histÓria do corpo de bombeiros militar de santa...

62
1 HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA

Upload: trinhminh

Post on 13-Nov-2018

227 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

1

HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DE SANTA CATARINA

HISTÓRIA DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

DE SANTA CATARINA

Capitão BM ILTON SCHPIL

Cabo BM ADRIANO RIBEIRO

Cabo BM MAYCON TIBOLA

1ª edição 2017

2

SUMÁRIO

Mensagem de boas vindas

Apresentação da disciplina

Lição I – Origem e surgimento da atividade de Bombeiro no mundo

1 Origem e surgimento da atividade de Bombeiros

1.1 Fatos históricos relevantes

1.2 Surgimento dos Bombeiros na Europa

1.3 Atividade de Bombeiro na América do Norte-Americano

2 Evolução dos equipamentos de Bombeiros

Lição II – Evolução da atividade de Bombeiro no Brasil

1 Atividade de Bombeiro no Brasil

1.1 Primeiras Corporações Militares

1.1.1 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro

1.1.2 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Amazonas

1.1.3 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo

1.1.4 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará

1.1.5 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Pernambuco

1.1.6 Corpo de Bombeiros Militar do Estado da Bahia

1.1.7 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul

1.1.8 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Maranhão

1.1.9 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais

1.1.10 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santos

1.1.11 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Paraná

1.1.12 Corpo de Bombeiros Militar do Estado da Paraíba

1.1.13 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Norte

1.1.14 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Sergipe

1.1.15 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará

1.1.16 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina

1.1.17 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Alagoas

1.1.18 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás

1.1.19 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Distrito Federal

1.1.20 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso

1.1.21 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul

3

1.1.22 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre

1.1.23 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Amapá

1.1.24 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Rondônia

1.2 Primeiras corporações de bombeiros voluntários

2. Grandes incêndios ocorridos no Brasil

2.1 Gran Circo Norte-Americano

2.2 Edifício Andraus

2.3 Edifício Joelma

2.4 Edifício Andorinha

2.5 Boate Kiss

Lição III - História e Evolução do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa

Catarina

1 História do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina

2 Modalidade de Bombeiro presentes em Santa Catarina

2.1 Organizações Bombeiro Militares

2.2 Sociedades de Bombeiros Voluntários

2.3 Serviço de Bombeiros Comunitários

2.4 Brigadas de Incêndios

2.5 Bombeiros Civis Profissionais

2.6 Pareceria Estado, Município e Comunidade

3 Evolução Operacional CBMSC

3.1 Combate à incêndio estrutural

3.2 Incêndio Florestal

3.3 Salvamento Aquático

3.4 Mergulho

3.5 Serviço de Atividade Técnicas

3.6 Atendimento Pré- hospitalar

3.7 Resgate Veicular

3.8 Busca Terrestre

3.9 Busca em espaços confinados

3.10 Resgate com cães

3.11 Salvamento em altura

3.12 Produtos Perigosos

3.13 Controle de insetos e animais

4

3.14 Intervenção em áreas deslizadas

3.15 Busca e resgate em estruturas colapsadas

3.16 Busca e resgate em inundações e enxurradas

3.17 Ajuda Humanitária

3.18 Operações Aéreas

3.19 Força Tarefa

3.20 Educação Pública

4. Expansão do CBMSC no território catarinense

5

Boas Vindas!

Sejam bem vindos prezados alunos, doravante nobres irmãos de farda!

Estamos felizes em compartilhar com cada um dos senhores e senhoras a história

desta gloriosa Corporação, na qual acabaram de ingressar.

Acreditamos fielmente que, conhecendo melhor a trajetória histórica desta Força

de Segurança Pública, denominada Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, cada

um de nós tem o poder de contribuir e aperfeiçoar os sistemas, ferramentas e

procedimentos que utilizamos no dia a dia.

A disciplina de História do Corpo de Bombeiros apresenta, com muito orgulho,

fatos marcantes do surgimento e evolução da atividade de Bombeiro pelo Mundo, Brasil e

principalmente no estado de Santa Catarina, incutindo nos participantes o desejo de

conhecer os fatos que tornaram o CBMSC referência nacional na prestação do serviço de

bombeiros, desempenhando suas atividades com eficácia e eficiência em prol da

segurança do cidadão catarinense!

Desejamos a todos boas leituras e bons estudos!

6

Apresentação da disciplina

A disciplina de História do Corpo de Bombeiros tem como finalidade esclarecer

fatos históricos marcantes, do surgimento à evolução da Corporação. O conteúdo será

apresentado de forma sintética, clara e objetiva durante as 8 horas aula que compõem a

disciplina, sendo mensurado o conhecimento adquirido pelos alunos, através de uma

avaliação objetiva final.

Objetivos de desempenho:

Desenvolver no aluno o interesse pela busca por conhecimentos de forma

extracurricular.

Objetivos da aprendizagem da lição:

• Conhecer a origem e o surgimento do combate a incêndios;

• Identificar os fatos marcantes acerca do surgimento das atividades de bombeiro;

• Conhecer um pouco da história dos Corpos de Bombeiros Militares no Brasil;

• Conhecer a história da implantação da atividade de Bombeiro Voluntário no Brasil;

• Conhecer a história do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina;

• Identificar as áreas de atuação do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina.

Introdução dos assuntos abordados no curso:

Surgimento do serviço de bombeiros no mundo, no Brasil e em Santa Catarina,

Bombeiros Militares, Voluntários e Comunitários; evolução das áreas de atuação;

emancipação do CBMSC; expansão do CBMSC.

Metodologia de avaliação e aprendizagem:

a) Apresentar a importância do conhecimento sobre a história das atividades de

Bombeiros e da Corporação;

b) Descrever o surgimento do serviço de bombeiros no mundo, no Brasil e em Santa

Catarina;

c) Diferenciar as atividades desempenhadas pelos Bombeiros Militares, Voluntários e

Comunitários contextualizando historicamente;

d) A avaliação será composta por uma prova de questões objetivas de múltipla

escolha.

7

8

Lição I

Origem e surgimento da

atividade de Bombeiro no mundo

Ao final desta lição, os participantes serão capazes de:

- Conhecer a origem e surgimento da atividade de bombeiro;

- Identificar os fatos marcantes acerca do surgimento da atividade de bombeiro

no mundo.

1. Origem e surgimento da atividade de bombeiro

Há mais ou menos 500 mil anos, nossos antepassados habitavam uma terra

repleta de calamidades naturais, entre elas incêndios causados por descargas

atmosféricas. Os incêndios destruíam grandes áreas e o homem, assim como todos os

outros animais, tinha como única opção a fuga, abrigando-se muitas vezes no fundo de

suas cavernas. Algum tempo depois, a curiosidade e a inteligência do homem o levou a

observar e aprender a controlar o fogo (produzido até então naturalmente), mantendo-o

aceso e, posteriormente, dominando e utilizando o mesmo para seu aquecimento, no

preparo da alimentação e até mesmo segurança.

Com o passar dos séculos, o homem deixou de ser nômade e começou a

agrupar-se, surgindo assim as comunidades primitivas. Nesse momento, a preocupação

com o fogo e as formas de combatê-lo, quando fugia do controle, tornou-se indispensável

para proteger a comunidade da ameaça que ele representava.

1.1 Fatos históricos relevantes

• 500.000 a.C.: descoberta da forma de produzir o fogo através de

equipamentos de ignição rudimentares: centelha de pedras, broca de fricção;

• 1.700 a.C.: o imperador Hamurábi, da Babilônia, criou as primeiras regras

conhecidas de convivência em sociedade, o famoso “Código de Hamurábi”, onde,

estavam inseridas também as primeiras normas de prevenção contra incêndios. O artigo

25 do código, por exemplo dizia: "Se acontecer um incêndio numa casa, e alguns

daqueles que vierem acudir para apagar o fogo esticarem o olho para a propriedade do

dono da casa e tomarem propriedade deste, esta(s) pessoa(s) deve(m) ser atirada(s) no

mesmo fogo que queima a casa". A recomendação é de que o socorro deve ser o mais

limpo e desinteressado possível, um valor que até os dias atuais é muito prezado e faz

com que os Corpos de Bombeiros do Brasil sejam avaliados como as instituições mais

confiáveis dentre as demais atividades típicas de Estado.

• 850 a.C.: Mesopotâmia (atual Iraque) – Primeira representação pictórica de

um combate a incêndio encontrado em um vaso de alabastro no qual retrata-se uma cena

do que, provavelmente, é um combate a incêndio realizado naquela época por volta de

850 a.C., o que prova que a preocupação com o controle do fogo e o combate a incêndios

é algo que remonta à época dos zigurates, primeiras cidades que a sociedade humana

conheceu.

9

• 564 a.C.: China – Registro escrito do que se pode dizer que foi o primeiro

agrupamento de bombeiros civis oficialmente instalado. Em alguns documentos e

registros históricos pictográficos (gravuras), foram encontrados vestígios do que seria um

Corpo de Bombeiros Civil organizado.

1.2 Surgimento dos Bombeiros na Europa

Uma das primeiras organizações militares de combate ao fogo de que se tem

notícia foi criada na antiga Roma. O general romano Augusto, que se tornou Imperador

em 27 a.C., preocupado com o ocorrido no grande incêndio de Roma, formou um grupo

oriundo das Legiões Romanas, denominado “vigilantes urbanos” (vigiles urbani). Esses

"vigiles" patrulhavam as ruas para impedir incêndios e também para policiar a cidade,

detinham a confiança do imperador ou de seus súditos, eram muito bem organizados e

seguiam a disciplina dos legionários, possuindo hierarquia militar e diferenciação de

tarefas.

Neste período da história, o fogo era um problema de difícil resolução para os

“vigiles” que contavam com aparatos e métodos rudimentares para a extinção das

chamas. Tocavam-se sinos com ritmo bastante acelerado, que servia de alerta para que

outros vigilantes pudessem correr para o sinistro e a multidão também se mobilizava com

toque. Portando baldes de tecido ou couro, faziam uma fila indiana do local de

abastecimento de água até o incêndio. Este corpo de “vigiles urbani” manteve-se ativo até

a queda do Império Romano 476 d.C.

Com o domínio crescente da Europa pelos romanos, essas práticas e costumes

foram incorporados e aperfeiçoados. Apesar disso, como durante a Idade Média os

incêndios eram considerados um dano inevitável, as organizações pouco evoluíram.

Em 872, em Oxford, na Inglaterra, foi promulgada uma das mais antigas normas

de proteção contra incêndios que se tem notícia. Previa ela um toque de alerta, em alto e

a bom som, em caso de incêndio, e a partir dele todos os cidadãos deveriam sair para

apagar o fogo. Mais tarde aproveitou-se o fato de as pessoas estarem acostumadas com

o alarme de incêndio e “ampliou-se” para um toque de “alerta geral”, que servia tanto para

apagar incêndios como para avisar das revoltas do país.

A partir do século XVI os artesãos espalharam-se por toda Europa, iniciando uma

modesta industrialização. Diante disto, os incêndios tornaram-se cada vez mais

frequentes e havia a necessidade de combatê-los de forma mais prática. Até a metade do

século XVII, os materiais disponíveis para combater incêndio resumiam-se a machados,

10

enxadões, baldes de couro e outras ferramentas inapropriadas. Os países mais

avançados contavam com rudimentares máquinas hidráulicas manuais que eram

conectadas a poços de água vizinhos aos incêndios, onde eram cheios os baldes que por

sua vez eram passados de mão em mão até a linha do fogo.

Pouco se sabe a respeito do desenvolvimento das organizações de combate ao

fogo na Europa até 1666, quando ocorreu o grande incêndio de Londres. Esse incêndio

destruiu grande parte da cidade e deixou milhares de pessoas desabrigadas, além de

nove óbitos, porém, esse número pode ser muito maior, pois pesquisas atuais afirmam

que milhares de pessoas podem ter morrido, já que pessoas mais pobres e da classe

média não eram mantidas nos registros.

Antes desse sinistro não havia um sistema permanente e organizado de proteção

contra o fogo. Em 1666, Brigadas de Seguros Contra Incêndios foram sendo formadas e

equipadas pelas Companhias de Seguros. Com base no patrimônio segurado, decidiam

onde as Brigadas deveriam ser instaladas e quais áreas deveriam proteger. No entanto,

esse modelo logo se mostrou um fiasco. Principalmente porque, caso a casa incendiada

não estivesse no seguro, os bombeiros não mexiam um dedo para extingui-lo,

permanecendo apenas olhando. Porém, o incêndio não é apenas uma preocupação

particular, pois não afeta apenas o proprietário da edificação sinistrada, pois pode se

alastrar nas edificações adjacentes, podendo sair do controle. Diante disto, a solução

encontrada na época foi municipalizar os Corpos de Bombeiros.

Em 1672, o Holandês Jan Van der Heyden desenvolveu projetos para testes da

bomba de incêndio, abrindo uma nova era na luta contra o fogo. O mesmo Van der

Heyden também ganhou notoriedade ao inventar a mangueira de combate a incêndio, o

que colocava um fim na época dos baldes e marcava o início de uma nova era: a do

combate aos incêndios com o lançamento de jatos de água em várias direções, o que não

era possível no antigo sistema de baldes. Com o invento das bombas de incêndio e a

necessidade de organizar as operações com esses equipamentos, é estruturada em Paris

uma companhia de sessenta “guarda bombas”, uniformizados e pagos, que estavam

sujeitos à disciplina e a organização militar. Foi nessa época que surgiu a atual palavra

francesa “pompier” atual denominação dos bombeiros franceses, cujo significado literal

seria “bombeador”.

Este foi um dos primeiros Corpos de Bombeiros organizados nos moldes atuais,

dos quais se tem notícia. Em pouco tempo, todas as grandes cidades do mundo ocidental

já possuíam, seja por disposição legal ou por iniciativa das companhias de seguro (como

por exemplo na Escócia e Inglaterra), serviços de bombeiros pagos.

11

Em 11 março de 1733, o governo francês decidiu que os serviços das brigadas

seriam gratuitos. Essa decisão foi tomada porque, frequentemente, as pessoas

esperavam até o último momento antes de chamarem as brigadas, na esperança de

conseguirem apagar o incêndio e não terem de pagar a taxa para o serviço, sendo, quase

sempre, tardio demais o acionamento das brigadas.

A partir de 1750, as brigadas de incêndio se tornaram unidades paramilitares e

receberam uniformes. Em 1756, o uso de capacetes de proteção pelos bombeiros foi

recomendado pelo Rei Luís XV, mas levou vários meses até que a medida se tornasse

realidade.

Em 1763, o general Pierre Morat criou a instituição Gardes Pompes, que não

tiveram a eficiência desejada pelo seu idealizador. Isso se deu de forma tão explícita, que

em 1792, Napoleão Bonaparte semi militarizou os Gardes Pompes, passando a se

chamar Compagnie de Pompes Publiques, era um total de sete companhias, que

somadas chegavam a 270 homens. Esses “soldados” pouco tempo depois "relaxaram" na

disciplina, posto não serem completamente militares, o que determinou um

enfraquecimento moral desta nova instituição.

Um fato determinante para o desenvolvimento dos Corpos de Bombeiros pelo

mundo foi o grande incêndio na Embaixada da Áustria, ocorrido no ano de 1810.

Registros apontam que foi uma notável vergonha para o general Napoleão. O incêndio

que ocorreu durante um evento organizado pelo mesmo, matou diversas pessoas da

nobreza, feriu outras tantas e serviu como prova de que os novos bombeiros não eram

ainda dignos da confiança de tão complexa e importante missão. Em decorrência desse

fatídico evento, em 11 de setembro de 1811, Napoleão decidiu de uma vez por todas

militarizar os bombeiros franceses, destacando a tradição para todo o mundo. Naquele

ano surge o Batallion de Sappeurs Pompiers, controlado pelo Ministro do Interior. Eram

570 homens que viviam sob rígida disciplina militar e pela primeira vez eram pagos pelo

serviço prestado.

Em 1818, durante incêndio ocorrido no Comedie Française, um teatro clássico

francês, o novo Batallion de Sappeurs Pompiers entrou em ação e de cara enfrentou um

sério problema: a falta de água. A solução deu-se por uma via inusitada: o vinho. Milhares

de litros de vinho foram cedidos pelos comerciantes mais abastados. Esse vinho

preencheu os carros-pipa utilizados pelos bombeiros e foi despejado sobre o fogo, que foi

completamente controlado, para a alegria de todos que assistiam ao evento. Tal ação

repercutiu ao longo das décadas.

12

Em 1821, o Corpo de Bombeiros da França, embora sob o comando dos chefes

de polícia, passa a ser integrado às Forças Armadas. No ano seguinte (1822), passam os

bombeiros a ser militares por completo, passando a ser comandados por um coronel do

Exército, atuando tanto em tempo de paz quanto em tempo de guerra. Isto porque as

habilidades com o material de sapa (por isso a denominação “sappeurs”), utilizados para

o desbloqueio de obstruções em estruturas sinistradas, como a pá de corte e juntar e

enxada, eram adequadas para o desarmamento e detonação controlada de minas e

granadas abandonadas pelo inimigo nos fronts de batalha. Havia, inclusive, um grupo

tático específico para o controle e desarmamento de artefatos bélicos no corpo de

bombeiros francês. Os bombeiros franceses tiveram atuação determinante nas duas

grandes guerras mundiais.

A tradição de primar pelo preparo físico dos bombeiros surge durante a segunda

Revolução Francesa, nos anos de 1830. Nessa época, a disciplina militar foi intensificada

e a principal consequência foi a integração de rotinas de exercícios mais rígidos e

treinamentos intensos voltados ao atendimento ao público e a atuação em conflitos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando invadiram Paris e tomaram o controle

da França, os militares alemães desmantelaram todo o exército francês, abalando a

estrutura militar daquele Estado, menos o Corpo de Bombeiros, que continuou militar,

porém sob domínio do Regimento Sachsen de Engenharia, um reconhecimento da

importância da disciplina militar para a gerência e operacionalidade dos corpos de

bombeiros. Em 1944, os bombeiros franceses se veem entre fogo cruzado durante o

incêndio do Grand Palais, quando os alemães ateiam fogo no prédio, o que requer graves

negociações com os bombeiros, até que, três horas depois, os mesmos conseguem

autorização para o combate ao incêndio. Poucos dias após o evento, após graves

desentendimentos com os alemães, os bombeiros são hostilizados em ação mais uma

vez. Com o fim da guerra, o reconhecimento dos bombeiros foi intenso, e em 1965, o

Batalhão de Sapadores Bombeiros integra-se à Arma de Engenharia do Exército.

A história do bombeiros de Portugal tem seu marco principal em 1395, com a

criação da primeira brigada de incêndio de cidadãos, criada por Dom João I. O interesse

era que os cidadãos portugueses estivessem aptos a combater incêndios residenciais e

comerciais, um reflexo do conhecimento do que outras tragédias no continente europeu

proporcionou.

Em 1886, surge em Lisboa o primeiro grupo chamado Associação de Bombeiros

Voluntários. Mais tarde, em 1930, surge a Liga dos Bombeiros Portugueses, para em

13

1979 instituir-se o Serviço Nacional de Bombeiros, que congrega os bombeiros militares,

civis e profissionais voluntários.

1.3 Atividade de Bombeiro na América do Norte

Peter Stuyvesant foi o primeiro governador estadunidense a formar uma

associação de combate a incêndios na forma de “Vigilantes do Fogo” (Fire Wardens) em

1648, cuja missão era proteger os novos estabelecimentos que se instalavam em New

Amsterdam (atual Nova Iorque). Eles tinham autorização de inspecionar todas as

chaminés e multar os infratores.

Os Vigilantes do Fogo foram o primeiro grupo de bombeiros dos EUA. Algumas de

suas responsabilidades incluíam a evacuação segura de todas as pessoas em um

incêndio, em especial resgatar pessoas com deficiências para uma saída segura pré-

definida, assegurar que todas as portas e janelas estavam abertas e que todos os

equipamentos que pudessem causar fogo fossem desativados e garantir que não

houvesse nenhum risco à segurança da equipe de bombeiros. A maioria das

responsabilidades previstas pelos Vigilantes do Fogo serviram como base para a maioria

das leis e guias de prevenção atuais existentes, especialmente nos EUA.

Mais tarde, em 1679, depois de um terrível incêndio que destruiu 155 edifícios na

cidade, deixando dezenas de milhares de pessoas desalojadas, surgiu o primeiro

Departamento Profissional Municipal Contra Incêndios da América do Norte. A prefeitura

de Boston importou da Inglaterra uma bomba contra incêndios e montou um

departamento específico que tinha um chefe e 12 bombeiros. No ano de 1715, a cidade já

dispunha de seis corporações de bombeiros, e todas já equipadas com as respectivas

bombas de água.

Em 1736 Benjamin Franklin criou a Union Fire Company, na Filadélfia, a primeira

Companhia de Bombeiros Voluntários da América do Norte. A falta de organização e

disciplina dos “bombeiros voluntários” da época (e seus baldes obrigatórios) e também a

tecnologia que trazia as bombas com motor a vapor, acabaram resultando na criação de

departamentos profissionais contra incêndio.

14

Em primeiro de abril de 1853, em Cinccinati, iniciou seus serviços umas das

primeiras organizações de bombeiros profissionais com horário pago e que utilizavam

bombas a vapor em veículos tracionados por cavalos.

As primeiras escolas de bombeiros foram criadas no ano de 1889 na cidade de

Boston e no ano de 1914 na cidade de Nova York para a transformação dos quadros

profissionais de maiores e menores graduações.

Durante as duas Guerras Mundiais, os Corpos de Bombeiros encontravam-se

estruturados e atuavam em sistemas de dois turnos. Todavia, face às necessidades,

muitas vezes seguiam trabalhando para erradicar sinistros advindos dos bombardeios,

com jornada de até 24 horas, passando a tornar-se comum tal prática, trabalhando mais

horas que outras categorias profissionais e com isso consolidando-se esta situação, a

partir de então.

2. Evolução dos equipamentos de Bombeiros

A evolução dos equipamentos está atrelada às ocorrências e necessidades que a

humanidade passou nas diferentes épocas e sociedades. À medida que o homem passou

a se estabelecer em locais específicos, deixando de ser nômade, aumentou a

necessidade de lidar com o fogo, que potencialmente poderia destruir quaisquer vilas ou

cidades. Além de iniciar o fogo, a capacidade de dominá-lo foi, por sua vez, um diferencial

para que as comunidades pudessem se estabelecer e se desenvolver em locais

específicos, buscando formas cada vez mais complexas de vida em sociedade.

Na Grécia e na Roma antigas, as primeiras formas de organização de combate aos

incêndios eram serviços de vigilância. Após o grande incêndio que devastou a capital do

Império Romano em 22 a.C., o imperador César Augusto decidiu criar uma organização

especificamente constituída para dar uma resposta aos eventuais incêndios. Conhecidos

como “Vigiles”, eles utilizavam poucos equipamentos específicos e sua principal função

era vigiar a cidade e soar alarmes em caso de incêndio.

Já em 250 a.C. foi desenvolvida pelo grego Ctesibius um protótipo de bomba

portátil, que servia para lançar água pressurizada e, dessa maneira, poderia servir para

debelar incêndios. Mais tarde um sábio de Alexandria chamado Heron, aperfeiçoou o

sistema e desde então o sistema praticamente não sofreu alterações drásticas. No

15

entanto, para o combate a incêndio por muito tempo utilizou-se os baldes como recurso

mais eficaz e viável.

Durante a Idade Média, poucos desenvolvimentos de equipamentos e tecnologias

foram registrados. O fogo era considerado algo inevitável, em relação ao qual nada

caberia fazer. Ao final deste período, com o crescente desenvolvimento econômico,

aumentou significativamente o numero de artesãos e, consequentemente, o número de

incêndios decorrentes de suas atividades.

Até o século XVII, os materiais mais utilizados de combate a incêndio eram os

machados, enxadões, baldes e outras ferramentas. Vários países da Europa exigiam que

seus cidadãos tivessem baldes em casa e que, em caso de incêndios, eles se

prontificassem a formar filas humanas que levassem água de poços vizinhos até a linha

de fogo, como foi o caso de Portugal. Alguns países mais avançados possuíam bombas

rudimentares para tirar água dos poços porém ainda levavam os baldes mão a mão até a

linha de fogo. Para garantir maior eficiência do serviço, eram eleitos diversos cidadãos

para fiscalizar se os restantes dos moradores da cidade apagavam os focos de incêndios

à hora indicada pelo sino da noite.

Essa técnica foi alterada apenas a partir do século XVIII, com a invenção da

“bomba de incêndio” e da mangueira no formato proposto por Van Der Heyden. As

mangueiras, fabricadas em couro e possuindo uniões em bronze nas extremidades,

deram início a uma nova era de combate a incêndio na Europa, substituindo o uso de

baldes. Esses equipamentos gradualmente substituíram os baldes, uma vez que

permitiram o direcionamento da água em várias direções, com um tempo de resposta

muito menor.

As bombas inicialmente eram braçais e deveriam ser deslocadas à mão até o local

do incêndio, mas alternativas logo surgiram para tornar o deslocamento mais rápido.

Bombas puxadas a cavalos e, posteriormente, a motor de combustão se tornaram

alternativas cada vez mais difundidas entre as grandes cidades.

Com base nessas técnicas, não era mais necessário que toda a população

estivesse mobilizada para combater eventuais incêndios na cidade, bastava que pessoas

especializadas assumissem essa função e utilizassem os devidos equipamentos para

garantir a segurança de todos. Como exemplo, em Paris surgiram os “sessenta guardas

bombas”, corpo militar organizado de combate a incêndio. Com equipamentos atualizados

para a época e com combatentes pagos - nas cidades maiores - ou voluntários - nas

menores, esse pode ser considerado o primeiro Corpo de Bombeiros organizado

semelhante aos moldes dos sistemas atuais.

16

A partir do ano 1868, foram introduzidas as bombas a vapor, originando a

obrigatoriedade dos proprietários instalarem bocas de incêndio nos prédios. Apareceu

também a escada "Fernandes", percursora da "Magyrus" e foi instituída a classe de Sotas

- Bombeiros permanentes, cuja denominação era atribuída aos Capatazes dos antigos

aguadeiros.

Apenas em 1905, começaram a aparecer bombas de água para combate a

incêndio com motores à gasolina. Esses caminhões rapidamente ganharam popularidade

principalmente na Inglaterra, onde a revolução industrial foi mais rapidamente observada.

Por vários anos os bombeiros sentavam nas laterais ou traseiras desses caminhões no

percurso até o sinistro. Isso no entanto era desconfortável e perigoso. Atualmente,

juntamente com os diversos equipamentos, os combatentes são totalmente deslocados

dentro das viaturas.

Em 1734, o alemão M. Fuchs elaborou pela primeira vez bolas de vidro com

soluções salinas a serem atiradas no fogo a fim de extingui-lo. As limitações das

mangueiras para combater o fogo, principalmente em andares mais altos dos edifícios,

exigiram novas tecnologias e estratégias de combate ao incêndio. Em 1813, o Capitão

Inglês George Manby inventou o primeiro extintor semelhante ao utilizado nos dias de

hoje. Ele era constituído por um recipiente de cobre de 3 galões (13,6L), que continham

em seu interior carbonato de potássio. A finalidade dos extintores era controlar princípios

de incêndio em caso de emergências. Segundo Manby, uma pequena quantidade de

substância extintora adequada no início do incêndio é mais eficiente do que o uso de uma

grande quantidade em um momento posterior em que o fogo já se alastrou e se expandiu.

Em 1881, o americano Almon M. Granger patenteou, nos Estados Unidos, o

extintor à base de bicarbonato de sódio e ácido sulfúrico. No ano de 1924, a Companhia

Walter K. inventou o extintor de CO2 (Dióxido de Carbono), que era fabricado a partir de

um cilindro de metal contendo 3,4 kg do agente, com uma válvula e uma mangueira. Até

hoje esse tipo de extintor é utilizado para incêndios classes B e C. Pouco depois, em

1928, uma empresa chamada DuGas, patenteou um extintor químico seco, que utilizava

bicarbonato de sódio especialmente tratado com substâncias químicas para mantê-lo leve

e resistente. Esse foi o primeiro agente extintor disponível para incêndios em larga escala

originados por líquidos e gases e para uso residencial.

17

18

Lição II

Evolução da atividade de

Bombeiro no Brasil

Ao final desta lição, os participantes serão capazes de:

- Conhecer um pouco da história dos Corpos de Bombeiros Militares do Brasil;

- Conhecer a história da implantação dos Bombeiros Voluntários no Brasil;

- Conhecer os principais sinistros ocorridos no Brasil;

1 Atividades de Bombeiro no Brasil

1.1 Primeiras Corporações Militares

No dia 2 julho de 1856 foi assinado, pelo Imperador Dom Pedro II, o decreto que

instituiu o primeiro Corpo de Bombeiros do Brasil. Embora denominado de “Corpo

Provisório da Corte”, a guarnição já reunia seções de Bombeiros responsáveis pela

extinção de incêndios na Casa do Trem (Arsenal de Guerra) no Rio de Janeiro. Naquela

época, os serviços giravam em orientar medidas de socorro, cabendo a equipe técnica

supervisionar os trabalhos de salvamento e extinção do fogo.

1.1.1 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro

O Corpo de Bombeiros Militares mais antigo do Brasil é o do estado do Rio de

Janeiro. O primeiro regulamento viria em abril de 1860, o qual constava a subordinação

ao Ministério da Justiça. No ano de 1864 surge um fato histórico: A Diretoria Geral foi

instalada na Praça da Aclamação, a qual se encontra no mesmo lugar até hoje com o

Comando Geral do CBMERJ.

Atualmente, o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro atua nas seguintes áreas:

Combate a incêndios, Busca e Salvamento, Socorro de Emergência em Via Pública,

Socorro Florestal e Meio Ambiente, Remoção de Cadáveres, Salvamento Marítimo,

Transporte Inter Hospitalar de Pacientes, Prevenção de Sinistro e Apoio nas ações de

Defesa Civil.

1.1.2 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Amazonas

O Corpo de Bombeiros do Amazonas foi oficialmente criado em 1876, pela

Portaria Provincial n° 268, de 11 de julho. Não sendo porém possível apurar maiores

informações sobre a efetivação, ou não, dessa Corporação. O Decreto n° 12, de 15 de

dezembro de 1892, aprovou o Regulamente da Companhia de Bombeiros do Estado

Já no ano de 1972, o Decreto 2.426 reestruturou a força militar estadual, fazendo

com que o Corpo de Bombeiros se consolida-se na administração Estadual, e ficando

subordinado à Policia Militar do Amazonas. Somente depois de 26 anos subordinado à

Polícia Militar, a Corporação dos Bombeiros obteve autonomia administrativa com o

advento da Emenda Constitucional nº 31, do dia 26 de novembro de 1998, com a

denominação de Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas.

19

1.1.3 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo

A vontade de constituir um serviço de combate a incêndio se inicia por volta de

1850 na cidade de São Paulo. No entanto, apenas no dia 10 de março de 1880 isso foi

consolidado devido a uma Lei da Província de São Paulo, a qual instituiu o Corpo de

Bombeiros, contendo apenas 20 integrantes anexos à Corporação Policial da época. As

melhorias de fato ocorrem em 1890, sendo o efetivo composto por 64 homens, com

equipamentos novos, inclusive com a contratação de um maquinista para as bombas.

No ano de 1932, mulheres são empregadas no Corpo de Bombeiros, com o intuito

de fornecer mão de obra, devido à falta de efetivo nas frentes de luta da Revolução

Constitucionalista.

Apenas no ano de 1943, o Corpo de Bombeiros começa a migrar para o interior

do Estado, através de acordos com os municípios, começando assim uma estruturação a

nível estadual. Já na década de 60, um fato histórico merece ser lembrado: a exigência de

hidrantes e extintores nos edifícios. O cumprimento desta regra era fiscalizado pelo

Departamento de Água e Esgotos do Estado de São Paulo, atual SABESP, a qual não

fornecia água caso o projeto não fosse aceito pela Corporação.

1.1.4 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará (CBMPA) é uma Corporação

cuja principal missão está na execução de atividades de defesa civil, prevenção e

combate a incêndios, buscas, salvamentos e socorros públicos no âmbito do estado do

Pará. Seus efetivos são denominados Militares dos Estados pela Constituição Federal de

1988, assim como também o efetivo da Polícia Militar do Estado do Pará.

1.1.5 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pernambuco

O primeiro combate a incêndio da cidade do Recife consta no dia 28 de agosto de

1636, quando a Corporação era ainda denominado de Companhia dos Brantmeesters,

ainda sob poder dos holandeses. O atual Corpo de Bombeiros foi apenas criado em 23 de

setembro de 1887, pelo Governador da Província Dr. Pedro Vicente de Azevedo.

1.1.6 Corpo de Bombeiros Militar do Estado da Bahia

O Corpo de Bombeiros da Bahia teve sua criação em 1894. Logo após a

Revolução de 1930, a Corporação se transferiu para o Município de Salvador. Já no ano

de 1982, ela saiu da esfera municipal para a estadual, sendo anexada à Polícia Militar .

20

1.1.7 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul

A Primeira atividade bombeiril iniciou-se em 1895. Em 27 de junho de 1935, um

decreto transferindo o Corpo de Bombeiros Particular de Porto Alegre para a Brigada

Militar foi assinado. Ao longo dos anos, a Corporação passou por diversas modificações

até atingir o estágio atual, uma instituição que se emancipou da Brigada Militar (Polícia

Militar) voltada para a Defesa Civil do Estado, em 2015.

1.1.8 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Maranhão

O Corpo de Bombeiros do Maranhão foi instituído em 1901, porém efetivamente

organizado em 1903. Foi incorporado à Polícia Militar em 1926. Adquiriu autonomia

própria devido a constituição Estadual de 1989, consolidada em 1992.

1.1.9 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Minas Gerais

A Corporação dos bombeiros de Minas Gerais foi oficialmente criada em 1911.

Naquela época houve disputa entre a Guarda Civil, o segmento uniformizado da Polícia

Civil, e a Força Pública do Estado, atual Polícia Militar, sobre quem teria o controle da

nova Corporação. Venceu a versão militarizada, sendo efetivada então a Companhia de

Bombeiros anexa ao 1º Batalhão da Força Pública no ano de 1913.

1.1.10 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Espírito Santos

O Corpo de Bombeiros do Espírito Santo iniciou-se devido a criação da Secção de

Bombeiros em 26 de dezembro de 1912. A corporação manteve-se vinculada à Polícia

Militar até 25 de setembro de 1997. No entanto, pela Emenda Constitucional n° 12,

obteve autonomia e passou a usufruir de estrutura administrativa e financeira própria.

1.1.11 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Paraná

O Corpo de Bombeiros do Paraná foi criado pelo então Presidente do Estado na

época, Carlos Cavalcanti de Albuquerque, no ano de 1912. A corporação obtinha total

autonomia, tendo como modelo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, do qual

inspirou-se não somente na estrutura e na organização, mas também no fardamento.

Atualmente, ao lado do Corpo de Bombeiros de São Paulo, são as únicas corporações

que se mantém subordinadas à Polícia Militar.

21

1.1.12 Corpo de Bombeiros Militar do Estado da Paraíba

O Corpo de Bombeiros da Paraíba teve seu início no dia 09 de junho de 1917,

com a antiga denominação de Seção de Bombeiros da Força Pública do Estado. Nos

dias atuais, seus serviços estão definidos pela Lei Estadual de n° 8.444, de 28 de

dezembro de 2007.

1.1.13 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Norte

O Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Norte foi criado no ano de 1917, como

apenas uma Seção de Bombeiros anexa ao Esquadrão de Cavalaria da PMRN. Somente

no ano de 2002 o CBMRN obteve autonomia da Polícia Militar, dispondo de estrutura

administrativa e financeira própria.

1.1.14 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Sergipe

O Corpo de Bombeiros de Sergipe teve seu início em outubro de 1920, com a

denominação de Seção de Sapadores Bombeiros, subordinado à Força Pública do Estado

(atual PMSE). Em 1936, passou a designar-se como Companhia de Bombeiros, e foi

transferido para a administração do Município de Aracaju. Em 1955, foi transformado no

Corpo de Bombeiros Municipal de Aracaju. Em 1984, a Corporação foi transferida do

Município para o Estado e incorporada à Polícia Militar com a estrutura de batalhão. Em

1999, desvinculou-se da PMSE, passando a dispor de autonomia administrativa e

financeira própria (Disponível em http://biografiaecuriosidade.blogspot.com.br/ acesso dia

25/04/2017).

1.1.15 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará

O Corpo de Bombeiros do Ceará foi constituído de fato no dia 08 de agosto de

1925 com a denominação “Pelotão de Bombeiros”, pertencendo ao Regimento Policial do

Ceará (atual PMCE). Anos mais tarde, em 1935, passou a chamar-se Corpo de

Bombeiros do Ceará, sendo então subordinado à Chefatura de Polícia e Segurança

Pública. Somente no ano de 1990 conquistou autonomia da Polícia Militar, dispondo de

estrutura administrativa e financeira própria.

1.1.16 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina

No dia 16 de setembro de 1919, foi sancionada a Lei Estadual nº 1.288 pelo então

Governador do Estado de Santa Catarina, Doutor Hercílio Luz. Porém, apenas no dia 26

22

de Setembro de 1926 foi inaugurada e entrou em operação a Seção de Bombeiros da

Força Pública.

Trataremos muito mais sobre o CBMSC na Lição III.

1.1.17 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Alagoas

O Corpo de Bombeiros de Alagoas foi criado em 29 de novembro de 1947. O

Exmo. Sr. governador do Estado de Alagoas Silvestre Péricles de Góes Monteiro criou

pela Lei nº 1.368 dentro da Polícia Militar uma Formação de Bombeiros. Tal corporação

era destinada a extinção de incêndios e salvamento de vidas e riquezas.

1.1.18 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás

O Corpo de Bombeiros de Goiás começou suas atividades no dia 05 de novembro

de 1957, com a ida de onze militares para o curso de formação no CBMMG. Já em 1958

foi criada uma Companhia de Bombeiros melhor estruturada. Somente em 1964 essa

Companhia foi transformada de fato em Corpo de Bombeiros, com apenas um Batalhão.

A Constituição Estadual 1989 possibilitou que o CBMGO adquirisse autonomia, passando

a dispor de estrutura financeira e administrativa própria.

1.1.19 Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

Após a transferência da Capital Federal, do antigo Estado da Guanabara (atual

Rio de Janeiro) para Brasília, foi criado o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal com a

Lei 3.751 de 13 de abril de 1960. Apesar disso, o CBMDF utiliza como data oficial de sua

fundação a mesma do CBMERJ.

1.1.20 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso

O serviço de combate a incêndios de Mato Grosso teve seus primórdios anexado

à Polícia Militar no dia 19 de agosto de 1964, sendo chamado de Companhia

Independente de Bombeiros. Somente no ano de 1994, a Corporação emancipou-se da

Polícia Militar, passando a dispor de autonomia administrativa e financeira.

1.1.21 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Mato Grosso do Sul

Assim como o CBMMT, o CBMMS (Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso

do Sul) teve início no ano de 1970, quando os dois Estados eram apenas um só, a

desvinculação ocorreu apenas no ano de 1977 com a divisão dos estados. Apenas no ano

23

de 1989, o Corpo de Bombeiros emancipou-se da Polícia Militar, dispondo de estrutura

administrativa e financeira própria.

1.1.22 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre

Desde a instauração do Governo Provisório do Estado Independente do Acre, em

1899, já se previa um Corpo de Bombeiros anexo ao Departamento de Justiça. O atual

Corpo de Bombeiros somente foi efetivamente organizado em 1974, anexo à criação da

Polícia Militar do Estado do Acre. Em 1990 a Corporação desvinculou-se da Polícia Militar,

passando a usufruir de autonomia administrativa e financeira.

1.1.23 Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Amapá

A história do Corpo de Bombeiros do Amapá se inicia com a instauração do

GRUCI (Grupamento de Combate a Incêndio), organizado pela sociedade civil da época.

Após a Polícia Militar ser criada em 1975, o efetivo da GRUCI ficou a disposição da PM.

Somente no ano de 1992 ocorre a emancipação da PMAP, dispondo então de estrutura

financeira e administrativa própria.

1.1.24 Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Rondônia

Os primórdios das atividades de bombeiro em Rondônia começou quando o

Estado ainda era Território Federal. No ano de 1977, a Polícia Militar foi regulamentada no

Território Federal de Rondônia, sendo então estabelecida seção de Combate a Incêndio, a

qual era subordinada à 1ª Cia da PM. Com o advento da Constituição de 1988, a

Corporação de Bombeiros foi desvinculada da PMRO e dez anos depois foi consolidada

como Corporação, dispondo de estrutura administrativa e financeira própria.

1.2 Primeiras corporações de bombeiros voluntários

A história dos bombeiros voluntários no Brasil se inicia no ano de 1892, sendo

fundada, no dia 13 de julho daquele ano, a Sociedade Corpo de Bombeiros Voluntários de

Joinville (SCBVJ). Tal corporação foi pioneira não somente no território brasileiro mas

também na América do Sul.

O dispositivo legal, que autoriza o serviço de bombeiros voluntários, é respaldado

pelo artigo 5º, incisos XVII e XVIII, da Constituição da República Federativa do Brasil, bem

como pela Lei Federal nº 9.608 de 18.02.1998. Outro documento que reconhece a

24

atuação dos bombeiros voluntários em território nacional é o Regulamento R-200, de 30

de setembro de 1983, baixado pelo Presidente da República da época.

Outra corporação pioneira no Sul do Brasil é sociedade civil Corpo de Bombeiros

Voluntários de Nova Prata - RS, a qual foi fundada no dia 24 de junho de 1977, a qual

possuía, no início, apenas 29 bombeiros voluntários.

Trataremos mais sobre os bombeiros voluntários na Lição III.

2. Grandes incêndios ocorridos no Brasil

2.1 Gran Circo Norte-Americano – 1961

O incêndio ocorreu no dia 17 de dezembro de 1961, em Niterói, no Rio de Janeiro,

onde estava instalado o Gran Circo Norte-Americano. O jornalista Mauro Ventura relata

em seu livro "O espetáculo mais triste da terra" que no momento do incêndio haviam mais

de três mil espectadores, dos quais, cerca de 503 perderam a vida e mais de mil ficaram

feridos. O Gran Circo Norte-Americano não possuía extintores e as condições dos

circuitos elétricos era precária. Também não haviam saídas de emergência, e a rota

utilizada durante a entrada estava obstruída por grades de ferro. Além da rota principal,

havia também a saída para os artistas,que estava tapada por uma cortina. Muitos dos

espectadores conseguira escapar por baixo da lona além disso um dos elefantes do circo,

assustado com o incêndio, correu contra a lona, abrindo um buraco na mesma e

possibilitando a evacuação de muitos espectadores.

2.2 Edifício Andraus – 1972

O Edifício Andraus localiza-se na Avenida São João, entre as ruas Aurora e Pedro

Américo, região central da Cidade de São Paulo. Foi o quinquagésimo prédio construído

pela Organização Construtora e Incorporadora Andraus (Ocian), sua construção conta

com 32 andares, os quais somam aproximadamente 115 metros de altura e foi finalizada

no ano de 1962. No dia 24 de fevereiro de 1972, o edifício foi palco de um dos maiores

incêndios da história brasileira. Segundo o inquérito policial, houve 16 mortes e 336

feridos. O Incêndio do Andraus foi a primeira grande tragédia transmitida ao vivo pela

televisão brasileira e as cenas horríveis, de pessoas se jogando das janelas do edifício,

chocaram o Brasil e o mundo.

O fogo foi ocasionado, possivelmente, por sobrecarga na rede elétrica e iniciou

por volta das 16h nas Casas Pirani, loja de departamentos que ocupava o subsolo, o

térreo e as sobrelojas do edifício. A loja possuía em seus estoques material com elevada

25

carga térmica, além disso, o projeto do edifício não levava em consideração aspectos de

segurança e prevenção contra incêndios (como divisões de alvenaria, lajes inteiriças e

redução de vãos livres), o que contribuiu para que todos os andares fossem tomados

pelas chamas em poucos minutos. O comandante do Corpo de Bombeiros à época, Jonas

Flores Ribeiro Júnior, informou que o edifício possuía extintores, hidrantes e mangueiras.

Contudo, isso não suficiente para evitar a tragédia pois tinha faltava o principal: homens

treinados para usá-los.

No topo do edifício localizava-se um pequeno heliporto, que tornou possível o

resgate por helicópteros, de centenas de pessoas que conseguiram atingir o último andar

para escapar das chamas. Para as pessoas que não conseguiram alcançar o heliporto,

restou um único lugar no prédio onde puderam se abrigar das chamas com relativa

segurança: a caixa da escada. Apesar da fumaça, do calor e da aglomeração, as pessoas

que estavam na escada aguardaram pacientemente até que, por volta das 20:00h, os

bombeiros conseguiram entrar e guiar a todos até o heliporto.

Após incêndio, muitos questionamentos surgiram sobre o Código de Obras de

São Paulo, dentre os temas abordados estavam: o melhor dimensionamento dos sistemas

de escoamento dos edifícios; a estanqueidade, continuidade e incombustibilidade das

caixas de escada; a inclusão de portas corta-fogo, em determinados casos e posições

estratégicas; a existência de sistemas de indicações precisas sobre a possibilidade de

aberturas em paredes divisórias, para atingir áreas de saída e edificações vizinhas; a

existência de sinalização adequada, nos grandes edifícios, sobre os meios de

escoamento de emergências disponíveis; a criação de dispositivo permanente de

fiscalização e vistoria, capaz de assegurar o razoável cumprimento das disposições

básicas de segurança. a construção de heliportos elevados em Edifícios, a fim de

possibilitar o pouso de helicópteros.

2.3 Edifício Joelma – 1974

O Edifício Joelma possui 25 andares, localiza-se na Avenida Nove de Julho,

esquina com a rua Praça da Bandeira, região central de São Paulo e foi inaugurado no

ano de 1971. Por volta das 8:50 da manhã do dia 1º de fevereiro de 1974, um curto

circuito no sistema de ar condicionado do 12º andar iniciou um incêndio, que espalhou-se

rapidamente. Antes das 9:00 as chamas já haviam atingido o 25º andar do prédio. Ao

todo, a tragédia causou cerca 191 mortes e aproximadamente 300 pessoas ficaram

feridas.

26

A exemplo do que ocorrera dois anos antes no incêndio do Edifício Andraus,

muitas vítimas deslocaram-se até o terraço, contudo o Edifício Joelma não possuía

heliporto, dificultando o resgate aéreo. A edificação também não contava com escadas de

incêndio e a maioria dos sobreviventes escapou pelos elevadores.

No resgate às vítimas, os bombeiros também utilizaram escadas Magirus, as

quais não alcançaram os 25 andares, chegando aproximadamente até a metade do

Edifício. No intuito de tentar alcançar os resgatistas, algumas vítimas desceram pelas

janelas e sacadas, outras improvisaram cordas com cortinas e roupas. Ao tentar escapar

do calor e da fumaça, muitas pessoas caíram ou se jogaram do prédio, vindo a falecer

com o impacto no solo.

No dia 7 de fevereiro de 1974, o prefeito de São Paulo, Miguel Colasuonno,

publicou o Decreto nº 10.878, com normas específicas para a segurança dos edifícios na

capital. A deliberação foi aplicada diretamente em edificações construídas, ampliadas,

reconstruídas ou reformadas, além dos edifícios que fossem considerados como

inseguros nas condições que apresentavam. O decreto legislava sobre a classificação das

edificações, característica dos materiais utilizados na construção, lotação máxima, acesso

e escoamento, dimensionamento para resistência ao fogo, tipos de acabamento interno,

suprimento de água para combate ao fogo, equipamentos de energia e sinalização,

extintores, para-raios e escada de emergência. Em 20 de junho de 1975 o prefeito Egydio

Setúbal promulgou a Lei 8.266, aprovando o Código de Edificações do município. A lei

ampliou as exigências do decreto do ano anterior e especificou melhor as normas de

segurança.

2.4 Edifício Andorinha – 1986

O grande incêndio no Edifício Andorinha, no centro da cidade do Rio de Janeiro,

vitimou mais de 20 pessoas.

O prédio, construído em 1934, ficava nas esquinas da Rua Almirante Barroso com

Avenida Graça Aranha, e nos seus 13 andares e 624 salas passavam, diariamente, mais

de 1.500 pessoas. Como a construção era antiga, não contava com áreas de escape e

portas corta fogo. Apesar do grande número de bombeiros que combateram as chamas,

as más condições das mangueiras e da escada magirus, que não atingia os andares mais

altos, agravaram a situação.

27

2.5 Incêndio na Boate Kiss – 2013

A boate Kiss foi inaugurada no dia 31 de julho de 2009 na rua dos Andradas,

1925, no centro da cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul. No dia 27 de janeiro de

2013 o local foi palco de um incêndio que matou 242 pessoas e feriu 680 outras.

O fogo iniciou-se a partir de um sinalizador disparado em direção ao teto por um

integrante da banda que se apresentava no local. As faíscas atingiram a espuma de

isolamento acústico, a qual não tinha proteção contra chamas. Os integrantes da banda e

um segurança tentaram apagar as chamas com água e extintores, mas não obtiveram

sucesso. Em poucos minutos, uma fumaça espessa se espalhou por toda a boate.

Segundo a Polícia Militar, haviam de 1000 a 1500 presentes no dia do acidente,

embora a capacidade do local fosse de 691. Inicialmente, as pessoas que tentaram

evadir-se do local tiveram sua saída dificultada pelos seguranças da casa, os quais

pensaram se tratar de uma tentativa de não pagamento da comanda de consumo. Em

virtude da fumaça e da falta de sinalização adequada, muitas vítimas entraram pela porta

do banheiro, confundindo-as com portas de emergência que dessem para a rua, em

consequência disso, a maioria dos corpos foram encontrados nos banheiros.

O sinistro foi considerado a segunda maior tragédia no Brasil em número de

vítimas em um incêndio, sendo superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-

Americano, e teve características semelhantes às do incêndio ocorrido na Argentina, em

2004, na discoteca República Cromañon.

No dia 27 de janeiro, o incêndio na Boate Kiss completou quatro anos e, ao

mesmo tempo em que a catástrofe motivou a revisão de quase todas legislações

estaduais de combate a incêndio, ainda permanece a sensação de impunidade pelas

famílias das vítimas, que viram os responsáveis escaparem dos processos criminais ou

aguardarem o julgamento em liberdade.

28

29

Lição III

História e evolução do Corpo de

Bombeiros Militar no Estado de

Santa Catarina

Ao final desta lição, os participantes serão capazes de:

- Conhecer a história do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina;

- Elencar aspectos do processo da emancipação e expansão do CBMSC;

- Diferenciar a atividades de Bombeiro presentes em Santa Catarina;

- Conhecer as áreas de atuação do CBMSC.

1. História do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de

Santa Catarina

A história do combate a incêndio no Estado de Santa Catarina data de mais de

cem anos atrás. A lei de posturas da antiga capital da Província, de 1833, determinava

que “...acontecendo haver incêndio em qualquer casa, a primeira pessoa a observar

mandará tocar o sino policial ou outro de qualquer Igreja, a cujo toque se reunirá o Povo

mais vizinho para acudir e atalhar.” Quem primeiro tocasse o sino receberia quatro mil

réis, que seriam pagos pelo interessado no socorro, ou, sendo ele pobre, pela Câmara.

Quando tocava o sino, o povo corria ao local do fogo, uns poucos para ajudar, a

maioria só para ver e ter assunto para comentar pela noite afora. Chamas crepitando,

gritos, correria, muitos mandando e ninguém obedecendo, alguns abnegados ajudando a

salvar o que podiam, outros aproveitando para surrupiar alguma coisa. As mais altas

autoridades compareciam, até mesmo o presidente da província. As bombas do Batalhão

do Depósito e da Capitania, há longo tempo sem uso, geralmente não funcionavam.

Sendo assim, o fogo era principalmente combatido a baldes de água. No final, restavam

para o infeliz proprietário alguns móveis e utensílios trazidos para a rua nos primeiros

momentos.

Com a criação da Polícia Militar, em 05 de maio de 1835, coube a nova

corporação a função institucional de combater incêndios. A PMSC foi criada durante o

governo do 4° Presidente da Província de Santa Catarina, Feliciano Nunes Pires, através

da Lei n° 12, com o nome de Força Pública e seu primeiro regulamento foi aprovado pela

Lei n° 30, de 02 de maio de 1836, o qual trazia definições da missão dos integrantes da

Força Policial. Competia-lhes, individualmente ou em patrulha, além de outras atribuições:

“acudir aos incêndios, dando parte deles ao comandante, ou guardas e patrulhas que

primeiro encontrassem.”

Nas duas primeiras décadas do século XX, a capital Catarinense firmava-se como

referência política e econômica no cenário estadual e registrava um processo de

significativo desenvolvimento urbano. Os incêndios, antes raros, tornaram-se mais

frequentes na capital catarinense. A ação das chamas consumiam residências e

empresas e a população assistia a tudo sem muito poder fazer pois não estava preparada

para debelar o fogo. Na Semana Santa de 1919, exatamente quando a solene Procissão

do Enterro passava pela Rua Trajano, irrompeu talvez o mais terrível daqueles sinistros,

que destruiu o Hotel Majestic, situado na esquina daquela rua com a Conselheiro Mafra, a

Casa Áurea e vários outros estabelecimentos comerciais instalados em prédios vizinhos.

30

Em meio a toda essa angústia social, empresas catarinenses e governo do estado

empenharam-se no propósito de criar um corpo de bombeiros na capital.

Foi então, que através de veementes apelos para a criação de uma unidade de

combate a incêndios, que o então governador do Estado de Santa Catarina, Hercílio Luz,

assinou a Lei nº 1.288, em 16 de setembro de 1919, a qual autorizava o Poder Executivo

a criar uma seção do corpo de bombeiros anexa à Força Pública. A nova lei, infelizmente,

caiu no esquecimento e assim permaneceu pelos anos seguintes. Desta forma, o

combate às chamas continuava a ser feito por patrulhas do Exército e da Força Pública,

além de eventuais civis.

Em agosto de 1925 e em maio de 1926 dois grandes incêndios irromperam na

capital. O último destruiu meio quarteirão, consumindo 9 estabelecimentos comerciais e

danificando vários outros. Os protestos e apelos recrudesceram, e, dessa vez,

encontraram a pessoa certa: no comando da Força Pública estava o coronel Pedro Lopes

Vieira, cuja gestão, iniciada a 25 de julho do ano anterior, constituiu um período áureo

para a corporação. Excelente administrador, realizou reformas, introduziu melhoramentos

e criou serviços; grande condutor de homens, impôs disciplina e manteve sua tropa em

estado de eficiência várias vezes posta à prova em operações contra movimentos

sediciosos, comuns na época. De tal forma marcou a história da milícia catarinense que,

nas décadas seguintes, seu comando era referido, na caserna e fora dela, como “o

tempo do Coronel Lopes”, expressão que introduzia comentários invariavelmente

elogiosos.

O coronel Lopes resolveu tornar realidade a criação de uma seção de bombeiros

na Força Policial. Dispunha apenas do pessoal, sem nenhum treinamento adequado, e,

como de hábito, não havia verba orçamentária para aquisição do material e equipamento

necessário. Contou, então, com o decisivo apoio do governador Adolfo Konder, que se

incumbiu de contratar, no Rio de Janeiro, para onde viajaria dentro em pouco, instrutores

do Corpo de Bombeiros do então Distrito Federal.

Diante desse momento, tinha-se um desafio a ser enfrentado: operacionalizar o

serviço de combate a incêndios (o qual se tinha pouco conhecimento) por meio de

intensos treinamentos. Para isso, trouxeram para Santa Catarina experiências militares

de outras instituições, como a do então 1º Tenente Domingos Maisonette, oficial do Corpo

de Bombeiros do Distrito Federal, na época situado na cidade do Rio de Janeiro visando

iniciar a organização da Seção e os treinamentos. Apenas em 26 de setembro de 1926,

foi instalada oficialmente a Seção de Bombeiros da Força Pública. Entretanto, vale

salientar que em 13 de julho de 1892 já havia sido criado o Corpo de Bombeiros

31

Voluntários de Joinville. Uma instituição privada que tinha por escopo combater incêndios

e, por ser voluntária, não era custeada pelo estado catarinense, como também não se

reportava ao mesmo.

A nova Seção ocupou provisoriamente um espaço nos fundos do prédio onde

funcionava a Inspetoria de Saneamento da Capital, na Rua Tenente Silveira, área central

da cidade. O efetivo da seção era composto pelo 2º Tenente BM Waldomiro Ferraz de

Jesus (comandante), e mais 27 praças, dentre os quais existiam Sargentos, Cabos e

Soldados. A primeira ocorrência, conhecida como “batismo de fogo”, aconteceu no dia 2

de outubro de 1926, quando a guarnição de serviço extinguiu um princípio de incêndio na

residência de Achilles Santos, a poucos metros do quartel, à rua Tenente Silveira número

6 (CBMSC, 2017c), com o emprego de uma bomba manual, ganhando, na época,

destaque na imprensa.

O Decreto nº 1.996, de 20 de outubro de 1926, aprovou o Regulamento para a

Seção de Bombeiros. O primeiro melhoramento importante da Seção foi a autorização

para compra, em 11 de novembro, junto à firma Hoepcke & Cia., de um trator Fordson, de

22HP. Com isso, as bombas, originalmente de tração animal, foram adaptadas para tração

mecânica.

Três décadas depois de sua ativação, em 1957, a Seção de Bombeiros havia

recebido constitucionalmente a denominação de Corpo de Bombeiros Militar e já ocupava

o quartel sede – considerado quartel histórico do CBMSC - à rua Visconde de Ouro Preto,

em frente à Praça Getúlio Vargas, conhecida até hoje, por muitos, como Praça dos

Bombeiros. Empregava nos atendimentos um veículo Auto Bomba marca Ward La France

com tanque com capacidade de três mil litros de água.

A Seção de Bombeiros continuou a prestar seus serviços, combatendo com

eficiência desde fogos de fuligem em chaminés, incêndios de médio e grande porte e

atuando em inundações resultantes de temporais. Seu desempenho era objeto de

referências elogiosas, tanto pela competência como pelo empenho de seus componentes.

Mas, a pouco e pouco, à medida que a cidade crescia, foi ficando claro que, mais do que

contra os sinistros, lutava para vencer as próprias deficiências em pessoal e material.

Ao mesmo tempo em que se consolidava a atuação do Corpo de Bombeiros

Militar na Capital, tiveram início as ações administrativas e de planejamento para a

gradativa interiorização do serviço de combate a incêndio por meio da instalação de

unidades em outros municípios do Estado que já reuniam grande número de habitantes e

edificações – o que de fato efetivou-se nas décadas seguintes nas diferentes regiões de

Santa Catarina.

32

Cidades do interior reivindicavam a prestação desse serviço tão essencial. Graças

ao apoio de sua comunidade, Blumenau foi a primeira a contar com uma estação de

Corpo de Bombeiros Militar, que lá iniciou suas atividades em 13 de agosto de 1958.

No início da década de 60, voltou ao comando da Polícia Militar o Coronel Antônio

de Lara Ribas, o qual era responsável pelo pioneirismo e pela visão de futuro. Uma de

suas iniciativas foi a criação do serviço de salvamento aquático, para oferecer segurança

às pessoas que, em número cada vez maior, procuravam as praias do litoral catarinense.

Foi então que na cidade de Camboriú (Balneário Camboriú foi emancipada somente anos

mais tarde), na temporada de 1962/1963, foi instalado o primeiro posto de salva-vidas.

Em 1962, Lara Ribas implantou a Estação de Bombeiros de Itajaí, em 1965 foi a

vez de Chapecó e Lages receberem essa estrutura e, pouco antes de deixar o comando,

em 5 de setembro de 1969, foi inaugurada a Estação de Bombeiros de Porto União.

Mais tarde instalaram uma Estação de Bombeiros no Estreito para garantir

presteza ao atendimento de ocorrências no continente visto que era prejudicada devido às

constantes obras na ponte Hercílio Luz, na época a única ligação com a ilha.

Após o advento do Atendimento Pré Hospitalar (APH) na grande Florianópolis e

em Blumenau, nos anos 80 e a posterior consolidação deste serviço nos anos 90, através

de uma expressiva formação de bombeiros socorristas, o CBMSC adentrou em uma fase

de acelerada expansão e progresso em efetivo, equipamentos, instalações físicas,

pesquisa e desenvolvimento.

No dia 13 de junho de 2003, o Corpo de Bombeiros Militar, alcançou a sua

autonomia financeira e administrativa, através da emancipação da PMSC, com a

promulgação da Emenda Constitucional Nº 33, a qual alterou vários artigos da

Constituição Estadual de 1989. Na página seguinte segue a íntegra da EC 33/2003.

O Corpo de Bombeiros Militar é hoje constituído por 14 Batalhões com serviços

administrativos e operacionais, Batalhão de Operações Aéreas, Centro de Ensino

Bombeiro Militar -CEBM, para formação dos Oficiais através da Academia de Bombeiro

Militar – ABM e formação dos Praças através do Centro de Formação e Aperfeiçoamento

de Praças – CFAP, além do Estado-Maior Geral – EMG e das Diretorias de Pessoal – DP,

de Logística e Finanças – DLF; de Atividades Técnicas – DAT e de Ensino – DE.

33

A MESA DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SANTA CATARINA, nos termosdo art. 49, § 3º, da Constituição do Estado de Santa Catarina e art. 61, inciso I, do Regimento Interno, promulga o seguinte:

Procedência – Dep. Francisco de AssisNatureza – PE. 01/03DO. 17.176 de 17/06/03 e DA. 5123 de 16/06/03Fonte – ALESC/ Div. Documentação

EMENDA CONSTITUCIONAL N. 033Altera os artigos 31, 50, 57, 71, 90, 105, 107 e 108,inclui o Capítulo III-A no Título V, e acrescenta osartigos 51, 52, 53, 54 e 55 ao Ato das DisposiçõesConstitucionais Transitórias da Constituição do Estadode Santa Catarina.

Art. 1º A Seção III, do Capítulo IV do Título III e o caput do art. 31 daConstituição do Estado de Santa Catarina, passam a ter a seguinte redação:

"Seção IIIDos Militares Estaduais

Art. 31. São militares estaduais os integrantes dos quadros efetivos daPolícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar, que terão as mesmas garantias, deveres eobrigações – estatuto, lei de remuneração, lei de promoção de oficiais e praças eregulamento disciplinar único.”

Art. 2º O inciso I, do § 2º, do art. 50 da Constituição do Estado de SantaCatarina, passa a ter a seguinte redação:

"Art.50 ..............................................................................................................…

§2º ....................................................................................................................…

I – a organização, o regime jurídico e a fixação ou modificação do efetivodos militares estaduais;"

Art. 3º O inciso V, do parágrafo único, do art. 57 da Constituição doEstado de Santa Catarina, passa a ter a seguinte redação:

"Art.57. .............................................................................................................…

Parágrafoúnico. .................................................................................................…

V – organização da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar e oregime jurídico de seus servidores;”

Art. 4º O inciso XV, do art. 71 da Constituição do Estado de SantaCatarina, passa a ter a seguinte redação:

34

“Art.71. .............................................................................................................…

XV – nomear e exonerar o Comandante-Geral da Polícia Militar e oComandante-Geral do Corpo de Bombeiros Militar, bem como os militares estaduais,para o exercício de cargos de interesse policial militar e de bombeiro militar,respectivamente, assim definidos em Lei, e promover os oficiais das respectivascorporações.”

Art. 5º O caput do art. 90, da Constituição do Estado de Santa Catarina,passa a ter a seguinte redação:

"Art. 90. Os Conselhos de Justiça funcionarão como órgãos de PrimeiroGrau da Justiça Militar, constituídos na forma da lei de organização judiciária, comcompetência para processar e julgar, nos crimes militares definidos em Lei, os militaresestaduais."

Art. 6º Fica o art. 105 da Constituição do Estado de Santa Catarina,acrescido do inciso III, passando o seu parágrafo único a denominar-se § 1º, e acrescidodo § 2º, com a seguinte redação:

"Art.105. ...........................................................................................................…

III – Corpo de Bombeiros Militar.§ 2º O regulamento disciplinar dos militares estaduais será revisto

periodicamente, com intervalo de no máximo cinco anos, visando o seu aprimoramento eatualização.”

Art. 7º O art. 107 e seus incisos, da Constituição do Estado de SantaCatarina, passam a ter a seguinte redação:

“Art. 107. À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva doExército, organizada com base na hierarquia e na disciplina, subordinada ao Governadordo Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuiçõesestabelecidas em Lei:

I – exercer a polícia ostensiva relacionada com:a) a preservação da ordem e da segurança pública;b) o radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial;c) o patrulhamento rodoviário;d) a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais;e) a guarda e a fiscalização do trânsito urbano;f) a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal;g) a proteção do meio ambiente;h) a garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades

públicas, especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção ambiental, de uso eocupação do solo e de patrimônio cultural;

II – cooperar com órgãos de defesa civil; eIII – atuar preventivamente como força de dissuasão e repressivamente

como de restauração da ordem pública.§ 1º A Polícia Militar:I – é comandada por oficial da ativa do último posto da corporação; eII – disporá de quadro de pessoal civil para a execução de atividades

administrativas, auxiliares de apoio e de manutenção.§ 2º Os cargos não previstos nos quadros de organização da corporação

poderão ser exercidos pelo pessoal da Polícia Militar, por nomeação do Governador doEstado.”

35

Art. 8º Fica incluído o Capítulo III-A no Título V, da Constituição do Estadode Santa Catarina, contendo o art. 108, com a seguinte redação:

“Capítulo III-ADo Corpo de Bombeiros Militar

Art. 108. O Corpo de Bombeiros Militar, órgão permanente, força auxiliar,reserva do Exército, organizado com base na hierarquia e disciplina, subordinado aoGovernador do Estado, cabe, nos limites de sua competência, além de outras atribuiçõesestabelecidas em Lei:

I – realizar os serviços de prevenção de sinistros ou catástrofes, decombate a incêndio e de busca e salvamento de pessoas e bens e o atendimento pré-hospitalar;

II – estabelecer normas relativas à segurança das pessoas e de seusbens contra incêndio, catástrofe ou produtos perigosos;

III – analisar, previamente, os projetos de segurança contra incêndio emedificações, contra sinistros em áreas de risco e de armazenagem, manipulação etransporte de produtos perigosos, acompanhar e fiscalizar sua execução, e impor sançõesadministrativas estabelecidas em Lei;

IV – realizar perícias de incêndio e de áreas sinistradas no limite de suacompetência;

V – colaborar com os órgãos da defesa civil;VI – exercer a polícia judiciária militar, nos termos de lei federal;VII – estabelecer a prevenção balneária por salva-vidas; eVIII – prevenir acidentes e incêndios na orla marítima e fluvial.§ 1º O Corpo de Bombeiros Militar:I – é comandado por oficial da ativa do último posto da corporação; eII – disporá de quadro de pessoal civil para a execução de atividades

administrativas, auxiliares de apoio e de manutenção.§ 2º Os cargos não previstos nos quadros de organização da corporação,

poderão ser exercidos pelo pessoal do Corpo de Bombeiros Militar, por nomeação doGovernador do Estado.”

Art. 9º Ficam acrescentados ao Ato das Disposições ConstitucionaisTransitórias os seguintes artigos 51, 52, 53, 54 e 55:

“Art. 51. Os militares estaduais e funcionários civis lotados funcionalmentenas unidades do Corpo de Bombeiros Militar, terão direito de optar pela permanência,conforme estabelecido em Lei.

Art. 52. Os militares estaduais, lotados funcionalmente nas unidades ouórgãos da Polícia Militar, poderão optar pelo Corpo de Bombeiros Militar, de acordo comos prazos e requisitos de qualificação estabelecidos em Lei.

Art. 53. Até que dispositivo legal regule sobre a organização básica,estatuto, regulamento disciplinar e lei de promoção de oficiais e praças, aplica-se aoCorpo de Bombeiros Militar a legislação vigente para a Polícia Militar.

§ 1º A legislação que tratar de assuntos comuns como do estatuto, doregulamento disciplinar, da remuneração, do plano de carreira, da promoção de oficiais epraças e seus regulamentos, será única e aplicável aos militares estaduais.

§ 2º A legislação que abordar assuntos como lei de organização básica,orçamento e fixação de efetivo, será especifica e aplicável a cada corporação.

Art. 54. A efetivação do desmembramento patrimonial da Polícia Militarpara o Corpo de Bombeiros Militar se dará na forma de lei.

Parágrafo único. Será aproveitada pelo Corpo de Bombeiros Militar aestrutura administrativa existente, até que se promova a sua adequação.

36

Art. 55. O Poder Executivo regulamentará a emancipação administrativa eoperacional do Corpo de Bombeiros Militar, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias,contados da publicação da emenda que institui este artigo, visando o seu aprimoramentoe atualização.”

PALÁCIO BARRIGA-VERDE, em Florianópolis, 13 de junho de 2003

Deputado Volnei MorastoniPresidente

Deputado Onofre Santo Agostini1º Vice-Presidente

Deputado Nilson Gonçalves2º Vice-Presidente

Deputado Romildo Titon1º Secretário

Deputado Altair Guidi2º Secretário

Deputado Sérgio Godinho3º Secretário

Deputado Francisco de Assis4º Secretário

37

2. Modalidades de Bombeiro presentes em Santa

Catarina

No estado de Santa Catarina, estão presentes diversas modalidades de

bombeiros além daquela típica de Estado, que é a atividade desenvolvida pelos Corpos

de Bombeiros Militares dos Estados e do Distrito Federal, conforme previsão no artigo 144

da Constituição Federal.

A seguir iremos discorrer sobre algumas particularidades de cada uma dessas

modalidades.

2.1 Organizações de Bombeiros Militares

Os Corpos de Bombeiros Militares do Estados e do Distrito Federal são

compostos por servidores públicos estaduais, concursados e qualificados por meio de

formação militar, regular, formal e legal, denominados militares estaduais, conforme

preconiza o caput do artigo 42.

A presença da estrutura física, efetivo e equipamentos de bombeiros militares nos

municípios catarinenses, se dá por meio das Organizações de Bombeiros Militares

(OBM), as quais possuem 4 níveis de circunscrição, sendo eles: Unidades (Batalhão –

BBM) comandadas por Oficiais Superiores do posto de Tenente-Coronel; Subunidades

(Companhia – CBM) comandadas por Oficiais Intermediários (Capitães); Pelotões (PBM)

comandados por Oficiais Subalternos (Tenentes); e Grupos (GBM) comandados por

Praças Graduados (Subtenentes e Sargentos). As OBM são financeiramente mantidas por

recursos públicos estaduais e por recursos captados pela cobrança de taxas, previstas

em convênio, firmado entre o Estado e os Municípios, para a prestação de serviços de

prevenção contra sinistro. Esses convênios, inicialmente denominados como Fundo

Municipal de Reequipamento de Bombeiros – FUMREBOM, necessitam ser aprovados

pelas Câmaras Municipais e possuem finalidade específica para a aplicação dos recursos,

conforme a legislação vigente.

Nas OBM conhecidas popularmente como quartéis atuam os Bombeiros Militares,

os quais exercem as funções de Segurança Pública previstas em lei, incluindo o exercício

do poder de polícia administrativa na área da Segurança Contra Incêndios e Pânico

38

2.2 Sociedades de Bombeiros Voluntários

A Organização das Nações Unidas define voluntário, como: “Os jovens ou adultos

que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedicam parte do seu

tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividades organizadas ou não,

de bem estar social ou outros campos.” O serviço voluntário foi regulamentado no Brasil,

através da Lei 9.608, de 18 de fevereiro de 1998, conhecida como Lei do Voluntariado. A

partir desse dispositivo legal, as atividades voluntárias tiveram um novo impulso no país,

junto ao poder público principalmente, pois abriu portas para todas as pessoas para a

prestação de serviços voluntários de forma legal.

Até então, nenhum órgão público poderia permitir a participação de pessoas da

comunidade, sem a devida contraprestação de remuneração por este serviço, isto é,

mesmo que o cidadão desejasse prestar serviço voluntário junto ao Poder Público, não

havia possibilidade legal.

A Lei do Voluntariado é clara quando se refere a possibilidade de voluntários

participarem de atividades públicas, sob a devida supervisão e controle. No Corpo de

Bombeiros Militar de Santa Catarina, sua participação nas atividades emergenciais tem

sido admitida com sucesso, em funções de apoio e auxílio ao bombeiro militar, este como

agente investido em função pública.

O serviço de Bombeiro é um serviço público e que deve ser realizado pelo Estado.

Verificamos que a presença do Estado, na gestão e prestação do serviço do Corpo de

Bombeiros, em nada impede o apoio de outros entes públicos ou privados, evidentemente

que sob controle, coordenação e responsabilidade deste.

Importante destacar que a execução desse serviço público, por entidades

privadas de bombeiros, não encontra amparo na legislação brasileira, visto que é uma

atividade constitucionalmente reservada aos Estados membros e ao Distrito Federal,

através de seus Corpos de Bombeiros Militares.

Porém, em virtude da omissão do poder público, as comunidades se organizaram

através de sociedades civis sem fins lucrativos e de direito privado, que passaram a

prestar serviços públicos, típicos de bombeiro. Mesmo quando o poder público passou a

contar com organizações deste gênero, ainda diante da incapacidade do Estado em

atender todas as demandas do setor, algumas comunidades continuaram, por algum

tempo, a constituir esse tipo de sociedade, concorrendo, com o Estado na prestação de

serviço, sem qualquer vinculação ou delegação de poderes.

39

Encontram-se hoje congregadas pela Associação de Bombeiros Voluntários do

Estado de Santa Catarina (ABVESC) e integram, em seus quadros, bombeiros civis

remunerados e bombeiros voluntários. A qualificação profissional desses bombeiros, não

obedece a nenhum critério ou controle público formal e/ou legal. Estas Sociedades de

Bombeiros são financeiramente mantidas por conta de subvenções de recursos públicos e

de recursos captados na própria sociedade local, através de doações e campanhas.

A dificuldade do serviço voluntariado puro não para na questão da necessidade da

remuneração, mas também pela pela dificuldade da captação dos recursos necessários

para manutenção da atividade. Em virtude disso, estas Corporações Voluntárias, cada vez

mais intensamente buscam a tutela do Estado. De tal sorte que, a acentuar-se essa

tendência, ao Estado fatalmente incumbirá manter, não só o Corpo de Bombeiros Militar,

considerado público, quanto os Corpos de Bombeiros Voluntários, constituídos por

Sociedades Civis, sendo imperioso e urgente que se verifique, à luz da legislação, a forma

de repasse e aplicação desses recursos públicos.

Necessário destacar que a prestação do serviço voluntário nos Corpos de

Bombeiros Militares enseja o estabelecimento de regulamentação pelo Estado, a fim de

dar sustentação legal à sua atuação, tanto com relação à responsabilidade do agente,

como em relação às garantias que o ordenamento jurídico assegura ao cidadão. Esta

regulamentação foi instituída pela Portaria nº 0395/GEREH/DIAP/SSP de 11/04/2003,

para regular a gestão do serviço voluntário junto ao Corpo de Bombeiros Militar, sendo

denominados Bombeiros Comunitários, os voluntários que prestam serviço junto ao

CBMSC de forma gratuita, no tempo de folga das suas atividades remuneradas.

2.3 Serviço de Bombeiros Comunitários

O serviço voluntário no Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina, iniciado

através dos Corpos de Bombeiros Comunitários, teve origem no trabalho monográfico do,

então, Major Milton Antônio Lazzaris, desenvolvido em 1989, quando discente do Curso

Superior de Polícia Militar – CSPM.

Inicialmente esse tipo de organização, teve a denominação de Bombeiro Misto,

em razão dos diversos componentes que caracterizavam a sua formação, como a

coordenação da Organização e das atividades integradas pelos militares , bem como

pelo constante aprimoramento técnico e multiplicação dos conhecimentos na comunidade,

de acordo com as necessidades de cada município.

40

A primeira organização de Bombeiro Misto foi implantada em Santa Catarina, em

18 de dezembro de 1996, na cidade de Ituporanga, composta por 7 Bombeiros Militares e

17 Bombeiros Comunitários (voluntários), sendo considerada o berço do bombeiro

comunitário.

Em 24 de junho de 1997, foi implantado oficialmente o Corpo de Bombeiros

Comunitário de Maravilha, que obteve o reforço de seis Bombeiros Militares do Estado e

três funcionários civis municipais, que deram maior confiabilidade na execução dos

serviços. Com essa estrutura, foi possível estabelecer um serviço de plantão 24 horas,

pois anteriormente, havia momentos em que o serviço não possuía continuidade,

perdendo qualidade e confiabilidade, situação jamais aceita pelo Comando da

Corporação. Em virtude dos bons resultados apresentados em Ituporanga e Maravilha,

esse modelo foi disseminado para todas as regiões do Estado.

O CBMSC atualmente ministra dois cursos aos futuros bombeiros comunitários,

sendo eles o Curso Básico de Atendimento a Emergências (CBAE) e o Avançado

(CAAE) , nos quais os futuros bombeiros comunitários recebem instruções de Prevenção

e Combate a Incêndios, Primeiros Socorros, Noções de Salvamento e Prevenção de

Acidentes.

Após finalizadas as aulas teórico-práticas, os alunos realizam o Estágio

Operacional Supervisionado junto às Guarnições de Serviço do Corpo de Bombeiros

Militar, o que proporciona a experiência, aproximando o estagiário de situações reais,

dando a ele uma condição psicológica desejada para agir corretamente quando se

deparar com uma situação emergencial, permitindo assim que ele tome ações iniciais que

poderão evitar ou minimizar as consequências de um acidente ou incêndio.

Somente após a conclusão do CBAE, com 40 horas/aula, e do CAAE, com carga

horária total de 392 horas/aula, as quais são ministradas de forma flexível, ou seja, nos

dias e horários mais adequados para cada turma, é que os bombeiros comunitários

podem atuar como voluntários nas viaturas do CBMSC, com base na Lei 9.608/98 (Lei do

Voluntariado), auxiliando o efetivo militar.

2.4 Brigadas de Incêndio

A Brigada de Incêndio é considerada como uma Medida de Segurança, devendo

ser verificada sua existência e correto dimensionamento quando da vistoria de

funcionamento. Se aplica a todos os eventos de grande concentração de público e a

todas as edificações exceto: às edificações residenciais unifamiliares ou multifamiliares;

41

às microempresas e empresas de pequeno porte enquadradas como tal na legislação

estadual ou federal, mediante comprovação. De acordo com a legislação vigente, os

cursos de brigadistas somente poderão ser ministrados por instrutores ou empresas

credenciadas junto ao CBMSC.

O Brigadista Particular é a pessoa credenciada pelo CBMSC, responsável para

prestar serviços de prevenção, combate a princípio de incêndios e salvamento,

exclusivamente no local em que atua a Brigada de Incêndio, com dedicação exclusiva às

atribuições inerentes à sua função, onde, dependendo do tipo de edificação ou ocupação,

pode ser o próprio funcionário da empresa ou contratado. Após obter a devida aprovação

em avaliação no CBMSC, o brigadista particular estará credenciado a oferecer seus

serviços de forma remunerada, como por exemplo, os brigadistas dos shoppings.

Já o Brigadista Voluntário é a pessoa capacitada por instrutor credenciado pelo

CBMSC, para auxiliar nos serviços de prevenção, combate a princípio de incêndio e

salvamento, em caráter voluntário, podendo ser usuário ou funcionário da edificação, que

exerça outras funções, não sendo remunerado para fins de atuação como Brigadista.

A Brigada de Incêndio e as funções dos brigadistas e modo de credenciamento

são regulados pela Instrução Normativa nº 28-DAT (IN 28).

2.5 Bombeiros Civis Profissionais

O Bombeiro profissional civil está definido pela Lei 11901/2003 como sendo o

elemento pertencente a empresa especializada, ou da própria administração do

estabelecimento, com dedicação exclusiva, que presta serviços de prevenção de incêndio

e atendimento de emergência em edificações e eventos e que tenha sido aprovado no

curso de formação específico.

Os procedimentos básicos do bombeiro profissional civil, durante suas rotinas de

trabalho, são as seguintes: identificação e avaliação dos riscos existentes; inspeção

periódica dos equipamentos de combate a incêndio; inspeção periódica das rotas de fuga,

mantendo-as liberadas e sinalizadas; participação nos exercícios simulados de abandono,

combate a incêndios e primeiros socorros; relatar formalmente as irregularidades

encontradas, com propostas e medidas corretivas adequadas e posterior verificação da

execução; apresentação de eventuais sugestões para melhoria das condições de

segurança; avaliar , liberar e acompanhar as atividades de risco; participar da integração

da empresa aos órgãos de bombeiros públicos da área onde estiver localizada e cumprir

o plano de emergência da empresa.

42

A formação do Bombeiro Profissional Civil, deve proporcionar aos candidatos

conhecimentos básicos sobre prevenção e combate a incêndio, abandono de local

sinistrado e técnicas de emergência médicas, credenciando os mesmos para o exercício

das suas atividades profissionais. As normas tratam do currículo mínimo de 210 horas de

aula para a formação, podendo cada centro de formação implementar medidas que

possibilitem melhor formação profissional, porém nenhum centro de formação pode deixar

de cumprir a carga horária de treinamento mínima citada na norma federal.

A jornada do Bombeiro Civil é de 12 (doze) horas de trabalho por 36 (trinta e seis)

horas de descanso, num total de 36 (trinta e seis) horas semanais.

Convém salientar que a regulamentação dessa profissão não se aplica em SC,

uma vez que as brigadas das empresas e os próprios brigadistas são regulados pela IN

28.

2.6 Parceria Estado, Município e Comunidade

Uma Organização de Bombeiro Comunitário, como o nome bem define, é uma

estrutura de Bombeiros que conta com a participação de três elos que formam uma

corrente sólida a qual tem se mostrado como uma alternativa viável para suprir a

demanda do Serviço de Bombeiros nos municípios onde não existe a prestação deste.

O primeiro elo, o Estado participa através da instituição que possui as

competências previstas no artigo 108 da Constituição Estadual, o Corpo de Bombeiros

Militar, através dos bombeiros militares que serão os responsáveis pela execução direta

dos serviços prestados pela Corporação, bem como pelo gerenciamento dos demais

integrantes deste modelo. Além das atividades operacionais, são responsáveis pela

execução das atividades administrativas e pelas atividades de análise de projeto, vistoria

e de poder de polícia administrativo.

O segundo elo, Município, participa com a disponibilização de funcionários

municipais, denominados bombeiros civis, os quais atuam em apoio aos bombeiros

militares na execução dos serviços de bombeiros. Além disso, compete ao Município

estabelecer a legislação municipal pertinente, para alterar a cultura normalmente vigente,

alheia a ações preventivas na construção de edificações, dando suporte legal às

atividades preventivas.

O terceiro elo participante, diferentemente dos dois primeiros, que são entes

públicos, é a Comunidade. Esta participa, direta e indiretamente, quando realiza e apoia a

execução dos serviços de bombeiros, quer seja doando seu tempo livre e capacidade

43

laboral, atuando como bombeiros comunitários (após frequentar e serem aprovados nos

cursos de formação para esta finalidade), quer seja contribuindo financeiramente para a

sua manutenção. Assim, aquilo que no passado já foi chamado de “Corpo de Bombeiros

Comunitário”, um nome fantasia que hoje não é mais utilizado, é composto pelo Poder

Público Estadual, Poder Público Municipal e pela Comunidade da cidade ou micro região.

Em muitos casos, associações comunitárias de bombeiros foram criadas para esses

suportes, inicialmente voltadas apenas para as causas dos próprios bombeiros

comunitários, mas que hoje também estão focadas em atender todos os objetivos de

nossos quarteis, lideradas pelo Comando da OBM.

Para que a organização funcione adequadamente, é necessário que os três

pilares que as sustentam (Estado, Município e Comunidade) estejam em perfeito

alinhamento e harmônicos entre si, para que a responsabilidade assumida por cada um

dos partícipes seja cumprida integralmente, sob pena de colocar em risco o sucesso do

empreendimento.

3 Evolução Operacional do CBMSC

A evolução operacional do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina

aconteceu devido a uma série de acontecimentos históricos (incluindo tragédias), bem

como em virtude do empreendedorismo de muitos militares que já estiveram e de outros

que ainda estão nas fileiras da Ativa desta Corporação.

Foi durante os anos 2000, após sua emancipação, que o CBMSC expandiu a sua

estrutura administrativa, bem como aumentou sua presença pelo estado. Além disso,

investiu consideravelmente na aquisição de equipamentos de proteção individual e

respiratória, viaturas, motomecanizados, novas tecnologias para auxílio ao gerenciamento

de ocorrências e das atividades técnicas (análise de projetos e vistorias).

Dentre as diversos instituições públicas catarinenses, o CBMSC tornou-se uma

das mais respeitadas e admiradas pela população. Isso deve-se a diversos fatores, mas

principalmente à eficiência e ao profissionalismo dos serviços prestados nas missões de

prevenção, combate a incêndio, resgate e salvamento.

Diferentemente do que se pode pensar, o combate a incêndios não é a única área

de atuação do CBMSC. Na verdade esta área compreende menos de 5% das atividades

exercidas pelos bombeiros no nosso estado.

Veremos na sequência um pouco da história dessas diversas atividades que

surgiram e evoluíram juntamente com o CBMSC e a sociedade catarinense.

44

3.1 Combate a incêndio estrutural

Consiste em extinguir a uma ocorrência de fogo não controlado, que pode ocorrer

dentro de um local ou estrutura fechada, como casas, apartamentos, salas comerciais,

indústrias, entre outros. Os incêndios podem ser extremamente perigosos para os

bombeiros, pois a exposição pode levar a óbito em decorrência da inalação dos gases

tóxicos oriundos da combustão, bem como, por ocuparem o lugar do oxigênio podem

causar asfixia, ocasionando o desmaio e posteriormente à morte. Além disso, podem

ocorrer ainda pelo efeitos das queimaduras causadas pelo calor.

Desde o surgimento do primeiro quartel de bombeiros até a década de 80 (com

exceção do Serviço de Salva Vidas iniciado na década de 60, apenas durante o veraneio),

a atuação estava basicamente voltada ao Combate a incêndio, bem como os

equipamentos e viaturas se destinavam para o transporte de tropa, Auto Transporte de

Pessoal (ATP), e caminhões de combate a incêndio do tipo Auto Bomba Tanque (ABT) e

Auto Tanque (AT).

Por não haver uma produção nacional de viaturas especiais, as primeiras viaturas

foram importadas, destacando a bomba a vapor puxada por tração animal e a Auto

Escada Mecânica (AEM-01).

Na época não havia (e não há até hoje) uma indústria nacional com linha de

produção de viaturas. Sendo assim, precisavam ser importados ou produzidos a partir de

veículos comerciais.

Foi uma época em que os bombeiros combatentes não utilizavam Equipamentos

de Proteção Individual – EPI, muito menos de Proteção Respiratória – EPR, ou seja, o

combate a incêndio resumia-se em jogar água no incêndio a distância, pois não havia

como se aproximar das chamas e do calor.

No final dos anos 80 que o CBMSC começou a comprar seus primeiros

Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Proteção Respiratória (EPR) e os bombeiros

puderam combater o incêndio com ataques diretos, utilizando-se de diferentes táticas e

técnicas modernas de extinção de incêndios.

Atualmente, apesar de ainda estarmos distantes de países desenvolvidos em

relação a quantidade e qualidade dos equipamentos de ponta disponíveis no mercado, o

CBMSC dispõe de equipamentos e viaturas muito melhores, bem como busca

constantemente a qualificação constante de seu efetivo.

45

3.2 Combate a incêndio florestal

Um incêndio florestal ocorre em locais de vegetação, onde a concentração de

potenciais combustíveis é muito grande, o que contribui para a sua maior gravidade. Este

tipo de incêndio pode ter causas naturais ou ter origem em ações humanas, que

envolvem pontas de cigarro atiradas em beiras de estrada, fogueiras mal apagadas, ou

mesmo incêndios criminosos provocados intencionalmente.

O CBMSC tem se estruturado cada vez mais para este tipo de ocorrência que

vem aumentando nos últimos anos.

3.3 Salvamento aquático

A Lei 4.679/71 criou a Companhia de Busca e Salvamento com efetivo inicial de

45 salva-vidas. No mesmo período, o então Tenente Carlos Hugo Stockler de Souza foi

designado para realizar estágio em Santos/SP.

Em 1962 foi instalado, então, na cidade de Camboriú (devido à alta quantidade de

mortes por afogamento, com a denominação de Serviço de Salvamento Marítimo) o

primeiro Posto de Salva Vidas com lancha a motor, barco tipo “sandolin”, aparelho

ressuscitador, estação de rádio e auto falante.

O posto de guarda-vidas de Camboriú serviu de inspiração para o surgimento do

atual Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), sito à Av. Osvaldo Rodrigues Cabral, o

qual foi criado pela Lei 6.216/83, com efetivo de 319 homens e que acolhe também as

missões de busca terrestre, aquática e subaquática. No cumprimento de sua missão de

busca terrestre, aquática e subaquática, o GBS tem registrado impressionantes

estatísticas de resgate e recuperação de pessoas, principalmente em risco de

afogamento.

Na capital, o serviço começou em 1972, nas praias de Canasvieiras e Jurerê, as

mais frequentadas da época. Com o tempo, estendeu-se a outras praias do litoral

catarinense, sendo Santa Catarina a pioneira no emprego de guarda-vidas civis,

principalmente durante as operações veraneio.

Em 1991 o CBMSC inovou no sul do país ao empregar motos aquáticas para

salvamentos, bem como SC foi também pioneira no emprego de guarda-vidas civis,

principalmente durante as operações veraneio. Após a EC 033/2003 muda-se o enfoque

do Salvamento Aquático do CBMSC, passando a ser a prevenção de afogamentos. Razão

esta da mudança na denominação dos “Salva Vidas” para “Guarda Vidas”.

46

O Salvamento Aquático utiliza-se hoje de helicópteros, embarcações,

motonáuticas, quadriciclos e até drones. Os Guarda Vidas, além das atividades de

salvatagem, realizam campanhas educativas com vistas à prevenção de acidentes com

banhistas, como o Projeto Golfinho. Para potencializar e resguardar os Guarda Vidas

durante sua jornada de trabalho, os mesmos utilizam-se de equipamentos individuais

como as nadadeiras (otimizam o nado de aproximação e a capacidade de reboque) e o

lifebelt (flutuador).

3.4 Mergulho (busca subaquática)

Esta atividade consiste na busca e resgate de corpos ou bens submersos seja em

água doce ou salgada. É uma atividade de extremo risco. As ações mais comuns

envolvem a retirada de corpos de vítimas de acidentes rodoviários cujos veículos

submergiram em meio líquido e o auxílio em operações no resgate de pertences e bens

em acidentes náuticos.

3.5 Serviço de Atividades Técnicas

Desde o surgimento do primeiro quartel de bombeiros em 1926, até a década de

1980, apesar da prevenção contra incêndio ser uma atribuição prevista em lei, somente a

partir de 1979, depois dos incêndios ocorridos nos edifícios Andraus e Joelma (vide Lição

II) foram editadas as primeiras normas de segurança contra incêndios catarinenses, sob o

título de Normas e Especificações de Prevenção Contra Incêndio.

Nos anos seguintes, em função de processos e revisões, houveram mais três

edições: Normas e Especificações de Proteção Contra Incêndios (Portaria nº

083/SSI/01/02/1983); Normas de Segurança Contra Incêndio (Decreto Estadual nº 1.029

de 03 de dezembro de 1987) e Normas de Segurança Contra Incêndio (Decreto Estadual

4.909 de 18 de outubro de 1994).

Além de buscar oferecer serviços de excelência na resposta a sinistros, o

CBMSC desenvolve ações paralelas para que estes episódios adversos se tornem cada

vez mais raros e, com isso, um número maior de vidas e bens sejam preservados. Neste

sentido, desde a década de 1990 o CBMSC oferece serviços técnicos de prevenção a

sinistros através da análise de projetos e vistorias.

Ao analisar projetos e acompanhar e fiscalizar a instalação das medidas de

proteção passiva e ativas de segurança contra incêndio, nas edificações estabelecidos

em legislação específica, o CBMSC objetiva garantir melhores condições para o

47

salvamento de vidas ou bens no caso de sinistro nestes ambientes. A atuação preventiva,

por meio de serviços técnicos, envolve também as áreas de risco e de eventos

transitórios, realizados em locais fechados ou abertos, nos quais haja a previsão de

reunião e/ou concentração de público.

A atividade técnica do CBMSC é complementada pelas ações de perícia,

desenvolvidas de forma paralela ao trabalho preventivo e de resposta. Para descobrir as

causas do sinistro, e encontrar meios de se evitar a repetição dessas ocorrências, a

instituição forma e mantém disponíveis inspetores e peritos de incêndios que ficam

responsáveis pela análise detalhada dos vestígios encontrados e produzir dados que

resultem em estratégias preventivas.

Em 2013, em decorrência do incêndio ocorrido na Boate Kiss em Santa Maria/RS

(vide Lição II), foi aprovada e sancionada Lei nº 16.157, de 7 de Novembro de 2013, que

regulamentou o Poder de Polícia Administrativa ao CBMSC (previsto no inciso III do art.

108 da CE/SC). Tal legislação tem possibilitado uma atuação mais efetiva e coercitiva na

prevenção de sinistros, possibilitando a aplicação de sanções como multas, embargos e

interdições de edificações novas ou existentes (incluindo as que estão em fase de

construção), áreas de risco e de reunião de público.

Ainda em 2013, foi sancionado o Decreto Estadual n° 1.957/13 que regulamentou

a Lei nº 16.157/13, revogou o Decreto Estadual 4.909/94 (o qual estava desatualizado) e

regulamentou que compete ao CBMSC, além de outras previsões legais, normatizar e

regulamentar os sistemas e as medidas de segurança contra incêndio e pânico, por meio

das Instruções Normativas (IN).

Atualmente, todas as edificações, estruturas e áreas de risco na ocasião da

construção, da reforma ou ampliação, regularização e mudança de ocupação, necessitam

da aprovação de seu Projetos Preventivos Contra Incêndio e Pânico – PPCI, junto a

Seção de Atividades Técnicas – SAT que atua no município sede da referida estrutura.

3.6 Atendimento Pré hospitalar

Consiste no atendimento especializado de vítimas de trauma e emergências

médicas, com o objetivo de evitar o agravamento da situação da vítima até a chegada no

centro especializado. Este atendimento é feito utilizando ambulâncias tripuladas por

bombeiros socorristas, que realizam a estabilização clínica e o transporte com segurança

e rapidez de vítimas até os centros hospitalares - onde recebem o atendimento definitivo.

Para tanto, a corporação adota protocolos internacionais de atuação nestas situações.

48

A ideia da implantação de um serviço de socorro extra-hospitalar realizado por

bombeiros “socorristas” iniciou-se em Blumenau, no ano de 1983, pelo esforço coletivo de

várias pessoas, das quais destacam-se o então Presidente da Cruz Vermelha local.

Apesar de toda boa vontade e dos inúmeros esforços iniciais, somente em dezembro de

1987, com a doação de um veículo tipo ambulância, marca Chevrolet, modelo Caravan,

oferecido pela Comissão de Segurança da Associação Comercial e Industrial de

Blumenau (ACIB) é que a atividade passou a ser efetivamente realizada pelos integrantes

do Corpo de Bombeiros, que na época integravam a estrutura da Polícia Militar de Santa

Catarina. Neste período o CBMSC iniciou sua atividades de atendimento de emergências

com viaturas tipo ambulância (ASU – Auto Socorro de Urgência), sendo que as primeiras

viaturas eram tipo Chevrolet Caravan.

Naquela época, a viatura era denominada de Auto Emergência 01 (AE-01), mais

tarde as nomenclaturas foram modificadas para Auto Socorro de Urgência ou ASU.

Atualmente essa primeira viatura encontra-se exposta no museu (Memória do CBMSC),

situado nas dependências do Centro de Ensino Bombeiro Militar, no Bairro Trindade, em

Florianópolis, SC.

No início as coisas foram bem difíceis, especialmente porque a alta administração

da Corporação (tanto PM, como BM) não entendia que esta nova atividade fazia parte das

obrigações constitucionais (o que só foi definitivamente resolvido com a Emenda

Constitucional 033, de 13 de junho de 2003, que estabeleceu o Atendimento Pré-

Hospitalar como uma atribuição constitucional do CBMSC.

Também não havia empresa para comercializar os equipamentos utilizados na

atividade como hoje em dia, o que exigia muito esforço e criatividade por parte dos

bombeiros que, na maioria das vezes, construíam suas próprias macas rígidas, talas de

imobilização, colares de imobilização cervical, bandagens triangulares, etc.

Naqueles tempos não havia ambulâncias espaçosas e nem equipamentos

sofisticados como hoje (aspiradores portáteis, desfibriladores automáticos, oximetria de

pulso, talas moldáveis), mas isso não era motivo para desânimo, pelo contrário, cada

nova conquista era comemorada como uma importante vitória e ajudava a atividade a

consolidar-se ainda mais.

Em 1989, o Corpo de Bombeiros de Blumenau, recebeu sua segunda ambulância,

agora um veículo camioneta marca Ford, modelo F-1000, oferecido pela Fundação Paulo

Mayerle (Grupo Artex).

Rapidamente, a atividade de socorro pré-hospitalar cresceu e obteve o

reconhecimento da população e de outras Organizações de Bombeiro Militar que

49

começaram a desenvolver serviços semelhantes, como no caso das cidades de

Florianópolis, Itajaí, Porto União e Joinville.

Porém, o serviço de APH se consolidou apenas no final do ano de 1990, com a

realização do primeiro curso de socorristas (PEET/PAPH – Programas esses do Governo

Federal) realizado no Centro de Ensino da Polícia Militar – CEPM, iniciando no dia 13 de

maio de 1991.

A partir deste momento, houve uma enorme mudança no APH realizado pelo

CBMSC, através de uma expressiva formação de bombeiros socorristas, disseminando

assim, o serviço de APH em todo o território catarinense. Em razão disso, Santa Catarina

é um dos únicos estados que dispõe deste serviço em todas as localidades onde há

unidades de bombeiros, inclusive com equipamentos e pessoal treinado para resgate de

vítimas presas nas ferragens de veículos acidentados. Atualmente, conta-se com

desfibriladores cardíacos, macas articuladas, colares cervicais reguláveis, aspiradores

portáteis, aparelhos de aferição e monitoramento de sinais vitais, entre outros

equipamentos.

3.7 Resgate veicular

Em alguns acidentes automobilísticos, as vítimas ficam encarceradas nas

ferragens dos veículos envolvidos e, para a segura prestação do atendimento pré-

hospitalar, bem como extração das vítimas, faz-se necessário efetuar o

desencarceramento.

Para tanto, é fundamental a utilização de equipamentos específicos e guarnições

treinadas – seja através de simulados ou ocorrências reais – para oferecer o serviço de

resgate veicular de forma eficaz e eficiente. Este tipo de atendimento torna-se cada vez

mais frequente nas rodovias de Santa Catarina e do Brasil, devido ao aumento da frota

presente nas estradas, associada as más condições das vias e a imprudência dos

motoristas.

Atualmente, juntamente com o APH, Combate à Incêndios Estruturais e Serviços

de Atividades Técnicas, é uma das áreas mais requisitadas da nossa instituição e surgiu

pela necessidade, através do improviso de ferramentas como moto abrasivos (que

geravam fagulhas e riscos de incêndio e de ferimentos ao bombeiros e as vítimas), as

alavancas, o guincho de alavanca TIRFOR, as cunhas e marteletes pneumáticos, enfim,

uma série de ferramentas inapropriadas à atividade, mas que eram as únicas opções.

50

No final dos anos 90, foram adquiridos os primeiros desencarceradores

hidráulicos de resgate (cilindros expansores, ferramentas de corte e de alargamento, ou

as duas opções juntas – ferramentas combinadas). As primeiras ferramentas eram da

marca LUKAS, razão pela qual até hoje muitos bombeiros se referem com este nome aos

desencarceradores, mesmo sendo de outras marcas.

Nas ocorrências de Resgate Veicular, os ABT eram acionados, devido ao risco de

incêndio, sendo que a partir de 1999, juntaram-se as guarnições de combate a incêndio e

resgate veicular nos veículos Auto Bomba Tanque e Resgate (ABTR), sendo o ABTR-01

adquirido, via FUMREBOM, pela então 2ª Cia do 2º Batalhão de Bombeiros Militar

sediada em Chapecó, atualmente 6º Batalhão de Bombeiros Militar.

O CBMSC foi a primeira corporação a possuir um curso específico na área de

resgate veicular.

3.8 Busca terrestre

As operações de busca terrestre consistem em localizar indivíduos cuja

localização exata é desconhecida, os quais não possuem conhecimento ou meios de

retornar por si a um ambiente de segurança, e encontram-se sem meios de sobreviver

caso não sejam resgatados.

Na grande Florianópolis este serviço é efetuado exclusivamente pelo GBS, porém,

no interior do Estado, sempre que há necessidade, montam-se equipes compostas por

bombeiros que possuem expertise, utilizando-se técnicas de varredura com equipamentos

de GPS, bússolas e mapas, podem ser apoiados por cães de busca e seus adestradores.

3.9 Busca em espaços confinados

É a atividade de localização e resgate de pessoas confinadas em espaços, áreas

ou ambientes não projetados para a ocupação humana, que possuem meios limitados de

entrada e saída, cuja ventilação existente é insuficiente para remover contaminantes ou

onde possa existir a deficiência ou enriquecimento de oxigênio.

3.10 Resgate com cães

Consiste no emprego de cães certificados em operações de busca a pessoas

desaparecidas. O CBMSC é atualmente integrante da Organização Internacional de Cães

de Resgate (IRO, sigla em inglês) e referência na América Latina na área.

51

3.11 Salvamento em altura

Consiste na utilização de técnicas de escalada e montanhismo para a retirada de

vítimas de edifícios, zonas montanhosas ou ainda locais onde exista a necessidade da

utilização de estrutura de cabos e técnicas de operação em altura – seja em meio urbano

ou rural.

Um dos empregos mais comuns das técnicas de salvamento em altura é no

resgate de vítimas de acidentes rodoviários nos quais veículos sofreram queda em

ribanceiras às margens de rodovia. Nestes casos, é comum a montagem de um sistema

de cabos para o içamento das vítimas – já imobilizadas em macas.

Em Santa Catarina as técnicas de salvamento em altura somente passaram a ser

utilizadas a partir da década de oitenta, quando oficiais do Corpo de Bombeiros passaram

a frequentar cursos em outras corporações.

3.12 Produtos perigosos

Emergências envolvendo produtos químicos e perigosos, possuem características

especiais que as diferenciam das situações comuns atendidas pelos Corpos de

Bombeiros. Estas ocorrências são cercadas de circunstâncias que interferem diretamente

no procedimento operacional para a solução e restabelecimento da normalidade no local

da ocorrência.

O uso de substâncias químicas, biológicas e radiológicas é cada vez mais comum

e, por isso, cresce o risco de acidentes envolvendo a manipulação, estocagem ou o

transporte desses materiais.

Por este motivo, é necessário manter equipes treinadas para agirem na

identificação, isolamento e contenção destas substâncias e reduzir os riscos de danos às

pessoas e ao meio ambiente.

3.13 Controle de insetos e animais

Consiste na contenção mecânica ou farmacológica de animais, tanto em

ambientes urbanos como rurais, limitando seus movimentos ou, até mesmo, imobilizando-

o por completo. Este tipo de atividade pode variar desde a remoção de uma colmeia de

abelhas que se encontra perto de algum lugar habitado, até a contenção de animais

peçonhentos ou felinos que ameacem alguma localidade. Atualmente, este tipo de

atividade é um dos motivos mais frequentes das ligações atendidas pelo COBOM.

52

3.14 Intervenção em áreas deslizadas

Consiste na preparação de equipes especializadas para atuar em situações de

desastres naturais envolvendo vítimas de soterramento por massa, solo, deslizado.

Atualmente, ocorrências relacionadas são atendidas pelas equipes destacadas da Força

Tarefa de cada Batalhão de Bombeiros Militar (BBM).

Dada a importância de uma ação eficiente e a frequência crescente de

ocorrências desta natureza em Santa Catarina, o CBMSC construiu em 2013, na cidade

de Xanxerê o Centro de Referência em Desastres Urbanos (CRDU) – onde são

capacitados cães de busca e bombeiros especialistas nestas operações. Sendo

considerado atualmente, referência nacional na formação de bombeiros militares de

outros estados brasileiros. Além do treinamento em áreas deslizadas, também há foco no

treinamento de equipes para intervenção em estruturas colapsadas.

3.15 Busca e resgate em estruturas colapsadas

Consiste na localização e resgate de pessoas confinadas em estruturas

colapsadas decorrentes de catástrofe naturais (tornados, furacões, vendavais, terremotos,

tsunamis, deslizamentos) ou causados pela ação humana (desabamentos e explosões).

Além do CRDU, em Xanxerê, Tijucas também conta com um centro de referência

para as atividades de BREC.

3.16 Busca e resgate em inundações e enxurradas

Consiste em garantir o acesso, resgatar e evacuar pessoas que se encontram em

locais de risco, ilhadas ou em correntezas de rios, córregos ou outros cursos d'água.

Esta atividade tem se tornado cada vez mais comum em Santa Catarina, em

virtude da frequência de fenômenos meteorológicos extremos, como as fortes chuvas.

3.17 Ajuda humanitária

O trabalho operacional do CBMSC em benefício da comunidade é

complementado pela atividade de Ajuda Humanitária, com a prestação de assistência

material ou logísticas para fins humanitários em resposta a situações de crise, como

desastres naturais.

53

3.18 Operações aéreas

Consiste em utilizar veículos aéreos tripulados para dar suporte a outras

operações de resgate. Neste sentido, as aeronaves são utilizadas, por exemplo, para:

transportar vítimas de acidentes de trânsito que necessitam cuidados médicos urgentes;

resgatar vítimas em locais onde o acesso por rodovias não é possível; resgatar vítimas de

afogamento ou naufrágios em locais longe da costa, entre outros.

A história da aviação do CBMSC começa em 1986, com um helicóptero modelo

Bell Jet Ranger III, alugado para 240 horas de voo, previsão do tempo necessário para

atendimento da Operação Veraneio 1986/1987. No início daquele ano, bombeiros

participaram de um treinamento no Rio de Janeiro e retornaram para preparar as

tripulações.

Nesse período operava-se na doutrina de multimissão, ou seja, a mesma

aeronave (com tripulações específicas) atendia operações típicas de bombeiro (busca,

resgate e salvamento) e também operações típicas de polícia (patrulhamento aéreo).

Oportuno registrar que no contrato de aluguel, no item destinação, além da

atividade típica de polícia, havia expressa menção da destinação para atendimento das

operações típicas de bombeiro. A exposição de motivos que justificavam o aluguel foi

amplamente pautada na necessidade da prestação dos serviços de socorro prestados

pelo corpo de bombeiros, como estratégia para melhor convencimento das autoridades

políticas, da mídia em geral e da própria população.

Estratégia absolutamente correta e fundamentada e depois ratificada pelas

estatísticas dos atendimentos: as ocorrências de bombeiros sempre lideraram com

margem larga percentual, por vezes beirando a totalidade. O serviço foi desempenhado

com grande eficiência e a repercussão foi altamente positiva na sociedade e na mídia em

geral, mesmo assim, nos anos seguinte não houve locações de aeronaves ou compra do

equipamento.

Em janeiro de 1993, novamente foi locada uma aeronave tipo Esquilo, sendo

repetidas as locações, para as atividades de busca, salvamento e resgate, durante os

meses de verão na Operações Veraneios de 93/94, 94/95, 95/96 e 96/97, com guarnições

compostas por oficiais pilotos e praças tripulantes da PM e do BM (na época denominado

CBPMSC). A partir de 1997 a aeronave Esquilo passou a ser locada o ano inteiro pela

PMSC, desempenhando atividades multimissão, sempre com grande ênfase nas

atividades de salvamento.

54

As primeiras ações consideradas institucionalmente próprias, sobreviriam com o

advento da emancipação administrativa e financeira da corporação. Apesar do processo

de emancipação haver transcorrido sem sobressalto, contando com a concordância

institucional do Comando Geral da PMSC, fato concreto é que os serviços prestados

pelas guarnições BM junto ao Grupamento Aéreo da PM foram suspensos logo depois.

Apesar da suspensão da atividade, extra oficialmente, continuou ela sendo

exercida. Além do mais, os bombeiros lotados no Grupamento Aéreo do CBMSC

continuaram especializando-se, seja em cursos frequentados as suas expensas, seja

voando, oficial, ou extra oficialmente por outras Corporações.

Com as atividades de resgate, busca e salvamento suspensas, por parte do

CBMSC, a mesma passou a ser exercida em sua plenitude pela PMSC e até mesmo pela

Polícia Civil durante as Operações Veraneio. O sentimento de desconforto institucional

com tal situação era inevitável. Havia uma preocupação, não apenas em termo de espaço

(o qual estava se perdendo), mas, principalmente, porque o CBMSC estava deixando de

exercer uma atividade operacional constitucionalmente conferida à Corporação, a qual

estava sendo realizadas por outras instituições.

Em 2008, em virtude da tragédia que assolou o Vale do Itajaí, entre os meses de

novembro e dezembro, foi desencadeada a Operação Arca de Noé, revelando novas

consequências decorrentes da inexistência do serviço de operações aéreas no CBMSC.

Esse acontecimento foi uma das maiores (senão a maior) operações de socorro

aéreo que já foi montado no País. Na base operacional instalada no aeroporto de

navegantes operaram 30 aeronaves de asas rotativas de diversas instituições federais

(Forças Armadas) e estaduais (PMSC, PCSC e CBM de outros estados). Sendo que

dessas, apenas 1 voou com as cores dos bombeiros: o Arcanjo, do Corpo de Bombeiros

de Minas Gerais. Sendo a primeira aeronave de asas rotativas a operar no estado assim

caracterizada.

Quando as operações aéreas se iniciaram, o serviço de socorro terrestre já havia

iniciado há mais de 72 horas. Sem aeronaves próprias e sem coordenação geral das

operações aéreas (a qual estava sendo realizada pela PMSC), o serviço de resgate

terrestre ressentiu-se de um apoio aéreo mais efetivo e mais integrado.

Diante do cenário exposto, o Comando Geral apresentou um projeto para

aquisição de uma aeronave em 2009. Após muitos tramites políticos, o Arcanjo é recebido

solenemente no dia 20 de janeiro de 2010, data oficial do início dos serviços de

operações aéreas no CBMSC, sendo sua primeira missão no mesmo dia às 17:20.

55

A duração do primeiro contrato de locação do Arcanjo foi de 3 meses. Sabia-se de

antemão que era um período bastante curto e não havia provisão de recursos para

relocação após findo o prazo. A suspensão das atividades e a devolução da aeronave

para a Empresa proprietária, teve repercussão perante a mídia e a sociedade em geral,

os quais fizeram grande pressão para o retorno dela para o CBMSC.

Deste modo, no dia 10 de maio de 2010, a primeira aeronave de asas rotativas a

integrar o patrimônio do CBMSC, um helicóptero AS 350 B2, possou em Florianópolis. A

parceria entre a Secretaria de Estado da Saúde e o CBMSC, iniciada em 2008, ainda

durante a Operação Arca de Noé, atingia agora o seu ápice com a aquisição dessa

aeronave.

Em 2012 foi comprada, por meio da parceria feita com a Secretaria de Saúde, a

primeira aeronave do CBMSC, o Novo Arcanjo 01. E em 2016 houve a cerimônia de

comemoração dos 6 anos do BOA com a entrega do Arcanjo-04.

3.19 Força-Tarefa

Todos os 14 Batalhões de Bombeiro Militar, Batalhão de Operações Aéreas e o

Centro de Ensino Bombeiro Militar, estão incumbidos pelo Cmdo Geral através da DtzPOP

019/2011, de compor a sua estrutura regional de Força Tarefa com composição de 12

homens devidamente selecionados. Com capacitação definida, estrutura logística de

transporte e equipamentos.

O grupo possui a missão de realizar todos os atendimentos especializados na

área do batalhão, podendo ser ativado para atuar na área de outros batalhões.

3.20 Educação Pública

Consiste em estimular a consciência dos riscos de sinistros envolvidos nos

ambientes nos quais a população convive no dia a dia. Para tanto, o CBMSC desenvolve

programas educacionais e de capacitação voltados para as diferentes faixas etárias,

buscando disseminar a consciência prevencionista da segurança com o objetivo de

diminuir a ocorrência de incêndios e outros sinistros.

As atividades de Educação Pública envolvem ações diretas (palestras,

campanhas, simulados e treinamentos) com a distribuição de material com informações; e

projetos comunitários, os quais que capacitam integrantes da comunidade para agirem

de modo a prevenir acidentes e minimizar os efeitos destes episódios na comunidades em

que estão inseridos.

56

4 Expansão do CBMSC no território catarinense

Desde o seu surgimento em 1926, até os dias atuais, o CBMSC tem passado por

várias fases de expansão de suas Organizações de Bombeiro Militar dentro do Estado de

Santa Catarina.

Podemos elencar três movimentos expansionistas principais na história do

CBMSC, sendo eles: o primeiro do ano de 1926 à 1996; o segundo do ano de 1996 à

2003 (emancipação do CBMSC); e o terceiro de 2003 até os dias atuais.

Todos estes movimentos, tiveram como força motriz o clamor da sociedade

associado à necessidade de expansão e a retomada de espaço catarinense frente a

expansão dos Bombeiros Voluntários.

Mapa ilustrando a presença do CBMSC até o ano de 1996

Em 2003 quando ocorreu a emancipação, o número de municípios com OBM jáhaviam atingido os 55 (cinquenta e cinco), porém ainda haviam 238 (duzentos e trinta eoito) municípios que não eram atendidos de forma direta.

57

Mapa ilustrando a presença do CBMSC até o ano de 2003 – antes da emancipação.

Mapa ilustrando a presença do CBMSC até o ano de 2015.

58

Na atualidade 134 municípios já contam com uma OBM, o que corresponde a

aproximadamente 90% dos municípios, com mais de 10mil habitantes, atendidos pelo

CBMSC.

Porém, essa expansão é questionada por alguns segmentos dentro da

corporação, devido ao efetivo não ter acompanhado o mesmo crescimento. Além dos

recursos humanos, o orçamentário também não acompanhou a expansão, pois, mesmo

com as parcerias firmadas, há municípios em que a arrecadação não é expressiva,

acarretando em problemas para as OBMs instaladas nos mesmos.

Hoje, 2017, o CBMSC busca uma solução sustentável para se fazer presente em

todo Estado e semelhante ao que ocorre em alguns países europeus, o Projeto de Lei

Nº0166/2017 prevê o ressarcimento para os bombeiros comunitários que atuam nos

quartéis nas atividades de busca, resgate veicular, atendimento pré- hospitalar e combate

a incêndios. Apesar de ser um trabalho voluntário, pois os bombeiros comunitários já tem

profissão e vínculos empregatícios com outros setores, há gastos referentes ao curso e

aos serviços prestados, como aquisição de uniformes, alimentação, transporte e outros,

por isso o Projeto de Lei é de extrema importância para a permanência do programa de

Bombeiros Comunitários na instituição.

59

Referências Bibliográficas

ACORDI, Charles Fabiano. A possibilidade de execução de fiscalização da segurançacontra incêndio e pânico por parte de bombeiros privados. UDESC, 2015.

ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS MILITARES DE SANTA CATARINA - ACORS. Sistemaintegrado de Bombeiro. Disponível em: <ht tp://www.acors.org.br/2016/sistema-integrado-de-bombeiro /> Acessado em 25 abr 17.

ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS MILITARES DE SANTA CATARINA - ACORS. Serviçovoluntário nos corpos de bombeiros militares. Disponível em:<http://www.acors.org.br/2016/o-servico-voluntario-nos-corpos-de-bombeiros-militares/ >Acessado em: 25 abr 17.

ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS MILITARES DE SANTA CATARINA - ACORS. Serviço debombeiros no brasil e as tentativas de privatização. Disponível em:<http://www.acors.org.br/2016/os-servicos-de-bombeiros-no-brasil-e-as-tentativas-de-privatizacao/ > Acessado em 23 abr 17.

BASTOS JÚNIOR, E.J. Polícia Militar de Santa Catarina: história e histórias. EditoraGuarapuvu, p. 312, 2006.

BOMBEIROS, História. Disponível em: <http://www.bombeiros.pt/historial/historial.html>,Acessado em 12 dez 17.

CORDEIRO, D. Corpo de Bombeiros de Florianópolis: esboço histórico. In: Apatrulha. Florianópolis: PMSC. n° 10 outubro de 1950.

CORPO DE BOMBEIRO MILITAR DE SANTA CATARINA - CBMSC. Atividade.Disponível em: <https://portal.cbm.sc.gov.br/index.php/institucional/atividades >. Acessadoem: 19 abr 17.

CORPO DE BOMBEIRO MILITAR DE SANTA CATARINA - CBMSC. BombeiroComunitário. Disponível em: <https://portal.cbm.sc.gov.br/index.php/ bombeiro-comunitario >Acessado em 23 de abril de 2017b.

CORPO DE BOMBEIRO MILITAR DE SANTA CATARINA - CBMSC. História. Disponívelem: <https://portal.cbm.sc.gov.br/index.php/historia > Acessado em: 19 de abril de 2017c.

CORPO DE BOMBEIROS DO PARANÁ, Histórico dos Corpos de Bombeiros noBrasil, Disponível em: <http://www.bombeiros.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo =2> Acessado em12 dez 17.

CORPO DE BOMBEIROS DE PERNAMBUCO, Histórico, Disponível em:<http://www.cbm.pe.gov.br/ctudo-bomb-acorp-histo .html>, Acess em 12 dez 17.

ELONDRES.COM, O Grande Incêndio de Londres em 1666. Disponível em:<https://www.elondres.com/o-grande-incendio-de-londres-em-1666/>, Acessado em 12dez 17.

60

FERRARI. A ineficiência do modelo tradicional de treinamento de combate aincêndio em pátio aberto em capacitar bombeiros para atuarem em táticasofensivas de combate a incêndios estruturais. 2010. Disponível em<http://combateaincendio.blogspot.com.br/> Acesso em 24 Abril 2017.

GRIMWOOD, Paul; DESMET, Koen. Tactical Firefighting: a comprehensive guide tocompartment firefighting and live fire training. Londres: CEMAC, jan, 2003

JORNAL ONLINE CONEXÃO BOMBEIRO. ULTIMAS NOTÍCIAS. Bombeiro civil não ébrigadista. Disponível em: <http://conexaobombeiro.blogspot.com.br/2016/01/bombeiro-civil-nao-e-brigadista.html >. Acessado em: 20 de abril de 2017.

LACOWICZ, Altair. Programas Institucionais do Corpo de Bombeiros Militar -expansão dos Serviços de Bombeiros. Florianópolis: Editora Papa-Livro.

MÜCK, Nauro Ricardo. A coercibilidade no exercício do poder de políciaadministrativa pelo Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Florianópolis:CEBM, 2011.

NETO, Aldo Baptista. Análise do Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar do Corpo deBombeiros Militar de Santa Catarina no Modelo de Gestão Descentralizada.Disponível em <http://biblioteca.cbm.sc.gov.br/biblioteca/index.php/component/docman/cat_view/47-trabalhos-de-conclusao-de-curso/40-curso-de-comando-e-estado-maior> Acessoem 24 Abr de 2017.

OLIVEIRA, Marcos de. Manual de estratégias, táticas e técnicas de combate aincêndio estrutural. Florianópolis: Editograf, 2005.

OS BOMBEIROS, Manual. Disponível: <http://www.bombeiros.com.br/manuais>,Acessado em 12 dez 17.

O GLOBO, Incêndio no Edifício Andorinha parou o Centro do Rio e deixou 23mortos, Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/incendio-no-edificio-andorinha-parou-centro-do-rio-deixou-23-mortos-18686962#ixzz50OPX5Pof>,Acessado em 12 dez 17.

OS GRANDES INCÊNDIOS, O grande Incêndio do Edifício Andorinhas no Centro doRio de Janeiro – RJ, Disponível em: <http://osgrandesincendios.blogspot.com.br/>,Acessado em 12 dez 17.

PACHECO, Ariovaldo da Silva. Como ocorreu o processo de emancipação do Corpode Bombeiros Militar de Santa Catarina. Florianópolis, 2015.

SANTA CATARINA. Emenda Constitucional nº 33, de 13 de junho de 2003. Altera osartigos 31, 50, 57, 71, 90, 105, 107 e 108, inclui o Capítulo III- A no Título V, e acrescentaos artigos 51, 52, 53, 54 e 55 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias daConstituição do Estado de Santa Catarina.

SANTA CATARINA. Decreto nº 4909, de 18 de outubro de 1994. Normas de segurançacontra incêndio/Corpo de Bombeiros.–2.ed.rev.eampl.–Florianópolis: EDEME,1992.

61

SANTA CATARINA, Lei ° 16.157 de 07 de Novembro de 2013. Dispõe sobre as normas eos requisitos mínimos para a prevenção e segurança contra incêndio e pânico eestabelece outras providências.

SANTA CATARINA. Decreto nº 1957, de 20 de dezembro de 2013. Regulamenta a Lei nº16.157, de 2013, que dispõe sobre as normas e os requisitos mínimos para a prevenção esegurança contra incêndio e pânico e estabelece outras providências.

SÃO PAULO ANTIGA, O incêndio do Edifício Andraus, Disponível em:<http://www.saopauloantiga.com.br/o-incendio-do-andraus-como-nunca-visto-antes/>,Acessado em 12 dez 17.

TEZA, Marlon Jorge. Entrevista concedida a Marcel Pittol Trevisan. Florianópolis, 24de Abril 2017.

VENTURA, Mauro. O Espetáculo Mais Triste da Terra: O Incêndio do Gran Circo Norte-Americano. Rua Bandeira Paulista, 702, Cj. 32 04532 - 002 — São Paulo — Sp: SchwarczLTDA, 2011. 311 p. Disponível em: <http://www.companhiadasletras.com.br/12823.pdf>.Acesso em: Acesso em: 19 abr. 2017.

ZONA DE RISCO, Acidentes, Desastres, Riscos, Ciência e Tecnologia, Disponível em : <https://zonaderisco.blogspot.com.br/2015/09/o-fogo-e-evolucao-historica-dos-meios.html>, Acessado em 12 dez 17.

62