historiografia da engenharia de sistemas no brasil e sua
TRANSCRIPT
Historiografia da Engenharia de Sistemas no Brasil e sua importância
no mercado globalizado do século XXI
Ramón Souza Silva Rodrigues1
Luís Paulo Tolentino Fernandes2
RESUMO
Objeto de estudo: Este trabalho contextualiza-se na busca pela identificação e
conhecimento da história da Engenharia de Sistemas no Brasil, sua necessidade,
atuação, perspectivas, regulamentação e espaço no mercado internacional para o século
XXI. Metodologia aplicada: Utilizou-se como vertente metodológica a pesquisa
bibliográfica, buscando desenvolver um estudo que contenha a história e a historiografia
da Engenharia de Sistemas no Brasil. Resultados Obtidos: Historicizar a Engenharia
no Brasil é um desafio interdisciplinar, haja vista sua vasta aplicação e estrito
relacionamento com todas as ciências conhecidas como a química, a física, a biologia e
a computação. Com avanço contínuo das Engenharias não era mais possível confiar nos
métodos e técnicas existentes, uma vez que eram demandados sistemas com
complexidade cada vez mais elevada, assim, surgiu de forma excepcional a Engenharia
de Sistemas como um campo interdisciplinar das Engenharias que aborda o
desenvolvimento, organização e concretização destes sistemas artificiais de elevada
complexidade. Comparada a outros campos de estudos da Engenharia como a
construção civil, mecânica e computação a Engenharia de Sistemas é
surpreendentemente recente tendo se fortalecido principalmente no período da
Revolução Industrial, onde a demanda por melhores meios de produção fortaleceram as
bases da Engenharia de Sistemas. A primeira menção à Engenharia de Sistemas veio
dos Laboratórios Bell em 1940, nos Estados Unidos, mas somente em 2012 foi fundado
o capítulo brasileiro do International Council on Systems Engineering – INCOSE,
desde então as atividades da Engenharia de Sistemas vêm sendo acompanhadas de perto
pelo órgão que visa documentar e compartilhar avanços da Engenharia de Sistemas no
Brasil. A Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e a Universidade Estadual de
Montes Claros – Unimontes foram pioneiras nos estudos de Engenharia de Sistemas não
somente no Brasil, mas em toda a América Latina, iniciando os cursos de graduação na
área em 2010 e 2011, respectivamente, tendo sido suas primeiras colações de grau em
2015.
1Acadêmico do curso de Engenharia de Sistemas da Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico
do programa de Iniciação Científica Voluntária em Investigação e Proposta de Algoritmos Evolucionários
para Problemas de Alocação. E-mail: [email protected].
2Acadêmico do curso de Engenharia de Sistemas da Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico
do programa de Iniciação Científica Voluntária em Mineração de Dados no Âmbito da Universidade
Estadual de Montes Claros. E-mail: [email protected]
Palavras-chave: Historiografia; Engenharia de Sistemas; Engenharia no Brasil;
História da Ciência.
INTRODUÇÂO
O trabalho de Almeida (2011) reuniu um quantitativo de referências sobre a história e
origens da Engenharia de Sistemas, especialmente focadas na história das guerras
paralelamente ao desenvolvimento da indústria bélico-aeronáutica. Em PROJECT
MANAGEMENT INSTITUTE (1996, p. 4 apud ALMEIDA, 2011, p. 56) é traduzida a
seguinte passagem:
A humanidade cria conscientemente objetos e conhecimentos desde quando
atingiu níveis de tecnologia e cultura suficientemente elevados. Qualquer
criação consciente, tangível ou intangível, mesmo a mais tosca ferramenta ou
arma, de madeira ou pedra, pode ser chamada de um projeto por ser um
empreendimento organizado, temporário e com um objetivo definido
Posteriormente ainda destaca que as obras e mecanismos construídos pelo homem no
passado foram ficando cada vez mais complexos à medida que a necessidade
aumentava. O uso da água e do vento para mover os mecanismos foram aos poucos
substituindo a força dos animais. As grandes navegações exigiram grande quantidade de
conhecimentos como a construção naval de grande porte, meteorologia, cartografia,
artilharia naval e etc. Os navios de navegação oceânica do século XVI eram os mais
complexos sistemas até então construídos, necessitando de grande quantidade de
conhecimentos, planejamento, treinamento e logística (ALMEIDA, 2011, p. 57).
Seguindo a linha de pensamento, foi durante o período da Revolução Industrial que se
verificou, na segunda metade do século XVIII, os aperfeiçoamentos da máquina a
vapor, que asseguraram um novo elemento energético, superior à força da água, do
vento, dos animais e do homem, manifestando-se sobretudo na produção têxtil e
metalúrgica (SANTOS, 2004, p. 63). A introdução dessas máquinas a vapor na
indústria, o grande aumento na capacidade de produção e também do número de
habitantes das cidades catalisaram inovações em transporte público, iluminação a gás e
viu-se o surgimento de muitas tecnologias até então não conhecidas como a lâmpada
incandescente, telégrafo, telefone, rádio e motores elétricos, juntamente com o
desenvolvimento da Engenharia Elétrica, na virada do século XIX para o século XX.
A elevada demanda por produtos e a transição da produção artesanal para a produção
industrial em massa precederam inovações nos processos de produção, fabricação e
logística e os conhecimentos até então utilizados se expandiram de tal forma que foram
necessários profissionais capazes de integrar partes muito distintas de um mesmo
projeto, assim surgiram os primeiros Engenheiros com funções de integração de
sistemas complexos como automóveis e aviões, sistemas extensos como redes de
distribuição de energia elétrica e gás, redes de telégrafos e telefones, redes de transporte
ferroviário entres outros. (SCHLAGER, 1956 p. 64 apud ALMEIDA, 2011 p. 59).
É geralmente aceito que o primeiro uso do termo “Engenharia de Sistemas”
ocorreu no Bell Telephone Laboratory3 (Bell Labs) no início dos anos 1940.
No entanto, há na literatura duas justificativas complementares para o
aparecimento e uso desse termo no Bell Labs. Uma referência explica que os
problemas associados com uma rede telefônica de dimensões nacionais
apareceram no Bell Labs antes que sistemas complexos fossem comuns em
outras indústrias (SCHLAGER, 1956 p. 64 apud ALMEIDA, 2011 p. 59).
É importante ainda destacar que o termo “sistemas” refere-se não exclusivamente a
sistemas computacionais, mas a um conjunto interdependente de elementos de modo a
formar um todo. É uma definição que acontece em vários campos como biologia,
medicina, informática, administração, direito. A exemplo podemos citar sistemas de
telecomunicações, sistemas empresariais, sistema circulatório, sistema de irrigação etc.
Sendo assim a Engenharia de Sistemas é pautada justamente no desenvolvimento de
soluções de tecnologias de alta complexidade para diversos tipos de sistemas,
caracterizando sua interdisciplinaridade.
OBJETIVO E METODOLOGIA
A pesquisa bibliográfica foi a metodologia abordada para esta pesquisa, uma vez que,
de acordo Lima e Mioto (2007, p. 38) “implica em um conjunto ordenado de
procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo”, neste caso
contextualiza-se na busca pela identificação e conhecimento da história da Engenharia
3 Atualmente chamada de Nokia Bell Labs, é uma das empresas norte americanas de pesquisa e
desenvolvimento científico mais importantes do mundo. Fundada no início de 1900, tem sido desde então
uma importante fonte de experimentação tecnológica e inovação em telecomunicações.
de Sistemas no Brasil, sua necessidade, atuação, perspectivas, regulamentação e espaço
no mercado internacional para o século XXI.
Além de diversas referências bibliográficas este estudo também se apoiou nos webinars4
divulgados pela seção brasileira do International Council Systems Engineering –
INCOSE, que versam temas que contextualizam a Engenharia de Sistemas no Brasil e
no Mundo de maneira objetiva e respaldada por órgãos de regulamentação
internacional.
BREVE HISTÓRICO DA ENGENHARIA DE SISTEMAS
As referências ao surgimento da Engenharia de Sistemas remotam às mais antigas
civilizações que se têm conhecimento. Desde a construção das pirâmides egípcias aos
jardins suspensos da Babilônia e até mesmo nas Américas com as civilizações pré-
colombianas. Mas foi apenas no século I a.C. que Vitruvius deixou um manual que foi
praticamente a única referência no Ocidente sobre Arquitetura e Engenharia até o
período da Renascença. (ALMEIDA, 2011, p 56).
Para Vitruvius, o arquiteto era integralmente responsável por um projeto e, o
idealizava, contratava os construtores e operários, e administrava a
construção em nome do dono da obra. Para Vitruvius, o arquiteto não
precisava ser excelente nas artes do Desenho, Geometria, Óptica, Aritmética,
Letras, Música, Pintura, Escultura, Medicina e outras ciências, mas tinha de
ter bons conhecimentos nessas áreas para ser capaz de planejar, administrar e
concluir um projeto (VITRUVIUS, 1960, p. 5 – 13 apud ALMEIDA, 2011, p
56).
A partir desse manual diversos outros documentos surgiram com o propósito de
organizar e formalizar a concepção de projetos de elevada complexidade, como na
construção naval por exemplo. Os navios de navegação oceânica eram os mais
complexos sistemas do século XVI, necessitando de grande quantidade de
conhecimento, planejamento, treinamento, suporte logístico, etc. Para a construção
desses navios foram utilizados conhecimentos aprofundados de física, meteorologia,
cartografia, correntes marítimas, astronomia e construção naval de grande porte.
4 Webconferência no qual a comunicação é de uma via apenas, ou seja, somente uma pessoa se expressa e
as outras assistem. (RAMOS, 2014)
Segundo Schlager (1956, p. 65 apud ALMEIDA, 2011, p. 57):
As máquinas a vapor trouxeram a revolução industrial no século XVII,
mostrando as grandes indústrias, a capacidade de produção e o surgimento
das cidades onde seria possível o desenvolvimento do transporte público,
iluminação a gás entre outras inovações. No transcorrer do século XIX,
ocorreu um grande desenvolvimento das ciências naturais. Nas ciências
físicas, o estudo dos fenômenos elétricos e magnéticos deu origem à nova
disciplina da Engenharia Elétrica. A virada do século XIX para o século XX
viu o surgimento de muitas novas tecnologias e inventos relacionados com a
Engenharia Elétrica, e.g., lâmpada incandescente, telégrafo, telefone, rádio,
motores elétricos.
A Engenharia de Sistemas passou por enormes aperfeiçoamentos de acordo mostra a
história. Um dos ocorridos na segunda guerra mundial que foram definitivos para a
carreira da Engenharia de Sistemas sucedeu logo após a ocupação da Alemanha pelos
Estados Unidos, onde, em visita às instalações inimigas, os Americanos perceberam que
as aeronaves alemãs estavam mais desenvolvidas em termos de tecnologia e
aerodinâmica. Constataram que os projetos dos Alemães eram dotados de um líder de
projeto provido de conhecimentos em aerodinâmica, design estrutural, eletrônica,
servomecanismos, etc. Os Americanos produziram então o Toward New Horizons,
composto de 13 volumes e tratando das inúmeras questões relacionadas com o uso de
aviões e foguetes com fins militares.
Durante a Segunda Guerra Mundial o conhecimento para o desenvolvimento de novas
armas deu origem às disciplinas como Pesquisa Operacional e Análise de Sistemas,
estas disciplinas aumentaram a capacidade dos cientistas de otimizarem seus projetos,
Kahn (1957, p. 01 apud Almeida, 2011, p. 63) ainda destaca que problemas que durante
milênios eram exclusivamente da jurisdição dos militares passaram a ser também da
jurisdição de cientistas e com isso tecnologias restritas de guerra foram compartilhadas
a toda a comunidade científica.
Durante a Guerra Fria, intenso período de demonstração da capacidade nuclear entre
Estados Unidos e União Soviética, o espaço sideral tornou-se importante para a esfera
da estratégia. O conceito de dissuasão baseava-se na observação do comissionamento de
armas estratégicas por meio de sensores baseados em satélites de sistemas de
comunicação e vigilância. Sendo assim, a obtenção de armas nucleares mais potentes e
o desenvolvimento de meios de empregá-las contra o inimigo, além de contramedidas
de ataques com armas nucleares alavancou o desenvolvimento de mísseis nucleares,
uma vez que o projeto era de maior complexidade que o desenvolvimento de aviões, por
exemplo, uma vez que eram utilizados complexas tecnologias em telecomunicações,
georreferenciamento, aerodinâmica e também rigorosas metodologias de gerenciamento
que foram formalizadas na série de documentos AFSCM 375 da United States Air
Force – USAF, como no caso do desenvolvimento de um míssil balístico
intercontinental – ICBM, Almeida (2011, p. 84) ainda lembra que:
A aplicação de metodologias similares às da AFSCM 375 na NASA tornou
possível o cumprimento das difíceis metas do programa Apollo em 1961. O
sucesso da aplicação da Engenharia de Sistemas no programa espacial civil
levou a muitas tentativas, geralmente frustradas, de sua aplicação na solução
de problemas sociais.
Segundo Takahashi (2009, p. 01): “Um dos marcos da Engenharia de Sistemas, que
ajudou a estabelecer a forma atual de diversos métodos que hoje a integram, foi o
projeto da aeronave Boeing 777, concluído em 1995. Essa foi a primeira aeronave
inteiramente projetada em computador”. O surpreendente projeto levou menos de cinco
anos desde o início da especificação do produto, em 1991, e o primeiro voo, em 1995,
algo inédito até então.
Além do conhecimento específico dos domínios da Engenharia Aeronáutica, da
Engenharia Elétrica, da Ciência da Computação, que tiveram de ser integrados naquele
projeto, há um corpo de conhecimentos que, em parte, estavam sendo elaborados àquela
altura, e que foram cruciais para permitir tanto o prazo recorde quanto os elevados
índices de confiabilidade e de atendimento às especificações que foram obtidos. Esse
corpo constitui a Engenharia de Sistemas como a conhecemos hoje e em diversos
ramos, como o da indústria aeronáutica, o Engenheiro de Sistemas já é considerado
indispensável.
ENGENHARIA DE SISTEMAS NO MUNDO ATUAL
Por se tratar de um curso com um histórico acadêmico recente, as informações sobre o
mercado profissional para Engenharia de Sistemas no Brasil ainda não possui dados
conclusivos ou relevantemente consolidados, entretanto esta história não se repete em
vários outros países como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e França, que já possuem
essa graduação quase que simultaneamente com o início dos estudos da área.
É o caso, por exemplo, da Universidade de Waterloo - UW, no Canadá, cuja fundação
do curso ocorreu em meados dos anos 60 e provavelmente é o curso de graduação em
Engenharia de Sistemas mais antigo no mundo. O próprio site da Universidade destaca
que o curso, lá chamado de Systems Design Engineering, abrange aspectos técnicos,
ambientais, socioeconômicos e políticos do processo de Engenharia de Sistemas
utilizando metodologias de projeto, sendo considerado, pela própria UW, como o curso
de graduação em Engenharia mais flexível que oferecem. (UNIVERSITY OF
WATERLOO, 2016, tradução nossa)
Convém ainda citar o curso de Engenharia de Sistemas ministrado pela Universidade de
Sheffield, Inglaterra. Nas modalidades de graduação e mestrado, os cursos de
Engenharia de Sistemas seguem em sete ênfases: computação, eletrônica, sistemas
mecânicos, sistemas médicos, mecatrônica, gerência e sistemas de controle. A página
oficial do curso ainda informa, em tradução livre, que:
A Engenharia de Sistemas e de Controle está em uma posição de grande
importância em quase todos os aspectos de nossas vidas. A vida moderna
depende fundamentalmente de sistemas que têm de operar de forma
independente para atingir uma finalidade especificada com precisão e
segurança. (UNIVERSITY OF SHEFFIELD, 2016)
De volta ao Brasil, além dos cursos de graduação em Engenharia de Sistemas da
Unimontes e UFMG, esta última lançou recentemente o curso de Mestrado em
Modelagem de Sistemas Ambientais. Na descrição do curso observamos que este
baseia-se “na aplicação de ferramentas de geoprocessamento, sensoriamento remoto e
modelagem computacional para o estudo de sistemas ambientais, com base em visão
integrada das inter-relações de seus componentes socioeconômicos, políticos, culturais e
naturais” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2016). O programa é
aberto a diversos profissionais como engenheiros, analistas de sistemas, matemáticos
computacionais, estatísticos, além de geógrafos, geólogos, arquitetos e biólogos. Há
uma forte conexão da interação dessas áreas através da Engenharia de Sistemas e
percebe-se o interesse da sociedade em um curso integrador capaz de relacionar todas as
questões ambientais pertinentes à modelagem de sistemas de elevada complexidade.
Ressalta-se o potencial brasileiro nessa linha de pesquisa.
Os maiores exemplos práticos da aplicação da Engenharia de Sistemas em projetos de
grande destaque internacional podem ser vistos nas descrições de D’Ângelo (2011, p. 8)
como o exemplo da bicicleta que projetada através técnicas de simulação multifísica
acopladas com técnicas de otimização multiobjetivo baseadas em algoritmos evolutivos
(todas essas técnicas fazem parte do escopo previsto no currículo de Engenharia de
Sistemas) tornou-se um produto de alto valor agregado considerada a melhor hoje
disponível no mercado mundial.
ENGENHARIA DE SISTEMAS NO BRASIL
Os Conselhos Regional e Federal de Engenharia e Agronomia - CREA/CONFEA,
regulamentam, no Brasil, o exercício da Engenharia de Sistemas e a Resolução5 1.010
de Agosto de 2005 (BRASIL, 2005, p. 17) do CONFEA estabelece uma regulamentação
precisa para essa especialidade dentro do item 1.2, que delimita o "Campo de Atuação
Profissional da Modalidade Elétrica".
Atualmente o INCOSE, organização não lucrativa, fundada em 1990 cuja missão é
compartilhar, promover e fazer avançar a Engenharia de Sistemas para o benefício da
humanidade e do planeta já possui mais de oito mil membros. O Conselho vem se
expandindo e em agosto de 2012 foi constituído legalmente o INCOSE Brasil, com sede
em São José dos Campos, São Paulo. O INCOSE Brasil é constituído por membros
profissionais, estudantes, corporativos e parceiros com todos graus de experiência e se
encontra em expansão, no processo de congregação de profissionais, cujo alguns deles
já participantes do INCOSE Internacional.
O Balanço das Atividades Estruturantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação – MCTI (BRASIL, 2011, P. 10) caracteriza que a produção industrial
brasileira, historicamente, se baseia na utilização de equipamentos e tecnologias já
disponíveis ou geradas em outros países, ou seja, o país é importador seja de bens de
consumo ou de capital exterior tornando o país cada vez mais dependente da economia
externa. Refletindo na balança de pagamentos, onde o que se vê é o decréscimo de
5 Esta resolução também indica, no "Campo de Atuação Profissional da Modalidade Industrial
Mecatrônica", prevendo a possibilidade da criação de cursos de Engenharia de Sistemas, sejam
originariamente vinculados à Engenharia Elétrica (como no caso dos cursos já existentes na UFMG e
Unimontes), sejam com vínculo com a Engenharia Mecatrônica (que, no momento, não existem no
Brasil).
exportação de produtos industriais e serviços tecnológicos. Essa situação nos leva a
enxergar que país está voltando a ser exportador de produtos primários. Os dados
divulgados por Cano (2012) sugerem que o Brasil vive um processo de
desindustrialização desde os meados de 1980, onde a participação da indústria no
Produto Interno Bruto - PIB vem caindo a cada ano. O cenário global fez com que o
Brasil perdesse a competitividade das exportações industriais e crescesse o número de
importações.
De acordo Brasil (2014):
No Brasil, 45,7% do gasto em P&D6 é feito pelas empresas enquanto em
vários dos Países mais dinâmicos tecnologicamente (Estados Unidos,
Alemanha, China, Coreia e Japão) essa proporção está perto de 75%, e o
montante investido é sempre quase o triplo ou o quádruplo do brasileiro o
que demonstra que a participação do setor empresarial nos esforços
tecnológicos brasileiros ainda está aquém dos níveis observados
internacionalmente.
O gráfico abaixo exemplifica as origens dos investimentos7 em P&D em alguns países.
Gráfico 1 - Distribuição percentual dos dispêndios nacionais em pesquisa e desenvolvimento (P&D),
segundo setor de financiamento, países selecionados, 2000-2011
6 Pesquisa e Desenvolvimento. 7 Os percentuais não somam 100% porque foram considerados apenas os setores de maior relevância,
governo e empresas. Não foram considerados os demais setores: ensino superior, instituições privadas
sem fins de lucro e estrangeiro.
3,9%
22,7%
42,5%
43,0%
44,6%
44,7%
45,3%
45,5%
53,5%
60,0%
65,6%
73,7%
73,9%
76,5%
71,6%
67,1%
44,4%
46,6%
32,2%
41,6%
52,8%
36,1%
37,0%
33,4%
30,3%
24,9%
21,7%
16,4%
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%
Argentina
Rússia
África do Sul
Espanha
Reino Unido
Itália
Brasil
Canadá
França
Estados Unidos
Alemanha
Coreia do Sul
China
Japão
Investimentos em P&D: Capital Público x Privado
Capital Público Capital Privado
Fonte: BRASIL, 2014. Adaptado.
Em seu webnar, Siqueira (2014) expõe que o avanço da industrialização tem que se
apoiar no desenvolvimento científico e tecnológico endógeno e sua incorporação
crescente ao processo produtivo através da base científica e da capacitação tecnológica
das empresas. A Engenharia de Sistemas é mostrada como uma das promessas para
abastecer esta lacuna de desenvolvimento do Brasil, pois trabalha com vertentes de
ciência e tecnologia com foco em inovações.
A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação - ENCTI em Brasil (2014)
define algumas áreas prioritárias para impulsionar a economia brasileira, são elas as
principais: Complexo industrial da defesa, indústria aeroespacial, petróleo e gás,
tecnologias da informação e comunicação, fármacos e complexo industrial da saúde.
Nestas áreas a Engenharia de Sistemas possui largo campo de aplicação, sendo assim
também caracterizada como uma área imprescindível para o desenvolvimento industrial
do país.
Ainda segundo Siqueira (2014), a Engenharia de Sistemas aliada a outras disciplinas da
Engenharia tem o potencial de promover a competitividade da indústria brasileira,
praticando a boa Engenharia (buscando a excelência, com produtos de qualidade,
desempenho, confiabilidade, durabilidade e custo/benefício) e trabalhando a
competência do "integrador de sistemas" buscando sempre atender a satisfação de todos
os Stakeholders8 envolvidos nos projetos. Fazendo com que as empresas passem a
fabricar produtos de elevado desempenho a alto valor agregado.
CONSIDERAÇÕES
O maior desafio desse trabalho foi caracterizado pela pouca quantidade ou ausência de
referências bibliográficas que demonstrassem uma nítida diferenciação da Engenharia
de Sistemas com outras área da Engenharia e da Ciência. Este trabalho é o resultado da
narrativa histórica multidisciplinar construída unindo-se os fatos ao contexto econômico
e político situando a Engenharia de Sistemas como um desdobramento de interesses e
necessidades de cada época.
8 Termo usado em diversas áreas como gestão de projetos, comunicação social (Relações Públicas)
administração e arquitetura de software referente às partes interessadas
Para trabalhos futuros espera-se promover uma fonte histórica para novos ingressantes
na carreira de Engenheiros de Sistemas e dinamizar este trabalho através de palestras,
mesas redondas e mostras de profissões como uma forma de incentivar a busca e a
criação por projetos de pesquisas da área e identificar a importância histórica que o
Engenheiro de Sistemas tem desde os primórdios, envolvendo diferentes culturas,
correntes tecnológicas e suas potencialidades.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. C. P. Proposta de adoção de um processo de captura e rastreamento de
requisitos baseada num estudo de caso e num histórico das fases da engenharia de
sistemas do INPE. São José dos Campos, SP, Brasil: 2011. Acesso em 26 ago. 2016.
Disponível em: <http://mtc-m16d.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtc-
m19/2011/11.17.19.31/doc/publicacao.pdf >
BRASIL. CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA. Resolução
nº 1010. Sistematização das atividades profissionais. Brasília, 22 ago. 2005.
BRASIL. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. Estratégia
Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2012 – 2015. Balanço das Atividades
Estruturantes 2011. 2011. Acesso em 08 set. 2016. Disponível em
<http://www.mct.gov.br/upd_blob/0218/218981.pdf >
BRASIL. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO. Gestão
Estratégica em Ciência, Tecnologia e Inovação: Inovação e Empreendedorismo. 2014.
Acesso em 08 set. 2016. Disponível em <http://www.nanocell.org.br/gestao-estrategica-
em-ciencia-tecnologia-e-inovacao-3o-capitulo>
CANO, W. A desindustrialização no Brasil. Campinas, SP: Rev. Economia e
Sociedade, 2012. Acesso em 08 set. 2016. Disponível em
<http://unicamp.sibi.usp.br/bitstream/handle/SBURI/33762/S0104-
06182012000400006.pdf?sequence=1>.
CRUZ, C. H. B. Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil: desafios para o período
2011 a 2015. Acesso em 08 set. 2016. Disponível em
<http://www.ifi.unicamp.br/~brito/artigos/CTI-desafios-InteresseNacional-07082010-
FINAL.pdf>
D’ÂNGELO, M. F. S. V. Engenharia de Sistemas. 2011. Acesso em 19 set. 2016.
Disponível em :
<http://www.cpdee.ufmg.br/~rdmaia/2011/01/INT_ENG_SIST/eng_sist.pdf >
KAHN, H.; MANN, I. Techniques of systems analysis. Santa Monica, CA, USA: The
RAND corporation: 1957.
LIMA, T. C. S., MIOTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do
conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Florianópolis, SC, Brasil: Rev. Katál,
2007. Acesso em 08 set. 2016. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-49802007000300004>.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. A Guide to the Project Management Body of
Knowledge. Newtown Square, PA, USA: PMI Publishing Division, 1996.
RAMOS, M. S. Planificar, Elaborar y Realizar una Webinar. 2014. 1 ed. Seattle, WA,
USA: CREATESPACE PUB, 2014.
SANTOS, L. A. A revolução industrial. São Cristóvão, SE, Brasil: 2004. Acesso em 19
set. 2016. Disponível em:
<http://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/08395302122015Historia_
Contemporanea_I_Aula_4.pdf >.
SCHLAGER, K. J. Systems Engineering – Key to modern development. 1ª ed. vol 3.
New York, NY, USA: The Institute of Radio Engineers, 1956.
SIQUEIRA, R. C. Os Desafios da Engenharia de Sistemas no Brasil. 2014. Acesso em
08 set. 2016. Disponível em
<http://www.incose.org/ChaptersGroups/Chapters/ChapterSites/brasil/chapter-events>
TAKAHASHI, R. UFMG oferece primeiro curso de Engenharia de Sistemas no Brasil.
2009. Acesso em 19 set. 2016. Disponível em
<https://www.ufmg.br/online/arquivos/012954.shtml >
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS. Apresentação. Belo Horizonte,
MG, Brasil: 2016. Acesso em 19 set. 2016. Disponível em
<http://www.igc.ufmg.br/index.php?option=com_content&view=article&id=336:aprese
nt&catid=14:pos-graduacao&Itemid=129>
UNIVERSITY OF SHEFFIELD. Department of Automatic Control and Systems
Engineering. 2016. Western Bank, Sheffield, UK: 2016. Acesso em 19 set. 2016.
Disponível em <https://www.sheffield.ac.uk/acse/undergraduates/whatissystemseng>
UNIVERSITY OF WATERLOO. Systems Design Engineering. 2016. Waterloo, ON,
Canada: 2016. Acesso em 19 set. 2016. Disponível em <https://uwaterloo.ca/systems-
design-engineering>
VITRUVIUS. The ten books on architecture. 1 ed. New York, NY, USA: Dover
Publications, 1960.