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1 A Hélice Tríplice e Desenvolvimento Regional: criação e disseminação de conhecimentos em Fármacos&Cosméticos e Piscicultura no Estado do Amazonas Tema: Sistemas nacionales, regionales y/o locales de innovación. Categoria: Trabajo acadêmico José Manoel Carvalho De Mello Universidade Federal Fluminense E-mail: [email protected] Mariomar De Sales Lima Universidade Federal Do Amazonas E-mail: [email protected] Niomar Lins Pimenta Fundação Centro De Análise, Pesquisa E Inovação Tecnológica - Fucapi E Universidade Federal Do Amazonas - Ufam E-mail: [email protected] Resumo: No Estado do Amazonas, até a década de 1970, a sua principal receita provinha das atividades agropecuárias e extrativas, predominando a juta e a borracha. Com a criação da Zona Franca de Manaus, desenvolveu-se uma indústria de bens finais, eletro-eletrônico e duas rodas, calcada em uma matriz de importações e incentivos fiscais. Mais recentemente outras atividades passaram a serem estimuladas, procurando inclusive tirar partido do fato da Floresta Tropical Amazônica, com o seu ecossistema aquático, possuir uma das maiores biodiversidades do planeta em fauna e flora terrestre e aquática. A perspectiva de desenvolvimento regional adotada pelos governos federal e estadual cada vez mais centra-se em lograr o desenvolvimento econômico baseado no conhecimento, num processo de desenvolvimento de habilidades e vocações numa dada região com vistas à promoção de condições favoráveis à competitividade num mercado cada vez mais globalizado, em ressonância com as teses da abordagem da Hélice Tríplice das relações universidade – indústria - governo. Neste trabalho analisam-se os processos interativos para a produção e aplicação de conhecimentos que agregam valor aos processos produtivos nas atividades em fármacos&cosméticos e em piscicultura no estado do Amazonas, por meio de um extenso estudo de caso envolvendo atores pertencentes as três esferas institucionais, universidade, indústria e governo, possibilitando um melhor entendimento das seguintes questões: quais as competências existentes no campo da piscicultura que podem dar lugar ao desenvolvimento econômico e social baseado no conhecimento? Essas competências estão sendo transferidas para os setores produtivos? Como se geram os processos de interação entre atores selecionados para análise? Que tipo de conhecimento flui e se transmite entre os atores? O que ocorre durante o processo de aprendizagem entre eles? Esses conhecimentos estão em consonância com as demandas dos setores produtivos locais? Espera-se que os resultados deste trabalho possam contribuir para a formulação de políticas públicas de desenvolvimento regional. Palavras-chave: desenvolvimento regional; hélice tríplice; redes de conhecimento

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A Hélice Tríplice e Desenvolvimento Regional: criação e disseminação de conhecimentos em Fármacos&Cosméticos e Piscicultura no Estado do

Amazonas Tema: Sistemas nacionales, regionales y/o locales de innovación. Categoria: Trabajo acadêmico José Manoel Carvalho De Mello Universidade Federal Fluminense E-mail: [email protected]

Mariomar De Sales Lima Universidade Federal Do Amazonas

E-mail: [email protected] Niomar Lins Pimenta Fundação Centro De Análise, Pesquisa E Inovação Tecnológica - Fucapi E Universidade Federal Do Amazonas - Ufam E-mail: [email protected]

Resumo: No Estado do Amazonas, até a década de 1970, a sua principal receita provinha das atividades agropecuárias e extrativas, predominando a juta e a borracha. Com a criação da Zona Franca de Manaus, desenvolveu-se uma indústria de bens finais, eletro-eletrônico e duas rodas, calcada em uma matriz de importações e incentivos fiscais. Mais recentemente outras atividades passaram a serem estimuladas, procurando inclusive tirar partido do fato da Floresta Tropical Amazônica, com o seu ecossistema aquático, possuir uma das maiores biodiversidades do planeta em fauna e flora terrestre e aquática. A perspectiva de desenvolvimento regional adotada pelos governos federal e estadual cada vez mais centra-se em lograr o desenvolvimento econômico baseado no conhecimento, num processo de desenvolvimento de habilidades e vocações numa dada região com vistas à promoção de condições favoráveis à competitividade num mercado cada vez mais globalizado, em ressonância com as teses da abordagem da Hélice Tríplice das relações universidade – indústria - governo. Neste trabalho analisam-se os processos interativos para a produção e aplicação de conhecimentos que agregam valor aos processos produtivos nas atividades em fármacos&cosméticos e em piscicultura no estado do Amazonas, por meio de um extenso estudo de caso envolvendo atores pertencentes as três esferas institucionais, universidade, indústria e governo, possibilitando um melhor entendimento das seguintes questões: quais as competências existentes no campo da piscicultura que podem dar lugar ao desenvolvimento econômico e social baseado no conhecimento? Essas competências estão sendo transferidas para os setores produtivos? Como se geram os processos de interação entre atores selecionados para análise? Que tipo de conhecimento flui e se transmite entre os atores? O que ocorre durante o processo de aprendizagem entre eles? Esses conhecimentos estão em consonância com as demandas dos setores produtivos locais? Espera-se que os resultados deste trabalho possam contribuir para a formulação de políticas públicas de desenvolvimento regional. Palavras-chave: desenvolvimento regional; hélice tríplice; redes de conhecimento

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1 Introdução O Estado do Amazonas vem buscando aproveitar as suas potencialidades regionais de modo a fomentar o desenvolvimento sustentável. A implantação de uma economia mais interiorizada é a estratégia do Governo Estadual para gerar um ambiente de expansão econômica integrado que se associe às ações tomadas, em conjunto com a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), para a consolidação do Pólo Industrial de Manaus (PIM). Com isso, almeja-se a geração de emprego e renda, em adição ao produzido pelo setor industrial e a descentralização das atividades econômicas da capital amazonense. Tanto em nível regional quanto nacional, a perspectiva de desenvolvimento assumida pelos Governos centra-se cada vez mais na busca do crescimento econômico baseado no conhecimento, através do incremento de habilidades e vocações, em uma determinada região, com vistas a promover as condições favoráveis à competitividade em um mercado integrado, em consonância com as teses das relações universidade – indústria - governo. Ante a esta constatação, este trabalho toma como referência abordagem da Hélice Tríplice para analisar as interações relativas à produção e aplicação de conhecimentos que agregam valor aos processos produtivos nas atividades de fármacos&cosméticos e piscicultura no Estado do Amazonas, por meio de um estudo de caso envolvendo atores pertencentes às três esferas institucionais, universidade, indústria e governo, com o setor produtivo e econômico e as contribuições do conhecimento que se gera nessas instituições. Espera-se que os resultados aqui apresentados possam contribuir para a formulação de políticas públicas de desenvolvimento regional trazendo respostas aos seguintes questionamentos: quais as competências existentes no campo da piscicultura que podem dar lugar ao desenvolvimento econômico e social baseado no conhecimento? Essas competências estão sendo transferidas para os setores produtivos? Como se geram os processos de interação entre atores selecionados para análise? Que tipo de conhecimento flui e se transmite entre os atores? O que ocorre durante o processo de aprendizagem entre eles? Esses conhecimentos estão em consonância com as demandas dos setores produtivos locais? Nosso trabalho é apresentado na forma de oito seções, incluindo esta primeira de caráter introdutório. Na seção seguinte são descritas as características ambiental e sócio-econômica do Estado do Amazonas, ressaltando os propósitos da região em termos de desenvolvimento econômico e social assim como a importância dos fármacos&cosméticos e da piscicultura para a economia mundial e regional. Na terceira seção a abordagem da Hélice Tríplice das Relações Universidade - Indústria- Governo, a moldura conceitual por nós usada para a análise, é sucintamente apresentada. Na quarta seção, apresenta-se um quadro síntese dos recursos humanos e das linhas de pesquisas relativas aos estudos realizados e em andamento nestas instituições, nos campos de fármacos&comésticos e da piscicultura é apresentado na quarta seção. Programas governamentais, numa articulação federal/ estadual, têm sido implementados para mobilizar tais competências, promovendo a vinculação das instituições de pesquisa com os setores produtivos. Tais programas mobilizadores e seus projetos próprios são apresentados na quinta seção. Na sexta seção examinam-se os processos interativos para a produção e aplicação de conhecimentos e a estruturação das respectivas redes de conhecimento, o objetivo maior deste trabalho, cujas conclusões são sumarizadas na sétima seção. Por último, na oitava seção, constam as referências bibliográficas.

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2 O contexto A Amazônia protagoniza um processo de discussão internacional quanto à melhor forma de uso de sua complexa biodiversidade, envolvendo ambientalistas, políticos cientistas, historiadores, empresários, trabalhadores e os povos da floresta. Tal preocupação associa-se ao fato da região ocupar uma área de seis países da América do Sul - Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela -, representando a vigésima parte da superfície terrestre, quatro décimos da América do Sul, três quintos do Brasil, um quinto da disponibilidade mundial de água doce e um terço das reservas mundiais de florestas latifoliadas, abrigando o mais rico e heterogêneo ecossistema existente no mundo. A Floresta Tropical Amazônica associada ao ecossistema aquático possui uma das maiores biodiversidades do planeta em fauna e flora terrestre e aquática. O Rio Amazonas com seus afluentes percorre uma área de 6,280 quilômetros dessa floresta, sendo detentor de uma das mais ricas biodiversidades aquáticas do planeta onde reúne cerca de 2.500 espécies equivalente a 20% do total existente em água doce catalogadas em sistemas fluviais (JICA, 2001). Constitui, portanto, um banco de dados genético, químico e ecológico relevante para as indústrias de alta tecnologia, como a farmacêutica, dispondo também de todos os recursos necessários para o desenvolvimento da atividade de piscicultura tais como, parâmetros ecológicos e biológicos altamente favoráveis, reunindo as condições climáticas, biodiversidade e recursos hídricos necessários para criação de peixes, além de espécies nativas (incluindo os peixes de produção alimentar e os ornamentais) que oferecem bom desempenho quando cultivadas. Todos esses atributos justificam o interesse na defesa de preservação da Amazônia. Por outro lado, as formas tradicionais e históricas de utilização dos recursos naturais geram valor econômico e comercial àqueles que vivem na região, embora seja reconhecido que algumas práticas extrativistas são danosas ao meio ambiente (ALBAGLI, 2001). Dado a esse fato, gradativamente a idéia da conservação stricto sensu dos recursos da biodiversidade amazônica vêm cedendo espaço, à consciência da necessidade de utilização sustentável dos recursos biológicos e da partilha de seus benefícios, associadas à preservação das espécies e dos ecossistemas (PIMENTA, 2004). No Estado do Amazonas, até a década de 70 a sua principal receita provinha da atividade agropecuária e extrativista, predominando a juta e a borracha. Presentemente, o modelo econômico de desenvolvimento está centrado na indústria de bens finais instalada PIM, onde se destacam os pólos eletroeletrônico e de duas rodas. Mais recentemente outras atividades passaram a serem estimuladas, entre as quais se inserem as examinadas neste estudo. 3 A Hélice Tríplice e a perspectiva de desenvolvimento regional Até recentemente, o processo de inovação era pensado como uma seqüência linear de fases, com os resultados da pesquisa utilizados para posteriores desenvolvimentos, gerando produtos e/ou processos difundidos em seguida no mercado. “Fronteiras sem fim” foi o termo cunhado para justamente caracterizar, na perspectiva de um modelo linear, a inexistência de limites da contribuição da ciência para a inovação. Atualmente a inovação é pensada como resultante de um processo complexo e contínuo de experiências nas relações entre ciência, tecnologia, pesquisa e desenvolvimento nas universidades, indústrias e governo. Ao invés de “fronteiras sem fim”, estamos agora diante de “transições sem fim”.

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O que é periférico e o que é central para a inovação tem sido reformulado nas décadas recentes. A criação, disseminação e utilização do conhecimento assume uma importância cada vez maior na produção industrial e inclusive na governança de países. Instituições produtoras de conhecimento que sejam capazes de recombinar idéias antigas, sintetizar e conceber novas idéias passam a assumir igual papel do que as instituições indústria e governo nas sociedades modernas. Diversas abordagens têm sido propostas ao longo das duas últimas décadas buscando formulações de molduras conceituais para uma melhor compreensão dos processos de inovação, todas elas enfatizando a alta relevância da cooperação estratégica entre os diferentes atores nos processos de inovação. Em todas elas o papel específico da geração do conhecimento nos processos de inovação tem se tornado ainda mais central desde a emergência das assim chamadas economias baseada no conhecimento. Uma destas abordagens é a da Hélice Tríplice, desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff (1997). A abordagem da Hélice Tríplice situa a dinâmica da inovação num contexto em evolução, onde novas e complexas relações se estabelecem entre as três esferas institucionais (hélices) universidade, indústria e governo, relações estas derivadas de transformações internas em cada hélice, das influências de cada hélice sobre as demais, da criação de novas redes surgidas da interação entre as três hélices; e do efeito recursivo dessas redes tanto nas espirais de onde elas emergem como na sociedade como um todo. Na medida em que o conhecimento se torna cada vez mais um insumo importantíssimo para o desenvolvimento sócio-econômico é natural que a universidade, enquanto um espaço institucional de geração e transmissão de conhecimentos, seja vista e analisada como um ator social de destaque. A tese da hélice tríplice é de que a interação universidade – indústria – governo é a chave para melhorar as condições para inovação numa sociedade baseada no conhecimento. Indústria é membro da hélice tríplice como o locus e o governo como a fonte de relações contratuais que garantam interações estáveis e permutas e a universidade como a fonte de novos conhecimentos e tecnologias, o principio gerador das economias baseada no conhecimento. A universidade empreendedora retém os papeis acadêmicos tradicionais de reprodução social e extensão do conhecimento certificado, mas os coloca num contexto mais amplo como fazendo parte do seu novo papel na promoção da inovação (ETZKOWITZ, 1997). O modelo da Hélice Tríplice foi desenvolvido como um conceito ex post, refletindo a realidade dos paises desenvolvidos onde a inovação tem sido associada com indústrias baseadas na ciência e com atividades de P&D. Na medida em que o papel do conhecimento codificado na inovação tem aumentado de importância, universidades de pesquisa passam a desempenhar uma parte mais importante neste empreendimento. A realidade dos paises em desenvolvimento e a brasileira, em particular, é muito diferente. As transformações produzidas no cenário econômico mundial colocaram os países em desenvolvimento diante do desafio de fazer convergir esforços no sentido de proporcionarem a melhoria de seus sistemas produtivos e estruturação de sistemas inovativos através da geração, acumulação e aplicação de conhecimentos e por meio destes obterem as vantagens comparativas necessárias para a sua integração com sucesso no mercado de bens e serviços. De qualquer forma, a metáfora da Hélice Tríplice nos é útil como uma moldura analítica para a compreensão dos processos de inovação no seu sentido mais amplo nos paises em desenvolvimento (Etzkowitz e Mello, 2004), num cenário onde tornou-se imprescindível a

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participação das instituições de pesquisa, incluindo as universidades, no desenvolvimento de competências para os setores produtivos, assim como a atuação dos governos na coordenação e estimulo dos processos de geração e disseminação do conhecimento em diferentes níveis, no aporte de recursos e na mobilização da sociedade e dos agentes econômicos, por meio da criação e sustentação de programas, projetos e instituições, promotoras do desenvolvimento de ambientes favoráveis a inovação os quais poderão no futuro transformar-se em sistemas regionais e/ou nacionais de inovação. Acoplada a abordagem da Hélice Tríplice no âmbito regional, e de utilidade para os nossos propósitos de análise dos processos interativos para a produção e aplicação de conhecimentos, temos os estudos desenvolvidos por Rosalba Casas, no âmbito do conceito de Redes de Conhecimento. Com base nesse pressuposto e nos resultados de suas investigações a autora enfatiza que o estudo das colaborações entre a academia e os setores econômicos nos planos regional, institucional e no nível de projetos específicos permite a apreciação de um conjunto de relações complexas que podem considerar-se como próprias do modelo interativo de produção do conhecimento técnico-científico. Da mesma maneira, destaca que um conjunto de mecanismos de políticas que operam no âmbito das regiões está impulsionando redes de conhecimentos que embora se concebam da acumulação de conhecimento sub-utilizado, representam um importante papel no desenvolvimento econômico e social de uma determinada região, pois permitem detectar a transferência de conhecimentos e promovem o desenvolvimento de competências nos setores produtivos. Nessa ótica, a análise das relações interativas para a produção e aplicação de conhecimentos é considerada como um passo metodológico prévio na análise dos processos de inovação, pois a transferência de conhecimentos, na maioria das vezes ocorrida de maneira informal, dá origem à formação de redes de conhecimentos. Em alguns casos, essas redes dão lugar aos espaços regionais de conhecimentos e estes aos espaços potencialmente favoráveis a inovação (Casas, 2001). Por isso, é imprescindível a realização de esforços no sentido de compreender como se gera o conhecimento em que contextos e como flui e se distribui de maneira a poder definir políticas públicas para orientá-lo socialmente. Dessa forma, a autora acredita ser interessante efetuarem-se analises no plano regional para se detectar as potencialidades existentes capazes de fomentar o desenvolvimento de espaços regionais de conhecimentos em campos tecnológicos e ou setores econômicos específicos. Com base nos fundamentos ora expostos e considerando as aspirações do Estado do Amazonas em promover o crescimento econômico por meio do desenvolvimento de suas potencialidades regionais, apresenta-se nas seções seguintes a análise das interações para a produção e aplicação de conhecimentos que agregam valor aos processos produtivos nas atividades de fármacos&cosméticos e em piscicultura no estado do Amazonas. 4 As competências nos campos de Fármacos&Cosméticos e Piscicultura no Estado do Amazonas O Estado do Amazonas dispõe de uma infra-estrutura científica e tecnológica nestes campos em instituições locais destacando-se entre elas o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Através de entrevistas e da análise documental realizada, conforme mencionado na introdução deste trabalho, montou-se um quadro síntese dessas instituições a seguir apresentado.

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4.1 Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), é uma instituição federal vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), e tem como missão institucional "Gerar, promover e divulgar conhecimentos científicos e tecnológicos na Amazônia, para a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais, em benefício principalmente da população regional" (INPA, 2004). No campo de Fármacos&Cosméticos as atividades do INPA são realizadas pela Coordenação de Pesquisas em Produtos Naturais (CPPN) e a Coordenação de Pesquisas em Botânica (CPBO), através de linhas de pesquisa que abordam o desenvolvimento dos aspectos químicos e biológicos da biodiversidade amazônica e a diversidade de espécies dos diferentes ecossistemas amazônicos. Em se tratando da piscicultura o Instituto possui uma Coordenação de Pesquisas em Aqüicultura (CPAQ), que se destina à realização de estudos relativos a propagação artificial e ao cultivo de organismos aquáticos nativos da Amazônia, especialmente de peixes, visando à geração de conhecimentos que possibilitem o desenvolvimento da aqüicultura na região. Para tanto, conta com um grupo de pesquisadores formado por 04 mestres e 03 doutores. Além das pesquisas, a CPAQ, em parceria com a UFAM, desenvolve também a atividade de ensino, em nível de especialização, mestrado e doutorado envolvendo estudos sobre conservação, ecologia evolutiva e uso efetivo dos recursos pesqueiros de águas continentais. 4.2 Universidade Federal do Amazonas (UFAM) A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) foi criada em 1962 para desenvolver as suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. No campo de Fármacos&Comésticos, se estrutura através do curso de Farmácia, da Faculdade de Ciências da Saúde. Tendo em seu corpo docente 08 Doutores, 10 Mestres e 04 Especialistas, agrupados em três grupos de pesquisa Lattes, incorporando a atividade de cosméticos. Já na piscicultura, um marco na atuação da UFAM, em ensino, pesquisa e extensão com recursos pesqueiros foi a criação do curso de Engenharia de Pesca em 1988, fato que propiciou a contração de vários professores e técnicos-administrativos, culminando com a constituição do Departamento de Ciências Pesqueiras o qual compõe-se de 14 professores pesquisadores, sendo 06 mestres e 08 doutores. 4.3 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) A EMBRAPA foi criada e implantada sob a égide da cooperação internacional, envolvendo como colaboradores os organismos: Universidades, Banco Mundial (BIRD), Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que tem uma divisão especilaizada em assuntos da região, a Embrapa Amazônia Ocidental. Essa divisão vem se afirmando como centro de excelência em P&D para apoiar o desenvolvimento sustentável regional, através da geração de conhecimento, tecnologias, produtos e serviços de interesse para a organização de soluções tecnológicas sustentáveis que possam melhorar a qualidade de vida do produtor, a equidade social, o aumento da sustentabilidade, e a qualidade e competitividade do agro-negócio (EMBRAPA, 2000). Com respeito à piscicultura, a instituição conta com 06 pesquisadores, sendo 05 mestres e 01 doutor, 01 técnico de campo com graduação e 04 bolsistas de iniciação científica. As atividades de pesquisa estão centradas nas áreas de: Nutrição; Economia; Sistemas de

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produção aqüícola (nutrição e sanidade); Biologia (produção de juvenis e qualidade da água). Essa atividade está sendo desenvolvidas por 06 pesquisadores, sendo 05 mestres e 01 doutor; 5 As políticas de intervenção: os programas mobilizadores As políticas empreendidas pelos governos federal e estadual centram-se cada vez mais na busca do desenvolvimento econômico baseado no conhecimento, através da implementação de programas e ações que promovam desenvolvimento de habilidades e vocações regionais com vistas à promoção de condições favoráveis à competitividade no mercado integrado, destacando-se:

a) Programas Promovidos através de Ações Governamentais e Institucionais: • Programa Plataformas Tecnológicas e os Arranjos Produtivos Locais (APL); • Rede de Produção Sustentável; • Ações nas Comunidades; • Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (PROGEX); • Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE); • Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o uso Sustentável da

Biodiversidade da Amazônia (PROBEM/Amazônia). b) Programas de Incentivo à Pesquisa Científica:

• Rede Proteômica do Amazonas; • Projeto Genoma Brasileiro.

Dentre os programas mencionados optou-se por centrar o foco no APL [de iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MTC), em conjunto com os Governos Estaduais] e no PAPPE [de iniciativa da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas (SECT) em conjunto e compartilhado, em termos financeiros, com a Financiadora de Estudo e Projetos (FINEP) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM)] em virtude de seus propósitos exporem explicitamente a intenção governamental de promover a vinculação das instituições de pesquisa com os setores produtivos conforme se expõe a seguir: 5.1 Programa Plataformas Tecnológica/Arranjos Produtivos Locais (APL) Trata-se de um programa originado da necessidade de ligação entre a Ciência e a Tecnologia, que visa à solução de gargalos tecnológicos de determinadas áreas prioritárias em cada Estado. Esse método, Plataformas Tecnológicas, une planejamento e ação e ao mesmo tempo, é um processo de envolvimento e negociação entre todos os atores participantes: o setor produtivo, as universidades e centros de pesquisa, o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), a EMBRAPA, o MCT e suas agências e os governos estaduais por meio das Secretarias de Ciência e Tecnologia e das Fundações de Amparo à Pesquisa. A seleção dos Arranjos Produtivos Locais e a realização das Plataformas correspondentes consideram principalmente a importância local dos arranjos, atual e potencial, no desenvolvimento sustentável e na diminuição das desigualdades regionais. No caso do APL do Estado do Amazonas foram priorizados quatro segmentos entre os quais se inserem os setores de Fármacos&cosméticos e Piscicultura com os projetos caracterizados a seguir.

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5.1.1 Projeto Desenvolvimento de dois produtos Fitoterápicos e um Fitocosmético a partir de espécies Amazônicas Trata-se de um estudo com o propósito de atender aos gargalos de validações botânica, química e biológica para fins de industrialização e comercialização das espécies muirapuama (Ptycopetalum olacoides Benth.– Olacaceae) e Chichuá (Maytenus guianensis Klot. – Família Celastraceae) para fins de registro junto à Anvisa como medicamentos fitoterápicos novos e Crajirú (Arrabidaea chica Verlot - Bignoniaceae) como Fitocosmético. O projeto tem como instituição proponente a Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI), como interveniente a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado do Amazonas (SEDEC), atual Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (SEPLAN) e está sendo executado pelo INPA e a UFAM, em parceria com a Pronatus (empresa do setor produtivo) e está sendo executado nas áreas de: Atalaia do Norte, Tabatinga, Benjamin Constant, Manaquiri, Careiro, Rio Preto da Eva, Itacoatiara, Silves, Barreirinha e Parintins. 5.1.2 Projeto Tanque-rede Tem como instituição proponente a FUCAPI, como interveniente a SEDEC, e está sendo executado pela EMBRAPA tendo como co-executores, o INPA e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM). É um estudo destinado a adaptação e transferência de uma tecnologia existente, tanques-rede, para o cultivo de tambaqui (Colossoma macropomum) e matrinxã (Brycon cephlus) em nível familiar com o propósito de determinar um sistema de criação economicamente viável e ambientalmente amigável para que as populações ribeirinhas tenham uma opção em relação à pesca e a agricultura tradicional praticada por eles. Os trabalhos de pesquisa estão sendo realizados em parceria com as associações de produtores e as comunidades de Maués, Fonte Boa e Iranduba, onde as três unidades de observação (UO) foram implantadas. 5.1.3 Projeto PROCIMA Está sendo executado pelo INPA, em parceria com outras instituições tendo como co-executoras: o IPAAM; a SUFRAMA; a UFAM; o INCRA; Associações Comunitárias e como instituição interveniente, a SEDEC. Tem como propósito montar um programa de produção de matrinxã com elevada produtividade a partir de tecnologia desenvolvida na região e repassar aos setores produtivos locais para aplicação imediata tanto na manutenção familiar como empresarial. Para isso, estão sendo realizados estudos, na Estação de Piscicultura da CPAQ e em 8 (oito) propriedades particulares do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), denominada de Comunidades do Tarumã Mirim, em áreas do Distrito Agropecuário e de expansão do Distrito Industrial da SUFRAMA. 5.2 Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Empresas (PAPPE) O PAPPE é um programa que através da FINEP, com os recursos da Fundação Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), por meio dos Fundos Setoriais, financia as atividades de pesquisas desenvolvidas no âmbito das empresas de base tecnológica, pelo período de até dois anos. Visa, portanto, fomentar as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos e processos inovadores, em fases que precedem os seus processos de comercialização, empreendidos por pesquisadores atuando diretamente ou em cooperação com empresas de base tecnológica. No campo de fármaco&cosméticos foram aprovadas duas proposta e na piscicultura quatro, conforme ilustra a tabela 01.

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Tabela 01 Propostas para projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos e/ou processos vinculadas

ao Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa (PAPPE)

Área de Pesquisa

Instituição

Apoio Empresarial

Produto e/ou Processo

Fármaco&Cosmético Fármaco&Cosmético Tec. de Pescado Manejo e avaliação Prod/Manejo Manejo

EMBRAPA UFAM INPA UFAM INPA UFAM

Magama Industrial Ltda Ajuri Florestal Delicatessem do Pescado Litiara Ind. Cer.Amazônia CUPUAMA Ltda. AGROMAZON

-Avaliação agronômica de 10 espécies amazônicas ou adaptadas com potencial de aplicação no mercado de fragâncias e aromas. -Cultivo de plantas medicinais amazônicas certificadas. -Produção de derivados de pescado -Ictioparasitoses: prevenção e controle -Aprov. de resíduos de poupa p/ ração -O mercado de pescado no Alto Solimões

Fonte: Elaboração própria a partir de dados coletados na FAPEAM. 6 A estruturação de redes de conhecimentos: processos interativos para a produção e aplicação de conhecimentos Investigando-se as interações entre as instituições de pesquisa, as empresas e o governo, é possível documentar trocas em suas políticas e estratégias em favor de ações compartilhadas para promover o desenvolvimento tecnológico ao mesmo tempo em que se detecta a existência de conhecimentos acumulados e muitas vezes sub-utilizados em campos específicos relevantes para o desenvolvimento social e econômico (CASAS, 2001, p. 15). Da mesma maneira, examinando-se essas interações pode-se observar que a transferência de fluxos de conhecimentos entre distintos atores e instituições está dando lugar à construção de redes incipientes denominadas de redes de conhecimentos. Estas redes se concebem através de processos interativos baseados na maioria das vezes em relações cara a cara, de ida e volta, entre oferta e demanda de conhecimentos, o que gera um processo de aprendizagem entre os atores. Geralmente se iniciam a partir de projetos de pequena escala relacionados a serviços pontuais requeridos pelas empresas, para seus processos produtivos, e pelo governo, para o apoio de suas políticas. Quando essas atividades têm resultados positivos, cria-se uma confiança técnica que gera novas interações e implica em projetos mais complexos resultando, em certas situações, no desenvolvimento tecnológico. Investigando as interações entre as instituições de pesquisa do Estado do Amazonas, o setor produtivo e os agentes governamentais, observou-se a existência de diversas ações e estratégias favoráveis à produção de conhecimentos no campo de fármaco&cosméticos e na piscicultura relevantes para o desenvolvimento social e econômico da região amazônica. Observou-se também que o processo de interações vem aumentando gradativamente, tanto entre as instituições de pesquisas examinadas e entre os seus investigadores quanto dessas com os agentes produtivos e instituições governamentais e de apoio, já existindo laços de confiança técnica e transferência de fluxos de conhecimentos que permitem identificar duas redes para produção conjunta de conhecimentos na área de fármaco&cosméticos e duas no campo da piscicultura, conforme expõem-se nas subseções seguintes.

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6.1 Redes de conhecimentos na área de Fármaco&cosméticos Na área de Fármaco&cosméticos, a rede identificada proporciona o estabelecimento de fluxos de conhecimentos entre as instituições que a compõem, para a solução de gargalos tecnológicos no setor de fitofármacos (PIMENTA, 2005). A cadeia produtiva de produção de fitofármacos é complexa, constituindo-se de uma seqüência envolvendo:

a) A obtenção da matéria-prima vegetal; b) O processamento da matéria-prima vegetal e do produto-acabado; c) O mercado.

Trafegam pela rede fluxos de conhecimentos específicos voltados para atender as seguintes necessidades (SEDEC, 2002):

a) O processamento da matéria-prima vegetal: envolve a identificação físico-química dos insumos, pesquisas fitoquímicas, processo industrial na produção de insumos e testes necessários para validação e registro do insumo vegetal junto aos órgãos sanitários, realizados por instituições como o INPA e a UFAM;

b) O processamento do produto acabado: refere-se às ações que incluem a capacitação de pessoal em formulações de fitoterápicos, o controle de qualidade do produto-acabado, a capacitação de pessoal em design de embalagens e rótulos e patentes, realizados pela UFAM, pela FUCAPI e pela UEA, dentre outras instituições;

c) O mercado: prevê estudos de mercado e a certificação dos produtos fitoterápicos a partir da emissão de um selo de qualidade ambiental e social vinculado ao Amazonas, em ações que incluem, também, a participação das instituições ambientais nos planos federal e estadual;

d) Legislação ambiental: atua na certificação das matérias-primas, identificações botânicas e fitoquímicas e controle de qualidade, ações realizadas, principalmente, através dos organismos ambientais – IBAMA e IPAAM - e pelos institutos tecnológicos.

Em todo esse processo a necessidade de conhecimentos específicos exige a participação das instituições identificadas na rede da Figura 1.

Figura 1: Rede de Conhecimentos em Fitofármacos, a partir do APL Fonte: Elaboração própria com base nos aportes teóricos e análise dos projetos

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Para a rede de conhecimento de fármacos especificamente, alguns resultados obtidos pelas ações do APL são importantes. A geração de um mapa da distribuição fitogeográfica das espécies pesquisadas, o estabelecimento de um banco de padrões de referência micro e macroscópico para determinação botânica das espécies e a melhoria dos laboratórios de Fitoquímica do INPA e de Farmacologia da UFAM ampliam o estoque de conhecimento na região e a infraestrutura laboratorial para a pesquisa (FOLHADELA, 2004). Quanto à rede identificada a partir do PAPPE, está composta pela EMBRAPA e a UFAM como instituições geradoras dos conhecimentos, por intermédio de seus pesquisadores que realizarão os estudos com o apoio empresarial da Magama Industrial Ltda. e Ajuri Florestal. Como nós governamentais e de financiamento, têm-se o MCT por meio da FINEP e o Governo do Estado do Amazonas por meio da SECT e da FAPEAM, além da SEPLAN, conforme ilustra a figura 02.

Figura 2: Rede de Conhecimentos em Fitofármacos, a partir do PAPPE Fonte: Elaboração própria com base nos aportes teóricos e análise dos projetos

6.2 Redes de conhecimentos do APL no campo de Piscicultura Em se tratando do setor de piscicultura, as vinculações produzidas nos projetos Tanque-rede e PROCIMA também caracterizam a formação de uma rede acadêmica. Ainda que vários atores tenham participado da sua concepção, a iniciativa governamental por meio da formulação de um programa indutor de interações entre o setor acadêmico e o empresarial foi primordial para a criação da rede, a qual foi precedida de uma articulação junto ao MCT e o Banco da Amazônia S.A. (BASA) por meio da SEDEC e da FUCAPI, como instituição proponente dos projetos de pesquisa. Dessa forma, o processo de interação entre atores foi formalizado por intermédio da proposta dirigida ao MCT/FNDCT, onde se encontram segregadas as funções de cada ator na execução dos trabalhos inerentes ao desenvolvimento dos estudos. Não obstante a essa a divisão prévia, a equipe de estudos é liderada por um dos pesquisadores das instituições de pesquisa, os coordenadores dos projetos. De acordo com a configuração da rede e o papel desempenhando por cada um de seus atores, infere-se que se trata de uma rede de mecanismos de interfaces para a produção e difusão de conhecimentos relativos à piscicultura regional, vez que dela participam instituições de pesquisa públicas e instituições governamentais desempenhando papéis específicos na mobilização de mecanismos de interface, por meio da criação de programas e financiamentos de projetos para a produção e transferência de conhecimentos a comunidades produtivas interessadas na atividade (LIMA, 2005). A estrutura básica dessa rede apresenta os seguintes nós: a EMBRAPA, o INPA e a UFAM, como atores encarregados da produção dos conhecimentos, e o setor produtivo, representado

Instituições de Pesquisa

EMBRAPA e UFAMApoio empresarial Magama Industrial

Ltda e Ajuri Florestal

Financiadores MCT, FINEP, FAPEAM

Representantes Governamentais

SEPLAN e SECT

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pelas associações de produtores, as comunidades de Maués, Fonte Boa, Iranduba, Incra e Novo Airão e os produtores rurais do Distrito Agropecuário, Expansão do Distrito Agropecuário. Ainda nessa rede pode-se identificar os nós governamentais e de financiamento representados pelo MCT e Governo Estadual por meio da SEPLAN, como atores mobilizadores e de financiamento por meio dos fundos setoriais, a FUCAPI como interlocutor, o IPAAM como ator de suporte técnico, as Prefeituras dos Municípios de Maués, Fonte Boa e Iranduba e o INCRA como atores de apoio, conforme ilustra a figura 03.

Figura 03: rede de conhecimentos do APL na piscicultura do Estado do Amazonas Fonte: Elaboração própria com base nos aportes teóricos e análise dos projetos

Em se tratando do PAPPE, tem-se uma rede com os seguintes nós: O INPA e a UFAM como atores encarregados da produção dos conhecimentos por intermédio de seus pesquisadores e as empresas Litiara Ind. Cerâmica da Amazônia, Agencia de Agronegócios do Amazonas (AGROMAZON), Cupuama-Cupuaçu do Amazonas Ind. Com. e Exportação Ltda., e Delicatessem Pescado. Como nós governamentais e de financiamento, temos o MCT/FINEP e o Governo do Amazonas por meio da SECT/FAPEAM e a SEPLAN, conforme figura 04.

Figura 04: rede de conhecimento do PAPPE Fonte: Elaboração própria com base nos aportes teóricos e análise dos projetos

PREFEITURAS Maués Fonte Boa Iranduba

INCRA

COM. MAUÉS COM. IRANDUBA COM. F. BOA

ASSOC.PROD.

SEPLAN

FUCAPI

SUFRAMA

IPAAM

EMBRAPA INPA

MCT

FINEP, CNPq F. V.AMARELO

LITIARA

AGROMAZON

SECT FAPEAM

UFAM INPA

CUPUAMA

DELIC.PESC

MCT

FINEP

SEPAN

UFAM

COM. INCRA COM. N. AIRÃO

PROD.DA PROD.EDA

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Na formação e desenvolvimento das redes identificadas neste estudo, observa-se que apesar da produção dos conhecimentos envolver colaborações técno-científicas (troca de experiências e/ou intercâmbio de informações) e suporte técnico obtidos por meio de relações informais, os seus objetivos em grande parte foram definidos em relações formais sucedidas de informais, pois baseiam-se em propostas de pesquisa, onde constam os objetivos fundamentais e resultados a serem alcançados com os estudos, a metodologia e principais procedimentos a serem utilizados, o prazo de realização, os recursos necessários, bem como a distribuição de tarefas e designação de responsabilidades acadêmicas entre as instituições partícipes, de acordo as diretrizes e condições estabelecidas pelos agentes financeiros. Em anexo a essas propostas, existem ainda os instrumentos que formalizam outras colaborações necessárias, como por exemplo, os convênios destinados à definição de apoio técnico por parte de órgãos governamentais e participação de futuros pesquisadores por meio de estágios estudantis. Entretanto, nas referidas redes o relacionamento para a produção e transferência dos conhecimentos entre a equipe de pesquisa e os membros das comunidades produtivas também está ocorrendo através de relações informais, muito embora em alguns casos a assimilação dos conhecimentos produzidos esteja sendo feita por meio de informações técnicas e publicações científicas. Essas redes integram-se por meio de uma estrutura hierárquica com fluxos de informações vertical, para os nós das autoridades acadêmica e empresarial, porém com mecanismos de comunicação predominantemente horizontal entre a maior parte dos nós da rede comprometidas com a tarefa fundamental de produzir conhecimentos para a solução de problemas relacionados às atividades de fármaco&cosméticos e piscicultura, sem um interesse explícito ou central pelo desenvolvimento de uma inovação, nesse último caso excetuando-se os projetos vinculados ao PAPPE (LIMA, 2005). Podemos ainda enquadrá-las como redes estratégicas, não só pelo tipo de compromissos assumido, mas sim porque estão possibilitando a instalação de capacidades para a experimentação, produção e disseminação de conhecimentos que promovam a melhoria das técnicas utilizadas nos processos produtivos já existentes e assegure o êxito da produção futura de determinadas espécies por meio da utilização de novas técnicas adequadas a nossa realidade. Trata-se, portanto, de redes de conhecimento especializado através das quais se trocam recursos, compartilham-se valores e interesses e se obtêm benefícios mútuos, porém, que fundamentalmente estão orientadas à produção de conhecimentos em colaboração (SERRANO in: LUNA, 2003) Relativamente aos conhecimentos gerados nas instituições de pesquisa examinadas são aqueles convencionais, já existentes, aperfeiçoados e acumulados nessas instituições, e também novos, produzidos com a execução dos projetos de pesquisa. Nas redes de conhecimentos produzidas no PAPPE), constatou-se a geração de conhecimentos novos e nas outras, o desenvolvimento de investigação para aprofundar e adequar conhecimentos já existentes à realidade amazônica. Quanto à natureza e tipos de conhecimentos e a forma como eles fluem entre os atores por meio de suas interações, estão relacionados com o tipo de objetivo que se persegue mediante as interações (CASAS, 2000). Nas redes aqui examinas os fluxos de conhecimentos codificados estão presentes nas diretrizes estabelecidas nos acordos prévios de colaboração (projetos e consórcio de pesquisa, convênios, entre outros) realizados entre as instituições de pesquisa, empresas, produtores rurais, comunidades produtivas e instituições de apoio, suporte técnico e financiamento (LIMA, 2004).

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Neste cenário, as comunicações entre os nós centrais e a autoridade empresarial relevantes para a definição e aprovação do projeto não só se baseiam, mas sim também produzem conhecimentos codificados relevantes a respeito da organização inicial do trabalho conjunto e das especificações da investigação a desenvolver no interior da rede. 7 Conclusões Analisando-se a as condições institucionais, as políticas de intervenção (especialmente os programas mobilizadores), características das capacidades e da base de conhecimentos disponíveis nas instituições de pesquisa do Estado do Amazonas, observou-se a existência de condições locais e institucionais adequadas e capazes de impulsionar o desenvolvimento econômico e social, visto que além da região ser detentora de todos os recursos naturais favoráveis ao desenvolvimento das atividades objeto de estudo, dispõe de uma capacidade produtiva instalada, além de conhecimentos acumulados ao longo da existência dessas entidades de pesquisa. Não obstante as capacidades mencionadas, bem como a preocupação no âmbito das políticas nacional, local e das próprias instituições de pesquisa em promover um crescimento econômico integrado por meio do desenvolvimento das potencialidades regionais existentes, a falta de uma maior integração entre estas instituições, a ausência de mecanismos de vinculação que viabilizem essas interações e, principalmente, a necessidade de definição e interlocução de uma política de desenvolvimento regional com as fontes de conhecimentos estão dificultando a transferência desses aportes aos setores produtivos. Nesse sentido, destaca-se a importância das políticas de intervenção, de modo a promover uma maior interação entre as equipes acadêmicas das instituições de pesquisa e destas com os agentes produtivos. A articulação promovida por programas como o APL e o PAPPE representa um marco importante porque os resultados desses programas de impulso podem se converter em vantagens competitivas para o desenvolvimento de redes de conhecimento em nível regional. Embora essas interações sejam ainda incipientes, são consideradas importantes pois, além de ajudarem a formação de massas críticas de investigação por meio da recombinação de capacidades para resolver problemas específicos, definem a estrutura de uma rede de conhecimentos. Mediante essas ações, as instituições de pesquisa tendem a adquirir um papel de liderança na criação dessas redes com outros atores em determinadas regiões e no impulso ao desenvolvimento de atividades econômicas específicas. Ademais, o resultado dessas comunicações trans-institucionais por meio de tais programas poderá resultar na criação de mecanismos de ajuste em nível institucional (CASAS, 2000, p 12).

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8 Bibliografía JICA (2001). Estudo para a melhoria da qualidade de vida das populações rurais através da agricultura gestão e manejo racional dos recursos naturais do Estado do Amazonas. República Federativa do Brasil. Relatório Interno. ALBAGLI, S. (2001) “Amazônia: fronteira geopolítica da biodiversidade”. Revista Parcerias Estratégicas, n. 12. EMBRAPA AMAZÔNIA OCIDENTAL . (2000). II Plano Diretor 2000-2003. Manaus-AM. CASAS, R.G. (2000). Formación de redes para e/ desarrollo tecnolõgíco. Una perspectiva regional desde México, Instituto de lnvestigaciones Sociales, UNAM 1 Anthropos, Barcelona. CASAS, R.G. Coord.(2001). La formación de redes de conocimiento: una perspectiva regional desde Mexico. México: Anthropos. ETZKOWITZ, H.; LEYDESDORFF L. [(eds) 1997]. University in the Global Economy: A Triple Helix of University-Industry-Government Relations. London:Cassell Academics ETZKOWITZ, H.; MELLO J.M.C. (2004). The Rise of a Triple Helix Culture - Innovation in Brazilian Economic and Social Development, International Journal of Technology Management and Sustainable Development, 2 (3) 159- 171. FOLHADELA, F.; TRINDADE, A. (2004). “Arranjos Produtivos Locais e o Comprometimento Institucional para o Desenvolvimento Regional”. T&C Amazônia. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA (INPA). Disponível em: <http://www.inpa.gov.br>. Acesso em: 13 abr. 2004. LUNA, M. Coord. (2003). Itinerarios Del conocimiento: formas, dinámicas y contenido: Un enfoque de redes. México: Universidad Nacional Autónoma do México. LIMA, M.S. (2004). “Os fluxos de Conhecimentos na Piscicultura do Estado do Amazonas: uma análise da trajetória e das condições institucionais”. In: XXIII Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. Curitiba/PR. LIMA, M.S. (2005). Geração e Difusão do Conhecimento no setor de Piscicultura do Estado do Amazonas: uma análise das interações entre os produtores e usuários de conhecimentos. Tese de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil. PIMENTA, N. (2004). “Redes de Conhecimento na Área de Fármacos no Amazonas - Estrutura e Dinâmica". In: XXIII Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica. Curitiba/PR. PIMENTA, N. (2005). A Formação das Redes de Conhecimento nas Áreas de Fármacos e Cosméticos no Estado do Amazonas. Tese de D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil. SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (SEDEC). Caracterização dos Arranjos Produtivos Locais do Estado do Amazonas. Manaus/AM. Set. 2002.