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Histórias que o rádio não contou

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Histórias que o rádio não contou

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Reynaldo C. Tavares

do galena ao digital, desvendando a radiodifusão no Brasil e no mundo

HistÓrias que o rÁdionão contou

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Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos

Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes

Revisão: Iorlando Rodrigues Fernandes Caio Pereira

Diagramação: Dirlene França Nobre da Silva

Capa: Marcelo Campanhã

Imagem da capa:Rádio Philips 1931

Imagem da contracapa:Foto rara do Corcovado, que abrigou a 1ª Estação de Rádio no Brasil, em caráter demonstrativo, em 1922, antes da construção do Cristo Redentor que só aconteceu em 1926 e foi inaugurado em 1931 – acervo do Autor.

Impressão e acabamento: PAULUS

1ª edição, 2014

© PAULUS – 2014

Rua Francisco Cruz, 22904117-091 – São Paulo (Brasil)Tel.: (11) 5087-3700 – Fax: (11) [email protected]

ISBN 978-85-349-3804-4

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Tavares, Reynaldo C.Histórias que o rádio não contou: do galena ao digital, desvendando a radiodifusão no Brasil e no mundo / Reynaldo C. Tavares. – São Paulo: Paulus, 2014.

ISBN 978-85-349-3804-4

1. Radiodifusão - Brasil - História 2. Radiodifusão - História I. Título.

13-12812 CDD-384.5409

Índices para catálogo sistemático:1. Radiodifusão: Comunicações: História 384.5409

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sumÁrio

11 DeDicatória

13 Prefácio

19 Uma palavra

21 Abertura – Você sabe o que é comunicação de massa? Conheça seus princípios

27 i. as três vertentes Do ráDio Brasileiro e o sUrGiMento Do DiP – DePartaMento De iMPrensa e ProPaGanDa 34 a) Professor Edgard Roquette-Pinto – introdutor da radiodifusão no país 42 b) Ademar Casé – implantou o modelo de se fazer rádio no Brasil 53 c) Henrique Foréis Domingues – o “Almirante” – a maior patente do rádio brasileiro 64 d) Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP

71 ii. De volta às raízes

147 iii. antes De Mais naDa…

185 iv. o ráDio coMo invento – coMo tUDo coMeçoU Marconi ou Landell de Moura?

249 v. o sUrGiMento e a iMPlantação Do ráDio no Brasil e no MUnDo

497 vi. a fixação Do veícUlo e seUs PrinciPais DesBravaDores eM nossa terra533 a) A participação do Brasil na II Grande Guerra Muncial

617 vii. a cheGaDa Da era DiGital e consiDerações finais

661 aPênDice661 Regras para um bom comunicador662 Fundação da ABERT663 Ata de fundação da Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão – ABERT667 Guia dos registros sonoros em forma de CD (dois volumes) 674 Créditos dos registros sonoros (arquivos consultados)

675 aGraDeciMentos

677 referências BiBlioGráficas

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Cantores sertanejos Alvarenga e Ranchinho,Na PRG-5 Rádio Atlântica de Santos,

em foto Kauffmann de 1935, autografada.

Imagem: acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa(Créd. Novo Milênio).

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CANTORES SERTANEJOS ALVARENGA E RANCHINHO,NA PRG-5 RÁDIO ATLÂNTICA DE SANTOS,

em foto Kauffmann de 1935, autografada.

Imagem: acervo do professor e pesquisador santista Francisco Carballa(Créd. Novo Milênio)

Adoniran Barbosa, um dos ícones do Rádio Brasileiro (charge de Miécio Caffé).

Seu nome verdadeiro era João Rubinato e artisticamente Adoniran Barbosa, foi extraído de um personagem que ele interpretou no rádio com grande sucesso.

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Ary Barroso ao microfone da Rádio Tupi do Rio de Janeiro apresentando o seu

consagrado programa “calouros em desfile”Patrocinador: Toddy do Brasil S/A.

Dia da semana: domingo, 8/12/1946Horário: 20h

Conta-se que em 1931 Lamartine Babo ouviu “Na Grota Funda”,melodia composta por Ary Barroso e J. Carlos (José Carlos de Brito e Cunha), para a revista musical intitulada É DO BALACOBACO, e não gostou da letra e sem pedir licença ao autor

apresentou aquela mesma melodia com o título “No Rancho Fundo” pelas ondas da Rádio Educadora Paulista TRA-E, com uma nova letra de sua própria autoria,

interpretada pelo BANDO DE TANGARÁS, destacando os nomes de Noel Rosa, Braguinha e Almirante entre outros componentes.

Assim nasceu a parceria entre Ary Barroso e Lamartine Babo. J. Carlos (autor da letra original) não aceitou o fato, exigindo explicações.

Essa desavença durou anos, mas o sucesso de No Rancho Fundo é inquestionável, sendo executada até os nossos dias,

pelos mais diferentes intérpretes e gêneros.

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dedicatÓria

Todo homem, todo profissional, ao optar por qualquer tipo de carreira, independentemente da área em que atue, se não tiver ao

seu lado uma mulher, uma esposa, que seja sua companheira e amiga, cúmplice em todos os aspectos que a vida lhe impõe, acabará sendo vencido pelo descrédito, e seus sonhos, objetivos e metas jamais se concretizarão; será apenas mais um medíocre a assistir a vida passar dentro do aspecto que o destino reservou a cada um de nós.

Esta 3ª edição, ampliada e revista, da obra de minha autoria Histórias que o rádio não contou – do galena ao digital, desvendando a radiodifusão no Brasil e no mundo só foi efetivada graças ao pacto de companheirismo, cumplicidade e respeito mútuo existente entre eu e minha mulher.

Nesta minha longa caminhada de 85 anos de existência, minha esposa esteve a maior parte desse tempo presente, me encorajando e estimulando nas pesquisas, nas buscas e nos fatos que acabaram virando “histórias” exatamente pela sua compreensão, pela dedicação à causa que abracei.

Esse fato gratifica-me e inspira-me a buscar novos caminhos, novos horizontes e novos desafios, já que, unidos como somos, calcados no amor recíproco, sinto-me mais pronto do que nunca a enfrentar qual-quer desafio, visto que nosso relacionamento é inteiramente constituído na base de um afeto maior que nos impulsiona a seguir sempre, sem jamais esmorecer. A idade cronológica passa a ser total-mente irrelevante...

Com todo o carinho e o amor do autor!

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Na era da informática, da digitalização, o planeta Terra é cortado em fração de segundos por poderosos satélites que acionam tudo o que nos cerca.

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PreFÁcio

Foi num parque de diversões nômade, então montado em Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, que conheci, ainda menino,

dois mascates da arte oferecendo, quase de graça, insólitas mercadorias: voz e eloquência. Com eles, filhos de imigrantes árabes, devo ter sentido os primeiros sinais da vocação, que depois se tornaria insopitável, pela radiodifusão.

João e Alfredo Mussi eram irmãos. João, um ator e cantor de voz privilegiada, intérprete das músicas consagradas pela voz de Vicente Celestino, encenava todas as noites, com um grupo de modestos ar-tistas, uma réplica pungente de “O Ébrio”. Alfredo, um comunicador inato, ocupava o microfone do pequeno serviço de alto-falantes para anunciar músicas, ler notícias e fazer comentários sobre a Segunda Grande Guerra e chamar a atenção do público para as geringonças montadas no parque. Meses depois, ao deixar minha terra natal, João Mussi, o cantor itinerante da tragédia de “O Ébrio”, e Alfredo Mussi, o caixeiro viajante da notícia, já tinham formado mais uma legião de admiradores. E o primeiro serviço de alto-falantes para as “obras da paróquia” tinha aliciado o seu primeiro locutor, um adolescente filho de imigrantes árabes.

Aos dezesseis anos, a continuação dos estudos, do ginásio para o colegial, levou-me a Pirassununga e à ZYI-3 Rádio Difusora, de pro-priedade de Farid Elmor e seus irmãos. Tive contato com a eloquência poética de um grande tenor da declamação na pessoa de Farid, e com o desembaraço do “factótum” Jorge Shamas, funcionário do Banco do Brasil e, na emissora recém inaugurada, animador de auditório, noti-ciarista e diretor artístico.

Em São Paulo e no Rio de Janeiro pontificavam havia muito tempo nomes como Nicolau Tuma, pioneiro da locução esportiva, cuja inte-ração com o rádio foi tão perfeita que a ele se deveu, anos depois, a

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criação do neologismo que hoje consagra a denominação dos que mili-tam na profissão: radialista. Emílio e Fauze Carlos, Alfredo Nagib, Paulo Mansur, Farid Riskalah, os irmãos Curi (Jorge, Alberto e Ivon), a família Faissal. A oratória inflamada de Emílio Carlos e o discurso condoreiro do poeta-conferencista Salomão Jorge levaram-nos a vitoriosas incur-sões na política. Júlio Atlas, produtor, novelista, condutor de programas culturais e diretor de emissoras, cuja cultura e dedicação enobreceram os rádios carioca e paulista (aqui em São Paulo, principalmente, nas emissoras da Rede Bandeirantes, de João Jorge Saad).

A esses nomes se juntaram depois meus contemporâneos Kalil Filho, Walter Abrão, Muibo César Cury, Damús Filho, César Abrão, Nelson de Oliveira (Ésper), Hélio de Alencar, Paulo Mário Mansur, Salomão Júnior, Edson Guerra, Edson “Bolinha” Cury e muitos outros.

Inúmeros, portanto, foram os filhos dos primeiros imigrantes árabes no Brasil que se familiarizaram com as exigências do rádio, criadas pelos seus pioneiros fundadores: califasia – a arte de falar com boa dicção – associada à facilidade de expressão. E a língua árabe, de contribuições notáveis ao idioma português, acabou sendo também uma qualificação consentida para um bom desempenho na radiofonia brasileira.

Este livro de Reynaldo Tavares, ora na sua terceira edição, é um precioso repositório de verdades históricas e relatos inéditos que se enquadram no sugestivo título Histórias que o rádio não contou. Somos contemporâneos. Reynaldo viveu o rádio do fim da década de 1940 até agora, para tornar-se um dos seus mais completos biógrafos. É professor universitário da matéria e um estudioso que se aprofunda cada vez mais nas pesquisas, no afã de reproduzir sua história verdadeira, consultando e perquirindo incansavelmente para descrever com exatidão as inúmeras “histórias que o rádio (até então) não contou”.

Essas digressões não são mais que os bastidores do palco observado e reproduzido por quem acompanhou centenas de carreiras dos pro-fissionais que amaram o rádio e que a ele devotaram a maior parte de suas vidas. E, por sermos contemporâneos na dedicação ao rádio, que se estendeu por décadas, Reynaldo já incluíra nesse seu livro a citação completa, sem omissões, das figuras que enobreceram o veículo e que foram parcialmente citadas em minha oração de posse na Academia Paulista de Jornalismo, nestes termos: sou do rádio de líderes como Assis Chateaubriand, Paulo Machado de Carvalho e João Jorge Saad.

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Declino com orgulho a minha profissão sexagenária, profissão que o vocábulo criado por Nicolau Tuma introduziu vitoriosamente nos dicionários brasileiros: radialista, o rádio feito com idealismo. Carreira que ele enobreceu destacadamente, juntando-a às de advogado e político com seis mandatos legislativos e posteriormente como conselheiro e presidente do Tribunal de Contas do Estado.

Sou do rádio de São Paulo e contemporâneo do repórter primus inter pares, Murilo Antunes Alves, de quem o presidente desta Academia, Israel Dias Novaes, lembrou as virtudes que o destacaram como estu-dante da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco: “o melhor de nossa turma em todos os anos”.

Sou do rádio da inteligência inquieta e do talento de José Blota Júnior, advogado e político, cuja versatilidade e comunicabilidade o mantiveram sempre como figura de referência diante de microfones e câmeras e nos seus gabinetes de secretário do Estado.

Sou do rádio de Vicente Leporace, quase um autodidata cujo ecle-tismo lhe dava trânsito fácil e reiterada competência na apresentação das mais variadas modalidades da programação; um defensor da causa pública, um estudioso da música popular e dos seus intérpretes, mas que fazia incursões pertinentes na música lírica e nas óperas. Leporace foi um crítico dos nossos costumes e dos condutores da nossa política, alvos da sua ironia e da sua mordacidade.

Sou do rádio de Vital Fernandes da Silva, Nhô Totico, criador da Escolinha de Dona Olinda, um educativo humorístico que cativou milhões de ouvintes, crianças e adultos, sem a apelação chula das escolinhas que infestaram a televisão nos últimos anos. Totico, como ele se denominava, desempenhava sozinho o papel da professora e dos seus alunos, criando uma voz característica dos brasileirinhos e dos filhos dos imigrantes que o Brasil acolheu. Mas lembro-me dele também em comício no Vale do Anhangabaú, empenhado em campanhas cívicas ao lado de nacionalistas como Monteiro Loba-to, acreditando no petróleo brasileiro, que só anos mais tarde foi descoberto, com viabilidade de exploração, na costa brasileira e em águas profundas. E convidando a multidão a olhar o luminoso da multinacional GULF que ele apontava no topo do prédio do antigo Hotel São Paulo, na Praça da Bandeira, o criador de Dona Olinda ensinava do jeito dela soletrar: G-U-L-F. G de ganância, U de usur-pação, L de ladroeira e F de falcatrua.

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Sou do rádio de Milton Parron, repórter como poucos, entrevistador percuciente e memorialista emérito.

Sou do rádio de Maurício Loureiro Gama, meu antecessor nessa cadeira número 22, que pontificou também na crônica política, na televisão e na mídia impressa, dedicando os últimos anos de sua vida à edição da excelente revista Problemas brasileiros. Tive a oportunidade muito proveitosa de integrar a equipe que ele conduzia, nos “Titulares da Notícia”, da Rede Bandeirantes de Televisão, com a mesma elegância, sobriedade e competência com que se destacou na extinta Rede Tupi, com José Carlos de Moraes (o Tico-Tico), Almir Guimarães, Carlos Spera e tantos outros. E por ser do rádio, acompanhei grande parte do trabalho de Enéas Machado de Assis, cuja dedicação a esse setor das comunicações brasileiras, por decênios, não encontra paralelo no binômio rádio/televisão.

Sou do rádio que recebeu as atenções do autor de O amor de Dulcinéia e de As máscaras, o grande poeta Menotti del Picchia, que mereceu de Paulo Bonfim a referência de que, tendo criado tantos personagens, sem dúvida o mais fascinante foi ele próprio. E foi Menotti, do inesquecível “Juca Mulato”, que deu também sua contribuição à programação ser-taneja do rádio, batizando o notável “caipira”, com quem trabalhei nos primeiros anos, Durvalino Peluso, natural da interiorana Socorro, com o nome que o fez conhecido artisticamente: “Chico Carretel”.

Sou do rádio daquelas figuras que ordenaram, consolidaram e am-pliaram o jornalismo nesse veículo: Auriphebo Simões, Corifeu de Azevedo Marques, Fernando Vieira de Mello e Alexandre Kadunc, que, em prefixos concorrentes, se mantiveram na estacada, liderando equipes de redatores, repórteres e locutores, revelando novos valores e disputando com respeito mútuo e ética profissional a atenção de milhões de paulistas e dos brasileiros de todos os quadrantes aqui residentes, interessados nas notícias e nos comentários sobre política, administração, esportes e serviços de utilidade pública.

Sou daquele rádio que teve transferidos muitos dos seus quadros mais expressivos para a nascente televisão brasileira a partir da década de 50. A TV precisava da competência, da popularidade e da notoriedade dos melhores nomes do rádio para queimar etapas, diminuir custos, encurtar caminhos e conseguir “cativar” o seletor de canais. Mas quem sentiu a interação do rádio com os ouvintes não se surpreende com a manutenção da relação de fidelidade ano após ano. Fidelidade traduzida

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no apoio da audiência e que generosamente me permitiu continuar até hoje em parceria, a mais antiga com José Paulo de Andrade, inician-do, mais de quatro décadas atrás, uma longa e vitoriosa carreira que incluiu a crônica e a narração esportiva, a apresentação de sucessos na onda insopitável da música da Jovem Guarda, para depois fazer a opção definitiva pelo jornalismo numa escolha pautada pela correção, pela competência e pela dignidade, fiadoras da aprovação permanente obtida em dois programas matutinos, no horário nobre do rádio, na Rede Bandeirantes.

Dos estudantes de jornalismo que com frequência nos procuram para entrevistas solicitadas nas salas de aula pelos professores, não raro tenho ouvido a indagação que, com certeza, traduz uma preocupação nos dias atuais, de práticas escusas, de favorecimentos, de nepotismo, de improbidade e de tráfico de influência: “O contato reiterado com figuras do poder Executivo ou Legislativo não pode gerar uma cumplicidade e estabelecer um grau de amizade que propicie facilidades com a prática do que se convencionou chamar de advocacia administrativa?”.

Respondo que aqueles com quem convivi e convivo não fazem do microfone uma gazua. E antecipo a vocês, sem nenhuma pressa de morrer, o meu epitáfio: “Aqui jaz o radialista Salomão Ésper, finalmente na gaveta”. É comovido que passo essas despretensiosas lembranças ao precioso livro de Reynaldo C. Tavares.

Salomão Ésper