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HIDRÓLISE DE CIMENTO ÓSSEO DE FOSFATO DE CÁLCIO DE DCPD PARA OBTENÇÃO DE HA
B.C.Juncioni(1) ; B.D. Carraro(1); E.C.S Rigo(2);R.G. Carrodeguas(3);
A.O.Boschi(1).
Rod. Washington Luiz, Km 235- Caixa Postal 676 CEP 13565905 São Carlos-SP.
(1) Dema/Biolab, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
(2) PPG-ECM, Universidade São Francisco (USF).
(3) Centro de Biomateriais, Universidade de Havana, Cuba (Universidade de
Havana).
RESUMO
Nos cimentos ósseos de fosfato de cálcio (CFCs) se combinam a
biocompatibilidade, bioatividade e osteocondutividade das biocerâmicas de fosfatos
de cálcio, com propriedades típicas dos materiais tipo cimento, tais como
moldeabilidade, capacidade de dar pega in situ e injetabilidade. Dentre os diversos
tipos de cimentos pesquisados, sobressaem por sua simplicidade e facilidade de
obtenção os cimentos de hidrogeno fosfato de cálcio dihidratado (DCPD), porém
esse cimento possui uma elevada bioreabsorção e acidez. Uma possibilidade de
utilização desse material é que o mesmo, uma vez moldado pode ser submetido a
um processo de hidrólise, para a transformação na fase hidroxiapatita (HA), visando
sua utilização como material para a área de crâniobucomaxilofacial. Dessa forma o
presente trabalho estudou a eficiência e o efeito da etapa de hidrólise sobre uma
formulação de CFC de DCPD, mediante caracterização por difração de raios X,
medida de pH e microscopia eletrônica de varredura. PALAVRAS-CHAVE: Cimento ósseo de fosfato de cálcio, Hidrólise, Hidroxiapatita.
1
INTRODUÇÃO
As biocerâmicas de hidroxiapatita (HA), β-fosfato tricálcico (β-TCP) e bifásicas
(HA+β-TCP–BCP) são extensamente utilizadas na reparação de defeitos ósseos.
Entretanto, sua implantação, especialmente utilizada em sítios, acaba sendo
comprometida em decorrência da forma em que são utilizados (1). Esses materiais
normalmente são encontrados na forma de blocos pré-fabricados ou grânulos. Os
blocos pré-fabricados têm tamanhos e formas pré-estabelecidos, tornando difícil sua
adaptação no local de implantação, no caso dos grânulos a maior dificuldade
encontra-se na sua manipulação e na ocorrência da migração desses grânulos.
Em meados da década de 80 surgiu um novo tipo de biomaterial conhecido
como cimento de fosfato de cálcio. Estes cimentos são constituídos por um pó e um
líquido, de tal maneira que ao se misturarem formam uma pasta moldável que
endurece e dá pega em um determinado tempo, como resultado da precipitação de
cristais de fosfato de cálcio (2).
Nos CFCs se combinam a biocompatibilidade, bioatividade e
osteocondutividade(3) das biocerâmicas de fosfatos de cálcio, com propriedades
típicas dos materiais tipo cimento, tais como a moldeabilidade, a capacidade de dar
pega in situ e a injetabilidade. Desta forma, solucionam-se os problemas de fixação
e adaptação ao sítio de implantação associada ao emprego das biocerâmicas de
fosfatos de cálcio, ainda que se manifestem os inconvenientes associados a pobre
resistência mecânica.
A similaridade química entre a composição do cimento e a parte mineral dos
tecidos ósseos permite a osteocondutividade, sendo o cimento substituído por tecido
ósseo novo. Esse tipo de material é um substituto sintético dos ossos, com
vantagem de não ter reação patogênica que poderiam infectar o paciente (3).
As principais propriedades que caracterizam um CFC são o tempo de pega,
resistência mecânica (4), porosidade, solubilidade e velocidade de reabsorção in vivo.
Estas propriedades são afetadas por diversos parâmetros, de modo que se possa
desenhar uma ampla gama de materiais com diferentes comportamentos mediante a
variação desses parâmetros.
Dentre os diversos tipos de cimentos de fosfato de cálcio pesquisados,
sobressaem por sua simplicidade e facilidade de obtenção de seus componentes,
2
aqueles constituídos por um pó de β-TCP e uma solução aquosa de ácido orto-
fosfórico. Nestes cimentos a reação de pega é:
(A)
O cimento endurecido é composto por hidrogeno fosfato de cálcio dihidratado-
CaHPO4.2H2O (DCPD) (4), (5).
Os principais inconvenientes deste cimento são sua elevada velocidade de
biodegradação e sua acidez, a qual pode causar dano celular nos tecidos
adjacentes.
Mediante hidrólise dos corpos de prova de CFC, pode-se converter a fase
majoritária presente, DCPD, em HÁ (6). Esta conversão é interessante, pois a HA é
mais insolúvel e possui menor reabsorção em vivo que o DCPD, além de possuir pH
quase neutro, diferentemente do DCPD que possui caráter ácido (7).
A reação de hidrólise do CFC se processa da seguinte maneira:
(B)
Uma possibilidade de utilização desse material é, que o mesmo uma vez
moldado, e submetido ao processo de hidrólise, para a transformação na fase
hidroxiapatita (HA), possa ser utilizado como material na área de
crâniobucomaxilofacial. Dessa forma o presente trabalho estudou a eficiência e o
efeito da etapa de hidrólise sobre uma formulação de CFC de DCPD, utilizando
caracterização por difração de raios X, medida de pH e microscopia eletrônica de
varredura.
) s ( O 2 42.ac)(43) s( 2 ) 4O 3 H2 .CaHPO3OH6POHP( Ca− β + + →
OH18POH4)OH()PO(CaOH2.CaHPO10 2.)ac(43)s(26410)s(24 ++→
3
MATERIAIS E MÉTODOS
Obtenção de β-fosfato tricálcico (β-TCP)
A fase β-TCP foi obtida da mistura de hidrogenofosfato de cálcio anidro
(CaHPO)4 e hidroxiapatita (HA), em um moinho de bolas de zircônia por 1 hora.
Posteriormente a mistura foi tratada termicamente a 1150ºC por 8 horas em
atmosfera normal. Após o resfriamento, a amostra foi desaglomerada em almofariz
de ágata e passada por peneira (#80).
A equação a seguir resume a etapa de obtenção do material de partida (β-TCP)
utilizado para a obtenção do cimento ósseo de fosfato de cálcio.
HA+ CaHPO →β-TCP+H2O .(C)
Após sua obtenção, caracterizou-se o pó de β-TCP através de análise de
difração de raios X.
Obtenção do cimento ósseo de fosfato de cálcio
O cimento de fosfato de cálcio foi obtido da mistura entre a parte líquida,
composta por H2O, H3PO4 e ácido cítrico, este último utilizado como retardador do
tempo de pega, com o pó (β-TCP) na proporção de 0,8 mL de líquido para cada
grama do pó.
Com a pasta obtida preencheram-se as cavidades do molde de PVC (20mm
diâmetro externo e 17mm diâmetro interno), previamente engraxados com vaselina.
Após o tempo necessário para o endurecimento da pasta, os corpos de prova
moldados foram colocados em dessecador úmido por 1 hora.
Transcorrido este período, retiraram-se os moldes, deixando os corpos de
provas secando ao ar durante 24 horas.
Hidrólise do cimento ósseo
Para a etapa de hidrólise os corpos de provas foram pesados e colocados em
um erlenmeyer com tampa, em seguida foi adicionada uma solução de NaOH
4
(0,36M), em mL, igual a 10 vezes a massa das peças em g, colocando-o em uma
incubadora com agitação durante 48h, com temperatura aproximadamente de 60 ºC.
Ao fim das 48h, retirou-se os corpos de prova, lavando-os com água e depois
com acetona, e foram secos ao ar em temperatura ambiente.
A etapa de hidrólise se processa de acordo com a equação (B).
Caracterização do CFC
Difração de raios X
A composição qualitativa das fases cristalinas presentes no CFC foi
determinada diretamente no pó, mediante a técnica difratometrica de raios X,
utilizando-se um difratômetro Siemens D 5005 (Diffract Plus Software) com radiação
CuKα, com filtro de Ni, 40 kV e 40mA e intervalo de 5 a 40º, com velocidade de
varredura 2º/min.
Determinação pH
O pH do cimento foi determinado em água destilada e deionizada a 37o C.
Inicialmente os corpos de provas foram mantidos a temperatura ambiente e em
condição de 100% de umidade por um período de 24h. Ao fim deste período os
corpos de prova foram imersos em água destilada e deionizada (pH inicial 6,07), em
um frasco de poliestireno tampado, com uma relação de 10 ml de água para cada g
do cimento.
Manteve-se o frasco durante 24 h a 37oC e ao fim do período determinou-se o
pH utilizando-se um pHmetro Analion PM 608 .
5
Microscopia Eletrônica de Varredura
As amostras dos cimentos não hidrolisados e hidrolisados foram recobertas
com ouro e examinadas em um microscópio eletrônico de varredura ZEISS DSM
940A, com um analisador EDS acoplado Link Analytical NA 10/55 S.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Caracterização do β-fosfato tricálcico (β-TCP)
Analisando-se o difratograma relativo ao pó de β-TCP (figura 1), observa-se a
presença além da fase β-TCP uma fase remanescente de HA. Essa fase
remanescente é em decorrência do processo de obtenção de β-TCP (Equação C),
que utiliza uma maior quantidade de hidroxiapatita em relação ao hidrogenofosfato
de cálcio anidro (CaHPO4) (8).
20 25 30 35 40
0
50
100
150
200
β-TCP
β-TCP β-TCP
β-TCP
β-TCP
HA
HAHA
HAHA
HA
β-TCP
β-TCP
β-TCP
β-TCP
HA β-TCP
Inte
nsid
ade
θ
β-TCP
2
Figura 1: Padrão de difração de raios X do β-TCP obtido.
6
Caracterização do cimento ósseo de fosfato de cálcio
Difração de raios X
Os padrões de difração de raios X do cimento estudado, antes e após etapa de
hidrólise, podem ser observados nas figuras 2 e 3 abaixo.
5 10 15 20 25 30 35 400
100
200
300
400
500
600
700
800
HAHADCPD DCPD
DCPD DCPD
DCPD
DCPD
DCPD
Inte
nsid
ade
θ
Figura 2: Padrão de difração de raios X do cimento não hidrolisado.
Analisando o espectro relativo ao cimento não hidrolisado (figura 2), encontrou-
se presente majoritariamente à fase DCPD, como esperado. Além da presença da
fase relativa a HA, de acordo com três picos situados na região com valor de 2θ
compreendido entre 31º e 34º e outro pico situado em 26º.
A presença da fase relativa a HA pode ser explicada devido à utilização de um
pó de β-TCP que continha, além da fase relativa ao β-TCP, uma fase remanescente
de HA (Figura 1). A presença de HA acaba por causar uma aceleração na reação de
pega do cimento (9).
Mediante a figura 3, após a etapa de hidrólise, observou-se presente à fase
majoritária relativa a HA (H), fato ocorrido devido ao processo de hidrólise, além da
presença de OCP (O).
Sem hidrólise
2
7
5 10 15 20 25 30 35 400
20
40
60
80
100
120
140
160 Com Hidrólise
HO
H
HO
HO
H
O
HO
O
H
HO
HOO
Inte
nsid
ade
2θ
O
Figura 3: Padrão de difração de raios X do cimento hidrolisado.
O aparecimento da fase OCP é explicado por esta ser um precursor da apatita,
que em ensaios in vitro, e sob condições favoráveis de pH, concentração iônica e
temperatura, gradualmente se transforma em apatita (9).
As presenças de HA e OCP em detrimento ao DCPD são favoráveis, pois
ambos são mais insolúveis e possuem menor reabsorção in vivo que o DCPD, além
de possuírem pH quase neutro em ambiente aquoso, diferentemente do DCPD que
possui caráter ácido, podendo induzir alguma forma de necrose no organismo (10).
Determinação pH
Após a correta calibração do pHmetro e determinação do pH da água destilada
usada no processo, verificamos que o pH medido para o cimento sem hidrólise foi de
6,28 (ácido), enquanto que para o cimento hidrolisado foi de 7,00 (neutro),
confirmando o fato de que ocorreu a conversão do DCPD (caráter acido) em HA
(caráter neutro).
8
Microscopia Eletrônica de Varredura
As figuras 4a e 4b, apresentam as microscopias eletrônicas de varredura do
cimento não hidrolisado e hidrolisado, respectivamente.
ba
Figura 4: Imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura da superfície de fratura
do cimento (a) não hidrolisado e (b) Hidrolisado.
Pode-se observar através da Figura 4a, a presença predominante de placas,
correspondentes à fase DCPD, além da presença de grânulos, característicos à fase
HA. Já com relação à figura 4b observa-se uma grande diminuição do número de
placas (DCPD) e um aumento considerável de grânulos (HA), além da presença de
morfologia acicular referente à fase OCP (9) devido à conversão de DCPD em HA e
OCP, resultante do processo de hidrólise.
9
CONCLUSÃO
A metodologia adotada para obtenção do cimento é eficiente e mostrou-se
reprodutível.
A fase final do CFC é composta majoritariamente por DCPD.
A etapa de hidrólise mostrou-se eficiente, pois ocorreu a conversão de DCPD
em HA e OCP.
Ocorre uma mudança no valor do pH do cimento após a etapa de hidrólise,
correspondente a alteração de fase de DCPD para HA e OCP.
Os corpos obtidos após a hidrólise mantêm suas dimensões.
A hidrólise de DCPD em HA é promissora para a obtenção de corpos com
formas complexas para uso na área de crânio-bucomaxilofacial.
AGRADECIMENTOS
A Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),
processo nº 03/09520-5.
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Carlos, 1995.
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HIDROLYSIS OF CALCIUM PHOSPHATE BONE CEMENT OF DCPD TO HA OBTENTION
ABSTRACT
In bone cements of calcium phosphates (CPS’s) are combined biocompatibility,
bioactivity and osteocondutivity of calcium phosphates bioceramics, with typical
properties of cements materials, such as moldability, ability to setting in situ and
injectability. The cement of dicalcium phosphate dihidrated (DCPD) are highlighted
among the many kinds of researched cements because of its simplicity and facility of
obtention, however this cement presents high bioreabsorption and acidity. A
possibility o use of this material is that, once shaped, it can be submitted to
hydrolysis, to transformation to hidroxiapatite phase, with the goal of rise as material
to maxillofacial area. The present work studied the efficiency and the effect of
hydrolysis stage in a formulation of CPC of DCPD, by X-ay diffraction
characterization, pH measure and scanning electronic microscopy.
KEY-WORDS: BONE CEMENT OF CALCIUM PHOSPHATE, HIDROLYSIS,
HIDROXIAPATITE
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