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Uma História Concisa da Bienal do Mercosul Gaudêncio Fidelis HB_CAP1_PréBienal.p65 21/6/2006, 06:48 1

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  • Uma Histria Concisada Bienal do Mercosul

    Gaudncio Fidelis

    HB_CAP1_PrBienal.p65 21/6/2006, 06:481

  • Esse livro parte integrante do projeto editorial da 5 Bienal doMercosul Histrias da Arte e do Espao, realizada em Porto Alegrede 30 de setembro a 04 de dezembro de 2005.Este libro es parte integrante del proyecto da la 5 Bienal del Mercosur Historias del Artey del Espacio, realizada en Porto Alegre del 30 de septiembre al 04 de deciembre de2005.This book is an integral part of the editorial project of the 5th Mercosur Biennial Storiesof Art and Space, Porto Alegre, September 30th December 4th, 2005.

    Todos os direitos pertencentes aos autores e a Fundao Bienal deArtes Visuais do Mercosul. Essa publicao no pode ser reproduzida,em todo ou em parte, por quaisquer meios, sem a prvia autorizaopor escrito da Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul e doautor.Todos los derechos pertenecen a los autores y a la Fundao Bienal de Artes Visuais doMercosul. Esta publicacin no puede ser reproducida, como un todo o en partes, porcualesquiera medios, sin la previa autorizacin por escrito de la Fundacin Bienal deArtes Visuales del Mercosur y del autor.All rights belong to the authors and Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul.This publication cannot be totally or partly reproduced in any form or by any meanswithout permission from both parts.

    No medimos esforos para identificar a exata propriedade e direitosdos textos e materiais visuais. Erros e omisses ocasionais serocorrigidos em edies posteriores.No medimos esfuerzos para identificar la exacta propriedad y derechos de los textos ymateriales visuales. Errores y omisiones ocasionales sern corregidos en edicionesposteriores.Every effort has been made to trace accurate ownership of copyrighted text and visualmaterial used on this book. Errors and omissions will be corrected in subsequenteditions.

    Publicado por/Publicado por/Published byFundao Bienal de Artes Visuais do MercosulRua dos Andradas 1234, 10 andar/Sala 1008Porto Alegre- RS - Brasil CEP 90020-008www.bienalmercosul.art.br

    Porto Alegre, dezembro de 2005.

    Uma Histria Concisa da Bienal do Mercosul/Uma Histria Concisa da Bienal do Mercosul/Uma Histria Concisa da Bienal do Mercosul/Uma Histria Concisa da Bienal do Mercosul/Uma Histria Concisa da Bienal do Mercosul/Una Historia Concisade la Bienal del Mercosur/A Concise History of Mercosur Biennial

    Fidelis, Gaudncio Uma histria concisa da Bienal do Mercosul/ Gaudncio Fidelis. Pref. Paulo Sergio Duarte - Porto Alegre, Fundao Bienal do Mercosul, 2005. P. 395

    1.Cultura Bienal Mercosul 2.Arte Bienal Mercosul 3. Arte Amrica Latina PortoAlegre 4. Bienal Mercosul Histria I Ttulo

    CDU 7: 008 (8=6) (091)

    Bibliotecria Responsvel : Ariete Pinto dos Santos CRB/10-422

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  • Uma Histria Concisada Bienal do Mercosul

    Gaudncio Fidelis

    Patrocnio

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  • 5 BIENAL DO MERCOSUL5 BIENAL DO MERCOSUL5 BIENAL DO MERCOSUL5 BIENAL DO MERCOSUL5 BIENAL DO MERCOSUL

    RealizaoFundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul

    Patrocinadores MasterGerdauPetrobrasSantander Cultural / Banco Santander

    Patrocinador do artista homenageado Amilcar de CastroRefap

    Patrocinador da Mostra Direes do Novo Espao eda Obra Permanente de Mauro FukeIpiranga

    Patrocinador da Obra Permanente de Jos ResendeLojas Renner

    Patrocinador do Ncleo Contemporneo de PinturaNacional

    Patrocinador do Ncleo Histrico de PinturaVonpar

    Patrocinadores dos Artistas ConvidadosMasterCardSouza Cruz

    Patrocinador do livro Uma Histria Concisa da Bienal do MercosulHabitasul

    Patrocinador da Ao EducativaGerdau

    Apoiador da Ao EducativaRBS

    Patrocinadores de SegmentosVarig Cia. Area OficialFerramentas Gerais Ferramenta

    Apoiadores da 5 Bienal do MercosulBlue Tree Towers, Digitel, Engex, Fibraplac, Grupo Avipal,ICBNA, Maiojama, Master Hotis, Nestl, Perto, Plaza Hotis,Porto Alegre Convention & Visitors Bureau,Randon e Tintas Renner

    Apoio GovernamentalSecretara de Relaciones Exteriores de Mxico Embajada de Mxico enBrasil Consejo Nacional para la Cultura y las Artes / MxicoDireccin General de Asuntos Culturales Ministerio de RelacionesExteriores Comercio Internacional y Culto/Cancilleria Argentina

    Apoio InstitucionalGoverno Federal Ministrio da Cultura Lei RouanetGoverno Estadual Secretaria da Cultura LICGoverno Municipal Prefeitura Municipal de Porto Alegre

    Projeto auditado porPricewaterhouseCoopers

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  • SumrioSumrioSumrioSumrioSumrio

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    5 Bienal do Mercosul - arte, cultura, corpo e espao5 Bienal do Mercosul - arte, cultura, corpo e espao5 Bienal do Mercosul - arte, cultura, corpo e espao5 Bienal do Mercosul - arte, cultura, corpo e espao5 Bienal do Mercosul - arte, cultura, corpo e espaoGermano RigottoGovernador do Estado do Rio Grande do Sul

    A Bienal do MercosulA Bienal do MercosulA Bienal do MercosulA Bienal do MercosulA Bienal do MercosulRoque JacobySecretrio de Estado da Cultura

    Um desafio contemporneoUm desafio contemporneoUm desafio contemporneoUm desafio contemporneoUm desafio contemporneoElvaristo Teixeira do AmaralPresidente da Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul

    PrefcioPrefcioPrefcioPrefcioPrefcioPaulo Sergio DuarteCurador Geral da 5 Bienal do Mercosul

    AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

    PPPPPorto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: LocusLocusLocusLocusLocus da Bienal do da Bienal do da Bienal do da Bienal do da Bienal doMercosulMercosulMercosulMercosulMercosulJos Francisco Alves

    Apontamentos para uma histria das exposies das BienaisApontamentos para uma histria das exposies das BienaisApontamentos para uma histria das exposies das BienaisApontamentos para uma histria das exposies das BienaisApontamentos para uma histria das exposies das Bienaisdo Mercosuldo Mercosuldo Mercosuldo Mercosuldo Mercosul

    I - A Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosI - A Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosI - A Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosI - A Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosI - A Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosA cultura no mbito do MercosulCultura, identidade e regionalizao: o sentido poltico e cultural doMercosulAs leis de incentivo cultura e a criao da Bienal do MercosulRumo a 1 Bienal: vendo o processo cronologicamente

    II - A 1 Bienal: pioneirismo e ousadia numa iniciativa deII - A 1 Bienal: pioneirismo e ousadia numa iniciativa deII - A 1 Bienal: pioneirismo e ousadia numa iniciativa deII - A 1 Bienal: pioneirismo e ousadia numa iniciativa deII - A 1 Bienal: pioneirismo e ousadia numa iniciativa deflegoflegoflegoflegoflego

    A 1 Bienal do Mercosul e seu campo conceitualOs desdobramentos do projeto curatorialXul Solar o artista homenageadoPara alm das vertentes do projeto curatorialA arte latino-americana nas coleoes brasileiras na 1 BienalO projeto museogrficoPublicaes e programao visualA logomarca da 1 Bienal: um sol vermelho representa a exposioPrestando contas comunidadeA presena de Jess-Rafael Soto na 1 BienalNotas sobre o projeto de gesto da 1 Bienal

    III - A 2 Bienal: um grande esforo para a consolidaoIII - A 2 Bienal: um grande esforo para a consolidaoIII - A 2 Bienal: um grande esforo para a consolidaoIII - A 2 Bienal: um grande esforo para a consolidaoIII - A 2 Bienal: um grande esforo para a consolidaoDiplomacia para consolidaoIdentidade e diversidade cultural como vetores conceituais da mostraIber Camargo o artista homenageadoPicasso, Cubismo e Amrica LatinaA obra de Le Parc na 2 BienalArte e tecnologia na 2 BienalAs representaes nacionaisA museografia na 2 BienalA logomarca da 2 BienalA itinerncia da 2 Bienal

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  • IV - A 3 Bienal: continuidade e transio em cursoIV - A 3 Bienal: continuidade e transio em cursoIV - A 3 Bienal: continuidade e transio em cursoIV - A 3 Bienal: continuidade e transio em cursoIV - A 3 Bienal: continuidade e transio em cursoContiners como uma metfora da transioRevendo a pintura atravs da exposio Poticas PictricasAs representaes nacionaisRafael Frana o artista homenageadoO ncleo histrico e as mostras paralelasA itinerncia da 3 Bienal

    V - A 4 Bienal: reconhecimento e profissionalizao doV - A 4 Bienal: reconhecimento e profissionalizao doV - A 4 Bienal: reconhecimento e profissionalizao doV - A 4 Bienal: reconhecimento e profissionalizao doV - A 4 Bienal: reconhecimento e profissionalizao doeventoeventoeventoeventoevento

    A 4 Bienal e seu projeto de consolidaoDiante de uma arqueologia gentica dos povos da Amrica LatinaAs mostras icnicas na 4 BienalSaint Clair Cemin o artista homenageadoArqueologia das Terras Altas e BaixasA produo de fora do Mercosul na mostra transversal O Delrio doChimborazoAs representaes nacionaisQuestes postas obra: o logo da 4 BienalO projeto museogrficoItinerncia e publicaes

    VI - Repensando o modelo em curso atravs do projetoVI - Repensando o modelo em curso atravs do projetoVI - Repensando o modelo em curso atravs do projetoVI - Repensando o modelo em curso atravs do projetoVI - Repensando o modelo em curso atravs do projetocuratorial: a 5 Bienal se realizacuratorial: a 5 Bienal se realizacuratorial: a 5 Bienal se realizacuratorial: a 5 Bienal se realizacuratorial: a 5 Bienal se realiza

    O projeto curatorial da 5 Bienal do MercosulOs ncleos histricos Experincias Histricas do Plano e A (re)inveno doEspaoHistrias da Arte e do Espao e o tema da 5 BienalOs vetores da exposioA exposio Fronteiras da LinguagemA obra de Amilcar de Castro como fio condutor da 5 BienalO projeto editorial e a logomarca da 5 BienalA formao do Ncleo de Documentao e Pesquisa da Fundao Bienal deArtes Visuais do Mercosul

    VII - Os projetos de ao educativa nas Bienais doVII - Os projetos de ao educativa nas Bienais doVII - Os projetos de ao educativa nas Bienais doVII - Os projetos de ao educativa nas Bienais doVII - Os projetos de ao educativa nas Bienais doMercosul: breve histricoMercosul: breve histricoMercosul: breve histricoMercosul: breve histricoMercosul: breve histrico

    VIII - Contexto e produo em PVIII - Contexto e produo em PVIII - Contexto e produo em PVIII - Contexto e produo em PVIII - Contexto e produo em Porto Alegre: A Bienal doorto Alegre: A Bienal doorto Alegre: A Bienal doorto Alegre: A Bienal doorto Alegre: A Bienal doMercosul e a profissionalizao do meio em PMercosul e a profissionalizao do meio em PMercosul e a profissionalizao do meio em PMercosul e a profissionalizao do meio em PMercosul e a profissionalizao do meio em Porto Alegreorto Alegreorto Alegreorto Alegreorto Alegre

    IX - PIX - PIX - PIX - PIX - Perspectiva Crtica I: Detalhe e especificidade naerspectiva Crtica I: Detalhe e especificidade naerspectiva Crtica I: Detalhe e especificidade naerspectiva Crtica I: Detalhe e especificidade naerspectiva Crtica I: Detalhe e especificidade namuseografia da 5 Bienalmuseografia da 5 Bienalmuseografia da 5 Bienalmuseografia da 5 Bienalmuseografia da 5 Bienal

    X - PX - PX - PX - PX - Perspectiva Crtica II: notas sobre a importnciaerspectiva Crtica II: notas sobre a importnciaerspectiva Crtica II: notas sobre a importnciaerspectiva Crtica II: notas sobre a importnciaerspectiva Crtica II: notas sobre a importnciahistrica da Bienal do Mercosul no estabelecimento de umahistrica da Bienal do Mercosul no estabelecimento de umahistrica da Bienal do Mercosul no estabelecimento de umahistrica da Bienal do Mercosul no estabelecimento de umahistrica da Bienal do Mercosul no estabelecimento de umaauto-estima para a arte latino-americanaauto-estima para a arte latino-americanaauto-estima para a arte latino-americanaauto-estima para a arte latino-americanaauto-estima para a arte latino-americana

    XI - Aspectos da montagem da 5 BienalXI - Aspectos da montagem da 5 BienalXI - Aspectos da montagem da 5 BienalXI - Aspectos da montagem da 5 BienalXI - Aspectos da montagem da 5 Bienal

    XII - TXII - TXII - TXII - TXII - Termos para o estabelecimento de uma volumetria doermos para o estabelecimento de uma volumetria doermos para o estabelecimento de uma volumetria doermos para o estabelecimento de uma volumetria doermos para o estabelecimento de uma volumetria doarquivo: fontes e apropriaoarquivo: fontes e apropriaoarquivo: fontes e apropriaoarquivo: fontes e apropriaoarquivo: fontes e apropriao

    BibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografiaBibliografia

    Os nomes daqueles que fizeram as Bienais do MercosulOs nomes daqueles que fizeram as Bienais do MercosulOs nomes daqueles que fizeram as Bienais do MercosulOs nomes daqueles que fizeram as Bienais do MercosulOs nomes daqueles que fizeram as Bienais do Mercosul

    VVVVVersin al espaolersin al espaolersin al espaolersin al espaolersin al espaol

    English VEnglish VEnglish VEnglish VEnglish Versionersionersionersionersion

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  • 7Novamente, como acontece a cada dois anos, o Rio Grande do Sul tem ahonra de ser palco de um dos mais importantes acontecimentos culturais doPas. Em sua quinta edio, a Bienal de Artes Visuais do Mercosul deixa-nosorgulhosos no s pelo extremo cuidado no trabalho competente desenvolvidopor seus organizadores, como tambm pela qualidade das obras trazidas aopblico, ao qual proporcionam conhecimento e encantamento. Estar entrens uma forte expresso do esprito artstico mundial, em mostra que relacionacorpo e espao ao tema proposto.

    A partir do dia 30 de setembro, por dois meses, os gachos e demais visitantesde Porto Alegre estaro assistindo, observando e admirando a arte e a culturasob as formas mais diversas. Neste ano, a bienal homenageia o notvel escultor,ilustrador e programador visual Amilcar de Castro, cuja obra um dos maiorespatrimnios culturais e estticos do Brasil contemporneo.

    So alguns dos muitos motivos pelos quais a 5 Bienal do Mercosul, em seucontexto educativo, torna-se indispensvel ponto de encontro, conhecimentoe ensinamento, agregando valor extraordinrio interao do pblico com aspeculiaridades da cultura artstica mundial.

    O Governo do Estado do Rio Grande do Sul, mais uma vez, participa, prestigiae reconhece este importante momento, no qual pblico, arte e cultura mesclam-se em uma unicidade mpar.

    Germano RigottoGovernador do Estado do Rio Grande do Sul

    5 Bienal do Mercosul:5 Bienal do Mercosul:5 Bienal do Mercosul:5 Bienal do Mercosul:5 Bienal do Mercosul:arte, cultura, corpo e espaoarte, cultura, corpo e espaoarte, cultura, corpo e espaoarte, cultura, corpo e espaoarte, cultura, corpo e espao

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  • 9O Rio Grande do Sul prdigo em talentos tambm nas artes plsticas. E no de hoje que nomes expressivos em criatividade esto obtendo reconhecimentopor seu trabalho tanto no Brasil quanto no exterior. A Bienal do Mercosul, emsua quinta edio, vem para instigar e motivar ainda mais nossos talentos, afim de que surjam outros, muitos outros, em uma saudvel renovao queculturalmente s nos engrandece.

    Em 2005, a bienal destaca-se ainda pela ao educativa que est buscandodesenvolver junto aos jovens de nossas escolas, favorecendo uma aproximaocom aqueles a quem est entregue a misso de desenvolver a cultura artstica.

    O acesso gratuito s realizaes e aos eventos da bienal torna-a muito maisdemocrtica por permitir o acesso de todos os que estejam interessados emsuas propostas, sem cogitar da sua posio na pirmide social. E essa tradioda bienal de abrir suas portas para acolher a todos, marca de todas as suasedies, apenas se torna possvel pelo respaldo das leis de incentivo cultura,tanto do Rio Grande do Sul quanto da Unio.

    A Bienal do Mercosul , sim, uma conquista do poder pblico em parceriacom a iniciativa privada, assim como daqueles que sabem que cultura no apenas lazer e deleite individual, projetando o nome do Estado para muitoalm de nossas fronteiras. Acima de tudo, ela pode ser uma ferramenta dodesenvolvimento, inclusive econmico, por levar cada um de ns, graas sensibilidade aguada, a enxergar outros horizontes os de sua plenaconscincia como ser humano.

    Roque Jacoby Secretrio de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul

    A Bienal do MercosulA Bienal do MercosulA Bienal do MercosulA Bienal do MercosulA Bienal do Mercosul

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    Um desafio contemporneoUm desafio contemporneoUm desafio contemporneoUm desafio contemporneoUm desafio contemporneo

    O mundo contemporneo feito de desafios, e realizar a Bienal do Mercosul um dos quais me orgulho de ter aceito. Principalmente porque este umdesafio cuja resposta somente poderia ser dada coletivamente. A complexidadede uma exposio como a Bienal de Artes Visuais do Mercosul s pode serrespondida com a colaborao de inmeras pessoas. Nesse processo, contamoscom o inestimvel apoio da iniciativa privada, assim como dos governosmunicipais, estaduais e federal que, em um esforo conjunto de exerccio decidadania e conscincia da responsabilidade pblica, no mediram esforospara tornar vivel esse evento que j faz parte do universo cultural latino-americano. Hoje, graas Bienal do Mercosul, Porto Alegre est no mapa daarte contempornea internacional ao tornar-se a principal exposio de artelatino-americana do mundo. Ao longo das suas cinco edies, diversos artistasaqui mostraram suas obras, muito se discutiu sobre a produo em sua dimensohumanstica e artstica e vrios profissionais ajudamos a formar. A Bienal doMercosul tem sido, sem sombra de dvida, um evento que prima pelaexcelncia, ao veicular a produo artstica, e pela inovao de seus projetoscuratoriais. Para ns, a quinta edio tambm emblemtica porque representaa consolidao desse evento, assim como se configura em uma exposio deflego e de qualidade indiscutvel.

    Aproveitamos esta oportunidade para trazer luz a presente publicao, quecolabora para revitalizar a memria da instituio e dos eventos que temrealizado, promovendo um encontro com o imaginrio de todos aqueles quetrabalharam na Bienal do Mercosul. Contar essa histria tambm umamaneira de prestarmos contas pblicas pelos recursos utilizados e depromovermos possibilidades de um olhar histrico sobre o trabalho e aproduo artstica e terica aos quais a Fundao deu visibilidade e os quaiscolaborou para produzir. Nada mais contemporneo, nada mais desafiador. Ainstituio que no olha para si no mundo atual corre o risco de fechar-se naobscuridade. Portanto, em sendo uma instituio cujo objeto de trabalho por excelncia a contemporaneidade, no poderamos furtar-nos a essaresponsabilidade. Queremos, assim, resgatar e promover os recursos humanosque fizeram a histria da Bienal do Mercosul. Alm disso, desejamos apresentaressa histria a todos os que ainda no tiveram a oportunidade de conhec-lade perto, de maneira que, a partir do mecanismo que este livro e da criaodo Ncleo de Documentao e Pesquisa, que estar em breve aberto ao pblico,colocar disposio da comunidade possibilidades reais de elaborar sua prpriaviso desta instituio e, ao mesmo tempo, convidar a fazer parte deste evento.Acreditamos que assim estaremos contribuindo para um efetivoengrandecimento da sociedade, para uma viso mais justa e igualitria davisibilidade aos bens culturais e memria e, finalmente, para um maioravano no processo de colaborar para que esta instituio que de todos possa caminhar a passos largos para um futuro que nos orgulha.

    Elvaristo Teixeira do AmaralPresidente da Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul

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    Aqui est um trabalho do qual a Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosuldeve orgulhar-se: Gaudncio Fidelis ps-se como tarefa importante desta 5Bienal do Mercosul, na qualidade de seu curador-adjunto, escrever UmaHistria Concisa da Bienal do Mercosul. No a histria da bienal. Pressupe,pelo seu ttulo, que haver outras, sem dvida, diferentes; portanto, o quetemos aqui uma histria. Outro aspecto j contido no ttulo: nosso curador-adjunto no pretende ser exaustivo em todos os aspectos que envolvem arealizao de cada bienal captao de recursos, gesto, aspectos operacionaisda produo, entre tantos outros; por isso, essa histria concisa. Umaabordagem por demais abrangente s tem duas sadas: ou se produzem diversosvolumes, um para cada aspecto da bienal, ou se reduzem dimenses complexasa descries superficiais, sem falar que uma obra desse tipo teria de sernecessariamente coletiva, escrita por dirigentes, administradores e produtores.Esta a obra escrita por um curador, motivo pelo qual tem foco preciso eobjetivo claro.

    Embora desenvolvendo uma reflexo terica sobre os papis das bienais euma srie de fatos envolvendo a origem da Bienal do Mercosul, concentra-senos captulos correspondentes a cada edio da bienal em seus projetoscuratoriais e como estes se materializaram. Qualquer aprofundamento maiorna anlise desses projetos fecharia o escopo do livro para um nicho de especialistas.Aprofundamento que, diga-se logo, o autor seria mais do que capaz de realizar.No entanto, Gaudncio Fidelis preferiu uma linguagem fluente e uma boadose de informao que interessa tanto a pesquisadores que desejam realizarfuturos mergulhos nos detalhes quanto ao leigo que queira conhecer comovem desenvolvendo-se essa instituio que j responsvel pela maior mostrade arte latino-americana.

    Pode-se objetar se no precoce essa histria; afinal, a quinta edio da Bienaldo Mercosul apenas comea, e o recuo de nove anos pode ser consideradomuito curto para se escrever uma histria. Melhor assim. Com todas as possveiscorrees que venha a sofrer, em virtude inclusive da investigao de risco queconsiste qualquer trabalho de histria contempornea que lide com um corpusainda restrito de documentos para um curto espao de tempo, o trabalho formidvel.

    Outra objeo o fato de essa histria ser escrita de dentro da prpria instituio,o que faz com que, em certa medida, seu autor e, portanto, essa verso tenhacompromissos diretos com seu prprio objeto. Gaudncio Fidelis estconsciente das limitaes da decorrentes. De qualquer forma, penso que sejaindito no Brasil, para instituies culturais com to pouco tempo de existncia,o trabalho exaustivo, minucioso e bem-escrito que colocado s mos dopblico e de estudiosos. Uma Histria Concisa da Bienal do Mercosul , desdej, uma referncia para qualquer pesquisa sobre a histria dessa instituio.

    Paulo Sergio DuarteCurador Geral da 5 Bienal do Mercosul

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    A realizao de uma publicao dessa dimenso nunca fruto de um sindivduo. Ela antes um esforo coletivo em que a colaborao de inmeraspessoas fundamental e indispensvel. Nesse caso no foi diferente. Alm daequipe envolvida diretamente nesse projeto, inmeras pessoas colaboraramcom trabalho e dedicao, fornecendo informaes ou ainda colocando disposio materiais bibliogrficos e fontes no facilmente disponveis. Foium projeto coletivo tambm no sentido de que, ao coletar dados e materiais,dividi com inmeras pessoas informaes, sugestes e idias. A todas elas devomeus mais sinceros e carinhosos agradecimentos.

    Nesse processo, foi fundamental o apoio de meus colegas curadores: PauloSergio Duarte, curador geral, e Jos Franscisco Alves e Neiva Bohns, curadores-assistentes. Com eles dividi momentos de alegria e dificuldade nessa longajornada que foi escrever este livro e, ao mesmo tempo, trabalhar na realizaoda 5 Bienal do Mercosul.

    Meus sinceros agradecimentos aos curadores da Bienal do Mercosul FbioMagalhes, Franklin Pedroso, Frederico Morais, Leonor Amarante e aoscuradores da 5 Bienal Cecilia Bay Botti, Eva Gristein, Justo Pastor Mellado,Gabriel Peluffo e Ticio Escobar pelo inestimvel tempo colocado disposiopara responder perguntas e conceder-me entrevistas sem as quais este textono teria a riqueza que possui.

    Agradeo aos dirigentes da Bienal pela mesma razo: Ivo Nesralla, JustoWerlang, Jos Paulo Soares Martins e Renato Malcon. A oportunidade quetive de dividir com todos eles longas conversas engrandeceu o processo deescrever este texto. Agradeo ainda a Elvaristo Teixeira do Amaral, pelaspreciosas informaes e pelo apoio recebido.

    Quero agradecer especialmente a Justo Werlang pelo apoio, pela ateno epela incansvel dedicao ao projeto desta publicao. As longas horas detrabalho que tivemos foram, por que no dizer, motivo de satisfao eengrandecimento que trouxeram para esse projeto muito mais que um perfilacadmico, mas um empreendimento em que a ateno ao detalhe e especificidade conferiram ao projeto uma dimenso maior.

    Agradeo imensamente a Jorge Gerdau Johannpeter no s por ter dedicadoparte de seu tempo para esta publicao, como tambm por ter contribudocom todos ns atravs de seu inestimvel senso de comunidade ao colaborarpara a existncia da Bienal do Mercosul. Embora saibamos que a Bienal resultado de um processo coletivo, no podemos deixar de reconhecer seupapel de liderana nesse processo.

    Agradeo aos artistas pelas longas entrevistas e pelo tempo dispensado emcomplementar informaes. A Ldia Lucas Lima agradeo pela colaboraodedicada nos captulos referentes 2 e 3 Bienal. Suas informaes ajudaramgrandemente a dar polimento e preciso ao texto.

    A equipe que trabalhou comigo nesta publicao foi motivo de inspirao. Suadedicao e seu estmulo foram fundamentais em meio a tantas dificuldades,principalmente em um processo de fazer uma bienal, da qual esta publicaorepresenta apenas uma pequena parte, ainda que imensa em sua importncia ecomplexidade. Quero agradecer inicialmente a Giovana Vazatta, minha assistente

    AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

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    de pesquisa nesse trabalho, sem a qual este texto no poderia ter sido escrito emto curto espao de tempo. Seu trabalho de coletar informaes e apresent-lasa mim de forma ordenada e de conferir dados foi precioso ao formar uma slidaestrutura sobre a qual este livro se assenta. Agradeo enormemente a RafaelRachewsky por ter tomado para si a responsabilidade de pr de p o projetodeste livro e dos outros desta coleo, com dedicao, sensibilidade e inteligncia.Ao seu incansvel trabalho se deve, no somente esta, mas todas as publicaesdo projeto editorial desta Bienal.

    Agradeo a Fernanda Ott, coordenadora do Ncleo de Documentao ePesquisa, pelo apoio logstico na obteno de materiais iconogrficos e suapermisso para publicao, cujo trabalho foi minucioso e dedicado. A JliaOliveira Berenstein pela sistematizao de dados, fontes e informaes relativasao material iconogrfico, a Cristiana Helga Rieth pela transcrio de inmerasentrevistas e ainda a Ana Paula Freitas Madruga pelo apoio.

    O dedicado trabalho de reviso dos originais feito por Elisngela Rosa dosSantos s encontrou recepo no magnfico design grfico do livro elaboradopor ngela Fayet e Janice Alves. Sem o empenho e a dedicao dessesprofissionais nenhuma destas publicaes teria atingido aquilo que eu acreditoser um alto patamar de qualidade.

    Inmeras empresas, instituies e pessoas colaboraram nesse trabalho. Semelas no poderamos ter reunido to extenso volume de material e informaes.A todas elas meus mais sinceros agradecimentos. Entre elas, cabe lembrarDalton Delfini Maziero (Fundao Bienal So Paulo), agncia GadDesign,Agncia RBS CDI Joranl Zero Hora - Arquivo de Fotos, FURPA Fundao dos Rotaryanos de Porto Alegre, Grupo Gerdau Departamentode Comunicao Social, Vera Greco do Ncleo de Documentao do Museude Arte do Rio Grande do Sul, Museu de Comunicao Hiplito Jos daCosta, Parceiros Voluntrios, Servio Social do Comrcio (SESC), FundaoIber Camargo, Maria Camargo e Manuel Claudio Borba, diretor do MuseuHiplito Jos da Costa. Vrias pessoas contriburam ainda fornecendo materiaisde seus arquivos particulares, a quem devemos os mais sinceros agradecimentos:Joel Fagundes, da Big Joe, Margarita Kremer, Jos Francisco Alves, JustoWerlang e Jos Paulo Soares Martins.

    Todos sabemos o quanto importante para pesquisadores a cedncia demateriais iconogrficos para publicao. Sem eles essas mesmas publicaes,assim como seu pblico, ficam privados de informao advinda de materiaisvisuais. Por isso, quero agradecer aos fotgrafos que gentilmente cederamvrias imagens para esta publicao sem nenhum nus para a instituio:Adriana Franciosi, Carlos Stein, Fabio Del Re, Leonid Streliaev e MathiasKramer. Outros tantos veculos de comunicao da imprensa escrita no sforneceram materiais, como gentilmente nos autorizaram material parapublicao. A eles meus mais sinceros agradecimentos: A Notcia SC, Correiodo Povo RS, Dirio Catarinense SC, Folha do Estado Cuiab MT,Hoje em Dia BH, Jornal do Comrcio RS, Jornal NH (Novo Hamburgo),O Estado de So Paulo SP, Jornal O Sul RS e Jornal Zero Hora RS,Revista Bravo e Revista Aplauso.

    A Bienal do Mercosul feita em grande parte pelo esforo e trabalho doscolaboradores e funcionrios desta Fundao. Este livro no teria sido realizadosem a colaborao em muitos de seus detalhes dos membros de sua equipepelo seu trabalho de apoio. Sem eles no seria possvel a nenhum de ns,

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    curadores, fazer o trabalho que fizemos: Adriana Stiborsky, Everton SantanaSilva, Luisa Schneider, Marta Magnus, Suzana Marques, Tatiana MachadoMadella, Terezinha Abruzzi Pimentel e Volmir Luiz Gilioli. Agradeoespecialmente a Adriana Stiborsky e Marta Magnus, por terem fornecidodados orais sobre a trajetria das Bienais que foram de valor inestimvel paraconstruir esta histria.

    Escrever um livro dessa envergadura em to curto espao de tempo umatarefa de grande responsabilidade, aquela de fazer jus ao trabalho e dedicaode tantas pessoas que trabalharam para que esta instituio se tornasse umarealidade. Nesse processo, no faltou quem viesse me resgatar em momentosde dificuldade: Andria Druck, Justo Werlang, Jos Paulo Soares Martins,Jos Francisco Alves. O processo de fazer uma Bienal uma longa e difciljornada; porm, conviver com um nmero de pessoas cuja riqueza deexperincias s nos traz engrandecimento talvez sua parte mais compensatriae enriquecedora. Se me lembro dos momentos difceis, lembro-me mais aindadaqueles cujas as palavras de encorajamento e suporte foram mais significativasdo que qualquer dificuldade.

    Por fim, no posso deixar de lembrar minha famlia, que acompanhou semprede perto esse intenso trabalho: Ari Fidelis e Gladis Cardoso Fidelis, FabianaFidelis, Giovana e Rainer Hillmann, Luciano Fidelis e Beatriz Minuzzo,Heloisa dos Santos Cardoso, Maria ngela dos Santos Cardoso e Maria LuizaCardoso. Durante esse percurso, saudades ficaram de Adiles dos SantosCardoso (in memoriam).

    Gaudncio Fidelis

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    PPPPPorto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: orto Alegre, Rio Grande do Sul: Locus Locus Locus Locus Locus da Bienal do Mercosulda Bienal do Mercosulda Bienal do Mercosulda Bienal do Mercosulda Bienal do Mercosul

    Jos Francisco Alves

    Muito se tem discutido sobre a Bienal do Mercosul, mais do que nos damos conta em um primeiromomento, seja por seus mritos, acertos e desacertos, por sua posio na questo cultural da Amrica Latina,e assim por diante. Pouco se fala, porm, na razo pela qual esse evento sem precedentes foi criado justamenteem Porto Alegre, considerando outras cidades da mesma importncia com capacidade para realizar talempreendimento, tais como Belo Horizonte, Braslia, Curitiba, Rio de Janeiro ou Recife. Podemos falar dasrazes econmicas, da sobreposio das leis de renncia fiscal em prol da cultura, entre outras, mas um aspectohistrico e geogrfico igualmente importante: a localizao epidrmica da terra dos gachos entre as Amricasportuguesa e espanhola.

    O Estado do Rio Grande do SulO Estado do Rio Grande do SulO Estado do Rio Grande do SulO Estado do Rio Grande do SulO Estado do Rio Grande do Sul

    O Rio Grande do Sul foi a ltima regioatlntica do Brasil a ser povoada e a nica fronteiraefetiva fronteira viva das coroas ibricas nasAmricas. Regio virtualmente espanhola emdecorrncia do Tratado de Tordesilhas (1494), em 1626comeou a ser colonizada por espanhis as reduesda Companhia de Jesus. Como resposta lusitana,ocorreram as incurses dos bandeirantes. A primeiravila rio-grandense a ser criada foi Rio Grande, em 1737,justamente para dar sustento ao rumo portugus nadireo meridional da Amrica do Sul, iniciado anosantes com a Nova Colnia do Santssimo Sacramento(1680). O Tratado de Madri (1750) propiciou acolonizao lusitana ordenada do Rio Grande do Sul,por volta de 1752, com os imigrantes das Ilhas dosAores, vindos especialmente para ocupar a regio negociada com os espanhis em troca da Colnia doSacramento: as Misses Jesuticas. Todavia, a resistncia dos indgenas ao Tratado resultou na Guerra Guaranticae mudou a direo da colonizao aorita, ocasionando, assim, a formao de Porto Alegre e das vilas da regio.

    Vista area da cidade de Porto Alegre/Aerial view of downtown Porto AlegreCais do PortoFoto: Henrique Raizler

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    Em 1777, o Tratado de Santo Ildefonso tentou remodelar esse imbrglio diplomtico-territorial; malogradoeste tambm, somente em 1801 os espanhis foram expulsos das Misses, aps definitiva ocupao militar

    brasileira. Nesse momento, no limiar do sculo XIX, que o Rio Grande do Sulpassou a compor o seu aspecto territorial atual.

    Esse palco de disputas pela fixao da fronteira o primeiro lancaracterizador da evoluo histrica rio-grandense ,1 somado a fatores econmicosda explorao do gado, forjou a estirpe do habitante da regio a quem se deu onome de gacho.

    A Cidade de PA Cidade de PA Cidade de PA Cidade de PA Cidade de Porto Alegreorto Alegreorto Alegreorto Alegreorto Alegre

    Porto Alegre teve sua origem com um ncleo urbano inicial de casaisaorianos, instalado a partir de 1753, na margem esquerda do Lago Guaba, sendoinicialmente apenas uma escala para o transporte dos ilhus at a regio missioneira.No se efetivando a colonizao como o planejado, os aoritas ficaramprovisoriamente no local por cerca de 20 anos. Muitos deles ainda conseguiramcolocao em ncleos prximos, nos vales dos rios Jacu, Pardo e Taquari. Aquelesque permaneceram s margens do Guaba foram os que posteriormente se

    consumaram como os primeiros habitantes da atual capital do Rio Grandedo Sul.

    A regio que hoje o centro de Porto Alegre localiza-se numaprotuberncia de terra projetada sobre um torniquete de rios que formao incio do grande Lago Guaba, denominada por muitos como pontada pennsula ou simplesmente pennsula. No incio do sculo XVIII,eram terras pertencentes sesmaria de Jernimo de Ornelas Menezes eVasconcelos. Com a invaso espanhola no Brasil, em 1763, e aconseqente tomada de Rio Grande, a capital foi transferida para oarraial de Viamo. Em pouco tempo, o primitivo arranchamento deimigrantes nas margens do Guaba, por seu crescimento e sua melhorlocalizao, seja como entreposto ou como posio militar (antigo Portodo Viamo, depois Porto do Dorneles e Porto dos Casais), foi escolhidopara ser a capital da Provncia de So Pedro do Rio Grande do Sul apartir de 1773. Contudo, a data de fundao da cidade considerada ade 26 de maro de 1772, com a criao da Freguesia de Nossa SenhoraMadre de Deus de Porto Alegre. Desvinculava-se, assim, da Freguesiade Nossa Senhora da Conceio de Viamo, a capela existente no Portodos Casais: a partir da, passaram a ser batizados os primeiros porto-alegrenses e Porto Alegre efetivamente pde crescer com nome prprio.

    Em razo do aumento populacional, na dcada de 1860, a capitalnecessitava de uma distribuio pblica de gua potvel ajustada com ademanda. Para tanto, foi implantado um sistema de abastecimento quecontou com a vinda das primeiras obras de arte significativas para acidade: os chafarizes importados da Europa. Um deles veio da Itlia,executado em mrmore, da regio de Carrara, constituindo-se no primeiromonumento pblico do Rio Grande do Sul por sua condio de marcocomemorativo, tendo sido montado em homenagem razo de ser dePorto Alegre: o Guaba.2 Os demais chafarizes, em nmero de sete, eramde ferro fundido e vieram da prestigiada Fundies A. Durenne, doAlto Marne, na Frana. Todos foram instalados entre 1865 e 1867.

    A educao pblica demorou a ser implantada no territrio. Noprincpio, foram criadas esparsas salas para alfabetizao, na dcada de1770, para os filhos dos guaranis transferidos das Misses e alojados naAldeia dos Anjos, atual Gravata. Com o passar dos anos, em 1822,

    O prdio onde est a sede da Fundao Bienal deArtes Visuais do Mercosul no 10 andar/The building

    where the headquarters of the Mercosul Visual ArtsBiennial is located at the 10th floor

    Foto: Rafael Rachewsky

    Casa de Cultura Mrio QuintanaFoto: Henrique Raizler

    Monumento ao/Monument toLaador

    Smbolo da Cidade de/Symbol of thecity of Porto Alegre

    Foto: Jos Francisco Alves

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    Mercado Pblico/The Public Market - Largo Glnio PeresFoto: Henrique Raizler

    Vista area do centro da cidade de Porto Alegre a partir da Usina doGasmetro/Aerial view of downtown Porto Alegre from Usina do GasmetroFoto: Henrique Raizler

    Vista da Rua dos Andradas/View of Andradas StreetTambm conhecida como/Also known as Rua da Praia, localiza-se na parte central da cidade de/located in the central area ofthe cityFoto: Rafael Rachewsky

    Catedral Metropolitana e Palcio Piratini, Sede do Governo do Estado/Metropolitan Cathedral and Piratini Palace, Rio Grande do Sul StateGovernment HeadquartersFoto: Henrique Raizler

    Vista da ponte Getlio Vargas/View of Getlio Vargas BridgeFoto: Henrique Raizler

    constava que no havia mais de trs homens formados naturais destaProvncia e quatro Meninos de Coimbra.3 H autores que julgam essetardio aparecimento do ensino pblico como uma das causas daRevoluo Farroupilha (1835-1845). Somente em 1850 passou afuncionar em Porto Alegre seu primeiro liceu, iniciando, assim, aformao do corpo de professores de que tanto necessitava a Provncia.Acompanhando o acentuado crescimento rio-grandense da segundametade do sculo XIX, em apenas 50 anos a capital j contava comcursos superiores: a Escola de Farmcia e Qumica (1895), a Escola deEngenharia (1896), a Faculdade de Direito (1896) e a Faculdade deMedicina (1898). Em 1908, foi fundado o Instituto de Belas Artes,com cursos de msica; posteriormente, em 1910, iniciaram-se os cursosde desenho, pintura e artes de aplicao. Todos essas escolas foramembries da primeira universidade, fundada em 1934.4 Em 1957, foicriado o curso de Arte Dramtica na Faculdade de Filosofia.

    No entanto, a histria da cultura e da arte no se faz somentenas academias. Em 1855, Jos Joaquim de Medanha criou a SociedadeMusical Porto-Alegrense. Trs anos depois, era inaugurado o Teatro SoPedro, em funcionamento at hoje. Em 1868, surgiram a FilarmnicaPorto-Alegrense e o clebre Partenon Literrio. No primeiro ano do sculo XX, foi fundada a Academia Rio-Grandense de Letras. No plano das artes plsticas, em 1875 ocorreu a primeira exposio; em 1881, asegunda; em 1891, a terceira. Em 1903, aconteceu a quarta coletiva e o Salo da Gazeta Mercantil de Porto

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    Vista area de Porto Alegre/Aerial view of Porto Alegre esquerda embaixo/At the botton left antigas instalaes do/Former facilities

    of DEPRC e/and Usina do Gasmetro durante/during II Bienal (1999)Foto: Henrique Raizler

    Vista do/View of Parque Farroupilha (Redeno)Foto: Henrique Raizler

    Alegre. Uma outra significativa mostra viria a ocorrersomente em 1925, o Salo de Outono, no prdio daIntendncia Municipal, atual Pao dos Aorianos. Em1935, com as monumentais comemoraes do Centenrioda Revoluo Farroupilha, foi organizada uma grandemostra, no Pavilho Cultural da Exposio do Centenrio,organizada pelo professor do ento Instituto de Artes daUFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), opintor ngelo Guido. Em 1938, foi fundada a AssociaoRio-Grandense de Artes Plsticas Francisco Lisboa, a maisantiga entidade de artistas plsticos com tempo de atividadeno Brasil. Em 1954, por Decreto, criou-se o Museu deArte do Rio Grande do Sul. Localizado inicialmente noTeatro So Pedro, aps mudanas de sede, somente em1979 foi alocado no atual prdio. Em 1961, por iniciativade Iber Camargo, entre outros, foi criado o Atelier Livreda Prefeitura, escola alternativa ao ensino acadmicopraticado pelo curso de arte da Universidade Federal. OInstituto de Artes da UFRGS possui cursos de Bachareladoem Artes Plsticas, Mestrado e Doutorado em Teoria eCrtica da Arte e Poticas Visuais.

    A PA PA PA PA Porto Alegre da Culturaorto Alegre da Culturaorto Alegre da Culturaorto Alegre da Culturaorto Alegre da Cultura

    A capital gacha hoje uma metrpole bemdesenvolvida, com 1,4 milho de habitantes, praticamenteeqidistante de cidades como So Paulo, Buenos Aires,Montevidu e Assuno. Possui duas universidades e umncleo de instituies culturais do qual se destacam o jmencionado Museu de Arte, a Casa de Cultura MrioQuintana (1990), a Usina do Gasmetro (1988), o CentroMunicipal de Cultura (1978), o Memorial do Rio Grandedo Sul (1998) e o Santander Cultural (2001).

    Em 1992 foi fundado5 o Museu de ArteContempornea do Rio Grande do Sul, atualmente sediadono complexo Cultural Casa de Cultura Mrio Quintana.O museu desenvolveu um papel institucional fundamentalnos anos seguintes e aguarda ocupar seu lugar definitivojunto a um complexo de empreendimentos na rea doCais do Porto,6 este em processo de reciclagem, com vistasa transformar-se em rea cultural, de negcios e lazer.

    As perspectivas culturais de Porto Alegre soextremamente positivas, com uma enorme atividade narea de artes plsticas, msica, literatura, cinema e dana.Na rea de literatura, destaca-se a Feira do Livro, consideradaa maior feira de livros aberta da Amrica Latina, queanualmente ocorre em novembro, na Praa da Alfndega,e cuja primeira edio ocorreu em 1955.

    Na rea de artes plsticas, Porto Alegre destaca-sepor empreendimentos culturais de porte internacional

    como a Bienal do Mercosul (1997), j consolidada pelos paradigmas que tem criado, e o complexo daFundao Iber Camargo,7 previsto para ser inaugurado em 2006, cujo prdio tem a autoria do prestigiadoarquiteto portugus lvaro Sisa. A Fundao que atualmente funciona junto residncia onde viveu o artista,

    Museu de Arte Contempornea do Rio Grande do Sul/Museum ofContemporary Art of Rio Grande do Sul

    Vista da exposio/View of the exhibition Dilemas da Matria(25 out. a 30 dez. 2002)

    Sede temporria do/Temporary headquarters of MAC-RS Casa de CulturaMrio Quintana

    Foto: Fernando Zago

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    Da direita para esquerda/From right to left SantanderCultural, Memorial do Rio Grande do Sul e Museu deArte do Rio Grande do Sul Ado MalagoliPraa da/Square Alfndega - Porto AlegreFoto: Rafael Rachewsky

    O Pr-do-sol de/The Sunset in Porto AlegreO Pr-do-sol uma das caractersticas marcantes dacidade. Na foto, em primeiro plano, a obra Excentra doartista uruguaio Rulfo (2004), instalada na V Bienal doMercosul junto ao Cais do Porto/The sunset is one of thecitys attractions. In the picture, the work Excentra bythe Uruguayan artist Rulfo (2004) was installed at the5th Mercosur Biennial, near the wharf.Foto: Carlos Stein - Vivafoto

    Fundao Iber CamargoConstruo da sede na Avenida Padre Cacique, n 2000/Construction of new headquarters at 2000 PadreCacique Avenue - Porto AlegreProjeto do Arquiteto/Design by Architect lvaro Siza,premiado com Leo de Ouro na Bienal de Arquiteturade Veneza, em 2002/Golden Lion at the 2002 VeniceBiennialCortesia/Courtesy Fundao Iber CamargoFoto: Fbio Del Re - Vivafoto

    Referncias

    Csar, Guilhermino, Histria do Rio Grande do Sul (Porto Alegre: Globo, 1970).Damasceno, Athos, Artes Plsticas no Rio Grande do Sul (Porto Alegre: Globo, 1970).Ferreira Filho, Arthur, Histria Geral do Rio Grande do Sul (Porto Alegre: Globo, 1958).Kremer, Alda Cardozo, Panorama da Educao, in Rio Grande do Sul Terra e Povo (Porto Alegre: Globo, 1970).Macedo, Francisco Riopardense de, Porto Alegre Histria e Vida da Cidade (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1973).Simon, Crio, Origens do Instituto de Artes da UFRGS, Tese de Doutoramento em Histria, PUC-RS, Porto Alegre.Trevisan, Armindo, A Escultura dos Sete Povos (Porto Alegre: Movimento, 1978).

    1 Trevisan, 1978, 14.2 Suas esttuas, alegorias realizadas em escala industrial, foram nomeadas de acordo com os rios que formam o lago Ca, Sinos, Gravata e Jacu , almda esttua principal do conjunto, simbolizando o prprio Guaba.3 Kremer, 1969, p. 10, citando Antnio Jos Gonalves Chaves, em 1823.4 Universidade de Porto Alegre, posterior Universidade do Rio Grande do Sul (1947), e, finalmente, Universidade Federal do Rio Grande do Sul(1950).5 O Museu foi fundado por Gaudncio Fidelis e criado por Decreto Governamental de 18 de maro de 1992. Possui obras significativas de artistasbrasileiros como Carlos Fajardo, Iole de Freitas, Karen Lambrecht, Nuno Ramos,Vera Chaves, contando com um acervo representativo da artecontempornea produzida no Rio Grande do Sul.6 Uma magnfico prtico de entrada para o Cais do Porto era a porta de entrada da capital para os viajantes que nos anos 20 chegavam a cidade pelorio. De origem francesa o prtico foi construdo entre 1911 e 1922 a porta de entrada para uma rea onde esto localizados 17 armazns parte delesutilizados bianualmente para exposies pela Bienal do Mercosul.7 A Fundao foi criada em 1995 com o objetivo de preservar e divulgar a obra de Iber Camargo. Desde seu incio a Fundao vem organizandoexposies, encontros com artistas e seminrios nacionais e internacionais sobre a obra do artista assim como sobre arte contempornea. Sobre o artistaver captulo da 2 Bienal do Mercosul neste livro.

    Notas

    j tem se consolidando como uma instituio que sinaliza para um perfil internacional pelas diversas atividadesque tem realizado, mostrando um trabalho de ampla envergadura institucional. Alm disso, a capital gachatambm se destaca com realizaes de outra ordem, como o Frum Social Mundial, criado em 2001, eventoque foi projetado pela cidade e que, ao mesmo tempo, a projeta para o mundo.

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    O trabalho de pesquisa para esta publicao teve lugar no recm-formado Ncleo de Documentao ePesquisa da Fundao Bienal de Artes Visuais do Mercosul. Como colaborao ao projeto curatorial destabienal, sugeri organizar uma publicao sobre a ainda recente histria da Bienal do Mercosul. Para tanto, foirealizado um trabalho de pesquisa da documentao existente, na poca ainda bastante dispersa, acrescido deentrevistas a diversas pessoas envolvidas de alguma forma com o projeto da bienal. No segundo semestre de2004, respondendo tambm a uma necessidade gerada pela realizao desta publicao, a Fundao Bienalcontratou um profissional para dar incio ao processo de organizao e sistematizao de seu acervo documentale bibliotecrio a fim de que esse servisse no somente para utilizao de seus profissionais, como tambm parauma futura disponibilidade ao pblico especializado.

    Foi paralelamente a esse processo de organizao do acervo que realizamos o trabalho com o objetivode escrever uma histria concisa da bienal a ser materializada na forma de uma publicao. Atravs dapesquisa de documentos, material de imprensa e entrevistas, aos poucos foi possvel reconstruir essa histria jto plena de detalhes e constitutiva de aspectos significativos no s para o panorama das artes visuais no RioGrande Sul, como de fato para a Amrica Latina. Esse foi um trabalho exaustivo e minucioso, cuja dificuldadefoi exacerbada pelo exguo espao de tempo de que dispnhamos para escrever o texto, considerando aindao enorme volume de trabalho que representa atuar na organizao e curadoria de uma exposio dessadimenso.

    A histria da Bienal do Mercosul a histria de seus visionrios, empreendedores, patrocinadores,curadores, funcionrios, produtores, profissionais da rea, artistas participantes e todos aqueles que deram suacontribuio naquele que o maior empreendimento cultural constitudo na rea de artes plsticas no Brasildepois da Bienal de So Paulo. Ela fundamentalmente o resultado de um processo coletivo.

    Meu objetivo ao escrever este texto foi trazer a pblico o papel que cada um desses agentes desempenhou,seus desdobramentos no exerccio da constituio das edies que a Fundao realizou e ao final, como membroda curadoria desta bienal, propiciar alguns elementos de reflexo sobre o que o futuro sinaliza para o eventoBienal de Artes Visuais do Mercosul. Chamo ateno para o ttulo, que aponta para o fato de que esta umahistria da Bienal do Mercosul de tantas outras que possam a ser escritas. Ela representa assim um tipo dehistria, eu diria, mas nem por isso a nica. Tentei escrever este texto considerando que essa seria no s umahistria da instituio, mas fundamentalmente uma histria das exposies que a Fundao Bienal promoveu.

    Apontamentos para uma histria das exposies das Bienais doApontamentos para uma histria das exposies das Bienais doApontamentos para uma histria das exposies das Bienais doApontamentos para uma histria das exposies das Bienais doApontamentos para uma histria das exposies das Bienais doMercosulMercosulMercosulMercosulMercosul

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    Trata-se, portanto, de tentar mostrar como todos os mecanismos que compem e gravitam em tornode um evento do porte de uma bienal so partes fundamentais no processo de sua constituio. Essasexposies, a meu ver, no podem ser consideradas isoladamente. O modo de exibio desses objetos expressona museografia, nos projetos de renovao dos stios arquitetnicos que as abrigam, nas estratgias de marketingcomposta por suas peas grficas e promocionais e, claro, por seus projetos curatoriais, todos propiciamelementos que falam sobre como cada um dos eventos pensou sua prpria imagem refletida na esfera pblica,assim como as intenes e a agenda que estabeleceram. Exposies no so, como se sabe, eventos de simplesveiculao da produo. Estas o fazem lanando mo de um complexo aparato conceitual e material que temum impacto determinante na maneira como vemos esses objetos e como nos reportamos a eles como reflexode uma determinada perspectiva cultural que temos em mente. Representam ainda o modo como buscamosdirigir a leitura que queremos que delas sejam feitas. Contudo, exposies so tambm uma maneira de fazerum espetculo, ou seja, tm vida prpria, para alm dos objetos que exibem e para alm dos pressupostosbsicos de dar visibilidade obra. Assim, elas se tornaram um meio sem o qual a arte no mais pode existir. Suaveiculao tornou-se dependente desse mecanismo que faz com que a obra circule, seja vista, interpretada eem ltima instncia comercializada, ainda que em muitos casos as relaes de compra e venda no se efetivemde forma concreta.

    Exposies so tambm poderosos mecanismos para a produo de conhecimento. O grande volumede informao e teoria que geram constitui por si s o que poderamos chamar de uma mais-valia daveiculao de seus objetos. Constituda como um projeto em si, a exposio possui uma autonomia capaz deultrapassar, muitas vezes, a autonomia da prpria obra de arte. At muito recentemente, as exposies noeram crticas sobre seu prprio papel na constituio de agendas especficas. Projetos curatoriais recentes tmtentado sistematicamente subverter essa ordem ao constituir exposies em que a visibilidade da obra sejaconsiderada prioridade em oposio condio de autoria instituda pelo curador. A despeito da presena docurador como nico culpado pelo carter de autoria impresso s exposies, parece que estas conseguemmanter seu carter pervasivo de se sobrepor s individualidades dos objetos ali representados, enquanto asubjetividade do curador tem sido constantemente posta em questo. Por essa razo, as exposies tm sidoobjeto de um vasto campo de reflexo terico-crtico que se esfora por desconstruir a problemtica por elasgerada em todos os seus desdobramentos no campo da produo de conhecimento. Hoje, elas quase tm porobrigao fazer a prpria crtica de sua constituio.

    Esta publicao, entretanto, no tem esse objetivo e nem poderia t-lo. At porque no seria possveluma anlise criticamente isenta, no mbito de uma perspectiva acadmica, que fosse escrita por um dosagentes implicados diretamente no processo de constituio do evento que a abriga. Porm, cabe lembrar quese trata aqui de uma iseno ligada representatividade institucional, no a iseno em si, j que esta de fatotalvez no exista, dentro ou fora da instituio. Se, por um lado, a iseno crtica no poderia ser plenamenteexercida nesse caso, por outro, uma clara metodologia pde dar ao projeto o distanciamento necessrio econtar essa histria com rigor suficiente dentro dos padres de exigncia acadmica, sem prescindir dosrequisitos mnimos de produo terica e crtica que nos requerido. Para aqueles que ainda acreditam que odiscurso pode manter uma iseno mnima, cabe lembrar que h uma tenso inerente entre a realidade e apalavra escrita que reside no corao do prprio ato de escrever. A grafia um processo que filtra a verdade processo este, eu diria, seletivo e, portanto, sempre comprometido. Historicamente falando, inclusive, oconceito de criture, mais tarde apropriado pela prpria visualidade plstica, essencialmente eurocntrico,isto , fundado no centro das ideologias de poder e dominao.

    sabido que, antes de tudo, a funo de uma publicao como esta seria a de trazer a pblico umaviso construtiva e reparadora da trajetria da instituio. Isso ocorre porque todo o processo de formaoinstitucional naturalmente traumtico. E no poderia ser diferente. Nenhum projeto de construoinstitucional poderia contemplar todas as demandas advindas dos diferentes estratos sociais a que se reportaa instituio. Considere-se ainda a envergadura da instituio e o seu alcance. No caso de uma FundaoBienal, esse raio v-se constantemente ampliado medida que essa instituio passa a se reportarprogressivamente a esferas mais abrangentes de pblico, nacional e internacional.

    medida que esse crculo expande-se, como em uma onda de vibrao que se estende para alm doseu ncleo, a instituio passa naturalmente a desligar-se mais e mais das esferas prximas a esse ncleo inicial.O desafio consiste, ento, em preencher essa lacuna e, ao faz-lo, reportar-se a esse pblico mais amplo, semdeixar de considerar as demandas mais prximas a que chamamos de locais. No entanto, cabe lembrar que os

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    modelos de bienais que conhecemos at o momento e at mesmo de instituies museolgicas globais, comoo MOMA ou a Tate Modern, s para citar dois casos emblemticos, respondem, como se sabe, a pblicoscosmopolitas e internacionais, e no s suas esferas mais prximas. Estas o fazem apenas na medida em queajudam a projetar, quando o caso, um determinado volume de produo local.

    O principal objetivo desta publicao , assim, fornecer fontes e elementos para uma futura e maisaprofundada discusso das j realizadas Bienais do Mercosul, bem como das possibilidades que lhe soreservadas como um evento na perspectiva em que esta se inscreve. Nesse sentido, minha inteno foi escreverum texto em que a metodologia adotada permitisse razovel distanciamento em relao ao texto, considerveliseno para promover alguns comentrios crticos com o objetivo de fornecer elementos para o debate crticoe, ainda assim, fornecer dados capazes de dar visibilidade ao conhecimento gerado por esses cinco eventos jrealizados.

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    Aquilo que articulado como memria coletiva nem sempre carrega a gnese da clareza. Por outrolado, aquilo que historiadores omitem do passado, ainda que acidentalmente, revela muitas vezes a matriadaquela que pode vir ser a verdadeira histria das estratgias e dos mecanismos que movem os dados no jogoda cultura. Seus movimentos constituem, portanto, o fundamento da paisagem cultural. a histria dessesmovimentos que nos mostraro as configuraes de poder e o conhecimento gerados em um momentocultural particular, quando vistos sob a tica de um contexto especfico. Nesse caso, trata-se de considerar essecontexto como sendo aquele da criao de um mercado comum envolvendo os pases do Cone Sul e aqueleno qual se originou a idia da criao da Bienal do Mercosul. No que se refere construo da memriacoletiva, a condio que apontei acima no poderia processar-se de maneira diferente com a Bienal doMercosul e as verses que motivaram a constituio da Fundao Bienal de Artes Visuais, que a promove acada dois anos. Com esta publicao, queremos lanar uma luz sobre as motivaes que a geraram, sobre oprocesso que a constituiu e, principalmente, conhecer o trabalho daqueles que vm tornando possvel suaexistncia ao longo destes nove anos.

    O Estado do Rio Grande do Sul sempre buscou a condio de terceiro plo de artes plsticas no pas,constituindo seu lugar margem das disputas do to conhecido eixo cultural Rio-So Paulo. H muito,portanto, o desejo de realizar um evento de porte internacional existia de forma latente no imaginrio dacomunidade artstica do Estado. Vrios fatores e eventos podem ser apontados como predecessores dascondies que finalmente tornaram possveis as condies necessrias para a criao da Bienal do Mercosul.Entre elas, podemos citar a profissionalizao do meio artstico, que vinha acontecendo progressivamentecom os programas realizados pelo Instituto Estadual de Artes Visuais,1 a fundao do Museu de ArteContempornea do Rio Grande do Sul2 at eventos mais especficos, tais como os Encontros Latino-Americanosde Artes Plsticas, promovidos pelo Conselho de Desenvolvimento Cultural (CODEC)3 e, posteriormente,pelo Instituto Estadual de Artes Visuais. Estes ltimos, embora muitas vezes realizados sob opiniescontraditrias de muitos dos profissionais do meio e com promessas de integrao cultural, contriburamsignificativamente para que a possibilidade de uma integrao latino-americana na rea de artes plsticaspudesse futuramente tomar forma, ainda que muito pouco tenham guardado de suas originais discusses epropostas, a no ser pela inteno de uma integrao cultural pensada de maneira abrangente.

    O I Encontro Latino-Americano de Artes Plsticas Cone Sul4 (ELAAP), realizado em 1989,discutiu questes como O Sistema de Arte e suas Instncias no Contexto Latino- Americano e a Circulao da

    A Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosA Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosA Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosA Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricosA Bienal do Mercosul e seus antecedentes histricos

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    Obra de Arte Possibilidades e Alternativas de Intercmbio, tendo concentrado suas discusses fortemente emtpicos locais, como as instituies de ensino e a produo e a circulao da obra de arte no contexto do RioGrande do Sul. O II ELAAP, realizado em 1990, discutiu questes como Ensino Produo Terica Circulao e Intercmbio Relaes com o Estado e Instituies Mercado, Perspectivas de Integrao Latino-Americana, e temas mais abrangentes, como As Artes Plsticas e Projetos de Mundo. O I encontro redigiu umdocumento aprovando uma poltica de integrao de arte e cultura para a Amrica Latina e o Caribe.5

    O ano de 1990 coincide com a estruturao da Secretaria deEstado da Cultura, anteriormente apenas uma coordenao doConselho de Desenvolvimento Cultural (CODEC), dentro da qualo II ELAAP aparece como o primeiro grande evento. O debate foipermeado pela tnica da identidade e da integrao. Participante doencontro na poca, Ticio Escobar, do Paraguai, alertou para o perigode uma viso estreita da questo da identidade: ...temos srios vciose mecanismos de dominao entre ns mesmos, dentro das fronteirasnacionais e dentro dos prprios meios artsticos, sem entrar no mritosobre de onde vieram e como foram absorvidos.6 O III ELAAPchegou a redigir uma carta do encontro que sintetizou as conclusesdos debates. Se os dois primeiros encontros foram excessivamentepolitizados e voltados para discusses acerca da integrao e daidentidade latino-americana, o terceiro, realizado em 1996, j svsperas do surgimento da Bienal do Mercosul, parece ter encontradoum esgotamento dessas questes e se voltado para problemas maisespecficas da produo. Com o ttulo Arte na Amrica Latina 100Anos de Produo, o encontro reuniu profissionais da Argentina, doBrasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai, que analisaram desdePropostas Estticas e Discurso Crtico at temas mais abstratos, comoos Caminhos da Arte. O encontro fora anunciado como umapreparao do terreno para o advento da Bienal do Mercosul, queestava planejada para o ano seguinte.

    Os Encontros Latino-Americanos de Artes Plsticas, em suastrs edies (1989, 1990 e 1996),7 tiveram por objetivo sinalizarpara algumas questes pertinentes problemtica latino-americana,mas tiveram dificuldade em desempenhar um papel poltico efetivojunto s instncias governamentais, apesar de se realizarem no mbitodelas, o que poderia ter produzido resultados mais concretos emrelao aos mecanismos to necessrios integrao cultural, tais comotrnsito de obras, acordos entre instituies, centros de intercmbiode informaes, e assim por diante.

    A vontade de realizar exposies que dessem visibilidade produo gacha, em um contexto latino-americano, h muito seapresentava de maneira latente nos mecanismos institucionais pblicos.Paralelamente ao I ELAAP, por exemplo, foi realizada a mostra Arte Sul89,8 com mais de 50 artistas do Estado escolhidos por uma comissode seleo. A mostra tinha como objetivo a realizao de um panoramada produo de artes plsticas desenvolvida no Rio Grande do Sul.9

    Em geral, os encontros latino-americanos foram realizados no calor docrescimento das polticas externas ao meio cultural e artstico de umprocesso de integrao latino-americana e produzidos no contexto das

    disputas polticas no terreno terico e de produo do conhecimento que j vinha andando a passos largos emoutros pases da Amrica Latina. Os encontros objetivaram articular questes relativas arte latino-americanade modo a coloc-las na ordem do dia da discusso internacional. Porm, seria at mesmo ingnuo acreditarque isso pudesse ser feito por eventos desse porte, principalmente quando realizados na chamada periferia,sem a articulao direta em relao aos centros de disseminao de conhecimento.10 Hoje, o contexto mudou

    Convite do I EncontroLatino-Americano de

    Artes Plsticas einaugurao da mostra/Invitation to the 1st LatinAmerican Meeting of Arts

    and opening of theexhibition ARTE SUL

    89 (Julho de 1989)

    Jornal do I Encontro Latino-Americano de ArtesPlsticas/Newspaper of the 1st Latin American Meeting

    of Arts (26 a 28 de julho, 1989)Editado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sulatravs do Conselho de Desenvolvimento Cultural, da

    Coordenadoria de Artes Plsticas e do Museu de Arte doRio Grande do Sul Ado Malagoli, Porto Alegre.

    Folder do III EncontroLatino-Americano de

    Artes Plsticas: Artena Amrica Latina -

    100 anos deproduo/Folder of 3rd

    Latin AmericanMeeting of Arts: Art inLatin America - 100years of production

    (1 e 2 de agosto,1996)

    Assemblia Legislativado Estado -Porto Alegre

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    significativamente e tais eventos encontram um terreno mais slido para se revelarem como potenciais camposde ao reflexiva, uma vez articulados conforme premissas bsicas de sintonia com uma perspectiva maisabrangente e menos isolacionista em relao a um campo de ao internacional ao qual nos reportamosnecessariamente. Junte-se a esses fatores o quadro social originado pelas polticas de integrao do Mercosul,que cresceram consideravelmente durante a dcada de 1990 e que foram estabelecidas entre o governobrasileiro na poca e alguns pases da Amrica Latina, como Argentina, Paraguai e Uruguai, signatrios doTratado de Assuno, primeiro instrumento jurdico constitudo nesseperodo, rumo ao estabelecimento de uma integrao mais efetivaentre esses pases. Essa situao coincide, por outro lado, com osprocessos de integrao regional no continente envolvendo a Amricado Norte, cuja maior iniciativa foi a criao do North American FreeTrade Agreement (NAFTA) e a rea de Livre Comrcio das Amricas(ALCA), que, se efetivada, viria a significar, em ltima instncia, aconsolidao da hegemonia norte-americana sobre o continente.11

    A nova constituio brasileira, promulgada em 1988,12 haviaestabelecido que o pas buscaria a integrao latino-americana,visando formao de uma comunidade latino-americana denaes, e que essa integrao seria promovida nas reas econmica,poltica, social e cultural. Em junho de 1990, firmada a Ata de Buenos Aires pelos presidentes do Brasil eda Argentina na poca.13 Em seguida, o Paraguai e o Uruguai juntaram-se ao processo em curso, mas emmaro de 1991 que assinado o Tratado de Assuno para a Constituio do Mercado Comum do Sul(Mercosul).14 O Tratado de Assuno estabeleceu, entre outras prerrogativas, um processo de unio aduaneiraa ser consolidado a longo prazo entre esses quatro pases, constitudos na base de um programa de liberaocomercial, de redues tarifrias progressivas edo estabelecimento de polticas macroeco-nmicas de maneira coordenada.

    Na base do tratado estava a percepode que tal processo de integrao deveria levarem conta o crescimento econmico com justiasocial, considerando ainda questes comopreservao do meio ambiente, aproveitamentode recursos e uma maior sintonia entre osdiferentes setores da economia desses pases.Essa iniciativa havia sido estabelecida luz derecentes acontecimentos internacionais queconstituram grandes espaos econmicos,obedecendo a uma lgica em que predomina oestabelecimento de zonas de livre comrcio deum j anunciado processo de globalizao. OTratado de Montevidu, assinado em 1980,15

    deve ser considerado um antecedenteimportante no processo de consolidao de umato esperada integrao da Amrica Latina, queposteriormente veio a tomar uma forma maisconcreta com o Tratado de Assuno.16 desenso comum que acordos para a integrao daAmrica Latina que datam de 1941, como aUnio Aduaneira, ou o Pacto ABC, de 1954,no conseguiram atingir mais efetivamente osobjetivos estabelecidos, resultando por fim emum esgotamento e na criao do Sistema Econmico Latino-Americano (SELA), em 1975, que integroutodos os pases latino-americanos, inclusive Cuba. Surge, em 1960, a Associao Latino-Americana de LivreComrcio (ALALC) e, em 1980, sua sucessora, a Associao Latino-Americana de Integrao (ALADI). Foi

    Mercosul ganha encontro de artes, Variedades, Correio do Povo, Porto Alegre (03.07.1996), 28.Cortesia/courtesy Jornal Correio do Povo.

    Folder do II EncontroLatino-Americano deArtes Plsticas/Folder of2nd Latin AmericanMeeting of Arts (16 a 18de agosto, 1990)Governo do Estado doRio Grande do SulSecretaria da CulturaPorto Alegre

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    a partir dessa iniciativa que os tratados previamente mencionados foramconsubstanciados, e o Tratado de Assuno procurou, entre outras coisas,preservar os acordos assinado no mbito da ALADI.

    H, entretanto, uma mudana na natureza dos acordos de integraoregional desse perodo at a segunda metade da dcada de 1970 e incio dadcada de 1980, os quais se v surgirem da dcada de 1990 em diante. Osmodelos anteriores estavam cercados por uma interveno estatal excessiva epor medidas de carter protecionista, ao passo que os protocolos e acordosrecentes buscaram o estabelecimento de uma maior eficincia dos processosprodutivos em curso, conforme a lgica vigente da produo capitalista e atransformao das polticas de comrcio e industrializao. Com o Mercosul,tanto o Brasil quanto os outros pases membros passam tambm a ter umamaior vantagem poltica de negociar com outras alianas econmicas, levandoem considerao a fora do bloco econmico do qual fazem parte.

    A cultura no mbito do MercosulA cultura no mbito do MercosulA cultura no mbito do MercosulA cultura no mbito do MercosulA cultura no mbito do Mercosul

    Na rea cultural e artstica, vrios acordos e iniciativas foramestabelecidos em cumprimento ao Tratado de Assuno. Em uma reunio doGrupo Mercado Comum, realizada em Braslia em setembro de 1992, ficouinstituda a Reunio Especializada de Cultura, cuja funo seria ...promovera difuso da cultura dos Estados partes, estimulando o conhecimento mtuode valores e tradies, tanto por meio de empreendimentos conjuntos comomediante atividades culturais. No entanto, somente dois anos depois que serealiza a primeira reunio. Das vrias razes pelas quais isso possa ter acontecido,a que parece mais bvia que a cultura no estava na ordem de prioridadescomo mecanismo influente no processo de integrao. Como sugere GregrioRecondo, entre tais razes estava:

    [...] a subvalorizao da cultura ou o seu desconhecimento. Ou seja, ou acultura no interessava o suficiente na construo do MERCOSUL ou, emqualquer caso, nos mbitos oficiais no eram conhecidos os tipos de aesque deveriam ser empreendidas para promover a integrao cultural.Estamos inclinados a supor que a omisso obedeceu segunda dessashipteses.17

    Contudo, outras questes mais complexas parecem apontar para arazo pelas quais a cultura tem sempre dificuldade de se credenciar comouma via efetiva pelas quais tais processos de integrao, quando realizadosno mbito do Estado, tambm se realizariam. Ticio Escobar sugere que hum conflito entre a ...necessidade de organizar centralizadamente aadministrao de diversos sistemas simblicos e a de afirmar as identidadesparticulares.18 Escobar escreveu:

    Este enfrentamento entre centralizao e diferena apresenta problemasdifceis na hora de incluir o tema cultura na agenda dos projetos integradoresque hoje esto se afirmando a nvel subregional: a princpio, a integrao adversria dessa particularidade de projetos plurais que definem o culturalcomo exerccio do outro e como expresso de identidades resistentes disciplina de um modelo nico.19

    Um estudo realizado entre julho de 1996 e junho de 1997 buscou mostrar a veiculao do Mercosulna imprensa escrita, com o objetivo de avaliar o tratamento e a importncia dispensados ao Mercosul naquelespases que o integram. O estudo concluiu que havia um menosprezo em relao aos aspectos culturais e sociaisse comparados com aqueles da rea econmica e poltica: Comparada aos seus aspectos polticos e econmicos,[a cultura] torna-se praticamente insignificante[s]. As notcias classificadas como cultura ou sociedadesomadas representam menos de um quarto das notcias publicadas sobre o Mercosul (11,3 %).20 O Instituto

    Catlogo/Catalogue of the exhibition Arte Sul 89(Julho de 1989)

    Governo do Estado do Rio Grande do SulConselho de Desenvolvimento Cultural - CODEC

    Catlogo da exposio/Catalogue of theexhibition

    Arte Gacha Contempornea(17 de outubro a 10 de novembro 1991)Governo do Estado do Rio Grande do Sul

    Instituto Estadual de Artes VisuaisCasa de Cultura Mrio Quintana

    Catlogo/Catalogue Arte Sul 93(14 de outubro a 28 de novembro 1993)Governo do Estado do Rio Grande do Sul

    Secretaria da CulturaMuseu de Arte do Rio Grande do Sul

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    Gallup, por sua vez, realizou uma pesquisa para avaliar o conhecimento que a populao brasileira teriasobre o Mercosul e os resultados mostraram que O Mercosul era ainda uma entidade desconhecida porgrande parte dos brasileiros. Metade da populao no sabia da existncia do Mercosul, enquanto a outrametade simplesmente no sabia dizer o que era.21 Assim, parece haver, de fato, razes que requerem umainvestigao crtica, que gere reflexes mais profundas sobre uma questo que muitas vezes se v fragmentadaem seu processo de entendimento. No podemos pensar a cultura isoladamente do processo poltico eeconmico, como se fosse sempre vtima de um processo discriminatrio, sem entendermos as verdadeirasrazes de tal excluso.

    A Primeira Reunio Especializada em Cultura do Mercosul22 resultou no chamado Memorando deEntendimento, firmado naquela primeira reunio, que definiu as bases para uma legislao cultural e para acirculao de bens culturais. O documento constitui-se basicamente em uma carta de intenes que fazreferncias diversas e esparsas a determinadas aes culturais em reas especficas, tais como literatura, filme,dana e msica, bem como inteno de facilitar a circulao de bens culturais atravs da remoo de barreirasaduaneiras, fato que nunca veio a se concretizar. A rea de artes plsticas a nica no mencionada nodocumento de maneira alguma. A Segunda Reunio Especializada de Cultura23 apenas reafirmou as mesmaspropostas estabelecidas pela primeira. Nessa reunio, estabeleceu-se ainda que o Mercosul contaria com umselo cultural como smbolo de integrao e mecanismo para facilitar a identificaona circulao de bens culturais, mecanismo tambm nunca posto em prtica.24

    Em 1996,25 realiza-se em Canela, no Rio Grande do Sul, a PrimeiraReunio dos Ministros da Cultura do Mercosul, cujos objetivos consistiramprincipalmente na reafirmao das premissas estabelecidas pelos encontrosanteriores. Entretanto, na ata dessa reunio que a rea de artes plsticas mencionada pela primeira vez como um setor a ser incentivado pelos acordos decooperao. Ainda assim, trata-se do estabelecimento de uma poltica de eventos,e no de aes coordenadas a se realizarem a longo prazo. Nesse documento, ficaestabelecida a proposta de uma exposio itinerante de artistas plsticos doMercosul que seria realizada por uma curadoria conjunta composta por umrepresentante de cada pas participante. Alm de ser uma iniciativa eventual, eno um programa de ao coordenada, como j foi dito, ainda assim o eventonunca saiu do papel.26

    Baseado nas prerrogativas estabelecidas pelo Tratado de Assuno e peloMemorando de Entendimento, o Protocolo de Integrao Cultural do Mercosulfoi assinado em Fortaleza, em dezembro de 1996, pelos governos da Argentina,do Brasil, do Paraguai e do Uruguai. O protocolo tinha como objetivo alcanaraes concretas na rea de cooperao e integrao cultural e artstica entre ospases signatrios. Tais objetivos seriam primordialmente atingidos por aesfacilitadoras e promotoras entre esses pases e a organizao de aes culturais aserem promovidas em seus pases vizinhos. O protocolo refere-se vagamente entrada de bens em carter temporrio, de material destinado realizao de projetos culturais aprovadospor autoridades competentes dos Estados Partes,27 fazendo uma aluso tanto ao trnsito de obras de arte ebens relacionados produo artstica e cultural e jurisdio estatal quanto circulao da produo dessespases a ser controlada pelo Estado. De uma maneira ou de outra, o trnsito de obras, bens e equipamentosculturais nunca foi facilitado e as barreiras aduaneiras no foram removidas, apesar de todos os protocolos deintenes e tratados assinados.

    Cultura, identidade e regionalizao: o sentido poltico e cultural do MercosulCultura, identidade e regionalizao: o sentido poltico e cultural do MercosulCultura, identidade e regionalizao: o sentido poltico e cultural do MercosulCultura, identidade e regionalizao: o sentido poltico e cultural do MercosulCultura, identidade e regionalizao: o sentido poltico e cultural do Mercosul

    A formao do Mercado Comum do Sul (Mercosul) deve ser vista como um processo de asseguradaimportncia no seguinte aspecto: o exerccio de sua consolidao exige o aprofundamento e a superao dediferenas histricas, esteretipos e preconceitos entre os povos de sua naes associadas, cuja existnciaremonta ao projeto de emancipao das naes sul-americanas e resiste ainda em se consolidar mesmo depoisdo surgimento de uma vida democrtica para a maioria dos povos latino- americanos. H, portanto, umadimenso cultural inegvel de significado profundo que somente ser capaz de ser vislumbrada no

    Selo Mercosul Cultural/MercosurCultural Seal (Aprovado pelaresoluo/Aproved by resolution 122/96, de/from 15.12.1996/12.15.1996).O selo foi criado com a funo de serum elemento identificador da vontadede integrao cultural dos quatro pasesenvolvidos e facilitar a fiscalizao debens culturais entre os mesmos/Theseal was created to serve as an identitydevice from the cultural integration ofthe four countries involved as well as tofacilitate the control of cultural goodsbetween them. Resoluo 122/96referente ao Tratado Aduaneiro paraCirculao nos Pases de Mercosul deBens Integrantes do Projetos CulturaisAprovados pelos rgos Competentes/Resolution 122/96 pertaining toCustoms Union for the Circulationwithin Mercosur Countries of GoodsBelonging to Cultural Projects Approvedby Competent Organisms.

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    distanciamento histrico do desdobramento em que esse processo acontecer (a despeito de seus percalos,falhas e eventuais retrocessos), luz de um amadurecimento e da redefinio das relaes de identidadehistrica e culturais estabelecidas por ns, habitantes da Amrica Latina. A consolidao de tal processo, comcerteza, questionar o eurocentrismo que sempre nos imps significados a partir de suas premissas. Sendoassim, uma nova viso necessariamente surgir como resultado de uma sistemtica reavaliao dos fatos econceitos que temos consolidados, com vistas em um passado que ser constantemente revisado. Essa talvezseja a maior contribuio cultural que o processo de formao do Mercosul possa dar, venha ele efetivamentea ter sucesso ou no.

    Todavia, promover um processo de integrao nos termos de premissas econmicas,28 em que de fatoforam estas que surgiram a priori, no uma tarefa fcil, mesmo porque h que se consolidar antes uma culturada integrao capaz de salvaguardar as diferenas locais. Necessitamos, portanto, de uma ...educao para aintegrao29 que se realize a partir do entendimento da diversidade. No passado carecemos de enfoquesabrangentes: privilegiamos as hipteses de conflito por sobre as de cooperao e solidariedade. Inculcaram-nosdivergncias em vez de comunicar as enormes afinidades.30 Ao comentar sobre a veiculao de bens simblicos,Gabriel Peluffo acentuou a importncia de uma vinculao de papis acadmicos e culturais concepo polticado Mercosul sem, contudo, vincular a produo ao aparato poltico que necessariamente se instaura em relaesde organizaes desse tipo:

    O evento da Bienal serve, sem dvida, aos objetivos do Mercado Comum, mas no pode ficar limitado a eles,porque trabalha com uma produo simblica e com um pensamento crtico que so independentes e inclusivealheios aos objetivos estritamente polticos e econmicos desse Mercado.31

    Outras questes, como a problemtica do regionalismo, suas implicaes no processo de integraoregional e seus desdobramentos, sempre estiveram em perspectiva na Bienal do Mercosul, no s por causa desua localizao, como tambm por causa das implicaes ditadas por seu suposto efeito local. Nesse sentido,por ter parentesco com a idia de um mercado comum, o projeto estaria imbudo da mesma perspectivaotimista de realizao. A esse respeito, Frederico Morais fez a seguinte observao:

    A I Bienal de Artes Visuais do Mercosul tem o mrito (ou o demrito, para alguns) de colocar novamente emdiscusso a questo regionalista. Como tudo na vida, o regionalismo tem aspectos positivos e negativos. Aprpria Bienal do Mercosul , com efeito, uma manifestao regionalista. No devemos nem podemos esquecerque o que a torna diferente de suas congneres em todo o mundo o fato de que ela tem como telo de fundo umtratado econmico regional e, assim, est imbuda do mesmo otimismo que transformou o Mercosul, em poucosanos, no quarto bloco econmico mundial, com profundas conseqncias na vida poltica, social e cultural dospases que o integram.32

    Ticio Escobar, que foi curador pelo Paraguai em trs Bienais do Mercosul, considera que estas ...tiveramritmos, objetivos e alcances diferentes, mas corresponderam sempre ao princpio de consolidar um cenrio deconfronto e dilogo regional. Cada Bienal teve sua estratgia prpria, seus prprios temperamentos e marcoudesenvolvimentos especficos. Acredito que esta diversidade, sobre a base de critrios que continuam, enriquecea histria das exposies latino-americanas.33

    Mas justamente a possibilidade de imprimir um carter de reavaliao dos princpios econmicos,culturais e polticos, na medida em que possa p-los em questo, que a Bienal do Mercosul, como projetocultural, pode vir a contribuir para uma constante revitalizao do meio em que ele existe e no qual seconstitui. Como bem expressou Justo Pastor Mellado, curador do Chile:

    Neste sentido, a Bienal deveria imprimir integrao uma marca especfica, a partir dos procedimentos da artecontempornea. A Bienal pode ser a plataforma crtica da integrao, para qualific-la no seio do seu prprioprocesso. Crtica, em um sentido institucional construtivo. O que estamos pondo em movimento com a Bienal um dispositivo para tornar mais denso o nosso precrio sistema de arte.34

    Ticio Escobar, por outro lado, ressalta a importncia de um mercado comum ligado veiculao e produo de bens culturais:

    Projetos como a Bienal constituem boas alternativas para conceber a presena do Mercado atuando no s atravsdas indstrias culturais. Um mercado comum pode promover o desenvolvimento da arte na regio, toda vez queesteja regulado por polticas culturais; a Bienal pode perfeitamente conformar um mbito de ao dessas polticas,pode atravessar o que social, o que oficial e o que empresarial, que o terreno em que elas atuam.35

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    No entanto, uma homogeneizao da produo da Amrica Latina e de suas diferenas seriaaltamente prejudicial, embora seja justamente essa homogeneizao que tradicionalmente venha sendoadvogada na forma de uma identidade comum. Essas culturas, por terem suas diferenas, apresentam umcerto grau de discrio que estaria contido em suas especificidades histricas, sociais e culturais propriamenteditas. Assim, ...construir progressivamente uma cultura regional, apoiada em culturas nacionais que atagora se ignoraram despreocupadamente entre si, ser um trabalho delicado. Uma cultura regional doMercosul um objeto ainda muito vago e imaginar com certo rigor nessa direo, para elaborar polticas aesse respeito, exige conhecer [...] algo sobre a estrutura comum a todas as culturas nacionais.36 FredericoMorais, ao falar sobre o processo de constituio da 1 Bienal e de como pensava a questo da identidadee da diferenciao cultural, lembrou as implicaes de realizar um processo de descontextualizao da obracom vistas busca de traos comuns:

    Quando voc descontextualiza um artista, ele se excepcionaliza. Por outro lado, se voc examina o contexto e suasrelaes culturais, polticas e econmicas, voc tem uma viso mais correta e verdadeira do objeto analisado. Estouquerendo acentuar as diferenas, no quero mostrar uma identidade nica.37

    J o crtico argentino Fermin Fvre admitiu a possibilidade de que relaes de identidade realmenteexistam. Em uma entrevista, por ocasio do III Encontro Latino-Americano, realizado em Porto Alegre, disse:

    Em arte, no se pode programar uma forma de criao, mas sim criar condies para que ela exista. E a primeiracondio um melhor conhecimento dos artistas e da arte do Mercosul. Se a partir disso se produz uma correntede criao na qual se percebe uma identidade e uma arte que responde ao imaginrio desta regio, me parece que uma conseqncia quase lgica.38

    Assim, a criao da Bienal do Mercosul pode ser considerada como o resultado de um movimento quesurgiu nesse contexto, demonstrando uma necessidade histrica de articulao cultural e artstica que hmuito vem tentando efetivar-se de forma duradoura.39 Foi justamente essa latente necessidade do meio deconstituir projetos concretos de integrao cultural que encontrou ressonncia no empresariado do RioGrande do Sul, com uma grande receptividade por parte de lideranas artsticas e polticas do sul do pas. Ocarter pblico do projeto da Bienal e seu papel em uma sociedade democrtica, na qual os agentes das maisdiferentes esferas sociais participam de um projeto coletivo e crescem culturalmente na execuo desseempreendimento, foi expresso da seguinte maneira por Renato Malcon, presidente da 4 Bienal: Acho que isso que a Bienal proporciona para todos ns, [...] para os empresrios, para os curadores e, especialmente,para os artistas. Se no houvesse a Bienal, talvez alguns de ns no tivssemos essa relao direta com a arte. [...]Ns passamos a investir em arte. Passamos tambm a entender o artista, a conhecer o seu dia-a-dia, as suasdificuldades, [], os seus interesses.40

    O Mercosul, se visto como um projeto cultural, h que transpor determinados obstculos que so deordem poltica. no exerccio de suas premissas culturais, tanto quanto polticas e econmicas, que o projetode integrao efetivo poder vir a se realizar. Sob o ponto de vista do processo artstico, a Bienal do Mercosultem um papel fundamental a cumprir, j que se trata de uma instituio cujas caractersticas so capazes depromover a renovao e a veiculao da produo em um contexto voltado para a renovao. A veiculao daproduo cultural no processo de formao de um bloco econmico foi apontado por Justo Werlang comoum processo de formao, antes de tudo, da cidadania e de construo das liberdades individuais:

    Quando falamos em Mercosul estamos nos referindo sempre formao de blocos econmicos, a uma maiorcompetitividade internacional, cada de barreiras aduaneiras e tarifrias, a novas oportunidades de investimentos, gerao de empregos e riqueza, racionalizao da produo. E sabemos que no centro disso tudo est o homem,est o cidado. a partir da liberdade individual, garantida pelo Estado de Direito e nutrida por uma cultura vivae slida, que o cidado dar a sua contribuio positiva neste processo.41

    As leis de incentivo cultura e a criao da Bienal do MercosulAs leis de incentivo cultura e a criao da Bienal do MercosulAs leis de incentivo cultura e a criao da Bienal do MercosulAs leis de incentivo cultura e a criao da Bienal do MercosulAs leis de incentivo cultura e a criao da Bienal do Mercosul

    As leis estaduais de incentivo cultura surgem no Brasil, a partir de 1991, como alternativa medidado Presidente Fernando Collor de Melo, que, ao assumir, em maro de 1990, extinguiu a chamada LeiSarney (Lei n 7.505, de 2 de julho de 1986).42 Como contrapartida, Collor apresentou outra legislao (aLei n 8.313, de 23 de dezembro de 1991), que instituiu o Programa Nacional de Apoio Cultura/PRONAC, aprovada antes mesmo das demais leis estaduais que se seguiram Lei n 8.313, a qual instituiu

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    algumas correes Lei Sarney, tais como a anlise prvia dos projetos aptos a buscarem incentivos nainiciativa privada. A primeira lei de incentivo estadual (a Lei n 1.954, de 26 de janeiro de 1992) surgiu noRio de Janeiro, a partir de uma iniciativa da deputada estadual Jandira Feghali.

    No Rio Grande do Sul, no ano seguinte, foi aprovada pela Assemblia Legislativa a lei gacha,subscrita por cinco deputados. O texto foi vetado pelo ento governador Alceu Collares, cujo veto foiderrubado, restando Assemblia promulgar a Lei n 9.634, de 20 de maro de 1992. Essa lei, no entanto,no foi regulamentada e acabou sendo engavetada. Somente com a posse do governador Antnio Britto, em1995, que ressurgiu a esperana da comunidade cultural de ter um mecanismo de incentivo fiscal. Comohavia prometido em sua campanha, Antnio Britto enviou Assemblia Legislativa um novo texto para acriao de uma lei de incentivo cultura. Esse projeto, tendo sido discutido e bem recebido pela comunidadecultural, foi aprovado por unanimidade dos deputados em 1996, resultando na Lei n 10.846, de 19 deagosto de 1996.

    Pode-se dizer, sem sombra de dvida, que o surgimento de uma lei de incentivo no Rio Grande doSul deu-se em grande parte em virtude de uma enorme articulao advinda do desejo da comunidade e davontade poltica do governo com