habitaÇÃo popular na fronteira: o caso de ponta porÃ...

70
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL BRUNA LANSSONI MORILLO E SILVA HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO CORUMBÁ - MS 2013

Upload: others

Post on 26-Sep-2020

6 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

BRUNA LANSSONI MORILLO E SILVA

HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO

CORUMBÁ - MS

2013

Page 2: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

BRUNA LANSSONI MORILLO E SILVA

HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO

Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal. Linha de pesquisa: Desenvolvimento, Ordenamento Territorial e Meio Ambiente. Orientador: Dr. Tito Machado de Oliveira.

CORUMBÁ - MS

2013

Page 3: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

BRUNA LANSSONI MORILLO E SILVA

HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DA CONURBAÇÃO DE PONTA PORÃ COM PEDRO JUAN CABALLERO

Este documento corresponde à versão final da dissertação intitulada " HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DA CONURBAÇÃO DE PONTA PORÃ COM PEDRO JUAN CABALLERO” e apresentada por BRUNA LANSSONI MORILLO E SILVA à Banca examinadora do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, tendo sido considerada __________________________

Banca Examinadora

_________________________________________ Orientador:

Prof. Dr. Tito Machado de Oliveira (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

________________________________________ 1º Avaliador

Prof. Dr. Arnaldo Sakamoto (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

_________________________________________ 2º Avaliador

Prof. Dra. Ana Paula Araujo (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)

Page 4: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

Dedico a presente dissertação a meu filho Antonio Eduardo, meu maior tesouro.

Page 5: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao meu amigo e orientador Tito Carlos Machado de Oliveira, que,

um dia, me incentivou a participar da seleção para o Mestrado de Estudos Fronteiriços, e

acreditou no meu potencial, sendo meu orientador no decorrer deste trabalho.

Agradeço à banca de defesa, composta pelos professores Ana Paula Araujo (UFMS) e

Arnaldo Sakamoto (UFMS), pelos valiosos comentários, críticas e sugestões feitos durante a

qualificação, que tornaram meu trabalho mais rico e aprimorado.

Agradeço ao meu esposo, pela paciência e companheirismo durante esses anos de pesquisa, os

dias em que estive ausente para cumprir as disciplinas em Corumbá, sempre me incentivando

e me dando forças para não desistir.

Agradeço à minha família, meu pai Morillo, minha irmã Bárbara, minha tia Andréa, meu tio

Nivalcir, que sempre estiveram ao meu lado, me dando forças, conselhos, palavras de

conforto e apoio para finalizar essa pesquisa.

Agradeço, em especial, à minha avó Therezinha e minha mãe Ana Maria, que sempre

estiveram rezando por mim, por terem vindo ficar em casa comigo e com meu filho recém-

nascido para que pudesse concluir minha pesquisa.

Agradeço à minha amiga, parceira, confidente, Andréa Ferrão, que tive a oportunidade de

conhecer durante a prova de seleção do mestrado, a qual esteve ao meu lado em um dos

momentos mais difíceis e dolorosos da minha vida, minha companheira de estrada, de quarto

durante todo o tempo de mestrado, obrigada por tudo!

Agradeço à Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal e ao Mestrado

em Estudos Fronteiriços, pela possibilidade de ter feito parte dessa turma do mestrado, pela

qual me sinto feliz.

Agradeço ainda a todos que, direta ou indiretamente, tiveram participação nesta jornada de

trabalho e pesquisa, através de apoio, de palavras de conforto, e na realização da pesquisa, o

meu muito obrigada.

Page 6: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

SILVA, Bruna Morillo. "HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DA CONURBAÇÃO DE PONTA PORÃ COM PEDRO JUAN CABALLERO". 70p. 2013. Dissertação de Mestrado (Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu Em Nível de Mestrado em estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus do Pantanal, Corumbá,MS)

RESUMO

A presente dissertação teve por objetivo central analisar os programas habitacionais populares

de Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai). A metodologia de pesquisa

utilizada foi o método comparativo, que possibilitou evidenciar aspectos que distinguem os

elementos comparados relacionados aos programas habitacionais das duas cidades, assim

como as formas de construção e aplicação dos programas nas comunidades contempladas. E

procurar entender a dinâmica fronteiriça e estabelecer além do níveis de complexidade, grau

de dependências da conurbação Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai) em

relação ao modo de viver e habitar de seus cidadãos. Moradia é uma necessidade do homem,

ter um lugar para morar faz parte da sua sobrevivência. Estes desejos acabam que se tornando

valores de cada indivíduo. Este estudo aponta por fim o impacto que a fronteira causa nos

programas habitacionais, principalmente no lado brasileiro da fronteira, e as razões que levam

as famílias paraguaias a buscar benefícios habitacionais brasileiros.

Palavras-chaves: Habitação popular. Fronteira. Ponta Porã. Pedro Juan Caballero.

.

Page 7: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

SILVA, Bruna Morillo. "HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DA CONURBAÇÃO DE PONTA PORÃ COM PEDRO JUAN CABALLERO". 70p. 2013. Dissertação de Mestrado (Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu Em Nível de Mestrado em estudos Fronteiriços, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus do Pantanal, Corumbá,MS)

ABSTRACT

This dissertation aimed to analyze the popular housing programs in Ponta Porã ( Brazil) and

Pedro Juan Caballero (Paraguay). The research methodology used was the comparative

method, which enabled highlight aspects that distinguish compared elements related to

housing programs of the two cities, as well as, the forms of construction and implementation

of programs in communities covered. And try to understand the dynamics beyond the border

and establish levels of complexity, degree of dependency of the conurbation between Ponta

Pora (Brazil) and Pedro Juan Caballero (Paraguay) in relation of the way of living of yours

local citizens. Housing is a necessity of man, have a place to live is part of their survival .

These desires end up becoming that values each individual. This study, shows finally the

impact that the border issue in housing programs principally on the Brazilian side of the

border and the reasons why the Paraguayan families came to Brazilian’s side to seek housing

benefits .

Key-words: Popular housing. Border. Ponta Porã. Pedro Juan Caballero.

Page 8: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização de Ponta Porã. .................................................................................... 20

Figura 2 – Projeto de Revitalização da Linha Internacional. .................................................. 22

Figura 3 – Obra em execução: Projeto Revitalização da Linha Internacional. ....................... 23

Figura 4 – Linha de fronteira que divide as cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero. . 24

Figura 5 – Sede da SENAVITAT em Pedro Juan Caballero .................................................. 32

Quadro 1 – Déficit habitacional. ............................................................................................. 37

Gráfico 1– Estrutura do déficit habitacional. ........................................................................... 38

Figura 6 – Linhas estratégicas. ................................................................................................ 39

Quadro 2 – Soluções Habitacionais executadas e projetadas. ................................................. 40

Gráfico 2 – Aumento Progressivo do Orçamento do SENAVITAT. ...................................... 41

Quadro 3 – Programas habitacionais existentes em Ponta Porã.............................................. 44

Figura 7 – Planta baixa das casas dos programas habitacionais existentes em Ponta Porã, com

exceção do Programa Crédito Solidário. .................................................................................. 45

Figura 8 – Jovens chegando para o cadastramento das famílias. ............................................ 47

Figura 9 – Jovens do projeto Juventude Cidadã. ..................................................................... 47

Figura 10 – Casa com numeração do cadastramento. ............................................................. 48

Figura 11 – Local onde as famílias seriam reassentadas. ........................................................ 49

Figura 12 – Situação das casas das famílias na beira do córrego. ........................................... 49

Figura 13 – Moradias em áreas de risco. ................................................................................. 50

Figura 14 – Situação das casas. ............................................................................................... 50

Figura 15 – Casa com lixo no quintal. ..................................................................................... 52

Figura 16 – Casa com acúmulo de lixo no quintal. ................................................................. 52

Figura 17 – Reunião com as famílias beneficiadas. ................................................................ 53

Figura 18 – Curso de Aproveitamento Total dos Alimentos. .................................................. 53

Figura 19 – Curso de Aproveitamento Total dos Alimentos. .................................................. 54

Page 9: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

Figura 20 – Famílias acompanhando a obra. ........................................................................... 55

Figura 21 – Projeto Habitacional FNHIS - 180 novas casas. .................................................. 56

Figura 22 – Construção das casas do Programa Crédito Solidário. ........................................ 58

Figura 23 – Futuros moradores participam da construção. ..................................................... 58

Figura 24 – Casas prontas para serem entregues do Programa Crédito Solidário. .................. 59

Figura 25 – Sede da Cooperativa localizada no centro de Pedro Juan Caballero onde as

pessoas fazem filiação. ............................................................................................................. 60

Figura 26 – Obra em execução de 40 casas viabilizadas pelo projeto Créditos Hipotecários,

com 72m2 de construção por residência. .................................................................................. 61

Figura 27 – Área interna da residência. ................................................................................... 61

Figura 28 – Local destinado a guarda-roupa (modelo americano de guarda-roupa).. ............. 62

Figura 29 – Forro destinado a segurar o calor. ........................................................................ 63

Figura 30 – Banheiro de residência. ........................................................................................ 63

Figura 31 – Prédio Comunitário das famílias do projeto da Cooperativa do Projeto de

Construção. ............................................................................................................................... 64

Page 10: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11

2 A FRONTEIRA ENTRE PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO ....................... 15

2.1 A fronteira e suas territorialidades .................................................................................. 15

2.2 Ponta Porã e Pedro Juan Caballero e suas territorialidades ............................................ 17

3 HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E PARAGUAI ......................................................... 25

3.1 Breve histórico da habitação social no Brasil ................................................................. 25

3.2 Situação da habitação social no Brasil e seus programas ............................................... 28

3.3 Habitação Social no Paraguai ......................................................................................... 32

3.4 Realidade Habitacional no Paraguai ............................................................................... 36

4 REFLEXÕES DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS NA CIDADE DE PONTA PORÃ E

PEDRO JUAN CABALLERO ................................................................................................. 43

4.1 Programa FNHIS – 180 casas. ........................................................................................ 46

4.2 Habitação através do cooperativismo ............................................................................. 57

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 66

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 68

Page 11: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

1 INTRODUÇÃO

Recentemente, através dos meios de comunicação, acompanhamos cerca de 200

famílias sendo despejadas de um terreno embaixo da ponte Governador Orestes Quércia, na

cidade de São Paulo. Estas famílias foram retiradas de suas casas durante reintegração de

posse, e acabaram indo ocupar uma calçada perto dali, em avenida central da cidade.

"Permaneceremos no local até que haja uma alternativa de moradia para as famílias. Não só

de atendimento imediato, mas também garantia de solução habitacional definitiva para todos",

afirma em nota a coordenação estadual do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto),

liderança das famílias ocupadas. (Reportagem Folha UOl em 17/11/2013)

Porém, o problema de moradia digna não se restringe apenas àss metrópoles como São

Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, como mostram as redes sociais e os meios de

comunicação. Ele atinge todos os municípios do país, é um problema de ordem mundial,

muitos países encontram dificuldades para solucionar um problema tão grave quanto esse.

Agora, o que pode estar acontecendo em uma região de fronteira seca entre duas cidades que

representam dois países? Quais as diferenças de programas habitacionais e problemas

relacionados a moradias ambas enfrentam? Quais as peculiaridades da demanda? As cidades

têm políticas habitacionais para solucionar um problema que acaba sendo internacional, por se

tratar de dois países?

As características de uma fronteira seca, como a existente entre Ponta Porã e Pedro

Juan Caballero, chamada por muitos de cidades-gêmeas, instigaram-me a realizar o presente

trabalho. Durante o tempo em que fiz parte do setor responsável pela habitação popular na

cidade de Ponta Porã, sendo membro do corpo técnico da Prefeitura Municipal, pude

vivenciar muitas situações em que, por ser uma cidade fronteiriça, muitas vezes me via de

mão atadas, era preciso seguir a lei brasileira. Assim, fui percebendo problemas relacionados

à habitação social que só em uma região de fronteira poderiam aparecer, famílias paraguaias

realizando cadastro para conseguir uma casa própria no lado brasileiro, como isso teria uma

solução? Desta forma, fui me indagando, dia a dia, e, olhando a questão habitacional com

outra perspectiva além da questão política e governamental, a qual era minha função, vi uma

possibilidade de estudo real da questão habitacional em um região de fronteira, que até aquele

momento não havia imaginado. Assim, o tema habitação social na fronteira entre Ponta Porã e

Pedro Juan Caballero tornou-se o meu foco de pesquisa, e desafio, estimulada pelo meu

orientador, fruto das experiências que tive durante os cinco anos trabalhando no poder

público, sendo 3 anos no setor de habitação da prefeitura de Ponta Porã.

Page 12: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

Esta pesquisa analisa os programas habitacionais populares em Ponta Porã e Pedro

Juan Caballero. Além disso a pesquisa buscou diferenciar e comparar os projetos dos dois

lados da fronteira. Esta pesquisa se justifica pelo fato de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero

estarem enfrentando problemas similares relacionados à habitação social, tendo muitos lotes

sendo invadidos por famílias em busca de um teto. Ter uma moradia digna é um direito e uma

necessidade do homem tão essencial como a vida.

Objetivo Geral

• analisar os programas habitacionais populares em Ponta Porã (Brasil) e Pedro Juan Caballero (Paraguai).

Objetivos Específicos

• Analisar as formas de construção e tipos de habitações populares nas duas cidades; • Diagnosticar os impactos que a fronteira causa nos programas habitacionais populares.

Metodologia

Esta pesquisa foi desenvolvida através do método comparativo; procurei evidenciar

aspectos que distinguem os elementos comparados, que no caso são os programas

habitacionais sociais das duas cidades, Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, assim como

analisar e comparar as formas de construções desses programas, procurando entender como

eles são introduzidos na comunidade a qual será beneficiada com uma nova moradia. Truzzi

(2005, p. 4) esclarece que o objetivo aqui é deslindar particularidade através de contrastes e

não demonstrar, repetidamente, a aplicabilidade de um modelo teórico. A comparação é

utilizada para se esclarecer aspectos particulares de cada caso individual. De acordo com

Bendix (apud Truzzi, 2005, p. 4) "os estudos comparativos aumentam a visibilidade de uma

estrutura em contraste com a outra". Sendo assim procurei demonstrar, através de fotos e

experiências vivenciadas por mim, como são desenvolvidos os programas habitacionais

sociais em Ponta Porã e comparar com os programas já executados em Pedro Juan Caballero

que tenham o mesmo perfil, mas com diferenças de construções entre outras.

A pesquisa é aplicada do ponto de vista de sua natureza, porque procurou gerar

conhecimentos para aplicações práticas dirigidos às soluções dos problemas encontrados no

decorrer da pesquisa. Do ponto de vista da forma de abordagem do problema, a pesquisa é

Page 13: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

qualitativa, pois considerou que existe uma relação entre o mundo e o sujeito que não pode ser

traduzida em números; assim, analisamos os tipos de programas de habitação social, e suas

formas de construção. Do ponto de vista dos objetivos, a pesquisa possui caráter exploratório,

porque buscou produzir um conhecimento sobre a realidade dos programas habitacionais de

Pedro Juan Caballero e Ponta Porã, envolvendo levantamento bibliográfico, coleta de dados

visitando casas populares no lado paraguaio da fronteira, onde pude contar com o apoio e

informações de um funcionário da Senavitat. Este faz parte do corpo técnico da secretaria em

Pedro Juan Caballero, sua formação é arquitetura, porém me deparei inúmeras vezes com

questionamentos, todavia a secretaria não dispunha de documentos físicos que comprovassem

o que ele me dizia durante as entrevistas. Desta forma, pude contar somente com muitas

informações repassadas pelo Sr. Carlos Bogado (arquiteto do Senavitat) em relação aos

programas em andamento e os já concluídos em Pedro Juan Caballero, onde registrei fotos das

casas concluídas assim como as em andamento. Este tipo de dificuldade não me impediu de ir

além e tentar buscar informações em sites do Paraguai e trabalhos de acadêmicos sobre

população e outros dados do Paraguai.

Do ponto de vista dos procedimentos técnicos, a pesquisa possui caráter bibliográfico:

foi feito um levantamento bibliográfico em materiais já publicados, como livros, artigos,

periódicos, internet, entre outros. Porém, por se tratar de um assunto relativamente novo no

campo de pesquisa, foram encontradas dificuldades em materiais que poderiam dar mais

aprofundamento ao objeto de pesquisa.

Creio que uma questão que favoreceu a realização deste trabalho foi o fato de a

pesquisadora ter feito parte da equipe técnica da Prefeitura Municipal de Ponta Porã, onde

pôde participar da implantação de diversos programas habitacionais, em que, junto a uma

assistente social, realizava desde a seleção das famílias, as reuniões periódicas com as

famílias beneficiárias o que pode ser comprovado no decorrer deste trabalho através de fotos e

atas, até a entrega das unidades habitacionais às famílias. Desta forma, pude contar com um

material muito vasto e também com a experiência empírica do objeto de estudo que

enriqueceu os detalhes deste estudo. As observações que farei ao longo do trabalho não

estariam tão ricas em detalhes se eu não tivesse participado assiduamente de todos os

processos habitacionais realizados pela Secretaria Municipal de Habitação da Prefeitura de

Ponta Porã com essas famílias, misturando sentimentos e razão, ora exercendo meu cargo

institucional ora humano, coisa que, ao lidar com este tipo de público, envolvendo pessoas

carentes, famílias em condições sub-humanas, não podemos negar que muitas vezes a emoção

Page 14: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

toma conta de nós. Truzzi (2005, p. 9) acrescenta: "Não há observação sem alguma ideia pré-

concebida sobre o que se persegue. Assim, em boa medida, o modo como se coloca a questão

já implica parte da resposta que perseguimos".

Após estas observações, utilizei material bibliográfico, porém obtive dificuldade em

ter material vasto referente ao tema em questão.

Finalmente, serão organizados, em forma de relatório, os resultados deste estudo, com

a pretensão de contribuir para o planejamento territorial fronteiriço, incrementados pelas

discussões a partir de publicações e apresentações desses resultados em eventos.

Passo a descrever agora a análise que pude desenvolver, comparando a realidade

habitacional a que me referi acima, dos dois lados da fronteira Ponta Porã e Pedro Juan

Caballero.

Page 15: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

15

2 A FRONTEIRA ENTRE PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO

2.1 A fronteira e suas territorialidades

Lia Osório Machado (1998) explica que a fronteira está orientada “para fora” (forças

centrífugas), enquanto os limites estão orientados “para dentro” (forças centrípetas). Assim, a

fronteira é algo habitado, que possui a presença de pessoas; estas podem ter interesses

diferentes daqueles do governo central, o qual é quem mantém o limite; este é um fator

jurídico que cabe apenas às autoridades governamentais. Afirma o autor: [...] a fronteira pode ser um fator de integração, na medida que for uma zona de interpenetração mútua e de constante manipulação de estrutura sociais, políticas e culturais distintas, o limite é um fator de separação, pois separa unidades políticas soberanas e permanece como um obstáculo fixo, não importando a presença de certos fatores comuns, fisio-geográficos ou culturais. (MACHADO, 1998, p. 2 ).

As oportunidades disponíveis para quem vive nas fronteiras são bem diferenciadas

daquelas ao alcance de uma pessoa que vive longe delas. Não podemos deixar de frisar que as

fronteiras só existem por haver limites entre duas nações, e como acabamos de citar, esta

condição oferece ao cidadão fronteiriço ora facilidades ora dificuldades, as quais já se

tornaram parte do dia a dia.

Assim, Hoffmann mostra que A fronteira é um espaço que integra diversos fatores, podemos dizer que é uma comunhão de atores sociais que ali vivem, ora de um lado ora de outro, conforme lhes for conveniente. Quando me refiro a conivente [...] Muitos vêem a fronteira simplesmente como uma linha divisória entre dois Estados-Nação. (HOFFMANN, 2008, p. 143).

Nas palavras de Oliveira (1998), os números mostram que, de maneira geral, as

fronteiras têm apresentado significativo aumento no seu volume populacional e nas atividades

econômicas em todos os países das Américas e, com mais intensidade, na América do Sul.

Por isto tudo, qualquer fronteira é um lugar assaz complexo, e qualquer diagnóstico que

desconsidere a excentricidade dessa imposição geográfica padece de incompletude.

É perceptível que o tema fronteira vem sendo, cada vez mais, estudado e questionado

pelos estudiosos. Uma vez estudada e observada, podemos perceber que, a cada dia, a

fronteira nos surpreende com diferentes experiências e acontecimentos; como exemplo, se

observarmos o mesmo lugar, analisando o fluxo de pessoas, vamos ver diferentes

acontecimentos todos os dias, levantando, a cada dia, um novo questionamento. Por isso,

podemos dizer que a fronteira é algo flutuante, algo mutável, nunca está da mesma forma.

Page 16: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

16

Porém isso pode ocorrer em outros lugares, mas estamos enfocando a temática fronteira ao

longo deste trabalho.

Por sua vez, Oliveira comenta: Em todos os sentidos, a realidade fronteiriça ainda é insuficientemente estudada, seja pelo seu despertar recente, seja por preconceito; impingindo com que, no imaginário popular, a fronteira seja sinônimo de contrabando, narcotráfico e outras ilicitudes, como se estes malefícios fossem exclusividade daquele território. Na realidade, a fronteira é o ambiente natural e concreto das articulações de integração entre os estados-nações, em particular as cidades gêmeas. Ao chegar à fronteira, nos depara-se com uma atmosfera que surpreende qualquer transeunte: são, no geral, lugares de intensa articulação, informação, comunicação, interatividade com complementaridades variadas e dinâmicas, que distanciam o ambiente de qualquer aproximação com o conceito de estático. (OLIVEIRA, 2010, p. 41).

As fronteiras não podem ser vistas nem comparadas com nenhum outro lugar, pois têm

uma singularidade própria. A realidade fronteiriça possui identidade específica, que reflete

conexões (culturais, econômicas, administrativas e sociais), que se contrapõe aos múltiplos

interesses internos e externos (OLIVEIRA, p. 20). Assim, podemos perceber que a fronteira

está longe de encontrar um equilíbrio, ela está em constante modificação. Mas temos que ter o

entendimento de que uma fronteira se diferencia da outra, não podemos generalizar e formar

uma opinião somente baseados em uma única fronteira. Fronteira, quando é estudada,

desperta curiosidades e entusiasmo para a pesquisar cada vez mais, procurando novas

concepções deste paradigma. As cidades fronteiriças apresentam condições diferenciadas para

seus cidadãos, pois estes podem desfrutar das vantagens e sofrer as desvantagens que a

fronteira lhes oferece, usufruindo da infraestrutura de ambos os lados, coforme suas

necessidades. Nas palavras de Bentancor (1994), uma funcionalização da estrutura produtiva e

ocupacional, em decorrência das vantagens comparativas localizadas. Para Oliveira, Se câmbios de moedas, tratados, controle fito-sanitário, decisões multilaterais, etc. interferem de forma tangencial em cidades não fronteiriças, no entanto, na fronteira sua interferência é direta e simultânea. Todas as vezes que muda a correlação cambial (geralmente entre a moeda local e o dólar americano), significativamente muda também o sentido dos fluxos de trocas mercantis na fronteira; qualquer mudança na postura política de governo em relação ao estado vizinho, imediatamente, na fronteira, se ordena manifestações em função desta postura. Ou seja, essa lógica possui, como principio, a oscilação e a condição pendular dos investimentos. As conurbações na fronteira são reféns dos gradientes incisivos da lógica conjuntural. (OLIVEIRA, 2009, p. 4).

As fronteiras, especialmente em situações de cidades gêmeas, oferecem essas

condições, que muitas vezes impulsionam o comércio local ou provocam o efeito rebote,

mudando drasticamente as direções dos fluxos, conforme as vantagens oferecidas.

Um fato recente que demonstra uma grande conquista para as regiões de fronteira que

tenham como características cidades gêmeas foi a lei sancionada pela Presidente da

Page 17: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

17

República, Dilma Rousseff, no dia 10 de outubro de 2012, que autoriza a instalação de lojas

francas, conhecidas como "free shop",1 em cidades fronteiriças. Estas poderão comercializar

mercadorias nacionais e estrangeiras livres de tributos, e seu pagamento poderá ser tanto em

moeda brasileira como estrangeira. Os produtos só poderão ser vendidos a turistas

estrangeiros, de passagem pelo país, e a brasileiros em trânsito entre o Brasil e outros países.

Um dos objetivos desta lei é estimular o turista a consumir produtos nacionais, os quais, com

a isenção de tributos, poderão competir com produtos similares estrangeiros. A previsão é de

que 28 municípios brasileiros sejam beneficiados por esta lei; somente no estado de Mato

Grosso do Sul serão 8 cidades beneficiadas, são elas: Bela Vista, Corumbá, Coronel Sapucaia,

Mundo Novo, Paranhos, Ponta Porã, Porto Murtinho e Sete Quedas. Todas essas cidades

fazem fronteira com outro país. Esta lei representa um grande avanço para as regiões de

fronteira, proporcionado mais empregos diretos e indiretos e impulsionando o comércio do

lado brasileiro, o qual, muitas vezes, acaba sendo prejudicado pela diversidade de produtos

importados que a cidade vizinha oferece, com valores inferiores aos praticados no comércio

local brasileiro, que, por sua vez, é onerado pela quantidade de impostos que devem ser

recolhidos no Brasil. Definitivamente, estas regiões têm singularidades próprias.

Desta forma, precisamos lançar diferentes olhares para a fronteira a fim de tentar

entendê-la, não somente no âmbito político ou de Estado/Nação, mas, sim, pela possibilidade

das comunidades locais provocarem mudanças e exercerem forte papel nas decisões locais.

2.2 Ponta Porã e Pedro Juan Caballero e suas territorialidades

Para se compreender a dinâmica do território de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, é

preciso entender alguns conceitos que dizem respeito a território e territorialização. Santos

(2002) enfatiza que o conceito de “território” é imprescindível para se entender o que

acontece à nossa volta, no mundo.

O território não é apenas o conjunto de sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem que ser entendido como território usado, não território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar de residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida. (SANTOS, 2002, p. 10, grifo do autor).

1 Free Shop: são lojas livres de impostos; a expressão, traduzida para o português, significa compras livres. Esses tipos de lojas são muito comuns em aeroportos, principalmente dentro das salas de embarques e desembarques internacionais.

Page 18: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

18

Assim, dando ênfase aos atores que moram e que agem sobre o território, refletindo

em relação ao território Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, pensando não somente em sua

demografia, seus recursos naturais disponíveis, mas, sim, como o chão em que pisamos, suas

particularidades, que mudam de território para território. No caso da fronteira, isso é muito

acentuado, pois este espaço apresenta particularidades de dois países que são separados

apenas por uma linha imaginária, mas que não deixam de ser um território só para os que ali

vivem, dividindo cultura, línguas, religiões e crenças. Assim também para Haesbaert, “O

território, de qualquer forma, define-se antes de tudo com referencia às relações sociais (ou

culturais, em sentido amplo) em que está mergulhado” (HAESBAERT, 2002, p. 25).

Podemos perceber que, para Haesbaert, tudo está inteiramente ligado entre si; como a

cultura dos povos e o chão em que pisamos, este local pode sofrer várias transformações pelo

povo que ali vive, e podemos observar, conforme já fora citado, o poder dos atores sobre seu

território, tornando-o cada vez mais dinâmico e fluido.

Para compreendermos o conceito de territorialidade e sua imensa importância,

podemos assumir que ele possui [...] um valor bem particular, pois reflete a multidimensionalidade do “vivido” territorial pelos membros de uma coletividade, pela sociedade em geral. Os homens “vivem”, ao mesmo tempo, o processo territorial e o produto territorial por intermédio de um sistema de relações existenciais e/ou produtivistas [...] todas são relações de poder, visto que há interação entre os atores que procuram modificar tanto as relações com a natureza como as relações sociais. (RAFFESTIN, 1993, p. 158-159).

Desta forma, entendemos a territorialidade como as ações, as estratégias políticas que

mantêm as relações de poder dos atores sobre seu território, por visarem uma autonomia cada

vez maior desse território. Com base nisso, entendemos territorialidade como as ações dos

seus atores para com seu território, o que faz esse território diferenciado do seu entorno, o

qual nos permite identificá-lo como tal.

Segundo Santos e Silveira (2004, p. 19), a territorialidade pode ser compreendida

como sinônimo de “pertencer àquilo que nos pertence”. Isso permite aos atores pensarem que

todos ali pertencem ao território que lhes pertence, que todos possuem algo em comum entre

si; assim, tem-se uma maior interação entre ambos os países, já que estamos falando de uma

fronteira seca, de cidades gêmeas.

Ponta Porã é uma cidade localizada na parte mais alta do território sul-mato-grossense,

em altitude de quase 700 metros. O clima na maior parte do ano costuma ser fresco, o que a

torna muito agradável. Sua população é 77.872 habitantes, segundo dados do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já Pedro Juan Caballero conta com uma

Page 19: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

19

população em torno de 90.000 habitantes, dados fornecidos informalmente pelo Senavitat. A

população de ambos os lados esta formada por pessoas de muitas etnias, pessoas simples e

cordiais, as quais convivem harmonicamente com a cultura brasileira e paraguaia,

principalmente no que diz respeito à culinária. É impossível ir a esta fronteira passar pelos

restaurantes, padarias, enfim, locais comerciais e não se deparar com algo da cultura

paraguaia e brasileira misturada de ambos os lados. As cidades então situadas a 300 km de

Campo Grande, a capital do estado de Mato Grosso do Sul, e em torno de 480 km de

Assunção, capital do Paraguai.

A fronteira Brasil-Paraguai foi definida, pelo tratado assinado em 9 de janeiro de

1872, desde a foz do Rio Apa, atualmente estado do Mato Grosso do Sul, até a foz do Rio

Iguaçu. Através do tratado complementar de 21 de maio de 1927, foi estabelecida a fronteira

no rio Paraguai, entre a foz do rio Apa e o desaguadoro da Baía Negra, ponto tripartite Brasil-

Paraguai-Bolívia. Na linha limite, seguindo o sentido geral de sul para norte, encontramos a

cidade de Paranhos (brasileira); Ipe Jhú (paraguaia); Sete Quedas (brasileira); Ponta Porã

(brasileira) e Pedro Juan Caballero (paraguaia).

O município de Ponta Porã localiza-se na fronteira Centro-Sul do estado de Mato

Grosso do Sul, sendo limitado, a leste, pelo município paraguaio de Pedro Juan Caballero,

capital do distrito de Amambay, com o qual é conurbado, e Antônio João, do lado brasileiro

(50 km); ao sul, limita-se com os municípios de Aral Moreira (70 km) e Laguna Carapã (75

km); a oeste, com o município de Dourados (120 km) e, ao norte, com os municípios de

Maracajú (96 km), Guia Lopes da Laguna (140 km), Jardim (140 km) e Bela Vista (120 km).

Ponta Porã conta, hoje, com dois distritos: Cabeceira do Apa, na região norte, distante

65 km da sede do município, e Sanga Puitã, ao sul, e distante 15 km da sede.

As duas cidades são quase do mesmo tamanho, e a cultura e as tradições de ambas as

cidades não tem como não se misturarem. Chamadas por muitos de cidades gêmeas, a linha de

conurbação separa as duas cidades por apenas uma avenida; em alguns pontos, fica difícil

distinguir-se em que país se está. Não há no ambiente fronteiriço, em especial nas cidades gêmeas, apenas a difusão de comunidades condicionadas a demandar relações de convivência onde se entrelaça sangue, línguas e capitais, ou seja, trocas. (OLIVEIRA, 2010 p. 26).

Ponta Porã faz fronteira seca com a cidade de Pedro Juan Caballero por meio de uma

linha de 13.800 metros (TORRECILHA, 2004) de extensão dentro do perímetro urbano. Esta

separa as duas cidades por meio de um eixo longitudinal com 50 metros de largura, sendo 25

metros para cada cidade/país, o qual demarca o limite internacional entre Brasil e Paraguai. A

Page 20: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

20

chamada “linha internacional”, termo que também é bastante citado entre os moradores de

ambas as cidades, é, sem dúvida, um dos espaços mais importantes para as duas cidades,

tornando-se a característica mais relevante local. Ambas as cidades nasceram e cresceram a

partir desta linha, que podemos também chamar de limite entre as duas cidades, a figura 1

expressa a proximidade e a localização de ambas as cidades as quais são nosso objeto de

estudos.

Figura 1 – Localização de Ponta Porã.

Fonte: Plano Diretor do Município de Ponta Porã.

Page 21: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

21

Para Lia Osório Machado (1998, p. 2), “limite é um fator de separação, pois separa

unidades políticas soberanas e permanece como um obstáculo fixo, não importando a

presença de certos fatores comuns, físico-geográficos ou culturais”; assim, o “limite” entre

Ponta Porã e Pedro Juan Caballero é algo que é mantido pelo governo central, não tem vida

própria, não é habitado, é um limite jurídico apenas. Já a fronteira que forma as cidades

gêmeas é algo que tem vida própria, há a presença de vida humana, o que faz daquela região

uma região diferenciada das demais, e palco de muitas discussões políticas.

Ponta Porã tem uma particularidade a qual a faz objeto de estudos de muitos

pesquisadores, a condição de cidade em situação de conurbação, em uma fronteira

internacional, com o município de Pedro Juan Caballero, Paraguai.

Machado et al. (2005) define a fronteira como um território de interação que apresenta

uma paisagem especifica e um componente social constituído por diferentes fluxos e

interações transfronteiriços, cuja territorialização define-se na forma de cidades-gêmeas.

Separadas pela chamada linha de fronteira seca, o processo de ocupação e depois urbanização

aconteceu a partir desta linha de fronteira, sendo que tanto as residências como as lojas de

comércio foram se instalando ao longo dessa linha. O certo é que o endereço das conexões

futuras, para as cidades de fronteira, é a condição de fronteira, e sobre esta se observa: o

movimento dos citadinos e transeuntes; o traçado e os novos equipamentos urbanos que

caminham em direção da divisa no sentido da aproximação física; a criação de espaços

coletivos da convivência sociocultural (praças, feiras, campos esportivos, etc. que nascem por

movimentos espontâneos) incita a aproximação social.

A linha de fronteira que divide, mas que, ao mesmo tempo, une as cidades de Ponta

Porã e Pedro Juan Caballero, é considerada um dos itens de maior relevância nos dois

municípios. Como comprovação, está sendo implantado um projeto de revitalização da Linha

Internacional entre o Brasil e Paraguai, que poderá servir de exemplo para outras localidades

de fronteira em todo o mundo. Esse projeto envolve os governos dos dois países, e está sendo

financiado por um fundo perdido de 2 milhões de euros, cerca de 5 milhões de reais, junto à

União Europeia. Esta obra tem por objetivo transformar a linha que divide as duas cidades e

os dois países em um verdadeiro “cartão postal”, pois hoje não é isso que podemos ver

quando visitamos a Linha Internacional, a qual é sinônimo de prostituição, comércio e

instalações ilegais, assim também como o popularmente chamado “gato” na energia elétrica,

que os comerciantes, sem saída, acabam fazendo para poder manter seus estabelecimentos

abertos. Este projeto, que já se encontra em andamento, irá recuperar praças, construir boxes

comerciais e praça de alimentação e construir um espaço comum de lazer para ambos os lados

Page 22: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

22

da fronteira, para que a população local possa desfrutar de um ambiente agradável. Conforme

a foto a seguir, podemos ver como irá ficar o projeto depois de pronto, mudando a paisagem

na área central de ambas as cidades, resultado de uma ocupação desordenada da “linha de

fronteira”. Este projeto se tornará um marco histórico nesta linha de fronteira; os segmentos

municipais tem consciência da real importância que tal projeto representará para as cidades

gêmeas, provocando, além de tudo, uma grande coesão social para a população fronteiriça, e

um vasto avanço social.

Figura 2 – Projeto de Revitalização da Linha Internacional.

Fonte: <http://www.correiodoestado.com.br/noticias/revitalizacao-da-linha-internacional-em-ponta-pora- custara-r_96650/>.

Page 23: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

23

Figura 3 – Obra em execução: Projeto Revitalização da Linha Internacional.

Fonte: Jornal Agora MS, publicada quinta-feira, 27 de setembro de 2012, às 7h18m.

Este projeto da Revitalização da Linha de Fronteira desencadeou iniciativas positivas

para ambos os lados, não somente de caráter estético para o local, mas no que tange a políticas

públicas. No ano de 2009, havia ausência de políticas de ordem territorial sobre a faixa de

fronteira em ambas as cidades. As administrações consideravam que não era de sua

competência a regulamentação desta faixa, já que era algo ligado aos governos federais. Em

dezembro de 2010, foi aprovada a Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano de Ponta Porã,

complementada pelo Plano Diretor; seu texto especifica a faixa fronteiriça como uma zona

pública municipal. Não foram permitidas novas ocupações ao longo da linha por parte de

comerciantes informais; inclusive, em alguns lugares, os ocupantes foram retirados.

Em dezembro de 2011, foi aprovada a lei 10/2011 em Pedro Juan Caballero, na qual se

regulamenta o uso da Linha Internacional, assim como o da nova infraestrutura. Também se

aprovou o Plano de Ordem Territorial e Urbano, com a colaboração de arquitetos, engenheiros

e estudantes de universidades.

Mesmo sendo divididos apenas por uma linha imaginária, existia uma ausência de

trabalhos conjuntos entre a Prefeitura de Ponta Porã e a de Pedro Juan Caballero, exceto em

casos de emergência, como, por exemplo, em casos como o combate à dengue. Existia o

Parlamento Internacional Municipal (PARLIM), como instituição supramunicipal, no qual

Page 24: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

24

parlamentares das câmaras de ambas as cidades discutiriam problemáticas comuns, porém não

era ativo. Com a aproximação dos dois municípios, para tornar realidade o Projeto da

Revitalização da Linha Internacional, o PARLIM foi fortalecido, realizando reuniões

periódicas durante as quais estão sendo trabalhados e discutidos temas de interesse comum. A

partir dessas reuniões foram criadas e modificadas leis e planos municipais de ambas as

cidades.

Nas palavras de Oliveira: O distanciamento foi cedendo lugar a novas e vibrantes formas de integração, interação, aproximação e intercâmbio. Está posto um novo significado para a região fronteiriça: invocar formas abrangentes de complementaridade, capazes de reposicionar a fronteira como espaço integrador, unificante e flutuante. (OLIVEIRA, 2011).

A situação de cidades gêmeas permite que a população tenha movimentos pendulares

entre os dois municípios, perfazendo uma simbiose cotidiana, que vai além dos aspectos

sociais, econômicos e culturais. Como podemos observar na foto a seguir, somente uma rua

divide as cidades.

Figura 4 – Linha de fronteira que divide as cidades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

Fonte: Geo Cidades - Ponta Porã.

Page 25: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

25

3 HABITAÇÃO SOCIAL NO BRASIL E PARAGUAI

3.1 Breve histórico da habitação social no Brasil

A partir de 1967, foi implantado, no Brasil, um modelo de política habitacional, pelo

Banco Nacional de Habitação (BNH), que se baseava em um conjunto de características, as

quais deixaram importantes marcas na estrutura institucional e na concepção dominante de

política habitacional nos anos que se seguiram. Desta forma, Cardoso (ano, p. 1) nos aponta

características como: • Criação de um sistema de financiamento que permitiu a captação de recursos

específicos e subsidiados (apoiado no Fundo de Garantia de Tempo de Serviço e no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), chegando a atingir um montante bastante significativo para o investimento habitacional;

• Criação e operacionalização de um conjunto de programas que estabeleceram, a nível central, as diretrizes gerais a serem seguidas, em nível descentralizado, pelos órgãos executivos;

• Criação de uma agenda de redistribuição dos recursos, que funcionou principalmente a nível regional, a partir de critérios definidos centralmente; e

• Criação de uma rede de agências em nível local (principalmente estadual), responsáveis pela operação direta das políticas. (CARDOSO, [20--], p. 1).

Com o fim do BNH, em 1986, ocorreu a crise do Sistema Brasileiro de Habitação.

Este fato acabou provocando um turbilhão com relação às políticas habitacionais, que causou

perda de capacidade decisória e redução significativa dos recursos disponibilizados para o

investimento na área. Nesse período, entre 1986, ano em que o BNH foi extinto, e 1995,

quando se teve um início de reestruturação consistente do setor habitacional, a política

habitacional passou a ser de responsabilidade de vários órgãos:

Na verdade, na assim chamada Nova República, as áreas de habitação e desenvolvimento urbano percorreram uma longa via-crucis institucional. Até 1985, o BNH era da área de competência do Ministério do Interior. Em março de 1985, foi criado o Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente - MDU, cuja área de competência passou a abranger as políticas habitacional, de saneamento básico, de desenvolvimento urbano e do meio ambiente. Em novembro de 1986, com a extinção do BNH e a transferência de suas atribuições para a Caixa Econômica Federal - CEF, a área de habitação permanece vinculada ao MDU, mas é gerida pela CEF que, por sua vez, não está concernida a este Ministério, mas ao Ministério da Fazenda. Em março de 1987, o MDU é transformado em Ministério da Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente - MHU, que acumula, além das competências do antigo MDU, a gestão das políticas de transportes urbanos e a incorporação da Caixa Econômica Federal. Em setembro de 1988, ocorrem novas alterações: cria-se o Ministério da Habitação, Urbanismo e do Bem-Estar Social - MBES, em cuja pasta permanece a gestão da política habitacional. Em março de 1989, é extinto o MBES e cria-se a Secretaria Especial de Habitação e Ação Comunitária - SEAC, sob a competência do Ministério do Interior. As atividades financiadas do Sistema Financeiro de Habitação - SFH e a Caixa Econômica Federal - CEF passam para o Ministério da Fazenda. (ARRETCHE, 1996, p. 81).

Page 26: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

26

A Secretaria de Ação Comunitária (SEAC) implantou linhas de financiamento a fundo

perdido, para atendimento da população com renda de até 3 salários mínimos, e passou a

utilizar a produção de casas a partir de mutirão, lotes urbanizados etc. Porém, a iniciativa da

SEAC privilegiava a iniciativa dos estados e municípios. Esse modelo de trabalho permitiu

maior autonomia dos governos estaduais e municipais, que deixaram de ser apenas executores

da política. Contudo, para Azevedo (1996, p. 83), A experiência histórica brasileira mostra que sempre que um programa habitacional altamente subsidiado permite um grau muito alto de liberdade na alocação dos recursos, as regiões menos desenvolvidas e os estados com dificuldades políticas junto ao governo central terminam altamente prejudicados [...]. (AZEVEDO, 1996, p. 83).

A partir da década de 1990, a gestão urbana e os governos municipais começaram a se

destacar nos debates políticos e acadêmicos no Brasil; com as mudanças constitucionais,

ocorreu a descentralização do ente federal e, assim, os municípios passaram a ter grande

relevância nas tomadas de decisões. Foi nesse ambiente que se difundiram práticas

descentralizadas, sinalizando com um perfil inovador nas formas de condução da gestão local

e de tratamento da questão urbana, o que convergia para as expectativas geradas em torno da

nova ordem político-institucional (LIMA, 2010, p. 17).

Ressaltemos que, a partir da Constituição Federal de 1988, como já mencionado,

houve uma descentralização fiscal, de modo que os municípios passaram a definir suas

prioridades; assim, cada município, conhecendo suas necessidades e com a participação da

população local, toma as decisões necessárias. É fundamental que a política habitacional reconheça a experiência da descentralização ocorrida no país nos últimos anos. As mudanças no quadro institucional do país, promovidas pela nova Constituição, aliadas às iniciativas dos novos governos locais e a fragilidade das políticas federais (descentralização por ausência) geraram um efetivo processo de descentralização e municipalização das políticas habitacionais, a partir de meados dos anos 80. Esse processo é visto de uma forma positiva por parte da literatura especializada, que ressalta a potencialidade da gestão local em ampliar a eficácia, a eficiência e a democratização das políticas. Existem efetivamente experiências inovadoras e eficientes sendo desenvolvidas a nível local, algumas inclusive ultrapassando várias gestões com orientações políticas diferenciadas [...] (CARDOSO, [20--], p. 9).

Hoje, podemos falar em uma nova fase da política habitacional, descentralizada e

originada e coordenada pelos municípios. Esta mudança está cada vez mais acentuada pela

Page 27: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

27

criação do Estatuto da Cidade,2 que atribuiu aos municípios a responsabilidade principal pela

execução de políticas urbanas.

Por outro lado, estudos do Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano e Regional

(IPPUR) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), financiado pelo Programa

Habitare,3 apontam aspectos positivos e negativos dessa descentralização, tais como: A gestão municipal tem maior facilidade que as instâncias estaduais e federal em ampliar a eficácia, a eficiência e a democratização das políticas. É também o nível de governo que permite uma maior integração entre as políticas de provisão de moradias e as políticas fundiárias e de controle do uso e ocupação do solo. Por outro lado, o modelo de descentralização proposto pela nova constituição é ambíguo, pois amplia as competências e atribuições municipais mas mantém uma superposição de atribuições entre os diferentes níveis de governo. Ao mesmo tempo, o processo espontâneo de formulação e desenvolvimento de políticas habitacionais locais tem um caráter limitado, pois depende fortemente da capacidade financeira, técnica e administrativa dos municípios. Aqueles municípios nos quais o quadro de carências se faz mais dramático, localizados principalmente nas regiões Norte e Nordeste, são exatamente os que apresentam o pior desempenho, enquanto os municípios que apresentam situação relativamente mais confortável – preponderantemente nas regiões Sul e Sudeste do país – são os que têm programas habitacionais mais eficazes. (BRASIL, 2005, p. 201).

Em 2003, criou-se o Ministério das Cidades e foi aprovada, em 2004, a Política

Nacional da Habitação (PNH), integrando questões de desenvolvimento urbano das cidades. A Política Nacional de Habitação é viabilizada por meio do Sistema Nacional da Habitação e também pelo Desenvolvimento Institucional, Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento, Plano Nacional da Habitação – PLANAB e pela regulamentação do Estatuto das Cidades. O Sistema Nacional da Habitação articula ações integradas nos três níveis de governo. Divide-se em Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, voltado à população com renda entre 0 a 5 SM, e em Sistema de Habitação de Mercado, que atende, principalmente, às classes de renda entre 5 a 10 SM. Os Programas do Sistema de Habitação de Interesse Social contemplam ações de urbanização de favelas, realocação de famílias em áreas de risco, alagados, cortiços, etc. São utilizados recursos originários do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS, do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, do Fundo de Desenvolvimento Social – FDS, do Fundo de Arrendamento Residencial – FAR, do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e do Orçamento Geral da União OGU. O Sistema de Habitação de Mercado atende à população com renda mais alta por meio de Construtoras e incorporadoras que atuam como agentes promotores. Também pode atender a segmentos de baixa renda (mercado popular), desde que sem a contrapartida do poder público. Para financiar as ações deste Sistema o Governo incentiva a utilização de recursos originários da captação das Cadernetas de Poupança (SBPE), de Consórcios Habitacionais, de Certificados de Recebíveis Imobiliários e demais investimentos institucionais e de pessoas físicas. (CEF, 2011, p. 12).

Em 2008, quando se iniciou a crise financeira internacional, o governo federal tomou

uma série de medidas para não atrapalhar o crescimento econômico do país, e um dos setores

2 Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Esta lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. (anexo na íntegra). 3 O Programa de Tecnologia da Habitação (Habitare) é coordenado pela FINEP e conta com recursos deste órgão e também do CNPq e da Caixa Econômica Federal.

Page 28: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

28

em grande expansão era o da construção civil. Desta forma, para estimular este setor e, ao

mesmo tempo, tentar minimizar o grande déficit habitacional em que o país estava

mergulhado, concebeu o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV, operado pela Caixa

Econômica Federal, o qual representou um grande marco na política de acesso à moradia.

Este programa articulava ações em conjunto com o governo federal, estados, municípios e

iniciativa privada. O PMCMV promove a construção de novas unidades habitacionais voltadas às camadas da população com menor renda, concedendo expressivos subsídios, principalmente para a faixa de 0 a 3 salários mínimos. Imóveis antes inacessíveis a esta faixa de renda familiar podem ser adquiridos com subsídios que representam até 88% do valor do imóvel. A produção de imóveis residenciais impulsiona a economia e proporciona oportunidades de desenvolvimento para o país. No PMCMV, foram contratadas mais de um milhão de unidades habitacionais de abril de 2009 até 2010. Estas obras geraram milhares de empregos e representaram uma significativa contribuição para o aquecimento da economia, minimizando os efeitos da crise financeira internacional no Brasil. (CEF, 2011, p. 12).

Segundo dados da Caixa Econômica Federal, no período de 2001 a 2009, a Caixa

financiou um total de 4.516.364 unidades habitacionais. Este número de habitações equivale a

um montante de R$ 139,84 bilhões (cento e trinta e nove bilhões, oitocentos e quarenta

milhões de reais). Os programas PAC4 e Minha Casa Minha vida representam, em três anos,

68% do que foi investido nos últimos 9 anos.

3.2 Situação da habitação social no Brasil e seus programas

Ter uma moradia digna é uma necessidade de qualquer indivíduo. Moradia é um bem

necessário, tanto quanto saúde, educação e justiça, até porque conquistar qualquer um desses

itens sem uma moradia digna será mais complexo. Ter um endereço é algo tão importante

quanto ter uma boa saúde; não possuir endereço significa estar fora do mapa. No Brasil, ainda

continua grande o número de pessoas “sem-teto”, isto é, o déficit habitacional no Brasil,

segundo dados do Ministério das Cidades.

Para continuar tecendo comentários sobre moradias, devemos entender o que significa

essa palavra tão comentada. A necessidade de ter um lugar fixo, ao qual a pessoa possa se

vincular, ter um endereço para ser encontrada, reflete o nosso termo moradia: todos os

4 O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em janeiro de 2007 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem ao encontro da necessidade de acelerar, de forma sustentável, o crescimento do investimento global da economia. A finalidade do PAC é promover investimentos e infraestrutura que permitam: eliminar gargalos a esse crescimento, aumentar a produtividade das empresas, estimular investimentos privados e reduzir as desigualdades regionais.

Page 29: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

29

cidadãos brasileiros ou naturalizados brasileiros precisam ter um endereço para o exercício de

seus direitos. Para Souza, com a [...] necessidade de fixar o lugar surge, no direito, o domicílio, tido como a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos pessoais e negócios jurídicos. Por outro lado, a residência é o lugar em que habita, com intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente. (SOUZA, 2008, p. 30).

Logo, podemos então definir como domicílio o endereço do indivíduo, e habitação

como o lugar onde ele habita, onde constitui sua vida diária, seu pouso. Podemos, também,

afirmar que o domicílio pode ser instável, de acordo com a mobilidade, porém a habitação é

permanente.

Vale ressaltar que o item “direito à habitação” consta da Declaração Universal dos

Direitos Humanos (DUDH), que foi aprovada em 1948, na Assembleia Geral das Nações

Unidas (ONU). Este documento é resultado da luta universal contra a opressão e

discriminação, defendendo a igualdade e liberdade para cada cidadão do planeta. É na valoração da moradia pela própria sociedade brasileira atual que, apesar das evoluções tecnológicas, genéticas e industriais que ela acompanha de países desenvolvidos, constatamos um verdadeiro contra-senso ante a exacerbada carência de fornecimento de uma moradia mais justa e equânime à sociedade. (SOUZA, 2008, p. 22).

Uma expressiva parte da população brasileira urbana vive, atualmente, em situação de

grande precariedade, principalmente no que tange à habitação. Historicamente, no Brasil, a intervenção do estado na questão habitacional nunca foi capaz de garantir o direito universal à moradia, realizando sempre atendimentos parciais e fragmentados, programas que se caracterizaram por privilegiar uma pequena parcela da demanda, deixando a maioria sujeita a buscar soluções de moradia num mercado especulativo ou a recorrer a soluções totalmente informais, frequentemente caracterizadas pela precariedade. Até mesmo no período do BNH que foi um importante marco de referência na política habitacional, por ser a única de abrangência nacional implementada durante várias décadas, quando os recursos para financiamento foram fartos e a produção conseguiu atingir uma dimensão numerosa não foram viabilizadas formas para atender a maioria da população. Com a extinção do BNH, 1986, foi perdida uma estrutura de caráter nacional e, no período de redemocratização, ocorreu um esvaziamento da política federal. Até a criação do Ministério das Cidades, em 2003, o setor do Governo Federal responsável pela gestão de política habitacional caracterizou-se pela descontinuidade e ausência de estratégias nacionais para enfrentar o problema que, de certo modo, foi enfrentado de forma fragmentada por municípios e estados. Uma parcela significativa da população urbana acabou "resolvendo" o problema através de processos informais, adquirindo lotes clandestinos, precariamente urbanizados, num mercado de terra especulativo ou ocupando terras em assentamentos precários e autoconstruindo suas moradias com materiais adquiridos a juros exorbitantes. (BRASIL 2010)

O Brasil tem buscado firmar a habitação como política social e de Estado a partir de

princípios comuns a todos os agentes, recursos compatíveis com os problemas e ações

Page 30: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

30

articuladas e ordenadas a partir do Sistema Nacional de Habitação. O Brasil não tem uma

tradição de planejamento deste setor, tão sujeito a ações imediatistas, de cunho clientelista

e/oi assistencialista.

Essa falta de tradição e a descontinuidade das estruturas governamentais encarregadas

da gestão do setor nas décadas de 80 e 90 levaram a uma carência de um sistema de

informações adequado para monitorar, avaliar e planejar a política habitacional, lacuna que

vem sendo suprida nos últimos anos, mas que ainda permanece em muitos aspectos

importantes.

Tem se buscado estruturar estratégias para enfrentar a questão habitacional, este é sem

dúvida um dos mais dramáticos problemas sociais, e articular uma política de inclusão com o

desenvolvimento econômico do país. A tarefa de enfrentar estes problemas priorizando as

famílias de baixa renda, de forma contínua e articulada pelos três níveis do governo, setor

privado e terceiro setor, é um desafio para garantir o direito à moradia, que está inscrito na

Constituição Brasileira.

Se equacionar esta questão é uma obrigação do Estado, por outro lado ela pode se

transformar num elemento chave no processo de desenvolvimento econômico brasileiro.

No ano de 2010 sob a coordenação da Secretaria Nacional de Habitação do Ministério

das Cidades o PLANHAB - Plano Nacional de Habitação, cujo seu principal objetivo: [...] é formular uma estratégia de longo prazo para equacionar as necessidades habitacionais do país, direcionando da melhor maneira possível, os recursos existentes a serem mobilizados, e apresentando uma estratégia nos quatro eixos estruturadores da política habitaional: modelo de financiamento e subsídio; política urbana e fundiária; arranjos institucionais e cadeia produtiva da construção civil. Com ele se pretende implementar um conjunto de ações capazes de construir um caminho que permita avançar no sentido de atingir o principal objetivo do Planhab: universalizar o acesso à moradia digna para todo cidadão brasileiro. BRASIL 2010

Um dos principais obstáculos que o pais enfrenta na questão do acesso à moradia pelos

mais pobre são a ausência de recursos não-onerosos e as restrições ao crédito. Resolver essas

duas situações seria como gerar um efeito duplamente positivo: inclusão social e

desenvolvimento econômico.

Em 2004 foi aprovado a Política Nacional de Habitação-PNH pelo Conselho das

Cidades (Con-Cidades) - órgão colegiado de natureza deliberativa e consultiva do Ministério

das Cidades, constitui-se no principal instrumento de orientação das estratégias e das ações a

serem implementadas pelo Governo Federal. Um dos principais objetivos do PNH é retomar o

processo de planejamento do setor habitacional e garantir condições para atingir sua principal

meta: promover as condições de acesso à moradia digna - urbanizada e integrada à cidade - a

Page 31: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

31

todos os segmentos da população, em especial para população de baixa renda. (BRASIL,

2010)

Moradia é entendida como um direito individual e coletivo a ser alcançado pela

universalização do acesso a unidades com padrão digno, de modo que sejam garantidas

condições de habitalidade em áreas com infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade,

transporte coletivo, equipamentos, serviços urbanos e sociais.

O desenvolvimento acelerado dos centros urbanos, o aumento do desemprego e o alto

custo dos solos urbanos acabaram forçando as famílias de menor renda a buscar por conta

própria soluções para obterem moradias. Desse exercício de buscar a todo custo um lugar para

habitar, surgiram as favelas, as ocupações irregulares de periferias, beiras de rios e córregos,

enfim, de áreas de risco. Isso configurou um dos principais problemas brasileiros, despertando

cada vez mais a necessidade de se obter políticas habitacionais que solucionem, ou tentem

solucionar, o problema do grande número de famílias que vive em condições precárias, sub-

humanas.

No Brasil, hoje, são cerca de 13 milhões de famílias em estado de pobreza absoluta,

que dependem dos programas sociais do governo de complementação de renda para se

alimentar, esta é uma herança dramática resultante do interso processo de urbanização que

ocorrei a partir dos anos de 1940 e gerou um enorme quantidade de assentamentos precários,

onde existem mais de 3,2 milhões de domicilios (CEM/CEBRAP, 2007) e um déficit

habitacional estimado em cerca de 7,9 milhões de unidades habitacionais (FJP, 2006).

A maior parte deste déficit é urbano, cerca de 6,6 milhões de domicílios, concentrado

fortemente em famílias com renda de até R$ 1.200,00, sendo que o déficit rural também é

expressivo cerca de 1,4 milhão e está concentrado nas regiões Norte e Nordeste.

O problema da habitação é resultado, entre outros fatores, da incompatibilidade entre a

capacidade de pagamento das familias de baixa renda e o custo da habitação. A moradia é

certamente o bem de necessidade básica e essencial mais caro q que uma familia precisa

necessariamente ter acesso para sobreviver nas ciadades, o que tem inviabilizado a aquisição

de uma habitação adequada pronta.

O Brasil enfrentou e ainda enfrenta muitos problemas relacionados ao setor de

habitação, muitas famílias ainda sonham com sua casa, seu lar, um alicerce para viver em

família.

Por fim, ressalto que a política habitacional no Brasil tem necessidade de instituir

novos mecanismos de participação, para que haja mais transparência nas decisões, pois

podemos perceber, nos fatos relatados anteriormente, que municípios mais pobres, ou talvez

Page 32: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

32

desprovidos de lideranças políticas aliadas ao poder político do estado podem perder recursos

voltados para o setor habitacional social.

3.3 Habitação Social no Paraguai

Em 7 de junho de 2010, foi criada a SENAVITAT - Secretaria Nacional de la Vivienda y

el Hábitat, a qual substituiu o CONAVI , uma entidade descentralizada e autárquica, a única

instituição responsável pelas políticas habitacionais do país, pela Lei n. 3.909. Tem como

objetivos a gestão e implementação da política do setor de habitação e sua correspondente

estrutura, como serviços básicos, transportes, e permitindo o acesso universal à moradia digna por

meio de planos e programas que favoreçam, especialmente, famílias com recursos mais escassos.

Um dos principais intuitos do governo do Paraguai em relação a políticas socioeconômicas é

diminuir o déficit habitacional, para o melhoramento da qualidade de vida dos habitantes da

República do Paraguai. A criação desta secretaria representou um grande marco do presente

governo, o qual adotou uma visão complexa, favorecendo a articulação do direito a moradia com

outros direitos como sociais, econômicos e culturais.

Figura 5 – Sede da SENAVITAT em Pedro Juan Caballero .

Fonte:Arquivo Pessoal.

Page 33: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

33

Desse modo, a lei n. 3.909 tem como competências: a) asumir la representación como máxima y exclusiva autoridad en cuestiones de políticas y acciones del sector habitacional. b) elevar al Poder Ejecutivo la propuesta de creación o modificación de leyes, decretos o normativas necesarias al ejercicio de su competencia; c) diseñar, coordinar, supervisar o implementar las políticas habitacionales y regular en materia de urbanismo para los programas y proyectos de la Secretaria, de acurdo con las normativas vigentes y en coordinación con los municipios y gobernaciones afectados. d) diseñar las estrategias y acuerdos necesarios para el desarrollo de trabajos participativos con las organizaciones civiles; e) obtener y administrar recursos asignados para los fines específicos de la presente Ley y los fondos credos para el sector habitacional; f) suscribir convenios, acuerdos y otras formas de cooperación en materia de temas habitacionales y del hábitat que propicie la investigación e intercambio de conocimientos y experiencias y movilice además los recursos nacionales y externos para la ejecución de planes y programas relacionados al sector habitacional y del hábitat; g) administrar los fondos destinados al sector habitacional así como los previstos en la Ley n. 2.329/03 “QUE ESTABLECE EL MARCO DE ADMINISTRACIÓN DE LAS COOPERATIVAS DE VIVIENDA Y EL FONDO PARA VIVIENDAS COOPERATIVAS”; h) propiciar y realizar todo tipo de investigaciones y reglamentaciones referidas a la vivienda y el hábitat. (PARAGUAI, 2010).

O Paraguai possui 10 programas que estão sendo executados em todo o país, em

diferentes municípios e estados do país.

O Programa Coordinadora Ejecutiva para la Reforma Agraria (CEPRA) –

SENAVITAT é um programa destinado a melhoramentos nas construções em comunidades

rurais assentadas em áreas pertencentes ao Instituto de Desarrollo Rural y de la Tierra

(INDERT), selecionados pela Coordinadora Ejecutiva para la Reforma Agraria, mediante

um sistema de ajuda mútua assistida e com o objetivo fundamental do melhoramento das

condições de moradias e do habitat dessas comunidades.

O Programa Mercosul-Habitat é finaciado pelo Fondo para la Covergencia

Estructural del Mercosur (FOCEM). Este programa é financiado com 85% dos recursos

provenientes do fundo FOCEM e 15% com contrapartida local. É voltado para as famílias em

situação de pobreza e de extrema pobreza, em terras legalizadas e organizadas em Comissões

de Bairros, com capacidade de gestão e promoção comunitária. Contempla a construção de

casas de Interesse Social, com infraestrutura básica, equipamentos comunitários e um plano

de habitação social.

Podemos citar Martins e Silva (2011), para entendermos melhor o que é este Fundo e a

que ele se destina; No que se refere ao combate às assimetrias, antiga reivindicação dos países de menor desenvolvimento econômico relativo dentro do bloco, a criação do Fundo de Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (FOCEM)

Page 34: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

34

representa um avanço importante. Em operação desde 2008, o Fundo tem por objetivo promover o aumento da competitividade das economias menores, estimular a coesão social e fortalecer a integração física por intermédio de obras de infra-estrutura. É constituído por contribuições anuais não reembolsáveis dos países membros, num total de US$ 100 milhões. O Brasil contribui com 70% dos recursos do FOCEM. Embora modesto para os objetivos que pretende alcançar, o Fundo sinaliza para uma lógica distinta de integração, mais voltada para a cooperação e menos preocupada com a liberalização dos mercados, foco predominante nas fases iniciais da integração. Atualmente contam-se 25 projetos aprovados, orçados em quase US$ 200 milhões, destinados, sobretudo, ao Paraguai e ao Uruguai. Apoio aos assentamentos rurais, construção de moradias populares e coleta de resíduos sólidos são objeto de alguns dos projetos em curso na área social. Outros se destinam à integração da infra-estrutura, como as obras de construção e recuperação de rodovias, com vistas a estabelecer corredores bioceânicos através dos Estados Partes. Além dos governos nacionais, organizações da sociedade civil, em parceria com governos locais, também podem formular projetos para apresentar ao FOCEM. (MARTINS; SILVA, 2011, p. 8).

A primeira parte deste projeto foi finalizada, com a construção de 689 casas de 2

dormitórios, sala de estar integrada com a cozinha e sala de jantar e banheiro, infraestrutura

básica, como postos de saúde, centro comunitário e áreas verdes. São cinco Projetos

Habitacionais, localizados nas cidades de Ita, Itaugua, Hernandarias, Ciudade del Este y Pilar.

A segunda parte já se encontra em execução, com a construção de 611 casas, localizadas em

cinco cidades, as quais são Presidente Franco, Encarnación, Pedro Juan Caballero, Capitán

Bado y Jose Falcón. Atualmente está sendo elaborado um Projeto para conseguir fundos

suficientes do FOCEM para a construção de 2.600 casas de interesse social dentro do Projeto

Mercosul Roga.5

Há o Programa de Subsídio do FONAVIS, que atende famílias de pobreza e extrema

pobreza, com compra e construção de casas subsidiadas. Este programa já subsidiou 280

famílias, com subsídios de até 95% do valor total, tanto em nível individual como de grupos

organizados, como organizações sociais, comissões de bairros, cooperativas, associações e

outros. O SENAVITAT subscreveu acordos que tornam coprotagonistas a sua realização em

nível distrital, departamental e, especialmente, as organizações da sociedade civil que são

praticantes da demanda.

O Programa Viviendas Económicas consiste em projetos habitacionais em torno de

348 moradias, que são implementados em áreas metropolitanas e interior do país,

beneficiando famílias de Areguá, Pindolo, Itá, Caaguazú, Carapeguá, Sagrado Corazón de

Jesús, com um investimento de PYG 20.592.488.214 (vinte bilhões, quinhentos e noventa e

dois milhões, quatrocentos e oitenta e oito mil e duzentos e quatorze guaranis). Esse valor, em

5 Mercosul Roga é um projeto financiado pelo Fundo de Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (FOCEM) para a construção de assentamentos em região pobre do Paraguai. Este projeto inclui também componente social, pois abrange atividades de capacitação pessoal e campanhas de conscientização.

Page 35: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

35

reais, gira em torno de R$ 10.296.244,10 (dez milhões, duzentos e noventa e seis mil,

duzentos e quarenta e quatro reais e dez centavos). Também estão em processo de construção

dois edifícios com 26 blocos, nos quais estão sendo investidos PYG 61.778.800,98 (sessenta e

um milhões, setecentos e setenta e oito mil e oitocentos guaranis e noventa e oito centavos).

Em reais, esse valor é de R$ 3.088.940,00 (três milhões, oitenta e oito mil, novecentos e

quarenta reais), podendo se alterar de acordo com variações cambiais. Em Assunção, capital

do Paraguai, estão sendo construídos apartamentos com 72 m2, 76 m2 e 86 m2, nos Bairros

Santa Maria e em Luque.

O Programa Melhoramento de Bairros é um programa voltado para o melhoramento

das condições dos espaços públicos, tais como praças e parques localizados em diferentes

bairros. Este programa foi criado em agosto de 2011, com o objetivo de otimizar a qualidade

de vida nos bairros. Foi repassado, através de convênios institucionais firmados com vários

municípios e estados, entre outras instituições, até novembro de 2011, o total de PYG.

2.070.000.000 (em torno de R$ 1.035.000,00), distribuídos em 23 localidades.

O Programa Vy´a Rendá é destinado a famílias em situação de pobreza que vivem em

condições precárias e não podem fazer empréstimos junto a financeiras. O programa é

executado através do Subsidio Habitacional Direto (SHD). Neste programa, já foram

construídas 725 moradias, nas cidades de Caagazú, Juan L. Mallorquín, Juan E. O´Leary,

Minga Porã, Pdte. Franco, Concepción, Loreto, Caazapã y Central. Os investimentos já

alcançaram o valor de PYG 18.981.269.925 (em torno de R$ 9.490.634,96).

Programa Pueblos Originarios, com 252 moradias já concluídas no Chaco. Foram

investidos PYG 8.479.421.318 (R$ 4.239.710,65) no ano de 2010, distribuídos da seguinte

forma: 35 moradias em 20 de Janeiro, no Departamento de Pdte. Hayes; 42 moradias em

Campo Alegre, Departamento de Boquerón; 36 moradias em Cacique Sapo, Distrito de

Boquerón; 44 moradias em San José Esteros, Departamento de Boquerón; 50 unidades em

Yishinachat, Departamento de Boquerón; e 45 unidades em Pozo Amarillo, Departamento de

Boquerón; mais 663 moradias no ano de 2011, com investimento de PGY 23.399.531.966

(em torno de R$ 11.699.765,98). Atualmente, o projeto prevê a construção de 100 casas,

beneficiando diferentes etnias.

O Programa Créditos Hipotecários beneficia famílias que possuem terreno próprio; o

SENAVITAT subsidia créditos hipotecários para a construção, ampliação e compra de

unidades habitacionais, porém a implementação deste programa encontra-se em processo de

modificação, pela promulgação da lei 3909/09, que cria a Secretaria de Nacional de la

Page 36: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

36

Vivienda y el Habitat (SENAVITAT), a qual desembolsou a importância de PGY

24.153.279.254 (R$ 12.076.639,62), que já beneficiou em torno de 500 famílias.

Há os Creditos Cooperativos, que o SENAVITAT subsidiou Créditos Hipotecários

para as seguintes Cooperativas: Cooperativa Barriojarense - Edificio de 12 andares,

Cooperativa San Juan de Misiones - 66 unidades habitacionais, Cooperativa Ypacarai, 60

casas, Coosofan (Cooperativa Multiactiva de Ahorro, Crédito y Servicio de los Suboficiales

de las Fuerzas Armadas de la Nación) - 26 Duplex, Cooperativa San Ignacio - 40 casas,

Cooperativa Mborayhu - 20 casas e Cooperativa Kuarahyrese, para construir 55 casas.

Para facilitar o acesso e obter uma solução habitacional, foi desenvolvido o Programa

Mi Pais, Mi Casa, que visa atender os repatriados; o SENAVITAT firmou um convênio com

a Secretaria de Desarrollo para Repatriados Y Refugiados Connacionales de la Presidencia

de la República. Este projeto visa cooperar e coordenar ações conjuntas para assistir aos

cidadãos que retornaram a sua pátria no processo de reinserção, assim também como os

residentes do exterior, facilitando o acesso a moradia em qualquer departamento do país aos

repatriados que retornam ao país de forma definitiva, e criar programas orientados à extensão

deste e de outros benefícios aos cidadãos residentes no exterior com desejos de retorno, como

parte de um novo modelo de gestão governamental articulada.

3.4 Realidade Habitacional no Paraguai

Nota se que o Paraguai sofreu um grande impacto com o fenômeno migração, entre os

principais fluxos migratórios aparece o urbano-rural e urbano-urbano. Estima se que após o ano de

1990 mais de 650.000 pessoas tenha mudado de residência, esse numero é equivalente a quase

10% da população do país.

Umas das principais razões para a migração está na busca de trabalho e de melhores

condições de vida. A atividade agrícola vem perdendo ao longo dos anos valor significativo, e os

centros urbanos onde estão localizados os setores públicos e os privados são vistos como potencial

para o incremento econômico da família.

As famílias que migram se encontram muitas vezes em situação de extrema pobreza, baixo

nível educacional e sem habilidade para a entrada no mercado de trabalho. Desta forma a

marginalidade e a violência são algumas das expressões mais habituais.

Ao diagnosticarem a díficil tarefa de viver em uma cidade, estas precisam buscar uma

forma de suprir suas necessidades, a principal delas é a moradia. Desta forma para solucionar o

problema a população se organiza e ocupa áreas degradadas e muitas vezes propriedades privadas,

Page 37: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

37

dando inicio a um grande problema que precisa ser solucionado pelo governo, o que acaba se

tornando um processo interminável, pois na medida que estas familias vão sendo atendidas outras

acabam ocupando os mesmos lugares.

Neste território estão presentes problemas que são comuns na maioria das cidades e suas

periferias, são eles: a propriedade fundiária com irregularidades, péssimas qualidades físicas da

habitação, superlotação, problemas de saúde e problemas ambientais causados pela população e

suas moradias. Ou seja poucos regulamentos e um extremo crescimento causando um processo de

deteriorização.

Com um rápido crescimento da população e a falta de planos efetivos vindos do governo

resultou no país um descontrolado crescimento de assentamentos precários e de recursos urbanos

com pouca coordenação e sem plano de gestão.

Segundo estimativas da SENAVITAT o déficit habitacional afeta mais de 1.000.000 de

casas no Paraguai, número que se distribui em diversos tipos de demanda como famílias que

precisam de novas casas, as que precisam de ampliação da já existente e as que necessitam de

melhoramentos na estrutura e as mais complexas que precisam de ampliação e melhoramento. Se

não houver uma mudança significativa na política pública do país, em 2020 o déficit afetaria mais

de 1.500.000 casas.

Quadro 1 – Déficit habitacional.

DEFICIT/ANO 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Ampliación 32.516 34.123 35.730 37.337 38.944 40.269 41.594 42.918 44.243 45.568 Mejoramiento 712.150 747.345 782.541 817.736 852.932 881.944 910.955 939.967 968.979 997.990 Mejoramiento y Ampliación 225.512 236.657 247.803 258.948 270.093 279.280 288.467 297.654 306.841 316.028

DEFICIT CUALITATIVO 970.178 1.018.126 1.066.073 1.114.021 1.161.969 1.201.492 1.241.016 1.280.539 1.320.062 1.359.585

Nuevas Vivendas 135.816 142.528 149.241 155.953 162.665 168.198 173.731 179.264 184.797 190.330

DEFICIT CUANTITATIVO 135.816 142.528 149.241 155.953 162.665 168.198 173.731 179.264 184.797 190.330

TOTAL DEFICIT 1.105.994 1.160.654 1.215.314 1.269.974 1.324.634 1.369.690 1.414.746 1.459.803 1.504.859 1.549.915

CUADRO 2: PROYECCION DEL DEFICIT HABITACIONAL ESTRUCTURA BASE AÑO 2002

Fonte: Paraguai, 2010.

Page 38: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

38

Gráfico 1– Estrutura do déficit habitacional.

Fonte: Paraguai, 2010.

As casas que precisam de melhoramento têm um número bastante significativo em relação

as outras demandas devido a precariedade, e inexistência de cobertura de saneamento no país

como as redes de distribuição de água potável e esgotos principalmente.

Em 2011, foi elaborado e lançado o PLANHAVI - Plan Nacional de Hábitai y Vivienda del

Paraguay, com atuação simultanêa de 3 dimensões: política, técnica e social. Este plano significou

um grande marco nas políticas públicas do país. O PLANHAVI se enquadra na Proposta de

Política Pública para o Desenvolvimento Social 2010 - 2020, "Paraguay para Todos y Todas",

fazendo parte do Projeto "Paraguay entre todos y todas - Desenvolvimento Social Articulado no

Território", impulsionado pelo Gabinete Social da Presidência da República, o qual conta com a

cooperação do Chile, Alemanha e Austrália. Esta proposta foi formulado a partir de dois cenários,

um de curto e médio prazo (2012-2015), e outro de longo prazo (2020) de acordo com a

"Propuesta de Política Pública para el Desarrollo Social 2010-2020" impulsionada pelo Gabinete

Social.

Os objetivos desta proposta se organizam em 4 linhas estratégicas segundo o PLANHAVI:

a produção de moradias, o fortalecimento institucional, o impulso da participação social e o

financiamento das ações.

Page 39: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

39

Essas 4 linhas estratégicas apresentadas na figura 6 são os objetivos gerais e específicos,

ações e indicadores de cumprimentos, que se interagem entre si e se cruzam por indicadores

ambientais, comunicacionais e de direitos humanos.

Figura 6 – Linhas estratégicas.

Fonte: PLANHAVI.

De acordo com as estratégias traçadas no PLANHAVI a curto e médio prazo dará

prioridade as demandas críticas, principalmente aos territórios e grupos com situação de alta

vulnerabilidade. Este marco, terá como prioridade as zonas de fronteira, em consonância com a

defesa da soberania nacional. (PARAGUAY, 2011)

De acordo com dados do CONAVI e SENAVITAT entre os anos de 2008 a 2011 o

Paraguai teve um total de 11.100 soluções de moradias entre construção de novas casas, ampliação

e melhoramento de moradias, este número é bastante pequeno para um prazo de 4 anos.

Com a elaboração do PLANHAVI que fora realizado no ano de 2011, se projetou alguns

ações ao longo dos anos de 2012 a 2020, que a proposta e objetivo totalizará 238.600 soluções de

moradias. Segue quadro que pode mostrar ano a ano o número de moradias já efetivados e as

projeções por ano.

Page 40: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

40

Quadro 2 – Soluções Habitacionais executadas e projetadas.

Fonte: PLANHAVI

Ao analisarmos o quadro acima podemos verificar que do ano de 2008 a 2011 deu um salto

bastante significativo na construção e melhoramentos de "soluções habitacionais", segundo dados

do PLANHAVI esta previsto um crescimento de 20% anual do orçamento da SENAVITAT para

conseguir dar conta das metas levantadas no Plano.

No ano de 2012, estava previsto 10.000 soluções habitacionais sendo 7.000 novas

moradias e 3.000 melhorias nas já existentes, mobilizando em torno de US$ 150 milhões de

dólares. Essa é a linha que se planeja chegar em 2020, com mais de 50.000 soluções habitacionais,

mobilizando em torno de US$ 645 milhões de dólares.

Page 41: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

41

Gráfico 2 – Aumento Progressivo do Orçamento do SENAVITAT.

Fonte: PLANHAVI

Moradias são usualmente um bem mais dificil de se adquirir devido a utilização

significativa dos recursos familiares e exige a disposição de meios de financiamentos de longos

prazos.

O Paraguai destina uma escassa quantidade de investimento público para o setor

habitacional. O gasto com as moradias é o único componente do gasto social que como uma

proporção do PIB não sofreu um aumento mas sim uma caída se comparado ao nível dos biênios

1990-1991 com o de 2004-2005, além de apontar uma tendência regressiva, em termos de

distribuição de renda da população, no nível da América Latina. Embora, a partir de 2008, o

orçamento atribuído à SENAVITAT foi um aumento substancial e progressivo, porém o mesmo

ainda é insuficiente para cobrir o déficit habitacional do país.

Em média, o incremento anual do PIB em moradias, entre os anos de 200 e 2010 foi

aproximadamente de 2% e se comportado de maneira estável em comparação com o PIB nacional.

Na questão de financiamento habitacional constituiu-se o FONAVIS , CRIADO PELA LEI

3637/09. Este fundo é a fonte estável de recursos estabelecido pelo Estado para subsidiar

programas de moradias sociais, com o objetivo de desenvolvimento socioeconômico. È um

programa dirigido e administrado pela SENAVITAT. (PARAGUAY, 2010)

Page 42: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

42

Quando falamos em déficit habitacional, não estamos falando somente das condições da

moradia como unidade física mas também do habitat do qual dela faz parte. As condições de

habitat no Paraguai são expressas em números que denotam carências históricas e iniquidades que

fomentam a desigualdade e a exclusão social. Uma proposta de mudança nas condições existentes

requer capacidade institucional para realizar o acesso ao crédito de longo prazo e interação com as

partes interessadas, conveniente e devidamente organizado.

Page 43: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

43

4 REFLEXÕES DAS POLÍTICAS HABITACIONAIS NA CIDADE DE PONTA PORÃ E PEDRO JUAN CABALLERO

Ponta Porã é a quinta maior cidade de Mato Grosso do Sul, com uma população

estimada, no ano de 2009, de 75.941 habitantes. Por estar localizada na faixa de fronteira e

colada ao município de Pedro Juan Caballero, Paraguai, sofre ações impactantes em qualquer

setor de política pública que venha a implantar. Com a habitação não é diferente; com a

produção de moradia, atraímos famílias de baixa renda tanto do nosso município quanto as do

nosso vizinho.

Diante dos problemas habitacionais das metrópoles, os de Ponta Porã não são tão

grandes, mas já se apresentam problemas sérios, como as margens dos córregos do município,

que estão sendo ocupadas por famílias de baixa renda que não têm onde morar e, com isso,

além do problema da indignidade que essas famílias sofrem e dos riscos que correm, ainda

começa a surgir o problema da degradação ambiental.

Na área rural, devido à política de assentamentos do governo federal, em oito anos

houve um acelerado crescimento da população rural, com o acréscimo de aproximadamente

4.000 famílias, gerando fortes demandas atuais e futuras.

As aldeias indígenas também apresentam moradias extremamente precárias, problema

agravado, muitas vezes, pela questão fundiária não resolvida.

No ano de 2010, concluiu-se o Plano de Habitação de Interesse Social no município de

Ponta Porã, o qual proporcionou uma radiografia mais precisa sobre as necessidades

habitacionais que o município precisa enfrentar, bem como possibilitou a quantificação dos

investimentos a serem realizados para equacionar o déficit habitacional do município.

O aumento populacional e o intenso crescimento urbano promoveram uma ocupação

territorial desordenada, com implicações na ocupação de áreas de risco do município, não

somente por moradores brasileiros residentes em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, mas,

também, por paraguaios que residem tanto do lado brasileiro da fronteira como do lado

paraguaio. Estes buscavam melhores condições de moradia e, muitas vezes, do lado brasileiro,

isso se concretizava mais rápido. Desta forma, muitas áreas de risco, inclusive margens dos

córregos do município de Ponta Porã, foram ocupadas por brasileiros e paraguaios,

registrando-se um elevado número de áreas de risco de alta concentração populacional.

A integração dos dois municípios é tão relevante, que estão envolvidos historicamente

no que tange aos aspectos culturais, comerciais, políticos e econômicos, com profunda

Page 44: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

44

influência nos sistemas de educação, saúde, lazer ,transporte, turismo, segurança e habitação,

que é nosso objeto de estudo.

O município de Ponta Porã somente começou a receber recursos e programas de

habitação a partir do ano de 2000, antes desse período não foram construídas nenhuma

unidade habitacional de interesse social no município.

Segundo dados do Plano de Habitação do município, conforme o quadro 3 nos mostra

em números as moradias existentes no município.

.

Quadro 3 – Programas habitacionais existentes em Ponta Porã.

PROJETOS ANO

contrato

Nº DE UNIDADES ANO

inauguração

EMPREENDIMENTO INAUGURADAS

CONCLUÍDAS EM EXECUÇÃO

CHE ROGA MI(MUTIRÃO)

2000 60 Inauguradas 2001 C.H. Vila Ferroviária

2001 60 Inauguradas 2002 C.H. Vila Ferroviária II

TIJOLO POR TIJOLO 2001 84 Inauguradas

2002

2002 12 Inauguradas

CASA NO CAMPO 2002 1311 Inauguradas 2002 A. Boa Vista(71)Nova

Era(97)KIT-Faz. Itamarati(1143)

NOVO HABITAR MORAR MELHOR

2003 50 Inauguradas 2005 Lot. Ponta Porã II - R.

Limeira Res. JoãoPauloII+N103

NOVO HABITAR PSH

2003 60 Inauguradas 2004

Conjunto Hab. PONTA PORÃ II 2004 60 Inauguradas

NOVO HABITAR PSH/FP

2004 20 Inauguradas 2006

CASA NO CAMPO 2004 1176 Inauguradas Assentamento ITAMARATI

PROGRAMA DE SUBSÍDIO DE HABITAÇÃO

2007 80 Inauguradas 2008

FNHIS 2007 180 Em

construção 2009

HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL

2006 42 Inauguradas 2008

IMÓVEL NA PLANTA – FGTS

2008

34 Em

Construção 2009

CRÉDITO 2008 100 Em 2009

Page 45: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

45

SOLIDÁRIO Construção

PROGRAMA DE SUBSÍDIO DE HABITAÇÃO

2008 48 Em

construção 2009

Fonte: Plano Municipal de Habitação de Interesse Social.

Em se tratando das dimensões das unidade habitacionais, a Secretaria Nacional de

Habitação tem um modelo de planta padrão para a maioria dos projetos habitacionais, com

31,56 m2, estas casas são formadas por 2 dormitórios, um banheiro, e uma cozinha-sala

dividindo o mesmo ambiente.

Figura 7 – Planta baixa das casas dos programas habitacionais existentes em Ponta Porã, com exceção do Programa Crédito Solidário.

Fonte: Prefeitura Municipal de Ponta Porã.

Page 46: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

46

4.1 Programa FNHIS – 180 casas

No ano de 2007 a Prefeitura Municipal de Ponta Porã se cadastrou no Programa

FNHIS - Fundo Nacional de Interesse Social coordenado pelo Ministério das Cidades -

através da Secretaria Nacional de Habitação, este programa foi viabilizado para o municipio

de Ponta Porã no ano de 2006, o qual centraliza recursos orçamentários dos programas de

Urbanização de Assentamentos e de Habitação de Interesse Social, inseridos no SNHIS -

Sistema Nacional de Interesse Social. O fundo é composto por recursos do Orçamento Geral

da União, do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social - FAS, dotações, recursos de

empréstimos externos e internos, contribuições e doações de pessoas físicas ou jurídicas,

entidades e organismos de cooperação nacionais ou internacionais e receitas de operações

realizadas com recursos do FNHIS. Esses recursos têm aplicação definida pela Lei, como, por

exemplo, a aquisição, construção, conclusão, melhoria, reforma, locação social e

arrendamento de unidades habitacionais, a produção de lotes urbanizados para fins

habitacionais, a regularização fundiária e urbanística de áreas de interesse social, ou a

implantação de saneamento básico, infra estrutura e equipamentos urbanos, complementares

aos programas de habitação de interesse social. (BRASIL, site http://www.cidades.gov.br)

Quando o projeto foi viabilizado para o municipio, a Secretaria de Assistencia Social

iniciou um cadastramento de todas as familias que residiam no local, para não ocorrerem

especulações e outras familias acabarem vindo morar no local de ultima hora a fim de ser

contemplado com uma nova moradia. Este levantamento contou com a cooperação de um

projeto em andamento na Secretaria de Assistencia Social chamado " Juventude Cidadã",

estes jovens foram até o local e fizeram um cadastro de todas as familias e as casas foram

numeradas com uma tinta de cor preta, fotografadas e este numero era também a identificação

do cadastro da familia, esta foi uma forma de tentar dificultar que novos ocupantes viessem a

morar naquela área e também uma forma de começar a organizar a retirada dessas familias

posteriormente quando as novas moradias estivessem prontas.

Page 47: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

47

Figura 8 – Jovens chegando para o cadastramento das famílias.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 9 – Jovens do projeto Juventude Cidadã.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Page 48: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

48

Figura 10 – Casa com numeração do cadastramento.

Fonte: Arquivo Pessoal.

A falta de alternativas habitacionais, gerada pelo intenso processo de urbanização,

baixa renda das famílias, apropriação especulativa de terra urbanizada e inadequação das

políticas de habitação, levou dezenas de famílias ocuparem a beira do Córrego Ponta Porã.

O Programa veio atender a cerca de 180 famílias em torno de 800 pessoas diretamente

que habitavam ao longo das margens do córrego Ponta Porã, enfrentando problemas

relacionados ao saneamento, enxurradas, doenças e, ao mesmo tempo, provocando graves

problemas ambientais com a supressão das matas ciliares e lançamento de esgoto e lixo no

leito do córrego. Estas familias seriam então removidas para um novo bairro, pois onde elas

residiam havia um projeto ambiental, onde não poderia constar mais moradias.

Page 49: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

49

Figura 11 – Local onde as famílias seriam reassentadas.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 12 – Situação das casas das famílias na beira do córrego.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Page 50: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

50

Figura 13 – Moradias em áreas de risco.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 14 – Situação das casas.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Page 51: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

51

È preciso destacar que durante o cadastramento das familias muitas delas já diziam

durante o cadastro não querer se mudar daquela região do córrego, mesmo com as condições

das casas correndo sérios riscos de desabar, sem água encanada, sem banheiros dentro de

casa, mas a localização era privilegiada próxima ao centro e a bairros nobres do municipio,

visto que as novas moradias eram em bairros mais distantes, onde os imóveis não eram tão

valorizados, e era onde a prefeitura dispunha de terrenos para programas de habitação

popular.

Durante o cadastramento das familias, deparou se com familias paraguaias. E ai

iniciava se um novo desafio para a assistente social do municipio, como fazer para essas

familias não perderem o direito de uma nova moradia, já que residiam ali naquele córrego a

muitos anos? A legislação brasileira não permite beneficiar com programas sociais pessoas

que não tenham documentação brasileira, precisam ser brasileiros ou naturalizados. Porém

algumas familias nao tinham nenhum documento brasileiro, mas já residiam naquele local a

muitos anos. Infelizmente essas famílias tiveram que voltar para seu País de origem no caso o

Paraguai, não puderam ser beneficiadas.

Entendendo a importância deste projeto todas as familias que foram cadastradas,

foram acompanhadas durante o processo de construção das novas moradias, foi feito um

trabalho de conscientização, principalmente ambiental, pois muitas delas jogam lixo no

próprio quintal, não tinham costumes de limpar o seu próprio terreno, algumas possuiam

animais como porcos, galinhas e até animais de grande porte como cavalos e vacas, e o novo

bairro onde elas iriam morar isso não seria possivel. Isso também foi um grande empecilho

para elas quererem se mudar. Este trabalho era acompanhado e realizado mensalmente por

uma assistente social e a coordenadora do setor de habitação da prefeitura. Também foram

oferecidos cursos como "Aproveitamento total dos alimentos" ministrado por uma nutricionita

e também oficina de manipulação e higienização de alimentos, entre outros.

Page 52: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

52

Figura 15 – Casa com lixo no quintal.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 16 – Casa com acúmulo de lixo no quintal.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Page 53: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

53

Figura 17 – Reunião com as famílias beneficiadas.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 18 – Curso de Aproveitamento Total dos Alimentos.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Page 54: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

54

Figura 19 – Curso de Aproveitamento Total dos Alimentos.

Fonte: Arquivo Pessoal.

As reuniões que eram realizadas com as famílias, os cursos ministrados tinham

também um propósito de fazer com que essas famílias se sentissem seguras e satisfeitas com a

nova moradia. Pois muitas delas conforme já mencionado não queriam mudar se de suas

casas, o trabalho foi realizado para que elas estivessem cada vez interagidas entre si.

Durante a obra das novas moradias as familias eram convidadas para visitarem a obra,

acompanharem cada etapa, para irem se familiarizando com suas novas residências nova

vizinhança, isso sempre era feito com acompanhamento do setor de habitação e de uma

assistente social, tentando provocar o menor impacto possível naquelas famílias.

Page 55: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

55

Figura 20 – Famílias acompanhando a obra.

Fonte: Arquivo Pessoal.

A construção das 180 novas moradias levou 2 anos para se finalizar, durante esse

período as familias foram preparadas para uma mudança não só de endereço mas também de

vida como já fora citado e ilustrado, através das reunioes e de cursos. Estas familias estariam

sendo contempladas não somente com uma casa nova, mas sim com novas perspectivas de

vida, devido as condições sub humanas que estas se encontravam residindo na beira de um

córrego, onde não tinham escrituras de suas casas, pois invadiram aquela área a muitos anos,

estavam mudando se para um lugar com as devidas condições de habitação. A Prefeitura

Municipal de Ponta Porã também auxiliou todo o processo de mudança dessas familias,

oferecendo caminhões para o trasnporte assim como funcionários para carregamento dos

móveis e utensilios domésticos.

Page 56: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

56

Figura 21 – Projeto Habitacional FNHIS - 180 novas casas.

Fonte: Prefeitura Municipal de Ponta Porã.

No decorrer deste projeto habitacional, pode se observar que o município de Ponta

Porã habita muitas familias paraguaias, que vieram para o lado brasileiro da fronteira em

busca de novas condições de vida, novas oportunidades. Porém como a lei brasileira não

permite contemplar uma familia se enquadre nas exigências da lei brasileira, algumas famílias

perderam suas casas, onde já habitavam a muitos anos, e tiveram que voltar sem nada para seu

país de origem, sem direito a nenhuma indenização, ou solução para o problema de habitação.

Page 57: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

57

4.2 Habitação através do cooperativismo

O estudo do cooperativismo habitacional vem ganhando maior importância por ser

este não apenas uma alternativa possível para a produção e aquisição da moradia, mas

também, por introduzir uma forma coletiva de se pensar essa questão. A origem desse

movimento cooperativista se encontra nas cooperativas habitacionais do Uruguai, tanto em

termos de organização como na forma de produção da moradia. (e-metropolis, pag. 36)

Conforme OLIVEIRA (1996) as cooperativas apresentam grande potencial e

possibilidades de se transformarem em instrumentos de mudança política, econômica e social,

na medida em que valorizam e emancipam o cidadão, principalmente o mais excluído, como

as pessoas de baixa renda que não tiveram oportunidade de adquirir sua casa própria.

É fato que as cooperativas podem ser vistas de duas formas: como uma via econômica

alternativa para a consecução de objetivos de caráter econômico e social, onde os membros

dirigem unidades econômicas cooperativas para a aquisição favorável de bens ou serviços

destinados a fins privados como construção de habitações e como instrumentos de promoção

humana. Esse papel é exercido à medida que as cooperativas habitacionais estabelecem

mecanismos de intervenção na realidade social dos envolvidos e criam possibilidade de união

de esforços em torno da consecução de outros objetivos comuns, não se limitando apenas ao

provimento de moradia.

"Assim a organização de um grupo homogêneo na constituição de cooperativa

habitacional pode ser considerada como estratégia de promoção econômica e social porque

representa uma forma especial de abordagem em grupo que visa atacar, simultaneamente, por

meio da participação consciente dos interessados vários dos principais problemas de sua

realidade e não apenas o problema da habitação em si."( VIEIRA, N., BRAGA, M., RIGO,

A., CARVALHO, D., CETTO)

As cooperativas habitacionais tem sido também importantes agentes na produção

formal da moradia, por representarem uma forma de adquirir um imóvel a preços inferiores

aos do mercado, com redução estimada entre 30 e 40%, ampliando o acesso à moradia. Por

ser uma forma mais barata de provisão, embora também mais arriscada (administração da

carteira e impacto da inadimplência), tem atendido às faixas de renda média e média baixa.

No Brasil o acesso a financiamentos pode se dar por intermédio do Programa Crédito

Solidário, que atende famílias organizadas sob forma associativa e cujas tipologias incluem

unidades prontas verticais ou horizontais. (BRASIL 2010) No Brasil a região que concentra o

maior numero de construções por cooperativas é a Sudeste. Um exemplo disso é Águas Claras

Page 58: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

58

quase inteiramente planejada e construída por cooperativas habitacionais e onde se encontra o

maior complexo de habitações do ramo no Brasil.

O municipio de Ponta Porã através da Prefeitura Municipal desenvolveu em parceria

com o "Movimento Nacional de Luta pela Moradia" e o Governo Federal um projeto do

Programa Crédito Solidário, onde foram construídas 100 unidades habitacionais, as casas

medem 45 metros quadrados, com sala, cozinha, banheiro e 2 quartos. O terreno foi doado

pela Prefeitura Municipal de Ponta Porã, cada terreno mede 10X20. Todas as casas possuem

entrada que garantem acessibilidade para deficientes físicos. A prefeitura também

disponibilizou arruamento e a instalação de água e luz para todas as unidades habitacionais.

As famílias beneficiadas se enquadram nos critérios adotados pelo MNLM -

Movimento Nacional de Luta pela Moradia, essas famílias possuem renda mensal de um a

dois salários mínimos. A prioridade do MNLM é colocar a casa no nome da mãe, chefe de

família, para tentar assegurar que esta mãe e seus filhos não perderam o lar no caso de uma

separação. Este programa só pode ser viabilizado através de um entidade, no caso do

município de Ponta Porã a entidade parceira foi o MNLM, que pleiteou o programa junto ao

governo Federal.

Figura 22 – Construção das casas do Programa Crédito Solidário.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Page 59: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

59

Figura 23 – Futuros moradores participam da construção.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Figura 24 – Casas prontas para serem entregues do Programa Crédito Solidário.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

O Paraguai possui várias cooperativas habitacionais. Em Pedro Juan Caballero existe a

Cooperativa Multiactiva MBORAYHU Ltda, esta cooperativa possui em torno de 8.500

associados. A missão da cooperativa é oferecer serviços financeiros e sociais, voltados para

Page 60: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

60

atender as necessidades socioeconômicas, buscando o bem estar e melhorar a qualidade de

vida e oferecer moradias dignas para seus associados.

Figura 25 – Sede da Cooperativa localizada no centro de Pedro Juan Caballero onde as pessoas fazem filiação.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Desta forma, está em andamento a construção de 40 casas viabilizadas através do

Programa de Crédito Hipotecário. A execução deste projeto se deu através da Cooperativa

Mborayhu, que selecionou 40 cooperados para serem contemplados com as casas.

A cooperativa adquiriu um lote de 10 hectares, e então pleiteou o projeto das 40 casas

junto ao Governo Federal através da SENAVITAT. Então foram divididos os terrenos com

metragem de 12X30 m. Este projeto oferecerá casas com 72 metros quadrados, conta com 2

quartos, cozinha, sala e lavandeira, é um projeto considerado nível econômico.

Page 61: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

61

Figura 26 – Obra em execução de 40 casas viabilizadas pelo projeto Créditos Hipotecários, com 72m2 de construção por residência.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo Silva.

Figura 27 – Área interna da residência.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Page 62: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

62

As casas possuem algumas diferenças importantes das que são construídas no lado

Brasileiro da fronteira, uma delas é o sistema de forro que bloqueia o calor não deixando

entrar dentro da casa, fazendo com que as casas se tornem mais frescas, por se tratar de uma

região com o clima bastante quente, a outra é o sistema americano de guarda roupas, que já é

feito em alvenaria, ficando somente as portas para a familia colocar. Isto é bastante válido, já

que serão familias que muitas vezes não dispõem de recursos para comprarem todos os

móveis da casa inclusive ventiladores ou até ar condicionado. Outro ponto de grande valia são

os banheiros azulejados, proporcionando mais higiene e melhores condições de uso.Com isso

oferecem uma moradia mais digna para seus associados.

Figura 28 – Local destinado a guarda-roupa (modelo americano de guarda-roupa)..

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Page 63: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

63

Figura 29 – Forro destinado a segurar o calor.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Figura 30 – Banheiro de residência.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo e Silva.

Na área onde estão sendo construídas casas, a cooperativa disponibiliza a construção

de um centro comunitário, onde acontecerá futuras reuniões das familias com a cooperativas,

Page 64: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

64

assim como festas, missas, enfim um local onde elas possam interagir entre si, não perdendo o

vinculo nem o estimulo de serem cooperados.

Figura 31 – Prédio Comunitário das famílias do projeto da Cooperativa do Projeto de Construção.

Fonte: Bruna Lanssoni Morillo Silva.

Essas familias irão pagar por mês para a cooperativa em torno de G$ 750.000 (em

torno de R$ 330,00). Essas familias tiverem que comprovarem renda e outras séries de

documentações para poderem ser beneficiadas neste programa.

O Cooperativismo Habitacional tem contribuído, sem dúvida, para diminuir o déficit

em relação a moradia que atualmente assola o país. As Cooperativas Habitacionais tem sido

freqüentemente uma eficaz alternativa para muitas pessoas que moram em condições

precárias e por muitas que não tem onde morar. Além da aquisição de moradia, as

cooperativas habitacionais são uma forma das pessoas de classe média e alta se organizar,

como uma maneira de deixar de pagar o aluguel ou como simples forma de aquisição ou troca

de imóvel.

O governo de ambos os lados Brasil e Paraguai, exerce um papel fundamental neste

contexto de fomentar o cooperativismo, devendo se preocupar e oferecer infra-estrutura

(saneamento básico, calçamento das ruas, energia e água tratada), segurança, saúde enfim,

outros subsídios para que, além da moradia conquistada através das cooperativas, os novos

moradores possam viver com mais dignidade e qualidade de vida. O que se pode verificar, é

que o Estado ou o município, simplesmente doando terrenos, contribui muitas vezes para a

Page 65: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

65

formação de vilas ou bairros e, em alguns casos até mesmo cidades, onde se proliferam o

desemprego, o tráfico de drogas e consequentemente a violência.

Mesmo diante de muitos problemas, as cooperativas habitacionais tem conseguido

oferecer aos seus associados o que elas se propõe, a moradia, gerando a satisfação dos

associados com suas casas e muitas perspectivas de melhoria de vida, devido a conquista

inicial da casa própria.

Page 66: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

66

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com esta pesquisa, procurou-se analisar os projetos de habitação social, suas formas

de execução, construção e diagnosticar os impactos que a fronteira causa nos programas

habitacionais em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

Neste sentido, o diferencial de ser uma região fronteiriça nos possibilitou constatar que

muitas famílias acabam fazendo movimentos pendulares, ora de um lado, ora de outro da

fronteira; assim, com relação à habitação social, as famílias acabaram vindo mais para o lado

brasileiro da fronteira Ponta Porã, pelo fato de o Brasil oferecer maiores chances para

aquisição de uma moradia oferecida por um programa social em relação às políticas

habitacionais do Paraguai.

No Paraguai, os programas já executados nem de longe contemplam a realidade em

relação à demanda. Planos governamentais visam suprir um pouco a demanda habitacional,

mas têm atingido somente uma pequena porcentagem em relação ao tamanho imenso da

defasagem habitacional.

Deste modo, verificou se a necessidade de uma possível modificação na legislação

vigente no Paraguai em matéria de habitação para poder assegurar que todos os grupos de

população possam adquirir uma moradia sem discriminação de cor ou raça, sexo, entre outros.

E também implementar uma política mais eficaz de habitação no país para possibilitar a

captação de recursos e executar mais programas de habitação social.

A reflexão possibilitou ver que a lógica atual das políticas fundiárias de ambas as

cidades não favorece a produção de habitação de interesse social. Assim, observamos que as

duas cidades destinam um grande percentual do território urbano para as tipologias

habitacionais correspondentes aos produtos imobiliários de alta e média renda e, em relação

às de baixa renda, a regulação urbanística é omissa ou, quando é explícita, destina parcelas

muito inferiores à dimensão das necessidades habitacionais.

Foi demonstrado que a falta de alternativas habitacionais em Pedro Juan Caballero,

gerada pelo intenso processo de urbanização, baixa renda das famílias e inadequação das

políticas de habitação, levou famílias a procurarem moradias do lado brasileiro em Ponta

Porã. Durante o processo de desocupação da beira do Córrego Ponta Porã, a prefeitura se

deparou com algumas famílias paraguaias, que tiveram que retornar para seu país de origem,

pois não puderam ser contempladas com os programas habitacionais populares; porém, esse

número é maior, pois muitas famílias paraguaias e também brasileiras que moram no lado

brasileiro, caracterizam se na informalidade na posse de terra, ausência e insuficiência de

Page 67: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

67

infraestrutura, irregularidade no processo de ordenamento urbano, falta de acesso a serviços e

moradias com graves problemas de habitalidade, construídas pelos próprios moradores sem

apoio técnico.

Ademais, os programas habitacionais analisados nos mostraram que a intervenção

habitacional se dá sem a preocupação de que esta esteja associada ao processo de

planejamento territorial e urbano, à questão fundiária e a uma política habitacional

previamente definida e pactuada com a sociedade civil organizada.

Por fim, concluo que, observando os programas habitacionais já executados e as

políticas habitacionais dos dois lados da fronteira Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, ficou

clara a necessidade da implementação de políticas habitacionais diferenciadas naquela região

de fronteira, através de uma articulação dos setores públicos nas três esferas governamentais

de ambos os lados da fronteira para conseguir operacionalizar planos e estratégias para as

duas cidades, pois o peso está maior para o lado brasileiro, pois oferece mais oportunidades de

se conseguir uma casa própria em relação ao Paraguai. No entanto, as famílias carentes, não

tendo o conhecimento das leis vigentes no país, não se dão conta de que, não possuindo um

documento brasileiro, nunca poderão ser contempladas com uma moradia digna, e assim

serem descobertas pelo poder público. Refiro-me aqui à prefeitura, através dos órgãos

competentes; essas pessoas acabam tendo que retornar para seu país de origem sem nenhum

direito, e muitas vezes acabam perdendo o trabalho de anos construindo uma casa "ilegal"

pelo fato de estar em uma aérea sem documentação, sem escritura.

Page 68: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

68

REFERÊNCIAS

ARRETCHE, M. A descentralização como condição de governabilidade: solução ou miragem? Espaço e Debates, São Paulo, n. 39, p.75-86, 1996. ALMEIDA, Maurício B. Noções básicas sobre metodologia de pesquisa científica. Disponível em: <ftp://ftp.unilins.edu.br/brenoortega/metodologia/metodologia.pdf >. Acesso em: 17 nov. 2013. AZEVEDO, S. D. (1996). A crise da política habitacional: dilemas e perspectivas para o final dos anos 90. In: RIBEIRO, L. C. D. Q.; AZEVEDO, S. D. (Org.). A crise da moradia nas grandes cidades: da questão da habitação à reforma urbana. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1996. p. 73-101. BENTANCOR, G. Mercosur: Adecuación a la Integración Regional – Perspectivas desde un Área Fronteriza. In: LEHNEN, A. et al. (Org.). Fronteiras no Mercosul. Porto Alegre: Ed. daUniversidade/UFRGS, 1994. p. 48-52. BOURDIEU, P. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1997. Disponível em: < http:// www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNH/ArquivosPDF/AT_internet.pdf>. Acesso em: 15 julho, 2012. BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP. Habitare - Programa de Tecnologia de Habitação. Cidades, Ciência & Tecnologia: Anais do Seminário Cooperação Brasil-França. Rio de Janeiro: Ministério da Ciência e Tecnologia/FINP-HABITARE, 2005. Disponível em: <http://habitare.infohab.org.br/pdf/ publicacoes/arquivos/137.pdf>. Acesso em: 6 maio 2012. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Demanda habitacional no Brasil. Brasília: CEF, 2011. Disponível em <http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/.../demanda_habitacional.pdf>. Acesso em: 9 maio 2012. CARDOSO, L. C. Política habitacional no Brasil: balanço e perspectivas. Observatório das Metrópoles, IPPUR/UFRJ, [20--]. Disponível em: <http://web. observatoriodasmetropoles. net/index.php?option=com_content&view=article&id=155:politica-habitacional-no-brasil-balanco-e-perspectivas&catid=36:colecao-textos&Itemid=82>. Acesso em: 9 maio 2012. CIDADES, Ciência & Tecnologia: Anais do Seminário Cooperação Brasil-França. Disponível em: <http://habitare.infohab.org.br/pdf/publicacoes/arquivos/137.pdf>. Acesso em: 6 maio 2012. FAMÍLIAS despejadas da ocupação Estaiadinha acampam em avenida central de São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/11/1372661-familias-despejadas-da-ocupacao-estaiadinha-acampam-em-avenida-central-de-sp.shtml>. Acesso em: 17 nov. 2013. HOFFMANN, Maria Barroso. Fronteiras étnicas, fronteiras de Estado e imaginação da nação: um estudo sobre a cooperação internacional norueguesa junto aos povos indígenas. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – UFRJ/MuseuNacional, 2008.

Page 69: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

69

LEFEBVRE H. De L´État. 4. Les contradictions de l´État moderne. Paris: Antopos, 1978. MACHADO, Lia Osório. Limites, fronteiras, redes. In: STROHAECKER, T. M.; DAMIANI, A.; SCHAFFER, N. O.; BAUTH, N.; DUTRA, V. S. (Org.). Fronteiras e espaço global. Porto Alegre: AGB-Porto Alegre, 1998. p. 41-49. MARTINS, José Renato Vieira; SILVA, Carolina Albuquerque. O MERCOSUL e a constituição de uma esfera pública regional. 2011. Disponível em: <http://www.mercosur.it/00_Down/Quaderni/02Cuaderno_Mercosur-Renato_ Martins.pdf>. Acesso em: 6 maio 2012. OLIVEIRA, Marcia Maria. A mobilidade humana na tríplice fronteira: Peru, Brasil e Colômbia. Estudos Avançados, a. 20, n. 57, 2006. OLIVEIRA, T. C. (Org.). Cooperativas de trabalho: instruções para organização. 2. ed. São Paulo: ICA, 1996. 80 p. OLIVEIRA, T. C. M. Frontiéres em Amérique Latine: réflexions méthodologiques. Espaces et Sociétés, Paris, n. 138, p. 18-33, mar. 2009. OLIVEIRA, T. C. M. Os Elos da Integração. In: OLIVEIRA, Marco Aurélio Machado de COSTA, Edgar (Org.). Seminário de Estudos Fronteiriços. 1. ed.Campo Grande: Editora da UFMS, 2009. v. 1, p. 25-44. OLIVEIRA, T. C. M. La lógica espacial del território fronterizo: los casos de las aglomeraciones de Ponta Porã-Pedro Juan Caballero y Ladário-Corumbá-Puerto Quijarro-Puerto Suarez. In: SEBRAE (Org.). Mato Grosso do Sul sin fronteras: caractisticas y interelacciones teritoriales. 1.ed. Campo Grande: Editora Visão, 2010. v. 1, p. 239-258. OLIVEIRA, T. C. M. Tipologia das Relações Fronteiriças: elementos para o debate teórico-práticos. In: Tito Carlos Machado de Oliveira (Org.). Território sem Limites. 1. ed. Campo Grande: Editora da UFMS, 2005. v. 1, p. 377-408. OLIVEIRA, T. C. M. A Faixa de Fronteira e a Questão Geopolitica. In: SEMINÁRIO PERSPECTIVAS PARA A FAIXA DE FRONTEIRA. 2010. Brasília, DF. OLIVEIRA, T. C. M. (Coord.). Perspectivas para o meio ambiente urbano: GEO Ponta Porã. Campo Grande, MS, 2010. PARAGUAI. Ley nº 3.909. Que crea la secretaría nacional de la vivienda y el hábitat “SENAVITAT”. Disponível em: <http://paraguay.justia.com/nacionales/leyes/ley-3909- jun-7-2010/gdoc>. Acesso em: RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993. SOUZA, Ségio Iglesias Nunes. Direito à moradia e de habitação: análise comparativa e suas implicações teóricas e práticas com direitos da personalidade/. 2 ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008.

Page 70: HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ …ppgefcpan.sites.ufms.br/files/2016/01/Bruna-Lanssoni.pdf · HABITAÇÃO POPULAR NA FRONTEIRA: O CASO DE PONTA PORÃ E PEDRO

70

TORRECILHA, Maria Lúcia. A fronteira, a cidade e a linha. Campo Grande: Ed. Uniderp, 2004. TORRES, Fernando de. Cooperativismo habitacional: uma experiência de vida. Disponível em: <http://www.emetropolis.net/edicoes/n02_set2010/e-metropolis_n02_entrevista.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2013. TRUZZI, O. M. S. Notas acerca do uso do método comparativo no campo dos estudos migratórios. In: Reuniâo Anual da ANPOCS, 29, 2005, Caxambu. Livro de Resumos, 2005. 1 CD. VIEIRA, N., BRAGA, M., RIGO, A., CARVALHO, D., CETTO, V. Análise da Importância das Cooperativas Habitacionais na Construção de Moradias ParaPopulação de Baixa Renda do Brasil. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, 1 de agosto de 2003, vol. VII, núm. 146(098). Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-146(098).htm>. Acesso em: 17 nov. 2013.