hino ao sol akhenaton

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AKHENATON "Teu nascer é belo no horizonte do céu, Oh vivente Aton, Ordenador da vida! Quando te ergues no horizonte oriental do céu, Enches todas as terras com tua beleza; Pois és formoso, grande e radiante, exaltado sobre a Terra; Teus raios abarcam as terras, e tudo o que criaste. Tu és Rá, e tu cativaste a todos; Tu os ligaste com teu amor. Embora estejas distante, teus raios estão sobre a Terra; Embora estejas no alto, tuas pegadas são o dia". Hino ao Sol AKHENATON O Egito pode reivindicar ser o enigma arquetípico na história dos povos e das nações. Desde o semilegendário Menés, que surgiu das névoas da imemorial antigüidade para unir os Dois Reinos, até a brilhante Cleópatra, que manipulou Roma para preservar alguns dos tesouros internos do Nilo, o Egito tem povoado a imaginação humana com seu paradoxal senso de familiaridade e completo estranhamento, suas invocações de relações sociais amenas e estranhos poderes sinistros, sua cambiante mistura de sombra e luz tão dramática quanto a noite e o dia que passam entre suas ruínas colossais. A maior parte de seu magnífico legado foi perdido, e o pouco que resta - edificações arruinadas, tumbas profanadas, fragmentos literários - sobrevive de seu declínio quase interminável. Nascido das sub-raças Atlanto-Arianas e sujeito a misturas do norte e do oriente, o Egito entra na história mítica com a maior parte de seu complexo passado oculto da visão profana. O que quer que tenha restado de sua história antiga foi escondido nos templos de mistério e jamais se permitiu que viesse à luz da investigação secular. No florescente período da XVIII Dinastia, inaugurada pela expulsão dos invasores Hicsos, marcada por sucessos imperiais, e destruída pelo ressurgimento do sacerdócio de Amon-Rá, o intrincado quebra-cabeças

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AKHENATON

"Teu nascer é belo no horizonte do céu,Oh vivente Aton, Ordenador da vida!Quando te erguesno horizonte oriental do céu,Enches todas as terras com tua beleza;Pois és formoso, grande e radiante, exaltado sobre a Terra;Teus raios abarcam as terras,e tudo o que criaste.Tu és Rá, e tu cativaste a todos;Tu os ligaste com teu amor.Embora estejas distante, teus raios estão sobre a Terra;Embora estejas no alto, tuas pegadas são o dia".

Hino ao SolAKHENATON

O Egito pode reivindicar ser o enigma arquetípico na história dos povos e das nações. Desde o semilegendário Menés, que surgiu das névoas da imemorial antigüidade para unir os Dois Reinos, até a brilhante Cleópatra, que manipulou Roma para preservar alguns dos tesouros internos do Nilo, o Egito tem povoado a imaginação humana com seu paradoxal senso de familiaridade e completo estranhamento, suas invocações de relações sociais amenas e estranhos poderes sinistros, sua cambiante mistura de sombra e luz tão dramática quanto a noite e o dia que passam entre suas ruínas colossais. A maior parte de seu magnífico legado foi perdido, e o pouco que resta - edificações arruinadas, tumbas profanadas, fragmentos literários - sobrevive de seu declínio quase interminável.

Nascido das sub-raças Atlanto-Arianas e sujeito a misturas do norte e do oriente, o Egito entra na história mítica com a maior parte de seu complexo passado oculto da visão profana. O que quer que tenha restado de sua história antiga foi escondido nos templos de mistério e jamais se permitiu que viesse à luz da investigação secular. No florescente período da XVIII Dinastia, inaugurada pela expulsão dos invasores Hicsos, marcada por sucessos imperiais, e destruída pelo ressurgimento do sacerdócio de Amon-Rá, o intrincado quebra-cabeças do Egito se complica. Ele não foi facilitado pela deliberada tentativa dos governantes subseqüentes de erradicar toda sugestão de que uma época como aquela tivesse alguma vez existido. A despeito da destruição sistemática, a muitos ainda fascina a XVIII Dinastia, e seu maior Rei, Akhenaton (Amenófis IV), inspira assombro e reverência.

Por volta de 1684 AC um povo Semita conhecido como os Hicsos invadiu e conquistou o Baixo Egito. Governando desde Mênfis e, mais tarde, de Avaris, no Delta oriental, estes adoradores de Seth e Apófis forçaram o Alto Egito a reunir suas forças em Tebas em torno da cosmologia de Amon-Rá. Ramósis, filho do Faraó, organizou um exército a partir de uma população desacostumada com os assuntos bélicos, e embora tenha

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morrido na batalha, a invectiva contra o Egito foi revertida. Quando seu irmão Amósis subiu ao trono, os Hicsos foram em grande parte expulsos do Delta e perseguidos até a Palestina. Embora os Hicsos tenham causado problemas por mais alguns poucos anos, Amósis reuniu os Dois Reinos e fundou a XVIII Dinastia. Enquanto que a pureza da linhagem real havia desde há muito imposto o casamento do Faraó com sua irmã, para que a poderosa bênção dos deuses pudesse ser canalizada à Terra através do foco régio dos princípios masculino e feminino, a XVIII Dinastia deu grande importância à Princesa Solar. Diversamente de suas meia-irmãs, cujas mães eram do harém real, a Princesa Solar podia remontar sua filiação até o Faraó e sua Grande Esposa, uma filha ao mesmo tempo de um Faraó e de uma Grande Esposa. Quando a morte roubava os filhos do Faraó, um parente menor podia ser elevado ao trono e legitimizar seu governo casando com uma Princesa Solar. Tão crítica para a vitalidade do reino e para a fecundidade da Terra era a manutenção ininterrupta do poder faraônico, que um novo faraó devia ascender ao trono no dia seguinte à morte de seu predecessor. Para evitar desastres, um faraó usualmente indicava um co-regente, que era coroado e gradualmente assumia os poderes enquanto que o rei mais velho aos poucos se retirava, um esquema cooperativo que funcionou eficazmente na XVIII Dinastia.

Amenófis I, filho de Amósis, elevou o culto de Amon-Rá e expandiu as fronteiras do reino em crescimento até a Núbia ao sul, da Lìbia no oeste e da Síria no leste. Ele fez de Tutmósis I seu co-regente, e já que Tutmósis era no melhor dos casos um parente distante, a co-regência foi tornada respeitável através do casamento com a Princesa Solar Ahmose. Tutmósis construiu um palácio em Mênfis, o que significou uma mudança no pensamento cosmológico e nos centros de culto. Seu filho, Tutmósis II, desposou a Princesa Solar Hatshepsut, e quando morreu de uma longa doença, a poderosa rainha fez-se proclamar ela mesma Faraó, assumindo as roupagens e títulos faraônicos masculinos, demonstrando o poder do princípio feminino no culto solar. Tutmósis III, co-regente nominal com Hatshepsut, aprendeu com ela o que pôde. Ao longo de quase meio século ele conduziu dezessete campanhas no Oriente Médio e garantiu os limites do reino até a Mesopotâmia. No primeiro movimento para unificar a desintegração religiosa, ele organizou todos os colégios sacerdotais sob um sacerdote de Amon. Infelizmente o resultado foi o inverso do esperado: antes de purgar a cultura Egípcia da superstição e do clericalismo, consolidou a autoridade sacerdotal.

Seu filho, Amenófis II, encontrou-se com os principais reis dos Mittanis, Arianos devotos de Mitra, Varuna, Indra e outros deuses Védicos, e tomou o sol alado de Mitra para os deuses solares do Egito. Tutmósis IV foi seu filho com a Rainha Tia, a qual pode ter sido uma Mittanita, e embora tenha travado diversas batalhas, morreu ainda jovem de uma doença degenerativa. Seu filho, Amenófis III, casou-se com a Rainha Tiy, não uma plena Princesa Solar, mas ligada à família faraônica e possivelmente de ascendência Indo-Européia. Logo no início de seu reinado, o fracasso espiritual das reformas clericais de Tutmósis III se tornou evidente. Os sacerdotes haviam se interposto entre os homens e os deuses, de modo que só estes "eleitos" podiam se aproximar do Divino. Com esta tirania religiosa os sacerdotes se tornaram custódios do certo e do errado, emitindo leis morais que governavam todos os aspectos da vida. Assim, para manter-se a harmonia com a Deidade, devia-se permanecer do lado certo, junto com os sacerdotes. Em uma sociedade que respeitava as classes sociais sem tê-las absolutizado - mesmo os escravos (obtidos só através de conquistas) eram pagos e encarregados apenas de certas horas de trabalho, dispondo de algum tempo livre - este elitismo era perturbador. Os deuses podiam ser remotos em sua transcendência palpável, mas jamais haviam sido colocados além do alcance de qualquer cidadão, pois o Faraó era visto como uma encarnação terrena do alento divino, irradiando sua beneficência sobre todos.

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Amenófis III herdou um império rico, pacífico e poderoso. Livre da necessidade de direcionar pensamento, energia e recursos para a segurança do reino, ele podia devotar-se ao governo, à arquitetura e à reforma religiosa. Seu casamento com Tiy não foi ortodoxo, e embora Tiy lhe desse muitos filhos, acabou se casando com sua filha Sitamon, para assegurar seu status através de uma Princesa Solar. A evidência fragmentária é suficientemente contraditória para admitir duas interpretações: Amenófis, o conservador que resistiu a todas as mudanças religiosas, e Amenófis, o patrocinador de todas as reformas. Se alguém supuser que pelo menos alguns faraós da XVIII Dinastia notaram a necessidade de mudança radical e reconheceram que alterações permanentes deviam ser empreendidas em etapas, poderá ver o porquê de ele ter sido ao mesmo tempo conservador em suas práticas e totalmente patrocinador de seu famoso filho. Enquanto que o culto solar em Tebas era paroquial e sacerdotal, a grande cidade de On, conhecida pelos gregos e pela história como Heliópolis - a Cidade do Sol - também cultuava o Divino em sua forma solar. Rá-Harakhte, o sol alado, havia sido retratado na grande Esfinge. Suas origens Orientais são obscuras, mas alguns eruditos vêem conexão com o Aden ("Senhor" e "Belo Jovem"), do Oriente Médio, que foi reduzido ao Adônis dos gregos.

Em Heliópolis ele era conhecido como Atum-Harakhte, onde tinha um enorme colégio, que tem sido chamado de a primeira universidade do mundo. Seu culto era universal, englobando diversos rituais adequados aos vários temperamentos e culturas. Seu grande símbolo era Aton, o disco solar, máscara da realidade invisível que se manifesta como radiância doadora de vida. Quando Amenófis IV nasceu, em torno de 1394 AC, seus ancestrais já haviam cantado os louvores de Aton durante gerações. Diz-se que Amenófis I havia se tornado uno com Aton por ocasião de sua morte, "assimilado naquele de onde viera". Tutmósis IV fez um pacto com Rá-Harakhte-Aton em um sonho que teve ao dormir á sombra da grande Esfinge: em troca da limpeza da areia acumulada nos lugares sagrados, o príncipe seria feito Faraó, uma promessa mantida por ambas as partes. Amenófis III havia nomeado edifícios, navios e um regimento armado com o nome do deus. Mas talvez tenha sido o honorável sábio do pai quem mais tenha impressionado o filho. O sábio, chamado de Amenófis por causa do Faraó, havia dito:

"O homem passional no templo É como uma árvore se erguendo numa floresta.De repente vem a queda de sua folhagem;Seu fim alcança o tálo.Mas o homem tranqüiloÉ como uma árvore de jardim.Seu fruto é doce.Sua sombra é agradável sob o sol,E ela perdura no jardim".

Este espírito de gentil auto-cultivo sugeria uma suscetibilidade ética interna distinta da moralidade estatutária do clero Tebano. Talvez este sábio que honrava Rá-Harakhte tenha aconselhado o príncipe herdeiro a se tornar sacerdote, e talvez tenha aplaudido sua ascensão à co-regência.