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Harmonia Pedagógica I Fórum de Qualidade Educativa da Fundação Fé e Alegria do Brasil

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Harmonia PedagógicaI Fórum de Qualidade Educativa da Fundação Fé e Alegria do Brasil

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Maria do Carmo da Silva Wiese

Marli Patricia da Silva

(orgs.)

Harmonia PedagógicaI Fórum de Qualidade Educativa da Fundação Fé e Alegria do Brasil

São Paulo

Fundação Fé e Alegria do Brasil

2013

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Distribuição

Fundação Fé e Alegria do BrasilRua Assungui, 626 – Vila Gumercindo04131-001 São Paulo, SPTel./Fax 55 11 5060 [email protected]

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Fundação Fé e Alegria do Brasil.

ISBN 978-85-63139-20-7

© Fundação Fé e Alegria do Brasil, São Paulo, Brasil, Dezembro 2013

FUNDAÇÃO FÉ E ALEGRIA DO BRASIL

Direção NacionalPe. Álvaro Negromonte, SJ — Diretor-PresidentePe. Carlos Fritzen, SJ — Diretor de Educação e Ação Pública

Coordenação NacionalNorival de Oliveira — Coordenação Executiva Nacional

Coordenações de ÁreasMaria do Carmo da Silva Wiese — Coordenação Nacional de Educação e Promoção Social Paula Ditzel Facci — Coordenação Nacional de Desenvolvimento InstitucionalRenato Eliseu — Coordenação Nacional de Ação Pública

Comissão de TrabalhoLara Emily Rossi Oliveira — Estagiária de Pedagogia Sede NacionalPe. Luiz Fernando Klein, SJ — Assessor Pedagógico Sede NacionalMarli Patricia da Silva — Analista pedagógica Sede Nacional

Projeto Gráfico/Capa/DiagramaçãoEdições Loyola

Editoração, Impressão e AcabamentoEdições Loyola

EdiçãoFundação Fé e Alegria do Brasil

Publicação realizada com o apoio deINDITEXAECID — Agência Espanhola de CooperaçãoInternacional e Desenvolvimento

SumárioApresentação ............................................................................................................................ 6

Formação de educadoras(es) e novas práticas educativas ....................................................... 8

Intervenções pedagógicas e formação humana no processo de formação

continuada das(os) educadoras(es) sociais ....................................................................................... 9

Formação em cascata das (dos) educadoras(es) ........................................................................... 13

Matriz Lógica de Conteúdos: proposta de currículo para Educação Popular Integral .............. 15

Formação para a cidadania com educandas(os) e Comunidade Educativa. ............................. 20

“Políticas Sanitárias e Colônias de Isolamento” ............................................................................ 21

Eu e o outro nos espaços de vivência: Convivendo com a Comunidade ................................... 27

Trilhas do Saber: Educando em valores para o exercício da cidadania ....................................... 31

“ECA, minha gente” ........................................................................................................................ 37

Gestão democrática e participativa: empoderamento de educandas(os),

famílias e membros da comunidade . ...................................................................................... 44

Juventude participa! Um olhar reflexivo sobre a motivação e a criação do Conselho de

Juventude MARACAPU na Fundação Fé e Alegria do Brasil ...................................................... 45

Conselho de educandas(os): construindo a autonomia e o protagonismo juvenil .................... 49

Participação com mais Fé e mais Alegria em Santa Luzia ............................................................ 55

Link ESAR: uma nova prática da Escola Santo Afonso Rodriguez ............................................... 61

GEFA: A construção nasce das Assembleias: um espaço de discussão e exposição de ideias ..... 65

Grêmio Educativo ............................................................................................................................. 69

Uma experiência de formação com o Grêmio Estudantil Irmã Helena Suzana Christi .............. 73

Conselho Gestor: fortalecimento de vínculos familiares e comunitários .................................... 77

Equipe Diretiva Ampliada ................................................................................................................ 83

Conselho Gestor em Fé e Alegria São Paulo: lição de empoderamento e protagonismo,

por uma gestão democrática e participativa ................................................................................. 87

Referências bibliográficas ....................................................................................................... 94

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Apresentação

“Quando vemos algo bonito de verdade,

podemos concluir que muitas mãos colaboraram para a sua construção.”

Pe. Álvaro Negromonte, SJ

Reger uma orquestra é significativamente singular. E quando se faz com maestria, nasce uma harmonia cristalina, onde os diferentes se encon-tram, partilham quem são, e não se confundem nem se perdem no ar. Há também uma profunda empatia entre quem toca e quem escuta. Assim cremos ser o processo pedagógico que foi construído ao longo de vários anos por Fé e Alegria do Brasil, quando diferentes regionais se tornaram instrumentos singulares de uma orquestra que toca a educação democráti-ca e transformadora.

Quantos leram e desejaram participar de uma educação democráti-ca e transformadora? Responder a isso seria como se arriscar a contar as estrelas do céu ou a areia das praias. Mas como sair desse dilema, manten-do a esperança e a confiança no processo educativo que, como Fé e Ale-gria do Brasil, temos realizado ao longo de mais de 30 anos em diversas regionais que nos fazemos presentes? Daí nasceu o desejo de construir a qualidade educativa que cremos ser capazes de incidir, transformar e tor-nar vivas nossas comunidades educativas.

O material que ora lhe apresento é fruto de primeira grandeza. Trata-se da consolidação de um processo desenvolvido ao longo de vários anos, com a participação de várias pessoas: educandas e educandos, educado-ras e educadores, famílias e comunidades. E numa leitura atenta, a leitora ou o leitor poderá conhecer um trabalho educativo sólido, realizado de norte a sul do País, marcado pelo empoderamento, base para a construção de um novo mundo possível e realizável.

Trata-se de relatos de processos, marcados por diversas variáveis, como o tempo, o lugar, as pessoas, as realidades sociais, apegos e abertu-ra para acolher uma nova realidade que se vislumbra no horizonte. Perpas-saremos cada texto como uma pérola em si mesmo, encontrando na for-mação de educandas(os), educadoras(es), famílias e gestoras(es) os elementos constitutivos de nossa missão.

No entanto, com a parceria de Inditex, por meio de Entreculturas, é que foram possíveis os meios para executar todo o projeto. E conjunta-mente com outras colaborações e parcerias, o processo teve êxito, culmi-nando no I Fórum de Qualidade Educativa, sediado em São Paulo, SP, en-tre 25 e 28 de outubro de 2013, onde partilhamos as diversas experiências de nossas regionais, aqui apresentadas.

Boa leitura! Que o encantamento pela Educação Popular Integral e Promoção Social de qualidade seja fruto da indignação geradora de vida para todas e todos.

Pe. Álvaro Negromonte, SJDiretor-Presidente da Fundação Fé e Alegria do Brasil

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Formação de educadoras(es) e novas práticas educativas

Intervenções pedagógicas e formação humana no processo

de formação continuada das(os) educadoras(es) sociais

FundAção Fé e AlegriA, reciFe-Pe

Alice Claudina1

Ednaldo Menezes2

Fernanda Sougey3

Geize Araújo4

Marianna Accioly5

Rosália Albuquerque6

Contexto e trajetória...Fé e Alegria Regional Pernambuco surgiu no Estado em 2008, em par-

ceria com a Universidade Católica de Pernambuco, com o propósito de aten-der crianças e adolescentes de escola pública, a partir do desenvolvimento de ações socioeducativas que articulassem as concepções da Educação Não Formal e Popular com os princípios da Educação Formal Superior.

Atualmente, essa parceria é traduzida pelos resultados alcançados junto às(aos) educandas(os) e às famílias que são atendidas pelas ações do Centro Educativo como, por exemplo, a ampliação do universo intelectual e profissional, o empoderamento cultural, social e afetivo.

Contudo, foi necessário criar um processo de formação continuada de educadoras(es) sociais, uma vez que os cursos de formação de profes-sores em Recife não possuíam, em seus currículos, disciplinas que colabo-rassem com essa formação específica.

Diante desse contexto, a equipe pedagógica de Fé e Alegria Per-nambuco deu início, em fevereiro de 2008, às atividades do processo de formação pedagógica continuada de educadoras(es) sociais.

O processo de formação pedagógica continuada das(os) edu-cadoras(es) sociais contribui para a sustentabilidade de todas as ações dos projetos realizados em nosso Centro Educativo, na medida em que possi-

1 Pedagoga da Fundação Fé e Alegria, Recife-PE.2 Filósofo e Educador Social da Fundação Fé e Alegria, Recife-PE.3 Pedagoga da Fundação Fé e Alegria, Recife-PE.4 Coordenadora Pedagógica da Fundação Fé e Alegria, Recife-PE.5 Pedagoga e Assessora de Projetos da Fundação Fé e Alegria, Recife-PE.6 Psicóloga da Fundação Fé e Alegria, Recife-PE.

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bilita o fortalecimento da formação dos profissionais envolvidos e qualifica a prática educativa, tornan-do-a efetiva e voltada ao atendimento das necessidades das(os) educandas(os).

As metas para a efetivação desse processo envolviam a construção formal de uma proposta anual de formação pedagógica construída coletivamente. Essa proposta previu a realização de 13 encontros temáticos sobre as atividades socioeducativas com as(os) educadoras(es).

Os encontros deveriam ser problematizadores, promovendo o debate e a reflexão de conceitos relacionados com a práxis educativa e a educação em valores. A equipe pedagógica assumiu o compro-misso de realizar o acompanhamento sistemático da prática educativa, no dia a dia do Centro Educativo, na perspectiva de avaliar e orientar as(os) educadoras(es) no desenvolvimento do trabalho, perceber a relevância e/ou repensar as temáticas do processo de formação.

O trabalho desenvolvido compôs a linha de ação “Gestão — Ensino-aprendizagem e Fortalecimen-to da Cidadania” para desenvolver ações com vistas a diminuir barreiras e solucionar problemas.

No que compete aos procedimentos de formação continuada realizados pela equipe pedagógica com as(os) educadoras(es) de Fé e Alegria Regional Pernambuco, pode ser descrito como um processo de formação em cascata, porque cada temática abordada foi elencada com base nas vivências do coti-diano do Centro Educativo.

O nosso principal foco correspondeu ao aperfeiçoamento da prática educativa, visando ao desen-volvimento integral das(os) educandas(os). Esse fazer se traduziu no desenvolvimento de atividades que promoveram a reflexão do nosso papel como profissionais ativos, provocadores do pensamento e da construção do conhecimento.

Desse modo, a equipe pedagógica ao observar e acompanhar a prática das(os) educadoras(es), mediante análise e registros da prática educativa e do diálogo com os atores envolvidos no processo, propôs as temáticas para as formações.

Para discutirmos essas temáticas, decidimos que os encontros seriam mensais, com duração de quatro horas, na terceira sexta-feira e organizados em etapas. No primeiro momento, foi realizada a parti-lha das vivências da prática pedagógica, durante aproximadamente 30 minutos, e a palavra foi cedida aos participantes do encontro para que pudessem partilhar como o seu trabalho vinha sendo desenvolvido.

Em seguida, abordamos os temas voltados para a educação em valores, por cerca de 1h30; por fim, após o intervalo, partilhamos sobre temas da prática pedagógica por 1h30 aproximadamente.

Sabemos que, no âmbito educativo, esse trabalho não é estático, pois possibilita alterações confor-me as necessidades ou as reavaliações do processo. No Centro Educativo, esse não é o único momento formativo que realizamos; a cada dois meses temos os encontros do Grupo de Estudo, espaço de discussão e reflexão sobre leituras coletivas de livros, como O Pequeno Príncipe, e filmes, como Os filhos do Sol.

As ações são realizadas na perspectiva da criação de uma relação integralizadora, a fim de propor-cionar a articulação do desenvolvimento e da formação global nas diferentes formas de expressão na vida sociocomunitária dos participantes.

Além disso, compreendemos que estamos em constante formação e que cada membro da nossa equipe de trabalho, bem como as(os) educandas(os), são formadoras(es) ao mesmo tempo em que são aprendizes. Assim, em relação às temáticas de formação humana, trabalhamos, mensal e diretamente, com as(os) educandas(os) em oficinas de aprendizagem e troca de saberes.

O Programa de Formação Pedagógica busca assumir a avaliação como uma etapa que está in-trinsecamente ligada ao planejamento participativo, dialético e dialógico. É por meio dessa avaliação

que os objetivos, as estratégias e os conteúdos são revistos, propiciando às(aos) educadoras(es) ele-mentos que as(os) tornem mais conscientes, críticas(os) e competentes em relação ao seu papel de agentes de mudança.

O principal resultado percebido é o processo de transformação de todas(os) as(os) educa do-ras(es) e educandas(os) em cidadãs(ãos) mais críticas(os), participativas(os), conscientes do seu papel como agentes de mudança e transformação do contexto social a partir da união com seus pares e demais membros da sociedade.

Avanços no processo…No tocante à gestão, avançamos em:

1. Fevereiro de 2008: Início do processo de formação inicial e continuada das(os) educadoras(es) sociais.

2. 2010: Ampliação no quadro de funcionários do Centro Educativo e composição da equipe multi-disciplinar de formação (pedagogas, assistente social e psicóloga).

3. Abril/maio 2011: Implementação e sistematização do processo de Educação em Valores (autoes-tima, autoimagem, autoconceito, identidade, visão destemida do futuro e projeto de vida) com as(os) educadoras(es) e as(os) educandas(os).

4. Agosto 2012: Composição do Conselho Pedagógico, composto pela coordenadora pedagógica e pelos responsáveis pelas ações dos projetos, com o objetivo de criar e acompanhar o processo formativo das(os) educadoras(es) e educandas(os).

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As ações de formação continuada das(os) educadoras(es) sociais da Fundação Fé e Alegria Regional Pernambuco foram e são avaliadas com base nas aprendizagens construídas nos Encontros e na relevância do trabalho que é desenvolvido no Centro Educativo. Os reflexos são qualitativos no desenvolvimento integral das(os) educandas(os), uma vez que buscamos reconhecer e valorizar as potencialidades dessas(es), desper-tando nelas(es) o desejo e a curiosidade pelo conhecimento ao ponto de se perceberem como agentes multi-plicadores e provocadores da transformação social.

A proposta de trabalho das formações é clara e prospectiva, por meio da qual a(o) educadora(edu-cador) reforça a sua autonomia e reflete, inclusive, para opinar em que aspectos e de que modo entende ser preciso aprimorar-se, contribuindo, assim, para ampliar o universo cultural das(os) educadoras(es), além de realizar ações em que possam se sentir apoiadas(os) para desenvolver novas práticas educacionais, subme-tendo-as ao debate crítico no âmbito das redes, qualificando a prática e favorecendo as aprendizagens das(os) educandas(os).

O processo vivenciado com a Formação Pedagógica, na Fundação Fé e Alegria Regional Pernambuco, permitiu-nos alcançar algumas proposições para o aprimoramento das ações das(os) educadoras(es) sociais, o que são as concepções da Educação Popular, como desenvolver a interdisciplinaridade e a metodologia para a construção de oficinas, quais atividades devem ser desenvolvidas em um método de avaliação processual, como lidar com a indisciplina, como envolver as(os) educandas(os) na construção do trabalho coletivo.

Ansiamos que essas aprendizagens possam contribuir para o desenvolvimento profissional e emocional de nossa equipe e reafirmamos a concepção de que vislumbramos as(os) educadoras(es) como sujeitos ativos, ca-pazes de assumir o papel de provocadoras(es) dos processos de ensino-aprendizagem, profundamente compromissadas(os) com as pessoas que se encontram sob seus cuidados nos espaços educativos.

Dessa forma, a aplicabilidade da formação continuada não é a de centrar-se apenas no domínio dos conteúdos, nem a de focar apenas nas características pessoais das(os) educadoras(es), mas é preciso ter outras metas interligadas, como: destacar as atitudes positivas das(os) educadoras(es) diante de sua profissão, dos espaços onde atuam, do público atendido e suas famílias, ampliando sua consciência ética; revitalizar a luta por melhorias na situação de trabalho, dando ênfase a um maior envolvimento político; e, ainda, estabelecer novos padrões relacionais com a Equipe de Gestão, com seus pares e com a comunidade, para que a gestão democrática possa se tornar uma realidade.

Desafios e oportunidades…Os desafios consistem na manutenção da clareza e da coerência da proposta de trabalho de formação

pedagógica com as ações que se quer realizar nos projetos socioeducativos; no desenvolvimento de planos de ação pública que fortaleçam a relação em rede; em que o trabalho realizado possa servir de modelo para outras instituições e, assim, possamos partilhar saberes e vivências em prol de concretude de redes de traba-lho com outros seguimentos do setor e da própria comunidade, a partir da mobilização popular.

Outro desafio se coloca presente como: entrar em contato com os novos conhecimentos do campo educacional e social, trazendo o debate acadêmico e científico para o interior dos Centros Educativos e inves-tindo na socialização de experiências de sucesso sobre formação continuada e práticas educativas.

Acreditamos que é imprescindível manter o grupo motivado e ávido pela formação. Além disso, preci-samos organizar o tempo e o espaço para que as atividades do dia a dia não nos impeçam de estarmos juntos em formação.

Formação em cascata das (dos) educadoras(es)

Fé e AlegriA — centro SociAl de educAção e culturA MArAMbAiA, MArAMbAiA-rJ

Antonia Martins7

Contexto e trajetória...A experiência aqui apresentada se refere à “Formação em cascata”

que o Centro Social de Educação e Cultura Marambaia desenvolveu com a equipe de trabalho e que consequentemente refletiu nas(os) educandas(os).

Na proposta educativa de Fé e Alegria, temos diretrizes e objetivos que orientam o processo de formação das(os) educadoras(es) populares. Em nosso Centro Social, temos um envolvimento muito forte com a comu-nidade local; por isso, quando surgem vagas, priorizamos as pessoas do entorno, possibilitando mudanças em suas vidas. Muitas dessas pessoas iniciam, às vezes, como mães voluntárias e, logo que surge a necessidade (vaga), são indicadas a concorrer a uma delas. Esse ingresso ocorre em alguns casos nos serviços gerais e para isso exigimos uma formação bási-ca. Passado algum tempo, muitas são incentivadas a continuar os estudos. Abrimos oportunidades para estagiárias(os) e assim que se formam retor-nam trazendo seu currículo para concorrer à vaga de educadoras(es).

A formação continuada sempre foi uma preocupação nossa e um desafio. Buscamos diversas parcerias com outras instituições e enviamos a equipe para cursos e oficinas também em outros locais.

A meta principal foi fortalecer os laços e o desenvolvimento das(os) educadoras(es) por meio da formação humana, sociopedagógica e intera-cionista. Buscou-se também a formação da Equipe de Gestão para assim realizar um bom trabalho com o grupo. A gestão preocupou-se em partici-par ativamente de todos os processos das atividades de formação.

As linhas de ação trabalhadas na experiência foram a “Gestão — Ensino-aprendizagem e Fortalecimento da Cidadania”, pois acreditamos que o bom trabalho com a equipe reflete diretamente em nossas(os) educandas(os). Realizamos também um trabalho na comunidade de resga-te da cidadania, pois a falta de informação os deixa em situação de vulne-rabilidade, sem buscar os seus direitos.

Em nossas formações, procuramos trabalhar a formação humana para a construção de valores. Desenvolvemos reflexões, dinâmicas e expe-riências de sensibilização. A Equipe de Gestão participou de formações promovidas pela Sede Nacional de Fé e Alegria do Brasil e multiplicou os

7 Assessora Pedagógica da Regional Fé e Alegria-RJ.

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conteúdos que aprendeu com a equipe de educadoras(es) nas formações, as quais privilegiam os processos educativos que tenham como objetivo formar cidadãos críticos e atuantes na sociedade. Uma educação que inclui, que promove o diálogo, a solidariedade, o respeito mútuo, a tolerância e, sobretudo, a autonomia e a emancipação dos sujeitos envolvidos.

Sob o aspecto de espaço de socialização da cultura, o Centro Social constitui-se no lócus privilegiado de um conjunto de atividades que, de forma metódica, continuada e sistemática, responde pela formação inicial da pessoa, permitindo-lhe posicionar-se diante do mundo.

As interações sociais que se desenvolvem nesse espaço formativo ajudam crianças e adolescentes a compreenderem-se enquanto sujeitos sociais e históricos, produtores de cultura, assim, beneficiando a cons-trução da base inicial para a vivência efetiva de sua cidadania.

Avanços no processo…Após as formações, a equipe demonstra ter consciência da importância da formação continuada. Em

2013, temos dez educadoras(es) que cursam faculdade, sendo nove no curso de Pedagogia e uma(um) no curso de Nutrição. Em nossos encontros, continuamos realizando estudos acerca dos temas identificados em nosso programa de formação e também com relação a problemas que percebemos com nossas(os) edu-candas(os) como a violência doméstica e as relações pessoais.

Temos conseguido maior envolvimento dos familiares e da comunidade em nossos encontros de res-ponsáveis e maior participação nas atividades no Centro, o que sinaliza bom desempenho de nossa equipe.

Realizamos avaliação dos encontros e as(os) educadoras(es) sempre apontam a importância de termos esses momentos de reflexão, discussão e interação para o fortalecimento da equipe. Realizamos também en-contros periódicos com as famílias e as(os) usuárias(os) para refletirmos sobre nossos atendimentos, como as crianças são recebidas, acolhidas, bem como para conversarmos sobre as atividades desenvolvidas.

Foi possível perceber que com motivação e vontade de mudança é possível desenvolver um bom tra-balho com a equipe, as(os) usuárias(os) e a comunidade.

Desafios e oportunidades…O desafio central é aprender a criar situações de aprendizagem produtivas para as(os) nossas(os)

educandas(os). Este é o ponto de partida e de chegada. É em função desse objetivo que os conteúdos da formação são e serão definidos.

Temos ainda como desafio continuar melhorando, fortalecendo ainda mais os laços, continuar motiva-dos diante das pressões que sofremos e unir mais o grupo, pois, por mais que façamos, ainda temos de me-lhorar a unidade.

Matriz Lógica de Conteúdos:proposta de currículo

para Educação Popular IntegralFé e AlegriA — centro SociAl de educAção e culturA JArdiM lArAnJeirAS, PAlhoçA-Sc

Célia R. M. Betiolo8

Gerusa Colombo de Oliveira9

Noemi Alves10

Paulo Roberto do Espírito Santo11

Lucíola Zanirato12

Contexto e trajetória...A Educação Popular Integral permite-nos aprender com o mundo,

pela troca de conhecimentos e saberes, por processos de socialização de experiências, principalmente em espaços e ações coletivas cotidianas.

Ao longo desses anos, a Fundação Fé e Alegria Santa Catarina iden-tificou a necessidade de elaborar um documento com diretrizes para o desenvolvimento de sua proposta educativa, para orientar a equipe em seu trabalho e compreender suas ações junto às famílias, às comunidade e aos parceiros.

A Matriz Lógica de Conteúdos para Educação Popular Integral é um conjunto de áreas de trabalho (subdividido em eixos, temas e conteú-dos), distribuído por ciclos de aprendizagem social, cultural e cognitivo correspondente a cada faixa etária: Grupo A (6 e 7 anos); Grupo B (8 e 9 anos) e assim, progressivamente, até completar 18 anos. Tem como objeti-vo atender demandas provenientes de situações de vulnerabilidade social de crianças e adolescentes e contribuir para o desenvolvimento de suas expectativas, suas habilidades e suas competências.

A construção da Matriz Lógica de Conteúdos foi realizada com vá-rias mãos e com a participação de diferentes atores sociais. As áreas de trabalho e os eixos temáticos surgiram da sistematização de atividades ao longo dos anos de trabalho e por meio de pesquisa realizada pela Funda-ção onde foram identificados os casos de: violências, violação de direitos, trabalho infantil, situação de rua, crianças catadoras de materiais, gravidez na adolescência, tráfico de drogas como opção de emprego. A organiza-

8 Coordenadora Executiva Regional.9 Coordenadora de Programas.10 Educadora Social.11 Pedagogo.12 Técnica de Projetos.

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ção dos assuntos a serem abordados com base na demanda constatada foi construída de forma lógica para dar uma sequência progressiva e de acordo com os princípios universais dos Direitos da Criança e do Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA. Para isso, foi fundamental o processo formativo de educadoras(es) e gestoras(es), o que possibilitou a criação de condições técnicas e instrumentais para trabalhar com a nossa proposta de Educação Popular Integral.

Entre as linhas de melhoria do Programa de Qualidade, a experiência aqui relatada relaciona-se à “Ges-tão — Ensino-aprendizagem e Fortalecimento da Cidadania” e às Relações com a Comunidade.

A Matriz Lógica de Conteúdos para Educação Popular Integral é resultado da Proposta Pedagógica de Fé e Alegria SC (2011-2013) do Centro de Educação e Cultura — CESEC Jardim Laranjeiras e foi estrutura-da para problematizar eixos, temas e conteúdos em torno das seguintes áreas de trabalho: (I) Valores e Direi-tos; (II) Cultura e Linguagens; (III) Sustentabilidade Ambiental e Saúde; e (IV) Educação Financeira.

Com isso, a Matriz Lógica de Conteúdos objetiva a implementação de uma metodologia de trabalho para a Educação Popular Integral (contraturno) a partir de um conjunto de áreas subdividido em: eixos, temas e conteúdos. Esse conjunto de áreas de trabalho fomenta conhecimentos mais voltados aos valores humanos, proporcionando mais elementos para que as crianças e as(os) adolescentes enfrentem situações de vulnerabi-lidade social.

A equipe definiu os focos de trabalho correspondentes a cada grupo, promovendo uma qualidade no planejamento, pois, previamente, sabe-se quais temas serão trabalhados e quanto tempo terão para isso, podendo se aprofundar no conhecimento sobre o tema. Além disso, permite trabalhar respeitando os ritmos sociais e psicológicos de aprendizagem de cada educanda(o).

MATRIZ LÓGICA DE CONTEÚDOS

Área I — VALORES & DIREITOS

EIXOS TEMAS/OFICINASA B C D E F G

6, 7 8, 9 10, 11 12, 13 14, 15 16, 17 18

1.1. Relações interpessoais, familiares e comunitárias

Infância, adolescência, juventude e cidadania A B C D E F G

Relações familiares A B C D E F G

Comunidade A B C D E F G

1.2.Educação em valores

Reconhecendo meus valores A B C D E F G

Cultura da Paz A B C D E F G

1.3. A Fundação Fé e Alegria

FeA SC: rotina e acordos A B C D E F G

Proposta FeA SC A B C D E F G

Gestão da FeA A B C D E F G

1.4. Direitos Humanos & Cidadania

Estatuto da Criança e do Adolescente: artigo 4º A B C D E F G

A Educação Formal (ECA - art. 53) A B C D E F G

Estatuto da Criança e do Adolescente: trabalho infantil A B C D E F G

A Educação Formal — Uma política pública A B C D E F G

Legislação e participação política A B C D E F G

Área II — CULTURA & LINGUAGENS

EIXOS TEMAS/OFICINASA B C D E F G

6, 7 8, 9 10, 11 12, 13 14, 15 16, 17 18

2.1. Alfabetização social

Comunicação oral A B C D E F G

Práticas de leitura e literatura A B C D E F G

Práticas de escrita e produção textual B C D E

2.2. Tecnologia e Comunicação

Alfabetização digital A B C

Práticas de educomunicação A B C D E F G

2.3.Arte e Cultura

Artes visuais A B C D E F G

Cultura popular A B C D E F G

Teatro A B C D E F G

2.4.Educação musical

Introdução Música (Musicalização) A B C D E F G

Música Básica I A B C D E F G

Música Básica II A B C D E F G

Música Avançada A B C D E F G

Banda B C D E F G

2.5.Atividades físicas

Brincadeiras e jogos A B C D E F G

Atividades (pré)desportivas A B C D E F G

Área III — SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL & SAÚDE

EIXOS TEMAS/OFICINASA B C D E F G

6, 7 8, 9 10, 11 12, 13 14, 15 16, 17 18

3.1.Promoção da saúde

Educação alimentar A B C D E F G

Corpo & Saúde A B C D E F G

Mente & Saúde A B C D E F G

Gênero & Sexualidade A B C D E F G

DSTs A B C D E F G

Gravidez na adolescência A B C D E F G

Drogas lícitas e ilícitas A B C D E F G

3.2.Desenvolvimento sustentável

Alfabetização ambiental A B C D E F G

Ecologia A B C D E F

Sustentabilidade ambiental e cidadania A B C D E F G

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Área IV — EDUCAÇÃO FINANCEIRA

EIXOS TEMAS/OFICINASA B C D E F G

6, 7 8, 9 10, 11 12, 13 14, 15 16, 17 18

4.1.Alfabetização matemática

Espaços e formas A B C D E F G

Números & operações A B

Jogos de raciocínio lógico B C

Gráficos e tabelas A B C D E F G

4.2.Planejamento e empreendedorismo

Planejamento financeiro A B C D E F G

Noções de empreendedorismo A B C D E F G

Avanços no processo…Por meio do desenvolvimento do trabalho pautado na Matriz Lógica de Conteúdos para Educação Po-

pular Integral podem-se apontar os seguintes avanços:

1. Estabelecimento e fortalecimento de vínculos com as crianças, os adolescentes e as famílias, o que

resultou na frequência, na permanência e na continuidade destes nos trabalhos desenvolvidos;

2. Identificação de diferentes situações de violações de direitos com os quais são realizados encaminha-

mentos (denúncias) aos órgãos competentes segundo as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente;

3. Articulação de diferentes saberes e aprendizagens provenientes do contexto das crianças e dos ado-

lescentes para o desenvolvimento de metodologia própria baseada no diálogo, no respeito e na participação

dos envolvidos;

4. Construção de diretrizes para a equipe de trabalho planejar sistemática e intencionalmente as ativi-

dades na elaboração de estratégias que alcancem os objetivos propostos.

Para acompanhar a Matriz Lógica de Conteúdos para Educação Popular Integral e sua eficácia, são uti-

lizados diferentes instrumentais de avaliação, como o planejamento e o registro das atividades desenvolvidas

no Centro Social de Educação e Cultura. Com a equipe há um cronograma para esses momentos: a rotina e o

dia a dia são avaliados semanalmente, o quadro lógico, semestralmente, e a proposta completa, anualmente.

O acompanhamento do público atendido acontece mediante as rodas finais ao término de cada encontro com

as turmas e por meio dos encontros com os responsáveis pelas crianças e pelos adolescentes, que chamamos

de “Café com Famílias”.

Com base na reformulação da Proposta Educativa do Programa Educação Popular Comunitária, a Matriz

Lógica de Conteúdos permitiu uma uniformidade na compreensão das atividades educativas e sociais, possibi-

litando, assim, maior proximidade da prática com a teoria. Isso foi um grande avanço para toda a equipe e,

principalmente, para as crianças e as(os) adolescentes que passaram a compreender o foco de trabalho do

grupo ao qual pertencem em virtude da grade de temas específicos a serem trabalhados no decorrer do ano.

A experiência ao longo desses anos mostra que a organização sistemática, objetiva e coerente com os

princípios de Fé e Alegria e com as concepções antropológicas da educação popular de Paulo Freire foi fun-

damental para a prática, pois vem sendo apropriada por toda a equipe. E isso se deve à participação, à elabo-

ração e à execução das atividades educativas e sociais e, sobretudo, das formações técnicas de toda a equipe, visando ao desenvolvimento de cada educanda(o) em sua integralidade como ser humano.

A definição de diretrizes para o trabalho com Educação Popular Integral permitiu que educandas(os) se reconheçam nas atividades sociais e educativas desenvolvidas. Além disso, a frequência assídua dos grupos mostra a importância dos temas desenvolvidos ressignificando informações e conhecimentos fundamentados em uma visão de superação de injustiças sociais.

Desafios e oportunidades…Nossos principais desafios estão vinculados à continuidade na criação de propostas coerentes com a

realidade do público atendido, devidamente monitoradas e acompanhadas pela equipe.

Para isso é preciso elaborar um instrumento metodológico de acompanhamento, análise e avaliação do processo de aprendizagem das crianças e das(dos) adolescentes enquanto permanecerem na Fundação.

Com essa experiência, ainda temos como desafio a construção permanente de formação de educadoras(es) populares, tendo em vista que cada grupo tem um foco de trabalho; para isso, é fundamental o preparo prá-tico e teórico para a inovação e a qualidade do planejamento e da execução dos eixos e dos temas descritos na Matriz Lógica de Conteúdos para Educação Popular Integral por meio de suas áreas de trabalho.

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Formação para a cidadania com educandas(os) e comunidade educativa

“Políticas Sanitárias e Colônias de Isolamento”

centro educAtivo Fé e AlegriA, MAnAuS-AM

Adelson Auzier de Souza Júnior13

Andreia Furtado Roberto14

Beatriz de Sá e Silva15

Erick Santos de Almeida16

Janaina Bispa dos Santos17

Joicy Falcão de Sousa18

Rejane Ferreira da Silva19

Thiago Ricardo Santos Babilonia20

Contexto e trajetória...A necessidade de fazer uma contextualização entre a problemática e

o núcleo de experiência: “Políticas Sanitárias e Colônias de Isolamento” foi no intuito de buscar uma aproximação maior com a realidade estudada para tornar a aprendizagem mais atrativa e envolvente a fim de provocar mudanças, inferir ações e atitudes na vida das(os) educandas(os) para que estas(es) possam se sentir no processo de investigação e construção do conhecimento, bem como para que sejam capazes de desenvolver o senso crítico sobre as questões relacionadas com sua realidade social.

A sociedade atual ainda demonstra muitos preconceitos com as víti-mas da hanseníase. À medida que as(os) educandas(os) ouvem e comparti-lham histórias de pessoas que conviveram com a “lepra’’, acredita-se que se fortalece a formação de valores humanos. Valores estes que apareceram de modo singular na fala das(os) educandas(os) de Fé e Alegria Manaus após as entrevistas na comunidade Vila de Paricatuba.

Percebe-se que, com a visita, houve uma reconstrução de novos sa-beres, que não seriam possíveis se apenas contassem com a leitura da problemática estudada em sala de aula. A visita ao antigo leprosário “Beli-zário Penna”, mais conhecido como Ruínas Históricas da Vila de Paricatu-ba, fundado em 1924, contribuiu com a aprendizagem das(os) educandas(os) que, por meio das entrevistas realizadas com antigos moradores da comu-

13 Educador Social do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.14 Educadora Social do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.15 Educanda do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.16 Educador Social do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.17 Educadora Social do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.18 Coordenadora do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.19 Educadora Social do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.20 Educador Social do Centro Educativo Fé e Alegria, Manaus-AM.

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nidade e seus relatos acerca dos tempos em que o hospital agregava e segregava os doentes, oriundos da capital amazonense, conheceram a realidade desses cidadãos.

Assim, propor metodologias de aprendizagem diferenciadas às(aos) educandas(os), como, por exem-plo, a problematização, significa aguçar o senso crítico para que elas(eles) encontrem caminhos alternativos e, desse modo, amenizem a adversidade em questão, visto que podem, a partir de simples atos e posturas, in-cluir a comunidade em seu processo de ensino-aprendizagem.

A ação tomada pode ser o simples ouvir o outro, uma dádiva de poucos e quando se consegue são acrescentados valores essenciais para que se possa desenvolver novos saberes. Com base nessa escuta, a troca de conhecimentos dentro da comunidade visitada (Vila de Paricatuba) foi mútua, pois tanto a comunida-de como as(os) educandas(os) tiveram acrescidos valores de cidadania e humanização.

As pessoas que foram entrevistadas se sentiram valorizadas e incluídas socialmente. A visita à comuni-dade despertou nas(os) educandas(os) o desejo de conhecer e respeitar as individualidades de cada pessoa, sendo ela vítima da hanseníase ou não, e, seguramente, reuniu um conjunto de valores que, certamente, in-fluenciaram de modo direto cada educanda(o) com a experiência vivida.

Para chegarmos a esse ponto da atividade, primeiramente selecionamos o núcleo de experiência “Políticas Sanitárias e Colônias de Isolamento” e, em seguida, enumeramos os possíveis locais para a realização da visita.

Após consultar os possíveis locais de visita, identificamos nos relatos sobre o leprosário que funcionava na Vila de Paricatuba o local ideal, tendo em vista que há pouquíssimo material escrito sobre o período de funcionamento daquela Colônia de Isolamento, que tratava os “leprosos” de todo o Estado do Amazonas, além de muitos nordestinos que sofreram com a miséria proveniente da crise da economia da borracha na década de 1920 na Amazônia.

Dessa forma, partindo da problematização como ferramenta de socialização do conhecimento, visando a uma interação entre a problemática e o objeto a ser estudado, começamos a separar os materiais para de-senvolver as atividades propostas: papel A4, lápis de cor, fantasias, fantoches, máscaras, tinta guache, pufes, tapete, banner da Fundação e caixa de som amplificada. Todo esse material foi utilizado na realização das oficinas de contação de histórias, pinturas, desfile de fantasia e teatro de fantoches, que foram preparados pelas(os) educandas(os) e apresentados à comunidade, em especial para as crianças que ali viviam.

De posse do planejamento e do material de trabalho, no dia 10 de maio de 2013, um belo sábado enso-larado da Amazônia, às 9 horas, estávamos em Paricatuba realizando a visita. A partir daí, a experiência ganhou novo significado, adquirido por meio da reflexão e da ação que ocorreu durante as atividades desenvolvidas em um processo de interação, autonomia e cooperação entre as(os) educandas(os) e a comunidade.

O intuito da experiência vivenciada tinha como um de seus propósitos oferecer às(aos) educandas(os) a possibilidade de transpor e combinar saberes, fazendo com que sentissem a necessidade de tomar decisões e inventar estratégias de soluções de problemas vivenciados em seu contexto social.

Esse processo de interação educandas(os)/comunidade foi possível porque antes das atividades lúdicas elas(eles) fizeram uma visita às ruínas do antigo leprosário e registraram com fotos e anotações os locais visi-tados. Além disso, fizeram entrevistas em tom de diálogo com pessoas que trabalharam tratando os doentes naquele período, as quais os deixaram impressionados com as informações recebidas, como foi o relato do Sr. Ricardo Izidório da Silva21, que dizia,

Aqui era muito bom, havia fartura, de tudo vinha em grande quantidade, do açúcar ao leite. Eu trabalha-va na fornalha, que queimava madeira para gerar o vapor que movimentava a bomba que puxava água pra cá... Aqui os “sadios” não podiam visitar os doentes, só com autorização do delegado. E quando os doentes iam sair às ruas a população era avisada para ficar em casa e evitar o contágio. A praia também não podia ser frequentada pelos sadios, porque “tudo que não prestava” era levado pelas águas das chuvas ao rio... Eles faziam isso porque tinha uma tubulação que levava a água que os doentes tomavam banho para um igarapé, mas as roupas dos doentes que não estavam em estado terminal eram lavadas e a água escorria para o rio.

Avanços no processo…A experiência na Vila de Paricatuba acrescentou mudanças perceptíveis no comportamento das(os)

educandas(os), como, por exemplo, a assiduidade, pois se verificou maior comprometimento com o projeto. Alguns deles se dispuseram, inclusive, a voluntariar em outro projeto que é desenvolvido na escola, o Projeto APOEMA, que trabalha com crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 14 anos de idade.

Ficou perceptível também a mudança de atitude quanto às dificuldades enfrentadas pelos alunos nas atividades desenvolvidas no dia a dia na sala de aula. Antes alguns se colocavam como incapazes de realizar algo quando não estavam conseguindo resolver uma situação-problema ou absorver um conteúdo. A partir da visita, lutam contra suas limitações momentâneas, quando muitos chegam a citar os relatos que ouviram em Paricatuba, dizendo “você acha que seu problema é mesmo um problema? Não é!”.

O preconceito que havia em relação ao “leproso” também foi amenizado, pois antes viam com temor o contato com um hanseniano nas ruas da cidade, hoje olham com respeito.

21 Morador antigo da comunidade — aposentado.

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O fortalecimento dos vínculos de amizade também é notável. Antes havia constantes intrigas corriquei-ras, mas, com a visita, percebeu-se maior valorização do outro, maior respeito ao que os demais colegas pen-sam sobre determinado assunto.

A experiência foi avaliada com a socialização do conhecimento adquirido na visita que aconteceu na casinha de arte da escola alternativa e contou com a participação de duas representantes da ANEAS, empresa que financia verbas para o projeto. As(os) educandas(os) ainda apresentaram uma peça ao Padre Álvaro, coor-denador-geral da Fundação Fé e Alegria do Brasil, relatando a experiência que tiveram na visita, que por sinal foi muito emocionante. Da parte dos pais foram só elogios, uma vez que eles perceberam a oportunidade que seus filhos estavam tendo de conhecer realidades diferentes da sua.

A visita despertou o interesse em realizar novas atividades na comunidade de Paricatuba, porque alguns relatos de moradores evidenciaram as poucas oportunidades de diversão e socialização por ser a minoria ca-tólica, estimada em aproximadamente 30%. E essa população minoritária se sentia excluída das muitas ativi-dades realizadas pelas igrejas protestantes na comunidade.

Como aprendizado, podemos salientar a importância da visita in loco, que ajuda a desfazer e a construir mitos. Como exemplo, podemos citar a fala do senhor Antônio22, hanseniano, que viveu o período final do funcionamento do leprosário.

Com toda minha ignorância, tenho informação sobre uma mulher, que pra mim era o satanás vestido de bran-co. Um amigo que fazia os serviços pra ela disse para eu não gritar quando sentisse dor por causa das feridas, ou aconteceria comigo o que aconteceu com diversos outros. Ela mandava aplicar uma injeção e cobrir o paciente, no outro dia já amanhecia morto e os outros doentes enterravam-no.

Desafios e oportunidades…Um dos desafios é a dificuldade de chegar até a comunidade de Paricatuba, o acesso é pela Rodovia

AM-010, Estrada Manoel Urbano, Manaus-Manacapuru, até o km 21, depois mais 10 quilômetros de “ramal de terra” sem asfalto até chegar à comunidade. Quando chove, é muito perigoso trafegar pelo ramal, porque a estrada fica lisa e escorregadia, o que pode ocasionar acidentes. Então, quando planejamos uma visita ao lo-cal, temos de contar com a sorte de não chover, o que é difícil na Amazônia, pois as chuvas torrenciais são frequentes na região. Há também de ter bastante cuidado ao entrar nas ruínas porque sua estrutura se encon-tra muito comprometida, e os riscos de desabamento são grandes. Além disso, o sol forte e o calor escaldan-te dificultam a coleta de dados e deixa as(os) educandas(os) e as(os) educadoras(es) cansadas(os) ao final da visita.

Outro desafio enfrentado foi a falta de documentos sobre a história do leprosário, que seria o suporte teórico para contrapor a realidade local. Contudo, as poucas informações obtidas mediante os artigos cientí-ficos fizeram com que nos dedicássemos à história local na oralidade, levantando dados por meio de entrevis-tas, do diálogo com pessoas que vivenciaram aquele período.

Essa oportunidade de construir a história despertou nas(os) educandas(os) a curiosidade de realizar fu-turas pesquisas acadêmicas dentro dessa e de outras comunidades amazonenses, contribuindo, assim, com a construção da história de sua região e também para o processo de ensino-aprendizagem de outras(os) educandas(os) que desejem conhecer e realizar pesquisas escolares sobre o lugar.

22 Morador antigo da comunidade — aposentado.

Diante disso e dos desafios expostos, pensou-se na realização de futuras visitas das(os) nossas(os) educandas(os) àquela comunidade, com o objetivo de proporcionar novas oportunidades que contemplem não só a história do lugar, mas que também valorizem a vivência dos moradores da vila, uma vez que estes em sua maioria são filhos ou netos de pessoas vítimas da hanseníase, que foram abandonadas pelo governo de-pois da desativação do hospital e fincaram suas raízes na Vila de Paricatuba.

Entendemos que valorizar os moradores é o mesmo que valorizar a história da Vila de Paricatuba, uma vez que esses dois agentes estão relacionados de modo indissociável dentro da história do lugar. Nesse mo-vimento, Fé e Alegria Manaus-AM busca desenvolver ações socioeducativas que promovam reflexão tanto nas(os) educandas(os) como na comunidade onde se realiza a ação.

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Eu e o outro nos espaços de vivência: Convivendo

com a Comunidadecentro educAtivo Fé e AlegriA, ilhéuS-bA

Alessandra Batista Cana Brava23

Agnaldo Batista de Cana Brava24

Danilo Oliveira Nascimento25

Contexto e trajetória...Nos 14 anos de existência do Centro Educativo Fé e Alegria Ilhéus,

vários desafios surgiram; porém, o que mais nos incomodava era a relação do nosso Centro com a comunidade. Ficávamos inquietos pelo fato de querermos estar mais próximos e atuantes na comunidade em busca de soluções para os problemas no entorno, conjuntamente. Entretanto, não sabíamos como; algumas intervenções aconteciam, mas nada suficiente-mente grandioso que apresentasse mudança significativa no contexto.

A relação Centro Educativo Fé e Alegria Ilhéus e comunidade no en-torno esteve por muito tempo um tanto quanto “morna”, pois a escassez de recursos atrelada à crise que enfrentamos com a saída de algumas lideran-ças do Centro fez com que voltássemos a atenção para o que era essencial-mente importante, no momento: a sustentabilidade do espaço.

Infelizmente, de modo geral, acreditamos que falhamos nesse senti-do, uma vez que em momento de crise o mais sensato é aliarmos forças, para juntos enfrentarmos o problema. Estamos galgando pequenos passos para modificarmos a situação referida e buscarmos a qualidade dos serviços ofertados no Centro Educativo Fé e Alegria Ilhéus junto à comunidade.

Dessa forma, consideramos que, a partir das formações realizadas — Formação Humana e Sociopolítica, Pedagogia da Educação Popular, Forma ção de Gestores — em consonância com o Programa Federativo de Qua lidade na Educação Popular (P1) e do Programa de Formação de Edu-cadores Populares (P4), que visa à melhoria da qualidade do processo ensino-aprendizagem na prática pedagógica dos Centros de Fé e Alegria, surgiu a oportunidade de construirmos conjuntamente com as(os) edu ca-do ras(es) e educandas(os) um projeto cujo foco principal seria os valores, como justiça, liberdade, participação, fraternidade, respeito à diversidade, solidariedade, fé e identidade com ramificações, que acreditamos serem pertinentes (Relação comunidade com o Centro Educativo, meio ambiente e diversidade humana).

A meta traçada tem como foco principal a propagação dos valores fomentados em Fé e Alegria e o empoderamento social das(os) nossas(os)

23 Educanda do Centro Educativo Fé e Alegria, Ilhéus-BA.24 Pai de educanda do Centro Educativo Fé e Alegria, Ilhéus-BA.25 Educador do Centro Educativo Fé e Alegria, Ilhéus-BA.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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educandas(os) e da comunidade local para que elas(eles) tenham propriedade para exercer a cidadania plena e colaborar com a construção de um Centro Educativo onde se sintam partícipes, colaborativos e atuantes.

O Centro Educativo Fé e Alegria Ilhéus sempre acreditou na formação em serviço de sua comunidade educativa, propiciando o conhecimento dos documentos norteadores da prática pedagógica e da missão de Fé e Alegria, visando a um conhecimento amplo dos objetivos e das singularidades que permeiam nosso trabalho.

Entretanto, nesse contexto, faltava-nos um direcionamento em uma perspectiva nacional. Sempre que iniciávamos uma formação, nosso pensamento se voltava para a direção tomada, se estávamos no caminho certo. Essa demanda foi pronunciada nacionalmente no Planejamento Estratégico de 2006-2010 e culminou com as formações de assessores pedagógicos em São Paulo com o objetivo de disseminar as informações nos Centros e, consequentemente, as(os) educadoras(es) com as(os) educandas(os) formando o que se denominou “Formação em cascata”.

O módulo IV — Práticas pedagógicas, da referida formação, nos fez refletir sobre várias categorias do processo ensino-aprendizagem, mais precisamente sobre o desenvolvimento de novas práticas pedagógicas que viessem dinamizar a construção de conhecimento de nossa(os) educandas(os), propiciando também à comunidade o fortalecimento da cidadania. Portanto, nossa experiência agrega duas linhas de ação: Ensino-aprendizagem e Fortalecimento da Cidadania.

A trajetória percorrida para a realização da experiência iniciou-se com o levantamento dos problemas em reuniões pedagógicas e de formação com educadoras(es), nas quais vislumbramos a necessidade de termos a comunidade mais próxima e atuante, uma vez que muitos problemas (indisciplina, abandono, des-caso, entre outros), apresentados pelas crianças e pelos adolescentes do Centro, são oriundos das famílias que fazem parte da comunidade.

A formação em cascata vislumbrou para nós uma saída para melhorarmos a participação da comunidade no Centro e deste na comunidade, além de possibilitarmos por meio de parcerias com entidades competentes a amenização dos problemas citados. Após o levantamento dos problemas, colocamos em ação as formações

e elaboramos um projeto em que desenvolvemos atividades diretamente ligadas à comunidade e aos proble-mas levantados. Entre as ações, podemos citar a Semana da Família em que foi estabelecida uma parceria com as Secretarias de Assistência Social e Saúde, as quais disponibilizaram serviços de atendimento médico (clínico, pediátrico, odontológico, ginecológico, nutricional e oftalmológico) e socioassistenciais (balcão de empregos, atendimento jurídico, Bolsa Família, vacinação para cães e gatos, entre outros).

O SAC/Serviço de Atendimento ao Cidadão participou da programação realizando encaminhamentos para a obtenção de Carteiras de Identidade. O evento também contou com a participação do núcleo de Me-dicina da Universidade Estadual de Santa Cruz — UESC com aferição da pressão arterial e orientações sobre prevenção da hipertensão e sobre alimentação saudável; o núcleo jurídico da Faculdade de Ilhéus disponibili-zou orientações e encaminhamentos referentes à área de atuação jurídica.

O evento superou as expectativas previstas inicialmente, visto que conseguiu atender a uma parcela considerável de pessoas residentes no bairro, propiciando três dias de entretenimento e atendimentos diver-sos de grande relevância para os envolvidos. A quantidade de atendidos foi de aproximadamente 1.350 pes-soas. Além dessa ação, o projeto “Eu e o outro nos espaços de vivência: Convivendo com a Comunidade” abriu portas para estreitarmos as relações com algumas entidades que procuram amenizar os problemas da comunidade, que são o CRAS, o PETI/Pro Jovem associação de moradores, a ACEAI — Associação Centro Educacional de Ação Integrada, a Paróquia do bairro, CONDER.

Para desenvolver o evento, procuramos as entidades e propusemos a parceria, salientando que comun-gávamos do mesmo objetivo, que é o bem-estar social da população e que deveríamos ser parceiros. Após o primeiro contato, participamos em conjunto de muitas outras atividades, como: assistência às famílias em situação de risco em parceria com o CRAS, eventos culturais com o PETI/Pro Jovem e a ACEAI, envolvimento na festa de comemoração à padroeira do bairro, cadastramento e acompanhamento de famílias contempladas pelo projeto de casas populares na comunidade.

Ressaltamos também a elevação do sentimento de pertencimento das(os) educandas(os) que evidencia-ram isso a partir da produção de letras de músicas e poemas sobre a comunidade e a aquisição de conheci-mentos específicos; hoje, após a realização do projeto “Eu e o outro nos espaços de vivência: Convivendo com a Comunidade”, podemos dizer que educandas(os), além de uma parcela significativa de moradores, sentem orgulho de habitarem no bairro Nossa Senhora da Vitória.

Avanços no processo…Os avanços alcançados após a realização da experiência são visíveis e notórios. Assim, podemos constatar que:

• Aaprendizagemnoquetangeaosconhecimentosdeproduçãotextualeleituramelhoraramsignificati-vamente, o que podemos verificar por meio da comparação de textos produzidos antes da experiência e dos produzidos agora.

• Amelhoradaautoestimaedosentimentodepertencimento,verificávelmedianteosdepoimentosdepais, moradores do bairro e educandas(os).

• Aparticipaçãosignificativadospaisedasmãesematividadesrealizadasnaescola(forrósolidáriocomo objetivo de socialização e captação de recursos, semana da família, bazar beneficente, entre outras).

• Todososavançossãoverificáveispormeiodefotos,depoimentos,listasdefrequência,questionárioseformulários preenchidos pelos participantes.

• Apresentaçãodemaisde200(duzentos)paisparaconcorreremamembrodoConselhoGestor.

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Trilhas do Saber: Educando em valores para

o exercício da cidadaniacentro SociAl de educAção e culturA Fé e AlegriA

novA eSPerAnçA, cAriAcicA-eS

Vilmar Burzlaff26

Fátima Rodrigues Burzlaff27

Contexto e trajetória...O trabalho socioeducativo realizado no contraturno do Ensino Fun-

damental no Centro Social de Educação e Cultura Fé e Alegria, com base no Programa de Educação Comunitária, estruturado apenas em torno de oficinas culturais e esportivas, não apresentava os resultados esperados em termos de desenvolvimento do protagonismo e apropriação de valores que favorecem a convivência familiar e comunitária.

Diagnosticou-se que os oficineiros culturais e esportivos desenvol-viam seu trabalho educativo com foco nas técnicas da modalidade que buscavam difundir, reservando pouco tempo para tratar de temas relevan-tes para a formação e a conscientização das(os) educandas(os) em relação a temas como meio ambiente, direitos humanos, saúde preventiva, partici-pação e cidadania.

A opção pela inclusão de mais atividades de educação em valores para as(os) educandas(os) apresentava-se como uma opção de difícil reali-zação, uma vez que as(os) próprias(os) educadoras(es) tinham pouca infor-mação sobre os temas propostos e não havia material didático de apoio disponível para essa ação.

Após se verificar a necessidade de reestruturação do Programa de Educação Comunitária, desenvolvido no Centro Social de Educação e Cul-tura Fé e Alegria Nova Esperança, definiu-se a organização do trabalho socioeducativo em quatro macrocampos (cultura e artes, esporte e lazer, formação educativa complementar e educação em valores), e foram traça-das as seguintes metas:

• Definiçãodeáreastemáticasrelativasacadamacrocampo.

• Produçãoderoteiroseducativos,comoapoioaotrabalhodas(os)edu­cadoras(es) sociais, para o macrocampo de educação em valores.

• Desenvolvimentodeplanosanuaisdecapacitaçãoemserviçoparaas(os) educadoras(es) sociais.

26 Coordenador Regional do Centro Social de Educação e Cultura Fé e Alegria Nova Esperança, Cariacica-ES.27 Centro Social de Educação e Cultura Fé e Alegria Nova Esperança, Cariacica-ES.

No decorrer das atividades, a experiência foi avaliada, pois acreditamos que podemos melhorar o pro-cesso. A cada ação realizada, nos reuníamos com a Equipe de Gestão do Centro, na qual temos a participação dos vários segmentos para avaliarmos e propormos melhorias para as próximas atividades. Quanto à comuni-dade, a avaliação foi realizada com questionários de satisfação e por meio de relatos e depoimentos dos participantes.

A experiência realizada nos proporcionou várias aprendizagens novas e consolidou algumas já existen-tes. Um aprendizado que ficou muito evidente é a necessidade de estarmos fazendo registros durante as ati-vidades e selecionando as evidências mais marcantes, possibilitando, assim, a sistematização das atividades. Consolidamos, como aprendizado, que o planejamento e o acompanhamento são fundamentais para a quali-dade do resultado.

Concluímos, mais uma vez, que todas(os) são importantes no processo e que parcerias são imprescindí-veis; tampouco devemos descartar aquelas que, a princípio, achamos irrelevantes. E, ainda, o que é mais im-portante, estamos sempre aprendendo.

Desafios e oportunidades…Estamos iniciando esse processo de convivência mais próxima com a comunidade e sabemos que

quanto mais nos aproximarmos maiores serão os desafios. Muitas são as dificuldades, pois sabemos que nem sempre o poder público comunga de nossos objetivos e entendemos também que nem sempre podemos fazer tudo sozinhos.

O nosso maior estímulo é conseguir empoderar socialmente nossas(os) educanda(os), suas famílias e a co-mu ni da de local para que possam lutar pelos seus direitos, entendendo o Centro Educativo como um espaço seu.

Para que isso aconteça, a comunidade educativa do Centro precisa conseguir meios de garantir a for-mação permanente e em serviço, garantir atividades que propiciem a integração da comunidade e efetivar o Conselho Gestor. Acreditamos que a partir dessas parcerias consolidadas, futuramente poderemos dizer que já estamos prontas(os) para vislumbrarmos novos desafios.

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• Estruturaçãodosambienteseducativosapartirdeinvestimentosnainstalaçãodenovoscomputadores,

equipamentos audiovisuais e mobiliários, além de disponibilizar uma variedade significativa de jogos

educativos e acervo bibliográfico.

Além da organização definida anteriormente, estabeleceu-se que a linha de ação a ser trabalhada, com

a finalidade de alcançar os resultados esperados do Programa de Educação Comunitária, seria: ensino-apren-

dizagem, fortalecimento da cidadania e relações com a comunidade.

O processo de reestruturação da oferta educativa no Programa de Educação Comunitária do Centro

Social de Educação e Cultura Fé e Alegria Nova Esperança teve início no ano de 2011, a partir das definições

do seu novo PPP (Projeto Político-Pedagógico), construído com base nas orientações contidas na Proposta

Educativa Nacional de Fé e Alegria do Brasil.

O PPP definiu como objetivo específico do Programa de Educação Comunitária, desenvolvido no Cen-

tro, oferecer às crianças e aos adolescentes do bairro Nova Esperança — Cariacica-ES e das comunidades vi-

zinhas um programa de atividades socioeducativas que contemplasse a educação em valores, o acesso a ati-

vidades e culturais esportivas e a novas tecnologias de informação e comunicação, além de atividades de

motivação para a escolarização formal.

Dessa forma, buscou-se organizar o trabalho socioeducativo em torno de quatro eixos temáticos: a

Educação em Valores, a Motivação Escolar, a Educação Física, a Arte e a Educação como áreas fundamentais

para o investimento dos esforços da equipe educativa.

A implantação da nova proposta de trabalho aconteceu de forma gradual, à medida que foram sendo

viabilizadas algumas ações, como: a elaboração de roteiros para a educação em valores, a formação conti-

nuada das(os) educadoras(es) e dos demais integrantes da equipe educativa e os investimentos necessários

em relação à estruturação dos ambientes educativos.

Avanços no processo… Os maiores avanços nessa linha foram proporcionados pelo projeto “Trilhas do Saber”, iniciado no fi-

nal de 2011 e ainda em desenvolvimento.

Como descrito anteriormente, a partir da reestruturação da proposta de atendimento e com base nas

orientações do PPP, foram definidos os macrocampos do currículo socioeducativo, com indicação dos princi-

pais temas a serem trabalhados, conforme o quadro a seguir:

Macrocampo Áreas Temáticas

Cultura e Artes

Artes cênicas

Danças

Música

Artes plásticas

Arte circense

Cultura popular

Esporte e Lazer

Esportes coletivos

Atletismo

Jogos populares

Formação Educativa Complementar

Ciências para a vida

Leitura e produção de textos

Comunicação comunitária

Mundo do trabalho

Educação em Valores

Direitos humanos e difusos

Meio ambiente

Saúde preventiva

Cidadania e participação

Projeto de vida

Como passo seguinte do processo, iniciou-se a produção de materiais de apoio às(aos) educadoras(es)

sociais, relacionados às áreas temáticas já identificadas. Na prática, foram elaborados mais de 150 roteiros de

educação em valores, os quais vêm sendo desenvolvidos junto às(aos) educandas(os) desde o ano de 2012,

trazendo como resultado o protagonismo das(dos) adolescentes, especialmente em relação aos temas da

educação ambiental.

Realizaram-se também investimentos na estruturação dos ambientes educativos, com instalação de no-

vos computadores e equipamentos audiovisuais, disponibilização de jogos educativos e ampliação do acervo

da biblioteca com o objetivo de conferir mais ludicidade ao processo educativo.

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Para que o trabalho evolua com a qualidade necessária, desenvolve-se também um programa de forma-ção continuada das(os) educadoras(es) sociais, incluindo aspectos relacionados à formação humana, à formação sociopolítica e à formação pedagógica.

Como resultado do processo de conscientização alcançado, a partir da educação em valores, dois grupos de educandas(os) transformaram-se em protagonistas de ações comunitárias na área de meio ambiente, promo-vendo a coleta seletiva do lixo doméstico e a destinação dos materiais recicláveis para empresas do ramo.

Segundo as(os) educandas(os), outro fator que permite melhor entendimento do que se ensina é a ofi-cina lúdico-pedagógica. Para eles, a oficina contribui para formar suas opiniões a respeito de diversos assun-tos, e, muitas vezes, conseguem compreender melhor o que estão aprendendo na escola em consequência da participação nessa atividade.

À medida que o programa se fortalece, os pais, as mães e os responsáveis relatam que as atividades realizadas contribuem muito para o desenvolvimento escolar, social e pessoal de seus filhos e suas filhas. Apontam, ainda, mudanças positivas no comportamento dos filhos e das filhas, e relatam que eles estão mais participativos, desinibidos, falantes e questionadores. Segundo os pais, as mães e os responsáveis, seus filhos e suas filhas construíram novas amizades e estão aprendendo a comer saladas e frutas, que antes não consumiam.

Em relação à formação continuada de educadoras(es), existe um reconhecimento sobre sua importân-cia. Eles destacam os roteiros educativos como um instrumento necessário para a realização dos trabalhos com as(os) educandas(os) na oficina ludopedagógica, por ser esse recurso o que ajuda a dar um direcionamento à realização da intervenção em sala. As(os) educadoras(es) ponderam que as salas estão mais satisfatoriamente bem equipadas com jogos e materiais pedagógicos, o que facilita a realização das atividades e incentiva a participação das(os) educandas(os).

De acordo com a educadora Maria da Glória Gohn, uma das referências conceituais no que se refere à educação não formal, essa modalidade educativa desenvolve, entre outros resultados, a consciência e a orga-nização de como agir em grupos coletivos. Essa consciência certamente é construída com base nos processos de ampliação dos conhecimentos a que as(os) educandas(os) têm acesso, baseada em uma proposta pedagó-gica e política de transformação, na qual as(os) educadoras(es) atuam como mediadoras(es), promovendo reflexões sobre o contexto local, problematizando-o e apoiando a construção de soluções coletivas para a superação dos problemas vivenciados.

Por intermédio da experiência vivida, ao adotar a “metodologia da problematização” de forma sistemá-tica, a partir da promoção das “rodas de conversa”, nas quais a situação vivida pelas(os) educandas(os) nos ambientes familiares e comunitários geralmente é tema de reflexão e debate pelo grupo, questões relaciona-das à destinação do lixo doméstico, à prevenção de doenças, à garantia da segurança alimentar e nutricional, foi possível verificar que o acesso aos direitos e à prevenção da violência, entre outros temas do cotidiano, torna-se objeto de ações desenvolvidas pelos grupos de crianças e adolescentes que se tornam protagonistas da transformação pretendida.

Essa inspiração/opção metodológica está posta para seres humanos concretos, situados em determinado

tempo e determinado espaço. E, nessa perspectiva, a teoria política e pedagógica de Paulo Freire é de rele-

vância ímpar. A problematização ganha, com esse mestre, conotação e poder revolucionários à medida que

promove a passagem da consciência ingênua para a consciência crítica e, desta, para a ação coletiva qualifi-

cada e transformadora. A problematização é, portanto, o ponto inicial da proposta pedagógica emancipado-

ra desse educador e se sustenta no eixo: problematização-conscientização-práxis (PROPOSTA EDUCATIVA

DE FÉ E ALEGRIA BRASIL: DIRETRIZES NACIONAIS, 2009, p. 34).

Desafios e oportunidades…Consideramos que a intervenção no Programa de Educação Comunitária demonstrou a importância dos

processos de avaliação contínua e dos investimentos na melhoria da qualidade do trabalho educativo. Nesse processo, foi fundamental respeitar as características do contexto local, apontadas pelos diagnósticos realizados.

Apesar dos avanços conquistados, entendemos que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Con-forme relatado anteriormente, a nova estrutura desenhada para o Programa de Educação Comunitária con-templa quatro macrocampos (Cultura e Artes, Esporte e Lazer, Formação Educativa Complementar e Educa-ção em Valores), mas apenas o último recebeu uma atenção aprofundada.

Fica, portanto, o desafio de realizar um trabalho semelhante em relação aos demais macrocampos. Além disso, é preciso considerar que o macrocampo da Educação em Valores é bastante dinâmico, e, certa-mente, ainda há muitas questões relativas a esse tema a incluir no processo educativo.

Entendemos que, para maior qualificação do trabalho desenvolvido, será necessário contar com um Sistema de Melhoria da Qualidade do Processo Educativo, que contemple indicadores próprios e orientações sobre procedimentos a adotar.

Com planejamento adequado e intervenções qualificadas junto às(aos) educandas(os), é possível pro-mover uma educação que gere consciência e protagonismo dos envolvidos na busca pelas transformações necessárias na vida comunitária.

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“ECA, minha gente”centro educAtivo inAciAno de culturA e

ProMoção huMAnA SociAl, João PeSSoA-Pb

Severina Caetano César Moura28

Natália Victor de Jesus29

Contexto e trajetória...Tendo em vista a falta de informações acerca do que venha a ser o

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei n. 8.069, sancionada em 13 de julho de 1990, que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente, surgiu, assim, a necessidade de um trabalho mais elaborado e sistemático, cuja finalidade foi esclarecer e ajudar as(os) nossas(os) usuárias(os) na compreensão dos direitos constituídos no Art. 4º do ECA: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberda-de e à convivência familiar e comunitária”. Outro objetivo desse proces-so se relaciona a compreensão sobre a efetivação do ECA, nas esferas pú-blica e privada, para contribuir no processo educativo de construção da cidadania para serem agentes transformadores da própria realidade.

Cerca de 50% do público adolescente atendido já conhecia ou tinha ouvido falar de alguma forma do ECA, porém de maneira negativa por causa do número de crimes cometidos por adolescentes do bairro e adja-cências. Dessa maneira, é de interesse da Instituição, para atender a essa demanda, trabalhar a temática sistematicamente.

Portanto, sentimos a necessidade de discutir de forma aprofundada o Estatuto da Criança e do Adolescente, trazendo para todas(os) as(os) nossas(os) usuárias(os) do Projeto, adolescentes atendidos pela Fundação Fé e Alegria João Pessoa-PB, o sentimento de empoderamento e o conhe-cimento de seus direitos, que lhes são assegurados pelo ECA, bem como instigá-los na compreensão de que é dever do Estado, da família e da so-ciedade garantir que esses direitos sejam efetivados.

No trabalho desenvolvido com as(os) adolescentes, reforçamos esse ponto citado anteriormente, de que são sujeitos de direitos e protagonis-tas na construção de sua cidadania e de sua autonomia.

O grupo de adolescentes que participou da experiência tem como ca-racterística a união. É um grupo autônomo, consciente de seus direitos e das amarras de um sistema que oprime grande parte da população socialmente injustiçada. Essas(es) adolescentes são cidadãs(ãos) que pensam em um bem comum para a comunidade local.

28 Assistente Social do Centro Educativo Inaciano de Cultura e Promoção Humana Social, João Pessoa-PB.29 Educadora do Centro Educativo Inaciano de Cultura e Promoção Humana Social, João Pessoa-PB.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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Na comunidade escolar, eles destacam-se por meio de suas reflexões e ações. Utilizam as redes sociais como ponte para expor seu senso crítico e opinar sobre a realidade do bairro onde vivem.

A temática “ECA, minha gente” foi desenvolvida nas seguintes etapas:

• Diagnóstica: consistiu em levantar dados sobre o que as(os) usuárias(os) conheciam sobre o ECA.

• Formativa: a partir dos conhecimentos prévios foi desenvolvida uma ação formativa relacionada ao objeto em estudo.

• Reflexiva: discussão de tudo que foi trabalhado durante o desenvolvimento do projeto e a apresenta-ção dos objetivos e das metas alcançados pelo grupo.

Durante o diagnóstico, foi disponibilizado para as(os) adolescentes o texto de Ruth Rocha intitulado “O direito da criança”. A leitura do texto remeteu-nos a discussões a respeito de alguns assuntos como, por exem-plo, o comportamento das(dos) adolescentes na escola e na sociedade; a criminalidade do bairro onde as(os) usuárias(os) residem, causada por adolescentes; e a redução da maioridade penal e o papel da família.

Os pontos citados acima, com base nas discussões realizadas, trouxeram a percepção de que o conhe-cimento que as(os) usuárias(os) tinham sobre o ECA era superficial e de caráter punitivo. O entendimento era baseado em uma visão distorcida do que se compreendia por direitos, levantando críticas infundadas retiradas de jornais de caráter sensacionalista apresentados no Estado.

Durante a fase diagnóstica, realizaram-se atividades com a turma: roda de conversa, dinâmicas de gru-pos, entrevistas e questionários abertos sobre o ECA. Percebemos que algumas(uns) usuárias(os) tinham uma visão punitiva do ECA, ou seja, acreditavam que toda criança ou todo adolescente que cometesse algum de-lito seria punido com base em e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Na etapa formativa, as discussões giraram em torno das demandas expostas pelas(os) usuárias(os) no que concerne aos direitos das crianças e dos adolescentes. Essa etapa consistiu na própria construção do conhecimento dos indivíduos para formação de sua autonomia; foram apresentadas à turma as finalidades dos termos: direito e cidadania. Os grupos foram instruídos a desenvolver uma análise dos artigos encon-trados no ECA.

Durante a fase reflexiva, as(os) usuárias(os) tinham liberdade para se reunirem em qualquer espaço da Instituição para refletir sobre a compreensão dos artigos em sua totalidade. Após a reflexão assegurada, as(os) usuárias(os) construíam mapas conceituais de todos os artigos estudados. O ápice desse processo culminou com a apresentação de uma palestra para todas(os) as(os) atendidas(os) pela Fundação e para membros da comunidade local, o que deu início ao processo de preparação da atividade. Elegeram-se quatro comissões: inscrições e credenciamento, recepção e abertura, equipe de apoio e palestrantes.

A culminância dessa atividade ocorreu no dia 6 de setembro de 2013 às 15 horas e contou com a par-ticipação de todas(os) as(os) usuárias(os) do Centro Educativo: colaboradores, funcionários, convidados, membros da comunidade local e adjacências. Todos os que se encontravam envolvidos nessa etapa tinham consciência de que estavam proporcionando à comunidade um momento de cidadania e de aquisição de conhecimentos básicos e indispensáveis para qualquer cidadão de nosso País.

Avanços no processo…• Conhecimentosadquiridosantesedepoisdaexperiência

O quadro comparativo abaixo aponta os conhecimentos que as(os) usuárias(os) tinham antes e depois da experiência, construídos de forma autônoma e coletiva.

Após essa abordagem, de modo coletivo e sistemático, construímos o quadro com base na síntese das entrevistas realizadas com algumas(uns) das(os) usuárias(os) que participaram da atividade intitulada: “ECA, minha gente” — O ECA apresentado sob o olhar de crianças e de adolescentes do Fé e Alegria — Regional João Pessoa.

CONHECIMENTOS ANTES DA EXPERIÊNCIA “ECA, minha gente”

CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS APÓS A EXPERIÊNCIA “ECA, minha gente”

Um documento que diz que as crianças devem respeitar os •pais.O Conselho Tutelar faz parte do ECA.•

O ECA é o número 1 no mundo, com a lei mais avançada e •também respeita as leis internacionais.Essa Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao •adolescente.

Eu já ouvi falar que o ECA é um Estatuto que ajuda crianças •e adolescentes a terem uma vida melhor e mais segura.

Ele nasceu a partir de lutas e reivindicações de movimentos •sociais como um instrumento de cidadania.

O ECA comparado a um lugar que abriga crianças em risco •social.Uma casa onde são abrigadas crianças que não têm lar nem •família.

No ECA não há só direitos, nele também há deveres.•

O ECA é um projeto.•Um documento que resolve todos os compromissos de •crianças e adolescentes.Assegura nossa segurança e nossa saúde.•

As(os) adolescentes só devem trabalhar na condição •de menores aprendizes e têm os mesmos direitos de remuneração que os adultos.

Trabalhar com crianças que fazem algo de errado ou não •têm para onde ir.O ECA como uma instituição semelhante ao Conselho •Tutelar.

O ECA é um documento que assegura os direitos da criança •e do adolescente.Crianças e adolescentes têm direito a um lar, a um nome, à •saúde, ao estudo, à segurança e à alimentação.

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• Avançosalcançadoscomos(as)educandas(os)apósaexperiênciaintitulada:”ECA,minhagente”.

Como parte do processo do desenvolvimento do eixo temático, foi proposta uma avaliação indicativa de como ocorreu o empoderamento das(os) usuárias(os) durante o processo de aprendizagem.

A assimilação e a compreensão dos direitos constituídos no Art. 4º do ECA, por parte das(os) usuárias(os), marcam novo começo: faz-se necessário fomentar a ideia de que é preciso formar e educar crianças e adoles-centes no/para o processo de construção da cidadania.

Ainda, durante o processo, foi aplicado um questionário com perguntas subjetivas para que as(os) educandas(os) falassem da própria experiência. A seguir, podemos ler a respeito a partir do relato de duas educandas que participaram dessa construção do Projeto “ECA, minha gente”.

(Eduarda Lopes, 12 anos)

… “Através do Projeto ‘ECA, minha gente’, pude expressar tudo o que aprendi sobre o ECA para outras crianças e adolescentes. Aprendi que precisamos conhecer nossos direitos e os deveres dos adul-tos para conosco. Sei que o dever da sociedade é garantir educação e professores de qualidade para mim e também garantir lazer e cultura.”

(Samara Emilly, 15 anos)

… “Através do ECA, aprendi a ser mais cidadã. Hoje, eu me sinto mais segura, pois sei que existe uma lei que me protege.”

• Participaçãodacomunidadelocal.

O Projeto “ECA, minha gente” foi apresentado para as famílias das(os) educandas(os) do Projeto e para a comunidade local: no Programa da Saúde da Família (PSF), do bairro de Mandacaru, e em uma escola muni-cipal, onde estudam alguns alunos que participaram da experiência.

Para a comunidade local, essa experiência tem sido algo novo e transformador. Ao deslocar-se da Insti-tuição, comunidades e as(os) usuárias(os) percebem-se como agentes transformadoras(es), ouvindo elogios e desabafos como, por exemplo, o de uma agente de saúde que trabalha em uma das unidades de saúde e disse que nunca tinha ouvido falar do Estatuto da Criança e do Adolescente, e também o de uma moradora local que afirmou: “Jamais poderia imaginar que o ECA seria uma lei tão bem elaborada”.

A comunidade local tem se mobilizado para participar desse momento, com nossas(os) usuárias(os), para conhecer o ECA e, assim, contribuir no processo de construção da cidadania das(dos) adolescentes da comunidade no entorno.

• Participaçãodosfamiliaresduranteaexecuçãodaexperiência.

A participação e a adesão dos familiares no processo de desenvolvimento de nossas ações têm nos dado uma visão de que é aceitável fazer diferente, como também é possível realizar e construir um sentimen-to em que todos os envolvidos nas ações são corresponsáveis pela execução dessas propostas.

Não basta só uma pessoa construir, porém a importância de um grupo determinado em um local esta-belecido e unido faz a diferença. Por isso, essa atividade também foi apresentada às famílias como processo formativo acerca dos direitos das crianças e dos adolescentes. A nossa intenção é que as ações ultrapassem os muros do Projeto e cheguem até as casas, como reflexos de uma intervenção que promova uma verdadeira transformação social.

Avaliação das(os) educandas(os) participantes da atividadePor meio dos depoimentos coletados após as atividades, avaliamos positivamente os resultados alcan-

çados. Muitos demonstraram a alegria em receber informações sobre o ECA que antes eram totalmente des-conhecidas, conforme podemos ler a seguir:

(João Victor, 14 anos)

... “Fiquei muito feliz ao conhecer o ECA e ficar sabendo que tenho direitos e deveres e que tem um documento que me apoia. Essa experiência foi muito boa, espero que todas(os) as(os) adolescentes, assim como eu, possam passar por ela também.”

• Avaliaçãodas(os)educadoras(es)envolvidas(os)naexperiência.

Avaliamos a atividade como válida e significativa, pois envolveu não só as(os) educandas(os), mas tam-bém todo o corpo técnico e pedagógico da Instituição. Envolveu também as famílias e a comunidade local, possibilitando, assim, a participação e a colaboração de todos, além de ter havido um excelente desempenho das(os) educandas(os) durante o desenvolvimento da atividade.

A experiência nos remeteu, como Instituição que somos, a um olhar diferenciado em relação à capaci-dade das(os) educandas(os). Houve uma mudança notável no comportamento das(os) usuárias(os). A partici-pação das(os) educadoras(es) está sendo mais efetiva em garantir o envolvimento das(os) educandas(os) e fo-mentar a ideia do protagonismo infantojuvenil na Instituição.

Percebemos nitidamente essa fomentação também nos espaços das escolas onde estudam as(os) nossas(os) usuárias(os), quando observamos que elas(es) estão mais participativas(os) nas atividades desenvol-vidas nesses espaços.

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Para o futuro, esperamos ter um grupo de adolescentes protagonistas de suas ações e bastante partici-pativos na comunidade local, e que esse grupo traga para o diálogo outras(os) adolescentes da comunidade e que fomente a ideia de que os direitos das crianças e dos adolescentes precisam ser efetivados, como pro-cesso de construção de sua própria cidadania e autonomia.

Precisamos construir uma cultura que prepare a juventude para a reflexão e a participação em comuni-dade, no empenho por ações no que se refere à qualidade de vida de crianças e de adolescentes. Assim, esse fator é, portanto, o que norteia a matriz inspiradora e geradora de nossa ação, sensibilizando as(os) nossas(os) usuárias(os), crianças e adolescentes, atendidos pela Fundação Fé e Alegria João Pessoa-PB. O sentimento de empoderamento e o conhecimento de seus direitos, que são assegurados pelo ECA, são deveres do Estado, da família e da sociedade civil.

A nossa proposta é fazer com que a(o) educanda(o) de Fé e Alegria João Pessoa-PB possa descobrir pro-gressivamente a solidariedade e o respeito para com o outro, favorecendo um espaço de descoberta gradual de si mesmo, ampliando seu acesso à informação, à cultura, onde seus saberes são valorizados como forma de promover seu crescimento pessoal de maneira prazerosa e como processo da descoberta de sua autonomia.

Desafios e oportunidades…Precisamos construir um espaço na comunidade local, ou seja, uma ponte que viabilize a discussão na

área de direitos humanos, concernente aos direitos de crianças e adolescentes, compreendendo como proces-so sistemático de afirmação de valores as descobertas potenciais dessas(es) usuárias(os) atendidas(os) na Ins-tituição.

Outro passo importante é fomentar para nossas(os) adolescentes uma formação continuada, na/para a construção de uma consciência cidadã, capaz de manifestar um nível de desenvolvimento cognitivo e político.

É preciso aplicar metodologias participativas de construção coletiva, buscando materiais que contextua-lizem a realidade local em que vivem.

Fomentar em cada usuária(o) o direito de ser pessoa, uma vez que muitos direitos são constantemente violados.

Ampliar a discussão sobre a Educação, por ser compreendida como um direito em si mesmo e um meio indispensável para o acesso a outros direitos. Dessa maneira, a Educação ganha, portanto, mais importância quando direcionada ao pleno desenvolvimento humano e às suas potencialidades, valorizando o respeito aos grupos socialmente excluídos.

A Educação pautada aqui é a que visa efetivar a cidadania plena para a construção de conhecimentos, desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos. Enfim, esses são passos importantes para construir uma sociedade mais igualitária com a participação infantojuvenil da comunidade local.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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gestão democrática e participativa: empoderamento de educandas(os), famílias e membros da comunidade

Juventude participa! Um olhar reflexivo sobre a

motivação e a criação do Conselho de Juventude MARACAPU na

Fundação Fé e Alegria do Brasilcentro de deSenvolviMento coMunitário

vAzAnteS, ArAcoiAbA-ce

Wládia Maria Carneiro Rodrigues30

Elisângela Lino Figueiredo31

Contexto e trajetória...O Centro de Desenvolvimento Comunitário Vazantes — CEDEC es-

tabelece uma nova fase em sua linha de atuação ao criar o Conselho de Juventude como estratégia de gestão, promovendo a participação das(dos) jovens da comunidade, enquanto instância de deliberação sobre os assun-tos do Centro.

A iniciativa surge com base no entendimento do movimento de Fé e Alegria sobre a importância do empoderamento das(os) usuárias(os) como instrumento de articulação das atividades do projeto “Conviver em Intera-ção”, constituindo-se como estratégia de sustentabilidade, com vistas a proporcionar a autonomia, a formação em cidadania e a transformação da realidade de cada jovem e suas famílias.

Assim, cabe à equipe técnica de Fé e Alegria Vazantes desenvolver ações de fortalecimento do Conselho, a fim de que este seja uma realidade e não apenas formalidade, construindo sua legitimidade a cada dia, na busca da qualidade dos serviços, no enfrentamento da questão social e na luta pela implementação de políticas públicas.

A sistematização de Vazantes foi dividida em três etapas: coleta de da-dos, análise das informações e construção do relatório final. Apesar dessa divisão, as ações são desenvolvidas em um processo contínuo de construção.

A primeira etapa diz respeito à coleta de dados. Estes foram obtidos por meio de diversas fontes, como: a) fontes orais: entrevistas individuais e em grupo, rodas de conversa; b) fontes escritas: análise de instrumentais de acompanhamento, registros e atas; c) fontes iconográficas: fotos e redes sociais; e d) observação participante.

30 Coordenadora Pedagógica do Centro de Desenvolvimento Comunitário Vazantes, Aracoiaba-CE.31 Assistente Social do Centro de Desenvolvimento Comunitário Vazantes, Aracoiaba-CE.

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A segunda etapa concerne à análise qualitativa, a partir da organização e da interpretação das informa-ções, dos valores, dos sentimentos e dos saberes construídos na prática, buscando a compreensão teórica da experiên cia que suscita a prática.

A terceira etapa refere-se à elaboração do relatório final, desde o planejamento, a sensibilização das(dos) jovens até o momento de primeira formação das(os) conselheiras(os). O objetivo é dar publicidade aos resul-tados, às aprendizagens e aos novos saberes construídos.

A criação do conselho em alusão tem como eixo temático a gestão democrática e participativa do Cen-tro de Desenvolvimento Comunitário Vazantes, constituindo-se, portanto, em estratégia de estreitamento de vínculos entre a Instituição e as(os) usuárias(os) estimulando o envolvimento destes nas atividades propostas, o protagonismo juvenil, por meio do empoderamento da juventude, da participação nas decisões e da elabo-ração de atividades para a juventude, do desenvolvimento da cidadania, além de possibilitar maior sociabili-dade, desenvoltura, senso de compromisso, lutando pela garantia e defesa dos direitos da criança e do ado-lescente, por meio do acesso a serviços e informações antes desconhecidos, promovendo, desse modo, a autonomia das(os) jovens.

A construção de uma gestão democrática e participativa não é uma tarefa fácil. Envolve mudança de paradigma, um convite para a reflexão, algo que não é comum no Brasil. O movimento de Fé e Alegria vem na contramão desse modelo de relações, pois prioriza a gestão democrática participativa e colaborativa, sen-do impossível conceber uma forma de gestão centralizada.

O caminho para a construção do Conselho de Juventude do CEDEC Vazantes não foi diferente. A difi-culdade não esteve presente na sensibilização da equipe do Centro em relação à importância e à necessidade de se ter uma instância deliberativa no interior da unidade, um planejamento coletivo ou sobre a horizontali-dade das relações, mas sim na mobilização das(os) jovens na comunidade.

A fase de sensibilização foi considerada pela equipe a mais árdua. Semanas foram dedicadas à mobili-zação: realizaram-se diversas visitas às escolas, sala a sala, convocando cada adolescente e jovem para rodas de conversa a fim de debater o tema, formar chapas de eleição e organizar o pleito eleitoral; no entanto, as ações realizadas não lograram êxito. As reuniões eram desertas, os jovens não demonstravam interesse em formar um Conselho nem construir uma vida participativa, de organização comunitária.

Nesse ínterim, sentimentos de preocupação e desânimo foram surgindo na equipe. Questionamentos foram feitos. Em meio a tantas incertezas, a equipe decidiu parar, refletir e debater com todos os colaborado-res sobre a dificuldade de estimular a participação das(os) jovens na realidade do CEDEC e da comunidade.

Desse modo, realizou-se roda de conversa entre os colaboradores que, a partir da técnica: tempestade de ideias, foram pensando em estratégias até chegar ao entendimento de que se percorria o caminho certo e precisava perseverar. Compreendeu que o efetivo exercício da democracia participativa não é uma constante na realidade brasileira e por isso sua implantação não se daria de forma mansa e pacífica, sem que as pessoas a olhassem com desconfiança e indiferença.

Foi necessário mudar de estratégia; em vez de sensibilização massiva, nas escolas e nas oficinas do CEDEC, a mobilização foi realizada de forma mais individualizada, com as(os) jovens mais assíduos do Centro, em que cada um que foi contatado estimularia e convidaria mais uma pessoa para participar das rodas de conversa e do processo eleitoral.

A resposta foi imediata e alguns jovens participaram da reunião de mobilização, cuja proposta era apre-sentar o tema protagonismo juvenil e a importância e a necessidade de se criar um conselho de jovens no CEDEC. Cerca de 80% das(os) jovens presentes aceitaram o desafio de formar um conselho de jovens.

Nesse entretempo, as chapas comprometeram-se em se reunir para elaborar suas propostas, discutir as prioridades que deveriam ser implantadas no Centro, apresentá-las aos eleitores e elaborar cartazes expositi-vos para que todas(os) as(os) usuárias(os) tivessem acesso ao que cada chapa pleiteava.

O processo eleitoral aconteceu na mesma semana. As duas chapas realizaram um pleito exemplar, de-mocrático, com divulgação do processo eletivo nas escolas e no CEDEC, das propostas de cada grupo e da captação de eleitores, sempre de forma respeitosa e ética.

O passo seguinte foi o de formação dos novos conselheiros que tinha como tema “Formação para Con-selho da Juventude: democratização e construção da cidadania”. Esta foi preparada com recursos lúdicos e atrativos, como exposição de vídeos, músicas e dinâmica motivacional. Os conselheiros demonstraram entu-siasmo de fazer acontecer e de contribuir para a melhoria do Centro e de sua realidade, não se assemelhando em nada com a apatia inicial da fase de sensibilização.

Avanços no processo…A experiência em apreço é bastante recente no Centro de Desenvolvimento Comunitário. Desse modo,

ainda não é possível dissertar sobre os resultados dos impactos e das transformações causados por ela. No entanto, é possível observar o êxito da experiência no depoimento das(os) adolescentes envolvidas(os) no processo eleitoral, das(os) educadoras(es) e das(os) votantes.

Destarte, é possível afirmar que a interação entre as(os) jovens conselheiras(os) e o Centro aumentou. É notável o entusiasmo e a motivação que as(os) jovens demonstram a cada reunião, evento ou formação que participam. Espontaneamente, os conselheiros interpelam os colaboradores da unidade para compartilhar ideias, sugestões, solicitar reuniões... Esse fato tem renovado o ânimo da equipe e tem demonstrado também que a gestão participativa e colaborativa é possível, construtiva e benéfica para todos os envolvidos.

No primeiro momento, ante as dificuldades, a equipe técnica precisou rever as ações, analisar os passos percorridos e eleger novas estratégias de ação. No segundo momento, uma nova reunião foi feita, dessa vez com todos os colaboradores, para avaliar os resultados parciais alcançados e pensar como seria o processo eleitoral. Por fim, no terceiro momento, avaliou-se o caminho percorrido até o final da mobilização das(os) jo-vens, a eleição do Conselho e a formação das(os) conselheiras(os).

As avaliações foram realizadas por meio de mapeamento das ações realizadas, a fim de identificar as fragilidades e as fortalezas, debater cada um desses aspectos, em um primeiro momento, com a equipe de mobilização, em seguida, com a equipe de colaboradoras(es) e, por fim, com todas(os) as(os) envolvidas(os) no processo, inclusive as(os) jovens.

A eleição do Conselho de Juventude representa grande avanço na caminhada para se construir uma gestão participativa e colaborativa da unidade em Vazantes. É a primeira experiência do CEDEC e, por isso, traz grandes desafios, mas também muitas aprendizagens e motivação. Em consequência disso, mais Conse-lhos deverão ser criados, quais sejam, o Conselho de Educadores e o Conselho de Famílias. Sem dúvida algu-ma, a experiência em apreço facilitará a formação dos demais e preparará a equipe para enfrentar os novos desafios de forma mais madura e eficaz.

Embora recente, a experiência proporcionou aos colaboradores do Centro a formação do entendimen-to de que a presença de instâncias deliberativas na gestão fomentará ações que proporcionarão aos envolvi-dos o abandono do polo passivo das relações para tornarem-se atores da própria história, verdadeiros agentes de transformação e empoderamento social.

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Além disso, demonstrou que é possível construir uma gestão democrática e participativa; que é neces-sário estar aberto para críticas e sugestões; que é preciso saber ouvir, compartilhar; que o caminho para o aperfeiçoamento dos serviços deve ser uma “mão dupla”, dialético; e que a melhor forma de atingir essa as-piração é associar-se às(aos) usuárias(os), afinal, são elas(eles) a razão de existência da Instituição.

Desse modo, o grande destaque da experiência é o início da (des)construção de paradigmas e da formação de uma nova cultura e entendimento de que somente com autonomia e participação poderá ocor-rer o fortalecimento dos indivíduos e a possibilidade de se lutar pela defesa e pela garantia dos direitos da juventude vazantense, formando, desse modo, agentes de mudanças, protagonistas de sua própria história e desenvolvimento.

Desafios e oportunidades…Por fim, resta refletir sobre os desafios que serão enfrentados na continuidade do trabalho. No caso

apresentado, a grande dificuldade foi a mobilização das(os) jovens para despertarem para a vida participativa, de luta por direitos e envolvimento com os assuntos da comunidade.

Seria ingenuidade pensar que esse é um problema exclusivo da juventude. Embora o CEDEC conte com a participação de diversos membros da comunidade em suas atividades, é perceptível a dificuldade de mobi-lizar a população para atividades extras, campanhas e formações. Grande é a probabilidade de essa situação se tornar recorrente nas mobilizações para a formação dos Conselhos de famílias, educadores e gestor.

Assim, cabe aos colaboradores intensificar ações em seu cotidiano que discutam temas como democra-cia participativa, autonomia, organização e transformação societária. É sabido que este é um longo e árduo caminho, pois são anos de cultura de alienação, ausência de reflexões críticas e inércia no tocante às lutas pela garantia de direitos.

Eis, portanto, uma tarefa grandiosa e ousada. Propor transformações internas, sociais, a fim de contri-buir para a autonomia e a emancipação da comunidade de Vazantes e, assim, lutar por uma sociedade mais justa e igualitária.

Conselho de educandas(os): construindo a autonomia e o

protagonismo juvenilcentro SociAl de educAção e culturA

São luiz gonzAgA, MonteS clAroS-Mg

Fernanda Ariele da Silva32

Ana Paula de Jesus33

Contexto e trajetória...O “Conselho de Educandas(os): construindo a autonomia e o prota-

gonismo juvenil” surgiu em 2012, a partir do Projeto Qualidade da Educação, financiado por Inditex/AECID. No Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga, o Conselho foi implementado em 2013, com o objetivo prin-cipal de ampliar a participação das(os) educandas(os) nos processos reali-zados dentro e fora do Centro Educativo.

O Conselho é compreendido como um espaço de discussões coleti-vas para oferecer às(aos) educandas(os) a oportunidade de participação e exposição de ideias e pensamentos acerca dos processos realizados no Centro Educativo, por meio de atividades, discussões, deliberações e acompanhamento das ações desenvolvidas.

Essa prática tem contribuído para a formação da cidadania e da conscientização das(os) educandas(os) quanto à importância da participa-ção e ao envolvimento destas(es) na construção da autonomia, do protago-nismo juvenil, bem como na colaboração para a prática da gestão partici-pativa e para a construção de ações coletivas.

Diante da situação descrita acima, foi criado o Conselho de Educandas(os) em 2013, com o objetivo de contribuir para a formação ci-dadã, a construção do protagonismo e o empoderamento das(os) edu-candas(os) envolvidas(os), a partir de atividades, discussões relevantes e acompanhamento das ações desenvolvidas.

O Conselho de Educandas(os) apresenta como meta a promoção de encontros quinzenais, momentos em que são trabalhados eixos temáticos que estimulam o protagonismo juvenil e a autonomia de 5% das(os) educandas(os) das oficinas socioassistenciais, e que estas(es) consigam in-tervir na realidade social, cultural, ambiental e política da qual são parte integrante. O Conselho intitulado “Conselho de Educandas(os): construin-do a autonomia e o protagonismo juvenil” desenvolve atividades, direcio-nadas às(aos) educandas(os), que contribuem na formação da cidadania,

32 Assessora Pedagógica do Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga, Montes Claros-MG.33 Diretora Pedagógica do Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga, Montes Claros-MG.

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para fortalecer os vínculos comunitários e para ampliar a participação destas(es) nos processos do Centro Edu-cativo.

A Proposta Educativa de Fé e Alegria do Brasil (2009) cita que a qualidade é “um processo dinâmico, participativo e democrático que se constrói nas interações das ações cotidianas à medida que todos se reco-nhecem como sujeitos e com direito à voz”. É nesse sentido, em um processo dinâmico, participativo e demo-crático, que o Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga trabalha para o alcance da qualidade da Educação, proporcionando atividades que contribuem para a ampliação e o fortalecimento da participação das(os) educandas(os) nos processos do Centro Educativo.

A ideia de criação do Conselho de Educandas(os) surgiu, em 2012, com o Encontro Nacional de Forma-ção de Educadoras(es) — Melhora da Qualidade Educativa para a inserção de populações vulneráveis na América Latina, realizado pela Sede Nacional de Fé e Alegria do Brasil e financiado por Inditex/AECID.

A sua implantação no Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga iniciou-se com a formação das(os) educadoras(es), realizada entre os meses de junho a dezembro de 2012. Simultaneamente a essa ação, foram realizadas formações com as(os) educandas(os), ou seja, as(os) educadoras(es) participaram das forma-ções, tornaram-se multiplicadores(as) e repassaram as temáticas para as(os) educandas(os). Foram trabalhados temas relacionados à participação ativa, ao protagonismo, à autonomia e ao empoderamento.

A realização de formações em cascata possibilitou ao grupo de educandas(os) e educadoras(es) a aquisi-ção de maiores conhecimentos acerca de gestão participativa. Com isso, a ideia do Conselho foi amadurecida.

Em 2013, o Conselho de Educandas(os) foi formado, apresentando como principal intuito a construção da autonomia e do protagonismo juvenil, daí a justificativa do nome.

O Conselho funciona por meio de encontros quinzenais realizados em espaços do Centro Educativo. Esses encontros são planejados com base na avaliação do encontro anterior feita pelas(os) educadoras(es) e

assessora pedagógica. Durante a realização de cada encontro, as(os) educadoras(es) fazem o registro das dis-

cussões, das opiniões e das avaliações das(os) educandas(os) sobre as temáticas desenvolvidas e da dinâmica

utilizada em uma ficha para ser analisada na reunião de preparação dos encontros seguintes.

A implementação do Conselho de Educandas(os) colaborou para que educandas(os) sejam atores da

sua própria história, consigam transformar a realidade ao qual estão inseridas(os) e sejam cidadãs(ãos) cons-

cientes de seus direitos e deveres.

Nota-se, a partir dos avanços comportamentais e dos depoimentos coletados, que essa prática tem

contribuído para a formação da cidadania e para a conscientização das(os) educandas(os) quanto à importân-

cia da participação e ao envolvimento destas(es) na construção da autonomia e do protagonismo juvenil.

Avanços no processo…A) Apropriação do processo de ensino-aprendizagem e ampliação da participação por parte das(os)

educandas(os): Os encontros realizados sobre cidadania, democracia, empoderamento e participação

contribuíram para a melhoria na assimilação dos processos educativos por parte das(os) educandas(os),

pois elas(es) compreenderam que para exercitar a cidadania é preciso saber dialogar, debater, discordar

e protestar com firmeza, mas sempre com muito respeito.

Dessa forma, houve avanços significativos na participação das(os) educandas(os) dentro das atividades

oferecidas, o que consequentemente elevou o nível de compreensão e apropriação do processo ensi-

no-aprendizagem por parte das(os) educandas(os).

O número de educandas(os) que se sentiam inibidas(os) para falar e se apresentar, assim como aquelas(es)

que tinham dificuldades para questionar ou procurar realizar ações simples de seu cotidiano, aumentou

consideravelmente, reflexo que pode ser compreendido no número de participantes que direcionavam

as discussões e que se envolviam nas ações externas ao Centro.

O avanço na participação das(os) educandas(os) colaborou para que educadoras(es) se sentissem mais

motivadas(os) a desenvolverem as atividades, pois elas(es) demonstraram maior interesse e dedicação

ao realizar o que estava sendo proposto.

B) Fortalecimento do diálogo entre as(os) educandas(os) e Fé e Alegria: As atividades desenvolvidas fortale-

ceram o diálogo entre educandas(os), educadoras(es) e demais funcionárias(os) de Fé e Alegria, pois pos-

sibilitaram a vivência de experiências que estimularam a convivência em grupo e auxiliaram na administra-

ção de conflitos por meio do diálogo, favorecendo a partilha de outros modos de pensar, agir e atuar.

Essa prática contribuiu para assegurar espaços de referência para o convívio em grupo, comunitário e

social, promovendo o desenvolvimento de relações de afetividade, solidariedade e respeito mútuo

dentro do Centro Educativo.

C) Promoção de momentos de conhecimento, convivência, partilha e troca de experiências: São oferecidos

às(aos) educandas(os) momentos nos quais estas(es) têm a oportunidade de partilhar e trocar experiên-

cias. Esses momentos são realizados nas oficinas e estimulam o desenvolvimento das potencialidades,

habilidades e talentos, propiciam a formação cidadã e colaboram para a valorização dos conhecimentos

prévios e das vivências das(os) educandas(os).

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Além disso, nesses momentos as(os) educadoras(es) observam as falas e os relatos das(os) educandas(os), o que contribui para o reconhecimento da realidade e dos sentimentos trazidos por elas(es) e, quando necessário, realizam intervenções pertinentes.

Uma das estratégias é a proposição das(os) educadoras(es) no questionamento da posição das(os) educandas(os) quanto a determinada situação que presenciaram, solicitando deles quais seriam as pos-síveis soluções para o problema que se apresenta. Essa atividade serve como um estímulo ao pensa-mento coletivo, em que cada uma(um) contribui com suas ideias para se chegar a um denominador comum para o fato.

D) Promoção de um clima fraterno em que predomina o respeito às diferenças e os limites de cada uma(um): A relação entre as(os) educandas(os) apresentou avanço significativo. O quadro de inibição e falta de estímulo que alguns apresentavam foi modificado a partir da demonstração de atitudes de participação e de respeito às diferenças e aos limites das(os) outras(os). A quebra da barreira da timidez e da falta de iniciativa contribui para que a convivência seja sempre pautada na afetividade, na fraternidade e na solidariedade em oposição ao individualismo e ao egocentrismo.

A avaliação é realizada durante o desenvolvimento de cada encontro, no qual as(os) educadoras(es) re-gistram por escrito as discussões, as opiniões e as avaliações das(os) educandas(os) sobre as temáticas desen-volvidas, bem como a dinâmica utilizada. Em seguida, com base no levantamento das fortalezas, das fraque-zas, das considerações e das sugestões das(os) educandas(os) referente ao que deve ser trabalhado, a equipe de educadoras(es) avalia os avanços e as dificuldades encontradas, procuram soluções coletivas e, em segui-da, determinam as temáticas a serem abordadas nos próximos encontros.

As(os) educandas(os) avaliam os encontros e as decisões sempre ao final de cada ação. Em seguida, são provocadas(os) a refletir sobre o trabalho desenvolvido; posteriormente, descrevem ou relatam os pontos for-tes, os pontos a melhorar e as sugestões para os próximos encontros. Essa avaliação sempre é realizada com a orientação e o acompanhamento da educadora e/ou educador responsável pelo grupo e, geralmente, é coletada por meio de um registro escrito ou oral.

Nesse processo, foi possível perceber que a implementação do Conselho de Educandas(os) contribuiu para um avanço significativo em relação à qualidade das atividades oferecidas no Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga, pois este colaborou para a obtenção de bons resultados nos processos realizados, sobretudo, a intensificação da participação e do empoderamento das(os) educandas(os) nas atividades do Centro Educativo, o que contribuiu para o desenvolvimento da gestão participativa e para a construção de ações coletivas e coerentes com a demanda.

O Conselho de Educandas(os) também colaborou para o estreitamento do diálogo e da relação entre educandas(os), educadoras(es) e demais funcionárias(os) de Fé e Alegria, o fortalecimento da autonomia e do empoderamento das(os) educandas(os), a ampliação do conhecimento relacionado à democracia, à cidadania, aos direitos e à justiça social, a conscientização das(os) educandas(os) quanto à importância da participação e do envolvimento em atividades que corroboram para a construção do protagonismo.

Essa prática também tem cooperado para que as(os) educandas(os) aprendam a conviver com justiça, respeito e solidariedade; pratiquem a participação democrática efetiva; e conheçam lições a respeito da res-ponsabilidade com os deveres e da luta pelos direitos, entre alguns outros pontos.

Outro ponto relevante é a participação das(os) educandas(os) em atividades de mobilizações realizadas em prol da luta pela garantia de direitos. As(os) educandas(os) participam ativamente, tanto do planejamento

como da execução, de atividades e eventos de mobilizações, como, por exemplo, grito dos excluídos, Sema-na de Ação Mundial — SAM, Semana de enfrentamento à violência sexual infantojuvenil, fóruns e seminários sobre os direitos das crianças e dos adolescentes.

Percebe-se que a participação das(os) educandas(os) nesses espaços tem contribuído para sensibilizá-las(os) diante dos desafios da realidade social, cultural e política do meio em que vivem, criando a oportunida-de de acesso a direitos, estimulando práticas associativas e contribuindo para que possam expressar seus in-teresses, seus posicionamentos e suas visões de mundo.

Desafios e oportunidades…Alguns desafios foram identificados durante a implantação e o desenvolvimento do trabalho, entre eles

destacamos:

A apropriação do empoderamento por parte das(os) educandas(os) no início da implantação do Conselho.•

A rotatividade frequente das(os) educandas(os), o que compromete a qualidade e a eficácia dos processos.•

O caminho não foi fácil e ainda hoje existem circunstâncias especiais que tornam difícil o processo. Ape-sar de tudo isso, muito tem sido feito e é possível afirmar que as conquistas alcançadas com a implementação do Conselho de Educandas(os) só têm colaborado para a consolidação de um clima mais fraterno, solidário e justo entre educandas(os) e funcionárias(os) do Centro Social de Educação e Cultura São Luiz Gonzaga — Fé e Alegria Montes Claros-MG, o que, consequentemente, reflete de forma positiva na melhoria da qualidade da Educação oferecida.

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Participação com mais Fé e mais Alegria em Santa Luzia

centro SociAl de educAção e culturA Fé e AlegriA novA conquiStA, SAntA luziA-Mg

Daniele Correa34

Fernando da Costa Ramos35

Lorena Loiola Reis36

Simone Nara Parreiras37

Wanderlay Balsamão38

Contexto e trajetória...Fé e Alegria Santa Luzia começou suas atividades no ano de 2007.

Equipe nova, pouco conhecimento da proposta de Fé e Alegria e de pro-postas de participação. Com o tempo as(os) educadoras(es) foram desejan-do “ser mais Fé e mais Alegria” e aprofundar nos conhecimentos da Edu-cação Popular. Como desenvolver processos de maior participação e autonomia? Como fortalecer a formação de uma equipe inexperiente e com baixa formação?

A Equipe de Gestão da unidade sentia-se pressionada em propor a metodologia da Educação Popular à Equipe de Educadoras(es).

A Proposta Educativa de Fé e Alegria Brasil em 2010 apoiou o de-senvolvimento de planos de formação continuada que geraram impactos mais satisfatórios para o Centro Educativo. Apesar do avanço, outras in-quietações foram surgindo: “Como efetivar a proposta de Educação Popu-lar na comunidade onde estávamos?”, “Como proporcionar uma participa-ção mais efetiva das pessoas no desenvolvimento dos projetos?” e “Como se faz uma gestão mais participativa?”.

Identificado o desafio, precisávamos elaborar intervenções que nos possibilitassem promover maior identificação das(os) educadoras(es) com a identidade e a proposta educativa de Fé e Alegria.

Entre os anos de 2011 e 2012 aprofundamos os estudos sobre a Proposta Educativa de Fé e Alegria e começamos a perceber uma qualida-de maior nos planejamentos cada vez mais participativos e nas atividades desenvolvidas com o público atendido.

34 Coordenadora Pedagógica do Regional Santa Luzia e de Belo Horizonte-MG.35 Assessor de Projetos do Fé e Alegria do Centro Social de Educação e Cultura Fé a Alegria Nova Conquista, Santa Luzia-MG.36 Assistente Social do Fé e Alegria do Centro Social de Educação e Cultura Fé a Alegria Nova Conquista, Santa Luzia-MG.37 Auxiliar Pedagógico do Fé e Alegria do Centro Social de Educação e Cultura Fé a Alegria Nova Con-quista, Santa Luzia-MG.38 Coordenador do Regional Santa Luzia e de Belo Horizonte-MG.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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Com maior entendimento sobre a Proposta de Gestão Participativa, percebemos a necessidade de en-

volver as(os) educandas(os) de modo mais efetivo na unidade. Assim, em julho de 2013, a Equipe de Coorde-

nação da unidade pensou em uma estratégia que tivesse como palavra-chave a “participação” e que permi-

tisse que as(os) educandas(os) se sentissem parte da solução dos problemas.

Era o momento de criar um instrumento de escuta e dentro de uma instância de participação coletiva nas

ações, para que, além da palavra “participação”, incluíssemos a palavra “escuta” no vocabulário da unidade.

Entre as linhas de melhoria, a experiência aqui relatada relaciona-se à formação de educandas(os) e fa-

miliares em temáticas de cidadania.

Em educação, Paulo Freire cunhou o termo “politicidade” para designar que aí se trava o confronto substan-

cialmente político entre incluídos e excluídos, não se restringindo a disputa a coisas materiais, mas implicando

principalmente a habilidade de conduzir com autonomia seu próprio destino. “Enquanto o oprimido esperar

sua libertação do opressor, não será construtor e gestor da sua própria vida, já que oprimido não é apenas

quem não tem bem materiais, é principalmente quem não é capaz de se governar.” (DEMO, 2006, p. 27).

A citação acima de Pedro Demo toca no ponto central de nossos anseios: a participação, a formação do

indivíduo para que ele possa se perceber como agente transformador e parte do processo de transformação.

Participar é uma ação política que deve ser exercida conscientemente. Ter essa informação é caminhar para

uma formação cidadã que coloca a pessoa no centro das decisões, e não à margem delas.

No momento em que as(os) educandas(os) resistem em participar, elas(es) demonstram que ainda não

se apoderaram da cidadania, que não é concessão, mas sim direito.

Nossa unidade precisava dar um passo na direção de uma proposta de intervenção que possibilitasse

momentos de diálogo. Isso significava caminhar para um nível maior de participação e também de responsa-

bilização pela manutenção e pelo cuidado com o bem comum e os interesses menos pessoais e mais coletivos.

Proposta que culmina com fortalecimentos de vínculos pessoais e sociais.

Em julho de 2013, percebemos um resultado de maior discussão e ambientação nos temas ligados à

cidadania, ao diálogo e aos direitos. Um passo importante de formação para avançar em um processo mais

ousado. Uma vez fortalecidas as bases de Educação e Formação para a Cidadania, o próximo passo era pensar

em uma ação que conseguisse envolver as(os) educandas(os) no processo de participação. Para tanto, preci-

sávamos construir registros válidos e mensuráveis, uma avaliação participativa junto às(aos) educandas(os) que

viesse atender à demanda de construção participativa e gerar um empoderamento que fortalecesse a forma-

ção de sujeitos críticos, ativos e participativos.

Para valorizar a experiência participativa no cotidiano do Centro Social e garantir a vinculação entre o

processo educativo, o trabalho desempenhado e as práticas socioassistenciais, elaboramos um formulário

semiestruturado para ouvir um grupo de educandas(os) de todas as idades.

Realizamos dias de entrevistas, nos turnos da manhã e da tarde. Com as(os) adolescentes, foi utilizado

um roteiro de perguntas. Com as crianças menores, a atividade proposta envolvia um desenho e uma produ-

ção textual em que as(os) educandas(os) registravam o que elas(es) gostavam e não gostavam no Centro

Educativo. Foi a primeira experiência de grande escuta institucional feita com registros o que gerou grande

expectativa de mudança nos seis anos de trabalho da unidade.

Os registros foram digitados e relidos às(aos) educandas(os) o que gerou um símbolo de dignidade e

respeito pelas produções. Após o término das reuniões, todos os participantes assinaram uma ata validando

as informações ali repassadas na ata.

Por meio das observações e das sugestões feitas pelas(os) educandas(os) nas atividades, foi possível ana-lisar situações, propor encaminhamentos e agir em conjunto sobre algumas situações-problemas da unidade.

A Equipe de Educadoras(es) foi parte importante desse processo, desde o processo formativo desen-volvido por meio da Formação para a Cidadania até as discussões sobre os Direitos da Criança e do Adoles-cente e também pela maneira como estavam conduzindo a execução das atividades formativas, educativas e recreativas junto às(aos) educandas(os).

Garantir o desenvolvimento de todas as propostas foi um grande desafio, tendo em vista que tivemos dois momentos de rotatividades de educadoras(es). Em fevereiro e agosto, educadoras(es) altamente envolvidas(os) no Projeto 2013 pediram desligamento de seus cargos por terem conseguido trabalhos com salários mais atrativos ou por terem uma carga horária mais reduzida.

A cada mudança de educadora(educador), precisávamos fortalecer a equipe e o novo membro da equi-pe do percurso que já havia sido feito. Tarefa impossível de se realizar com total qualidade.

Foi feito um trabalho de motivação com as(os) educadoras(es) para que elas(es) realizassem a primeira conversa com o grupo de educandas(os) para explicar a importância da participação coletiva e individual na atividade proposta.

Os registros escritos e a escuta realizada foram elementos norteadores que poderão ajudar nos avanços de futuras melhorias.

Acredita-se que o momento de escuta das(os) educandas(os), a aproximação delas(es) da equipe de coordenação, a contribuição nas consultas para as decisões, a avaliação de melhoria dos métodos utilizados nas oficinas e a avaliação dos interesses quanto à aplicabilidade das atividades nas oficinas possam ser um dos fatores primordiais para a mudança dessa mentalidade.

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A contribuição dessas(es) educandas(os) no processo de avaliação de algumas práticas educativas e de

gestão da unidade faz com que a Equipe de Coordenação esteja atenta às reais necessidades; esse processo

colabora para a funcionalidade do Centro Social.

Avanços no processo…Maior envolvimento das(os) educandas(os) no processo de decisões do Centro Social de Educação e •

Cultura Nova Conquista.

Maior autonomia das(os) educandas(os) no desenvolvimento de ações ligadas aos cuidados básicos •

como alimentação, uso dos banheiros e do bebedouro.

Empoderamento e responsabilização pelo zelo e pelo cuidado com o espaço educativo. •

Melhoria da estima e da autoconfiança das(os) educandas(os). •

A experiência tem sido positiva. Todas as pessoas que vão ao Centro Educativo têm notado que há mais

diálogo entre as(os) educandas(os) e a Equipe de Coordenação.

Daniele Correa, coordenadora pedagógica, relata: “Percebemos que o processo foi muito verdadeiro.

O que foi escrito, desenhado e falado obteve uma resposta e causou comoção em todas(os). Tenho a certeza

de que tudo o que foi dito nas formações e nas atividades não eram palavras mortas”.

Fernando Ramos, assessor de projetos, complementa: “Mediante a escuta das(os) educandas(os), das

famílias e da comunidade, foi possível perceber o quanto ter voz e sentir-se parte é algo muitas vezes novo e

encantador para esses sujeitos detentores de direitos. Atuar com o viés de empoderar, construir com e não

para eles, vem transformando o modo de ver e ser a realidade que os cercam e vem promovendo neles o

desejo de mudar a realidade por vezes vulnerável que vivem”.

Destacamos algumas ações fundamentais para o êxito dessa proposta como: desenvolver planos de

formação para que os gestores da unidade se apropriem continuamente dos conhecimentos relacionados à

gestão democrática, proporcionar formação continuada das(os) Educadoras(es) e da Equipe de Coordenação

em temas voltados à Gestão Participativa em Fé e Alegria, fortalecer continuamente a Integração da Equipe

de Coordenação nos consensos sobre práticas de Gestão Participativa e manter os temas ligados ao desen-

volvimento da cidadania, nos currículos dos projetos da Regional.

Para planejamentos e ações futuras, a metodologia aplicada hoje garante êxito no processo, mesmo

que o tema ou algum detalhe possa ser diferente. Fica o aprendizado de lembrarmos que, com participação,

sentimento e atitude de cidadania, damos conta de alterar muitos destinos.

O aprendizado que um dia era nosso desafio hoje é nosso sonho de apropriação para todos que se

aproximam do nosso trabalho, porque vemos muito além de espaço para brincar. Vemos um espaço aberto

para diversos saberes, várias experiências, tendo a certeza de que é possível fazer mesmo se observamos a

adversidade no entorno.

Desafios e oportunidades…A experiência ainda nos propõe os

seguintes desafios:

Desenvolver plano de formação para •que os gestores da unidade se apro-priem continuamente de conheci-mentos relacionados à Gestão Demo-crática, entrelaçados à qualidade da educação.

Proporcionar formação continuada •das(os) Educadoras(es) e da Equipe de Coordenação em temas voltados à Gestão Participativa em Fé e Alegria.

Fortalecer continuamente da Integração da Equipe de Coordenação nos consensos sobre práticas de •Gestão Participativa.

Manter os temas ligados ao desenvolvimento da cidadania nos currículos dos projetos da unidade.•

Dar continuidade ao Projeto de intervenção para maior participação das(os) educandas(os) na gestão do •Centro Educativo, a fim de favorecer a apropriação do processo de ensino-aprendizagem por parte das(os) educandas(os).

Continuar o fortalecimento de vínculos das(os) educandas(os) com Equipe de Coordenação e Equipe de •Educadoras(es).

Consolidar a aplicação da metodologia de sistematização aprendida no Projeto de Qualidade INDITEX.•

Auxiliar as(os) educandas(os) a aprofundar o nível de participação das(os) educandas(os) na proposta de •Qualidade da Educação Popular de Fé e Alegria.

Priorizar a formação do Grêmio do Centro Social.•

Envolver as(os) educandas(os) em processos de seleção de Educadoras(es).•

Fortalecer a participação das famílias e da comunidade nos processos de gestão do Centro Educativo.•

Diminuir a rotatividade de Educadoras(es) para gerar menos impacto na efetivação dos projetos elaborados.•

Entre todos esses desafios, o maior continua sendo ainda o primeiro que já apresentamos que é responder às perguntas: “Como ser mais de Fé e Alegria?” e “Como ser mais este Movimento de Educação Popular?”.

Um grande aprendizado nesse caminho foi entender que Fé e Alegria tem uma fonte rica e sólida no caminho da Educação Popular. Aprendemos que quanto mais fiel a essa proposta, mais cedo chegamos a melhores resultados.

Essa experiência é um momento histórico para Fundação Fé e Alegria, situada no Centro Social de Edu-cação e Cultura Nova Conquista em Santa Luzia-MG. Vivenciamos várias mudanças ao longo dos seis anos da unidade. Viver hoje as grandes transformações ocorridas, fazer parte delas, experimentar junto à equipe de trabalho e também com as(os) educandas(os) conquistas para o espaço muito nos alegra. Ver a satisfação das pessoas ao estar em Fé e Alegria aprofunda nossa certeza de estarmos percorrendo o caminho certo. Que o sonho inicial de Fé e Alegria seja essa chama que continua nos encantando e movendo.

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Link ESAR: uma nova prática da Escola Santo Afonso Rodriguez

eScolA SAnto AFonSo rodriguez, tereSinA-Pi

Gênesis Guedes de Barros Lima39

Nara Régia Duarte dos Santos40

Contexto e trajetória...Sabe-se que um dos desafios encontrados nas práticas educativas

de algumas(uns) educadoras(es) e instituições escolares é trabalhar com a pesquisa, a interdisciplinaridade e a participação familiar no ambiente edu-cativo. Esses aspectos não são novos, eles perpetram fatores histórico-cul-turais, que mostram o avanço da educação formal no que diz respeito à oferta e ganham espaço para a busca de melhoria, isto é, da qualidade.

Esses fatores são caracterizados por: concepção do que vem a ser a pesquisa na prática escolar, baixa autoestima de educadoras(es), desgaste profissional, falta de atualização contínua de sua formação docente, pouco incentivo da gestão pedagógica, falta de atividades que envolvam os fami-liares das(os) educandas(os), oportunidade de empoderamento no próprio ambiente escolar etc. Além disso, cotidianamente estamos imersos em uma realidade que se caracteriza por situações que nos deixam insatisfei-tos, problemáticas sociais que provocam questionamentos para uma possí-vel mudança em nossa vida prática.

Em 2011, durante a gestão do Pe. Álvaro Negromonte, a Escola San-to Afonso Rodriguez propôs à comunidade escolar um projeto que propor-cionasse a aplicação da pesquisa escolar e da interdisciplinaridade na escola. O Link ESAR foi um trabalho voltado para o desenvolvimento da criatividade e da capacidade inventiva e investigativa dos(as) educandas(os), não se resumiu apenas a uma feira de conhecimento, e sim a uma atividade que possibilitou às(aos) educandas(os), às(os) educadoras(es) e à comuni-dade educativa desenvolver uma inter-relação entre os vários conhecimen-tos fazendo um link entre os conteúdos das disciplinas, associando teoria e prática, daí o nome dado ao projeto.

Nessa proposta educativa que questionava as situações enfrenta-das no dia a dia das(os) educandas(os) e os temas pertinentes ao meio social, considerava-se que o envolvimento da comunidade estaria possi-bilitado não só para apreciação, mas também para participação nas dis-cussões e apresentação dos trabalhos, o que deu incentivo e respaldo aos participantes.

39 Coordenador Pedagógico do Ensino Fundamental da Escola Santo Afonso Rodriguez, Teresina-PI.40 Coordenadora Pedagógica do Ensino Médio da Escola Santo Afonso Rodriguez, Teresina-PI.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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Perpassando por todas as linhas de ação do Programa de Qualidade em Gestão da Fundação Fé e Ale-gria, podemos identificar uma vasta contribuição desse projeto entre as linhas de melhoria, como: gestão, ensino-aprendizagem, fortalecimento da cidadania e relações com a comunidade.

A Link ESAR acontece anualmente. Um tema gerador que servirá como base para a formulação dos subtemas de cada grupo é escolhido. Em 2013, a escolha do tema envolveu todos os atores do processo educativo. Assim, educadoras(es) e educandas(os) participaram efetivamente na construção dessa proposta educativa dando a oportunidade de voz e vez para todos.

Assim, foram realizados encontros tanto com educandas(os) como educadoras(es) para discutir os temas sugeridos. Eram distribuídas fichas para coletar sugestões, e cada uma(um) propunha a sua perante os demais, apresentando a relevância social e a contribuição pedagógica, científica e cultural para a comunidade educa-tiva. Ao final, as sugestões foram esquematizadas e registradas.

O tema definido foi “Juventude: ação e transformação social”. A partir dele, foi iniciado o planeja-mento das atividades a serem realizadas, no qual se traçaram objetivos; materiais e recursos; espaços para exposição; metodologias a serem aplicadas; critérios avaliativos, entre outras demandas.

Depois disso, foram iniciadas as pesquisas em biblioteca, as discussões em grupo e a produção dos materiais para a apresentação. Durante a elaboração, cada grupo produziu seu plano com um resumo do tra-balho e a metodologia a ser utilizada; além disso, cada equipe apresentou um mapa conceitual.41

Todo o processo foi acompanhado pela comissão organizadora que articulou os demais setores (servi-ços gerais, corpo docente e biblioteca) para auxiliar no desenvolvimento dos projetos. Durante a exposição, contamos com a participação de pais, ex-alunas(os), educadoras(es), educandas(os) de outras instituições de ensino e a comunidade em geral. Esse público participou ativamente nas discussões de alguns trabalhos e escolheu, por meio da votação, um para ser apresentado no Fórum Nacional de Fé e Alegria, levando em consideração o que mais lhe foi significativo.

Avanços no processo…Por estarmos inseridos em uma comunidade vulnerável com riscos sociais iminentes, como: tráfico de

drogas, desemprego e falta de políticas públicas nas áreas da Informação, Pesquisa e Educação, consideramos o projeto Link ESAR uma ferramenta de inserção das(os) educandas(os) nas diversas áreas científicas e de in-centivo à pesquisa e à produção artística e cultural. O projeto foi também um caminho para socialização de informações, estreitamento na relação entre escola e comunidade, discussão de alternativas para o enfrenta-mento das situações vivenciadas todos os dias pelo grupo.

Com o Link ESAR, surge a oportunidade de trazer situações concretas e contextualizá-las, mobilizando os sujeitos para que se tornem mais críticos e participativos perante a sociedade. Esse trabalho propõe aos envolvidos que sejam mais atuantes em sua comunidade, alertando sobre os problemas que afetam sua qua-lidade de vida, como a carência de serviços públicos, bem como incentiva a busca de melhorias diante das organizações ou dos setores públicos competentes.

41 Um mapa conceitual evidencia como uma pessoa apreende certo assunto, normalmente de maneira diferenciada de outra pessoa. Os mapas conceituais “simplificam” a abordagem a problemas complexos. Servem para que a(o) educanda(o) reveja e relembre conteúdos, recorrendo à sua memória. Sua constru-ção pode funcionar como uma importante e eficaz estratégia de (auto)aprendizagem, mas também pode ser aproveitada como elemento de avaliação. A técnica de construção dos Mapas Conceituais foi desenvolvida pelo pesquisador norte-americano Joseph Novak. Ele define mapa conceitual como uma ferramenta para organizar e representar conhecimento (AUSUBEL, 1982, p. 12).

A qualidade almejada é suscitada pela comunidade educativa de Fé e Alegria e deve convocar as vontades de todos (TORO, 1997) por sua significação mobilizadora, que vem ao encontro das necessidades materiais e subjetivas, servindo para iluminar e realçar a mística das práticas desenvolvidas nos diferentes programas e centros educativos, sem perder de vista a opção pela melhoria da qualidade de vida da população e a luta pela transformação de relações desiguais na sociedade. Requer dos envolvidos compromisso ético, técnico, político e também estético (FUNDAÇÃO FÉ E ALEGRIA DO BRASIL, p. 23).

Portanto, acredita-se que, ao utilizar uma metodologia que proporcione a participação, possibilitamos a aproximação entre a comunidade e a escola, contribuindo para a melhoria do desempenho das(os) educandas(os) por meio do trabalho baseado nas realidades vivenciadas por estas(es).

De acordo com os instrumentos avaliativos (questionários e fichas de observação), elaborados pela co-missão organizadora, foi possível acompanhar o processo e o desenvolvimento das(os) educandas(os) em to-das as disciplinas. Além disso, foram coletadas opiniões, mediante entrevistas com algumas(uns) educandas(os), educadoras(es), gestoras(es) e familiares sobre a metodologia e as contribuições obtidas pela prática. Em suma, a maioria considerou a experiência exitosa e traçou alguns pontos que poderiam ser melhorados.

É notória a satisfação que tivemos em realizar a prática Link ESAR em nossa Instituição. O ganho para as(os) educandas(os) é incomparável quando os(as) aproxima da equipe escolar e da realidade vivenciada de modo mais concreto. Outrossim, instiga o desejo pela mudança e mobiliza a comunidade local para a constatação dos pro-blemas enfrentados, assim como as(os) incentiva à prática da pesquisa e à interação com os grupos.

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Desafios e oportunidades…Pode-se considerar que o Link ESAR demonstra nossa missão como cidadãos, quando procura seus di-

reitos e cumpre os deveres para com os outros do seu meio. Práticas como esta merecem uma propagação, isto é, o compartilhamento para alcançar o maior número de pessoas e talvez com isso assegurar a informação verdadeira e a constante busca por melhorias para os seres que mais sofrem com a falta de igualdade e con-dições dignas para a sobrevivência.

Contudo, nada disso seria possível sem o incentivo, a boa vontade e a entrega de toda a equipe envol-vida, quando esta trabalha por um bem comum. Ter um objetivo coletivo torna o trabalho mais pleno, e a sa-tisfação torna-se uma mera consequência, a qual traz o crescimento de todo o corpo no processo educativo.

GEFA42: A construção nasce das Assembleias:

um espaço de discussão e exposição de ideias

centro SociAl de educAção e culturA Fé e AlegriA bAirro FArrAPoS, Porto Alegre-rS

Luís Carlos Borges 43

e educadoras(es) de Fé e Alegria-RS

Contexto e trajetória...O território onde está situada a Regional de Fé e Alegria Rio Grande

do Sul vivencia, como muitas localidades periféricas, um momento de transformação urbana. Temos por premissa promover a participação coleti-va de nossas(os) educandas(os) para sua transformação social e pessoal.

A cidade de Porto Alegre-RS tem em sua história um processo de participação popular, em que a população em determinado período vota em demandas para seus bairros, o chamado Orçamento Participativo (OP). Esse modelo de participação tem como metodologia as assembleias popu-lares. Partindo disso e da história que a cidade “carrega” acerca das assem-bleias, propomos trabalhar com as(os) educandas(os) as assembleias esco-lares. Objetivamos com essa atividade promover o debate sobre o que vem ocorrendo em diversos espaços sociais, o chamado bullying. Observa-mos que as demandas eram grandes diante das atitudes agressivas que as(os) educandas(os) traziam para nós. Diante desses acontecimentos, pro-movemos um debate sobre o assunto, gerando, assim, as primeiras assem-bleias escolares de nossa Regional. Essas assembleias nos provocaram a buscar outras fontes de leituras para embasarmos nossas práticas, a exem-plo da Pedagogia de Freinet. Promovemos com as(os) educandas(os) o mural participativo e o jornal mural, locais nos quais as(os) educandas(os) poderiam expor suas ideias.

Para atingir as metas propostas para as realizações das atividades, juntamente com as(os) educandas(os), foram criadas as primeiras assem-bleias escolares para debater os assuntos que estavam presentes no espaço da Fé e Alegria Rio Grande do Sul. No decorrer das atividades, observamos a necessidade de criar conselhos de classe entre as(os) educandas(os).

Entre as linhas de melhoria do Programa de Qualidade, a experiên-cia aqui relatada relaciona-se ao Fortalecimento da Cidadania.

42 Grêmio Estudantil Fé e Alegria.43 Educador Social no Centro Social de Educação e Cultura Fé e Alegria, Bairro Farrapos, Porto Alegre-RS.

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O caminho que levou às assembleias escolares e à formação do Grêmio Estudantil Fé e Alegria (GEFA) pas-sou pelas seguintes perguntas: “O que são assembleias escolares?” e “Para que serve um grêmio estudantil?”.

Iniciamos nossa trajetória citando Freire:

O diálogo é o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo, para designá-lo. Se ao dizer suas pala-

vras, ao chamar ao mundo, os homens o transformam, o diálogo impõe-se como o caminho pelo qual os ho-

mens encontram seu significado enquanto homens; o diálogo é, pois, uma necessidade existencial (FREIRE,

1980, p. 82-83).

As assembleias são o momento institucional da palavra e do diálogo. O momento em que o coletivo se reúne para refletir, tomar consciência de si mesmo e transformar tudo aquilo que seus membros consideram oportuno.

Para tanto, procurou-se propor às(aos) educandas(os) debates sobre as possibilidades de formar repre-sentantes de turmas. A surpresa foi a aceitação de todos perante a pergunta: “O que vocês acham de termos representantes de turmas?”. Após a aceitação, iniciamos os trabalhos para desenvolver a votação e a escolha dos representantes.

Foram promovidas reuniões com as chapas interessadas e, após a realização da homologação destas em atas, iniciamos as campanhas e a votação.

Trabalhamos com três formas de assembleias:

“Assembleias Gerais”: A responsabilidade da assembleia é discutir assuntos voltados para as relações interpessoais e a convivência no âmbito dos espaços da Fé e Alegria. Contando com a participação de todas(os) as(os) representantes de turmas, assim como com todas(os) as(os) educandas(os), busca discutir assuntos rela-tivos às brigas, bullying e desperdícios.

“Assembleias de Classe”: As assembleias de classe tratam de assuntos que envolvem os interesses de cada turma. Delas participam uma(um) educadora(educador) e todas(os) as(os) educandas(os) da turma. O objetivo é discutir a convivência e as relações interpessoais por meio de encontros quinzenais de uma hora, servindo como espaço de diálogo na resolução de conflitos.

“Assembleias dos Educadores ou Reunião Pedagógica”: Essa assembleia tem como objetivo avaliar o mês de trabalho que passou e planejar o mês vindouro, assim como discutir assuntos sobre temáticas rela-cionadas ao convívio entre as(os) educadoras(es). Objetiva-se também discutir sobre as questões administrati-vas e pedagógicas de Fé e Alegria. Dela participam todas(os) as(os) educadoras(es) e colaboradoras(es) da Regional Fé e Alegria-RS.

Avanços no processo...Diante da trajetória percorrida, foram observados os seguintes avanços:

1. A construção da vida coletiva e pessoal de cada uma(um) e de todas(os).

2. A democracia escolar e social, bem como o protagonismo e a participação social das(os) educandas(os) e educadoras(es).

3. O entendimento por parte das(os) educandas(os) sobre as resoluções de conflitos.

4. A transformação das relações interpessoais no âmbito do Centro Educativo.

No entanto, esses avanços foram possíveis de ser atingidos a partir do momento em que as assembleias foram institucionalizadas no Centro Educativo, com periodicidades e espaços determinados para esse fim,

permitindo que as(os) educandas(os) (representantes das turmas) participem das reuniões pedagógicas que ocorrem mensalmente, com o objetivo de dialogar com a equipe pedagógica os conflitos e os aspectos posi-tivos de sua turma.

De modo geral, as avaliações acerca das assembleias foram positivas para a construção de novas formas de relação e de resolução de conflito em nossa Regional.

As assembleias também aproximaram mais os educadores. Atualmente, as decisões são tomadas em coletivo, possibilitando a liberdade para realizar, participar, questionar e colaborar com a melhoria da qualida-de do trabalho desenvolvido.

Desafios e oportunidades...Os desafios a nós apresentados são muitos. No entanto, para um bom funcionamento das assembleias,

é preciso primeiramente que estas sejam regulares e precisam ser rigidamente respeitadas por serem um ele-mento fundamental para o funcionamento da democracia. Outro desafio é promover as assembleias em dife-rentes espaços não escolarizados e escolarizados que trabalham com o mesmo público beneficiário de Fé e Alegria-RS, objetivando a participação de todas(os) e criando uma rede de possibilidades.

Partindo disso, promover a participação das(os) educandas(os) nas decisões, por meios das assembleias, seguramente nos encaminha para uma efetiva Gestão Democrática e Participativa.

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Grêmio Educativo centro culturAl PoPulAr Fé e AlegriA grAJAú,

São PAulo-SP

Luciana Pereira Lorenzi44

Contexto e trajetória...O Centro Cultural Popular Fé e Alegria Grajaú está localizado em um

distrito que ultrapassa a marca de 500 mil habitantes. De acordo com o Mapa da Desigualdade, uma pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo, o Grajaú aparece como o pior distrito no quesito qualidade de vida e quantidade de livros por habitante. Segundo o levantamento, há 0,03 obras infantojuvenis por habitante. Em relação às publicações destinadas aos adultos, o índice é ainda menor, 0,0145.

Interpretando os dados citados e fazendo uma análise crítica do per-fil das(os) educandas(os), faz-se necessário salientar que vivemos uma res-posta à ideologia dominante que, diferentemente da missão e da visão de Fé e Alegria, disponibiliza educação, saúde, transporte e moradia de baixa qualidade, bem como dificulta o acesso à arte e à cultura, alienando e to-lhendo o povo de seus direitos.

Dentro do Centro Educativo, os principais sintomas dessa realidade aparecem na forma de inversão de valores; violência; falta de interesse e evasão escolar; visão de mundo alienada; e perspectiva de vida deturpada.

Dado que somos sujeitos históricos e socialmente construídos, sabe-mos que é necessário considerar o ser humano em sua integralidade. En-tão, é preciso que este “ser” aprimore seu potencial de intérprete crítico e sujeito transformador, contrapondo o que avalia não fazer bem a si e à co-munidade.

Para atuar como célula de apoio das crianças e dos adolescentes, ini-ciamos a construção de um Grêmio Educativo que objetiva a efetivação de uma Gestão Democrática e Participativa e a formação de sujeitos críticos, protagonistas de sua própria história e transformadores de sua realidade.

A construção do Grêmio passou por cinco fases:

I — Provocação

Considerando o princípio de participação, questionamos as crianças e as(os) adolescentes sobre como seria se estivessem ainda mais integra-dos nos processos de discussão e decisão dentro de Fé e Alegria. A maio-ria nunca havia participado de um Grêmio, outros sequer sabiam o que era. Partindo dessa sondagem, apresentamos em Ágora (assembleia) o que é esse movimento participativo e como influencia na gestão.

44 Coordenadora Pedagógica do Centro Cultural Popular Fé e Alegria Grajaú, São Paulo-SP.45 Fonte: <http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/45927>.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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Apresentando esses resultados diante das famílias, temos conquistado maior confiança e credibilidade no trabalho desenvolvido. Tanto o Conselho Gestor quanto representantes de outras instâncias têm avaliado positivamente a atuação do Grêmio na medida em que as chapas efetivam qualitativamente sua participação. Núbia, educadora de Fé e Alegria, afirma que “o Grêmio é uma grande ferramenta para as(os) educandas(os). Utilizam-se dele para uma democrática convivência e também para fortalecer seus argumentos, as(os) fazendo sentir, de fato, parte do Centro Educativo. Aprendem a lidar com as responsabilidades e levam essas boas experiências para sua rotina e outros lugares que frequentam, sendo multiplicadores”.

Salientando que a proposta do Grêmio não foi entregue pronta, sua construção se dá gradativamente, com contribuição coletiva. Desse modo, cada um e cada uma se apropria e partilha no seu tempo, sem fazer com que este seja um processo desgastante. Edificando juntas(os) esse processo que se inicia, as meninas e meninos estão provando de um caminho sem volta: a crítica revolucionária. Uma vez que se experimenta mais de si mesma(o) e mais sobre o poder da unidade coletiva, já não é possível um retrocesso à aceitação da pas-sividade e da obediência reacionária como meio de conquista; estas são substituídas pelo respeito, pelo pro-tagonismo e pela transformação.

Desafios e oportunidades…Como todas(os) vivemos um período histórico imediatista, temos, então, que resgatar a paciência peda-

gógica para que a aprendizagem aconteça em um tempo qualitativo e saudável. Para tanto, faz-se necessário mediar a definição dos objetivos estratégicos do grêmio, facilitando a organicidade da linha de trabalho a ser traçada. Algumas atividades apontam que muitas(os) delas(es) ainda não desenvolveram o potencial de traçar metas para a própria vida, de projetá-la e caminhar rumo ao que se almeja. Sendo assim, até que se tornem mais autônomas(os) — afinal, esta é nossa primeira experiência —, haverá a necessidade de que busquemos juntas(os) os melhores sapatos para cada encalço.

II — Criação das chapas

Depois de problematizarem, as(os) educandas(os) iniciaram o movimento de formação de chapas com-binando que deveria haver integrantes de ambos os sexos e de todas as turmas em um número equilibrado, ou seja, duas ou dois de cada. Decidiram, então, eleger uma chapa por período de atendimento, somando duas no total. Deram seus nomes como forma de inscrição e, posteriormente, definiram as chapas para divul-gação do processo eleitoral.

III — Campanhas

Com muita criatividade as(os) candidatas(os) criaram panfletos, cartazes, mesas de discussão e campa-nha boca a boca. Ideias foram trocadas e até copiadas entre as chapas. Diante das problemáticas que apare-ceram ou poderiam aparecer, foram orientadas(os) a resolver tudo por meio do diálogo, evitando, dessa for-ma, mediação externa.

IV — Debate-papo e discurso

Precedendo os discursos, chamamos para o bate-papo uma militante em movimentos sociais, que pro-blematizou o debate sobre participação e salientou a importância do momento vivido. Em seguida, cada chapa escolheu uma(um) representante que expôs suas ideias transformadoras. Finalizamos com uma rica sabatina.

V — Eleições e apuração

O processo eleitoral foi realizado no Centro Educativo, no dia 25 de julho de 2013. Preparamos cédulas de votação com o nome de todas as chapas e realizamos a eleição mediante voto secreto.

A apuração foi realizada no mesmo dia com a presença de uma(um) representante de cada chapa. Todas(os) acompanharam a contagem que foi digitada, assinada, carimbada, colocada no mural para aprecia-ção e arquivada com outros materiais do processo, assegurando a veracidade e a historicidade das ações.

Promovendo o princípio de participação na comunidade educativa, as chapas iniciaram seu mandato com a inserção em alguns locais da região onde se discute educação. Cada local de debate e legitimação re-cebeu, no mínimo, uma(um) representante de cada chapa. O primeiro espaço foi uma associação de bairro, e as pautas eram sobre a gestão e a estrutura física de duas escolas da região. Junto à mesma associação e um coletivo de luta, foram à Diretoria de Ensino para uma reunião agendada com as(os) responsáveis pela obra de uma nova escola. No dia seguinte, uma Ágora foi convocada para que as chapas pudessem partilhar as expe-riências com as(os) demais educandas(os) do Grêmio.

Outro movimento que salienta o protagonismo das(os) educandas(os) é sua participação no Conselho Gestor, no qual aprofundam o conhecimento acerca do bairro, entendem como funcionam os processos de Educação Popular Integral e promoção social junto ao poder público e privado, participam de debates sobre o funcionamento interno do Centro Educativo e sua relação com o entorno, refletem e decidem coletivamente.

Avanços no processo…“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor

do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais.” (Charles Chaplin)

Considerando os sintomas que levantamos anteriormente, já é possível notar grandes conquistas das me-ninas e dos meninos com a experiência em curso. Em evidência estão: 1) exercício do diálogo e queda nos índices de violência (física, verbal, moral e psicológica); 2) maior quantidade de Ágoras (assembleias) convocadas e críticas deliberações; 3) resgate de princípios e valores éticos; e 4) atuação crítica na defesa e garantia de direitos.

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Uma experiência de formação com o Grêmio Estudantil Irmã Helena

Suzana Christicentro educAcionAl Fé e AlegriA Frei Antonio,

tocAntíniA-to

André Ribeiro de Goveia46

Angelita Divina Cavalcante47

Guilherme Hintz48

Neuzilene Sibadi Xerente49

Vonio Lira Mendes50

Contexto e trajetória...A experiência aqui relatada teve início a partir da constatação da

baixa participação das(os) educandas(os) no desenvolvimento das ativida-des do Centro Educacional Fé e Alegria Frei Antonio. As(os) educandas(os) apenas frequentavam as atividades e não participavam de forma ativa e comprometida; apresentavam pouco ou nenhum interesse em participar das atividades, pois não encontravam sentido para tal, uma vez que não se sentiam contempladas(os) no processo decisório e apresentavam-se como meras(os) receptores de informação. Diante dessa situação, a Equipe de educadoras(es) buscava incentivá-las(os) sobre a importância da participa-ção no cotidiano do Centro; porém, as reações obtidas não eram satisfató-rias. Dada essa realidade, a partir do Programa de Formação do projeto “Melhoria da oferta educativa nos Centros Educativos de Fé e Alegria do Brasil”, apoiado e financiado por INDITEX, a Equipe de colaboradoras(es) da Comunidade Educativa pensou e elaborou uma proposta de formação para a participação das(os) educandas(os), que pudesse qualificá-la de for-ma que fossem gerados impactos no desenvolvimento integral das(os) meninas(os).

Assegurando um dos objetivos operativos do Planejamento Estraté-gico Nacional que visa sistematizar e disseminar experiências exitosas, procurou-se desenvolver um processo de documentação da experiência de participação do Grêmio Educativo, contribuindo com o funcionamento de outros Grêmios e de outras equipes que sejam formadas ao longo dos anos. Essa experiência pretende ser um marco referencial para a melhoria

46 Diretor do Centro Educacional Fé e Alegria Frei Antonio, Tocantínia-TO.47 Coordenadora Estadual de Fé e Alegria Tocantins.48 Educando Presidente do Grêmio Estudantil Fé e Alegria Tocantínia.49 Educanda Coordenadora de Assuntos Indígenas do Grêmio Estudantil Fé e Alegria Tocantínia.50 Orientador Educacional do Grêmio Estudantil Fé e Alegria Tocantínia.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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da qualidade de participação em todos os setores da Comunidade Educativa e que possa animar os Grêmios

vindouros a realizarem a formação em cascata fomentando o protagonismo no espaço da Comunidade Edu-

cativa e em geral.

A experiência foi trabalhada de acordo com a linha de melhoria de “Fortalecimento da Cidadania” dada

a situação de necessidade de formação para a participação, de qualificar a participação das(os) educandas(os)

de forma que essa aprendizagem não se limitasse à participação interna no Centro, mas sim em seu cotidiano

na comunidade e no mundo.

Desde o plano realizado com o projeto “Melhoria da oferta educativa nos centros educativos de Fé e

Alegria Brasil” sobre a formação de educandas(os), o Centro Educacional Fé e Alegria Frei Antonio firmou

parceria de trabalho de formação e acompanhamento com o Grêmio Educativo como instância necessária

para realizar uma gestão participativa e ao mesmo tempo emancipar as(os) educandas(os) como cidadãs(ãos)

de direitos. As(os) educandas(os) do Grêmio juntamente com a orientação de educadoras(es) e equipe técnica

local elaboraram um plano de trabalho conjugado para desenvolver a formação de educandas(os). A partir de

então, foram desenvolvidas oficinas e encontros de formação com o Grêmio Educativo que, em seguida, rea-

lizavam atividade de multiplicação dessas formações com as(os) representantes de turma, que, por sua vez,

repassavam à turma em que cada um era responsável, realizando, assim, a formação em cascata.

As temáticas trabalhadas seguiram os eixos da formação humana e da formação técnica com o objetivo

de empoderar as(os) educandas(os) envolvidas(os) de forma que estas(es) pudessem participar das atividades

do Centro e da comunidade, tendo as formações para a transformação e a promoção social coletiva, assim

como para melhorar os níveis de aprendizagem. As estratégias utilizadas para essas formações foram: seminá-

rios, rodas de conversa, visitas dirigidas a outros grêmios, encontros de gremistas de outros Centros, grupos

de estudo, estudo dirigido, pesquisas etc.

Avanços no processo…Após a execução da experiência, verificou-se uma melhoria significativa na participação das(os) edu-

candas(os) nas atividades do Centro: temos uma cultura da representatividade responsável; as(os) educandas(os)

organizam-se para apresentar e contribuir com ideias e opiniões na tomada de decisões do Centro; houve

melhoria na aprendizagem, na socialização e na qualidade da participação dos espaços e das atividades do

Centro, isto é, uma experiência de Gestão Compartilhada.

A atuação das(os) educandas(os) no processo de tomada de decisões tem gerado impactos na gestão

que tem conseguido desenvolver ações que refletem com maior proximidade a necessidade desse público

referência; a participação das(os) educandas(os) não só nos espaços internos do Centro, mas também em ou-

tros espaços da comunidade, como a participação em fóruns e conferências ligadas às temáticas de cidadania

e promoção social, tem contribuído para que a formação destas(es) seja consolidada com mais qualidade.

A experiência desenvolvida foi avaliada por toda a Comunidade Educativa durante o processo de exe-

cução por meio de rodas de conversa, instrumentos impressos, observação sistemática e também após a

conclusão do primeiro ano, uma vez que a experiência não tem um prazo de término, mas sim a pretensão de

ter continuidade. A Comunidade Educativa avaliou como positiva a melhoria da participação do Grêmio, uma

vez que as(os) meninas(os) se sentiram empoderados e animados na tarefa de serem protagonistas de seu

próprio desenvolvimento. Uma assembleia com a Comunidade Educativa reuniu elementos que ajudaram a

avaliar os impactos da experiência e produziu orientações de melhorias nas próximas etapas.

A experiência proporcionou à Equipe de Educa-dores e à Equipe Diretiva do Centro a oportunidade de reflexão sobre a importância de se desenvolver um tra-balho voltado para a qualificação da participação das(os) educandas(os). Pelo trabalho de empoderamen-to que foi realizado, constatou-se que as(os) educandas(os) têm muito a contribuir com o desenvol-vimento da educação e que é possível conseguir a par-ticipação ativa, comprometida e responsável delas(es) em atividades que não apenas colaborem para a sim-ples presença destas(es) nos espaços e nos momentos de decisão, mas que, de fato, possam orientar, formar e preparar as(os) meninas(os) para atuarem como agentes de transformação, e não como meros espectadores. Um dos aprendizados marcantes da experiência trata da importância de formar e animar as(os) educandas(os) para desenvolverem processos de formação para a par-ticipação com outras(os) educandas(os), abordando a linguagem delas(es) e o jeito próprio de cada fase da vida e aproximando-se mais da realidade de cada uma(um), de forma que se sintam identificadas(os) com o processo de mudança e enxerguem em si mesmas(os) a possibilidade de participar com qualidade.

Desafios e oportunidades…A experiência apresenta como desafios a continuidade da proposta de formação com o Grêmio Edu-

cativo com a presença de outras(os) educandas(os), uma vez que muitas(os) delas(es) estão saindo do Centro para outras escolas, pois o Ensino Médio não é oferecido, o que naturalmente desafia a equipe a constatar se de fato as lideranças que ficarem foram impactadas de forma que consigam dar continuidade ao traba-lho. A rotatividade da Equipe de Diretivas e Educadoras(es) que acompanham o Grêmio Educativo é outro fator que preocupa, uma vez que também é necessária uma formação para que estas(es) consigam trabalhá-la para o empoderamento. Ainda como desafio, apresenta-se a necessidade de documentar de forma mais ampliada em livro, coletânea ou similar a experiência ora desenvolvida de maneira que se fomente sua dis-seminação e continuidade.

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Conselho Gestor: fortalecimento de vínculos familiares e comunitárioscentro de educAção inFAntil roSA MutrAn MAluF,

cuiAbá-Mt

Cecilia Fernanda Sosa Santos51

Amanda Lima52

Pe. Pedro Canisio Schoeder53

Maria Ivone Paes da Veiga54

Achilley Andrade; Camila Oquizael; Gleiciane Botelho; Kielen Martins55

Eva Benedita; Izabel Maria56

Genilda Gomes; Izabel Maria; Jozieli Bruno; Luciana Pereira; Lurdes Vieira57

Contexto e trajetória...A ordem social vigente, sistema de produção capitalista, vem impul-

sionando as famílias a um ritmo frenético de trabalho para prover o susten-to. O que percebemos é que em contrapartida não sobra tempo para o convívio em família.

Tendo em conta esse desafio, a presente experiência trouxe como proposta a criação de um espaço que proporcione lazer, aprendi-zado e proximidade entre a família, a comunidade, a(o) educando(a) e o Cen tro Educativo, com o intuito de fortalecer os vínculos entre Famí-lia, Centro Edu cativo e Comunidade. O espaço criado para fortalecer vínculos entre Comunidade Educativa e entorno é destinado para a construção do Conselho Gestor.

Acreditamos que à medida que as famílias façam parte do Conselho Gestor do Centro Educativo e participem efetivamente dos projetos esco-lares (Personalização e Qualificação no Atendimento, Horta Feliz, Festa Fe-liz em Comunidade, Qualidade de Vida e Fazendo Arte em Família) e de outras atividades desenvolvidas pelo Centro, elas podem contribuir signifi-cativamente, em conjunto com a Equipe de Gestão, propondo ações e solucionando os problemas encontrados.

51 Assessora Pedagógica.52 Assistente Social.53 Coordenador Pedagógico.54 Diretora do Centro de Educação Infantil Rosa Mutran Maluf, Cuiabá-MT.55 Educadoras. 56 Equipe de Apoio. 57 Grupo de Mães.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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Gerar um espaço no qual família, educandas(os), comunidade e Centro Educativo possam interagir e tomar consciência da vital importância de acompanhar o processo de Gestão Democrática, Participativa, Edu-cativa e, entre todos, melhorar o trabalho pedagógico e administrativo, é imprescindível para uma educação de qualidade.

Diante desse desafio é que a experiência aqui sistematizada foi pensada, visando promover a autono-mia e a emancipação dos sujeitos envolvidos. Para alcançar os desafios e traçá-los como oportunidades, pla-nejamos metas que objetivassem os resultados esperados, convidando e motivando os sujeitos envolvidos a participarem dos seguintes eixos:

• Qualidade de Vida: Sensibilizar as(os) educandas(os) e a comunidade a realizar mudanças de hábitos no decorrer de discussões, observações, pesquisas e vivências sobre os temas trabalhados.

• Festa Feliz na Comunidade: Gerar espaços de lazer e participação envolvendo todas as datas come-morativas trabalhadas pedagogicamente.

• Horta Feliz: Fortalecer a consciência do meio ambiente, o vínculo entre a família e a(o) educanda(o), bem como gerar sustentabilidade para uma alimentação mais equilibrada e saudável.

• Fazendo Arte em Família: Promover oficinas de artes e brincadeiras para que as(os) educandas(os) conheçam seus movimentos e suas fortalezas com o convívio familiar e sejam cidadãs(ãos) que compre-endam melhor suas ações do cotidiano.

Destacamos a seguir somente algumas linhas de ação, desenvolvidas a partir dos eixos descritos ante-riormente, como, por exemplo, para Qualidade de Vida, nos dias 10 de maio e 16 de agosto de 2013 foram realizadas atividades, como: Terapia Corporal e Terapia Comunitária, tendo como responsáveis a assessora pedagógica Cecilia e a Profa. Rosa Lúcia (UFMT), respectivamente. No dia 8 de junho, foi realizada a Festa Junina, representando o eixo de Festa Feliz na Comunidade, com atividades interativas a fim de fortalecer o vínculo entre Família, Comunidade e Centro Educativo.

Para o eixo Horta Feliz, foram desenvolvidas a limpeza do parque, a delimitação do canteiro e a planta-ção de hortaliças.

No eixo Fazendo Arte em Família, foram proporcionados espaços para as confecções de cadernetas e canetas artesanais, propiciando momentos de interação familiar e acompanhamento das mães no processo holístico de seus filhos.

O Centro Educativo Rosa Mutran Maluf surgiu como uma necessidade e demanda local em um bairro de periferia em Cuiabá, viabilizado pela grande vontade e pela sensibilidade de um devoto de São Benedito. O Centro Educativo atende a 100 crianças de 1 ano e 9 meses a 3 anos e 11 meses, e a grande demanda é a fragilidade na base familiar “pouca informação, novos arranjos familiares, muitos casos de violência e uso de drogas”. Consequentemente, isso afeta a vida das(os) educandas(os) e seu desenvolvimento, necessitando de uma maior intervenção por parte da Instituição.

Com tantas dificuldades, o Conselho Gestor surgiu a partir de uma reunião de pais após a apresentação, feita pela coordenadora do Centro Educativo, da necessidade e iniciativa de trabalhar mais conjuntamente. Após interesse de algumas famílias, a primeira reunião foi marcada. Com participação de funcionários e fami-liares, fundou-se o Conselho Gestor com registro em ata, plano e agenda de trabalho. Na medida em que as ações eram realizadas, as oportunidades sociais vinham assumindo uma posição clara e ampla da participação, bem como a inclusão das famílias nas atividades e nas tomadas de decisões do Centro Educativo por meio desse Conselho Gestor, fortalecendo, assim, os vínculos familiares e comunitários.

Diante do desafio: “Como incentivar a participação dos familiares?”, lembramos que, em nossa agenda de trabalho, a cada final de mês, realizamos o dia da diferença, nosso “Dia D”, no qual as(os) educadoras(es) elaboram as atividades interdisciplinares para todas(os) as(os) educandas(os), com convite feito para que as famílias possam participar. Assim, o convite foi aceito por alguns e as atividades foram realizadas.

Contudo, tivemos mais um desafio, as(os) educandas(os) choraram muito: umas(uns) porque queriam a mãe e outras(os) porque a mãe não veio. Com essa realidade, surgiu a ideia de fazer um encontro para as fa-mílias e outro para as(os) educandas(os). Tivemos uma experiência gratificante, enquanto as(os) educadoras(es) realizavam atividades recreativas com as(os) educandas(os), as famílias participavam de uma roda de conversa sobre o trabalho de Fé e Alegria com a orientação de nosso assessor pedagógico, Pe. Pedro (atualmente co-ordenador pedagógico).

Nesse encontro, uma mãe deu a ideia de fazer um “Dia D” para as funcionárias, tendo em vista o reco-nhecimento destas em relação à importância do trabalho realizado pelas(os) educadoras(es) com as(os) educandas(os). Com isso, as mães, juntamente com a coordenadora do Centro Educativo, ocuparam as salas de aula, a cozinha e a limpeza, e desenvolveram o trabalho da equipe profissional, proporcionando a elas a oportunidade de um dia de descontração. Foi um aprendizado e tanto, para funcionárias e para as famílias. Hoje, o trabalho das(os) edu cadoras(es) é visto com um novo olhar; para a realização desse dia, os membros do Conselho Gestor fizeram o convite para todas as famílias. Foi realizado um bazar para arrecadar recursos e confeccionar camisetas para o grupo de mães voluntárias com o nome “Grupo Mães com Fé e Alegria”. As quatro mães ficaram muito orgulhosas e agradecidas pela confiança depositada nelas.

O aprendizado e o envolvimento com a comunidade escolar resultou algo ímpar: o espírito e a força de vontade em fazer com que a justiça e a igualdade aconteçam. Acreditamos que fazer parte de Fé e Alegria é compactuar com esses princípios humanos e sociais. Hoje, a participação dos familiares acontece com mais entusiasmo e envolvimento, o que favorece a qualidade do atendimento educacional e social do Centro Edu-cativo, como também a propagação da consciência coletiva da Missão de Fé e Alegria na busca de uma nova ordem social emancipatória.

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Avanços no processo…A partir da experiência apresentada, destacamos como avanços:

Melhoria na participação e no envolvimento das famílias na vida e na evolução do Centro Educativo, •como também mudança e crescimento pessoal e profissional dos membros do Conselho Gestor.

Abertura de novos espaços e envolvimento de mais familiares nos eventos promovidos pelo Centro •Educativo e pelo Conselho Gestor.

Melhoria no desempenho e no acompanhamento das(os) educandas(os) nos processos educativos holísticos.•

A avaliação se deu de forma escrita e individual conforme podemos observar a seguir: •

• “Eumesentiútilemdarumdiadiferenteaosprofessoreseaosfuncionáriosquecuidamdenossostesouros,

chamados ‘filhos’. Entendi que é preciso ser prestativo, dedicado e ter paciência. Valeu a pena!” (Joseane)

• “Émuitobomcompartilhareconvivercomaalegriadasnossascrianças.Adoreimuitoodia,poiségos-

toso saber um pouquinho do que eles passam com as tias.” (Rosane)

• “Eugosteimuitodepassarumdiacomaminhafilhaecomoscoleguinhasdelas.Tambémconhecias

mãesdeles.Ébeminteressantesabercomquemminhafilhaestáconvivendo.”(Jacirene)

• “Ébomsabermoscomofuncionaodiaadiaondenossosfilhospassamametadedotempodurantecinco

dias da semana; é importante esse momento.” (Lurdes)

Perante os relatos, avaliamos de forma positiva e significativa o impacto do Conselho Gestor no cotidia-no do Centro Educativo e seu entorno.

No decorrer do desenvolvimento dessa experiência, observamos o quanto se faz necessário criar estra-tégias para articular a relação/convívio entre famílias, comunidade e Centro Educativo, visando ao desenvolvi-mento das(os) educandas(os) na busca pela autonomia das pessoas atendidas, tanto social quanto financeira-mente, como também na propagação de uma consciência crítica articulada e coesa com os direitos sociais e humanos, em que notamos nitidamente a evolução das pessoas que participam do Conselho Gestor no de-senvolvimento da fala e da articulação com a comunidade, na preocupação com o próximo e na visão de mundo que se ampliou em razão da convivência coletiva, dos debates e das discussões, contemplando os acontecimentos e as necessidades cotidianas.

Ao ser disponibilizado um espaço onde pudéssemos partilhar conhecimentos, experiências e conhecer as diversas realidades sociais que nos cercam, encontramos a possibilidade da união, da atenção na metodologia da partilha, dos incentivos, das habilidades conjuntas e da inserção no contexto vivenciado pelo Centro Educativo.

Ressaltamos, ainda, que o reconhecimento individual e coletivo que influencia na autoestima e no de-senvolvimento das competências de cada uma(um) resultou em uma experiência gratificante.

Poder mudar a realidade de vida e fazer parte da história de cada sujeito, do seu crescimento pessoal, no desenvolvimento da coletividade educacional e entorno, na visão de sociedade que temos nos proporcio-nou experiências enriquecedoras e também nos mostrou a importância do nosso trabalho na vida de cada participante do Conselho Gestor.

Compreendemos que as dificuldades são imensas, porém durante todo o processo sempre contamos com a colaboração de todas(os) para dar-nos segurança e fortalecer nossos trabalhos na Instituição. Observa-mos também um desenvolvimento significativo e diferencial nos comportamentos das(os) educandas(os), das(os) quais as mães estavam participando ativamente das atividades do Centro Educativo, reforçando a re-levância do acompanhamento e da participação dos familiares na trajetória da experiência.

Desafios e oportunidades…Ampliar o desenvolvimento do Conselho Gestor e do quadro de profissionais do Centro Educativo com a •comunidade, no âmbito social, na perspectiva do reconhecimento de direitos e deveres enquanto cidadãos.

Acompanhar o processo de formação dos membros do Conselho Gestor, qualificando-os para que pos-•sam realizar visitas e intervenções necessárias na comunidade, como forma de fomentar a articulação em busca de melhorias comunitárias.

Conscientizar a comunidade dos bairros circunvizinhos a unirem forças nas lutas sociais, buscando me-•lhorias estruturais, como acessibilidade, água, rede de esgoto, segurança; enfim, políticas públicas que lhes assegurem uma vivência digna.

Acompanhar e intervir em situações complexas na área familiar, que abrangem e repercutem no desem-•penho e no desenvolvimento das(os) educandas(os), como: consumo e tráfico de drogas, violência fami-liar, entre outros.

Viabilizar a captação de recursos para financiar as atividades programadas, contemplando a qualidade •e a amplitude significativa do propósito do Conselho Gestor.

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Equipe Diretiva Ampliada centro de deSenvolviMento coMunitário (cedec)

Fé e AlegriA eSPerAnçA e FeliPe cAMArão, nAtAl-rn

Emanoel Nazareno Cadó58

Contexto e trajetória...O início do trabalho de Fé e Alegria no Estado do Rio Grande do

Norte foi caracterizado por uma forte presença do voluntariado da comuni-dade, à luz da experiência de constituição do Movimento Fé e Alegria na periferia de Caracas. Assim, contávamos com a conformação de um Grupo de Gestoras(es) e Mediadoras(es) de Leitura (também usuárias(os) dos ser-viços), os quais tinham, juntamente com o quadro de técnicos, o papel de gerir a vida do Centro. Em outras palavras, a Gestão Participativa já foi ex-perimentada em Fé e Alegria-RN, a partir de uma necessidade histórica de implantação e sobrevivência da experiência.

No entanto, o processo de fortalecimento da gestão institucional, ocorrido a partir da segunda metade da década de 2000 em Fé e Alegria, levou a uma paulatina substituição desses voluntários por trabalhadores contratados. Como consequência, reduzimos os canais de participação das(os) usuárias(os) na gestão dos Centros, fragilizando enormemente o processo de Gestão Participativa.

Na perspectiva de solucionarmos/amenizarmos a reconhecida fragi-lidade em nosso processo de gestão, no que tange à participação das(os) usuárias(os), estamos envolvidos, desde o primeiro semestre de 2012, em um contínuo resgate da Gestão Participativa, claro que adequada agora a um novo contexto social e institucional, fundamentada na integração entre trabalhadores, voluntários e usuários de Fé e Alegria e conformada em Equipes Diretivas Ampliadas.

Dessa forma, atuamos fortemente no fortalecimento das ações junto às famílias (Relações com a comunidade) de usuárias(os) atendidas(os) pelos CEDECs Fé e Alegria-RN, sensibilizando-as a se envolver mais forte-mente não só nas atividades propriamente ditas, mas também nos proces-sos de gestão dos Centros.

De acordo com o planejamento realizado no início do ano de 2013 e revisado no meio deste, estamos em processo contínuo de fortalecimento da Gestão Participativa dos nossos CEDECs Fé e Alegria-RN, trabalhando, assim, em três frentes no que se refere à participação das(os) nossas(os)usuárias(os):

58 Diretor do Centro de Desenvolvimento Comunitário (CEDEC) Fé e Alegria Esperança e Felipe Cama-rão, Natal-RN.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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A primeira frente diz respeito à participação dessas(es) usuárias(os) nos momentos de ampliação da Equipe Diretiva. Trocando em miúdos, de acordo com a demanda de pauta, a Equipe Diretiva sofre um pro-cesso de ampliação ou diminuição de sua conformação: ela pode ser, em um dado momento, conformada apenas pela coordenação institucional, assistentes administrativo e financeiro, e pelo diretor dos CEDECs (momento semanal ordinário, realizado na sede, também denominada NEPAGI); em outro momento, pode ser conformada pelas coordenações, pelas representações setoriais (Biblioteca, TICs etc.) e pelo diretor do Centro (momentos semanais ordinários, realizados nos CEDECs); em outro, pode ser acrescida de representantes dos diversos grupos de usuárias(os) e voluntárias(os), ao mesmo tempo, para a discussão e o planejamento de uma determinada atividade geral do CEDEC (ex.: culminância mensal); e, ainda, pode ter uma última conformação, a qual envolve coordenações e grupos específicos (Jovens, Mulheres e Idosas(os), na perspectiva de planeja-mento de suas atividades intragrupos durante o semestre (momentos ordinários, também realizados nos CE-DECs, a cada início de semestre).

A segunda frente está ligada ao processo de interação e participação das(os) diversas(os) usuárias(os) na vida dos CEDECs, via redes sociais (blog, Facebook e Twitter) ou aplicativos de consultas virtuais (ex.: Encues-taFacil), o que nos aponta para uma embrionária experiência de democracia direta.

Finalmente, a terceira frente, a qual se refere à utilização de um instrumento de avaliação presencial, via questionário físico, dos serviços e cuja aplicação se dará no mês de setembro de 2013 junto às(aos) nossas(os) usuárias(os) atendidas(os).

Enfim, temos ciência de que não se trata apenas da decisão institucional de Fé e Alegria se abrir para a participação das(os) suas(seus) usuárias(os), mas é, antes de tudo, um processo de sensibilização dessas(es) usuárias(os) para a importância do controle democrático das atividades humanas, seja ela em uma experiência laboratorial de uma ONG, seja em sua casa, junto com sua família, seja nos espaços públicos de sua comuni-dade e/ou da cidade onde vive.

Avanços no processo…No que se refere aos avanços, foram constatados:

1. Aumento no interesse de participar, não só das atividades, mas também de seus planejamentos por parte das famílias.

2. Melhoria significativa no que se refere ao comportamento das(os) jovens nos processos participativos de planejamento, além de maior comprometimento com a atividade propriamente dita.

3. Integração maior intergeracional.

4. Surgimento, dentro dos processos participativos, de lideranças com bom potencial de atuação não só nas atividades internas nos CEDECs, mas também nas atividades de Ação Pública.

Ainda não foi realizada uma avaliação geral acerca da experiência de maneira formal. No entanto, pro-cessualmente, são realizadas escutas junto aos participantes como parte da pauta de cada reunião da Equipe Diretiva realizada, apresentando boa resposta não só por meio de depoimentos orais, como também da ob-servação quanto ao sentimento de pertencimento por parte das(os) usuárias(os) de todo o processo de gestão. Não obstante, estamos providenciando, como já registrado em item anterior que trata dos métodos e das práticas de participação e socialização, a construção de ferramental de avaliação a ser aplicado futuramente junto às(aos) nossas(os) usuárias(os) atendidas(os).

Fundamentalmente, devemos extrair ao menos um aprendizado dessa experiência, pensando na conti-nuidade do trabalho: a de que somente o saber tecnocrático fragiliza enormemente a legitimidade e o sentido

de pertencimento ao projeto. Ou seja, essas experiências necessitam ser oxigenadas a partir da participação dos principais interessados no processo, as(os) usuárias(os) atendidos. Temos, assim, convicção do avanço, do ponto de vista da integração entre usuários técnicos, educadoras(es) e gestoras(es), e da importância que essa imbricação trará para o futuro do nosso trabalho não só no que diz respeito aos processos decisórios internos, fortalecendo a nossa Gestão Participativa, mas também no que se refere à incidência política desses novos sujeitos sociais dentro dos espaços de controles sociais existentes em nossa sociedade.

Desafios e oportunidades…Acreditamos que o grande desafio que se nos apresenta agora e para o futuro é, de um lado, garantir a

continuidade desse processo de ampliação da chamada Equipe Diretiva e, de outro, fortalecer as estratégias de utilização das ferramentas físicas (questionários presenciais) e virtuais (softwares em rede e redes sociais) de consulta. No entanto, para além do aspecto da participação, acreditamos que um grande desafio será qualifi-car essa participação. Para tanto, estamos em processo de articulação com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), via Departamentos de Serviço Social e Ciências Sociais, na perspectiva de implan-tarmos um curso modular de política e direitos humanos, a ser iniciado até o final de 2013, oferecido a usuá-rios, educadoras(es), lideranças comunitárias e representantes de movimentos sociais que convivem no entor-no de nossos CEDECs.

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Conselho Gestor em Fé e Alegria São Paulo:

lição de empoderamento e protagonismo, por uma gestão

democrática e participativacentro culturAl PoPulAr Fé e AlegriA grAJAú,

São PAulo-SP

centro culturAl PoPulAr Fé e AlegriA tAiPAS, São PAulo-SP

Flavia Santos59

João Mario Sales da Silva60

Simônia Francisca de Jesus61

Contexto e trajetória...Em busca da melhoria da qualidade da oferta educativa, evidencia-

ram-se como linha de melhoria, os processos de gestão e as relações com a comunidade. Em 2010, a equipe técnica junto com os colaboradores, sob a ferramenta de análise, o FOFA (Fortalezas, Oportunidades, Fraque-zas, Ameaças), identificou como fraqueza, além da pouca participação dos familiares no processo educativo dos filhos, a participação incipiente destes na gestão do Centro; apontou a necessidade também de estabe-lecer na Equipe Diretiva uma participação efetiva das famílias e da comu-nidade nos processos de decisão na tarefa diretiva dos processos da vida do Centro Educativo.

Com objetivo de integrar e ampliar a participação das famílias no Centro Educativo, a conformação do Conselho Gestor na Equipe Diretiva instrumentalizou a Comunidade Educativa para a tarefa diretiva. A susten-tabilidade das ações ganhou uma ferramenta preciosa para gestão, ressig-nificando processos educativos e institucionais. Assim, esse espaço ora constituído e legitimado tem fortalecido a Gestão Democrática no desen-volvimento dos programas que atuamos, tornando-se também referência para organizações sociais e para o poder público. Destacamos ainda nesse caminho de atuação e participação o papel do serviço social com o “Proje-to Aprendendo em Família” que, juntamente com as ações educativas com as famílias, colaborou para o fortalecimento do Conselho Gestor; desde

59 Assistente Social no Centro Cultural Popular Fé e Alegria Grajaú, São Paulo-SP.60 Coordenador de Atividades no Centro Cultural Popular Fé e Alegria Taipas, São Paulo-SP..61 Assistente Social no Centro Cultural Popular Fé e Alegria Taipas, São Paulo-SP.

1. Das experiências que você leu até este momento, quais podem ser adaptadas a sua realidade.

2. Escreva de que modo você as adaptaria.

3. Cite pelo menos três pontos que mais chamaram a sua atenção nas experiências relatadas. Justifique sua resposta.

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então, este vem se configurando como um ator legítimo e imprescindível para se atingir a qualidade dos atendimentos dos programas e para enfrentar as desigualdades nas regiões onde os Centros Educativos estão localizados.

Com o intuito de qualificar cada vez mais o envolvimento das famílias e de todos os atores da Comuni-dade Educativa, a ação do Projeto constituiu-se como um espaço de reflexão, participação e atuação solidária dinâmica institucional significativa aos processos pedagógicos e socioassistenciais. Em cada atividade plane-jada com a família, desafiava-se a participação quantitativa. Era preciso tornar a dinâmica da gestão mais participativa para garantir uma educação de qualidade para nossas(os) educandas(os), compartilhando, acom-panhando e reconhecendo o papel da direção na efetivação das ações e na árdua tarefa diretiva.

Anteriormente a esse novo processo, havia apenas a chamada “Comissão de responsáveis”, cujo forma-to seguia a reunião formal com as famílias, em que somente se apresentava o percurso pedagógico, com constantes convites para o voluntariado. Dessa forma, a atuação diretiva compreendia a confiança da família somente para a ação educativa a realizar com seus filhos, criando um vínculo estritamente pedagógico e alheio ao centro educativo como um todo ou a qualquer outro assunto, como gestão. O canal com a comunidade também parecia distante. As equipes técnica e de serviço social refletiram sobre as possibilidades de ressigni-ficação das práticas de gestão e estabeleceram novos olhares e intenções nas relações com a família e com a comunidade do entorno, bem como a comunidade educativa do Centro Educativo, tendo a gestão e a parti-cipação como eixos estratégicos desse caminho.

Era um novo olhar em construção. Uma percepção que saía da intuição para processos participativos, democráticos e decisórios. Na ocasião, a equipe pedagógica da sede nacional de Fé e Alegria Brasil promo-veu uma formação nacional para diretores de centros educativos com o propósito de entender e qualificar a gestão democrática de Fé e Alegria Brasil. Amparado teoricamente por documentos institucionais e pela co-leção de livros diretivos organizados pela federação e traduzidos para o português, o empoderamento dos gestores gerou energias essenciais para o entendimento do que significava a tarefa diretiva não centrada em uma pessoa, porém uma ação diretiva compartilhada e participativa como pressuposto de qualidade na ação educativa de Fé e Alegria. Desse modo, foi fundado o Conselho Gestor nos Centros Educativos de Taipas e do Grajaú, substituindo a Comissão de Pais. E mais que substituir, o verbo coerente passou a ser ampliar. Ampliar a participação, ampliar a confiança, ampliar as vozes, ampliar as tomadas de decisões, ampliar a escu-ta, ampliar a transparência.

As famílias foram convidadas para participar da reunião de apresentação da proposta de formação do Conselho Gestor. O primeiro encontro foi planejado para incentivar, estimular as famílias, sensibilizá-las. Foram utilizadas como estratégias cenas do filme Kiriku e suas aventuras, com a intenção de discutir a importância do trabalho em equipe. Também se refletiu sobre o conceito de Conselho, sua formação e composição, seus objetivos, o sentido de sua existência, as atribuições, a participação na gestão do Centro Educativo, seus ato-res destinatários principais e a quantidade de seus componentes.

Foi dada a continuidade na sensibilização durante quatro meses com reuniões mensais; em seguida, realizamos a eleição, na qual foram eleitos nove conselheiros e seus suplentes, entre esses eleitos foram es-colhidos por votação o presidente e seu vice, bem como o secretário e seu vice. Os componentes que for-maram o Conselho Gestor foram os responsáveis pelas(os) educandas(os) atendidas(os) nos Centros Educati-vos, as lideranças da comunidade e os colaboradores da Instituição, sendo um apontado pelo Diretor Nacional de Fé e Alegria Nacional e um escolhido pelo grupo de colaboradores da Instituição por votação. Para a organização do trabalho, foi construído um Regimento Interno, que descreve as finalidades, o funcio-namento, as reuniões e as eleições do Conselho Gestor, as atribuições da(o) presidente, das(os) conselheiras(os) titulares e das(os) suplentes.

O Conselho Gestor é formado por pais e/ou responsáveis pelas(os) educandas(os) atendidas(os) no

Centro Educativo, representantes das(os) colaboradoras(es) da Fundação (equipe operacional, pedagógica e

técnica) e lideranças comunitárias e educandas(os).

A formação do Conselho Gestor em Fé e Alegria tem como princípio o direito à autonomia da organi-

zação comunitária, para fortalecer os sujeitos sociais e democráticos em vista do desenvolvimento da demo-

cracia, para a defesa do direito de as pessoas e os grupos atuarem de modo eficaz com responsabilidade so-

cial e política. Por meio das atividades do Conselho, pretende-se favorecer a cooperação, a autonomia e o

protagonismo das famílias, das lideranças locais, das(os) colaboradoras(es) e educandas(os).

Como Instituição de educação popular e promoção social, os processos pedagógicos das atividades ul-

trapassam a ideia vazia de mudança. A proposta segue a metodologia da educação popular, reconhecendo

cada sujeito envolvido como ser de potencialidades e capacidades. As legitimidades das ações configuram-se

na organização de corresponsabilidade, todos colaborando para a construção e a realização de cada movimen-

to, de cada decisão, de cada ação a ser encaminhada. Dessa forma, como estratégia para a implementação do

Conselho, as reuniões iniciais aconteciam sob o formato de círculos de cultura priorizando a participação de

todos na problematização dos assuntos abordados. O objetivo é criar cada vez mais autonomia crítica e fomen-

tar o protagonismo com o empoderamento na defesa, na argumentação e na proposição de ideias.

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Avanços no processo…Atuação do Conselho Gestor do Centro Educativo de Taipas: participação ativa, dinâmica

e voluntária

Fe y Alegría no ha nacido con una fría programación decretada desde un centro de acción

de poder. Por el contrario, se ha ido generando por un propósito compartido con muchas personas a

las cuales se les ha ofrecido la información y el ideal de trabajar por la Educación Popular Integral

(Padre José María Vélaz, SJ).

Pretendíamos com o Conselho Gestor disponibilizar mais um espaço onde as famílias pudessem parti-

cipar, contribuindo também com a gestão e, dessa forma, pudessem perceber e identificar-se com a nossa

proposta e com a nossa missão.

Partimos do princípio de que o projeto deveria ter uma estratégia de ação na qual a comunidade

deixasse de ser o sujeito passivo para ser o sujeito determinante do processo de transformação de sua

realidade. Dessa forma, partilhamos da ideia de Gadotti (1988, p. 53), que postula sobre elementos deci-

sivos na transformação da realidade. Entendemos que nossa prática educativa não é neutra, portanto re-

flexiva, política. É imperativo compreender que nossa concepção de gestão também norteia nossas ações

pedagógicas. No cerne do processo de ensino-aprendizagem, não faz mais sentido a distância da família

e da comunidade do Centro Educativo, fragilizando sua corresponsabilidade em toda a ação educativa.

Fez e faz-se necessária uma atuação integrada. Dessa maneira, o Estatuto da Criança e do Adolescente

também nos ajudou na reflexão desse caminho para potencializar mais ações e parcerias com a comunida-

de e com as famílias para que todos compreendam a dimensão poderosa da parceria entre Centro Educa-

tivo, comunidade e família:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absolu-

ta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao

lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitá-

ria (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE).

Em 2013, os Conselhos vêm ganhando um amadurecimento de alto nível, principalmente no tocante ao

protagonismo e ao empoderamento social. Seja na maneira que se delibera, seja na maneira que se participa

e se posiciona diante das demandas da comunidade. Sua composição estrategicamente constituída por repre-

sentantes da comunidade educativa (mães, lideranças comunitárias, colaboradores e parceiros locais) aprofun-

dou de maneira positiva o papel de cada cidadão na luta por direitos.

Conseguiu-se avançar nas discussões sobre a educação não formal, criando para isso um GT (Grupo de

Trabalho) para aprofundar a discussão em torno da ampliação das atividades complementares desenvolvidas

com crianças e adolescentes da comunidade. Assim, percebeu-se o quanto o grupo enxerga a importância de

se discutir e aprofundar assuntos que julgam importantes e significativos para os projetos.

Na última eleição para a Prefeitura da cidade de São Paulo, por exemplo, foram aprofundados temas e

demandas para construir uma carta com propostas para os candidatos. Houve, na ocasião, um debate com os

candidatos; o Conselho participou e ainda preparou uma carta de propostas que foi entregue para cada can-

didato. Foi um momento de muita maturidade e crescimento, pois o grupo percebeu que não podia ficar

alheio aos processos políticos e principalmente ficar à margem dos debates.

Atuação do Conselho Gestor do Centro Educativo do Grajaú: Ação Comunitária em foco

O Conselho Gestor do Centro Cultural Popular Fé e Alegria Grajaú tem sua contribuição efetiva nas demandas das necessidades da comunidade, propondo melhorias significativas e de interesse relevante, am-parado por um documento legal que descreve seu regimento e sua finalidade, chamado regimento interno. Seu amadurecimento ocorre de maneira gradativa em busca de construção da cidadania no que concerne o empoderamento dos sujeitos sociais e o acesso da garantia dos seus direitos.

No ano de 2012, suas expectativas foram discutidas de modo que as demandas do bairro fossem aten-didas para um melhor acesso das famílias. Foram realizados ofícios e encaminhados aos órgãos competentes, foram articuladas parcerias com equipamentos da região e conquistas de apoio financeiro para construção do projeto arquitetônico do Centro Educativo.

Os membros do Conselho Gestor também têm uma atuação relevante nas áreas da Saúde, da Educa-ção, da Assistência Social e na Defesa do Meio Ambiente. Portanto, além das atividades ligadas ao Centro Educativo, são líderes comunitários comprometidos com a transformação da realidade em que estão inseri-dos. Durante os encontros do Conselho, percebeu-se como essas lideranças se tornaram referência para outras pessoas que estavam buscando um espaço de atuação e encontraram no Conselho essa oportunida-de. Enquanto Fundação, descobrimos dentro da comunidade atores sociais imbuídos do espírito de trans-formação da realidade.

Com o passar do tempo, o Conselho Gestor foi se empoderando das ações do Centro Educativo e for-talecendo o vínculo com os colaboradores, as crianças e as famílias, além de desenvolver o senso de perten-cimento ao Centro Educativo e compactuar de forma integral com sua proposta.

No ano de 2013, após a construção do Grêmio, duas(dois) educandas(os) passaram a integrar o Conse-lho Gestor, ficando, dessa forma, toda a Comunidade Educativa representada.

O caminho se faz caminhando, o Conselho Gestor vai para o seu terceiro ano de atuação descobrindo o seu modo de participação uma vez que não existia uma experiência anterior. No primeiro momento, o olhar do Conselho esteve mais voltado para as ações em prol da comunidade e seu entorno; e no segundo momento, o Conselho foi se aproximando das ações do Centro Educativo da proposta de Fé e Alegria e se empoderando do jeito de ser da Fundação. Esse processo se torna perceptível com as frequências nos en-contros, nos eventos, em visitas esporádicas e no interesse contínuo de conhecer mais sobre a Fundação Fé e Alegria do Brasil.

Na Educação Popular, a gestão está concentrada nas pessoas envolvidas no processo educativo, em seu crescimento como pessoa e como cidadão. Os aspectos mais relevantes na gestão são o formativo e o refle-xivo (BORJAS, 2006). Entendeu-se, então, esses aspectos como elementos imprescindíveis na participação das famílias, como caminho da inserção, pois não bastava organizar um espaço, era preciso construir, além do espaço, o empoderamento.

Para Libâneo (2002, p. 87), a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possi-bilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcio-namento da organização escolar. Prática que remete a alterações no próprio significado do que nela se viven-cia, uma vez que pressupõe entendê-la como uma confluência de espaços cujos sentidos se interpenetram: um espaço informativo, na medida em que se ampliam as informações sobre os processos educacionais e participativos; um espaço educativo, quando oportuniza a todos os envolvidos a reflexão e ação em torno de questões de interesse geral; um espaço organizativo, pois além de estabelecer relações institucionais de re-presentação diante do poder e da própria sociedade, pode ter sua forma de organização expandida para outras ações coletivas; enfim um espaço político e de construção de cidadania.

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Desafios e oportunidades…O caminho desenhado nem sempre foi tranquilo. À medida que se entendia a importância de integrar,

algumas preocupações foram se evidenciando. Diante da necessidade de se ter um trabalho com as famílias, muitos desafios também foram acalentando esse percurso. Questões e dúvidas provocaram em nós muitas reflexões. Como sensibilizar a equipe do Centro, a família e a comunidade para o planejamento coletivo? Como atualmente tem sido a participação das famílias? Como promover a participação efetiva das famílias para garantir a Gestão Democrática? Como desenvolver a confiança e o respeito dos pais pelo trabalho de-senvolvido? Como favorecer relações afetivas entre a família e o Centro Educativo?

Nesse turbilhão de questões, palavras-chaves como articulação, parceria, integração, participação, pro-tagonismo, transparência, liderança, cooperação, colaboração, transformação, solidariedade, criatividade, planejamento coletivo, cidadania, gestão democrática e autonomia foram se colocando na linha do horizonte, clarificando o caminho e fortalecendo as evidências levantadas pela equipe.

Na missão de Fé e Alegria, é impossível conceber um modelo de gestão centrada em uma pessoa. A participação da comunidade é de grande importância no desenvolvimento das ações, conformando equipes diretivas para uma gestão democrática participativa e colaborativa nos Centros Educativos de Fé e Alegria e no serviço público e nas instituições.

O Conselho, além de atuar na gestão do Centro também interagirá com as políticas públicas para o desenvolvimento local, especialmente no incentivo ao protagonismo comunitário para o desenvolvimento social da comunidade, que tenham a finalidade de estimular a participação nas Conferências municipal, esta-dual e nacional em todas as áreas, como Educação, Assistência Social, Saúde e Meio Ambiente, com ações que busquem embasar a população com conhecimentos de direitos e deveres. Os membros do Conselho Gestor são incentivados a participar nos conselhos comunitários, formar comissões para entendimento com o poder público e realizar visitas a órgãos públicos com as comissões. Entre essas, também destacamos:

Estimular a interlocução com as associações de moradores e os movimentos locais, fortalecer conselhos •de escolas, em parceria com outros setores e a sociedade civil organizada. Além de fortalecer uma rede social de atores que já é existente, por meio da divulgação pela Internet e pelo levantamento de dados de caráter mais abrangente sobre necessidades locais e sobre as ações comunitárias em torno dessas necessidades.

Participar da construção e das avaliações do POA (Planejamento Operativo Anual), construir e avaliar a •execução dos projetos e colaborar na destinação dos recursos financeiros do projeto.

Participar nas decisões de construção das rotinas pedagógicas e nas intervenções nos espaços educati-•vos, bem como monitorar com as demais famílias o que elas sentem em relação ao tempo em que os filhos permanecem no Centro Educativo.

É extremamente perceptível nesse projeto, a partir do trabalho em rede, que as ações se desencadeiam; por isso, possui fundamental importância para a vida dos Centros.

Do ponto de vista da Gestão Democrática, a experiência avançou na gestão participativa e colaborativa. O grupo possui uma atuação bastante clara e ativa, o que ajuda a criar no Centro uma cultura de gestão demo-crática, participa das decisões do Centro e articula com outras repartições públicas, priorizando os benefícios para todos. Os líderes comunitários são fundamentais nesse processo; por serem representantes escolhidos pela comunidade, conhecem as necessidades da comunidade e já desenvolvem trabalhos para o bem de todos.

Do ponto de vista do empoderamento, todos sem exceção cresceram como sujeitos de direitos e como pessoas humanas, como é possível perceber no relato da conselheira do Centro Educativo de Taipas e mãe de educandas(os), Viviane Maria dos Anjos:

Quando valorizamos as pessoas especiais que temos em nossa vida, notamos que elas nunca se afastam por maior que seja o motivo e a distância. Sendo assim, a vida me ensinou que os melhores presentes não são os bens materiais, mas são as pessoas que conquistamos e que se tornam especiais em nossa vida... E essas pes-soas são vocês. Todos nós somos insubstituíveis para Deus e creio, assim, que cada um tem uma missão nesta Terra. Independentemente das circunstâncias, vamos juntos fazer valer a pena cada projeto a ser realizado nes-se lugar (Centro Educativo). Ser voluntário é ter amor ao próximo, e isso é um dom que vem de Deus. É se doar sem esperar nada em troca, da forma como ensinou Nosso Senhor, o único que pode nos recompensar. Se eu não tivesse amor, de nada valeria! Se não tivesse amor, proveito algum teria. Que Deus nos abençoe. Amém!

As aprendizagens desse percurso revelam a fundamental importância dos processos participativos na árdua tarefa diretiva nos Centros Educativos de Fé e Alegria São Paulo. A experiência apresentada é importan-te porque mobilizou a comunidade de forma democrática e participativa, impulsionando o empoderamento, o protagonismo e o desenvolvimento comunitário. Não podemos prescindir, todavia, de uma gestão coerente, promotora da cultura democrática, participativa, colaborativa e transparente. Não se muda o mundo sem um sonho, por isso, conta muito o envolvimento das pessoas (GADOTTI, 2007). Trabalhar para comunicar uma identidade que nasce de uma mística de olhos abertos, que sonha a partir da análise de uma realidade certa e comprometida com os pobres (CELA, 2008).

Os Conselhos Gestores dos Centros Educativos de Fé e Alegria Taipas e Fé e Alegria Grajaú inaugura-ram uma nova etapa em sua atuação, articulando sua colaboração voluntária e dinâmica ao movimento, como também contribuindo de maneira decisiva na incidência das políticas públicas, por meio de formações em ci-dadania e participações efetivas nos espaços de ação pública, como Conselhos gestores de saúde, meio am-biente, defesa de direitos da criança e do adolescente e articulação de rede com organizações sociais e com o poder público. Aqui, destacamos no campo da participação e do empoderamento sua atuação como instân-cia deliberativa de decisões no Centro Educativo e na comunidade. Seu trabalho tem adentrado o campo da ação pública e do desenvolvimento comunitário. Alguns de seus membros, além de pais e mães de educandas(os) também são lideranças na comunidade, alguns se tornaram lideranças após participar do Con-selho dos Centros Educativos de Fé e Alegria São Paulo.

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