historia de mt

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1 SUMÁRIO Parte I: Colônia .......................................................................................................... 3 Capitulo 1: As bandeiras e o início da colonização de Mato Grosso ................................ 3 Capitulo 2: Administração das Minas ............................................................................. 7 Capítulo 3: O abastecimento das Minas ........................................................................ 10 Capítulo 4: Fronteira no Século XVIII.......................................................................... 12 Capítulo 5: Sociedade da Mineração............................................................................. 16 Capítulo 6: Transferência da Capital de Vila Bela para Cuiabá ..................................... 22 Atividades ..................................................................................................................... 26 Parte II: Império .......................................................................................................... 34 Capitulo 7: Rusga ......................................................................................................... 34 Capitulo 8: Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870) ..................................................... 38 Capítulo 9: A cidade de Cuiabá na segunda metade do século XIX.............................. 43 Capitulo 10: Quadro econômico de Mato Grosso (1870/1930) ..................................... 44 Capitulo 11: Transição do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em Mato Grosso ... 54 Atividades ..................................................................................................................... 58 Parte III: República ..................................................................................................... 66 Capitulo 12: A República em Mato Grosso .................................................................. 66 Capítulo 13: Movimentos sociais que marcaram o período republicano em Mato Grosso .................................................................................................................................... 72 Capítulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso ........................................................... 77 Capítulo 15:Nos trilhos da Modernidade ...................................................................... 79 A Construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ............................................... 79 Estrada de Ferro Madeira Mamoré......................................................................... 81 Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré.............................................. 84 Capítulo 16: Comissão Rondon: Construção das Linhas Telegráficas ........................... 85 Serviço de Proteção ao índio .................................................................................... 87 A Política do Índio na República .............................................................................. 88 Expedição Roosevelt- Rondon.................................................................................. 89 Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso ..................................................................... 90 Governo Provisório de Vargas (1930-1934).............................................................. 91 Tanque Novo............................................................................................................ 92 Estado Novo (1937-1945) ........................................................................................ 94 A Administração de Julio Müller em Mato Grosso ................................................... 95 Marcha para o Oeste................................................................................................. 96 Expedição Roncador-Xingu ...................................................................................... 98 Capítulo 18: República Populista em Mato Grosso ....................................................... 99 Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985) ............................. 101 Colonização do Norte de Mato Grosso ................................................................... 102 A Divisão de Mato Grosso ..................................................................................... 105 Capítulo 20: A Nova República em Mato Grosso ....................................................... 107 Atividades ................................................................................................................... 113 Referências Bibliográficas ....................................................................................... 121

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História de Mato Grosso

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    SUMRIO

    Parte I: Colnia .......................................................................................................... 3 Capitulo 1: As bandeiras e o incio da colonizao de Mato Grosso ................................ 3

    Capitulo 2: Administrao das Minas ............................................................................. 7

    Captulo 3: O abastecimento das Minas ........................................................................ 10

    Captulo 4: Fronteira no Sculo XVIII .......................................................................... 12

    Captulo 5: Sociedade da Minerao............................................................................. 16

    Captulo 6: Transferncia da Capital de Vila Bela para Cuiab ..................................... 22

    Atividades ..................................................................................................................... 26

    Parte II: Imprio .......................................................................................................... 34 Capitulo 7: Rusga ......................................................................................................... 34

    Capitulo 8: Guerra da Trplice Aliana (1864-1870) ..................................................... 38

    Captulo 9: A cidade de Cuiab na segunda metade do sculo XIX.............................. 43

    Capitulo 10: Quadro econmico de Mato Grosso (1870/1930) ..................................... 44

    Capitulo 11: Transio do Trabalho Escravo para o Trabalho Livre em Mato Grosso ... 54

    Atividades ..................................................................................................................... 58

    Parte III: Repblica ..................................................................................................... 66 Capitulo 12: A Repblica em Mato Grosso .................................................................. 66

    Captulo 13: Movimentos sociais que marcaram o perodo republicano em Mato Grosso

    .................................................................................................................................... 72

    Captulo 14: A Coluna Prestes em Mato Grosso ........................................................... 77

    Captulo 15:Nos trilhos da Modernidade ...................................................................... 79

    A Construo da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ............................................... 79

    Estrada de Ferro Madeira Mamor......................................................................... 81 Trabalhadores da Estrada de Ferro Madeira - Mamor .............................................. 84

    Captulo 16: Comisso Rondon: Construo das Linhas Telegrficas ........................... 85

    Servio de Proteo ao ndio .................................................................................... 87

    A Poltica do ndio na Repblica .............................................................................. 88

    Expedio Roosevelt- Rondon .................................................................................. 89

    Capitulo 17: Era Vargas em Mato Grosso ..................................................................... 90

    Governo Provisrio de Vargas (1930-1934).............................................................. 91

    Tanque Novo ............................................................................................................ 92

    Estado Novo (1937-1945) ........................................................................................ 94

    A Administrao de Julio Mller em Mato Grosso ................................................... 95

    Marcha para o Oeste ................................................................................................. 96

    Expedio Roncador-Xingu ...................................................................................... 98

    Captulo 18: Repblica Populista em Mato Grosso ....................................................... 99

    Capitulo 19: Mato Grosso durante a Ditadura Militar (1964-1985) ............................. 101

    Colonizao do Norte de Mato Grosso ................................................................... 102

    A Diviso de Mato Grosso ..................................................................................... 105

    Captulo 20: A Nova Repblica em Mato Grosso ....................................................... 107

    Atividades ................................................................................................................... 113

    Referncias Bibliogrficas ....................................................................................... 121

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    Parte I: Colnia

    Capitulo 1: As bandeiras e o incio da colonizao de Mato Grosso

    Para abordamos a fase inicial da colonizao do Mato Grosso, preciso mencionar

    o processo de colonizao do Brasil.

    A colonizao do Brasil foi um empreendimento da Coroa Portuguesa e se deu no

    incio do sculo XVI e esteve inserida nos moldes do mercantilismo.

    A poltica mercantilista caracterizou o Estado Moderno e teve como objetivo o

    fortalecimento do Estado e o enriquecimento da burguesia. Para alcanar os seus objetivos,

    a poltica mercantilista seguiu alguns princpios bsicos:

    a base da riqueza de um pas era medida pelo acmulo de metais preciosos.

    cabia ao Estado manter uma balana comercial favorvel, isto , as exportaes deveriam ser maior que as importaes.

    o protecionismo aos produtos nacionais evitando desta maneira que mercadorias semelhantes ou iguais entrassem no pas.

    o estabelecimento de colnias para a produo de matrias-primas baratas, assim como a explorao das riquezas minerais ajudariam a suprir as necessidades bsicas das

    metrpoles.

    o pacto colonial que estabeleceu que as colnias somente podiam comercializar com as suas metrpoles e a criao de Companhias de Comrcio que garantiam o monoplio

    do sistema colonial.

    Assim os estados europeus, que adotaram o mercantilismo tinha como preocupao

    resguardar s suas colnias dos demais pases, e por isso se empenharam em cuidar

    diretamente da administrao, impondo a colnia uma pesada cobrana de impostos.

    Entretanto a medula do sistema colonial, residia no pacto colonial. no pacto colonial

    que est a explorao mercantil, que a colonizao incorporou da expanso comercial,

    da qual foi um desdobramento.1

    Nos primeiros trinta anos do descobrimento, Portugal no se empenhou em implantar um sistema administrativo no Brasil, uma vez que o seu interesse maior era o

    comrcio das especiarias no Oriente. Nos primeiros anos da descoberta, o governo portugus preocupava-se somente em enviar expedies de reconhecimento e explorar o

    pau-brasil existente na Mata Atlntica.

    A poltica portuguesa com relao ao Brasil mudou somente a partir de 1530,

    quando inicia-se de forma efetiva a colonizao. Essa mudana de postura ocorreu

    devido aos ataques de contrabandistas franceses no litoral brasileiro e pelo

    enfraquecimento do comrcio de especiarias.

    Assim seguindo as determinaes de Dom Joo III, rei de Portugal, a expedio de

    Martim Afonso de Sousa chegou ao Brasil em 1530. Essa expedio visava expulsar os

    franceses do litoral, observar as caractersticas geogrficas da nova terra e fundar

    povoamentos.

    1 Novaes, Fernando. O Brasil nos moldes do Antigo sistema colonial. In:Brasil em Perspectiva, p19.

  • 4

    Para iniciar a colonizao foi implantando na colnia o sistema de Capitanias

    Hereditrias, isto , o governo portugus dividiu as terras e resolveu do-las para

    elementos da nobreza. Desta forma, o governo portugus estava transferindo o custo da

    colonizao aos particulares.

    Concomitantemente a implantao das Capitanias Hereditrias, a metrpole decidiu

    escolher a cana-de-acar como produto econmico para promover o projeto

    colonizador.

    A opo pela cana-de-acar explica-se pela experincia de Portugal no cultivo

    deste produto, nas suas colnias africanas, isto , Aores, Cabo Verde e Madeira. Outro

    fator importante foi a vastido de terras, as condies climticas e geogrficas (solo

    massap), assim como a existncia de um mercado consumidor na Europa.

    O plantio da cana-de-acar e a produo de seus derivados se deu inicialmente em

    So Vicente, e posteriormente na regio nordeste, porm a Capitania do Pernambuco foi

    a principal produtora.

    A produo do acar ocorreu atravs do sistema de plantation: produo agrcola

    baseada no latifndio (grande propriedade de terra), monocultura ( somente produo

    de acar), com mo-de-obra escrava e voltada para atender o mercado externo.

    O sucesso deste empreendimento econmico se deu tambm pela participao dos

    holandeses, que financiavam a produo. A maquinaria para os engenhos, instrumentos

    de trabalho e aquisio de escravos africanos eram financiados pelos holandeses, que

    em troca receberam o monoplio do refino e da distribuio do acar no mercado

    europeu.

    Enquanto o acar representava a riqueza das capitanias do nordeste, a Capitania de

    So Vicente no obteve com este produto o mesmo sucesso, pois a sua produo no

    podia concorrer com a capitania do Pernambuco e da Bahia, pois a capitania de So

    Vicente era distante dos mercados europeus e o solo dessa regio era imprpria para a

    agricultura. Portanto, esses fatores acarretaram na decadncia do acar em So

    Vicente.

    Com a decadncia aucareira, So Vicente tentou ainda desenvolver uma agricultura

    de subsistncia cultivando arroz, feijo e milho.

    A populao de So Vicente diante da pobreza resolveu investir em outros

    empreendimentos para superar a crise econmica, entretanto, tudo foi em vo. Assim

    diante destas circunstncias, o homem do planalto vicentino buscou nas bandeiras a

    sada para a sua crise.

    Na tentativa de superar a crise econmica que abatia a capitania, as bandeirantes

    enfrentaram os perigos, as incertezas do serto para aprisionar ndios, que eram

    conduzidos para o planalto paulista para serem usados como mo-de-obra. Assim

    muitos jovens da Capitania partiam para o interior da colnia em busca de cativos e

    para montar as suas expedies recebiam ajuda financeira dos pais ou do sogro, que

    financiam as expedies pensando em aumentar os seus lucros. Essas expedies

    contavam com a presena de sertanistas, que conduziam os jovens na viagem. Portanto,

    nem todos os paulistas eram bandeirantes por vocao.2

    As bandeiras consistiam em grupos de homens que saiam organizados em

    expedies particulares com o objetivo de penetrar pelos sertes a procura de, ndios

    2 Monteiro, John Manuel. Negros da Terra: ndios e bandeirantes nas origens de So Paulo, p.86-87.

  • 5

    para o cativeiro, de negros foragidos da escravido e posteriormente procura de metais

    preciosos.

    As bandeiras eram organizadas militarmente, sendo compostas de centenas de

    homens. Alm dos paulistas, muitas bandeiras eram compostas de estrangeiros,

    desertores e fugitivos da justia.

    Para adentrarem no serto, os bandeirantes usavam principalmente os caminhos

    fluviais. Ao atravessarem os rios, enfrentavam vrios obstculos como cachoeiras,

    corredeiras e saltos. Para sanar essas dificuldades, optavam muitas vezes em continuar a

    viagem p. Por isso era comum, os bandeirantes transportar barcos e canoas por terra.3

    Os bandeirantes, logo perceberam que para superar as dificuldades precisavam

    domar a natureza, e para isso buscaram o saber indgena. Alis, a presena de ndios nas

    expedies foi fundamental, pois eram utilizados como guias, batedores, coletores de

    alimentos ou guarda-costa da expedio.4

    Cabia aos ndios guiarem os paulistas pelos rios, carregar as mercadorias, procurar

    nas matas os frutos silvestres, as razes, lagartos e cobras para saciar a fome dos

    bandeirantes. Nas viagens mais longas, os bandeirantes estabeleciam pequenos arraias e

    roas para abastecer os sertanistas. Nestas expedies, as vezes, alguns ndios eram despachados com antecedncia para plantar os alimentos que serviriam para sustentar

    o corpo principal da expedio e os cativos na viagem de regresso.5 Muitas destas

    roas acabaram dando origem a povoaes no interior do Brasil, a exemplo disso temos

    em Mato Grosso; o Arraial de So Gonalo.

    No decorrer da viagem ao ficarem doentes, os bandeirantes buscavam

    principalmente na medicina indgena o tratamento adequado para curar os seus males.

    No estamos afirmando com isso que desprezavam a sua medicina, pois traziam

    tambm em sua bagagens maletas com poes e bisturis para a prtica da sangria.

    Para o confronto com os ndios que resistiam a sua dominao, os paulistas

    utilizavam arcos e as flechas, lanas, faces, machados, mas no dispensavam o uso das

    armas de fogo como a espingarda e a carabina.

    Desta maneira, podemos verificar que para alcanar os seus objetivos e enfrentar as

    dificuldades impostas pelo cotidiano, os bandeirantes dominaram os ndios, destruram

    aldeias inteiras e ainda se apropriaram do seu conhecimento.

    Inserir uma imagem de bandeirante

    As bandeiras e a conquista do serto mato-grossense

    Em 1674, a bandeira de Ferno Dias Falco encontrou em Minas Gerais uma

    pequena quantidade de ouro, e em 1694, Bartolomeu Bueno da Silva descobriu jazidas

    de aurferas na Serra de Itaberaba. A descobertas destas minas correram pela colnia,

    chegou a Portugal, atraindo muitos aventureiros a regio.

    3 Chiavenato, Julio. Bandeirismo: Dominao e Violncia, p.76. 4 Priore, Mary. O Livro de Ouro da Historia do Brasil, p.87. 5 Monteiro, John Manuel, Negros da Terra: ndios e bandeirantes na origem de So Paulo, p.90

  • 6

    A chegada desses aventureiros causou um descontentamento nos paulistas, que

    passaram a chamar pejorativamente os forasteiros de emboabas. Tal atitude e a ganncia pelo ouro acabou provocando um conflito entre os paulistas e os portugueses

    que vieram em busca do ouro em Minas Gerais; a Guerra dos Emboabas.

    Nesse embate, os portugueses foram vitoriosos e aps o conflito, o governo

    portugus passou a controlar as minas. Os paulistas diante da derrota resolveram

    continuar as suas incurses pelo interior.

    Foi nesse contexto histrico que se deu a chegada dos paulistas ao atual Estado de

    Mato Grosso.

    Inicialmente, os paulistas chegaram a essa regio com a inteno de buscar ndios

    para a escravido. Apesar da legislao portuguesa combater escravizao do ndio, o

    comrcio de negros da terra (ndios) era bastante freqente.

    Os paulistas ao entrarem em Mato Grosso, logo perceberam que na regio

    habitavam muitas tribos ndigenas, como os Coxipon, Beripocon, Bororo, Paresi ,

    Caiap, Guicuru, Paiagu e muito outros grupos.

    Assim muitos paulistas penetraram por estes sertes interessados na captura destes

    ndios. No entanto, foi com a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, que os interesses dos

    paulistas e de Portugal cresceriam por esse territrio.

    Em 1718, o bandeirante Antnio Pires de Campos chegou a regio do Coxip-

    Mirim para aprisionar o ndio Coxipon para lev-lo para So Paulo. No ano seguinte, a

    bandeira de Pascoal Moreira Cabral avanou p essa regio procura do ndio

    coxipon, e acabou encontrando ouro. Segundo o cronista Barbosa de S, os homens da

    bandeira ao lavarem os seus pratos no rio Coxip acabaram encontrando o ouro por

    acaso.

    A presena da bandeira de Pascoal Moreira Cabral naquele local incomodou os

    indios aripocon, que acabaram atacando os paulistas. A sorte destes bandeirantes foi

    que neste instante, a bandeira dos Irmos Antunes chegou e prestou socorro a Pascoal

    Moreira Cabral e os seus homens..

    Aps o combate com os ndigenas, os bandeirantes fundaram o Arraial da

    Forquilha, que recebeu esse nome por estar localizado na confluncia dos rios Coxip,

    Peixe e Mutuca. Assim a expedio de Pascoal Moreira Cabral deu incio a colonizao

    da regio.

    Em 1722, o paulista Miguel Sutil chegou a regio com o propsito de fazer uma

    visita a sua roa. O bandeirante pediu aos dois ndios que estavam em sua companhia

    que fossem buscar mel. Alis, como j mencionamos anteriormente, o mel, as frutas

    silvestres e as razes eram usados na alimentao dos bandeirantes, e encontr-las era

    uma das tarefas dos slvicolas.

    Os ndios de Miguel Sutil retornaram somente ao anoitecer e ao serem admoestados

    pelo bandeirante, o mais ladino respondeu-lhe: vos viestes buscar ouro ou a buscar mel.6 A seguir, os ndios colocaram na mo de Miguel Sutil o ouro encontrado.

    Na madrugada, o paulista colocou os gentios para mostrar o lugar no qual haviam

    encontrado o ouro. Este achado estava nas proximidades do crrego da Prainha, e

    passou a ser denominado de Lavras do Sutil. Havia tanto ouro nessas minas, que as

    6 Correa Filho, Virglio.Histria de Mato Grosso, p.206.

  • 7

    Lavras do Sutil foram consideradas como a maior mancha que teria se encontrado no Brasil.7

    A notcia da descoberta chegou ao Arraial da Forquilha, levando muitas pessoas a

    migrarem para as Lavras do Sutil. Assim teria incio o povoamento s margens do crrego da Prainha dando origem a atual cidade de Cuiab.

    Capitulo 2: Administrao das Minas

    Nas narrativas dos primeiros portugueses que aportaram no Brasil bastante

    evidente o sonho de encontrar metais preciosos.

    Assim a notcia do descobrimento de ouro e prata pelos espanhis no Potos, aguou

    mais ainda o desejo do governo metropolitano em descobrir ouro e prata na sua colnia.

    Com isso, Portugal preparou expedies para penetrar em direo ao interior.

    Essas expedies deveriam reconhecer as potencialidades econmicas da terra

    brasileira, e ainda verificar se havia no interior a existncia de minerais.

    Naquele perodo o desejo pelas riquezas minerais povoou o imaginrio dos

    europeus, que acreditavam na existncia no interior da Amrica de uma montanha de Prata de um reino branco em um pas mtico denominado de Paitati. Ainda acreditavam na existncia de uma serra resplandecente de prata e esmeraldas que ficava

    nas cabeceiras do rio So Francisco.8

    Apesar de todo o interesse na busca dos metais preciosos, as expedies oficiais

    fracassaram e foi somente ao final do sculo XVII, que apareceram as primeiras

    notcias de um descobrimento de ouro significativo na regio das Gerais.

    A descoberta destas minas acarretou em um intenso fluxo migratrio para aquela

    regio. Segundo as estimativas do perodo, em 1776, a populao de Minas Gerais,

    excluindo os ndios, superava a 300 mil almas o que representava 20% da populao total da Amrica Portuguesa e o maior aglomerado da colnia. 9

    Alm desse processo migratrio para o interior da colnia, o governo portugus

    criou um aparato administrativo que visava fiscalizar as minas evitando o contrabando.

    Em 1707, para garantir o recolhimento dos impostos, o governo metropolitano

    promulgou o Regimento das Minas. Esse regimento foi responsvel pela criao de

    uma instituio fiscalizadora, a Intendncia das Minas.

    7 Idem, p.207. 8 Vilela, Jovam.. O Antemural de todo o interior do Brasil:a fronteira possvel. In: Territrios e Fronteiras.

    P.79. 9 Maxwell, Kenneth, Silva, Maria Beatriz. O Imprio luso-brasileiro, p.16.

  • 8

    A Intendncia das Minas deveria julgar todas as questes surgidas entre os

    mineradores, assim como fazer a distribuio das datas (lotes para o minerador

    explorar).

    A legislao portuguesa estabeleceu tambm que a quinta parte (20%) do ouro

    extrado nas minas pertencia a Portugal. Entretanto a sede pelo ouro e a ganncia de

    Portugal levou a metrpole a implantar nas minas outros impostos, como por exemplo,

    a capitao e a derrama.

    Em Mato Grosso, veremos que a histria no seria diferente...

    Com a descoberta do ouro no rio Coxip-Mirim formou-se neste local um ncleo

    populacional; o Arraial da Forquilha.

    A populao do arraial era composta pelos integrantes da bandeira dos irmos

    Antunes e da bandeira de Pascoal Moreira Cabral, que aps vencerem a resistncia dos

    ndios fundaram o arraial celebrando uma missa em oferenda a Nossa Senhora da Penha

    de Frana e lavraram a Ata de Fundao,

    Aos oito dias do ms de abril da era de mil setecentos e dezenove anos, neste

    arraial de Cuiab, fez junta o Capito-Mor Pascoal Moreira Cabral com seus

    companheiros e ele requereu a eles este termo de certido para a notcia do

    descobrimento novo que achamos no ribeiro do Coxip, invocao de Nossa Senhora

    da Penha de Frana, depois que foi enviado, o Capito Antnio Antunes com as

    amostras do ouro que levou do ouro aos Senhor General. Com a petio do dito

    Capito-Mor, fez a primeira entrada aonde assistiu um dia e achou pinta de vintm e

    de dois e de quatro vintns a meia pataca, e a mesma pinta fez na segunda entrada em

    que assistiu, sete dias, ele e todos os seus companheiros s suas custas com grandes

    perdas e riscos em servio de Sua Real Majestade. E como de feito tem perdido oito

    homens brancos, negros e que para que a todo tempo v isto a notcia de sua Real

    Majestade e seus governos para no perderem seus direitos e, por assim, por ser

    verdade, ns assinamos todos neste termo o qual eu passei e fielmente a f do meu

    ofcio como escrivo deste arraial. Pascoal Moreira Cabral, Simo Rodrigues Moreira,

    Manoel dos Santos Coimbra, Manoel Garcia Velho, Baltazar Ribeiro Navarro, Manoel

    Pedroso Louzano, Joo de Anhaia Lemos, Francisco de Sequeira, Aseno Fernandes,

    Diogo Domingues, Manoel Ferreira, Antonio Ribeiro, Alberto Velho Moreira, Joo

    Moreira, Manoel Ferreira Mendona, Antonio Garcia Velho, Pedro de Godois, Jos

    Fernandes,Antnio Moreira, Jos Paes Silva. 10

    Coube aos irmos Antunes levar a notcia da descoberta do ouro Capitania de So

    Paulo informando ao governador, Pedro de Almeida Portugal sobre o ocorrido.

    Nesse nterim, a populao do arraial da Forquilha elegeu Pascoal Moreira Cabral

    como Guarda-Mor Regente. Um dos atributos de Pascoal Moreira Cabral seria a de

    defender o arraial de invases. Entretanto a eleio deste bandeirante contrariava o

    pacto colonial, uma vez que este estabelecia que a colnia estava subordinada a

    metrpole. Assim competia a metrpole tomar as decises administrativas.

    Desta forma, o governo portugus no confirmou a nomeao de Pascoal Moreira

    Cabral, e em 1724, nomeou como Capito-Mor Ferno Dias Falco e para o cargo de

    Superintendente Geral das Minas, Joo Antunes Maciel.

    10 S, Barboza, p.18

  • 9

    Pascoal Moreira Cabral ficou extremamente insatisfeito com a deciso do governo

    metropolitano, e por isso solicitou novamente ao rei a confirmao da sua funo

    administrativa. Em correspondncia enviada a Portugal, o bandeirante alegou por seis anos nestes sertes, ocupado no servio real servio de Vossa Majestade, trazendo em

    minha companhia 56 homens brancos, fora escravos e servos, sustentando-os a minha

    custa e ainda acrescentou que perdera um filho e quinze homens brancos e alguns escravos e achava-se destitudos de cabedais e com famlia de mulher e duas filhas e

    filho, peo a Vossa Majestade ponha os olhos os neste seu leal vassalo como for

    servido. 11 Apesar de todas as consideraes tecidas pelo bandeirante paulista, o governo metropolitano confirmou a nomeao de Ferno Dias Falco.

    A nomeao de Ferno Dias Falco e de Joo Antunes Maciel diminuiu o poder

    local, criando condies para que o governador de So Paulo, Rodrigo Csar de

    Menezes, desenvolvesse nas minas de Cuiab, uma rgida tributao e fiscalizao

    evitando o contrabando do ouro.

    Entretanto, Rodrigo Csar de Menezes sabia da forte influncia dos Irmos Lemes

    nas minas. Assim com o propsito de combater o poder dos Lemes, Rodrigo Csar de

    Menezes ofereceu a estes um importante cargo administrativo. Os Lemes rejeitaram o

    cargo e o governador de So Paulo encontrou como sada, o confronto armado.

    As tropas do governador preparam uma emboscada para os Lemes, e estes foram

    executados. Concomitantemente a morte dos Lemes, falecia em Cuiab Pascoal Moreira

    Cabral. Desta forma, Rodrigo Csar de Menezes aniquilou definitivamente o poder

    local e tomou a deciso mudar para Cuiab (1726).

    A mudana de Rodrigo Csar de Menezes consistia na verdade em uma das suas

    estratgias proceder a fiscalizao e a tributao das minas.

    Em 1727, o Governador elevou o arraial de Cuiab a categoria de Vila Real do

    Senhor Bom Jesus de Cuiab. Com essa deciso, o governador anunciou:

    (...) se faa uma povoao grande na melhor parte que houver (...) aonde haja gua

    e lenha (...): e o melhor meio de se adiantar na dita povoao o numero de moradores

    estes que fazem as suas casas (...). E como (...) nas ditas Minas h telha e barro capaz

    para ela, deve animar e persuadir aos mineiros e mais pessoas que fizerem as suas

    casas, as faam logo de telha, porque al~em de serem mais graves, so tambm mais

    limpas e tem melhor durao (...).12

    Assim a pequena vila comeou a crescer, seguindo s margens do crrego da

    Prainha, subindo e descendo morros e encostas. Seguindo as jazidas, principalmente

    margem esquerda do crrego, iniciava-se as construes de moradias e tambm nas

    proximidades desta margem, localizava-se uma esplanada na qual foi edificada a Igreja

    da Matriz. Em 1730, o Ouvidor Geral e Corregedor deu incio as obras da cadeia.13

    Inserir imagem da Igreja da Matriz

    11 Correa Filho, Virgilio, Historia de Mato Grosso, p.208. 12 Registro do Regimento que levou para as novas minas do Cuiab o Mestre de Campo Regente, So Paulo,

    26-10-1723. Apud:Rosa, Carlos, Jesus, Nauk, A Terra da Conquista, p.15. 13 Freire, Julio Delamnica. Por uma potica popular da arquitetura, p. 39-40.

  • 10

    Com a elevao de Cuiab a categoria de vila foi criado o Senado da Cmara ( Cmara Municipal). Foram eleitos os primeiros vereadores, escolhidos entre os

    elementos da elite local, isto , proprietrios de terras de minas e de escravos.

    Tambm foi implantado um sistema rigoroso de cobrana dos impostos, destacando

    dentre eles o quinto.

    A taxao exagerada de impostos associada as tcnicas rudimentares da extrao do

    ouro levaram a exausto das minas, e conseqentemente a migrao da populao para

    outras regies, e a descoberta de novas minas. Foi neste perodo, que em 1734, os

    Irmos Paes de Barros descobriram ouro na regio do Guapor.

    Com a decadncia aurfera muitos prefeririam retornar a So Paulo, outros partiram

    para Gois, pois em 1725, Bartolomeu Bueno (Anhanguera), descobriu ouro s margens

    do rio Vermelho em Gois.

    Captulo 3: O abastecimento das Minas

    O interesse pelo ouro atraiu muitas pessoas as minas de Cuiab e tambm levou o

    governo metropolitano a criar mecanismo de controle e explorao das minas.

    O abastecimento das Minas se deu principalmente atravs das Mones.

    As mones eram expedies que partiam da Capitania de So Paulo trazendo as

    Minas de Cuiab vrios produtos como, alimentos, remdios, produtos de luxo, ferramentas

    de trabalho, escravos, dentre outros. Traziam tambm as autoridades governamentais,

    aventureiros e elementos do clero.

    As mones para chegar a Cuiab seguiam os caminhos fluviais, partiam do rio

    Tiet at chegar ao Porto Geral (Cuiab). A viagem durava aproximadamente seis meses e

    ao atingir a regio do Pantanal podiam enfrentar srios problemas, isto , o ataque dos

    espanhis ou dos ndios que habitavam aquela regio. As canoas utilizadas para o trajeto

    eram esculpidas no interior de um tronco de rvore e eram guiadas por pilotos que

    possuam muita prtica.

    Inicialmente as primeiras mones adotaram como itinerrio a seguinte rota: rio

    Tiet, rio Grande, rio Anhandu, rio Pardo, travessia por terra nos campos das vacarias, e

    continuavam a viagem pelos rios, seguindo pelo rio Meteteu, rio Paraguai e o rio Cuiab.14

    Esse trajeto posteriormente foi abandonado devido as suas dificuldades, pois ao atravessar

    o campo das vacarias, os homens da expedio tinham que carregar as mercadorias, as

    canoas e ainda corriam o risco de enfrentar os espanhis, que estavam nas proximidades

    explorando a prata da regio.

    Logo os monoeiros adotaram uma nova rota, ento a viagem tornou-se totalmente

    fluvial, entretanto novas dificuldades surgiram como o ataque dos ndios caiaps, guaicurus

    e paiagus.

    Os caipos nas proximidades de Camaqu atacavam as expedies com seus temidos porretes, atacavam mortalmente os passageiros das mones.15 Por outro lado, os

    14 Siqueira, Elizabeth Madureira. O Processo Histrico de Mato Grosso, p. 13. 15 Costa, Maria de Ftima, Histria de um pas inexistente, p.182.

  • 11

    indios paiagus e os guaicurus chegaram a se aliar para atacar as mones que vinham para

    Cuiab. Entretanto, os mais temveis eram os paiagus.

    O medo de um ataque dos ndios paiagu no era infundado, pois em 1730, estes

    ndios atacaram a expedio do ouvidor Antnio Alves Lanhas, na qual morreu cento e oito pessoas entre elas o ouvidor.16 Segundo Rolim de Moura, ao relatar a sua viagem Mato Grosso, os ndios paiagus tinham como armas arco, flecha e tambm lanas

    pequenas com pontas de ferro. Seus ataques aconteciam nos rios, em canoas e eram muitos

    cautelosos para atacar. Primeiramente observavam as vtimas e somente depois efetuavam o

    ataque.17

    Em decorrncia a todas essas dificuldades, os produtos comercializados pelos

    monoeiros eram vendidos em Cuiab a um preo exorbitante, o que acabou gerando um

    processo inflacionrio nas minas.

    Alm das mones fluviais havia as mones terrestres, que abasteciam a regio de

    gado. Desde os meados do 1730, os caminhos terrestres que ligavam Cuiab as minas de

    Gois j eram usados. Era atravs deste caminho, que Mato Grosso recebia o gado.

    Embora Cuiab fosse margeado pelos rios Cuiab e Coxip, abundantes em peixes,

    cronistas como Barbosa de S, narraram que os habitantes da vila tinham muito apreo pela

    carne.

    Assim durante o perodo colonial tivemos em Mato Grosso o desenvolvimento de

    uma pecuria voltada para o abastecimento interno, de baixa produtividade, na qual o gado

    era criado solto pelo pasto. No sculo XVIII, a fazenda que mais se destacou na criao do

    gado foi a Fazenda Jacobina, em Cceres.

    Alm das mones, o abastecimento das minas se deu tambm atravs do

    desenvolvimento de uma agricultura de subsistncia.

    O cultivo da terra no foi uma tarefa fcil para o colonizador, pois teve que

    enfrentar muitas dificuldades como o aparecimento de uma terrvel praga de ratos que

    devoraram as plantaes e os paios aonde havia gros armazenados.18

    A agricultura de subsistncia visava abastecer as minas e se desenvolveu em

    ncleos populacionais situados nas proximidades de Cuiab, como por exemplo, Serra

    Acima (Chapada) e Rio Abaixo (Santo Antnio do Leverger ).

    Nessas localidades eram produzidos arroz, feijo, milho, mandioca, entretanto, a

    cana- de- acar foi o produto mais significativo para a populao.

    O governo metropolitano tinha como atrativo somente o ouro, e por isso proibiu a

    instalao de engenhos na regio. Porm a determinao no foi obedecida, pois a cana-de-

    acar dava aos habitantes o acar, que produz energia para o trabalho, o melado que

    combate a anemia, que vitimava a populao, e a cachaa que era usada como uma maneira

    de mitigar o sofrimento da vida dura no serto. Assim s margens do rio Cuiab e em Serra

    Acima surgiram os nossos primeiros engenhos.

    Inserir imagem sobre a rota das mones

    16 Idem, p.184. 17 Ibidem, p.195. 18 Correa Filho, Historia de Mato Grosso, p.210.

  • 12

    Captulo 4: Fronteira no Sculo XVIII

    A partir do sculo XVII, o governo portugus teve o seu territrio ampliado na

    Amrica. Portugal tinha a pretenso de estender os seus domnios at a Cordilheira dos

    Andes.19

    A conquista do territrio se deu atravs da pecuria, das misses jesuticas e das

    bandeiras.

    A pecuria impulsionou a ocupao do serto nordestino, pois muitas fazendas

    voltadas para a criao do gado surgiram ao longo do rio So Francisco.

    No tocante aos jesutas, estes chegaram a colnia com o objetivo de expandir a f

    catlica e para isso assumiram a misso de cuidar da catequese do ndio e da educao.

    Interessados na converso do ndio adentraram para o interior instalando as suas

    misses ou redues no Vale Amaznico e na regio sul.

    No vale amaznico, os jesutas atravs do trabalho do ndio coletavam drogas do

    serto, isto , cravo, canela, cacau, guaran e as ervas medicinais. Esses produtos eram

    comercializados no mercado europeu por preos elevadssimos, pois eram considerados

    como especiarias.

    As misses ao sul da colnia foram idealizadas por Anchieta, que encaminhou

    aquela regio vrios inacianos com a inteno de encontrar nativos e territrio para instalar

    as aldeias. Mais ao sul, perto da foz do Piquiri, no Paran, e na margem do rio Ivai com

    Villa-Rica-del-Guair, os jesutas espanhis tambm fundaram as suas misses em 1544.20

    Alm da pecuria e das misses, as bandeiras foram fundamentais para ampliao

    do territrio portugus.

    As razias dos bandeirantes se deram principalmente no perodo da Unio

    Ibrica(1580-1640). Os bandeirantes penetraram para o interior a procura dos gentios, para

    a escravido.

    Em 1632, uma bandeira paulista invadiu as misses espanholas em So Jos,

    Angeles, So Pedro e So Paulo. Assim a escravido indgena era o motivo do atrito entre

    os bandeirantes e os jesutas. Os bandeirantes a procura do silvcola ultrapassarem a linha

    demarcatria estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, adentrando no territrio espanhol..

    Anexar mapa do Tratado de Tordesilhas

    Como j mencionamos anteriormente, os bandeirantes ao entrarem pelos sertes acabaram encontrando o ouro. O ouro acabou atraiu ao interior da colnia muitas pessoas

    que sonhavam em enriquecer. Essa onda migratria acabou provocando o surgimento de

    arraias e vilas no interior do pas.

    Foi nesse quadro, que se deu a ocupao de Mato Grosso. Entretanto, apesar da

    descoberta de ricas jazidas aurferas, as minas de Cuiab entraram em decadncia na

    primeira metade do sculo XVIII.

    Com a exausto das minas de Cuiab, a populao comeou a migrar para outras

    regies da colnia. A noticia desta migrao preocupou o governo portugus, pois a fixao

    da populao era fundamental para garantir a posse do territrio, que de acordo com as

    19 Vilela, Jovam da Silva, O Antemural de todo o interior do Brasil:- A fronteira possivel, p.//?? 20 Idem, p.82.

  • 13

    disposies do Tratado de Tordesilhas pertencia aos espanhis. Assim pensando em

    garantir a posse do interior da Colnia, Portugal passou a desenvolver uma poltica voltada

    para a proteo da fronteira.

    Uma das primeiras decises do governo portugus para assegurar a posse deste

    vasto territrio foi o desmembramento de Mato Grosso da Capitania de So Paulo. Desta

    maneira, em 1748, D.Joo V decidiu criar a Capitania de Mato Grosso e para govern-la, o

    rei nomeou como seu primeiro Capito-General Antnio Rolim de Moura.

    Em 1750, as disputas territoriais entre os portugueses e espanhis, foram decididas

    pelo Tratado de Madri.

    A defesa dos interesses portugueses ficou a cargo de Alexandre de Gusmo, que

    atravs do uti possedetis garantiu a Portugal o domnio da Bacia Amaznica e da regio oeste do Brasil. O princpio douti possedetis afirmava que a terra pertencia a quem a coloniza.

    Portanto, Alexandre de Gusmo usando deste aparato jurdico, argumentou que o

    territrio em disputa pertencia a Coroa portuguesa, pois foram os portugueses que

    fundaram as vilas e arraiais, e conseqentemente povoaram o interior do Brasil.

    Ainda segundo o Tratado de Madri, os portugueses concordaram, em troca do

    reconhecimento pela Espanha das fronteiras fluviais ocidentais do Brasil, em renunciar ao

    controle da Colnia de Sacramento e das terras imediatamente ao norte, no esturio do

    Prata, um objetivo que os espanhis havia muito aspiravam alcanar pela fora. (...) O

    tratado determinava a evacuao dos jesutas e dos ndios convertidos das misses

    uruguaias e exigia uma inspeo apurada no local da linha de demarcao entre as

    Amricas espanhola e portuguesa por duas comisses associadas.21 Com o Tratado de Madri, Gusmo garantiu a posse do territrio para Portugal e deu

    ao Brasil praticamente a sua configurao atual.

    Anexar Mapa de Madri

    Aps as decises tomadas pelo Tratado de Madri, o governo metropolitano se

    empenhou em efetivar o uti possedetis, e resolveu construir na regio do Guapor, a

    primeira capital de Mato Grosso Vila Bela da Santssima Trindade. Atravs da construo e povoamento da capital, Portugal visava assegurar a posse

    de todo o interior de sua colnia. Esses medida relacionava-se aos imperativos da poltica

    colonial espanhola, que pretendia estender os seus domnios a leste e se possvel dominar

    Cuiab e Mato Grosso.22

    Vila Bela da Santssima Trindade

    Antonio Rolim de Moura, capito-general da Capitania de Mato Grosso, recebeu a

    instruo do governo portugus de edificar a capital de Mato Grosso. Segundo a

    determinao real, a capital seria construda na regio oeste, s margens do Guapor e em

    um lugar saudvel.

    21 Maxwell, Kenneth, Marques de Pombal: Paradoxo do Iluminismo, p.53. 22 Volpato, Luiza Rios Ricci, A Conquista da Terra no universo da pobreza, p.38.

  • 14

    Lembremos que regio do Guapor foi ocupada desde 1732, quando os irmos Paes

    de Barros trilharam a regio a procura de ndios para o aprisionamento. E foi em busca dos

    ndios pareci, que esses bandeirantes descobriram as minas de Mato Grosso.23

    A descoberta do ouro promoveu o surgimento na regio de povoaes como So

    Francisco Xavier e Santana, mas havia tambm moradores s margens do rio Jauru, do rio

    Galera e do Guapor.

    Logo, construir a capital nesta regio era extremamente interessante para Portugal,

    uma vez que, Vila Bela da Santssima Trindade seria a base do domnio portugus e alm

    disso consistia em uma nova jazida aurfera.24

    Rolim de Moura procurou seguir as diretrizes do governo metropolitano, entretanto,

    cometeu um erro construiu a capital em terras baixas e paludosas, sujeitas a freqentes imundaes; uma regio marcada pela insalubridade.

    A populao de Vila Bela seria constantemente acometida por vrias enfermidades.

    Essa caracterstica acabou influenciando o imaginrio do colonizador, que passou a ter a

    viso de Mato Grosso como um grande hospital. Desta maneira, Mato Grosso passou a ser

    apontado pelas autoridades mdicas, pelos viajantes e cronistas como um lugar nocivo a

    sade.25

    Para a construo da capital vieram da Capitania de So Paulo artfices, ferreiros e

    oficiais, contudo foram os negros os maiores responsveis pela sua edificao.

    Ainda com relao a construo da capital, o mdico-viajante Alexandre Rodrigues

    Ferreira, servio da metrpole, em viagem cientfica, visitou Vila Bela entre 1789-1791.

    Na sua narrativa, o viajante afirmou que a capital possua um traado irregular, tinha ruas

    retas e estreitas, sem calamento, onde podia se ver os porcos prazerosamente chafurdarem

    na lama. Com relao, as casas mencionou que trreas, as paredes de adobe, aterradas ou

    com ladrilhos de tijolo, que eram escuras e tristes.26

    Rolim de Moura se empenhou tambm em desenvolver uma poltica de povoamento

    e militarizao da regio. Para alcanar os seus objetivos, o capito-general estabeleceu:

    iseno de imposto e perdo temporrios das dvidas.

    criou a Companhia dos Drages visando a militarizao da fronteira e a disciplinarizao da populao.

    fixou um marco divisor na barra do rio Jauru. ( Marco do Jauru)

    fundou a Aldeia jesutica de Santa Anna (1751).

    Inserir uma imagem de Vila Bela

    Abastecimento de Vila Bela da Santssima Trindade

    23 Esse regio recebeu esse nome, pois os irmos Paes de Barros encontraram dificuldade para penetr-la,

    devido a presena de densas florestas, com arvores corpulentas e galhos muito altos. Tal fato levou a regio

    ser denominada de Mato Grosso. 24 Bandeira, Maria de Lourdes, Territrio Negro em espao Branco, p. 82. 25 Cavalcante, Else, O quadro saniario da Provncia de Mato Grosso, p.49. 26 Oliveira,Edevamilton, A Povoao Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial: 1783-

    1802, p.116.

  • 15

    Com a finalidade de abastecer a capital, o governo portugus criou em 1755, a

    Companhia de Comrcio do Gro-Par e Maranho. Essa companhia tinha o monoplio do

    comrcio em Vila Bela. A Companhia de Comercio foi criada pelo Marques de Pombal,

    ministro do rei D.Jos I. De acordo com o ministro, a Companhia de Comrcio do Gro

    Par e Maranho era o nico modo de retirar o comrcio de toda a Amrica portuguesa das mos dos estrangeiros

    27. Para atingir vila Bela da Santssima Trindade,, as embarcaes da Companhia de

    Comercio do Gro- Par e Maranho usavam o Porto de Belm. Ao partirem de Belm, as

    embarcaes da companhia navegavam pelas guas dos rios amazonas, Madeira e Mamor.

    Traziam produtos de luxo, ferramentas de trabalho e alimentos. A empresa era importadora

    de produtos oriundos do mar do Norte, do Bltico e do Mediterrneo.28

    Porm a principal

    mercadoria comercializada pela empresa eram os escravos. Ao regressarem ao porto de

    Belm, a empresa levava o ouro produzido em Vila Bela.

    Com a decadncia das minas de ouro do Guapor, a Companhia de Comrcio do

    Gro- Par e Maranho parou de abastecer o Mato Grosso.

    Alm das mercadorias comercializadas pela Companhia de Comrcio, o

    abastecimento de Vila Bela da Santssima Trindade se dava tambm atravs de uma

    agricultura de subsistncia, na qual eram cultivados como produtos agrcolas o milho e o

    feijo. Porm, as atividades agrcolas no foram capazes de atendem as necessidades

    bsicas da populao.

    A escassez de alimentos era provocada pelas pragas, insetos ou mesmo pelo excesso

    das chuvas ou das cheias dos rios que acabaram provocando a fome e a subnutrio,

    tornando o corpo da populao suscetvel s molstias.

    Lus de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres: O consolidador das fronteiras

    Ao final do sculo XVIII, o governo portugus interessado em fortificar e povoar as

    fronteiras das colnia, como tambm povoar o territrio, tomou novas medidas.

    Pensando em solucionar as disputas territoriais, Portugal e a Espanha assinaram o

    Tratado de Santo Ildefonso (1777), que reafirmou a hegemonia de Portugal sobre a bacia

    Amaznica, bem como das vias de comunicao entre Mato Grosso e outras regies da

    Amrica.29

    .

    Inserir mapa do Tratado de Santo Ildefonso

    Nesse perodo, governava a Capitania de Mato Grosso, Luiz de Albuquerque de

    Melo Pereira e Cceres (1772- 1789).

    Para garantir a posse de Portugal, o referido capito-general criou importantes

    povoados em posies estratgicas, como por exemplo, Albuquerque ( Corumb), Vila

    Maria de Cceres (Cceres), Casalvasco, So Pedro DEl Rey (Pocon) e Cocais (Livramento).

    27 Maxwell, Kenneth, Marqus de Pombal: O Paradoxo do iluminismo, p.61. 28 Volpato, Luiza Rios Ricci, A conquista da Terra no universo da pobreza, p. 59. 29 Cavalcante, Else. A sfilis em Cuiab, p. 49.

  • 16

    Em Casalvasco, o governador seguiu os princpios de construo adotados em

    Portugal, isto , ruas direitas, retas, praas e edifcios que expressavam a imagem de uma

    povoao civilizada. Para povoar a vila, foi enviado muitos ndios, oriundos da Provncia de Moxos. Alis a mesma ttica de povoamento foi utilizada em Vila Maria de Cceres, ou

    seja, o capito-general para povo-la enviou ndios da Provncia de Chiquitos. Ainda o

    governo ofereceu sementes e ferramentas da fazenda real s pessoas, para que pudessem

    iniciar as sua plantaes.30

    Na verdade, o governo portugus para garantir a posse do

    territrio, recrutou ndios e chegou a conferir indulto aos criminosos.

    Alm disso, Luiz de Albuquerque construiu o Forte de Coimbra (Sul) s margens do

    rio Paraguai e na margem direita do rio Guapor, o Forte Prncipe da Beira.

    Inserir imagem dos fortes.

    Captulo 5: Sociedade da Minerao

    No sculo XVIII, a descoberta de ricas jazidas aurferas no interior da colnia atraiu

    milhares de pessoas, que vinham com o intuito de enriquecer. O ouro promoveu o

    surgimento de vilas e povoaes em Minas Gerais, Mato Grosso e Gois, dando origem a

    uma sociedade marcada pela instabilidade.

    A sociedade da Minas era bastante diversificada, pois alm de ser constituda de

    mineradores, era composta tambm pelos negociantes, advogados, padres, proprietrios de

    terras, artesos, burocratas, militares, ndios aculturados, e escravos negros.

    Na base da sociedade estavam os escravos, que trabalhavam duramente na extrao

    do ouro. Muitas vezes, devido as pssimas condies de trabalho, os escravos acabavam

    padecendo vtimas de enfermidades como a desinteria, a malria, ou at mesmo em

    acidentes de trabalho. A curta estimativa de vida levava os brancos a adquirirem com

    freqncia novos escravos.

    Assim as estimativas apontam que nas Minas havia uma concentrao de negros e

    mulatos. A presena macia dos mulatos est relacionada a uma caracterstica da sociedade

    colonial brasileira, isto , a mestiagem.

    Ser que a sociedade da minerao era rica???

    Muitos pesquisadores tem demonstrado em seus trabalhos acadmicos, que a

    riqueza ficou nas mos de poucas pessoas, e que parcela significativa da populao livre

    tinha um baixo poder aquisitivo. Logo, a sociedade da minerao em seu conjunto foi

    extremamente pobre.

    Embora a sociedade mato-grossense apresentasse as caractersticas relatadas acima,

    ela possua as suas especificidades.

    Por exemplo, a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiab, contava com uma

    populao pequena, mas bastante diversificada.

    30 Oliveira, Edevamilton de Lima, A Povoao Regular de Casalvasco e a Fronteira Oeste do Brasil Colonial:

    1783-1802, p.33

  • 17

    A sua composio social era formada por brancos, provenientes de Portugal e de

    outras capitanias, de ndios como o guat, o guan, o bororo e o pareci, de africanos e seus

    descendentes, de negros forros.31

    As sociedades Indgenas no processo de colonizao

    No incio do sculo XVI, os portugueses ao chegarem ao Brasil, logo descobriram

    que grande parte do litoral brasileiro era habitado por nativos. Desde o primeiro contato, os

    portugueses avaliaram os costumes indgenas atravs de uma viso eurocntrica. A

    exemplo, Gabriel Soares de Souza em sua obra Tratado descritivo do Brasil afirmou que os ndios eram atrasados e que gente de pouco trabalho, muito molar, no usam entre si a lavoura, vivem da caa que matam e peixe que tomam a dos rios.32 Uma leitura mais acurada da citao deixa evidente, que para o narrador a caa e a pesca prtica pelos ndios

    no era encarada como um trabalho.

    Inicialmente, os ndios foram usados na extrao do pau-brasil e em troca recebiam

    dos brancos europeus pelo seu trabalho bugigangas como espelho, bota, canivete, dentre

    outros.

    A partir de 1530, com a implantao da colonizao, as relaes entre brancos e

    ndios comeam a se alterar, pois os portugueses interessados no cultivo da cana-de-acar

    passam a levar os gentios escravido.

    Entretanto com a colonizao, os jesutas chegaram a Colnia com o objetivo de

    propagar o catolicismo e conseqentemente estavam imbudos em cuidar da catequese dos

    nativos e da educao dos brancos. Atravs da catequese e da educao, a Igreja estava

    assegurando o catolicismo nas terras descobertas por Portugal . Para executar os seus objetivos, os inacianos esbarraram no interesse dos colonos que defendiam que o

    desenvolvimento da colnia somente se daria com a dominao do ndio.

    O governo portugues diante destas circunstncias resolveu criar a lei de 20 de maro

    de 1570, na qual estabeleceu a regulamentao do cativeiro indgena. Com a aprovao

    dessa lei, o governo metropolitano deu incio a uma poltica indgena na Colnia. Atravs

    desta legislao ficou determinada a guerra justa, isto , os silvcolas que resistissem a dominao seriam reduzidos ao cativeiro.

    Os jesutas formaram ento misses ou redues na colnia. Utilizando da

    catequese, os jesutas proibiram, a poligamia, combateram os ritos religiosos dos nativos,

    introduziram rituais cristos e inculcaram uma nova concepo de tempo e de trabalho, isto

    , os ndios foram aculturados.

    Paralelamente, os paulistas devido a necessidade crnica de mo-de-obra

    organizaram expedies de apresamento para o interior. Em 1637, um padre jesuta afirmou

    que os paulistas haviam nos dez anos anteriores capturado de 70 a 80 mil ndios. Muitos

    destes ndios no resistiam as longas viagens, morrendo a caminho da Capitania de so

    Paulo.33

    .

    Alm do cativeiro, os povos indgenas foram exterminados atravs de doenas

    epidmicas como a varola, o sarampo e a sfilis. Desta forma, muitas sociedades indgenas

    foram sucumbidas em conseqncia da guerra de dominao, da escravido e das

    enfermidades.

    31 Rosa, Carlos Alberto, O Urbano colonial na terra da conquista, In: A Terra da Conquista, p.23-25. 32 Sousa,Gabriel Soares. Tratado discritivo, p.115. 33 Monteiro, John Manuel, Negros da Terra:ndios e bandeirantes na origem de So Paulo, p. 68.

  • 18

    No sculo XVIII, as bandeiras paulistas penetraram no territrio mato-grossense

    procura de ndios para a escravido, e a medida que avanavam pelo territrio, constataram

    que a regio era repleta de povos indgenas.

    As sociedades indgenas que aqui viviam a semelhana dos ndios do litoral, no

    eram um grupo homogneo, mas caracterizados pela diversidade cultural. Viviam da caa,

    da pesca, da coleta de razes, furtas silvestres e do mel. Praticavam a agricultura, criavam

    animais, teciam os fios das suas vestimentas e faziam cermica.

    Nas sociedades indgenas no existia a propriedade privada da terra, pois a terra era

    um bem coletivo. A produo era voltada para subsistncia e quando ocorria a produo de

    excedente, este era dividido.

    Desde o primeiro contato com os paulistas, os gentios mostraram resistncia a

    dominao, no entanto, muitos foram aprisionados e levados para o cativeiro no planalto

    paulista.

    Com a descoberta das minas de ouro, os ndios foram usados como mo-de-obra

    escrava na minerao.

    Em 1748, com a criao da Capitania de Mato Grosso, novas Instrues Rgias

    foram estabelecidas no tocante ao ndio. A preocupao com os silvcolas relacionava-se

    aos interesses geopolticos de Portugal, que tinham como meta desenvolver uma poltica de

    expanso e posse do territrio.

    Desde a fase inicial da colonizao, a metrpole atravs dos relatos de cronistas,

    como Barbosa de S, tinha informaes a respeito da variedade da populao nativa. Assim

    tornou-se fundamental para Portugal na ocupao da Bacia amaznica e do Oeste do Brasil,

    que o ndio fosse inserido na colonizao. Cabia aos ndios serem as muralhas do serto.34

    Em 1772, Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres recebeu nas Instrues

    Rgias, que os ndios Bororos deveriam compor um tero das milcias, pois eram

    considerados pelo governo metropolitano como fundamentais na defesa da Capitania.

    Observa-se, portanto, que a poltica indgenista portuguesa no Brasil procurou usar os

    nativos convertidos na proteo do territrio contra os ataques estrangeiros e como mo-de-

    obra na lavoura dos brancos.35

    Desta maneira, seguindo as diretrizes do governo metropolitano, Luiz de

    Albuquerque visando garantir a posse do territrio formou aldeias e vilas, nas quais a

    populao era predominantemente composta por nativos.

    Para cooptar os ndios para o projeto colonizador, o governo luso-brsileiro atravs

    do Diretrio dos ndios estabeleceu casamentos intertnicos, a obrigatoriedade do estudo da

    lngua portuguesa e determinou que os colonos deviam garantir aos nativos igualdade de

    condies.36

    Portanto, a poltica indgenista portuguesa no sculo XVIII visava transformar

    o ndio em sdito de Portugal.

    Inserir uma imgem de ndio

    34 Em 20 de dezembro de 1695, o Conselho Ultramarino mencionou os ndios como os guardies da fronteira, as muralhas do serto. 35 Vilela, Jovam. O antemural de todo o interior do Brasil: A fronteira possvel, p. 95. 36 Idem, p.97-101.

  • 19

    Escravido

    A colonizao da Amrica Portuguesa foi baseada na escravido negra. Os negros

    eram adquiridos na frica, nos entrepostos comerciais ou feitorias estabelecidas no litoral.

    Os chefes polticos e religiosos negociavam com os europeus os seus prisioneiros de

    guerra, recebendo em troca tabaco, aguardente e outras mercadorias.

    Inserir uma imagem de negro escravo

    Os africanos eram levados pelos traficantes em embarcaes com pssimas

    condies higinicas, muitos no resistiam a viagem e por isso esses navios, eram

    chamados de navios tumbeiros. Os traficantes para amenizar o sofrimentos dos negros

    distribuam maconha. Assim privados da liberdade, separados da sua famlia, da sua terra

    natal, os africanos foram obrigados a conviver com a escravido.

    Anexar o mapa do livro de ouro da historia do Brasil relativo a distribuio de

    maconha na frica, p. 64.

    Os principais grupos de africanos que aportaram no Brasil foram os bantos

    provenientes de Angola, Moambique, Congo e Guin, e os sudaneses originrios da Nigria e da Costa do Marfim.

    Inserir imagem sobre etnia de negros no Brasil

    Os escravos recm chegados da frica eram denominados de boais e os aculturados, que j falavam a lngua portuguesa eram denominados de ladinos. Os escravos nascidos na colnia eram chamados de crioulos. Geralmente aos crioulos e aos mestios eram reservados os trabalhos mais amenos como as tarefas domsticas, enquanto

    aos africanos cabia o trabalho pesado.37

    Os escravos eram vistos como mercadoria, o seu trabalho e corpo pertencia ao seu

    proprietrio. Como mercadoria eram vendidos, alugados ou mesmo emprestados. Alm

    disso, quando tomavam atitudes que desagradavam o seu proprietrio eram punidos com

    castigos fsicos. Um Alvar de 1741 estabeleceu que o negro que fugisse do cativeiro teria

    o seu corpo marcado brasa e se ato repetisse a sua orelha deveria ser cortada.38

    Diante de tanto desprezo e sofrimento, os negros resistiram, lutaram contra a

    escravido. Resistiram desde que partiram da frica fazendo rebelies a bordo dos navios,

    cometiam suicdio, infanticdio, aborto, assassinavam os feitores e proprietrios. Entretanto,

    a resistncia mais praticada era as fugas. Ao abandonarem os engenhos, as minas, as casas

    dos senhores, os negros se refugiaram nas matas formando comunidades denominadas de

    quilombos.

    Desta maneira, os quilombos eram comunidades formadas principalmente pelos

    negros que fugiam da escravido. Nos quilombos, os negros plantavam e criavam animais

    para a sua subsistncia.

    37 Priore, Mary, O Liviro de Ouro da Histria do Brasil, p.63. 38 Carril, Lourdes, De escravos a quilombolas, p.37.

  • 20

    Os quilombolas viviam em constantes guerra com os senhores e as autoridades, pois

    representavam uma ameaa a ordem colonial. O quilombo mais importante do perodo

    colonial foi o de Palmares, localizado na Serra da Barriga, no atual Estado do Alagoas.

    Em Mato Grosso tivemos tambm muitos quilombos, entretanto, alguns ganharam

    destaque devido ao seu tamanho, as caractersticas da sua populao ou mesmo pela sua

    prolongada existncia.

    Quilombo do Piolho ou Quariter- sculo XVIII

    O quilombo do Piolho localizava-se na regio do Guapor, nas imediaes de Vila

    Bela da Santssima Trindade. A sua populao era composta por negros, ndios cabixis e

    pelos caburs (mestios).

    A formao deste quilombo estava relacionada a Companhia de Comrcio do Gro-

    Par e Maranho, que abastecia a capital de escravos. Desde o inicio da ocupao de Vila

    Bela, os negros resistiam a dominao dos seus proprietrios, fugiram e acabaram

    formando o quilombo.

    O quilombo do Piolho era governado pela rainha Teresa de Benguela, que era

    assessorada por um gabinete formado por homens. Produziam a sua sobrevivncia, atravs

    de uma agricultura e pecuria de subsistncia. No tocante ao religioso, havia um

    sincretismo, isto , a religiosidade apresentava elementos do catolicismo e da religio afro.

    Em 1778, com a falncia da Companhia de Comrcio do Gro- Par e Maranho, os

    proprietrios de terras se viram sem mo-de-obra, e com isso empreenderam esforos para a

    captura e a destruio do quilombo.

    Apoiados pelo capito-general, Lus de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres, os

    proprietrios de terras em Vila Bela se organizaram para a invaso ao Piolho. O quilombo

    foi destrudo, a rainha Teresa ao presenciar o ataque da bandeira cometeu o suicdio

    negando a voltar escravido, e os negros que sobreviveram ao embate foram conduzidos

    Vila Bela, aonde foram identificados pelos seus antigos donos e aqueles que no foram

    reconhecidos foram enviados a Cadeia Pblica.

    Em 1791, Joo de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres recebeu dos proprietrios

    de escravos uma solicitao, que foras legais fossem conduzidas novamente a regio do

    Guapor para a destruio e captura de escravos fugitivos. Sob ordem do capito-general, o

    quilombo do Piolho desta vez foi totalmente abatido.

    Aldeia da Carlota

    A Aldeia da Carlota foi fundada pelo Capito-General Joo de Albuquerque de

    Melo Pereira e Cceres. A comunidade localizava-se no territrio do antigo quilombo do

    Piolho, portanto na regio do Guapor.

    O capito-general para formar essa comunidade resolveu alforriar os negros idosos

    da Capitania. O interesse de Joo de Albuquerque era povoar e vigiar a fronteira contra um

    possvel ataque dos espanhis.

    Assim os negros que receberam a sua carta de alforria deveriam em troca proteger a

    fronteira para Portugal.

    O governador tomou importantes medidas para concretizar os seus objetivos, como

    por exemplo, foram entregues sementes, ferramentas e animais de criao para os

  • 21

    moradores da Aldeia da Carlota. A atitude do capito-general mostra que ainda ao final do

    sculo XVIII, o governo portugus continuava interessado em efetivar o uti possedetis.

    Quilombo do Rio do Manso ou Cansano:-sculo XIX

    O quilombo do Rio do Manso representou uma ameaa aos proprietrios de terras e

    de escravos de Mato Grosso, na segunda metade do sculo XIX, mais precisamente, no

    contexto da Guerra da Trplice Aliana (1865-1870).

    Esse quilombo localizava-se em Chapada dos Guimares, e a sua populao era

    formada por negros, desertores da Guerra do Paraguai e por criminosos que buscavam

    segurana e refgio. A populao masculina era predominante, o que levava os negros a

    investirem em ataques a stios e fazendas para capturarem mulheres.

    A notcia deste quilombo trouxe a populao da provncia muita insegurana, pois

    apesar das reclamaes, atitudes mais efetivas no podiam ser tomadas, pois faltavam

    foras policiais. Nesse perodo, a guerra exigia constantemente que milcias fossem

    conduzidas para a guerra, portanto, no havia na Provncia, soldados suficientes para

    destruir o quilombo do Rio do Manso.

    Foi somente ao trmino da guerra, que o governo provincial conduziu foras

    policiais para aniquilar o quilombo.

    O documento abaixo deixa evidente os problemas causados pela populao do

    quilombo, bem como, a preocupao das autoridades provinciais em combat-lo.

    Em 1867, o chefe de Polcia de Cuiab, Firmo Jos de Matos, enviou ao Presidente

    da Provncia de Mato Grosso, Couto de Magalhes, o seguinte ofcio

    Sendo reconhecido que nas cabeceiras do Rio do Manso existe um grande quilombo, para onde continuadamente vo os escravos fugidos desta capital (Cuiab) e dos

    mais distritos vizinhos e bem mais desertores do Exrcito e criminosos, e, segundo

    comunicao que acabo de receber do Subdelegado de Polcia do Rosrio, constatando

    que os mesmos negros e desertores tem de costume irem a essa vila, de onde conduzem

    mulheres para o quilombo; julgo de necessidade tomar-se providncias no sentido de

    combat-lo a fim de que no se tenha de lamentar fato de maior gravidade. Entretanto,

    sendo inconveniente na presente situao distrair-se foras do servio de guerra, proponho

    a V.Ex o aumento do destacamento do Rosrio.(Ofcio do chefe de Polcia Firmo Jos de

    Matos, Cuiab, 1867.)

    Alm desses quilombos a historiografia regional tem destacado a existncia de

    outros, a saber, o Mutuca em Chapada dos Guimares e do Pindaituba, nas proximidades de

    Chapada dos Guimares, e o quilombo de Mata Cavalos, localizado em Livramento.

    Atualmente os remanescentes dos quilombolas de Mata Cavalo, no municpio de

    Nossa Senhora do Livramento reivindicaram na Justia a posse definitiva das terras dos

    seus antepassados. Em 2002, a INTERMAT (Instituto de Terras de Mato Grosso) outorgou

    o ttulo definitivo da rea Fundao Cultural Palmares, do governo Federal. A seguir, o

    presidente Lula assinou um decreto, no qual reconheceu que o INCRA teria a funo de

    identificar, reconhecer, delimitar, demarcar e titular as terras dos descendentes dos

    quilombolas. Apesar dessas iniciativas do governo federal, os conflitos entre os

    remanescentes dos quilombolas, os fazendeiros e grileiros persistem.

    No quadro abaixo, a reportagem do jornal Dirio de Cuiab aborda a importncia da

    posse do territrio para a populao de Mata Cavalo.

  • 22

    O reconhecimento de propriedade que tarda h 110 para os remanescentes de

    escravos das comunidades de Mata Cavalos - localizadas no municpio de Nossa Senhora

    do Livramento, a 50 quilmetros de Cuiab - chegou para netos, bisnetos e tataranetos

    daqueles que conheceram o castigo do tronco. No ms passado a Fundao Cultural

    Palmares, rgo do Ministrio da Cultura que h cinco anos mapea, registra histrias e

    concede ttulo a quilombolas no Brasil, emitiu um documento de posse nico, aos negros

    do local

    Foram oficialmente reconhecidos como pertencentes aos remanescentes de escravos

    de Livramento, 11,7 mil hectares de terra s margens da MT-060, onde hoje vivem

    acampadas mais de 300 famlias disputando a terra com cerca de 42 pequenos e grandes

    fazendeiros.

    A mesma publicao, no Dirio Oficial da Unio do dia 18 de julho, emitiu a titulao de

    terras a outras 17 comunidades de remanescentes em todo pas. So descendentes de

    famlias que iniciaram a luta h mais de sculo, para permanecer nas terras onde enraizaram

    seus costumes, tiveram seus filhos, enterraram seus mortos, mas da qual foram expulsos

    sucessivamente a partir de1930.(sic)

    Acampadas h cinco anos na rea, as famlias se organizaram em seis comunidades com

    lideranas prprias cada uma. Mas para que um nico ttulo fosse concedido, uma

    associao me foi criada, e quem responde hoje por ela so os netos de ex-escravos,

    Tereza Conceio de Arruda, de 63 anos, que se orgulha em contar que sua famlia foi uma

    das seis que resistiram e permaneceram no lugar por geraes. E Germano Ferreira de

    Jesus, 46 anos, tambm descendente de uma dessas seis famlias.

    Ambos explicam que o reconhecimento da posse da terra comunidade ser o fim da

    alcunha de grileiros, da incerteza quanto possibilidade de produzir no local e a abertura

    para criao e implantao de projetos. J sofremos muito aqui com ameaas de fazendeiros, pistoleiros e a prpria polcia que sempre tentaram nos tirar da terra. Com o

    ttulo, poderemos conseguir escolas, luz, gua e as comodidades que a cidade oferece, diz Tereza. Fonte:Dirio de Cuiab,13/08/2000

    Captulo 6: Transferncia da Capital de Vila Bela para Cuiab

    No incio do sculo XIX, as guerras napolenicas alteraram significativamente as

    relaes entre a colnia e a metrpole (Portugal). A origem dessas guerras estava

    relacionada a expanso do capitalismo francs, que em busca de mercado consumidor

    entrou em confronto com a Inglaterra, que naquele perodo era a grande potncia

    econmica da Europa. Foi neste contexto que Napoleo Bonaparte decretou o Bloqueio

    Continental, estabelecendo que os pases europeus estavam proibidos de comercializar com

    a Inglaterra.

    Portugal no aderiu ao Bloqueio Continental, e por isso o seu Prncipe-regente D.

    Joo VI, temendo a invaso napolenica, fugiu para a colnia.

    Em 1808, protegido por uma escolta inglesa, a famlia real aportou no Brasil e D

    Joo decretou como uma de suas primeiras medidas a Abertura dos Portos s Naes

  • 23

    Amigas, rompendo com isso o pacto colonial, e conseqentemente dando incio ao processo

    de independncia do Brasil.

    Foi durante o processo de independncia do Brasil, que se deu a transferncia da

    capital de Vila Bela para Cuiab. Entretanto, a idia de transferir a capital no era nova,

    pois j tinha sido apregoada pelo Capito-general Manuel Carlos de Abreu em 1804.

    Para abordarmos este assunto preciso analisar primeiramente o governo dos

    ltimos capites- generais de Mato Grosso.

    Em 1808, governava Mato Grosso, Joo Carlos Oeynhausen de Gravenberg, que ao

    assumir o governo se deparou com uma forte crise econmica, originada da decadncia

    aurfera. Com o intuito de escamotear os problemas sociais decorrentes da misria da

    populao, este governante promoveu inmeras festas. Essas festas contavam com a

    presena de ricos e os pobres, favorecendo com isso para que a populao tivesse a

    sensao que havia na Provncia, uma democracia social.

    Paralelamente, Joo Carlos Oeynhausen desenvolveu uma poltica voltada para a

    sade. A preocupao em combater as doenas estava relacionada a chegada da Corte

    portuguesa ao Brasil, pois D.Joo VI tomou muitas medidas para erradicar as enfermidades

    que assolavam principalmente o Rio de Janeiro. Alm de fundar a Faculdade de Medicina

    da Bahia e do Rio de Janeiro, o prncipe-regente com o intuito de institucionalizar a pratica

    da medicina criou a Sociedade Real de Medicina.

    Para valorizar a medicina cientifica, o governo joanino combateu as prticas de cura

    popular e para a concretizao deste projeto,. Governo se associou aos mdicos para

    combater as molstias, uma vez que elas representavam uma ameaa ao desenvolvimento

    do capitalismo.

    Foi nesse contexto, que em Mato Grosso, Joo Carlos Oeynhausen tambm com o

    objetivo de combater as doenas promoveu em Vila Bela uma aula de anatomia. Entretanto,

    o grande destaque do seu governo foi a criao do Hospital Militar de Cuiab, da Santa

    Casa de Misericrdia e do hospital So Joo dos Lzaros, que foi construdo para abrigar as

    vtimas da lepra.

    Inserir imagem da Santa Casa de Cuiab

    No tocante a economia, pensando em superar a debilidade econmica, este

    governante estimulou a produo do algodo e a produo aurfera. Entretanto, as sua

    medidas no foram capazes de superar a crise financeira. Posteriormente, Joo Carlos

    Oeynhausen foi agraciado pelo governo pelas suas realizaes polticas, com o ttulo de

    Marqus de Aracati.

    Em seu lugar tomou posse o militar de carreira, Franscisco de Paula Magessi, ultimo

    capito-general de Mato Grosso. Ao assumir o governo, Francisco Magessi temendo a

    insalubridade de Vila Bela, solicitou a D. Joo VI a transferncia de rgos pblicos para

    Cuiab, como por exemplo, a Junta da Fazenda e a Casa de Fundio.

    O governo de Francisco Magessi foi marcado pela impopularidade, pois adotou uma

    poltica de austeridade e de corrupo. Eliminou as festas e atrasou os salrios at mesmo

    dos soldados.

    Foi neste perodo, que a elite cuiabana almejando a superao da crise econmica

    que abalava os cofres pblicos da Provncia, deu incio a luta pela transferncia da capital

    para Cuiab.

  • 24

    Para atingir os seus propsitos, a elite cuiabana apresentou como argumentos, que

    Cuiab possua uma populao superior a de Vila Bela, tinha uma melhor localizao

    geogrfica, pois era banhada pela bacia Platina, e atravs da navegao fluvial podia ter

    contato com as demais provncias brasileiras e at mesmo com os paises platinos. Alegou

    ainda que a cidade era saudvel e que a sua populao podia contar com hospitais ao ficar

    doente.

    Retornando a Magessi, foi nesse momento, que o capito-general depois de dezoito

    meses de governo, resolveu partir para Vila Bela atendendo aos desejos da populao

    local, que reivindicava a presena do capito-general.

    Com a partida de Francisco Magessi para Vila Bela, a elite cuiabana se organizou,

    buscando o apoio de segmentos do clero e dos militares, para depor o capito-general. A

    seguir instalaram uma Junta de Governo em Cuiab e enviaram a Magessi a seguinte

    comunicao:

    Ilmo, Senhor.

    Havendo concorrido aos Paos do Conselho, no dia 20 do corrente a Tropa da

    Primeira e Segunda Linha, o clero, a nobreza e povo desta cidade de Cuiab, deliberaram

    e resolveram a ereo de uma Junta Governada Provisrio e efetivamente elegeram nove

    deputados para comporem a dita justa, que se acha instalada, em conseqentemente de tais

    acontecimento, V.Exa, se suspender do exerccio de suas funes que antes competiam a

    V. Exa, em razo do lugar que ocupava. Assim o participar a V.Exa, os deputados da junta

    Governativa Provisria. Deus guarde a V.Exa. Cuiab, 21 de agosto de1821.39

    A Junta de Governo instalada em Cuiab contava com a participao de elementos

    do clero como D. Lus de Castro Pereira, bispo de Cuiab, de militares, como o capito

    Lus DAllincourt e da elite local, como Andr Gaudie Ley, proprietrio de terras e de escravos.

    Em Vila Bela, a populao ao receber a notcia da deposio de Magesssi e da

    formao de uma Junta de governo em Cuiab, se sentiu bastante ameaada, e resistindo a

    possibilidade de perder o status de capital resolveu proceder da mesma maneira.

    Assim tambm em Vila Bela, Magessi foi deposto e uma Junta de Governo foi

    instalada com a participao dos membros da elite, do clero e dos militares. Porm, a Junta

    de Governo de Vila Bela pensado em ter o apoio as camadas populares e ao mesmo tempo

    ameaar os interesses elite cuiabana, e talvez afetar os seus padres morais tomou as

    seguintes medidas:

    Abolio da escravido

    Estabeleceu o fim fidelidade conjugal

    Decretou o fim da castidade para as mulheres solteiras.

    O fim da escravido com certeza agradava ao povo, pois muitos eram descendentes

    de escravos ou mesmo amigos, com os quais freqentavam batuques, bebiam cachaa,

    rezavam e trabalhavam para os grandes proprietrios.

    Apesar de buscar a adeso do populao, a Junta de Governo de Vila bela no

    conseguiu se manter no poder, pois a elite cuiabana com o apoio de D.Pedro I saiu

    vitoriosa, tendo a sua Junta de Governo reconhecida.

    39 Apud, Pvoas, Lenine. Histria Geral de Mato Grosso, p.176.

  • 25

    No entanto, foi somente em 1835, que Cuiab recebeu oficialmente o

    reconhecimento de capital da Provncia de Mato Grosso, conforme a seguinte lei:

    1835 N19 Antnio Pedro de Alencastro, Presidente da Provncia de Mato Grosso.

    Fao saber a todos os habitantes, que a Assemblia Legislativa Provincial

    decretou, e eu sanciono a seguinte lei.

    Artigo 1 fica declarada capital da Provncia de Mato Grosso a cidade de Cuiab.

    40

    Capites- Generais que governaram a Capitania de Mato Grosso

    1748-1751:Gomes Freire de Andrade

    1751-1765: Antonio Rolim de Moura (Conde de Azambuja)

    1765-1769: Joo Pedro da Cmara

    1769-1772: Luiz Pinto de Souza Coutinho.

    1772-1789: Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres.

    1789-1796: Joo de Albuquerque de Melo Pereira e Cceres.

    1796: Junta Governativa:Antonio da Silva do Amaral, Ricardo Franco de Almeida, Marcelino

    Ribeiro.

    1796-1803: Caetano Pinto de Miranda Montenegro.

    1803-1804: 2Junta Governativa: Manoel Joaquim Ribeiro Freire, Antonio Felipe da Cunha Ponte, Jos da Costa Lima. Este ultimo foi substitudo por Manuel Leite de Moraes.

    1804-1805: Manoel Carlos de Abreu e Menezes.

    1805-1807: 3 Junta Governativa: Sebastio Pita de Castro, substitudo por Gaspar Pereira da Silva,

    Antonio Felipe da Cunha Ponte , substitudo por Antonio Felipe da Cunha Ponte, substitudo por Ricardo Franco de Almeida Serra, Jos da Costa Lima, substitudo por Marcelino Ribeiro e

    Francisco Sales Brito.

    1807-1819: Joo Carlos Augusto DOeynhausen e Gravemberg (Marqus de Aracati)

    1819-1821:Francisco de Paula Magessi Tavares de Carvalho. (Baro de vila Bela.)

    1821-1822: 1Junta governativa Provisria de Cuiab: Dom Luis de castro Pereira-Presidente da

    Junta e posteriormente foi substitudo por Jernimo Joaquim Nunes.

    1821-1822: 1 Junta Governativa de vila Bela: Jose Antonio Assuno Batista, presidente da Junta.

    1822-1823: 2 Junta Governativa Provisria de Cuiab: Antonio Jos de Carvalho Chaves

    1822-1823: 2 Junta Governativa Provisria de Vila Bela: Manoel Alves da Cunha.

    1823-1825: Governo Provisrio: Manoel Alves da Cunha.

    40 Mendona, Estevo, Datas Mato-Grossenses, p.115.

  • 26

    Atividades

    1-(Concurso da Secretaria de Justia) O que so as mones?

    a)um movimento armado, organizado pelos comerciantes com o objetivo de

    proclamar a Independncia de Mato Grosso, pois tinham interesses em controlar o

    comercio das minas de Cuiab.

    b) So expedies que partiam de So Paulo com destino a Mato Grosso, com o

    objetivo de abastecer as minas da regio de mantimentos e vveres, especialmente as

    minas de Cuiab.

    c)um movimento popular pr construes de manses, que ficou conhecido como

    mones porque os portugueses no sabiam pronunciar corretamente a palavra manses. d) So expedies que tem como escopo manter a correspondncia em dias, entre

    os brasileiros e os moradores do Imprio Espanhol.

    e) So expedies que trazem ouro em p para as fundies de Cuiab, e levam de

    volta ouro em barra para So Paulo.

    2) (UEMS) A respeito da nova realidade criada pela explorao aurfera em Minas

    Gerais, Gois e Cuiab, a partir de fins do sculo XVII, assinale a alternativa

    correta.

    I-Embora fosse altamente lucrativa, atividade mineira no chegou a atrair grande

    numero grande numero de pessoas, de modo que a populao da colnia no

    apresentou crescimento significativo durante o sculo XVIII.

    II- Por ser uma atividade altamente especializada, a minerao estimulou o

    desenvolvimento de outras ramos da economia colonial, como a produo de

    gneros alimentcios.

    III- Nessa economia mineradora era pouco utilizado o trabalho escravo, sendo mais

    importante a utilizao de trabalhadores assalariados livres.

    a)Apenas a I est correta.

    b)Apenas a II est correta.

    c)Esto corretas a I e II.

    d)Esto corretas a II e III.

    e) Esto corretas a I e III.

    3) (UFMS) A historiadora Luiza Volpato, no livro Entradas e Bandeirasao referir-se imagem produzida pelos livros didticos sobre o bandeirante, assim se

    expressa: Nos captulos referentes a expanso territorial, o bandeirante apresentado na grande maioria das vezes como o heri responsvel pelas dimenses

    territoriais do pas. (...) No texto passada a viso herica do bravo que, vencendo

    dificuldades sem fim , conquistou reas imensas para a colnia e descobriu riquezas

    no interior do Brasil.

    A partir do texto, julgue as assertivas, verdadeiras ou falsas.

  • 27

    ( ) Essa uma viso mtica elaborada pela historiografia que permeia praticamente

    toda a produo a respeito, dificultando uma interpretao crtica sobre o fenmeno

    bandeirantista.

    ( ) A capitania de So Vicente, desde o inicio da colonizao, despontou como uma

    regio privilegiada para o plantio da cana-de-acar, portanto de exportao de

    acar e importao de mo-de-obra escrava.

    ( )A expanso territorial e o sacrifcio de centenas de milhares de ndios so

    resultado da transformao da luta cotidiana dos bandeirantes pela sobrevivncia em

    campanhas de conquista.

    ( ) A ao bandeirante sobre as reas espanholas foi despovoadora pois causou a

    destruio de agrupamentos indgenas e espanhis.

    ( ) Contrariando a imagem do texto citado possvel visualizar o fenmeno

    bandeirantista como gerado pelas condies sociais de vida do Planalto de

    Piratininga e o bandeirante como um homem do seu tempo.

    4) (UEMS) A poltica econmica mercantilista se caracterizou por trs elemento

    essenciais:

    a)balana comercial favorvel, protecionismo e monoplio.

    b)sistema colonial, liberalismo e monoplio.

    c)Manufatura, metalismo e liberalismo.

    d)Monoplio, liberalismo e bullionismo.

    e)Liberalismo, monoplio e protecionismo.

    5) (UFMS) A historia de Mato Grosso do Sul no pode ser apreendida na sua

    riqueza temtica e, sobretudo, na sua diversidade tnica e cultural, se a ela no

    incorporarmos a historia dos povos indgenas. Sobre a presena constante dos povos

    indgenas na histria do Mato Grosso do Sul, correto afirmar que:

    01.a presena indgena no territrio do atual Mato Grosso do Sul data de at trs mil

    anos; para o Pantanal essa presena de at mil anos.

    02.mesmo depois da chegada de elementos europeus na regio, foram intensas as

    relaes dos povos indgenas entre si. s vezes conflituosas, s vezes

    complementares, so conhecidas, dentre outras, as relaes entre os grupos guan,

    guaicuru e Guarani.

    04.nas disputas entre os portugueses e espanhis pela fixao dos limites territoriais

    de suas colnias americanas, foram visveis as preocupaes de ambos em atrair

    para si o apoio dos povos indgenas que ocupavam a regio;

    08.apesar da brutalidade do processo de conquista e da conseqente ocupao de

    seus territrios, a existncia atual de vrios povos indgenas em Mato Grosso do Sul

    indica que suas diferentes formas de resistncia garantiram pelo menos a sua

    sobrevivncia;

    16.co mais de cinqenta mil ndios, Mato Grosso do Sul atualmente o segundo

    estado do Brasil em populao indgena.

    D a soma das corretas.

    6) (UFMT) Em Mato Grosso, a relao entre os ndios e colonizadores foi

    geralmente conflituosa e marcada pela violncia. A respeito, julgue as afirmativas,

    colocando V ou F:

  • 28

    ( ) Os ndios Paiagu foram os primeiros a atacar as mones e o faziam quando as

    embarcaes estavam transitando nos rios.

    ( ) Governos da Capitania de Mato Grosso utilizaram ndios, capturados na defesa

    da fronteira, na construo de fortes, fortalezas e em outras atividades militares.

    ( ) Algumas naes indgenas, como Guaicuru e caiap, habitavam a periferia da

    capitania e estabeleceram relaes de escambo com o colonizador portugus.

    ( )Por meio de Cartas rgias, a Coroa Portuguesa permitia, em casos especficos, a

    guerra justa ao ndio.

    7) (UFMT) Ao referir-se ao abastecimento da regio mineira de Cuiab, nos

    primeiros tempos da colonizao, a historiadora Elizabeth M. Siqueira assim se

    expressa:

    As duas regies mais prximas das Lavras do Sutil e responsveis pelo

    abastecimento mais imediato foram: Rio Abaixo ( hoje Santo Antonio do Leverger)

    e Serra Acima (hoje chapada dos Guimares) (...) Dessa forma nem s de alimentos

    vivia a populao...Revivendo Mato Grosso. Cuiab, SEDUC, 1977, p.14-16.

    A respeito desse contexto histrico, julgue as caractersticas, colocando V ou F:

    ( ) O primeiro trajeto fluvial percorrido pelos sertanistas para abastecer Cuiab

    transformou o Rio Abaixo em importante entreposto comercial.

    ( ) De Rio Abaixo, a produo aucareira era trazida pelo rio Cuiab at a regio

    aurfera.

    ( ) Vestimentas, instrumentos de trabalho e escravos vinham de outras provncias

    por meio de tropas ou das mones.

    ( )Os primeiros engenhos surgidos na regio foram responsveis pelo fabrico no

    somente do acar, mas tambm da rapadura e da aguardente.

    8) c

    9) (Simulado- CSSG) O Pantanal mato-grossense estende-se pelos estados do Mato Grosso do Sul e pelo Mato Grosso, num total de aproximadamente 220 mil quilmetros

    quadrados. Sendo uma plancie, as altitudes so baixas, mas as terras ao redor so mais

    altas, razo pela qual uma grande quantidade de rios corre para a regio.(Moreira, Igor. Espao Geogrfico, p.418)

    A respeito do Pantanal mato-grossense, assinale a alternativa incorreta:

    (a) No sculo XVIII, os paiagus e guaicurus habitavam o Pantanal e representaram um

    empecilho colonizao portuguesa, pois esses silvcolas atacavam com freqncia as

    mones de abastecimento.

    (b) No perodo colonial. o Pantanal era denominado de Lago dos Xarays.

    (c) O Pantanal mato-grossense uma plancie, ou seja, uma rea onde o processo de

    sedimentao se sobrepe ao processo de eroso.

    (d) O ecossistema do Pantanal bastante complexo, possuindo reas de florestas, cerrados e

    campos, alm da grande quantidade de plantas aquticas, principalmente aguaps.

    (e) A maior parte das terras do Pantanal encontra-se nos limites territoriais do Estado do

    Mato Grosso.

    10) (Simulado-CSSG) A maior Mina da regio estava plantada na colina do Rosrio e deu incio formao da cidade. A colina onde se localizou a igreja do Rosrio, ergue-se

  • 29

    margem esquerda do rio Prainha. Em torno das jazidas, principalmente margem direita do

    crrego, inicia-se o povoamento. Prximo tambm a essa margem localiza-se uma

    esplanada, escolhida para construo da Igreja da Matriz. Ruas e ruelas serpenteiam pelo

    terreno, ajustando-se a ele, ao longo do curso dagua. O pelourinho, a igreja do Rosrio assentam os primeiros pontos de tenso em torno dos quais a vila se estrutura e se

    organiza.(Freire, Julio De Lamnica. Pior uma potica popular da arquitetura, p.40-42.) O texto acima descreve o espao urbano de Cuiab no perodo colonial. A partir da leitura

    do texto acima e de seus conhecimentos, assinale a alternativa correta.

    I- A rea central da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiab era composta pela Cmara Municipal, cadeia e a Igreja da Matriz.

    II- Se fssemos desenhar uma carta geogrfica da rea central da Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiab, usaramos como melhor escala 1: 1000. 000.

    III- Foi Rodrigo Csar de Menezes, governador de So Paulo, que elevou Cuiab categoria de vila. Durante a sua administrao, Rodrigo Csar de Menezes deu ateno

    especial fiscalizao das minas e tributao.

    (a) I, II e III so corretas.

    (b) I e II so corretas.

    (c) II e III so corretas.

    (d) I e III so corretas

    (e) Somente a II correta

    11) ( Simulado-CSSG)..a produo de ouro na Capitania de Mato Grosso, em meio sculo de atividade estonteante, de 1719 a 1770, teria montado a 4.000 arrobas ou 60.000

    quilogramas, a razo de oitenta arrobas por ano.( Correa Filho, Virgilio. Historia de Mato Grosso, p.49).

    Sobre a minerao em Mato Grosso valido afirmar que:

    (a)Provocou o surgimento de vrios ncleos populacionais, que se dedicavam

    exclusivamente minerao como por exemplo, Rio Abaixo, Serra Acima e Vila Maria de

    Cceres.

    (b) Ao final do sculo XVIII, as minas de Cuiab comearam a entrar em decadncia,

    devido s tcnicas rudimentares de extrao e cobrana exagerada de impostos.

    (c) A ocorrncia de minerais metlicos em Mato Grosso est associada a sua estrutura

    geolgica, isto , a presena de escudos cristalinos.

    (d) A produo de ouro contribuiu para a prosperidade de Mato Grosso e tambm de

    Portugal, pois atravs de uma rgida fiscalizao o governo metropolitano foi capaz de

    conter o contrabando.

    (e) A produo exorbitante do ouro provocou ao longo do sculo XVIII o surgimento de

    conflitos na fronteira oeste entre os portugueses e espanhis.

    12) ( Simulado CSSG) Vila Bela da Santssima Trindade , atualmente, a cidade mato-grossense que possui a maior concentrao de negros do Estado. Os negros de Vila Bela da

    Santssima Trindade preservam traos fisionmicos semelhantes aos seus ascendentes

    africanos (Angola e Guin) e sua tradio cultural manifestada atravs do folclore

    representado pela Dana do Congo e do chorado. (Piaia, Ivane. Geografia de Mato Grosso,

    p.16.)

    A partir da leitura acima e dos seus conhecimentos, correto afirmar que:

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    I- A presena dos negros em Vila Bela mostra um dos traos do sistema colonial brasileiro,

    a escravido. A adoo da escravido durante a colonizao proporcionou a Portugal uma

    acumulao de capital.

    II-Os negros em Vila Bela como tambm em outras regies da colnia eram utilizados

    como mo-de-obra na agricultura de subsistncia e na minerao.

    III-A escravido no Brasil colonial se assemelha a escravido na Grcia e em Roma, pois os

    escravos no sistema colonial brasileiro eram tambm provenientes das conquistas

    territoriais empreendidas por Portugal.

    IV-A existncia de uma maior concentrao de n