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Há um ano atrás, tornava-se público o Manifesto da Aliança Anarquista. Lançado em 1º de maio de 2015, este documento apresentava os pilares iniciais para a construção desta organização que esforça-se para recolocar o anarquismo no lugar de onde nunca deveria ter saído: no interior da luta da classe trabalhadora. Partindo de uma avaliação comum sobre a conjuntura e sobre a atual inexpressividade do anarquismo, a Aliança Anarquista apoia-se no método materialista histórico-dialético para elaborar seu programa de lutas e inspira-se nos clássicos do anarquismo revolucionário, tão presente e atuante nas importantes lutas de nossa classe, para orientar o fortalecimento do anarquismo organizado. Encontra nos exemplos da Aliança da Democracia Socialista – partido de vanguarda organizado por Mikhail Bakunin – e na proposta da Plataforma Organizacional – escrita por anarquistas russos e ucranianos que atuaram na Revolução Russa de 1917 – a inspiração para reerguer o programa do anarquismo revolucionário organizado. Considerando também os diversos esforços de diversos militantes anarquistas comprometidos e engajados ao redor do mundo para a construção e fortalecimento do socialismo anti-estatista, compreende a importância de seguir avançando na formulação teórica, programática e estratégica rompendo com as tentativas de tornar o anarquismo refém da ineficaz política identitária, comportamental e individualista. O anarquismo não é um estilo de vida em que cada indivíduo finge poder renunciar individualmente ao capitalismo. O anarquismo é uma corrente socialista revolucionária que tem como objetivo a tomada dos meios de produção e a destruição do Estado- nação a partir da organização classista e da luta combativa dos trabalhadores e sua juventude. Com o atual acirramento da luta de classes, a necessidade da organização e da disciplina militante se coloca ainda mais urgente. A construção coletiva de um programa de lutas que não deposite suas perspectivas na tomada – pela via eleitoral ou não – do aparelho do Estado é fundamental. Por isso convocamos todos os trabalhadores e sua juventude comprometidos com a luta de nossa classe para que, com atuação concreta nas bases, somem esforços na construção da Aliança Anarquista rumo à tão necessária revolução social! TODO PODER À CLASSE TRABALHADORA! POR UM MOVIMENTO ESTUDANTIL REVOLUCIONÁRIO! CONSTRUIR O ENFRENTAMENTO – CORRENTE ESTUDANTIL CLASSISTA! Nós da Aliança Anarquista entendemos a organização estudantil como necessária para que jovens trabalhadores, e os trabalhadores em formação nas escolas e universidades, se coloquem nas lutas do conjunto da classe trabalhadora. Nesse sentido impulsionamos o Enfrentamento – Corrente Estudantil Classista. Nesta, nos colocamos lado a lado com companheiros que lutam contra os ataques que os estudantes da classe trabalhadora sofrem nos seus locais de estudo. Ataques estes que, em geral, são expressão das medidas contra os trabalhadores e estudantes na crise econômica geral. O Enfrentamento se coloca intransigentemente contra possíveis conciliações com as burocráticas direções das instituições escolares/universitárias, empreendendo um plano de luta radicalizado. O que converge com a necessidade de um movimento independente das burocracias e instituições do Estado que serve ao capital. Para a construção de um movimento que dê vazão a essas demandas de classe, nos colocamos contra as direções que priorizam sua autoconstrução e que visam conter os processos de luta dos estudantes reproduzindo a nível estudantil a tentativa de silenciamento dos movimentos imposto por anos a fio pelos governos do PT. O programa do Enfrentamento baseia-se na imprescindível aliança com os trabalhadores, tanto no contexto interno da universidade quanto com as lutas gerais de âmbito nacional, com independência de classe e defesa da ação e democracia direta. Levanta-se pelas reivindicações que tocam diretamente aos estudantes da classe trabalhadora – permanência estudantil, por exemplo -, como caminho estratégico para explicitar o inconciliável interesse entre a demandas dos trabalhadores e a oferta disponível no capitalismo. O terreno da educação é também o terreno da luta de classes. Nas escolas e universidades, a juventude prepara-se para ocupar o lugar que lhe cabe no mundo: milhares se formam para o mercado de trabalho e uma ínfima parcela se prepara para seguir o seu caminho de gestor do capital. É neste campo de batalha que se faz necessário erguer um programa de lutas integrado com um horizonte estratégico mais amplo, construindo a luta classista, anti-racista e anti patriarcal. Estudantes – secundaristas, técnicos e universitários – organizar-se para destruir este sistema de exporação e injustiças é possível! Some-se ao Enfrentamento! enfrentamento.org [email protected] FEMINISMO E LUTA DAS MULHERES Com a aproximação do 8 de março, nós da Aliança Anarquista entendemos como importante apresentar alguns de nossos acordos e concepções que temos acerca da luta feminista. Neste primeiro texto, apresentaremos a concepção de feminismo e gênero que defendemos. Pretendemos, em breve, publicar um segundo texto abordando algumas das principais polêmicas do feminismo contemporâneo: auto-organização, aborto, prostituição e indústria pornográfica. Feminismo, materialismo e dominação sexual A fim de mantermos a coerência teórica, nos pautamos no método materialista histórico dialético também para definir nossas posições e ações na luta das mulheres – seria equivocado nos pautarmos no materialismo para analisar a luta dos trabalhadores e formular estratégias e programas para estas, mas abrir mão e adotar algum outro método nas nossas formulações frente ao feminismo. Ao partirmos deste método, a primeira questão que se coloca evidentemente é acerca da definição do que se trata a luta das mulheres: em outras palavras, temos diante de nós uma relação social caracterizada fundamentalmente no plano ideológico ou esta relação possuí raízes profundas e estruturais na sociedade moderna? Trata-se de uma opressão às mulheres fundamentada através de uma ideologia machista, ou se, além disto, trata-se também de uma relação de dominação basilar para a sociedade contemporânea? O elemento mais básico do materialismo histórico dialético é o reconhecimento da determinação da vida frente à consciência, não o contrário. O que significa entender que há centralidade nas relações sociais que garantem a manutenção e reprodução da vida em sociedade. No caso da sociedade moderna, são duas as relações sociais que se colocam nessa dimensão estrutural: a exploração da força de trabalho do proletariado em proveito dos capitalistas (mais-valia) e a exploração da capacidade reprodutiva das mulheres em proveito dos homens. Além destas, é imprescindível enunciar a escravidão como relação estrutural da sociedade moderna, ainda que formalmente abolida 1888 no Brasil. Compreendemos que as mulheres conformam um grupo social distinto e que enquanto tal são exploradas pelos homens – a luta das mulheres não é somente contra uma opressão ideológica, mas também pela destruição de uma dominação estrutural. A sociedade moderna, além de ser capitalista é também patriarcal. É evidente tanto as fortes convergências entre a dominação econômica capitalista e a sexual patriarcal, quanto as importantes diferenças entre as duas dominações; mas ainda assim é necessário reconhecer o caráter estrutural da dominação patriarcal. Convergências estas que são facilmente observadas tanto ao olharmos pra cima, quanto pra baixo na pirâmide social: tanto a proporção de mulheres grandes capitalistas ou chefas de estado sempre foi e ainda é ínfima, quanto as mulheres trabalhadoras tendem a ser mais integradas nos piores empregos, são forçadas a duplas e triplas jornadas, e mesmo assim recebem salários mais baixos ocupando uma mesma função (cerca de 30%). Todas as mulheres sofrem com a violência de gênero, mas as mulheres trabalhadoras – além de terem sua sexualidade mais explorada – ainda têm sua força de trabalho roubada com maior intensidade do que seus companheiros homens. Gênero como imposição patriarcal Compreendemos o gênero como uma imposição patriarcal, na qual a partir do nascimento são definidos papéis a serem seguidos, estereótipos e funções sociais específicas para ambos, estabelecendo assim uma hierarquia entre homens e mulheres. Não se nasce mulher, se nasce com um determinado sexo e através da violência patriarcal – em especial, da dominação sexual – torna- se mulher. Em síntese, o gênero é uma imposição social do patriarcado que parte de aspectos biológicos – ainda que possa também abranger a dimensão identitária, certamente não se reduz a tal. Com esta definição não descartamos a existência de diferenciações biológicas entre homens e mulheres – como por exemplo a altura média maior dos homens, o sistema reprodutor etc – mas, reconhecemos que boa parte do que é visto como “feminino” é na verdade resultado de uma violenta construção social imposta pela dominação patriarcal, sendo a feminilidade um aspecto da sujeição das mulheres, atendendo um estereótipo a serviço dos homens. Todo preconceito, estereótipo ou padrão definido a partir de critérios biológicos deve ser abolido. Para tal, a auto-organização das mulheres voltada para luta revolucionária contra o patriarcado é imprescindível. Somente superando e revolucionando o abismo que nos aparta em gêneros poderemos falar de liberdade e humanidade. VIVA O 8 DE MARÇO! VIVA A LUTA DAS MULHERES! ALIANÇA ANARQUISTA

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Há um ano atrás, tornava-se público o Manifesto da Aliança Anarquista. Lançado em 1º de maio de 2015, este documento apresentava os pilares iniciais para a construção desta organização que esforça-se para recolocar o anarquismo no lugar de onde nunca deveria ter saído: no interior da luta da classe trabalhadora.

Partindo de uma avaliação comum sobre a conjuntura e sobre a atual inexpressividade do anarquismo, a Aliança Anarquista apoia-se no método materialista histórico-dialético para elaborar seu programa de lutas e inspira-se nos clássicos do anarquismo revolucionário, tão presente e atuante nas importantes lutas de nossa classe, para orientar o fortalecimento do anarquismo organizado. Encontra nos exemplos da Aliança da Democracia Socialista – partido de vanguarda organizado por Mikhail Bakunin – e na proposta da Plataforma Organizacional – escrita por anarquistas russos e ucranianos que atuaram na Revolução Russa de 1917 – a inspiração para reerguer o programa do anarquismo revolucionário organizado.

Considerando também os diversos esforços de diversos militantes anarquistas comprometidos e engajados ao redor do mundo para a construção e fortalecimento do socialismo anti-estatista, compreende a importância de seguir avançando na formulação teórica, programática e estratégica rompendo com as tentativas de tornar o anarquismo refém da ineficaz política identitária, comportamental e individualista. O anarquismo não é um estilo de vida em que cada indivíduo finge poder renunciar individualmente ao capitalismo. O anarquismo é uma corrente socialista revolucionária que tem como objetivo a tomada dos meios de produção e a destruição do Estado-nação a partir da organização classista e da luta combativa dos trabalhadores e sua juventude. Com o atual acirramento da luta de classes, a necessidade da organização e da disciplina militante se coloca ainda mais urgente. A construção coletiva de um programa de lutas que não deposite suas perspectivas na tomada – pela via eleitoral ou não – do aparelho do Estado é fundamental. Por isso convocamos todos os trabalhadores e sua juventude comprometidos com a luta de nossa classe para que, com atuação concreta nas bases, somem esforços na construção da Aliança Anarquista rumo à tão necessária revolução social!

TODO PODER À CLASSE TRABALHADORA!

POR UM MOVIMENTO ESTUDANTIL REVOLUCIONÁRIO!CONSTRUIR O ENFRENTAMENTO – CORRENTE ESTUDANTIL CLASSISTA! Nós da Aliança Anarquista entendemos a organização estudantil como necessária para que jovens trabalhadores, e os trabalhadores em formação nas escolas e universidades, se coloquem nas lutas do conjunto da classe trabalhadora.

Nesse sentido impulsionamos o Enfrentamento – Corrente Estudantil Classista. Nesta, nos colocamos lado a lado com companheiros que lutam contra os ataques que os estudantes da classe trabalhadora sofrem nos seus locais de estudo. Ataques estes que, em geral, são expressão das medidas contra os trabalhadores e estudantes na crise econômica geral.

O Enfrentamento se coloca intransigentemente contra possíveis conciliações com as burocráticas direções das instituições escolares/universitárias, empreendendo um plano de luta radicalizado. O que converge com a necessidade de um movimento independente das burocracias e instituições do Estado que serve ao capital. Para a construção de um movimento que dê vazão a essas demandas de classe, nos colocamos contra as direções que priorizam sua autoconstrução e que visam conter os processos de luta dos estudantes reproduzindo a nível estudantil a tentativa de silenciamento dos movimentos imposto por anos a fio pelos governos do PT.

O programa do Enfrentamento baseia-se na imprescindível aliança com os trabalhadores, tanto no contexto interno da universidade quanto com as lutas gerais de âmbito nacional, com independência de classe e defesa da ação e democracia direta. Levanta-se pelas reivindicações que tocam diretamente aos estudantes da classe trabalhadora – permanência estudantil, por exemplo -, como caminho estratégico para explicitar o inconciliável interesse entre a demandas dos trabalhadores e a oferta disponível no capitalismo.

O terreno da educação é também o terreno da luta de classes. Nas escolas e universidades, a juventude prepara-se para ocupar o lugar que lhe cabe no mundo: milhares se formam para o mercado de trabalho e uma ínfima parcela se prepara para seguir o seu caminho de gestor do capital. É neste campo de batalha que se faz necessário erguer um programa de lutas integrado com um horizonte estratégico mais amplo, construindo a luta classista, anti-racista e anti patriarcal.

Estudantes – secundaristas, técnicos e universitários – organizar-se para destruir este sistema de exporação e injustiças é possível! Some-se ao Enfrentamento!

[email protected]

FEMINISMO

E LUTA DAS MULHERESCom a aproximação do 8 de março, nós da Aliança Anarquista entendemos como importante apresentar alguns de nossos acordos e concepções que temos acerca da luta feminista. Neste primeiro texto, apresentaremos a concepção de feminismo e gênero que defendemos. Pretendemos, em breve, publicar um segundo texto abordando algumas das principais polêmicas do feminismo contemporâneo: auto-organização, aborto, prostituição e indústria pornográfica.

Feminismo, materialismo e dominação sexual

A fim de mantermos a coerência teórica, nos pautamos no método materialista histórico dialético também para definir nossas posições e ações na luta das mulheres – seria equivocado nos pautarmos no materialismo para analisar a luta dos trabalhadores e formular estratégias e programas para estas, mas abrir mão e adotar algum outro método nas nossas formulações frente ao feminismo.

Ao partirmos deste método, a primeira questão que se coloca evidentemente é acerca da definição do que se trata a luta das mulheres: em outras palavras, temos diante de nós uma relação social caracterizada fundamentalmente no plano ideológico ou esta relação possuí raízes profundas e estruturais na sociedade moderna? Trata-se de uma opressão às mulheres fundamentada através de uma ideologia machista, ou se, além disto, trata-se também de uma relação de dominação basilar para a sociedade contemporânea?

O elemento mais básico do materialismo histórico dialético é o reconhecimento da determinação da vida frente à consciência, não o contrário. O que significa entender que há centralidade nas relações sociais que garantem a manutenção e reprodução da vida em sociedade.

No caso da sociedade moderna, são duas as relações sociais que se colocam nessa dimensão estrutural: a exploração da força de trabalho do proletariado em proveito dos capitalistas (mais-valia) e a exploração da capacidade reprodutiva das mulheres em proveito dos homens. Além destas, é imprescindível enunciar a escravidão como relação estrutural da sociedade moderna, ainda que formalmente abolida 1888 no Brasil.

Compreendemos que as mulheres conformam um grupo social distinto e que enquanto tal são exploradas pelos homens – a luta das mulheres não é somente contra uma opressão ideológica, mas também pela destruição de uma dominação estrutural. A sociedade moderna, além de ser capitalista é também patriarcal. É evidente tanto as fortes convergências entre a dominação econômica capitalista e a sexual patriarcal, quanto as importantes diferenças entre as duas dominações; mas ainda assim é necessário reconhecer o caráter estrutural da dominação patriarcal. Convergências estas que são facilmente observadas tanto ao olharmos pra cima, quanto pra baixo na pirâmide social: tanto a proporção de mulheres grandes capitalistas ou chefas de estado sempre foi e ainda é ínfima, quanto as mulheres trabalhadoras tendem a ser mais integradas nos piores empregos, são forçadas a duplas e triplas jornadas, e mesmo assim recebem salários mais baixos ocupando uma mesma função (cerca de 30%). Todas as mulheres sofrem com a violência de gênero, mas as mulheres trabalhadoras – além de terem sua sexualidade mais explorada – ainda têm sua força de trabalho roubada com maior intensidade do que seus companheiros homens.

Gênero como imposição patriarcal

Compreendemos o gênero como uma imposição patriarcal, na qual a partir do nascimento são definidos papéis a serem seguidos, estereótipos e funções sociais específicas para ambos, estabelecendo assim uma hierarquia entre homens e mulheres. Não se nasce mulher, se nasce com um determinado sexo e através da violência patriarcal – em especial, da dominação sexual – torna-se mulher. Em síntese, o gênero é uma imposição social do patriarcado que parte de aspectos biológicos – ainda que possa também abranger a dimensão identitária, certamente não se reduz a tal.

Com esta definição não descartamos a existência de diferenciações biológicas entre homens e mulheres – como por exemplo a altura média maior dos homens, o sistema reprodutor etc – mas, reconhecemos que boa parte do que é visto como “feminino” é na verdade resultado de uma violenta construção social imposta pela dominação patriarcal, sendo a feminilidade um aspecto da sujeição das mulheres, atendendo um estereótipo a serviço dos homens.

Todo preconceito, estereótipo ou padrão definido a partir de critérios biológicos deve ser abolido. Para tal, a auto-organização das mulheres voltada para luta revolucionária contra o patriarcado é imprescindível. Somente superando e revolucionando o abismo que nos aparta em gêneros poderemos falar de liberdade e humanidade.

VIVA O 8 DE MARÇO!VIVA A LUTA DAS MULHERES!

ALIANÇAANARQUISTA

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O QUE ELES QUEREM?

A crise política que começou pequena no início de 2015 se desenvolveu, se aprofundou e agora parece entrar em seus últimos capítulos. Com a votação do impeachment da presidenta Dilma na câmara dos deputados o governo se sustenta por menos do que um fio de cabelo. Sem o apoio do parlamento e dos patrões, os petista veem o seu governo ruir ao seu redor e por isso se voltam a nós, trabalhadores, como último recurso.

As denúncias dos dois lados são das mais diversas. Os petistas alardeiam um golpe. A oposição parlamentar se diz numa cruzada contra a corrupção. Diante dos discursos bonitos e da enxurrada de notícias que inundam os canais de comunicação, é fácil se perder e achar que só se pode estar de um dos dois lados. A nós, trabalhadores, é dito que ou se está contra o “golpe”, ou se está “contra” a corrupção. Mas isso não é verdade.

Afinal, fala-se em golpe, mas a realidade é que o governo petista contribuiu para levar o país para o buraco e que ninguém hoje está feliz! Esse governo foi eleito dizendo que o futuro seria de desemprego e inflação alta se Dilma não ganhasse. E hoje vemos que o quadro é de desemprego e inflação descontrolada! Falou que os trabalhadores seriam atacados se a oposição fosse eleita. E atacou os trabalhadores assim que foi eleita.

Por outro lado, fala-se em lutar contra a corrupção, mas como isso é possível quando o impeachment é encabeçado por pessoas como Eduardo Cunha, Aécio Neves e tantos outros? Os que dizem querer combater a corrupção são corruptos também. E não só. Basta assistir a declaração dos votos a favor do impeachment para ver quem são os justiceiros: latifundiários, industriais, banqueiros, machistas, racistas, homofóbicos e alguns inclusive, a favor da ditadura militar. Ou seja, todos inimigos dos trabalhadores.

A verdade é que ambos os lados querem mesmo é mostrar que são os melhores para nos atacar. Que é o grupo com maior capacidade de proteger o lucro do patrão e sacrificar os trabalhadores. A eles não interessa a nossa situação. Não interessa que acordamos e dormimos com o medo do desemprego. Não interessa que contamos os centavos para cobrir as nossas necessidades. Interessa o contrário, interessa provar que conseguem passar o ajuste fiscal o mais bruto possível, ao mesmo tempo em que reprime os trabalhadores da maneira mais eficaz. Não à toa ambos os lados defendem o ajuste fiscal e medidas de austeridade para sacrificar os trabalhadores.

Diante disso, escolher entre um desses lados é impossível. E é impossível porque nenhum deles de fato quer defender os trabalhadores. Mas continuar a despejar a crise econômica – que não será solucionada pelo impeachment ou não de Dilma – sobre nós.

Devemos traçar um plano de lutas que ultrapasse a polarização colocada atualmente e recoloque o enfrentamento de classes no centro da discussão. Devemos ir além do impedimento ou não do governo petista, armando a resistência no cerne da questão hoje: a crise econômica. Porque enquanto PT, PMDB e PSDB se digladiam por fatias maior no Estado, o que nos resta são os ataques que não param de chegar.

Lei antiterrorismo, retomada da discussão de ampliação da terceirização, reforma da previdência e ataque ao salário mínimo, são alguns dos ataques que ou passaram ou pretendem ser passados no próximo período, como complemento às demissões e arrochos salariais.

Optar por se centrar na questão do impeachment enquanto medidas como essas são passadas, não é somente um erro, mas também uma irresponsabilidade. É se perder em meio às notícias e buscar atalhos que nada farão, a não ser fortalecer quem nos ataca. Hoje, a prioridade deve ser erguer a resistência contra esses ataques, tirando da frente dos trabalhadores a distração da disputa pela presidência, e recolocando o foco naquilo que nos importa: a defesa das nossas condições de vida!

NEM COM O PETISMO, NEM COM A OPOSIÇÃO PARLAMENTAR!CONTRA O ATAQUE DOS GOVERNOS E DOS PATRÕES!

1º DE MAIOHISTÓRIA DE LUTAS NO ANARQUISMO

Atualmente o termo anarquismo é usado de modo muitas vezes sem nenhum sentido e ligação com seu significado verdadeiro, o prefixo “anarco” é colocado em diversos movimentos de contracultura. Isso se dá poque o anarquismo hoje é confundido por um comportamento individual, que alguns grupos denominam de “pratica libertaria” porém isso não é nem de perto o que o anarquismo realmente deveria significa. Pode-se ver que isso é um efeito da própria atuação dos que se reivindicam anarquistas desde principalmente a segunda metade do século XX, pois o anarquismo não fora capaz de retomar um papel relevante nos movimento das massas trabalhadoras após consecutivas derrotas no período anterior.

É por essas e muitas outras degenerações no movimento daqueles que se dizem anarquistas que devemos relembrar a origem e o desenvolvimento dessa linha política. O anarquismo não é reduz a uma corrente de pensamento, a um alinhamento político-ideológico, é uma práxis que visa a emancipação da classe trabalhadora por uma revolução socialista, ou seja, a tomada dos meios de produção pelos que trabalham.

Com isso em mente, ao olharmos para a história encontramos anarquia não em movimentos que visam criar uma realidade paralela para fugir do capitalismo, mas sim na classe trabalhadora organizada para a sua superação. Anarquista não é o jovem rebelde contra toda e qualquer autoridade, anarquista é o proletariado levando a frente um programa revolucionário que visa a destruição do capital e do Estado.

Muitos, até mesmo entre os revolucionários, nos acusam de ter um projeto político que não é aplicável a realidade usando os mais diversos argumentos, mas vale lembrar que o projeto socialista revolucionário anarquista também não foi teorizada por intelectuais dentro de seus gabinetes, mas forjado e construído na materialidade da luta de classes ao longo da história.

Desde a Primavera dos Povos em 1848, momento em que ocorrem inúmeros levantes revolucionários na Europa e mais tarde em outras partes do mundo, já se pode identificar o proletariado como um agente importante para a disputa política – mas nessa época ainda era uma classe pequena em número e seu projeto político da revolução socialista ainda era embrionário. É em 1871 no processo revolucionário da Comuna de Paris que o proletariado conquista o poder para si pelas armas, dissolve o Estado e toma os meios de produção: um exemplo da execução do programa anarquista na realidade. Por mais curto que tenha sido o autogoverno dos trabalhadores essa experiência prova que lutamos não por uma utopia, mas por uma possibilidade que está colocada na realidade. A revolução em 1871 não era uma teoria ou um discurso, mas um fato que tem seu ecos na história até os dias de hoje.

Outra data emblemática na história do anarquismo é o primeiro de maio de 1886. Milhares de trabalhadores organizados em seus sindicatos, muitos dirigidos por militantes anarquistas, iniciam uma greve geral nos Estados Unidos pela jornada de oito horas sem redução de salário. Nesse processo a polícia assassinou trabalhadores grevistas, no dia quatro de maio, em um ato em Chicago em apoio a greve geral, a polícia abre fogo e os trabalhadores contra-atacam com bombas, causando a morte de mais grevistas. Oito lideres anarquistas são presos depois desse episódio, sete serão condenados a pena de morte e as forças da repressão atacaram ainda mais a classe de conjunto. Novamente vemos um exemplo a ser seguido por nós anarquista de hoje, a de que devemos lutar por melhores condições de trabalho e defender nossos salários mas não de forma passiva e conciliatória mas de forma radicalizada. A greve geral, as paralisações, piquetes e outros métodos históricos da nossa classe.

Nós também temos aqui no Brasil exemplos de grandes lutas que tiveram militantes anarquistas à frente, como a greve geral de 1917. Podemos não ter tomado o poder como os franceses, mas uma greve geral com reivindicações como jornada de oito horas, respeito ao direito de associação, aumentos salariais e libertação dos presos políticos, trabalha no sentido de fortalecer a classe trabalhadora e suas organizações o que, no limite, são passos importantes para a revolução

Tendo esses e muitos outros exemplos não há motivo para o anarquismo continuar no estado em que está hoje, isso quer dizer, dissociado da luta da classe trabalhadora e mais associado a um individualismo comportamental do que um projeto socialista revolucionário que se pauta na luta de classes. Não escolhemos o primeiro de maio a toa, pois esse dia não é qualquer dia, é uma data importantíssima para todos nós trabalhadores e é com o espírito dos lutadores do primeiro de maio que a Aliança Anarquista se propõe a levar a frente o anarquismo, ao lado da classe e pela revolução.

VIVA A LUTA DA CLASSE TRABALHADORA POR SUA EMANCIPAÇÃO!VIVA O 1° DE MAIO!

ESTRATÉGIA PARA O PERÍODO:

UNIDADE E LUTA

NA DEFESA DE NOSSA CLASSE

O objetivo da Aliança Anarquista é implementar o socialismo no Brasil e contribuir, assim, para sua implementação no resto do mundo.

Partindo da história da luta de nossa classe por sua emancipação, compreendemos que há somente um único caminho capaz de nos levar a vitória: um processo revolucionário impulsionado pelos trabalhadores – em especial o operariado urbano e rural – que seja capaz de arrastar consigo largos setores do povo, para assim, tomar os meios de produção e destruir o estado capitalista. Dado que é ingenuidade acreditar que a burguesia entregará pacificamente o poder político e a posse dos meios de produção, é de se esperar que o processo revolucionário passe por uma guerra popular de duração prolongada.

Para não cairmos no recorrente erro da esquerda, revolucionária nas palavras mas reformista na prática – dos camaradas tanto anarquistas quanto comunistas que colocam a revolução num futuro infinitamente distante, pautando a luta concreta tão somente através de reforminhas imediatas – faz-se necessário formularmos uma estratégia que, partindo de uma análise científica da atual conjuntura da luta de classes, formule uma estratégia que sirva de ponte para a revolução. Em outras palavras: é necessário romper com a dicotômica separação tipicamente reformista entre programa de reivindicações mínimas e programa máximo. Para tal, devemos formular um programa de transição, um programa de reivindicações que apontem, por si, para a intensificação das contradições entre trabalho e capital e para a revolução.

Compreendendo que vivemos mais um momento de profunda crise econômica internacional no regime capitalista – apontada como a maior desde a crise de 1929 – e sabendo que a reação imediata dos grandes capitalistas durante estes períodos é a de tentar impedir a tendência de queda nas taxas de lucro através da intensificação da exploração da força de trabalho de nossa classe por meio de ataques ao salário, ao emprego e aos direitos – em uma palavra: achatamento da massa salarial – entendemos que a tarefa imediata na qual devemos nos lançar é a de organizar a luta unitária em defesa de nossa classe, em defesa de nossos salários, empregos e direitos.

Neste momento de crise econômica, levantar qualquer tipo de reformas é tão somente fomentar ilusões e tirar foco do que de fato importa: a defesa dos salários, dos empregos, dos direitos, de nossas atuais condições de vida e trabalho. É pura ilusão e ingenuidade acreditar na possibilidade de construção de um Estado de bem-estar social, tipo europeu, num país da periferia do capitalismo, como o Brasil. É necessário falarmos com todas as palavras: não haverá salário e trabalho digno, nem saúde, nem educação, tampouco transporte gratuitos e de qualidade, sem uma ruptura revolucionária e socialista. Hoje, a tese de Bakunin – de que o que o Estado dá com uma mão, retira em dobro com a outra – é mais válida do que nunca. A tarefa dos revolucionários não é levantar irresponsavelmente bandeiras reformistas impossíveis de serem conquistadas, mas sim traçar e executar uma estratégia que seja capaz de levar a classe trabalhadora a tomada dos meios de produção e a destruição do Estado capitalista.

Ademais, dada tanto a situação de crise quanto a tendência de queda nas taxas de lucro, a reivindicação defensiva de manutenção de nossas condições de vida e trabalho já é em si uma pauta transitória, pois é uma demanda que, pegando no cerne do sistema capitalista, intensifica a situação de crise e as contradições entre capital e trabalho. No limite, mesmo a manutenção de nossas condições de vida num período de crise capitalista só será de fato possível através de uma ruptura revolucionária. Hoje, reivindicar este “mínimo” (a luta defensiva), já é apontar para o “máximo” (a revolução socialista).

Entendemos que é neste processo de luta unitária e defensiva que se coloca a oportunidade de fortalecimento de entidades, organizações e partidos classistas e combativos, assim como a formulação de um projeto revolucionário capaz de ser abraçado amplamente pelas massas trabalhadoras.

Em síntese, a estratégia que nós da Aliança Anarquista defendemos para o atual período é a de: unificação e radicalização das lutas em defesa das atuais condições de vida e trabalho de nossa classe; fortalecimento e construção do poder independente, classista e combativo dos trabalhadores a partir destes processos de luta. Entendemos que os alicerces do poder dos trabalhadores são os comandos de greve, de ocupação de escolas e fábricas, as assembleias de categoria, assim como os fóruns que unificam diversas categorias de trabalhadores e estudantes.

UNIDADE E LUTA NA DEFESA DE NOSSA CLASSE!CONTRA OS ATAQUES DOS CAPITALISTAS E SEUS GOVERNOS!

ERGUER O PODER DOS TRABALHADORES!