história da astrologia

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Pequena História da Astrologia - Parte 1 :: Graziella Marraccini :: Desde as épocas mais remotas, o homem sempre perscrutou os céus em busca dos mistérios da existência humana, pois a sentia estreitamente ligada ao cosmo. Os babiloneses já tinham cartas do Céu com as orbitas dos dois luminares, o Sol e a Lua. Já os sacerdotes Caldeus, tinham um método astrológico rudimental, e faziam adivinhações estudando as doze constelações, apesar de não utilizarem o horóscopo individual, o condenando abertamente, especialmente se feito com fins lucrativos. As estrelas indicavam os acontecimentos da coletividade. No entanto, o seu legado chegou até os Egípcios, Gregos, Persas e até a Índia. E todos estes povos estudaram a seu modo o céu, dando-lhes as características de suas próprias civilizações. Foram necessários quase três mil anos para que a astrologia passasse do plano impessoal àquele individual, e é neste momento que a astronomia e a astrologia, embora irmã, se separaram. No entanto, a astrologia se baseia na astronomia para fazer as suas deduções e a astronomia continua a utilizar conceitos e símbolos herdados da astrologia. A tradição egípcia nos ensina que "o que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está em cima" (O Caibalion). Na Grécia, Pitagoras afirmava uma reciprocidade entre o Todo e o cosmo, e de conseqüência entre o Todo e o Homem. Os pitagóricos desenvolveram um pensamento que afirmava a existência de uma relação íntima entre a matemática e a música (a música das esferas). Este pensamento, se adaptado à astrologia, serviria para conciliar o princípio dos opostos de Eráclitus, com uma lei de movimento cíclico e com uma relação entre macrocosmo e microcosmo. É sobre esta base que se formou a idéia da afinidade absoluta entre a vida no cosmo e o homem, (expressão da verdadeira harmonia universal), que é em si uma expressão da idéia do ritmo universal, esta música das esferas que de alguma forma ecoa no espaço ilimitado da vida individual. Durante alguns séculos a astrologia foi se enriquecendo do pensamento de vários filósofos, como Pitágoras e Eraclitus, e também com aquelas de Platão e Aristótele. No século II a.. C. Iparco contribuiu para a astrologia, constatando a precessão dos equinócios, a obliquidade da elíptica, a excentricidade da órbita solar, o para-eixo horizontal da lua, etc. Foi ele que, com as suas descobertas astronômicas e segundo o pensamento de Platão, segundo o qual cada fenômeno na terra estava em relação aos acontecimentos celestes e o físico do homem constituía uma reprodução dos modelos celestes, elaborou uma tabela com a ordem de correspondência entre os setores zodiacais e as partes do corpo

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História Da Astrologia

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Pequena Histria da Astrologia - Parte 1

::Graziella Marraccini::

Desde as pocas mais remotas, o homem sempre perscrutou os cus em busca dos mistrios da existncia humana, pois a sentia estreitamente ligada ao cosmo. Os babiloneses j tinham cartas do Cu com as orbitas dos dois luminares, o Sol e a Lua.

J os sacerdotes Caldeus, tinham um mtodo astrolgico rudimental, e faziam adivinhaes estudando as doze constelaes, apesar de no utilizarem o horscopo individual, o condenando abertamente, especialmente se feito com fins lucrativos. As estrelas indicavam os acontecimentos da coletividade.

No entanto, o seu legado chegou at os Egpcios, Gregos, Persas e at a ndia. E todos estes povos estudaram a seu modo o cu, dando-lhes as caractersticas de suas prprias civilizaes. Foram necessrios quase trs mil anos para que a astrologia passasse do plano impessoal quele individual, e neste momento que a astronomia e a astrologia, embora irm, se separaram. No entanto, a astrologia se baseia na astronomia para fazer as suas dedues e a astronomia continua a utilizar conceitos e smbolos herdados da astrologia.A tradio egpcia nos ensina que "o que est em cima como o que est embaixo e o que est embaixo como o que est em cima" (O Caibalion). Na Grcia, Pitagoras afirmava uma reciprocidade entre o Todo e o cosmo, e de conseqncia entre o Todo e o Homem. Os pitagricos desenvolveram um pensamento que afirmava a existncia de uma relao ntima entre a matemtica e a msica (a msica das esferas). Este pensamento, se adaptado astrologia, serviria para conciliar o princpio dos opostos de Erclitus, com uma lei de movimento cclico e com uma relao entre macrocosmo e microcosmo.

sobre esta base que se formou a idia da afinidade absoluta entre a vida no cosmo e o homem, (expresso da verdadeira harmonia universal), que em si uma expresso da idia do ritmo universal, esta msica das esferas que de alguma forma ecoa no espao ilimitado da vida individual.

Durante alguns sculos a astrologia foi se enriquecendo do pensamento de vrios filsofos, como Pitgoras e Eraclitus, e tambm com aquelas de Plato e Aristtele. No sculo II a.. C. Iparco contribuiu para a astrologia, constatando a precesso dos equincios, a obliquidade da elptica, a excentricidade da rbita solar, o para-eixo horizontal da lua, etc. Foi ele que, com as suas descobertas astronmicas e segundo o pensamento de Plato, segundo o qual cada fenmeno na terra estava em relao aos acontecimentos celestes e o fsico do homem constitua uma reproduo dos modelos celestes, elaborou uma tabela com a ordem de correspondncia entre os setores zodiacais e as partes do corpo humano. Podemos dizer que aqui se encontram as idias bsicas da antroposofia e da cosmopatologia.

Os seus contemporneos aprofundaram estas consideraes, elaborando assim pela primeira vez as anlises individuais de temas astrais para os indivduos. Aqueles primeiros conceitos dos Caldeus se encontravam ento enriquecidos e ampliados: os Judeus os aproveitaram na Kabalah e cada vez mais os rabes os aprofundaram, dando origem a uma grande escola de astrologia.

No poucos perigos se escondiam nas leis astrolgicas que pareciam ir ao encontro de um total determinismo dos fenmenos, fazendo da astrologia uma 'lei matemtica', com pouco espao para o livre arbtrio individual. Alm disso, j naquele tempo a astrologia comeou a atrair pessoas pouco escrupulosas, e seja no mundo rabe que na Roma crist, apareceram muitos aproveitadores que enganavam os ingnuos sem nenhum pudor.

Mas tambm naquele tempo que surgiram estudiosos srios, desejosos de ampliar o conhecimento astrolgico para deixar um legado para a posteridade. Entre eles devemos destacar Claudius Ptolomeu. O Tetrabiblos por ele escrito, pode ser de fato considerado como o primeiro tratado cientfico de astrologia publicado no Ocidente. Ptolomeu reuniu nele de forma ordenada e sistemtica todas as teorias e conceitos e tambm as experincias astrolgicas da Babilnia, Egito e Grcia. Foi ele que elaborou pela primeira vez a noo dos 'Regentes' dos signos astrolgicos. Ele tambm reconheceu a importncia do horscopo individual, dando o pontap inicial astrologia da forma como ns a conhecemos.

A obra de Ptolomeu traz consigo as caractersticas daquela unidade entre o esprito e a natureza que foi o fundamento da filosofia grega e que somente aps a morte de Alexandre Magno (323 a C.) comeou a se desintegrar. O sincretismo filosfico e religioso, especialmente aquele da escola alexandrina, preparou o terreno para uma antiga filosofia que teve uma grande importncia para o esprito humano: o neo-platonismo.

Entre os expoentes desta filosofia, destacaremos Plotino (205-270 d.C) e Porfrio (233-304 d.C.), seu discpulo. Plotino ao se aprofundar no sincretismo filosfico-religioso, sentiu a harmonia do universo e reconheceu a correspondncia entre "o que est em cima e o que est embaixo", uma lei universal entre o cu e a terra, indispensvel para toda a compreenso da existncia humana. Ao resgatar a astrologia, estes filsofos simplesmente mantiveram a hereditariedade do pensamento grego, impedindo a decadncia da astrologia e integrando-a com o pensamento cristo reinante no mundo naquela poca.

No entanto a astrologia sofreu varias ameaas ao longo dos sculos, sempre ressurgindo fortalecida, quando a humanidade passa por momentos de grande revolues sociais. Devemos reconhecer o valor desta grande cincia quando verificamos que ao longo dos milnios, ela ressurge sempre evoluindo com o pensamento da humanidade, como que a demostrar o valor indestrutvel desta experincia milenar que faz parte da prpria conscincia e da existncia de um corpo espiritual atemportal.

No ocidente, nos primeiros sculos de nossa era, (de 700 a 1100 DC) o interesse da astrologia era concentrado primeiramente nas suas relaes com a doutrina crist. No Oriente, no entanto, a astrologia continuou sua evoluo para ampliar suas bases tericas e sobretudo prticas. Em Bisncio (ou Constantinopla) existia uma cadeira de Astrologia na Universidade. No mesmo perodo, o mundo islmico contribuiu de forma notvel para o desenvolvimento das cincias astrolgicas. A partir da idade mdia, a astrologia precisou se adequar evoluo do pensamento e portanto acabou ressentindo as conseqncias do processo de transformao derivado do pensamento cristo que naquele perodo se espalhava no mundo ocidental. Neste perodo o aspecto entre astrologia e religio so interligados.

A partir de 1400 DC, as relaes entre astrologia e religio comearam a enfraquecer, perdendo a sua importncia e sendo substitudas pouco a pouco com teorias ligadas ao desenvolvimento das cincias naturais. Apesar de parecer que o Renascimento seja a poca do florescimento da luz em relao ao obscurantismo da idade mdia, ele iniciou de fato a queda rpida da autntica espiritualidade crist. O Humanismo, de fato, acabou abrindo um abismo entre a cincia e a f, apesar de proclamar a reconciliao entre a natureza e o esprito. Neste perodo aconteceu o descobrimento da Amrica por Cristvo Colombo e a substituio do sistema universal geocntrico de Ptolomeu pelo sistema heliocntrico de Coprnico (1472-1543), que revolucionou as antigas concepes geogrficas e astronmicas.

Portanto era de se esperar que essas grandes mudanas influenciassem tambm a astrologia. No entanto, ainda no havia acontecido uma verdadeira ruptura entre a astronomia e a astrologia, que eram ensinadas, juntas, em vrias Universidades da Europa. Neste perodo, os grandes estudiosos desta poca tentaram dar astrologia uma conotao cientfica, por causa dos critrios racionais que agora prevaleciam. Na realidade, esta mesma conotao cientfica acabou favorecendo aos opositores da astrologia, j que ela no conseguia explicar nos termos da cincia positiva as vises tradicionais dos conceitos cosmolgicos. As imagens simblicas tinham valor somente se expressas por espritos eleitos como So Toms de Aquino ou Dante, ou mesmo pelos Mestres de Chartes e outros msticos da poca, mas perdiam o sentido se comparados com a linguagem cientficas e realista da poca.

neste perodo que surge na Itlia, o gnio incomparvel de Leonardo da Vinci (1452-1519). Leonardo no ignorava o conceito dos antigos filsofos de que o 'Homem um universo em miniatura" mas, para chegar a uma viso unitria da Criao Divina que pudesse ser satisfatria seja para o estudioso que para o artista, ele precisou buscar o equilbrio perfeito entre cincia e arte. A harmonia universal refletida num cu estrelado no havia passado despercebida ao seu olhar de pesquisador. Estudando o tratado astronmico de Ptolomeu ele conseguiu ter uma idia precisa daquela frase hermtica "o que est em cima como o que est em baixo", ou "o microcosmo como o macrocosmo".

Na criao da "Ultima Ceia" (afresco que se encontra na Igreja de Santa Maria delle Grazie em Milo, Itlia), Leonardo tinha a inteno de reproduzir, segundo suas palavras, "a cosmografia do microcosmo em doze figuras", assim como Ptolomeu havia dividido o cu em doze partes, demonstrando doze variaes da natureza humana que representavam cada uma as suas particulares caractersticas permitindo distinguir com preciso a sua diversidade.Conforme o conceito dos "Quatro Elementos", Terra, Fogo, gua e Ar, Leonardo dividiu os Apstolos em quatro grupos, de trs figuras cada uma, colocando-os nos dois lados da mesa, onde Jesus, no centro, reina absoluto, j que ele corresponde ao Sol de nosso sistema solar.Ao apstolo Simo, por exemplo, atribudo o signo de ries, estando ele sentado na 'cabeceira' da mesa do lado direito do afresco. Tadeus representa o signo de Touro, e Mateus o signo de Gmeos, e assim seguem todos at o final. Vemos com particularidade que o signo de Balana atribudo a Joo, sentado do lado direito de Jesus (a esquerda no afresco) e a Judas (que est derramando o saleiro) atribudo o signo de Escorpio. Por fim vemos que Bartolomeu, ao qual atribudo o signo de Peixes, o ltimo e o nico a ter seus ps descobertos. Desta forma Leonardo, representou a unio entre o divino e o humano, que constitui a essncia prpria do cristianismo.Esta obra inspirada em conceitos cosmolgicos no comparvel com nenhuma outra, apesar de encontrarmos em todos os lugares, palcios ou igrejas, estas analogias e representaes dos signos astrolgicos, das constelaes, das estrelas etc., que sempre inspiraram os artistas da poca.

A partir deste perodo, a arte do sculo seis e sete pareceram ignorar ou quase estas representaes, medida que a humanidade era amplamente influenciada pelas cincias naturais que relegavam pouco a pouco a astrologia simples esfera das artes divinatrias.

Pequena Histria da Astrologia - Parte 2

::Graziella Marraccini::

No ocidente, nos primeiros sculos de nossa era, (de 700 a 1100 DC) o interesse da astrologia era concentrado primeiramente nas suas relaes com a doutrina crist. No Oriente, no entanto, a astrologia continuou sua evoluo para ampliar suas bases tericas e sobretudo prticas. Em Bisncio (ou Constantinopla) existia uma cadeira de Astrologia na Universidade. No mesmo perodo, o mundo islmico contribuiu de forma notvel para o desenvolvimento das cincias astrolgicas.

A partir da idade mdia, a astrologia precisou se adequar evoluo do pensamento e portanto acabou ressentindo as conseqncias do processo de transformao derivado do pensamento cristo que naquele perodo se espalhava no mundo ocidental. Neste perodo o aspecto entre astrologia e religio so interligados.

A partir de 1400 DC, as relaes entre astrologia e religio comearam a enfraquecer, perdendo a sua importncia e sendo substitudas pouco a pouco com teorias ligadas ao desenvolvimento das cincias naturais. Apesar de parecer que o Renascimento seja a poca do florescimento da luz em relao ao obscurantismo da idade mdia, ele iniciou de fato a queda rpida da autntica espiritualidade crist. O Humanismo, de fato, acabou abrindo um abismo entre a cincia e a f, apesar de proclamar a reconciliao entre a natureza e o esprito. Neste perodo aconteceu o descobrimento da Amrica por Cristvo Colombo e a substituio do sistema universal geocntrico de Ptolomeu pelo sistema heliocntrico de Coprnico (1472-1543), que revolucionou as antigas concepes geogrficas e astronmicas.

Portanto era de se esperar que essas grandes mudanas influenciassem tambm a astrologia. No entanto, ainda no havia acontecido uma verdadeira ruptura entre a astronomia e a astrologia, que eram ensinadas, juntas, em vrias Universidades da Europa. Neste perodo, os grandes estudiosos desta poca tentaram dar astrologia uma conotao cientfica, por causa dos critrios racionais que agora prevaleciam. Na realidade, esta mesma conotao cientfica acabou favorecendo aos opositores da astrologia, j que ela no conseguia explicar nos termos da cincia positiva as vises tradicionais dos conceitos cosmolgicos. As imagens simblicas tinham valor somente se expressas por espritos eleitos como So Toms de Aquino ou Dante, ou mesmo pelos Mestres de Chartes e outros msticos da poca, mas perdiam o sentido se comparados com a linguagem cientficas e realista da poca.

neste perodo que surge na Itlia, o gnio incomparvel de Leonardo da Vinci (1452-1519). Leonardo no ignorava o conceito dos antigos filsofos de que o 'Homem um universo em miniatura" mas, para chegar a uma viso unitria da Criao Divina que pudesse ser satisfatria seja para o estudioso que para o artista, ele precisou buscar o equilbrio perfeito entre cincia e arte. A harmonia universal refletida num cu estrelado no havia passado despercebida ao seu olhar de pesquisador. Estudando o tratado astronmico de Ptolomeu ele conseguiu ter uma idia precisa daquela frase hermtica "o que est em cima como o que est em baixo", ou "o microcosmo como o macrocosmo".

Na criao da "Ultima Ceia" (afresco que se encontra na Igreja de Santa Maria delle Grazie em Milo, Itlia), Leonardo tinha a inteno de reproduzir, segundo suas palavras, "a cosmografia do microcosmo em doze figuras", assim como Ptolomeu havia dividido o cu em doze partes, demonstrando doze variaes da natureza humana que representavam cada uma as suas particulares caractersticas permitindo distinguir com preciso a sua diversidade.

Conforme o conceito dos "Quatro Elementos", Terra, Fogo, gua e Ar, Leonardo dividiu os Apstolos em quatro grupos, de trs figuras cada uma, colocando-os nos dois lados da mesa, onde Jesus, no centro, reina absoluto, j que ele corresponde ao Sol de nosso sistema solar.

Ao apstolo Simo, por exemplo, atribudo o signo de ries, estando ele sentado na 'cabeceira' da mesa do lado direito do afresco. Tadeus representa o signo de Touro, e Mateus o signo de Gmeos, e assim seguem todos at o final. Vemos com particularidade que o signo de Balana atribudo a Joo, sentado do lado direito de Jesus (a esquerda no afresco) e a Judas (que est derramando o saleiro) atribudo o signo de Escorpio. Por fim vemos que Bartolomeu, ao qual atribudo o signo de Peixes, o ltimo e o nico a ter seus ps descobertos. Desta forma Leonardo, representou a unio entre o divino e o humano, que constitui a essncia prpria do cristianismo.

Esta obra inspirada em conceitos cosmolgicos no comparvel com nenhuma outra, apesar de encontrarmos em todos os lugares, palcios ou igrejas, estas analogias e representaes dos signos astrolgicos, das constelaes, das estrelas etc., que sempre inspiraram os artistas da poca.

A partir deste perodo, a arte do sculo seis e sete pareceram ignorar ou quase estas representaes, medida que a humanidade era amplamente influenciada pelas cincias naturais que relegavam pouco a pouco a astrologia simples esfera das artes divinatrias.

Pequena Histria da Astrologia - Parte 3

::Graziella Marraccini::

Antes que fosse efetuada uma ruptura incisiva entre as diferentes disciplinas cientficas, nos anos quinhentos e em parte dos anos seiscentos, o conceito de homem integral no era nenhuma exceo, mas era mesmo bastante freqente. A matemtica e a filosofia, a fsica e a medicina, a astronomia e a astrologia, eram ensinadas de forma estritamente integradas uma com a outra e muitos cientistas ostentavam conhecimentos igualmente profundos em todas estas cincias. Um matemtico, por exemplo, podia possuir profundos conhecimentos na rea medicas e conhecer astronomia e astrologia, utilizando ento de toda a sua potencialidade em vrias reas cientficas.

A astrologia precisou, mesmo neste perodo, levar em conta a evoluo do pensamento religioso, filosfico e cientfico. No entanto, o sistema astronmico de Coprnico, que demostrava a estrutura heliocntrica do universo, no prejudicou diretamente a astrologia, como afirmavam alguns. J na poca de Pitgoras, se falava do mundo como tendo um fogo central e mesmo nos anos trezentos, Nicolas dOresme havia exposto sua teoria sobre o movimento diurno da terra.

Antes de mais nada, as constataes de Coprnico, e de Kepler mais tarde, provocaram dvidas sobre aqueles que se dedicavam de forma sria aos estudos astrolgicos. Porm, estas dvidas j estavam sendo levantadas h mais de dois sculos, e nenhum astrlogo se sentiu coberto de ridculo porque precisaria modificar suas teorias, mudando o seu ponto de vista. Este era de fato uma simples mudana do ponto de observao, que no invalidava um mtodo antes baseado nas Leis de Correspondncia do que sobre a influncia direta dos prprios astros.

No que diz respeito s reaes provocadas sobre os seus contemporneos pelas revelaes de Coprnico e Kepler, elas no ocorreram na realidade de forma imediata, pois a Igreja impediu a sua imediata difuso e aceitao por mais de trs sculos.

A substituio do sistema geocntrico com aquele heliocntrico mostraram que as novas concepes astronmicas no poderiam cancelar do esprito humano o nome da astrologia e reduzi-la a um mero exerccio de logaritmos e trigonometria ou frmulas algbricas, onde ela recairia num simples determinismo. O prprio Kepler em seu tratado "De harmonia mundi" (Da harmonia do universo) expe idias cosmolgicas que acabaram ajudando a astrologia a conservar a sua estrutura de cincia e arte.

Por isso os astrlogos srios, usavam amplamente seus conhecimentos astronmicos, de clculos e frmulas matemticas, para erguer as cartas individuais. John Muller (chamado Regiomontano 1436-1476), Varese da Rosate (que previu a morte do Papa Inocncio VIII - 1492), Gerlamo Cardano (1501-1571) e Tichone de Brahe (1546-1601), e o prprio Galileo Galilei estudaram com preciso os princpios astronmicos para aplic-los astrologia. A astrologia sempre se desenvolveu como uma cincia destinada a oferecer ao homem as premissas e os meios indispensveis compreenso de todos os fenmenos de sua existncia.

Podemos notar que, nestes sculos, nunca a astrologia foi questionada, mas era sim amplamente utilizada por papas, ris e homens de estado. As previses astrolgicas influenciavam as decises e dominavam a imaginao das massas populares.

Entre os expoentes das novas teorias, devemos lembrar o colaborador intimo de Lutro, Felipe Schwartzhherd o Melatonte (1487-1560). Homem de ampla cultura, ecltico no melhor sentido da palavra, Melatone no somente foi o legislador da "Reforma" (j que juntamente com Jcomo Liebhard o Camerarius havia redigido o texto da Confisso de Augusta), mas sem dvida o maior representante das nascentes cincias naturais que influenciaram profundamente as mentes de todos aqueles que abraaram a causa de Lutero. (Mesmo se este ltimo, privado de sensibilidade suficiente para apreciar o valor da tradio cosmolgica e incapaz de manter uma linha coerente de conduta em relao queles que se esforavam de concili-la com o esprito de suas idias religiosas, no tenha conseguido assimilar as idias de Melatone e parece mesmo ter sido um verdadeiro antpodo espiritual)

Na obra Initia doctrinae physicae, que contm as lies que ele ministrava na Universidade de Wittemberg, Melatone afirma que a vontade suprema do Criador que determina todas as coisas, se expressa no ser humano de duas formas: primeiramente na forma direta e com a interveno das foras espirituais que agem sob a vontade direta de Deus; e secundariamente atravs das foras da natureza. Ele coloca os astros como sendo instrumentos de espcie inferior utilizados pelos anjos. Em resumo: a substncia espiritual dos seres humanos est sujeita diretamente a Deus, e as foras da natureza, entre eles os astros, agem sobre os rgos dos sentidos, determinando o temperamento e as inclinaes e constituindo assim o complexo da prpria existncia humana, que Melatone chama de fatum physicus. Isto significa em outras palavras que os astros so fatores destinados a plasmar a qualidade da constituio corporal do homem composto pelos mesmos quatro elementos fundamentais que representam a parte integrante da natureza.

Este conceito muito similar quele de Toms de Aquino, que admite que as foras da natureza, e portanto os influxos astrais, em algumas condies, tm um equivalente sobre a alma e sobre os pensamentos do homem, no sentido que favorecem as emoes, os estados psquicos, etc. Ao fatum physicus se sobrepe porm a ao da Divina Providncia, que reina soberana sobre a existncia espiritual do homem. Desta forma o ser humano pode exercer o que ns chamamos de livre arbtrio atravs de sua unificao com Deus onde a individualidade e a personalidade funcionam em relao estreita com os princpios opostos que por esta misteriosa lei da vida tendem se equilibrar.

Sob esta tica, Melatone pode ser considerado irmo espiritual de Leonardo da Vinci, e seus discpulos ajudaram na evoluo da teologia protestante, sempre incluindo em suas obras os tratados de astrologia e as concepes cosmolgicas, baseadas nas Sagradas Escrituras.

Nesta poca, na Itlia, surge Giordano Bruno, 1548-1600, catlico e na Alemanha, surge Jacom B hme (1575-1624), protestante. Ambos acreditam profundamente de no serem rebeldes contra a sua prpria f, mas o primeiro ser acusado de heresia e perecer na fogueira, e o outro ser perseguido pelos pastores protestantes at a sua morte. Para esta afinidade de destino existe tambm uma afinidade de pensamento: na filosofia dos dois homens, mesmo se de forma distinta, a lei do universo e da existncia humana era definida com a formula idntica dos princpios opostos que se opem continuamente mas que de forma implacvel se completam. Ambos eram filhos de uma poca que no conseguiu compreender nem um nem o outro, por causa da ntima contradio de pensamento que era uma caracterstica dos anos quinhentos.

Lembremos que neste perodo surgiram vrias sociedades secretas e filosficas, ou mesmo sociedades ideais, como aquelas que expe Campanella (1623) em sua "Cidade do Sol, ou Giovanni Valentino Andrea em sua Cristianpolis (1619). Isto aconteceu num sculo que j abria espao ao mais completo determinismo.

Fonte: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=00245