histÓrias da mÚsica no brasil

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    Msica e A rtes. 415

    HISTRIAS DAMSICA NO BRASILE MUSICOLOGIA: UMALEITURAPRELIMINAR

    CARLA BLOMBERG*

    RESUMONo Brasil, as Histrias da Msica Brasileira foram poucas. No se falamuito de seus autores, nem de seus mtodos, nem de suas escolas,contudo os livros so referenciados e acessados por um pblico, tantoleigo quanto especializado. Assim, pretende-se primeiramente identificar,quais, das histrias da msica no Brasil escritas, tornaram-se relevantesna historiografia e analisar se a histria, assim como na musicologiaestrangeira, desenvolveu-se como um dos objetivos principais damusicologia. Uma segunda parte do artigo pretende, mesmo que de

    forma preliminar, estabelecer quais foram e quais so as relaes entreestas obras e as tradies histricas respectivas a seus perodos.PALAVRAS-CHAVE:Histria da Msica; Histria; Musicologia.

    ABSTRACTThere is a very few books arguing about the History of Brazilian Musicin Brazil. There are no studies regarding their authorships, schools,methods, yet still the books are given as references and read by asdiletant public as scholars. Therefore it will be identified which, from thehistories written, were consolidated by the traditional historiography.

    Secondly, it will be analyzed if, as it had happened with the histories ofmusic written abroad, the histories of Brazil were the goal of theHistorical Musicology and at last, it will be analyzed the relation thesehistories bears with concurrent historical methodologies.KEYWORDS:History of Music; History; Musicology.

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    Histrias da Msica no Brasil e Musicologia: uma leitura preliminar

    A Musicologia um campo de estudos cujas disciplinas, metodologia e

    objetos foram demarcados inicialmente pelo alemo Guido Adler no final dosculo XIX. Segundo Adler, a Musicologia estava dividida em dois grandes

    grupos, o da musicologia histrica e o da musicologia sistemtica, focada na

    investigao de leis que a regiam atravs dos diversos perodos e na descoberta

    da verdade e da beleza.1

    Para Adler, a musicologia histrica lidava com disciplinas que

    instrumentassem o tratamento de documentos, e a discusso conceitual

    histrica e filosfica da msica. As cincias afiliadas da musicologia histricaeram, alm da histria e da filosofia, filologia, arquivologia, museologia,

    paleografia musical, histria da literatura, histria das artes mimticas,

    bibliografia.2

    A musicologia sistemtica, por sua vez, deveria preocupar-se com as leis

    que regiam a msica. Nela se encaixavam a fsica, a matemtica, a pedagogia, a

    gramtica dentre outras.3

    A histria da msica, centrada numa leitura ocidentalizada era pesquisadapela musicologia histrica, enquanto a histria da msica no-ocidental ficava

    aos cuidados da etnomusicologia, que j existia desde 1880,4 ou da musicologia

    sistemtica, cujo um dos propsitos era o estudo comparativo da msica no ocidental

    com finalidades etnogrficas.5

    Os cursos de musicologia na Europa estavam normalmente ligados ao

    departamento de Filosofia. Muitas vezes o ensino musical nestas universidades

    era responsabilidade de uma escola superior de msica, a ela acoplada, na qualos ensinos prtico e terico, necessrios formao de um msico, eram

    ministrados. Ou seja, a rea de Musicologia e a de Msica eram independentes.

    A Musicologia, como rea, estava aberta a alunos dos mais variados

    campos, sem a necessidade de serem previamente formados em Msica, e

    existia tanto como curso de graduao, quanto de ps. Ela foi desenvolvida nos

    pases anglo-saxes com um forte vis histrico, sendo que na Alemanha e na

    ustria, estabeleceu-se independentemente das demais correntes histricas.6

    Este modelo foi absorvido pela estrutura americana, e intensificado com a ida

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    de intelectuais europeus que fugiram durante o regime nazista para a Amrica

    do Norte.

    A estrutura da Musicologia tomou um rumo diverso no Brasil. Primeiro,

    desenvolveu-se informalmente, atravs da escrita de intelectuais dos maisvariados campos, que com seu trabalho, contriburam para uma musicologia

    incipiente do incio do sculo XX. Contudo, foi o alemo, radicado no Uruguai,

    Francisco Curt-Lange que foi considerado o formador de uma musicologia

    cientfica no Brasil.7

    Segundo, foi tardiamente, que a musicologia posicionou-se nas

    universidades brasileiras.8 Quanto a sua classificao e definio, de acordo com

    as tabelas de rea do CNpq, a Musicologia uma subrea da Msica, sob agrande rea de Lingustica, Letras e Artes, (que passar a ser, na nova proposta,

    apenas Linguagem e Artes). Ao contrrio da formao alem, a Musicologia no

    Brasil pertence Msica. Esta ltima, por sua vez, foi estruturada nas

    universidades de acordo com o modelo de conservatrio, ou seja, baseada num

    currculo primordialmente de ordem tcnica.9

    De acordo com a introduo acima, pretende-se primeiramente

    identificar neste artigo, quais, das histrias da msica no Brasil escritas,

    tornaram-se relevantes na historiografia e analisar se a histria, assim como na

    musicologia estrangeira, desenvolveu-se como um dos objetivos principais da

    musicologia. Uma segunda parte do artigo pretende, mesmo que de forma

    preliminar, estabelecer quais foram e quais so as relaes entre estas obras e as

    tradies histricas respectivas a seus perodos.

    Os Livros de Histria da Msica no Brasil

    A literatura musical no Brasil vasta. Quantitativamente pode se dizer

    que a maior parte dos escritos sobre msica brasileira encontra-se em

    peridicos no cientficos, musicais ou no. Dos livros dedicados histria, a

    maior parte deles enfoca algum tema especfico, como a Bossa Nova, ou o

    movimento da Tropiclia, ou os rituais de alguns grupos tnicos especficos do

    Amazonas e biografia de msicos populares.10 Obras dedicadas histria da

    msica brasileira foram poucas.

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    A Msica, que se assume, tenha sido praticada desde os primrdios da

    descoberta do Brasil, seja pelas comunidades amerndias, que aqui habitavam,

    ou posteriormente pelos europeus e africanos, anloga prpria escrita da

    histria do Brasil, foi inicialmente registrada atravs de relatos de viagens deestrangeiros, missionrios ou administradores.11 Seria somente no sculo XX

    que a Histria da Msica seria abordada com um vis de histria mais criteriosa

    e metdica.

    A primeira histria da msica no Brasil foi escrita em 1908, por

    Guilherme de Melo (1867-1932) e foi intitulada A msica no Brasil: desde os

    tempos coloniais ato primeiro decnio da Repblica. Este autor, baiano de

    nascimento, havia iniciado sua formao musical no Colgio de rfos SoJoaquim, no qual assumiu a banda musical em 1892 e foi bibliotecrio do

    Instituto Nacional de Msica do Rio de Janeiro durante os ltimos cinco anos

    de sua vida.12

    O segundo livro veio a ser publicado somente vinte anos depois. Foi A

    Histria da MsicaBrasileira(1926) de Renato Almeida (1895-1981). Almeida foi

    formado em direito e foi colaborador de diversos peridicos, no musicais em

    sua maioria. Ele foi tambm funcionrio do Ministrio das Relaes Exteriores

    e um dos fundadores da Comisso Nacional do Folclore.

    Neste mesmo ano de 1926 foi publicado o livro aStoria della musica nel

    Brasiledo italiano Vincenzo Cernicchiaro (1858-1928). Cernicchiaro, por sua

    vez, era um italiano radicado no Brasil, era violinista e lecionou vrias

    disciplinas de msica no Instituto Benjamin Constant no Rio de Janeiro, foi

    catedrtico do Instituto Nacional de Msica no Rio (1890), foi regente e

    tambm compositor.

    Seguiram-se a estas publicaes os estudos de Mrio de Andrade (1893-1945), dentro os quais Ensaio sobre a Msica Brasileira(1928) e Compndio de

    Histria da msica brasileira (1929) relacionam-se mais com a histria

    propriamente dita. O Compndiofoi reeditado como aPequena Histria da Msica

    em 1942.13 Contudo este ltimo refere-se histria universal, dedicando o

    autor, histria brasileira, apenas dois captulos. Ainda no ano de 1942 foi

    reeditada a histria da msica de Renato Almeida.

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    Em 1956 o diplomata Luiz Heitor Correia de Azevedo (1905-1992)

    publicou o 150 anos de msica no Brasil(1800-1950). Este autor, assim como

    Melo, foi tambm bibliotecrio do Instituto Nacional de Msica no Rio de

    Janeiro e assumiu posteriormente a cadeira de folclore nesta instituio. Foiresponsvel por sees de msica em peridicos no Brasil e assumiu, na dcada

    de 50, o cargo de comissariado de msica da UNESCO em Paris, aonde veio a

    falecer.

    Em 1977 foi publicada a Histria da Msica Brasileirade Bruno Kiefer

    (1923-1987), este autor, nascido na Alemanha, imigrou para o Brasil ainda

    criana. Kiefer formou-se em Fsica, Qumica e Matemtica. Foi funcionrio

    pblico, compositor e professor universitrio e contribuiu para a formao doscursos superiores de Msica nas faculdades federais de Santa Maria e do Rio

    Grande do Sul.

    de 1981 a ltima obra escrita sobre a histria da msica no Brasil, do

    tambm diplomata e advogado Vasco Mariz (1921). Mariz um autor profcuo

    na rea de cultura musical. Sua obra Histria da Msica no Brasilrecebeu sua

    stima reedio recentemente em 2009 e , junto do livro de Kiefer, a

    bibliografia utilizada como referncia nos cursos de nvel superior de msica

    pelo pas.

    Livros ricamente documentados como Origem e Evoluo da Msica em

    Portugal - Sua influncia no Brasil, de Maria Luiza de Queiroz Santos de 1943, ou

    enciclopdicos como Enciclopdia da Msica Brasileira: erudita, folclrica, popular

    (1977) de Marcos A. Marcondes, so raramente mencionados.

    Maria Luiza, uma autora de formao musical profissional, alm de

    organista, foi professora livre docente da Universidade do Brasil (antiga UFRJ).

    Em seu livro proveu uma das primeiras anlises sobre a influncia lusitana namsica brasileira, citando, dentro outros aHistria da Msicade Jos Pessanha.14

    O traz exemplos musicais como transcries e ilustraes de instrumentos e

    documentos, alm de um ndice alfabtico biogrfico. A autora referiu-se a

    muitas obras histricas, incluindo desde aV iagem pelo Brasil, de Spix e Martius,15

    a Histria da Msica de Jos Pessanha, a obra de Padre Martini, ao falar da

    Histria da Msica europeia. Em seu ltimo captulo traz, na forma de

    suplementos e anexos, biografias, quadros sinticos de msicos e professores

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    que trabalharam no Rio de Janeiro durante o perodo de 1884-1890. Listou

    ainda, as histrias de quase todas as instituies musicais que se originaram e

    desenvolveram no Rio durante o sculo XIX, transcreveu alguns documentos

    do Livro do Pessoal da Casa Imperial e relatou qual a forma defuncionamento e dos repertrios dos mosteiros beneditinos no Brasil.

    Do contexto histrico brasileiro

    De acordo com Francisco Iglsias coexistiram, na passagem do sculo

    XIX para o XX, trs formas de se fazer histria no Brasil: aquela que seguia

    uma orientao literria de crnica, outra que cultivava o eruditismo, e a depesquisadores que cultivavam a metodologia, e dedicavam-se a uma elaborao

    temtica original.16 Como representante da segunda, destacou-se o historiador

    Francisco Adolfo Varnhagen (1816-1878) que havia publicado os dois volumes

    de Historia geral do Brasilentre 1854-7. De acordo com esta leitura, sua obra

    retratou elogiosamente uma colonizao portuguesa idealizada e sem conflitos,

    vitria de uma civilizao sobre a barbrie,17 exercendo uma histria

    documental sobre o passado brasileiro de acordo com os preceitos do Instituto

    Histrico e Geogrfico Brasileiro que representava.18

    principalmente atravs deste instituto que as premissas e diretrizes da

    pesquisa histrica do Brasil foram formuladas. Como parte das premissas

    considerou-se a necessidade da imparcialidade como atributo do historiador,

    assim como a adoo de mtodos que visavam atribuir um estatuto cientfico

    histria, como defendeu o vice-presidente do IHGB em 1897.19

    Desdobramento positivo desta abordagem foi atribuir ao historiador o saber

    histrico, e no mais a homens de letras, de forma geral, dos quais se esperavaque desvendassem o nexo lgico dos acontecimentos e a marcha evolutiva da

    civilizao.20

    A Varnhagen foi atribuda a influncia rankiana, dos positivistas, dos

    metdicos e da centralizao da pesquisa histrica em arquivos, cuja verdade

    histrica era de ordem documental, embora o prprio historiador alemo,

    Leopold Von Ranke, no seja citado em suas obras.21 Assume-se uma segunda

    caracterstica de influncia alem, alm da rankiana, foi a adoo dos

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    fundamentos conceituais do determinismo geogrfico, climtico e biolgico-

    trazidos nas obras de Friedrich Ratzel (1844-1904). Estes, de acordo com a

    historiografia, repercutiram em teorias sociais no decorrer do processo

    histrico, que se propuseram a examinar as composies populacionais doponto de vista de diferentes raas.

    Foram tambm assimilados modelos evolucionistas, particularmente do

    evolucionismo de Darwin e do darwinismo social proposto por Herbert

    Spencer (1820-1903) que se inseriram no contexto, e por vezes intensificaram

    ideias de autores, que j eram influentes no mbito historiogrfico brasileiro,

    como Augusto Comte e o positivismo.22 Estas influncias marcariam os

    cientistas sociais, como defende Marta Abreu, cujas anlises sociolgicasestariam mais fortemente baseadas em questes internas brasileiras e menos

    voltadas documentao histrica.

    interessante notar que estes cientistas sociais, embora abordassem

    razes do sentimento nacional, em grande parte no se dedicaram a anlise de

    autores que tivessem tratado de msica. Os trabalhos enfocaram basicamente

    questes de mestiagem, da herana ibrica, da qualidade da natureza, no

    sentido da fauna, flora e clima brasileiros; ou da presena do homem no

    ambiente tropical.23

    A noo de que coexistia no Brasil uma multiplicidade terica j havia

    sido notada e manifestada pelo conscio do IHGB Franklin Tvora:

    Si se trata particularmente da historia do Brazil, como neste Instituto, licito perguntar ao historiador: que theoria seguis- a de Martius, a deBuckle, a dos sectrios de Spencer, a dos discpulos de Comte? Comoexprimir to diversas opinies sem sacrifcio de alguma dellas?.24

    Embora inicialmente as produes histricas estivessem mais

    relacionadas ao trabalho do IHGB, que de alguma forma ditou preceitos, sabe-

    se que foram muitas as instituies responsveis pela produo histrica como

    as universidades, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, o Colgio Pedro II o

    Museu Paulista, o Museu Histrico dentre outros. A passagem para uma

    histria mais influenciada pelas cincias sociais, segundo a tradicional anlise de

    Alice Canabrava, foi exemplificada no trabalho do historiador Capistrano deAbreu, contemporneo de Silvio Romero, que expressavam sua inquietude em

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    compreender a realidade brasileira com o apelo das novas correntes cientficas que, ao seu

    tempo, se desenvolviam vigorosamente no campo das cincias do homem.25

    Dentre os chamados cientistas sociais, os poucos que se encontram

    ligados ao grupo de autores musicais foram o prprio Guilherme de Melo,Luciano Gallet e Augusto Pereira da Costa. Destes trs, apenas Melo escreveu

    uma Histria da Msica. Luciano Gallet (1893-1931), assim como Augusto

    Pereira, enveredaram na pesquisa folclrica. Gallet, inicialmente formado em

    desenho arquitetnico, estudou msica. Foi compositor, pianista, crtico, mas

    foi por seu trabalho etnogrfico e pela insero da disciplina de Folclore no

    currculo escolar que ficou conhecido na histria.26 Augusto Pereira (1851-

    1923) trabalhou em reparties pblicas em Pernambuco, foi colaborador emjornais e bacharelou-se em direito. Escreveu importantes obras sobre a vida e

    histria de Pernambuco, uma delas dedicada ao Folclore da regio, Folclore

    Pernambucano(1909).

    Dos historiadores na msica

    Assume-se que houve pouco contacto dos historiadores com a msica

    no Brasil. Atualmente corroboram esta viso, uma anlise quantitativa de

    artigos em peridicos e de teses e dissertaes.27 Esta situao parece no ser

    privilgio do Brasil, segundo a autora Miriam Chimens, o quadro se repete em

    seu pas, a Frana.28

    Para no dizer que os historiadores brasileiros passaram em branco pela

    msica, sabe-se que o historiador Francisco Varnhagen era familiarizado com a

    msica. Seu pai havia composto pequenas obras, uma das quais foi

    posteriormente publicada no volume de Modinhas Imperiais de Mrio deAndrade.29 Varnhagen, contudo apenas comentou sobre um material musical

    em Trovas e cantares de um cdice do XIV sculo: ou mais provavelmente, o livro de

    cantigas do conde de Barcelos e Cancioneirinho de trovas antigas colligidas de uma grande

    cancioneiro da biblioteca do V aticanoe, em seu Florilgio da poesia brasileira(1850),

    exps uma biografia do cantor e compositor Domingos Caldas Barbosa.

    Basicamente tratando da relao da msica e da poesia.30

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    Aps Varnhagen, foi Capistrano de Abreu que se referiu msica em

    sua obraCaptulos de Histria Colonial.31

    De acordo com Moraes32 seguiram-se geraes que no se preocuparam

    com a produo histrica da msica. Caio Prado Junior esquivou-se dequalquer meno. Srgio Buarque de Holanda, embora pessoalmente inserido

    no mundo musical, fez apenas mnima referncia msica em sua obraRazes

    do Brasil.33 Gilberto Freyre parece ter sido uma exceo ao inserir em Casa

    Grande e Senzala ritmos e danas africanos, danas europeias, lundus e

    modinhas. EmSobrados e Mocambosmais modinhas e danas e msica de salo.

    E emOrdem e Progressoproveu partituras de alguns gneros musicais.34

    Nas geraes que se seguiram persistiu uma surdez historiogrfica.Poucos historiadores atreveram-se no campo da histria da msica e

    consequentemente foram poucos os trabalhos histricos que enfocaram o

    tema.35 Moraes chama a ateno para o fato de no sculo XX, conhecer apenas

    dois casos em que historiadores teriam se dedicado msica. Foram eles

    Henry-Irene Marrou que escreveu, na dcada de 40, uma obra sobre a msica

    nos escritos de Santo Agostinho e outra sobre folclore, e Eric Hobsbawm, que

    publicou a Histria Social do Jazz em 1959, contudo, ambos se utilizaram de

    pseudnimos para publicao, o que para o autor, seria um sinal da pouca

    aceitao no meio, deste tipo de trabalho.36

    Da Msica e de seus historiadores

    Se por parte dos historiadores, os caminhos da histria raramente

    cruzaram os da histria da msica, o caminho inverso tambm foi verdadeiro.

    Como mencionado anteriormente, os primeiros registros musicais noBrasil apareceram documentados em relatos de viagens por estrangeiros. Alm

    dos portugueses, apareceram na obra do francs Jean de Lry, Histoire dun

    vouyage fait em la terre Du Brsil, a primeira a apresentar transcries de melodias

    colhidas durante sua viagem ao Brasil no sculo XVI37e depois no livroV iagem

    pelo Brasil(1817-1820), de Spix e Martius, respectivamente zologo e botnico

    bvaros, que incluram transcries musicais num anexo final de sua obra,

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    intitulado Canes Populares Brasileiras e Melodias Indgenas que contm 14

    partituras.38

    Este material era conhecido dos autores das histrias da msica. Alguns

    citam nominalmente estas obras como fontes, como Melo, Santos, enquantooutros simplesmente copiam e repetem trechos dos livros que os antecederam.

    Interessante notar, visto que finalizamos a primeira dcada do sculo

    XXI, que as histrias da msica brasileira que existem, foram todas publicadas

    no sculo XX. A recorrncia comum forma narrativa, biogrfica e linear

    marca presente at mesmo naqueles livros que poderiam ter sofrido influncia

    de novas escolas, como a dos Anais, durante o decorrer do sculo XX.

    Enquanto os ttulos propem uma histria da msica Brasileira ou noBrasil, de forma ampla, claramente seus contedos foram desenvolvidos de

    acordo com os recortes impostos ou, aos autores, por circunstncias externas

    ou, pelos prprios autores.

    No caso da obra de Guilherme de Melo, por exemplo, o autor restringiu-

    se a estudos basicamente feitos na Bahia, no nordeste e no Rio de Janeiro. Ele

    baseou suas informaes em documentos do Instituto Geogrfico da Bahia e

    do Real Gabinete Portugus de leitura.

    Renato Almeida declarou no prefcio do livroHistria da MsicaBrasileira

    que seu trabalho consistia em poder resumir as impresses e os dados

    histricos que lhe permitiriam concluir pela afirmao de uma msica brasileira,

    haurida nas fontes populares e que vinha se formando lentamente atravs do tempo.39 Ele

    insistiu que a abrangncia do estudo seria a mais ampla possvel, dentro de

    diretrizes histricas, porque o seu livro, no contudo de pesquisa folclrica, sino de

    histria.40 Documentando o seu trabalho com transcries de melodias e

    respectivos textos, o autor declarou que, por um lado, o material em grandeparte lhe havia sido fornecido por pessoas de reconhecida autoridade, e por outro,

    havia sido compilado de uma vasta bibliografia, que ele citou logo de incio em

    seu livro. Dentre os inmeros autores citados por ele estavam os historiadores

    Alfredo Brando, Artur Cesar Reis, especialista na Amaznia e membro do

    IHGB e Luis da Cmara Cascudo, alm de figuras como o mdico baiano

    Armando Sampaio Tavares reconhecido por sua grande erudio em literatura.

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    No caso do italiano Cernicchiaro, o autor se props a uma histria que

    abordasse as variadas formas das atividades musicais, desde a nomeao de

    compositores e msicos com suas biografias, mesmo que curtas, o ensino

    musical, as instituies como orquestras e associaes musicais, alm dediscorrer sobre o movimento operstico, criticar os concertos nacionais e

    estrangeiros que foram trazidos ao Brasil, em uma tentativa que, segundo Luiz

    Heitor, era de cunho subjetivo e euro centrista.41 Contudo, um dos captulos da

    obra de Cernicchiaro, Dellopereta ainda tido como um dos mais confiveis

    a fornecer dados sobre repertrio, intrpretes, autores, compositores,

    montagens e etc. Dados relevantes, no s historiografia musical, mas teatral

    brasileira no Rio de Janeiro.Luiz Heitor, por sua vez, em150 anos de msica, fez uma apologia busca

    das origens. O autor defendeu que se fazia necessrio buscar, no passado mais

    distante possvel, obras que pudessem criar um elo, formando uma linhagem de

    antecedentes at as obras atuais. Ele acreditava criar assim um

    desenvolvimento, num vnculo lgico, que segundo o autor j era forte e

    existente entre os perodos histricos.42 Para ele, o objetivo da histria era a

    busca deste material que ento poderia compulsionar documentao que habilitasse

    julgar as produes dos mestres que o ilustraram. A documentao a qual o autor se

    refere so obras e gneros musicais. Organizando as obras e seus respectivos

    compositores o autor tentou criar uma relao de causa e efeito entre elas. Sem

    prover anlises das obras, nem descrev-las com relao a suas estruturas

    musicais, o autor consegue apenas uma lista cronolgica. Seu livro dividido

    em duas partes: sculo XIX e XX.

    Assim como ele, Mariz e Kiefer tambm se utilizaram de ttulos amplos.

    Kiefer props a histria dos primrdios ao sculo XX sugerindo um longotempo de abordagem mantendo tambm a organizao cronolgica dos

    captulos e da nomeao de personagens. A histria musical descrita por estes

    autores estabeleceu-se ou por perodos polticos (colnia, monarquia e

    repblica) ou por estilos.

    Na obra de Mariz, que data da dcada de 70 e foi a ltima a ser escrita,

    a uma ordenao de geraes de compositores que ele recorre ao organizar

    seus captulos cronologicamente. Narra suas biografias dividindo-as em fases de

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    evoluo, ou seja, elegendo e organizando as produes de acordo com o

    amadurecimento do autor. Paralelamente s biografias identificou os

    perodos polticos: colnia, imprio at chegar repblica, para ento passar a

    combin-las com estilos: romantismo, nacionalismo, entreato dodecafnico,ps-nacionalismo, e um captulo intitulado outros valores.

    Talvez deste corpus, somente as obras de Mrio de Andrade que vm

    sendo mais intensamente estudadas, por socilogos, antropologistas, msicos e

    etc, elas tambm tratam da formao de uma msica nacional.

    Seu livro, Pequena Histria da Msicainicia com a definio da funo

    mgico-social da msica.43 Ele passa a descrever a msica dos povos primitivos44

    e elencou, a partir da msica da Antiguidade, uma evoluo, cujos captulosdescrevem gneros musicais (Monodia, polifonia, melodrama, captulos do III

    ao VIII) e estilos (Classicismo, Romantismo, Cap.IX e X) e na sequncia, dois

    captulos dedicados msica brasileira, intitulados Msica erudita e Msica

    popular.

    Em seuEnsaioo autor declarou que a importncia de seu trabalho esteve

    em coletar material sonoro aos msicos, embora no considerasse isto uma

    atividade cientfica, como ele mesmo declarou na epgrafe do livro.45 Contudo,

    a partir de sua viagem ao Norte do pas em 1927 e para o Nordeste em 1928-9

    ele se converteu num profundo leitor de trabalhos etnogrficos e de

    musicologia comparada. Segundo Toni46 mostrando interesse em adquirir um

    conhecimento necessrio coleta de temas e melodias, Mrio de Andrade

    revelou-se um pesquisador possuidor de mtodo e capacitado ao trabalho de

    campo. A autora identificou dentre as fontes de Mrio, Raoul e Marguerite

    DHarcout, Roquete Pinto, alm do Esquisse dune methode de folklore musical, de

    Constantin Brailoiu.Nos livros de Melo, Almeida a gradual formao da msica brasileira

    tendeu a coincidir com a da formao do Estado Moderno, sem, contudo,

    refletir uma leitura crtica e poltica da insero da msica, mas apenas sugerir

    uma ordem cronolgica dos fatos. O incio de suas histrias se d, no com o

    descobrimento do Brasil, por vezes apenas comentado nas primeiras pginas

    das obras, mas durante o perodo colonial, como assim chamavam o sculo

    XVIII. No caso dos autores mais contemporneos, o perodo estendido

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    Msica e A rtes. 42

    segunda metade do sculo XX. Para Mrio de Andrade, o Brasil perseverou

    musicalmente colonial at 1914, quando se firmou o estado de esprito novo.47

    Os escritos de Melo, Almeida e Mrio de Andrade apresentam a

    preocupao com o papel social da msica e suas definies. Nas obras deAlmeida, Histria da Msica Brasileirae Compndioa primeira parte sempre

    dedicada msica popular. Nestes livros so formas e gneros musicais e no

    obras, que so identificados na narrativa dos costumes brasileiros. Estes

    costumes so comparados aos dos europeus, num primeiro momento e depois,

    dentro de um cenrio j brasileiro, so confrontados com relao as suas

    origens, se urbana ou e rural.

    A identificao das formas musicais foi importante para todos osautores. Elas so basicamente danas (batuque, fandango, quadrilha, samba,

    maxixe, frevo, etc), cantigas (de trabalho, de ninar, sentimentais como

    modinhas e toadas, brejeiras como lundus e emboladas, religiosas, satricas,

    fnebres) e bailados (congos, maracatus, bumba-meu-boi e etc).48

    No decorrer do sculo XX, a separao entre msica erudita, popular e

    folclrica foi intensificada na literatura. A popular que como vimos,

    corresponderia msica urbana, seria posteriormente confrontada com sua

    parceira cosmopolita, a msica erudita, enquanto a folclrica seria definida

    ainda como uma msica de origem rural. Em seu livro, Santos estruturou a

    segunda parte em captulos de acordo com trs tipos de msica: msica dos

    primrdios (a indgena); erudita e popular. Mrio de Andrade, como vimos,

    dedicou dois captulos histria da msica brasileira, separando-as em erudita e

    popular.

    Kiefer dedicou-se aos temas em livros separados. Em 1977, publicou a

    Histria da Msica Brasileirae em 1990 aMsicaeDana Popular: sua influncia na

    Msica erudita. Outros autores passaram a se dedicar exclusivamente msica

    popular, como Jos Ramos Tinhoro (1928-)49 com aMsica Popular(1966) e a

    Histria Social da Msica Popular Brasileira(1998), dentre outros.

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    Projeto H istria n 43. Dezembro de 201142

    Da Historiografia das Histrias da Msica

    De acordo com a literatura surge basicamente uma vertente

    historiogrfica com relao a este material. Antes de passarmos a ela, seria bomdefinir, que o termo historiografia aqui adotado aquele que se refere

    avaliao ou crtica de obras histricas enquanto documentos, como

    testemunhos de dimenses especficas de cada autor com relao eleio de

    seus tpicos, mtodos e contextos.

    Esta vertente historiogrfica aponta uma histria evolutiva.50 As

    histrias evolutivas, como se assume, foram por vezes baseadas numa

    concepo emprestada das cincias da vida.Nas histrias da msica identificaram-se duas formas de evolucionismo.

    A da concepo de uma msica que evolui do simples para o complexo e a

    segunda concepo, a da histria baseada na evoluo de gneros musicais e ou

    de estilos.

    Na primeira, a noo de evoluo visou a formao de uma unidade

    nacional. Nesta leitura incluem-se as obras de Melo e Almeida, nas quais se

    tentou sintetizar as vrias identidades musicais, em prol de uma unidade. Para

    Melo, por exemplo, reconhecer-se-ia a arte musical de um pas, atravs da influncia dos

    povos que contriburam para a constitucionalizao de sua nacionalidade.51

    A crena destes autores baseou-se na ideia de uma mestiagem que no

    apresentou conflitos, nem sociais nem polticos, e que permaneceu isenta de

    problemas na sua apropriao de diferenas e na transmisso de suas

    caractersticas. Esta maneira de descrever o processo gerou a impresso de que

    a msica brasileira j nascera mista. Melo, ao descrever o que chamou de

    perodo colonial, deu a entender que a mestiagem musical e racial haviaacontecido sempre, e que as formas e gneros musicais ali apresentados s

    precisaram ser desenvolvidos com o passar dos tempos.52

    A noo de evoluo tambm apareceu na descrio classificatria da

    msica brasileira como primitiva e da europeia como superior, principalmente

    nas obras de Melo, Almeida e Cernicchiaro em que se apontou uma necessidade

    de desenvolvimento da msica brasileira para tornar-se mais complexa, a

    exemplo da europeia.

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    Melo afirmava que as manifestaes teatrais utilizadas pelos jesutas na

    catequese, os autos, representavam a primeira exibio de arte musical brasileira

    baseada no sistema diatnico-cromtico dos povos cultos.53 Entendendo-se aqui o

    sistema cultural culto, o dos europeus, como aquele que deve ser apreendido,em posicionamento superior ao dos incultos.

    Cernicchiaro diz em seu livro que, a msica deva interessar igualmente todo

    esprito humano de grau superior ou inferior, no desenvolvimento e perfeio da arte que o

    circunda.54 Ambos, de acordo com o pressuposto evolucionista, tendem a

    demonstrar que o cultivado superior. Almeida abre seuCompndioexplicando:

    que a msica brasileira formou-se dos elementos fundamentais [grande parte lusitana, depois

    negra e por fim indgena] numa mistura que se fez ao calor de um meio diferente, cuja aodeveria ser altamente modificadora das taras primitivas.55

    Com relao aos livros de Melo, Almeida e Cernicchiaro, em menor

    proporo, Marta Abreu concluiu que as obras deste perodo tinham em comum

    uma busca de uma identidade nacional mestia desde o perodo colonial, a maior preocupao

    com os estilos musicais do que com os significados da produo cultura dos agentes sociais e a

    viso de que os processos culturais ocorrem sem conflito.56

    Enquanto nestas obras, noo de mestiagem que se atribui a

    realizao de uma unidade nacional, nas obras de Mrio de Andrade, partindo

    de uma unidade, o povo brasileiro, identificado como senhor de uma msica

    popular, que Mrio passa a refletir sobre as caractersticas musicais, analisando

    esta msica para conhecer as suas vrias partes constituintes.57 Estas partes

    incluam a presena amerndia, portuguesa, africana, espanhola, latino-

    americana, europeia de forma geral e as atuais, jazz americano e o tango

    argentino.58

    No Brasil, segundo ele, o perodo de nacionalizao visava conformar a

    produo humana do pas com a realidade nacional[..]. Ainda segundo ele, a msica

    brasileira respondia a um primitivismo no esttico, mas social. Pois toda arte

    socialmente primitiva que nem a nossa, arte social, tribal, religiosa, comemorativa.

    interessada. A o contrrio da arte exclusivamente artstica que no tem cabimento numa fase

    primitiva, fase de construo. intrinsecamente individualista e assim completava que

    os modernos queriam era aquela diletante, individualista e sem importncia nacional

    nenhuma. O carter brasileiro no devia, assim como faziam os europeus,

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    Projeto H istria n 43. Dezembro de 201143

    buscar e legitimar um exotismo divertido,59 o msico brasileiro deveria ser o

    brasileiro normal e no de caractersticas excessivas, pois este se tornava

    extico, extico atpara ns.60

    A concepo evolucionista no se perdeu nos livros posteriores, deAzevedo, Kiefer e Mariz, ela aparece com o desenvolvimento dos gneros e

    estilos musicais.

    Os gneros musicais, como vimos, so citados desde as primeiras obras.

    Mesmo com os primeiros autores, foi elegendo alguns gneros musicais, como

    o lundu e a modinha, que eles muitas vezes acabaram definindo caractersticas

    gerais desta msica. Uma linhagem dos gneros chegou a ser legitimada atravs

    da descrio de evidncias documentais que contribuiriam para provar aexistncia de um gnero desde os primrdios musicais.61

    O conceito de estilo, que no possui consenso acadmico,62 pode ser

    empregado para definir uma linguagem musical (e.g.msica tonal), ou a msica

    de um determinado perodo histrico (e.g. estilo barroco), ou a maneira de um

    compositor compor (e.g. ao estilo de Mozart). Esta, ainda hoje, constitui-se na

    maneira mais amplamente utilizada de se fazer histrias da Msica,

    principalmente quando a histria refere-se msica entre os sculos XVI ao

    XX. Normalmente nomeiam-se os estilos Barroco, Clssico, Romntico e Ps-

    Romantico. Segundo o autor Richard Croker, em seu livro A History of Musical

    Style, as propriedades dos estilos evoluem progressivamente e estilos

    pertencentes a perodos prximos deveriam apresentar um grau maior de

    semelhana em suas estruturas. Como para Croker, contar o que aconteceu o

    que comumente se assume como narrativa histrica, em sua histria narra a

    estria dos estilos na qual eventos como peas, estilos e gneros musicais so

    elencados numa relao de causa e efeito, estabelecendo logicamente certaspremissas das quais certas concluses seriam geradas.

    Nas obras de Mariz e Kiefer principalmente, a noo de evolucionismo

    est no desenvolvimento e organizao dos estilos musicais. Contudo, para

    exemplificar os estilos, seriam necessrias as anlises de obras, que no so

    fornecidas pelos autores em seus livros. E mais, a classificao por estilos,

    implica na identificao das escolas de composio, e assim na escolha de

    compositores.

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    Msica e A rtes. 43

    O encadeamento das escolas de composio aparece claramente

    demarcado na obra de Mariz. Ao explicar a sua inteno e objetivos, o autor

    confessou: que neste trabalho procurei transmitir minha opinio pessoal e

    tambm a de musiclogos e crticos musicais de renome,a fim de melhor apresentara repercusso da obra do compositor em estudo. O autor tambm definiu como

    acreditava que devesse ser escrita a nossa histria da msica: acho que a

    histria da nossa msicano deva ser uma relao de todos os brasileiros que fizeram

    msicae sim apenas de aqueles que realmente deixaram sua marca permanente, por uma

    razo ou por outra.63

    Mariz, cuja obra a mais adotada nos cursos atuais de msica e que no

    recebeu crticas da comunidade, foi premiada em 1983. Ela sucumbiria scrticas mais comuns dos fundadores da sociologia do comeo do sculo XX.

    Augusto Comte ridicularizava a forma compilatria e defendia uma histria sem

    nomes.64 Herbert Spencer queixava-se que as biografias dos grandes, pouco

    esclareciam a respeito da cincia das sociedades.65

    Joseph Kerman, autor do nico livro traduzido para o portugus sobre

    Musicologia, corrobora a anlise que mostra serem permanentes as narrativas

    biogrficas e de estilos na literatura histrica musical durante o sculo XX. E

    completava que muitas vezes estas obras foram escritas por conterrneos dos

    biografados e que os estudos tambm tenderam a enfocar o estudo da gnese

    das formas musicais e dos gneros.66

    Segundo o historiador Arnaldo Contier, da USP/ SP, a bibliografia sobre a

    Histria da Msica no Brasil durante o sculo XX , tem-se revelado, sob o nosso ponto de

    vista, muito restrita, frgil teoricamente[...]em geral as anlises privilegiam a vida e a obra

    dos autores considerados mais significativos[...].67

    Da Histria da Msica brasileira na Musicologia Brasileira

    Como vimos anteriormente, a musicologia estrangeira tem como uma de

    suas finalidades os estudos e a escrita da histria da msica, contudo, no Brasil,

    este trabalho se deu de forma diversa. Como vimos, os autores das histrias da

    msica brasileira eram formados em reas diversas. Segundo, que, exceo seja

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    feita Kiefer, e a Santos, nenhum trilhou uma carreira acadmica, embora,

    autores como Almeida e Andrade tenham sido essenciais na institucionalizao

    do Folclore e da Msica, atravs do incentivo de leis, e da criao de

    conservatrios e centros.68

    Os estudos histricos, em teoria deveriam pertencer ao quadro curricular

    da musicologia, que basicamente existe no Brasil nos cursos de ps-graduao.

    Contudo, a estrutura curricular, longe de dirigir-se s discusses metodolgicas

    e epistemolgicas da Musicologia e de sua histria permanece atada a estrutura

    da rea a qual ela pertence, a Msica, que visa formao do msico prtico,

    regente ou compositor.69 Primeiro esquivando-se de disciplinas,70 e at da

    histria da musicologia, formando geraes, que no mnimo desconhecem aorigem da cincia na qual se especializam.

    Segundo, que demonstra uma concepo de classificao de

    conhecimento nas humanidades, na qual a Msica encontra-se nas Belas-Artes,

    afastada de um ideal das Artes Liberais,71 contrrio do proposto idealmente por

    Adler que beirava a formao de um musiclogo polmata. Com relao aos

    conhecimentos necessrios a um musiclogo, ele acreditava num musiclogo

    humanista, que estaria primordialmente centrado na filosofia, histria,

    sociologia, literatura, lnguas, lingustica. Como documentarista estaria engajado

    na busca, identificao e anlise de documentos e fontes, valendo-se da histria,

    arquivologia, filologia, paleografia musical, museologia. Como cientfico,

    tomando o termo de forma simplria, exerce uma metodologia

    primordialmente de carter emprico, envolvendo disciplinas como a acstica, a

    matemtica, a psicologia, a fisiologia.72

    Dentro desta estrutura diversa e mais restrita, que parece ter sido a

    adotada pela comunidade, outra caracterstica bastante pertinente musicologiabrasileira a ausncia de uma reviso historiogrfica da produo.

    Segundo Castagna, um dos maiores dilemas da musicologia brasileira

    que: sem uma produo resultante da concepo positivistaque orientou a musicologia

    europeia na segunda metade do sculo XIX e primeira do XX , no haveria suficiente

    material para abordagens mais reflexivas ou interpretativas.

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    O autor assume que foram raras as publicaes brasileiras destinadas a refletir

    sobre os significados da musicologia neste perodo [primeira metade do sculo XX ]. Perodo

    que ele define como:

    a primeira grande transformao da musicologia no Brasil que ocorreudo incio do sculo XX at meados da dcada de 1960, na qual ostrabalhos passaram a se enquadrar em uma espcie degnero intermedirioentre literatura e cincia, incluindose a as assimdenominadashistrias damsica brasileira(ou no Brasil) e suascongneres, como as de Guilherme deMelo (1908), Renato Almeida (1926), Vincenzo Cernicchiaro (1926),Mrio de Andrade (1941), Maria Luiza de Queiroz Santos (1942),Francisco Acquarone (c.1948) e Luiz Heitor Azevedo (1956).73

    Exceo seja feita a citao de Acquarone, as demais obras foram aquielencadas e o autor as define como obras de: 1. Abordagem literria: Guilherme

    de Melo (1908), Vicenzo Cernichiaro (1926) e Renato Almeida (1926 e 1942). 2.

    Preocupaes musicolgicas: Mrio de Andrade (1941), Maria Luiza de Queiroz

    Santos (1942) e Lus Heitor Correia de Azevedo (1950 e 1956), e segue: mas

    umafase propriamente cientfica surgiucom as obras de Jos Ramos Tinhoro (1974,

    1981, 1990), Bruno Kiefer (1976), Jos Maria Neves (1977), Ary Vasconcelos

    (1977 e 1991), Vasco Mariz (1981), e David Appleby (1983).74Manuel da Veiga, professor na UFBA, chama o trabalho de Melo de

    amadorstico e provinciano, mas exemplar para, Renato Almeida, cuja obra

    no histria, mas etnografia e folclore, ora sob flagrante tendncia

    nacionalista e historicalista, segundo as quais a base evolutiva da msica artstica

    teria de ser necessariamente a sinfonia da terra (termo da primeira edio, de

    1926). Para este autor musiclogos histricos, ao contrrio de outros historiadores, no

    podem se alhear daquilo que pesquisam [...] Se uns, os historiadores polticos, por exemplo,no precisariam gostar de Napoleo para escreverem sobre o Diretrio, outros, historiadores de

    msica, tendem a amar seu objeto de estudo em razo de sua essencial condio de msicos,

    alm de musiclogos.75

    Outros autores acreditam que no cenrio atual de interao disciplinar

    no existe lugar para a disciplina de Histria da Msica, pois afinal o que ali se

    apresentava nada mais era que o relato totalmente interno ao prprio campo

    musical e alheio, portanto, ao desenvolvimento metodolgico da Histria destinado a afirmar e justificar a autonomia social e esttica da Msica.76

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    Segundo Budasz, o estatuto cientfico moderno em campo musical coube musicologia e

    no Msica. Para ele a Msica um campo formado por vrias cincias,

    algumas originariamente ligadas ao fazer artstico-musical, outras que encontraram um

    modo especfico de se relacionar com o objeto musical, outras ainda, recentssimas, que jnasceram como resultado de uma prtica interdisciplinar anterior.77

    Concluso

    Na primeira parte do artigo foi delineado o grupo de obras estudado.

    Este recorte foi historiogrfico, ou seja, foram elencados os livros que

    recorrentemente so referenciados em bibliografias histrico-musicais, alm deserem entre si referenciados.

    Estes livros foram todos publicados durante o sculo XX. Essas obras

    no foram escritas por historiadores. Assumem-se aqui causas diversas para

    dois perodos. No primeiro, relativo primeira metade do sculo XX, foi

    provavelmente por causa da recente classificao das reas do conhecimento e

    de um incipiente estatuto de fronteiras disciplinares. A partir do final do sculo

    XX, pelo motivo oposto, ou seja, pela institucionalizao da Msica, vista como

    uma rea de Artes, na qual os professores de Histria da Msica so, em sua

    maioria, bacharis em Msica, com pouca ou nenhuma formao histrica e

    que raramente enfocaram a histria da msica como uma histria sujeita a

    discusses do mtodo histrico.

    interessante notar que neste sentido, o Brasil seguiu uma tendncia

    oposta a do exterior, onde grande parte de historiadores da msica so

    historiadores. Alis, no sculo XX, os comits formadores de currculos e de

    avaliao musical ou musicolgica estrangeiros foram justamente criticados porserem majoritariamente compostos por historiadores, deixando de lado os

    socilogos e antroplogos e demais intelectuais das reas consideradas mais

    cientficas.78

    Embora os autores das histrias da msica brasileira no tenham sido

    historiadores, em alguns perodos os seus trabalhos apresentaram uma

    correlao com as tendncias histricas.

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    Melo e Almeida estiveram inseridos dentro dos processos e tendncias

    histricas de sua poca. Eles foram cientistas sociais engajados em instituies

    que visavam a pesquisa histrica, como o IHGB e desenvolveram uma histria

    da msica brasileira nos moldes da poca.O trabalho de Melo exemplo da preocupao com o documento, pelo

    esforo da anlise objetiva e do trabalho de arquivo.

    O livro de Almeida, dedicado pesquisa do popular e do folclrico na

    msica brasileira, marcado pelas cincias sociais em seu vis etnolgico. Ele

    foi dedicado a afirmao histrica da existncia de uma msica brasileira

    haurida nas fontes populares e que veio lentamente se formando com o tempo.

    Apesar de Almeida comentar, em sua bibliografia, a obra de Spix eMartius e de outros viajantes, no parece ter lido as obras de Capistrano de

    Abreu, considerado um dos formadores da ideia de um povo brasileiro. Ainda

    entre as vrias obras citadas em seu livro, refere-se especialmente a Silvio

    Romero, quando fala dos cantos populares. Almeida estava tambm a par das

    discusses sobre msica nacionalista estrangeira e citou, em sua bibibliografia,

    autores importantes como Vaughan Williams da Inglaterra, e Carlos Veja, sobre

    a msica popular Argentina, dentre outros; assim como mostrou estar ciente

    das teorias musicais de sua poca como as defendidas por Hugo Rieman.

    Essas obras, como as de Mrio de Andrade, mantiveram-se relacionadas

    e embasadas em estudos sociais. Algumas pesquisas buscando um fundamento

    mais emprico, baseadas em trabalho de campo, outras de forma mais

    compilatria, fundamentando-se numa tradio literria. Estas histrias da

    msica visaram de alguma forma uma identidade nacional e de certa maneira

    refletiram sua insero numa histria j marcada pela relevncia da interao

    com as cincias sociais, inovao trazida pela escola dos Anais.A partir da obra de Azevedo permanece uma histria da msica centrada

    na existncia de sujeitos histricos privilegiados e na preservao de uma anlise

    uniforme e simplista do processo histrico.

    Em sua obra, Azevedo no foge tradio literria, citando basicamente

    todas as histrias da msica, anteriores a ele, citando inclusive Santos e

    Paranhos e copiando citaes de Cernicchiaro. Esta obra parece mais responder

    obra de Cernicchiaro, que constantemente citada.

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    A histria da msica no Brasil, escrita a partir da segunda metade do

    sculo XX, parece retornar quela forma das crnicas tradicionais, sem inteno

    de abordar documentos originais, entregando-se s edies muitas vezes

    encomendadas, como a de Mariz, sem tambm pretenses crticas,permanecendo quase que como um gnero literrio. O pice se d na obra de

    Mariz, na qual a exacerbada forma biogrfica adotada, inserida numa evoluo

    dos estilos musicais parece legitimar conhecimentos atravs de uma apologia de

    virtudes individuais.

    O uso evolucionista dos estilos propostos nestas obras, da segunda

    metade do sculo XX, no demonstrou preocupao com contedos tericos.

    Assim, sem explicaes substanciadas sobre escolas de composio ou tericas;as histrias da msica no contaram com material de pesquisa embasada pela

    filologia, que gerasse tambm edies crticas, e que abrisse caminho a uma

    maior interface com a arquivologia e a biblioteconomia. No exterior, a interface

    com a filologia e estudos de arquivo geraram as grandes antologias musicais,

    enciclopdias e dicionrios do sculo XX. Como o Grove Dictionary of Music and

    Musicians, The Norton Anthology of Western Music, em lingua inglesa, a MMG

    (Musik in Geschichte und Gegenwart) em alemo, e no final do sculo, em forma

    digital e em interface com a Teoria da Informao acervos e data bases como o

    RISM (Rpertoire International des Sources Musicales) e o RILM (Rpertoire

    International de Littrature Musicale).

    Parece que o evolucionismo foi a tendncia que prevaleceu. Guido

    Adler, em seu Method in Music History, sem traduo portuguesa, demonstrou

    no s conhecer a obra de Darwin, mas influncias dos escritos do bilogo

    Ernst Haeckel (1834-1919), que ele copiou e estudou. Contudo, Adler tambm

    manteve uma relao estreita com o historiador Friedrich Jodl, da escolavienense,Kulturwissenschaft(cincia cultural). De qualquer forma, a historiografia

    acusa Adler, que em sua tentativa de esboar uma histria geral, manteve-se

    atado ao padro evolucionista desenvolvido no sculo XIX.

    Outras discusses relevantes histria da msica, como a desenvolvida

    pelo musiclogo Carl Dahlhaus no surgiram efeito nas histrias brasileiras. Ele

    foi marcado em seus estudos por duas escolas histricas. A francesa

    estruturalista associada a Fernand Braudel e a teoria crtica do crculo de

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    Frankfurt. Ele defendia uma histria de longo termo, e assim refutava a histria

    narrativa e biogrfica. Como influncia do crculo de Frankfurt, ele defendeu

    uma histria, cujos tpicos, ele acreditava, eram formados por vrias partes

    constituintes que mantinham uma relao dinmica em importncia.Em seu livro, ainda sem traduo para o portugus, Foundations of Music

    H istoryde 1983, no captulo Is History on the decline?, demonstrou que os

    estudiosos americanos e ingleses temiam por uma simplificao da histria

    inchada pelos mtodos das cincias sociais que pareciam obscurecer as

    complexidades envolvidas no desenvolvimento histrico.79

    Dahlhaus tambm considerava a interpretao de fontes histricas um

    problema para a histria da msica. As obras musicais, objetos da Histria daMsica, eram as fontes histricas? Contudo, se obra de arte fosse reduzida a

    uma anlise meramente tcnica, no poderia contribuir para uma histria da

    msica. Obras, segundo ele, possuam um diferencial por seu carter esttico e

    no histrico, por isso, um material histrico, que era normalmente constitudo

    de documentos e artefatos do passado, segundo Dahlhaus, no seriam

    propriamente eficientes para a histria da msica.

    A Histria da Msica no Brasil parece ter passado inclume por

    tendncias histricas ps-evolucionismo. Nada de Micro-histria, ou da

    Histria das diferentes fases da escola de Anais, ou da Histria Nova, ou

    Histria cultural. Enquanto no final do sculo XIX foram, em torno das

    disciplinas de Humanas, que as universidades funcionaram, assim como as

    chamadas cientficas durante o sculo XX, quem sabe o mergulho do sculo

    XXI na rea da Informao possa, de alguma forma contribuir para um novo

    trabalho que de alguma forma gere uma conscientizao histrica na Msica.

    NOTAS

    * Carla Blomberg ps-doutora. Professora do Centro Simo-Mathias de

    Estudos Ps-Graduados em Histria da Cincia. E-mail:[email protected]

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    1 ADLER, Guido and MUGGLESTONE, Erica. Guido Adlers The Scope,Method and Aim of Musicology (1885): An English Translation with anHistorico-Analytical Commentary. Yearbook for Traditional Music, vol.13 (1981),1-21 p.3.2Idem, p. 8.3 ADLER, MUGGLESTONE, op. cit., p. 13.4 O desenvolvimento da etnomusicologia traado a partir desta dcada em que,o fongrafo e a diviso da escala diatnica em 1.200 unidades equivalentes,possibilitaram a coleta e posteriormente a anlise para comparao de msica,ou estruturas musicais de diversas sociedades.5 NETTL, Bruno. Nettls Elephant: On the H istory of Etnomusicology. Illinois:University of Illinois Press, 2010, p. 20.6 ADLER, MUGGLESTONE, op. cit., p. 2.7 LANGE, Francisco C. La msica em Minas gerais: un informe preliminar.Boletn L atino Americano de MsicaVol.6/ (1946), 409-494, Rio de Janeiro; apud

    CASTAGNA, 2008, p.35).8 CASTAGNA, P. A Musicologia Enquanto Mtodo Cientfico. Revista doConservatrio de Msica da UFPeln.1 (2008a), 7-31.CASTAGNA, P. Avanos e perspectivas na Musicologia Histrica Brasileira.Revista do Conservatrio de Msica da UFPeln.1 (2008b), 32-57, p. 32-33.9 Corrobora esta leitura a grade de disciplinas e a formao dos cursos degraduao e ps-graduao das universidades brasileiras. Por exemplo, da UFRJ,o chamado diga que a formao visa um conhecimento tcnico, humanstico ecientfico nas habilitaes de prticas interpretativas, as disciplinas restringem-se aulas de instrumento, harmonia, contraponto, teoria, histria. Nas classes de

    composio aparece a preocupao com a eletroacstica, a anlise. Disciplinascomo a filosofia da msica, acstica, ou histria da organologia, que parecemcaber nesta formao no so elencadas. A ECA, no diferente, aulas deinstrumento, contraponto, histria, anlise, composio. Novamente aprecemapenas uma metodologia de ensino nas reas de licenciatura.10 So muitos os livros individuais sobre autores especficos, ritmos, tendncias.Do estudioso Carlos Sandroni, Feitio decente: transformaes do samba no Rio deJaneiro, 1917-1933(Jorge Zahar ed., 2001), Samba de roda do Recncavo Baianoescrito com Ari Lima e Alessandra Leo, (UNESCO, 2006); O L ivro de ouro daMPBde Ricardo C.Albins (Ediouro, 2003), A cano no tempo: 85 anos demsicas

    brasileirasde Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (Editora 34, 1998), entremuitos outros. Assim como a reedio de material antigo. A Enciclopdia damsica brasileira editada pela11 Revista do IHGB, Tomo 41, Parte II, 1878, p.480-1. At o fim do sculoXVIII o Brasil, embora j tivesse historia, ainda no tinha historiador, os doisPeors, Caminha e Gandavo, deram luz a seu bero, mas no podiam escreverseno dois autos, o do nascimento e o da descoberta e do batismo da Terra deSanta Cruz.12 Seu livro foi reeditado no Dicionrio Histrico, geogrfico e etnogrfico doBrasil em 1922 e teve um reedio pstuma prefaciada por Luiz Heitor

    publicada pela Imprensa Nacional do Rio de Janeiro lanada em 1947.

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    13 Alm destas obras citadas Mrio de Andrade escreveu: Modinhas Imperiais(1930), Msica Doce Msica(1933), Msica do BrasileDanas dramticas do Brasil(1941) e uma infinidade de crnicas e artigos de jornais, que apesar desubstanciarem a histria da msica no Brasil no se constituem em material quetenha sido elaborado para uma narrativa ou crtica da Histria da msicabrasileira.14 PESSANHA, Jos. Histria da Msica. Lisboa: Companhia Nacional Editora,1889.15 SPIX, Johann Baptist Von e MARTIUS, Karl Friedrich Philipp von.V iagempelo Brasil:1817-1820. Trad. So Paulo: Edies Melhoramentos, 1968; 3 vols.16 IGLESIAS, Francisco. Os Historiadores do Brasil: captulos de historiografiabrasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Belo Horizonte:UFMG, IPEA, 2000,94-95.17 CEZAR, Temstocles. Varnhagen em Movimento: breve antologia de umaexistncia, Topoi vol.8/15 (2007), 159-207, 192.18 REIS, Jos Carlos. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 4 ed. Riode Janeiro: Editora FGV, 2001.19 Manoel Francisco Correia, Vice-presidente do IHGB. Revista do IHGB,

    Tomo 60, 1897, p.419.20 De OLIVEIRA, Maria da Glria. Fazer Histria , escrever a histria: sobreas figuraes do historiador no Brasil oitocentista, Revista Brasileira deHistria. Vol.30/59 (2010), 37-52.21 CEZAR, Temstocles. Varnhagen em Movimento: breve antologia de umaexistncia.TopoiVol.8/15 (2007), 159-207, 160-161.22 BARROS, Jos DAssuno. Duas Fases de Capistrano de Abreu: Notas em

    torno de uma produo historiogrfica.Projeto Histria, vol.41, (2010), 455- 489,p. 457-8.23 ABREU, Martha. Histrias da Msica Popular Brasileira, uma anlise daproduo sobre o perodo colonial. In : JANCS, Istvan; KANTOR, ris(Orgs.) Festa: Cultura e Sociabilidade na Amrica Portuguesa. So Paulo:EDUSP; FAPESP; Imprensa Oficial; Hucitec; 2001, vol.II, p.683-705, 685.24 Revista do IHBG, Tomo 43, 1883, p.658.25 CANABRAVA, Alice. Apontamentos sobre Varnhagen e Capistrano. Revistade H istria, So Paulo: USP.n.18 (88) (1971), 424.26 BRUM, A.Marcelo. Luciano Gallet e a Multiplicidade do Artista, trabalho

    apresentado na ANPPOM.27 Em 2007, no volume 157 daRevista Histriaem So Paulo, foi publicado oDossi Histria e Msica.28Chimnes, Myriam. Musicologia e Histria. Fronteira ou Terra de Ningumentre duas disciplinas?.Revista de H istrian.157 (2007), 15-29. Artigo publicadooriginalmente naRevue de Musicologie, SocitFranaise de Musicologie, Tome 84, n.1,1998. Traduo de Jos Geraldo Vinci de Moraes.29 ANDRADE, Mrio.Modinhas Imperiais. Modinhas de salo brasileiras, do tempo doImprio, para canto e piano. So Paulo: Casa Chiarato Ed., 1930, p.13.30 VARNHANGEN, F.A. Florilgio da poesia brasileira, 3 vols. Rio de Janeiro:

    Academia Brasileira de Letras 1946, 42;Apud. MORAES, Jos Geraldo Vinci de.Sons e msica na oficina da histria.Rev. hist. [online]. 2007, n.157, p. 7-13, 7.

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    31 ABREU, Capistrano.Captulos de Histria Colonial. Belo Horizonte/ So Paulo:Ed.Itatiaia/ Edusp, 1988, Cap.XI.32 MORAES, Jos Geraldo Vinci de. Sons e msica na oficina da histria. Rev. hist.[online]. 2007, n.157, p. 7-13.33 HOLANDA, Srgio B., Razes do Brasil, 8 ed. Rio de Janeiro: Livraria JosOlympio, 1975, 110. Referncia msica na festa de Bom Jesus de Pirapora.34 MORAES, Jos G. Sons e Msica na Oficina da Histria, op. cit., 8.35Ibid. 8-9.36Ibid.p.10.37 Aparecem relatos rpidos em cartas e livros que referem-se ao perodo

    jesutico no Brasil, como em Ferno Cardim, Narrativa epistolar duma viagem emisso jesutica pela Baa, I lhus, porto Seguro, Rio de Janeiro (de 1583-1590)em Jos Silvestre Ribeiro Estabelecimentos Cientficos, Literrios eArtsticos de Portugal, Serafim Leite, Histria da Companhia de Jesus no Brasil,Luiz Gonzaga Cabral, Jesutas no Brasil, Manuel de Araujo Porto-Alegre, A

    Msica Sagrada no Brasil, dentre outros.38 MERHY, Silvio A., As transcries das canes populares em Viagem peloBrasil de Spix e Martius, Revista Brasileira de Msicavol.23/2 (2010), 173-206,192-206.39 ALMEIDA, R. Compndio de H istria da msica brasileira(Rio de Janeiro:F.Briguiet, 1948, p. xi.40Ibid., p. xi.41 De AZEVEDO, Luiz H. 150 anos de msica no Brasil(Rio de Janeiro: JosOlympio, 1956, p. 379.42Idem,p. 9.

    43 ANDRADE, M. Ensaio sobre a Msica Brasileira(1928), 3ed. So Paulo: VilaRica; Braslia; INL, 1972. Pequena Histria da Msica. Belo Horizonte: EditoraItatiaia Ltda. 9 ed. 1987. Aspectos da Msica Brasileira. Belo Horizonte/ Rio de

    Janeiro: Villa Rica, 1991, p. 11.44Idem,p.11, 14, 17, 18.45 J firmei que no sou folclorista. O folclore uma cincia dizem...meinteresso pela cincia, porm no tenho capacidade para ser cientista. Minhainteno fornecer documentao pr msico e no passar vinte anosescrevendo sobre a expresso fisionmica do lagarto.Ensaio, 1927. Epgrafe.46 TONI , op. cit., 1990.47

    ANDRADE,op. cit. 1987, p. 155.48 TRAVASSOS, Elizabeth. Modernismo e msica brasileira. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 2000, 7.49 Formado em jornalismo escreveu para diversos jornais, contribui tambmcomo crtico musical. Seus dois primeiros livros,A provncia e o naturalismo(1966)eMsica popular(1966) reuniram ensaios produzidos para o Jornal do Brasil. Apartir da dcada de 1980 afastou-se do jornalismo para dedicar-se pesquisahistrica.50 VOLPE, Maria A., Chp.1 National identity in Brazilian musichistoriography in Phd.Dissertation. Indianism and Landscape in the Brazilian Age of

    Progress: A rt Music from Carlos Gomes to V illa Lobos, 1870s-1930s(2001), Universityof Texas Austin; A teoria da Obnubilao Braslica na Histria da Msica

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    Brasileira: Renato Almeida e A Sinfonia da Terra,Msica em PerspectivaVol.1/1(2008), 58-71; ABREU, Martha. Histrias da Msica Popular Brasileira, umaanlise da produo sobre o perodo colonial. In : JANCS, Istvan;KANTOR, ris (Orgs.) Festa: Cultura e Sociabilidade na Amrica Portuguesa.So Paulo: EDUSP; FAPESP; Imprensa Oficial; Hucitec; 2001, vol.II, p.683-705; De ALENCAR, Maria A.G, Msica, identidade e memria: musiclogos efolcloristas no Brasil , Revista Territrios e Fronteirasvol.2/2 (2001), 61-79;MARTINS, Dalton, Evidncias evolucionistas na historiografia musical sobreos jesutas; CONTIER, Arnaldo, O nacional na Msica Erudita Brasileira:Mrio de Andrade e a questo da identidade Cultural , Revista de Histria eEstudos CulturaisVol.1/1 (2004), 1-21; DUPRAT, Regis, Evoluo daHistoriografia Musical Brasileira. Revista da Associao Nacional de Pesquisa ePs-Graduao em Msica - ANPPOM, n1,(1989), 32 36.51 MELO, op. cit.,1908, p. 5-7.52 ABREU, Marta.Op. cit. 1998.53 MELO, op. cit., 1908, p. 7.54 CERNICCHIARO, V.Storia della musica nel Brasiledatempi coloniali sino ai nostrigiorni(1549-1925). Milo: Fratelli Riccioni, 1926, p. 27.55 ALMEIDA, op. cit., 1948, p. 11.56 ABREU, Martha. Histrias da Msica Popular Brasileira, uma anlise daproduo sobre o perodo colonial. In : JANCS, Istvan; KANTOR, ris(Orgs.) Festa: Cultura e Sociabilidade na Amrica Portuguesa. So Paulo:EDUSP; FAPESP; Imprensa Oficial; Hucitec; 2001, vol.II, p.683-705, p.21.57 ANDRADE,op. cit., 1972, p. 4.58Idem, p. 7.

    59Idem, p. 2.60 Mrio de Andrade demonstra aqui conhecer a distino importante entre osdiversos nacionalismos musicais. Enquanto compositores, que se dedicaramao trabalho de campo e pesquisa, produziam obras nacionais, como Kodaly eBrtok na Hungria, Debussy inseria em suas obras esquisitices orientais, quereduziam as melodias hindus a meros adornos. Idem, p. 8.61 VASCONCELOS, Ary. Razes da Msica Popular Brasileira, So Paulo: MartinsEd.,1977.62MEYER, L.B.Style and Music.Theory, history and ideology(Philadelphia: Universityof Pennsylvania Press), 1989; NARMOUR, 1990; NATTIEZ, 1975.63

    MARIZ, op. cit., 1983, p. 2264 COMTE, A.Cours de philosophie positive, vol.5, 1864, lio 52.65 SPENCER, H. Essays on Education, London 1911, original 1861, p.26; apudBURKE, 1990, p. 20. BURKE, Peter- A Escola dos A nnales- 1929-1989. ARevoluo Francesa da Historiografia. So Paulo: Ed.Unesp. 1991. BURKE, Peter(org.). Abertura: A Nova Histria, seu passado e seu futuro. In: A escrita dahistria:novas perspectivas. SP: Unesp, 1992, 7-37.66 KERMAN, Joseph. Musicologia. Trad. lvaro Cabral, So Paulo: MartinsFontes, 1987, p. 38-9.67 CONTIER, A. Msica e Histria. Revista de H istria,Vol.1 (1989), 69-89.

    CONTIER, A. A sacralizao do nacional e do popular na msica. RevistaMsicavol.5(1994), 33-47., p. 77.

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    68 Renato Almeida fundou em 1947 a Comisso Nacional do Folclore, instituiu aSemana Nacional do Folclore e participou de inmeras associaes e comits.Mrio de Andrade foi responsvel pela criao da Sociedade de Etnologia eFolclore de So Paulo, foi professor e posteriormente diretor do ConservatrioDramtico Musical.69 Vide os programas de Graduao em Msica das Universidades e faculdades.ECA/USP: Bacharelado em Msica com: habilitao em Canto e Arte Lrica,habilitao em composio, habilitao em instrumento, habilitao emregncia, Licenciatura em Educao Artstica com habilitao em Msica. Ciclobsico de disciplinas: Contraponto, canto coral, harmonia, Histria da Msica,Percepo Musical e por vezes anlise de obras musicais. Idem para a UFRJ,UNESP, UNIRIO, FAAM, etc.70 ECA/USP, Mestrado e Doutorado em Msica. rea de Concentrao:Musicologia (Histria, Estilo e Recepo) e Processos de Criao Musical.UNESP/ SP: Mestrado e Doutorado em Msica, rea de Concentrao

    Musicologia e Etnomusicologia (abordagens histricas, estticas e educacionaisdo processo de criao, transmisso e recepo da linguagem musical).UNICAMP/ SP: Mestrado e Doutorado em Msica, reas de concentrao elinhas de pesquisa: 1. Fundamentos Tericos (na qual se encontra Musicologiahistrica e Etnomusicologia), 2.Prticas interpretativas e 3. Processos criativos.UFPR: Mestrado em Msica, reas de concentrao e linhas de pesquisa,1.Fundamentos tericos/ Musicologia: Musicologia Histrica e Etnomusicologiae 2. Educao Musical e Cognio. UFG: Mestrado em Msica com umadisciplina chamada Seminrios de Musicologia. UFMG: Ps Graduao emMsica, Mestrado e Especializao. Trs linhas de pesquisa no mestrado:

    Performance musical, Estudos de Prticas Musicais, Sonologia. UNIRIO,Mestrado e Doutorado em Msica. Linhas de pesquisa: Documentao eHistria da Msica, Linguagem e Estruturao Musical, Teoria e Prtica naInterpretao, Etnografia das Prticas Musicais, Ensino-Aprendizagem emMsica. UFBA: Mestrado e Doutorado em Msica. Cinco reas deconcentrao: Composio, Musicologia, Educao Musical, Etnomusicologia eExecuo Musical. Oferece dentro da rea de concentrao em Musicologia umadisciplina optativa chamada Metodologia em pesquisa de Campo e Arquivstica.UFPB: Mestrado em Msica. reas: de Composio, de Educao Musical, deEtnomusicologia, de Musicologia: com linhas de pesquisa em Musicologia

    sistemtica, Sonologia e Esttica, Estilstica, e Prxis Compositiva; e reas dePrtica Interpretativas. UFRJ. Ps Graduao em Msica. reas deConcentrao: Musicologia, Composio, Prticas Interpretativas, EducaoMusical.71 A Msica nas universidades americanas, tanto quando ela um dosdepartamentos da Universidade ou quando estabelecidas nas escolas de Msica,mantm um currculo obrigatrio, no esquema americano (major- minor), no quala Msica considerada parte das Artes Liberais.72 Esta concepo compartilhada por vrias reas de conhecimento no sculoXIX, principalmente por aquelas em que o carter de interface intrnseco

    prpria rea, como o caso da Histria da Cincia, cujo fundador, GeorgeSarton tambm prev um estudioso polmata. As disciplinas elencadas por

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    Adler foram expandidas durante o sculo XX e recebem novas contribuiescomo: as cincias tecnolgicas e de computao, as cincias cognitivias, apsicoacstica, a neurocincia a fsica e etc.73 CASTAGNA,op. cit., 2008b, p. 33 e 34.74 CASTAGNA,op. cit., 2008a, p. 17.75 VEIGA, Manuel. Impresso Musical na Bahia. NEMUS.www.nemus.ufba.br/ artigos/ imb.htm acesso em 2 de dezembro de 2011.76 BUDASZ, op. cit., 2009, p. 5.77Ibid., p. 7.78 PARNCUTT,op. cit., 2001.79 Foundations of Music History by carl Dahlhaus; J.B.Robinson. Review byKeith Falconer. Journal of the Royal Musical association Vol.112/1 (1986-87),141-155, 142.Cf. tambm:ALLEN, W. D. Philosophies of Music History. New York: American Book

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