história do japão

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Cronologia: Eras do Japão Para entender melhor o Japão atual, é preciso conhecer sua história, desde os períodos remotos. Se retrocedermos no tempo, poderemos chegar até os homens que viveram em cada época e seu estilo de vida. Nessa primeira edição vamos mostrar como é dividida a história japonesa através dos períodos ou eras. Convidamos todos a fazerem essa viagem no tempo. 1. Era Jomon - Os homens viviam da caça e pesca, alimentando- se com carnes de veado, porco do mato, atum, salmão, mariscos e frutas como uvas e castanhas. No início, levavam uma vida nômade, descobrindo com tempo, o modo de produzir vasos de barro. Com isso, conseguem conservar e cozer os alimentos. Aos poucos, vão se agrupando e formando aldeias, fixando-se em determinados lugares. Nessa época, não havia nem ricos nem pobres. 2. Era Yayoi - O cultivo de arroz e instrumentos de metal são transmitidos do continente. Com a intensificação das atividades agrícolas, e aumento da populacão, nascem as diferenças sociais, a classe dos ricos e pobres. Pela primeira vez, o Japão é mencionado numa escritura chinesa. 3. Era Kofun - Nesta época, foram construídos muitos túmulos gigantescos em forma de montículos (Kofun), pelos clãs poderosos. Neles foram enterrados muitos objetos de metal, bonecos de barro, pedras preciosas, entre outros tesouros. No início do século 6, o budismo é transmitido ao Japão, sendo introduzida a escrita junto com sutras. 4. Era Asuka - Forma-se a dinastia Yamato, após sucessivas lutas entre os clãs. Em meados do século 7, seguindo o exemplo da dinastia Tang (China), realiza a “Reforma de Taika”, definindo a organização política, o sistema tributário, etc. O príncipe Shôtoku institui os “17 códigos da Constituição”, norteados nas doutrinas de Shintoísmo, Budismo e Confucionismo. 5. Era Nara - o Código Administrativo do Japão é outorgado. O budismo torna-se religião oficial. Por 7 vezes, são enviadas delegações culturais à China para absorver a sua cultura. Ao voltarem, elas divulgam budismo, confucionismo, estratégias militares, músicas tocadas na corte imperial, rituais das cerimônias, e, trazem inclusive inúmeros sutras, imagens de Buda e instrumentos musicais. É compilada a primeira antologia de poemas “Man’yoshu”, são escritos primeiros livros de história do Japão, “Kojiki” e “Nihon shoki”, e ainda, foi editado o primeiro tratado de geografia japonês, o “Fudoki”. Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only.

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Cronologia: Eras do Japão

Para entender melhor o Japão atual, é preciso conhecer sua história, desde os períodos remotos. Se retrocedermos no tempo, poderemos chegar até os homens que viveram em cada época e seu estilo de vida. Nessa primeira edição vamos mostrar como é dividida a história japonesa através dos períodos ou eras. Convidamos todos a fazerem essa viagem no tempo. 1. Era Jomon - Os homens viviam da caça e pesca, alimentando-

se com carnes de veado, porco do mato, atum, salmão, mariscos e frutas como uvas e castanhas. No início, levavam uma vida nômade, descobrindo com tempo, o modo de produzir vasos de barro. Com isso, conseguem conservar e cozer os alimentos. Aos poucos, vão se agrupando e formando aldeias, fixando-se em determinados lugares. Nessa época, não havia nem ricos nem pobres.

2. Era Yayoi - O cultivo de arroz e instrumentos de metal são

transmitidos do continente. Com a intensificação das atividades agrícolas, e aumento da populacão, nascem as diferenças sociais, a classe dos ricos e pobres. Pela primeira vez, o Japão é mencionado numa escritura chinesa.

3. Era Kofun - Nesta época, foram construídos muitos túmulos

gigantescos em forma de montículos (Kofun), pelos clãs poderosos. Neles foram enterrados muitos objetos de metal, bonecos de barro, pedras preciosas, entre outros tesouros. No início do século 6, o budismo é transmitido ao Japão, sendo introduzida a escrita junto com sutras.

4. Era Asuka - Forma-se a dinastia Yamato, após sucessivas

lutas entre os clãs. Em meados do século 7, seguindo o exemplo da dinastia Tang (China), realiza a “Reforma de Taika”, definindo a organização política, o sistema tributário, etc. O príncipe Shôtoku institui os “17 códigos da Constituição”, norteados nas doutrinas de Shintoísmo, Budismo e Confucionismo.

5. Era Nara - o Código Administrativo do Japão é outorgado. O

budismo torna-se religião oficial. Por 7 vezes, são enviadas delegações culturais à China para absorver a sua cultura. Ao voltarem, elas divulgam budismo, confucionismo, estratégias militares, músicas tocadas na corte imperial, rituais das cerimônias, e, trazem inclusive inúmeros sutras, imagens de Buda e instrumentos musicais. É compilada a primeira antologia de poemas “Man’yoshu”, são escritos primeiros livros de história do Japão, “Kojiki” e “Nihon shoki”, e ainda, foi editado o primeiro tratado de geografia japonês, o “Fudoki”.

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6. Era Heian - Os japoneses começam a criar cultura própria, após ter assimilado durante anos a cultura chinesa. A permissão de apropriação das terras para uso particular dos nobres e dos templos esfacelou o ideal do Código Administrativo do Japão, que era o de Estado controlar o povo e as terras. A criação do “kana” (fonogramas), permitiu o florescimeto da literatura, sendo escrito nessa época, o “Genji Monogatari”, que foi traduzido depois em várias línguas. Foi a época áurea da nobreza, em que foram criadas muitas obras de arte.

7. Era Kamakura - Surgimento da classe dos samurais e estabelecimento do shogunato. O budismo

passa a ser cultuado pelo povo também. Os mongóis tentam invadir o Japão por duas vezes, liderados pelo poderoso Khubilai Khan, mas nas duas vezes, o Japão foi salvo por vendavais (kamikaze = vento divino) que dizimaram a frota mongol. Surgem os monges Shinran, Nichiren e Dogen, fundadores das seitas budistas.

8. Era Muromachi - Época conturbada por guerras civis. Durante um curto período, houve até dois

imperadores no comando do país. As intermináveis guerras entre os senhores feudais, permitiram a ascenção dos mais fortes, mesmos daqueles de classe inferior. Início do comércio com a dinastia Ming (China), desenvolvendo as atividades econômicas feitas com moedas, importadas da China. Ocorre o primeiro contato com os portugueses que chegam à deriva no sul do Japão, trazendo a arma de fogo e o cristianismo.

9. Era Azuchi Momoyama - Nobunaga Oda e Hideyoshi Toyotomi vencem inúmeras batalhas e

conseguem unificar o Japão. Nessa época, os japoneses têm o primeiro contato com países da Europa e recebem influência do cristianismo. Para demonstrar o poder, são construídos grandes castelos, decorados com extremo luxo e requinte. Por outro lado, nessa mesma época, surgem a cerimônia do chá e o teatro Noh, que pregam a elegância da simplicidade .

10. Era Edo - Uma era bastante peculiar em que o país conheceu a paz durante mais de dois séculos.

Houve o fechamento dos portos para as nações estrangeiras e a proibição do cristianismo. Para manter o shogunato, a família Tokugawa, adota medidas rígidas e conservadoras, estabelecendo quatro classes sociais distintas: samurais, agricultores, artesãos e comerciantes. O Japão adota a filosofia confucionista e institui escolas nos feudos e templos. A queda do shogunato Tokugawa é provocada por dificuldades internas e pela abertura dos portos.

11. Era Meiji - Com a queda do shogunato Tokugawa e a restauração do poder imperial, faz-se uma

ampla reforma. A ocidentalização do Japão ocorre a olhos vistos, tal como a adoção do calendário ocidental. A guerra sino-japonesa e a russo-japonesa implanta patriotismo no povo, reforçando o militarismo. O país passa da economia agrícola para industrial.

12. Eras Taisho, Aisho e Heisei - O Japão passa por amargas experiências nas duas Grandes Guerras

Mundiais. Ainda por cima, o povo sofre com danos causados pela natureza - o grande terremoto que atingiu Tokyo e imediações, e outro, mais recente, na cidade de Kobe. Torna-se o único país na face da Terra a ser bombardeado com bombas atômicas. Consegue se erguer da destruição quase que total do país, após a 2ª Guerral, chegando a fazer parte de um dos países mais rico do mundo. Passa por crises econômicas, que estão sendo superadas com a adoção do sistema de network de meios de comunicação eletrônica para produção e distribuição e da tecnologia de micro-electronics (ME) nas várias modalidades industriais.

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O Alvorecer do Japão Era Glacial

Há mais de 10 mil anos atrás, quando a Terra ainda era coberta por grossa camada de gelo, o Japão ainda estava ligado ao continente asiático. Nessa época, os homens chegaram até o extremo leste do continente asiático atrás dos mamutes e outros animais, manejando lanças e arpões com pontas de pedra. Eles moravam à sombra das rochas ou nas cavernas. Ao longo dos anos, foram criando língua e cultura em comum, formando o povo japonês. Era Jomon Com o fim da Era Glacial, há cerca de 10 mil anos, o nível da água do mar foi subindo, e com isso, o Japão foi separado do continente, formando o arquipélago japonês. À medida que a Terra foi se aquecendo, os mamutes e outros animais gigantescos vão sumindo, e os veados, porcos do mato e outros animais menores vão aumentando. Como são animais mais ligeiros, os homens começam a utilizar muito o arco e a flecha. Além dos animais, eles se alimentavam de frutas, castanhas, peixes e mariscos. Os homens começam a produzir utensílios de barro, inicialmente utilizados para cozinhar alimentos e, mais tarde, para armazenar e conservar alimentos. A maioria dos utensílios dessa época possui ornamentações (MON) impressas com leve pressão de cordas (JÔ ou NAWA) sobre a sua superfície. Daí o nome Jomon, ou seja, ornamentações de marcas da corda.

Os homens passam a se agrupar, cavam covas e, sobre elas, armam tetos cobertos com sapé nos locais propícios à caça e pesca, formando pequenas aldeias. Na época não havia distinção entre ricos e pobres. Todos dividiam os alimentos que provinham da natureza. Assim os homens respeitavam e ao mesmo tempo temiam a fúria da natureza. Para aplacar a fúria, eles criam rituais. Eram animistas, acreditando na existência de alma em tudo, nos rios, nas montanhas, nas pedras, etc.

Com a crescente migração do povo altamente desenvolvido do continente asiático, o Japão conhece o cultivo de, inicialmente, trigo e sorgo, e posteriormente, arroz. Encerrando assim, a era Jomon.

As relíquias Além de utensílios de uso prático, como vasos, potes e tijelas, os homens da Era Jomon produziram muitos bonecos de animais e homens, assim como estatuetas de terracota, que provavelmente foram utilizados para rituais, cerimônias ou ainda como amuletos.

Itens (da esquerda para a direita): vaso do início da Era Jomon – as rachas indicam que o vaso foi feito

sobrepondo os rolos de barro; vaso de meados da Era Jomon – foram encontrados nas escavações

arqueoólgicas muitos vasos com as “asas” nas bordas em forma de chamas; boneco com feição de uma coruja (mimizuku-gata doguu) - fins da Era Jomon. Possui 3 coques no alto da cabeça e brincos incrustados nas

orelhas, talvez a moda da época?

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A criação do mundo segundo a mitologia japonesa Era Glacial Cada povo tem a sua mitologia. Porém, ela foi sendo eliminada das salas de aula, pelo fato de não ter uma fundamentação científica. A mitologia japonesa já não consta mais nos livros didáticos da história do Japão publicados após a Segunda Guerra Mundial.

Alguns estudiosos não concordam com essa posição de se banir totalmente a mitologia dos livros de história, acreditando que ela faz parte do desenvolvimento da humanidade. Como exemplo, temos o antropólogo Claude Lévi-Strauss, que atuou como professor na Universidade de São Paulo. Ele explicou racional e matematicamente a lógica da mitologia.

Assim, o tema mitologia tem sido reconsiderado sob o ponto de vista de “sistema de pensamento universal da humanidade = pensamento primordial”. Segundo o professor Masakuni Kitazawa, “a mitologia é expressão da forma como os povos lidavam com a natureza que os cercava, o seu clima, condições geográficas, ambiente e o universo.” Os deuses, os heróis, assim como o espelho, a espada, o corvo, a canforeira, e outros elementos, foram a maneira que os antigos encontraram para codificar racionalmente os seus pensamentos. Ele ainda afirma: “Mesmo que a mitologia seja esquecida pelos seus povos, enquanto o clima, as condições geográficas e o ambiente que os envolve não mudarem também, a lógica contida na mitologia continuará a agir no subconsciente do indivíduo e delinear o pensamento dos povos.”

A criação do mundo Os deuses começaram a habitar primeiramente em um lugar chamado Takamagahara. Quando chegou a sétima geração desses deuses, o deus chamado Izanagi, ou o Pai do Céu, e a deusa chamada Izanami, ou a Mãe da Terra, receberam do Senhor do Céu uma lança e, sobre uma ponte flutuante do

Enquanto isso no mundo... • As pequenas nações em volta do Rio Nilo são unificadas, surgindo a civilização egípcia (3000 anos A.C.). Eles criam o calendário, que subdivide o ano em 365 dias. • Entre o Rio Tigre e o Rio Eufrates surge a civilização mesopotâmica(2350 anos A.C.). Eles criam letras cuneiformes, sistema de 7 dias da semana, leis, etc.] • Às margens do Mar Mediterrâneo e suas ilhas costeiras surge a civilização grega. Deixa legados inestimáveis de obras de arte que data de século 11 A.C. a século 1 A.C. • No século 1 A.C. os romanos dominam a região do Mar Mediterrâneo e estabelece o império romano. Asfaltaram as ruas com paralelepípedos, criaram sistema de canalização das águas. • Às margens do Rio Indu, há aproximadamente 2500 anos A.C., nasce a civilização Indu, sendo invadido pelos arianos, o povo é submetido ao rígido sistema hierárquico de castas. • Nas bacias do Rio Amarelo habitavam o povo Han, mais tarde unificado por dinastia Han (206 A.C. a 220 D.C.). Criam muitas obras de bronze, e os ideogramas. • Surge o filósofo chinês Confúcio (551 A.C. a 479 A.c.) • Surge Sidarta Gautama(463 A.C. ? a 383 A.C.?), o Buda, fundador do Budismo. • Construção da grande Muralha da China (iniciada em 202 A.C. e estendida até a dinastia Ming) , com aproximadamente 2.400 km.

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céu (Ama-no-ukihashi), mexeram o mar com essa lança. Das gotas de sal que caíam e se solidificavam, formou-se uma ilha chamada de Onokoro. Os dois desceram até a ilha, escolheram a coluna celeste e construíram um palácio.

Izanami deu uma volta na coluna celeste e, ao ver Izanagi, falou: “Que homem bonito!”. A seguir, Izanagi disse: “Que mulher bonita!”. E assim os dois se tornaram um corpo só e começaram a criar outras ilhas. Porém, quando olharam para elas, perceberam que não estavam muito boas. Então, voltaram ao céu para consultar os outros deuses. Eles explicaram aos dois que não é bom que uma mulher dite as primeiras palavras. Assim, o casal retornou ao palácio e, dessa vez, foi Izanagi quem dirigiu as primeiras palavras à Izanami. Unidos dessa forma, começaram a nascer belas ilhas, uma após a outra. Primeiro nasceu a ilha de Awaji, depois a de Shikoku, em seguida a de Honshu e as demais, totalizando oito ilhas. Além delas, Izanami procriou o Deus da Montanha, do Mar, do Vento, e mais 35 deuses. Ao dar à luz ao seu último deus, o Deus do Fogo, morreu queimada.

O mundo dos mortos Não conseguindo esquecer Izanami, Izanagi vai até o mundo dos mortos para encontrá-la. Izanami fica feliz e deseja muito retornar à Terra, mas pede a Izanagi para não olhá-la até que o Deus da Morte lhe dê permissão para retornar. Ansioso demais para revê-la, Izanagi quebra a promessa e acaba olhando para sua amada. Qual não foi o seu susto! O corpo dela estava coberto de vermes e com oito tipos de trovão. Assustado, Izanagi começa a fugir. A mulher tenta aprisioná-lo enviando a tropa dos deuses do trovão. Na fuga, Izanagi apanha três

pêssegos e atira-os contra os perseguidores, que são afugentados pelo seu poder mágico. Ele fecha a entrada do Mundo dos Mortos com uma pesada rocha que demandaria a força de mil homens para removê-la. Bastante irada, Izanami roga uma praga, dizendo de trás da rocha: “Para me vingar de você, matarei por dia, 1 mil homens do seu país!”. Izanagi retruca: “Então farei com que nasça 1,5 mil crianças por dia!”. O nascimento da deusa do Sol, Amaterasu Izanagi purifica o seu corpo maculado por ter ido até o mundo dos mortos, através de outros relacionamentos. Nessa ocasião também nasceram muitos deuses. Por último, enquanto ele lavava seu rosto, do olho esquerdo nasceu a Deusa Amaterasu (a Deusa do Sol) a quem concede o domínio de Takamagahara e, do olho direito nasce Tsukuyomi-no-mikoto, a quem concede o domínio da noite, e do nariz nasce Susano-no-mikoto a quem concede o domínio do mar. Para a Deusa Amaterasu, ele ofereceu um colar feito de pedras. Com o nascimento desses deuses, que fornecem energia para o sol, para a lua e para o mar, dando-lhes vida e movimento, iniciam-se as atividades do universo.

A Deusa Amaterasu é a figura central e de maior importância na mitologia japonesa. Foi ela quem deu origem à família imperial. Ela é cultuada no Templo Ise, pertencente à família imperial. Até antes da Segunda Guerra, os japoneses acalentavam o desejo de visitar o local menos uma vez na vida. Não por ser o templo da família imperial, mas para rezar e pedir por uma farta colheita à deusa Amaterasu, fonte da vida, ao Deus da Água Sarutahiko, e à Deusa dos Cereais, Toyouke.

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Era Yayoi

Desenvolvimento Japonês Origem do cultivo de arroz Por volta de século III A.C., devido às dificuldades enfrentadas em torno da política da Dinastia Han (atual China), muitos chineses migraram para o Japão, atravessando a Península Coreana. Esses chineses introduzem no Japão o cultivo de arroz. Assim, aos poucos, os nativos do arquipélago deixam a vida nômade de caça e pesca, e começam a fixar residência. As primeiras moradias fixas consistiam em covas rasas, cobertas com sapê. Pode-se dizer que foi o primeiro marco da revolução no campo. Logo, o cultivo do arroz foi ganhando terreno, e, ao longo dos 100 anos seguintes, passou a predominar como a principal atividade econômica das regiões de Kinki(1), Kanto(2) e Tohoku(3). Em 1943, foram descobertas 12 habitações nas escavações arqueológicas de Toro (província de Shizuoka) e, nos arredores do arrozal ali localizado, encontraram-se canais, celeiros de palafitas, poços e utensílios feitos de madeira. Um detalhe curioso é que nas pilastras dos celeiros havia uma espécie de aba de proteção estrategicamente colocada junto ao celeiro, a fim de impedir a entrada de ratos. Até a descoberta das ruínas de Toro, embora houvessem algumas citações em Koji-ki e Nihon-shoki (registros históricos escritos no século 8) referentes às habitações, utensílios e estilo de vida da época, tudo não passava de lenda, pois não existiam provas concretas. Porém, através dos vestígios de arrozais encontrados nas escavações de Itatsuki, na cidade de Fukuoka, em 1980, pode-se deduzir que os homens da Era Yayoi utilizavam enxadas de madeira para arar a terra, fazer valetas e caminhos, jogavam sementes na terra, e na colheita, ceifavam as espigas com facas feitas de pedra. Sabe-se que eram cultivados também trigo, sorgo e soja, entre outros. Os vasos em estilo Yayoi e utensílios de cobre

Receberam a denominação de vasos em estilo Yayoi, porque os primeiros foram descobertos no bairro de Yayoi. Caracterizam-se por serem mais finos, duros e possuírem menos adornos do que os vasos da Era Jomon. Os seus formatos diferem conforme o seu emprego, ou seja, se são destinados para cultos religiosos, cozimentos, conservas, recipientes para água ou alimentos. A partir dessa era, começam a surgir utensílios de ferro, cobre, etc. O ferro foi utilizado para fazer instrumentos agrícolas, facas, espadas, lanças e entre outros. Os espelhos de

cobre encontrados nas tumbas de grandes clãs foram utilizados, inicialmente, como presentes e como um dos objetos sagrados para cultos religiosos. Os sinos de cobre também foram utilizados como parafernália de cerimônia religiosa, ou talvez, também como instrumento musical. Na superfície dos sinos observam-se as mais variadas figuras que nos levam a ter idéia da vida daquela época, tais como: homens caçando, mulheres sovando os cereais no pilão e as palafitas que serviam como celeiro ou depósito. A escolha de cobre para cunhar lindas figuras parece ser comum em quaisquer civilizações.

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Os cadáveres nos contam Na sociedade cuja atividade principal é o cultivo de arroz, naturalmente, com o tempo, acabam-se criando a classe dos mais favorecidos e a dos menos favorecidos. À medida que a diferença entre os pobres e os ricos se acentua, surgem a classe dominante e a dominada que vão se agrupando e formando aldeias, que por sua vez se unem em pequenos países. O surgimento das diferenças sociais é o momento também do início das lutas pelo poder. As valas em volta da aldeia comprovam as lutas entre as aldeias. Além disso, foram encontrados esqueletos humanos com pontas de flecha feitas de pedras trespassando os ossos.

Nas tumbas dos clãs foram encontrados também muitos objetos de adornos feitos de jade, ágata, ouro, cristal ou argila, com orifícios na parte superior para passar um cordão.

Pelas análises dos ossos encontrados nas escavações, podemos supor que os homens das remotas épocas também sofriam dos males semelhantes aos que enfrentamos hoje, como fratura dos membros, sinusite, poliomielite e artrite, etc. Ainda, segundo os antropólogos, o índice de sobrevivência de indivíduos de até 15 anos era de 40%. Conseqüentemente, a idade média de vida, tanto para o homem como para a mulher, deveria ter sido de 20 a 30 anos. Além disso, pelas arcadas dentárias é possível supor que as mulheres arrancavam os dentes incisivos e caninos quando se casavam ou na segunda núpcia.

Um dos fatos do final da Era Yayoi que podemos saber com certeza é sobre o país chamado Yamatai-koku e a sua rainha Himiko que consta no registro da China intitulado Gishiwajin-den. Rainha Himiko – A Lendária rainha de Yamatai que foi escolhida para governar a nação no século III

Este episódio do Japão, encontrado em manuscritos da China, é famoso por contar a história de um governo que restaurou a paz no arquipélago japonês, antes dominado por sangrentas batalhas.

Por volta do anno Domini (século I), havia em Wa (denominação dada pelos chineses ao arquipélago japonês) mais de cem pequenas nações (tribos). A partir do final da Era Yayoi (século III), estas pequenas nações começaram a ser, pouco a pouco, subjugadas por outras mais poderosas. Dentre elas, destacou-se a nação Yamatai, governada por uma rainha chamada Himiko, que dominava mais de 30 nações.

A nação Yamatai, no início, era governada por um homem. Porém, as intermináveis batalhas que tomavam conta de todo o país fizeram com que os chefes das nações pertencentes a Yamatai elegessem uma mulher como líder. Assim, início do século III, Himiko foi escolhida para governar a nação. Uma aura de mistério foi criada à volta de Himiko, pois ela morava num casarão cercado por muros altos e fortemente protegido por soldados, tendo a seu serviço perto de mil escravos. Ela nunca se casou e manteve-se isolada do mundo exterior. Todas as mensagens eram transmitidas por seu irmão, um fiel aliado e seu assessor direto. Himiko tornou-se uma espécie de xamã da nação, pois, sempre que lhe era pedido um conselho, ela retirava-se no oráculo, rezava a noite inteira e transmitia as revelações divinas na manhã seguinte, por intermédio de seu irmão. Acredita-se que ela realmente possuía o poder de prever o futuro, pois as medidas e as decisões tomadas mostravam-se sempre corretas.

Após a elevação de Himiko ao governo de Yamatai, a paz reinou no Japão. Para consolidar o seu poder, em torno de 239, Himiko mandou uma missão à distante Wei, uma das nações da China.

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Nesta época, a região estava dividida em três nações: Wu (em japonês “Go”= ), Shu (em

japonês “Shoku”= ) e Wei (em japonês Gi = ), sendo esta última considerada a mais poderosa dentre as três.

A missão fez uma viagem de muitos meses pelo mar e depois por terra, finalmente chegando à capital Loyang. Lá, conseguiram uma audiência com o imperador de Wei e entregaram-lhe os presentes oferecidos pela rainha Himiko. Segundo o registro desse país, os presentes oferecidos foram: quatro escravos, seis escravas e tecidos. O imperador de Wei, por sua vez, retribuiu os presentes enviados pela rainha, concedendo-lhe o título de Shingiwao, ou seja, “Rainha de Wa (Japão), da nação aliada de Wei”. Além do título, presenteou-a com um selo de ouro e cem espelhos de cobre considerados sagrados.

A paz que havia voltado ao Japão após o reinado de Himiko foi rompida pela rebelião da nação vizinha Kunakoku. A batalha foi bastante violenta e, para conter o inimigo, por volta de 247, a rainha Himiko pediu ajuda ao reinado de Wei (China). O imperador declarou o seu pronto apoio enviando ao Japão a tropa

chinesa comandada por Chang Cheng. Com esse reforço do país aliado, Himiko conseguiu superar a crise.

Não se sabe com exatidão quantos anos a rainha Himiko viveu, porém, supõe-se que ela tenha tido uma vida bastante longa. Quando Himiko morreu, um grande túmulo foi construído e foram enterrados com ela mais de cem escravos.

Após a sua morte, um homem assumiu o poder em Yamatai. Entretanto, logo reiniciou-se a guerra das nações pelo poder. O conselho reuniu-se e resolveu colocar no trono uma outra mulher. A escolhida foi Iyo, uma menina de apenas 13 anos, que conseguiu em seu governo restabelecer a paz seguindo a mesma linha política adotada pela rainha Himiko.

Sabe-se da existência da nação chamada Yamatai e da rainha Himiko por registros da história de Wei (China); entretanto, até hoje é desconhecida a localização exata da nação Yamatai no arquipélago japonês. Existem duas teorias quanto à sua localização: uma é a de que ela existiu ao norte da ilha de Kyushu (abrangendo as províncias de Oita, Fukuoka, Saga, Nagasaki, Kumamoto, Kagoshima e Miyazaki); e a outra, na região de Kinki (abrangendo as províncias de Quioto, Nara, Shiga, Osaka, Hyogo, Mie e Wakayama).

Como viviam os japoneses no século III? Registro de Wei – relatos sobre Wa (Gishi Wajin-Den).

Os homens de Wa não usavam chapéus, amarravam uma tira de tecido na testa e cobriam-se com tecidos enrolados ao corpo e amarrados na cintura. As mulheres vestiam roupas feitas com tecido bem largo, com um corte no meio do pano, por onde passavam a cabeça para vesti-las. Plantavam pés de arroz e cânhamo e criavam bichos-da-seda. Quando as pessoas de hie-rarquia superior passavam pela rua, as de classes inferiores escondiam-se atrás de moitas e, ao dirigirem-lhes a palavra, ajoelhavam-se com as mãos apoiadas no chão.

O que Himiko comia?

A rainha de Yamatai teve, para a época, uma vida muito longa, alimentando-se basicamente de soja, verduras e arroz. Além desses pratos triviais, peixes também eram servidos, ou seja, desde aquela época, os pratos principais dos japoneses eram à base de arroz, soja, verduras e peixes.

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Era Kofun

Tumbas: símbolo do poder A Era Kofun ganhou esse nome em virtude das grandes tumbas antigas do final da Era Yayoi. Elas estão em Quioto, Nara, Osaka, Okayama, Shimane, Fukuoka, etc. Como mencionado no capítulo anterior, sabe-se que a rainha Himiko governou a nação Yamatai mantendo intenso intercâmbio com a China. A Era Kofun inicia-se depois desse episódio. A cultura transmitida pelos migrantes (torai-jin) A chave para a construção das gigantescas tumbas reside nos migrantes (torai-jin) que chegaram ao arquipélago japonês pela península coreana. Acolhidos quando a península coreana estava em guerra, os migrantes, que receberam cargos de elite na corte de Yamato, transmitiram a tecnologia da construção de tumbas e também de grandes templos, além de técnicas de forjadura, de sericultura, de tecelagem, de cerâmica e outras. Esse movimento migratório data desde a época da mudança da Era Jomon para Yayoi, quando muitos migrantes chegaram ao Japão. Atualmente, a teoria predominante da origem do povo japonês é de que ele surgiu da miscigenação do homem Jomon com os migrantes.

Em cima: casa reproduzida em

terracota e homem comandando

trabalhadores na construção dos

grandes túmulos.

Em cima: os diversos tipos de tumbas antigas.

Embaixo: objeto de terracota encontrado no interior das

tumbas.

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A corte de Yamato Poderosos clãs construíam tumbas já por volta do século V, principalmente os clãs da região de Yamato. O governo era liderado pelo imperador e dividia as funções administrativas, instituindo o sistema de uji (grupo de pessoas da mesma linhagem) e de kabane (hierarquia dos clãs regionais que serviam à corte). Os clãs regionais forneciam produtos da terra à corte. Os grupos de uji cultuavam os seus deuses, tinham suas propriedades, controlavam o seu povo e serviam à corte.

Na hierarquia, existia o equivalente à pária (camada mais baixa do sistema de castas da Índia). Eram os nuhi, da corte e dos templos, homens e mulheres escravos vendidos livremente.

No final do século IV, a corte de Yamato expandiu seu território até a região de Kara (sul da península coreana), alcançando poder militar suficiente para guerrear contra nações coreanas como Kokuri e Shiragi, aliando-se a Kudara.

Tumba Daisen A tumba Daisen, do imperador Nintoku, em Osaka, é a maior do mundo, com 475 metros. Supondo que 6.800 mil pessoas tenham trabalhado na construção do túmulo, mobilizando 2 mil pessoas por dia, a obra levaria quinze anos para ser concluída. O montante gasto é calculado em 79.600 bilhões de ienes. Mesmo com a atual tecnologia, seriam necessárias 29 mil pessoas, dois anos e seis meses, com o custo total de 2 bilhões de ienes. Na foto abaixo, a famosa tumba:

O imperador Akihito, durante pronunciamento de abertura da Copa do Mundo de Futebol Japão–Coréia, em 2002, disse que a mãe do imperador Kanmu (737-806) era torai-jin (migrante).

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Era Asuka

A Era Asuka (593–710) não é apenas uma subdivisão da Era Kofun, como pensam alguns historiadores. É um período importante da história japonesa, em especial da arte e da cultura do país. Foi nessa Era que floresceram obras de arte búdicas de relevante valor artístico. A transição de uma nação orientada pelo credo xamanista para uma nação institucionalizada, norteada pelas doutrinas confucionista e budista, em que grandes clãs começaram a substituir tumbas monumentais por templos budistas aconteceu na Era Asuka. São templos construídos com extremo requinte, com imagens de Buda que são verdadeiras obras de arte. Entre esses, destaca-se o templo Hôryû-ji (607), construído totalmente em

madeira, considerado patrimônio da humanidade desde 1993.

Na Era Asuka, a corte de Yamato, proveniente da região de mesmo nome (atual Nara e suas imediações), foi solidificando sua estrutura política, dominando os demais clãs. A figura central do Ôkimi (Grande Soberano) liderava a corte de Yamato. Clãs possuíam a

função de ministros. Criaram-se cargos distintos, que passaram a ser hereditários, transformando-se de nação de caráter mágico-ritualístico, do tempo da rainha Himiko, para a de estrutura administrativa que se aproxima da moderna.

Quando a soberana Suiko (592–628) tomou posse, em fins do século VI, seu sobrinho, o príncipe Shôtoku (574–622) tornou-se regente e, junto com o poderoso clã Soga-no-Umako, desenvolveu uma política para consolidar o sistema governamental do país. Assim, no ano de 603, foi criado, pelo príncipe Shôtoku, o Kan’i jûnikai (doze graus de hierarquia burocrática),

para a valorização de burocratas. Em 604, ele instituiu o Kenpô Jûshichi-jô (17 Códigos da Constituição), mais preceitos morais norteados nas doutrinas de, principalmente, Budismo e Confucionismo. Com o objetivo de absorver o novo sistema político e cultural mais avançado, foram enviadas à China (na época, governada pela dinastia Sui) cinco missões de estudiosos e monges,

o chamado kenzui-shi (missão a Sui, em japonês “ -Zui”). Com a morte do príncipe Shôtoku, o clã Soga aumentou seu

poder. Insatisfeito com isso, o príncipe Naka-no-Ôoe (mais tarde, imperador Tenji), em conspiração com Nakatomi-no-Kamatari (posteriormente Fujiwara-no-Kamatari), destruiu o clã Soga (645) e, consultando aqueles que tinham ido estudar na China (na época, governada pela dinastia Tang), iniciaram a reforma política para construir uma nação sólida. Essa reforma ficou conhecida como

Príncipe Shôtoku, estadista revolucionário responsável

pela criação de um novo sistema político e pela

construção de vários templos budistas, como o Hôryû-ji.

Vista aérea do templo Hôryû-ji (construção de madeira mais antiga do

mundo).

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Reforma de Taika, pois nesse ano foi instituído o sistema de nengô, nome dado a certo período de anos e adotado até hoje. O primeiro nengô foi da era Taika (645–650).

A Reforma de Taika transformou os terrenos de propriedade particular da família imperial e dos clãs em propriedade pública. O povo (agricultores) também passou ao controle do poder central (imperador). Instituiu-se, assim, um novo sistema de controle nacional, bem como de cobrança de impostos, feito pelo registro de família (koseki).

Com a morte do imperador Tenji, iniciaram-se as guerras pelo poder, vencidas pelo imperador Tenmu, que continuou com a reforma política e o fortalecimento do poder imperial. Sua sucessora, a imperatriz Jitô, instalou-se na região de Asuka (planície de Nara) e concluiu a reforma em 701 (primeiro ano da Era Taihô), que chamou de Taihô Ritsuryô, originando o sistema político norteado por ritsu (judiciário) e ryô (legislativo), que perdurou por muito tempo.

O sistema político ritsuryô determinou o poder ao imperador, instituiu oito ministérios, cujos ministros foram escolhidos dos grandes clãs que despontaram desde a época da Reforma de Taika. A eles, foram atribuídos direitos, inclusive o título de nobreza, que passou a ser hereditário, criando, assim, classes sociais distintas. O Japão foi dividido em 60 koku (circunscrições), e cada koku foi subdividido em gun (comarcas); os gun, em pequenos ri (vilas). Cada koku era governado por um kokushi enviado pela capital, que, por sua vez, indicava os clãs para a administração do gun (gunji) e do ri (richô).

O ritsu estabelecia cinco penalidades de acordo com a gravidade do crime, sendo a mais leve a pena de açoite, e a mais pesada a pena de morte. Os crimes leves eram julgados pelos chefes da comarca (gunshi); e os graves, pelos ministros, ou mesmo pelo imperador. No norte da ilha de Kyushu, foi instalado, excepcionalmente, o dazaifu, para a defesa nacional, assim como para governar toda a ilha.

A cada seis anos, a corte renovava o koseki (registro de família), atribuindo a todo indivíduo a partir de 6 anos de idade a sua parcela de arrozal (kubunden), que era devolvida à corte por ocasião de sua morte para sua redistribuição. Os agricultores, além de pagar imposto por seu kubunden, eram recrutados para prestar serviços em obras diversas e obrigados a prestar serviço militar. Em 710, foi construída uma nova capital em Nara, a oeste da atual cidade de mesmo nome, iniciando-se a Era Nara.

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Príncipe Shôtoku Panorama da época O budismo foi introduzido ao Japão por volta de 538 (ou 552, segundo algumas teorias) pelos migrantes (torai-jin), quando no país já existia o shintoísmo, fé nativa. Desde o século V, os intelectuais liam o Analecto de Confúcio (uma coleção de escritos e ditos célebres de Confúcio) trazido por Wani, um torai-jin coreano de Kudara, recebendo, inclusive, estudiosos que chegaram à terra japonesa para ensinar a doutrina confuciana.

Na corte de Yamato, houve um conflito entre os partidários que defendiam o budismo (clã Soga) e os que o repudiavam (clã Mononobe). Em 587, o clã Soga derrota o clã Mononobe, e uma mulher é indicada para ocupar o supremo cargo, a imperatriz Suiko. Assim como nos tempos de Himiko, ela obteve muitos êxitos na construção de uma nação melhor estruturada, respaldada por seu sobrinho, o príncipe Shôtoku, nomeado seu regente. Juntos, ao longo de 36 anos, eles modernizaram o sistema político, econômico e diplomático e ainda colaboraram para a difusão do budismo.

Perfil do príncipe Shôtoku O ídolo da História Antiga do Japão nasceu em 574, tendo como pai o imperador Yômei e como mãe Anahobe. O seu verdadeiro nome, Umayado (literalmente, porta do estábulo), deve-se, segundo a lenda, ao fato de Anahobe ter começado a sentir as contrações do parto na frente do estábulo real. Após a idade adulta, Umayado recebeu o cognome de Toyotomimi (ouvidos sábios), por sua inteligência aguçada e sabedoria ímpar. Uma lenda diz que ele conseguia ouvir reinvidicações de dez pessoas ao mesmo tempo e encontrar soluções satisfatórias para todas. Desde a tenra idade, ele dedicava-se aos estudos, demonstrando rara inteligência. Era totalmente devotado ao budismo e, juntamente com sua tia, a imperatriz Suiko, realizou inúmeras reformas políticas.

“Shôtoku”, cujo sentido literal é “virtude sagrada”, foi o cognome que se irradiou após o seu falecimento, em 622, devido aos seus feitos. Na velhice, afastou-se da política e dedicou-se à difusão do budismo, escrevendo obras sobre as interpretações de sutra, entre elas, San-gyôgisho. Kan’i jûnikai (doze graus de hierarquia burocrática) Este foi o primeiro sistema hierárquico do Japão, criado em 603 pelo príncipe Shôtoku que, por sua vez, recebeu forte influência da China. Chamou-se kan’i (hierarquia por chapéu), porque a distinção das hierarquias era feita pelo uso de chapéu de diferentes cores, e jûnikai (doze classes), por causa da divisão em 12 classes hierárquicas. Estas eram concedidas para pessoas de real valor e não eram hereditárias. No início, destinavam-se aos súditos diretos da corte, ou ainda aos chefes de clãs da região de Nara e suas imediações, onde se instalou a corte imperial. Porém, com o passar do tempo, essas classes hierárquicas foram estendidas aos chefes de clãs de todo o Japão. Criação do Kenpô Jûshichi-jô (17 códigos da Constituição) Não se pode dizer que esta seja uma “constituição” em seu real sentido, ou nos moldes atuais, e sim preceitos morais que serviam de diretriz para a conduta dos “funcionários públicos”. No Kenpô Jûshichi-jô, nota-se nitidamente a forte influência dos pensamentos budista e confucionista. A ênfase à conduta conciliatória é bastante peculiar dentro do sistema de imperialismo absoluto.

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Difusão do budismo Por incentivo do príncipe Shôtoku, vários templos foram construídos no Japão. As construções proporcionavam a difusão em larga escala de técnicas de confecção de papel, pintura e outras formas de arte. O Templo Hôryû-ji (província de Nara), considerado o mais antigo templo de madeira do mundo, foi construído em 607. No início, era uma espécie de templo-escola para estudar o budismo. O templo Shitennô-ji (província de Osaka) foi alvo de admiração das delegações chinesas e coreanas que contemplaram, de seus navios, a sua magnífica construção. Nesse período, foram introduzidos no arquipélago muitos livros sobre budismo, astronomia, etc., iniciando-se a compilação da História do Japão tal como Tennô-shi (História dos Imperadores).

Relações diplomáticas Em 607, o príncipe enviou o alto funcionário da corte, Ono-no-komachi para Sui como portador do documento credencial, abrindo, dessa forma, o caminho para relações diplomáticas em pé de igualdade com a China. Foram enviados os promissores funcionários jovens e monges eruditos para absorverem a cultura avançada da dinastia Sui (China). Esses preciosos recursos humanos levaram à Reforma de Taika.

Kenpô Jûshichi-jô • Código 1 – Deve-se respeitar a harmonia e a hierarquia. A política deve ser conduzida com cooperação. • Código 2 – Deve-se cultuar os três tesouros, que são: Buda = o sábio; as leis = os ensinamentos do Buda; sacerdote = o grupo que aceita com alegria os ensinamentos e os pratica. • Código 3 – Deve-se obediência ao seu senhor. O senhor é o Céu, e o súdito é a Terra. • Código 4 – Os funcionários da corte devem ser cordiais com o povo. • Código 5 – Ao julgar a queixa (denúncia) do povo, deve se proceder com imparcialidade. • Código 6 – Fomentar o bem e aplicar o corretivo nos maus atos servirá de exemplo ao povo. Elogiar o superior e falar mal dos erros de seus súditos não é ser fiel ao seu senhor. • Código 7 – Cada um tem a sua missão a cumprir, e tudo sairá bem se o cargo público for ocupado por alguém competente. • Código 8 – Os funcionários da Corte deverão chegar cedo e voltar tarde. Se chegarem tarde, não conseguirão atender aos imprevistos e, se voltarem cedo, não conseguirão terminar o serviço do dia a contento. • Código 9 – Se os funcionários forem íntegros, qualquer empreendimento terá êxito. A integridade é a base da justiça. • Código 10 – Deve-se conter a ira e deixar de lado o ódio, não se aborrecendo por causa da discórdia. • Código 11 – Observe atentamente o bem e o mal. Sempre se deve premiar o bem e castigar o mal. • Código 12 – Os chefes de comarcas não poderão receber presentes, nem recrutar mão-de-obra por conta própria. Para o povo, não deve haver dois senhores. • Código 13 – Todos deverão estar a par dos trabalhos realizados pelos colegas, pois não se deve deixar parado um trabalho, caso alguém tenha que faltar por estar doente. • Código 14 – Os funcionários da corte não deverão ter ciúme, pois ele cega-os perante a competência alheia. • Código 15 – Deve-se procurar os benefícios públicos, abandonando os sentimentos pessoais. • Código 16 – Deve-se recrutar o povo levando em consideração a época. Utilizem o trabalho do povo no inverno, quando há mais tempo livre. Da primavera a outono, é a época de trabalho no campo ou da sericultura. • Código 17 – Os problemas graves devem ser discutidos exaustivamente entre os funcionários, para a busca de uma solução.

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Era Nara

Ao conquistar a estabilidade com o sistema político de Ritsuryô, a corte imperial mudou a capital para cidade de Heijô, a oeste de Nara, dando início à Era Nara, em 710.

A cidade de Heijô foi construída seguindo o modelo da capital chinesa da época, Changan, com ruas simetricamente dispostas como em um tabuleiro de xadrez. A cidade chegou a contar com mais de 100 mil habitantes e, nas ruas principais, perfilavam-se as mansões dos nobres, os templos budistas e também as casas do povo. Criaram-se feiras controladas pela corte, intensificando o comércio, que deu origem às primeiras moedas japonesas, embora no interior os tecidos e o arroz ainda desempenhassem a função de moedas.

A agricultura também ganhou novo alento com a difusão de ferramentas agrícolas e o progresso nas obras de irrigação. Além disso, os minérios são explorados em maior escala, tais como ouro da região de Mutsu (atualmente, províncias de Fukushima, Miyagi, Iwate e Aomori) e cobre da região de Suô (atualmente, província de Yamaguchi), fatos que também contribuíram para o início da cunhagem de moedas.

Com o aumento do poder da corte Yamato, sua área de domínio passou a abranger regiões mais longínquas. A corte dominou desde o povo Emishi, ao norte do Japão, até o povo Hayato, ao sul da ilha de Kyûshû.

Kentô-shi (Missão a Tang) Na Era Nara, para absorver a cultura avançada da dinastia Tang (China), foram enviadas várias missões. Normalmente, a missão partia numa frota de 4 navios e era composta por 100 a 250 pessoas, embora uma missão tenha chegado a ter 500 pessoas. Nem o perigo das ondas revoltas do Mar do Japão ou do Mar da China desanimou essa delegação, composta por estudiosos, monges e bolsistas, que tinha uma grande vontade de aprender a cultura chinesa, nova e mais avançada. Assim, as missões a Tang contribuíram muito para o desenvolvimento político e cultural do Japão. Ainda, nessa época, o Japão manteve intensa relação diplomática com Shiragui (Coréia) e Pohai, uma nação que existiu ao norte da China entre 698 ~ 926. As mulheres no poder A Era Nara também é conhecida como era das imperatrizes, já que houve muitas mulheres governantes que se destacaram por sua sabedoria e sagacidade. Nos 74 anos da Era Nara, cerca de 30 anos ficaram sob o governo das imperatrizes Genmei (707~715), Genshô (715~724), filha da imperatriz Genmei, e Kôken (749~758) que, mais tarde, assumiu novamente o poder sob o nome de imperatriz Shôtoku (764~770). A construção da capital em Heijô (Nara), a cunhagem da moeda e a edição das obras Koji-ki (história do Japão) e Fudo-ki (geografia do Japão) ocorreram no mandato da imperatriz Genmei. No

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governo de Genshô, foram concluídos o Código de Direito Yôrô Ritsuryô (obra com alterações parciais do Taihô Ritsuryô) e o livro de história oficial do Japão, o Nihon Shoki.

Os 25 anos de governo do imperador Shômu (724~749) não podem ser contados sem mencionar sua esposa, a imperatriz Kômyo, filha do poderoso clã Fujiwara-no-Fuhito. Conhecida por sua alma caridosa, ela construiu instituições como Seyaku-in, para medicar e ajudar os doentes, e Hiden-in para abrigar os pobres, doentes e órfãos. Devota do budismo, Kômyo contribuiu para a construção do templo Tôdai-ji, conhecido pela imagem gigantesca do Buda.

A Era Nara, a exemplo de outros tempos governados por mulheres, conheceu a paz e o florescimento da cultura.

Cultura Tenpyô Recebe este nome por ter florescido na era Tenpyô (729~749). Sob forte influência chinesa, foram criadas muitas obras búdicas e muitos templos foram construídos, entre eles, o famoso templo Tôdai-ji, que ainda hoje possui um acervo fabuloso de obras de arte, inclusive obras indus e persas que, passando pelo caminho da seda (Silk Road), foram levadas a Tang (China), e mais tarde, ao Japão. O perseverante monge Ganjin (688 ~ 763) Para fomentar o budismo, o Japão convidou Ganjin, monge chinês conhecido por suas virtudes, para divulgar os preceitos do budismo. Ele aceitou o convite e tentou chegar ao Japão, mas foi náufrago por cinco vezes, sendo levado de volta às praias de Tang, e ficou cego. Mesmo assim, ele não desistiu de propagar o budismo e, na sexta tentativa, ele conseguiu chegar ao Japão, em 753. Ganjin construiu, em Nara, o templo Tôshôdai-ji, dedicando os últimos anos de sua vida à propagação do verdadeiro budismo entre os japoneses. O sofrimento dos camponeses Devido à alta taxa de impostos, serviço militar obrigatório e recrutamento para trabalhos diversos, os camponeses moravam em casebres e levavam uma vida miserável, passando fome, mal tendo com que se alimentar durante o ano todo. Para aliviar a carga tributária, surgiram os falsificadores do registro de família, ou mesmo aqueles que abandonaram o campo, fugindo para outras terras. Quando os arrozais começaram a dar sinais de abandono, ou tornaram-se insuficientes para a redistribuição, a corte consentiu a posse privada dos terrenos desmatados para o plantio. Em 743, com a lei de posse definitiva dos arrozais recém-explorados, que permitiu a posse de terras, se transformadas em terreno produtivo em três anos, nobres e templos começaram a aumentar as suas propriedades rurais, fato que corroeu, aos poucos, o alicerce do sistema político de Ritsuryô. O despontar das literaturas Com o objetivo de deixar os fatos do passado para a posteridade, foram compiladas no período obras de referência histórica, geográfica e literária do Japão, depois de anos de intenso trabalho As primeiras obras de História do Japão (Kojiki e Nihon Shoki), de Geografia (Fudoki), e a antologia de poemas (Man’Yôshu) foram compiladas na Era Nara. Além delas, foram escritas outras obras de menor importância pelos clãs regionais ou a mando deles, já que o homem sempre teve o desejo de deixar para a posteridade os seus feitos.

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Kojiki É o livro de História do Japão considerado o mais antigo. A obra foi concluída em 712, a mando da imperatriz Genmei. Foi compilado por Ô-no-Yasumaro, com auxílio de Hieda-no-Are. Trata-se de uma obra em três volumes. No primeiro, são relatadas as peripécias dos deuses, desde a criação do arquipélago japonês; no segundo e terceiro volumes, as biografias dos imperadores, desde o primeiro soberano do clã Yamato, o imperador Jinmu, que subiu ao trono em 660 a.C., embora considerado pelos historiadores como um personagem fictício para legitimar a linhagem divina da família imperial, já que ele é considerado descendente direto da deusa do sol Amaterasu Ômikami. A obra termina com o governo da imperatriz Suiko (592~628). No Kojiki, são relatados episódios como o do capricho da deusa do sol, Amaterasu Ômikami, que se escondeu na caverna deixando o mundo mergulhado nas trevas; a aventura de Susanô-no-Mikoto, que mata a gigantesca serpente de 8 cabeças usando sua astúcia; e outras histórias. Nihon Shoki Primeiro livro oficial de História do Japão, foi concluído em 720 e compilado pelo príncipe Toneri Shinnô, terceiro filho do imperador Tenmu, e muitos outros. É uma obra de 30 volumes, que começou a ser compilada na época do imperador Tenmu (673 ~ 686) e levou 39 anos para ser concluída. Como há muitas citações de obras chinesas e coreanas, acredita-se que houve a participação de muitos kika-jin (intelectuais estrangeiros naturalizados) em sua confecção. Assim como Kojiki, relata desde os tempos dos deuses até a imperatriz Jitô (645~702), esposa do imperador Tenmu, que ocupa o trono após a morte do marido (690~697). Fudoki Em maio de 713, a imperatriz Genmei ordena que sejam feitos relatórios de cada região (fudoki) seguindo os cinco itens abaixo: • Colocar o nome nas comarcas formado por dois ideogramas auspiciosos; • Relatar todos os produtos (tudo que se colhe da natureza, excetuando-se os produtos agrícolas e manufaturados), plantas, peixes, aves e animais da comarca; • Detalhar as condições dos solos; se são férteis ou não; terras produtivas e as que possam se tornar produtivas; • Descrever montanhas, rios, campos e explicar a origem de seus nomes; • Anotar as lendas contadas por anciãos.

Dessa forma, devem ter sido entregues fudoki de mais de 60 regiões, mas foram conservados até os dias de hoje apenas 5 fudoki, a saber: de Izumo-no-Kuni, Hitachi-no-Kuni, Harima-no-Kuni, Bungo-no-Kuni e Hizen-no-Kuni. Dentre eles, o único que existe ainda hoje na íntegra é o Izumo-no-Kuni, fudoki concluído em 733, no qual constam as descrições de Izumo-no-Kuni, atual província de Shimane, e de seus templos xintoístas e budistas, montanhas, rios, estradas e produtos da natureza. Harima-no-Kuni (atual província de Hyogo) fudoki, um dos primeiros a ficar pronto, foi concluído por volta de 715, com registro de muitas lendas populares num estilo bastante singelo. O fudoki de Hitachi-no-Kuni (atual província de Ibaraki) deve ter sido concluído entre 717 a 724, e os de Bungo-no-Kuni (atual província de Oita) e de Hizen-no-Kuni (atuais províncias de Saga e Nagasaki), por volta do ano 739.

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Man’Yôshu É a antologia de poemas japoneses mais antiga, contendo mais de 4.500 poemas distribuídos em 20 volumes. Não se sabe ao certo quem reuniu e compilou todos os poemas, mas supõe-se que, no início da Era Nara, já houvesse um original reunindo os diversos poemas, ao qual o nobre Ôtomo-no-Yakamochi juntou a antologia de poemas da sua família, fez a revisão geral e concluiu a obra por volta de 760. Nos últimos volumes, constam os poemas da autoria de Ôtomo-no-Yakamochi escritos após 746. Além dele, a antologia reúne poemas de imperadores, nobres, humildes camponeses, poetas da corte e outros tantos poemas de autoria desconhecida. Destacam-se, por seu alto teor literário, os poemas de Nukata-no-Ôkimi, amada do imperador Tenmu, Kakinomoto-no-Hitomaro, poeta da corte, Yamanoue-no-Okura, filósofo de grande conhecimento que fez parte de uma das missões a Tang (China), e muitos outros poetas.

Os poemas foram escritos em kanji (ideograma), porém, levando em conta apenas as suas leituras, ou seja, utilizando-os apenas como fonogramas (kana). Assim, esse tipo de recurso da escrita recebeu a denominação de man’yô-gana, ou seja, fonogramas de man’yô-shu. Das escritas cursivas desses man’yô-gana, criaram-se, mais tarde, os fonogramas hiragana. Diferenças entre Kojiki e Nihon Shoki KOJIKI NIHON SHOKI Ano de Conclusão 712 720 Volumes 3 volumes 30 volumes Compiladores Ô-no-Yasumaro com auxílio de

Hieda-no-Are. Toneri Shinnô e outros.

Conteúdo 1) Tentativa de unificação ideológica.

2) Valorização de mitos, lendas e poemas.

3) Alto teor literário, com expressões singelas da vida e sentimentos do povo.

1) Objetivo de mostrar o poder do país para outros povos.

2) Descrição objetiva dos fatos históricos.

3) Formatação de um livro de história, estruturado em ordem cronológica.

Estilo Escrito em kanji, mas com a mistura de leitura chinesa e japonesa. Estilo narrativo.

Escrito em estilo de texto chinês clássico, com narrações objetivas e lógicas.

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Era Heian

Chama-se Era Heian o período que se inicia em 794, com a

mudança da capital para a cidade de Heian (atual Quioto), até 1185, quando Yoritomo, chefe do clã Minamoto, instala-se em Kamakura (atual província de Kanagawa). Ao todo, foram praticamente 400 anos nos quais a nobreza reinou com requinte e glamour.

Política No final da Era Nara (710~794), para tentar fugir da vida miserável, os camponeses procuraram refúgio nos latifúndios dos nobres, em grandes templos e em clãs regionais, ou abandonaram suas terras e optaram por uma vida sem rumo. Os latifúndios eram chamados de shôen e surgiram como resultado da flexibilização das leis que norteavam o sistema político de ritsuryô. Os shôen originaram-se do aumento da população e da conseqüente falta de terreno para distribuição entre os habitantes. Para solucionar a falta de terras públicas produtivas, a corte abrandou as leis do ritsuryô e permitiu a privatização dos terrenos para exploração, expedindo a lei que isentava o pagamento de impostos sobre os terrenos recém-explorados. Assim, templos xintoístas e budistas, clãs regionais e nobres foram ampliando cada vez mais os seus shôen, tendo à disposição maior número de mão-de-obra e de utensílios agrícolas. Entre os pequenos proprietários, alguns optaram por doar suas terras para grandes senhores de shôen, a fim de se tornarem funcionários públicos e administradores dos latifúndios.

Com dificuldades, os camponeses venderam suas terras aos nobres, aos templos e aos grandes clãs, transformando-se em arrendatários. Assim, buscavam livrar-se do pesado imposto, que passou a ser responsabilidade do senhor do shôen, cabendo aos arrendatários o pagamento de um pequeno tributo fundiário anual ao senhor das terras. Isso diminuiu o arrecadamento de impostos e afetou o cofre público. A corte cobrava impostos sobre as terras, e não sobre a pessoa física. Entretanto, a falta de autoridade dos kokushi (espécie de governador) estimulou os senhores de terras a encontrarem formas de impedir a entrada daqueles em suas propriedades, agindo à revelia do governo ao não pagarem impostos e exercerem o direito de policiamento dentro dos shôen. Os senhores de terras ficavam em Quioto, enquanto seus administradores tomavam conta dos shôen. Recebendo treinamento voltado para o combate militar, esses administradores organizavam-se em grupos chefiados por herdeiros de famílias nobres, que, mais tarde, dariam origem à classe dos samurais.

Economia Além da economia monetária, em fins dos séculos X e XI, a agricultura teve o impulso do desenvolvimento tecnológico. Os utensílios de ferro, anteriormente exclusivos de nobres e senhores de terras, foram popularizados, chegando aos camponeses. Bois e cavalos passaram a ser utilizados na agricultura e, como fertilizante, iniciou-se o emprego do adubo animal, além do capim e das cinzas. Tudo isso aumentou a produção das colheitas. As atividades madeireira e pesqueira também foram intensificadas nesse período.

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A ascensão da família Fujiwara Descendente de Nakatomi-no-Kamatari (posteriormente Fujiwara-no-Kamatari), que contribuiu para a consolidação da Reforma de Taika, a família Fujiwara ampliou o seu poder político respaldada pela fortuna proveniente de seu imenso shôen. Fujiwara-no-Michinaga (966~1027) conseguiu a façanha de casar suas cinco filhas com imperadores. Na qualidade de parente afim, ele tornou-se regente do neto (sesshô) e, após o crescimento do imperador, tornou-se plenipotenciário (kanpaku). Assim, foi introduzido o sistema de governo com participação indireta do imperador. Extinção de kentô-shi (missão a Tang) Com o enfraquecimento político da dinastia reinante na China, as missões a Tang foram suspensas. A chegada constante de navios carregados de mercadorias todos os anos ao Japão permitia a absorção de novos conhecimentos por meio dos mercadores. Assim, o fim das missões representava também economia de gastos e riscos. A extinção de kentô-shi partiu de Sugawara-no-Michizane (845~903), conhecido até hoje como o deus dos estudos e da sabedoria. Michizane foi um estudioso que chegou ao grau máximo da hierarquia, ou seja, udajin (primeiro-ministro). O comércio com a China voltaria a intensificar-se cinqüenta anos depois, já na dinastia Sung.

Sugawara-no-Michizane tornou-se vítima de uma conspiração da poderosa família Fujiwara e foi deportado para a comarca do norte da ilha de Kyushu, o forte de Dazai (atual província de Fukuoka), onde faleceu. Posteriormente, espalhou-se a crença de que sua alma, injustiçada em vida, trouxe doenças à capital, forçando a criação de muitos templos xintoístas, a fim de acalmar sua suposta fúria e deter a praga. Ainda hoje, muitos estudantes fazem romaria a esses templos para pedir a graça de Michizane e obter bons resultados nos estudos. O Surgimento dos Samurais

A Era Heian marcou o surgimento e a ascensão dos samurais e de seus principais clãs, que entraram para a história do arquipélago com suas lutas e revoltas, episódios nos quais eles mediram forças na luta pelo poder. Essa nova classe passou a integrar a estrutura social da época ao lado da nobreza tradicional.

Surgimento da classe dos bushi (samurai) Enquanto a nobreza, liderada pela família Fujiwara, levava uma vida de muito luxo e requinte, os senhores rurais, donos de shôen, foram aumentando o seu poder de combate treinando guerreiros primeiro para proteger suas terras da invasão alheia, depois para conquistar novas terras. Esses senhores rurais se tornaram funcionários de kokushi (espécie de governador), administradores rurais ou guardiães das terras, recebendo títulos de nobreza ínfima. Eles passaram a liderar grupos de guerreiros, ou seja, de bushi, que nutriam grande admiração pela vida luxuosa da capital. Assim, os nobres enviados ao interior como kokushi pela corte Yamato recebiam tratamento especial, extremamente respeitoso.

Dessa forma, entre os nobres mandados para o interior como kokushi, surgiram aqueles que preferiram permanecer no campo, mesmo após o término do seu mandato, já que não havia perspectiva de uma vida melhor na capital. Alguns nobres que optaram pela vida rural formavam seus grupos de bushi (samurai), formando tropas de combate e tornando-se seus líderes, iniciando, dessa forma, a criação dos clãs.

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A Revolta de Masakado Em 939, Taira-no-Masakado reuniu os bushi insatisfeitos com os enviados da corte que governavam as suas regiões e voltou-se contra o poder da capital. Declarou-se imperador e iniciou a revolta contra os nobres da capital, atribuindo poderes aos bushi, seus seguidores.

A revolta de Masakado foi contida por Fujiwara-no-Hidesato, outro nobre que tinha se instalando no interior (atual província de Tochigi) e por seu primo, Taira-no-Sadamori. Masakado morreu durante a batalha.

Famílias Minamoto e Taira Com o objetivo de reconquistar o controle do país e refrear o poder da família Fujiwara, o imperador Gosanjô (1034~1073) criou o sistema de insei, pelo qual foi introduzido o cargo supremo de jôkô, que conferia ao imperador que abdicou o poder de governar em nome do novo imperador. Assim, Gosanjô abdicou do trono em favor de Shirakawa (1053~1129) e tornou-se jôkô, governando o país pelo sistema diárquico. Por não ter nenhum parentesco com a família Fujiwara, Gosanjô conseguiu governar o país livremente ao longo de 43 anos como jôkô de três imperadores, contando com a proteção de Minamoto-no-Yoshiie. Enviada

para combater os povos de Ezo, a família Minamoto pediu auxílio aos guerreiros da região leste da ilha principal do Japão, com os quais conseguiu vencer a batalha e criou fortes laços. Para conter o crescente poder dos Minamoto, Gosanjô encarregou também a família Taira do serviço de proteção.

Uma guerra entre as famílias destacou-as no panorama político pela primeira vez na história do Japão, em 1156, com a Revolta de Hôgen. Em 1159, a Revolta de Heiji colocou frente a frente os Minamoto e os Taira na luta pelo poder. A batalha foi vencida pela família Taira, que passou a controlar politicamente o Japão. Em 1168, Taira-no-Kiyomori (1118~1181), chefe da família Taira, ocupou o cargo de ministro, dajô-daijin, tornando-se o primeiro samurai a ocupar tal posição. A família Genji ficou, então, à espera da revanche.

Minamoto-no-Yoritomo da família Genji, que havia sido exilado em Izu-no-Kuni (província de Shizuoka), junto com seu sogro, Hôjô Tokimasa, atacou a família Taira em Izu-no-Kuni, mas foi derrotado. Porém os comandantes de guerreiros da região de Kantô juntaram-se a Minamoto-no-Yoritomo. Seu irmão, Yoshitsune, conhecido por sua bravura, também saiu de Ôshu-Hiraizumi (província de Iwate) e passou a lutar ao lado de Yoritomo, que conseguiu, lentamente, instalar-se em Kamakura.

Acometido por uma febre alta, Kiyomori faleceu pedindo, em seu leito de morte, a cabeça de Yoritomo, em 1181.

O último confronto entre os sobreviventes da família Taira e as tropas de Genji aconteceu na Baía de Dan-no-Ura (província de Yamaguchi). A batalha foi vencida pelas tropas de Genji, em 1185. O pequeno imperador Antoku, neto de Taira-no-Kiyomori, morreu junto com sua mãe, filha de Kiyomori, nessa batalha, encerrando, assim, a Era Heian. Em 1192, Minamoto-no-Yoritomo instalou-se em Kamakura, dando início ao shogunato Kamakura. Esse foi o começo da era dos samurais no Japão.

A ascensão e a queda da família Taira, ou seja, Heike, pois a leitura chinesa do ideograma da família Taira é = Heike, foi narrado pelos biwa-hôshi, uma espécie de menestrel. Sua narrativa é conhecida como Heike-Monogatari (contos da família Heike), cujo tema central é a efemeridade da vida.

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A vida na corte Enquanto os bushi levavam uma vida austera, dedicando-se ao treinamento de artes marciais, os nobres se esmeravam em luxo e requinte. Eles vestiam várias camadas de roupas e valorizavam as combinações das cores que se entreviam em golas, mangas e barras, no caso das mulheres. Assim, além da qualidade do tecido, os nobres preocupavam-se também com as cores e seus efeitos. Existiam algumas cores usadas conforme a classe social do indivíduo.

Os nobres dessa época carregavam na maquiagem. Depilavam as sobrancelhas e desenhavam-nas com tinta de carvão. As mulheres adultas tingiam os dentes de preto.

O perfume de incenso, que foi introduzido no Japão junto com o budismo, era usado no dia-a-dia pelos nobres. Cada um criava seu próprio perfume misturando no mínimo dois tipos de incensos. Os nobres perfumavam os seus trajes queimando os incensos para que suas roupas ficassem impregnadas com o perfume criado.

A beleza feminina era medida pelo comprimento dos cabelos, que deviam ser longos, negros e sedosos. O máximo de beleza era ter cabelos mais longos que a própria altura, não ser muito magra e ter a pele bem branca.

Hábitos alimentares dos nobres A alimentação da nobreza era modesta. O prato principal era o arroz, cozido com a água ou no vapor, acompanhado de peixes, carne de aves, verduras, algas e frutas. Os peixes eram, em sua maioria, secos ou conservados na salmoura. Por influência do budismo, muitos não consumiam peixes ou carnes, ficando desnutridos e doentes. A refeição era feita duas vezes ao dia, pela manhã e à tarde. Casamento na nobreza Os nobres não moravam juntos ao se casarem. O homem possuía residência própria e freqüentava a casa da mulher, que tinha o dever de, com sua família, criar os filhos. A família da mulher também cuidava do marido, vestindo-o e alimentando-o. Tanto a mulher como o homem podiam manter relação com outros parceiros, porém sempre tratando a todos com igual respeito e consideração.

Esse tipo de casamento explica o grande poder e influência que o sogro exercia sobre o imperador, ao casá-lo com sua filha, muito embora o monarca construísse uma residência para suas esposas, em vez de visitá-las na casa de seu sogro. Hiragana, Katakana e a Literatura A necessidade de expressar livremente os sentimentos do povo japonês impulsionou a escrita e a literatura da Era Heian, dominada pelas grandes mulheres.

Por que surgiram os fonogramas hiragana e katakana? Os japoneses não conheciam a escrita até ter os primeiros contatos com a cultura chinesa, por volta do século V. À medida que os japoneses foram dominando a escrita (kanji ou ideogramas), a língua e a literatura chinesas, eles começaram a sentir as limitações de se adotar essas formas de comunicação de um outro povo. Assim, para atender à necessidade de expressar livremente os sentimentos do povo japonês por escrito, foram criados os fonogramas hiragana e katakana, elaborados a partir do kanji.

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Origem de Man’yôgana Durante muito tempo, os japoneses liam os kanji à moda chinesa e tentavam entender o significado de cada letra, já que os kanji são ideogramas, ou seja, a transcrição da idéia e não do som, como é o caso da maioria das letras existentes. Pouco a pouco, os japoneses passaram a escolher a palavra adequada para cada kanji e lê-lo à moda japonesa. Por exemplo, o kanji que significa inverno é

, sendo a leitura chinesa “dong”; porém, como em japonês inverno se diz “fuyu”, o kanji passou a ser lido “fuyu” também.

À medida que as palavras japonesas também foram filtradas e unificadas, os japoneses tiveram a idéia de transcrevê-las aproveitando apenas o som, ou seja, a sua leitura, desprezando a idéia ou o

significado do kanji. Por exemplo, “hana” (flor – ) passou a se escrever também , já que

tem a leitura “ha” e , a leitura “na”. Esses ideogramas (kanji) empregados apenas como fonogramas receberam o nome de man’yôgana, já que foram utilizados na transcrição dos poemas japoneses reunidos na antologia intitulada Man’yôshu.

Criação do hiragana A caligrafia empregada deixou de ser letras de traços retos e definidos, adotando o estilo cursivo, o chamado sôsho-tai, criado na China. Porém, no Japão, o estilo foi adquirindo características próprias, “simplificando” de tal forma os kanji a ponto de ficarem bem diferentes das letras originais. Desse estilo cursivo “simplificado”, nasceu o hiragana. Assim, o hiragana é um conjunto de letras mais curvilíneas. Criação do katakana Assim como o hiragana, o katakana também foi criado a partir dos kanji, mas possui características diferentes. O katakana surgiu como sinais gráficos para auxiliar na leitura de textos chineses, ou ainda, para serem inseridos nos poemas ou textos em estilo chinês, a fim de facilitar sua leitura e compreensão. Essas “letras complementares” ofereceram aos japoneses uma maior expressividade, já que podiam escrever com maior desenvoltura até diferenças delicadas e nuanças dos sentimentos. O katakana foi criado com base em uma parte dos kanji, por isso seus traços são mais retos e rígidos. O uso tanto do hiragana como do katakana consolidou-se no início do século X, em meados da Era Heian, e são empregados até os dias de hoje, concomitantemente com os kanji.

A literatura em kana = literatura da nobreza

Após a criação dos fonogramas kana, a literatura entre os nobres conheceu o seu apogeu, constituindo a era áurea dos waka – poemas japoneses. Esses poemas que enaltecem a natureza, as diferentes facetas das quatro estações e os elementos da natureza

foram criados graças à existência dos kana. O modo de expressão dos poemas contribuiu muito na formação da consciência estética dos japoneses. Nos palácios do imperador e dos nobres, as reuniões para compor e apreciar os poemas tornaram-se cada vez mais freqüentes, deixando de ser apenas um

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simples passatempo das mulheres. Saber compor poemas tornou-se um importante requisito para manter um convívio social entre os nobres da corte. A falta de interesse pela política ocorreu na mesma proporção em que se ampliou o círculo literário da nobreza.

Obras clássicas O Tosa nikki (Diário de Tosa) foi escrito por volta do ano 934, por Ki-no-Tsurayuki e incentivou muitas mulheres a escreverem diários, estimulando a criação de muitas literaturas do gênero.

Genji-Monogatari (Contos de Genji), escrito por Murasaki-Shikibu, por volta do ano 1001, é conhecido como uma obra literária clássica de maior volume. Descreve a elegante e requintada vida da corte, os sentimentos do personagem principal, Hikaru Genji, em relação às mulheres com quem se envolve e as intrigas pelo poder. Não se trata de uma simples ficção, mas se observa a preocupação de descrever os usos e costumes, assim como os pensamentos da Era Heian.

Makura-no-sôshi é uma crônica escrita por Sei-Shônagon sobre a vida na corte, que descreve de forma vivaz, com sensibilidade aguçada e com genialidade, os hábitos do cotidiano da corte. Kokin Waka-shû é uma antologia de 20 volumes que reúne 1.100 poemas compilada por ordem imperial (chokusen-shû), datada do ano de 905.

Rivalidade entre duas literatas Tanto a autora de Genji-Monogatari, Murasaki-Shikibu, como a de Makura-no-sôshi, Sei-Shônagon, pertenciam à classe média da nobreza e serviram à família imperial na mesma época. Foram duas mulheres que lideraram as tertúlias realizadas na corte. Sei-Shônagon possuía gênio forte, fazendo questão de exibir o seu talento. Murasaki-Shikibu, uma mulher mais recatada e retraída, escreveu críticas severas em relação a essa atitude “exibicionista” de Sei-Shônagon em seu diário. Por serem os poemas a forma de literatura mais valorizada na Era Heian, as obras dessas duas mulheres, mesmo conquistando muitos leitores, ficaram relegadas a um segundo plano, encaradas como um passatempo de mulheres da corte. Ainda assim, a literatura da Era Heian floresceu graças às grandes mulheres. Era Heian e o Budismo A história do budismo no arquipélago foi sedimentada pelo príncipe Shôtoku e encontrou sua sublimação com o monge Ganjin.

O ser humano nasce puro e começa a viver em busca da plenitude no decorrer da vida, quando passa por altos e baixos, experimenta emoções e sentimentos diversos. Na juventude, só há olhos para a vida; com o amadurecimento, iniciam-se os questionamentos sobre a vida e o significado da morte. No empenho para se obter uma resposta, várias religiões foram criadas.

No Japão, embora já existisse uma crença nativa entre o povo, o budismo foi acolhido e difundido entre a nobreza, por possuir um embasamento teórico mais

racional e por estar mais adequado ao temperamento pacífico dos japoneses e à integração com a natureza.

A história do budismo no arquipélago foi sedimentada pelo príncipe Shôtoku e encontrou sua sublimação com o monge Ganjin. Entretanto, foi na Era Heian que essa religião se transformou em uma cultura genuinamente nacional, isso porque foi no início desse período que foram introduzidas no Japão as seitas Tendai e Shingon.

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Os ensinamentos de jôdo (Terra Pura) do budismo foram difundidos em meados da Era Heian pelo desejo de deixar esta vida serenamente, entregando-se às mãos de Amidabutsu (divindade budista mais popular no Japão), e encontrar a paz eterna no paraíso.

Monge Saichô e monge Kûkai No início da Era Heian, as seitas budistas que mais conquistaram adeptos foram a Tendai e a Shingon, lideradas pelo monge Saichô (767~822) e pelo monge Kûkai (744~835), respectivamente. Nessa época, o budismo ainda era a crença apenas da nobreza, não sendo cultuado pelo restante do povo. O sincretismo entre a doutrina budista e a crença xintoísta acentuou-se, chegando à construção de um templo budista no pátio de um templo xintoísta e à cultuação de uma divindade regional como protetora de um templo budista. Criou-se também a crença de que os diversos deuses eram a reencarnação do Buda, que vinha para este mundo sob diversas formas para salvar os homens.

O monge Saichô teve sua iniciação religiosa atraído pela doutrina da seita Tendai, fundada pelo grande mestre chinês Chigi (Tendai-Daishi Chigi), levada para o Japão pelo monge Ganjin. Saichô aproximou-se do imperador Kanmu e conseguiu, em 804, integrar a missão a Tang (kentô-shi) como missionário oficial, com direito a intérprete e a todas as mordomias de um representante oficial do país. O monge Kûkai também conseguiu viajar à China junto com essa missão, mas na qualidade de um simples bolsista particular.

Durante os oito meses nos quais permaneceu na China (Dinastia Tang), Saichô reuniu sutras da seita Tendai, artes búdicas e estudou o budismo esotérico. Quando voltou ao Japão, ele se dedicou de corpo e alma à fundação da seita Tendai no arquipélago.

O monge Kûkai, por sua vez, permaneceu na China por aproximadamente três anos, visitando vários templos e encontrando-se com o famoso e conceituado monge chinês Keika, no Templo Seiryû, em Changan, do qual recebeu ensinamentos sobre o budismo esotérico. Kûkai também aprendeu sânscrito antes de voltar ao Japão, trazendo consigo além dos vastos conhecimentos adquiridos na China, diversas obras búdicas, como quadros, objetos sagrados e mandala.

A morte do imperador Kanmu acabou com o prestígio que o monge Saichô tinha junto à nobreza, porque o imperador Saga, sucessor de Kanmu, demonstrou maior simpatia pelo monge Kûkai, que se consolidou como autoridade máxima do budismo esotérico. Em Quioto, Saichô começou a transmitir os ensinamentos da seita Tendai instalando-se no Monte Hiei, e Kûkai fundou no Monte Kôya a base do budismo esotérico: a seita Shingon.

Saichô e Kûkai, os dois grandes gênios do mundo religioso, sempre tiveram a proteção dos nobres e dedicaram suas vidas a manter a paz e a glória da nobreza e da corte. Eles foram os primeiros a receberem o título de Grande Mestre no Japão. O monge Saichô recebeu o título de Grande Mestre Dengyô (Dengyô Daishi); e o monge Kûkai, o de Grande Mestre Kôbô (Kôbô Daishi).

O monge Kûya e a seita Jôdo No início do século X, com o enfraquecimento da corte de Yamato, os nobres que fixaram residência no interior e os grandes clãs regionais começaram a adquirir maior poder, iniciando lutas – que se tornaram cada vez mais acirradas com o passar dos anos – para aumentar os seus feudos.

Nesse cenário de incertezas, surgiu o monge Kûya (903~972). Ele pregava entre o povo de Quioto, que vivia sobressaltado com as lutas constantes, os flagelos provocados pela natureza e a fome. Kûya pregava a salvação pelo nenbutsu (oração budista), invocando o Buda Amidabutsu. Ele influenciou vários grandes monges e conquistou muitos adeptos entre o povo, pois levava uma vida

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ascética, compartilhando suas incertezas e seus sofrimentos, diferente dos monges confortavelmente protegidos pela nobreza. Entretanto, quem consolidou essa doutrina de salvação pelo nenbutsu para alcançar a Terra Pura (Jôdo) foi o monge Genshin (942~1017), que escreveu Ôjo Yôshu, uma obra que explica, num estilo primoroso, a teoria e a prática de salvação da alma pós-morte.

O mappô shisô pregado pelo budismo, a progressiva crença no fim do mundo, fazia com que o povo de Quioto, vítima constante de assaltos, epidemias e outras provações, tentasse encontrar a paz espiritual pelos ensinamentos da seita Jôdo, ou seja, a salvação no mundo da Terra Pura. Dessa forma, começaram a surgir várias “biografias” de pessoas que encontraram a suposta salvação, reunidas numa coletânea conhecida como Ôjo-den.

Com a difusão da seita Jôdo – fundada pelo monge Hônen (1133~1212) em 1175, final da Era Heian – sua arte também prosperou. Foram esculpidas muitas imagens do Buda Amidanyorai e construídos templos suntuosos, na tentativa de recriar o gokuraku (paraíso dos budistas), sendo um dos mais conhecidos o Hôôdô do Templo Byôdoin, em Quioto.

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Era Kamakura

Consolidação da Política dos Samurais

Depois de receber o título máximo dos samurais, Yoritomo faleceu e deu início ao regime regencial, comandado pelo clã Hôjô.

Após a vitória de Minamoto-no-Yoritomo (1147–1199) na Batalha de Dan-no-Ura – que pôs fim à Era Heian –, Yoritomo impôs o reconhecimento dos cargos de shugo (comandante de segurança nacional instalada em cada “nação”) e de jitô (administrador de shôen e cobrador de impostos), dando início à nova era dos samurais, ou seja, ao xogunato de Kamakura. O sistema de xogunato sobreviveu ao longo do tempo, até a restauração Meiji, em 1868.

Os vassalos de Minamoto-no-Yoritomo eram chamados de gokenin, indivíduos que tiveram reconhecidas as terras

herdadas há várias gerações como propriedade particular, ou aqueles que receberam terras. Os vassalos beneficiados dessa forma passavam a dever fidelidade e serviços a Yoritomo. Foi assim que começou a era feudal japonesa, com Yoritomo nomeando seus principais gokenin para shugo e jitô, a fim de ficar com o controle das terras públicas e dos shôen (latifúndios), aumentando seu poder político. Em Kamakura, ele instalou os três poderes: o militar, denominado samurai-dokoro; o executivo, responsável pela administração e pelas finanças, denominado mandokoro; e do judiciário, denominado monchujo.

Em 1192, Yoritomo recebeu o título máximo dos samurais, o de seii taishôgun, falecendo sete anos depois, em 1199, devido à sequela obtida quando caiu de um cavalo. A partir daí, uma série de assassinatos entre os homens que se revezavam no poder abriu espaço para a implementação do regime regencial: o filho primogênito de Yoritomo, Minamoto-no-Yoriie (1182–1215), de 18 anos, sucedeu-o no cargo, tornando-se o segundo xogum. Entretanto, ele foi assassinado por Hôjô Tokimasa (1138–1215), sogro de Yoritomo, pai de sua esposa Masako (1157–1225). Em 1203, Minamoto-no-Sanetomo (1192–1219), segundo filho de Yoritomo, tornou-se o terceiro xogum, mas foi assassinado por seu sobrinho, filho de Yoriie. Depois disso, outros xoguns assumiram o poder, mas o controle de fato ficou com o clã Hôjô e seu séquito, formado por 13 principais gokenin, com o chefe do executivo detendo o poder. Foi o início do regime regencial.

A pena de exílio foi comutada pela primeira vez na História do Japão em 1221, quando a revolta liderada pelo imperador Gotoba foi contida; e o imperador, exilado. Bens e propriedades de nobres e de samurais que apoiaram o imperador Gotoba foram confiscados, e os gokenin que se destacaram na opressão da revolta foram nomeados jitô dessas terras confiscadas. Depois desse episódio, foi criado, em Quioto, na cidade de Rokuhara, o Rokuhara Tandai, órgão do xogunato de Kamakura onde funcionavam os três poderes: militar, executivo e judiciário, para vigiarem a corte e controlarem os samurais da região oeste.

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Criação do Goseibai Shikimoku Em 1232, Hôjô Yasutoki (1183–1242), regente da época, instituiu o Goseibai Shikimoku, uma lei com 51 cláusulas, pois as leis vigentes, estabelecidas há mais de 500 anos, por sua complexidade, não eram compreendidas pelos samurais que viviam no interior, e isso poderia acarretar algum julgamento equivocado. Ataque mongol No século XIII, mais um nome fez história na Ásia: Gêngis Khan (1167–1237), líder do povo nômade da planície mongol, que unificou a Ásia Central. Seus descendentes deram continuidade ao seu trabalho e foram ampliando o território dominado. O quinto sucessor do império mongol, Khublai Khan (1215–1294), instalou-se em Pequim e mudou o nome do país para Yuan, depois de aniquilar a dinastia Sung e de dominar toda a China, estendendo seu império até a península coreana. Khublai enviou, por diversas vezes, mensageiros ao Japão, o único país do Oriente a manter sua independência, com o intuito de subjugá-lo. Porém, Hôjô Tokimune (1251–1284), xogum dessa época, matou o mensageiro, atraindo a ira de Khublai, que atacou por duas vezes o Japão, em 1274 e 1281.

Na primeira vez, Khublai Khan desembarcou com sua tropa na Baía de Hakata, província de Fukuoka, Ilha de Kyushu. O Japão teve dificuldades para conter os inimigos, porque os samurais não estavam preparados para um ataque em massa. Outro fator contra os japoneses eram as armas de fogo da força inimiga, até então desconhecidas no arquipélago. Entretanto, um tufão dizimou a frota inimiga, fato que foi encarado como sorte pelos japoneses. No segundo ataque ao arquipélago, Khublai levou duas tropas, contudo, o Japão estava melhor preparado, pois tinham erguido uma muralha de pedra e defenderam-se bravamente do ataque inimigo. Além disso, mais uma vez o Japão foi salvo por um tufão e os soldados mongóis foram tragados pelas altas ondas do mar.

Os japoneses denominam os tufões que salvaram o Japão da invasão mongol de kamikaze, ou seja, vento divino, pois passaram a acreditar que os deuses mandaram o vento forte para salvar o país. Apesar dessas derrotas, Khublai tinha planos para atacar novamente o Japão, mas eles não se concretizaram.

De acordo com estudiosos, essa tentativa de invasão estrangeira estimulou a consciência nacional entre os japoneses, assim como o fortalecimento do senso de defesa do país em relação às nações estrangeiras.

Os dois ataques mongóis fizeram com que os gokenin, os nobres e os monges empregassem muito dinheiro e esforço espiritual para defender os territórios japoneses, e o xogunato de Kamakura não dispunha de mais terras a serem distribuídas para aqueles que se destacaram na batalha. Dessa forma, cresceram as insatisfações e, em 1333, o clã Hôjô foi destituído por Ashikaga Takauji (1305–1358), que era um dos gokenin. Foi o fim o xogunato de Kamakura, que perdurou durante mais de 150 anos. Yoshitsune, Benkei e Shizuka-gozen

Personagens históricos são muito queridos pelo povo japonês por seus finais trágicos, por sua ingenuidade e por defenderem seus princípios, mesmo diante das autoridades.

Yoshitsune (1159~1189) e Benkei são figuras muito populares no Japão, sendo representadas exaustivamente no teatro Kabuqui. Isso se deve ao gosto do povo japonês pelos personagens fortes, justos e que tiveram mortes trágicas.

Ushiwaka-maru, posteriormente chamado de Yoshitsune, foi o nono filho de Minamoto-no-Yoshitomo, morto na Batalha de Heiji, vencida pelo clã Taira. A partir daí, os Taira tomaram o

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controle político do Japão, perseguindo ferozmente os descendentes do clã Minamoto. Assim, a mãe de Yoshitsune, que tinha origem humilde, refugiou-se em Yamato, voltando mais tarde para Quioto, onde o garoto passou a infância. Tempos depois, ele foi mandado com seus dois irmãos para o Templo de Kurama, a fim de se tornarem monges.

Os irmãos tornaram-se monges, mas Yoshitsune recusou-se a seguir esse caminho e, aos 16 anos, fugiu para Ôshu (região nordeste do Japão). Durante seis anos, ele foi protegido por Fujiwara-no-Hidehira e, quando soube que seu irmão por parte de pai, Yoritomo, havia iniciado uma campanha para derrubar o clã Taira, resolveu unir-se ao irmão. Apesar da oposição veemente de Hidehira, Yoshitsune não cedeu. Assim, Hidehira designou dois de seus súditos para acompanharem Yoshitsune em sua empreitada.

Yoshitsune é conhecido por diversos episódios heróicos. Um deles é a Batalha de Ichi-no-Tani travada contra o clã Taira. Ele atacou a tropa dos Taira com mais de 70 samurais descendo o vale a cavalo por um declive quase vertical, por onde nenhum homem desceria em sã consciência. Com esse ataque surpresa, Yoshitsune conseguiu uma grande vitória, aumentando sua fama cada vez mais entre o povo de Quioto e inquietando o seu irmão Yoritomo.

Guerreiro sem malícia, Yoshitsune lutava apenas para vingar seu pai e para obter o reconhecimento de seu irmão. Entretanto, Yoritomo o via como uma ameaça ao seu poder. O prestígio de Yoshi-tsune aumentava proporcionalmente à desconfiança de seu irmão, quando a família Taira foi destruída na Batalha de Dan-no-Ura, que teve a participação fundamental de Yoshitsune. Sem traquejo político, Yoshitsune acabou vítima de conspirações e não soube dissipar a desconfiança de seu irmão. Alegando insubordinação, Yoritomo proibiu sua entrada em Kamakura, confiscou suas terras e iniciou uma perseguição a Yoshitsune.

Durante sua fuga, além de contar com a proteção constante de seu fiel súdito, o monge Benkei, Yoshitsune foi ajudado por muitos simpatizantes. Ele procurou mais uma vez a proteção de Fujiwara-no-Hidehira, do poderoso clã da região de Ôshu, que faleceu em 1187. Em seu leito de morte, Hidehira pediu a seus filhos a destituição de Yoritomo, sob o comando de Yoshitsune. Porém, Fujiwara-no-Yasuhira, filho de Hidehira, temendo represália, matou Yoshitsune, sob ordens de Yoritomo. Yoritomo, que ambicionava o domínio total do Japão apesar de Fujiwara-no-Yasuhira ter demonstrado fidelidade, enviou uma grande tropa para destruir o clã da região de Ôshu. Como a cabeça de Yoshitsune levou mais de 40 dias até chegar em Kamakura, espalharam-se boatos de que ele estaria vivo.

Benkei

O monge Benkei, fiel súdito de Yoshitsune, nasceu na atual província de Wakayama, filho de pais nobres. Seu nome de infância era Oniwaka, literalmente jovem demônio, pois desde pequeno possuía uma força descomunal, sendo uma criança extremamente violenta. Seu pai, que era monge, preocupado com o futuro de seu filho, mandou-o para o Templo Enryaku, em Hieizan, Quioto, a fim de iniciá-lo nos estudos religiosos. Porém, após vários abusos, Oniwaka deixou Hieizan e foi para Harima, onde, depois de brigar com um monge, incendiou o templo. Em Quioto, o rapaz conheceu Yoshitsune. Embora Benkei seja um personagem real, sabe-se muito pouco sobre ele. Apesar de existirem muitas versões sobre suas façanhas, dramatizadas nas peças de Kabuqui, Nô, etc., há pouco registro sobre sua vida. Mesmo sobre seu encontro com Ushiwaka-maru (mais tarde, Yoshitsune), há algumas versões. A mais provável é que eles tenham se encontrado no Templo Kiyomizu, e Benkei tenha simpatizado com Yoshitsune, tornando-se seu súdito. No Templo Kiyomizu, há calçados e cajado de ferro usados por Benkei, tão pesados que só um homem de força descomunal poderia usá-los.

Outro episódio muito conhecido, representado diversas vezes no teatro Kabuqui, é a morte em pé de Benkei, tentando proteger Yoshitsune. Há a lenda de que Benkei, na Batalha do Rio Koromo-

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gawa, tentando proteger seu senhor Yoshitsune, ficou em pé sobre a ponte, apoiando-se em seu cajado de ferro e impedindo o avanço inimigo, tornando-se alvo de suas flechas.

Shizuka-gozen

Shizuka foi uma dançarina do estilo de dança tradicional shirabyôshi, em Quioto. Yoshitsune apaixonou-se por Shizuka quando a viu dançando, transformando-a em sua concubina. Quando Yoshitsune fugiu da perseguição do irmão, Shizuka foi levada para Kamakura junto com sua mãe para ser interrogada sobre o paradeiro de seu amado, o que ela se negou a revelar. Yoritomo pediu a Shizuka para dançar e cantar, pois queria conhecer a arte que tanto encantava o povo de Quioto. No inicío, ela recusou-se, mas, por persistência de Masako, esposa de Yoritomo, acabou cedendo, e dançou entoando o famoso poema que falava de sua paixão por Yoshitsune, fato que provocou a ira de Yoritomo.

Shizuka permaneceu alguns meses em Kamakura e deu à luz um menino, filho de Yoshitsune, que foi assassinado por Yoritomo, apesar da intervenção de sua esposa Masako.

Shizuka voltou para Quioto e, segundo a lenda, faleceu jovem, com pouco mais de 20 anos. Yoshitsune, Benkei e Shizuka são personagens da história muito queridos pelo povo japonês, por sua alma pura, que beira à ingenuidade, por seus finais trágicos e por não cederem, mesmo perante à autoridade para defender seus princípios. Habitações da cidade medieval de Kamakura

Alto nível cultural da classe dos samurais é comprovado pelas descobertas das escavações; guerreiros trajavam-se de forma simples e faziam uso de diversos utensílios na vida diária. A cidade de Kamakura tem uma localização privilegiada. De um lado, as montanhas; de outro, o mar, ou seja, um verdadeiro forte criado pela natureza. Na principal avenida da cidade, 30 metros de largura unem o mar ao Templo Tsurugaoka Hachiman, onde se cultua o deus protetor da família Minamoto. Ao longo dessa avenida, perfilavam-se as residências dos principais samurais e, perto do templo, erguiam-se os edifícios do xogunato. A família Hôjo possuía a morada principal de Kamakura e uma casa de campo na periferia da cidade.

As residências dos samurais tinham, normalmente, cerca de 3.600 m2 e eram cercadas por valetas ou muros de barro de formato quadrado ou retangular. Exceto nos templos budistas, as telhas ainda não eram usadas. Dentro do cercado, ficava a casa principal; nos fundos, o depósito e o estábulo, assim como alguns poços. Poucos recintos eram forrados com o tatame, a maioria tinha piso de madeira no chão.

Observam-se algumas padronizações nos materiais de construção das residências. Esse tipo de construção era chamada de estilo samurai, ou seja, bukezukuri. Nas casas de campo, eram realizados saraus, festas e reuniões para jogar o sugoroku, um jogo de dados.

Sanetoki Kanazawa, do clã Hôjo, dedicou-se à educação dos monges e dos filhos de samurais, construindo uma escola e uma biblioteca no terreno de sua casa de campo. Kanazawa importou sutras e livros com ensinamentos de Confúcio. Uma parte desse acervo resistiu ao tempo e pode ser vista ainda hoje.

Trajes Os trajes dos samurais – chamados de kariginu – eram bem mais simples que os da nobreza e de fácil movimentação. O povo também, a exemplo dos samurais, trajava-se de forma simples. As mulheres não usavam junihitoe, os vários quimonos sobrepostos que as mulheres nobres vestiam. Elas

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usavam o quimono simples e leve chamado de kosode. Calçavam uma espécie de chinelo de palha chamado zôri; ou tamanco, chamado geta. As camadas mais pobres da população andavam descalças. Hábitos alimentares Os poços de uso do povo não eram cavados em terreno rochoso, eles utilizavam água de poços de terreno arenoso, com cerca de 2 metros de profundidade. A qualidade das águas da região de Kamakura não era boa. Há o registro de que a água era comercializada em carroças. Com o desenvolvimento das técnicas de escavações arqueológicas, podemos saber muitos dos hábitos alimentares do povo da época. Eles se alimentavam de: carne de veado, javali e texugo; diversos tipos de peixes; moluscos e crustáceos; cereais e frutas. As arcadas dentárias com desgaste dos dentes molares comprovam que os alimentos dessa época eram mais duros. Foram encontrados em escavações pratos, moringas, tigelas com sulcos (ralador) de cerâmica e, ainda, porcelanas importadas da China. As refeições eram feitas duas vezes ao dia. Como adoçante, eram utilizados mel, pó de caqui seco e cipó doce (amakazura). O hábito de tomar chá foi difundido pelos monges da seita zen-budista. Atividades literárias

Utensílios e objetos tais como apetrechos para cerimônia do chá e objetos religiosos, como terço de contas, tabuleiro de gô (xadrez japonês) encontrados nas escavações indicam o alto nível cultural da classe dos samurais.

Na escultura, destacam-se os nomes de Unkei (?–1223) e Kaikei (1183–1236), os dois maiores escultores da Era Kamakura que criaram estátuas (niou) para o templo Todaiji, em Nara. Ambos deixaram verdadeiras obras-primas desse período histórico japonês.

Na literatura, foi compilado por Fujiwara-no-Teika (1162–1241), em 1205, a antologia de poemas Shin Kokin Waka Shû (Nova antologia de poemas oficiais), de 20 volumes. Os poemas são tecnicamente muito bem elaborados, prezando demais a estética. A antologia Hyakunin Isshu (Um poema de cem poetas) – apreciada durante muito tempo por nobres e samurais – também foi compilada por Fujiwara-no-Teika. O terceiro shogun, Minamoto-no-Sanetomo (1192–1219), por sua vez, deixou para posteridade a antologia de poemas de alto valor literário Kinkai Waka Shû (Antologia de poemas de um ministro de Kamakura). Não se pode deixar de mencionar o famoso romance Heike Monogatari (Contos da família Heike), uma obra-prima da era medieval do Japão. O enredo é centrado na glória e na decadência do clã Taira. As cenas de guerra são narradas com emprego abundante de kango (palavras de origem chinesa) e onomatopéias que dão ao texto maior dinamismo. A obra Heike Monogatari tornou-se conhecida no Japão todo devido aos biwa hôshi (espécie de menestrel ou monge de baixa classe, que ganhava o seu sustento narrando histórias ao som de instrumento de corda chamado biwa).

Yoshida Kenkô (1283–1350) fala da vida dos samurais da região de Kantô, dos povos nômades e da política em suas crônicas reunidas no livro Tsurezure-gusa (Crônicas de um ocioso). Ele critica o sistema político vigente, que leva o povo à miséria, obrigando-o a tornar-se fora da lei e ainda aplica penas por seus crimes.

Outra obra de destaque dessa época, é Hôjô-ki (Diário de um eremita), de Kamo-no-Chômei, com suas expressões introdutórias muito conhecidas: “A correnteza do rio nunca cessa, e as águas nunca são as mesmas”, numa alusão à efemeridade da vida. As sutras e os textos de obras chinesas eram lidos em grande quantidade pelos monges que tinham ido à China para estudar.

A Era Kamakura foi a época de transição, em que as artes, exclusividade da nobreza, passaram a fazer parte da camada dos samurais, dos monges e do povo em geral.

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Novo budismo em Kamakura

Popularização do budismo facilitou o surgimento de seitas religiosas que tinham diversas particularidades e, em comum, a busca pela salvação.

A Era Kamakura, liderada por samurais, caracterizou-se pelo surgimento de novas tendências religiosas e pelas intensa busca de apoio espiritual, levando o budismo até o povo. Até a Era Heian (794~1192), essa forma de religião era praticada quase que exclusivamente pelos nobres. Com a popularização da crença budista, entretanto, surgiram várias seitas denominadas “Novo Budismo de Kamakura”.

O aparecimento de novas seitas foi impulsionado pela idéia de fim do mundo (mappô shisô) que se espalhou em fins da Era Heian, provocada pela instabilidade social – conseqüência da guerra entre os clã Taira e Minamoto –, a miséria e as calamidades.

Os monges Eisai (1141~1215) e Douguen (1200~1253) estudaram na China (Dinastia Sung) a seita Zen, que prega a meditação para atingir o nirvana e, quando voltaram ao Japão, fundaram respectivamente as seitas Rinzai-shû e Sôtô-shû.

Shinran (1173~1262), discípulo do monge Hônen (1133~1212), fundou a seita Jôdo-shinshû e, na época do ataque dos mongóis, o monge Nichiren (1222~1282) fundou a seita Nichiren-shû, que pregava a salvação da alma e do país.

Todas essas novas seitas têm em comum a simplicidade e a ausência de prática ascética rigorosa, tornando possível a qualquer pessoa o seu exercício para encontrar a salvação da alma humana.

A seita Zen

Rinzai-shû, facção da seita Zen, tinha características esotéricas, e seus monges eram vistos mais como uma espécie de curandeiros.

A difusão da genuína seita Zen foi promovida entre os samurais com a vinda do monge chinês Rankei Dôryu, em 1247. Ele pregava o ensinamento do zen-budismo chinês seguindo à risca os seus preceitos, conquistando muitos fiéis entre os samurais, que tinham em comum a filosofia de vida austera e despojada de luxo.

A seita Zen na China tinha o respaldo da classe alta, tendo um conteúdo bastante elevado e de influência confuciana. Assim, mesmo no Japão, a seita Zen encontrou adeptos entre os samurais da classe alta.

A seita Jôdo (Terra Pura) A seita Jôdo, que começou a se difundir entre o povo a partir de fins da Era Heian, adquiriu novo alento na Era Kamakura. Diferindo da seita Zen, que exige uma disciplina rigorosíssima, aos fiéis da seita Jôdo, bastava ter uma crença incondicional em Buda e rezar com todo o fervor para obter a salvação.

O monge Shinran, fundador da seita Jôdo-shinshû, pregava a salvação de todos, seja malfeitores seja prostitutas. Provavelmente esse tipo de pregação conquistou também os samurais que viviam entre a vida e a morte. Esses guerreiros precisavam do ensinamento da seita Zen para se disciplinar, mas também precisavam acreditar que conseguiriam a salvação da alma após a sua morte. Assim, nos

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templos da seita Jôdo existentes em Kamakura, observam-se as influências da seita Zen; e nos de seita Zen, as influências da seita Jôdo.

A seita Nichiren-shû O monge Nichiren, filho de um pescador de Awa (atual província de Tokushima, Ilha de Shikoku), estudou o budismo em Hieizan, Quioto, e mudou-se para Kamakura a fim de divulgar o ensinamento da sutra de Hokekyô, o budismo Mahayana. Ele criticava duramente o ensinamento da seita Jôdo, que pregava apenas a oração, profetizando a invasão do Japão por uma nação estrangeira e a revolta desta. Essa profecia acabou se concretizando com a tentativa da invasão mongol e a revolta de Hôjo Tokiura. Porém, por causa das críticas ao xogunato e a outras seitas, Nichiren foi exilado para Izu e, mesmo após a anistia e a volta para Kamakura, continuou com suas críticas, sendo novamente exilado, dessa feita, para a Ilha de Sado. Após sua segunda anistia, dedicou-se à educação de seus discípulos no Templo Kuon, no Monte Minobu, província de Yamanashi.

A seita Nichiren-shû é a única que leva o nome do seu fundador, demonstrando quanto ele era venerado por seus seguidores. Até hoje, os fiéis fazem romaria ao Monte Minobu, onde se encontra o seu túmulo, fato raro também na história do Japão.

O grande Buda de Kamakura O gigantesco Buda de Kamakura, o segundo maior do Japão, feito de bronze com 11,5 m de altura, é envolto em muitos mistérios. Supõe-se que tenha sido construído por volta de 1252 por um escultor da linhagem de Unkei, grande escultor da Era Kamakura. Comparado ao grande Buda do Templo Tôdai-ji (cidade de Nara), o maior do Japão, ele possui feição mais suave e sua postura mais curvada causa a impressão de estar ouvindo atentamente as orações dos seus fiéis.

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Era Muromachi

Era de duas cortes e “Restauração Kenmu”

O governo da Restauração Kenmu só durou dois anos e meio, pois surgiram divergências entre o imperador Godaigo, que priorizava os interesses da nobreza, e Takauji, que representava os samurais.

Após meados da Era Kamakura, a família imperial travava uma disputa entre seus próprios membros pela divisão dos bens. Ainda entre os samurais, também havia muitos que estavam descontentes com o clã Hôjô. Aproveitando-se dessa situação, o imperador Godaigo (1288–1339) tramou uma revolta contra o xogunato de Kamakura em 1324, porém, a conspiração acabou chegando aos ouvidos inimigos e fracassou. Sem esmorecer, em 1331, ele planejou outro levante, mas fracassou novamente, sendo exilado para Oki em 1332.

As tentativas de Godaigo não cessaram e, em 1333, o imperador conseguiu o seu intento e derrubou o xogunato de Kamakura com a ajuda de Ashikaga Takauji (1305–1358), que havia sido designado justamente para combater as forças revoltosas. O imperador Godaigo retornou a Quioto e restaurou o poder imperial. Esse período foi denominado Restauração Kenmu, pois, em 1334, o nengô (era ou período) passou a se chamar Kenmu. Esse governo durou apenas dois anos e meio, pois surgiram divergências entre o imperador Godaigo, que sempre deu prioridade aos interesses da nobreza, e Ashikaga Takauji, que representava a classe dos samurais. Eles entraram em conflito por causa da distribuição de terras e prêmios.

Os conflitos culminaram com a destituição do imperador Godaigo provocada por Ashikaga Takauji, que se instalou em Quioto. Takauji estabeleceu as diretrizes de seu governo, indicou um novo imperador e tornou-se xogum em 1338. Godaigo refugiou-se em Yoshino, província de Nara, ainda declarando ser o verdadeiro imperador do Japão. Dessa forma, coexistiram nesse período a corte de Quioto e de Nara, fato que recebeu a denominação de Era da Corte Norte (Quioto) e da Corte Sul (Nara), ou seja, Nanboku-Chô Jidai, por sua situação geográfica. Essa era foi marcada pela disputa de poder e perdurou por quase 60 anos, até 1392. Início do xogunato Muromachi Para Ashikaga Takauji, o melhor mesmo seria instalar-se em Kamakura, base do clã Ashikaga, mas, preocupado com a revolta do imperador Godaigo, ele instalou-se em Quioto, para conter o poder da Corte Sul.

O período controlado pela família Ashikaga foi conhecido como Era Muromachi, devido à construção do palácio Hana-no-Gosho (Palácio das Flores), sede do xogunato Ashikaga (1336–1573), na cidade de Muromachi. O palácio foi construído em 1378.

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A cidade de Quioto transformou-se em campo de batalha na época das duas cortes, quando a tropa da Corte Sul, liderada pelo nobre Kitabatake Chikafusa (1293–1354), tentou invadir a cidade de Quioto, na tentiva de reverter a situação.

Em 1352, o segundo xogum, Ashikaga Yoshiakira (1330–1367), outorgou a lei denominada hanzei-rei (lei da repartição ao meio), que repartia a metade das terras dos latifúndios (shôen) de propriedade dos nobres e templos por tempo indeterminado, transformando-as em feudos dos samurais. Com isso, Yoshiakira conseguiu, até certo ponto, fortalecer o poder do xogunato Ashikaga.

O terceiro xogum, Ashikaga Yoshimitsu (1358–1408), iniciou o comércio com Ming (China) sob o título de “Rei do Japão”. O arquipélago passou a importar moedas de cobre e tecido de seda, exportando enxofre, cobre e espadas, obtendo grandes lucros. Essa riqueza fez com que florescessem as culturas Kita-Yama e futuramente Higashi-Yama (que serão tratadas no próximo capítulo). Iniciou-se ainda a economia baseada em dinheiro, com a moeda de cobre circulando no país. O fato de observar o aumento dos casos de pagamento dos impostos em dinheiro significa que, nessa época, havia um mercado ativo de compra e venda de arroz.

Revolta dos camponeses O século XV foi marcado também por anomalias climáticas, ocorrendo em várias regiões do Japão o tempo frio atípico, a falta de alimentos e as epidemias. Principalmente durante o grande flagelo de 1461, houve cerca de 84 mil mortes só em Quioto. Nessa época, houve vários levantes de camponeses que ficaram conhecidos pelo nome de tsuchi ikki. Em 1428, por exemplo, houve, na região de Kinki, o primeiro levante na história do Japão reivindicando a anistia. Com a péssima colheita, foram anos de verdadeiro pesadelo para os camponeses.

O aumento do poder do povo, proveniente do desenvolvimento da agricultura, incentivou a luta pela diminuição da carga tributária. A falta de arroz e a conseqüente elevação de seu preço fizeram com que os transportadores, também passando por dificuldades, se unissem aos agricultores. Esses fatores, aliados aos juros altos cobrados sobre às dívidas, impulsionaram as grandes revoltas. A falta de uma diretriz política firme por parte do xogunato Ashikaga durante esse período causou a sua queda após perdurar por 15 gerações.

O rebaixamento da posição da mulher na sociedade A partir dessa época, a alteração da forma de casamento também mudou o lugar da mulher na sociedade. A mudança de muko-tori (marido indo morar na casa da noiva) para yome-iri (esposa fazendo parte da família do marido) tirou das mãos do pai o controle sobre sua filha após o casamento. Dessa maneira, a divisão dos bens para a filha deixou de existir, rebaixando cada vez mais a posição socioeconômica da mulher. A era dos países em guerra

Sucessão ao trono de xogum deu início à Revolta de Onin, que levou o Japão a um período de mais de cem anos de intermináveis batalhas.

Quando Yoshimitsu, o terceiro xogum do clã Ashikaga, instalou-se em Quioto, no início da Era

Muromachi, o Japão conheceu relativa paz e prosperidade, quebrados pela Revolta de Onin, que promoveu o surgimento dos sengoku daimiôs, literalmente, os senhores feudais dos países em guerra, que conquistaram o poder através da força, levando o Japão a mais de cem anos de intermináveis batalhas.

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A Revolta de Onin (1467~1477) A sucessão ao trono de xogum (supremo comandante dos samurais) foi o motivo da Revolta de Onin. Hino Tomiko (1440~1496), esposa do oitavo xogum, Ashikaga Yoshimasa (1436~1490), queria que seu filho Yoshihisa (1465~1489) fosse o ocupante do trono. Para isso, ela pediu ajuda ao shugo daimiô (comandante de segurança nacional) Yamana Mochitoyo, mais tarde, monge Sôzen (1404~1473). No entanto, Yoshimasa já havia designado seu irmão Yoshimi (1439~1491) como seu sucessor, já que seu filho primogênito havia falecido ainda criança, e o casal não tinha filhos há mais de dez anos. Porém, logo após Yoshimi ser designado sucessor, Tomiko engravidou e deu à luz um menino. Yoshimasa pediu ajuda a Hosokawa Katsumoto (1430~1473) – até então kanrei (espécie de primeiro-ministro) –para manter seu irmão como sucessor. Este conflito serviu como pretexto para que os dois grandes senhores feudais medissem forças pela conquista de maiores poderes.

O saldo da Revolta de Onin paraQuioto foi péssimo, pois a cidade ficou em cinzas. Os dois líderes, Sôzen e Katsumoto, morreram por motivo de doença. Hino Tomiko, porém, enriqueceu durante a guerra, emprestando dinheiro aos senhores feudais mediante cobrança de juros. Além disso, a vontade da esposa de Yoshimasa prevaleceu, e seu filho Yoshihisa tornou-se o nono xogum do clã Ashikaga.

Hino Tomiko (1440~1496) Filha de nobres, Tomiko casou-se com o xogum Ashikaga Yoshimasa aos 16 anos. Yoshimasa, então com 21 anos, já tinha várias concubinas e filhos.

Tomiko é conhecida como uma das vilãs da história do Japão, por ter causado a Revolta de Onin, fato que levou o arquipélago a uma guerra de mais de cem anos, até a unificação do país, conseguida por Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi. A esposa de Yoshimasa não só foi uma das principais responsáveis pelo incidente de Onin, como também praticou agiotagem com daimiôs que vinham a Quioto participar da revolta, e criou o imposto de trânsito para pessoas e produtos que entravam na capital. O imposto, uma medida abusiva, foi abandonado após a rebelião de camponeses, transportadores e comerciantes.

Apesar de sua fama e de suas atitudes polêmicas, Tomiko foi uma mulher forte e culta, que com sua fortuna sustentou a arte que floresceu nessa era e que perdura até os dias atuais. Embora tenha tido participação marcante no cenário político japonês, como mulher, Tomiko foi muito infeliz. Seu casamento não foi bem-sucedido e também não teve sorte com os filhos. Seu primogênito faleceu ainda criança; o segundo filho, Yoshihisa, não foi bom nem como filho nem como político, mesmo com todos os esforços que Tomiko empreendeu para torná-lo xogum; o terceiro filho, a quem ela amou e depositou grandes esperanças, faleceu aos 16 anos. Mesmo Yoshihisa, com quem Tomiko não tinha boas relações, faleceu aos 25 anos.

Aos 56 anos, Tomiko faleceu, seis anos após a morte de seu marido Yoshimasa, e depois de participar da sucessão do décimo xogum, Yoshiki, filho de Yoshimi.

Sengoku-jidai – A era dos países em guerra (1467~1573) Enquanto os senhores feudais (shugo daimiô) lutavam em Quioto, seus vassalos, que ficaram nos seus feudos, usurparam o poder, dando início a uma guerra entre os mais fortes para tentar a conquista do domínio do Japão suplantando seus superiores, ou traindo os amigos e parentes para adquirir mais poder e terras. Esses novos ascendentes eram chamados de sengoku daimiôs. Eles construíam castelos no alto da montanha, onde poderiam ter boa visibilidade em caso de ataque inimigo, mas normalmente moravam em casarões construídos na parte plana, no sopé da montanha, em torno do qual surgiram cidades.

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Dentre esses sengoku daimiô, destaca-se Oda Nobunaga de Owari (província de Aichi), um grande e frio estrategista, que destruiu um a um os seus inimigos, chegando ao cúmulo de mandar incendiar o Templo Enryaku-ji, por seus monges terem desobedecido às suas ordens.

Em 1573, Nobunaga expulsou o décimo quinto xogum, Ashikaga Yoshiaki (1537~1597), de Quioto, encerrando dessa forma a Era Muromachi. A chegada dos portugueses ao Japão Os países da península ibérica, Portugal e Espanha, viviam uma época de grande expansão marítima, com o navegador português Vasco da Gama chegando à India em 1498, contornando o continente africano; Cristóvão Colombo descobrindo a América em 1492, financiado pela Espanha; e o navegador português Fernão de Magalhães chegando ao Oriente atravessando o Oceano Atlântico, contornando a América do Sul e atravessando o estreito que hoje leva o seu nome, para atingir o Oceano Pacífico. Por fim, Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500.

Quarenta e três anos após o descobrimento do Brasil, em 1543, os portugueses chegaram à Ilha de Tane-ga-shima, ao sul da Ilha de Kyushu, levados pela tempestade. Eles foram os primeiros ocidentais que os japoneses conheceram. Nessa ocasião, os ocidentais transmitiram conhecimentos sobre armas de fogo como a espingarda aos japoneses. Como o arquipélago estava em guerra, esse novo recurso propagou-se rapidamente pelo país. Com o tempo, a espingarda passou a ser fabricada nas cidades de Sakai (província de Osaka) e Kunitomo (província de Shiga), pois os custos para sua importação eram muito altos.

Coincidentemente, em 1549, no mesmo ano em que o jesuíta Manuel da Nóbrega chegou à Bahia, o também jesuíta Francisco Xavier chegou em Kagoshima, Ilha de Kyushu, para difundir o cristianismo. Muitos outros religiosos chegaram ao Japão, conseguindo converter até mesmo alguns daimiôs ao cristianismo. Cultura Kitayama e Higashiyama Arte japonesa tradicional foi sedimentada nessa fase da história do Japão; manifestações foram levadas a várias regiões por nobres e monges.

A consolidação e a elevação da qualidade da arte em muitas de suas formas ocorreu na Era Muromachi. Manifestações culturais praticadas por nobres, samurais e pelo povo de uma forma geral sobreviveram ao longo do tempo e podem ser apreciadas até hoje. A cultura japonesa dita tradicional – cerimônia do chá (cha-no-yu), arranjo de flores (ikebana), pintura a nanquim (suiboku-ga ou sumiê), teatro Nô, etc. – sedimentou suas bases nessa fase da história do Japão.

O suntuoso edifício dourado Kinkaku (pavilhão de ouro), construído pelo terceiro xogum, Ashikaga Yoshimitsu, em fins do século XIV, em Kitayama, ao norte de Quioto, simboliza a glória do clã Ashikaga. Assim, as manifestações culturais dessa época são conhecidas como cultura Kitayama. Enquanto intermináveis batalhas aconteciam em Quioto, o oitavo xogum, Yoshimasa, construiu, em Higashiyama, a luxuosa casa de campo Ginkaku (pavilhão de prata), indiferente ao sofrimento do povo. A cultura representada pelo edifício Ginkaku é conhecida como Higashiyama-bunka.

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Kinkaku (pavilhão de ouro) e Ginkaku (pavilhão de prata) O Kinkaku, construído pelo xogum Yoshimitsu em 1397, com a fortuna adquirida através do comércio com a China (Dinastia Ming), era totalmente folheado a ouro. Construção de três andares, sendo o piso térreo e o primeiro andar destinados à moradia e o segundo andar para culto religioso, possui uma estética simétrica harmoniosa. Após a morte de Yoshimitsu, segundo sua vontade, a construção foi convertida em um templo budista denominado Rokuon-ji, embora seja popularmente conhecido pelo nome de Templo Kinkaku. Em 1950, o templo foi totalmente destruído pelo fogo, sendo reconstruído em 1955. O incêndio foi provocado por um jovem monge lunático, obcecado pela beleza arquitetônica do templo, fato que inspirou o romance O templo do Pavilhão Dourado, escrito por Yukio Mishima, em 1956.

Por sua vez, o Ginkaku (pavilhão de prata), como diz o próprio nome, era para ser folheado a prata, o que não se concretizou por falta de verbas. Sua construção foi ordenada pelo oitavo xogum do clã Ashikaga em 1460, completando-se, porém, somente em 1482, devido à Revolta de Onin. O seu estilo arquitetônico, com o piso inteiramente forrado de tatami, presença de shôji (divisórias corrediças com caixilhos de madeira forrados com papel) e tokonoma (uma espécie de nicho com prateleiras para enfeitar com obras de arte), é o que há de mais representativo na construção tradicional japonesa da atualidade. As obras de arte para adornar o tokonoma fizeram florescer o suiboku-ga (mais conhecido por nós como sumiê) e o ikebana (arranjo de flores).

Após a morte do xogum Yoshimasa, o pavilhão transformou-se no Templo Jishô-ji, porém é conhecido popularmente como o Templo Ginkaku. Suiboku-ga (Sumiê) Pintura em austero estilo monocromático, criada na China e introduzida no Japão durante a Dinastia Song (960~1279) e Yuan (1279~1368), encontrou grandes adeptos entre os monges da seita zen dos templos de Kamakura e Quioto. No século XV, o pintor Sesshu Toyo (1420~1506) criou um estilo japonês próprio, inspirado na pintura monocromática da China. A sua obra mais representativa é Ama-no-hashidate (1501, acervo do Kyoto National Museum).

No fim da Era Muromachi, um novo gênero de suiboku-ga foi desenvolvido por artistas da escola Kanô. A escola Kanô foi iniciada por Kanô Masanobu (1434~1530) – pintor oficial do xogunato Muromachi – e continuada por seu filho Kanô Motonobu (1476~1559). O seu estilo mais decorativo e a sua sensibilidade plástica tiveram grande influência nos pintores das épocas posteriores.

Ikebana Chamado também de kadô, ou seja, caminho das flores, teve origem nos arranjos de flores oferecidos durante a cerimônia budista. No século XV, desenvolveu-se a ponto de se tornar uma arte com estilo próprio. A seleção apurada das flores e vasos, a disposição dos galhos e a simetria entre eles e as flores têm distinguido esta arte da utilização das flores com simples intuito decorativo.

Atualmente, no Japão, há cerca de 3 mil estilos, sendo os mais populares o Ikenobô, o Ohara e o Sogetsu. Teatro Nô Dos teatros exibidos até os dias de hoje, o Nô é o mais antigo do mundo. Nascido no século XIV, o teatro Nô preserva o que outros importantes teatros perderam: a origem ritualista, refletindo a visão do budismo. Normalmente, os personagens são fantasmas que completaram o seu ciclo de

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existência terrena e intermedeiam o outro mundo, o mundo divino, com o terreno. É um teatro misto de dança, drama e musical, cujo ator principal usa máscara.

A transformação para os moldes existentes atualmente ocorreu na Era Muromachi, com o surgimento de Kan’ami (1333~1384) e seu filho Zeami (1363~1443), que tiveram a proteção do xogum Ashikaga Yoshimitsu. A filosofia de Zeami sobre os vários aspectos do teatro é seguido até hoje pelos atores do teatro Nô.

O Kyôgen, comédia representada entre os atos de teatro Nô, também surgiu no início da Era Muromachi.

Outras manifestações culturais Renga, poema criado em grupo, ou seja, uma primeira pessoa cria os versos formados por 17 sílabas (5, 7 e 5 sílabas) e a seguinte prossegue, com versos de 14 sílabas (2 versos com 7 sílabas cada), e assim sucessivamente até criar cem versos, foi transformado em uma arte literária de alto nível pelo mestre Sôgi (1421~1502), que criou uma série de regras complexas.

Da Era Muromachi até início da Era Edo, foram escritos contos denominados otogi-zôshi (literalmente, coletânea de contos de fadas), popularizando cada vez mais a cultura. Entre esses contos, existem muitos que são conhecidos até os dias de hoje, como por exemplo, o Issun-bôshi, no qual um rapaz do tamanho de um polegar salva uma princesa dos demônios e cresce graças ao mágico uchide-no-kozuchi (martelo encantado), versão oriental do condão de fada, casa-se com a princesa e vivem felizes para sempre. Este conto mostra bem os anseios do povo que nunca mudam nem no tempo, nem no espaço.

As manifestações culturais dessa época foram levadas a várias regiões do Japão pelos nobres e monges que procuraram abrigo entre os clãs regionais para se refugiarem da Revolta de Onin, que devastou a cidade de Quioto. Tempos de piratas, comércio e expansão

Período é marcado pela violência dos wakô, os temíveis piratas japoneses, e pela intensificação das relações comerciais com países vizinhos.

Em fins do século XIV, época em que o xogunato de Muromachi consolidou o seu poder, o Leste Asiático sofria intensas transformações. E uma das causas, embora indireta, dessas transformações ocorreu por conta da atuação dos temíveis grupos de piratas japoneses denominados pelos chineses e coreanos de wakô. Wakô, os piratas japoneses Os wakô viviam na região norte da Ilha de Kyushu e nas redondezas da Baía de Seto. Com frotas que variavam de 3 a 500 navios, invadiam terras vizinhas e queimavam casas, matando todos aqueles que tentavam resistir. Outra prática constante era a pilhagem de bens e o seqüestro de homens, mulheres e crianças.

Os ataques freqüentes dos piratas contribuíram para a decadência do reino de Kôrai (Coréia). Em 1392, Yi Song-Gye (1335~1408) conseguiu expulsar os wakô das terras coreanas, derrubar o reino de Kôrai e fundar a dinastia Yi (1392~1910). O comércio entre Japão e Coréia iniciou-se quando Yi enviou uma carta para Ashikaga Yoshimitsu (1358~1408), solicitando o combate aos wakô e o comércio entre as duas nações, no que foi prontamente atendido pelo xogunato japonês.

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A queda da dinastia Yuan na China, em 1369, também impulsionou o rigor no combate aos wakô. A dinastia Ming, sucessora de Yuan, proibiu o comércio privado e permitiu o comércio internacional apenas com os países que tinham acordo com o reinado Ming.

Os wakô readquiriram força com o enfraquecimento do xogunato de Muromachi. Suas pilhagens continuaram até a unificação do Japão por Toyotomi Hideyoshi.

Comércio com China e Coréia A atividade comercial entre Japão e Coréia foi muito rica. Entre os produtos vendidos pelo arquipélago, estavam cobre, enxofre e artigos dos mares do sul, como pimenta, medicamentos e plantas perfumadas, trazidos pelos navios mercantes de Ryukyu (atual Okinawa). As compras consistiam em tecidos, principalmente o algodão, que os nipônicos não produziam. Nessa época, os japoneses usavam roupas feitas de tecido de cânhamo. Como o tecido de algodão era mais eficiente no inverno que o de cânhamo, ele se tornou um item muito apreciado no Japão, com importações em grande quantidade e forte influência nos hábitos do povo do sol nascente.

No início, as transações comerciais eram feitas em Hakata, cidade ao norte da Ilha de Kyushu. Entretanto, durante a Era Muromachi, duas cidades cresceram rapidamente: a própria Hakata e Sakai, situada na Baía de Osaka.

O dazaifu, repartição do governo central para cuidar de assuntos diplomáticos com a China e a Coréia, bem como para defender o Japão dos ataques inimigos, estava instalado na cidade de Hakata desde tempos antigos. No entanto, com o passar do tempo, a cidade prosperou com o comércio de importação e exportação, o que a tornou alvo de disputa entre os daimiôs, os senhores feudais da época. Já Sakai não passava de um pequeno povoado, que servia de estalagem para os romeiros a caminho de Kumano. Entretanto, a Revolta de Onin, ocorrida no início da Era Muromachi, foi um estímulo ao crescimento da cidade, pois, nessa ocasião, muitos nobres buscaram refúgio no local, que passou a receber também as sacas de arroz cobradas como tributo, fazendo de Sakai uma importante cidade portuária.

O comércio era feito com as moedas de cobre importadas da China. No entanto, por escavações arqueológicas, descobriu-se que muitas moedas que circularam nessa época eram falsas e foram produzidas em Sakai. O fato de essas moedas falsas, fabricadas em grande escala, terem circulado sem problemas, mostra o poder dos comerciantes, capaz de calarem até mesmo as leis, que previam rigorosa punição para tal infração.

Tanto Hakata como Sakai prosperaram, a ponto de conseguirem manter certa autonomia e paz, indiferentemente às guerras travadas entre os senhores feudais. Com seu poder econômico, ambas fizeram florescer manifestações culturais como a cerimônia do chá, os poemas japoneses – Waka e Renga –, o teatro Nô, entre outras.

O reino de Ryukyu O arquipélago de Ryukyu foi habitado desde tempos remotos. No antigo livro de história do Japão, consta que o país havia recebido visitas de representantes das ilhas do sul por volta dos séculos VII e VIII. No Zuisho, o livro de história da China de 636, também há a citação de Ryukyu como sendo um país fora do domínio chinês.

Por volta do século XII, o surgimento dos clãs regionais, denominados aji, afeta a relativa paz em que viviam os ilhéus. Lutando entre si, os aji construíam fortes chamados gusuku.

A ilha principal de Ryukyu ficou sob o domínio de três grandes clãs – Sanboku, Sannan e Chûzan –, cujos líderes se declararam reis no século XIV. Essa era de três reis continuou até o xogum de Chûzan, Shô Hashi, unificar o país e instituir o Reino de Ryukyu, no início do século XV. O clã Shô conseguiu fazer com que o país prosperasse por meio do comércio com nações vizinhas, subordinando-

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se à dinastia Ming (1368~1644). A rota de comércio do Reino de Ryukyu expandiu-se das ilhas do Sudeste Asiático até além do Estreito de Málaca, com o comércio de diversas mercadorias como marfim, especiarias e cavalos.

Com a perda de poder da dinastia Ming, em meados do século XVI, comerciantes chineses e japoneses passaram a desenvolver comércio diretamente com o Sudeste Asiático. Para o reinado Ming, tornou-se difícil controlar o tráfego dos navios pelos mares e desenvolver o comércio exterior. Assim, o Reino de Ryukyu também começou a declinar.

O povo de Ezo Ao norte do Japão, habitava um povo que não se submeteu ao poder da corte de Yamato, denominado ezo ou emishi. Entre os séculos XIV e XV, esse povo atravessou o Estreito de Tsugaru e habitou o sul de Hokkaido. Eles eram chamados de wajin pelos ainos, os nativos da ilha. À medida que os wajin adquiriam poder, surgiam conflitos com os ainos. Em 1457, aconteceu uma rebelião dos ainos contra os wajin, comandada por Koshamain ( ? ~ 1457). O episódio foi contido pela tropa japonesa, e seu líder foi morto numa emboscada. Pode-se dizer, assim, que a Era Muromachi coincidiu com a época em que o mundo despertou para a expansão externa.

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Era Azuchi-Momoyama

O início da Unificação Japonesa

Oda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi lideraram processo de unificação com medidas de controle a camponeses e terras.

A partir de meados do século XVI, após o fim da Revolta de Onin, os principais senhores feudais, ou seja, os daimiôs, tentaram ampliar os seus poderes travando guerras sangrentas. Dentre esses daimiôs, destaca-se a figura de Oda Nobunaga.

Nobunaga derrotou os daimiôs das redondezas e, chegando em Quioto, aniquilou o xogunato de Muromachi, em 1573. Em seguida, ele construiu um magnífico castelo em Azuchi (província de Shiga), próximo de Quioto, e iniciou a obra de unificação do país, destruindo um a um seus inimigos. Entretanto, antes de concluir essa tarefa, Nobunaga foi traído por seu vassalo Akechi Mitsuhide e morreu no Templo Honnô-ji, em Quioto.

Quando a morte de Nobunaga foi comunicada a seu fiel vassalo Hashiba Hideyoshi (posteriormente Toyotomi Hideyoshi), com um golpe de mestre ele derrotou o traidor Mitsuhide, tornando-se o herdeiro da obra de unificação do país.

Hideyoshi, então, construiu um gigantesco castelo em Osaka, o Osaka-jô, e, em 1590, alcançou a tão sonhada unificação do país, derrotando o clã Hôjô. Ele não deu início a um novo xogunato, mas tornou-se um kanpaku (plenipotenciário) para governar o país.

O período de aproximadamente 30 anos nos quais esses dois grandes estrategistas unificaram o Japão é conhecido como Era Azuchi-Momoyama, cujos nomes foram tirados dos castelos construídos respectivamente por Oda Nobunaga e Toytomi Hideyoshi (Momoyama-jô, situado no bairro de Fushimi, em Quioto).

Oda Nobunaga (1534~1582) Nobunaga era um dos 19 filhos de Oda Nobuhide, senhor feudal de quatro aldeias de Owari (província de Nagóia). Aos 16 anos, casou-se com a filha de Saitô Dôsan, senhor feudal de Mino (atual província de Gifu), em uma aliança de conveniência promovida por seu pai para evitar os conflitos em terras fronteiriças dos dois feudos. Mais tarde, seu sogro, Saitô Dôsan, foi assassinado por seu próprio filho, Tatsuoki. Como represália, Nobunaga expulsou Tatsuoki do castelo.

Com a destruição do xogunato Muromachi e a instalação no castelo de Azuchi, Nobunaga tomou uma série de medidas:

• Aboliu o sistema de sekisho (posto de fiscalização das estradas), permitindo livre acesso de trânsito. • Tentou desenvolver a indústria e o comércio, isentando os impostos dos que mantinham atividades nas circunvizinhanças do castelo. • Protegeu o cristianismo. • Introduziu a arma de fogo em suas batalhas, combatendo com furor seus inimigos.

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• Acabou com a soberania da cidade comercial de Sakai. • Incendiou o Templo Enryaku-ji, por seus monges terem desobedecido às suas ordens. • Combateu as rebeliões da região norte e nordeste. • Destruiu o poderoso clã Takeda, de Kai (atual província de Yamanashi). Traição de Akechi Mitsuhide (1528~1582) Existem algumas versões sobre o motivo pelo qual Mitsuhide traiu o seu senhor. Uma delas é a de que ele delatou o ataque que Nobunaga planejava a Takeda Katsuyori e, com medo de ser descoberto, atacou-o antes que fosse morto.

Outra versão conta que Mitsuhide teria sido envergonhado na presença de muitos por Nobunaga, que o teria repreendido duramente por sua falha na recepção a Tokugawa Ieyasu, fato que teria motivado Mitsuhide a voltar-se contra o seu senhor.

Entretanto, Mitsuhide deve ter sido motivado à traição pela imprudência do próprio Nobunaga, que teria se alojado no Templo Honnô-ji com pouquíssimo séquito, quando seus vassalos fiéis estavam em terras distantes, combatendo forças revoltosas. Vendo uma ótima chance para tornar-se o novo governante do país, Mitsuhide teria atacado Nobunaga com a tropa recrutada para combater o clã Môri, da região de Chûgoku, a mando de seu senhor. Conseguindo encurralar Nobunaga, Mitsuhide teria incendiado o templo e o levado ao suicídio.

Há também os que dizem que a crença de Nobunaga de que a doutrina budista seria nociva para a modernização do país teria motivado a alma dos monges por ele assassinados a incorporar em Mitsuhide, levando-o a cometer um ato tão insano.

Toyotomi Hideyoshi (1537~1598) Pouco se sabe sobre sua verdadeira origem e suspeita-se de que muitos dos episódios contados na literatura a seu respeito sejam falsos. Muitos podem ter sido criados pelo próprio Hideyoshi, cujo pai foi um simples soldado de Oda Nobuhide, mas tornou-se camponês ao voltar ferido à sua terra natal.

Hideyoshi tornou-se empregado de Nobunaga, começando como guarda-calçados (zôri tori). Com sua astúcia e simpatia inata, foi

conquistando a confiança de seu senhor, participando de várias batalhas e passando a comandar as tropas, vencendo muitos confrontos até chegar a ser senhor de um castelo, aos 37 anos.

Hideyoshi foi comunicado da morte de Nobunaga na distante região de Chûgoku, onde estava em guerra contra o clã Môri. Usando de toda a sua astúcia, fez um acordo de paz com o clã e voltou o mais depressa que pôde com sua tropa. Depois de derrubar Mitsuhide, Hideyoshi tornou-se sucessor de Nobunaga na tarefa de unificação do Japão.

Para controlar melhor os camponeses e suas terras, Hideyoshi estabeleceu um padrão de medidas, unificando inclusive o tamanho da caixinha de madeira para medir o arroz (masu). Mandou medir todos os arrozais, verificar a qualidade do solo, registrar todas as informações e redistribuiu as terras cobrando tributo conforme sua capacidade de produção (koku-daka).

Com a medida de uma terra para um lavrador, no sistema de shôen (latifúndio), em que havia muitos “sócios” dividindo os lucros das colheitas, os poucos latifúndios que ainda sobreviviam desapareceram, ficando os camponeses sob o controle de um senhor feudal. Esta medida ficou conhecida como taikô kenchi.

Hideyoshi ainda realizou o katana-gari, ou seja, confiscou e proibiu o porte de armas pelos camponeses e monges. Não satisfeito em controlar apenas o Japão, Hideyoshi tentou derrubar a dinastia Ming, da China, e por duas vezes enviou tropas para a Coréia, que ficava no meio do caminho para a

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China. No entanto, o povo coreano resistiu bravamente a esta invasão e deixou as tropas enviadas por Hideyoshi em desvantagem cada vez maior. Somando a isso o falecimento de Hideyoshi, em 1598, os soldados japoneses retiraram-se da Coréia. Esse envio de tropas para o exterior desfalcou o cofre do país e constituiu-se em um dos motivos que levou à queda de Toyotomi. Namban Bôeki

Comércio com europeus, florescimento de novas culturas e construção de castelos suntuosos marcaram a época.

Na época de Nobunaga e Hideyoshi, floresceram as culturas mais ousadas e luxuosas, criadas por influência das mentes guerreiras dos samurais – classe reinante da época – e também pela cultura ocidental introduzida no país por meio do comércio com portugueses, espanhóis e italianos, o chamado nanban bôeki, ou seja, comércio exterior com os bárbaros do sul, direção em que vinham os navios mercantes. O termo refere-se também ao comércio realizado pelos navios japoneses com os países das ilhas do sul, como Luzon (uma das ilhas das Filipinas), Java (na Indonésia), entre outras. Durante essa era da história japonesa, o comércio foi mantido, principalmente, com os portugueses.

Os europeus traziam ao Japão produtos como sedas chinesas, armas de fogo, pólvora, couro, especiarias e produtos de vidro, e compravam ouro, cobre, enxofre e principalmente prata, que passou a ser extraída em maior volume nesse período. O hábito de fumar também se difundiu e, no início do século XVII, o pé de tabaco passou a ser cultivado no Japão.

Os costumes dos nativos da Europa dessa época podem ser observados em figuras desenhadas nos biombos chamados de nanban byôbu. Há desenhos de caravelas, adestramento de cavalos, aves, outros animais e diversos objetos comercializados no período.

Momoyama bunka (Cultura Momoyama) As diversas manifestações culturais dessa era são conhecidas como Momoyama bunka. Trata-se de uma época em que a paz foi restabelecida, o comércio se intensificou e os novos daimiôs ascendentes e os comerciantes que se enriqueceram gastaram a sua fortuna para ostentar o seu poder ou a sua riqueza. Foram construídos por diversos daimiôs muitos castelos com belos e imponentes tenshukaku, ou seja, torres que serviam de mirante.

Tanto Oda Nobunaga (1534~1582) quanto Toyotomi Hideyoshi (1537~1598) construíram gigantescos e luxuosos castelos. Nobunaga construiu o Castelo Azuchi-jô, perto do Lago Biwa, na província de Shiga, entre 1576 e 1579; entretanto, a edificação foi destruída pelo fogo em 1582, durante a Revolta de Akechi Mitsuhide.

Hideyoshi, por sua vez, iniciou a construção do Castelo Ôsaka-jô, em 1583, e levou três anos para concluí-lo. Também esse castelo foi destruído em 1615 pelo fogo, durante a guerra que provocaria o suicídio de Toyotomi Hideyori, herdeiro e filho único de Hideyoshi, e de sua concubina, Yodogimi (sobrinha de Nobunaga). Hideyoshi ainda construiu em Quioto o Castelo Jurakudai (1587), que foi destruído posteriormente (1595), e o Castelo Fushimi-jô, também conhecido pelo nome de Momoyama-jô, em 1594, onde o guerreiro viveu seus últimos anos de vida. Com a morte do pai, Hideyori mudou-se para o castelo de Osaka, ficando o castelo de Fushimi sob a guarda de Tokugawa Ieyasu.

Todos esses castelos eram suntuosos e enfeitados com ouro em todos os seus detalhes, com divisórias (fusuma) e biombos pintados com colorido refulgente. Das obras pintadas, destacam-se as de

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Kanô Eitoku (1543~1590) e Kanô Sanraku (1559~1635), da escola Kanô, que desenvolveu a arte em estilo Momoyama, combinando a técnica de suiboku-ga (sumiê) e de pintura tradicional japonesa (yamato-e). Uma das obras mais representativas de Kanô Eitoku é o biombo Kara-jishi byôbu, com a pintura de dois leões.

O Castelo de Himeji, na cidade de mesmo nome localizada na província de Hyogo, serviu como residência de Hideyoshi na época em que ele ainda se chamava Hashiba Hideyoshi. O Castelo de Himeji – cuja construção foi iniciada no século XIV e finalizada no século XVII – foi reformado e ampliado pelo senhor feudal da Era Edo Ikeda Terumasa, ficando pronto em 1609. A construção de Himeji, também conhecida como Shirasagi-jô, sobreviveu aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial e, atualmente, é um dos castelos tombados como patrimônio nacional. Cha-no-yu e Sen-no-Rikyu (1522~1591) Enquanto muitos samurais e nobres ostentavam o luxo, Sen-no-Rikyu transformou o cha-no-yu (cerimônia do chá), praticada até então com os objetos requintados importados da China, em apreciação do chá dentro de ambiente de refinada simplicidade, utilizando apetrechos comuns feitos no país. O chá, que antes era preparado numa sala à parte e servido à visita numa outra sala, passou a ser preparado diante do visitante. Foi criado todo um cerimonial para apreciação do chá num ambiente simples, mas de extremo bom gosto.

Sen-no-Rikyu foi o fundador da arte da cerimônia do chá da escola Senke e nasceu na cidade portuária de Sakai, em 1522. Seu antepassado foi Sen-ami, que serviu ao xogum Yoshimasa, oitavo da linhagem do clã Ashikaga. “Ami” era um título concedido aos sacerdotes com vasto conhecimento de diversas artes. Sen-ami mudou-se para a cidade de Sakai durante a Revolta de Ônin. Rikyu nasceu em uma família de comerciantes abastados e desde cedo se interessou pela cerimônia do chá. Fez amizade com Imai Sôkyu (1520~1593) e Tsuda Sôtatsu (1504~1566), dois grandes mestres do chá e também grandes comerciantes.

Aos 49 anos, ele foi apresentado a Oda Nobunaga por Imai Sôkyu e a partir daí começou a sua ascensão social. Com grande sabedoria, ele conquistou importância cada vez maior para seu senhor, Nobunaga, e transformou a cerimônia do chá em um evento imprescindível em muitos acontecimentos sociais, elevando, conseqüentemente, o status de seus mestres. Após a morte de Nobunaga, Rikyu passou a servir a Hideyoshi, conquistando também a sua simpatia.

Nessa época, mesmo em campo de batalha, eram realizadas as cerimônias do chá. Assim, Sen-no-Rikyu acompanhou Hideyoshi em suas guerras contra Shimazu, em Kyushu, e no ataque ao castelo de Odawara, aproveitando para trocar conhecimentos com os comerciantes influentes da região e divulgar a cerimônia do chá.

Após unificar e dominar o Japão, para fazer saber o seu poder, Hideyoshi realizou um grande cha-kai, reunião para apreciar o chá, em 1587, comandado por Sen-no-Rikyu, com apoio de outros dois grandes mestres do chá, Imai Sôkyu e Tsuda Sôgyu, filho de Sôtatsu. Foram montados cerca de 800 lugares para realizar a cerimônia do chá no pátio do Templo Tenman-gu, contribuindo muito para aumentar o número de apreciadores dessa arte.

Rikyu tornou-se um homem muito influente. Tanto é que o senhor feudal cristão de Kyushu Ôtomo Sôrin escreveu numa das suas cartas: “os assuntos particulares de Hideyoshi devem ser tratados com Rikyu; e os oficiais, com Hidenaga, irmão mais novo de Hideyoshi”. Apesar de ter se tornado um homem de confiança de Hideyoshi, Rikyu atraiu sua ira em 1590 e foi levado a praticar o seppuku (suicídio) no ano seguinte.

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Batalha de Sekigahara

Aliados de Toyotomi tentaram deter a ascensão de Tokugawa, mas não obtiveram êxito; mais tarde, ele daria início ao xogunato de Edo.

Preocupado com seu filho Hideyori (1593~1615), antes de morrer, Toyotomi Hideyoshi (1536~1598) instituiu o gotairô, um conselho superior formado pelos cinco senhores feudais mais poderosos (tairô): Tokugawa Ieyasu, Maeda Toshiie, Môri Terumoto, Ukita Hideie e Kobayakawa Takakage (tio de Môri Terumoto e enteado do grande guerreiro Uesugi Kenshin), que depois da morte de seu padrasto recebeu o nome de Uesugi Kagekatsu. O gotairô tinha como principal função fiscalizar os trabalhos do gobugyô, uma espécie de conselho executivo formado

por cinco bugyô (cargo público abaixo do tairô), tais como Ishida Mitsunari, Asano Nagamasa, Maeda Gen’i, Mashita Nagamori e Natsuka Masaie.

Dentre os conselheiros do gotairô, talvez o mais fiel à família Toyotomi tenha sido Maeda Toshiie (1538~1599), homem de confiança de Hideyoshi e seu amigo de longa data. Após a morte de Hideyoshi, em 1598, Maeda tentou manter a paz auxiliando Hideyori no castelo de Osaka, mas adoeceu e faleceu um ano após a morte do amigo.

Tokugawa Ieyasu (1542~1616), filho primogênito do senhor feudal do castelo de Mikawa (atual província de Aichi), não possuía a frieza e a audácia de Oda Nobunaga, nem a esperteza e a argúcia de Toyotomi Hideyoshi, mas era um homem paciente e oportunista. Após a morte de Hideyoshi, ele aumentou seu poder de influência, conseguindo fazer com que muitos senhores feudais passassem a apoiá-lo.

Preocupado com o poder de Ieyasu, o ferrenho defesor de Toytomi Hideyori Ishida Mitsunari (1560~1600) tentou detê-lo, mas não conseguiu a adesão de muitos guerreiros para a causa. Protegido de Hideyoshi, Ishida era mais burocrata do que guerreiro, seguindo sua carreira valendo-se basicamente de sua inteligência, e não de grandes feitos em batalhas. Além disso, sempre pairaram suspeitas acerca da paternidade de Hideyori, já que seu pai, Hideyoshi, não teve filhos com sua esposa Nene, nem com suas inúmeras concubinas. Entretanto, já em idade avançada, ele teve dois filhos com a bela e geniosa Yodogimi, sobrinha de Oda Nobunaga. Hideyori foi o seu segundo filho; o primeiro, Tsurumatsu, faleceu ainda pequeno.

Em junho de 1600, Tokugawa Ieyasu entrou em conflito com Kobayakawa Takakage (Uesugi Kagekatsu), iniciando uma batalha com o suposto intuito de provocar Ishida Mitsunari e levá-lo a confronto. Em julho, quando as tropas de Ieyasu avançaram até Shimotsuke-no-kuni (província de Tochigi), Mitsunari decidiu combater as forças de Ieyasu tendo a seu lado as tropas dos guerreiros e do senhor feudal cristão Konishi Yukinaga (1558~1600) e o monje Ankokuji Ekei (?~1600), ambos homens de confiança de Toyotomi Hideyoshi. A batalha adquiriu dimensões cada vez maiores, obrigando os senhores feudais a decidirem de que lado deveriam lutar: juntar-se às tropas lideradas por Ishida Mitsunari, que lutava em nome de Toyotomi Hideyori, ou apoiar Tokugawa Ieyasu, poderoso senhor feudal em ascensão.

Kuroda Nagamasa (1568~1623), Katô Kiyomasa (1562~1611) e Fukushima Masanori (1561~1624), grandes guerreiros acolhidos por Toyotomi Hideyoshi e de sua esposa Nene, lutaram ao lado de Tokugawa Ieyasu, em parte convencidos pela própria Nene, a quem consideravam como mãe. Ela, por sua vez, aliou-se a Ieyasu talvez motivada pelo ressentimento contra a mãe de Hideyori, Yodogimi, a quem seu esposo dedicou grande afeto nos últimos anos de vida; ou ainda é possível que os longos anos de convivência com o grande estrategista e guerreiro tenham cultivado em Nene a habilidade de reconhecer um vencedor.

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O confronto final ocorreu na tarde do dia 15 de setembro de 1600, em Sekigahara, atual provícia de Gifu, quando a tropa de Kobayakawa Hideaki (1582~1602), sobrinho de Nene, mudou de lado e atacou os soldados até então aliados. Confusas, as tropas comandadas por Mitsunari perderam o rumo e acabaram vencidas pelos inimigos, liderados por Tokugawa Ieyasu.

Ishida Mitsunari foi preso e decapitado juntamente com Konishi Yukinaga e Ankokuji Ekei em Rokujô-gawara, Quioto.

Osaka – Fuyu-no-jin, Natsu-no-jin Em 1603, Tokugawa Ieyasu, vencedor da batalha de Sekigahara, foi agraciado com o título de generalíssimo (seii-taishôgun), dando início ao xogunato de Edo, atual Tóquio. A única ameaça, entretanto, era Toyotomi Hideyori e sua mãe, Yodogimi, que foram poupados por consideração a Toyotomi Hideyoshi, com o argumento de que a batalha tinha sido idéia de Ishida. Mãe e filho, mais a esposa prometida a Hideyori, Sen-hime, neta de Tokugawa Ieyasu e filha do segundo xogun, Tokugawa Hidetada, viviam no castelo de Osaka, cercado duplamente pelos fossos e muralhas de rochas.

Em novembro de 1614, Ieyasu decidiu destruir a família Toyotomi e ordenou aos senhores feudais aliados de todo Japão o ataque ao castelo de Osaka, começando a batalha denominada Osaka, Fuyu-no-jin, ou seja, a batalha de inverno em Osaka. Porém, os aliados da família Toyotomi, como Sanada Yukimura (1567~1615) defenderam bravamente o castelo. Por fim, eles concordaram em terminar a guerra, com a condição de aterrar o fosso externo do castelo. No entanto, Ieyasu mandou aterrar o fosso interno também.

Como se isso não bastasse, no ano seguinte, ele exigiu que Hideyori saísse do castelo, provocando um novo confronto, a chamado Osaka, Natsu-no-jin, ou seja, a batalha de verão em Osaka. Sem a proteção dos fossos, as forças aliadas de Hideyori tiveram de sair do castelo e enfrentar as tropas de Ieyasu, numericamente bem superiores e melhor preparadas. Então, no dia 8 de maio de 1615, o castelo de Osaka ardeu em chamas, engolfando Hideyori e sua mãe, que optaram pelo suicídio, encerrando assim a batalha de verão.

Ninjas e Tokugawa Ieyasu Os espiões dos tempos antigos, chamados de ninjas ou shinobi-no-mono, surgiram provavelmente no fim da Era Muromachi, quando se iniciaram as guerras entre diversos clãs. Todavia, pouco se sabe sobre os ninjas, já que todo espião que se preze vive e morre no anonimato. Porém, é sabido que Ieyasu fazia uso dos ninjas, tanto os do grupo Iga como de Kôga.

O relacionamento de Ieyasu com o grupo Iga começou quando ele foi salvo pelos samurais de Iga, em 1582, quando voltava às pressas da cidade de Sakai para sua terra, Okazaki, após saber do atentado de Akechi Mitsuhide contra seu senhor, Oda Nobunaga. Assim, ao se instalar em Edo, Ieyasu empregou-os, juntamente com os ninjas do grupo Kôga, para espionar os senhores feudais, ou seja, os daimiôs, para poder controlá-los. As mulheres que viveram na era das guerras

Algumas mulheres viveram seguindo sua própria vontade, sobrepuseram-se ao seu destino e fizeram a diferença na história.

Com o objetivo de ajudar seus maridos, suas famílias, ou mesmo trabalhando em prol de suas próprias ambições, muitas mulheres agiram nos bastidores do cenário sangrento das intensas guerras, época na qual apenas os mais fortes sobreviviam. Aqui, serão destacadas algumas das mulheres que

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viveram seguindo a própria vontade, não se subjugando ao destino, mas sobrepondo-se a ele. A posição social da mulher está intrinsecamente ligada ao tipo de casamento e aos direitos aos bens da família. Nos tempos em que os noivos iam visitar a casa das noivas para manter relações matrimoniais, as mulheres também tinham direitos aos bens da família. Mas os conflitos militares e a instabilidade social passaram a envolver as famílias ligadas por laços de casamento, mudando a forma de matrimônio. O casamento tornou-se um importante meio de arrebanhar aliados. A mulher começou a morar na casa do marido, pois seria uma forma de mantê-la como refém, garantindo a aliança militar. Oichi-no-kata (1547~1583) Filha de Oda Nobuhide e irmã de Oda Nobunaga, Oichi nasceu como uma das 6 filhas e 11 filhos de Nobuhide. Oda, um pequeno clã da atual província de Aichi, dominou a região valendo-se do poder de Saitô Dôsan, sogro de Nobunaga.

Oichi-no-kata, uma bela mulher de traços delicados, casou-se aos 20 anos com Asai Nagamasa, senhor do castelo de Otani, atual província de Shiga. Tratava-se de um casamento de conveniência, em que se esperava dela a manutenção de informações sobre todos os atos de seu marido. Em 1570, Oichi avisou o irmão Nobunaga sobre a traição de seu marido. Em vez de mandar uma carta a respeito de tal ato traiçoeiro, ela enviou um saquinho de feijão azuki com duas pontas amarradas. Ao recebê-lo, Nobunaga logo decifrou o alerta de que seria cercado e atacado em duas frentes. Antes que isso acontecesse, ele atacou o cunhado e o destruiu. Oichi-no-kata e suas três filhas foram salvas e passaram a viver com Nobunaga.

Em 1582, com a morte de Nobunaga, Oichi-no-kata casou-se com Shibata Katsuie, vassalo da família Oda. Em 1583, Katsuie foi derrotado por Toyotomi Hideyoshi. As três filhas foram salvas, mas Oichi optou pelo suicídio junto com o marido, no castelo de Kita-no-shô, atual província de Fukui.

Yodogimi (1567~1615) Filha primogênita de Oichi-no-kata, Yodogimi perdeu o pai, Asai Nagamasa, aos 4 anos e passou a viver na casa da família Oda. Aos 14 anos, ela perdeu a mãe e o padrasto, quando Toyotomi Hideyoshi atacou Shibata Katsuie. Ela e suas duas irmãs menores foram novamente salvas e começaram a viver sob a proteção de Hideyoshi. Suas irmãs casaram-se antes dela, respectivamente com Tokugawa Hidetada (1579~1632), segundo xogun da Era Edo, e Kyôgoku Takatsugi (1563~1609), senhor feudal, antigo aliado de seu pai, Asai Nagamasa.

As três filhas de Oichi-no-kata herdaram a beleza da mãe, especialmente Yodogimi, dona de uma beleza vivaz e ímpar, foco da atenção de Hideyoshi, que acabou fazendo dela a sua concubina predileta. Na época, ela contava com 20 anos e Hideyoshi 53 anos. O primeiro filho do casal morreu doente com 1 ano de idade, mas, em 1593, ela presenteou o poderoso senhor Hideyoshi com outro filho, Hideyori.

Hideyoshi dedicou todo o seu amor a esse filho único, mas faleceu quando Hideyori tinha apenas 6 anos de idade, pedindo aos seus principais vassalos para cuidarem e protegerem o seu filho amado. Entretanto, Tokugawa Ieyasu não cumpriu a palavra dada a Hideyoshi, atacando Hideyori e derrotando-o na batalha de Sekigahara, provocando a morte de Yodogimi e de seu filho na Batalha de Verão de Osaka.

Yodogimi podia ter escolhido a rendição e talvez viver modestamente com seu filho em algum feudo distante, mas ela preferiu a morte a viver sob a proteção do homem que havia usurpado o poder que deveria pertencer ao seu filho. Ela, que passou por várias vicissitudes da vida, sabia que Hideyori, uma ameaça constante ao clã Tokugawa, jamais seria poupado.

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Kita-no-mandokoro (1541~1624) Kita-no-mandokoro, esposa de Toyotomi Hideyoshi, nasceu como filha de um humilde samurai que servia o clã Oda. Casou-se com Hideyoshi em agosto de 1561, época em que ele não passava de um humilde servo de Oda Nobunaga, chamava-se Kinoshita Tôkichirô; e ela, Nene. Ela sempre esteve presente na vida do marido, apesar de ele ter tido diversas concubinas. Após a morte do esposo, Kita aliou-se a Tokugawa Ieyasu, fundador do xogunato Tokugawa, que perdurou por 15 gerações, até 1867. Quando Hideyoshi recebeu o título de plenipotenciário, ou seja, kanpaku, grau máximo da nobreza, ela, Nene, também recebeu o título máximo da nobreza, chamando-se Kita-no-mandokoro. Após a morte de seu marido, ela tornou-se monja, seguindo o costume da época. Mais tarde, ela recebeu de Tokugawa Ieyasu um templo em Quioto, o Kôdai-ji, onde viveu até os 83 anos. Hosokawa Tamako – Garasha Fujin (1563~1600) Filha de Akechi Mitsuhide, que levou à morte o seu senhor, Oda Nobunaga, Tamako era bela e também muito culta. Casou-se aos 16 anos com Hosokawa Tadaoki (1563~1645), também com 16 anos. O pai de Tadaoki, Hosokawa Yûsai (1534~1632) era um conhecido erudito versado na arte de compor poemas waka.

Após quatro anos de vida de casada, com um filho e uma filha, ela vivia dias felizes ao lado do seu dedicado marido, quando o seu pai se rebelou contra Oda Nogunaga e foi levado a se matar praticando o seppuku ou harakiri, dez dias após a rebelião. Nessa ocasião, os principais vassalos da família Hosokawa aconselharam Tadaoki a separar-se da esposa, ou fazer com que ela praticasse o suicídio, a fim de proteger o clã da desgraça maior. Porém, Tadaoki não deu ouvidos aos seus súditos e protegeu-a, fazendo com que ela vivesse em reclusão num local afastado, dentro do seu feudo, na península de Tango, Quioto. Após dois anos de reclusão, com a interferência de Toyotomi Hideyoshi, ela deixou a erma península de Tango e foi viver em Osaka.

Tamako passou a se interessar pelo cristianismo, talvez por influência de sua serva, a cristã Maria Kiyohara. Logo após a proibição da prática do cristianismo, em 1587, Tamako tornou-se católica, recebendo o nome de batismo, Garasha (talvez do latim gratia).

Durante a batalha de Sekigahara, Ishida Mitsunari tentou obrigá-la a viver no castelo de Osaka como refém, mas ela se recusou, suicidando-se. Logo depois disso, alguns servos fiéis a ela atearam fogo na casa e também se suicidaram. Essa sua atitude extremada intimidou Mitsunari e levantou o moral da tropa de Tokugawa.

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Era Edo

O início do isolamento japonês

Tokugawa Ieyasu deu início a um governo que se estendeu por mais de 250 anos, controlando senhores feudais e samurais.

O sistema feudal japonês foi sedimentado por Tokugawa Ieyasu, cujo clã teve o domínio político do Japão por mais de 250 anos. Entretanto, qual foi a estratégia utilizada por ele para controlar senhores feudais e samurais?

Xogunato Tokugawa e suas estratégias de controle Para a manutenção do xogunato, era imprescindível a cobrança de tributos. Para tanto, era necessário rigor na vigilância dos senhores feudais. Assim, como primeiro passo, foi feita a classificação dos senhores feudais (samurais com feudos superiores a 10 mil koku* – medida para indicar a receita obtida pelos daimiôs em sacas de arroz) em três categorias: shinpan, fudai e tozama.

Shinpan eram os daimiôs (senhores feudais) que tinham parentesco com o clã Tokugawa. Estes receberam terras nas redondezas de Edo, Osaka e Quioto. Fudai eram os daimiôs que serviam o clã há muitas gerações, ou os aliados que se mantiveram fiéis a Tokugawa desde antes da vitória do clã na Batalha de Sekigahara. Já Tozama eram os daimiôs inimigos de Tokugawa até o evento de Sekigahara. Estes receberam terras em regiões ermas, cercadas de feudos dos fudai daimiôs.

Em 1615, foi estabelecido o sistema de um castelo para um feudo. O xogunato Tokugawa reconhecia apenas um castelo como sede de cada daimiô, fazendo com que os demais fossem desmontados, para reduzir sua capacidade de defesa.

Também neste ano, foi outorgada a lei para controlar os daimiôs denominada Buke Shohatto. Anunciada pelo primeiro xogum, Tokugawa Ieyasu, no Castelo de Fushimi, a lei era composta por regras de comportamento para os daimiôs, com restrições quanto: reforma de castelos; proibição de construção de novos castelos; pedidos de permissão para casamentos; e sistema de sankin kôtai, ou seja, a obrigatoriedade de os daimiôs morarem um ano em Edo e outro em seu feudo, alternadamente, com suas respectivas esposas e herdeiros residindo em Edo.

Até o terceiro xogum, Tokugawa Iemitsu, 120 daimiôs tiveram seus feudos extintos por infrações à lei de Buke Shohatto. Quando isso ocorria, todos os seus súditos perdiam o emprego e tornavam-se rônin, ou seja, samurais sem senhor a quem servir. Dessa forma, eles procuravam empregos em outros feudos; os mais estudados tornavam-se médicos, professores, ou yôjinbô (guarda, segurança) de casas comerciais. Eles podiam ainda se tornar agricultores ou comerciantes.

A acumulação de bens por parte dos daimiôs era controlada com as contribuições obrigatórias nas reformas do Castelo de Edo, obras de canalização, construção de vias públicas e pontes.

Os súditos diretos do xogum eram subdivididos em dois grupos: os hatamoto e gokenin. Os hatamoto eram cerca de 5 mil samurais de elite, súditos que tinham permissão para estar na presença do xogum. Os gokenin somavam em torno de 17 mil samurais, que não tinham permissão de estar na presença do xogum.

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O sistema social estabelecido foi o de shi-nô-kô-shô, que determinava a divisão da população em classes de samurais, agricultores, artesãos e comerciantes, sendo todas as funções de caráter hereditário. O casamento de pessoas de classes diferentes era proibido.

Ôoka Tadasuke (1677~1751) – o samurai mais bem-sucedido Nascido como filho de um hatamoto, em Edo (atual Tóquio), Ôoka Tadasuke foi o único de sua classe a alcançar o posto de daimiô. Trabalhou como juiz em sua terra e julgou com imparcialidade um caso com envolvimento do clã Tokugawa, impingindo sentença desfavorável ao clã, sem se deixar influenciar por seu poder.

Quando Tokugawa Yoshimune tornou-se o oitavo xogum de Edo, lembrou-se do juiz incorruptível e escolheu-o como magistrado da cidade Edo, em 1717. O cargo de magistrado de Edo (Edo bugyô) era de suma importância e englobava os poderes legislativo, executivo e judiciário.

Durante os 19 anos em que Tadasuke foi magistrado, ele proibiu a prática de tortura, criou medidas para evitar acusações falsas e julgou criminosos com sabedoria e misericórdia. Seus casos judiciais estão descritos no livro intitulado Ôoka seidan. Tadasuke ainda criou, junto com o xogum Yoshimune, o grupo de bombeiros e o sistema de prevenção de incêndios; tentou refletir a opinião do povo na política, com a criação da caixa de opiniões do povo; construiu um hospital em Koichikawa, liberando-o aos pobres; e contribuiu ainda para liberar a introdução de livros holandeses, promovendo o desenvolvimento da ciência denominada de rangaku, ou estudos holandeses. Proibição do cristianismo e fechamento dos portos

Presença de estrangeiros no arquipélago, propagação do cristianismo e boatos sobre colonização foram ameaças ao xogunato Tokugawa.

Tokugawa Ieyasu (1542~1616), a exemplo de Toyotomi Hideyoshi (1536~1598), proibiu o culto ao cristianismo, mas, ciente das riquezas provenientes do comércio exterior, sua fiscalização era branda e bastante receptiva à vinda dos navios portugueses e espanhóis. Posteriormente, os navios holandeses e ingleses também passaram a freqüentar os portos japoneses. Aos navios mercantes japoneses pertencentes a senhores feudais e grandes comerciantes, foi concedido o alvará com o selo do clã Tokugawa, denominado shuin-jo, fomentando o comércio exterior com as ilhas do Sudeste Asiático, onde foram criadas algumas cidades japonesas.

Com a intensificação do comércio com Portugal e Espanha, o número dos que se converteram ao cristianismo também aumentou, fato que levou sacerdotes xintoístas e monges budistas a forçarem a proibição do cristianismo. Além de senhores feudais, alguns samurais e servos subordinados diretamente ao clã Tokugawa se converteram ao cristianismo. Por outro lado, os ingleses e os holandeses que chegaram ao Oriente depois de portugueses e espanhóis, por volta de 1601, para recuperar o atraso, tentaram atrapalhá-los, passando a espalhar o boato de que lusos e hispanos nutriam a ambição de colonizar o território japonês. Despontaram, ainda, alguns senhores feudais que enriqueceram com o comércio e adquiriram mais poder. Diante de tal panorama, o xogunato Tokugawa sentiu-se ameaçado.

Dessa forma, Tokugawa Ieyasu proibiu a prática do cristianismo com maior rigor, destruindo igrejas e expulsando os padres do Japão. O segundo xogum, Hidetada (1579~1632), limitou o comércio com os europeus apenas à região de Hirado e Nagasaki. O terceiro xogum, Iemitsu (1604~1651), proibiu a entrada dos portugueses, que teriam rompido com o arquipélago de qualquer maneira, em virtude da atividade pirata holandesa. Os ingleses fecharam a casa de comércio de Hirado e retiraram-se do Japão em 1623, encontrando outros pontos comerciais mais lucrativos. Os espanhóis também

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abandonaram o comércio com o Japão, por não vislumbrarem tanta vantagem, permanecendo apenas os holandeses na terra do sol nascente.

Em 1630, foi proibida a importação de livros chineses e europeus, a navegação dos que não fossem goshuin-sen (navio mercante autorizado pelo xogum), a saída dos japoneses ao exterior, a volta dos que moraram por mais de cinco anos no exterior e o aportamento dos navios estrangeiros. Foi construído ainda um aterro, ou seja, uma ilha artificial em Nagasaki chamada Dejima (1634), restringindo a atividade comercial e a permanência dos holandeses apenas a essa ilha.

A perseguição de Tokugawa aos cristãos incluía o oferecimento de cem moedas de prata para quem denunciasse o esconderijo de padres, culminando com o aprisionamento, a tortura e a morte de cristãos, que, eram identificados quando titubeavam ou se recusavam a pisar sobre quadros de madeira ou de bronze com imagens de Cristo ou da Virgem Maria (fumi-ê).

Revolta de Shimabara

A Revolta de Shimabara (1637~1638) foi a última turbulência enfrentada pelo xogunato de Edo antes da estabilização de seu sistema do seu governo.

Existiam muitos cristãos na região de Shimabara e Amakusa (norte da Ilha de Kyushu), por ela ter pertencido a Harunobu Arima e Konishi Yukinaga, senhores feudais cristãos, antes da Batalha de Sekigahara. Entretanto, os novos daimiôs da região, Matsukura Shigemasa e Terazawa Katataka, perseguiram os cristãos e aplicaram-lhes severas punições, como a morte na cratera de vulcões, ou ainda o envolvimento de seus corpos numa capa feita com palha de arroz, sobre a qual ateavam fogo. Tal morte era chamada de mino odori, ou seja, dança da capa de palha, e causava extremo divertimento aos senhores feudais, que gostavam de ver os condenados debaterem-se envoltos em chamas.

Matsukura e Terazawa cobravam altos tributos dos camponeses, mesmo sabendo que a região estava sendo castigada pela seca e, conseqüentemente, a colheita fosse escassa. A fome fazia muitas vítimas, mas, mesmo assim, os senhores feudais nada fizeram para ajudar o povo. Foi nesse cenário que se espalhou o boato de que um filho de Deus surgiria para salvar as pessoas. Esse salvador foi identificado como Masuda Shirô Tokisada, que, por ter nascido em Amakusa, ficou conhecido pelo cognome de Amakusa Shirô.

Amakusa Shirô liderou os camponeses rebelados de Shimabara e Amakusa que lutaram contra os cruéis senhores feudais e as tropas enviadas pelo xogunato Tokugawa. A rebelião de 37 mil pessoas só foi contida quando o governo de Edo enviou uma tropa de 120 mil samurais comandada por Matsudaira Nobutsuna, homem de confiança do xogum Iemitsu.

Após conter a rebelião, o governo puniu com a pena de morte os senhores feudais de Shimabara e Amakusa. A região tornou-se praticamente desabitada. Dessa forma, o governo forçou a migração de muitos camponeses para este local e adotou medidas políticas que beneficiavam os menos abastados, como a redução de tributos. Cinqüenta anos após o conflito, a região transformou-se em uma das zonas rurais mais ricas e modernas do Japão.

Amakusa Shirô (1621~1638)

Um padre expulso de Amakusa havia feito a profecia de que um jovem de 16 anos salvaria o povo quando o céu queimasse as nuvens de leste a oeste, o solo desabrochasse flores fora da época, a terra tremesse e o povo e a natureza perecessem.

Mais de duas décadas após a profecia, o céu tingiu-se de vermelho, as flores de cerejeiras desabrocharam – apesar de ser outono – e as doenças da época fizeram muitas vítimas. O povo passou a comentar que a profecia estava se concretizando. Nessa época, morava em Amakusa um menino de 16 anos, filho de Masuda Jinbê, que havia servido a Konishi Yukinaga. Era um menino muito esperto,

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de traços delicados e carismático, que logo se tornou muito respeitado na região. Sabia falar latim e era versado na doutrina cristã, assim como na filosofia confucionista.

Uma vez escolhido como líder do movimento, ele lutou bravamente à frente da força revoltosa, agiu com sabedoria, incentivou o grupo com a fé cristã e fez com que os camponeses lutassem sem temer a morte. Com a derrota da força revoltosa, ele foi capturado e decapitado. Fome, revoltas e novas políticas

Aumento de rônin, ordem social conservadora e instabilidade emocional fizeram o xogunato mudar a diretriz do governo.

A administração política do Japão foi desenvolvida com base em um gigantesco poderio militar do momento em que Tokugawa Ieyasu (1542~1616) implantou seu xogunato e se estabeleceu na cidade de Edo (atual Tóquio), até a atuação do terceiro xogum, Tokugawa Iemitsu (1604~1651). Por causa de um rigoroso controle e vigilância, muitos senhores feudais tiveram suas terras confiscadas e muitos clãs foram extintos, aumentando, dessa forma, o número de samurais errantes (rônin), que ficaram sem um senhor a quem servir. Em 1651, a insatisfação de muitos desses samurais, que chegaram ao número de 400 mil, deu início a um plano para a derrubada do xogunato.

Em janeiro de 1657, mais um acontecimento contribuiu para o descontentamento geral. O Furisode Kaji (literalmente, incêndio de furisode) destruiu grande parte da cidade de Edo e foi provocado por um furisode, ou seja, um quimono luxuoso de donzelas, que estava sendo queimado em um templo, em razão de suas três últimas donas terem falecido em seqüência. A roupa foi carregada pelo vento ainda em chamas, causando o incêndio.

O aumento do número de rônin, somado à insatisfação com uma ordem social conservadora, que não permitia a promoção ou a ascensão das pessoas conforme sua capacidade, bem como a instabilidade emocional provocada pelo grande incêndio fizeram com que o xogunato Tokugawa mudasse a diretriz do governo – norteada pela força militar –, implantando uma política baseada na doutrina do filósofo chinês Confúcio. Essa alteração foi responsável pela época áurea do xogunato Tokugawa e sustentou a manutenção do quarto ao sétimo xogum de Edo, embora a política adotada pendesse para o idealismo, tornando-se a causa dos conflitos sociais posteriores. “Inu xogum” (xogum cachorro) – o quinto xogum: Tokugawa Tsunayoshi (1646~1709)

Inicialmente, Tsunayoshi foi um bom governante, mas, depois de outorgar, em 1685, a primeira “lei de misericórdia a todos os seres viventes”, seguida de mais 60 determinações semelhantes durante os seus 24 anos de poder, perdeu o prestígio e ganhou o apelido de “inu xogum”, ou seja, xogum cachorro.

Tudo começou com a perda de seu herdeiro, em 1683. Depois disso, o xogum não conseguia mais ter outros filhos homens. Um famoso monge, entretanto, disse que o fato era devido ao xogum ter matado animais em sua vida anterior e que, se ele desejava ter um herdeiro, deveria dedicar mais amor aos animais. Assim, como Tsunayoshi havia nascido no ano do cachorro, de acordo com o horóscopo chinês, passou a proteger, principalmente, esses animais.

Para proteger cachorros abandonados, Tsunayoshi chegou a criar 80 mil desses animais em um terreno imenso, alimentando-os com arroz, quando o povo morria de fome. Uma de suas leis determinava que quem matasse um cachorro seria exilado em ilhas longínquas. O “inu xogum” desejou, em seu leito de morte, que as leis de proteção aos animais perdurassem por mais cem anos, mas o seu sucessor, o sexto xogum, suspendeu as leis antes mesmo de terminar o funeral de Tsunayoshi.

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O sexto xogum, Tokugawa Ienobu (1663~1712) restabeleceu a ordem empregando o filósofo confucionista Arai Hakuseki. Seu filho Ietsugu (1709~1716) tornou-se o sétimo xogum aos 4 anos, assessorado por Arai Hakuseki, mas morreu aos 8 anos. O oitavo xogum foi Tokugawa Yoshimune, do clã de Kii-Tokugawa. A vingança dos Akô-rôshi

No dia 15 de dezembro de 1702, os 47 conjurados, ex-vassalos do extinto feudo Akô atacaram a

residência de Kira Kozukenosuke Yoshinaka e, após duas horas de batalha, conseguiram a cabeça de Kira, retiraram-se do local e dirigiram-se até o túmulo de seu antigo senhor feudal, Asano Takuminokami, para presenteá-lo com a cabeça do inimigo que o fez cair em desgraça. O xogunato vacilou ao punir os 47 conjurados, mas, no final, todos foram sentenciados com a pena de haraquiri.

Tudo começou em março de 1701, quando Asano Takuminokami atacou repentinamente Kira, no corredor do Castelo de Edo, onde era proibido desembainhar a espada. Não há nenhum registro do motivo que levou Asano a cometer um ato tão insano, mas tudo indica que o incidente foi provocado por Kira, que sempre dirigia palavras mordazes aos seus desafetos. Kira não deve ter poupado palavras para criticá-lo pelas supostas falhas cometidas ao recepcionar o mensageiro do imperador. Asano Takuminokami foi condenado a praticar o haraquiri, e seu feudo foi extinto.

Mesmo a doutrina confucionista da China pregava a vingança dos vassalos e familiares como uma obrigação. O xogunato Tokugawa emitia a licença de vingança, e os senhores feudais costumavam pagar um custo de vida aos familiares dos seus vassalos até conseguirem vingar a morte dos seus entes queridos. Após a vindicação dos conjurados de Akô, esse hábito se estendeu até a classe dos plebeus. Os que conseguiam seu objetivo, tornavam-se heróis aos olhos do povo. O oitavo xogum, Tokugawa Yoshimune (1684~1751)

Yoshimune restaurou e desenvolveu o xogunato. Suas medidas ficaram conhecidas como a Reforma de Kyôho, em virtude de o xogum ter assumido o poder e iniciado a reforma no primeiro ano da era Kyôho, ou seja, em 1716. Yoshimune seguia a política de Tokugawa Ieyasu e recomendou uma vida austera a camponeses e civis, além do incentivo aos treinos de artes marciais, para elevar o moral dos samurais.

O oitavo xogum explorou arrozais e valeu-se do poder financeiro dos comerciantes para aumentar a taxa da carga tributária. Ele ainda criou um sistema de promoção aos funcionários do baixo escalão conforme sua capacidade. No entanto, a carga tributária era pesada, e o campo foi assolado sucessivas vezes por um clima traiçoeiro, provocando muitos motins de camponeses. Muitos feudos tomaram medidas para a sobrevivência, tais como diminuir o pagamento de seus vassalos, monopolizar a venda de seus produtos e emitir moedas de circulação apenas interna, mas os samurais tiveram de enfrentar uma vida difícil. Muitos feudos contraíram dívidas vultosas de grandes comerciantes das metrópoles.

Após provocação, Asano ataca Kira com uma espada no Castelo de Edo

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Os grandes impérios do Ocidente invadem o Oriente

Colonização européia na Ásia oriental tornou ainda mais poderosas as potências que já dominavam o restante do mundo; frágil, o Japão foi obrigado a ceder à pressão.

O mundo evoluía para a modernidade, enquanto o Japão gozava de uma relativa paz dentro da redoma criada com o fechamento dos portos às nações estrangeiras. Tal atitude foi a base para a criação de uma cultura própria e peculiar.

Grande parte dos países das Américas haviam conquistado a independência, inclusive o Brasil, no ano de 1822. Entretanto, a Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, na Inglaterra impulsionou a busca européia por novas colônias. Assim, a Inglaterra, por exemplo, invadiu e colonizou a Índia, a Birmânia (atual Mianmá), Hong Kong (cedida pela China após a Guerra do Ópio) e a Península Malaia; a França colonizou o Vietnã, o Camboja e o Laos; a Holanda, as Ilhas da Indonésia; Portugal, Goa, Ilhas Molucas, Macau, Timor Leste e outros territórios; enquanto a Espanha tomou as Filipinas.

Tais notícias provavelmente chegaram ao xogunato Tokugawa pelos holandeses – que mantinham relações comerciais com o Japão –, deixando-o receoso.

Navios americanos (kurobune) nos mares do Japão

Quando a esquadra americana composta por quatro navios de guerra comandados pelo almirante Matthew Calbraith Perry (1794~1858) aportou em Uraga (província de Kanagawa), apontou seus canhões para as terras japonesas e entregou uma carta do presidente dos Estados Unidos com o objetivo de assinar um tratado de comércio com o arquipélago, o governo Tokugawa ficou alarmado, mas conseguiu adiar sua resposta por um ano.

Assim, em 1854, Perry ancorou no Golfo de Edo para cobrar uma resposta japonesa. O xogunato, enfraquecido e desgastado ao longo de 260 anos de comando, não pôde recusar a imposição americana e acabou assinando o Tratado de Kanagawa, em 31 de março de 1854, o qual permitiu aos Estados Unidos a abertura de portos em Shimoda e Hakodate, o abastecimento de combustíveis e produtos alimentícios aos navios americanos e a instalação do consulado americano na terra do sol nascente.

O Tratado de Comércio e Navegação foi assinado em 1858 e deu aos americanos poderes para aportarem seus navios em Kanagawa, Nagasaki, Niigata e Hyogo. Uma vez cedida à pressão estrangeira, o xogunato Tokugawa teve que assinar tratados semelhantes com Inglaterra, Rússia e Holanda. Dessa forma, desmoronou a política de isolamento das nações estrangeiras, e outros fatores se encarregaram de corroer o sistema político que sustentava o poder do xogunato japonês. Evasão rural

Por volta do século XVIII, a circulação cada vez maior de moedas influenciou muito não apenas a economia urbana, mas também a rural. Em vez de plantarem apenas para seu próprio consumo, a moeda permitiu aos agricultores o comércio de suas colheitas, com a compra de novos e melhores equipamentos e sementes de produtos como algodão e colza (para extração de óleo). Essa modernização provocou desníveis sociais, porque os agricultores conseguiram enriquecer com a comercialização de seus produtos e compraram terrenos de pessoas menos abastadas, ignorando a proibição imposta pela lei vigente. Muitos dos que perderam suas terras abandonaram o campo e foram para as grandes cidades, causando fissuras nas bases da então sociedade conservadora.

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Expansão das atividades manufatureiras

A atividade têxtil também foi adquirindo novo fôlego, com o desenvolvimento do brocado nishijin na região de Quioto e Kiryû (província de Gunma) e do tecido de algodão nas imediações de Osaka e Owari. Os comerciantes de tecidos começaram a procurar camponeses para o trabalho na entressafra, alugando teares, fornecendo a linha e adquirindo tecidos a preços irrisórios.

Comerciantes ou proprietários de terras mais abastados, ou mesmo alguns senhores feudais, passaram a reunir camponeses num local montado com todos os equipamentos necessários para a fabricação de tecidos para a realização do trabalho em equipe, com subdivisão de tarefas. Surgiam, assim, as primeiras “fábricas”.

A vida dos camponeses não melhorou, apesar de todas essas atividades econômicas. Houve, inclusive, a piora das condições de sobrevivência, pois os camponeses começaram a sofrer a influência da flutuação dos preços dos produtos agrícolas, além dos tributos, que ficaram mais onerosos.

A desintegração do sistema de xogunato Tokugawa

Em fins do século XVIII, na tentativa de recuperar a estabilidade política do xogunato, o rôchû Matsudaira Sadanobu implementou a Reforma de Kansei (1787~1793), que se constituía em: construção de armazéns para o arroz, a fim de ter reservas, em caso de carência de víveres; limitação de lavoura de produtos comerciáveis; incentivo de estudos e práticas de artes marciais dos samurais; unificação do ensino, proibindo os estudos que não fossem de filosofia confucionista; anistia de uma parte das dívidas contraídas dos comerciantes pelos hatamoto, pregando a estes uma vida mais austera.

Com o abrandamento da política do xogunato causado pelo afastamento de Sadanobu, no início do século XIX, os comerciantes adquiriram cada vez mais poder econômico; em contrapartida, o número de samurais empobrecidos aumentou. Muitos plebeus compraram o título de samurai, fazendo com que seus filhos se tornassem herdeiros de famílias de samurais.

As insatisfações contra a sociedade desestruturada e a demonstração de fraqueza do xogunato Tokugawa perante as nações estrangeiras que forçaram a abertura dos portos causaram o surgimento de ideais revolucionários entre os jovens samurais, culminando com a restauração do poder imperial, em 1868. As três fases culturais

Período histórico inspirou o surgimento de grandes expoentes de várias áreas da cultura japonesa.

A Era Edo teve três fases distintas, sob o ponto de vista cultural. A primeira delas, denominada Cultura Keichô-Kan’ei, abrangeu a primeira metade do século XVII; a segunda fase, chamada de Cultura Genroku, foi de meados do século XVII até o início do século XVIII; a terceira fase, denominada Cultura Kasei, começou em fins do século XVIII e terminou no início do século XIX.

A Cultura Keichô-Kan’ei é representada por obras suntuosas e luxuosas, como segmento da Era Azuchi-Momoyama, observando-se também a influência da cultura ocidental. A cultura dessa fase foi sustentada por samurais e nobres.

Como obra representativa dessa época, há o Templo Toshogu, construído em homenagem a Tokugawa Ieyasu, na província de Tochigi, cidade de Nikko. Ao falecer, Ieyasu foi enterrado primeiro no Monte Kunôzan, na província de Shizuoka, em 1616, porém, no ano seguinte, sob conselho do

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monge Tenkai (1536~1643), seu filho e segundo xogum, Hidetada, transferiu o corpo de Ieyasu para Nikko. O templo foi reformado e ampliado pelo terceiro xogum, Iemitsu, entre 1634 e 1636. Fazendo contraste com o suntuoso Templo Toshogu, encontra-se em Quioto a vila imperial Katsura-Rikyu, construída entre 1620 e 1624, despojada de luxo, porém denotando refinamento ímpar.

A Cultura Genroku floresceu, principalmente, em Osaka, sustentada por grandes comerciantes e samurais. Nas obras desse período, observam-se a ideologia pragmática e realista. Os artistas representativos dessa época são: no campo da pintura, Ogata Kôrin (1658~1716) e Hishikawa Moronobu (1618~1694), conhecido como criador das xilogravuras ukiyoye; e, no campo da literatura, Matsuo Basho (1644~1694), que sublimou o haicai; Ihara Saikaku (1642~1693), que descreveu a vida do povo com vivacidade; e Chikamatsu Monzaemon (1653~1724), que compôs peças para Jôruri e para teatro Kabuki.

A Cultura Kasei, última da Era Edo, foi criada por samurais e pelo povo de Edo, que adquiriu estabilidade econômica e política. Nas obras dessa época, transparecem o gosto pelo prazer mundano, refletindo a política degenerada e corrupta. Destacaram-se nessa época muitos pintores de ukiyoye, tais como: Utamaro (1753~1806) e Sharaku (?~fins do século XVIII) – que pintaram muitos artistas do teatro Kabuki e mulheres consideradas bonitas na época –, Hokusai (1760~1849) e Hiroshige (1797~1858), que pintaram paisagens. Na literatura, tivemos Jippen Shaikku (1765~1831), autor da comédia Tôkaidô Hizakurige, o romancista Takizawa Bakin, e os poetas de haicai Yosa Buson (1716~1783) e Kobayashi Issa (1763~1827). Ukiyoye

Um dos fatores que impulsionou o surgimento da japonologia – estudos sobre a cultura japonesa –, na Europa, durante o século XIX, foi a descoberta do ukiyoye pelos europeus. A influência do ukiyoye é observada, por exemplo, nas obras do pintor Vincent van Gogh (1853~1890).

Ukiyoye é a denominação da pintura que retrata a vida do povo da época. Eram quadros pintados com o próprio punho, bastante caros, adquiridos apenas por senhores feudais ou grandes comerciantes. Com o desenvolvimento de técnica de xilogravuras, o ukiyoye popularizou-se. No início, era empregado como ilustração de romances populares e eram figuras monocromáticas, que se tornaram coloridas com o tempo. O ukiyoye era idealizado primeiro pelo editor; depois, o pintor desenhava conforme o pedido; a seguir, ele era esculpido nas pranchas de madeira, conforme as cores; e, por último, passado para o impressor, que tirava as cópias. À medida que aumentava o número de publicações e a técnica de impressão também avançava, o ukiyoye tornava-se acessível ao povo também, que o adquiria para apreciá-lo, ou para levá-lo como lembrança de viagem.

Sharaku, que criou um etilo próprio de homens caricaturados, conseguindo transmitir os sentimentos humanos, não foi muito apreciado na época. Suas obras passaram a ser valorizadas apenas na Era Meiji, quando Ernest Francisco Fenollosa (1853~1908), que apresentou as obras de arte japonesa nos Estados Unidos, reconheceu o seu valor artístico. Literatura – yomihon

Os romances lidos pelo povo na Era Edo eram conhecidos pelo nome de yomihon e existiam em diversos gêneros, para todos os gostos: kana-zôshi escrito em hiragana (fonogramas); ukiyo-zôshi, sobre amores e vida do povo; share-bon, que retrata a vida dos prostíbulos; kokkei-bon, romance que aborda o lado cômico do povo; ninjô-bon, histórias de amor; kusa-zôshi, contos ilustrados para o público infantil e o feminino; e kibyôshi, romance ilustrado para adultos. Todos esses livros eram muito lidos pelo povo, mas, nessa época, em vez de comprá-los, o povo alugava-os nas livrarias de aluguel.

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O xogunato interferia até mesmo nos conteúdos desses romances, proibindo a publicação daqueles que poderiam atentar contra os bons costumes da época, ou aqueles que continham teor de crítica ao sistema vigente, punindo os editores e autores que, no início, eram samurais de baixo escalão, pois ainda não conseguiam sobreviver somente como escritores.

Kokugaku (Estudos Clássicos Japoneses) e Yôgaku (Estudos das Ciências Ocidentais)

Após o oitavo xogum, Yoshimune, ter liberado a importação das literaturas ocidentais traduzidas para o chinês, o número daqueles que estudavam as ciências do Ocidente aumentou.

O médico alemão Siebold (1796~1866), que chegou ao Japão no ano de 1823, para trabalhar como médico da Casa Comercial Holandesa (Horanda-Shôkan), fundou, na periferia da cidade de Nagasaki, no ano seguinte à sua chegada, a escola Narutaki-juku, formando vários estudiosos de Yôgaku.

Nessa época, surgiu também um movimento para pesquisar os pensamentos do povo japonês, remetendo aos tempos primordiais, que antecederam a introdução do budismo e do confucionismo. Esse movimento recebeu o nome de Kokugaku. Entre os estudiosos de Kokugaku, destacaram-se Kamo-no-Mabuchi (1697~1769) e Motoori Norinaga (1730~1801). O Kokugaku difundiu-se mesmo entre os camponeses e o povo, encontrando seu seguidor na figura de Hirata Atsutane (1776~1843), que remeteu a sua linha de pensamento até o xintoísmo – filosofia essa que foi adotada pelos imperialistas em fins de xogunato Tokugawa. Popularização de algumas formas de arte

Durante o período, algumas manifestações culturais difundiram-se socialmente e consolidaram-se, sendo preservadas no Japão até os dias atuais. Haiku – o poema de 17 sílabas Isolado do restante do mundo, o Japão consolidou e popularizou muitas formas de arte peculiares durante a Era Edo. Algumas delas são praticadas até hoje com maestria e requinte. Uma delas é o haiku, um poema composto por versos de 5, 7 e 5 sílabas (totalizando 17), cujo assunto é um tema sazonal.

A denominação haiku foi difundida por Masaoka Shiki (1867~1902), mas pode se referir também, no seu sentido lato, à primeira estrofe do poema do haikai, que se popularizou na Era Edo. O haiku e o poema tanka, de 31 sílabas, constituíram as duas principais correntes literárias genuinamente japonesas.

O haikai, originalmente, era uma literatura que explorava a comicidade. O povo da Era Edo compunha esse tipo de poema para explorar o lado cômico da vida. Quem elevou o nível da arte foi Matsuo Bashô (1644~1694). Um dos seus poemas mais conhecidos representa o seu estilo literário simplista, porém contém toda a visão oriental de wabi (serenidade plena) e sabi (refinamento ou brio envolto por camada de refinamento): Furuike ya, Kawazu Tobikomu, Mizu no Oto (No velho açude, o pulo do sapo que quebra o silêncio).

Além de Bashô, o haikai, precursor do haiku, teve outros grandes poetas que se destacaram na Era Edo, como: Yosa Buson (1716~1783) e Kobayashi Issa (1763~1827).

NINGYÔ JÔRURI – Arte

cênica foi precursora do Bunraku atual.

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Senryû – Uma variedade de haiku com tema humorístico O senryû é um poema de 17 sílabas em linguagem coloquial, de conteúdo cômico, irônico ou satírico, que teve muita evidência a partir de meados da Era Edo. Em fins desse período, surgiu uma facção de tendência vulgar que recebeu o nome de kyôka.

Esse tipo de poema antes era chamado de maeku (primeira estrofe) e fazia parte do haikai. Era uma espécie de jogo em que se acrescentava o maeku de 17 sílabas para a segunda estrofe, de 14 sílabas, dada como tema.

Matsuo Bashô (1644~1694) Nascido na cidade de Ueno, em Iga (atual província de Mie), a famosa terra dos ninjas, quando jovem, Bashô serviu ao filho do chefe dos samurais do feudo de Ueno, Yoshitada, mas, após a sua morte, no ano de 1666, decidiu dar uma guinada em sua sua vida, partindo para Edo, a fim de se tornar um poeta do haikai.

No início, ele morou no bairro de Shinbashi, no centro da cidade de Edo, mas, em 1680, mudou-se para o bairro de Fukagawa, morando numa casa simples, à qual deu o nome de bashô-an (cabana de bananeiras japonesas). De seu bashô-an, ele saiu em viagem para várias partes do Japão, compondo poemas

durante o caminho e fazendo muitos discípulos, que deram seguimento ao haikai de alto teor literário criado por Bashô.

Durante uma das suas inúmeras viagens, Bashô caiu doente e faleceu na cidade de Osaka, em 1694, deixando o poema “Tabi ni yande, Yume wa kareno o kakemeguru” (No leito da enfermidade, os sonhos correm soltos pelo campo seco).

Ningyô Jôruri – Teatro de bonecos Jôruri, à semelhança das trovas e dos cânticos da era medieval européia, são composições cantadas com o acompanhamento de shamisen, instrumento musical de três cordas. Sua origem remonta à Era Muromachi (1336 ou 1338?~1573). Por volta da Era Edo (1603~1867), o Jôruri passou a ser apresentado junto com os bonecos, encenando as histórias cantadas, daí o nome de ningyô (boneco) Jôruri.

O Ningyô Jôruri atingiu grande popularidade apenas na Era Edo, com o surgimento de dois grandes gênios: Takemoto Gitayû, cantor e compositor de Jôruri, e Chikamatsu Monzaemon, escritor das tramas de Jôruri. Juntamente com o teatro Kabuki, o Jôruri constituiu-se numa arte cênica muito popular da Era Edo, muitas vezes superando o Kabuki, com os dramas cantados com maestria. Na Era Meiji, quando o Ningyô Jôruri começava a perder popularidade, Uemura Bunrakuken fundou o teatro Bunraku-za, em 1872, reconquistando o público. Com a popularidade dos Ningyô Jôruri apresentados no teatro Bunraku-za, o nome do teatro, ou seja, o Bunraku, passou a ser sinônimo de Ningyô Jôruri.

Chikamatsu Monzaemon (1653~1724) Filho de samurai, Monzaemon sempre demonstrou maior afinidade pela literatura do que pelas artes marciais. Desde 20 e poucos anos, começou a escrever peças para Jôruri e também para Kabuki.

A sua obra representativa é Sonezaki shinjû (Pacto de morte em Sonezaki), escrita em 1703, tendo como tema o duplo suicídio da meretriz Ohatsu e do jovem aprendiz de uma casa comercial ocorrido na cidade de Osaka, no bosque de Sonezaki-tenjin. A criatividade de Chikamatsu, que

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escolheu como personagens principais as pessoas do povo, e não figuras históricas famosas, e a sua abordagem lírica, mostrando o sofrimento do casal que não teve outra escolha a não ser a morte para imortalizar o amor, mobilizam um grande público para assistir ao espetáculo. Monzaemon é conhecido como o Shakespeare (1564~1616) do Japão.

Teatro Kabuki O Kabuki, uma das artes cênicas japonesas mais conhecidas no mundo, teve origem no início da Era Edo, como segmento da dança denominada Kabuki Odori, criada por Izumo-no-Okuni (séculos XVI e XVII), em Quioto. A dança criada por essa mulher foi imitada por muitas meretrizes, até ser proibida, em 1629, por atentar contra os bons costumes da época. Com essa proibição, o Wakashu Kabuki, dança de jovens bem apessoados, que surgiu por volta de 1615 tomou fôlego, mas também foi proibido em 1652, por fomentar o homossexualismo.

No ano seguinte, porém, o xogunato de Edo acabou cedendo, com a permissão do Yarô Kabuki, ou seja, a representação cênica somente de atores do sexo masculino sem franjas, característica essa para identificar os jovens que não atingiram a idade adulta.

Com o passar do tempo, o Kabuki foi se aprimorando, transformando-se numa arte cênica peculiar, cuja encenação não perdeu o refinamento estético das danças.

Mantendo a tradição, até hoje o Kabuki é apresentado apenas pelos atores do sexo masculino. Os atores que fazem papel de mulher são conhecidos como oyama. Os revolucionários e a queda do xogunato Tokugawa

Ao perceber as falhas de seu governo, Tokugawa devolveu o poder à corte imperial.

Por volta de 1850, os EUA e os países da Europa que tinham passado pelo processo da Revolução Industrial viam nos países da Ásia uma oportunidade de expandir seu mercado. Assim, tentaram forçar a abertura dos portos em um momento que coincidiu com o deterioramento do poder do xogunato Tokugawa, que vinha perdurando por mais de 260 anos. Pressionado pelos imperialistas, que aspiravam um novo sistema liderado pelo imperador, o xogunato também enfrentava os camponeses insatisfeitos, que provocavam motins em várias regiões, desencadeando uma onda de revoltas por todo o país.

No início, o motivo da indignação foi o preço do arroz, mas o movimento foi crescendo e, no fim, o povo desejava a renovação do arquipélago. Muitos jovens que souberam da situação do país vizinho, a China, totalmente dominado por europeus e americanos, protestaram para que o Japão não tomasse o mesmo rumo. Em sua maioria, eram jovens oriundos da classe baixa dos samurais, filhos de camponeses e comerciantes. Os primeiros passos para a construção de um novo país foram dados por esses jovens, que, inclusive, impediram a colonização do país pelas nações do Ocidente.

Sakamoto Ryôma (1835~1867)

Nascido em Tosa (atual província de Kôchi), Sakamoto era o segundo filho de um samurai “reformado” (gôshi) que vivia no campo. Durante a infância, não foi um aluno muito aplicado, mas, ao presenciar a falta de disciplina do xogunato Tokugawa diante da chegada da esquadra americana

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comandada pelo almirante Perry, Sakamoto passou a se dedicar aos estudos, pensando no futuro do país.

Em 1862, Sakamoto desertou do feudo de Tosa e tornou-se discípulo de Katsu Kaishu (1823~1899), um homem de grande visão, e dedicou-se à fundação do quartel da Marinha. Com o apoio do feudo de Satsuma (atual província de Kagoshima), ele organizou o regimento da Marinha (kaihei-tai) e também dedicou-se ao transporte marítimo.

Graças aos esforços de Sakamoto, os feudos de Satsuma e de Chôshu tornaram-se aliados na luta para derrubar o xogunato Tokugawa. Ele ainda elaborou o seu ideal de novo governo, conhecido pelo nome de senchu hassaku, que era: 1) a devolução do poder ao imperador; 2) o governo da corte imperial ouvindo a maioria e instalando um parlamento; 3) a admissão em larga escala de pessoas capacitadas; 4) a condução da política externa ouvindo a maioria; 5) a criação de uma constituição; 6) a ampliação do poder da marinha; 7) a formação de uma força armada do governo; 8) o estabelecimento de um câmbio com a moeda estrangeira.

Sakamoto mostrou o senchu hassaku a Gotô Shôjirô (1838~1897), do feudo de Kôchi, que, por sua vez, convenceu Yamauchi Toyoshige (1827~1872), do mesmo feudo, a levar as premissas do novo governo ao conhecimento do décimo quinto e último xogum, Tokugawa Yoshinobu. Ao perceber a falha de sua administração, Tokugawa assinou o tratado que devolvia o poder à corte imperial. Sakamoto Ryôma sofreu vários atentados e foi assassinado aos 33 anos, durante um encontro sigiloso com Nakaoka Shintarô, outro revolucionário, dez meses antes da Restauração Meiji. Shinsengumi

O povo japonês sempre demonstrou mais simpatia pelos perdedores. Um desses exemplos, símbolo de grande simpatia, é o Shinsengumi, um grupo de jovens que dedicaram fidelidade ao xogunato Tokugawa até o último momento. Embora todas as dramatizações sobre a história do Shinsengumi no teatro, no cinema e em telenovelas conquistem grande audiência, mesmo nos tempos atuais, sua trajetória não consta nos livros didáticos de história do Japão.

Inicialmente formado por Kiyokawa Hachirô (1830~1863), o grupo chamava-se Rôshigumi e tinha como objetivo controlar os samurais desocupados que viviam na cidade de Edo (atual Tóquio), em fins de 1862. Porém, quando o grupo de jovens chegou a Quioto para os preparativos da viagem do xogum a esta cidade, Kiyokawa declarou que o verdadeiro objetivo do grupo era apoiar os imperialistas. O xogunato ordenou a volta do grupo para Edo, mas alguns de seus membros eram contrários à conduta de Kiyokawa e permaneceram em Quioto, formando, assim, o Shinsengumi, liderado por Kondô Isami (1834~1868), filho de camponeses.

O grupo, então, passou a pertencer ao feudo de Aizu, com a intermediação do governador de Quioto, Matsudaira Katamori (1835~1893), e consolidou-se pela postura antiimperialista de seus componentes. Em nome da paz, o Shinsengumi assassinou muitas pessoas em Quioto e dedicou fidelidade a Matsudaira Katamori, que foi contra a devolução do poder à corte imperial.

Em 1864, o grupo conseguiu vencer a tropa do feudo de Chôshu, mas foi derrotado na batalha de Toba e Fushimi, em 1868. Os sobreviventes foram presos e decapitados. A batalha ainda se alastrou por um ano e meio entre os partidários do xogunato Tokugawa e o novo goveno, conhecido como boshin sensô.

Após a Restauração Meiji, Matsudaira Katamori tornou-se sacerdote-mor do Templo Nikko Toshogu, jazigo de Tokugawa Ieyasu. O último xogun, Tokugawa Yoshinobu, retirou-se para Mito (província de Ibaraki), após deixar o castelo de Edo, recebendo, posteriormente, o título de duque. Muitos dos jovens imperialistas que foram contemplados com algum título após a Restauração Meiji eram de origem humilde, em sua maioria dos feudos de Satsuma, Chôshu e Tosa.

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Era Meiji

O imperador assume o poder

Que nação o novo governo tentou construir, diante das pressões e do perigo de se tornar uma colônia das nações européias e americana?

Quatorze anos após a delegação do almirante Matthew Calbraith Perry exigir a abertura dos portos, em 1853, o xogunato Tokugawa, que durou cerca de 260 anos, solicitou a devolução do poder político à corte, na chamada Taiseihôkan (restituição do poder à corte imperial).

O imperador Meiji, então com 16 anos, assumiu o trono como o 122º imperador, marcando o fim do sistema feudal e da política da classe militar, que durou 700 anos, desde o xogunato Kamakura. Que tipo de nação o novo governo tentou construir, diante das pressões e da sensação de perigo geradas pelo risco de se tornar uma colônia das nações européias e americana, que visavam ao mercado econômico do continente asiático?

Para o estabelecimento de um moderno Estado, nos moldes das nações ocidentais, o novo governo lançou inúmeras políticas, que serão tratadas a seguir. É chamada de Restauração Meiji a grande reforma que abrangeu aspectos políticos, econômicos, militares e educacionais. A expressão “revolução” foi evitada, porque a reforma foi realizada por militares, samurais do sistema feudal pertencentes a categorias inferiores, e não pelas camadas populares.

A devolução dos feudos à coroa (Hansekihôkan), a abolição dos clãs e a criação das províncias (Haihanchiken) Em 1869, a corte impôs a devolução dos territórios (hanto) sob domínio dos senhores feudais (hanshu, da categoria dos daimiôs), bem como da população e de seus registros (koseki). Os 261 feudos (han) foram transformados em 3 províncias metropolitanas (fu) e 302 províncias (ken), além de Hokkaido. Depois, foram reduzidas a 72 províncias. No início, não houve muitas mudanças, pois manteve-se a figura do hanshu da Era Tokugawa. Por esta razão, em 1871, extinguiu-se os han, mudando-se a denominação para ken. Os governadores das províncias metropolitanas (fuchiji) e os governadores das demais províncias (kenrei) eram enviados pelo poder central. Consolidou-se, então, a base de uma nação com poder centralizado, que teve o imperador como vértice.

O pilar do governo era composto pelos feudos monarquistas de Chôshû (atual Yamaguchi), Satsuma (atual Kagoshima), Tosa (Kochi) e Hizen (Saga).

Igualdade entre as classes (shimin byôdô) O novo governo extinguiu a divisão das quatro classes sociais (shinôkôshô) existente na Era Edo, porém manteve a figura do imperador (tennô), das classes dos nobres da corte (kizoku) e dos daimiôs, formando a aristocracia (kazoku), que recebia tributos (hôroku) em arroz ou moeda. No

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entanto, devido às dificuldades financeiras, esses pagamentos foram cortados em 1876 e foram substituídos por pagamentos anuais dos juros sobre o valor nominal dos tributos correspondentes a um certo número de anos. Mas esse valor não era suficiente para a manutenção da classe dos samurais (shizoku). Isto fez com que essas classes fossem desfeitas, com exceção da família imperial, dando início à proletarização da população.

Os samurais das classes inferiores (kakyuu bushi), os camponeses (nômin) e os pequenos comerciantes (chônin) formavam a classe do povo comum, heimin. Aos párias, chamados de eta e himin, foi concedida legalmente a emancipação em 1871, sendo reconhecidos como pertencentes à categoria dos heimin.

Revisão dos impostos sobre as terras e incremento da produção O novo governo, para corrigir a situação de dificuldade do tesouro público, permitiu a compra e a venda de terras, revisou o valor das terras com base na produção anual, determinando um novo preço, impondo uma lei segundo a qual 3% desse valor deveria ser pago em dinheiro como imposto. Como resultado, os camponeses que não podiam pagá-lo renunciavam às terras.

Por outro lado, a cobrança por parte dos proprietários em relação ao rendeiro, que lhes levava metade da produção de arroz em espécie, tornou a vida dos camponeses mais difícil do que foi no final da Era Edo, acarrretando freqüentes revoltas (nômin ikki).

Com o auxílio financeiro dos países ocidentais, o governo construiu fábricas sob administração estatal, ampliando suas atividades para os ramos da indústria de fiação, ferrovia e comunicação. Em 1880, já havia fábricas e manufaturas de capital privado, afirmando o sucesso do projeto de transformar o país numa nação rica.

Serviço militar obrigatório (Chôheiseido) Visando a tornar-se um país rico e militarmente forte, o novo governo tomou como modelo a organização militar do ocidente europeu – Alemanha, França e Inglaterra –, formando um exército nos moldes ocidentais, instituindo, em 1873, o serviço militar obrigatório. Ele foi imposto à população masculina adulta, inicialmente isentos o chefe de família, os herdeiros, os funcionários públicos e os indivíduos que pagassem um determinado valor ao governo. Entre os alistados, os mais numerosos eram os segundos e os terceiros filhos das famílias camponesas. Temendo perder seus trabalhadores, os camponeses organizaram revoltas contrárias ao serviço militar em vários lugares. O xintoísmo como religião nacional A política de se congregar o xintoísmo e o budismo, existente desde a Era Edo, resultou no xintoísmo estatal (kokka shintô). Por isso, os adeptos do budismo foram perseguidos, inúmeros templos incendiados ou destruídos e imagens búdicas históricas danificadas ou vendidas. Por outro lado, estes acontecimentos proporcionaram uma chance de o budismo renascer como uma religião moderna, livrando-se de um sincretismo religioso simplista. Especialmente a partir de 1873, com o fim da proibição do cristianismo, e de 1889, com a liberdade religiosa reconhecida legalmente, muitas religiões se empenharam em sua modernização.

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O despertar da modernidade

Mudanças profundas na sociedade japonesa foram permeadas entre protestos e conflitos, o que não impediu a consolidação de um Japão como sociedade moderna.

A Era Meiji foi o despertar do Japão para a modernidade. Porém, para que isso ocorresse houve muitos entraves, já que muitos perderam os seus privilégios conquistados ao longo de séculos. A seguir, veremos a trilha para a modernidade japonesa:

Gokajô no goseimon (Juramento de cinco cláusulas)

Logo após a devolução do poder ao imperador Meiji, no dia 14 de março de 1868, são editadas em nome do imperador, as diretrizes básicas do novo governo, denominadas Gokajô no goseimon (Juramento de cinco cláusulas): 1) Promover uma ampla assembléia, respeitando a opinião pública; 2) As medidas governamentais deverão ser tomadas em comum acordo; 3) Todos, desde os burocratas até os civis, devem concretizar suas aspirações, sem sobrecarregar-se física ou espiritualmente; 4) Abandonar os velhos costumes restritivos e agir abertamente, baseando-se nos bons costumes; 5) Procurar pelo mundo afora amplos conhecimentos para o bem da nação.

Sob essas diretrizes o novo governo tenta modernizar o país, introduzindo o sistema ministerial (dajôkan seido), instituindo os três poderes, ou seja, o legislativo, executivo e o judiciário, seguindo o modelo americano.

Promulgação do sistema educacional

A difusão do ensino contribuiu em muito para a modernização do Japão. No ano de 1872 (ano 5 da era Meiji), o governo promulgou o sistema educacional em que

estabelece a obrigatoriedade do ensino primário a todas as crianças a partir de 6 anos. Como a construção da escola e a mensalidade ficaram sob a responsabilidade da região, no início o número de alunos não foi grande, mas com o tempo essa situação foi revertida.

Foram criadas muitas instituições de ensino superior, tal como a Universidade de Tóquio, contratando-se muitos professores estrangeiros e muitos estudantes receberam bolsas para estudarem nos países europeus e nos EUA.

Em 1886 é divulgada a diretriz de educação do imperador Meiji, o famoso kyôiku chokugo, que passa a ser lido em todas as escolas até o fim da segunda gerra. O texto prega o amor fraternal, a amizade, o amor ao próximo, a dedicação aos estudos, o cultivo de conhecimentos, o trabalho para o bem social, obediência às leis para a manutenção da ordem social e a sincera dedicação para a paz e a segurança da nação.

Incentivo à produtividade

O novo governo japonês empenha-se em desenvolver a produtividade industrial implantando fábricas de capital estatal, tal como fábricas de fiação na província de Gunma, e tenta difundir novas tecnologias através de exposições.

As redes de transporte e de comunicação, imprescindíveis para o desenvolvimento econômico também são levadas em conta. Assim, em 1872, é inaugurada a linha ferroviária que liga o bairro de Shinbashi (Tóquio) à cidade de Yokohama, e dois anos depois, a linha que liga as cidades de Kobe e

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Osaka. Nas costas japonesas os navios à vapor passam a navegar com maior freqüência e os velhos mensageiros (hikyaku) são substituídos por modernos sistemas de correio e telégrafos.

A revolta dos shizoku (samurais destituídos)

Ôkubo Toshimichi, estadista que se tornou a figura principal do novo governo, ao mesmo tempo em que se empenha no desenvolvimento da produção nacional, reforça seu domínio sobre o país, controlando com rigor o povo. Isso causa a insatisfação de muitos que sonham com um país mais livre, surgindo várias revoltas contra o novo governo.

Com a instituição de províncias em substituição aos feudos, os shizoku, ou “ex-samurais”, perdem seu ponto de apoio, e em 1876, o pagamento do roku (salário de samurai) também é extinto, com a recompensa de um pequeno valor (kinroku kôsai). Ainda, com a instituição da lei de igualdade, eles perdem o privilégio do porte de espada, assim como o valor de guerreiro, já que o serviço militar torna-se obrigatório a todos os jovens.

Entre as várias revoltas, a de maior proporção e repercussão foi a revolta conhecida por seinan sensô (guerra do sudoeste) comandada por Saigô Takamori, um dos revolucionários que restituiu o poder imperial e que havia defendido o envio de tropas japonesas à Coréia para desviar a frustração e insatisfação dos samurais. O levante começa em fevereiro de 1877, com a participação de mais de 30 mil shizoku de Kagoshima, ilha de Kyushu, e termina em setembro do mesmo ano, com a derrota da força revoltosa perante a tropa de soldados recrutados pelo novo governo, e Saigô Takamori acaba se suicidando, praticando o harakiri.

Constituição Japonesa

No dia 11 de fevereiro de 1889, é anunciada sob o nome do imperador Meiji, a Constituição do Grande Império Japonês (Dai Nippon Teikoku Kenpô).

Pela Constituição, ficou estabelecido que o imperador governaria o país como mandante supremo, detendo a autoridade para convocar ou dissolver a Dieta Imperial (Teikoku Kokkai - parlamento imperial), comandar o poder militar, assinar tratados e decidir sobre iniciar ou não uma guerra.

A Dieta Imperial, inaugurada em 1890, seria composta por parlamentares da nobreza (kizokuin) e câmara dos deputados (shûgiin) eleitos pelo povo, que começa a ter participação na política, embora com restrições. Coréia: muralha de proteção

O Japão enfrentou guerras contra a China e a Rússia. Ambas tiveram como principal objetivo impedir a expansão russa rumo ao sul, evitando a ocupação da península coreana.

Durante a Era Meiji, o povo japonês enfrenta duas guerras: a Sino-Japonesa (1894~1895) e a Russo-Japonesa (1904~1905). Ambas as guerras tiveram como um dos principais objetivos impedir a expansão russa rumo ao sul, evitando dessa forma a ocupação da península coreana. Isto causaria uma ameaça constante ao Japão, já que as ilhas japonesas avizinham-se com a Coréia.

Guerra Sino-Japonesa

O governo Meiji tenta obter influência sobre a Coréia para fazer deste país a muralha de proteção dos ataques estrangeiros. Porém, essa estratégia só serviu para criar atritos políticos com a China, que se achava o país protetor da Coréia.

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Nesse interim, ocorre a revolta dos camponeses coreanos, insatisfeitos com a situação sócio-econômica do país, onde a corrupção corria solta. A insurreição assume proporções gigantescas, ocorrendo grande distúrbio no país. Foi a oportunidade esperada pela China e pelo Japão intervirem, enviando suas tropas para “conterem os rebeldes”. Inicia-se dessa forma a Guerra Sino-Japonesa, em agosto de 1894. A guerra termina com a vitória japonesa que tinha aprimorado sua capacidade bélica em pouco mais de 20 anos, após a Restauração Meiji. Em abril de 1895 (ano 28 da Era Meiji), é assinado o Tratado de Paz em Shimonoseki, pelo qual a China: 1) reconhece a independência da Coréia como uma nação; 2) cede ao Japão as ilhas de Formosa e a península de Liaotung; 3) compromete-se a pagar uma indenização ao Japão no valor de 310 milhões de ienes, aproximadamente.

O governo japonês controla através da força a revolta do povo chinês da ilha de Formosa, iniciando-se a colonização da ilha.

Guerra Russo-Japonesa

A Rússia que tentava ocupar a parte nordeste da China, junta-se à Alemanha e França para forçar a devolução da península de Liaotung à China. O Japão que não possuía poder suficiente para enfrentá-los, acaba devolvendo a península à China. Esse episódio cria um forte antagonismo do povo japonês contra a Rússia. Porém, o que o governo japonês temia era a expansão russa até às portas do Japão através da península coreana. Assim, o governo japonês consegue aliar-se à Inglaterra e declara guerra contra a Rússia em fevereiro de 1904.

As tropas japonesas enfrentam dificuldades, mas conseguem levar vantagem sobre as tropas inimigas, conquistando várias vitórias nas batalhas. Em março de 1905, por exemplo, as tropas japonesas lideradas pelo general Oyama, conseguem expulsar os exércitos russos da província da Manchúria. Ainda, a marinha japonesa consegue derrotar a poderosa esquadra do Báltico composta por gigantescos navios de guerra russos, no estreito da Coréia, perto da ilha de Tsushima.

Porém, o poder bélico japonês estava no seu limite, quando ocorre a revolução na Rússia, impedindo a continuidade da guerra. Assim, com a intermediação dos Estados Unidos, é assinado o Tratado de Paz de Portsmouth. Embora o tratado não fosse nos termos que satisfizessem o povo, o Japão consegue fundar a Companhia Ferroviária da Manchúria, ampliando a sua área de influência até o sul da Manchúria.

Colonização da Coréia

Após a vitória sobre os russos, o Japão intensifica cada vez mais o movimento para a colonização da Coréia.

Em 1905, o Japão anula os direitos diplomáticos da Coréia, e em 1907, o imperador coreano é obrigado a abdicar, forçando dessa forma, a dissolução do exército coreano. Essas medidas do governo japonês causam a revolta do povo coreano, surgindo vários levantes e resistências. Em 1909, o primeiro ministro japonês, Itô Hirobumi, o primeiro a ocupar o cargo de chefe de gabinete ministerial do Japão, é assassinado por um coreano, durante a sua viagem à Manchúria. Porém o movimento para a anexação da Coréia segue o seu processo e em 1910 (ano 43 da Era Meiji), a Coréia é anexada ao Japão. É fundada uma capitania para desenvolver a política de colonização. Nas escolas coreanas são ensinadas a língua e a história do Japão, forçando-os a assimilar a cultura japonesa.

Em 1919, houve um grande movimento para a independência da Coréia, mas somente após a derrota do Japão na segunda guerra mundial, ou seja, após a rendição incondicional do Japão no dia 15 de agosto de 1945 é que a Coréia torna-se independente. Porém, apesar de conquistar a independência, devido a manipulação das grandes potências, a Coréia acaba sendo separada em Coréia do Norte e Coréia do Sul.

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Yosano Akiko (1878~1942) e o poema pacifista

Grande poetisa japonesa, Yosano Akiko nasce na cidade de Sakai, província de Osaka, em 1878, como terceira filha de um abastado casal de comerciantes. Viveu a era Meiji, Taisho e Showa sempre produzindo poemas, encantando o povo de sua época com o seu brilhante talento.

Quando o povo japonês entusiasmava-se com a vitória japonesa nas guerras, ela publicou em 1904 o famoso poema pacifista “Kimi shinitamau koto nakare” (Não pereça em vão) de seguinte teor:

“Oh, meu irmão, não pereça em vão! Tu que nasceste como filho caçula, Recebeste todo o carinho dos pais.

Os teus pais ensinaram-te a pegar na arma e a matar? Criaram-te até 24 anos para matar e a se matar?”

Trabalho e sociedade

Técnicas industriais e conhecimentos trazidos do Ocidente alavancaram a sociedade, mas tiveram um preço caro para os japoneses.

Visando ao mesmo poder das potências como Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, o governo Meiji contraiu uma grande dívida junto a esses países, introduziu suas tecnologias nas indústrias de base, como a siderúrgica e a têxtil, concentrando esforços na implantação de ferrovias, redes de comunicações e de transporte.

Os estrangeiros

Para transferir a tecnologia – nas áreas de cunhagem de moeda, construção e arquitetura, ferrovia e construção naval – e o conhecimento humanístico do Ocidente, no início da Era Meiji, inúmeros estrangeiros contratados com altos salários foram recebidos pelo Japão. Conhecidos como oyatoi gaikokujin, eles recebiam remunerações equivalentes à do primeiro-ministro e à dos demais ministros de estado.

Ao longo da Era Meiji (1868-1912), foram recebidos mais de 3 mil estrangeiros. Entre os anos 6 e 8 (1873 a 1875), o índice anual chegou a 500 estrangeiros. As figuras mais conhecidas dessa época são: nas belas artes, Ernest Francisco Fenollosa e Antonio Fontanesi; na zoologia, Edward Sylvester Morse; na medicina, Erwin von Balz; e na educação, William Smith Clark.

Na segunda metade da Era Meiji, predominou o ideal do wakon yoosai (espírito japonês e habilidade ocidental), segundo o qual a introdução da tecnologia e do conhecimento ocidentais deveriam ser feitas por pessoas com embasamento confucionista. Ou seja, o país deveria assimilar a arte, o conhecimento e a técnica do Ocidente, mantendo a moral oriental, aprofundando os ensinamentos de Confúcio.

A trágica história das operárias da fábrica de fiação de Tomioka

Os principais problemas enfrentados no estabelecimento da gigantesca fábrica de fiação na cidade de Tomioka, província de Gunma, eram o tijolo e o cimento. Como era impossível importar grandes quantidades de tijolos, utilizou-se a técnica de produção de telhas japonesas para substituí-los. Como na época não havia cimento, ele foi substituído por argamassa.

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As molduras de ferro das janelas dependiam das importações. Para operar as máquinas de fiação, de fabricação francesa, foram contratadas mais de 300 operárias. Dizem que, no início, em sua maioria, elas eram filhas de famílias de guerreiros da Era Edo (1603-1867).

Na Era Meiji, a exportação de linhas de seda crua representava um terço do valor do comércio internacional. Por esta razão, nas fábricas de fiação de seda de várias partes, meninas de aproximadamente 13 anos constituíam sua força de trabalho, selecionadas com base num contrato de cinco a oito anos.

Para as famílias dos agricultores, era uma importante fonte de renda em espécie. Porém, duras jornadas de 12 a 14 horas, baixos salários, falta de higiene nos alojamentos e alimentação precária levaram ao adoecimento de muitas operárias. Dizem que, para impedir sua fuga, colocavam-se grades de ferro nas janelas dos quartos.

Aquelas mais produtivas, que em um ano conseguiam ganhar cem ienes (valor da época), compravam um tan de terras (um tan equivale a 991,7 m2, aproximadamente 10 alqueires) para suas famílias. Segundo registros do livro de não-ficção Nomugui toogue (Desfiladeiro Nomugui), as operárias atravessavam este desfiladeiro de 1.672 m, localizado em Hida (atual província de Gifu), percorrendo um caminho de 140 km até a fábrica em Suwa, província de Nagano. Quando retornavam para suas casas no final do ano, esse caminho íngreme se cobria de neve e muitas moças morriam.

Shozo Tanaka (1841-1913) e a primeira questão ambiental do Japão

O caso da poluição da mina de cobre de Ashio, no município de Kamitsuga, na província de Tochigi, refere-se à contaminação da nascente do Rio Watarase pelos resíduos da mina, afetando a pesca local. A mina de Ashio era explorada desde o início do século 17, mas seu desenvolvimento acelerou-se somente em 1877, com a administração do grupo empresarial Furukawa.

Porém, a partir do ano seguinte, passaram a ocorrer enchentes – decorrentes dos desmatamentos realizados para o refino de cobre, que passou a dificultar o escoamento da água – que faziam com que os resíduos escorressem para o rio, matando os peixes, que passaram a cobrir sua superfície. Em 1880, foi decretada a proibição da pesca no Rio Watarase pelo governo da província de Tochigi.

Em 1891, o senador Shozo Tanaka, eleito pela província de Tochigi (na época apenas os contribuintes na faixa acima de 15 ienes anuais tinham direitos eleitorais e políticos), questionou pela primeira vez no Parlamento Imperial o caso da contaminação da mina de Ashio. Em 1897, cerca de 2 mil agricultores afetados pela poluição do rio foram a Tóquio para efetuar uma petição. O governo fez com que o grupo Furukawa realizasse obras para eliminar a poluição, mas os danos não diminuíram. Em fevereiro de 1900, houve um conflito entre a polícia e milhares de vítimas a caminho de Tóquio para requerer a petição.

Irado com o episódio, Shozo Tanaka renunciou ao cargo de parlamentar e entregou uma petição sobre o caso ao imperador. Tanaka foi tratado como louco, porém, sua atitude fez com que a opinião pública e os meios de comunicação da época pedissem ao governo sua rápida resolução.

Quando faleceu, em 1913, os pertences de Shozo Tanaka eram apenas um chapéu de sugue (junça, planta ciperácea) e uma sacola contendo a Constituição japonesa, a Bíblia e seu diário. Nascido numa família rica, ele doou toda a sua fortuna para o combate da questão ambiental do local. Além disso, deixou a marca de sua liderança e pioneirismo em movimentos pela democratização e publicação de jornais locais.

TANAKA – O primeiro a

questionar a contaminação da mina de Ashio.

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Os problemas ambientais continuaram, por exemplo, com a doença de Minamata, na década de 1970, e outras, causadas pela incapacidade de solução do binômio desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Tornou-se evidente que as raízes desses problemas se encontram na política do governo Meiji, de construir uma nação rica e poderosa. Porém, existem atualmente tendências de avanço em políticas de preservação ambiental em escala global, como o acordo para o controle de emissão de CO2. Gakumon no susume (Convite ao saber)

Obra de Fukuzawa Yukichi contribuiu para incutir no povo o espírito de liberdade e de independência.

Como foi mencionado nos capítulos anteriores, o início da Era Meiji foi marcado por avidez do povo em absorver a cultura ocidental, assimilá-la e engajar-se numa campanha para promover e difundir novos pensamentos e conhecimentos. Daí despontaram grandes nomes, como o de Fukuzawa Yukichi (1835~1901), Nakamura Masanao (1832~1891), Nishi Amane (1829~1897), Niijima Jo (1843~1890) e outros. Principalmente, a obra de Fukuzawa intitulada Gakumon no susume (Convite ao saber) contribuiu muito para incutir no povo o espírito de liberdade e de independência. A famosa frase introdutória da obra de Fukuzawa “A Providência não criou o homem superior nem inferior” foi elucidativa para o povo da época. Porém, essa filosofia que contém um pragmatismo absoluto, esqueceu-se de que o lado psicológico do homem nunca acompanha a velocidade do progresso material. Nesse cenário, a literatura retomou o papel de antítese ao utilitarismo.

Por volta do ano 10 da Era Meiji, para fazer frente ao Dai-shinbun (Grande Jornal) dirigido aos leitores de classe intelectualizada, surgiu o Shô-shinbun, com muitas ilustrações e escrito numa linguagem que se aproximava do coloquial, narrando os fatos reais com certo grau de dramaticidade. Nessa mesma época, muitas obras literárias do exterior começaram a ser traduzidas com grande receptividade por parte dos leitores japoneses que buscavam na literatura não somente o lazer, mas também a aquisição de novos conhecimentos. Uma obra muito lida nessa época foi A volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne (1828~1905).

Genbun Itchi (Nivelação da linguagem escrita e da falada)

Outro fato que merece ser destacado é o movimento de aproximar a linguagem escrita da falada (genbun itchi). E também, em observância à literatura ocidental, a literatura japonesa passou a ser encarada como uma arte independente, e não um meio político ou de moralização. Dois grandes literatos que encabeçaram esse movimento foram: Tsubouchi Shôyô (1859~1935) e Futabatei Shimei (1864~1909).

Tsubouchi Shôyô renovou o conceito da literatura, escrevendo ensaios, romances e peças para teatro, firmando o conceito de realismo na literatura e rejeitando o moralismo em que o bem vence o mal. Ele lançou Waseda Bungaku (Círculo Literário de Waseda) no ano 24 da Era Meiji (1891), uma revista que teve grande influência no movimento literário. Uma de suas obras mais conhecidas é Tôsei Shosei Kishitsu (O temperamento do aprendiz atual).

Futabatei Shimei foi um grande admirador de obras literárias russas, sendo a sua obra representativa o romance Ukigumo (Nuvens efêmeras), escrito em estilo coloquial com análise detalhada do lado emocional dos personagens. Essa obra serviu de modelo para os escritores como um parâmetro de romance moderno.

Passada a febre pela cultura ocidental, renasceram aos poucos o nacionalismo e os pensamentos mais conservadores. Na literatura, os valores das obras clássicas foram revistos, como a dos autores da Era Edo Chikamatsu Monzaemon e Ihara Saikaku.

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Aos poucos os japoneses foram encontrando o ponto de equilíbrio entre os dois extremos, e a literatura também foi conquistando o seu espaço como uma forma de manifestação artística, surgindo as famosas obras Konjiki Yasha (A feiticeira dourada), de Ozaki Kôyô (1867~1903), Hototogisu (O cuco), de Tokutomi Roka (1868~1927), e muitos outras que tiveram influência em escritores posteriores, como Kawabata Yasunari (1899~1972), Prêmio Nobel da Literatura em 1968.

Em meados da Era Meiji, surgiu a escritora Higuchi Ichiyô (1872~1896), autora de obras imortais, como Takekurabe (O crescimento) e Ôtsugomori (Fim de Dezembro).

Natsume Sôseki (1867~1916) e Mori Ôgai (1862~1922)

Em fins da Era Meiji despontaram dois grandes nomes da literatura japonesa cujas obras são muito lidas até os dias de hoje. São eles: Natsume Sôseki e Mori Ôgai.

Natsume Sôseki nasceu em Tóquio, estudou na Inglaterra e tornou-se professor de escola superior após a sua volta. Suas primeiras obras, Wagahai wa neko dearu (Sou um gato) e Botchan (O filhinho de papai), ironizam a sociedade e o homem num tom leve e humorístico. As obras posteriores, quando já tinha deixado o magistério, como Sanshirô, Sorekara (E depois) e Mon (O portão), fazem entrever a solidão do homem moderno e a tentativa de encontrar a si mesmo.

Mori Ôgai, formado em medicina, estudou na Alemanha na qualidade de médico das forças armadas japonesas. Paralelamente, dedicou-se à vida literária, publicando obras imortais, como Mai-hime (A dançarina) e Gan (O ganso selvagem). Após a Guerra Russo-Japonesa, passou a escrever obras de fundo histórico. Tanto Sôseki como Ôgai buscaram “algo” que transcendia o individualismo moderno.

Poemas da era moderna

No iníco da Era Meiji, os literatos tentaram sair do casulo dos poemas tradicionais e criaram um estilo de poemas denominados shintai-shi, ou seja, poemas de estilo novo, em oposição aos tradicionais poemas escritos em ideogramas (kanshi). Shintai-shi ganhou seu espaço no círculo literário com as publicações de poemas de alto teor artístico de renomados autores, como Mori Ôgai, Shimazaki Tôson, casal Yosano, ou seja, Yosano Akiko, mencionada já no capítulo anterior, e o seu marido, Yosano Tekkan. Atulamente, quando se fala em shi (poema), trata-se de shintai-shi.

No campo de poemas tradicionais, o poeta Masaoka Shiki (1867~1902) consolidou a base do haiku (poemas de 17 sílabas) moderno. Ele orientou a publicação da revista literária Hototogisu (O cuco), que teve grande influência no movimento literário japonês, principalmente na formação dos haicaístas e poetas de tanka (poema de 31 sílabas).

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Era Taisho

“Política com correção” (1912–1926)

Lutas: em 1920, no Parque Ueno, houve a primeira comemoração do 1º de Maio, reunindo 5 mil pessoas, que votaram pela jornada de 8 horas.

Com o falecimento do imperador Meiji, em 30 de julho de 1912, o príncipe Yoshihito sobiu ao trono. O período de 15 anos que se sucedeu é chamado Taisho. Este nome foi extraído do Ekikyoo (um dos Cinco Clássicos do Confucionismo) contendo o significado: “O Céu aceitará as palavras do povo e a política será conduzida com correção”.

A 1ª Guerra Mundial e o Japão

Tendo como estopim o assassinato do arquiduque Ferdinando da Áustria, teve início a guerra envolvendo o Império austro-húngaro e a Alemanha contra os países aliados. No início, os combates lembravam batalhas medievais envolvendo cavalarias e soldados empunhando armas, mas, posteriormente, exércitos de ambos os lados passaram a utilizar armamentos modernos como aviões, tanques, submarinos e até mesmo gases venenosos.

O Japão, por ser aliado da Inglaterra, envolveu-se na guerra, tomando, em primeiro lugar, Ching Tao, que era uma colônia alemã, e as ilhas dos mares do sul, que se tornariam ponto de apoio para seu avanço em direção à China. Em 1915, fez a exigência de 21 cláusulas à República chinesa, forçando-a a aceitá-las. Elas envolviam a alienação de direitos e interesses estabelecidos pela Alemanha, ampliando os direitos japoneses sobre o território chinês. Tendo como motor o grande crescimento das exportações para a Europa – nos setores de construção naval, têxteis, aço e ferro – durante o período da 1ª Guerra, a situação econômica tornou-se extremamente favorável, e o Japão foi incluído entre as cinco maiores economias mundiais, transformando-se numa potência imperialista. A indústria de construção naval desenvolveu-se pela escassez mundial de navios para o transporte de materiais de guerra, alcançando o Japão a terceira posição nesse setor, atrás da Inglaterra e dos EUA. Em 1920, foi criada a Liga das Nações, da qual o Japão também fez parte, proposta pelo presidente americano Woodrow Wilson, que tinha como objetivo a paz mundial. Entre 1921 e 1922, realizou-se a Conferência de desarmamento de Washington, com a participação de EUA, Inglaterra, França, Japão, entre outros, que firmaram o Tratado das Nove Potências, o qual incluía a não invasão da China.

Imperador Taisho.

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A democracia Taisho

Aconteciam, entre o período após o final da Guerra Russo–Japonesa (1904–1905) e o final da Era Taisho (1912–1926), pequenos movimentos de luta pela democracia. Esse período é chamado de Taisho democracy. Porém, a realidade foi marcada por vários conflitos entre empresas e operários, que aumentaram com o desenvolvimento industrial gerado pela guerra. Em 1920, realizou-se, no Parque Ueno, a primeira comemoração do Primeiro de Maio, reunindo 5 mil pessoas, que votaram pela jornada de 8 horas. Por outro lado, na zona rural ocorriam também conflitos entre os grandes proprietários de terra e os pequenos lavradores que trabalhavam em terras arrendadas, os quais se revoltavam com os pesados impostos. A população sofria com a alta repentina do preço do arroz, cujos estoques eram detidos pelos grandes comerciantes, gerando tumultos em vários lugares. Esses movimentos se alastraram por todo o país, tendo sido iniciados em 1918, por donas de casa da província de Toyama que pediam a redução do preço do arroz. Por essa razão, derrubou-se o governo militar, tornando-se primeiro-ministro o presidente do partido Seiyukai, Takashi Hara, que conquistou a maioria dos votos dos deputados. Formou-se, então, o primeiro governo partidário.

Repressão ideológica

Desde a Era Meiji (1868–1912), o governo tomava medidas coercitivas em relação aos movimentos pelos direitos civis, proibindo reuniões e censurando jornais e semanários, mas com o surgimento, na segunda metade da Era Meiji, dos movimentos socialistas, a repressão mudou o seu alvo. Em 1917, estabeleceu-se o governo socialista soviético e, em 1922, o Partido Comunista Japonês formou-se na ilegalidade. Temendo a infiltração do comunismo, o governo instituiu, em 1925, a Lei de Segurança Pública, que penalizava os que criticavam o sistema, ou que não reconheciam o sistema de propriedade privada. Em 1922, os burakumin (grupos de pessoas discriminadas, desde a época feudal, por preconceitos não explícitos), criaram uma associação denominada Zenkoku suiheisha, buscando a igualdade.

O terremoto de Kanto

Em 1º de setembro de 1923, ocorreu um terremoto de 7 graus na região de Kanto (Tóquio e províncias vizinhas). Os danos foram grandes, especialmente em Tóquio e Yokohama. Foram 140 mil mortos e desaparecidos, 700 mil residências destruídas, chegando a 3,4 milhões o número de vítimas do desastre em toda a região de Kanto. Houve ainda o assassinato de muitos socialistas e coreanos, em função de boatos sobre desordens que supostamente teriam sido provocadas por eles.

Antes que a sociedade pudesse se recuperar, muitos bancos foram à falência por causa da crise econômica. O medo provocado pela crise de 1927 marcou o início da ascensão do exército, que levaria o país à Guerra da Manchúria e à passagem para um período militaristaaté 1945, com o envolvimento na Segunda Guerra Mundial.

O grande terremoto de Kanto: período de grande agitação.

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Era Showa

Craque de Wall Street

Muitas empresas foram à falência e, no campo, a baixa de preços e o frio excessivo ajudaram a crise no Japão.

A crise econômica de 1929 (ano 4 da Era Showa) que abalou o mundo, conhecida como o “Craque de Wall Street” ou “Grande Pânico”, provocou um grande golpe financeiro no Japão também. Muitas empresas foram à falência, e a cidade ficou tomada por desempregados. No campo, também a situação não era diferente. Com a baixa de preço dos produtos agrícolas e do fio de seda, a zona rural também enfrentava uma crise econômica. Ainda para piorar a situação, em 1931, o frio excessivo causava baixa na colheita, principalmente na região nordeste e na ilha de Hokkaido. Sem ter o que comer, os camponeses chegam a vender suas filhas em troca de um punhado de comida. Por outro lado, os grandes grupos financeiros, como Mitsui, Mitsubishi e Sumitomo, cresciam, incorporando as empresas e os bancos menores, monopolizando os lucros.

Invasão da Manchúria

Aproveitando-se da insatisfação do povo diante da crítica situação, as forças armadas propagaram entre o povo a idéia de que poderiam encontrar uma vida melhor, se o Japão avançasse até o continente, ou seja, invadisse a China. Em 1932, as tropas japonesas acampadas na Manchúria iniciaram a guerra contra a China, após o incidente de explosão da linha ferroviária (Manshû jihen). O exército japonês dominou a Manchúria e colocou no poder o último imperador da Dinastia Ching, controlando-o à vontade, criando um Estado-fantoche, denominado Manshû-koku.

As forças armadas japonesas adquiriram maior poder, inclusive com os incidentes provocados por jovens oficiais idealistas, exaltados como o assassinato do primeiro-ministro da época, Inukai Tsuyoshi, em 15 de maio, e a invasão temporária da cidade de Tóquio, em 26 de fevereiro. Com a invasão da Manchúria e o crescimento da indústria bélica, o Japão conseguiu recuperar-se economicamente.

Segunda Guerra Sino-Japonesa

Em julho de 1937 (ano 12 da Era Showa), as tropas japonesas e chinesas confrontaram-se em Pequim, iniciando a segunda guerra sino-japonesa. Apesar da ocupação japonesa, o povo chinês resistiu

Kamikaze-tokkôtai: missão suicida,

criada pela aeronáutica japonesa, em que jovens pilotos

se jogavam contra naves inimigas.

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bravamente, valendo-se da tática de guerrilha. À medida que a guerra se estendia, os militares passaram a controlar o povo japonês com maior rigor. O parlamento perdeu a sua função, os sindicatos dos trabalhadores também foram dissolvidos, as escolas, assim como a liberdade de expressão, foram rigorosamente controladas por militares.

Segunda Guerra Mundial

A Liga das Nações (ONU, posteriormente) não conseguiu impedir a guerra expansionista de Japão, Alemanha e Itália. Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha de Hitler invadiu a Polônia. Dois dias depois, Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha, transformando, novamente a Europa em campo de batalha. Iniciou-se a 2ª Guerra Mundial. Enquanto isso, as tropas japonesas enfrentavam dificuldades na China, devido à resistência do povo. Sob a suspeita de que a força de resistência chinesa estivesse recebendo apoio dos EUA e da Inglaterra, o governo japonês cogitou dominar toda essa região, aliando-se à Alemanha e à Itália.

Em 1941, o general Tôjô Hideki (1884~1948) formou um novo ministério e, em 8 de dezembro do mesmo ano, o Japão atacou a frota americana em Pearl Harbor, fazendo com que os EUA entrassem na guerra. Em meio ano, as tropas japonesas dominaram todo o Sudeste Asiático, mas perante a ofensiva americana, aos poucos foram obrigados a recuar, sendo as suas tropas massacradas nas ilhas oceânicas, nas Filipinas e na Birmânia. Numa tentativa desesperadora, a aeronáutica criou a missão suicida “kamikaze-tokkôtai” para os jovens pilotos jogarem-se contra naves inimigas. O termo kamikaze (vento divino) foi usado pelos militares japoneses, na esperança de que acontecesse novamente o milagre do vento divino que dizimou a esquadra mongol, salvando por duas vezes o Japão, da invasão dos mongóis (1274 e 1281).

Em 1945, os bombardeios americanos sobre o céu de Tóquio tornaram-se quase diários. No dia 10 de março, no grande ataque aéreo americano, mais de cem mil pessoas morreram em Tóquio.

O ataque americano culminou com a bomba atômica lançada sobre a cidade de Hiroshima e de Nagasaki, em 6 e 9 de agosto, respectivamente, induzindo à rendição japonesa no dia 15 de agosto de 1945. Encerrou-se, assim, a longa guerra que perdurou 15 anos, desde a invasão de Manchúria. Em 1º de janeiro de 1946, o imperador Showa (1901~1989), em declaração ao povo, negou sua origem divina, crença mantida ao longo do tempo, desde a instituição da corte Yamato, no século IV.

Em 3 de novembro de 1946, foi promulgada a nova Constituição Japonesa baseada em: 1) respeito à opinião do povo, 2) preservação dos direitos humanos e 3) desarmamento militar. Bomba atômica

Marco da história do Japão, o episódio foi o ponto de partida para a reconstrução que resultou na sociedade atual.

Já faz 60 anos desde o fim da Segunda Guerra e o Japão tornou-se a segunda potência econômica mundial. Por outro lado, o país tem passado por desastres naturais, como o terremoto de Kobe, e incidentes como o lançamento de gás sarin no metrô de Tóquio, que pode ser considerado um

Batalha de Okinawa: muitos civis e militares perderam a

vida.

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tipo de atentado terrorista. Podemos dizer que, mesmo no contexto mundial, a população leva uma vida estável em termos sociais, econômicos e políticos, sendo a desigualdade menos acentuada que em países como o Brasil. É certo que tragédias decorrentes da Segunda Guerra – especialmente episódios como o lançamento das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, bombardeios em cidades como Tóquio e Kobe – constituíram o ponto de partida para a reconstrução que resultou na sociedade japonesa atual.

Obras sobre a bomba atômica

Mangás e animês japoneses são adorados em todo o mundo. Gen: pés descalços (em 10 volumes), mangá sobre o bombardeio de Hiroshima tem edição em português e faz sucesso no Brasil. O autor, Keiji Nakazawa (1939), descreve as condições sociais da época a partir do olhar de uma de suas vítimas, criando o protagonista infantil Gen com base em sua própria experiência. Trata-se de um mangá contra a guerra, que vai além do entretenimento.

No Parque do Memorial da Paz, em Hiroshima, há a estátua de uma menina que ergue um grou em dobradura de papel. Na lápide, a seguinte mensagem: “este é o nosso clamor, esta é nossa prece, para construir a paz no mundo”.

Dentre as obras que descrevem a tragédia da bomba atômica em Nagasaki, o best seller é o livro Sinos de Nagasaki. O autor, Takashi Nagai (1908–1951), como médico militar, serviu na Guerra da Manchúria. Por exposição excessiva à radiação, Nagai adquiu leucemia medular crônica. Sofreu efeitos da radiação da bomba atômica, por se encontrar num raio de 700 m de seu lançamento, onde se localizava a Universidade de Nagasaki. Continuou a escrever mesmo acamado, denunciando a tragédia da bomba atômica, fazendo renovar a percepção das pessoas em relação ao amor humanitário e à paz. Em 1949, recebeu a visita do imperador Showa (Hirohito).

Bombardeios aéreos

Já perto do fim da guerra, em cidades como Tóquio e Kobe, muitos morreram nos inúmeros bombardeios do exército americano utilizando o B29. Há muitas obras baseadas nesses episódios. Citamos aqui Hotaru no haka (Cemitério dos vaga-lumes), de 1967. Ganhador de inúmeros prêmios, é um best seller de 1,3 milhão de exemplares vendidos. A versão animê foi feita pelo diretor Takahata Isao, que vivenciou bombardeios em Okayama. Na Kobe de 1945, os irmãos Setsuko, de 4 anos, e Kiyota, de 14 anos, aguardam a volta do pai, convocado para a guerra, temendo os bombardeios aéreos que nunca sabiam quando poderiam acontecer. Um dia, perdem a mãe em um desses bombardeios e vão viver com a tia, mas são tratados como intrusos, por não poderem trabalhar e apenas consumir os alimentos. Os dois resolvem, então, começar sozinhos uma vida num abrigo antiaéreo. A obra só poderia resultar do desejo de não apagar a memória da tragédia e a chama da vida das pessoas que se empenharam ao máximo para sobreviver. A tragédia de Okinawa

Apenas Okinawa tornou-se campo de batalha entre os exércitos japonês e aliado, onde um grande número de civis e militares perderam a vida. Especialmente em 1945, no final da guerra, quando 297 pessoas, entre estudantes e funcionárias da Primeira Escola Feminina de Formação de professores de Okinawa e do Colégio Feminino da Província de Okinawa foram mobilizadas para servir como enfermeiras militares na Guerra de Okinawa. Serviam no Hospital do Exército, mas, com o agravamento da guerra, receberam ordens para se retirar. Passaram a servir num abrigo subterrâneo instalado numa caverna. Em 18 de junho, ao receberem ordens de dissolução do destacamento, 219 pessoas optaram pelo suicídio coletivo a sofrer com bombas de gás do exército americano, ou com as

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humilhações dos militares das tropas inimigas. O incidente causou grande impacto nas pessoas. No local do antigo abrigo, foi construído um monumento em homenagem ao Destacamento Himeyuri, como fora chamado esse grupo, sendo visitado por muitas pessoas. Okinawa foi devolvida oficialmente ao Japão, porém a presença da base militar americana num dos pontos principais da ilha até hoje obscurece a sua história.

Órfãos de guerra

O número de órfãos, segundo levantamento de 1948 do Ministério da Assistência Social e Saúde, é de 123.511 pessoas (excluindo Okinawa). Em 1954, Okinawa registrava 3 mil órfãos. Diz-se que 87% deles tinham idades entre 8 e 20 anos e que foram adotados por parentes ou encaminhados a orfanatos. Mas, como o número dessas instituições era insuficiente, muitos se tornaram errantes, passando a viver nas ruas, chegando a 35 mil em 1947.

Não há família que não tenha sido atingida pela guerra. Todas sofreram algum dano material ou psicológico. Não se pode esquecer que a sociedade opulenta hoje conhecida foi construída com o sacrifício das pessoas que perderam a vida na guerra, nos bombardeios ou com a bomba atômica. Tempo de reconstrução

Instituídas as reformas constitucionais, a partir de 1946, o Japão procurou trilhar caminhos mais democráticos para reerguer o país. Panorama pós-guerra

Após o término da Segunda Guerra Mundial, muitos países da Ásia que estavam sob o domínio japonês iniciaram as suas campanhas para a independência. Indonésia, Vietnã, Birmânia (atual Myanma), Filipinas e outros declararam a sua independência. Ainda a Índia, que estava sob o domínio inglês, tornou-se um país independente.

Surgiram muitos países socialistas na Europa oriental, resultando na divisão do mundo em três blocos, ou seja, o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos da América, o bloco oriental, liderado pela União Soviética (atual Rússia), e o terceiro bloco, formado por países em desenvolvimento do hemisfério sul.

A ocupação americana e as reformas pós-guerra

Terminada a Segunda Guerra, o território japonês ficou restringido às ilhas de Hokkaido, Honshû, Shikoku, Kyûshû e pequenos territórios adjacentes, baseada na Declaração de Potsdam, firmada em 26 de julho de 1945, após a conferência de cúpula dos países aliados, ou seja, EUA, Inglaterra e União Soviética (atual Rússia), em Potsdam, periferia de Berlim. Os arquipélagos de Okinawa e Ogasawara ficaram sob o domínio dos EUA. As mais de 30 ilhas do arquipélago de Ogasawara foram devolvidas ao Japão em 1968 e, atualmente, pertence ao distrito de Tóquio. Okinawa foi incorporada ao Japão em 1972, mas ainda há muitas bases militares americanas instaladas nas suas ilhas.

Após a rendição incondicional, o Japão foi dominado pelos países das Forças Aliadas, liderados pelos EUA. O Quartel General das Forças Aliadas (GHQ) instalado em Tóquio, comandado por general MacArthur (1880~1964) forçou o governo japonês a adotar medidas que não comprometessem a paz mundial através de desmilitarização e democratização do país. Militares e políticos considerados

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responsáveis pelos crimes de guerra foram julgados pelo tribunal militar internacional (Tôkyo Saiban), exonerados dos cargos públicos, condenados a prisão ou à pena de morte.

No panorama político, houve o reconhecimento da liberdade de atividades políticas e a de expressão. O direito a voto estendeu-se para homens e mulheres maiores de 20 anos, sem restrições.

A democratização ocorreu na área econômica também. Os trustes como Mitsubishi e Mitsui foram desmantelados e, em 1947, o governo proibiu a formação de cartel para evitar o domínio do mercado financeiro por grandes empresas. Ainda no campo, ocorreu a reforma agrária, que fez dos arrendatários de até então pequenos proprietários rurais.

A nova Constituição japonesa

O cerne da reforma para ter um país mais democrático consistia na reforma constitucional. O governo japonês eleborou a reforma constitucional baseada nas sugestões de GHQ, que foi promulgada em 1º de janeiro de 1946, após ser aprovada pelo congresso nacional. A nova Constituição passou a vigorar a partir de 3 de maio de 1947.

Com a nova Constituição, baseada em respeito à opinião do povo; preservação dos direitos humanos e desarmamento militar, muitas leis e regulamentos sofreram alterações. Foram criadas leis que asseguravam a igualdade de direitos entre homens e mulheres no Código Civil, a autarquia regional com a eleição direta dos governadores das províncias e as Leis Básicas da Educação fundamentada para uma educação mais democrática.

A posição social da mulher também melhorou. Na primeira eleição em que as mulheres puderam votar, em 1946, foram eleitas 39 deputadas. Ainda com a reforma do Código Civil de 1947, o sistema conservador de família foi abandonado. Instituídas as reformas constitucionais, o Japão trilhou novos caminhos para um país mais democrático e livre, com o povo empenhado na reconstução de uma terra estraçalhada pela guerra.

Comparando as constituições

Diferenças Constituição do Grande Império Japonês Constituição do Japão

Promulgação 11 de fevereiro de 1889 3 de novembro de 1946

Cláusulas 7 capítulos e 76 cláusulas 11 capítulos e 103 cláusulas

Regime Imperial Democrático

Soberania Imperador Povo

Imperador Soberano da nação Figura simbólica

Gabinete Ministros conselheiros – responsabilidade do imperador

Parlamentarismo – responsabilidade do congresso nacional

Forças Armadas

Autonomia, obrigatoriedade de serviço militar

Desarmamento militar, manutenção da paz

Direito do povo

Restrições legais Garantia de direitos humanos básicos

Reforma Direito do Imperador tomar a decisão Direito do Congresso tomar a decisão

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A sociedade no pós-guerra

No dia 7 de janeiro de 1989, com o falecimento do imperador Hirohito, agora denominado imperador Showa, encerrou-se a conturbada Era Showa, que durou mais de seis décadas. De 1945 a 1955

A população japonesa no pós-guerra diminuiu para 70 milhões, porém havia um contingente de militares desmobilizados e repatriados da Manchúria, Sibéria e Sudeste Asiático confinado num país pequeno e pobre em recursos naturais. A população sofreu com a escassez de alimentos e outras provisões, devido à situação de destruição das instalações de produção pelos bombardeios e ataques aéreos. As pessoas trocavam quimonos por alimentos, surgiam mercados negros por toda a parte e ocorriam manifestações trabalhistas.

Com a eclosão da Guerra da Coréia, em 1950, o Japão criou a Força Policial de Reserva, para a qual afluíram milhares de candidatos devido ao desemprego, sendo recrutados 70 mil deles. A situação econômica melhorou com a demanda especial em função da guerra e empreendimentos públicos, como a hidrelétrica de Sakuma favoreceram a recuperação e fizeram a economia japonesa entrar nos eixos. Da conferência de paz de 1951, realizada em São Francisco (EUA), participaram 49 países. Com isso, o Japão retornou à comunidade internacional. As imigrações para o Brasil foram retomadas em 1952. Em 1955, o governo anunciou que, excetuando a questão da moradia, o Japão tinha alcançado o patamar econômico do período anterior à Segunda Guerra.

De 1956 a 1975

Em 1957, quatro anos após o início das transmissões televisivas, a venda de TVs ultrapassou 1 milhão de aparelhos e, em 1959, os estoques foram liquidados pela população, que desejava assistir ao casamento do príncipe herdeiro com a princesa Michiko. Em 1961, as vendas registraram 10 milhões de unidade. Com a difusão de outros aparelhos, como ventilador, lavadora, aspirador de pó, panela elétrica para arroz, iniciou-se a era dos eletrodomésticos.

Em 1958, a Tokyo Tower, de 333 metros, fruto do domínio das mais avançadas técnicas de construção, superou a Torre Eiffel, tornando-se a mais alta do mundo, simbolizando o crescimento econômico japonês. Em 1959, a venda do rádio transistor da Sony ultrapassou 10 milhões de unidades, e o Japão entrou na era da automação tendo como base o computador.

Para os Jogos Olímpicos de Tóquio realizados em 1964 (dos quais participaram 94 países, um recorde histórico), foi investido 1 trilhão e 80 bilhões de ienes na construção do trem-bala (Shinkansen) e da malha viária, instalações para competições desportivas e de hotelaria, estimulando a economia. A mudança do avião à hélice para o jato, a diminuição do tempo de viagem entre Tóquio e Osaka de 6h30 para 3h30 e a construção de vias expressas elevadas foram configurando a era da velocidade.

Com o crescimento do comércio exterior, em 1968, o Produto Nacional Bruto japonês era o terceiro do mundo. Em 1966, a população ultrapassou os 100 milhões. Teve início a concentração nas grandes cidades, e Tóquio, que, no pós-guerra, tinha 4 milhões de habitantes, ultrapassou, nos anos 70, os 10 milhões. Em 1966, quanto à posição das mulheres no mercado de trabalho, 50,5% delas eram casadas, dando início à questão da escassez de mão-de-obra jovem e do trabalho em tempo parcial das

Crescimento: construção de trem-bala, de hotéis e outras instalações para receber os

Jogos Olímpicos de 64.

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donas de casa. Em 1970, foi realizada a Expo 70 em Osaka tendo como tema “O progresso e a harmonia da humanidade”, com participação de 77 países.

Na década de 70, pagou-se o preço pela política que priorizava o desenvolvimento econômico, com o surgimento de problemas de poluição ambiental. Casos envolvendo doenças como a asma na cidade de Yokkaichi, a doença de Minamata (doença neurológica causada pela intoxicação de metais via água), nas províncias de Niigata e Kumamoto, itaiitaibyoo (atualmente conhecida como osteoporose), na província de Toyama, foram para os tribunais. Avançaram as mudanças na estrutura produtiva, na reorganização da distribuição e no processo de globalização.

Porém, o grande crescimento econômico chegou ao fim quando o Japão foi atingido pela crise do petróleo em 1973, resultante da Guerra no Oriente Médio e, em 1974, registrou o primeiro crescimento negativo desde o pós-guerra. Em 1975, depois de 15 anos, chegou ao fim a guerra do Vietnã. Devido ao Tratado de Segurança com os EUA, ao Japão cabia prover os submarinos nucleares e porta-aviões que faziam escala em seus portos, nas bases militares de Okinawa e Yokohama.

De 1976 a 1989

Nesse período, seguiram-se eventos internacionais, como Expo Okinawa (1976), Reunião de Cúpula de Tóquio (1979) e Expo Tsukuba (1985). A Expo Tsukuba mobilizou 20 milhões de pessoas, apresentando superávit de 8 bilhões e 400 milhões. Em 1980, a produção de automóveis, de cerca de 11 milhões e 45 mil veículos, chegou a ser a maior do mundo, superando os EUA. Por essa razão, intensificaram-se os sentimentos de hostilidade em relação ao Japão, gerando atritos nas relações comerciais com os EUA. Em 1981, após 36 anos, órfãos de guerra japoneses que permaneceram na China reencontraram seus familiares. O número estimado desses órfãos era de 60 mil só na China. Quando se conseguia localizar os familiares, essas pessoas conseguiam retornar ao Japão e obter residência permanente, porém, enfrentavam diversos problemas com a língua e os costumes. Em 1985, com a aprovação da lei de igualdade de oportunidades de emprego para homens e mulheres, aumentaram as contratações femininas.

Com a opulência econômica, o povo japonês passou a pensar em qualidade de vida. Em 7 de janeiro de 1989, com o falecimento do imperador Hirohito, agora imperador Showa, encerrou-se a conturbada Era Showa, que durou mais de 60 anos. Surgem os movimentos literários

Literatura Proletária e Grupo Nova Sensibilidade são dois movimentos importantes na década de 20.

Um ano após o grande terremoto de Kanto – que atingiu Tóquio, Yokohama e imediações, em 1º de setembro de 1923, fins da Era Taisho, causando a morte de mais de 90 mil pessoas (140 mil vítimas entre mortos, feridos e desaparecidos) –, surgiram duas correntes literárias: Puroretaria Bungaku (Literatura Proletária) e Shin-kankaku-ha (Grupo Nova Sensibilidade).

Puroretaria Bungaku (Literatura Proletária) A difusão da ideologia democrática na Era Taisho fez brotar a literatura escrita pela classe proletária. Nasceu a tendência de fazer da literatura um meio para a luta de classes, criando a ilusão de que a revolução social em si fosse uma arte.

A Literatura Proletária adquiriu grande força em meio à crise econômica pela queda da bolsa de valores de Nova York, fazendo surgir grandes nomes. Um deles, Takiji Kobayashi (1903~1933), escritor do Kani kôsen (Navio-oficina de pesca ao caranguejo), romance que relata as condições

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subumanas em que viviam os tripulantes do navio-oficina que contava com a proteção da marinha japonesa. Foi detido, torturado e morto na prisão. As obras de Kobayashi, que primam por suas descrições da natureza e do cenário de forma simples, mas precisas, nortearam muitos escritores de tendências esquerdistas e adeptos do movimento democrático.

Porém, com o tempo, surgiram conflitos entre os escritores marxistas com formação universitária e os mais simplórios, da classe operária. Além disso, muitos enfrentaram a repressão dos militares que passaram a controlar com maior rigor quaisquer movimentos ideológicos.

Ainda como marco da passagem da Era Moderna para a Era Contemporânea da Literatura Japonesa, é citado o suicídio de dois grandes escritores: Takeo Arishima (1878~1923) e Ryûnosuke Akutagawa (1892~1927). O suicídio de Arishima, que declarou a sua inércia perante a luta social, e o de Akutagawa, que escreveu numa nota antes de se suicidar: “a apreensão indistinta perante o futuro”, apontam indícios de impasse em que se encontravam os literatos da época.

Shin-kankaku-ha (Grupo Nova Sensibilidade) Com a nova era consumista introduzida dos EUA, novos movimentos despontam entre os literatos japoneses, estimulando o surgimento, inclusive, de muitas revistas literárias. Esses escritores com novas sensibilidades são denominados Shin-kankaku-ha (Grupo Nova Sensibilidade) pelo crítico Kameo Chiba (1878~1935). Como um dos escritores representativos dessa época, podemos citar Yasunari Kawabata (1899~1972).

Uma das primeiras obras de Kawabata, Izu no odoriko (A dançarina de Izu), conhecida por ter sido filmada para o cinema por diversas vezes, protagonizadas por atrizes famosas de cada momento da Era Shôwa, revela o seu talento lírico, tornando-o a figura principal de shin-kankaku-ha. Como suas obras representativas, podemos citar: Yukiguni (País das Neves), Senbazuru (Mil grous), Yama no oto (O som da montanha) e Kyoto (Quioto – velha cidade). Kawabata foi o primeiro japonês a receber, em 1968, o Prêmio Nobel da Literatura e suicidou-se em 1972.

Prêmios literários O grande escritor popular e fundador da revista Bungei Shunju (Primavera e outono da arte literária), Kan Kikuchi (1888~1948), para homenagear os dois grandes amigos e escritores que tiveram morte precoce, Ryûnosuke Akutagawa (suicida em 1927) e Sanjûgo Naoki (1891~1934) instituiu dois prêmios literários: Akutagawa-shô, para autores de Jun-bungaku (Literatura Pura), e Naoki-shô, para os autores de Taishû Bungaku (Romances Populares). Ambos os prêmios são entregues anualmente até os dias de hoje.

O primeiro a receber o Akutagawa-shô foi Tatsuzô Ishikawa (1905~1985), com a obra Sôbô, que retrata a vida dos imigrantes em busca de uma vida nova no Brasil. O primeiro Naoki-shô foi concedido a Matsutarô Kawaguchi (1899~1985), com a obra Tsuruhachi Tsurujirô, que descreve a vida e o amor do casal que se dedica à arte popular shinnai gatari (uma espécie de trovador).

A fixação de Dazai (1909~1948) pelo prêmio Akutagawa é bastante conhecida. Comparado ao escritor russo Anton Pavlovich Tchekov (1860~1904), o escritor de Shayô (Decadência) é lido até hoje por muitos e acabou se suicidando com sua amante em 1948, sem receber o prêmio tão almejado. Shayô retrata o drama da nobreza que vai se destruindo perante a sociedade mutante.

Yukio Mishima (1925~1970) Escritor polêmico, que chocou o mundo ao praticar o seppuku no quartel de Forças de Autodefesa em 1970. Escreveu romances buscando temas em crimes ocorridos na vida real, como em sua famosa obra Kinkaku-ji (Templo Dourado), um romance sobre o fascínio do jovem bonzo pela

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beleza estética do Templo Dourado, a ponto de atear fogo no templo e ser destruído por sua própria fantasia.

Mishima escreveu ainda muitos romances lidos no mundo inteiro, tais como Kamen no kokuhaku (A revelação mascarada), Shiosai (O marulhar das ondas), Yûkoku (O patriotismo) e outros.

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Era Heisei

Akihito deu início ao período

O filho mais velho do imperador Hirohito foi entronizado no dia 12 de novembro de 1990. Família imperial No dia 7 de janeiro de 1989, faleceu o imperador Hirohito, vítima de câncer no duodeno, aos 87 anos, encerrando a Era Showa, que durou 64 anos. No dia 12 de novembro do ano seguinte, foi realizada a cerimônia de entronização do atual imperador Akihito, filho mais velho de Hirohito, seguindo o estilo antigo. Compareceram à cerimônia de entronização 2,5 mil representantes de 158 países, na qual o novo imperador expressou o desejo de seguir a Constituição. Na Era Heisei, houve uma sucessão de fatos auspiciosos na família imperial. Em junho de 1989, o segundo filho do imperador, o príncipe Fumihito Ayanomiya, na época, de 24 anos, casou-se com Kiko Kawashima, 23, estudante de pós-graduação em psicologia social. Em 1992, o imperador visitou, pela primeira vez, a China, restaurando as relações de amizade e fraternidade abaladas pelo passado e pela Segunda Guerra.

No ano seguinte, o príncipe herdeiro, Naruhito, casou-se com Masako Owada, formada pela Universidade de Harvard e futura diplomata. Sua postura intelectual e maneira refinada de se vestir tornaram-se moda. Em 2001, a princesa Masako deu à luz a princesa Aiko. Como atualmente não há herdeiros masculinos na família imperial, vem crescendo entre a população a idéia de conceder às mulheres o direito de sucessão ao trono. Terremoto e terrorismo O grande terremoto de Hanshin, ocorrido em janeiro de 1995, resultou em 6.433 mortos, 43.792 feridos e mais de 300 mil desabrigados, na maior catástrofe desde o terremoto de Kanto (1912). O número de casas destruídas foi de 250 mil; o de atingidas por incêndio, de 7.483, e o total de perdas chegou a ¥ 10 trilhões. Pelo fato de a catástrofe ter atingido uma área metropolitana e por ter sido seguida de incêndio, linhas vitais de abastecimento e comunicação, estradas, ferrovias, eletricidade, água, gás e telefone foram cortados e tiveram a reparação atrasada. País sujeito a terremotos, construções de grande porte foram obrigadas a ter estrutura à prova de terremotos, porém, não foi possível evitar os danos.

Nessa ocasião, ganhou destaque o trabalho de voluntários vindos de todo o Japão e de vários países do mundo. Desde então, iniciou-se a atuação de organizações sem fins lucrativos e organizações não-governamentais.

Em março de 1995, ocorreu o episódio do gás sarin no metrô de Tóquio, lançado por uma seita fanática, que resultou em 12 mortes, entre passageiros e funcionários, e 5.510 feridos. Foi um ato indiscriminado com uso de arma química que chocou o mundo. Após dois dias, a polícia obteve a confissão de um dirigente da seita Aum esclarecendo os aspectos do caso. Seu líder, Shoko Asahara, e o dirigente Chizuo Matsumoto foram detidos, julgados e condenados à execução.

Shoko Asahara: líder de seita que lançou gás sarin

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O episódio de 11 de setembro nos EUA resultou em 6 mil mortes, mas, antes dele, uma sucessão de casos de atentados terroristas, conflitos e guerras fez com que as Nações Unidas estabelecessem uma operação para a manutenção da paz (Peace Keeping Operation). Passou-se a realizar ações de auxílio emergencial por meio de exércitos e organizações de diversos países.

Sociedade, cultura e esportes Desde a premiação de Kenzaburo Oe (prêmio de literatura), em 1994, seguiram-se muitos ganhadores do Prêmio Nobel. Em 2000, Hideki Shirakawa (Química); em 2001, Ryoji Noyori (Química); em 2002, Masatoshi Koshiba (Física e Química) e Koichi Tanaka (Química), totalizando 12 laureados. Nos esportes, foram realizadas as Olimpíadas de Inverno de Nagano, em 1998, e a Copa do Mundo, em 2002, em conjunto com a Coréia do Sul, que resultou num evento de grande popularidade. Em junho de 1989, faleceu a cantora Misora Hibari, aos 52 anos, de complicações de hepatite crônica e fratura no fêmur. Ela foi a primeira mulher a receber o Prêmio Nacional de Honra.

Em dezembro de 1990, o repórter Toyohiro Akiyama, 48, da TBS (Tokyo Hoso), embarcou na nave espacial soviética Soyuz TM-11. Foi o primeiro jornalista do mundo a se lançar no espaço.

Em 1994, a astronauta Chiaki Mukai foi a primeira mulher asiática a participar de um vôo espacial.

Política e economia Até meados da década de 1980, o Japão era a segunda potência econômica do mundo e fazia elogio de sua riqueza material e de sua paz, mas, na Era Heisei o país assistiu ao fim da economia da bolha e à falência de inúmeras empresas, que foram compradas por empresas americanas ou européias. Por essa razão, intensificou-se não só a internacionalização das empresas como o intercâmbio de pessoas. O aumento de trabalhadores dekassegi, que se dedicavam aos trabalhos chamados de 3K (kitsui, duro, penoso; kitanai, sujo; kiken, perigoso) proporcionou à sociedade japonesa contato com outras culturas, porém com aumentado do número de crimes cometidos por estrangeiros desempregados, em decorrência de condições de trabalho instáveis. A economia encontrava-se estagnada, com o registro de índices negativos no crescimento a partir de 2000.

O primeiro-ministro Junichiro Koizumi, que assumiu em 2001, propôs uma “reforma estrutural acompanhada de dor”, fazendo apelos à população por compreensão e paciência.

Ao voltarmos o olhar para a Ásia, encontramos países como China, Coréia do Sul, Malásia, Cingapura e Vietnã ganhando expressão econômica, atraindo investimento de todo o mundo. O Japão possui tecnologia de informação e científica capazes de superar a concorrência internacional, mas se encontra num momento de necessidade de maior investimento em educação e tecnologia e de dedicação ao desenvolvimento de alta tecnologia. Tendo em mente um mundo cada vez mais globalizado, com a difusão da internet, o Japão deve construir uma sociedade verdadeiramente abundante, dinâmica e diversa, junto com os trabalhadores estrangeiros, valendo-se dos diferentes talentos de cada pessoa. Essa deve ser a contribuição do Japão ao mundo, o que poderá levar ao caminho da convivência e da paz.

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