historiografia da engenharia de sistemas no brasil e sua

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Historiografia da Engenharia de Sistemas no Brasil e sua importância no mercado globalizado do século XXI Ramón Souza Silva Rodrigues 1 Luís Paulo Tolentino Fernandes 2 RESUMO Objeto de estudo: Este trabalho contextualiza-se na busca pela identificação e conhecimento da história da Engenharia de Sistemas no Brasil, sua necessidade, atuação, perspectivas, regulamentação e espaço no mercado internacional para o século XXI. Metodologia aplicada: Utilizou-se como vertente metodológica a pesquisa bibliográfica, buscando desenvolver um estudo que contenha a história e a historiografia da Engenharia de Sistemas no Brasil. Resultados Obtidos: Historicizar a Engenharia no Brasil é um desafio interdisciplinar, haja vista sua vasta aplicação e estrito relacionamento com todas as ciências conhecidas como a química, a física, a biologia e a computação. Com avanço contínuo das Engenharias não era mais possível confiar nos métodos e técnicas existentes, uma vez que eram demandados sistemas com complexidade cada vez mais elevada, assim, surgiu de forma excepcional a Engenharia de Sistemas como um campo interdisciplinar das Engenharias que aborda o desenvolvimento, organização e concretização destes sistemas artificiais de elevada complexidade. Comparada a outros campos de estudos da Engenharia como a construção civil, mecânica e computação a Engenharia de Sistemas é surpreendentemente recente tendo se fortalecido principalmente no período da Revolução Industrial, onde a demanda por melhores meios de produção fortaleceram as bases da Engenharia de Sistemas. A primeira menção à Engenharia de Sistemas veio dos Laboratórios Bell em 1940, nos Estados Unidos, mas somente em 2012 foi fundado o capítulo brasileiro do International Council on Systems Engineering INCOSE, desde então as atividades da Engenharia de Sistemas vêm sendo acompanhadas de perto pelo órgão que visa documentar e compartilhar avanços da Engenharia de Sistemas no Brasil. A Universidade Federal de Minas Gerais UFMG e a Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes foram pioneiras nos estudos de Engenharia de Sistemas não somente no Brasil, mas em toda a América Latina, iniciando os cursos de graduação na área em 2010 e 2011, respectivamente, tendo sido suas primeiras colações de grau em 2015. 1 Acadêmico do curso de Engenharia de Sistemas da Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico do programa de Iniciação Científica Voluntária em Investigação e Proposta de Algoritmos Evolucionários para Problemas de Alocação. E-mail: [email protected]. 2 Acadêmico do curso de Engenharia de Sistemas da Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico do programa de Iniciação Científica Voluntária em Mineração de Dados no Âmbito da Universidade Estadual de Montes Claros. E-mail: [email protected]

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Historiografia da Engenharia de Sistemas no Brasil e sua importância

no mercado globalizado do século XXI

Ramón Souza Silva Rodrigues1

Luís Paulo Tolentino Fernandes2

RESUMO

Objeto de estudo: Este trabalho contextualiza-se na busca pela identificação e

conhecimento da história da Engenharia de Sistemas no Brasil, sua necessidade,

atuação, perspectivas, regulamentação e espaço no mercado internacional para o século

XXI. Metodologia aplicada: Utilizou-se como vertente metodológica a pesquisa

bibliográfica, buscando desenvolver um estudo que contenha a história e a historiografia

da Engenharia de Sistemas no Brasil. Resultados Obtidos: Historicizar a Engenharia

no Brasil é um desafio interdisciplinar, haja vista sua vasta aplicação e estrito

relacionamento com todas as ciências conhecidas como a química, a física, a biologia e

a computação. Com avanço contínuo das Engenharias não era mais possível confiar nos

métodos e técnicas existentes, uma vez que eram demandados sistemas com

complexidade cada vez mais elevada, assim, surgiu de forma excepcional a Engenharia

de Sistemas como um campo interdisciplinar das Engenharias que aborda o

desenvolvimento, organização e concretização destes sistemas artificiais de elevada

complexidade. Comparada a outros campos de estudos da Engenharia como a

construção civil, mecânica e computação a Engenharia de Sistemas é

surpreendentemente recente tendo se fortalecido principalmente no período da

Revolução Industrial, onde a demanda por melhores meios de produção fortaleceram as

bases da Engenharia de Sistemas. A primeira menção à Engenharia de Sistemas veio

dos Laboratórios Bell em 1940, nos Estados Unidos, mas somente em 2012 foi fundado

o capítulo brasileiro do International Council on Systems Engineering – INCOSE,

desde então as atividades da Engenharia de Sistemas vêm sendo acompanhadas de perto

pelo órgão que visa documentar e compartilhar avanços da Engenharia de Sistemas no

Brasil. A Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG e a Universidade Estadual de

Montes Claros – Unimontes foram pioneiras nos estudos de Engenharia de Sistemas não

somente no Brasil, mas em toda a América Latina, iniciando os cursos de graduação na

área em 2010 e 2011, respectivamente, tendo sido suas primeiras colações de grau em

2015.

1Acadêmico do curso de Engenharia de Sistemas da Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico

do programa de Iniciação Científica Voluntária em Investigação e Proposta de Algoritmos Evolucionários

para Problemas de Alocação. E-mail: [email protected].

2Acadêmico do curso de Engenharia de Sistemas da Universidade Estadual de Montes Claros. Acadêmico

do programa de Iniciação Científica Voluntária em Mineração de Dados no Âmbito da Universidade

Estadual de Montes Claros. E-mail: [email protected]

Palavras-chave: Historiografia; Engenharia de Sistemas; Engenharia no Brasil;

História da Ciência.

INTRODUÇÂO

O trabalho de Almeida (2011) reuniu um quantitativo de referências sobre a história e

origens da Engenharia de Sistemas, especialmente focadas na história das guerras

paralelamente ao desenvolvimento da indústria bélico-aeronáutica. Em PROJECT

MANAGEMENT INSTITUTE (1996, p. 4 apud ALMEIDA, 2011, p. 56) é traduzida a

seguinte passagem:

A humanidade cria conscientemente objetos e conhecimentos desde quando

atingiu níveis de tecnologia e cultura suficientemente elevados. Qualquer

criação consciente, tangível ou intangível, mesmo a mais tosca ferramenta ou

arma, de madeira ou pedra, pode ser chamada de um projeto por ser um

empreendimento organizado, temporário e com um objetivo definido

Posteriormente ainda destaca que as obras e mecanismos construídos pelo homem no

passado foram ficando cada vez mais complexos à medida que a necessidade

aumentava. O uso da água e do vento para mover os mecanismos foram aos poucos

substituindo a força dos animais. As grandes navegações exigiram grande quantidade de

conhecimentos como a construção naval de grande porte, meteorologia, cartografia,

artilharia naval e etc. Os navios de navegação oceânica do século XVI eram os mais

complexos sistemas até então construídos, necessitando de grande quantidade de

conhecimentos, planejamento, treinamento e logística (ALMEIDA, 2011, p. 57).

Seguindo a linha de pensamento, foi durante o período da Revolução Industrial que se

verificou, na segunda metade do século XVIII, os aperfeiçoamentos da máquina a

vapor, que asseguraram um novo elemento energético, superior à força da água, do

vento, dos animais e do homem, manifestando-se sobretudo na produção têxtil e

metalúrgica (SANTOS, 2004, p. 63). A introdução dessas máquinas a vapor na

indústria, o grande aumento na capacidade de produção e também do número de

habitantes das cidades catalisaram inovações em transporte público, iluminação a gás e

viu-se o surgimento de muitas tecnologias até então não conhecidas como a lâmpada

incandescente, telégrafo, telefone, rádio e motores elétricos, juntamente com o

desenvolvimento da Engenharia Elétrica, na virada do século XIX para o século XX.

A elevada demanda por produtos e a transição da produção artesanal para a produção

industrial em massa precederam inovações nos processos de produção, fabricação e

logística e os conhecimentos até então utilizados se expandiram de tal forma que foram

necessários profissionais capazes de integrar partes muito distintas de um mesmo

projeto, assim surgiram os primeiros Engenheiros com funções de integração de

sistemas complexos como automóveis e aviões, sistemas extensos como redes de

distribuição de energia elétrica e gás, redes de telégrafos e telefones, redes de transporte

ferroviário entres outros. (SCHLAGER, 1956 p. 64 apud ALMEIDA, 2011 p. 59).

É geralmente aceito que o primeiro uso do termo “Engenharia de Sistemas”

ocorreu no Bell Telephone Laboratory3 (Bell Labs) no início dos anos 1940.

No entanto, há na literatura duas justificativas complementares para o

aparecimento e uso desse termo no Bell Labs. Uma referência explica que os

problemas associados com uma rede telefônica de dimensões nacionais

apareceram no Bell Labs antes que sistemas complexos fossem comuns em

outras indústrias (SCHLAGER, 1956 p. 64 apud ALMEIDA, 2011 p. 59).

É importante ainda destacar que o termo “sistemas” refere-se não exclusivamente a

sistemas computacionais, mas a um conjunto interdependente de elementos de modo a

formar um todo. É uma definição que acontece em vários campos como biologia,

medicina, informática, administração, direito. A exemplo podemos citar sistemas de

telecomunicações, sistemas empresariais, sistema circulatório, sistema de irrigação etc.

Sendo assim a Engenharia de Sistemas é pautada justamente no desenvolvimento de

soluções de tecnologias de alta complexidade para diversos tipos de sistemas,

caracterizando sua interdisciplinaridade.

OBJETIVO E METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica foi a metodologia abordada para esta pesquisa, uma vez que,

de acordo Lima e Mioto (2007, p. 38) “implica em um conjunto ordenado de

procedimentos de busca por soluções, atento ao objeto de estudo”, neste caso

contextualiza-se na busca pela identificação e conhecimento da história da Engenharia

3 Atualmente chamada de Nokia Bell Labs, é uma das empresas norte americanas de pesquisa e

desenvolvimento científico mais importantes do mundo. Fundada no início de 1900, tem sido desde então

uma importante fonte de experimentação tecnológica e inovação em telecomunicações.

de Sistemas no Brasil, sua necessidade, atuação, perspectivas, regulamentação e espaço

no mercado internacional para o século XXI.

Além de diversas referências bibliográficas este estudo também se apoiou nos webinars4

divulgados pela seção brasileira do International Council Systems Engineering –

INCOSE, que versam temas que contextualizam a Engenharia de Sistemas no Brasil e

no Mundo de maneira objetiva e respaldada por órgãos de regulamentação

internacional.

BREVE HISTÓRICO DA ENGENHARIA DE SISTEMAS

As referências ao surgimento da Engenharia de Sistemas remotam às mais antigas

civilizações que se têm conhecimento. Desde a construção das pirâmides egípcias aos

jardins suspensos da Babilônia e até mesmo nas Américas com as civilizações pré-

colombianas. Mas foi apenas no século I a.C. que Vitruvius deixou um manual que foi

praticamente a única referência no Ocidente sobre Arquitetura e Engenharia até o

período da Renascença. (ALMEIDA, 2011, p 56).

Para Vitruvius, o arquiteto era integralmente responsável por um projeto e, o

idealizava, contratava os construtores e operários, e administrava a

construção em nome do dono da obra. Para Vitruvius, o arquiteto não

precisava ser excelente nas artes do Desenho, Geometria, Óptica, Aritmética,

Letras, Música, Pintura, Escultura, Medicina e outras ciências, mas tinha de

ter bons conhecimentos nessas áreas para ser capaz de planejar, administrar e

concluir um projeto (VITRUVIUS, 1960, p. 5 – 13 apud ALMEIDA, 2011, p

56).

A partir desse manual diversos outros documentos surgiram com o propósito de

organizar e formalizar a concepção de projetos de elevada complexidade, como na

construção naval por exemplo. Os navios de navegação oceânica eram os mais

complexos sistemas do século XVI, necessitando de grande quantidade de

conhecimento, planejamento, treinamento, suporte logístico, etc. Para a construção

desses navios foram utilizados conhecimentos aprofundados de física, meteorologia,

cartografia, correntes marítimas, astronomia e construção naval de grande porte.

4 Webconferência no qual a comunicação é de uma via apenas, ou seja, somente uma pessoa se expressa e

as outras assistem. (RAMOS, 2014)

Segundo Schlager (1956, p. 65 apud ALMEIDA, 2011, p. 57):

As máquinas a vapor trouxeram a revolução industrial no século XVII,

mostrando as grandes indústrias, a capacidade de produção e o surgimento

das cidades onde seria possível o desenvolvimento do transporte público,

iluminação a gás entre outras inovações. No transcorrer do século XIX,

ocorreu um grande desenvolvimento das ciências naturais. Nas ciências

físicas, o estudo dos fenômenos elétricos e magnéticos deu origem à nova

disciplina da Engenharia Elétrica. A virada do século XIX para o século XX

viu o surgimento de muitas novas tecnologias e inventos relacionados com a

Engenharia Elétrica, e.g., lâmpada incandescente, telégrafo, telefone, rádio,

motores elétricos.

A Engenharia de Sistemas passou por enormes aperfeiçoamentos de acordo mostra a

história. Um dos ocorridos na segunda guerra mundial que foram definitivos para a

carreira da Engenharia de Sistemas sucedeu logo após a ocupação da Alemanha pelos

Estados Unidos, onde, em visita às instalações inimigas, os Americanos perceberam que

as aeronaves alemãs estavam mais desenvolvidas em termos de tecnologia e

aerodinâmica. Constataram que os projetos dos Alemães eram dotados de um líder de

projeto provido de conhecimentos em aerodinâmica, design estrutural, eletrônica,

servomecanismos, etc. Os Americanos produziram então o Toward New Horizons,

composto de 13 volumes e tratando das inúmeras questões relacionadas com o uso de

aviões e foguetes com fins militares.

Durante a Segunda Guerra Mundial o conhecimento para o desenvolvimento de novas

armas deu origem às disciplinas como Pesquisa Operacional e Análise de Sistemas,

estas disciplinas aumentaram a capacidade dos cientistas de otimizarem seus projetos,

Kahn (1957, p. 01 apud Almeida, 2011, p. 63) ainda destaca que problemas que durante

milênios eram exclusivamente da jurisdição dos militares passaram a ser também da

jurisdição de cientistas e com isso tecnologias restritas de guerra foram compartilhadas

a toda a comunidade científica.

Durante a Guerra Fria, intenso período de demonstração da capacidade nuclear entre

Estados Unidos e União Soviética, o espaço sideral tornou-se importante para a esfera

da estratégia. O conceito de dissuasão baseava-se na observação do comissionamento de

armas estratégicas por meio de sensores baseados em satélites de sistemas de

comunicação e vigilância. Sendo assim, a obtenção de armas nucleares mais potentes e

o desenvolvimento de meios de empregá-las contra o inimigo, além de contramedidas

de ataques com armas nucleares alavancou o desenvolvimento de mísseis nucleares,

uma vez que o projeto era de maior complexidade que o desenvolvimento de aviões, por

exemplo, uma vez que eram utilizados complexas tecnologias em telecomunicações,

georreferenciamento, aerodinâmica e também rigorosas metodologias de gerenciamento

que foram formalizadas na série de documentos AFSCM 375 da United States Air

Force – USAF, como no caso do desenvolvimento de um míssil balístico

intercontinental – ICBM, Almeida (2011, p. 84) ainda lembra que:

A aplicação de metodologias similares às da AFSCM 375 na NASA tornou

possível o cumprimento das difíceis metas do programa Apollo em 1961. O

sucesso da aplicação da Engenharia de Sistemas no programa espacial civil

levou a muitas tentativas, geralmente frustradas, de sua aplicação na solução

de problemas sociais.

Segundo Takahashi (2009, p. 01): “Um dos marcos da Engenharia de Sistemas, que

ajudou a estabelecer a forma atual de diversos métodos que hoje a integram, foi o

projeto da aeronave Boeing 777, concluído em 1995. Essa foi a primeira aeronave

inteiramente projetada em computador”. O surpreendente projeto levou menos de cinco

anos desde o início da especificação do produto, em 1991, e o primeiro voo, em 1995,

algo inédito até então.

Além do conhecimento específico dos domínios da Engenharia Aeronáutica, da

Engenharia Elétrica, da Ciência da Computação, que tiveram de ser integrados naquele

projeto, há um corpo de conhecimentos que, em parte, estavam sendo elaborados àquela

altura, e que foram cruciais para permitir tanto o prazo recorde quanto os elevados

índices de confiabilidade e de atendimento às especificações que foram obtidos. Esse

corpo constitui a Engenharia de Sistemas como a conhecemos hoje e em diversos

ramos, como o da indústria aeronáutica, o Engenheiro de Sistemas já é considerado

indispensável.

ENGENHARIA DE SISTEMAS NO MUNDO ATUAL

Por se tratar de um curso com um histórico acadêmico recente, as informações sobre o

mercado profissional para Engenharia de Sistemas no Brasil ainda não possui dados

conclusivos ou relevantemente consolidados, entretanto esta história não se repete em

vários outros países como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra e França, que já possuem

essa graduação quase que simultaneamente com o início dos estudos da área.

É o caso, por exemplo, da Universidade de Waterloo - UW, no Canadá, cuja fundação

do curso ocorreu em meados dos anos 60 e provavelmente é o curso de graduação em

Engenharia de Sistemas mais antigo no mundo. O próprio site da Universidade destaca

que o curso, lá chamado de Systems Design Engineering, abrange aspectos técnicos,

ambientais, socioeconômicos e políticos do processo de Engenharia de Sistemas

utilizando metodologias de projeto, sendo considerado, pela própria UW, como o curso

de graduação em Engenharia mais flexível que oferecem. (UNIVERSITY OF

WATERLOO, 2016, tradução nossa)

Convém ainda citar o curso de Engenharia de Sistemas ministrado pela Universidade de

Sheffield, Inglaterra. Nas modalidades de graduação e mestrado, os cursos de

Engenharia de Sistemas seguem em sete ênfases: computação, eletrônica, sistemas

mecânicos, sistemas médicos, mecatrônica, gerência e sistemas de controle. A página

oficial do curso ainda informa, em tradução livre, que:

A Engenharia de Sistemas e de Controle está em uma posição de grande

importância em quase todos os aspectos de nossas vidas. A vida moderna

depende fundamentalmente de sistemas que têm de operar de forma

independente para atingir uma finalidade especificada com precisão e

segurança. (UNIVERSITY OF SHEFFIELD, 2016)

De volta ao Brasil, além dos cursos de graduação em Engenharia de Sistemas da

Unimontes e UFMG, esta última lançou recentemente o curso de Mestrado em

Modelagem de Sistemas Ambientais. Na descrição do curso observamos que este

baseia-se “na aplicação de ferramentas de geoprocessamento, sensoriamento remoto e

modelagem computacional para o estudo de sistemas ambientais, com base em visão

integrada das inter-relações de seus componentes socioeconômicos, políticos, culturais e

naturais” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2016). O programa é

aberto a diversos profissionais como engenheiros, analistas de sistemas, matemáticos

computacionais, estatísticos, além de geógrafos, geólogos, arquitetos e biólogos. Há

uma forte conexão da interação dessas áreas através da Engenharia de Sistemas e

percebe-se o interesse da sociedade em um curso integrador capaz de relacionar todas as

questões ambientais pertinentes à modelagem de sistemas de elevada complexidade.

Ressalta-se o potencial brasileiro nessa linha de pesquisa.

Os maiores exemplos práticos da aplicação da Engenharia de Sistemas em projetos de

grande destaque internacional podem ser vistos nas descrições de D’Ângelo (2011, p. 8)

como o exemplo da bicicleta que projetada através técnicas de simulação multifísica

acopladas com técnicas de otimização multiobjetivo baseadas em algoritmos evolutivos

(todas essas técnicas fazem parte do escopo previsto no currículo de Engenharia de

Sistemas) tornou-se um produto de alto valor agregado considerada a melhor hoje

disponível no mercado mundial.

ENGENHARIA DE SISTEMAS NO BRASIL

Os Conselhos Regional e Federal de Engenharia e Agronomia - CREA/CONFEA,

regulamentam, no Brasil, o exercício da Engenharia de Sistemas e a Resolução5 1.010

de Agosto de 2005 (BRASIL, 2005, p. 17) do CONFEA estabelece uma regulamentação

precisa para essa especialidade dentro do item 1.2, que delimita o "Campo de Atuação

Profissional da Modalidade Elétrica".

Atualmente o INCOSE, organização não lucrativa, fundada em 1990 cuja missão é

compartilhar, promover e fazer avançar a Engenharia de Sistemas para o benefício da

humanidade e do planeta já possui mais de oito mil membros. O Conselho vem se

expandindo e em agosto de 2012 foi constituído legalmente o INCOSE Brasil, com sede

em São José dos Campos, São Paulo. O INCOSE Brasil é constituído por membros

profissionais, estudantes, corporativos e parceiros com todos graus de experiência e se

encontra em expansão, no processo de congregação de profissionais, cujo alguns deles

já participantes do INCOSE Internacional.

O Balanço das Atividades Estruturantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e

Inovação – MCTI (BRASIL, 2011, P. 10) caracteriza que a produção industrial

brasileira, historicamente, se baseia na utilização de equipamentos e tecnologias já

disponíveis ou geradas em outros países, ou seja, o país é importador seja de bens de

consumo ou de capital exterior tornando o país cada vez mais dependente da economia

externa. Refletindo na balança de pagamentos, onde o que se vê é o decréscimo de

5 Esta resolução também indica, no "Campo de Atuação Profissional da Modalidade Industrial

Mecatrônica", prevendo a possibilidade da criação de cursos de Engenharia de Sistemas, sejam

originariamente vinculados à Engenharia Elétrica (como no caso dos cursos já existentes na UFMG e

Unimontes), sejam com vínculo com a Engenharia Mecatrônica (que, no momento, não existem no

Brasil).

exportação de produtos industriais e serviços tecnológicos. Essa situação nos leva a

enxergar que país está voltando a ser exportador de produtos primários. Os dados

divulgados por Cano (2012) sugerem que o Brasil vive um processo de

desindustrialização desde os meados de 1980, onde a participação da indústria no

Produto Interno Bruto - PIB vem caindo a cada ano. O cenário global fez com que o

Brasil perdesse a competitividade das exportações industriais e crescesse o número de

importações.

De acordo Brasil (2014):

No Brasil, 45,7% do gasto em P&D6 é feito pelas empresas enquanto em

vários dos Países mais dinâmicos tecnologicamente (Estados Unidos,

Alemanha, China, Coreia e Japão) essa proporção está perto de 75%, e o

montante investido é sempre quase o triplo ou o quádruplo do brasileiro o

que demonstra que a participação do setor empresarial nos esforços

tecnológicos brasileiros ainda está aquém dos níveis observados

internacionalmente.

O gráfico abaixo exemplifica as origens dos investimentos7 em P&D em alguns países.

Gráfico 1 - Distribuição percentual dos dispêndios nacionais em pesquisa e desenvolvimento (P&D),

segundo setor de financiamento, países selecionados, 2000-2011

6 Pesquisa e Desenvolvimento. 7 Os percentuais não somam 100% porque foram considerados apenas os setores de maior relevância,

governo e empresas. Não foram considerados os demais setores: ensino superior, instituições privadas

sem fins de lucro e estrangeiro.

3,9%

22,7%

42,5%

43,0%

44,6%

44,7%

45,3%

45,5%

53,5%

60,0%

65,6%

73,7%

73,9%

76,5%

71,6%

67,1%

44,4%

46,6%

32,2%

41,6%

52,8%

36,1%

37,0%

33,4%

30,3%

24,9%

21,7%

16,4%

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0%

Argentina

Rússia

África do Sul

Espanha

Reino Unido

Itália

Brasil

Canadá

França

Estados Unidos

Alemanha

Coreia do Sul

China

Japão

Investimentos em P&D: Capital Público x Privado

Capital Público Capital Privado

Fonte: BRASIL, 2014. Adaptado.

Em seu webnar, Siqueira (2014) expõe que o avanço da industrialização tem que se

apoiar no desenvolvimento científico e tecnológico endógeno e sua incorporação

crescente ao processo produtivo através da base científica e da capacitação tecnológica

das empresas. A Engenharia de Sistemas é mostrada como uma das promessas para

abastecer esta lacuna de desenvolvimento do Brasil, pois trabalha com vertentes de

ciência e tecnologia com foco em inovações.

A Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação - ENCTI em Brasil (2014)

define algumas áreas prioritárias para impulsionar a economia brasileira, são elas as

principais: Complexo industrial da defesa, indústria aeroespacial, petróleo e gás,

tecnologias da informação e comunicação, fármacos e complexo industrial da saúde.

Nestas áreas a Engenharia de Sistemas possui largo campo de aplicação, sendo assim

também caracterizada como uma área imprescindível para o desenvolvimento industrial

do país.

Ainda segundo Siqueira (2014), a Engenharia de Sistemas aliada a outras disciplinas da

Engenharia tem o potencial de promover a competitividade da indústria brasileira,

praticando a boa Engenharia (buscando a excelência, com produtos de qualidade,

desempenho, confiabilidade, durabilidade e custo/benefício) e trabalhando a

competência do "integrador de sistemas" buscando sempre atender a satisfação de todos

os Stakeholders8 envolvidos nos projetos. Fazendo com que as empresas passem a

fabricar produtos de elevado desempenho a alto valor agregado.

CONSIDERAÇÕES

O maior desafio desse trabalho foi caracterizado pela pouca quantidade ou ausência de

referências bibliográficas que demonstrassem uma nítida diferenciação da Engenharia

de Sistemas com outras área da Engenharia e da Ciência. Este trabalho é o resultado da

narrativa histórica multidisciplinar construída unindo-se os fatos ao contexto econômico

e político situando a Engenharia de Sistemas como um desdobramento de interesses e

necessidades de cada época.

8 Termo usado em diversas áreas como gestão de projetos, comunicação social (Relações Públicas)

administração e arquitetura de software referente às partes interessadas

Para trabalhos futuros espera-se promover uma fonte histórica para novos ingressantes

na carreira de Engenheiros de Sistemas e dinamizar este trabalho através de palestras,

mesas redondas e mostras de profissões como uma forma de incentivar a busca e a

criação por projetos de pesquisas da área e identificar a importância histórica que o

Engenheiro de Sistemas tem desde os primórdios, envolvendo diferentes culturas,

correntes tecnológicas e suas potencialidades.

REFERÊNCIAS

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requisitos baseada num estudo de caso e num histórico das fases da engenharia de

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