história do ceará

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Colonização do Ceará

O primeiro europeu a chegar ao Ceará foi o navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón, em fevereiro de 1500. Ex-comandante da caravela Niña, que compunha a esquadra de Colombo em 1492, ele teria passado por Fortaleza e Ponta Grossa.

Nas primeiras décadas após o 'achamento' oficial do país por Cabral e o início da colonização, a Coroa Portuguesa não se interessou em ocupar as terras cearenses, pouco atrativas economicamente. Só em 1603, com intuito de proteger o território da invasão estrangeira, Portugal (então sob do domínio da Espanha, através da União Ibérica) enviou o açoriano Pero Coelho de Sousa ao Ceará. Sua intenção era também descobrir minas e controlar os conflitos indígenas. Pero Coelho fundou o forte de São Tiago às margens do rio Ceará, de onde foi expulso pelos nativos, passou pelo rio Parnaíba, atual divisa do Piauí com Maranhão, e chegou ao rio Jaguaribe, onde fundou o forte de São Lourenço para se proteger de índios. Atrapalhado por uma forte seca entre 1605 e 1607 e por constantes ataques indígenas, abandonou a base e voltou à Paraíba e, depois, Portugal.

Em 1607, foi a vez dos padres jesuítas Francisco Pinto e Luís Figueiras, acompanhados de 60 índios, seguirem de Pernambuco à foz do Jaguaribe, de onde seguiram a pé até Ibiapaba. Lá chegando, após dois meses de caminhada, foram recebidos com festa. No ano seguinte foram atacados pelos índios Tacarijus: Francisco foi morto e Luís fugiu para a barra do rio Ceará, onde fundou o povoado de São Lourenço. Morreu em 1643, devorado por índios aruãs na Ilha de Marajó.

Estes dois primeiros fracassos foram apenas uma prévia da resistência que os indígenas do Ceará ofereceriam às tentativas de dominação, sejam elas portuguesas, holandesas ou francesas. As lutas pela colonização, iniciadas com sucesso por Martim Soares Moreno, estavam apenas começando.

Martim Soares Moreno

O português Martim Soares Moreno (1585/16??) é considerado o grande conquistador do Ceará. Veio para o Brasil como soldado do 8º governador-geral Diogo Botelho e em 1603 participou da bandeira de Pero Coelho de Souza, quando fez amizade com alguns índios que futuramente facilitariam sua aproximação coma tribo. Em 1611, comandando sua própria expedição, fundou na barra do rio Ceará (próximo a Fortaleza) o forte de São Sebastião, com ajuda de índios potiguares comandados pelo chefe Jacaúna. Com ele seguiu o padre Baltazar João Corrêa, que iniciou a evangelização católica no estado.

Em 1613, foi convocado, junto com Jerônimo de Albuquerque, para enfrentar franceses no Maranhão, e fundou, na atual Jericoacoara, o fortim de Nossa Senhora do Rosário. Seguindo para as terras maranhenses, teve sua rota desviada pelos fortes ventos, que acabaram levando-o à ilha de São Domingos, no Caribe. De lá onde seguiu para a Espanha.

Em 1615, Soares Moreno voltou ao Brasil e, após novo combate com franceses, foi pela segunda vez desviado para São Domingos. No caminho de volta à Europa, foi ferido por piratas franceses e ficou preso na França por dez meses, só sendo libertado após a interferência de um embaixador espanhol.

De volta ao Ceará em 1621, agora com título de Capitão-Mor, procura incentivar a pecuária e a cana-de-açúcar na barra do rio Ceará, ajudando no desenvolvimento da futura Fortaleza. Esgotada a duração de seu título, dez anos depois, dirigiu-se para Pernambuco, atraído pelos combates a invasores holandeses. Voltou em 1648 para Portugal, onde morreu.

Martim é homenageado pelo escritor José de Alencar em seu clássico "Iracema", que descreve a colonização do Ceará através da aproximação do colonizador que leva seu nome com a índia Iracema. Da relação dos dois, nasce o menino Moacir, que na língua indígena significa 'o filho da dor', ou a marca indelével do europeu no Novo Mundo.

Índios

Segundo cálculos do colonizador Martin Soares Moreno, apenas o Ceará teria, antes da ocupação portuguesa, cerca de 150 mil índios, divididos 5 grupos: Tupis, Cariris, Tremembés, Tarairius e Jês.

Entre os tupis, destacavam-se os tabajaras e potiguares, inimigos radicais entre si.

Os potiguares comandavam a costa de São Luís (MA) até as margens do Parnaíba (divisa entre PI e MA), e das margens do Rio Acaraú, no Ceará, até a cidade de João Pessoa, na Paraíba. Exímios canoeiros, eram cerca de 90 mil pessoas e foram inimigos dos portugueses. Expulsos do Rio Grande do Norte, fixaram se no Baixo Jaguaribe e alguns pontos do litoral cearense. O líder Jacaúna foi colaborador de Martim Soares Moreno em 1611, quando os potiguares ajudaram a construir o forte de São Sebastião. Com a saída do colonizador, passaram a ajudar os holandeses, com quem tomaram esse forte em 1637. Sete anos depois, inconformados com a exploração holandesa, reconquistaram a construção.

Os tabajaras eram grandes guerreiros e moravam na serra da Ibiapaba. Antropófagos, combateram junto com franceses a tropa de Pero Coelho em 1603. Foram vítimas de diversas missões militares e religiosas, que culminaram no aldeamento de Nossa Senhora da Assunção da Ibiapaba, em 1695.

No sul do Maranhão e o norte do Ceará, portanto entre as duas terras potiguares, ficavam os Tremembés, bons em nado e mergulho. Eram cerca de 20 mil e foram ora inimigos, ora aliados dos portugueses.

A relação dos índios com os colonizadores europeus teve momentos de convivência pacífica e cooperação, e outros de extrema violência. O escambo de mercadorias manufaturadas, como machados, facas e foices, por 'produtos naturais', como animais e plantas, garantia um compromisso e amizade nos primeiros encontros dos povos. Com a crescente exploração do índio como escravo e a posse de suas terras, as tribos muitas vezes reagiram contra os visitantes aliados (fossem eles portugueses, holandeses ou franceses), numa tensão que culminou na Guerra dos Bárbaros. Os índios do Ceará venderam muito caro, às custas de muitas vidas, a conquista de suas terras e cultura.

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A forma mais utilizada para dominar os índios era o aldeamento. Numa área comandada por um missionário, combinava-se trabalho escravo e evangelização. Lá também funcionavam bases militares, onde predominavam rotinas rígidas de trabalho e severas punições para os revoltosos. O índio ´convertido´ era chamado de gentio, e muitas vezes ajudava o conquistador na luta contra outros povos.

Guerra dos Bárbaros ou Confederação dos Cariris

Por volta de 1686, iniciou-se no Rio Grande do Norte uma mobilização de inúmeras tribos contra a colonização, num conflito de 30 anos que ficou conhecido como Guerra dos Bárbaros ou Confederação dos Cariris (assim os portugueses chamavam os índios não tupis). Os cariris moravam no sertão e litoral, para onde se dirigiam para colher caju. A revolta, causada pelo apossamento de terra por portugueses, começou com a tribo dos Janduins e foi 'se alastrando' por outros povos (muitos inimigos históricos), chegando à Paraíba, numa reação em conjunto às explorações a que eram submetidos.

Bandeirantes paulistas foram enviados para combater a revolta (entre eles estava Domingo Jorge Velho, responsável pela derrubada do Quilombo de Palmares). A guerra resultou em muitos índios e bandeirantes abatidos, além de constante aprisionamento dos nativos. Numa emboscada, o mestre de obras Manuel Alves de Morais Navarro mandou matarem 1699, de uma só vez, 500 índios Paiacus, uma das tribos mais combativas. O episódio, que não resultou em nenhuma punição para o comandante, aumentou ainda mais as rivalidades.

Em 1713, os Tremembés aderiram à revolta e a vila do Aquiraz, então sede da Capitania, foi atacada e praticamente destruída por flechas e tacapes. O poderoso coronel João de Barros Braga, morador da região do Jaguaribe, comandou o contra-ataque com sua milícia, promovendo uma 'limpeza' na região do conflito. Vencedor, ganhou o direito de escravizar os índios Anacés e foi nomeado, em 1731, governador da capitania do Rio Grande do Norte.

Expedição científica do Império

A mudança da Corte Portuguesa para o Brasil, em 1808, significou um enorme salto no interesse pela pesquisa e desenvolvimento cultural do país. Como reflexo desta política, em 1856 foi organizada no Rio de Janeiro a chamada Comissão Científica do Império, designada para rastrear e registrar, entre outras regiões, o interior e litoral do Ceará.

Comandada por Francisco Freire Alemão, renomado médico e botânico carioca, a caravana tinha dois objetivos principais: estudar as condições naturais da região, coletando material para o Museu Nacional, e verificar se o solo era rico em minerais. A expedição era composta por 5 seções de pesquisa: botânica, geologia e mineralogia, zoologia, astronomia e geografia, etnografia e narrativa de viagem. Nesta seção, comandada pelo poeta Gonçalves Dias, estavam os pintores, responsáveis pelos primeiros registros da costa cearense e seus moinhos de vento.

Vários erros e acidentes fizeram da expedição um grande fracasso. Supondo haver uma semelhança entre as dunas do Nordeste e o deserto africano, a expedição transportou camelos (ou dromedários), trazidos de Argel para o Ceará. A experiência não deu certo. Um barco a vela, alugado em Camocim para levar a Fortaleza todo o material recolhido pelas seções, naufragou na foz do rio Acaraú. Toda a pesquisa se perdeu, gerando a suspeita que o acidente havia sido provocado pela própria Comissão para esconder o fracasso do trabalho.

Assim, a comissão científíca reforçou ainda mais o bucólico apelido de 'Comissão das Borboletas', dado pelos adversários políticos de D.Pedro II para criticar os objetivos e métodos adotados no 'passeio' financiado pelo dinheiro público.

A comissão chegou a Fortaleza em 1859, de onde seguiu para Aracati, rio Jaguaribe, Icó, Lavras da Mangabeira, Crato, Cariris, Exu (através da Chapada do Araripe), Sertão do Inhamuns, Vila do Tauá (hoje Cratéus), Fortal, Sobral, Serra da Ibiapaba, Canindé e Serra do Baturité. Dois anos depois, retornaram a Fortaleza.

Ciclos Econômicos do Ceará

Em 1680, o governo português permitiu, através das Cartas de Sesmaria, a ocupação da atual região de Fortaleza e do Rio Jaguaribe. O rio acabou tornando um canal de ligação do litoral com o interior, onde a pecuária extensiva já forçava uma ocupação. A venda de carne para Pernambuco e Bahia, centros da produção de cana de açúcar, mostrou-se pouco lucrativa, numa dificuldade agravada por constantes assaltos, altos impostos e grandes distâncias.

Passou-se então a produzir carne de charque, que conservada no sal e secada sob o forte sol e vento da região, não estragava e podia ser transportada por grandes distâncias (esta técnica havia sido desenvolvida pelos índios). O comércio de peles e couros cresceu a reboque, desenvolvendo as cidades de Aracati, Camocim, Acaraú, Granja e Sobral. O couro foi exportado como embalagem para a Europa.

Ainda que a produção fosse em grande escala, as grandes secas impediram que este ciclo fizesse circular grandes riquezas no Ceará. A simplicidade da arquitetura e artes locais, quando comparada à exuberância das igrejas e casas de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, são exemplos dessa escassez de recursos.

A queda na produção de charque agrava-se após uma grande seca em 1790-92, época em que o Rio Grande do Sul passa a ser o maior produtor do país. Já no final do século XVIII, o algodão se firma como principal produto do Nordeste. A matéria-prima era exportada para a Inglaterra no auge de sua Revolução Industrial e contribuiu para a afirmação de Fortaleza, através de seu porto, como pólo econômico da região. Até então, a futura capital era apenas um ponto estratégico entre Maranhão e Pernambuco.

Confederação do Equador

Aracati foi o palco final de uma luta que começou com a mudança da corte real para o Brasil. A chegada de D. Pedro I acirrou a rivalidade

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entre conservadores (defensores da Monarquia) e liberais (adeptos da República).

Esta divisão se agravou em Pernambuco (em crise devido à queda nas exportações de açúcar e algodão) com o movimento 'separatista' de Recife e Olinda, liderado por intelectuais. Eles se recusaram a reconhecer a constituição de 1824, outorgada pelo Imperador, que havia ainda fechado a Assembléia Constituinte. A tentativa da Corte de substituir o governador Manuel Paes de Andrade (federalista, republicano e participante da revolução de 1817) marcou o rompimento da região. Paes de Andrade foi reconduzido ao cargo com a proposta de separação das províncias do norte e nordeste.

A causa ganhava força também no Ceará, que já possuía longa história de conflitos entre liberais e absolutistas. A uma parte da elite cearense não interessava a política de centralização adotada por D. Pedro I. O clima de revolta que tomara Recife chegou ao Ceará através do padre José Martiniano de Alencar, membro da Constituinte dissolvida. Em abril de 1824, os liberais José Filgueiras e Tristão Gonçalves comandaram a deposição do absolutista Costa Barros, quando Tristão assumiu a presidência da província e Filgueiras, o comando de armas.

Fortalecido pela aproximação dos movimentos de Pernambuco e Ceará, no dia 2 de julho Paes de Carvalho proclamou em Recife a 'Confederação das Províncias Unidas do Equador'. Brigadas populares tomaram conta da região e enfrentaram as forças imperiais. O tráfico de escravos chegou a ser interrompido, mas com o recuo da elite as forças do governo central ganharam espaço. Recife foi retomada pelo exército sulista em setembro de 1824, com muitas mortes.

Iniciou-se então a ofensiva monarquista pelo Nordeste, marcada por muitos massacres e fuzilamentos. O governo cearense, então republicano, preparou-se para um inevitável confronto com as forças imperiais. De Pernambuco vieram armas e uma tipografia, que imprimiu O Diário do Governo do Ceará, eficiente veículo de propaganda. Armas foram importadas dos EUA.

O governador Tristão Gonçalves partiu para Aracati, deixando o comando para José Félix de Azevedo e Sá, que rendeu-se e jurou fidelidade ao Imperador após invasão da capital. Vencedor em Aracati, Tristão voltou para recuperar Fortaleza, mas foi alcançado e morto na atual cidade de Jaguaribana. Filgueiras e José Martiniano de Alencar dissolveram suas forças no Araripe e o que restou da Confederação se espalhou e se escondeu pelo sertão.

Dragão do Mar

Francisco José do Nascimento, ou Chico da Matilde, ou ainda Dragão do Mar, é considerado o grande herói do abolicionismo no Ceará. Nascido na vila dos Estevão, em Canoa Quebrada, era o encarregado do serviço de lanchas do comendador Luís Ribeiro da Cunha, e foi indicado para comandar a causa na região do baixo Jaguaribe.

Em Fortaleza, organizava reuniões em sua casa e ganhou a confiança da população local. Em 1882, recebeu na praia de Fortaleza o abolicionista carioca José do Patrocínio, a quem explicou a resistência comandada pelos jangadeiros.

Com abolição e a grande euforia tomou conta do estado, Dragão foi levado ao Rio de Janeiro ainda em 1884 para homenagens e desfiles. Sua jangada, símbolo da resistência no Ceará, foi doada ao Museu Nacional, onde ficou até desaparecer anos depois.

A Abolição da Escravatura no Ceará

Comparado com outros estados do país, o Ceará não recebeu um grande número de escravos (cerca de 35 mil, segundo dados históricos). Vindos principalmente de Angola e Congo, seu preço era caro para a economia baseada em gado extensivo, atividade que não carecia de muita mão-de-obra e facilitava a fuga dos escravos para o sertão.

A crise econômica do final do século XIX, agravada por grandes secas, resultou na venda de escravos para outras regiões do país. Numa tentativa de manter o sistema escravocrata no Norte/Nordeste, fazendeiros paulistas conseguiram a proibição legal dessas transações. Com a medida, no entanto, tornou-se inviável sustentar escravos nas fazendas cearenses, o que acelerou o processo de libertação. Desde 1868 já havia uma orientação e verba da Assembléia Provincial para libertar escravos, de preferência do sexo feminino e recém-nascidos.

Começaram a aparecer no Ceará sociedade civis de combate à escravidão, entre elas a loja maçônica Fraternidade Cearense e a sociedade Perseverança e Porvir (1879). Em 1880, surge em Fortaleza a Sociedade Cearense Libertadora, composta por 225 sócios que se reuniram sob o juramento 'matar ou ser morto em bem da abolição'. O jornal Libertador, mantido pelo grupo, denunciava em suas páginas abusos contra escravos e, organizando manifestações públicas, pregava o fim do comércio negreiro.

Em 1881, a campanha abolicionista convenceu os jangadeiros a não transportar mais escravos de uma região a outra. Sob o slogan 'No Ceará não se embarcam mais escravos', o movimento, liderado por Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, ganha apoio total da população.

A campanha se espalha pelo interior. A vila do Acarape, torna-se. em 1883, durante a visita do abolicionista José do Patrocínio, a primeira a libertar seus escravos. A legislação foi fechando o cerco e, em 25 de março de 1884, o imposto sobre a propriedade de escravos tornou-se maior que seu valor de mercado, impulsionando o processo final de abolição. Dados do Ministério da Agricultura indicam que, em pouco mais de um ano, foram soltos mais de 22.000 escravos. A notícia se espalha por todo o país e renova o ânimo dos abolicionistas e escravos do Sul, que inclusive passaram a fugir para o Ceará, onde seriam livres.

Séculos XVII e XVIIIAs terras atualmente pertencentes ao Ceará foram doadas, em 1535, a Antônio Cardoso de Barros, mas este não se interessou em

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colonizá-las e nem sequer chegou a visitar a capitania. Ironicamente, quando Barros decide vir à Capitania do Siará (como era conhecida a região correspondente aos seguintes lotes: Capitania do Rio Grande, Capitania do Ceará e a Capitania do Maranhão), em expedição organizada, o navio naufraga na costa de Alagoas (1556), culminando com sua morte. A primeira tentativa séria de colonização ocorre com Pero Coelho de Sousa, que lidera a primeira bandeira feita em 1603, demonstrando por isso certo interesse em colonizar o Ceará.

A missão dos bandeiristas era explorar o rio Jaguaribe, combater piratas, "fazer a paz" com os indígenas e tentar encontrar metais preciosos. Após construírem o Forte de São Tiago, às margens do Rio Ceará e verificarem a inexistência de riqueza na região, Pero Coelho passou a escravizar índios, que se revoltaram e destruíram o forte, obrigando os europeus a fugirem para as ribeiras do Rio Jaguaribe, onde construíram o Forte de São Lourenço. Devido às hostilidades dos nativos e à seca de 1605-1607, Pero Coelho viu-se obrigado a deixar o Ceará.Em 1612, sob o comando de Martim Soares Moreno (considerado posteriormente o "fundador" do Ceará), foi construído, às margens do Rio Ceará, o Forte de São Sebastião, local conhecido atualmente como Barra do Ceará (divisa entre os Municípios de Fortaleza e Caucaia).

A colonização da região, iniciada no século XVII, foi dificultada pela forte oposição das tribos indígenas e as invasões de piratas europeus. Só tomou impulso com a construção, na embocadura do rio Pajeú, do forte holandês Schoonenborch, que em 1654, foi tomado pelos portugueses e passou a ser chamado Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção. Em volta dessa Fortaleza formou-se a segunda vila do Ceará, a vila do Forte, ou Fortaleza. Depois de muita disputa política entre Aquiraz e Fortaleza, a última passou a ser a capital do Ceará, oficialmente à partir de 13 de abril de 1726 (Data em que se comemora o aniversário da cidade).

Houve duas frentes de ocupação do território cearense: a do sertão-de-fora, controlada por pernambucanos que vinham pelo litoral; e a do sertão-de-dentro, dominada por baianos. Graças à pecuária e aos deslocamentos de pessoas das áreas então mais povoadas, praticamente todo o Ceará foi ocupado ao longo do tempo, levando ao nascimento de várias cidades importantes nos cruzamentos das principais estradas utilizadas pelos vaqueiros, como Icó. Ao longo do século XVIII, a principal atividade econômica cearense foi a pecuária, levando muitos historiadores a falarem que o Ceará se transformou em uma "Civilização do Couro", pois a partir do couro se faziam praticamente todos os objetos necessários à vida do sertanejo através de um rico artesanato.

O comércio do charque foi decisivo para a vida econômica do Ceará ao longo do século XVIII e XIX. Com ele passou a existir uma clara divisão do trabalho entre as regiões do Estado: no litoral se encontravam as charqueadas e, no sertão, as áreas para criação de gado. O charque também permitiu o enriquecimento de proprietários de terras e de comerciantes, bem como o surgimento de um pequeníssimo mercado interno local. Durante o auge do comércio do charque, a principal cidade cearense foi Aracati, de onde eram exportadas mas também floresceram outros centros regionais, como Sobral, Icó, Acaraú, Camocim e Granja.

Outras cidades nasceram a partir de aldeamentos indígenas, onde os nativos (isto é, o que restava deles) eram confinados sob o controle de jesuítas, responsáveis por sua catequização e aculturação. Este foi o caso de cidades importantes como Caucaia (outrora chamada Soure), Crato, Pacajus, Messejana e Parangaba (as duas últimas atuais bairros de Fortaleza). Os indígenas cearenses foram, em sua maior parte, massacrados, embora tenham resistido até o início do século XIX. Um dos maiores exemplos de sua resistência foi a Guerra dos Bárbaros, na qual indígenas de diversas tribos (Cariri,Janduim, Baiacu, Icó, Anacé, Quixelô, Jaguaribara, Canindé, Tremembé, Acriú, etc.) se uniram para lutar contra os conquistadores, resistindo bravamente durante quase 50 anos.

O Ceará torna-se administrativamente independente de Pernambuco em 1799. Nas décadas anteriores, o cultivo do algodão começou a despontar como uma importante atividade econômica, gerando um período de prosperidade para a capitania. Com a recuperação da cotonicultura dos Estados Unidos, o algodão e o próprio Ceará entram em crise, o que explica o envolvimento de cearenses na Revolução Pernambucana de 1817 e na Confederação do Equador.

[editar] Século XIX

O século XIX também foi marcado por alguns movimentos revolucionários e conflitos. Em 1817, alguns cearenses, liderados pela família Alencar, apoiaram a Revolução Pernambucana. O movimento, no entanto, ficou restrito ao Cariri e, especialmente, à cidade do Crato, e foi rapidamente sufocado. Em 1824, já após a independência, os mesmos ideais republicanos e liberais apareceram num movimento mais amplo e organizado: a Confederação do Equador. Aderindo aos revoltosos pernambucanos, várias cidades cearenses, como Crato, Icó e Quixeramobim, demonstraram sua insatisfação com o governo imperial. Após choques com o governo provisório controlado pelo Imperador Dom Pedro I, foi estabelecida a República do Ceará em 26 de agosto de 1824, tendo Tristão Alencar como presidente do Conselho que governaria a província. A forte repressão das forças imperiais, no entanto, derrotaram rapidamente o movimento rebelde devido a diversos motivos: a superioridade militar das tropas do governo federal; a pouca participação popular; as principais lideranças terem sido presas ou mortas.

Outro conflito que se destacou na história cearense foi a Sedição de Pinto Madeira, um violento conflito entre a vila do Crato, liderada por liberais republicanos (com maior destaque para a família Alencar), e a de Jardim, praticamente dominada por Pinto Madeira, de caráter absolutista e autoritário. As duas elites locais disputavam pelo controle político do Cariri cearense. Por fim, os cratenses contrataram o mercenário francês Pierre Labatut e, reagindo com um exército formado por sertanejos humildes, renderam os jardinenses. Pinto Madeira foi julgado sumariamente no Crato, após ser considerado culpado pela morte do liberal José Pinto Cidade.

Também no século XIX, o Ceará sofreu um verdadeiro boom econômico durante o período da Guerra de Secessão (1861-1865) nos EUA, que, afetando a cotonicultura norte-americana, abriu o mercado mundial para o algodão cearense. Foi nesse período que Fortaleza desbancou Aracati do posto de cidade principal do Ceará: o algodão substituía o charque em importância econômica.

No século XIX, um movimento de grande importância aconteceu no Ceará: a campanha abolicionista, que aboliu a escravidão no Estado em 25 de março de 1884, antes da Lei Áurea, que é de 1888. Foi, portanto, o primeiro estado brasileiro a abolir a escravatura. Dentro do Ceará, o primeiro município a abolir a escravatura foi Acarape, que depois do evento, passou a ser chamado de Redenção. O abolicionismo foi favorecido pela pouca importância da escravidão na economia cearense relativamente às outras regiões do Brasil. Contou com o apoio da maçonaria e até mesmo de grupos formados por mulheres da elite do Estado. Além da pequena quantidade de escravos, quando da campanha abolicionista, muitos escravos eram vendidos para o trabalho em outras províncias com maior demanda de trabalho compulsório. Um grande destaque foi para o jangadeiro Francisco José do Nascimento, que se recusou a transportar escravos em sua jangada, ficando conhecido como "Dragão do Mar" (nome de um famoso centro cultural da cidade de Fortaleza).

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Após a proclamação da República no Brasil, em 1889, o quadro político-econômico do Ceará começou a se transformar. Alguns anos depois, teria início a poderosa oligarquia acciolina, que recebeu esse nome por ser comandada pelo comendador Antônio Pinto Nogueira Accioli, que governou o estado de forma autoritária e monolítica entre 1896 e 1912. A situação de desesperadora miséria e abandono social era uma marca profunda do Ceará nessa época, o que levou ao surgimento de diversos movimentos messiânicos ao longo do século XIX e XX, tendo como líderes religiosos Antônio Conselheiro (que formaria na Bahia o arraial de Canudos), Padre Ibiapina, Padre Cícero, Beato Zé Lourenço, etc. Surgiu também outro meio de escapar da miséria: o cangaço. Muitos homens formaram grupos de cangaceiros que saqueavam vilas, assaltavam e amedrontavam a todos.

[editar] Século XX (1900-1930)

O século XX, para o Ceará, foi marcado pelos ciclos de poder dos "coronéis" e por enormes transformações de ordem social e econômica. O século se iniciou no contexto da oligarquia acciolina, comandada, direta ou indiretamente, por Nogueira Accioli de 1896 a 1912. Durante esse período, a família Accioli controlou, literalmente, todas as esferas do poder cearense, desde os altos escalões do Governo estadual até às delegacias.

Então se vivia uma conturbada e violenta campanha eleitoral no Ceará, graças ao Salvacionismo pretendido pelo presidente Hermes da Fonseca, que procurava enfraquecer as oligarquias regionais contrárias ao seu poder. Dentro das política das Salvações, foi lançada a candidatura de Franco Rabelo para o governo, enquanto Accioli apontava como seu candidato Domingos Carneiro. Em Fortaleza, houve uma passeata de crianças em favor de Franco Rabelo, a qual foi repreendida duramente pelas forças policiais, causando a morte de algumas crianças e ferindo outras tantas.

Em conseqüência, a população fortalezense se revoltou contra o governo, mergulhando a capital em verdadeiro estado de guerra civil durante três dias. Accioli teve, então, que renunciar ao governo cearense, tendo como garantia o direito de permanecer vivo e poder fugir do Estado. Franco Rabelo foi eleito para governar o Ceará logo em seguida, mas acabou sendo deposto por outra revolta, a Sedição de Juazeiro, entre 1913 e 1914.

Juazeiro do Norte era uma cidade recém-emancipada do Crato. Seu surgimento se deveu ao carismático Padre Cícero, que, após ter ficado famoso devido ao suposto milagre da Beata Maria de Araújo (cuja hóstia teria se transformado em sangue), conquistou uma imensa massa de sertanejos pobres e religiosos. Muitos passaram a morar em Juazeiro, de modo que em pouco tempo o local possuía milhares de moradores. Como não tinha o apoio da alta hierarquia católica, Padre Cícero procurou evitar que Juazeiro tivesse o mesmo fim trágico de Canudos e aliou-se ao poder político dos coronéis, posicionando-se ao lado da oligarquia de Nogueira Accioli. Embora mantendo a proximidade com o povo, o padre tornou-se, para alguns, um "coronel de batinas".

Franco Rabelo havia, em pouco tempo, perdido o apoio de muitos políticos que o haviam ajudado a chegar ao poder - a Assembléia Legislativa tentou até mesmo, sem sucesso, votar o impeachment do "salvacionista". Os oposicionistas tentaram, então, convocar extraordinariamente a Assembléia Legislativa em Juazeiro e cassaram o mandato de Rabelo. Este, que tinha ainda bastante apoio em Fortaleza, mandou tropas para Juazeiro do Norte, pretendendo derrotar os golpistas. Os sertanejos, incitados pelo Padre Cícero e pelos coronéis, acreditaram ser aquela uma agressão contra o "Padim Ciço". Iniciou-se um verdadeiro clima de guerra santa em Juazeiro. Após meses de combate, os seguidores de Padre Cícero venceram as tropas de Rabelo e iniciaram uma longa marcha até Fortaleza, obrigando Rabelo a renunciar ao governo cearense.

Após a Sedição de Juazeiro, estabeleceu-se um certo equilíbrio entre as oligarquias cearenses, não havendo mais conflitos militares entre elas. O povo, no entanto, continuou reprimido e sem voz.

[editar] Século XX (1930-1945)

A situação política no Ceará se modificaria bastante com a Revolução de 30, que levou ao poder Getúlio Vargas. Durante 15 anos, governaram o Estado interventores do Governo Federal. O primeiro interventor no Ceará foi Fernandes Távora, mas ele governou por pouco tempo, pois continuou com as práticas clientelistas e corruptas do República Velha. Os interventores não tardaram a se acomodar com as elites locais. O quadro político cearense esteve, nesse período, influenciado por duas associações: a Liga Eleitoral Católica (LEC), que, por seus vínculos religiosos e apoio dos latifundiários interioranos, obteve grande penetração no eleitorado cearense e apoiou segmentos fascistas que organizaram a Ação Integralista Brasileira (AIB) no Ceará; e a Legião Cearense do Trabalho (LCT), organização operária conservadora, corporativista, anticomunista e antiliberal (na prática, fascista) que existiu no Ceará entre 1931 e 1937. A LCT, após o exílio de seu líder Severino Sombra por ter apoiado a Revolução Constitucionalista de São Paulo em 1932, foi perdendo poder. Ao voltar do exílio, Sombra abandonou a LCT e fundou a Campanha Legionária, mas não teve sucesso, pois a Igreja prestava agora apoio à AIB e começavam a surgir entidades operárias de esquerda no Estado. Em 1937, por fim, todas as associações de orientação fascista (LCT, AIB e Campanha Legionária) foram extintas pelo Estado Novo de Getúlio Vargas.

Um importante movimento social no período varguista foi o Caldeirão. De forma semelhante a Canudos, ele reuniu cerca de 3 mil pessoas sob a liderança do beato Zé Lourenço, paraibano que chegara a Juazeiro por volta de 1890 e era seguidor de Padre Cícero. Aconselhado por Padre Cícero a se estabelecer na região e trabalhar com algumas das famílias de romeiros, arrendou um lote de terra no sítio Baixa Danta, em Juazeiro do Norte. O sítio prosperou e começou a desagradar a parte da elite, sendo difamado pelos adversários políticos de Padre Cícero. Isso culminou na exigência do dono do sítio Baixa Danta de que os camponeses e o beato deixassem a terra.

Instalando-se no sítio Caldeirão, no Crato, propriedade de Padre Cícero, os camponeses formaram uma pequena sociedade coletiva e igualitária, prosperando tanto que chegaram a vender os excedentes nas cidades vizinhas. O sítio tornou-se, portanto, um "mau exemplo" para os sertanejos e desagradou fortemente à Igreja e aos latifundiários que perdiam a mão-de-obra barata. As difamações culminaram com a acusação de que o beato Zé Lourenço era agente bolchevique! Quando Padre Cícero morreu, em 1934, as terras foram herdadas pelos padres salesianos, e os camponeses do Caldeirão ficaram desamparados. Em setembro de 1936, a comunidade é dispersa e o sítio é incendiado e bombardeado. Zé Lourenço e seus seguidores rumaram, então, para uma nova comunidade. Alguns dos moradores, no entanto, resolveu se vingar e realizaram uma emboscada, matando alguns policiais, o que foi respondido com um verdadeiro massacre de camponeses pelos contingentes policiais (estima-se entre trezentos e mil mortos).

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O início dos anos 40, no Ceará, foi influenciado pela Segunda Guerra Mundial. Em Fortaleza, foi montada uma base norte-americana, mudando os hábitos locais e empolgando a população, que passou a realizar diversos atos, manifestos e passeatas contra o nazismo. Ao mesmo tempo, uma forte propaganda governamental estimulava os sertanejos a migrar para a Amazônia, onde formariam o Exército da Borracha, isto é, explorariam o látex das seringueiras. Milhares de cearenses emigraram para o Norte, muitos dos quais morreram. Porém, estas mortes não foram em vão, já que, graças aos soldados da borracha e sua mais-valia, os Estados Unidos e Aliados puderam combater os exércitos do Eixo sem os seringais da Ásia para abastecê-los.

A luta contra o nazismo e o posicionamento contraditório do governo brasileiro (uma ditadura de base fascista dentro do País lutando contra regimes autoritários fascistas no exterior) precipitaram a derrocada do Estado Novo. Formaram-se os diversos partidos novos, como a UDN, o PSD, o PCB e o PSP. A UDN e o PSD, partidos conservadores e elitistas, dominariam o cenário político cearense pelas próximas décadas, enquanto o PSP, chefiado por Olavo Oliveira, seria, ao menos nos anos 50, o "fiel da balança" nas disputas eleitorais. O primeiro governador após a redemocratização foi Faustino Albuquerque, da UDN. Vale lembrar que, apesar de todas as transformações políticas, o Ceará era então um dos locais mais miseráveis do Brasil.

IGREJA CATOLICA MAIS ANTIGA DO MUNICÍPIO DE MARANGUAPE Fundada em 17 de setembro do ano de 1908, a Igreja católica de Umarizeiras, completará seu centenário, nos diz os mais antigos, que para a construção da capela, foi doado um terreno pelo Senhor, Manoel Cordeiro, o mesmo doou para a construção dacapela no ano de 1908 no mes de janeiro. porem as pessoas que ajudaram na contrução da capela, porque precisavam se reunir para fazer orações e súplicas, os mesmo, como Maria do Rosário, uma das que mais contribuiu para que esse projeto de Deus fosse continuado, joca, e outras mais pessoas.

Foram até a grande serra ao lado que antes pertencia a um Portugues que viera para essas terras um tempo depois do descobrimento do Brasil aproximadamente no ano de 1853. Onde o mesmo doou madeiras, os tijolos foram feitos e assim foi construida a capela. Com muito esforço e garra. No ano de 1917 foi feito o 1º casamento de Izaura e Joaquim. Com a visita de Dom Raimundo em Nossa Comunidade ele ficava ao lado da capela e dizia: "Umarizeiras um Pedacinho do Céu"

Fonte: Ceara Cultura. Redigida por carlos Eduardo Pereira Nascimento, historiador , e filósofo. Secretaria de Cultura e Patrimonio histórico do ceara.

O Ceará no Processo Civilizatório

DE 02 DE FEVEREIRO DE 1500 A 13 DE ABRIL DE 1726

Não é verdade que o Brasil foi descoberto a 22 de abril de 1500, no Monte Pascoal, região do Trancoso na Bahia: o fato concreto é que o Navegador espanhol do Navio Nina, Vicente Pinzon, da Frota de Cristóvão Colombo, esteve aqui no Mucuripe muito antes de Cabral partir de Portugal, comandando uma flotilha composta por 4 caravelas. A descoberta não entrou nos registros oficiais em conseqüência das determinações do célebre Tratado de Tordesilhas que demarcava estas Terras como pertencentes a Coroa Portuguesa. E a Espanha não tinha interesses de entregar de bandeja um prato cheio desses como a descoberta de terra abaixo da linha do equador. Para eles era pecado mesmo, e capital!

O descobridor Vicente Pinzon chegou a batizar a Terra Nova com o nome de Santa Maria de la Consolación, a 2 de Fevereiro de 1500, correspondendo aqui ao dia de Nossa Senhora das Candeias; era praxe batizar as terras descobertas com o nome do santo do dia. Pouco depois, uma outra expedição espanhola, comandada por Diogo Lepe deixou nas Terras cearenses, no mesmo local onde esteve o comandante da Nau Nina, marco de sua passagem, de presente, uma grande cruz de madeira.

Portanto dois meses antes do Português Pedro Alvares Cabral descortinar o Monte Pascoal, a Ponta Grossa do Mucuripe, atual Castelo Encantado, já estava nos mapas náuticos da coroa espanhola.

Em 1534 houve a divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias, coube o Ceará ao Português Antônio Cardoso de Barros, que ao contrário dos espanhóis, nunca pôs os pés neste chão sagrado. Em 1539 foi designado Luís Melo da Silva para a tarefa não cumprida por Cardoso de Barros, este veio, ou melhor tentou; naufragou nos mares do Maranhão.

No decorrer de todo o século XVI o Ceará esteve entregue as baratas, ou melhor, aos corsários piratas e toda sorte de aventureiros clandestinos que faziam comércio com os índios, o que sobrou de lembrança destes velhos tempos são estes loirinhos que andam por todo o litoral cearense e ninguém sabe de onde vem.

Curiosamente quando o Ceará entra oficialmente na História do Brasil encontrava-se Portugal sob o domínio espanhol que riscou do mapa a linha do famoso meridiano de Tordesilhas que de fato nunca ninguém seguiu a risca. Isto se deu no ano da graça de 1603 e o desbravador não era português ou espanhol e sim o açoriano Pero Coelho de Sousa, desbravador audaz que obteve do 8º Governador Geral do Brasil, Diogo de Botelho, o Título para obter privilégios indispensáveis para a ousada Bandeira : Capitão-Mor.

Em julho seguiram 65 soldados e 200 índios pela beira Mar, da Paraíba ao Ceará. Só descansaram na embocadura do rio Pirangi, que foi batizado de Siará, onde ficaram todo o resto do ano. Até que em excursão na região de Ibiapaba depararam-se com piratas franceses, era 18 de janeiro de 1604 e o planalto da Ibiapada foi palco da primeira batalha registrada nos anais da nossa história, onde 17 companheiros tombaram mortos; mas a vitória foi nossa, aprisionamos 10 mosqueteiros franceses e fizemos a paz com os mourubixabas: Irapuã, Diabo Grande e Ibaúna . Pero Coelho ganhou fama prestígio e o nome de Punaré.

De volta ao acampamento na Barra do Siará. O Capitão-Mor resolve erguer um pequeno Forte que recebeu o nome de São Tiago. E um Arraial iniciou-se na imediações com a denominação de Nova Lisboa.

Em 1605 - 1606, Pero Coelho de Sousa registra a primeira seca da história do Nordeste Brasileiro, o terrível flagelo é inclemente e fulmina seus dois filhos pequenos de sede (logo ele que trouxe água de côco para o Ceará), em seguida o filho mais velho de inanição, o que deixa o açoriano prostrado. É aí que entra a figura da Mulher na história do Ceará, sua esposa Tomásia toma a frente da trágica retirada e guia

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com energia titânica e determinação os sobreviventes. Dos 65 homens brancos e 200 índios que saíram regressaram pouco mais de meia dúzia deles, semi nus e semi mortos chegam ao Forte dos Reis Magos. O velho temido Punaré, dos índios tabajaras, morre três meses depois em Lisboa, caluniado, sem dinheiro sequer para a mortalha. Não acreditaram na história da seca.

Em 1607 veio a Companhia de Jesus, os padres Francisco Pinto e Luís Filgueira, já que Pero Coelho não trouxe nenhum sacerdote na sua aniquilada bandeira, mas eles seguiram o mesmo intinerário, à beira mar. Os acompanhavam 60 índios rezando o terço, cantando a ladainha e recitando o ofício de Nossa Senhora. Em pouco tempo aqueles homens que não tinham mulheres nem aceitavam as deles, fizeram amizades com os índios tabajaras, chamavam o padre Pinto de Pai Pina ou Amanaiara "o que faz chover". Fez amizades com grandes caciques como Diabo Grande, Algodão, Cobra Azul, Milho Verde...

Os padres fundaram aldeias e missões como: Parangaba, Caucaia, Paupina, Pavuna, e Santo Antônio de Pitaguari... Até que a 11 de Janeiro de 1608, pela manhã, numa pequena capela de madeira e palha de catolé no alto da Serra da Ibiapaba, o ataque dos índios Tocarijus resultou em incêndio e morte de muitos, entre eles o Padre Francisco Pinto no momento que celebrava o santo ofício.

Padre Luís Filgueiras escapou protegido pelo filho do Tuxaua Diabo Grande, rumou de volta a Barra do Ceará e construiu um povoado com o nome de S. Lourenço, a 10 de Agosto, mais uma vez no dia do santo. Ergueu uma formosa cruz de cedro lavrada. Seguiu em um barco com Jerônimo de Albuquerque, Governador do Rio Grande do Norte a 20 de agosto de 1608. Estes Padres formaram um forte pacto entre os índios e a suas memórias foram reverenciadas por anos a fio.

O Ceará ficou abandonado por mais 4 anos, eram tragédias demais. Até que a 20 de janeiro de 1612, dia de São Sebastião, chega o Jovem Martins Soares Moreno, um dos poucos sobreviventes da frustrada Bandeira de Pero Coelho (1603-1606). Com ele a conquista definitiva do Ceará. A principio só 1 padre e seis soldados. Logo construiu um Fortim de madeira no mesmo local dos escombros da fortificação do S. Tiago da sonhada Nova Lisboa do Capitão Açoriano. Só mudou o nome claro: S. Sebastião. Martins Soares Moreno conhecia a língua e interagiu rapidamente com o nativo. Porém com um ano aqui, já teve que partir para expulsar os franceses do Maranhão. Foi para a Terra Timbira com Jerônimo de Albuquerque e só retornou em 1621, passados quase dez anos, para encontrar a aldeota em situação de no mínimo penúria; mas a fez reflorescer com vigor em justamente uma década de labuta e desta vez quem pede socorro é outro Albuquerque, o Matias de Pernanbuco, e não eram franceses, eram holandeses - Guararapes - nunca mais voltou ao Ceará. Regressou a Portugal depois de 45 anos servindo ao Brasil.

Capistrano de Abreu escreveu: "ele sintetiza e simboliza toda a história do Ceará" e Álvaro Martins, referindo-se ao eterno enamorado da Virgem dos Lábios de Mel, fez o Poema:

Martins Soares Moreno, De cavalheiresco ardor, Por amor à índia formosa, Virgem de morena cor Fundou a Pátria ditosa Da liberdade e do amor.

Tinha que ter uma mulher, era Iracema que se você ler de traz para frente e trocar a colocação de uma letra, encontra a palavra América. Escrito por José de Alencar, o romance símbolo do nativismo e da Brasilidade do nosso povo, assim se refere à musa do guerreiro Branco: "Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque seu hálito perfumado ... O pé grácil e nu mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra..." (era só o pé nu Alencar?)... "Iracema saiu do banho; o aljôfar da água ainda roreja, como a doce mangaba que corou em manhã de chuva..." É bom parar por aqui Alencar, doce mangaba que corou em manhã de chuva. Virge Maria

Depois de tomar posse de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. A 26 de outubro de 1637, a expedição holandesa comandada por Jorge Gartsman e o Coronel Hendrick Huss chega ao Forte de S. Sebastião e o toma em assalto ligeiro, 126 homens bem armados contra 33, com pouca munição e armas deficientes, foi "canja". Comandava o Forte, o Português Bartolomeu de Brito Freire, que seguiu preso para Recife com vários feridos.

Em 1641, os holandeses foram substituídos por Gedion Morris, que trouxe o pintor Franz Post, este fez os primeiros retratos de Fortaleza. Sete anos depois, em 1644, uma insurreição dos índios contra os holandeses aniquilou todos, até o comandante, e destruiu completamente o Forte. Os homens de Maurício de Nassau não encontraram o sal e o âmbar que procuravam..., mas voltaram, desta vez com 300 homens, lotando barcos e iates, e a 3 de abril de 1649, comandados por Matias Beck, chegaram na enseada do Mucuripe e foram se estabelecer à margem do Riacho Marajaitiba, mais tarde Telha e finalmente Pajeú. O riacho estava ao sopé de uma bela colina sombreada de coqueiros plantados pelo Capitão-Mor Pero Coelho.

A 10 de Abril, o engenheiro Ricardo Caar iniciou a construção do Forte que levava o nome do então Governador de Pernambuco, de nome impronunciável até hoje: Schoonenborch. Para onde vieram todos os escombros da Vila Velha da Barra do Ceará.

Matias Beck foi o real fundador do povoado que mais tarde passaria a se chamar Fortaleza, ficou aqui até o ano de 1654 e durante todo este tempo procuravam a prata preciosa de Itarema que até hoje ninguém viu...

Matias Beck fez a entrega da praça de guerra ao Capitão Álvaro de Azevedo Barreto, herói dos Guararapes. Ele simplesmente mudou o nome do Forte para Nossa Senhora da Assunção e construiu uma pequena ermida entregando-a ao padre Pedro Morais. Os índios, que teimavam continuar na Barra do Ceará, aos poucos vieram para a foz do Pajeú, os de outros arrebaldes o seguiram.

Com a expulsão dos Holandeses, a Capitania do Ceará que estava sob o julgo do Governo do Maranhão, de 1556 a 1621, passou ao domínio pernambucano, e assim permaneceu até 1799.Até que se tornou independente, ou melhor, dependente diretamente de Portugal. A vila de Fortaleza foi instalada a 13 de abril de 1726, com a pompa e solenidade presidida pelo capitão-mor Manuel Francês, por resolução do Conselho Ultramarino de 11 de março de 1723, que criava a Vila de Fortaleza do Ceará Grande.

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Autor do Texto: Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Júnior. Funcionário Público da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, escritor e escultor.