hannah arendt - di final1

Upload: anderson-junior

Post on 06-Jan-2016

235 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

filosofia

TRANSCRIPT

  • Aps assistir ao julgamento do nazi Adolf Eichmann, a filsofa poltica Han-nah Arendt atreve-se a escrever sobre o Holocausto em termos inauditos. O seu trabalho provoca imediatamente escndalo mas Arendt mantm-se fir-me ao ser atacada tanto por inimigos, quanto por amigos.

    HANNAH ARENDT um retrato do g-nio que abalou o mundo com a sua tese sobre a banalidade do mal.

  • HANNAH ARENDT um retrato do gnio que abalou o mundo com a sua descoberta da banalidade do mal. Aps assistir ao julgamento do nazi Adolf Eichmann, em Jeru-salm, Arendt atreve-se a escrever sobre o Holocausto em termos inauditos. O seu trabalho provoca imediatamente escndalo e Arendt mantm-se firme ao ser atacada tanto por inimigos, quanto por amigos. Mas enquanto a emigrante germano-judia pro-cura reprimir as suas prprias associaes dolorosas com o passado, o filme expe a sua mistura encantadora de arrogncia e vulnerabilidade, revelando uma alma defini-da e perturbada pelo exlio.

    O filme retrata Hannah Arendt (Barbara Sukowa) ao longo dos quatro anos (1961 a 1964) em que ela observa, escreve e suporta a recepo do seu trabalho acerca do julgamento do criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann. Ao observarmos Arendt en-quanto ela assiste ao julgamento, ao estarmos ao seu lado enquanto simultanea-mente metralhada pelos seus crticos e apoiada por um grupo unido de amigos fiis, sentimos a intensidade desta judia forte que fugiu da Alemanha nazi em 1933. Arendt, impetuosa e fumadora inveterada, feliz e bem sucedida nos EUA, mas a sua viso penetrante torna-a numa forasteira onde quer que v.

    Quando Arendt ouve falar de que os servios secretos israelitas raptaram Adolf Ei-chmann, em Buenos Aires, e o levaram para Jerusalm, fica determinada em relatar o julgamento. William Shawn (Nicholas Woodeson), o editor da revista The New Yorker, fica radiante por ter uma intelectual de tanto valor a cobrir o processo histrico, mas o marido de Arendt, Heinrich Blcher (Axel Milberg), no tem tanta certeza. Preocupa-o que esse encontro reenvie a sua amada Hannah para o que ambos chamam os tem-pos negros.

    Arendt entra no tenso tribunal de Jerusalm esperando ver um monstro e, em vez disso, encontra um z-ningum. difcil conciliar a mediocridade superficial do homem com a maldade profunda dos seus actos, mas Arendt apercebe-se rapidamente de que esse contraste o quebra-cabeas que tem de ser resolvido. Arendt regressa a Nova Iorque e, ao comear a discutir a sua interpretao inovadora de Adolf Eichmann, o medo comea a tomar conta do seu melhor amigo, Hans Jonas (Ulrich Noethen). Ele avisa que a abordagem filosfica dela vai apenas causar confuso. Mas Arendt defende a sua perspectiva corajosa e original e Heinrich apoia-a inteiramente. Aps dois anos de reflexo intensa, leituras complementares e mais debate com a sua melhor amiga americana, Mary McCarthy ( Janet McTeer), a sua amiga e investigadora alem Lotte Khler ( Julia Jentsch) e, claro, aconselhamento constante com Heinrich, ela entrega fi-nalmente o manuscrito. A publicao do artigo na The New Yorker provoca escndalo imediato nos EUA, em Israel e, rapidamente, no resto do mundo.

    HANNAH ARENDT permite perceber a importncia profunda das suas ideias. Mas ainda mais comovente a oportunidade de compreender o corao caloroso e o bri-lhantismo glido desta mulher complexa e profundamente arrebatadora.

    SINOPSE

  • HANNAH ARENDT

    AS FIGURAS

    HISTRICAS

    Nascida a 14 de Outubro de 1906, em Hanver, Hannah Arendt cresceu com os pais, judeus as-similados sociais-democratas. Estudou filosofia e teologia em Marburg e Heidelberg e entre os seus professores incluem-se Karl Jaspers, Edmund Husserl e Martin Heidegger, com quem teve um caso amoroso. O seu primeiro casamento, de 1929 a 1937, foi com o filsofo Gnther Anders. Em 1933, aps ter sido presa por pouco tempo pela Gestapo, fugiu para Paris, via Carlsbad e Ge-nebra. Trabalhou para a Juventude Aliyah, uma organizao judaica que ajudava crianas judias a emigrar para a Palestina. Em Paris, em 1937, co-nheceu Heinrich Blcher, antigo comunista e au-todidacta oriundo da classe operria, com quem casou em 1940. Aps um perodo de deteno e fuga do infame campo de concentrao de Gurs, emigrou em 1941 com o marido e a me para os Estados Unidos. Durante muitos anos, subsistiu escrevendo artigos e trabalhando na rea edito-rial, at encontrar eventualmente trabalho como secretria executiva da organizao Reconstru-o da Cultura Judaica. Em 1951, obteve cidadania americana e nesse mesmo ano foi publicado o

    seu livro As origens do totalitarismo um estu-do exaustivo dos regimes nazi e estalinista. Este tornou-se imediatamente num clssico intelec-tual e lanou a sua carreira nos Estados Unidos. Aps ser professora convidada nas universida-des de Princeton e Harvard, tornou-se professo-ra na Universidade de Chicago e na Nova Escola de Investigao Social, em Nova Iorque. Em 1958, publicou o livro A condio humana e, em 1961, deslocou-se a Jerusalm para cobrir o julgamento de Eichmann para a revista The New Yorker os seus artigos foram publicados em cinco partes, em 1963, e despoletaram intensa cobertura me-ditica. Foi alvo de resistncia violenta e de cr-ticas devastadoras pela descrio dos conselhos judaicos e pelo retrato de Eichmann. Mas o livro seguinte, Eichmann em Jerusalm: uma repor-tagem sobre a banalidade do mal, alcanou um lugar de grande respeito, ainda que sempre con-troverso, na maior parte dos debates srios acer-ca do Holocausto. hoje encarado como um dos seus livros mais importantes. Morreu em Nova Iorque, a 4 de Dezembro de 1975.

  • HEINRICH BLCHER

    Nasceu em 1899, em Berlim. Heinrich Blcher, filho de um operrio fabril, que morreu antes de ele nascer, foi criado pela me, que era lavadeira. Foi recrutado para a Primeira Guerra Mundial an-tes de acabar a escola e, ao regressar, juntou-se ao conselho de soldados rebelde um dos mui-tos conselhos de trabalhadores que se insurgi-ram nas ruas quando a guerra desastrosa chegou finalmente ao fim. Heinrich Blcher juntou-se Liga Espartaquista de Rosa Luxemburgo e, pou-co tempo depois, tornou-se membro do Partido Comunista Alemo. Heinrich Blcher tinha um apetite por aprender, mas no pela escolarizao. Evitava igualmente emprego remunerado, de modo a ler o mais possvel. Apesar de gentio, na sua demanda aventureira de se auto-educar, che-gou mesmo a associar-se a uma juventude sionis-ta, uma seco do Blue White. Leu Shakespeare, Marx e Engels e Trotsky. Trabalhou igualmente em vrios projectos de cabar e filmes antes de fugir do regime nazi, em 1933, para Praga e, mais tarde, para Frana. A conheceu e rapidamente se apai-

    xonou por Hannah Arendt. Aps um casamento de juventude e um outro que foi uma forma de atribuir cidadania a uma amiga, Arendt tornou-se a sua terceira mulher. Atravs de Espanha e Por-tugal, escaparam juntos para os Estados Unidos, onde Heinrich Blcher deu aulas na Nova Escola de Investigao Social, em Nova Iorque. A partir de 1952, apesar de no ter sequer diploma do en-sino secundrio, ensinou filosofia no Bard Colle-ge. Heinrich Blcher morreu em 1970. Numa das suas ltimas palestras, invoca a sua relao com Hannah Arendt de forma annima: O que conta agora o entendimento mtuo de duas perso-nalidades que se reconhecem e respeitam uma outra como tal; que, na verdade, podem dizer uma outra: eu garanto-te o desenvolvimento da tua personalidade e tu garantes-me o desenvolvi-mento da minha. Esta a base de todo o verda-deiro pensamento comunitrio. Depois de trinta e quatro anos juntos, Hannah Arendt considerou quase impossvel imaginar a vida sem o marido.

  • KURT BLUMENFELD

    Nasceu em 1884, na Prssia Oriental. Em 1904, comeou a estudar direito em Berlim, Friburgo e Knigsberg. Em 1909, iniciou a sua carreira profis-sional como secretrio da Federao Sionista Ale-m, tornando-se mais tarde no seu presidente. Enquanto secretrio-geral da Organizao Sionis-ta Mundial, de 1911 a 1914, visitou pela primeira vez a Palestina, para onde emigrou, em 1933. J em 1926, era o defensor mais influente do sionis-mo na Alemanha. Hannah Arendt foi a uma das suas conferncias levada pelo amigo Hans Jonas e, apesar de no se converter ao sionismo, ficou ligada a Kurt Blumenfeld para toda a vida. Deba-teram apaixonadamente o sionismo, a poltica, a

    dispora, o Holocausto, a assimilao, o regres-so Palestina e o problema geral da identidade judaica. A cobertura do julgamento de Eichmann por parte de Arendt e as suas teorias acerca da banalidade do mal levaram a uma rejeio dolo-rosa por parte do seu amigo chegado e figura pa-terna. Quando soube que Kurt Blumenfeld esta-va a morrer, voltou a visit-lo em Israel, mas no conseguiram ultrapassar as suas divergncias. Uma das maiores angstias de Hannah Arendt na vida foi no haver tempo suficiente para se recon-ciliar com Kurt Blumenfeld antes de ele morrer, a 21 de Maio de 1963, em Jerusalm.

    AS FIGURAS HISTRICAS | CONTINUAO

  • ADOLF EICHMANN

    Nasceu em 1906, em Solingen. O pai era con-tabilista. Ele abandonou o ensino secundrio e comeou, sem nunca concluir, a formao de mecnico. Em 1927, Adolf Eichmann juntou-se ao Deutsch-sterreichische Frontkmpferverei-nigung (Associao de Combatentes da Frente Germano-Austraca). Cinco anos mais tarde, jun-tou-se ao Partido Nazi Austraco e s SS. Em 1935, Adolf Eichmann foi transferido para a recm-cria-da Seco dos Judeus, tornando-se Administra-dor para os Assuntos Judaicos. Ambicioso e vido de sucesso, tornou-se, mais tarde, chefe da Uni-dade IV D 4/4 e IV B 4, que era responsvel pela organizao geral da deportao de judeus da Alemanha e dos pases europeus ocupados. Su-pervisionava toda a logstica, da compilao dos transportes utilizao dos comboios. Aps o fim

    da Segunda Guerra Mundial, Adolf Eichmann fu-giu de um campo de deteno americano. Sob um nome falso e com a ajuda de monges catlicos, bem como de um passaporte do Vaticano, conse-guiu escapar para a Argentina. Aps ser alertada por judeus alemes que viviam nas redondezas, agentes da Mossad raptaram-no em 1960. O jul-gamento em Jerusalm atraiu ateno mundial. Mais de 600 jornalistas estavam presentes quan-do Adolf Eichmann se declarou inocente das acu-saes. O veredicto final, no entanto, foi culpa-do e a sentena morte por enforcamento. Aps o seu apelo legal ser rejeitado, Adolf Eichmann foi enforcado, em Israel, a 31 de Maio de 1962. Para evitar enterrar os seus restos mortais em solo is-raelita, foi cremado e as suas cinzas espalhadas no Mediterrneo.

  • MARTIN HEIDEGGER

    Nasceu em 1889, em Mekirch. Tornou-se num dos filsofos mais importantes da Alemanha an-tes de fazer trinta anos. Com o seu trabalho prin-cipal, O ser e o tempo, publicado em 1927, estabe-leceu uma nova orientao filosfica no que diz respeito ao conceito fundamental de existncia humana, de Ser. De 1923 a 1927, foi nomeado pro-fessor na Universidade de Marburg, onde Hannah Arendt foi uma das suas alunas. Comeou um caso amoroso ardente. A relao entre o profes-sor casado e pai de dois filhos e a sua aluna de de-zanove anos foi, naturalmente, bastante proble-mtica. Martin Heidegger adorava a sua brilhante aluna, mas no queria pr em perigo o trabalho e no tinha qualquer inteno de deixar a mulher. Depois de Hannah Arendt deixar Marburg, o caso acabou finalmente pouco tempo antes de ela se

    casar com Gnther Anders. Apesar de no terem estado em contacto durante vrios anos, ela ficou chocada e desapontada quando Martin Heideg-ger, o seu prezado professor e primeiro amor, to-mou a deciso surpreendente de se juntar ao Par-tido Nazi em 1933. Apesar de tudo, ela renovou amizade deles em 1950 e, apesar de vrias longas interrupes, a relao permaneceu importante para ambos ao longo de todas as suas vidas. De-pois da guerra, Martin Heidegger foi grandemen-te renegado e foi em grande medida graas aos esforos de Arendt que pde finalmente ensinar e publicar novamente. Ela no lhe perdoou o com-portamento, mas acreditava que ele era um dos filsofos mais importantes do sculo XX e que se tem de atribuir um lugar de destaque ao seu tra-balho no cnone do pensamento ocidental.

    AS FIGURAS HISTRICAS | CONTINUAO

  • HANS JONAS

    Nasceu em 10 de Maio de 1903, em Mnchengla-dbach. O pai era fabricante txtil; a me era filha do Grande Rabino de Krefeld. Contra os desejos do pai, Hans Jonas envolveu-se nos crculos sio-nistas. Comeou tambm a estudar filosofia e his-tria de arte em Friburgo e Marburg, sob Martin Heidegger e Edmund Husserl. Conheceu Hannah Arendt quando eram ambos jovens estudantes e, com uma interrupo amarga mas temporria, permaneceram amigos o resto da vida. Em Agos-to de 1933, Hans Jonas imigrou para Londres. Em 1935, foi para Jerusalm onde, em 1944, se jun-tou Brigada Judaica do exrcito britnico e lu-tou contra os alemes. Em 1949, mudou-se para o

    Canad e depois, finalmente, em 1955, para New Rochelle, perto de Nova Iorque, onde se reencon-trou com jbilo com Hannah Arendt e se juntou ao seu crculo de amigos. Foi professor convidado em vrias universidades de prestgio nos EUA, en-sinando sobretudo histria da filosofia e das hu-manidades. O livro e os artigos sobre Adolf Eich-mann que Hannah Arendt publicou levaram a um conflito pessoal intenso entre eles que desgastou consideravelmente a sua amizade. No falaram durante dois longos anos, at que, finalmente, a sua mulher Lore ajudou Hannah Arendt e Hans a ultrapassarem a brecha entre eles.

  • MARY McCARTHY

    Nasceu em Seattle, em Junho de 1912. Fica rf com seis anos de idade. A mudana de pais adop-tivos exps Mary a contextos catlicos, protes-tantes e judeus. Comeou a publicar aos trinta e tornou-se rapidamente numa escritora e femi-nista reconhecida. O seu livro mais conhecido um romance intitulado The Group, publicado em 1963. O livro foi um enorme sucesso comercial, mas ela foi atacada ferozmente por muitos crti-cos homens e solidarizou-se com Hannah Arendt, uma vez que, ao mesmo tempo, ela estava a ser atacada pelos seus artigos acerca de Adolf Eich-mann. McCarthy escreveu um ensaio fervoroso e eloquente defendendo o trabalho de Hannah Arendt e apoiou-a fielmente durante os longos

    meses de raiva e hostilidade que preencheram todos os cantinhos da vida pblica e privada de Arendt. A sua amizade com Hannah Arendt era empenhada e apaixonada juntas, a europeia e a americana encarnavam tudo o que era de mais admirvel nas mulheres intelectuais fortes. A pu-blicao da sua correspondncia Between Frien-ds: The Correspondence 1949 1975 alcanou fama internacional. Com a sua ousadia de expres-so, franca e vivaz, Mary McCarthy participou em muitas contendas literrias e polticas. Quando Hannah Arendt morreu inesperadamente, em 1975, foi a McCarthy que se confiou a responsabi-lidade de concluir o seu livro no acabado, intitu-lado The Life of the Mind.

    AS FIGURAS HISTRICAS | CONTINUAO

  • BARBARA SUKOWA (Hannah Arendt)AXEL MILBERG (Heinrich Blcher)

    JANET MCTEER (Mary McCarthy)

    O ELENCO

    Por via dos anos de colaborao com Rainer Werner Fass-binder e Margarethe von Trotta, Barbara Sukowa acaba por encarnar a essncia da histria do cinema alemo. Nascida em Bremen, comeou a sua carreira na famosa escola Max--Reinhardt, em Viena, e depois fez muitas actuaes nos pal-cos teatrais.

    Trabalhou com R. W. Fassbinder na sua mini-srie lendria Berlin Alexanderplatz e no filme Lola. Com Margarethe von Trotta, actuou em Die bleierne Zeit [Anos de Chumbo], Rosa Luxemburg, LAfricana [A Africana], Die andere Frau [A Outra Mulher] e Vision: Aus dem Leben der Hildegard von Bingen [Viso: da vida de Hildegard von Bingen]. Trabalhou com v-rios realizadores de renome, como Volker Schlndorff (Homo Faber), Lars von Trier (Europa), Tim Robbins (Cradle Will Rock), Michael Cimino (The Sicilian), David Cronenberg (M. Butterfly) e Hans Steinbichler (Hierankl). No incio dos anos 1990, Bar-bara Sukowa mudou-se para Nova Iorque e prosseguiu a sua carreira de cantora, trabalhando com algumas das grandes orquestras e maestros do mundo, incluindo a Filarmnica de Berlim, a Orquestra de Cleveland, a Filarmnica de Viena, a Filarmnica de Los Angeles, o Schoenberg Ensemble dirigido por Claudio Abbado, Esa-Pekka Salonen, Reinbert de Leeuw, Concertgebouw e Carnegie Hall.

    Recebeu prmios de representao pelo seu trabalho em Cannes e Veneza, trs prmios do cinema alemo em ouro, o prmio Adolf Grimme em ouro e muito recentemente o pr-mio de melhor actriz em Montreal por Die Entdeckung der Currywurst, em 2008. Para alm de msica clssica, Barbara Sukowa d concertos com a sua banda de rock X-Patsy.

    Graduado pela prestigiada Otto-Falckenberg-Schule, de Munique, Axel Milberg foi membro do Munich Kammerspie-le, de 1981 a 1998, e trabalhou com encenadores como Peter Zadek e Dieter Dorn. Axel Milberg ganhou popularidade junto do pblico de cinema e televiso com o filme Nach Fnf im Urwald, realizado por Hans-Christian Schmid. Recebeu o pr-mio literrio internacional Corine pela sua leitura no udio--livro Kinesen [O Homem de Pequim], de Henning Mankell. Recebeu vrios prmios pelo seu trabalho em teatro e em te-leviso, nomeadamente o prmio Grimme, o prmio de Cine-ma da Baviera e o prmio de Cinema do Norte da Alemanha.

    Janet McTeer frequentou a Real Academia de Arte Dram-tica de Londres, em 1986, e estreou-se no cinema em Half Moon Street, contracenando com Sigourney Weaver e Micha-el Caine. Pelo seu desempenho na representao da pea Casa de Bonecas de Ibsen na Broadway recebeu o prmio Tony, o prmio de teatro Laurence Olivier para melhor actriz (1997) e o prmio de teatro do Crculo de Crticos de Londres para melhor actriz dramtica (1996). Em 2000, foi nomeada para o scar de melhor actriz por Tumbleweeds, um papel que tambm lhe valeu um Globo de Ouro de melhor actriz e o prmio Gotham Independent Film para melhor estreante. Em 2005, desempenhou um papel principal no filme de Terry Gilliam Tideland. Em 2009, foi nomeada para um Emmy pelo papel de Clementine Churchill no telefilme Into the Storm. Em 2012, foi nomeada para o scar de melhor actriz secundria pelo papel de Hubert Page, ao lado de Glenn Close, em Albert Nobbs.

  • JULIA JENTSCH (Lotte Khler)

    ULRICH NOETHEN (Hans Jonas)

    MICHAEL DEGEN (Kurt Blumenfeld)Julia Jentsch nasceu em 1978, em Berlim. Estudou na escola dramtica Ernst Busch e comeou a carreira pelo palco. Foi nomeada actriz mais promissora em 2002 pela Theater heu-te, uma das mais importantes publicaes alems de teatro. De 2001 a 2006, pertenceu ao Munich Kammerspiele onde interpretou os papis de Antgona, Desdmona e Gretchen e actuou em peas clssicas e modernas.

    Em 2007, aceitou o desafio de interpretar o papel de Effi em Effi Briest, a quinta actriz a faz-lo, depois de Marianne Hoppe (1939), Ruth Leuwerik (1956), Angelica Domrse (1970) e Hanna Schygulla (verso de Fassbinder de 1974).

    Em 2004, Julia Jentsch ganhou o prmio de cinema da Ba-viera de melhor jovem actriz por Die fetten Jahre sind vorbei [Os Edukadores]. Por Sophie Scholl Die letzten Tage [Sophie Scholl Os ltimos Dias], recebeu o Urso de Prata na Ber-linale, em 2005, o prmio do cinema alemo e o prmio do cinema europeu.

    Ulrich Noethen nasceu em Munique, em 1959. Fez a sua formao de actor em Estugarda e trabalhou em teatro em Friburgo, Colnia e Berlim. Noethen foi descoberto por Do-minik Graf, em 1995, e contracenou com Gtz George em Der Skorpion. Ulrich Noethen desempenhou vrios papis cinematogrficos impressionantes e destacados, tornando--se num dos mais importantes actores de cinema e televiso. Ganhou o prmio do cinema alemo para melhor actor, em 1998, por Comedian Harmonists, e o prmio de cinema da Baviera, em 2001, por Das Sams. Recebeu a Cmara de Ouro em 2006 pelo seu trabalho em televiso, ao qual juntou o prestigioso prmio Grimme, em 2009 e 2010.

    Nascido em Chemnitz, estudou drama na Escola Dramtica do Deutsches Theater em Berlim, onde tambm se estreou nos palcos. Aps dois anos em Israel, com actuaes em vrios teatros em Telavive, Bertolt Brecht pediu-lhe para se juntar ao Berliner Ensemble, em 1951. Desde ento, Michael Degen actuou em todos os grandes teatros de lngua alem, onde trabalhou com alguns dos encenadores mais importan-tes, incluindo Ingmar Bergman, Peter Zadek e George Tabori.

    Logo em 1978, actuou na adaptao que Franz Peter Wirth fez do Buddenbrooks de Thomas Mann. Seguiram-se vrios papis importantes, incluindo o de protagonista na adap-tao de Claude Chabrol de Die Wahlverwandtschaften [As Afinidades Electivas], de Goethe (1981), e um dos papis prin-cipais na adaptao que Egon Monk fez de Die Geschwister Oppermann [As irms Oppermann], de Feuchtwanger (1983). Hoje, Michael Degen um dos intrpretes mais reconhecidos na paisagem cinematogrfica e televisiva alem. Paralela-mente sua impressionante carreira no cinema e na televi-so, Michael Degen manteve-se igualmente fiel ao palco.

    A sua autobiografia Nicht alle waren Mrder Eine Kindheit in Berlin [Nem todos eram assassinos Uma infncia em Ber-lim], publicada em 1999, tornou-se num sucesso de vendas e foi passada para filme por Jo Baier. Em Maro de 2011, publi-cou Familienbande [Laos familiares], um romance aplaudido pela crtica sobre o filho mais novo de Thomas Mann.

  • MARGARETHE

    VON TROTTA(REALIZADORA E ARGUMENTISTA)

    Von Trotta nasceu em Berlim, em 1942, e estu-dou Lnguas e Literaturas Germnicas e Romni-cas, em Munique e Paris. Era uma actriz procu-rada nos filmes de Rainer Werner Fassbinder e Herbert Achternbusch. Trabalhou nos argumen-tos do seu ex-marido Volker Schlndorff e co-re-alizou a adaptao para cinema de Die verlorene Ehre der Katharina Blum [A Honra Perdida de Ka-tharina Blum], de Heinrich Bll.

    Margarethe von Trotta est entre as autoras de maior renome mundial. Aps a sua primeira re-alizao independente, Das zweite Erwachen der Christa Klages [O segundo despertar de Christa Klages] (1978), fez filmes importantes e controver-

    sos como Rosa Luxemburg (1986), Rosenstrae (2003) ou Vision Aus dem Leben der Hildegard von Bingen [Viso: da vida de Hildegard von Bin-gen] (2009). Ao longo dos anos, criou uma obra extensa, dedicada e impressionante, confirman-do sempre o seu talento evidente para fundir a experincia pessoal com o tema poltico, desen-volvendo uma forma caracterstica, que emo-cionalmente rica e que apela a um pblico vasto. Fez filmes para cinema e para televiso e obteve grande sucesso em Itlia, a sua segunda casa, com filmes como Die bleierne Zeit [Anos de Chumbo] (Leo de Ouro em Veneza, em 1981; o mais pre-miado filme alemo) e Rosenstrae (Coppa Volpi para melhor actriz para Katja Riemann, em 2003).

  • A LUZ QUE EMANA DO TRABALHO DE UMA PESSOA ENTRA DIRECTAMENTE NO MUNDO E PERMANECE APS A PESSOA MORRER. SER GRANDE OU PEQUENA, TRANSITRIA OU DURADOURA, DEPENDE DO MUNDO E SUAS DISPOSIES. SER A POSTERIDADE A JULGAR.

    A LUZ QUE EMANA DA VIDA DE UMA PES-SOA PALAVRAS PROFERIDAS, GESTOS, AMIZADES SOBREVIVE APENAS NA ME-MRIA. PARA ENTRAR NO MUNDO, TEM DE ENCONTRAR UMA OUTRA FORMA. UM HISTRIA TEM DE SER FEITA DE MUITAS MEMRIAS E HISTRIAS.

    Elisabeth Young-Bruehl, autora da biografia Hannah Arendt: For Love of the World

    NOTA DA REALIZADORA

  • UM FILME SOBRE

    HANNAH ARENDTE PORQU

    A luz que o trabalho de Hannah Arendt trouxe ao mundo ainda brilha. E uma vez que o seu tra-balho evocado por um nmero cada vez maior de pessoas, torna-se mais brilhante a cada dia que passa. Numa altura em que a maioria se sen-tiu obrigada a aderir a uma ideologia especfica, Arendt foi um exemplo brilhante de algum que permaneceu fiel sua perspectiva nica sobre o mundo.

    Em 1983, quis fazer um filme sobre Rosa Lu-xemburgo, porque estava convencida de que era a mulher e pensadora mais importante do sculo passado. Ansiava entender a mulher que estava por detrs dessa lutadora e revolucionria. Mas agora, no incio do sculo XXI, Hannah Arendt uma figura ainda mais importante. Est-se ape-nas a comear a compreender inteiramente e a lidar com a sua viso e sabedoria. Quando formu-lou pela primeira vez o conceito de banalidade do mal uma expresso que cunhou na sua re-portagem sobre o julgamento de Eichmann , foi criticada duramente e atacada como se fosse ini-miga do povo judeu. Hoje, este conceito tornou--se num elemento essencial de qualquer discus-so que procure julgar os crimes nazis.

    E, mais uma vez, interessava-me descobrir a mulher que estava por detrs desta pensadora extraordinria e independente. Ela nasceu na Ale-manha e morreu em Nova Iorque. O que a levou l?

    Enquanto judia, ela no tinha seguramente dei-xado a Alemanha de livre vontade e, por essa ra-zo, a sua histria levanta uma questo que co-loquei em muitos dos meus outros filmes: como que uma pessoa se comporta perante eventos histricos ou sociais que no consegue influen-ciar ou alterar? Como muitos outros judeus, Aren-dt podia ter sido vtima do Social-Nacionalismo.

    Mas ela reconheceu rapidamente o perigo e fugiu da Alemanha para Paris. Quando a Frana foi in-vadida, fugiu de Marselha e passou por Espanha e Portugal at chegar finalmente a Nova Iorque. Ao fugir, pensou com amargura nos amigos que tinham optado por ficar e apoiar os nazis. Ficou profundamente desapontada ao ver o quo rapi-damente se adaptaram nova era e descreveu este fenmeno numa entrevista deste modo: Zu Hitler fiel ihnen was ein. O que significa que, de modo a justificar a sua deciso, eles inventaram ideias acerca de Hitler.

    O exlio foi o seu segundo despertar. A primei-ra transformao na sua vida deu-se quando estu-dou filosofia com Martin Heidegger. Nessa altura, ela estava convicta de que a sua vocao na vida era dedicar-se ao pensamento puro. Mas aps o seu exlio forado, no teve escolha seno envol-ver-se com os acontecimentos do mundo real. Em 1960, quando se sentiu finalmente assentar nos EUA, estava pronta a enfrentar um dos captulos mais trgicos do sculo XX. Iria olhar directamen-te o rosto do homem cujo nome evocava o assas-sinato de milhes de judeus: Adolf Eichmann.

    O nosso filme centra-se nos quatro anos turbu-lentos em que as vidas de Arendt e Eichmann se cruzaram. Este foco permitia contar uma hist-ria que levaria a um entendimento profundo do impacto histrico e altamente emocional deste confronto explosivo. Quando a pensadora intran-sigente e inconvencional encarou o burocrata submisso e diligente, Arendt e o discurso sobre o Holocausto mudaram para sempre. Ela viu em Eichmann um homem cuja mistura fatal de obe-dincia e incapacidade de pensar por si mesmo (Gedankenlosigkeit) foi o que lhe permitiu trans-portar milhes de pessoas para as cmaras de gs.

  • Retratar Hannah Arendt quase exclusivamente durante o perodo que comea com a captura de Eichmann e acaba pouco depois da publicao do seu livro Eichmann em Jerusalm: uma reporta-gem sobre a banalidade do mal tornou possvel no apenas investigar o seu trabalho inovador, mas tambm revelar o seu carcter e personali-dade. Ficamos a conhec-la como mulher, como amante e, o mais importante para ela, como ami-ga. H apenas alguns flashback que nos levam aos anos 1920 e 1950, mostrando o caso amoro-so da jovem Hannah com Martin Heidegger, bem como o seu reencontro anos depois de a guerra ter acabado. Ela nunca se conseguiu libertar da sua relao com Heidegger, apesar de ele se ter juntado ao Partido Nacional-Socialista, em 1933. Estes flashback so importantes para compreen-der o passado de Arendt, mas o filme preocupa--se principalmente com a sua vida em Nova Ior-que, com o seu marido Heinrich Blcher, que ela conhecera no exlio em Paris, e com os seus ami-gos alemes e americanos, especialmente a au-tora Mary McCarthy e o seu amigo mais velho, o filsofo judaico-alemo Hans Jonas.

    Este um filme que mostra Hannah Arendt como uma pessoa presa entre os seus pensa-mentos e as suas emoes, algum que tem fre-quentemente de desemaranhar o intelecto dos sentimentos. Vemo-la como uma professora e pensadora apaixonada, como uma mulher capaz de amizades para toda a vida foi mesmo acla-mada como uma mulher que era um gnio da amizade , mas tambm como uma lutadora que defendeu corajosamente as suas ideias e nunca evitou nenhum confronto. Mas o seu objectivo era sempre compreender. A sua declarao de marca, Quero compreender, a frase que me-lhor a descreve.

    E precisamente a sua busca de compreenso das pessoas e do mundo que me atraiu irresisti-velmente para ela. Como Arendt, no quero nun-ca julgar, mas apenas compreender. Neste filme, por exemplo, quero compreender o que Hannah Arendt pensava sobre o totalitarismo e o colapso moral do sculo passado; sobre a auto-determi-nao e a liberdade de escolha; e, finalmente, o que ela foi capaz de esclarecer acerca do mal e acerca do amor. E espero que o pblico venha a entender, como eu o fiz, porque que impor-tante lembrar esta grande pensadora.

    A chave para compreender a vida de Arendt est no seu desejo de sustentar o que ela chamou amor mundi, o amor do mundo. Apesar de o exlio forado a ter levado a sentir vulnerabilida-de e alienao assustadora, continuou a acreditar na capacidade do indivduo suportar a fora cruel da histria. A sua recusa em deixar-se vencer pelo desespero e pela impotncia torna-a, aos meus olhos, numa mulher extraordinria cuja luz ain-da hoje brilha. Uma mulher que capaz de amar e ser amada. E uma mulher que capaz de, como ela lhe chamou, pensar sem corrimos. Ou seja, ser uma pensadora independente.

    De forma a proporcionar uma viso autntica de Arendt enquanto ser humano, tivemos, em l-tima instncia, de ir alm da montanha de fontes e arquivos escritos e audiovisuais. Deste modo, aps um longo perodo de pesquisa tradicional, realizmos longas entrevistas com contempor-neos que fizeram parte da vida e do trabalho de Arendt durante muitos anos.

  • ENTREVISTA COM A

    REALIZADORA

    Os seus filmes propem quase sempre um confronto intenso com figuras histricas im-portantes Rosa Luxemburgo, Hildegard von Bingen, as irms Ensslin O que que a esti-mulou em Hannah Arendt?

    A questo de como fazer um filme sobre uma mulher que pensa. Como observar uma mulher cuja principal aco pensar. Claro que tambm tinha medo de no lhe fazer justia. Isso fez com que o retrato cinematogrfico fosse bem mais di-fcil do que, por exemplo, o de Rosa Luxemburgo. Ambas as mulheres eram indivduos altamente inteligentes e nicos, ambas eram dotadas na sua capacidade para o amor e a amizade e am-bas eram pensadoras e oradoras provocadoras. A vida de Hannah Arendt no foi to dramtica quanto a de Rosa Luxemburgo mas foi impor-tante e comovente.

    Para saber mais sobre ela, no s li os livros e as cartas dela, mas tambm tentei encontrar pes-soas que a tivessem conhecido. Atravs destas muitas conversas, descobri gradualmente o que queria dizer sobre ela e que tempo da vida dela melhor serviria os meus propsitos. Por vezes, ti-nha mesmo muito medo dela. De repente, parecia to spera e arrogante. S depois da famosa con-versa entre ela e Gnter Gaus que me convenci finalmente de que Hannah Arendt era uma pes-soa verdadeiramente encantadora, espirituosa e agradvel. Depois de os ver juntos, compreendi o que Gaus quis dizer quando disse mais tarde numa entrevista que ela era o tipo de mulher por quem uma pessoa imediatamente se apaixona.

    A sua investigao teve lugar enquanto tra-balhava no argumento que comeou a escre-ver em 2003 com a argumentista americana Pam Katz. Em 2006, decidiu centrar o filme, que nessa altura tinha como ttulo de trabalho A controvrsia, nos quatro anos em torno do julgamento de Eichmann de 1961.

    Queramos contar a histria de Hannah Arendt sem diminuir a importncia da sua vida e do seu trabalho, mas tambm sem recorrer estrutu-ra muito alargada de um filme biogrfico tpico. Aps Rosenstrae e Die andere Frau, HANNAH ARENDT a minha terceira colaborao com Pam Katz. Fomos, por isso, capazes de escrever o argumento numa espcie de pingue-pongue, discutindo continuamente o trabalho por e-mail, telefone e em pessoa, em Nova Iorque, em Paris e na Alemanha. A nossa primeira questo foi: o que que escolhemos mostrar da vida de Han-nah Arendt? O caso amoroso com Martin Heide-gger (que muitos provavelmente esperavam)? A fuga da Alemanha? Os anos em Paris ou os anos em Nova Iorque? Depois de nos debatermos com todas estas possibilidades, tornou-se finalmente claro que concentrarmo-nos nos quatro anos em que ela escreveu sobre Eichmann era a melhor maneira de retratar a mulher e o seu trabalho. O confronto entre Hannah Arendt e Adolf Eichmann permitiu-nos no apenas aclarar o contraste radi-cal entre estes dois protagonistas, mas tambm ganhar uma compreenso mais profunda dos tempos negros da Europa do sculo XX. Ficou fa-mosa a declarao de Hannah Arendt Ningum tem o direito de obedecer. Com a sua recusa firme em obedecer a outra coisa que no o seu prprio conhecimento e crenas, no podia ser mais diferente de Eichmann. O dever dele, como ele prprio insistia, era ser fiel ao juramento de obedecer s ordens dos seus superiores. Na sua fidelidade cega, Eichmann renunciou uma das principais caractersticas que distinguem os seres humanos de todas as outras espcies: a capacida-

  • de de pensar por si mesmo. O filme mostra Han-nah Arendt como uma terica poltica e pensado-ra independente em luta contra exactamente o seu oposto: o burocrata submisso que no pensa de todo e que, em vez disso, opta por ser um su-bordinado entusistico.

    O material de arquivo a preto e branco do julgamento permitiu-lhe captar, de forma inci-siva, o carcter no-pensante de Eichmann.

    S se consegue mostrar a verdadeira banalida-de do mal observando o verdadeiro Eichmann. Um actor s distorce a imagem, nunca a tornaria mais ntida. Enquanto espectador, pode-se admi-rar o brilhantismo do actor, mas inevitavelmente no se compreenderia a mediocridade de Eich-mann. Ele era um homem incapaz de formular uma nica frase gramaticalmente correcta. Pela maneira como falava, era possvel ver que ele era incapaz de pensar de forma significativa acerca do que estava a fazer. H s uma cena com a Bar-bara Sukowa que tem lugar no verdadeiro tribu-nal e a, porque tinha de ser um actor, s se vem as costas de Eichmann. Filmmos todas as outras cenas de tribunal na sala de imprensa, onde o jul-gamento foi, de facto, mostrado em vrios moni-tores. Isso foi uma maneira de usar o verdadeiro Eichmann, atravs do material de arquivo, em todos os momentos importantes. Mas tambm tnhamos acabado por acreditar que, uma vez que Arendt era um fumadora inveterada, ela teria passado mais tempo na sala de imprensa do que no tribunal. Dessa forma, podia seguir o julga-mento e fumar ao mesmo tempo. Muitos dos ou-tros jornalistas tambm assistiram ao julgamento nos ecrs de televiso e enviaram relatrios ao mesmo tempo. A propsito, muito tempo depois de termos escrito esta sequncia, conseguimos finalmente falar com a sobrinha de Arendt, Edna Brocke, que estava com ela em Jerusalm na al-tura. Ela confirmou que a tia Hannah tinha, de

    facto, passado a maior parte do tempo na sala de imprensa, porque podia fumar l!

    HANNAH ARENDT no seria um filme seu se no vssemos igualmente Hannah Arendt como mulher, amante e amiga. Se no com-preendssemos melhor a complexidade desta grande pensadora.

    O filme tambm sobre a vida dela em Nova Iorque, a vida com os amigos, o amor por Martin Heidegger mesmo estando convencidos de que Heinrich Blcher foi uma figura bem mais impor-tante na vida dela. Ela chamava a Heinrich as suas quatro paredes, querendo dizer a sua verdadei-ra casa. Heidegger foi o primeiro amor de Han-nah e ela continuou ligada a ele, apesar da sua filiao com os nazis. Mesmo no incio da minha investigao, Lotte Khler, a nica amiga ainda viva de Hannah Arendt, deu-me o livro da corres-pondncia publicada entre Heidegger e Arendt. Mas assegurou-se de me dizer que Arendt tinha mantido todas as cartas dele na gaveta da mesa--de-cabeceira. Num flashback, mostramos Aren-dt a encontrar-se com Heidegger, durante uma visita Alemanha. Este encontro aconteceu mes-mo, apesar de, apenas algumas semanas antes de se encontrarem, ela ter escrito uma carta ao seu amigo e mentor, Karl Jaspers, em que chama-va assassino a Heidegger. A sobrinha de Arendt disse que a tia explicava a relao com Heidegger insistindo que Algumas coisas so mais fortes do que um ser humano.

    Para o papel de Hannah Arendt escolheu no-vamente Barbara Sukowa. Porqu?

    Vi Barbara Sukowa no papel de Hannah Arendt logo do incio e, felizmente, consegui ultrapassar alguma resistncia inicial a atribuir-lhe o papel. No teria feito este filme sem a Barbara. Preci-sava de uma actriz que eu pudesse ver a pensar.

  • A Barbara era a nica em quem se podia confiar para dar resposta a este difcil desafio.

    evidente como a Barbara Sukowa se sai bem, entre muitas cenas, no discurso de oito minutos no fim do filme. Poucos realizadores arriscariam tentar manter a ateno do pbli-co durante tanto tempo. Porque que tomou essa deciso?

    Muitos sentiam que um filme sobre Hannah Arendt devia, na verdade, comear com um dis-curso. Mas comeamos com uma conversa entre amigas a falar dos seus maridos. Queramos que o discurso final fosse o momento em que o pbli-co compreende finalmente as concluses que o seu pensamento trouxe luz. S depois de se ter assistido a ela a compilar as suas percepes so-bre o carcter de Eichmann e de se ter visto como ela foi atacada por elas de forma to brutal e fre-quentemente to injusta, que se est disposto a ouvi-la durante tanto tempo. Nessa altura, j nos apaixonmos por ela, bem como pela sua manei-ra de pensar. E a interpretao da Barbara si-multaneamente to inteligente e to emocional que nos tira o flego. Dirigimo-nos gradualmente em direco a este momento, dando lentamen-te oportunidade ao pblico de compreender os elementos constitutivos dos pensamentos com-plexos de Arendt e de entender o que ela queria

    dizer com a banalidade do mal. O discurso o cl-max intelectual e emocional de todo o filme.

    A equipa est a abarrotar de mulheres for-tes: Pam Katz como co-argumentista, Bettina Brokemper como produtora, Caroline Cham-petier como directora de fotografia, Bettina Bhler como montadora Coincidncia ou uma deciso consciente?

    No planeei isso dessa maneira, simplesmente aconteceu. Mas por outro lado, talvez no seja coincidncia. Mas Hannah Arendt era o oposto de uma feminista e HANNAH ARENDT tambm no o tpico filme de mulher. um filme feito por pessoas altamente dedicadas e profissionais, que se comprometeram a contar uma histria que faz jus vida de Hannah Arendt.

    De acordo com Karl Jaspers, professor e ami-go de Hannah Arendt, s nos podemos aven-turar na esfera pblica, quando confiamos nas pessoas. Cada um dos seus filmes uma aventura. Como que isso se aplica a HANNAH ARENDT?

    No esprito de Hannah Arendt: confiando que o pblico passe da ignorncia e espanto para o desejo de compreender e, em ltima instncia, chegue a essa compreenso.

    ENTREVISTA COM A REALIZADORA | CONTINUAO

  • 113 min | Alemanha | 2012| Cor | CinemaScope | Dolby Digital

    Distribudo por Alambique

    ESCRITO PORPAM KATZ,MARGARETHE VON TROTTA

    DIRECTOR DE FOTOGRAFIACAROLINE CHAMPETIER

    DIRECO DE CASTINGSUSANNE RITTER

    CASTINGROS & JOHN HUBBARD

    MAQUILHAGEMASTRID WEBER

    GUARDA-ROUPAFRAUKE FIRL

    PRODUO ARTSTICAVOLKER SCHAEFER

    SOUND DESIGNGREG VITTORE

    MONTAGEM DE SOMRAINER HEESCH

    MISTURAS DE SOMMICHAEL KRANZ

    SOMMICHAEL BUSCH

    MSICAANDR MERGENTHALER

    MONTAGEMBETTINA BHLER

    DIRECO DE PRODUO SASCHA VERHEY

    PRODUOBETTINA REITZ,HANS-WOLFGANG JURGAN,BIRGIT TITZE,CORNELIA ACKERS, MICHAEL ANDR

    CO-PRODUTORESBADY MINCK,ALEXANDER DUMREICHER-IVANCEANU,ANTOINE DE CLERMONT-TONNERRE, SOPHIE DULAC,MICHEL ZANA, DAVID SILBER

    PRODUZIDO PORBETTINA BROKEMPER, JOHANNES REXIN

    REALIZADO PORMARGARETHE VON TROTTA

    UMA PRODUOHEIMATFILM

    CO-PRODUOAMOUR FOU LUXEMBOURG,MACT PRODUCTIONS,SOPHIE DULAC PRODUCTIONS,METRO COMMUNICATIONS AND ARD DEGETO, BR, WDR

    APOIADO PORFILM-UND MEDIENSTIFTUNG NRW, FFF BAYERN, FFA,DEUTSCHER FILMFRDERFONDS,FILMFUND LUXEMBOURG,EURIMAGES, MEDIA PROGRAMME 121, CNC, ISRAEL FILM FUND,JERUSALEM FILM FUND

  • www.alambique.pt