que essas escolas deixassem de ser subvencionadas diretamente pelo governo estadual,

negociando sua transferência para o CEETEPS.

A incorporação das escolas técnicas ao Centro foi um processo envolvendo conflitos de

interesses, já que nem as escolas queriam se integrar à instituição, porque perderiam sua autonomia

administrativa e recursos financeiros, nem o Centro, que durante uma década se ocupou das faculdades

de tecnologia, se mostrava interessado no ensino médio, passando a gerenciá-lo não por um projeto

próprio, mas por uma imposição legal.

Além dessas seis primeiras escolas, em 1982, com o fim da profissionalização compulsória,

anunciado pela Lei 7.044/82, o governo do estado voltou a discutir o destino das tradicionais escolas

técnicas e acabou negociando com o Centro a transferência de mais seis colégios técnicos da rede

estadual. Essas escolas se localizavam nas cidades de São Paulo (duas), Sorocaba (duas), Mogi das

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Cruzes e Santo André. O decreto governamental justificava essa transferência argumentando que o

Centro Paula Souza era a instituição melhor preparada, do ponto de vista administrativo e pedagógico,

para acolher as escolas técnicas.

Para Ferretti, o Centro Paula Souza foi assumindo gradativamente a responsabilidade pelas

escolas técnicas, “em face do descaso ou da dificuldade encontrada pela Secretaria da Educação do

Estado para continuar administrando a rede de Ensino Técnico existente no estado após os sucessivos

percalços desencadeados pela vigência da Lei 5692/71.”

Esse segundo processo, de transferência das seis escolas para o Centro, segundo José Ruy

Ribeiro, diretor superintendente da instituição em 1982, foi bastante complicado pois o Centro teria

sido, naquela ocasião, bastante sacrificado já que junto com as escolas e seus muitos problemas — sem

equipamentos e com um corpo docente despreparado — não vieram recursos financeiros suficientes

para reformar o ensino técnico”. Por outro lado, o Centro incorporou o patrimônio, os imóveis e

equipamentos das escolas.

Com a mudança do governo do Estado e a entrada de Franco Montoro, em 1983, as discussões

sobre a transferência de todas as outras escolas técnicas da Secretaria da Educação foram suspensas.

Para gerenciar os colégios técnicos estaduais, o governo criou uma coordenadoria na própria SEE, a

Divisão das Escolas Técnicas (DISAETE), e assim, durante seis anos, eram de responsabilidade do

CEETEPS apenas doze escolas técnicas de nível médio, além das FATECs. Entre 1988 e 1989 o Centro

criou duas ETEs, uma em São Paulo e outra em Taquaritinga, totalizando as primeiras catorze escolas

técnicas.

Porém, esse número aumentou ainda mais quando, em 1993, final do governo Fleury Filho,

foram transferidas para o CEETEPS, novamente através de decreto, todas as oitenta e duas escolas

técnicas do estado, que ofereciam cursos nas áreas industriais, agrícolas e administrativas. Segundo

Ferretti, a saída de todas as escolas técnicas da Secretaria da Educação também aconteceu nessa época

no Rio de Janeiro, o que para o autor evidencia uma tendência no país de retirar do âmbito das

secretarias da educação a responsabilidade pela gestão das escolas técnicas.

A partir de 1998, através de decreto federal 2208/97, a educação profissional se configurou

como um sistema de educação paralela, composto de três níveis: básico, técnico e tecnológico. O nível

técnico é destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino

médio e os cursos técnicos passaram a ter organizar curricular independente do ensino médio.

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Atualmente, o aluno que optar pela profissionalização de nível médio precisa realizar o ensino médio

antes ou concomitante ao ensino técnico. Isso significa que a partir do decreto ficou proibido oferecer

um ensino técnico integrado com o ensino médio. Os currículos das habilitações técnicas ficaram

organizados em módulos que têm caráter de terminalidade, dando direito a certificados de qualificação

profissional específica..

O Centro Paula Souza traz uma lembrança de uma época de grandes transformações e

dificuldades14. Nesses anos todos, o CEETEPS foi, de certa forma, ampliando o número de unidades

escolares e cursos. Uma vez que os recursos eram insuficientes parcerias/convênios foram firmados

entre empresas públicas/privadas e a instituição, para o desenvolvimento de projetos agropecuários,

ecológicos e sociais, para a prestação de serviços à comunidade, para a criação de programas de

capacitação de professores; para a melhoria da rede física das escolas e para a criação de classes

descentralizadas.

Hoje, o Centro Paula Souza administra 125 Escolas Técnicas Estaduais (ETEs) e 26 Faculdades

de Tecnologia (Fatecs) no Estado de São Paulo, voltadas à formação, qualificação e capacitação de

profissionais aptos a darem suporte ao desenvolvimento tecnológico do país. Para tanto, oferece cursos

técnicos e tecnológicos em diversas áreas, e também ensino médio. Está vinculado à Secretaria da

Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado de São Paulo (SCTDET),

órgão do governo estadual que tem por objetivo intensificar o desenvolvimento sustentável do Estado,

estimular as vantagens competitivas das empresas e dos empreendedores paulistas, incorporar

tecnologia aos produtos da região e fortalecer as condições para atração de investimentos no Estado.

Também são vinculados à SCTDET o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Fundação de

Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),

a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita (Unesp) e a Universidade de São Paulo (USP).

As ETEs atendem mais de 90 mil estudantes nos níveis de ensino Médio e Técnico, para os

setores Industrial, Agropecuário e de Serviços, em cerca de 64 habilitações. Nas Fatecs, mais de 18 mil

alunos estão distribuídos em 29 Cursos Superiores de Graduação.

14 desde a deterioração da parte física das escolas e sucateamento de toda a parte instrumental de laboratório, cortes em projetos desenvolvidos, ensino fragmentado, de limite (reduzido) de tempo, com cada vez mais ênfase no quantitativo, desnível salarial, problemas com a qualificação e capacitação do corpo docente, entre outras, até mudanças na instituição em decorrência do projeto do governo federal.

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A Historiografia da Instituição de Educação de Jovens e Adultos em Campinas

Os poderes públicos, como o Ministério da Educação, não se preocuparam

somente com o ensino médio, técnico e superior,tiveram também como prioridade

assegurar a todos os brasileiros de 15 anos e mais, que não tiveram acesso à escola ou dela

foram excluídos precocemente, o ingresso, a permanência e a conclusão do ensino

fundamental e a qualificação/profissionalizante com qualidade.(lei 9394/96-art.1º§2º).

Para esta oferta da educação de jovens e adultos, modalidade da educação básica,

o MEC (Ministério da Educação), paralelamente à ação pedagógica própria,articula-se com

estados, municípios e sociedade civil organizada.

Em 1991, 20% da população com 15 anos de idade ou mais, eram analfabetos, segundo

dados da UNICEF. Foram considerados como analfabetos as pessoas capazes de ler e

escrever pelo menos um bilhete simples. As pessoas que aprenderam a ler e escrever, mas

esqueceram e, as que apenas assinavam o próprio nome (Cepal-Brasil-94-2-229).

No município de Campinas, temos um índice de 8% de analfabetismo absoluto para a

população de 15 anos, segundo o censo de 91.

Na Educação de Jovens e Adultos (EJA), o problema começa com a dificuldade no

levantamento de dados sobre esta área, isto explica a própria marginalização oficial de EJA

e... Desinteresse político em relação ao tema (Cf.Haddad,1993:pg.22).

Conforme os dados dos Cadernos de Educação e dos Cadernos “Pulsação da Rêde”

(1997) da Secretaria de Educação de Campinas, no governo de Getulio Vargas, com o

início da industrialização, houve um movimento tênue de escolarização de Jovens e Adultos

analfabetos.

Em 1947 houve a 1ª campanha de Educação de Adultos no Brasil, expandida para

Campinas.

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Em 1950 houve uma conscientização teórico-pedagógica da alfabetização, orientada

para uma discussão sobre a educação de jovens e adultos no Brasil todo.

Em 1964 como já foi citado, surgiu o Movimentos de Educação de Base(MEB).

Com Paulo Freire e a CNBB, criou-se então o I Plano Nacional de Alfabetização que

educava de acordo com a realidade existencial do aluno-educando. O trabalho tinha o

diálogo significativo, o que promovia um processo de conscientização nos educandos.Tudo

isto foi interrompido pelo Golpe Militar em 1964 e em 67 implantou-se o Movimento

Brasileiro de Alfabetização de Adultos (MOBRAL), chamado de educação popular

(assistencialista).

Em 1969, a campanha massiva para esvaziar o senso crítico aparentemente deu

certo e foi agregada a Educação Integrada através de vários convênios. Neste período

alguns grupos continuaram a realizar experiências isoladas com propostas mais críticas

desenvolvendo os princípios do método de Paulo Freire.

Em 1980 inicia-se a abertura política e há um avanço no trabalho com a língua

portuguesa e as operações matemáticas básicas.

Em 1986 inaugura-se o período da Educação Básica de Jovens e Adultos com a

Fundação Educar(Rio de Janeiro), que incentivava a prática conteudista com as quatro

áreas :Português, matemática,Estudos Sociais e Ciências/Saúde. Estes programas eram

empreendidos pelas Secretarias Municipais e Estaduais com introdução da cultura no

ensino e com a compreensão e o respeito da atuação do educando na sua história, no seu

mundo, com caráter crítico,problematizador e criativo.

Em 1988 a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é reconhecida pela constituição

Federal. Surge a teoria de Emilia Ferreiro,o construtivismo, onde o processo é: o aluno

constrói seu próprio conhecimento.

Em 1990 extingue-se a Fundação Educar, os municípios assumem estes

programas e reclamam a consolidação e a reformulação curricular pedagógica deste sistema

que solicita o entendimento da relação entre a problemática educacional e a problemática

social, o sócio interacionismo.

O analfabetismo passou assim a ser interpretado como marginalidade;

conseqüência do efeito da situação de pobreza gerada por uma estrutura social do país que o

produz.

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A Fundação Municipal para Educação Comunitária – Fumec, uma fundação de

direito público vinculada à Secretaria de Educação de Campinas, foi criada em 16 de

setembro de 1.987 (Lei Municipal no. 5380) com o objetivo de desenvolver programas

comunitários de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, educação infantil e de

Educação Profissional em parcerias com entidades públicas, privadas e de terceiro setor.

A lei nº 6.422 de 05/04/91, alterou os dispositivos da lei 5830, de 1997. A

Fundação passou a ter então natureza e personalidade jurídica de direito publico mas

manteve as parcerias.

Hoje são 6.366 alunos matriculados no EJA I, o chamado ensino supletivo de 1ª a

4ª série do Ensino Fundamental, atendidos em 308 salas de aula, instaladas em escolas,

empresas, associações de bairros, penitenciárias, albergues, igrejas e locais em que exista

demanda.

A maioria dessas salas está localizada na periferia da cidade, para facilitar o acesso

dos alunos, jovens e adultos das classes populares. As aulas têm a duração de duas horas e

trinta minutos por dia, de segunda a sexta feiras, formando três turmas de Programas de

Ensino Básico I/II/III (Pebs) para 1ª a 4ª séries do 1º grau.

Este programa envolve 308 professores e 255 profissionais de áreas de direção e

apoio. A sede administrativa e pedagógica ainda está no 9° andar da Prefeitura Municipal

de Campinas (Secretaria de Educação). Em todas as unidades, funcionam todos os

programas de alfabetização básica (Pebs), com projetos educativos-pedagógicos temáticos.

Em 1996, foram elaborados os marcos curriculares, programas de distribuição

de material pedagógico, programas de educação especial (inclusão) além dos Grupos de

Estudos, Capacitações e Projetos Especiais como: Jornal e Mídia na Escola (jornal na sala

de aula), PETE (Programa de Segurança no Trânsito), Orientação Sexual (Suporte aos

adolescentes nas questões da sexualidade), Biblioteca (leitura e literatura), que

complementam ainda, transversalmente, os conteúdos mínimos dos programas de ensino

básico. Hoje, as nomenclaturas e a ênfase nestes setores já se alteraram.

Na proposta metodológica da FUMEC é aplicado o método Construtivista

sócio-interacionista operacionalizado através de temas interdisciplinarizados, nos Pebs. Já

existem experiências de divisão por áreas e com professores diferentes para cada uma

delas, nos Pebs III.

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A FUMEC não possui prédios próprios para suas unidades, as aulas são

ministradas em salas de Escolas Municipais, Estaduais, Igrejas e Associações. Existem

alguns convênios e parcerias com obras religiosas, sindicatos, entidades,hospitais e

penitenciarias (em forma de projetos especiais que atendem de forma diferenciada, uma

clientela peculiar).

Hoje são atendidos aproximadamente 6.500 alunos, entre jovens e adultos e

um grande contingente de adolescentes que foram expulsos do ensino regular público

(situação de risco social, pessoal e escolar e de rua).

O grande desafio portanto é reunir e conciliar, numa mesma sala, os adolescentes que

buscam no supletivo, recuperarem o tempo perdido, para ingressar no mercado de trabalho e

ao mesmo tempo , adultos que decidiram aprender o que não foi possível em seu tempo

certo, além dos portadores de necessidades especiais e os idosos.

O resultado deste conflito, infelizmente tem sido um alto índice de evasão

e repetência , maior que no Ensino Fundamental Regular e médio.

A Secretaria Municipal de Educação de Campinas tem conseguido atingir

jovens e adultos que não puderam concluir o Ensino Fundamental também com o supletivo

de 1ª a 4ª e 5ª a 8ª série principalmente na periferia da cidade, nas regiões de maior

vulnerabilidade social como o Parque Oziel, maior assentamento da América Latina, onde

já estudam mais de 300 alunos.

. Projetos diversificados, como “Projeto Girassol”, atingem públicos em áreas

específicas, como os dos Albergues que atendem as necessidades mais imediatas dos

moradores de rua, trabalhando a auto-estima, a reinserção na sociedade e a valorização do

homem-cidadão. Têm também trabalhos sendo desenvolvidos na APOT PE Haroldo, com

drogadictos; na Casa Esperança e Vida com aidéticos, nos CAPs (Centros de Atendimentos

Psicossocial) e na Toca de Assis com abrigados

O trabalho que ocorre dentro dos presídios com os presos já sentenciados é

outra forma de levar a educação e alfabetização de adultos numa concepção ampla, que

concebe o educando na sua totalidade, indo além de informar e repassar conhecimentos,mas

formar um novo cidadão.

O Centro Cultural "Cândido Fumec" (região leste e sul), a partir do projeto

casa-escola é um comodato entre o serviço de saúde mental Dr.Cândido Ferreira e a

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Fumec, onde se desenvolvem trabalhos que completam e favorecem o perfil peculiar dos

estudantes que freqüentam estas salas de aula.

O “Aprender Não Tem Idade” coloca a educação ao alcance do servidor

público de Campinas e a chance de aprender a ler e escrever transforma sonho em realidade.

A oportunidade, oferecida e desenvolvida pela Fumec e a Secretaria Municipal de

Recursos Humanos, tem o objetivo de estimular os funcionários a voltarem aos estudos.

. O Cemefeja - Centro Municipal de Ensino Fundamental e de Educação de Jovens

e Adultos ”Paulo Freire”, é outro projeto, que funciona dentro do Externato São João (Obra

Social São João Bosco) e atende jovens até 18 anos em situação de risco social e pessoal,

buscando ressocializá-los. A relação de confiança entre educador e educando, o respeito à

situação peculiar e às suas necessidades garante êxito na educação formal e não formal. Lá

funcionam também salas que atendem os familiares desses jovens e pessoas das

comunidades e a de transição (adolescentes em situação de rua).

É um trabalho considerado pioneiro no País e reconhecido pelas entidades

assistenciais. O objetivo é o resgate da auto estima dos adolescentes e trazê-los de volta para

a escola ressocializando-os.

Outra iniciativa de aprender a ler e escrever foi criado pelo Brasil

Alfabetizado(Federal), a Secretaria Municipal de Educação e a FUMEC que lançaram o

Letra Viva: financiado com recursos do Ministério da Educação Já atendeu, mas sem

certificação,mais de 2.000 educandos .

Os educadores recebem formação para atuar no programa “Letra Viva” que

funciona em todas as regiões de Campinas na forma de parceiras com entidades, que

oferecem o espaço para as salas de aula e auxiliam na busca de alunos e no gerenciamento

dos repasses das bolsas-auxílio pagas aos educadores.

O Ceprocamp ”Antonio da Costa Santos” é outro segmento da FUMEC e dá

formação e qualificação a jovens e adultos. Ele é uma nova ferramenta para a formação

profissional de jovens que vão ingressar no mercado de trabalho, mas também uma

oportunidade para quem busca uma profissão e a chance de recolocação. Para isso, a

Prefeitura de Campinas em parceria com o Governo Federal (financiado pelo PROERD)

inaugurou em setembro do ano de 2004, este Centro de Educação Profissional.

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A meta do projeto é garantir a qualificação profissional de jovens e adultos com

baixa escolaridade, portadores de necessidades especiais, ou com o ensino regular/ médio

incompleto. São salas de aula e laboratórios bem equipados para garantir a formação básica

e técnica aos alunos para que comecem a ter condições de competir em igualdade no

mercado de trabalho.

Já no terceiro ano de atividades o Ceprocamp tem capacidade para atender mais de

10 mil adolescentes e adultos. No ano passado foram atendidos 2.750 alunos em 10 cursos

básicos. Neste ano já são 2.300 alunos freqüentando os cursos de curta duração, média

duração e também nos postos avançados.

O prédio fica na antiga Fepasa, ao lado da Estação Cultura, com o aproveitamento da

estrutura atual, que foi parcialmente reformada e restaurada.

O Ceprocamp também se posiciona como um centro de referência para adolescentes

e adultos portadores de necessidades de toda a Região Metropolitana de Campinas. A

proposta é oferecer também formação profissional gratuita nos níveis técnico e básico.

A situação sócio-política e educacional de Campinas, recentemente, foi

classificada pela mídia local como caótica e por isso desorganiza o sistema de ensino e a

aprendizagem, desestimula alunos e profissionais. Sem a orientação sócio-pedagógica,

diretrizes funcionais e formação, para todos os funcionários e educadores, fica difícil

qualquer ação educativa efetiva.

Esta ação não se efetiva especialmente porque não existem ainda materiais

pedagógicos e didáticos em nenhuma disciplina, que atendam a EJA, porque não existem

registros do que foi feito. É necessário um Projeto de Acervo para se fazer e escrever uma

História de EJA de Campinas e da FUMEC e suas memórias pedagógicas. É necessário que

exista, inclusive, um projeto político pedagógico significante, um currículo mínimo para

todos os períodos, uma alfabetização e letramento inovadores, feitos de acordo com o

desenvolvimento do aluno, por meio de projetos temáticos e interdisciplinares, agregando

os valores humanos e a ética.

Os sistemas de Avaliação, se encontram esfacelados, desatualizados; pois os

professores não conhecem, muito bem, a realidade do mundo de hoje e as necessidades de

seus alunos.

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Hoje se reproduzem estigmas ainda, como as discriminações de quem sabe mais.

É preciso reconstruir o ensinar, o educar, o instruir e o avaliar cotidianamente,

individualmente sem deixar de lado o coletivo.

É preciso multiplicar momentos de debates, principalmente com relação às trocas

de experiências com outros profissionais que atuam em áreas diferentes.

. Com 18 anos a FUMEC inclui e transforma indivíduos em cidadãos plenos, ou seja,

com acesso à educação, à informação, à participação social e ao trabalho e renda

sustentável. Oferece o conhecimento formal sobre todas as áreas para que as exigências de

nossa sociedade consigam envolver efetivamente estes homens e mulheres que não

conseguiram estudar em tempo certo, por muitos motivos, inclusive pelo preconceito da

expulsão da escola regular.

Os profissionais da FUMEC, tanto na área pedagógica como administrativa travam

luta de uma resistência diária às pressões e restrições exercidas pela segregação de muitos

outros mecanismos burocráticos do serviço publico de nossa cidade; tanto nos âmbitos

estaduais como no próprio âmbito municipal por conta muitas vezes da desinformação

sobre o verdadeiro valor da FUMEC e, outras por vaidades e superioridades, falsas

autoridades e por que não dizer atitudes odiosas e separatistas.

No entanto, as responsabilidades didáticas e sociais sempre foram assumidas de

uma forma guerreira e, a resistência é feita principalmente quando se trabalha muitas vezes

sem as mínimas condições físicas, espaciais, didáticas e emocionais.

Quem mais luta no entanto é o aluno que aprendeu, venceu e vence todos os dias,

em sua busca de melhoria de vida, especialmente os que continuaram seus estudos em

outras instituições e que reconhecem os professores nas ruas, nos lugares por onde passam,

agradecem e demonstram que estes foram instrumentos de sua transformação social.

Paulo Freire (1970) dizia que:

““ EEnnssiinnaarr eexxiiggee rreessppeeiittoo aaooss ssaabbeerreess ddoo eedduuccaannddoo,, eennssiinnaarr eexxiiggee ddiissppoonniibbiilliiddaaddee ppaarraa oo ddiiáállooggoo,,eennssiinnaarr eexxiiggee oo rreeccoonnhheecciimmeennttoo ee aa aassssuunnççããoo ddaa iiddeennttiiddaaddee ccuullttuurraall,, eennssiinnaarr eexxiiggee ccoommppeettêênncciiaa pprrooffiissssiioonnaall,,sseegguurraannççaa ee ggeenneerroossiiddaaddee,, eennffiimm eennssiinnaarr ccoonntteeúúddooss éé aa ccoonnssttrruuççããoo ddaa rreessppoonnssaabbiilliiddaaddee ddaa lliibbeerrddaaddee qquuee ssee aassssuummee””..

A realidade tem demonstrado desde o inicio do século XX que os alunos e os

professores que são atendidos e atuam em EJA, em qualquer programa ou projeto de

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alfabetização, são apenas um numero a mais para se demonstrar nos momentos de conseguir

financiamentos, verbas, distribuí-los ou se elaborar um orçamento ou balanço contábil e

administrativo para publicar. Também para efeitos de voto. É a volta ao começo.

Paiva(1987)diziaque a educação popular, desta forma é considerada

contemporaneamente como um instrumento para a sedimentação e a recomposição do

poder político e das estruturas socioeconômicas vigentes. Explica ainda que os movimentos

educativos brasileiros geram políticas educacionais com os mesmos instrumentos de

conservação, ou para mudança social mas com vantagens para os detentores do poder e para

a cristalização dos sistemas atuantes.

Hoje o Conselho Nacional de Educação e o Plano de Educação dos próximos

anos, prometem contemplar mudanças curriculares e estruturais na EJA, exigindo dos

poderes públicos espaços e momentos de discussões significativas e concretas.

Além disso, têm a intenção de indicar que é preciso aperfeiçoar e

formar os profissionais desta modalidade de educação para que também desempenhem o

papel de educadores sociais.

A institucionalização da figura do educador social implicava repensar as funções a serem realizadas pelos educadores, aplicar o princípio de regularização e de normalidade, reestruturar as metodologias de intervenção , possibilitar a mobilidade horizontal entre os diferentes espaços de intervenção dos educadores , reconstruir novos espaços de intervenção dos educadores, etc.(M.March,apud Trilla,2003)

No entanto, os professores destas suplências não conseguem acompanhar nem

compreender as evoluções e mudanças sociais, culturais e educacionais, envolvidas nas

exigências do mercado de trabalho atual. Não conseguem ensinar, educar, orientar

corretamente os sujeitos desta história; pois têm jornadas de trabalho escolar muito

estafantes.

Se tomarmos hoje os índices mais rigorosos para medir a escolaridade da população

brasileira, iremos nos deparar com uma realidade bastante crítica: a geração dos analfabetos

funcionais.

Se ampliarmos o critério para considerar uma pessoa não alfabetizada para as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, chegaremos a um numero elevado de analfabetismo. São quase 50% com 15 anos ou

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mais que não conseguiram concluir o 1º ciclo. Se considerarmos o 1º grau completo (8 anos), considerado como obrigatório, chegaremos a 80% para com os mais de 15 anos de idade (INEP-1992pg:6-Censo de 1990). Existe ainda um grande numero de analfabetos funcionais (aqueles que passaram pelos processos de escolarização, mas não são capazes de utilizar os conhecimentos no seu cotidiano).Considerando o embate destes dados, o analfabeto puro é marginalizado por não saber ler e escrever e o analfabeto funcional, por não saber usar seu escasso saber (Cf.r Gadoti..).

O próprio conceito de analfabeto funcional se estrutura conforme o contexto sócio-

político econômico-cultural em que o trabalhador ou desempregado está inserido.O que

muda, portanto, é o modo do Estado enfocar ou direcionar o atendimento educacional para a

população jovem e adulta.

Nas camadas mais pobres de nossa população, a exclusão do Homem e da Mulher é

mais marcante no que diz respeito aos seus direitos de exercer a cidadania, entre os quais se

insere o Direito ao Trabalho, a Educação e a Saúde, mas seu Direito maior é o de buscar

contribuir na luta coletiva e histórica pela garantia de acesso a todos e em todo lugar às

novas formas de Educação.

“Estas desigualdades e atrasos também se referem aos cumprimentos dos Direitos da Infância e da Adolescência, que surgem como resultado da auto reprodução das grandes disparidades e iniqüidades que caracterizam a vida social, econômica e política no Brasil” (Cepal-ano 2002 pg 33...).

Como não existem políticas públicas efetivas para o desempenho de uma educação

social e faltam escolas regulares e profissionais que respondam a estas particularidades,

estes educandos-estudantes acabam mais tarde, por todos os motivos já descritos pousando

na EJA, como analfabetos funcionais, não raramente como supostos delinqüentes, em

busca de conhecimento, atualização e resgate de sua auto estima.Chega-se a uma conclusão,

que não é nova: A Escola, no entanto, é co - responsável pela exclusão, porquê além de

tudo muitos professores não conseguem educar para a vida; não saem da mesmice, não

criam sistemas de integração nas salas de aula, não criam vínculos de afeto e nem situações

significativas e prazerosas nas relações de aprendizagem.

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“Se refletirmos melhor sobre as conseqüências políticas e sociais das implicações dos processos de avaliação nas escolas hoje, chegaremos às classes marginalizadas da população, que são os resultados da produção dos fracassos escolares” (Freire,1999,p.107).

Historiografia do Programa Escola da Família

Com os objetivos de criar maiores sistemas de integração da família na escola ,

criar vínculos de afetos e relações de aprendizagens significativas e prazeirozas para a

melhora e resgate da auto estima de todos da comunidade social e escolar, surgiu em agosto

de 2003, a iniciativa da Secretaria de Educação do estado de São Paulo em parceria com a

UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), entidade

de Terceiro Setor, o Programa Escola da Família que consiste na abertura das Escolas

publicas estaduais nos finais de semana.

Hoje, são 5308 escolas abertas nos finais de semana, onde são desenvolvidas

atividades baseadas em quatro eixos norteadores do programa: esporte, cultura, saúde e

qualificação para o trabalho. Par isso contam com Educadores profissionais que são

contratados pela UNESCO e Educadores Universitários (bolsistas) que para receberem a

bolsa é necessário ter cursado o Ensino Médio na Rede Estadual Paulista e estar

regularmente matriculado em curso de graduação de Instituição Privada de Ensino Superior

conveniada ao Programa. Devem cumprir um total de 16 horas aos finais de semana, sendo

8 horas aos sábados e 8 horas aos domingos desenvolvendo projetos nas Unidades

escolares, atendendo a comunidade onde a unidade escolar está inserida. Além disso o

Programa ainda conta com Diretores, Coordenadores de área e Educadores Voluntários.

Um outro objetivo é também o de diminuir os índices de violência; apropriação,

recuperação e manutenção do espaço físico escolar pela comunidade, resgate da

convivência familiar na escola e maior envolvimento de educadores com os alunos.

Percebe-se que o Programa apresenta uma concepção neoliberal que vem sendo

implementada pelo Estado a partir dos anos 80 por Collor de Mello e depois por Fernando

Henrique Cardoso, que para resolver a crise econômica e social realizaram profundas

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reformas do Estado. Para inserir o Brasil na economia mundial Collor realizou mudanças

com sérias conseqüências para o povo brasileiro.

O Programa foi pensado dentro deste contexto onde procura passar a

responsabilidade para a sociedade através do trabalho voluntário, parcerias, fazendo

também que os Universitários que em sua grande maioria trabalham durante a semana e

agora tendo que prestar serviços aos finais de semana percam seu momento de descanso e

laser; incentivando os alunos a procurarem Universidades Privadas e não abrindo

oportunidades de acesso a Universidades públicas, incentivando assim as parcerias do setor

público com o setor privado.

É necessário uma ampla reflexão sobre como o Programa está sendo desenvolvido e

as concepções que o norteiam para poder propor mudanças que realmente atendam à

comunidade e dê oportunidades de acesso a Universidade para alunos provenientes das

classes menos favorecidas

O Programa é norteado por diretrizes que se baseiam no conceito da relevância

insubstituível da escola como provedora de coesão social e aprendizagem da vida em

comunidade. Sua missão é colaborar na redução dos índices de violência no entorno escolar,

além de inaugurar uma nova era nas relações da escola com a população de suas cidades,

ampliando a bagagem cultural e consolidando valores morais e éticos.

Na preparação para a implantação do Programa Escola da Família, foi realizado um

estudo com 7 mil jovens estudantes sobre suas principais necessidades. Foram apontados

temas como orientação profissional, aprendizado de informática e línguas estrangeiras,

conteúdos ligados à educação sexual e prevenção ao uso de drogas, além de ter sido

solicitado o estímulo à presença de pais e familiares na escola.

O Programa enseja a participação da comunidade intra e extra-escolar,

possibilitando o estabelecimento de parcerias com os diversos segmentos da sociedade civil

como associações de bairro, empresas, sindicatos, cooperativas, universidades e outras

instituições educacionais e organizações não-governamentais, a exemplo do Instituto

Ayrton Senna. Parceira do programa desde o início, o Instituto participa com a transferência

de sua metodologia de ensino à capacitação dos coordenadores regionais do Programa,

fornecendo condições para tornar possível o desenvolvimento humano de jovens envolvidos

no Programa. Escola da Família também conta com a parceria do Instituto Brasil Voluntário

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– Faça Parte, que vem implementando o Programa Jovem Voluntário – Escola Solidária,

que, entre outros objetivos, busca fortalecer nas escolas públicas e privadas do ensino

básico uma cultura de solidariedade na comunidade escolar.

Outra parceria importante do Escola da Família está na Bolsa-Universidade, um dos

diferenciais do Programa, que permite a participação de jovens universitários. Por meio de

convênio estabelecido entre o Governo do Estado e Instituições de Ensino Superior

particulares, estão sendo concedidas bolsas universitárias que beneficiarão 25.000

estudantes universitários, egressos da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo.

A Secretaria de Estado da Educação está custeando até 50% do valor da mensalidade

do curso de graduação, desde que este percentual não ultrapasse o valor máximo de R$

267,00, renovável semestralmente. Os outros 50% estão sendo completados pelas

Instituições de Ensino Superior, independentemente do valor da mensalidade.

Como contrapartida, os universitários beneficiados estão atuando em atividades do

Programa nas escolas, nos finais horas no total, sendo 8 horas no sábado e outras 8 horas no

domingo. Quase 40 mil estudantes se inscreveram para as bolsas.

As atividades da Escola da Família, nos finais de semana, são coordenadas por uma

equipe constituída pelo Educador Profissional que acompanha o desenvolvimento das

atividades, fomentando sua integração com as demais atividades implementadas no

cotidiano escolar), pelo Educador Universitário (que desenvolve ações que constam do seu

projeto de trabalho, sendo acompanhado e avaliado pelo educador-profissional) e o

Educador Voluntário (membros das comunidades com disponibilidade para desenvolver

ações voltadas às expectativas da própria comunidade).

O Programa é desenvolvido de forma a permitir adaptações das atividades à

realidade e necessidade de cada uma das escolas participantes. Realiza-se aos sábados e

domingos, das 9h às 17h, obedecendo a uma grade de atividades composta em 70% por

ações fixas que seguem os eixos esportes, cultura, atividades de qualificação para o trabalho

e saúde.

Profissionais da área da educação organizam atividades sócio culturais,

esportivas, de qualificação para o trabalho e desenvolvem ações preventivas na área da

saúde, aproximando comunidade, escola, pais, filhos, alunos e professores. Algumas das

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atividades encontradas nas escolas nos fins de semana são: dança de salão, oficinas de

artesanato, jogos esportivos e cursos rápidos de informática, panificação, entre outros.

Historiografia de uma Obra Social Confessional em Botucatu

Também com o objetivo de transformar o ambiente escolar num espaço de

convivência por meio da educação não formal, mas ainda conservando os critérios seculares

de uma obra assistencial confessional; como a participação de voluntários,caracterizando-a

também como terceiro setor a Obra Social Madre Marina Videmari, Unidade II do Colégio

Santa Marcelina, tem por principal finalidade promover a educação de seus alunos

atendendo aos princípios e fins da Educação Nacional, mas mantendo o Carisma

Congregacional das Irmãs de Santa Marcelina.

A proposta pedagógica desta instituição fundamenta-se na inspiração de

Monsenhor Luis Biraghi, explicitada na Missão Congregacional. Tem a finalidade de

sistematizar a fundamentação teórica sobre a qual se assentam as linhas gerais de sua

unidade de ação educativa, para favorecer o crescimento pessoal e profissional de todos que

atuam na Instituição, bem como buscar coletivamente o aprimoramento da qualidade de

ensino.

O ideal educativo do nosso fundador é marcado por equilibrado espírito de

liberdade, por sereno clima de família, pelo conhecimento das verdades cristãs, pela prática

constante das virtudes evangélicas, pelo sério compromisso com os estudos, de acordo com

as necessidades dos tempos e lugares.

Levando em consideração a proposta , podemos dizer que o “modo de educar”,

ou seja, o “estilo pedagógico” é educar pela transversalidade do conhecimento em

atendimento aos sinais dos tempos, em função do desenvolvimento da aprendizagem da

cultura, da educação e, conseqüentemente, da evangelização do aluno.

O projeto Educativo Madre Marina Videmari de Botucatu, apresenta três partes

principais que são Marco Doutrinal, Marco Situacional e Marco Operacional. E tem por

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finalidades: A Educação Infantil tem como finalidade a educação integral da criança até os

seis anos de idade, oferecendo informações estruturantes para o seu desenvolvimento nos

aspectos, físico, intelectual, emocional, social e espiritual em cooperação com a família e

com a comunidade. O Ensino Fundamental I que tem como finalidade o desenvolvimento

da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o domínio da leitura, da

compreensão, da escrita e do pensamento lógico-matemático; A compreensão do ambiente

natural e social do sistema político, da tecnologia , das artes e dos valores em que se

fundamentam a sociedade.

Para tanto, a entidade desenvolve ainda projetos voltados à Promoção à

cidadania, Promoção ao Mercado de Trabalho e a Auto- Sustentabilidade.

Estes projetos têm por objetivos transformar a realidade onde a comunidade

educativa está inserida, possibilitando a todos dialogar entre si, irmanando-se num esforço

de construção de uma sociedade mais politizada, justa, solidária e humanizada.

A proposta Pedagógica oferece portanto, informações contendo os objetivos, os

conteúdos, o plano de ação para a realização da Missão institucional da e na escola. Ela é

definidora, mas não definitiva.A proposta educacional da Instituição pretende acima de tudo

atender aos sinais dos tempos e, por isso, sua reelaboração é refletida,avaliada e debatida

constantemente.

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Conclusão

A Educação Popular, a Educação Comunitária, os cursos profissionalizantes e os

técnicos têm tido o apoio e a atuação das ONGs na área social,como parceiras,

principalmente pelas ações de valorização e respeito às camadas de baixa renda e

desescolarizados.

A nova face do país “em desenvolvimento” vai demandando mais mão-de-obra

qualificada. Na década de 70 houvea generalização da profissionalização no ensino de

segundo grau, por meio de lei 5692/71 que acabou por expressar as estratégias em prol de

uma ideologia desenvolvimentista, com acento privatizante na educação.

No sentido oposto, a Educação de Jovens e Adultos hoje é entendida como a

retomada das pessoas à educação formal, mas estes sujeitos não precisam mais da escola

regular, sistematizada e continuada e sim do ensino das quatro primeiras séries do Ensino

Fundamental e das quatro séries seguintes que respeitem simultaneamente as exigências da

escolarização conteudista e o sócio histórico do aluno, suas necessidades e possibilidades

atrelados à programas de educação não formal.

Estes programas são norteados por diretrizes que se baseiam no conceito da

relevância insubstituível da escola como provedora de coesão social e aprendizagem da vida

em comunidade. Sua missão é colaborar principalmente na redução dos índices de violência

no entorno escolar, além de inaugurar uma nova era nas relações da escola com a população

de suas cidades, ampliando a bagagem cultural e consolidando valores morais e éticos.

A Escola da Família, nas instituições escolares do estado de São Paulo deveria ser

um exemplo desta ação social no ensino publico de qualidade. Mas é muito mais nos

âmbitos privados onde as finalidades de muitos projetos sociais fazem as instituições

buscarem, por meio do fortalecimento familiar, a modificação do perfil da região,

melhorando assim as possibilidades de desenvolvimento pessoal de cada cidadão,

despertando o verdadeiro sentido de coletividade,da participação social e o resgate da

auto- estima de cada um. Este deve ser o papel do terceiro setor e,podemos citar aqui como

exemplo a Congregação Santa Marcelina em Botucatu.

Para finalizar é pertinente reconhecer que esta historiografia poderá ser da maior

importância para auxiliar na desconstrução e na construção de um futuro mais social na

educação de nosso pais.

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