historico ponta do coral

BREVE HISTRICO SOBRE A

PONTA DO CORAL

EM FLORIANPOLIS

DO SCULO XVIII AOS DIAS ATUAIS

Foto : Suzete Sandim (1995)

GABINETE DO VEREADOR MAURO PASSOS PT

JUNHO DE 2000

AGRADECIMENTOS

Assumimos a responsabilidade pelas opinies e dados no presente texto, bem como eventuais erros. Agradecemos as pessoas e entidades abaixo relacionadas, sem as quais este breve trabalho de pesquisa no seria possvel:

Eliane Veras da Veiga, Mestre em Histria pela UFSC

Fabiana Comerlato, Arqueloga, IPHAN, 11 Superintendncia Regional, Florianpolis, SC

Cintia Chamas, Arquiteta, IPHAN, 11 Superintendncia Regional, Florianpolis, SC

Aos professores, alunos, ex-alunos e funcionrios do Departamento do Curso de Arquitetura da UFSC

Ao Sr. Adolfo Nicolich, que gentilmente nos cedeu entrevista

Ao Sr. Vilson Carpes, que gentilmente nos cedeu entrevista

Arquivo Pblico do Estado de Santa Catarina

Biblioteca Pblica do Estado de Santa Catarina

Arquivo do Tribunal de Justia do Estado de Santa Catarina

Arquivo do Instituto Histrico e Geogrfico de Santa Catarina

Delegacia do Patrimnio da Unio -DPU-SC, Florianpolis

SUMRIO

APRESENTAO.................................................................................... 02

HISTRICO........................................................................................... 04 SCULO XVIII.............................................................................. 04

SCULO XIX................................................................................ 05SCULO XX................................................................................. 06

Ano de 1900..................................................................... 06Ano de 1915 ...................................................................... 07Anos de 1926 e 1928............................................................ 08Ano de 1929..................................................................... 09Ano de 1930..................................................................... 11Anos de 1935..................................................................... 12

Anos de 1936,1937 e 1938.................................................... 13Ano de 1940..................................................................... 14Anos de 1947 e 1960.......................................................... 15Anos de 1964, 1975, 1976 e 1978....................................... 16Anos de 1979 e 1980 - O incndio no Abrigo de Menores e a venda da Ponta do Coral..............................17Ano de 1981...................................................................... 23Ano de 1983 e 1984............................................................. 24Ano de 1985..................................................................... 25Anos de 1986, 1989, 1991. 1997, 1998................................ 26

SITUAO ATUAL.................................................................................. 28

UMA PRAA BEIRA MAR................................................................... 30

ESTUDOS E PROPOSTAS....................................................................... 31

CONCLUSO........................................................................................... 34

BIBLIOGRAFIA......................................................................................... 36

ANEXO.................................................................................................... 37

RELAO DAS ILUSTRAES............................................................. 38

APRESENTAO

Como Vereador em primeiro mandato, nos surpreendemos com as constantes decises tomadas contra Florianpolis e a qualidade de vida de seus habitantes. A elaborao desta breve pesquisa objetiva iniciar o resgate dos fatos que esto direta ou indiretamente ligados histria da Ponta do Coral, para que possam auxiliar na luta pela preservao daquele local como espao pblico de lazer, valorizando a histrica relao da cidade de Florianpolis (antiga Nossa Senhora do Desterro) com o mar, bem como o seu patrimnio esttico, natural, histrico e paisagstico.

Ilustrao 1 - Parte do mapa fsico-poltico da cidade de Florianpolis, PMF-IPUF, 4 Ed. 1998.

Desde quando comearam derrubar as primeiras paredes das runas da Ponta do Coral, a indignao foi grande. Coube Cmara Municipal a primeira manifestao oficial sobre tamanha agresso. Atravs de MOO, os vereadores pediram a Prefeita a suspenso da demolio e a recuperao daquele belssimo acervo arquitetnico.

O Poder Pblico Municipal, infelizmente nada fez. Faltou a Prefeita ngela Amin, como tambm ao Presidente do IPUF, Sr. Carlos Alberto Riederer, sensibilidade urbana e respeito ao passado para entender a importncia das runas da Ponta do Coral para as geraes futuras.

2BREVE HISTRICO SOBRE A PONTA DO CORAL

Tanto assim que a Prefeita, publicamente, manifestou sua opinio declarando que no via romantismo algum em olhar para runas. O presidente do IPUF, de forma burocrtica se limitou a informar que aquelas runas no eram tombadas, concluindo, num raciocnio cartesiano, que por esta razo poderiam ser demolidas.

Fazendo coro a esta falta de sensibilidade, o proprietrio da rea, Sr. Guglielmi, tambm mostrou toda sua despreocupao com a cidade e seus habitantes ao declarar o terreno meu e fao dele o que quiser.

Independente das lamentveis manifestaes destes trs importantes personagens, que contriburam para o desenrolar desde ato de violncia a um dos principais patrimnios paisagsticos da cidade, contemplado e admirado por milhares de pessoas que por ali passam, a sociedade indignada comea a se movimentar em defesa da Ponta do Coral, buscando transformar aquele espao em rea pblica.

Cidados de diferentes matizes ideolgicas se organizam em torno da idia de criar uma Associao - Os Amigos da Ponta do Coral. Vereadores se articulam para transformar aquele espao em rea Comunitria Institucional (ACI). O Ministrio Pblico utilizando de suas prerrogativas legais determina a suspenso da demolio e a interdio da rea. Historiadores e pesquisadores buscam no silncio das bibliotecas e em arquivos oficiais um pouco da histria daquele lugar.

Fruto deste trabalho coletivo mapas de 1830 so encontrados e identificam aquela rea como Ponta do Recife. Documentos de 1929 registram a presena da Standard Oil naquele lugar. Em 1938 um litgio judicial entre o Executivo Municipal e a empresa Standard Oil definiu pela interrupo do manuseio de combustveis naquele local, em Acrdo que teve com relator o Desembargador Dr. Urbano Salles

Passados sessenta anos, a Ponta do Coral volta a ser assunto da comunidade florianopolitana. Mais um vez, o que est em jogo a vontade privada sobre o direito da coletividade. No passado, como mostra este resgate histrico, prevaleceu o interesse pblico. Agora a histria nos coloca diante do mesmo dilema. Enquanto o mundo investe na recuperao de reas de livre acesso do homem com o mar, como o caso de Lisboa, Barcelona, Buenos Aires, New York e tantas outras, revitalizando antigas estruturas porturias, Florianpolis, na contramo da histria, permite a descaracterizao e destruio de um dos ltimos referenciais da antiga ligao da cidade com o mar. Assim como as geraes passadas e a nossa puderam usufruir desta bela paisagem da Ponta do Coral, presente na memria de todos, fruto da sbia deciso tomada em 1938, agora a nossa vez de garantir s geraes futuras este mesmo direito.

Florianpolis, junho de 2000.

Vereador Mauro PassosPartido dos TrabalhadoresCmara Municipal de Florianpolis.


HISTRICO

A Ponta do Coral, tambm conhecida como Ponta do Recife um acidente geogrfico localizado na Baia Norte da Ilha de Santa Catarina. Seu acesso feito pela Avenida Beira Mar no trecho denominado Av. Irineu Bornhausen.

Esta rea do bairro da Agronmica, por ser muito bonita, sempre foi predominantemente utilizada para o lazer. Regio com muitas chcaras no incio do sculo, aps a construo do Abrigo de Menores, em 1940, foi consolidada como um verdadeiro parque dos moradores do bairro. A venda da Ponta do Coral para construo de um hotel, em 1980, retirando da populao uma das ltimas reas verdes do centro da cidade, foi um grande equvoco do Governo do Estado, provocou revolta em toda a sociedade e, mesmo tendo passado 18 anos, ainda gera muita polmica.

SCULO XVIII

Oswaldo Rodrigues Cabral 1, em seu livro sobre as defesa da Ilha, menciona a existncia de duas fortificaes na Praia de Fora, o Forte de So Francisco Xavier e o Forte de So Luiz. No h meno sobre a Ponta do Coral como Ponto de Vigia, entretanto, tanto as duas fortalezas quanto o pondo de vigia no possuem ainda qualquer vestgio fsico recente que comprove a sua existncia. Os relatos orais de moradores da regio, indicam que a posio de ambas as fortificaes no ofereciam viso adequada da Baia Norte o que poderia ser suprido pela localizao privilegiada da Ponta do Recife, com uma viso de mais de 180 da Baia Norte. Tais relatos, no mnimo, indicam a necessidade de um cuidadoso estudo da questo. O Sr. Adolfo Nicolich, com 70 anos, nascido em Florianpolis, relata2 ter ouvido muitas histrias sobre a Ponta do Coral, dentre as quais que o local era anteriormente denominado Ponta do Recife.

O Sr. Vilson Carpes, com 70 anos, relata3 que segundo contava o seu pai, a Ponta do Coral na "poca dos portugueses" (sculo XVIII) era utilizada como ponto de vigia no complexo sistema de defesa da Ilha. Caso os barcos ultrapassassem as defesas de Anhatomirim, Ponta Grossa e Ratones, poderiam se esconder no Saco do Sambaqui e Saco Grande, locais que podiam ser vigiados da Ponta do Coral.

1 CABRAL, Oswaldo Rodrigues. As Defesas da Ilha de S.C. no Brasil Colnia, Conselho Federal de Cultura,1972, p.38.

2 Entrevista concedida em 23/10/1998. Sr. Adolfo Nicolich da Silva, nascido em Florianpolis, na dcada de 20, vivenciou vrios acontecimentos da histria da cidade.

3 Entrevista concedida em 27/10/1998. Sr. Vilson Carpes, nascido em Florianpolis, em 1928, morador do bairro da Agronmica, conhece vrios fatos da histria da regio. Quando criana, aos 08 anos, ele lembra que ia buscar querosene no depsito da Standard.


SCULO XIX

Consta nos mapas de 18144 e 18305 a identificao da Ponta do Coral como um acidente geogrfico conhecido como Ponta do Recife. Na Dissertao de Laura Machado Hbener6, sobre o Movimento Comercial do Porto de Nossa Senhora do Desterro no Sc. XIX, consta o seguinte texto:

Prximo Ilha de Santa Catarina existiam dois faris: um na Ponta dos Naufragados que assinalava a entrada pela Barra Sul e outro, inaugurado em 1883, a sudeste na ilha do Arvoredo, na entrada da Barra Norte. Alm destes, existia um farolete em Anhatomirim, todos controlados pela Capitania dos Portos. Sob o controle da Capitania dos Portos ficavam tambm as Ilhas dos Ratones, onde havia, na maior delas um armazm para combustvel e objetos pesados e um outro na Praia de Fora. (sublinhamos)

Consta que naquela poca, havia na Praia de Fora uma edificao utilizada pela Capitania dos Portos para o funcionamento da Inspetoria de Rios e Portos Navegveis, onde hoje o Caf Cancun, havendo a possibilidade de que o depsito de combustveis e materiais pesados, mencionado na Dissertao de Laura Machado Hbener, pudesse ficar na Ponta do Recife, que fica no fim da Praia de Fora, poca em que pode ter sido edificado os molhes de conteno do mar e os acesso que existem at hoje. Segundo Oswaldo Rodrigues Cabral7, a Cmara Municipal, em 1839, estendeu os limites da rea urbana da cidade de Desterro para o sul e para o norte: "...o limite sul avanou at a ponta chamada do Jos Mendes (que ainda conserva este nome), onde tivera a sua chcara Jos Mendes dos Reis; e o extremo norte foi empurrado para 'Pedra Grande, no caminho do Tacorubi'"(sublinhamos) Este renomado historiador catarinense registra em seu livro, que no bairro do Mato Grosso (atual Agronmica) a localidade de Pedra Grande, onde atualmente fica a Ponta do Coral, era, no sculo XIX, uma regio com muitas chcaras:

S alguns poucos moradores, lgico, possuam suas chcaras fora do recinto da cidade, l para os lados da Praia de Fora, para os do Forte de S. Ana, para os do Mato-Grosso, ou na longnqua rua das Olarias, para as bandas do Saco dos Limes ou na Santssima Trindade de Trs do Morro 8 (...) finalmente, l para os fins da Cidade, justamente na extremidade oposta quela em que outro Gaignette, o Joo de Deus, tinha a sua grande chcara, no caminho para o Tacorubi (Itacorubi) e para Trs do Morro, Alexandre Gaignette tinha a sua grande propriedade - e nas vizinhanas ainda hoje h muitos Gaignettes, possivelmente descendentes do latifundirio ali estabelecido. 9

4 BRITO, 1814..5 CABRAL, 1972, entre as pginas 18 e 19.6 HBNER, 1979, p. 23 e 24.7 CABRAL, 1979, vol. 1, p.36.8 Ibidem, pg. 261.9 Ibidem, pg. 269.


A Planta Topografica da Cidade de Desterro, de 1876 10 , identifica a localizao da sede da chcara de Alexandre Gaignette, prximo Ponta do Coral (do Recife) e denominando a praia entre a Ponta do Lessa e a Ponta do Coral como "praia do Gaignette"

Ilustrao 2 - Planta da Cidade de Desterro, de 1876, de Alfredo Taunay, em detalhe a Ponta do Coral. Fonte: Mapoteca do IPUF.

SCULO XX

Ano de 1900

Virglio Vrzea, em seu livro "A Ilha", do ano de 1900, menciona a beleza da Praia de Fora, nas proximidades da Ponta do Coral:

"Um dos mais bello arrabalde de Florianpolis, seno o mais bello, a Praia de Fora, porque representa para os catharinenses o que Botafogo para a Capital Federal: o bairro de linha, o bairro chic, o bairro aristocrtico." 11 (sic)

Seguindo para o norte da Praia de Fora, ficava a localidade denominada Pedra-Grande, caminho para a freguesia da Santssima Trindade12, onde atualmente fica a Ponta do Coral, um local magnfico, conforme descreve o Autor:

10 Mapoteca do IPUF e VEIGAS, 1993, mapa 10. 11 VARZEA, 1900, p. 51.12 VEIGA, 1993, p. 105.


Pela rua Frei Caneca que sahe do largo do mesmo nome e desce para o ces de S. Luiz13, num leve pendor sinuoso cercado de sebes de espinhos, dentre os quaes se erguem pequeninas habitaes collocadas esparsamente aqui e alli, com as suas crcas de boas-noites frente dos terreiros floridos de rosas e cravos, os lindos cravos de Santa Catharina - VAI-SE DAR AO BOULEVARD MAGNFICO DA PEDRA-GRANDE, onde comea a estrada das Carreiras desdobrando-se prxima costa at quasi as plancies de Itacoroby, faixeada veneziana por seus pequenos e sinuosos rios14, cujas voltas numerosas reluzem prateadamente em meio ao mangal. Dahi o caminho se bifurca, estendendo-se para a Trindade e Tres Pontes15, seguindo depois na direo norte da ilha, por Santo Antonio e Ratones, para a Laga, Canasvieiras, Rio Vermelho e o Rapa.16 (sic) (sublinhamos e destacamos)

O Autor, ao descrever com sensibilidade potica, a beleza da localidade de Pedra Grande, com casas "...sobre terrenos de marinha...", "...ao cima de pequenas pedras e lages alagadas...", pode estar mencionando a prpria casa de Victor Gevaerd e esposa, construda antes de 1915 (ver o texto sobre o ano de 1915), sobre a ponta do Coral. Segue abaixo a transcrio do referido trecho:

A Pedra-grande por sua situao longnqua - a quasi uma legua do corao da cidade - tem j o aspecto de uma freguezia com as suas casas rareadas, erectas bem na linha da praia sobre terrenos de marinha, os jardins e quintaes avanando para as ondas, ao de cima de pequenas pedras e lages alagadas, com os interstcios aterrados e murados em roda, que se accumulam pittorescamente nesse ponto do litoral a comear por um enorme monolitho redondo, elevando-se do seio d'agua como um zimborio massio, esquerda de quem vai de So Luiz, monolitho que d o nome ao lugar desde os tempos primitivos.17 (sic)(sublinhamos)

O Autor segue descrevendo o aspecto da localidade "Pedra Grande":

Asseiado, socegado e florido como uma alda de Hollanda, este alegre arrabalde, com a sua casaria caiada e de variados feitios, uma ou outra praiasinha de areias alvas abrindo-se num risonho crescente, em meio a multido escura ou cinzenta dos minusculos menhires, despertando a ida de um mappa em relvo da Grcia em representao microscpica, tudo isto ao lado de uma paizagem feita dos mais leves contornos de linhas, descendo para o mar em planos inclinados de prados bizarros e moitas de arbustos rendilhados e de uma cr esmeraldina tonalisada em nuances delicadissima - attrahe a si, aos domingos, uma grande parte da populao desterrense que percorre o bairro a carro, a cavallo, ou em grupos a p, numa expanso de alegria. Depois a extenso da rua principal e sua amplitude conferem uma certa feio de avenida campestre a toda Praia-grande, tornandoa-a um verdadeiro paraiso para as excurses e cavalgadas. 18(sic) (sublinhamos)

Ano de 1915

13 Pequeno curso d'gua, provavelmente localizado hoje no canal da Av. Mauro Ramos, desaguando na Beira Mar, ao lado do Beira Mar Shoping. Deve ter sido assim denominado por sua proximidade com a antiga Fortaleza de So Luiz.

14 Mangue do Itacorubi.15 As atuais trs pontes da Avenida da Saudade, no Itacorubi, prximo Penitenciria.16 VARZEA, 1900, p. 55 e 56.17 Ibidem, p. 56.18 Ibidem, p.57


Em 1915, o Sr. Victor Gevaerd vende a rea da Ponta do Coral para Joo Batista Sabino. Consta na Escritura de Compra e Venda de Joo B. Sabino para a Standard seguinte registro:

(...)por ele outorgante vendedor me foi dito que era legtimo possuidor de uma pequena chcara situada nesta cidade no lugar denominado Ponta do Recife. (...) com uma casinha nelle edificada, em mao estado, cuja a propriedade elle vendedor adquirio por compra em 31 de dezembro de 1915, de Victor Gevaerd e s/m D. Luiza Gevaerd(...). 19

Ano de 1926

Em 29/04/1926, Joo Batista Sabino, recebeu o aforamento da rea em documento20 com o seguinte teor:

(...) conforme instrues de 14 de novembro de 1832 e Decreto n. 4.105 de 22 de fevereiro de 1868, concedeu em virtude de despacho do Sr. Ministro da Fazenda, em 29 de abril de 1925, ao Sr. Joo Batista Sabino, por aforamento perptuo, um terreno de marinha com 96 metro de cumprimento, confrontando ao norte, leste e oeste com o mar e ao sul com terreno de marinha devoluto.

Em 1926 a empresa Texas Company21 (South Amrica Limeted) distribuidora de combustveis para automveis e barcos publica anncios de seus produtos nos jornais da Capital.

Ano de 1928

A empresa americana Standard Oil Company of Brasil22, distribuidora de combustvel, inicia divulgao23 de seus produtos na Capital, em competio com outras distribuidoras.

19 Livro 140,fls. 63 64, Tabelio Campos Jnior (continua: "...devidamente transcrita no Registro Geral de Transcrio de Imveis, desta Comarca, sob o n. 3.795, pg. 297, do Protocolo e fls. 401 e 402, de transferncia de Immoveis, terreno esse de marinha, conforme licena da Delegacia Fiscal que adiante vai transcrita."- sic)

20 Processo n. 8251/92-61, Delegacia do Patrimnio da Unio - DPU - Florianpolis.21 - Empresa norte-americana distribuidora do combustvel (atual Texaco).. Ver Jornal O Estado, de 04/07/192622... Standard Oil Company, empresa norte-americana de explorao e refinamento de petrleo. Fundada por John

D. Rockefeller e Samuel Andrews, constituda como Standard Oil Co. em 1870, conseguiu rapidamente controlar toda a produo petrolfera dos E.U.A. e os respectivos meios transporte (1875). Em conseqncia da lei anti-trust, foi (1892) desmembrada em vinte companhias, das quais as mais importantes so a Standard Oil Of New Jersey (...), a Standard Oil of Indiana, Standard Oil of California etc. Tem mais de 250 empresas associadas, no mundo inteiro, das quais muitas (incl. no Brasil) tem o nome Esso. Controla interesses petrolferos na Venezuela, Canad, Colmbia, pases rabes do Oriente Prximo (c. 14% da produo mundial); seu nico concorrente em capacidade de produo e venda a Royal-Dutch-Shell. (Enciclopdia Delta Larousse, Editora Delta S.A., 1977, Vol 14, pg. 6433)

23 Ver Jornal O Estado, em 04/05/1928,


Ilustrao 3 - Jornal O Estado, de sexta feira, 11 de janeiro de 1929, com a propaganda da empresa Standard Oil .

Tanto a empresa "Texas" como a "Standard" instalaram seus depsitos junto rea do antigo Porto, no Centro de Florianpolis, na regio conhecida com Rita Maria, prxima ponte Herclio Luz.

Ano de 1929

O Prefeito da poca, Sr. Heitor Blum, temendo exploses e incndios no Centro de Florianpolis, determina24 a retirada de todos os grandes depsitos de combustveis

24 Resoluo n 624 de 1929 - Definiu a competncia do Prefeito ao determinar que s permitido no permetro urbano depsito de inflamveis etc. em local determinado pela Prefeitura".


e inflamveis para mais de 500 metros da rea urbana e autoriza em dezembro de 1929 25 a instalao da Standard Oil Company of Brasil na Ponta do Recife.

O proprietrio da rea, Joo Batista Sabino, se preparando para vend-la para Standard, solicitou certido negativa de dbito Fazenda Estadual, que ficou com o seguinte teor:

"Certifico que dos livro a cargo desta Sub-Diretoria de Rendas, no constar ser o prdio situado na Pedra Grande, no lugar Ponta do Recife, de propriedade de Joo Sabino, ser devedor a Fazenda Estadual at a presente data, 28 de outubro de 1929." (sublinhamos)

Antes de comprar o terreno, o Advogado da Standard, teve o cuidado aguardar que a Prefeitura autorizasse26 a construo dos seu depsito na Ponta do Coral, que foi aprovado nos seguintes termos:

Senhor Secretrio, tenho a informar-vos que as plantas juntas a este requerimento preenchem as condies regulamentares para a construo de um depsito e armazm, casa de concreto e uma residncia no lugar denominado Ponta do Recife. Os compartimentos sanitrios tero o piso de concreto e as paredes revestidas com azulejos brancos at a altura de 1.50ms. O piso de todos os depsitos ser de concreto. Florianpolis, 14 de novembro de 1929.

A referida certido, continuando, dispe que: O Alinhamento e locao dos diversos prdios obedecero a planta de situao junta. Florianpolis, 25 de novembro de 1929

Ilustrao 4 - Planta do depsito da empresa Standard Oil, aprovado pela Prefeitura Municipal de Florianpolis, em 1929. Fonte: Arquivo SUSP.

25 Resoluo n 641 de 1929 - concedeu autorizao especial Standard Oil para construir na Ponta do Recife" os seus depsitos.

26 Requerimento n 467 de 28/10/1929, da Standard ao Prefeito, solicitando a certido.


Ilustrao 5 - Planta do depsito da Standard, aprovado pela Prefeitura Municipal de Florianpolis, em 1929. Fonte: Arquivo SUSP.

Ano de 1930

Em 29/01/1930, o Sr. Joo Batista Sabino vende a rea para Standard Oil Company por 25:000$000, (vinte e cinco contos de ris). No documento27 de transferncia consta o seguinte registro:

Termo de transferncia de um terreno de marinha, no lugar denominado Ponta de Baixo ou Ponta do Recife.(...)No terreno transferido existem benfeitorias tambm passadas a mesma Standard como consta do termo de transferncia lavrado s fls. dezessete do livro 10 respectivo. Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional em Santa Catarina, 30 de janeiro de 1930.

As razes que motivaram a escolha daquele local pela Standard, recm chegada Florianpolis, se devem provavelmente s recomendao de conhecedores da regio (Capitania dos Portos, navegadores e/ou barqueiros), por ser o local de excelente acesso aos barcos de transporte, a existncia de aterro para acesso antiga ilhota (mencionado no Mandado de Segurana 27/1938) e a possvel existncia do molhe (quebra-mar) ali edificado no sculo anterior.

Segundo o Sr. Adolfo Nicolich28, a Standard Oil transportava o combustvel (tambores de 200 litros de gasolina e leo) em barcos at a Ponta do Coral. Com os guinchos e trilho existentes no trapiche, levavam o material para os dois pavilhes onde eram armazenados.

27 Processo n 8251/92-61, SPU, pg. 63 e 64. (Retirado das fls. 57 e 57v, do livro 08, de. Registro de Ttulo de Transferncia de 1926 a 1932).

28 Em entrevista concedida em 23/10/1998.


Posteriormente, os caminhes da empresa levavam combustvel para os trs ou quatro postos (ou bombas) de gasolina existentes na Ilha na poca. Sr. Nicolich comentou, inclusive, que um dos motorista da Empresa era Dino Rocha, pai de Aldo Rocha, atual proprietrio da Emflotur e que um destes Postos (ou bombas) de gasolina ficava na antiga Praa Floriano Peixoto, localizada no Jardim Jos Boiteux, atual Praa Fernando Machado. Outro detalhe mencionado pelo Sr. Nicolich que a rua ao lado do Posto Policial da Agronmica, que segue para a Beira Mar, era vulgarmente conhecida pelos moradores como "Rua da Estanda", pois era utilizada pela empresa Standard Oil como acesso ao trapiche na Ponta do Coral. Segundo o Sr. Adolfo, o nome Ponta do Coral surgiu depois que o Pe. Joo Alfredo Rohr (Colgio Catarinense) fez um estudo no local e encontrou algumas espcies de corais, passando a denominar aquele acidente geogrfico de Ponta do Coral.

Ilustrao 6- Ampliao de foto, de 1931, onde se v, em primeiro plano os fundos do Colgio Catarinense e ao final a foto da Ponta do Coral. Fonte: arquivo particular de Ademar Goeldner

Ano de 1935

Em 1 de maio de 1935, Nereu Ramos assumiu o Governo do Estado de Santa Catarina, em maio editou Decreto 29 criando o Juzo de Menores de Santa Catarina, iniciando o processo que culminaria com a construo do Abrigo de Menores na Agronmica.

29 O Decreto n 78, de 22/08/1935, criou o Juzo de Menores do Estado de Santa Catarina.


Ano de 1936

Iniciou-se em 12/10/1936, a construo do Abrigo de Menores e inaugurado em 11/03/1940 por Getlio Vargas, em visita Capital.

Ano de 1937

Em 17/12/1937, o Prefeito Mauro Ramos, ao aprovar a Resoluo n.49 30, que determina a desativao do depsitos de combustveis a mais de 500 metros do permetro urbano, atinge indiretamente o depsito da Standard Oil instalado na Ponta do Coral.

A Empresa com autorizao da Prefeitura, construiu seus depsitos em 1929. Em 1937, a mesma Prefeitura resolve considerar que os depsitos da Ponta do Coral estavam novamente dentro do permetro urbano e determina31, indiretamente, a nova mudana de local.

Ano de 1938

No aceitando a deciso da Prefeitura, a Standard impetrou Mandado de Segurana contra a Prefeitura, no sendo concedida a segurana pelo Juzo de Direito, que confirmou a deciso do Prefeito. Inconformada, a Standard recorreu ao Tribunal de Apelao do Estado de Santa Catarina, solicitando o reexame da deciso do Juzo de 1. Grau. O Tribunal manteve a deciso do Juzo de 1. Grau.

Consta da petio do Recurso 32, da Standard Oil, elaborada pelo advogado Dr. A. Wanderley Jnior, meno rea conhecida como Ponta do Recife, nos termos que abaixo seguem:

Assim, a suplicante autorizada expressamente por lei municipal e de conformidade com as suas exigncias, construiu os seus depsitos em uma antiga ilhota que fora ligada a terra firme por um aterro, formando a chamada "PONTA DO RECIFE ", no norte da Ilha, no permetro urbano de Florianpolis, longe da cidade porm.Nesta condies, amparado em lei, a suplicante inverteu no local designado parte de seu patrimnio. (sublinhamos e destacamos)

Entretanto, a Prefeitura de Florianpolis, citando a Constituio Brasileira de 1934, alertou para os limites do direito de propriedade frente ao interesse pblico, para justificar o afastamento daquela empresa da Ponta do Coral, conforme trecho abaixo transcrito:

A Constituio de 1934, dispondo no n17 do art. 113 que o "direito de propriedade no podia ser exercido contra o interesse social ou coletivo" e a constituio de 10 de novembro declarando no art. 123 que "o uso das garantias e direitos enumerados no artigo 122, em que

30 Resoluo Municipal n. 49 de 17/12/1937 - Ato do Prefeito disciplina a localizao de depsitos de combustveis e determinado, implicitamente, a desativao do depsito de combustvel da Standard da Ponta do Coral. Decreto Lei (Estadual) n 44, de 24 de janeiro de 1938 - ratifica os termos da Resoluo 47/1937.

31 Ibidem32 Recurso de Mandado de Segurana n. 27 de 01 de agosto de 1938, Recorrente: Standard Oil Company of

Brazil / Recorrida: Prefeitura Municipal de Fpolis. Assunto: Reexame da deciso do Juzo singular que indeferiu o Mandado de Segurana contra o ato do Prefeito (Resoluo n.49 de 17/12/1937) que determinou a desativao do depsito de leo da empresa americana da Ponta do Coral. (Arquivo do TJSC)


se inclui o direito de propriedade, ter por limite o bem pblico, as necessidade da defesa, do bem estar, da paz e da ordem coletiva". (sublinhamos)

O Acrdo33, relatado pelo Desembargador Urbano Salles, acatando os argumentos da Prefeitura, mencionou as limitaes do direito de propriedade disciplinadas pela Constituio Federal, em vigor na poca, quanto confrontada com o interesse pblico, como motivo suficiente no acatar o pedido da empresa Standard Oil, conforme abaixo transcrevemos:

(...)em se tratando de localizao de inflamveis e explosivos, exerce o poder pblico o chamado poder de polcia (police power), no constituindo, evidentemente, direito adquirido a autorizao, ou concesso, para a construo de depsito para tais fins, pois que o direito e garantias individuaes tem por limite o bem pblico (art. cento e vinte e trs da Constituio Federal). (sublinhamos)

Portanto, h 70 anos atrs, ao ser examinado um conflito entre o interesse pblico e o privado, prevaleceu o reconhecimento da supremacia do interesse pblico, conforme estampado na Constituio Brasileira desde aquela poca. Com esta deciso, a Standard Oil Company of Brasil, foi obrigada no mais utilizar seus prdios da Ponta do Coral como depsitos de combustveis, em benefcio do interesse da populao florianopolitana.

Ano de 1940

Ilustrao 7 - foto de 03 de fevereiro de 1940, registra o Mercado Pblico ainda beira-mar e ao fundo a Ponta do Coral. Fonte: arquivo particular de Ademar Goeldner

33 Acordo do Tribunal de Apelao do Estado de Santa Catarina no Recurso de Mandado de Segurana n. 27, (Arquivo do TJSC) - Relatrio do Governo do Estado de Santa Catarina, 1938, Interventor Federal, Nereu Ramos, Biblioteca Pblica do Estado, P. 244 250.


Em 11/03/1940, o ento Presidente da Repblica, Getlio Vargas, em visita34 ao Estado, inaugurou o Abrigo de Menores, instituio de apoio s crianas carentes proveniente de todo o Estado e administrada pela Congregao dos Irmos Maristas. A rea que fica aos fundos do antigo Abrigo de Menores, que antes era chcara de lazer, passou a ser utilizada como rea de lazer pelos internos e por toda a comunidade do entorno com seus vrios campos de futebol, a praia onde os internos puxavam a rede de pesca e a prpria Ponta do Coral, que tambm era chamada pelos abrigados como "Ponta da Estanda", onde muitos iam passear.

Ano de 1947

Ilustrao 8 - foto de 1947, registra os menores do Abrigo, puxando a rede, vendo-se ao fundo o prdio da Standard Oil, na Ponta do Coral, com um barco ancorado em seu trapiche. Fonte: arquivo do Instituto dos Irmos Maristas

Ano de 1960

Em 03/03/60, a ESSO Brasileira de Petrleo S.A. vendeu35 a rea para o Governo do Estado, com autorizao36 da Assemblia Legislativa Em 08/11/1960, o ento Governador Heriberto Hlse inaugura a lavanderia do Abrigo de Menores.

34 Em 1940, governava o Estado o Interventor Federal Nereu Ramos. Nesta visita Getlio Vargas inaugurou vrias outras obras no Estado.

35 Escritura de compra e venda lavrada no livro 002, fls.95v, do 4 Ofcio de Notas da Capital. Reg. Imveis, matrcula R.1/10391.

36 Lei n 2166, de 23/11/1959, publicada no Dirio Oficial n.6454 de 30-11-1959.


A utilizao dos prdios da Standard como lavanderia ocorreu a partir da dcada de 60. O Relatrio do Abrigo37 de Menores, de 1960, relata o episdio da inaugurao da sua lavanderia, conforme transcrito:

Foi ento, em data de 08 de novembro o Abrigo de Menores recebeu a visita do Senhor Governador Heriberto Hlse, acompanhado do Secretrio de Justia Dr. Aroldo Carneiro de Carvalho.Aps a recepo que lhes foi oferecida por todo o pessoal da Casa, visitaram o abrigo e dirigiram-se s novas instalaes da lavanderia.Foi ento inaugurada a lavanderia, posta em funcionamento pelo Sr. Governador, que acionou pessoalmente a chave dos aparelhos.

Na pgina 11 do mesmo Relatrio consta no item 2. da tabela de Planos de 1960 a confirmao da concluso da instalao da lavanderia, tarefa planejada para aquele ano: Planos de 1960; ... 2 - Instalao da Lavanderia realizada

Ano de 1964

Foi criada a FUNABEM - Fundao Nacional do Bem Estar do Menor

Ano de 1975

Foi criada a FUCABEM38 - Fundao Catarinense para o Bem Estar do Menor. A Congregao Marista afastada da administrao do Abrigo de Menores, que passa a ser denominado de Educandrio 25 de Novembro.

Ano de 1976

Foi assinado o Decreto Estadual39 que autorizou a transferncia de bens mveis e imveis para o patrimnio da FUCABEM, onde no constava o terreno na Ponta do Coral. Inicia-se neste ano a elaborao do projeto de construo do centro- piloto da FUCABEM, em Palhoa, futuro Centro Educacional Dom Jaime de Barros Cmara.

Ano de 1978

Em 1978, durante o Governo de Antnio Carlos Konder Reis (maro/1975 maro/1979) foi iniciada a construo da Beira Mar Norte que resultou na separao do terreno na Ponta do Coral, (ainda de propriedade do Estado) da rea do Abrigo de Menores (de

37 Relatrio do Abrigo de Menores, do ano de 1960, s fls. 09, Arquivo Publico do Estado de Santa Catarina.38 A Lei Estadual n 5089, de 14 de maio de 1975, em seus arts. 88 e 89, criou a Fucabem.39 Decreto n 68, de 05/02/1976, Gov. Antnio Carlos .Konder Reis (Matrculas do Reg. de Imveis

n.1744,1787,2442,1471, s/n em Fpolis e outro em So Jos, em Barreiros).


propriedade da Fucabem). No entanto, os campos de futebol ao fundo do Abrigo e o terreno na Ponta do Coral j eram consolidados como reas de lazer de toda a comunidade do bairro da Agronmica.

Ano de 1979

Em 19/11/1979, j no Governo de Jorge Konder Bonhausen (maro/1979 maro/1982), a rea da Ponta do Coral passa a integrar o patrimnio da FUCABEM, atravs da doao40 do terreno pelo Governo do Estado41.

Em 30/11/1979, a FUCABEM contratou financiamento na Caixa Econmica Federal para a construo em Palhoa, do Centro Educacional Dom Jaime de Barros Cmara, inaugurado em 1982. O Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina S.A. - BADESC foi avalista de 132 milhes de cruzeiros 42

Ano de 1980

Em 12/03/1980, a FUCABEM deu o prdio do Abrigo de Menores (Educandrio XXV de Novembro) bem como outros prdios que tinha em So Jos e Palhoa como contragarantia de fiana e hipoteca ao BADESC43.

O INCNDIO NO ABRIGO DE MENORES Em 30/03/1980, um incndio destruiu parte do Educandrio 25 de Novembro (antigo Abrigo de Menores) fato que foi noticiado com a seguinte ttulo:

"FOGO DESTRUIU 3 ANDARES DO EDUCANDRIO 25 DE NOVEMBRO. (...) O incndio durou duas horas e s foi controlado por volta das onze horas e trinta minutos." (Jornal Santa Catarina, 01/04/80, capa e pg. 07)

A tristeza das pessoas com aquele acontecimento foi muito grande:

"O Padre Celso, ex-administrador do Abrigo chorava na frente do prdio, inconformado com o acontecido. Por todos os lados via-se desconsolao e em alguns casos at desespero, no s de alunos como de professores. (...) O nico dado positivo: no houve vtimas" (Jornal O Estado, 01/04/80, pg. 07)

Foi instaurado inqurito policial para investigar se o incndio havia ou no sido criminoso. Mnica Corra da Silva, em seu trabalho de concluso do Curso de Jornalismo, denominado "Um Domingo Nem To Alegre" relata:

40 Decretro (Estadual) n. 9553, de 19/11/1979, Dirio Oficial n.11362, de 26/11/1979 .41 Jorge Konder Bornhausen, Governador do Estado nomeado, assumiu em 15/03/1979.42 SILVA, 1994, pg. 27.43 SILVA, 1994, pg. 28.


A pesquisa de inflamveis feita pelo Instituto de Anlises Laboratoriais da DPT constatou "positivivdade" para derivados de petrleo nos objetos recolhidos nas runas do Educandrio. De acordo com o laudo pericial , "em Criminalstica, dois focos iniciais de combusto so prova insofismvel de incndio provocado intencionalmente".44

Entretanto, como no foi encontrado o culpado pelo incndio, em 7 de abril de 1982, o ento Procurador Geral do Estado, Joo Carlos Kurtz, requereu o arquivamento do inqurito, solicitao aceita pelo Juiz. Somente aps o arquivamento que o Estado pode recebe o seguro que cobriu aproximadamente 50% do valor da instituio. Dez anos aps, em maro de 1992, o crime prescreveu. 45.

Em 01/04/80, o Governo anuncia a construo do novo abrigo:

O Governador do Estado, Jorge Bornhausen, depois de um reunio com o Prefeito46 da Capital e dirigente da Fucabem, anunciou que os trabalhos da construo do novo abrigo, em Palhoa, sero acelerados. (Jornal O Estado, 01/04/80, pg. 07)

Em 10/04/80, o ento Vereador Edson Andrino, ao tomar conhecimento da inteno do Governo de vender parte da rea do Abrigo de Menores, se manifestou contrrio, conforme registrou o Jornal de Santa Catarina:

O Vereador Edson Andrino de Oliveira (PMDB), em pronunciamento Cmara Municipal, se manifestou contrrio aos planos do Governo do Estado para a venda da rea de terra pertencente ao Educandrio 25 de Novembro (Jornal de Santa Catarina, 10/04/80, pg. 18)

Poucos dias aps, o Secretrio do Bem Estar Social confirma a inteno do Governo do Estado de vender a Ponta do Coral, conforme registro do Jornal O Estado:

ESTA REA EST VENDA - Esta rea faz parte do conjunto do Abrigo de Menores no bairro da Agronmica. O Secretrio Egdio Martorano, do Bem Estar Social anunciou a sua venda que ir permitir a construo do novo educandrio em Palhoa (Jornal O Estado, 12/04/80, capa com foto da Ponta do Coral)

Novamente, o ento Vereador Edson Andrino anunciou que iria mover uma ao pblica contra a venda da rea, se manifestando publicamente contra a deciso do Governo : ANDRINO CONSIDERA VENDA UM CRIME CONTRA FLORIANPOLIS (ttulo da matria, Jornal O Estado, 12/04/80, pg. 16).

Em 20/07/1980, o Governador autoriza a venda da rea com a publicao do Decreto Estadual n 11.708, que em seu texto destinava os recursos provenientes da venda da rea para a construo do Educandrio, em Palhoa.47

44 SILVA, pg. 31.45 SILVA, pg. 33 e 34.46 Francisco de Assis Cordeiro, foi nomeado Prefeito da Capital e assumiu em 21/02/1979.47 SILVA, 1994, pg. 33.


Em dias 07, 08 e 09/11/1980, respectivamente sexta sbado e domingo, alunos do Curso de Arquitetura da UFSC, diante da confirmao da venda da rea, promoveram um fim de semana de lazer e recreao com a comunidade, na Ponta do Coral, objetivando demonstrar a importncia daquela rea como espao de lazer.

Ilustrao 9 - Jornal O Estado, 08/11/80, pg. 20.

Houve show de msica das Bandas "Paz e Amor nas Estrelas" (Kiko) e Banda "Arait", roda de capoeira, teatro, atividades de recreao, conforme registrados pelas fotos que abaixo seguem.


Ilustrao 10 - As fotos acima registram o evento promovido pelos estudantes do Curso de Arquitetura da UFSC, na Ponta do Coral, nos dias 7, 8 e 9 de novembro de 1980. Fonte: arquivo particular de Marisa Fonseca.


Durante todo o durante o fim de semana festivo na Ponta do Coral, o policiamento foi ostensivo, segundo relato de pessoas que participaram do evento, com a clara inteno de intimidar a comunidade que se manifestava contra a venda do local. Na segunda feira (10/11/80) o Secretrio do Governo do Estado decidiu impedir o acesso pblico ao local, conforme abaixo transcrito:

Nos dias seguintes ao incio da polmica, o Secretrio do Bem Estar Social de ento, Egdio Martorano Neto, determinou que a rea fosse cercada com arame, porto e cadeado, por discordar das manifestaes estudantis ali realizadas dias antes. Os estudantes da UFSC, disse o Secretrio, "pediram o local para manifestaes culturais, mas fizeram foi discursos e crticas". Ele prprio , em nome do Governo, defendeu a venda do local para conseguir verba para atender as cerca de 500 mil crianas da FUCABEM, "porque existe um plano de obras mas falta verba. (Jornal "O Estado", 25/03/1983)

Um dos resultados da mobilizao da sociedade em geral, iniciada em 1980, contra a venda da Ponta do Coral, segundo o Professor Francisco Ferreira48, e que acabou tendo reflexos mais amplos e duradouros, foi o surgimento do MOVIMENTO ECOLGICO LIVRE-MEL, uma das entidade precursora do movimento ecolgico em Florianpolis. Consta no livro "Uma Cidade Numa Ilha" que:

"os integrantes do MEL criaram muitas das bases para chamar ateno para a problemtica ecolgica na Ilha. E efetivamente desencadearam vrias aes e grupos, que nos anos 90 garantiram a integrao dos valores ecolgicos s lutas populares".49

Em 17/11/1980, a Ponta do Coral foi vendida. Na poca o zoneamento era rea Verde e Equipamentos (Lei Municipal n. 1440/76) com uso pblico consagrado e sem qualquer residncia prxima. Na poca Jorge K. Bornhausen era Governador do Estado, Francisco de Assis Cordeiro, Prefeito, e Esperidio Amin, Secretrio de Obras do Municpio de Florianpolis.

No sentido contrrio, a Fundao Catarinense de Cultura, atravs da Unidade de Patrimnio Cultural, (Maria Isabel Kanan, Maria das Graas Prudente e Fernando Romero) constatando a perda da identidade cultural dos centros urbanos devido a sua descaracterizao, desenvolveram um projeto visando efetuar um levantamento dos pontos de interesse histrico cultural da Ilha de Santa Catarina. Na poca, para Maria Isabel Kanan, a Ponta do Coral deveria ser utilizada como rea de lazer.

48 Professor do Curso de Arquitetura da UFSC.49 CECCA/FNMA, 1996, p. 181 e 182.


Ilustrao 11 - Jornal O Estado, 19/11/80, pg. 19.

A rea da Ponta do Coral foi vendida para a empresa Carbonfera Metropolitana, que comprou a rea da FUCABEM, em 16 de dezembro de 1980, atravs de concorrncia pblica em que participaram outros trs concorrentes: Kobrasol Empreendimentos Imobilirios S.A, Iate Clube de Florianpolis e Sociedade Nacional de Construes Ltda. (SNAC), a quarta participante, a Carbonfera Metropolitana ofereceu o melhor preo e foi a vencedora.

A escritura50 de compra e venda identifica a ponta do Coral como Ponta do Recife, descreve a existncia de benfeitorias no local:

"...confronta com o mar, achando-se nele encravados dois pavilhes de alvenaria, uma casa de alvenaria e um trapiche com base de cimento, dotado de trilhos e guinchos..." Continuando, a referida escritura identifica a localizao das benfeitorias: "...situada na Ponta do Recife, na via de Contorno Norte, nesta Capital."

50 . Escritra Pblica de Compra e Venda e Um Terreno Alodial e Transferncia de Domnio til de Terreno de Marinha (fls. 195 v) - 4 Ofcio de Notas e 4. Ofcio de Protesto de Ttulos, Livro 151, fls. 195 199.Florianpolis, SC, Tabeli: Vanda de Souza Salles.


Ilustrao 12 - Trapiche construdo pela Standard Oil, em 1930, na Ponta do Coral (foto de 1998)

Ano de 1981

A imprensa registrou a tentativa de ocupao da rea pelo novo dono, Sr. Realdo Gugliemo (dono da Carbonfera Metropolitana), o que resultou novamente em protestos da comunidade, conforme abaixo segue:

Um ano depois, em novembro de 81, j de posse da rea, Realdo Gugliemi, determinou que fossem derrubadas as rvores para comear a construo do hotel. Como os protestos foram intensos da parte dos estudantes, ele sustou o trabalho e retirou-se estrategicamente. (Jornal "O Estado", 25/03/1983)

O descaso com o desaparecimento da reas verdes em Florianpolis matria do Jornal O Estado, em 13/11/1981, quando anunciou em sua capa:

"HOTEL E SUPERMERCADO DECRETAM O FIM DE DUAS REAS VERDES - A cidade ontem perdeu duas reas verdes. Esta foto a Ponta do Coral, que dar lugar a um novo hotel, a outra fica na Rua Esteves Jnior onde ser construdo um supermercado". O ttulo interno51 da matria : "Capital perde mais duas reas verdes. Na Ponta do Coral, hotel comea a ser construdo".

51 Ver Jornal O Estado, em 13/11/1981, pg. 20.


Ano de 1983

O empresrio Realdo Guglielmo se prope a vender a Ponta do Coral, conforme relatou matria do Jornal O Estado:

Cricima - A Ponta do Coral est venda e os interessados podem desde j procurar pelo empresrio Realdo Gugliemi, que pretende realizar a transao do imvel por valor aproximado a Cr$ 600 milhes. A informao do prprio empresrio que revelou a O ESTADO ter desistido do antigo projeto de construo de um hotel de cinco estrelas, ao qual seriam agregadas reas de compra e lazer, depois de verificar a onda de protestos, tanto popular como da rea poltica: 'cheguei a concluso que no seria interessante construir uma obra cara, apesar dos 400 empregos diretos que criaria, depois que senti a oposio ao empreendimento, tanto por parte da populao da Ilha como de polticos do Governo e do PMDB' declarou Guglielmi, que h cerca de dois anos pagou a pitoresca soma de Cr$ 99 milhes 999 mil pela rea conhecida como Ponta do Coral.(sublinhamos) (Jornal O Estado, 25/03/1983)

A matria jornalstica tambm menciona a inteno de Vereadores da Capital permitirem a construo de prdio de 18 pavimentos no local:

"Depois veio o PDS com uma emenda com a inteno de construir um hotel de 18 pavimentos, altura mxima para a Ponta do Coral, mas uma articulao da bancada do PMDB no permitiu a continuidade do processo." (Jornal O Estado, 25/03/1983)

Ano de 1984

Uma ano depois, a Cmara Municipal de Florianpolis, aprova a Lei Municipal n. 2090/84, que dispe sobre incentivos a construo de hotis, definindo a rea da Ponta do Coral como rea de Incentivo Holelaria-AIH, ficando permitido a construo de hotis com at 18 pavimentos e/ou servios e comrcio em prdios de at 4 pavimentos. Os estudantes, formandos do segundo semestre de 1984, do Curso de Arquitetura, denominaram sua turma de "PONTA DO CORAL, como forma de protestar contra a venda do local.


Ilustrao 13 - Convite para a solenidade de formatura dos formandos curso de Arquitetura da UFSC do ano de 1984. Fonte: arquivo particular de Marisa Fonseca

Consta no referido convite o seguinte texto:

turma PONTA DO CORAL

ARQUITETOS 84

a o ponta do coral era uma rea verde prxima do centro de florianpolis, que foi destruda pela especulao imobiliria. em novembro de 1980, nossa turma realizou manifestaes artstico-culturais, com o intuito de preserv-la como rea de lazer.

fica aqui o nosso ltimo protesto como estudantes, ao descaso das autoridades quanto a preservao desta rea."

Ano de 1985

Com a aprovao da Lei n 2090/84, o empresrio Realdo Guglielmi apresentou um projeto de construo, na Ponta do Coral, de um hotel cinco estrelas com marina, que foi vetado pela Fatma e Capitania dos Portos por prever um aterro considerado irregular. 52

Em 1985 Ponta do Sambaqui foi tombada53 como patrimnio natural, paisagstico e histrico do municpio de Florianpolis, aps grande empenho da comunidade do Sambaqui que reivindicou durante vrios anos a preservao da rea e sua destinao para uso pblico.54

52 Ver Jornal ANCapital, de 07/10/98, pg. 05.53 Decreto Municipal n. 216, de 13 de setembro de 1985, publicado no D.O.E .n.12.796, de 18/09/85, Tomba as

restingas de Ponta das Canas e Ponta do Sambaqui. (in CECCA, 1997, pg. 53)54 SOARES, p.63.


Ano de 1986

Consta no livro "Uma Cidade Numa Ilha", que a Gesto Municipal de 1986 1988, (Prefeito Edson Andrino), fez o tombamento de mais de 300 imveis no Centro de Florianpolis, em "processo complicado e altamente conflitivo, em que ocorreram inmeras presses no sentido de liberar a destruio destes prdios"55.

Ano de 1989

A Cmara Municipal de Florianpolis, aprova a Lei Municipal n. 3213 de 12/07/89, que novamente modifica o zoneamento da Ponta do Coral passando do gabarito anteriormente permitido de 04 para 06 pavimentos para servios e comrcio e mantendo ainda o incentivo de 18 pavimentos para hotel.

Ano de 1991

A FUCABEM extinta.56

Ano de 1997-1998

A Proposta de alterao da legislao de incentivo hotelaria coincide com a demolio das runas da Ponta do Coral - Em 1997, a Cmara Municipal de Florianpolis comea a examinar Projeto de Lei N.7535/97 57 de autoria do Vereador Michel Curi, que inicialmente propunha a extenso do benefcio de gabarito de 18 pavimentos concedido aos hotis, para empreendimentos previsto para mltiplo uso em todas as reas Mistas de Comrcio-AMC do Centro de Florianpolis. Aps sofrer emendas e criticas reduziu a reas da alterao proposta as duas reas de Incentivo Hotelaria-AIH existentes no Centro da cidade, a Ponta do Coral, na Beira Mar e a Ponta do Ataliba em Coqueiros. A legislao em vigor, lamentavelmente, j permite a construo de edificaes com duas torres de 18 pavimentos nestes dois locais (Ponta do Ataliba e Ponta do Coral), desde que sejam utilizados como hotel. No satisfeito com este incentivo, vrios vereadores assinaram o projeto de lei propondo que uma destas torres de 18 pavimentos seja de mltiplo uso (tres tipos) tais como servios, comrcio e hotel. Com a possibilidade de implantao de escritrios, cursos e comrcio em geral, seria gerado um fluxo de veculos semelhante ao Shopping Beira Mar Norte, o que no caso da Ponta do Coral, totalmente inadequado e absolutamente incoerente com o planejamento da cidade. Permitir o surgimento de outro grande polo gerador de trfego alm do referido Shopping, que j causa grandes congestionamentos, uma absoluta

55 CECCA/FNMA, 1996, p. 189.56 A Lei Estadual n.8245 de 18/04/1991, em seu art. 97, extingue a Fucabem.57 Projeto de Lei n.7535/97, que inclui 4 no art 100 da Lei Complementar 01/97


falta de coerncia e um desrespeito com a populao. Os vultosos recursos gastos atualmente no sistema virio (elevado do CIC e SC-401) visam justamente facilitar o trfego de veculos para o centro e para o norte da Ilha.

Em 08 setembro de 1998, foi aprovada em primeira votao o Projeto de Lei 7535/97 do Vereador Michel Curi que permite estender o incentivo de gabarito de 18 pavimentos no s para hotel mas para comrcio e servios. Ou seja, permite a construo de prdios 18 pavimentos no s para uso como hotel mas tambm para uso de comrcio e servios(escritrios).

Em 06 outubro de 1998, o empresrio Realdo Guglielmi determina o incio da demolio do antigo(78 anos) prdio da Standard Oil Company of Brazil, localizado na Ponta do Coral. Aps consultar o IPUF, recebeu como resposta que "a construo, que est no local desde a dcada de 40, no tombada como patrimnio histrico e poderia ser destruda." 58

Em 13 de outubro de 1998, o Vereador Michel Curi solicita o sobrestamento do Projeto de Lei 7535/97, de sua autoria, por 18 sesses, em decorrncia de reaes contrria na imprensa ao empreendimento em Coqueiros, no local do antigo Ataliba, devendo a matria ser votada a partir de 25 de novembro.

Em 14 de outubro de 1998 aprovado no plenrio da Cmara Municipal de Florianpolis, Moo de Repdio n.031/98, encaminhada pelo Ver. Mauro Passos-PT, contra a demolio das runas do prdio da Standard Oil, ainda existentes na Ponta do Coral, na Beira Mar Norte.

Em 15 de outubro de 1998, o Vereador Mauro Passos-PT, denuncia a destruio das runas da Ponta do Coral ao Ministrio Publico Estadual (Promotor Dr. Antnio Carlos Brasil Pinto) que embarga a demolio objetivando verificar o real valor histrico/paisagstico/natural do local. A Polcia Ambiental, ao cumprir a diligncia no dia 16 (sexta feira), no chega em tempo e o que restava da edificao demolida, ficando apenas os dois muros da entrada.

Em 20 de outubro de 1998, tera feira, apesar do embargo, a demolio continuou nos 2 muros que haviam sobrado. Por solicitao do Promotor de Justia Antnio Carlos Brasil Pinto, a Polcia Ambiental d voz de priso aos funcionrios que desrespeitaram o embargo, restando ainda no local um dos muros e parte do outro.

58 Ver Jornal AN Capital, de 07/10/98, pg. 05


SITUAO ATUAL E LEGISLAO EM VIGOR

Em 1997, a Cmara Municipal de Florianpolis, ao aprovar o Plano Diretor do Distrito Sede (Lei Complementar 01/97), manteve o incentivo de 18 pavimentos hotelaria previsto na legislao anterior (Lei 2090/84) e 06 pavimentos para comrcio e servios, definindo o zoneamento da Ponta do Coral como rea Turstica Exclusiva-2 (ATE-2).

Com este incentivo para construo de prdio de 18 pavimentos, o proprietrio, talvez pretenda tentar novamente fazer um grande aterro no local, proposta que j foi rejeitada pela FATMA e a Capitania dos Portos em 198559. Contra esta possvel pretenso, o 3. do art. 170, do mesmo Plano Diretor, dispe que:

Art. 170 - 3. - Sempre que possvel, devero ser evitadas solues urbansticas que impliquem em aterros de baas ou mangues, que somente podero ser aprovadas mediante pareceres do rgo Municipal de Planejamento e Fundao Municipal do Meio Ambiente, com anuncia do SPU, da FATMA E IBAMA.

Entretanto, h um equvoco no prprio mapa aprovado que, alm da ponta onde est localizado as runas do antigo prdio da Standard Oil, considera como ATE-2 uma outra ponta, ao lado desta, onde h apenas alguns recifes, rea que antes no era considerada edificvel. Trata-se de uma rea que est abaixo da mar mdia e, conforme a legislao, no edificvel, mar, no se trata sequer de rea de marinha. um equvoco que deve ser corrigido, conforme pode-se observar na comparao abaixo, do mapa do Plano Diretor com uma foto de 1979 e outra de 1995.

Ilustrao 14 Anexo (mapa de zoneamento) da Lei Complementar 01/97, Plano Diretor do Distrito Sede.

59 Ver Jornal ANCapital, de 07/10/98, pg. 05.


Ilustrao 15 - Foto da Ponta do Coral: direita foto do Stdio Foto B (de 1979) e esquerda foto de Suzete Sandin, publicada no livro Santa Catarina, a ilha (Fundao Cultural Prometheus Libertus) 1995..

Ilustrao 16 - Croqui de 23/09/92, da Ponta do Recife, com levantamento de Daniel Fortunato e desenho de Dilson de Carvalho, retirado do processo n. 8251/92 da Delegacia do Patrimnio da Unio. A planta descreve as reas 1, 2, e 3 adquiridas pela empresa Nova Prspera Minerao. A rea 1 (registrada) terreno alodial com 3.300,50 m2. A rea 2 (registrada) terreno de marinha com 8.657,20 m2. A rea 3 com 3.002,01m2 destinada aforamento. A rea 4 acrescido artificial executado para construo de ranchos para pescador.


UMA PRAA BEIRA MAR

No Centro de Florianpolis, a quantidade de rea verde por metro quadrado, por habitante, j muito pequena. O que havia de espao livre, hoje deu lugar aos prdios. Exemplos no faltam. O prprio Shopping Center Beira-Mar, foco de congestionamento da Avenida Beira Mar, foi construdo sobre um antigo campo de futebol utilizado pela comunidade. Em frente ao mesmo Shopping h uma rea de lazer que utilizada como estacionamento. Enquanto em muitas cidades, o Poder Pblico luta para preservar e ampliar reas verdes, criando espaos pblicos de lazer, com o pensamento voltado para as geraes futuras, aqui se permite um empresrio especular, h mais de 20 anos com uma rea verde abandonada e fechada ao acesso de todos. A Beira Mar alm da ciclovia e da calada, do Koxixos e do Trapiche, precisa de uma rea verde bela e ampla para o lazer daqueles que por ali transitam.

UMA PRAA BEIRA MAR, o que todos almejamos.


BREVE HISTRICO SOBRE A PONTA DO CORAL 31

ESTUDOS E PROPOSTAS

A Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC, atravs dos seus mais diversos cursos, tem dedicado estudos sobre o municpio, nos seus mais diversos aspectos. O Curso de Arquitetura e Urbanismo tem oferecido uma grande colaborao, atravs do trabalho de seus professores alunos, apresentando sugestes, para o planejamento da cidade. Vrios alunos deste curso tem escolhido, como projeto de concluso de curso, da matria PX, o estudo da utilizao da Ponta do Coral como rea pblica e de lazer, pela convico de que est e a grande vocao da rea. Os alunos Marcelo Galafassi e Raquel Medeiros, do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, elaboraram em 1993, o projeto arquitetnico de concluso de curso (P-X), orientado pelo Professor Dalmo Vieira Filho, denominado "REVITALIZAO DA PONTA DO CORAL". A proposta sugere a manuteno dos local para os barcos de pescadores, a utilizao da rea do outro lado da via expressa com quadras de esporte e destinando a antiga construo da Standard Oil, de 1930, para uma rea de uso comum como um restaurante ou boate.

Ilustrao 17 - Reproduo da prancha 4, do trabalho (P-X) dos alunos Marcelo Galafassi e Raquel Medeiros, Curso de Arquitetura-UFSC, Ano de 1993.

Erbert Waterkemper, aluno do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, elaborou em 1993, como trabalho de concluso de curso na matria PX, estudo sobre a Ponta do Coral, propondo a preservao do prdio da Standard Oil, e seu uso como Bar e Restaurante e sugerindo a criao do Aqurio Municipal de Florianpolis. conforme foto abaixo:


Ilustrao 18 - Reproduo da prancha 1, do trabalho (P-X) do aluno Erbert Waterkemper, do Curso de Arquitetura-UFSC, ano de 1993.

A aluna Tatiana Filomeno, com a colaborao de Andrea Herms Silva e Marcelo Cabral, todos estudantes do Curso de Arquitetura da UFSC, tambm elaboraram, projeto arquitetnico de concluso de curso (P-X), denominado "MUSEU AQUTICO DA PONTA DO CORAL", orientado pelo Professor Dalmo Vieira Filho, sugerindo a utilizao da rea da Ponta do Coral para lazer e cultura. Da mesma forma que Marcelo Galafassi, a estudante Tatiana props a utilizao dos dois lados da Avenida Beira Mar, ligados por uma passarela, mantendo os pescadores e restaurando o antigo prdio da Standard Oil, de 1930, sugerindo tambm, a construo, sem qualquer aterro, de um Museus Aqutico, com a edificao de uma estrutura sobre pelotis, avanando no mar, vrios metros a frente do trapiche do antigo prdio da Standard.


Ilustrao 19 - Reproduo da prancha 2, do Trabalhode Concluso de Curso de Arquitetura-UFSC (P-X) da aluna Tatiana Filomeno, ano de 1997.


CONCLUSO

A utilizao da rea da Ponta do Coral para uso pblico necessariamente a melhor opo. Os estudos dos alunos e professores da UFSC demonstram algumas formas de como isto pode ser viabilizado. Necessariamente a utilizao daquele espao dever contemplar duas importantes preocupaes, no ser polo gerador de trafego, para no prejudicar o trnsito da Avenida Beira Mar Norte e estar em harmonia com a paisagem, pois a Beira Mar e a paisagem que ali se descortina que recepciona todos aqueles, turistas ou no, que vo para o centro e o norte da Ilha. Ambos os motivos so de extrema importncia para o turismo, o comrcio de Florianpolis e para a qualidade de vida daqueles que moram ou trabalham na Ilha.

A deciso de vender a rea da Ponta do Coral em 1980, foi um grande equvoco do Governo do Estado da poca, que assim agiu apesar dos protestos gerais. A beleza da paisagem da Ponta do Coral indiscutvel, principalmente pela ampla viso da Baia Norte que se tem do local, sendo por este motivo, terreno cobiado pela especulao imobiliria. Entretanto, no se trata de uma rea qualquer, sua vocao , sem dvida alguma, para o uso pblico. A existncia no local, de edificaes com mais de 70 anos, remanescente do perodo em que Florianpolis tinha uma grande vnculo com transporte martimo, seria, em qualquer Capital, motivo suficiente para sua preservao a rea. A importncia da Ponta do Coral ainda maior tendo em vista que o Aterro da Baia Sul afastou o mar da antiga Nossa Senhora de Desterro e junto enterrou parte da memria da cidade. O Mercado Pblico, a Alfndega, a Catedral, a Praa XV, o casario, esto todos situados em locais privilegiadamente prximos antiga linha da mar. Como forma de tentar resgatar este importante aspecto do passado de Florianpolis, o projeto arquitetnico aprovado no Concurso Pblico para Revitalizao do Aterro da Baia Sul, prope justamente a retirada de uma pequena parte do aterro para possibilitar o retorno do mar aos antigos limites, prximo Praa XV e ao Mercado Pblico. Sem entrar na viabilidade desta polmica proposta, este fato demonstra a importncia que vrios setores da sociedade do a este aspecto histrico da cidade. A Ponta do Coral pode se tornar um espao cultural privilegiado para a populao local e turistas conhecerem a histria da cidade.

A sociedade florianopolitana tem demostrado sua preocupao com a preservao da Ponta do Coral. O futuro de Florianpolis no est apenas no turismo, mas este importante setor da economia do municpio s tende a crescer, como acontece em todo o mundo. A preservao da qualidade de vida da cidade, a harmonia da paisagem um grande atrativo turstico em qualquer parte do mundo. A paisagem natural da Ilha de Santa Catarina sempre foi reverenciada por todos os que passaram por aqui, desde os primeiros navegadores at o turista dos dias atuais, por isto, a implantao de infra-estrutura turstica deve ocorrer com o cuidado de no se destruir aquilo que atrai o turista, nem tampouco destruir a qualidade de vida daqueles que moram ou trabalham aqui. Todos ns temos a responsabilidade de garantir uma melhor qualidade de vida e a preservao deste patrimnio natural e paisagstico da Ilha de Santa Catarina para as atuais e futuras geraes.


Ilustrao 20 Fotografia de Fabiana Comerlato, em 1993, antes da demolio.


Ilustrao 21 Foto do Gab. Ver. Mauro Passos, 14 de outubro de 1998.

BIBLIOGRAFIA

ABRIGO DE MENORES. Relatrio do Ano de 1960.

BRITO, Paulo Jos Miguel. Mapa da Ilha de Santa Catarina de 1814.

CABRAL, Oswaldo Rodrigues. As Defesas da Ilha de Santa Catarina no Brasil Colnia, Conselho Federal de Cultura, 1972.

CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro- Notcia, Florianpolis, ed. Lunardell, 1979, vol 1.

CECCA/FNMA, Uma Cidade Numa Ilha, Florianpolis. Ed. Insular, 1996.

CECCA, Unidades de Conservao e reas Protegidas da Ilha de Santa Catarina, Florianpolis, Ed. Insular., 1997.

ENCICLOPDIA DELTA LAROUSSE, Rio de Janeiro, Editora Delta, 1977.

GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, Relatrio do Ano de 1938, Interventor Federal, Nereu Ramos.

HBENER, Laura Machado. O Movimento Comercial do Porto de Nossa Senhora do Desterro no Sculo XIX, UFSC, 1979.

JORNAL ANCAPITAL, ano de 1998

JORNAL O ESTADO, anos de 1928, 1980 e 1983

JORNAL DE SANTA CATARINA, ano de 1980.

SILVA, Adolfo Nicholich da. "Florianpolis, a histria de uma cidade", Ed. Papa Livros e Fundao Pr-Florianpolis, 1995.

SILVA, Mnica Corra da. "Um domingo nem to alegre - O dia em que o Educandrio pegou fogo". Trabalho de Concluso do Curso (TCC) de Jornalismo da UFSC, 1994/1.

SOARES, Iaponan. Santo Antnio de Lisboa, Vida e Memria, Fundao Franklin Cascaes, 19__.

VARZEA, Virglio. A Ilha, Rio de Janeiro, Companhia Tipogrfica do Brasil, 1900.

VEIGA, Eliane Veras da. Florianpolis, Memria Urbana, Florianpolis, Ed. UFSC e Fundao Franklin Cascaes, 1993.

ANEXO

Resumo, em ordem cronolgica, dos proprietrios do terreno da Ponta do Coral

O terreno conhecido como Ponta do Recife (ou do Coral) foi, at 1915, de propriedade de Victor Gevaerd e esposa.

Em 1915, o terreno foi vendido para Joo Batista Sabino, com uma casa construda no local.

Em 1926, Joo Batista Sabino, recebe o aforamento do terreno.

Em 1930, o terreno com a casa foi vendida para Standard Oil, que edificou no local o seu depsito para comercializao combustveis.

A matrcula n.10391, do referido terreno tem como proprietria a UNIO e ocupante a ESSO Brasileira de Petrleo S.A.(empresa sucessora da Standard)

Em 03-03-1960, a ESSO vendeu a rea para o Governo do Estado, com autorizao legislativa (Lei n 2166, de 23/11/1959).

Em 19/12/1979 a rea foi transferida para a FUCABEM, por escritura publica de doao, lavrada no 2 Ofcio de notas, registrada no 1 Ofcio de Registro sob o n. R-3/10391, em 16/10/1980.

Em 17/11/1980, a FUCABEM vendeu a rea para a Carbonfera Metropolitana.

Os registros 10.391/10639/10641 deram origem a uma nova matrcula de n 14.648 em nome da Carbonfera Metropolitana.

Em 1983, a rea foi transferida para a Carbonfera Unio e

Em 26/9/1991 a rea foi transferida para a Nova Prospera Minerao que em 27/9/1991 hipotecou a rea at o ano 2001.

Em 1993 foi averbada no Cartrio de Registro de Imveis a transferncia do aforamento do terreno de marinha.

Breve histrico sobre a Ponta do Coral 37

RELAO DAS ILUSTRAES

Vista area da Ponta do Coral,...(capa) em 1995

1 - Mapa de Florianpolis, (Ponta do Coral) de 1998

2- Planta da Cidade de Desterro, de 1876

3 - Jornal O Estado, ' de 1929

4 - Planta do prdio da Ponta do Coralde de 1929

5 - Planta do prdio da Ponta do Coral de 1929

6 - Vista da Ponta do Coral, em 1931

7 - Vista da Ponta do Coral, em 1940

8 - Vista da Ponta do Coral em 1947

9 - Jornal O Estado, de 1980

10 - Manifestaes na Ponta do Coral, em 1980

11 - Jornal O Estado, em 1980

12 - Vista do trapiche, na Ponta do Coral, em 1998

13 - Convite de formatura, Arquitetura, UFSC de 1984

14 - Mapa de zoneamento, Lei Comp. no.01, de 1997

15 - Foto da Ponta do Coral, de 1980

16 - Croqui com as respectivas reas de 1992

17- Projeto proposto- Arquitetura- UFSC, em 1993

18 - Projeto proposto-Arquitetura-UFSC, em 1993

19 - Projeto proposto Arquitetura-UFSC, em 1997

20 - Foto Ponta do Coral, em 1993

21 - Foto Ruinas da Ponta do Coral, em 1998

Pesquisa elaborada por Edson Avila Wolff, Assessor da Bancada do PT na Cmara Municipal de Florianpolis, com a colaborao de Fernando Coelho Correia, Assessor do Gabinete do Vereador Mauro Passos-PT e Elizabete Cristina da Luz, estudante/bolsista.

Foto da capa, de Suzete Sandin, publicada no livro "Santa Catarina, a Ilha", da Fundao Cultural Prometheus Libertus, 1995, p. 79.

Breve histrico sobre a Ponta do Coral 38

historico ponta do coral

Documents