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HI- ST - --RYA THE ZGODOVINA PRIHODNOSTI FU- -TU -R

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ST ---RYA

THE ZGODOVINA PRIHODNOSTI

FU­-TU -R

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icidade regular para sess6es 1ento de filmes, leitura de li­ssao colectiva das produ,6es ia dizer-se, que iam jorrando

; e das sensibilidades assim es dos jovens hom6logos de .pantes vimaranenses coroa­

iio, cujo resultado final aqui

em podiam ser, incluidos no 1i feita colectivamente. Uns s afluiram mais outros nem

ninguem assinava pessoal­~ todos, a livro ficava, assim,

1 dos jovens cujo name, cuja

~ncia, cujas angllstias e cujas

.ue este livro nao e, tambem,

lado de quern fez, de quern

rocesso como, este, ela niio

0 QUE E POSSiVEL ESPERAR

AINDA?

Moises de Lemos Martins Centro de Estudos de Comunica,ao e Sociedade,

Universidade do Minho, Braga, Portugal moiseslmarti ns@9 mail.com

0 FIM DAS ILUSOES NA EUROPA

6 tern sentido falar de futuro quando a um sujeito da

hist6ria e prometida uma perfeic;ao final. Ou entao,

quando o pr6prio sujeito da hist6ria se promete a si mesmo essa perfeic;ao. Mas que promessa e hoje a nossa no ocidente?

0 nosso ideal democrfltico, que havia sido fun­

dado no contrato livremente consentido e permitia o

sonho de uma sociedade governada em name do hem,

do justo e do verd~deiro, come~ou, na era da tecnica, par ceder ao

aborrecimento, rium quotidiano higienizado e atolado em egoismo,

ip.diferentismo e absentismo politicos. Agoniza, agora, diante da degrada~ao e impotencia das institui,6es, do desmoronamento do Estado social e do descredito da classe politica, corroida pela natu­reza especulativa e agiota do capitalismo econ6mico-financeiro,

a que se submeteu.

Ao tuesmo tempo que as institui,6es europeias so,obram, a nosso quotidiano e transcrito incessantemente pela dobadoira

dos media, uma transcri'ao ruidosa, que o nega enquanto quoti­diano em que arriscamos a pele. E 18. vamos n6s embarcados, em

·I viagens tranquilas e aventuras sem risco, para a reino da evasao, do

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exotismo e do fant<istico, que nos deleitam numa calda de emoc;6es

e travestem de uma euforia puxada a manivela a aventura humana

(Martins, 2002:182).

A saida da queda do muro de Berlim, a Europa ja parecia vencida: a depressiio demografica corroia-a ea implosiio da Uniiio Sovietica marginalizava-a. Em termos estrategicos a Europa deixa­

va de contar. Passados dez anos, todavia, o declinio demografico era provisoriamente superado pela absorqiio da miio-de-obra da Europa de Leste. E par sua vez a Russia reequilibrava-se, o que

bastaria para a estabilidade do mundo. Olhadas as coisas deste ponto de vista, dir-se-ia que os ventos

niio podiam correr de melhor feiqiio a Europa. A circula<;iio do euro coma moeda unica saldava-se pelo sucesso.A decisiio do alargamento da Uniiio aos paises da Europa central, oriental e mediterriinica con­firmavam-na como uma Uniao solidciria, cooperante e aberta. Fora

entretanto lanqada a "Convenqiio sabre o futuro da Europa" (2001),

com o intuito de repensar o seu desenvolvimento institucional. Para

tras ficava a discreta e simb6lica "Comunidade europeia do carviio

e do aqo" (1951), que cinquenta anos atras nos larn;ara na singular aventura politica que da pelo name de "constru<;iio europeia".

Em simultaneo com a aventura da "construi;ao europeia",

vimos, entretanto, durante anos, a Europa deixar-se embalar por

uma ordem pragmcitica e civilizada, uma ordem que sonhava

com o sucesso e fantasiava fechar um condominio para o fruir a vontade - o nosso ideal democratico sucumbia entiio it imagologia securitaria. Tai um desaparecido em combate, vimo-lo em perma­nentes campanhas de "tolerancia zero" e de "risco zero", contra

0 intimo terror que 0 assombrava: a droga, 0 alcool, 0 banditismo urbano e_suburb_ano, o terrorismo, os residuos t6xicos, a poluii;ao.

Mas ha mais de uma decada que niio passa despercebido o mal-estar politico- institucional que se apoderou da Uniiio, de­pois do alargamento a vinte e sete membros (2007 ). Entretanto, a perspectiva de um novo alargamento, que incluisse os paises dos

Balcas ocidentais, assim co mo os restantes paises da Europa Cen­

tral, e tambem os paises do Leste Europeu, ja niio deixou ninguem tranquilo. As reuni6es do Conselho europeu passaram a fazer- se acompanhar de manifesta<;6es populares de violencia crescente.

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numa calda de emoc;oes .vela a aventura humana

lim, a Europa jit parecia -a ea implosao da Uniao ategicos a Europa deixa­o declinio demogritfico rc;ao da mao-de-obra da reequilibrava-se, o que

ta, dir-se-ia que os ventos >pa. A circulac;ao do euro A. decisao do alargamento ntal e mediterranica con­:ooperante e aberta. Fora 'uturo da Europa" (2001),

mento institucional. Para .dade europeia do carvao

: nos lanc;ara na singular >nstnu;ao europeia". :i "construc;ao europeia", •a deixar-se embalar por na ordem que sonhava ndominio para 0 fruir a mbia entao a imagologia bate, vimo-lo em perma­e de "risco zero", contra

:a, o itlcool, o banditismo iduos t6xicos, a poluic;ao. nao passa despercebido

' apoderou da Uniao, de­iros (2007). Entretanto,a le incluisse os paises dos

es paises da Europa Cen-1,ja nao deixou ninguem

lpeu passaram a fazer- se ~s de violencia crescente.

Ficaram-se pela discussao estfril as "conferencias intergover­

namentais" para a reforma <las instituic;6es comunit8.rias. Uma

vaga de fundo tern percorrido a Europa, insurgindo-se contra "os burocratas de Bruxelas". E hoje, com a crise econ6mico-financeira

a ribombar sobre as cabec;as de todos os paises da Europa do Sul, o euro parece bem mais um ponto de chegada do que um ponto de partida.A moeda Unica, com efeito, parece n:io ter mais condic;Oes para concluir a construc;ao do mercado, aberta pelo "tratado de Roma" (1957) e destinada sobretudo aos agentes econ6micos. E sobretudo ma! chegou a prefigurar a uniao politica, sonhada logo no come<;o para os Estados-nac;ao e para os cidadaos.

Como que a confirmar que a Europa era uma impossibilidade politica, Blair, Aznar, Berlusconi, Rasmussen e Barroso encarrega­

ram-se, em 2005, de desfazertodas as duvidas, quando a imagologia securit8.ria a lanc;ou, com os Estados Unidos, na campanha pela

"democracia no deserto". 0 eurocetico Reino Unido, a hesitante

Dinamarca e os ressentidos paises da Europa do Sul, Italia, Espanha e Portugal, que sempre arrastaram os pes ou fizeram cera ao ouvirem

a Alemanha ea Fran~a levantar a voz, juntam-se entao aos Estados Unidos e tambem eles gritaram ao infiel.

Durante largos meses, Washington havia, entao, lan<;ado sortes sobre o futuro, observando o voo dos pitssaros e as entranhas das galinhas. Suspensa da palavra dos seus itugures, tenham sido eles politicos, vendedores de sondagens ou profissionais dos me­dia, a America foi aprendendo que Osama bin Laden era o tirano de Bagdade. Nern mais, o "imperio do ma!", onde havia enxofre, choro e ranger de dentes, assentara de novo arraiais nas caver­

nosas areias de um deserto do Media Oriente. E logo um clamor imenso atravessou a Europa. 0 voo dos pcl.ssaros e as entranhas

<las galinhas passaram a repetir aqui aquilo que os aruspices da America garantiam: o monstro do 11 de setembro fora gerado nas entranhas malignas de Saddam Hussein.

A Europa dqbrou-se, deste modo,a fatalidade da Realpolitik. Assolada por rivalidades internas, rendida por pressoes diplo­mitticas, atrai<;oada pela vontade de protagonismo e gozando a volupia de tomar assento no carro dos vencedores, a Europa foi entao esborrachada pelo rolo compressor de uma razao armada de

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baionetas, passando o nosso ideal democrfltico a afivelar o andar pesado <las botas cardadas e a respirar o ar de chumbo da "pax americana". Pornos entiio abandonados por aqueles que elegemos para garantir a liberdade, a justii;a ea paz, e vimos esvaziarem-se

de sentido as nossas instituii;6es. Quern as ocupou apenas manteve

cillculos que favoreceram uma reconfigurai;iio do mapa do Medio Oriente, concebida para assegurar o dominio militar dos Estados Unidos e os seus interesses petroliferos.A chamada "solidariedade atlantica" serviu sobretudo para uma hem estranha e distorcida maneira de vincar o espirito democrcitico. Tenda n6s aderido a estrategia de uns Esta dos Unidos febris e desordeiros, que se con­verteram em agitadores planetfl.rios, ruiu a nossa invisivel raz:io

de ser - um espirito de conc6rdia por uma Europa unida e pela

paz no mundo. E esta a hist6ria do "imperio do hem", quando em 2005,ator­

doando os ares, se ergueunum turbilhiio, por entre patas de galinha e os cacos da Europa. Entretanto, em 2008, um tsunami financeiro,

de ganancia, usura e especulai;ao, varreu Wall Street. E, a partir dai,

em replicas sucessivas, este tsunami fez soi;obrar os paises do Sul da Europa, uma desforra de Pirro para aAlemanha ea Frani;a, dado que, com a hecatombe econ6mica, financeira, politica e social dos

paises do Sul, ea ideia de "construi;ao europeia" que se afunda.

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ico a afivelar o andar de chumbo da "pax

.queles que elegemos vimos esvaziarem-se

ipou apenas manteve 10 do mapa do Media o militar dos Estados 1mada "solidariedade ostranha e distorcida rendo nos aderido a ordeiros, que se con-

1ossa invisivel razao

Europa unida e pela

_uando em 2005, ator­mtre patas de galinha 1 tsunami financeiro, . Street. E, a partir dai,

brar os paises do Sul

anha e a Franc;a, dado 1, politica e social dos ia'' que se afunda.

A IDEIA QUE FEZ A MODERNIDADE

0 tempo que fez a modernidade teve coma principios motores, au propulsores, a teleologia (helenica) ea escatologia (judaico-crista): tratou-se sempre de caminhar para um fim, num movimento todavia perfective! e salvifico.

Com o projeto, lanc;itmos um prop6sito para diante. Com a prospetiva, construimos um olhar para diante. Com a progresso, estabelecemos um movimento para diante. Como progn6stico,afirm3.mos um conhecimento para diante. Dissemos prop6sito, manifestamos uma intenr;ao para diante. Com o programa, fi.x3.mos o que deveria vir adiante. Enfim, com a promessa, ela que e um ato de palavra ilocu-

cion8.rio, demos garantias sabre o future, imaginando-o de um

mo do definitivo, porque "na promessa alguma coisa hit de imortal"

(Jorge Luis Borges, em The Unending Gift, 1969).

A teleologia e a escatologia remetem-nos, pois, para uma

ideia de tempo, organizado pelo logos, que sendo palavra, tambem e razao: projeto, prospetiva, progresso, progn6stico, prop6sito,

programa; e remetem-nos igualmente para uma ideia de tempo, organizado pelo simb6lico, que na promessa reline em unidade o que se encontrava solto e disperso.

0 principio esperan,a exp rime esta ideia de tempo nas duas principais tradic;6es que fizeram a Europa, tanto na tradic;ao laica, como na tradi<;ao religiosa: encontramos este principio claramente expresso em Ernst Block, no Das Prinzip Hoffnung ( 0 Principia Es­

peran,a), obra concebida entre 1937 e 1948, e em jiirgen Moltmann, na Theology of Hope, publicada em 1967 e inspirada em Block.

Os principios conjugados de teleologia e de escatologia,

que determinam o tempo que fez a modernidade, viraram-nos para o futuro, suspenderam o tempo presente (ou raptaram- no e eclipsaram-no), pressupondo uma ideia mitica de passado, aonde regressariamos 'no final dos tempos: tratar-se-ia de um regresso

a casa do Pai, "ao som de trombetas", como refere o Apocalipse de Sao joao, ou a uma sociedade sem as contradic;6es de classe, profetizada por Engels, na Origem da Familia, da Propriedade

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Privada e do Estado, au ainda it ideia antes da sua degradac;iio em materia, coma a assinalou Platiio no Livro VII da Republica, au a um "admiravel mundo nova", que harmonizasse a natureza

consigo mesma, de que a tecnologia (sobretudo a biotecnologia e

a tecnologia da informac;iio) seria a sustentitculo. Reunindo o future e o passado, aonde regressariamos no

final dos tempos, a hist6ria e una e n6s so mos um, to dos redimidos, seja pelo progresso, seja pela promessa. E e pelo facto de tambem nos podermos prometer (declinando as possibilidades do futuro) e de assim garantirmos a eternidade, que o nosso regime e o da

analogia - somos coma deuses, criadores de mundos.

0 presente e um tempo de tensiies, dificuldades, conflitu­alidades, ambiguidades, e tambem um tempo de opc;iies, escolhas, equivocos, hesita<;Oes.A ideia mitica de passado, para onde remete a utopia do futuro, suspende a presente, rapta-o e coloca-o em eclipse.

A ideia moderna de tempo ( uma ideia teleol6gica e escato-16gica) pacificou-nos, fazendo do presente uma mera passagem, uma viagem controlada, partindo n6s de um ponto definido - de­

finitivo (um fundamento s6lido, um territ6rio conhecido e uma identidade estitvel) para um porto seguro. E entre uma genese e um apocalipse (uma narrativa da salvac;iio), o presente garantir-nos­-ia essa passagem para a emancipac;iio, a liberdade, a civilizac;iio, o reino de Deus, a sociedade sem classes, um mundo melhor.

A NOSSA EPOCA E 0 QUE SOMOS NELA

A acelerac;iio ea mobilizac;iio tecnol6gicas da epoca destruiram as categorias da metafisica tradicional - que todavia constituiam as

condic;iies de possibilidade, funcionamento e circulac;iio do nosso pensamento e conhecimento.A acelera<;ao ea mobilizac;ao tecno-16gicas da epoca articularam a pr6ximo e a distante, a futuro e a passado, o real e o virtual, o dense e o leve, o humane e o inuma­

no (a bias ea teckne misturaram-se num hibrido p6s-humano). Ao tornar-se autotClica, e nao meramente instrumental e antro-

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pol6gica (Hei e acelerou-no

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1 Ver, por todos,

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ia antes da sua degrada<;iio > no Livro VII da Republica, Je harmonizasse a natureza

sobretudo a biotecnologia e ustentitculo. o, aonde regressariamos no

somos um, todos redimidos, ;a. E e pelo facto de tambem as possibilidades do futuro) , que o nosso regime e o da

>res de mundos. 1s6es, dificuldades, conflitu-1 tempo de op<;6es, escolhas,

'passado, para onde remete a rapta-o e coloca-o em eclipse. ia ideia teleol6gica e escato­~sente uma mera passagem,

: de um ponto definido - de­

territ6rio conhecido e uma tro. E entre uma gfnese e um

o), o presente garantir-nos­

o, a liberdade, a civiliza<;iio, ses, um mundo melhor.

E SOMOS NELA

;icas da epoca destruiram as que todavia constituiam as

nento e circula\8.0 do nosso

ca<;iio ea mobiliza<;iio tecno­no e o distante, o futuro e o

leve, o humano e o inuma-

1um hibrido p6s-humano). Lente instrumental e antro-

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pol6gica (Heidegger, 1954 ), a tecnica passou a investir o humano e acelerou-nos infinitamente, mobilizando-nos totalmente para

o mercado global. Mas num regime de "meios sem fins" (Agamben, 1995) e

"em sofrimento de finalidade" (Lyotard, i993: 93), o panorama e 0 da crise permanente da hist6ria e 0 da crise permanente do

humano (Martins, 2011).

Precipitados no presente, mas sem a garantia de uma passa­gem teleol6gica e escatol6gica, "sem rocha, cabo ou cais" (Sophia, 1967 ), so bra-nos o homem na ambiguidade da sua di/visiio: rugoso, viscoso,hesitante,claudicante (com o "pe inchado", coma Edipo, filho da terra, na tragedia de S6focles) e em travessia, obrigado a arrostar com os perigos ea fazer escolhas na incerteza do caminho a seguir.

E um entendimento cada vez mais generalizado na literatura pas-colonial o de que existem culturas da unidade, que se op6em a culturas da mistura. As culturas ocidentais seriam culturas da unidade e da exclusiio, enquanto que as culturas p6s-coloniais seriam culturas da mistura e da participa<;iio.

Esta tematiza<;iio e feita, par exemplo, a prop6sito da na<;iio brasileira, considerada, desde Gilberto Freyre (1933), uma cultura de mistura, de "miscigena<;iio", sendo o Brasil um pais de "cultura hibrida", para falar co mo Nestor Canclini (1995 ), multiculturalista, de cultura participativa e dial6gica'.A ideia de cultura participativa e dial6gica, pr6pria de um pais multiculturalista coma o Brasil, valoriza as diferentes contributes - africanos,amerindios, orientais

e europeus - na constru<;iio da identidade nacional. Acontece, no entanto, que o ocidente foi feito sob a influxo

da cultura da unidade. Poi feito, desde os gregos, par um logos, que sendo palavra, tambem e razao. e mais do que isso, instancia

soberana de decisao. Com efeito, o logos e uno e Unico. Por outro

!ado, o ocidente foi feito, tambem, pela tradii;iio judaico-cristii, uma palavra com fun<;iio simb6lica, uma palavra que reline e faz unidade. Todos nos lembramos de que na simb6lica ocidental,

1 Ver, por todos, Diana Pessoa de Barros (2012), Preconceito e Intolerdncia.

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no principio era o Verba e o Verba estava orientado para Deus e o

Verba era Deus, como e dito no Pr6logo do Evangelho de Siio Joiio. Ou seja, em sintese, o grande mito sabre que repousa o

ocidente ea palavra, tan to na tradi<;B.o classica, greco-latina, co mo

na tradii;§.o judaico-crista. Ea palavra sempre reuniu o que estava

disperso e desordenado. Sempre trabalhou no sentido da unidade,

fosse a palavra logos, ou entiio simbolo. 0 pensamento da unidade contrapor-se-ia entao ao pensa­

mento da multiplicidade. 0 principio da identidade, da 16gica de Arist6teles, juntamente com a dialCtica hegeliana e a sua sintese

redentora, e ainda o principio da reuniao identit<lria subjacente a figura<;iio simb6lica, contrapor-se-iam ao principio da diferern;a. Seriam o pensamento da unidade e a l6gica da identidade que fundariam a cultura da exclusiio no ocidente.

A cultura ocidental, uma cultura logocentrica, etnocentrica,

imperialista e colonialista, que assimila a diferen<;a, destruindo-a, misturou-se, entretanto, com a cultura multicultural, uma cultura

do multiple e da participa<;iio, que se manifestou no surgimento

de um vasto con jun to de paises p6s-coloniais, fundados na riqueza de muitas linguas, na mistura de muitas etnias e na explosao de

uma multiplicidade de narrativas. A metafisica tradicional era fundada na palavra, um espa<;o

de premessa. Ea premessa declinava um future dando-nos garan­tias sobre ele. Essa metafisica da unidade parece ter acabado no ocidente: jit niio lan<;amos um prop6sito para diante (para o future), fundando-o numa origem perdida. Agora e para o presente que somos mobilizados.Aspalavras da promessa, centradas no future, foram substituidas pelos numeros da promessa, que no ocidente sao sobretudo os nUmeros da crise, econ6mica, financeira, politica

e social: os do Produto lnterno Bruto (PIB) que niio cresce, ou tern crescimento negativo; os da Balani;a Comercial, com desequili­

brios cr6nicos entre as exportai;Oes e as importac;Oes; os do dCfice,

interno e externo; os do desemprego; os do envelhecimento da popula<;iio; os das desigualdades sociais, que alastram; os da quebra dritstica dos indices demogritfico, OS numeres do afundamento da representatividade e da legitimidade democritticas ... Trata-se de

168

nUmeros vi

sua crise.O

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ava orientado para Deus e o

:o do Evangelho de Sao joiio. mito sobre que repousa o classica, greco-latina, co mo

sempre reuniu o que estava

lhou no sentido da unidade, o. :rapor-se-ia entao ao pensa­

, da identidade, da 16gica de

::a hegeliana e a sua sintese

.ic'i.o identitaria subjacente a 1 ao principio da difereni;a. a 16gica da identidade que cidente.

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la a difereni;a, destruindo-a, multicultural, uma cultura

manifestou no surgimento

oniais, fundados na riqueza tas etnias e na explosiio de

. dada na palavra, um espa90 m futuro dando-nos garan­lade parece ter acabado no J para diante (para o futuro), gora e para 0 presente que ,mess a, centradas no futuro,

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;, que alastram; os da quebra 1meros do afundamento da democraticas ... Trata-se de

nUmeros virados para o presente e que no ocidente assinalam a

sua crise. O padre, o homem de leis e o politico ja niio organizam a vida no ocidente, porque a crise se impOs no presente, de modo

a nao se vislumbrar um horizonte; para a promessa temos agora

os economistas, os engenheiros e os gestores. S:io os nossos magos

- magos do presente. Partin do do ocidente, as tecnologias da informai;iio produ­

ziram, entretanto, a globalizai;iio cosmopolita, uma globaliza<;iio de cariz econ6mico<fi.nanceiro, comandada par especuladores e

usurarios, que serve o mercado global, para onde nos mobiliza, total e infinitamente. A globaliza<;iio dos mercados deu-nos uma identidade definida, ou seja, definitiva, (1) de individuos m6veis, isto e, de individuos que assumam doravante uma condic;:io n6ma­

da, precaria, sem direitos sociais; (2) de individuos prontos para a mobiliza9iio, o que significa, prontos para qualquer trabalho, respondendo em permanencia as necessidades do mercado; (3) de individuos competitivos, com o sentido apurado da 16gica da produi;iio; (4) e enfim, de individuos performantes, quern dizer,

de individuos realizadores e concretizadores de sucesso. Temos, entretanto, agora, uma outra cultura da unidade, a da cultura­-mundo, servida por uma (mica lingua, o ingles .

Fundada nas tecnologias da informac;:io e na economia, a

globalizai;iio niio pode ser contrariada, todavia, por individuos solitarios e impotentes, nem par estados-nac;:io em crise. Por essa

raziio, podemos dizer que a globaliza<;iio cosmopolita exige uma globaJizaqiio muJticulturaJista, que reuna OS pOVOS de areas geo­-culturais alargadas, que promova e respeite as difereni;as, dig­nificando as linguas nacionais. A globalizai;iio multiculturalista e feita peJa mistura, OU seja, niio apenas pela miscigena<;iio de etnias, mas tambem pela miscigena<;iio de mem6rias e tradii;6es. Podemos dizer que, ao inves da homogeneiza9iio empobrecedora e de sentido unico, estabelecida pela globalizai;iio cosmopolita, a globalizai;ao multiculturalista tern a virtude do heterogeneo; a sedui;iio de uma rede tecida de fios de varias cores e texturas, uma rede de povos e paises diversos, capaz de resistir ii sua redu<;iio a

uma unidade artificial.

169

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A EUROPA NO CONTEXTO DAS IDENTIDADES TRANSNACIONAIS

Embora considerando a cultura como produc;ao simb6lica ima­

ginftria, gostaria de insistir num aspecto que o soci6logo Pierre

Bourdieu sempre considerou essencial na anftlise das quest6es

discursivas. Os sistemas simb6licos sao fen6menos discursivos, sao uma questao de linguagem, e esta representac;ao e social. Par sua

vez, as representac;Oes sociais tern uma 16gica social. Sao definic;6es

do real, o que quer dizer, di/vis6es sociais, que concorrem tambem

para a realidade <las divis6es (Bourdieu, 1980: 65). Como expressao simb6lica, a :figura da identidade europeia

constitui uma particular categoria de palavras. Integra o vasto

conjunto de palavras com as quais encenamos a relac;ao entre a

mesmo e o outro, entre n6s e as outros. Usamo~las para exprimir

pertenc;as e identidades, e mesmo para delimitar territ6rios2•

0 ponto de vista em que me coloco, que e um pan to de vista

bourdieusiano, visa, pois, a figura da identidade europeia como uma classificac;ao prii.tica, isto e, coma uma di/visao do mundo social. Sendo uma classificac;ao prittica, a figura da identidade europeia esta subordinada a func;Oes pritticas e orientada para a produ<;iio de efeitos sociais. Com efeito, nesta figura encena~se o camp a de um combate, sen do que se trata de um combate par uma determinada ordena<;fo simb6lica do mundo, o que tamhem quer dizer, par uma especifica ordenac;ao do mundo.

Ilustro este ponto de vista com um exemplo. Vou tomar as figuras de comunidade e identidade europeias multilingues coma defini<;Oes do mundo, que concorrem com as definic;Oes rivais de comunidade lus6fona e lusofonia, de comunidade britanica e Com· monwealth, de comunidade franc6fona e francofonia, enfim, de comunidade hispanica e hispanidade. Num tempo p6s-colonial e globalizado, es.tas figuras exprimema luta pela ordenac;ao simb6lica

2 Sobre as representa~Oes coletivas, um lexico que habitualmente utilizamos para invocar e

exprimir perten~as e identidades sociais, assim co mo para delimitar territ6rios, escrevi, em

1996, Para uma Inversa Nave9a~ao.

170

domundo. nidadeinte Samuel Hun

Ent re alastraram a dominante, <lade superv <lade Europ Mercosul;e panarabism continente cordaomu<; entre o no tarefa de ha

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TEXTO DAS SNACIONAIS

no produc;iio simb6lica ima­

lecto que o soci6logo Pierre

cial na analise das quest6es

.0 fen6menos discursivos, sao

presenta<;i'i.o e social. Par sua

a l6gica social. Sao definic;6es

;iais, que concorrem tambem

ieu, 1980: 65).

igura da identidade europeia

de palavras. Integra o vasto

~ncenamos a rela<;ao entre o ·os. Usamo-las para exprimir

tra delimitar territ6rios2•

·loco, que e um ponto de vista

i identidade europeia coma

no uma di/visiio do mundo

.tica, a figura da identidade

;; prftticas e orientada para a

dto, nesta figura encena-se o

rata de um combate por uma

> mundo, o que tambem quer

domundo.

n um exemplo. Vou tomar as

mropeias multilingues coma

1 com as definic;6es rivais de

:omunidade britanica e Com­

ma e francofonia, enfim, de

'· Num tempo pas-colonial e .uta pela ordenac;iio simb6lica

e1bitualmente utilizamos para invocar e

!Opara delimitar territ6rios, escrevi, em

do mundo. 0 que se joga nesta luta simb6lica ea divisiio da comu­

nidade internacional em areas culturais, dando forma aquilo a que

Samuel Huntington (2001) chama a guerra das culturasi.

Entretanto, as sociedades transcontinentais, cujos projetos

alastraram antes de a globalizac;iio se autonomizar coma variAvel

dominante, foram elas mesmas fraccionadas pela seguinte reali­

dade superveniente: as paises europeus convergem na Comuni­

dade Europeia, o Brasil e os Estados Hispanicos convergem no

Mercosul; ea francofonia, a Comunidade Britanica,a lusofonia e o

panarabismo, desenvolveram linhas diferenciadas na unidade do

continente africano; entretanto, o Coriio apela a identidade de µm

cordiio muc;ulmano que, de Gibraltar a Indonesia, divide o mundo

entre o norte e o sul (Moreira, 2004: 9). Nestas circunstancias, a

tarefa de harmonizar tao diferenciadas e multiplas filiac;6es, umas

baseadas na experiencia e na hist6ria, outras induzidas pelas lei­

turas do futuro premente, e certamente uma tarefa mobilizadora

para os governos que exercitam uma soberania em crise, mas e igualmente uma tarefa aliciante de investigac;iio (Ibidem)'.

3 E, 110 entanto, inquietante que a luta simb6lica seja acompanhada pelo anUncio de uma

polemolo9ia dominada pelo co11fronto armada das vdrias civilizaqOes, marcadas pelas

diferenqas religiosas, numa circunstdncia em que todas as dreas culturais falam pela

primeira vez com voz pr6pria na cena internacional e se veem forqadas d convergencia

pela globalizaqdo derivada das revoluqOes cientifica, tecnica e dos mercados. Em texto

recente, Adriano Moreira (1004: 4) denuncia esta "metodologia do alarme'', em que se

teria especializado Samuel Huntington. Pera11te "a emergencia ou avanqo preocupantes

de outras culturas e etnias", o alarme de Huntin9ton teria como consequencia a "or9ani­

za~ao de uma polftica de se9uran~a mais an9lo-sax6nica do que ocidental".

4 Sob re po!fticas e 1in9ua9ens da identidade lus6fona Joi lan~ado, em 2004, no Centro

de Estudos de Comunica~ao e Sociedade da Universidade do Min ho, o projeto de investi-

9a~ao coletiva intitulado; "Lusocom: Estudo das P-oliticas da Comunica~ilo e dos Discur­

sos sobre a !dentidade Lus6fona", tendo sido publicada a obra coletiva, Comunica~iio e

Lusofonia (Martins, M., Sousa, H. iJ Cabecinhas, R. (2006). Ea Federa¢o Lus6fona de

Cie11cias da Comunica~ao lan~ou um Anudrio, de que foram publicados jd nove volumes

http://www.lusocom.or9/pt/pa9/livros/. Entretanto, desde 2010, que se dese11volve, neste

mesmo Centro de Estudos, o projeto "Identity narratives and social memory: the (re)mak­

in9 oflusophony in intercultura! contexts" http://www.1asics.uminho.pt/idnar/?1an9-e11

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Aquila que se joga nesta luta simb6lica entre "globaliza<;ao cos­mopolita e globalizaqao multiculturalista" (Martins, 2011 a) e o poder de definir a realidade, assim coma tambem o poder de im­por, internacionalmente, essa definii;ao, quero dizer, essa divisiio.

Neste entendimento, a figura da identidade europeia niio e uma coisa diferente da realidade social <las distintas comunidades nacionais onde se processa esse combate simb6lico. Ee pelo facto

de as representai;Oes sociais da realidade nao serem estranhas a pr6pria realidade social dos paises que as formulam, que, a meu ver, devem ser reavaliadas as formulaq6es que tendem a negar ii figura de identidade europeia niio apenas a eficitcia simb6lica, coma tambem toda a eficitcia politica.

Este entendimento impede-nos de consentir na ideia de que nada hit realmente que se possa designar, com verdade, coma cultura e comunidade europeias. E, do mesmo mo do, de que a comunidade europeia nao tern ainda sujeito pr6prio, uma ve71 que nada existirft

que possamos considerar coma uma mitologia vivida em comum

au coma uma auto-imagem identititria partilhada. Ou que nada haverit que possamos interpretar coma a partilha efetiva de valores

e de modes de estar no mundo e de se confrontar com ele. Basta pensarmos na experiencia que esta a ser vivida no

campo <las migraq6es pela Comunidade Europeia, e tambem no campo <las suas distintas literaturas. Servidos par particulares politicas da lingua, quer o campo <las migraq6es, quer o campo <las distintas literaturas, constituem a cabal demonstrac;ao de que a cultura e o progresso silo filhos da mistura. Podemos dizer, tambem, que a curta experiencia desta Comunidade tern mostrado que a convergencia dos paises culturalmente soliditrios, prestando uma soliditria homenagem a iguais valores da paz e do desenvolvimen­to, torna mais forte e mais escutada a voz com que afirmam a sua

presenc;a na ordem internacional em mudani;a.

As solidariedades horizontais, que decorrem da partilha de

uma mesma c.omunidade plurilinguistica e da miscigenac;ao de mem6rias e tradi<;6es, uma e outra identificando a area cultural europeia, sao, neste sentido, pensamos n6s, um elemento que for­

talece o tecido da "globaliza<;iio <las dependencias", contribuindo deste mo do "para uma articula<;iio entre a linha da territorializac;ao

172

dos poderes organizada

Nafi que o progr etambemd imp6e-se, ta

uma entida cultural co

Num ralismo em deixardese mem6riai ideiadepe realidades a ter que se entrar,em

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entre "globalizac;iio cos­:a" (Martins, 2011 a) e a

tambem a poder de im-1uero dizer, essa divisao.

ide europeia nao e uma

distintas comunidades simb6lico. Ee pelo facto ~ nao serem estranhas a s formulam, que, a meu

s que tendem a negar a as a eficacia simb6lica,

:onsentir na ideia de que m verdade, coma cultura lo, de que a comunidade na ve'lJ que nada existira

logia vivida em comum utilhada. Ou que nada

artilha efetiva de valores frontar com ele. 1ue esta a ser vivida no

Europeia, e tambem no vidos por particulares igra96es, quer a campo I demonstrac;iio de que a Podemos dizer, tambem, de tern mostrado que a lidarios, prestando uma az e do desenvolvimen­com que afirmam a sua

danc;a. lecorrem da partilha de

1 e <la miscigenac;iio de 1ficando a area cultural ;, um elemento que for­dencias", contribuindo

nha da territorializac;iio

dos poderes politicos ea Jinha da mundializac;iio da sociedade civil organizada em rede" (Moreira, 2004:10 ).

Na figura<;iio de Comunidade Europeia prevalece a ideia de que a progresso ea cultura resultam da miscigena<;iio <las etnias, e tambem da miscigenac;ao de mem6rias, tradic;Oes e paisagens. E imp6e-se, tambem, a ideia de que e passive! florescer no seio de uma entidade transnacional, au supranacional, uma federac;ao cultural com lugar para muitos Estados.

Num tempo marcado, todavia, pela globalizac;iio, intercultu­

ralismo e multiculturalismo, a espac;o cultural europeu niio pode deixar de ser hoje seniio um espac;o plural e fragmentado, com uma mem6ria igualmente plural e fragmentada. Quer isto dizer que a ideia de pertenc;a identit:iria nao dispensa nunca a considerac;ao de realidades nacionais multiculturais distintas, com linguas distintas a ter que se relacionar umas com as outras e a ter, igualmente, que

entrar, em muitos casos, em competic;ao entre si.

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DUAS NOTAS FINAIS

A acreditarmos no poeta Paul Celan (1996: 46), varios acentos convem ao tempo: o agudo da actualidade; o grave da historicidade e 0 circunflexo da eternidade - 0 circunflexo que e um sinal de

expansao. E meu entendimento, no entanto, que o tempo perdeu nos nossos dias todos os seus acentos. A historicidade, o acento

grave do tempo, o acento da nossa responsabilidade pelo nosso estado e pelo estado do mundo, e hoje uma "doern;a", como ja diagnosticou Nietzsche (1874), na Segunda Considera<;il.o lntem­pestiva. Entretanto, a actualidade, o acento agudo do tempo, tem­·na transformado os media em fair-divers, em novidade, que e "a superficie infecunda do novo" (Benjamin, 1982: 173). E depois, o eterno, o acento circunflexo que expande o tempo, e apenas um

fragmento mais na enxurrada, em que vcio, rio abaixo, todos as

names que nos falavam da invariancia de uma presen~a plena (de um fundamento): essencia, substancia, sujeito, consciencia,

existencia, Deus, homem, transcendencia ... (Derrida, 1967: 410-411).

Com as acentos em falta, a experiencia ocidental coma que

entrou em colapso. Em todo o caso, cairam drasticamente as possi­

bilidades da (a)ventura humana, uma vez que perdemos o sentido de comunidade. Reinventar esse horizonte, prometermo-nos essa

perfeic;ao, a de uma comunidade partilhada, e esse todo o futuro

que nos espera.

174

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Huntington das Civiliza Mundial.L'

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5 ), varios acentos

e da historicidade [Ue e um sinaJ de e o tempo perdeu :icidade, o acento

idade pelo nosso doenc;a", como ja

1sidera9iio Intem­lo do tempo, tem­tovidade, que e "a

"173). E depois, o npo, e apenas um 1 abaixo, todos os

a presen9a plena eito, consciencia,

. da,1967: 410-411).

idental como que camente as possi­rdemos o sentido netermo-nos essa 1sse todo o futuro

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