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06 Lisboa,/ de janeiro de 1912

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li s

©s conselhos ho hr. jfrieh (4 .º)

( OE PA E PARA r/LHO)

OUVE AGORA, MEU FILHO, ESTE CONSELHO: NUNCA, SEJA ONDE FOR, TE ES­

QUEÇAS DE TRAZER COMTIBO OS

COMPRIMIDOS "BA YER" DE ASPIRINA

POIS QUE t UM MEDICAMENTO PRECIOSO QUE, POR COMPLETO, CURA: DORES DE CABEÇA

E DE DENTES, NEVRALBIAS, CONSTIPAÇÕES. ETC.

QUEM YIÁJA DEVE SEMPRE TRAZEL-OS COMSIBO. E, SE POR ACASO, SE ACABA·

REM, PÓDE SEMPRE OBTEL-OS, PORQUE EM TODO O MUNDO SE ENCONTRAM.

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NOEMIA

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)S. I3140TE~~ CO n~Tl]ll ~ ~~ 1 • N d d • ,,}l.r A otena do atai, que era e uzentos e quarenta ""=' _ ....._ ~"" · J

contos de réis, teve a sua extração em 23 de c!ezembro, , ... ~ O!! di'.lnte. d'u11_1a gra~de concorrencia, na sala da Casa da ,. ,Y .(')(~'~,~ ltJn:

.• M1zencord1a de Lisboa. x~ ..._.< :S-· ./"' K,õ~ O primeiro premi o saiu no n.• 5: 119, que foi comprado / : .X • '.i'il:)

lll pela casa Levy, de Lourenço Marques. Os dois numeres 1(.· • • . ~. premiados com trinta contos e cinco contos foram \' f ::-"\ 1:216 e 5:113 (

f-·_ Lcr-----------i C- ) r

1-0 f•uhllco do .. orttiO ~ teo;ourtlro da \ll--.erle"ordla "'· \\tlar Ttlt-<t e o Utl da lt"ourarJa Junhl ao t"OCrc oodt f"ili. dtl""• .. llada a tin110r1anc1a <tos Prtmlo'

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1- \ Côlhelta d:t~ rO' l ci t- \ C' l<lo.cto de Grasse-,\ <'lda<J o

das ftôres 3-0 trn nSPorte da111 ro~ftS

11r1rA o.s de1>oshos

Orasse é um jardim; é mesmo a cidade flori­da dos Alpes Marilimos. Nos seus vales, nas suas encostas, crescem as ílôres, emquanto nas grandes fabricas que a povoam se vão tratando as industrias dos perfu­mes pelos mais moder­nos processos. E' aque­la a riqueza da cidade de Flora.

Na chapada violenta do sol n'esses verões em que a colheita é intensa vi!-se o mulherio, cenfenares de mu: lheres quasi Iodas novas, quasi todas bonitas, colhendo as flõres nas ro­seiras e nos jas­mineiros. agacha­das, ap:mhando as violetas que ta­peiam o chão, le­vando braçadas de junquilhos, de madres1lvas, de lí­rios, que as tornam assim mais belas e as períumam. Andam as­sim todo o sa nt o dia umas; as ou­tras, no inte­rior das oli· cin as, aju­dam o fabrí-

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co. Primeiro tra· ta-se de separar as petalas das varias flôres, de·

8J pois da distih· ção para umas, a maceração pa· ra outras e ain· da a iniusão.

Mas a par d'es· sa colheita gran· de, re·ta nos jar· dins da cidade, ha ainda os par· ticulares. Cada pessoa tem em Grasse o seu jar· dim. As crean­ças aprendem a eu lti v a 1-os sob aquele ceu eter· namente azul. Sobretudo os ro·

t- \ mar~ra· ('àO ~ ('01("<­

durl! dl\oe ro .. a,

!-\ rn111f"llll doJa .. mlm

l- \ Um1•r1:1. d;a.; folha·

H"rde ..

seiraes são trata· dos com um enor· me cuida· do, pois nas fabri· cas paga· se porca· da ki lo de petalas dois fran· cos e cin·

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~'~''' ' ' 2 }l 1 J ::ZZ:::' Çj , >

,-,,r: l li coenla, sendo ainda mais ca-l ras que as de flôr de larangeira,

que se pagam a franco por kilo. Pomares verdejantes nas mar­

gens dos ribeiros mostram as suas lindas flôres que parecem de cêra e que são colhidas para perfumes, dando-se n'esta cidade de pomares o caso unico de não colher laranjas. Quando o inver· no chega as fabricas leem o seu fornecimento feito. Toda a labo­ração se faz com uma grande in­tensidade sendo exportados os perfumes para todo o mundo.

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1-0 ttau~portti d:t. 4:'0· lh~IHl

t- \ Pt""3VtU\ dM Uti r4"<11

Uma linda mulher no ponto mais re· cuado do universo perfuma-se com a essencia das rosas de Grasse, dos jas· mins, dos lynos, dos cravos, e das mil e uma combi· nações qu~ saem d'aquelas fabricas de repulação uni­versal.

Ha lambem as ca­sas onde se !abri· c a m os perfumes raros, as que traba· lham segundo as receitas do~ perfu· mistas parisienses de re1rntação mun· dial. São verdadei­ros laboralorios de alquimia, logares de segredos onde só o mestre penetra e cujos cpe rarios desconhecem a compos•ção d'essas

essencias p:r:e:c:io~-:m~!!!!!!!§~i!~!!~~~!

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sas que custam muitoca· ras. .

1 Orasse embra

uma ter· ra d'abe· lhas que vão bus· car ao campo, com as

I-.\ r>rt,.ara( ~ de Ja.,.mtm ;º tio 11trrum,.

''ºerr~~~~[,!º~~.~t~~~:~'· ~ \ colhtl?''" o aromll

de l:\l'AnJtlra 3A-1IA.., ftMt..,

f ... r-ortnda em me~:~!f trnn ....

lores orla vilhoso~s sucos mara­perfuma ~om ~ue se Sempre u universo. d'uma d'~s e se fala

Sceias singulir~s ;ç~~na·

sem qu -linda raparigercr llll)a d'aquele a no meio apertando s ecoa 111 J? os um braçado d ms igo sorrindo sob e rosas, e céu azui d o e.terno das flôres. a cidade

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O Pres1deoce d3. nepulHlca e o da • llu:;1rn~5.o

ticular, detendo-se diante das telas, ana­lisando os desenhos, trocando com o pin­tor as suas impressões, mostrando-se um apreciador da arte e acabando por com­prar um quadro intitulado Plellitude, que

é na verdade excelente de colorico, de ver­dade, d'uns grandes toques arlisticos.

E' um trecho de mar em Leça; a onda ver­de encapela e franja-se de espuma, como um manto debruado de rendas que o =,oc====.,.'---=...---=

nuel d'Arriaga adquiriu, examinando de­pois atentamente outros trabalhos, alguns primorosos, d'essa exposição que consa-gra definitivamente os meritos já conhe­cidos d'esse singular artista que é Antonio Carneiro junior.

A concorrencia ao salão da Ilustração Por­lagaeza continúa sempre, tendo passado por

ali tudo quanto ha de mais ilustre na so­ciedade portugue­za.

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C~·~L\f>ACRIAM-05·9UE·.f\{RITJCA~· O~·om:. L\it·OBfDfCrN·

A teatação dos ITa,os! - A releglit da Mo4a - Os sm sacerdotes e IS seu dnotos Bismarck e 1 rn •• ta Paix

Ha tempos, em Lisboa, n'uma reunião de gente viajada, uma gentil <=;reatura q'-!e então era. e nã_o sei se voltará a ser ainda, a mais encantadora atnz da nossa terra, dizia· me \falando das atra­ções infinitas de Paris:

-Ah! os trapos! os trapos são uma ten· lação!

E as suas mãos dei· gadas faziam o gesto de amarfanhar sedas, e os seus olhos vivos tinham a doçura d'um arminho semi-cerran· do com arte um colo nli. Porque os trapos de que falava Lucília (vá lá a indiscreção!) eram a~ueles que as

(IJ mãos duma Callot, 1 d'uma Oeor-

gette ou d'uma 1 Paquin recor· b tam, dobram,

sobrepõem, combinam, com os re. quintes d'uma fantasia sem­pre moça e que, farrapada

1-1:\:{l.mloando um modelo :t-Cm ... a.Ião de 11ro'n" 11~ t·a~n

llot"ulllet

de sedas, oiros e veludos que em tres mezes por fim se inutiliza, ne~1 por isso deixam de ser as obras pn· mas d'uma d'essas costureiras de ge­nio, ou d'um Redfern1 ou d'uns Mar­cial & Armand, ou dum Doucet.

Tentar dizer o porquê da sedu­ção que esses trapos inspiram. ana·

, lisar a evolução da maneira como 1 eles cobriram, ou descobriram, · atravez dos tempos, corpos lin·

dos de mulher. perscrutar a

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origem de tantas fór· mas de trajar que hoje acha· mos belas e ex­plicar o triunfo brilhante d'ou-t ras que nos parecem n'este momento abo­minaveis, dizer como Redfern objetiva a sua teoria de mos­trar quanto pos­sível os corpos que o merecem e. a que prin~i­p1os a Paqum obedece quan· do um novo modelo sae das suas mãos pres· tigiosas, mos­trar a logica e por vezes co· mesinha razão das bruscas transições que nos espantam e contar, fase por fase, a genese de cada uma d'essas crea­ções de mara­vilha que a mu- • 1 her de Paris l sabe exibir e U

1 valorisar como ninguem- seria tarefa longa de mais para o es­paço que me concede a Ilus­trarão. Seria.em suma, fazer a psicologia da

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vorosos todos nós. E não ha no Uni­verso, ao começar d'este seculo cetico e negativista, demolidor e hereje, uma reli· gião que exerça um tão poderoso dominio sobre os homens. Reparem bem : não ha! E' vão todo o esforço dos que procuram resistir· lhe; é inutil a tentativa dos que que­rem prescrutar-lhe as intenções. • Porventu­ra alguem sonha em pedir contas á Moda das suas fantasias?- dizia já Oerard de Nerval.- Ela é a Moda, e está respondido tudo. Apanha um pedaço de pano: é uma guarnição; deita-o fóra : é um farrapo. Mui­to felizes somos quando ela nos impõe ape­nas um ridículo e não um incomodo· só uma frivolidade, não uma maçada.• Res­mungamos algumas vezes, rimos outras. obedecemos sempre.

E não venham, em replica triunfante, com o argumento da saia-calção. Essa moda não venceu, não porque estivessemos pouco dispostos a aceitai-a, apezar de tudo, mas porque os grandes costureiros a não quize­ram impôr. Masculini;ar o vestuario da mu­lher é diminuir a possibilidade de o sobre­carregar com adornos caros; uma toilette de jupe-mlotle jámais poderia ter o preço

que a me de la Paix gosta de mar­car nas suas creações. Uma moda que começa por ser barata, nasce na agonia, começa pelo fim.

D'essa religião da Moda, o Vaticano é Paris. Em cada es­tação aqui afluem os peregri­nos do mundo inteiro. E' uma

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tes dos grandes costureiros da rue de la Paá são estrangeiras. A

parisiense nem sempre, ou melhor di· zendo, raras vezes póde gastar com as suas toilelles aquilo que, queira ou não queira, uma cliente de Worth ou da Paquin. Não bastam um ou dois milhões de fortuna para que se possa, sem perigo, entrar n'um d'esses sun­tuosos casarões que, ás noites, ilumi·

nam, sobre a rua elegante, todas as janelas dos seus cinco e seis andares. Porque a vida de Paris é extremamen· te cara e impossivel de viver-se fixan· do verbas, sem contar com o super· íluo, como imprevisto, com o dia a dia miudo, o despejar incessante de lran·

cos em que se vae, ao fim de ca· da ano, uma despeza colossal.

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Vestir e comer são quasi, póde di­zer-se, as despezas minimas da pa· risiense. O peor são as outras,-a crea· da de quarto, a cabeleireira, a manu· cure, a pedicure, a maçagista, a medi· ca, o perlumísta, o joalheiro, o pape­leiro, os figurinos, os teatros, as rece· ções, os chás, as patinagens, e uma in· finidade mais de coisas que esqueço ou que ignoro e ás quaes se junta a

despeza respeitavel do pourboire que todos nos pedem, que ninguem dispensa, desde a concirge que nos entrega um telegrama, ao condutor do tramivay que tem de nos dar de troco um sou. E' preciso economi· sar, custe o que custe. E a parisiense en­tão vae aos grandes armazens ou procura costureiras modestas e colabora de· pois, pela sua memoria ou pelo seu

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1-0 nleller ,.,.,.,,leo•o r''c; "!-\ con1h1('tto ~1.os domklllos ~ . ~<f'~,

• saram e, nos seus corpos 't' "';, ,> esveltos, nos seus gestos ~ ._,. de graça maravilhosa, taes fanta-sias animam-se, vivem, são outra }, coisa de mais imprevisto e de m.:is belo, porque ela possue como ningue;ri a ciencia de as valorisar. ~ A crue de la Paix• ás 7 - As "midinettes" humildes servidoras da Moda -Manequins, costureiras, caixeiros e . "trottins" -A sua beleza, a sua ~lrtude, a sua sorte ...

A's 7, a ruc de la Paix, desde a me Da11-1101t á p/acc Vendôme, oferece uma anima- -

1 ção que não é aquela que lhe conhecem os que a frequentam depois do chá. Já se não veem os confortaveis autos, os coupés de luxo: as clientes desaparece- 1 ram. São agora as operarias que saem, em bandos, dos at liers. São as costurei­ras, as caixeiras, os modelos, todo um mundo de servidoras da moda que se vê emfim á 50lta, sem a fregueza imperti-

' nente nem o patrão austero, após um dia inteiro de trabalho. São as midi11e1tes que partem. E em poucas horas-devo con­fessai-o - se veem n'aquela rua elegante tantas mulheres lindas, d'uma beleza mo­ça que pouco deve ainda ao coúi-cream, mas já muito a essa arte de bem vestir que nasce com a parisiense e é de resto a quasi exclusiva preocupação da sua vi­da. E' preciso não exagerar e não dar credito áquela lenda sempre facil em pro­pagar-se entre quantos de Paris só aper­

cebem a vida dos prazeres dissolu­tos e das profissões inconfessaveis.

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Nem todas essas encantadoras creaturinhas, lindas ás vezes, ele­gantes sempre. pedem aos recursos das suas graças o meio de aumentar o miserrimo salario que auferem no atelier. Sem duvida, muitas leem um amante de quem gostam ou que e rico e outras mesmo terão mais do que um. Mas entre elas muitas ha que são honestas e que o serão sem­pre, muitas ha para quem nunca terá de chegar o dia em que um príncipe mais ou menos russo as arrancará do trabalho d'csse atelier onde só voltarão em clientes, para vêr desfi­lar ante seus olhos triunfantes as com­panheiras a quem a fortuna não sor­riu ou a desprezaram.

Nunca como n'esses casos a ho­nestidade, voluntaria ou forçada, po­derá dizer-se um heroísmo ou uma

tortura. As pequeninas mãos d'es­sas costureiras, desde a manhã até á noite, palpam os tecidos preciosos que jámais cobrirão os seus corpos de pobres; esses mo· delos, escolhidos entre creaturas d'uma beleza i ~repreensivel, ves­tirão em cada dia vezes sem con­

ta soberbos vestidos, opu­lentas/011rrures, obras-primas de rendas, sedas, veludos, peles, que nunca serão d'elas. » JI ,J E, lado a lado do luxo, so-

' ri"!''~ !rendo toda a sua I"~· ,.. - i/' A"°"')' sedução perturbado-~°'uYf r~. não tendo a bem ___:__ ~ ' dizer senão ele du-

-~;;__~~:"-~=--' ~~~~~~ D - . -:.1 1111 f

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rante o dia inteiro ante os seus olhos ávidos e deslumbrados, ven­

do passar junto da sua mizeria aque­las a quem um dinheiro, que ninguem cuida de saber d'onde lhes veiu, per­mite esse prazer que toda a mulher sente em que reparem n'ela e que a encontrem bela, quantas e quantas se sentirão com o direito de perguntar a si proprias, nos soliloquios das horas dolorosas da mizeria, contemplando nas suas mãos cançadas os dois ou Ires francos que são o ganho d'uma jo~nada inteira de trabalho, se acaso poderá ser um dever que uma religião ou uma moral vulneraveis lhes impo­nham essa vida de escravas em que a sua mocidade e a sua beleza se con­somem e da qual só terão, n'uma pre­matura velhice, a recompensa d'um

O estabeleelmento de PnQuln nn nue de la Palx em rnrl~

mister mais aviltanle ou da vida e da morte triste dos que não tem pão ...

Eu bem sei, eu bem sei que nem sem­

de teatro e de amôr. Mas logo nos mostra de certo modo o reverso da medalha, contando o leilão a que assis­tiu, de um verdadeiro tesoiro de joias, rendas e sedas que tinha pertencido a um dos ídolos parisienses, uma corlezã de alto coturno, cd'essas diante das quaes se inclinam os ministros e os bispos, d'essas que fazem reviver na nossa pro­sa ativa, uma suspeita da poesia do luxo e da volupia das epocas melhores.> E escreve:

•Penosa coisa é, asseguro-lhes, assis­tir a uma d'essas vendas que, sem duvi· da por ironia se chamam voluntarias. Aquilo que foi escolhido com mais afe­

to, o que foi objeto de veementes ~ desejos, o que fez a beleza do lar, (:J vae-se, n'um abrir e !echar d'olhos, ~ disperso aos quatro ventos pelas

pre ? caminho, da aventura, inc~rto e ~~ , , ' caprichoso, da a fortuna apetecida e V..1' . /

que nem todas, morrendo aos vinte e . __,.."""

marteladas dos pregoeiros. Quem mais dá leva o objeto que lhe agra· da, sem ter mesmo tempo de amar o que leva e em que só o valor ma­terial o seduziu. Eu já vi um tinteiro, que pertencera a Flaubert, liquidado n'um d'esses leilões como objeto de prata trabalhada. Vi lambem, n'essas vendas, muitos relogios que marca­ram para os seus proprietarios ilus­tres momentos de angustia e de pra­zer; e muitas tapessarias que orna­ram o gabinetedetri:balho de homens ce te bres; e muitos quadros arrancados ás coleções dos mais nobres poetas

cinco anos, como não ha muito a certa atrizila mundana sucedeu, podem dei­xar como ela uns lindos quatro milhões, dois em pedrasJJreciosas e os outros dois em titulos e renda. O sr. Gomez­Carrilho, no seu livro tão interessante sobre a Psicologia da Moda, confessa que é espantoso o que uma mulher no­va e bonita, que não seja nem dema­

siado tola nem demasiado séria, póde ganhar aqui em alguns anos

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e ninguem, regateando-os, se lem­brou da origem d'eles. O santo fetichismo dos corações sen­siveis que atribue mais valor

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· ( um leque de papel tocado pelas mãos de madame de Pompadour que a um

leque de rendas vindo d'uma loja, é coisa para que, em geral, o publico rico se está rindo. Quando se dispersam as coleções que artistas reuni ram devemos chorar a morte d'alguma coisa de belo, de ideal.

•Mas não ha leilões mais tristes que aque­les em que rapaces joalheiros se disputam os despojos d'um idolo d'amor que vive ain­da. Ah! se ele tivesse morrido, pouco im­portaria. Na re ligião da volupia, as capelas fecham-se no dia em que as imagens desa­parecem. Mas quando o idolo emurchecido está ainda de pé! Quando o culto persiste!

seus pés bispos nem ministros e-não ) ~ tendo mesmo a vaniagem de ignorar as horas de triunfo brilhante das outras, triunfo em que por suas mãos colaboram-quando ámanhã lhes fugirem a mocidade e a saude não terão para vender nem oiros, nem sedas, nem brocados. Restar-lhes-ha a virtude; mas por essa ninguem dará um sou . . .

Não choremos porém por sua conta a tris­te condição de que elas proprias parecem não dar fé quando, de manhã, ao meio dia e das sete ás oito enchem Paris com a ale­gria soberba da sua formosura, da sua ele­gancia e da sua juventude. Se a solidariedade feminina pudesse ser um facto, eu só pediria

Ja •cociueuc • ... E' uma coisa terrível, digo-lhes eu. E a gen- ás mulheres r icas e fel izes para quem esse te não póde, vendo as joias, os enfeites, as mundo de deserdadas trabalha o dia inteiro, meli11es, os brocados, os veus, as cambraias, que se lembrassem d'essas humildes creado-deixar de evocar a recordação d'aquela que ras do seu luxo, não para as invejar na sua be-os possuía e que se vê despojada de tudo no leza, mas para as proteger na sua desventura. instante em que de tudo mais precisaria, des- A moda e os criticas-A saia-balão e o espartilho-Um dialo-pojada da sua corôa de luxo e do seu cetro de go eloquente -Um trecho de Abel Hermant-Uma definição ostentação, despojada do que afogava na luz O que de mal se tem dito sobre a Moda e as sombras da sua edade ! E a figura evocada mais ainda sobre os que a ela se sacrificam! murmura tristemente: •No f1111do, 11ós outras, Perguntem-n'o á saia-balão, que a custo tenta os ido/os do culto d'Eros, somos apenas o jou- reaparecer, assustada com o mal que dizem jou doloroso do mundo. Os ho111e11s cobrem-nos d'ela; perguntem-n'o ao espartilho, que tem de joias q11a11do a /lôr palpita11te do 11osso cor- sido um bombo de festa nas mãos de estetas po bastaria para o 11osso prestigio e, quando a e higienistas ... Ainda ha pouco, n'um encan-flôr murcha, vem reclamar-nos essas folhas tador e recente li•;ro de pequenas observa-d 'oiro de que eles proprios 11os adomaram•. ções filosoficas de mr. Emile Berr, encontrei

E' doloroso, sim. Mas essas pobres cos· t)m dialogo eloquen!e, que vou traduzir. tureiras, manequins d'hontem, caixeiras E So11ía, a pretendida autora do livro ou creadas d'amanhã, não terão tido a quem fala:

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• Tive hontem eccnomistas a jantar. Conversação grave. falou-se da despo·

voação. Porque parece certo que a França se despovoa. Uelbon cita algarismos que me aterram. E acrescenta: •-A situação é grave. E a minha cara ami­

ga é d'isso uma prova viva. Eu? Sim,sim! Estou agora mesmo a olhar/>a·

ra a sua 1oilr1te: a especie de bainha, aliás in da, que lhe modela o busto. Porventura póde vestir sósinha esse vestido?

•· Mas não é possivel, meu caro: ele acol· chetca-se e abotoa-se por trás.

• Bem vejo. E' mesmo por isso que per­gunto. Então alguem lhe apertou os botões e os colchetes?

Claro! A minha creada de quarto. -E se não tivesse creada de quarto?

Pediria a ajuda de outra creada, ou de meu marido.

E se não tivesse creada nem ,-; marido? 1 :.--

-Chamaria a minha concúrge. r.{\">'.t:..{), •-Está bem ... Mas se tivesse uma /\.... IN­

creança a quem precisasse de dar ~ r- 1 o peito varias ve.ter por dia? \\Í

1 •-fiquei atrapalhada e os -- Q convivas riram-se Cle mim. e Ji~

•-N'esse caso, respondi ser­me-ia impossível andará moda ...

•Ora veja, retorquiu Delbon, como os economistas têm moti-

• vos para estar inquietos. Que uma parisiense elegante possa querer ter filhos e amamentai-os, tem o ar d'uma fantasia tão impossivel tão tola, que o costureiro nem sequer conta com ele! ... >

Nas So11ve11irs du sicomede Co111 • piére, esse ironista cinico e impla­cavel que é mr. Abel Herman! diz, descrevendo uma das suas personagen~: • Era uma bem bo.

nita 'oira, oxigenada, vesti­da com elegancia e á moda,

JS

) /

uer dizer, de maneira a co:t::­homem que tenha o menor senso

plastica ou simplesmente um co· nhecimento rudimentar da anatomia ..

Mas, para que nem tudo seja dizer mal, vae, para fecho esta bizarra e audaz difinição:

•A Moda deve ser considerada co­mo um sintoma de gosto do ideal so· brenadando no cerebro humano aci­ma de tudo quanto a vida natural n'ele acumula de grosseiro, de terres­tre e de imundo, como uma deforma­ção sublime da natureza, ou antes, co­mo um ensaio permanente e sucessi­vo de reforma da natureza.•

E' de Baudelaire. r.1ris. /Je=. at 1911. Paulo Osorio.

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·-:~*P_]·= - • =·~

~~ ,, ~-?!..~~íf:.!.~o/f!l1IE~'f~~ a pouco desenterradas do pó dos arquivos e postas na ~y \ cena moderna, em ligeiras adaptações, por escritores /'. .. contemporaneos. Abriu o exemplo o Auto do !~ri Se~uco. / JJ Agora, na festa artistica de Augusto Rosa, no Teatro da

1 Republica, realisada em 18 de dezembro, foi o Auto da / Barca do !11/emo de Gil Vicente que se representou (

1 n'uma adaptação do ilustre poeta Afonso Lopes Vieira. t\ E' urna classica obra d'ironia em cuja primeira , A edição assim se descreve: \ /j •Representa-se na obra seguinte huma !I li perfegu~açã<? sobre a rigorosa accusação \ que os 1mrn1gos fazem a todas as almas _a l humanas no ponto que per morte os seus "J. '~ terrestres corpos se partem. -'i,~ f°i)

1-0 Jlol~Ul "º"'UI l ..1111 "' \ lf'll 1--t) awr \11;1u .. t11 no-.

l-- \ lwar"a c1 ... dl11l 1h \ 11Q't1"1º nota e \ tJpJlna \hrt1.11dtr .. lll'l Jltftll("ha·

PloA- ' " harr;ti D~ 1)4'.•. '."3 rmento r cario .. d'Ult\ tlr

M'ntados • :tiAh> t Jllnlo f .o .. rn

/ &ft .. ~ ~ ' ~ 7) ~f/·1 {~:- ·~

4..#, 'r" ~ .... ) ~~ ( ·,,. 1,1 d: f.!_ E por tractar desta materia

·• , ",' ~ põe.º auctor pe1 figura que

/

' {C no dito momento ellas chegão a um profundo braço de mar

/

onde estão dois bateis um d'ellcs pera a Gloria outro pera o Purgatorio. He

.. repartida em Ires partes, de cada em·

--.. ·, da viagem do Inferno • li ""''..::....: . barcação hua scena. Esta primeira é a ~·

Este Auto da Barm do .11/em o foi o • que Afonso Lopes Vieira tratou com :l?'] maestria e que Augusto Rosa, C hab}, •

~11111\'~~.:L. --~.--;;;:;::;:::-_ _ ,-----i

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t-,\ barca tio ceu: 1-taracl \lftrQue~. Plfnc1ue1. lhmrlciue .:\l,·es. ,\ura .\brnnçbe:s

Henrique Alves, Alexandre d'Aze­vedo, Pinto Costa, Carlos d'Olivei­ra,Sarmento, Adelina e Aura Abran· ches d'uma maneira brilhante intre­pretaram com um grande agrado

20

• ~-l'innl tio auto: i\ugusto Rosa. Pimentel . nnracl Gil ,\Jsn:rue!-t e .\J,·es i-Na 1}3ren: Pina, .~

sarmeu10 .. \ dellna ,\lwauehes. @ Cbnhy e cnrlO$ d'Olh'fllra ()

(Cll ehês de nenoliel) ~

do publico. Augusto Pína fez um r. cenario apropriado para essa obra do fundador do teatro portuguez.

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l-41 .... 1til\a1lnr .... 11 .. n:•ufr:ti;:1•"' r•rf"llllaJo .. llf'lo 1n,...llcut1\

il llrht--.. de Utno11t!)

••

t-.\ 1etu11·a tlO rt•!ntorlo 1H•lo l'lr. nwltào de mnr e irurl'rn 11ip.'lclO lle 111·1on '1- \11tnnl11 \h ('' 11~ \t.t'Hdo.

de t3 aoos. ciue !<::llrou <'111 \I O"J1lltrf•lo11 dun" ('re:rnçn~

entre elas a esposa do chefe do Estado. O ministro no seu discurso, depois de saudar os heroes, declarou que a nossa costa era conhecida pela costa negra mas que ele fa. ria todo o possivel para a tornar luminosa e hospitaleira completando a sua rede de socorros.

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t-Os rt•ul( JoAo llMl-.1:1 ~A11lAdo •. Jofio \lanuc-1 1 nado. Fl'llncl~co ~{lUtoi'i e F1·a1u·1 .. co

\fanoel. ah~oJ\ lcJos nn tu11lle1)cla do dia u; t--0 :hl\·oariulO dos r.:Oo-i. dr. \ladrll"a Pinto

· -Os n.\u.;. ... ohl:uto (.u ... t1)lllo <•Ut"rrf'lro. nt .. ol\lilO. t:uvnto \ugu:--to dtt ~ll\a. at11;-0t,tdo.

e \ntunio llll•a~ fOndrnado a i.'11 Ano.., d~ tle.zrt•tlo nR audltnc ft do df;t; ti'(, 4-0:oi Ad,·og:ulo"' "'"· dr. JaluH:~ \J•naud

e l>uhwr ;;-O ri'•u .ro~(· <ton(ah'<'S: \unf'" Dtmrtt>. nllsohldn

na nudlrnrtn do dln Ht

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ººº,º. . ,l

-· ~ 8 8

o 1-Vestldo de te:nro da casa Drecoll O

't-~IOCIClO <ln ensn P:lCHlill o A lttustração Porlug11eza oferece hoje ás suas leito- f"'.O

ras estes excelentes figurinos da ultima moda parisien- ~} se que constituem modelos cheios de encanto e de '(<•)). graça, trabalhos dos costureiros francezes de repu- -1-: lação mundial que são os verdadeiros arb itros da Jf?; elegancia feminina. ~

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p.,;,;,.~ o mais formoso dos le· ques: é o leque elemero. Oura o que du­ram as flõres, porque é formado por elas.

Uma armação de leque vul~ar com umas belas fitas da côr preferida, uns bouquets que se lhe ligam e aqui está como o ar se embalsama e como n'uma linda mão surie o leque.

Todos os dias se dissipam milhares de francos n'este adorno da mulher, que vem do fundo da antiguidade, nas mais variadas fórmas e que obteve agora a mais perfeita. E' um leque sempre novo e sempre original; é até simbolico, fala a linguagem dos amores, falando o mais belo dos idiomas: o que as flôres expri­mem.

Assim, nos dias em que o amor sorri, serão as rosas lindas que enga· lanarão as vare­tas do leque; quando ha um

j 1 1

'!-() mt,fl'\O ltclUf' ahf'trfo

:S--0 tf\llllt' de norcl'lo'

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·--

1-1.toue de '101eta\: de Parma e c:rnvos

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'dm:oo ginal de engalanar o leque. Não suce·

.v derá, porém, assim, porque a mulher gosta pouco de se revelar, mais ama que a adivinhem ·

o pensamento como oculta o

t-0 Jecn1c de nArc"l:-10111 ~-O leque de rosas. lllue!.I e mhnOHt-t

á noite, á luz da eletricidade, esses formosos ros· tos mais belos são ainda na especie de moldura de gatas que essas flôres em torno d'etes formam e mais interessantes os bustos femininos se a'.team quando sobre eles pousam os ramilhetes que, sendo um adorno, são lambem uma utilidade, que sendo uma maravi lha, um mimo, uma graça, são os sub· stitutos garridos do leque vulgar. Paris atirou esse leque á circulação e assim como os havia para todos os preços, desde o de rendas preciosas, que fica· vam em herança nas famílias, até ás vulgares venta· rotas de papel, lambem os ha que custam milhares de francos feitos com flôres raras e os modestos, os que são compostos com as vio· letas miudinhas que enchem os mercados. D'este mo· do, princezas e gran· des damas mi· lionarias, terão os seus lequf's

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A aviação, essa maravilha do nos­so seculo, tem já a sua exposição. Ali se consagra o sonho tornado realidade, ali se mostram todos os tentames feitos para este final que lembra um milagre de ha muito ape­tecido e só agora realisado.

E' no Orand Palais, um salão es­pecial, enorme, alto, cheio de arca­rias e no qual estão todos os mode­los até ho1e conhecidos d'estes apa­relhos, desde os mais fortes, os de maior resistencia aos brinquedos, desde os celebres, os que fizeram lar­gos vôos por sobre as catedraes, atravez dos espaços, cumiando os montes até aos de maior nomeada. A par d'isto aparecem então os he­lices, os motores, os novos enge­nhos, todas as coisas que se apli­cam á aviação, todas as maquinas onde se inscrevem os nomes dos mais famosos aviadores.

A imprensa franceza celebrou rui­dosamente esse certamen curioso com que consagra a sua vitoria mo-

1-Urn nspel() da exposiCflO 1\3 JHlV$ CC'Otl"O.I

do cG1·aud Pa1t\1S• 't-OS •Stnn<l S•

3-Um outro ast)eto da exposição

derna, n'essa conquista dos ares, a ponto d'um escritor declarar que o pimpante galo gaulez já tem o seu substituto: a ave mecanica que cruza nos espaços: o aeroplano.

Com efeito a França impôz-se com a aviação n'uma vitoria ru ido­sa sobre os outros povos e aquela

00 exposição de aparelhos é como 0

ºººº ºº

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t-0 tr>r1,t1lelro nerto dt' Paulh11n

't-\.& maquina" do \nar (C:llrht'·1ir; l>ellu')

um museu cheio de tro­feus gloriosos a evocar os nomes dos arrojados navegadores dos ares que atravessaram a Man­cha e fizeram as traves­sias por sobre as aguias vivas dos Pyreneus em direção á Hcspanha, por sobre as agu1as mortas dos monumentos para Turim, Napoles, Roma.

Todas as casas con­strutoras francezas en­viaram specimens dos seus aparelhos consti­tuindo o mais completo certamen d'essa nova industria nacional.

Essa exposição do Orand Pala1s, com todo o seu lado utilitario, é um templo erguido ao arrojo. Parece dizer e mostrar quanto póde o genio humano, evocar audacias <' milagres.

o oc·

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·DIZÊRES·DO · POVO~; .. ~ ·VERSOS·DE·ANTON IO·CORRÊA·D' OLl\/EI RA·~

O novo e encantador livro do ilustre poeta Antonio Correia d'Oli­

veira, chama-se Dizêres do Povo e são realmente adagios, que andam nas bô· cas populares, que o poeta n'ele ex­primiu deixando-lhes as suas verdades engastando-os na doçura simplista dos seus lindos versos.

São algumas das belas quadras do novo trabalho do autor do Auto do Fim do Dia, da R,aiz, das Parabolas, da Tentaçüo de S. Frei Oil e d'outras obras primas que para esta pagina transcrevemos :

-Quem tem filhos tem cadil!tos, Tem-nos quem os não tiver. -Quem tem filhos ainda vive Mesmo depois de morrer.

- Amór com amór se paga.­Mas que virtude a do amôr ! E' das pagas que recebe Que se julga devedor.

-Quem wdo quer, tudo perde,­Pa/avras que e11 uão direi : Acilei·te, quiz-te, quizeste-me: Eu tudo quiz, tudo achei.

-A alegria que se esconde lembra a candeia apagada.­Nem a si mesma se enxerga, Não c!tama quem vae na estrada.

-Quem espera, semprealca11ça.­Puz-me a esperar: alcaflcei O Cflgano de ir esperando Um bem que não eucoflfrci.

-Nem tudo o que Luz é oiro.­A's vezes o riso é magua . . . Quautos ollws de tristeza Parecem fogo e são agua!

-Muito abarcas, pouco abraças.--Sem véla que importa um ru11to? Vê que não deixes a cltama E côrras alraz do fumo.

- Que11t boa cama fizer, N'e/a se deüa algum dia.-Fiz boa canta á Tristeza: Deitou-se u' ela a Alegria !

-Faze o bem e fecha os olltos: Fecha-os, não olhes a quem.­Não vejas o mal dos outros, Veja11t os outros feu bem.

-Chega-te aos bons e serás U11t dos bo11s.-Dcpois de o sêres Chama a ti os maus: e /ai-os Eguaes a ti, se podéres.

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-Agua mole em pedra dura Desgasta· a, de noite e dia.­Mais póde alegre brandura Do que dureza sombria.

-O que arde cura.-Talvez. Mas a doçura la11tbem: Se tms balsamo, não toques Com ferro e11t braza em ninguem.

-Não !ta be11t que sempre dure, Nem mal que possa aturar.­Encontrei penas, cantaudo; Fui·as perdendo, a e/torar;

- Vento e veniura não duram,­Não se deixa11t u11t nwmenfO': Traz-nos o veuto a ventura? Venturas, Leva-as o vento.

-Passa a 1m1·em, fica a chuva.­Quando se e/tora por bem, A dór é nuvem: e as /agrimas Regam a terra ta11tbem.

-Dizem que o bem se conhece Só quaudo a gente o perdeu.­Triste de quem o não pcr.1e Porque mwca o cou!zeceu!

-As paredes tê11t ouvidos.-­Murmuraes? Ctlidado em vós! Pensae 110 que elas diriam, Se tambem tivessem voz . ..

- Cordeirinlto 11uznso, em todas E q11afq11er ovelha mama:­Sempre o odio enco11tra o odio; Q11em ama e11co11tra quem ama.

-O mal al!zeio não deve Curar o mal de nu1guen1-­Todo o bem que vem por mal O mal o leva por bem . ..

- A Ambição m111ca descança,­Vóa, sobe, noite e dia : Cansa11t, correndo atraz d' ela, O Bem, a Paz, a Alegria.

- O mal al!zeio é 11111 cabelo,­Não peza a quem o ll(ÍO tem . . . Quantos, com o mal al!teio, Seguram seu proprio bem!

-Quem se !tu milita mais se exalta. Bemdita a agua rasteira Que sobe ao céu, feita em 11uve11t; Abre em rosas na roseira.

-Mais vale tarde que mwca.­Medtdas que o tempo tem : Para o mal, é sempre cédo; Nunca é farde para o bem.

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1-0 "'r. rre,ldtntt da Hrsiuhllca. '1 .. uando

o larlarlo da 11rtrnf'lra 1n­r1rndR na Vunc.llclto

't- \ !t rnAN; prC'rnlndas 3- 0 81'. dr. Jorgé C:hl. me­

dlt"o do lnttnrl(} (Lltcll~s <le neuollel)

O lactario da in­fanc/a.- 0 l:1ct.irio da primeira infancia (: um d'csh:' estabelecimen. tos nccessarios n •uma cidade como l. hboa, onde ha muita 111i1.e­ria, sendo indispen,a­vel acudir ás creanci· nh:\~. cujas mãe,, cxgo­tada' pel:H prh ~u;ões e pelo' trabalhos . n5o as podem amamentar.

Fundou-se. 1>ois, e~sa instiluir,5o, colocaram-se :í. sua frente medico, distinto\. inscre\•eram se milha­res de creanças para as quae~ se ío1nccc o leite em \•arios postos e na ~eJe do lacta1io e os resultados colhidos teem sido os melhores, os mais dignos de nota .

O presidente da Republica foi na vespcra do Na· tal \·i,itar esse c~tabelecimento modelar, cuia sede é no li\r~o da Fundic;ão de Canhões e da sua visita trouxe """ melhores impressões, vendo toda a gran .. deza e loda a u1ilidildt d'aqucln obra.

~

O As/lo da Ajuda.- E' um dos mais belos e>· tabelecimentos de caridade e fica na calçada da Ta­pnda 1>roximo das propriedade!. do sr. marqucz c'e Vnl Ftôr, in~taiado n'um excelente cdificio que tem uma. lirtda capela e cuja,; janelas olham para um for .. moso jardim.

~finistra .. se ali a instrução mais variada a muitas pequenitas que se habilitam p~ra dife~entes pro~is .. sões. sendo, sob o ponto de vista prauco, o ensino domestico tlo completo como o resto.

31

t-O go,·ernador ch·ll de U!bOa. o pro,·t<lor oo .\~tio da AJuda e o ororeuorado

!-M~ Ml1ndas da \Judlll (t:llCh~s de Beno11 ('11)

Ho pouco creou.se ali. â semc:lhança dos institu· tos congcneres, uma escola de cozinha, onde as educanda" aprendem esses trabalhes, confecionan­do os me111í.s1 a rranjando-os, fozendo·lhes o seu orçamento como verdadeiras donas de casa. D'este modo, 5CJ.:uindo S1:n1elhantes e t!lo uteis processos. aquele in,lituto tem progredido !;Ob uma acertada Jireçl!o. O atual provedor do Asilo é o sr. dr. Ra­mada Curto, que ali sucedeu no ~r. Costn Pinto, um dos grandes bcnemeritos d 'aquele estabeleci· mentQ de caridade.

Em 24 de dezembro o tir. ~O\•ernador ci\'il de Lis · boa ,·isitou todas 3s in .. talações d 't:sse Asilo mode­lar, exprimindo d'uma fórma bem ace1nuad.1 a sua satisfaç!\o 1>elas provas n que aslJistiu.

~

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Escola-Oficina n.0 /.-A lluslra(â.o Porlu1r11•­::a já publicou um artigo ãctrca d 1esta escola, sus­tentada pela maçonaria, e onde o ensino é minis­trado d 'uma fórma ,·erdadeiramenle racional. A creança não tem a obrigação moral de es;tar umas tanta!-. horas sentada no mesmo logar, de seguir o mesmo estudo. de se aplicar s6 n'uma coisa. Tem a liberdade dt: percorrer as aulas, de ir para as ofi-

.\ ,·1~1u1 do $r. llre$1dente dn nem1bllrn A ci;coln onctna da Gr:u:~

cinas trabalhar, de ir saltar e correr para o gra1\dC: jardim da escola.

Imaginar-se·ha que semelhante sistema é contra· producente, mas podemos afirmar que nunca vhnos tanta aplicação em creanças, nem tão gr~mdcs re­sultados colhidos pelo ensino o·um curto espaço de tempo.

O cheíe do Estado, que visitou a Escola·Oficina n.0 1 em 24 de dezembro, escre\·eu no livro dos visi · lante~ quanto lhe fõra at:rada\·el a impressão rece· bida.

A comissão encnrregnda Pelos llO\'OS da r€'fe1llo de Obler do mlnl,.11·0 do Fomento

a con~tru<;ílO da llnbo rerrea do J.:ntroncnmcnto à :i.llranda-(Cllch«s ele nenollel)

A linha de Miranda.-;\s caniarasmunicipa~s de Arganil. Ceia, Alvaiazere . Coes, Oliveira do Hospital, Louzã, Certã, Penela. ~liranda do Corvo, Gouvei.l. \'iia dt: Rei, Taboa1 Pampilhosa, Figuei· r6, :-\ncião, Pedrogam, Condeixa e Tomar, envia· ram a Lisboa. os ::,eus dele~ado~ que, conjuntamt:n· te com os deputados dos respetivos drculos, foram solicitar do mir1i!itro do fomento a construç~o da li· nha íerrea do Entroncamento a '.\liranda .

Esse melhoramento tem uma grande importancia e âSt,im o compreendeu o tninistro ao 1nal\dar estu. dar o traçado d'essa linha.i\' comb..;;'lo respondeu o sr. dr. Estev:l.m de \'asconcelos que, após a. tece. ção do parecer da comissão encarre}!ada d'aquele trabalho, poria as obras do caminho de ferro a concurso.

O engenheiro Jos.ê AO$:U!illtO 'Prt~tes. prestdeme do Ciremlo Re11u1>llcnno , ... ortu~ez.

<lo ruo ae .Jnnetro. !~cultura do noU\\'f!I orores~or nodot­ro ncmardelll. diretor c.10. Escola de Belas .\rtes

do nto de Janeiro Coronel José Ce­

sar Ferreira Qil.­E'o oficial ctisciplin~dor que comandava em Bm. ga o regi111ento de in· lantaria 29 e que foi grnvemente ferido 1>or um tiro qu:lndo prcten· dia acalmar um turnuho da soldadesca indisci · pJiMda.

A sua coraj'!em e a sua bravura valeram­lhe essa agressão, mas tambem os respeitos de todos que 1>re,mm adis· ciplina que ele nobre­m.ei.te quiz manter.

O coronel Josê t.;ezar l't"rrelra Cill.

ff!rldo 110r OC.t"IAO Cln lnsubordluac:ào do re­

gtrneuto de toranrnrla '!9

i Capitão Françaju·

nior.-As cadeias c::ivis de Lisboa teem um no. vo diretor o capitão França Junior que. de· pois de ter durante ro anos comaodado uma comp 111hia da guarda municipal Jistima1uen· te, serviu no corpo de policia até ao dia da rc· \'olução, sendo o seu ultimo ttab(\lho impor· tante re:l.lisado quan­

O C'al)llilo l"r:rn('a 00,.0 dlt·<'tor do da c~q\ul~~o dos fra-dn~ c·tt.d!'lu cl\ls ue uslioo des da Aldeia da Ponte.