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TRIBUNAL DE CONTASINSTITUTO DE ESTUDOS E PESQUISA CONSELHEIRO JOS RENATO DA FROTA UCHA IEP/TCE-ROAv. Presidente Dutra, 4229 Pedrinhas Porto Velho CEP 78903-900 Tel. (069) 3211 9021 FAX 3211 9146 [email protected]

HIST HISTRIA REGIONAL DE RONDNIAProf. Emmanoel Gomes IEP/TCE-ROPVH-RO, 25, 26/09/2008

TRIBUNAL DE CONTASINSTITUTO DE ESTUDOS E PESQUISA CONSELHEIRO JOS RENATO DA FROTA UCHA IEP/TCE-RO Av. Presidente Dutra, 4229 Pedrinhas Porto Velho CEP 78903-900 Tel. (069) 3211 9021 FAX 3211 9146 [email protected]

HISTRIA REGIONAL

DE RONDNIA

EMMANOEL GOMES2

TRIBUNAL DE CONTASINSTITUTO DE ESTUDOS E PESQUISA CONSELHEIRO JOS RENATO DA FROTA UCHA IEP/TCE-RO Av. Presidente Dutra, 4229 Pedrinhas Porto Velho CEP 78903-900 Tel. (069) 3211 9021 FAX 3211 9146 [email protected]

A COLONIZAO DO EXTREMO OESTE BRASILEIRO.

Um dos momentos importantes de nossa histria pode ser iniciado com as Grandes Navegaes. Os pases do ocidente europeu, atingidos por uma srie de problemas buscaram novas rotas comerciais visando encontrar as especiarias orientais e acabaram, neste contexto, por chegar ao Novo Mundo.

A relao cultural entre os Europeus e os povos locais nos remete a um universo anterior, onde as pessoas viviam em perfeita harmonia com o mundo. Porm, tudo foi modificado de forma a causar a destruio dos valores culturais regionais, que mal chegamos a conhecer.

A

descoberta

da

Amrica,

maior

conseqncia

dos

grandes

empreendimentos martimos iniciada no sculo XV, ocorreu no ano de 1492 por Cristvo Colombo, desencadeando uma grande corrida rumo s novas terras do Alm Mar.

Portugal que conquistou o oriente atravs do contorno do Continente Africano, buscava um espao nas Terras do Novo mundo, recentemente descoberto pelos Espanhis

Atravs de sua competncia diplomtica acabou por abocanhar parte do litoral das terras que viriam mais tarde se chamar Brasil. Atravs do Tratado de Tordesilhas.

A chegada de Colombo, e consequentemente a conquista da Amrica provocou mudanas significativas no pensamento ocidental. As Grandes Potncias

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Europias vo se relacionar com um mundo completamente estranho, com povos e culturas diferentes, e uma possibilidade de riquezas inimaginvel.

Aps Colombo, uma srie de navegantes no menos importantes buscou em nome de seu rei ocupar uma parte cada vez maior desse imenso Continente, Amrico Vespcio, Vicente Yanes Pinzon, Pedro Alvarez Cabral, Francisco Pizarro, Ernan Cortez, Gaspar de Lemos, Cristvo Jaques, so alguns navegantes de uma lista muito grande de aventureiros europeus que percorreram nossos rios mares e oceanos.

O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 por Portugueses e Espanhis, dividia o Novo Mundo, enquanto os demais pases esperneavam por no concordarem com tal partilha.

A atuao europia trouxe graves conseqncias para as populaes nativas que viram seu mundo milenar desabar com prticas de crueldades jamais vistas ou sonhadas. Em nome de Deus e em busca das imensas riquezas, a populao nativa Americana que ultrapassava os setenta milhes de seres humanos foi reduzida em mais de noventa por cento.

Quando falamos ou escrevemos sobre o genocdio ocorrido com os povos nativos da Amrica, por mais que queiramos, no chegamos nem perto do que realmente ocorreu.

De assassinatos em massa, a estupros de mulheres homens e crianas, contaminao proposital de milhes de indivduos com vrus desconhecidos no novo mundo destruio dos valores morais, religiosos, ticos, humanos, culturais; corpos incendiados, filhos sendo arrancados do ventre da me por diverso, 4

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vsceras arrancadas com a pessoa ainda viva, torturas e agonia sem fim, dor eterna, lgrimas que escorrem at hoje nos olhos dos descendentes que percebem que o terror no possui limites, realmente eterno, como a palavra do Deus eterno que foi utilizada para justificar o mpio, o medonho, o infame.

Por mais que busquemos no h palavras que possam traduzir o acontecido, no nos aproximamos da brutalidade praticada contra os povos que viviam em uma profunda harmonia e paz com o seu mundo, cultuando lagos, rios, bichos, filhos, mulheres, terra, cu, chuva, sol, lua, estrela, cometa, frutos, flores, vento. Um universo comparado pelos primeiros cronistas que visitaram nossa Amaznia como o paraso divino na terra.

A questo indgena no Brasil e em especial em Rondnia precisa ainda hoje ser refletida profundamente. Alguns posicionamentos vazios, descrentes e ingnuos tm contribudo com o discurso malfico de setores conservadores que atuam no sentido de por um fim s culturas tradicionais.

comum pessoas afirmarem que no existe mais espao para as culturas tradicionais e principalmente para as naes indgenas. Ouvimos muitas pessoas afirmarem que o destino dos povos indgenas est muito prximo do fim. Alguns milhares de ndios vivem a nossa volta, e isso incontestvel. Como voc se sentiria se as pessoas pregassem o extermnio de sua cultura, sua vida e vida de seus familiares e amigos?

Os ndios so elementos humanos reais da sociedade atual. Alguns olham os ndios como se fossem de uma sociedade passada, distante. Como um ser puro ligado a uma natureza intocada, distante e isolada.

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Os povos indgenas esto nas cidades, ruas, avenidas, debaixo das pontes, asilos decadentes, periferias do Brasil e em vrios pases da Amrica. Mendigam o direito existncia. A sua volta, uma sociedade fria, preconceituosa, capitalista que vulgarizou e banalizou a maioria dos valores ticos, morais e humanos. O capital bestializou as pessoas, possivelmente nunca tivemos na historia de toda humanidade gente to desumana e arredia ao semelhante como na atualidade.

Em quase todos os municpios de Rondnia existem remanescentes de tribos indgenas. Eles insistem em um combate pela sobrevivncia, pelo direito de existir, de ser e viver sua cultura. E todos ns, os no ndios, seguimos indiferentes a essa realidade, trancados em nosso mundinho de consumo, como zumbis que querem comer tudo que est a sua volta; sem importar com coisas como o passado, a histria, a cultura e a arte, sem preocupao com as relaes afetivas profundas e sensveis.

O ser humano nunca viveu tantas frustraes, depresses, tristezas e tdio como na atualidade, na chamada modernidade. Olhemos ao nosso redor, nossos filhos e amigos, a juventude, a adolescncia, at a terceira idade, hoje chamada de melhor idade, vivemos um profundo vazio; carentes de amor, espiritualidade, esperana e coletividade. O medo tomou conta das pessoas. No encontramos mais prazer e paz de esprito, sempre achamos que o outro quer tomar alguma coisa da gente.

As

pessoas

com

seus

grandes

egos

tornaram-se

incapazes

de

compartilhar, de se relacionar fraternalmente. Elas atuam socialmente para mostrar suas posses, desde um sapato ao carro de ltima gerao. Estamos h muito tempo nos medindo pela rgua do consumo.

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O Brasil foi descoberto pelo navegante Espanhol Vicente Yanes Pinzon. Ele visitou o Brasil antes de Pedro lvares Cabral, mais como as terras pertenciam a Portugal por determinao do Tratado de Tordesilhas 1494, os livros de histria consideraram a viagem de Cabral como a Descobridora do Brasil.

Historiadores tm fortalecido a tese de que Pinzon, que era espanhol, descobriu o Brasil. E Cabral o conquistou em nome da Coroa Portuguesa. Essa tese parece ser a mais coerente e politizada.

A Amaznia e seus majestosos rios foram a porta de entrada para os europeus que buscavam atravs da navegao, a possibilidade de encontrar grandes riquezas.

O norte do Brasil foi ocupado e colonizado no perodo colonial pelos portugueses em funo da facilidade oferecida por seus rios em sua penetrao. Porm, a regio foi visitada por vrias expedies espanholas que buscavam encontrar o ouro to divulgado pelas lendas. A mais conhecida delas, a lenda do El Dorado.

Conta uma antiga lenda que bem distante, no interior da floresta, existia um reino onde seus palcios, casas e ruas eram construdas e adornadas com ouro.

Todos os dias ao amanhecer, o rei, chamado El Dorado, que significa: aquele que encoberto de ouro, tomava um banho com leos perfumados e naturais, sobre seu corpo um grupo de guerreiras lindas, jovens e virgens soprava uma fina camada de ouro em p, de forma que toda a sua pele ficava revestida do precioso metal.

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Aps esse preparo, o mesmo, acompanhado pelas lindas jovens passeava em seu reino, visitando os templos, as obras pblicas que eram todas feitas de ouro e adornadas com pedras preciosas, aproveitava tambm para cumprimentar os seus sditos.

Ao fim da tarde se encaminhava para um belo lago de guas transparentes onde se banhava, deixando l no fundo todo o ouro que encobria o seu corpo.

Muitas expedies buscaram esse reino fantstico sem nunca encontr-lo. O que moveu verdadeiramente a economia colonial amaznica foi a busca, explorao e coleta das drogas do serto, que eram as especiarias regionais, como; Cacau, Castanha do Par, Canela, Urucum, Guaran, Salsa Parrilha e demais produtos que serviam a culinria, a indstria farmacutica e perfumaria.

Entre os aventureiros que comandaram as primeiras expedies, podemos citar: Francisco de Orellana, intrpido navegador espanhol, credita-se a ele o descobrimento do grande rio Amazonas, por ele navegado, desde a nascente nos Andes, entre os anos de 1540 e 1541.

A expedio de Gonzalo Pizarro, nascido em Trujillo, Espanha, em 1502,que faleceu em Jaquijaguana, atual Peru, participou da conquista do Imprio Inca junto com seu irmo Francisco Pizarro, que o nomeou governador de Quito. Organizou uma grande expedio para explorar o mtico pas das canelas. Durante a conquista, Gonzalo se destacou como um dos mais corruptos, brutais e cruis conquistadores do Novo Mundo, sendo muito menos contido contra os nativos e os incas que seus outros irmos.

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Ainda entre as expedies, gostaria de lembrar de Pedro de Ursua, Fernando Gusman e Lope de Aguirre.

Vamos reproduzir um relato, extrado do livro Breve Histria do Amazonas Pg. 24 e 25, do Historiador Marcio Souza, que conta como foi a expedio de Gonzalo Pizarro.

Em fevereiro de 1541, Gonzalo Pizarro partiu de Quito, conduzindo 220 cavaleiros armados e encouraados, milhares de lhamas para transporte de alimentos, 2000 porcos, 2000 ces que os espanhis atiavam contra os ndios, dando origem a expresso atirar aos ces, largamente utilizada ainda hoje. A tropa era tambm reforada por 4.000 ndios da montanha, condenados a morrer no clima mido e calorento da selva.

Francisco Orellana, que estava em Guaiaquil, chega depois da partida da expedio, exausto quase sem dinheiro, devido aos gastos para equipar seus 23 seguidores. Assim mesmo, embora com pouca comida e ignorando as advertncias das autoridades de Quito, Orellana segue em busca de seu lder, sobrevivendo aos ataques de ndios e logrando alcanar a tropa quando j estava quase passando fome. Orellana e seus seguidores estavam sem nada, apenas com suas armas, mas foram recebidos com alegria por Gonzalo, que deu a Orellana o ttulo de comandante geral das foras combinadas.

Desde as primeiras semanas, a expedio sofre pesadas baixas. Em menos de quinze dias, mais de 100 ndios j tinham morrido de frio e de maus tratos. Mas, quando entraram na selva, as coisas ficaram ainda piores. Chovia muito e a gua enferrujava os equipamentos e limitava a visibilidade. O terreno era pantanoso, com

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lama e muitos rios para atravessar. Cavalgar num terreno como esse era impossvel, o que fragilizava os espanhis.

Quando as condies realmente se tornaram difceis, Pizarro decidiu avanar com oitenta espanhis a p. Caminharam durante dois meses, com algumas baixas, e encontraram rvores de canela, mas to afastadas umas das outras que no forneciam interesse econmico. Ao encontrar ndios, Pizarro perguntava onde ficavam os vales e as plancies, mas esta era uma informao que ningum sabia dar. Invariavelmente Pizarro atiava seus ces contra os ndios ou matava um por um com requintes de crueldade.

Finalmente, depois de muitas privaes, Pizarro decidiu voltar. Mas encontraram uma tribo que lhes falou de um reino poderoso, muito rico, que existia mais abaixo do rio. Esta era uma histria que qualquer um teria inventado para se ver livre daqueles arrogantes visitantes, mas os ndios no contavam com a brutalidade de Pizarro. O chefe da tribo foi feito prisioneiro, e os que resistiram foram trucidados a tiros de arcabuz.

Quase dez meses depois, eles ainda estavam no rio Napo, tinham perdido praticamente todos os ndios trazidos de Quinto e comido quase todos os porcos. Pizarro no tinha muitas opes e a mais razovel teria sido voltar. Mas os espanhis no estavam no Novo Mundo para praticar a cautela e o senso comum. Por isso, quando Orellana se ofereceu para embarcar no bergantim e descer o rio em busca de comida, Pizarro aceitou, mas advertindo-o que deveria regressar em menos de quinze dias.

O bergantim foi carregado com as armas de fogo, toda a carga pesada e um pouco de comida. Orellana ia comandar sessenta homens, inclusive um cronista, frei 10

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Gaspar de Carvajal, conterrneo de Orellana e Pizarro, que tinha vindo ao Peru para estabelecer o primeiro convento dominicano no pas.

Foi Pinzon quem batizou o atual rio Amazonas com o seu primeiro nome, Santa Maria de Mar Dulce, Santa Maria de Mar Doce, se tornando o primeiro europeu a navegar no grande rio.

Os ndios chamavam o grande rio de Par Au, que significa grande lago. Os viajantes citados no desenvolveram uma poltica de ocupao da Amaznia Brasileira. A ocupao e colonizao do Brasil s vo acontecer a partir da expedio colonizadora de Martim Afonso de Souza em 1530.

A ocupao efetiva de nossa regio amaznica vai ocorrer somente a partir do sculo XVII. Primeiro teremos a ocupao do litoral nordestino, e mais tarde a ocupao do interior do Brasil, quando os bandeirantes, droguistas e aventureiros buscaram as riquezas existentes no interior. Riquezas como as drogas do serto, ndios para serem vendidos como escravos e os metais preciosos como o ouro e outras pedras valiosas.

Dois caminhos distintos foram utilizados na conquista do espao amaznico. Um via o Gro Par, que teve como motivao a expulso dos franceses em 1614, eles haviam ocupado o Maranho, que fazia parte do territrio, se tornando uma grande ameaa aos interesses Portugueses. Na entrada do grande rio foi construdo o Forte do Prespio em 1616, com o objetivo de impedir o avano dos inimigos. O outro caminho na colonizao do interior do Brasil, partia da Capitania de So Paulo, atravs do rio Tiet , rumo s possibilidades de riquezas, nesse sentido, 11

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aps encontrarem grandes jazidas aurferas nas Minas Gerais, os bandeirantes atingiram a regio que denominaram mais tarde de Mato Grosso.

Podemos citar um vasto nmero de sertanistas que em muito contriburam com o alargamento das fronteiras da colnia Portuguesa, como: Pedro Teixeira, que navegou do oceano Atlntico at os Andes, foi um feito notvel, como resultado dessa expedio, podemos afirmar que Pedro Teixeira nos presenteou com o territrio que temos hoje. Por onde passou firmou as posses Portuguesas.

Raposo Tavares o mais conhecido entre os bandeirantes de nossa histria, sua bandeira percorreu uma rea impressionante em meados do sculo dezessete. Ele e seus comandados saram da Capitania de So Paulo rumaram para o Sul, depois subiram at o Mato Grosso atingindo o rio Guapor, passaram pelo Mamor, Madeira e Amazonas at atingirem o oceano atlntico.

Credita-se a ele o nome do maior rio da margem esquerda do Amazonas, anteriormente chamado de Kayary, pelos povos que milenarmente ocupavam suas margens, ele mudou o nome para Rio da Madeira, ficou simplificado para Rio Madeira. uma pena que o novo nome tenha se popularizado, Kayary, muito mais bonito, significa: rio que me ama, uma referncia ao fato de ser um dos rios mais ricos em biodiversidade do planeta.

Outra bandeira que marca essas paragens a bandeira de Francisco de Melo Palheta, este, saiu de Belm do Par rumo ao Mato Grosso na primeira metade do sculo XVIII. Atingiu a Chapada dos Pareci, subindo o rio Amazonas, as corredeiras dos rios Madeira e Mamor, chegou ao Vale do Guapor sempre defendendo os interesses portugueses na regio.

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Uma informao interessante sobre este bandeirante, foi ele quem introduziu as primeiras mudas de caf no Brasil.

No sculo XVIII os bandeirantes encontraram em uma localidade que mais tarde foi batizada de Vila Real de Bom Jesus de Cuiab. Um dos primeiros a explorar as novas minas foi Miguel Subtil. Logo depois, mais ao interior da colnia, nas margens do rio Guapor, os irmos Arthur e Fernando Paes de Barros encontraram novas minas.

Com essas descobertas a regio comeou a se tornar importante. A coroa portuguesa vai direcionar toda uma poltica de ocupao e conquista com a inteno de assegurar as terras e as minas para seu controle. Para tanto, ser travado uma intensa disputa com os Espanhis que em funo do Tratado de Tordesilhas, se achavam os verdadeiros proprietrios da regio.

O rio Guapor ser um motivo de preocupao. Possibilitava a atividade do contrabando por parte de espanhis e portugueses. A coroa Portuguesa vai atuar de forma a controlar e at proibir a sua navegao com o objetivo de combater os infratores.

Uma tarefa fundamental para a conquista do territrio foi a sua ocupao. Acompanhada pela fundao de povoados foi criada a localidade de Pouso Alegre, mais tarde elevado condio de Vila e mudou o nome para Vila Bela da Santssima Trindade. Os espanhis por sua vez fundaram Santa Rosa na margem direita do Guapor. A disputa territorial foi intensa entre portugueses e espanhis. Aps muitos conflitos e entraves, essa disputa foi vencida pelos lusitanos.

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Os Espanhis acabaram por ocupar a margem esquerda do rio Guapor originando o territrio que mais tarde se transformaria em nosso pas vizinho a Bolvia.

Como veremos, as disputas tiveram duas frentes distintas, os acordos diplomticos e as aes blicas, em ambas as frentes, os Portugueses tiveram mais sucesso.

A Coroa Lusitana conseguiu a aprovao do Tratado de Madri em 1750. Com a afirmativa da tese do Uti Possidetis de Factum, tese oriunda do cdigo romano que significa: Tem direito, quem tem a posse, assim o caminho ficou completamente aberto para os interesses lusitanos na regio.

Um personagem brasileiro nascido na capitania de So Paulo se destacou na redao e aprovao deste importante tratado fronteirio, que abre as portas para a definitiva posse portuguesa de toda a regio Guaporeana, Alexandre de Gusmo.

Foi destacado para governar a regio o fidalgo portugus Dom Antnio Rolim de Moura Tavares. Sendo acompanhado por um seleto grupo de profissionais altamente qualificados, pois se tratava de ocupar e conquistar uma regio extremamente isolada, desprovida de qualquer infra-estrutura. A regio Guaporeana era uma das mais inspitas localidades do planeta.

Antnio Rolim de Moura Tavares foi nomeado o primeiro Governador General da Capitania do Mato Grosso, fundada em 1748.

Antes dele, a regio estava sobre os cuidados do fidalgo portugus Antnio Gomes Freire de Andrade que governava a Capitania do Rio de Janeiro. 14

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A primeira capital do Mato Grosso foi oficializada no ano de 1752 nas margens do rio Guapor bem prximo da fronteira com o territrio Espanhol, Vila Bela da Santssima Trindade. A instalao prxima do territrio Espanhol tinha o objetivo de tornar claras as intenes lusitanas no que diz respeito ocupao e posse da regio.

Rolim de Moura monta e equipa seus exrcitos de forma a dar combate tanto em gua quanto em terra aos inimigos espanhis que tambm se interessavam pela regio mato-grossense e suas riquezas minerais. Dentro de seu exrcito, ele cria um grupamento de pedestres. com homens pobres maltrapilhos, porm livres para combate.

Ainda dentro da estratgia de defesa do territrio, se aplica uma poltica de ocupao com a construo de fortes, organizao de exrcitos regulares e formao de novos povoados, sempre na margem direita do rio Guapor.

Outros tratados de fronteiras foram assinados com o objetivo de se resolver os litgios entre as duas coroas na Amrica do Sul. Tratado de El Pardo 1761, esse novo acordo desmonta o Tratado de Madri, apimentando ainda mais a disputa territorial no Vale do Guapor. Em 1777 assinado o Tratado de Santo Idelfonso, que procurou resolver os problemas do Sul do Brasil, Sacramento e Sete Povos das Misses. Mais uma vez a porta se abria para novas negociaes, e em 1801 o ltimo tratado assinado, Tratado de Badajs, pondo fim aos litgios entre as duas naes Ibricas.

Antnio Rolim de Moura Tavares, que assumiu as primeiras tarefas no que diz respeito Capitania do Matogrosso, abriu as portas no processo de colonizao. 15

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Provavelmente teve que enfrentar as maiores dificuldades em funo de tudo estar por ser feito. Ele concluiu com sucesso sua misso, depois foi transferido para a Capitania da Bahia, se tornando o Vice Rei do Brasil, recebendo ainda o ttulo de Conde de Azambuja.

A SOCIEDADE GUAPOREANA.

A Sociedade Guaporeana antes de tudo, era uma sociedade colonial com todas as caractersticas pertinentes ao sistema que vigorou no Brasil at 1822. Patriarcal, Escravocrata, Latifundiria, Crist, com uma economia baseada na monocultura e completamente voltada aos interesses da Coroa Portuguesa.

A composio social se formou a partir dos elementos portugueses, ndios, negros e espanhis, que se misturou um pouco mais tarde. Devemos destacar no contexto social a presena do povo negro e ndio no Guapor. O negro foi fundamental para o trabalho nas minas que eram chamadas de Campos Dourados do Mato Grosso. A minerao foi a principal atividade econmica no perodo colonial. Os ndios que em sua maioria eram livres, foram catequizados pelos jesutas, atuavam nas lavouras de subsistncia, na pecuria e coleta das Drogas do Serto; atividades complementares que se desenvolveram na regio. Existiam ndios escravizados, mas eram minoria, pois a lgica colonial era a da catequizao dos povos indgenas. No topo da sociedade estavam os governantes portugueses que dirigiam o empreendimento da coroa na regio. Eles ocupavam os altos cargos administrativos, eclesisticos e militares, impunham as leis ditando as normas sociais.

Os jesutas ocupavam um espao social de prestgio pois a sociedade era crist e bastante submissa s regras catlicas. Mais tarde, na segunda metade do 16

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sculo XVIII, com as aes do Marqus de Pombal os jesutas perderam espao na sociedade.

Um pouco abaixo vinham os bandeirantes, proprietrios das minas. Eram muito explorados, mais gozavam de prestgio, pois possuam alguma riqueza em terras e ouro. Eram os pagadores de impostos para a coroa, muito rudes, atuavam com brutalidade oprimindo principalmente os escravos e os ndios.

Depois dos bandeirantes vinham os ndios, que livres trabalhavam nas atividades complementares como na agricultura, pecuria e coleta das drogas do serto, apesar de no possurem salrio, recebiam uma certa proteo da igreja catlica que detinha os lucros de seu trabalho.

Por ltimo estavam os negros, e para eles os restos dessa sociedade, quando algo sobrava.

A escravido o pior dos regimes j praticados na humanidade. Sujou profundamente nossa histria, e no Vale do Guapor as coisas no foram diferentes, o tronco, a chibata e instrumentos de tortura eram comumente utilizados para punir os negros que no se enquadrassem ao sistema medonho da escravido.

Os escravos lutaram muito contra as atrocidades cometidas no perodo colonial. Como o trabalho nas minas do Guapor era escravo, no foi diferente, eles organizaram vrios quilombos onde o de maior destaque foi o Quilombo do Piolho, ou Quariter.

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Nas lutas travadas pelos escravos, devemos destacar a atuao de Tereza de Benguela. Com a morte do seu marido o Jos piolho, foi ela quem deu continuidade s lutas contra a opresso branca.

A CONSTRUO DO REAL FORTE PRNCIPE DA BEIRA.

O Real Forte Prncipe da Beira foi construdo no Governo de Luis de Albuquerque Melo Pereira e Cceres, que esteve frente da Capitania do Mato Grosso entre os anos de 1772 a 1788, recebeu a autorizao de Sebastio Jos de Carvalho o Marqus de Pombal, primeiro ministro da corte de Dom Jos I, rei de Portugal.

Sua construo apesar do consentimento da coroa Portuguesa, deve ser vista como o resultado da bravura de trabalhadores que sem as mnimas condies humanas superaram as dificuldades extremas e ergueram a grande muralha no Vale do Guapor.

A era pombalina, como ficou conhecido o perodo em que a corte portuguesa ficou sob o comando do Marqus de Pombal, marcou profundamente o Brasil e a Amaznia, no s pelo fato de se construir o forte no Guapor, mais em funo de uma srie de medidas polticas administrativas aplicadas na regio, primeiro a expulso dos jesutas com o objetivo de se combater o intenso contrabando de ouro e outras riquezas, pois boa parte do que se produzia era destinado pelos jesutas ao vaticano.

Tambm, a montagem de um rgido sistema fiscal que visava aumentar a receita portuguesa que sentia a diminuio da arrecadao em funo do esgotamento das minas no Brasil, e a criao da Companhia de Comrcio do Gro 18

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Par e Maranho, que seria um instrumento organizador de toda a economia regional.

A construo do forte era fundamental para garantir as intenes portuguesas no espao Guaporeano, fazia parte de um amplo plano de consolidao da poltica portuguesa no extremo oeste da colnia, a medida possua o objetivo de acabar com qualquer inteno espanhola de invadir, ocupar ou disputar as terras das margens direita do rio Guapor, a construo se iniciou no ano de 1776 e foi terminada sem a devida concluso no ano de 1783.

O Forte o mais antigo monumento histrico do Estado de Rondnia, o seu primeiro engenheiro, Domingos Sambucet faleceu vtima da malria, foi substitudo pelo Capito Engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra, que j havia atuado na construo do forte de Coimbra na divisa do Mato Grosso com o Paraguai.

Forte de Coimbra, outra obra portuguesa de extrema importncia, ficam claras as intenes lusas em relao ao territrio do Mato Grosso.

Ricardo Franco de Almeida Serra, com um extenso currculo de servios prestados coroa portuguesa e ao Brasil, produziu o mapeamento de extensas regies alm das obras de engenharia.

As edificaes do Real Forte Prncipe da Beira foram erguidas em uma localidade altamente estratgica, de forma a possibilitar a defesa, proteo e segurana da extensa fronteira existente entre as terras portuguesas e espanholas.

Seus cinqenta e quatro canhes colocados no alto de suas muralhas, intimidaram os adversrios ao ponto de no se tornar necessrio um nico tiro 19

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contra o inimigo, pois, sem poder de fogo equivalente os espanhis desistiram e aps a construo do forte, no tentaram mais invadir o territrio Portugus.

Centenas de escravos foram utilizados em sua construo, a maioria era composta por negros, mas tambm existe o registro do trabalho escravo indgena e artfices brancos, que eram minoria entre os trabalhadores.

O Forte foi transformado em presdio e abandonado mais tarde com o fim do imprio, sendo saqueado por aventureiros de toda sorte, foi completamente tomado pela floresta. No inicio do sculo XX, as runas foram encontradas pelo Marechal Cndido Mariano da Silva Rondon, que lutou pelo seu tombamento e preservao.

O primeiro comandante do Forte foi o Capito de Drages Jos Mello de Souza Castro e Vilhena, oficial portugus.

A CRISE DA SOCIEDADE AURFERA DO VALE DO GUAPOR.

Na segunda metade do sculo XVIII, a Sociedade Mineradora do Vale do Guapor entrou em crise, medida que as minas foram se esgotando, como a

regio era extremamente inspita, e no se desenvolvera uma outra atividade econmica que pudesse compensar os sacrifcios, a regio foi sendo abandonada lentamente, ficaram somente os escravos negros que haviam fugido, e os ndios que habitavam a regio.

Vila Bela da Santssima Trindade foi abandonada e um pouco mais tarde, em 1825, Bom Jesus de Cuiab foi elevado a condio de Capital do Mato Grosso. 20

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Os espanhis tambm perderam o interesse pela regio, pois o ouro valorizava o territrio e sem ele no havia mais a motivao para sua disputa. O ouro (j no era mais encontrado) j no estava mais a disposio como em outros tempos.

As comunidades remanescentes do Vale do Guapor, ainda sofreram alguma perseguio, mas, com o tempo vo se estabelecendo na regio, originando uma sociedade de paz e harmonia com o meio ambiente.

Vila Bela da Santssima Trindade se constitui como um excelente ponto de descanso e turismo, possui uma paisagem linda, ainda desconhecida da maioria das pessoas, so mais de cinqenta belas cachoeiras que despencam da Chapada dos Parecis, o parque Ricardo Franco de Almeida Serra proporciona um belssimo contato com a exuberante natureza que mistura caractersticas amaznicas com o pantanal mato-grossense. O rio Guapor, que margeia boa parte da regio, possibilita ao visitante um rico encontro com animais, principalmente as aves, que promovem grandes espetculos quando em revoadas agitando as rvores fazendo muito barulho.

Outro atrativo da localidade o prprio povo, descendente dos antigos quilombolas, que promovem uma recepo maravilhosa aos visitantes,

demonstrando uma preocupao preservacionista de seu patrimnio histrico incomum no Brasil, como o Palcio Rolim de Moura que abriga o museu e as runas da antiga catedral, ambas localizadas numa praa no centro da cidade. Aps a minerao no Vale do Guapor, teremos novas atividades econmicas surgindo. A Amaznia vai despertando cada vez mais o interesse da comunidade

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internacional. A regio ser visitada por uma srie de estudiosos. Vamos conhecer alguns cientistas que passaram e promoveram estudos sobre a Amaznia.

O I CICLO DA BORRACHA.

Aps a independncia do Brasil ocorrida no sete de setembro de 1822, teremos o surgimento de uma nova atividade econmica na Amaznia, o I Ciclo da Borracha, entre os anos de 1870 e 1912. Neste perodo a Amaznia passou a fazer parte do cenrio econmico mundial com muito mais contundncia, pois com o desenvolvimento da indstria internacional no que se convencionou chamar de II Revoluo Industrial, ocorrido em meados do sculo XIX, a borracha, Hevea brasiliensis, passou a ter uma importncia maior, por se tratar de uma matria prima de grande utilidade para a nova indstria que surgia.

Na Segunda Revoluo Industrial

apareceram novas formas de

combustveis que vieram a substituir o carvo. Foram inventados tambm o automvel, o motor a combusto, o telefone, a lmpada eltrica e descoberto o petrleo, que ter um papel cada vez mais importante no cenrio econmico internacional.

As grandes potncias econmicas vo atuar nesta parte do planeta com muita fora, interessadas nesta grande matria prima encontrada aqui com muita facilidade: a borracha.

Os governos Brasileiros estavam completamente voltados para os interesses dos cafeicultores do sudeste, pois o principal produto, carro chefe da economia brasileira no perodo, era o caf. Tanto os governantes do II Reinado, 1940 22

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1989, quanto os da repblica velha, 1889 - 1930 tinham seus olhos fechados para as demais regies Brasileiras. Poucas foram as aes desses governos para as demais regies.

Para que ocorresse a busca pela Hevea brasiliensis, pesquisas e estudos foram desenvolvidos, e se destacaram entre os estudiosos: Charles Goodyear, inventor norte-americano nascido em New Haven, Conn, criador do processo de vulcanizao da borracha (1839) que popularizou o uso comercial desse material. Comeou a carreira dele como um scio do pai, mas o negcio faliu (1830). Ele ficou interessado ento em descobrir um mtodo de tratar a borracha da ndia, de forma que ela perdesse sua adesividade e suscetibilidade. Procurou ampliar o campo de aplicao da borracha misturando-a com outras substncias.

Robert Koch, se utilizou da hevea brasiliensis em vrios experimentos, praticamente abandonou o consultrio para cultivar bacilos e inocular em ratos. Descobriu como colori-los, para ficarem bem visveis e convencveis, fotografando os da febre traumtica, erisipela, ttano, gangrena, clera e tuberculose. No mesmo ano, a vulcanizao da borracha permite a produo de preservativos eficientes, prticos, baratos e no volumosos como as tripas de carneiro usadas at ento. Uma verdadeira revoluo sexual ser mais tarde desencadeada, devido facilidade do sexo seguro. A Amaznia estava completamente aberta aos interesses imperialistas internacionais. nesta conjuntura em meio a vastos seringais que surgem: Porto Velho, Vila Murtinho e Guajar Mirim, que sero estudados um pouco mais adiante. A regio que possua os melhores seringais na Amaznia, era o Aquiri (atualmente o Estado do Acre) localizado na Bolvia. Situada entre os Andes

Bolivianos, grandes cadeias de montanhas que separam o oceano pacifico do 23

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oceano atlntico e corta de fora a fora toda Amrica do Sul, e as cachoeiras do rio Madeira.

A Bolvia possua ento, uma regio extremamente rica em borracha, porm isolada, sem contato com oceanos, de um lado montanhas, do outro, grandes Rios e suas cachoeiras impedindo o transporte de um produto to importante naquele momento.

A busca para sair desse isolamento geogrfico, levou os nossos irmos Bolivianos a estudarem solues que pudessem resolver o problema e transportar seus produtos. As idias comearam a surgir, entre elas a construo de uma hidrovia. Para tal seriam dinamitadas as cachoeiras existentes nos Rios Madeira e Mamor. Este projeto foi abandonado e em seu lugar veio a idia de se construir uma ferrovia. O Coronel do Exrcito Americano, Vice Presidente da Real Sociedade Geogrfica de Londres, George Earl Church, que havia combatido na guerra da secesso, e desenvolvido vrios trabalhos na Amrica do Sul, principalmente na Argentina e nos Andes, foi apresentado pelo presidente do Mxico, Benito Jurez ao General Boliviano Quentin Quevedo. O encontro entre os dois gerou a aproximao do Coronel Church ao governo Boliviano.

Desse encontro, surgiram idias que pudessem resolver o problema do isolamento boliviano, construindo um grande empreendimento comercial na Amaznia, primeiro atravs da construo de uma hidrovia, onde seria feito a canalizao da parte encachoeirada do rio Mamor e Madeira. Mais tarde surgiu uma nova opo: a construo de uma ferrovia, idia que estava na moda. O mundo inteiro estava construindo ferrovias. Essa opo ganhou fora e foi adotada pelos interessados, ficando a canalizao do rio para trs. 24

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Neste grande empreendimento, se destacaria ento, uma ferrovia. O coronel Church vai atuar como o principal agente motivador dessa fantstica obra, que seria erguida em meio a mais selvagem floresta tropical do mundo.

A CONSTRUO DA ESTRADA DE FERRO MADEIRA-MAMOR.

O Coronel Church conseguiu a autorizao do Governo de Dom Pedro II para que a obra fosse construda em solo Brasileiro. A exigncia de nosso Imperador era que a ferrovia se chamasse Estrada de Ferro Madeira Mamor.

Aps iniciativas preliminares, o Coronel Church buscou os agentes financiadores em Londres, capital da Inglaterra e uma empreiteira tambm Inglesa foi contratada, a Public Works. A empresa inglesa Public Works se deslocou para a Amaznia em 1872, chegando em Santo Antnio das Cachoeiras no conseguiu assentar um nico dormente. Frustrada, acabou se retirando em meio a um clima de espanto e assombro, pois a regio era dominada pelo calor escaldante e a malria que atingia a todos gerando um grande nmero de doentes, invlidos e mortos.

Toneladas de equipamentos foram abandonadas na localidade. Com essa primeira tentativa de construo da ferrovia se iniciava a histria do Porto Maldito que a todos afrontava com sua natureza inspita.

O Coronel George Hearl Church diante do problema gerado pelo malogro da empresa inglesa, contrata a firma norte-americana Dorsay & Caldwell. A nova empresa prometeu construir os primeiros 15 quilmetros da ferrovia sem receber

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pagamento por isso, pois usariam o material deixado em Santo Antnio pela empresa anterior. No chegaram nem a montar acampamento em Santo Antnio.

Mais uma vez o coronel do exrcito Americano busca resolver o problema, ele promove negociaes com uma outra empresa em 1875. Era a inglesa Reed Bros. & Co, que adquiriu a concesso da Dorsay & Caldwel que simplesmente no se interessou pela obra, (vide Manoel Rodrigues Ferreira), pois o lugar onde a mesma seria construda espantava a todos em funo do amontoado de problemas oferecidos aos aventureiros construtores de ferrovia.

O Coronel Church, demonstrando uma insistncia fora do normal no se abatera apesar dos problemas obtidos com as empresas envolvidas at ento no projeto. Rumou para o seu pas, os Estados Unidos da Amrica, l, convenceu a uma outra empresa, que tambm era uma das grandes construtoras de ferrovias dos Estados Unidos da Amrica a investir no projeto da Madeira Mamor. Tratava-se da empresa P.T. Collins.

Antes mesmo do inicio dos trabalhos, a tragdia surge como se estivesse alertando os invasores para no se aventurarem no desconhecido universo das florestas do Amazonas e alto rio Madeira, repleta de lendas, mitos e histrias fantsticas que intencionam espantar os incrdulos que desprezam seus mistrios e atentam contra seus valores e tradies.

Dois grandes navios zarparam da Amrica do Norte, o Mercedita que saiu de Willow Street s 13:00 horas do dia 2 de janeiro de 1878 e chegou a Santo Antnio das Cachoeiras no dia 19 de fevereiro de 1878. Alguns operrios j haviam contrado a malria nos portos de Belm e Manaus. Um outro navio que tambm rumava para Santo Antonio das Cachoeiras teve um destino trgico, o Metrpolis, naufragou na 26

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costa da Carolina do Norte em meio a uma terrvel tempestade onde setecentas toneladas de equipamentos se perderam, ele ainda carregava mais de 246 pessoas, das quais oitenta vieram a falecer. Triste realidade para pessoas que se destinavam grande aventura nas profundezas escuras das selvas beiradeiras do Madeira.

A determinao humana, porm, no conhece limites. Os homens estipularam uma marca a ser alcanada, Guajar Mirim, a ltima das cachoeiras, o trofu a ser conquistado e por mais difcil que fosse esse objetivo, ele seria buscado e conquistado.

O inicio era Santo Antnio das Cachoeiras que mais uma vez recebia visitantes que possuam o objetivo de cortar a floresta em nome da modernidade, da economia mundial e da borracha. Mais uma tentativa seria feita com o objetivo de vencer a mata fechada, seus rios, lagos e pntanos desconhecidos. Os homens tentam mais uma vez rasgar a fronteira final, o mais distante rinco no extremo oeste brasileiro no inicio do ano de 1878. Apesar das experincias passadas, um clima de aventura se instala junto nova empresa, que pretende montar uma grande estrutura para dar cabo de to difcil misso.

Estava em curso a primeira grande obra dos Estados Unidos fora de seu territrio, era como se estivessem repetindo a epopia americana de conquista do oeste selvagem, mais agora, a regio era outra, completamente desconhecida e inspita. A obra na obscura floresta era motivo de orgulho e honra para a jovem nao que pretendia assumir a liderana na economia e poltica mundial.

Um grupo composto por engenheiros, e centenas de operrios foi se alojando sobre as barrancas do Rio Madeira, vieram em busca da localidade de Santo Antnio das Cachoeiras, onde iniciariam as obras da Madeira Mamor. De 27

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imediato, foram atacados por insetos de toda natureza: suvelas, piuns, mosquito mutucas, formigas estranhas como a Jiquitaia e a terrvel Tucandeira, borrachudos e carapans de toda a sorte, aranhas e outros insetos completamente desconhecidos alguns operrios j se apresentavam febris, outros com diarrias, estavam impossibilitados de trabalharem.

Foram muitas as mortes. O objetivo de se construir mais de trinta quilmetros de trilhos no foi conquistado. Desses, somente trs mil e oitocentos metros foram assentados, aps oito meses de fatigante trabalho.

A primeira parte da expedio; como nos conta Neville Craig, (traduo) So Paulo 1947; em sua obra: Estrada de Ferro Madeira Mamor, chegou em Santo Antnio, pelo vapor Arari, e aps 117 dias de trabalhos, foram assentados 3.800 metros de vias permanentes, sobre os quais estavam prontas para trafegar uma locomotiva e uma gndola.

No dia quatro de Julho de 1878 foi feita uma solenidade para inaugurao dos trs mil e oitocentos metros de ferrovia, em meio a tantos problemas, era uma tentativa para se revigorar a coragem nos operrios que abatidos pelas imensas dificuldades, no possuam mais qualquer expectativa positiva sobre a obra.

Foi um dos poucos momentos festivos, uma alegria amarela, fnebre tomava conta dos rostos abatidos. Realizaram uma pequena cerimnia dando inicio ao ato de inaugurao dos primeiros quilmetros de trilhos. possvel que tenham cantado o hino Americano e homenageado os mortos. Embarcaram na pequena locomotiva e para espanto e desespero de todos, em mais um momento em que a histria parece querer marcar a vida humana para toda a eternidade, onde os 28

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espritos da floresta pareciam convencidos da natureza nociva do empreendimento, mais uma vez se manifestaram com o objetivo de amaldioar os homens e suas coisas. Foram claros e diretos em seu recado. Aquela pequena locomotiva, smbolo do homem, sua tecnologia e civilizao, tombou na primeira curva de forma impressionante, abatendo definitivamente qualquer nimo que ainda pudesse existir entre os que ousaram superar limites e condies para o qual jamais estiveram preparados em suas vidas.

Um profundo desespero tomou conta de todos, no houve mais como ficar no canteiro de obras do Porto de Santo Antnio das Cachoeiras, retiraram-se no dia 19.08.1879, e mais uma vez se difunde no exterior a idia, nem com todo o dinheiro do mundo, e metade de sua populao se construiria em Santo Antnio a Ferrovia Madeira-Mamor.

Com tantos problemas, a construo da ferrovia fora suspensa, no dia 19 de agosto de 1879. A regio continuou habitada por seringueiros e seringalistas, pois a borracha a cada momento se tornava mais valorizada no cenrio internacional. Grandes levas de nordestinos so recrutados pelos Coronis de Barranco.

Neste meio tempo, duas comisses so enviadas para estudarem o trecho encachoeirado dos Rios Madeira e Mamor, pois o Governo Brasileiro que tinha a sua frente o Imperador Dom Pedro II, comea a ter alguma preocupao com a regio, pois as informaes acerca da localidade so as piores possveis.

Foram encaminhadas as comisses dos engenheiros Carlos Morsing em 1883 e a comisso Pinkas em 1884, com o objetivo de se desenvolver amplos estudos topogrficos para saber da viabilidade de construo da ferrovia. 29

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As obras da Estrada de Ferro Madeira-Mamor, somente sero retomadas mais tarde aps o Tratado de Petrpolis em 1903.

O TRATADO DE AYACUCHO E PETRPOLIS.

Ao estudarmos o Primeiro Ciclo da Borracha, dois tratados destacam-se: Tratado de Ayacucho assinado em 1867 e o Tratado de Petrpolis 1903. Ambos surgem como iniciativas diplomticas que objetivam contornar os litgios existentes nesta longnqua regio que se tornara alvo dos interesses internacionais em funo de seus ricos e vastos seringais.

O Tratado de Ayacucho 1867, conhecido tambm como Munhoz Neto, foi promovido dentro do contexto da Guerra do Paraguai 1864-1870. O Brasil em funo da conjuntura da guerra, precisava se aproximar da Bolvia, o que ocorreu quando da aprovao deste tratado de navegao, amizade, limites, fronteiras e extradio. A Bolvia concedia tambm um vasto territrio que percorre a margem esquerda do rio Madeira entre Calama, povoado de Humait at a sua nascente em Vila Murtinho. Antes do tratado a margem esquerda referente ao trecho citado no rio Madeira era ento boliviana.

Uma outra questo importante tambm no tratado, era que j se negociava a construo de uma ferrovia superando as cachoeiras e corredeiras do Madeira,

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para o transporte e posterior comrcio da borracha. Essa questo ser ratificada pelo Tratado de Petrpolis em 1903.

Com o advento da borracha, milhares de Nordestinos foram recrutados com o objetivo de resolver o problema da falta de mo de obra nos seringais. Problemas relacionados seca que historicamente assola a regio nordestina, aliada falta de emprego e renda tornaram esses pobres trabalhadores um alvo fcil para os aliciadores pagos pelos Coronis de Barranco, (nome dado aos grandes latifundirios proprietrios dos seringais). Aqui, chegavam acabados, esfarrapados, famintos e mal vistos, eram distribudos para as colocaes, nome dado s localidades onde eram assentadas as famlias. Os novos visitantes logo percebiam a realidade cruel da nova vida em meio imensido verde, lentamente aprendiam a lidar com a floresta e seu universo, a vida seguia o ritmo moroso das guas desses rios preguiosos, principais caminhos amaznicos. Aprendiam tambm a manusear a faca de cortar seringa, manusear o remo, a poronga e todo o processo de defumao da borracha na montagem das pelas. Eram inseridos em um mundo diferente onde as normas eram impostas pelos Coronis de Barranco a seus jagunos e a floresta. O ponto de encontro era o barraco, espcie de bodega onde os seringueiros comerciavam a borracha e onde os preos favoreciam sempre ao Coronel de Barranco, causando uma eterna dependncia econmica .

Foi nesse contexto, que os trabalhadores dos seringais, acabaram por invadir a Bolvia, gerando um grave problema diplomtico envolvendo as fronteiras de cada pas.

Com a incapacidade de promover seus seringais e deles extrair lucros, a Bolvia decidiu arrendar a regio do Aquiri, como era conhecido o Acre, para um 31

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agrupamento empresarial multinacional formado por belgas, franceses e americanos, entre outros.

Aps alguns conflitos onde se destacaram as figuras de Galvez, O Imperador do Acre e Plcido de Castro O Libertador do Acre, a questo se resolveu atravs da assinatura do Tratado de Petrpolis em 1903.

Segundo o tratado, o Brasil que foi representado pelo Baro do Rio Branco, se comprometeu pagar a Bolvia, dois milhes de libras esterlinas e a construir a Estrada de Ferro Madeira Mamor para que a mesma tivesse uma sada rumo ao oceano atlntico, transportando assim os seus produtos.

Um outro problema apareceu, pois teve ainda que pagar uma outra indenizao no valor de 114 mil libras esterlinas em funo do arrendamento da rea em litgio ao Bolivian Sindicate que nunca atuou na regio.

O Brasil assumiu o compromisso de construir a ferrovia. Logo deu inicio ao processo licitatrio para o mais rpido possvel entregar a obra e ficar quitado com seu vizinho a Bolvia.

Uma licitao foi aberta para que se contratasse a empresa construtora da Ferrovia. O vencedor da licitao foi o Brasileiro Joaquim Catramby, que logo repassou a concesso ao mega empresrio, o Norte Americano Percival Farquar, que era conhecido como o Dono do Brasil.

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A Estrada de Ferro Madeira Mamor, era apenas mais um dos vrios empreendimentos do Grupo Farquar no Brasil.

Fraudes, negociatas e corrupo, marcam os negcios que envolvem a Estrada de Ferro Madeira Mamor.

Percival Farquar, era o principal representante do imperialismo Americano no Brasil, atuava em grandes empreendimentos como: Portos, Empresas de Navegao, e Madeireiras, foi um dos grandes responsveis por parte da destruio ambiental da Mata Atlntica no Sul e Sudeste do Brasil, quando no inicio do sculo XX, instalou l uma das maiores serrarias da Amrica do Sul, gerando conflitos terrveis como a Guerra do Contestado.

Percival Farquar representava o capitalismo espoliativo do inicio do sculo XX, e como tal, no possua qualquer compromisso com o real desenvolvimento de nossa ptria, seus interesses imperialistas produziram srios problemas para o Brasil.

Farquar ambicionava as riquezas existentes nessa extensa regio, desde minrios presentes em solo Boliviano, como a possibilidade de extrao de ricos produtos nos vales do Madeira, Mamor e Guapor. Sabia da necessidade de se montar uma grande estrutura para viabilizar seus planos imperialistas.

Informado das iniciativas anteriores, contratou a empreiteira Norte Americana, May Jekill and Randolph. A mesma se instalou por orientao do relatrio produzido pelo engenheiro Carlos Morsing que estudou a regio em 1883, sete quilmetros abaixo de Santo Antnio das Cachoeiras.

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Com essa medida, a localidade de Santo Antnio, foi condenada ao abandono, pois com a mudana do ponto inicial de Santo Antnio das Cachoeiras para o Porto Velho dos Militares, a antiga vila, fundada em 1728, pelo jesuta Joo Sampaio foi declinando, hoje poucas marcas restam deste perodo.

Um estudo recente, efetuado pelo Escritor Antnio Cndido, baseado em ampla pesquisa bibliogrfica e documental, aponta que o inicio das obras da Estrada de Ferro Madeira Mamor, em Porto Velho, se deu em 1908, tive a preocupao de ouvir e analisar atentamente as argumentaes e documentos apresentados pelo professor Cndido, procurei dialogar com outros escritores e acabei por me convencer de sua tese.

Porto Velho, como um povoado que surge tatuado na ferrovia Madeira Mamor, tem portanto sua origem no inicio de 1908, qualquer obra frrea anterior se deu em Santo Antnio das Cachoeiras.

Vamos citar um artigo escrito pelo engenheiro Joaquim Catramby, para a Revista do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. Joaquim Catramby, foi quem venceu a licitao para construir a ferrovia Madeira Mamor. A afirmativa de algum que estava completamente envolvido na questo, um dos responsveis pela execuo da obra, ao lado de Percival Farquar um dos principais atores polticos da epopia Madeira Mamor.

Se a estrada tivesse tido o seu ponto inicial em Santo Antnio, ter-se-ia podido contar o quarto desastre da Madeira Mamor. Levado por essa convico, e apesar do Tratado de Petrpolis determinar taxativamente que esse fosse o ponto de partida da estrada, procurei o ento Ministro de Indstria, Viao e obras Pblicas, Doutor Miguel Calmon, a quem expus as vantagens que me levaram a pugnar pela 34

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idia de se dar comeo a estrada em Porto Velho. Manifestando-se de acordo com essa idia, o Ministro aprovou, pelo aviso n2, de 16 de janeiro de 1908, a preferncia dada a essa localidade para inicio das obras da via frrea.

A cidade de Porto Velho foi surgindo aos poucos, medida que a construo da ferrovia foi recebendo mais investimentos.

preciso ressaltar que a ao imperialista de Percival Farquar na regio foi um dos grandes empreendimentos comerciais do inicio do sculo XX, no se tratando unicamente da construo de uma ferrovia, e sim de um grande conglomerado empresarial composto por: Vastos seringais, Companhia porturia, Companhia de Navegao, Serraria, Fbrica de gelo, Fabrica de biscoito, Moradia para trabalhadores, Oficinas, Hospital, etc.

Esse empreendimento deu origens a vrias localidades e impulsionou outras que estavam abandonadas, podemos citar: Porto Velho, Santo Antnio das Cachoeiras, Jaci Paran, Vila Murtinho e Guajar Mirim.

A regio possua um terrvel histrico de problemas. s lembrarmos das iniciativas anteriores. Com esse quadro complicado, a nova iniciativa precisou exportar trabalhadores de vrias naes do mundo para formar a mo de obra na construo da Ferrovia e consequentemente nossa cidade.

Porto Velho, j nasceu poliglota, pessoas vindas de vrias nacionalidades, aqui praticavam sua lngua. Heterognea, os trabalhadores possuindo origem diferente, adotavam seus modelos culturais, inclusive a religio. Multirracial, os novos operrios possuam origens diversas, eram: Negros, Europeus, ndios, 35

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Asiticos etc. Globalizada, os cinco continentes estavam representados na regio, e na economia, se utilizava a moeda Inglesa, a libra esterlina como uma espcie de matriz, por ter a melhor cotao no cenrio capitalista da poca.

Na tentativa de combater as vrias doenas que assolavam a regio, como a malria, que transmitida pelo mosquito anofelino, e amenizar o drama sofrido pelos trabalhadores que eram tambm acometidos por outras doenas tropicais, foi construdo no quilmetro 02, bem prximo do ponto inicial da Ferrovia em Porto Velho, uma unidade hospitalar denominada: Hospital da Candelria. Em 1910, Oswaldo Cruz visitou as obras da Ferrovia Madeira Mamor, acompanhado pelo mdico Belizrio Pena, para desenvolver um plano de combate s epidemias que assolavam a regio e as obras de construo da Estrada de Ferro Madeira-Mamor. O resultado desta viagem foi um plano de profilaxia da doena, do qual constava a utilizao de mosquiteiros e a aplicao compulsria de quinino nos trabalhadores. Essa unidade hospitalar foi estruturada com o objetivo de atender as necessidades da poca, porm, no foi suficientemente capaz de resolver os problemas e dramas vividos pelos trabalhadores da ferrovia, no obstante a presena de vrios mdicos especializados em doenas tropicais. Estes mdicos que j haviam atuado em outras localidades inspitas no mundo, constataram que nenhum outro lugar se comparava a nossa regio.

Um nmero grande de trabalhadores negros foram recrutados e trazidos para c. Eram de vrias localidades como: as Guianas, Granada, Jamaica e Ilha de Barbados entre outros. Ficaram conhecidos como barbadianos, apesar de nem 36

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todos, serem provenientes da ilha de Barbados. mais coerente defini-los como antilhanos.

Acreditava-se e divulgavam no perodo, que os negros fossem mais resistentes ao calor e a malria. Nada comprovado, milhares de trabalhadores independentes da cor, morreram vitimados pela malria e outras doenas. A idia de que o negro era mais resistente, na verdade foi mais um golpe contra o povo negro, que ao longo da histria do Brasil foi vtima de muitas aes racistas, muitas delas veladas. Essa postura vitimou um povo que tem na sua histria uma contribuio fantstica com a construo do nosso Pas.

A maior parte da riqueza produzida historicamente no Brasil foi resultado do trabalho do povo negro, a eles devemos muito.

Boa parte da elite fundiria Brasileira construiu sua riqueza tendo por base a mo de obra escrava negra, e ainda hoje faz de conta que no sabe ou no viu, desconhecendo sua importncia, e no atua no sentido de fazer justia junto aos milhares de problemas gerados por essa discriminao histrica.

Ao longo de toda a histria do Brasil, os governos foram e ainda so dirigidos em sua maioria, por pessoas que aplicam teorias geradoras de desigualdades sociais concentrando as riquezas nas mos dos que sempre dominaram e foram detentoras de grandes posses, em detrimento de uma infinita maioria que carece de quase tudo.

As pessoas que ocupam os grandes cargos nos Governos representam uma tradio elitista e acima de tudo branca, no atuando de forma eficaz no sentido

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de amenizar os problemas gerados por quatrocentos anos de escravido e mais de cem anos de racismo velado.

Essa afirmativa normalmente questionada por aqueles que esto no poder, mais podemos comprovar a ineficcia das polticas sociais no que diz respeito ao povo de origem africana. O resultado de tudo isso so os bolses de misria espalhados nas periferias de todo o Estado Nacional, onde em meio aos seus habitantes, se destacam as populaes de origem Africana.

A Ferrovia Madeira Mamor foi concluda em 1912, ficou com 364 quilmetros, em 1922 recebeu mais dois quilmetros totalizando 366, por muito tempo foi o centro aglutinador de pessoas em nossa regio, smbolo primeiro de nossa histria, um Grande Mito Fundador da Amaznia e consequentemente de Porto Velho, a atual Capital do Estado de Rondnia.

Devemos ter em nossas mentes e coraes, que entre os anos de 1872 e 1912, homens ferozes, destemidos, corajosos, em sua maioria sem rostos, nomes e histria, pois sobre eles, pouco sabemos, deram inicio a uma ferrovia, no sabiam eles, que na verdade estavam tocando o corao de vrias geraes futuras, e hoje, cidados de Porto Velho so acolhidos em uma localidade erguida em meio ao desespero, dor, sofrimento, saudade, sonhos e esperanas de pessoas vindas de vrios lugares do Brasil e do mundo, que h mais de cem anos se debateram contra uma selva desconhecida e perigosa em busca de um mundo melhor.

A herana desses homens para todos que aqui residem: O Estado de Rondnia.

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Com as obras da ferrovia concluda, as pessoas que habitavam os pequenos povoados amaznicos que surgiram ao longo de seus trilhos pressentiam que algo estava errado, e infelizmente a grande mola econmica que dera impulso aos vrios investimentos na regio dava claros sinais de decadncia. A inexistncia de uma poltica nacional e regional, preocupada com o controle de nossas fronteiras, com o combate ao contrabando de mudas, sementes e outros produtos, permitiram que os Ingleses levassem em 1876 de nossa regio, milhares de mudas e sementes da Hevea brasiliensis, a seringueira, planta que existia somente em territrio Americano, propriedade biolgica da nossa Amaznia e de todos os seus povos, foram cultivadas e produziram com grande sucesso l no sudeste Asitico.

Os seringais l do outro lado do mundo, to distantes de nossa regio, passaram a produzir a goma elstica com mais eficincia, com melhores preos e facilidades para o transporte.

O estrago foi grande, a regio outrora rica e prspera, pelo menos para a elite local, passou a amargar crises e problemas, atingindo uma profunda decadncia.

O mercado e o sistema capitalista, no possuem Ptria, no se importando com as conseqncias terrveis sofridas pelas pessoas que habitam as regies onde so provocadas as crises. Os grandes empreendimentos capitalistas mundiais procuraram as facilidades oferecidas pelos seringais Malaios que na poca eram controlados pelos Ingleses. O mais importante para esse regime econmico sempre foi o lucro e nada mais.

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Na Amaznia ficou um povo sem perspectivas, e em nossa regio uma estrada de Ferro sem motivaes econmicas para seu perfeito funcionamento, estrada nica no mundo, com um nvel de dificuldades humanas e financeiras em sua construo jamais enfrentadas pelo homem em outra regio. Trabalhadores e engenheiros da Estrada de Ferro Madeira Mamor. Foto DanaMerril. Na inaugurao do trecho Porto Velho, Jaci Paran

Em meio a esse quadro, pessoas desencantadas em uma mistura de espanto, agonia e tristeza. De um momento de euforia e prosperidade ao desalento econmico, a prosperidade se foi rpido como uma chuva de vero.

Ao seu redor Porto Velho, o povoado que surgia ia sentindo as influncias das mudanas na economia, lentamente se acomoda ao apito agora melanclico do trem, seguindo seu ritmo, embalado pelo chacoalhar de seus vages.

Percival Farquar, que havia investido naquele projeto, antes to promissor, percebe o problema e tenta o mais rpido possvel se desfazer da ferrovia e acaba mais tarde por repassar a mesma para uma empresa Anglo- Canadense que j era concessionria da Porto of Par e Brasilian Railway que eram por sua vez as maiores acionistas da Madeira Mamor.

RONDON E SUA ATUAO NO EXTREMO OESTE BRASILEIRO.

A atuao do Marechal Cndido Mariano Rondon, foi fundamental para se revelar ao restante do Brasil, o extremo oeste brasileiro. Enganam-se os que associam comisso Rondon, somente a construo de uma linha telegrfica entre Cuiab, capital do Mato Grosso e Santo Antnio das Cachoeiras, localidade at ento inconveniente para a ocupao humana. 40

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Rondon liderou uma expedio composta por profissionais de vrias especialidades que desenvolveram estudos como Geologia, Geografia e estudos mineralgicos foram realizados produzindo farto material sobre o assunto.

Foi na expedio que se realizou os primeiros estudos geogrficos da regio, com o levantamento do relevo, bacias hidrogrficas, clima e vegetao. No aspecto geogrfico, devemos destacar os estudos de fronteiras, que serviram para definir a demarcao entre o Brasil e a Bolvia.

Rondon se destacou nacional e internacionalmente por suas preocupaes com os povos indgenas, que sofriam constantes massacres sem a mnima atuao do Estado. Como criador e chefe do Servio de Proteo aos ndios-SPI, atual

FUNAI, Fundao Nacional do ndio, como presidente do rgo, procurou atuar em defesa dos povos indgenas.

Muitos buscam ainda uma definio sobre a trajetria de Rondon, se era matador de ndios, ou seu real protetor, o evidente que Rondon atuou em uma poca onde o ndio bom era o ndio morto. Nos relatos sobre sua trajetria, temos sempre em destaque as preocupaes desse grande desbravador como algum preocupado com os povos indgenas.

A idia de herosmo que temos desvirtuada pela historiografia oficial, que construiu personagens perfeitos, completamente virtuosos e comprometidos com o ideal elitista, branco, republicano, cristo, capitalista, racista e excludente.

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Rondon no pertencia a esse quadro, pois era descendente de ndios e adorava atuar em campo distante dos benefcios oferecidos pelos altos cargos polticos e militares. Rondon a exemplo de uma lista imensa de outros homens, demonstrou incrvel coragem e determinao ao atuar em regies to inspitas do interior do Brasil. Deve ser citado ao lado de Antnio Rolim de Moura Tavares, Domingos Sambucet, Ricardo Franco de Almeida Serra, Francisco de Melo Palheta, Luis de Albuquerque Melo Pereira e Cceres, Os Trabalhadores dos Seringais e da Madeira Mamor, Apoena Meireles, Os Cacaeiros, que chegaram nos ltimos quarenta anos nessa regio para construrem o atual Estado de Rondnia, as centenas de bandeirantes que desbravaram a regio, o povo negro, que em toda a histria do Brasil lutou e luta por sua dignidade e os povos indgenas, talvez os mais atingidos pela locomotiva do desenvolvimento. Que ainda sobrevive, agonizando, mas lutando, sem desistir, ou se entregar completamente.

Rondnia, localizado no extremo oeste brasileiro foi colonizada por gente de muita garra, que merece muito respeito, pena que muitos traram a sua causa de desenvolvimento, produo de riqueza e renda, chegaram ao poder e nos envergonham, mais esses, vo compor a parte infame da histria, e sero marcados para toda a eternidade, pois a histria no perdoa ratos e canalhas.

A ERA VARGAS.

Getlio Dorneles Vargas chegou ao poder atravs de um golpe em 1930, alguns historiadores chamam de Revoluo de 30, o fato que tivemos um momento de grandes transformaes em nosso Pas. Getlio trazia na bagagem um conjunto de idias inovadoras, Indstria, Nacionalismo, Trabalhismo, etc.

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O nacionalismo Varguista pregava a adoo de uma prtica poltica patritica, com uma ojeriza ao internacionalismo to comum ao pensamento liberal, logo, Getlio inicia um processo de nacionalizao das Empresas estrangeiras no Brasil. Isso foi possvel, pelo fato do capitalismo mundial estar sofrendo uma profunda crise gerada entre outros fatores pela quebra da bolsa de Nova Iorque.

Em 1929, as empresas estrangeiras que estavam instaladas no Brasil ficaram completamente arrasadas por conta da crise. Getlio Vargas se encantou com a teoria fascista, pois estvamos vivendo o perodo conhecido como: O Entre Guerras, perodo que separou a Primeira Guerra Mundial 1914 1918, da Segunda Guerra Mundial 1929 1945.

O Fascismo foi adotado pela Itlia de Benito Mussolini, uma doutrina poltica que se assemelha ao Nazismo Alemo, defendia idias como: nacionalismo radical, estatizao da economia, poder centralizado nas mos de um nico lder, racismo, etc.

Getlio gostou da teoria totalitria, sua poltica trabalhista tinha um forte apelo a essas idias.

Ao assumir o Governo Brasileiro em 1930, aps um golpe de Estado, Getlio se aproximou do movimento tenentista, e se afastou das foras polticas tradicionais e conservadoras do caf com leite.

Nesse contexto surge um importante personagem de nossa histria, Aluzio Pinheiro Ferreira, que vai se tornar um dos importantes caciques polticos da regio. O Coronel Alusio Ferreira em 1924 participou do movimento revolucionrio entre

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Manaus e Belm. Em 1925 Aluzio j se encontrava no seringal de Paulo Saldanha e, no ano seguinte, foi para o seringal de Amrico Casara. Apadrinhado por Getlio e em nome do Nacionalismo Varguista

nacionalizou a Estrada de Ferro Madeira Mamor, assumindo a sua direo em 1931.

Diferente dos Governos anteriores, Getlio Vargas dava inicio a um governo que enxergava as verdadeiras dimenses do Brasil, no via somente o Sul, Sudeste e Nordeste, ele traou polticas para todo o Brasil, e especialmente para a regio que se transformaria mais tarde em Territrio Federal do Guapor no ano de 1943.

A nacionalizao trouxe

um alento ao municpio de Porto Velho, pois

diante do quadro desastroso da economia da borracha, as perspectivas de desenvolvimento regional eram pssimas, agora, com um governo patritico, defensor dos seus filhos e filhas, os nimos melhoravam, e caminhos comeavam a ser apontados.

Os dois primeiros Governos de Getlio, o Governo Provisrio 1930 1934, e o Governo Constitucional de 1934- 1937, foram marcados por um conjunto de crises polticas e econmicas caractersticas do Entre Guerras. O mundo passava por grandes problemas, e nosso Pas sofria os reflexos dessa crise.

Em 1937, Getlio Vargas deflagrou um novo golpe poltico, instaurando o Estado Novo 1937 1945. Este novo momento do Governo Vargas, vai desenvolver uma grande campanha chamada: A GRANDE MARCHA PARA O OESTE, tendo o objetivo de ocupar as regies interioranas do Brasil. Foi utilizado um lema que afirmava o seguinte: VAMOS LEVAR OS HOMENS SEM TERRA, PARA AS TERRAS SEM HOMENS, assim se desenrola uma grande ao Governamental na ocupao 44

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territorial do grande vazio demogrfico que se observava h setenta anos no interior do Brasil.

Durante este perodo, o Mundo foi balanado por uma guerra que atingiu todos os nveis imaginrios de terror, o homem assumiu o topo da monstruosidade, a condio de ser parasitrio, capaz de destruir o seu prprio planeta. Por mais que digamos, no conseguiremos demonstrar o que foi a Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945. Atingiu todos os Continentes e suas conseqncias ecoaro pela eternidade.

O Brasil, passava por um momento poltico onde Getlio Vargas se fortalecia e detinha o controle sobre o Governo, tanto que atravs de mais um golpe se manteve no poder, O Golpe do Estado Novo, 1937. Getlio era simptico ao nazifacismo, doutrina poltica ideolgica que defendia uma brutal estatizao. Tudo passava a ser controlado pelo Estado, um Patriotismo doentio, e o Poder centralizado na mo do Governante, para os Alemes, o Fuhrer, para os Italianos, o Dulce. Tanto o Nazismo como o Fascismo, defendiam o Anti-semitismo, perseguio aos judeus e demais povos que no possussem a mesma origem, neste racismo declarado, os judeus foram os mais perseguidos.

Getlio admirava Benito Mussolini Governante Italiano, e Adolf Hitler, Governante Alemo, ao mesmo tempo em que detestava os ideais Liberais, representados pelos Estados Unidos da Amrica. Com a deflagrao desta terrvel guerra, o Brasil teria que definir sua posio, e Getlio Vargas, estava em uma situao complicada, pois a Amrica Latina, desde a segunda metade do sculo XIX, havia se tornado uma espcie de quintal dos Estados Unidos da Amrica, pois as polticas americanas na Amrica Latina foram intensas, como: a Doutrina Monroe, A Amrica Para os americanos, e Poltica do Big-Sthick, O Grande Porrete. 45

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Getlio foi coerente com a histria, e apoiou os Aliados, porm esse apoio se deu aps muito dilogo, ocorrendo inclusive a aprovao de um importante acordo, Os Acordos de Washington em 1942.

Como a Amaznia, e em especial a nossa regio surgem neste contexto de Era Vargas e Segunda Guerra Mundial, Porto Velho era uma cidade do Estado do Amazonas, havia se desmembrado do Municpio de Humait, isso como ns j sabemos ocorreu em 1914. Ocorre que no inicio da guerra, o Japo que estava apoiando os Alemes e Italianos, resolveu invadir a Malsia, possesso Inglesa localizada no sudeste Asitico, o grande fornecedor de borracha para as indstrias mundiais. Devemos lembrar que a Amaznia vivia a decadncia de seus seringais, e agora com este problema os Aliados precisavam urgentemente de um fornecedor, foi ai que entrou o Governo Vargas e os Acordos de Washington.

Getlio em conjunto com os Estados Unidos, acordou o seguinte: O Brasil forneceria toda a borracha necessria aos Aliados, permitiria que os Estados Unidos instalassem bases militares no Nordeste Brasileiro, que serviriam de apoio para as suas foras militares, em troca o Brasil receberia investimentos financeiros para montagem de uma grande infra-estrutura industrial. Foi assim que surgiram, a Companhia Siderrgica Nacional-CSN, situada em Volta Redonda, Cidade do Estado do Rio de Janeiro, que hoje em dia uma das maiores produtoras de ao do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce, uma das maiores mineradoras do mundo e a extinta Fbrica Nacional de Motores-FNM. Ns podemos afirmar com muita tranqilidade, que o desenvolvimento Industrial Brasileiro deve muito ao trabalho dos Soldados da Borracha, podemos afirmar tambm, que o papel mais importante desenvolvido pelo Brasil, ao contrrio do que muitos historiadores do Nordeste, Sudeste e Sul afirmam, foi desempenhado 46

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na Amaznia, foi a luta nas selvas para a extrao da borracha, foram milhares de nordestinos enfrentando a malria, isolamento geogrfico, o calor escaldante da maior floresta tropical do mundo e suas feras. Muitos quando falam do Brasil na Segunda Guerra Mundial, viram os olhos para a Europa e s enxergam os brasileiros que foram parar na Itlia, claro que os Pracinhas Brasileiros merecem respeito, porm poucos reconhecem a bravura, herosmo e importncia do Soldado da Borracha.

O Governo Federal, na poca visitou a Amaznia, atravs da visita de Getlio Vargas Belm, Manaus e Porto Velho. Infelizmente, aps a nova crise dos seringais, no reconheceu os pobres Soldados da Borracha, que muitas vezes para conseguirem suas aposentadorias tiveram que se humilhar junto ao INPS, (Instituto Nacional de Previdncia Social). Muitos foram os Soldados da Borracha que no conseguiram se aposentar.

Na inteno de corresponder ao acerto feito atravs dos Acordos de Washington, o Governo Varguista criou o Servio de Mobilizao de Trabalhadores para a Amaznia SEMTA, que recrutava os nordestinos promovendo sua mudana para a Amaznia, criou tambm a Comisso Administrativa de Encaminhamento de Trabalhadores para a Amaznia CAETA, que cuidava da burocracia em relao transferncia dos Soldados da Borracha, o Banco da Borracha, hoje Banco da Amaznia S.A. que financiava a economia da borracha. O seu primeiro gerente em Porto Velho, foi o Sr. Raimundo Canturia. Ainda tivemos mais o Servio de Abastecimento do Vale Amaznico - SAVA, que se preocupou em montar toda a infraestrutura regional oferecendo as condies para a viabilizao da produo e seu escoamento.

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A Amaznia, novamente ganha importncia e volta ao cenrio Nacional e Internacional. Dentro dos planos Governamentais, sero criados cinco novos Territrios Federais: O Territrio Federal do Amap, do Rio Branco, de Ponta Pora, do Iguau e finalmente o Territrio Federal do Guapor, em 13 de Setembro de 1943.

O Territrio Federal do Guapor, segundo o Pesquisador Esrom Penha de Menezes, em sua obra Retalhos Para a Histria de Rondnia, na pgina 153, nos informa:

O Territrio Federal do Guapor ser dividido em quatro municpios, com as denominaes de Lbrea, Porto Velho, Alto Madeira e Guajar Mirim; o primeiro, compreender parte dos Municpios de Lbrea e Canutama, do Estado do Amazonas; o segundo, a rea do municpio de Porto Velho, que pertencia ao mesmo Estado; o terceiro, parte do Municpio do Alto Madeira, do Estado do Mato Grosso; o quarto, a rea do Municpio de Guajar Mirim e parte do Municpio de Mato Grosso, que pertenciam ao ltimo Estado acima referido.

Logo mais tarde, o Estado do Amazonas recebe de volta o Municpio de Lbrea. Depois de criado o novo territrio, foi nomeado seu primeiro Governante, o Coronel Alusio Pinheiro Ferreira.

A criao do Territrio Federal do Guapor foi um passo fundamental para o desenvolvimento de toda a regio do Madeira, pois com essa deciso a regio passa a ter espao junto ao Governo Federal, e suas reivindicaes comeariam a serem ouvidas sem atravessadores ou qualquer intermediador. As cidades que compunham o novo Territrio festejaram a notcia, pois em meio a tantas dificuldades, sacrifcios e abandono Poltico a regio ganhava um grande alento.

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Na ocasio foi nomeado o Prefeito do municpio de Porto Velho que se tornou tambm a capital do novo Territrio. Foi empossado o ex-ferrovirio, Mrio Monteiro. A cidade possua mais ou menos trs mil habitantes na poca, e a economia girava em torno da Estrada de Ferro Madeira Mamor e da produo da borracha, pois com a Segunda Guerra Mundial, como j afirmamos, a borracha voltou ter importncia, agitando economicamente a regio.

Com o trmino da guerra em 1945, os Pases que compunham o eixo NaziFascista, foram derrotados, os Aliados saram vitoriosos, e uma nova Ordem Mundial surgiu.

De um lado, A Guerra Fria, os americanos e seu Capitalismo Liberal, do outro, a Unio das Repblicas Socialistas Soviticas, e sua economia Socialista. O restante dos pases vo se organizar de trs formas: ou se alinham com a proposta capitalista liberal americana ou com o Socialismo Russo. Ainda existia uma terceira possibilidade: a postura Independente. A verdade que de alguma forma a chamada Guerra Fria atingiu a todas as naes entre 1948, ano em que foi criado o Estado de Israel, e 1989, quando ocorreu a queda do Muro de Berlim.

O Brasil durante este momento, aps a II Guerra Mundial, tenta se organizar atravs de uma democracia Populista, o que ficou conhecido como: Repblica Populista, 1945 1964. Nesta fase republicana, tivemos seis presidentes, foram os Governos de Eurico Gaspar Dutra, 1946 -1951, Getlio Dorneles Vargas, que retornou ao Governo e acabou se suicidando em 1954, Caf Filho, terminou o seu mandato, Juscelino Kubtschek, 1956 1961, Jnio da Silva Quadros, 1961 -1962, ele acabou renunciando ao mandato presidencial aps seis meses de Governo e foi substitudo por Joo Goulart que ficou no Poder at 1964, quando ocorreu o Golpe Militar instituindo a 49

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ditadura no Brasil at 1985. Durante a repblica Populista, o Brasil adotou uma poltica internacional dbia, ora parecia apoiar os Estados Unidos e sua poltica liberal, em outro momento assumia uma independncia que causava estranheza aos americanos. Por outras vezes, tomou atitudes que claramente afrontava a doutrina poltica do Tio Sam, como no caso da condecorao a Ch Guevara, e o primeiro astronauta Russo Yuri Gagarin.

Sem falar da aproximao do ento Vice-Presidente Joo Goulart com a China de Mao Tse Tung, claro que estvamos vivendo um momento raro de democracia, mais a postura de liberdade no era condizente com nossa histria de dependncia aos Estados Unidos.

A postura independente afrontava o ideal americanizado de grande parte das foras armadas Brasileira. Precisamos lembrar que o temor comunista era mais dimensionado ainda em funo da revoluo Cubana.

Durante esta fase de Governo, quem mais marcou a nossa regio, o Territrio Federal do Guapor foi o Presidente Juscelino Kubitschek. No dia 17 de fevereiro de 1956, foi aprovada, a lei que autorizava a mudana do nome do Territrio Federal do Guapor, para Territrio Federal de Rondnia, foi tambm no Governo JK, que ocorreu a obra de abertura da Br 029, que se tornaria mais tarde a Br 364. Muito antes, o ento Governador do Territrio Federal do Guapor, Coronel Aluzio Pinheiro Ferreira iniciara a abertura de uma rodovia, atingindo a marca dos 55 km, como nos informa o Escritor Vitor Hugo em sua obra Cinqenta Anos do Territrio Federal do Guapor, na pgina 54:

Foi no dia 13 de janeiro de 1945: nesta data, Aluzio Ferreira, primeiro Governador do Territrio Federal do Guapor menos de um ano, portanto, desde a 50

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sua instalao a 29-01-44 a criao da 2 Companhia Rodoviria Independente, cuja misso era construir uma rodovia de segunda classe que ligasse Porto Velho Vilhena, no extremo sul do Territrio, cerca de 800 quilmetros dando assim o primeiro passo concreto para sair do isolamento terrestre com o resto do Brasil.

No ano de 1960, o Presidente Juscelino Kubitschek iniciou as obras de abertura dessa estrada que foi fundamental para o desenvolvimento do futuro Estado de Rondnia, e para a Capital Porto Velho. No podemos deixar de citar o grande empenho do Coronel Paulo Leal, que poca Governava o Territrio Federal de Rondnia.

Com a rodovia aberta, tambm se abriram os caminhos para um novo surto migratrio, agora, promovido pelos Governos Militares e sua estratgia de proteo, colonizao e defesa da Amaznia.

A COLONIZAO RECENTE DE RONDNIA.

Foi dentro deste contexto que ocorreu a Colonizao Recente de Rondnia. A Amaznia precisava ser protegida, e quem deveria defender a Amaznia seno o povo Brasileiro. Esse grande vazio demogrfico era perigoso, facilitando uma possvel invaso Comunista, pensamento deformado que s existia na cabea dos militares.

O Golpe Militar de 1964 contou com forte apoio logstico e ideolgico dos Estados Unidos que havia iniciado por l a caa aos Comunistas. Dentro de um modelo militar tupiniquim a fobia de combate ao Comunismo se alastrou rapidamente por todo o territrio nacional. 51

TRIBUNAL DE CONTASINSTITUTO DE ESTUDOS E PESQUISA CONSELHEIRO JOS RENATO DA FROTA UCHA IEP/TCE-RO Av. Presidente Dutra, 4229 Pedrinhas Porto Velho CEP 78903-900 Tel. (069) 3211 9021 FAX 3211 9146 [email protected]

Os militares, ao atingirem o poder em 1964, deram inicio a uma poltica radical de controle sobre os instrumentos polticos do Estado, deformando os instrumentos democrticos como sindicatos, associaes, movimentos populares e o legislativo que perdeu sua autonomia poltica.

Professores e estudantes foram perseguidos, muitas universidades foram trancadas com cadeados e vigiadas por soldados muito bem armados, o movimento estudantil e sindical foi obrigado a atuar na clandestinidade.

A intelectualidade ficou assombrada quando percebeu que as aes de combate ao livre pensamento no possuam limites, assistiram com perplexidade ao assassinato do operrio Manoel Fiel Filho e mais tarde a profunda covardia cometida contra toda sociedade brasileira. Quando divulgaram o suicdio do jornalista Vladimir Erzog, todos que possuam um mnimo de juzo sabiam que se tratava de uma armao, a verdade no demorou a surgir, Vlad, como era chamado pelos amigos, foi assassinado com requintes de torturas enlutando a socie