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ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 8556 DE 13 DE SETEMBRO DE 2013 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE Gulbenkian anos 13 1 4 Maestros Paul McCreesh Susanna Mälkki Michel Corboz Jorge Matta Joana Carneiro Pedro Neves PATROCIONADO POR: DANIEL ROCHA

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"Maestros" Suplemento do jornal Público sobre a temporada Gulbenkian Música 13/14.

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Gulbenkiananos 13•14

Maestros• Paul McCreesh • Susanna Mälkki • Michel Corboz • Jorge Matta • Joana Carneiro • Pedro Neves

PATROCIONADO POR:

DANIEL ROCHA

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“Que a melhor or

Ir à luta!

A chegada de um novo maestro ti-tular é sempre um marco a assinalar na história de vida de qualquer or-questra.

E o britânico Paul McCreesh (1960) tem todas as condições para fazer história na Orquestra Gul-benkian. O seu percurso artístico é de grande prestígio na comunidade musical internacional muito por cau-sa do percurso que desenvolveu nas últimas três décadas como fundador e director artístico do Gabrieli Con-sort & Players é exemplar.

O seu trabalho em Lisboa vai ser atentamente seguido. E só este facto já é galvanizante.

Depois de um namoro de dois anos, em que músicos e maestro se foram mutuamente conhecendo, arranca oficialmente esta tempora-da na Orquestra Gulbenkian a era McCreesh.

Ambição, minúcia, atenção aos detalhes, à alma musical de cada obra a ser tocada e um olhar sempre atento à comunidade que o rodeia são para já as linhas mestras do pro-grama de trabalho de Paul McCreesh em Lisboa.

Durante o Verão, ele e a or-questra Gulbenkian passaram várias semanas a trabalhar com jovens cantores e músicos nas escolas su-periores de música de Lisboa e de Aveiro. Uma disponibilidade e ge-nerosidade auspiciosas para o que aí vem, que começa com um pro-grama em que largas dezenas de coralistas oriundos dos melhores coros portugueses se reunirá num concerto na basílica de Mafra.

O tópico da urgência deste tra-balho de mobilização de muita gen-te em torno de uma orquestra e de

As ideias, o método de trabalho, as am-

bições do novo maestro titular da Or-

questra Gulbenkian. Rui Lagartinho (texto)

e Nuno Ferreira Santos (fotos)

um coro que são dois pilares impor-tantes da vida musical portuguesa foi um dos temas de conversa com Paul McCreesh.

Que simbologia atribui a este primeiro concerto em Mafra que transformou num grande festa vocal?

Se quisermos deixar uma mar-ca neste início do século XXI em termos musicais temos de perder algum tempo a esbater barreiras: entre o velho e o novo, o profissio-nal e o amador.

A ideia de conexão permanen-te com a comunidade deve ser esti-mulada. O que se pode — e não é seguro que se perca — em qualida-de musical ganha-se na energia da performance.

Os dois projectos iniciais que marcam esta nova filosofia, o traba-lho com os coros juvenis e o estágio Gulbenkian para jovens músicos são exemplos deste compromisso.

Qual o papel e que expectativas devemos esperar de uma or-questra nestas primeiras déca-das do século XXI?

Há duas coisas muito impor-tantes: Temos de lutar por ter uma qualidade de excelência, e eu pes-soalmente gostaria de dirigir a par-tir de Lisboa a melhor a orquestra do mundo.

Mas ao mesmo tempo os mú-sicos têm de se envolver com a co-munidade. Devemos continuar a

Paul McCreesh durante um ensaio na Gulbenkian

O que têm em comum Paul McCreesh, Susanna Mälkki e Pedro

Neves, três maestros de gerações diferentes que passam a par-

tir desta temporada a trabalhar de forma mais regular com a

Orquestra Gulbenkian, para além de uma incondicional paixão

pela música que fazem?

Os três foram violoncelistas numa orquestra antes de se

dedicarem à direcção musical.

Esta experiência de estar do lado dos que têm o privilégio

de estar sentados em palco, formou-os e determinou o per-

curso das suas carreiras. E isso faz toda a diferença na forma

como maestros e músicos podem e devem trabalhar em co-

munhão.

Nesta temporada Gulbenkian de música desaguam novi-

dades anunciadas: um novo e ambicioso, no bom sentido da

palavra, maestro titular, o britânico Paul McCreesh, um novo

projecto artístico dirigido por Joana Carneiro, o estágio Gul-

benkian para orquestra destinado a jovens músicos.

São aspectos práticos de uma nova etapa que se quer de

aproximação à comunidade onde os corpos artísticos da Fun-

dação Gulbenkian se inserem.

Numa época em que tantos paradigmas de pilares culturais

que tínhamos como incontornáveis vacilam — há jornais que

sobrevivem com dificuldades, discos que não se gravam, livros

que não se publicam, companhias de teatro que definham —

ninguém pode recusar sair da sua zona de conforto.

Enquanto o Grande Auditório da Fundação Gulbenkian

se “renova tecnologicamente para o século XXI” metade da

temporada é feita em digressão pela cidade. Alguns melóma-

nos lembram-se dos tempos em que estas digressões eram

regra, nas Jornadas de Música Antiga. Mas avivar essas memó-

rias não é o mais importante deste périplo acidental: o mais

importante é o facto de se conhecer melhor a cidade onde

se trabalha em permanência. Suscitar maior curiosidade nos

ainda indiferentes.

Para além do retrato que tiramos através das entrevistas,

aos maestros da casa, este suplemento que tem em mãos e

que pretende ser uma porta informal de entrada, naquela que

é uma das maiores e mais diversificadas temporadas de mú-

sica da Europa, traça ainda um perfil do Coro Gulbenkian, um

agrupamento que completa em 2014 cinquenta anos de ex-

celência artística.

A renovação de gerações que aqui se fez de forma gradu-

al mas segura, o entusiasmo que sentimos no ensaio a que as-

sistimos demonstram que às vezes as melhores revoluções são

aquelas que se fazem discretamente.

Rui Lagartinho

Ficha TécnicaProdução: Jornal PÚBLICODesign: Ivone RalhaAutor: Rui Lagartinho, com textos adicionais de João Chambers e Tiago Bartolomeu CostaPatrocínio: Fundação Calouste Gulbenkian

Este suplemento foi feito segundo os critérios editoriais do PÚBLICO. O seu conteúdo é da inteira responsabilidade do jornal

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ro dirigir em Lisboa questra do mundo”

Entrevista com Paul McCreesh

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tradição dos concertos dados numa sala confortável, mas também estar-mos prontos para tocar num jardim, numa praça pública.

Os músicos profissionais das orquestras têm também de estar preparados para acolher novos músicos, tocar com músicos ama-dores.

A Orquestra Gulbenkian tem todas as condições para ser um exemplo do que deve ser uma or-questra do século XXI. Conectada com os jovens.

Para mim pessoalmente vai ser muito interessante e formador o facto de nestes primeiros meses da temporada, devido às obras no Grande Auditório, podermos andar com a casa às costas por auditórios e igrejas que não são a nossa sede. Isso vai-me permitir perceber o potencial de espaços alternativos, perceber a dinâmica do público ou públicos que podemos mobilizar consoante o sítio onde nos apre-sentarmos.

Uma orquestra deve ter por base uma forte empatia e ser um espelho da comunidade onde está inserida.

Mas esta é também uma tem-porada de transição. Algum tra-balho decidido para a Orquestra Gulbenkian já estava planeado antes da sua entrada em fun-ções.

Claro. É o normal quando há mudança de titular isso acontecer, algumas decisões foram tonadas antes de eu chegar. Vai ser também um arranque diferente, por causa das obras só tomamos posse do novo auditório em Fevereiro e até lá como já disse, vamos andar pela cidade.

É um grande desafio para a Or-questra Gulbenkian, mas estamos a falar de um agrupamento habituado a grandes desafios, por isso não ve-jo aqui qualquer problema.

O que podem os músicos da Or-questra Gulbenkian esperar de si?

Creio que me posso definir como uma “colorful musical perso-nality”.

Embora tenha já ideias muito definidas e concretas sobre os ca-minhos que esta orquestra deve tri-lhar nos próximos anos, há tradições na orquestra que eu vou respeitar. É normal que um novo maestro ti-tular chegue com novas ideias e apresente novos desafios, mas neste caso tenho a sorte de iniciar o meu trabalho com uma orquestra de um nível bastante elevado.

Sou peremptório: vai ser uma evolução e não uma revolução.

O maestro Lawrence Foster (anterior titular da Orquestra Gul-benkian) deixa um excelente e enor-me legado após dez anos de trabalho intensivo, mas somos músicos muito distintos e o trabalho vai evoluir nu-ma direcção diferente.

Vou trabalhar de forma muito intensa de forma a aumentar a sen-sibilidade da Orquestra Gulbenkian para diferentes estilos musicais. Is-so traduz-se em dois aspectos: sig-nifica falarmos de estilos diferentes durante a história da música, seja música barroca ou contemporânea, mas também estarmos mais cientes das cores musicais específicas de cada obra. É este o grande desafio dos maestros no século XXI: ser capaz de demonstrar, de que forma Ravel é diferente de Chostakovich ou Haydn é diferente de Mozart. Vou trabalhar de forma a destacar estes detalhes, de forma a encon-trar em cada obra, autor, a especi-ficidade sonora que contagie e de-fina a forma como a orquestra de-ve soar.

Da minha experiência recente com a Orquestra Gulbenkian já per-cebi a facilidade com que estes mú-sicos se adaptam a uma nova forma de frasear.

Algumas pessoas vão achar es-

te trabalho mais fácil, outras terão mais dificuldades. Haverá, como é normal quem esteja mais e menos entusiasmado com este tipo de abordagem, quem anseie por ela e quem tenha mais reservas. Mas é uma orquestra de músicos inteligen-tes e estou convencido que juntos faremos desta orquestra um agru-pamento ainda melhor.

Como estrutura as relações in-terpessoais com os músicos?

Eu sou sobretudo, na essência um músico que por acaso também dirige. Nunca me senti confortável na pele formal daquilo que se con-vencionou reconhecer como ma-estro.

Na minha relação com os mú-sicos, quero que fique bem claro que somos colegas. Sem o entusiasmo e a cumplicidade dos membros da or-questra um maestro não é nin-guém.

Na minha forma de trabalhar a comunicação é fundamental: os pro-blemas identificam-se nas conversas partilhadas e são definidas soluções que evitem que se chegue a um nível de despique entre o maestro e os músicos.

Depressa se vai perceber a for-ma como eu trabalho: não promovo nem sou conhecido por promover a facilidade, nem sou de meios-ter-mos. Respeito imenso o trabalho das pessoas com quem trabalho. Tenho ideias muito fortes sobre música e são elas que me guiam.

É uma honra estar à frente de uma orquestra e devemos sempre trabalhar sempre de forma a ganhar o respeito dos músicos.

E aqui com esta orquestra esta orquestra estou seguro que isso vai acontecer porque há uma atmosfe-ra calorosa no ar.

A Orquestra Gulbenkian é fei-ta de músicos determinados, que realmente soube colocar a música no centro das suas prioridades. Pa-rece uma evidência dizer isto mas

não o é: algumas formações deixam-se de tal forma envolver em peque-nas questões políticas e burocráti-cas, ou trabalham de uma forma tão industrializada que perderam a al-ma.

Esta forma de abordagem é o melhor presente de boas vindas que pode ser oferecido a um novo ma-estro e eu farei tudo para estar à altura do desafio e ganhar o respei-to dos músicos.

O que quis dizer quando afirmou numa entrevista anterior que

existiam várias Orquestras Gul-benkian?

Acho que fui mal-entendido. Não quis dizer que havia uma or-questra barroca, uma orquestra clás-sica, uma romântica e uma contem-porânea.

O que a orquestra deve ter é uma enorme flexibilidade de forma a termos a mais admirável orques-tra moderna a fazer barroco, a mais fantástica das orquestras clássicas, uma orquestra romântica e uma orquestra contemporânea de gran-de qualidade.

Foi o que quis dizer quando afirmei que a Orquestra Gulbenkian deve ter rostos variados: uma or-questra que deve abordar cada re-portório com o mesma paixão, a mesma sensibilidade, com a mesmo saber fazer face a qualquer que se-

“Nunca me senti confortável na pele formal daquilo que se convencionou reconhecer como maestro”

Paul McCreesh na Gulbenkian

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ja a obra e o maestro que esteja à sua frente.

As várias faces da orquestra significa isso.

Está preparado para gorar as expectativas daqueles que gos-tariam que privilegiasse o repor-tório que o tornou conhecido, as grandes obras do barroco euro-peu?

Tive a mais bizarra das carrei-ras musicais: formei-me a ser violon-celista e maestro. Passei 25 anos a trabalhar com cantores, com coros, estudei música contemporânea, mú-sica antiga.

Todo este percurso desconcer-tante deu-me uma enorme flexibili-dade como músico, como maestro.

Sinto-me confortável a dirigir Händel mas também Elgar.

Para mim uma das coisas que torna o fazer música tão interes-sante é a capacidade de adaptação a cada estilo de música. E isso creio que os músicos da Orques-tra Gulbenkian com quem agora tenho o privilégio de trabalhar a partir de agora saberão reconhe-cer e apreciar.

Durante a temporada conce-beu um mini ciclo de dois con-certos a que chamou Reforma. O que vão ser estes dois con-certos?

O título genérico roubei-o ao nome pelo qual é conhecida a sin-fonia nº 5 de Felix Mendelssohn- Bartholdy.

No fundo o conjunto de obras de Bach e de Mendelssohn a serem apresentadas espelham a forma co-mo a mentalidade e a revolução das ideias luteranas se traduziu em va-lores musicais sólidos e constantes na história destes povos.

E trabalhar com o Coro Gul-benkian? Galvaniza-o?

Claro. Tem sido feito um exce-

“A Orquestra Gulbenkian tem todas as condições para ser um exemplo do que deve ser uma orquestra do século XXI”

lente trabalho de que os portugue-ses se podem orgulhar. O maestro Michel Corboz é um grande músico e a solidez do trabalho do maestro Jorge Matta dá os seus frutos. Mas para lá do excelente trabalho que tem sido feito eu acho que ter como maestro titular alguém que goste de música vocal é um privilégio.

Eu fiquei impressionado como podem cantar em dias sucessivos, Fauré, Strauss, Beethoven e Ger-shwin de uma forma tão assertiva e apaixonada.

O que acha que pode ser feito para divulgar o trabalho da Or-questra Gulbenkian no estran-geiro? Já admitiu que a Orques-tra é bastante pouco conhecida no mundo anglo-saxão.

A Orquestra Gulbenkian é re-conhecida no meio artístico, mas falta ser mais conhecida. Falta tam-bém arranjar uma forma de associar o nome da Orquestra a um reco-nhecimento imediato da cidade de onde provém. Isso facilitaria uma aproximação do público estrangeiro de uma forma mais imediata.

O facto de o orçamento da Orquestra não prever grandes tour-nées não me preocupa. Estou habi-tuado a trabalhar e a dar a volta a orçamentos apertados.

Vejo com grande entusiasmo, as melhorias técnicas no Grande Auditório que permitirão melhorar as condições de gravação e a trans-missão na Internet de alguns con-certos. Acho que isso vai aumentar a visibilidade do nosso trabalho fora de portas.

Agrada-lhe a ideia de trabalhar em Lisboa?

Sinto-o como um privilégio. Vou poder trabalhar com uma gran-de orquestra, numa cidade e num país com sol quase todos os dias do ano.

Quero ser um embaixador mu-sical desta felicidade.

Dirigirei anualmente um pro-jecto dentro do reportório barroco. Mas este não será o centro do meu trabalho em Lisboa.

Conduzirei regularmente um vasto reportório que inclui música antiga, música contemporânea, mú-sica barroca, coral, ópera, romântica, reportório sinfónico.

Vou dar-me o supremo luxo de evitar obras em que me tenha que me preocupar com os aspectos téc-nicos em vez de estar concentrado na essência musical do que lá está escrito.

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Uma aliança duradoura

Entrevista com Michel Corboz

Para os melómanos de Lisboa a imagem deste homem à frente de uma mancha humana que pode che-gar quase às duzentas pessoas, com-posta de músicos de orquestra e coralistas, é já um clássico nas suas vidas.

A audição em Lisboa — pelo menos no Natal e na Páscoa — das grandes oratórias e missas coral do reportório sinfónico confundem-se com o trabalho do maestro suíço Michel Corboz como maestro titular do Coro Gulbenkian.

No próximo ano passam qua-renta e cinco anos desde que é maestro titular do Coro Gul-benkian. Uma longa associação. Uma relação mais íntima e du-radoura que alguns casamentos. Qual é o segredo?

Desde o início que o Coro Gul-benkian e eu procurámos servir da melhor forma possível a música que amamos. Com a entrega, o trabalho e o rigor que isso implica.

E os momentos de felicidade de satisfação pessoal e musical foram uma constante.

Que memórias guarda do final dos anos sessenta, quando esta asso-

ciação começou. Foi difícil a afir-mação do Coro Gulbenkian? Es-colher caminhos, reportório, cons-truir um nível de excelência?

Tenho memória de um Coro Gulbenkian muito unido dentro e fora das fronteiras musicais. Envolvi-me a fundo numa aventura musical mas também humana. Desde o início que se destacaram elementos de grande qualidade. Alguns já nos dei-xaram rumo a outros destinos. Mas estou certo de que o Coro Gul-benkian foi responsável pela afirma-ção da vocação de muitos cantores e maestros em Portugal.

Alguns deles, fazem-me muita falta.

Como é que na sua opinião se conseguiu a consolidação cres-cente do Coro Gulbenkian, ano após ano. Qual é em sua opinião a alma desta formação?

Tivemos a sorte de ser apoia-dos quase desde o inicio por Michel Garcin, à altura director de uma grande empresa discográfica,a Erato. Ele acreditou em nós e proporcionou os meios para que gravássemos to-dos os anos pelo menos um disco escolhido entre o reportório que melhor se adequava ao nosso traba-

lho. Também a Fundação Gulbenkian o apoiou nas suas escolhas. Cada uma destas gravações, representava para nós um élan renovado.

Ao longo da sua carreira o ma-estro trabalhou com muitos ou-tros coros.Há uma forma portuguesa de cantar? De saber fazer?

Há uma generosidade na atitu-de vocal dos coralistas portugueses que sempre me tocou. Uma juventu-de e uma vivacidade que eu sempre tentei potenciar no meu trabalho.

Os discos, os concertos, uma qua-lidade artística de alto nível, mas o Coro Gulbenkian ainda é para o público estrangeiro, uma desco-berta, boa mas tardia. Porquê?

Recentemente graças aos es-forços renovados da direcção do serviço de música, o Coro Gul-benkian retomou uma actividade re-gular fora de portas.

Este Verão actuámos no festival de Aix-en-Provence com enorme su-ceso. E isto num momento em que a concorrência é cada vez mais forte.

Que memórias fortes guarda desta longa associação? Sente

orgulho no trabalho que desen-volveu com o Coro Gul-benkian?

As actuações no Teatro Colon de Buenos Aires, no Teatro du Chate-let em Paris, as gravações do Requiem de Mozart, da oratória Paulus de Men-delssohn, “A dança dos mortos” de Honegger e muitas outras deixaram-me recordações comoventes.

Ao escutar estas gravações qua-se peco por excesso de orgulho.

Que diferenças encontra entre o Coro Gulbenkian que dirige hoje e o Coro Gulbenkian com o qual começou a trabalhar?

No reportório que escolho e de que gosto, procuro que o Coro Gulbenkian soe de forma a respeitar a sua identidade sinfónica. O maes-tro Fernando Eldoro, grande espe-cialista da voz, contribuiu de forma indelével para conseguir essa sono-ridade. Hoje o coro soa jovem e cheio de vitalidade embora haja me-nos constância dos seus elementos devido às saídas dos coralistas. Vejo nisto uma virtude: a de constante-mente estarmos a renovar a sono-ridade do coro.

E é preciso que se diga, a quali-dade vocal em Lisboa melhorou mui-

to nos últimos anos. A existência do Coro Gulbenkian foi um factor deci-sivo nessa melhoria.

Como vê a chegada de alguém com o perfil do maestro Paul McCreesh para titular da Or-questra Gulbenkian?

Com muita alegria porque é um homem apaixonado pela causa vocal, e desde já se revelou um gran-de amigo.

Reparei que nas últimas tempo-radas, faz mais concertos do que o habitual a Lisboa. Este ano es-tão previstos três programas diferentes. De onde lhe vem esta inesgotá-vel energia?

O trabalho desenvolvido pelo Co-ro Gulbenkian é imenso. Eu sou apenas o maestro titular, tarefa em que sou enormemente ajudado pelo maestro adjunto Jorge Matta, bem como pelo Paulo Lourenço e pelo Pedro Teixeira, além de outros maestros assistentes de grande qualidade. Com a direcção do serviço de Música por seu lado as rela-ções são quase familiares. Com esta entourage, sinto-me com vontade de prosseguir um trabalho que me enri-quece, me galvaniza, me dá saúde e fé.

Grandes momentos da história do Coro Gulbenkian, recordados pelo homem que

fez dele uma referência. Rui Lagartinho

“O Coro Gulbenkian foi responsável pela afirmação da vocação de muitos cantores e maestros em Portugal”

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DR

Michel Corboz

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As paixões de SusannaEntrevista com Susanna Mälkki

Com a nova maestrina convidada principal da Orquestra Gulbenkian vamos ouvir

mais as grandes obras clássicas da modernidade e muita música contemporânea.

Rui Lagartinho

“O mestre, a grande referência de todos nós, a razão de ser do nosso trabalho, é a música ela própria”

DR As maestrinas com impacto na vida musical a nível internacional ainda se contam pelos dedos.

No auge da sua carreira, a fin-landesa Susanna Mälkki é uma delas. É ela a nova maestrina convidada principal da Orquestra Gulbenkian.

Dirigiu pela primeira vez a Or-questra Gulbenkian em 2011 num programa composto por

obras de Sibelius, Tchaikovsky e Rachmaninov. Com que impres-são ficou?

Guardo memórias muito posi-tivas de uma orquestra com um ex-celente ambiente de trabalho. Um colectivo de muito talento, ambição, alegria e sinceridade na entrega à mú-sica que fazem.Porque decidiu a partir desta temporada trabalhar numa ba-

se mais regular com a Orquestra Gulbenkian? O que espera desta colaboração como maestrina convidada principal?

Espero ser capaz de apresentar programas interessantes que dêem novas perspectivas ao público. Acre-dito que ao trabalhamos regular-mente com os mesmos parceiros conseguimos aprofundar a qualidade da música que fazemos. A Fundação Gulbenkian é uma instituição fantás-tica, sólida, com grandes tradições e vejo e ouço muito potencial nesta orquestra. O facto de ter tocado como vio-loncelista em várias orquestras, ajudou-a perceber o que é que uma orquestra espera de um maestro?

Sim. Metade da minha formação a dirigir orquestras veio dessa expe-riência prévia. Percebi as expectativas que os músicos depositam nos ma-estros. A experiência de tocar como músico numa orquestra é também um estágio muito enriquecedor em relações interpessoais.

Por isso é natural que também com os músicos da Orquestra Gul-benkian aprenda coisas novas.

Mas o mestre, a grande refe-rência de todos nós, a razão de ser do nosso trabalho, é a música ela própria. Explique-nos um pouco o pro-grama que dirigirá em Lisboa no mês de Janeiro: porquê uma pe-ça de Unsunk Chin, um concer-to para cheng (uma espécie de acordeão chinês) e orquestra no meio de duas obras de Gustav Mahler?

Gosto muito de enquadrar pe-ças contemporâneas num contexto tradicional. Refresca e renova a apro-ximação aos dois tipos de música. Escolhi este concerto por considerar que Unsunk Chin é um dos maiores compositores da actualidade. Quan-to às obras de Mahler escolhidas, elas são parte do melhor património sin-fónico, o qual quero muito trabalhar com regularidade de forma a poder sempre descobrir novas coisas. Em Abril dirigirá Quartett, a ópe-ra de Luigi Francesconi que es-

treou no Teatro Alla Scala em Milão. Pessoalmente o que re-presentou para si ser a primeira mulher a subir ao podium daque-le teatro?

Senti uma grande honra quando o Luca Francesconi sugeriu o meu nome para dirigir esta obra. A estreia de uma ópera é sempre uma grande responsabilidade para os intérpretes envolvidos. Só mais tarde percebe-mos que esta estreia seria um mo-mento histórico para aquele teatro. Dirigir no Alla Scala é um marco na carreira de qualquer músico.

O que mais me agrada nesta obra é a riqueza da sua densidade psicológica. Ela está presente tanto no texto de Heiner Müller como na música de Francesconi. O composi-tor soube ir ao âmago do texto e escreveu uma partitura inesquecível misturando beleza lírica e drama, de-monstrando o quão complexas são as relações humanas.No futuro, que se estende para lá da próxima temporada que reportório vai fazer?

Há muitas grandes obras do reportório sinfónico do século XX que iremos certamente fazer. A mú-sica francesa em particular estará em destaque. Estou também muito entusiasmada com a ideia de traba-lhar com o excelente Coro Gul-benkian. Terminou esta temporada a sua associação permanente ao Em-semble Intercontemporain. Que balanço faz deste últimos sete anos?

Foram anos intensos de aven-tura e descoberta musical. Aprendi imenso na abordagem que fiz ao re-portório dos grandes clássicos mo-dernistas. Tive a sorte de colaborar com os melhores compositores da actualidade. E claro estou muito agra-decida pela confiança que o maestro Pierre Boulez depositou no meu tra-balho. No mundo musical não con-cebo honra maior.Quem escreve sobre si, fala sem-pre num compromisso entre a modernidade e tradição. Para si, em que é que isso se traduz?

Se é isso que escrevem sobre mim, vejo-o como um grande elogio. Acredito que a melhor forma de mantermos a tradição é sermos ino-vadores. Tento abordar cada obra, recente ou não, com curiosidade, com o espirito aberto a novas des-cobertas.

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“Infância, adolescência e juventude”

Joana Carneiro e Pedro Neves

Joana Carneiro e Pedro Neves são os benjamins entre os maestros que a partir de agora trabalharão numa ba-se regular com a Orquestra Gul-benkian. Joana Carneiro, que já era maestrina convidada, acumula com o a direcção do novo projecto da Fun-dação, o estágio para Orquestra. Pe-dro Neves é o mais recente maestro convidado.

Os dois nasceram em meados da década de setenta do século pas-sado e lembram-se de assistir muito jovens a concertos da Orquestra Gul-benkian. Alguns dos músicos foram mesmo seus professores. É fácil de imaginar o nó no estômago que am-bos sentiram quando subiram ao pó-dio da orquestra para os dirigir.

“São músicos que fazem parte da minha carreira musical. Estiveram sempre muito próximos em cada no-vo passo que dei. Subir ao podium foi complicado, mas a rede de afectos que sempre me amparou, ajudou-me a superar eventuais dificuldades. Toda a gente foi de uma enorme genero-sidade” recorda Joana Carneiro.

Pedro Neves estreou-se à fren-te da Orquestra Gulbenkian em Lei-ria, num programa com três sinfonias de Haydn que percorrem o ciclo completo de um dia: “Senti-me ime-diatamente em casa. E muito acari-nhado.” A carreira como violoncelis-ta noutras orquestras — chegou a ser chefe de naipe na Orquestra Me-tropolitana de Lisboa — foi interrom-pida para se dedicar à direcção, mas a experiência foi um estágio muito enriquecedor para as funções que agora desempenha: “Qualquer músi-co que toque numa orquestra, tem um curso intensivo de direcção mu-sical quase todas as semanas, e que é ditado pelam forma de trabalhar de cada maestro que chega para ensaiar um novo programa.”

São rostos jovens com que a Fundação conta para novos projectos, para trazer famílias inteiras e escolas à Gulbenkian, trabalhar com novos compositores, com jovens músicos

A aposta numa equipa de jovens maestros para dirigir regular-

mente a Orquestra Gulbenkian vai preenchendo a solidez do

futuro, ao ritmo das provas de crescimento e maturidade que

Joana Carneiro e Pedro Neves forem dando. Rui Lagartinho

DR

DANIEL ROCHA

DR

Pedro Neves

Joana Carneiro

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que pela primeira vez estagiam numa orquestra.

O fruto do trabalho do próxi-mo estágio para Orquestra, abrirá em Fevereiro o renovado Grande Auditório. Joana Carneiro dirigirá a Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz e Assim falou Zaratustra de Richard Strauss “Sinto-me muito honrada com a confiança e o investimento que a fundação e a orquestra depo-sita no meu trabalho. A minha car-reira que já tem uma dúzia de anos, leva-me a dirigir orquestras nos pon-tos mais variados do mundo e é com uma pontinha de orgulho que, dis-tanciando-me, consigo reconhecer o nível de excelência deste agrupa-mento que é bastante flexível e abrangente na escolha de reportó-rios. Fico muito satisfeita, por exem-plo com o projecto educativo que conseguimos pôr de pé, mesmo no estrangeiro com a ópera de John Adams, A Flowering Tree. Mais recen-temente, em Aveiro, percebemos o que este novo projecto do estágio na Orquestra pode representar na carreira dos jovens músicos. Aquilo que se conseguiu do primeiro ao último dia foi um grande testemunho do que o projecto pode dar. A sau-dade anunciada, e a pena com que pusemos fim a uma semana de in-tenso trabalho, foi comovente”.

Com a Orquestra Gulbenkian, Joana Carneiro tem sobretudo diri-gido música romântica e contempo-rânea. Muitos jovens compositores. “Existe uma grande flexibilidade, o que contribui também muito para o excelente nível musical. Esta tempo-rada vou fazer um reportório que classificaria de muito programático, e nacionalista.”

Nesta partilha de reportório os dois maestros complementam-se. Pedro Neves é um grande divulgador dos compositores portugueses do século XX: “Tocar música portugue-sa é para mim uma prioridade. A nossa música é esquecida ou pouco tocada. No nosso percurso académi-

co tocávamos pouca música portu-guesa. É uma pena. Se não formos nós a fazer ouvir a nossa própria música mais ninguém o fará.

Luís de Freitas Branco e Joly Braga Santos deviam ser os nossos embaixadores, como Grieg ou Sibe-lius o são nos países nórdicos.

Quando mais se divulgar a sua música, melhor, até porque só assim se descobrem o quão foram inova-dores e até certo ponto visioná-rios.”

Pedro encara o facto de traba-lhar bastante para novos públicos, quer em Lisboa, quer nas desloca-ções com a Orquestra pelo país, uma grande responsabilidade:

“Os concertos para jovens e famílias cumprem uma missão peda-gógica importante. É um desafio, um processo que deve ser alimentado. A exigência musical dos próprios músicos também cresce.

A nova hierarquia, a distribuição articulada de funções na Orquestra Gulbenkian pela equipa que agora inicia um trabalho regular tem aspec-tos muito positivos. Potencia energias muito positivas”.

Os caminhos da Orquestra Gulbenkian passam pelo crescimen-to, amadurecimento musical e esco-lhas destes dois jovens músicos. Tolstoi, que arrumou as memórias dos seus primeiros anos com um livro que intitulou Infância, adoles-cência e juventude, deixou à sua fren-te muito futuro que aproveitou para escrever grandes obras-primas.

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Uma família com Coro Gulbenkian

À exigência responde-se com traba-lho árduo e intenso. Quinze progra-mas diferentes só esta temporada obrigam o Coro Gulbenkian a diver-sificar afeições. Em meses sucessivos farão oratórias barrocas e clássicas, estrearão uma obra de António Pi-nho Vargas, a 31 de Dezembro hon-rarão a tradição do Te Deum em São Roque farão o Orfeu de Gluck, estre-arão em audição moderna os vilan-cicos que se compunham no Mostei-ro de Santa Cruz em Coimbra du-rante o século XVII.

É uma corrida contra o tempo mas é uma maratona que não cansa os atletas coralistas, porque a paixão com que se entregam áquilo que fa-zem é visível num qualquer ensaio a que se assista.

No fim de tarde em que estive-mos num largo hall do piso -2 — uma sala de ensaio improvisada enquanto decorrem as obras na sala onde ha-bitualmente o coro ensaia — o ma-estro Jorge Matta preparava o pro-grama que Ton Koopman dirigirá no

O Coro Gulbenkian acolhe jovens de outros coros e com eles

abre este ano, na basílica de Mafra, a temporada de música

da Gulbenkian. Num só programa, Scarlatti, Bach e Bruckner.

É um retrato fiel do espírito e da forma como o Coro Gulbenkian

trabalha. Rui Lagartinho (texto) e Bruno Simões Castanheira (fotos)

“Em Bach há uma espiritualidade que toca mesmo os coralistas que não são católicos”

final de Outubro na Igreja de São Roque em Lisboa.

“Senhor Jesus que sofreste o martírio, o escárnio e angústia”, lê-se numa das cantatas de Bach agora em ensaios. O coro entoa cada sílaba, procura o alemão correcto. Estamos numa primeira leitura, as férias ter-minaram há três dias, mas já se as-sentam bases de trabalho.

“Tal como eu esperava, foi uma primeira leitura entusiasmante”, confessar-nos-á mais tarde o maes-tro numa pausa entre dias de ensaio. “Tudo tem de estar preparado de uma forma viva e inteligente. Tenta-mos sempre vir para cada ensaio como se fosse o primeiro.”

E o maestro brinca com os co-ralistas: “Vá lá, temos de deixar al-gumas imperfeições para o maestro Ton Koopman poder brilhar.”

“Em qualquer obra que traba-lhemos até à estreia, o dia em que o maestro que vem dirigir a obra a Lis-boa ensaia finalmente o Coro Gul-benkian, é dia de exame. E tive muitas

poucas vezes, raríssimas mesmo, a sensação de insatisfação com o tra-balho feito”.

Qualquer um dos coralistas com quem conversámos pode não conseguir dizer todas as obras que vai cantar esta temporada, mas todos fixaram que em Abril regressam à Paixão segundo São Mateus.

Há uma religião Bach? Para o maestro Jorge Matta quando chega-mos a uma oratória estamos a trans-cender-nos. E depois, que eu conhe-ça, é o único músico onde é impos-sível encontrar um defeito.”

“Quando fazemos a música de Bach há uma espiritualidade que toca mesmo os coralistas que não são católicos. A própria música ce-lebra algo de muito especial”, ga-rante-nos Joana Nascimento que canta no Coro Gulbenkian desde 1993. Vinte anos que foram de “um contínuo aperfeiçoamento e cres-cimento musical.”

Nos últimos anos, à medida que o Coro Gulbenkian se foi tor-

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115 membros O coro Gulbenkian durante os ensaios

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Fernando GomesBarítono (no CG desde 1992)

“Numa actuação em Lyon sen-ti que entrámos no coração das pessoas que nos escutaram”

Inês MartinsContralto (no CG desde 1982)

“Ter feito as Bodas de Stravin-sky com o Coro, a Orquestra e o Ballet foi um momento alto na minha carreira”

Rui BorrasBaixo (no CG desde 2005)

“Quando entramos numa sala de ensaio, ou no palco para actuar-mos, o resto da vida fi ca para trás”

Bruno AlmeidaTenor (no CG desde 2011)

“Quando entrei no CG senti que estava a ser honrada a tradição de receber bem os novos ele-mentos”

“A melhoria do ensino nas escolas portuguesas elevou o nível musical dos novos coralistas que aqui chegam”

nando mais permeável à entrada de novos elementos, e também devido ao facto de quem entra poder am-bicionar sair para outros projectos e não ficar toda vida musical activa no Coro Gulbenkian, a média etária dos elementos que compõem este agrupamento baixou muito, situan-do-se agora ligeiramente acima dos trinta anos.

Jorge Matta, que começou a sua longa relação com o coro como can-tor em 1971, conhece melhor do que ninguém esta instituição e pode olhar para o Coro Gulbenkian retrospec-tivamente, encarando o período ac-tual: “Hoje o desafio é constante. Chegámos ao topo, mas temos de estar completamente preparados. Temos de ter uma resposta muito mais eficaz. Neste momento, temos uma concorrência feroz. Temos de ser excelentes. Antes uma obra re-queria às vezes o dobro dos ensaios daqueles que hoje são precisos. A melhoria do ensino nas escolas por-tuguesas elevou o nível musical dos novos coralistas que aqui chegam.”

O primeiro concerto de Bruno Almeida, engenheiro físico de for-

mação, membro do Coro Gulbenkian desde 2011, foi com As Vésperas do compositor russo Sergei Rachmani-nov. Desde esse dia não perdeu pin-go de entusiasmo por pertencer ao coro. Olha guloso para as obras que vai abordar, sejam elas os vilancicos ou as grandes oratórias. Deseja “conseguir estar à altura dos desa-fios, que espera, sejam muitos”. A forma como este entusiasmo trazi-do por quem quer fazer pela primei-ra vez é acolhido por quem já está no Coro Gulbenkian há mais anos, é um dos aspectos que faz com que todos se sintam em família. Aníbal Coutinho, enólogo, no coro desde 1998, não tem dúvidas: “O Coro Gulbenkian tem imenso orgulho no seu património. Qualquer coralista que vem integra-se na perfeição no trabalho da equipa. Gera-se um nível de excelência.”

E é em família que se trabalha o tão falado timbre das vozes do Coro Gulbenkian que os maestros, sobretudo os que vêm da fria Eu-ropa, gostam de elogiar. Michel Cor-boz primeiro, Frans Bruggen, nas últimas duas décadas do século pas-

sado, René Jacobs, Esa-Pekka Salo-nen mais recentemente levaram o Coro Gulbenkian às melhores salas do mundo, escolheram-no para lon-gas tournées.

Recorda o maestro Matta: “As vozes latinas, são ricas e sempre trabalhámos a riqueza do timbre. E essa qualidade tem de se manter pois é uma mais-valia deste agrupa-mento.”

“Podem-se contar pelos dedos das mãos os coros com a qualidade do nosso. A cor das vozes é única no Coro Gulbenkian.”Garante Inês Martins, que entrou para o coro em 1982.

“O coro de câmara holandês, ou qualquer dos melhores coros bri-tânicos podem ser superiores a nós do ponto de vista da técnica mas por vezes soam frios e incaracterísticos sobre o ponto de vista musical.” Afirma Jorge Matta.

“A alma latina faz sempre trans-parecer mais qualquer coisa para além da música.” Nota Rui Borras, no Coro Gulbenkian há oito anos. Para ele o grande desafio “é um dia conseguirmos identificar através da

audição dum disco a sonoridade úni-ca do coro, como um colectivo.”

Algo não tão distante assim. A escolha de quem entra para o Co-ro Gulbenkian é cada vez mais exi-gente, no que à adequação e har-monização de vozes diz respeito: “Já temos recusado candidatos com uma carreira solista precisamente porque não antevemos uma capa-cidade de fusão na unidade que de-ve ser o coro.”

Se a atitude principal de quem trabalha no Coro Gulbenkian é a permanente sensação de descober-ta mesmo em reportório a que já se está habituado, imagine-se quando se tem o privilégio de dar a ouvir, em estreias modernas alguns tesouros do nosso património musical. E aí ajuda o facto de o director adjunto do Coro Gulbenkian ser um musi-cólogo curioso e incansável: “Sou um privilegiado. Posso pegar num manuscrito, estudá-lo, preparar uma edição crítica, ensaiar essa obra, dá-la a conhecer ao público actual, e editá-la em disco.”

Esta temporada há um progra-ma que é uma descoberta: Coimbra

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Clara CoelhoSoprano (no CG desde 1997)

“Cresci como pessoa e como músico no Coro Gulbenkian”

Susana DuarteContralto (no CG desde 2001)

“Cantar o Requiem de Brahms e os madrigais de Luís de Frei-tas Branco são momentos que não vou esquecer”

Aníbal CoutinhoTenor (no CG desde 1998)

“Estamos no Top 5 das tempo-radas corais sinfónicas que se fazem no mundo”

Joana NascimentoContralto (no CG desde 1993)

“Quando fazemos Bach, há uma espiritualidade que marca todo os coralistas”

il seicento em Santa Cruz é uma via-gem aos Vilancicos religiosos escritos no mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, uma comunidade musical auto-suficiente com características únicas na Península Ibérica durante os séculos XVI e XVII.

“Este país tem muito patrimó-nio musical por descobrir”, assegura Jorge Matta.

Esta embaixada da música feita em Coimbra marca uma das passagens pela lisboeta igreja de S. Roque.

A outra, e um das mais espec-taculares, será mais um Te Deum em S. Roque. Uma tradição do século XVIII que foi retomada em 2011 e que rapidamente se converteu num sucesso. Este ano, com a Orquestra Divino Sospiro será executado o Te Deum que António Teixeira escreveu em 1734 para cinco coros.

Se houvesse um só momento para descobrir a excelência do Coro Gulbenkian este seria um deles. Mas, felizmente, há muitos mais, na vida de um agrupamento central no pa-norama musical português e que em Novembro de 2014 assinala cinquen-ta anos de existência.

Jorge Matta, o maestro, nos ensaios

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Ópera em Lisboa? Quase só via satélite

MET Opera Live em HD

A partir de Nova Iorque, dez óperas em Alta Definição de som e imagem

do melhor que se faz actualmente no MET. Rui Lagartinho

Graças à aposta da Gulbenkian, cada transmissão do MET tem o peso e quase a solenidade de uma ida à ópera

DR

DR

Evgeni Onegin, de Tchaikovsky

O Príncipe Igor, de Borodin

Com a crescente definhamento e demissão do papel formador e de fruição do Teatro Nacional de S. Car-los a que assistimos na última meia dúzia de anos, e a tendência não pa-rece ir ser invertida nos próximos tempos — o teatro está por exemplo, independentemente dos excelentes corpos artísticos e técnicos de que dispõe, em auto-gestão e sem direc-ção artística —, a formação do gosto pela ópera passa pelas transmissões em directo daquilo que se produz na maior e melhor casa de ópera do

mundo, a Metropolitan Opera Hou-se de Nova Iorque.

A temporada do MET chega a todo o mundo em transmissões di-rectas em alta definição de som e imagem mas enquanto na maioria dos países é exibida em salas de ci-nema, muitas delas integradas em complexos multi-salas, em Portugal graças à aposta da Fundação Gul-benkian, cada transmissão tem o peso e quase a solenidade de uma ida à ópera.

Da próxima temporada do MET

serão transmitidas em Lisboa, dez óperas.

Na abertura da temporada saí-mos este ano do repertório do bel canto de Donizetti, tão do agrado do director geral do teatro Peter Gelb para assistirmos à estreia de uma no-va produção da quinta-essência do romantismo russo, Evgeni Onegin de Tchaikovsky adaptação do romance, longo poema, de Pushkin.

Deborah Warner, a encenadora desta nova produção promete uma linha de verdade na leitura que pro-

põe aproximando-a do universo de outro russo que vem logo a seguir na história, Anton Tchekhov.

Na actualidade, uma das maio-res e maiores cantoras regulares do MET é russa, e por isso será ela, fala-mos, claro, de Anna Netrebeko, a Ta-tiana das próximas temporadas.

Valerie Gergiev, o czar dos ma-estros russos, dirige.

A estreia de gala, vai certamen-te encher os cofres do MET.

A onda russa estende-se ainda ao regresso de O nariz, a surreal obra de Dimitri Chostakovitch. Uma pro-dução de 2010 em que o teatro apos-tou num artista plástico de grande renome, o sul-africano William Ken-tridge para encenar a obra.

Na estreia, e disso deu teste-munha o crítico do New York Times,

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Estrelas de hoje e de amanhã

Grandes intérpretes

A temporada de música Gulbenkian deste ano está, como

sempre, pejada de intérpretes que são referências interna-

cionais. Rui Lagartinho

O programa em que Hampson se apresenta é quase uma enciclopédia do lied alemão

Por uma questão de arrumação quem desenhou a temporada de mú-sica da Gulbenkian deste ano criou um ciclo autónomo que denominou “Grandes Intérpretes”. É aqui que se agrupam presenças já regulares na Gulbenkian: o barítono america-no Thomas Hampson, o maestro Gustavo Dudamel ou a Gustav Mah-ler Jugendorchester.

Hampson, senhor de uma vas-tíssima carreira que nesta tempora-da anda ocupado a ser pela primeira Simon Boccanegra e Wozzeck em Viena e em Nova Iorque, traz a Lis-boa um programa que é bem exem-plo de um dos aspectos em que a sua carreira se distinguiu: a diversi-dade que vai de mão dada com a grande paixão que para ele repre-senta o “diálogo entre o poeta e o compositor”. O programa em que se apresenta com a Amsterdam Sin-fonietta é quase uma enciclopédia do lied alemão através das obras de Wolf, Brahms, Schubert que irá can-tar. No mesmo recital ouvir-se-á ainda Dover Beach, um dos principais ciclos de canções de Samuel Barber, um compositor em que Hampson

os tradicionais assobios de desagrado que se ouvem regularmente no MET em relação a obras do século XX não se escutaram.

Outra ópera russa, uma nova produção de grande folego épico, O Príncipe Igor de Alexei Borodin, estreia em Março.

E esta temporada marca também o regresso ao pódio do director mu-sical da casa afastado do seu habitat natural uma mão cheia de anos por razões de saúde que se prolongaram mais do que o previsto. James Levine dirigirá algumas das récitas de Così Fan Tutte lá mais para o final da tem-porada. Ainda em 2013 estreará a no-va produção da casa de “Falstaff” com encenação de Robert Carsen.

O encenador canadiano vai manter a acção em Windsor, mas transporta a “comédia social” da úl-tima ópera de Verdi para os anos cin-quenta do século XX.

Muita comida e bebida em todas as cenas e os fantasmas psicológicos da condição de caçador prometem perpassar pela obra.

O italiano Ambrogio Maestri que cantou recentemente Falstaff no Alla Scala e no Covent Garden, esta-rá em Nova Iorque.

Para quem nunca viu, ao vivo ou em DVD, este ano será possível tam-bém assistir a uma das produções clássicas de Franco Zeffirelli. A sua La Bohème de Puccini estreada em 1982 representa um paradigma do seu trabalho. Que marca, queiramos ou não, uma época. O MET mantém carinhosamente esta produção, mui-to popular entre o público no seu reportório. Uma boa prática das ins-tituições em paz com a sua história.

Pela temporada transmitida pelo mundo em Alta Definição, pas-sam também outros dois clássicos da casa, com duas protagonistas, du-as americanas, quase artistas resi-dentes do MET.

Antes de Renée Fleming tomar conta de Rusalka, poucos conheciam a obra-prima de Antonin Dvorák.

E Joyce DiDonato, que tão bo-as memórias deixou o ano passado em Lisboa, encarna La Cenerentola, à frente de um grande elenco de pei-xes na água, no que à obra de Ros-sini diz respeito e que inclui os can-tores Juan Diego Flórez e Alessan-dro Corbelli.

definiu um cânone interpretativo para muitos e muitos anos.

Gustavo Dudamel estreia-se em Lisboa com mais uma grande orques-tra em digressão mundial. Stravinsky com a Sagração da Primavera e Bee-thoven com a sinfonia nº 4 fazem par-te do programa à frente de uma da-quelas orquestras que tem lugar cati-vo em qualquer lista que elenque as melhores do mundo: a Orquestra Sin-fónica e de Radiodifusão da Baviera.

E em Abril, a tournée da or-questra juvenil Gustavo Mahler pas-sa mais uma vez pela Gulbenkian com dois programas diferentes que incluem entre outras obras, dois mo-numentos sinfónicos: a sinfonia nº 4 de Gustav Mahler e a sinfonia nº 7 de Bruckner.

Duas embaixadas nacionalistas preenchem também o ciclo grandes intérpretes: a orquestra Teresa Car-reño da Venezuela, mais um exemplo das orquestras do El Sistema que re-definiu a imagem das orquestras ju-venis no mundo inteiro e o Orfeó Català, a mais importante embaixada cultural da nação catalã.

Fora deste ciclo é fácil encon-

tramos outros grandes intérpretes, daqueles que são referências incon-tornáveis, qualquer que seja o ângulo segundo o qual analisemos a sua tra-jectória. É o caso do quarteto Boro-din. Os quatro magníficos russos re-gressam a Lisboa para propor, inte-grado no ciclo dos quartetos de cordas, um olhar sobre as integrais dos quartetos para cordas de Tchai-kovsky e Brahms.

Entre os pianos, Sokolov mar-cará de novo presença no Grande Auditório. Os seus recitais em anos sucessivos já se tornaram um clássi-co nas temporadas de música da Gul-benkian. Regressam também a Lisboa as pianistas Katia e Marielle Labèque e ainda, para tocar com a Orquestra Gulbenkian o concerto nº2 para pia-no e orquestra de Chopin, o pianista brasileiro Nelson Freire.

E ao lado das estrelas consagra-das a temporada Gulbenkian acolhe pela primeira vez o ciclo “Rising Stars”. Durante três dias em Maio, alguns dos principais auditórios de concertos da Europa apresentam em três dias uma série de jovens músicos que, apostam, vão marcar o futuro.

CALENDÁRIO

Met Opera Live

10 Nov 11h0010 Nov 16h00Grande Auditório da CulturgestEvgeni Onegin - Tchaikovsky

24 Nov 11h0024 Nov 16h00Grande Auditório da CulturgestO Nariz - Chostakovitch

01 Dez 11h0001 Dez 16h00Grande Auditório da CulturgestTosca - Puccini

15 Dez 11h0015 Dez 16h00Grande Auditório da CulturgestFalstaff - Verdi

09 Fev 11h0009 Fev 16h00Grande Auditório da CulturgestRusalka - Dvorák

01 Mar 17h00Grande AuditórioO Príncipe Igor - Borodin

15 Mar 17h00Grande AuditórioWerther - Massenet

10 Abr 19h00Grande AuditórioLa Bohème - Puccini

03 Mai 18h00Grande AuditórioCosì fan tutte - Mozart

10 Mai 18h00Grande AuditórioLa Cenerentola - Rossini

Todas as transmissões são feitas a partir da Metropolitan Opera de Nova Iorque, em alta definição (HD) visual e sonora

DR

Thomas Hampson

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Tão largo como a vida

Artur Pizzarro

A integral da música escrita para piano de Sergei Rachmani-

nov pelo mais internacional dos pianistas portugueses.

Rui Lagartinho

Existe sempre um elemento emocional genuíno nas suas obras, nos momentos mais felizes e nos mais obscuros

Nas próximas duas temporadas de música na Gulbenkian, o ciclo de piano, por onde passam sempre os melhores pianistas da actualidade será dominado pela tarefa a que Ar-tur Pizarro se propôs: abordar a obra integral para piano de Sergei Rachmaninov.

São seis recitais. A obra para piano de Rachmaninov, intensa, diver-sa, gigantesca, atravessa seis décadas de criação artística.

A seis meses do primeiro reci-tal (agendado para Março de 2014) Artur Pizarro já se projecta com emoção a entrar no renovado Gran-de Auditório.Está habituado a grandes desa-fios, não é a primeira vez que aborda a integral de um compo-sitor. Rachmanivov é especial?

Muito. É desde logo um compo-sitor que me acompanhou ao longo dos meus mais de vinte e cinco anos de carreira e é um dos compositores de que mais gosto, ao qual dediquei imensas horas de estudo, sobre o qual reflecti muito.

Depois é um ciclo especial por-que vai ser no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian — o meu pri-meiro concerto com orquestra foi aí — e sinto a responsabilidade de hon-rar a aposta que a direcção do Ser-viço de Música fez em mim. E apesar da minha carreira se espalhar pelo mundo inteiro, ter a oportunidade de ir tocar tantas vezes a Lisboa no espaço de um ano, à cidade onde nas-ci, é muito reconfortante.Que fio condutor, que script tra-çou para este ciclo tão vasto?

A primeira armadilha que se deve evitar numa integral é apre-sentar as obras numa sucessão cro-nológica. A abordagem torna-se muita didáctica. No caso de Rach-maninov estamos a falar de dezenas de obras compostas entre a juven-tude do compositor vivida na dé-cada de oitenta do século XIX e o final da vida, já na década de qua-renta do século XX. São sessenta anos. Procurei por isso encontrar pontos comuns entre peças de tem-pos distintos, comparar por exem-plo ideias e vislumbres em obras de juventude que depois se confirmam nas obras de maturidade. Por outro lado dada a reflexão e aperfeiçoa-mento constante que o próprio compositor fazia sobre a obra que

ia produzindo procurei sempre que possivel escolher para interpretar a versão definitiva. Intimida-se quando vê e ouve os próprios registos do compositor a abordar a sua obra?

Não. E até me dá uma certa li-berdade. Há graças a Deus muitos registos do próprio compositor a tocar a sua obra. Mas quando tradu-zimos as suas intenções, as suas ideias, num corpo diferente, de mãos dife-rentes, tudo muda. Dito isto, tento ao máximo debruçar-me sobre o va-lor estético que estas obras tradu-zem e tentar compreender e respei-tar certas decisões.Descobriu, está a descobrir obras que desconhecia?

Como é um compositor que trabalhei muito, praticamente com uma ou outra excepção já conhecia toda a obra que vou tocar.Ainda subsistem muitos precon-ceitos acerca da música de Ra-chmaninov?

Tendem a dissipar-se mas ainda existe uma certa rotulagem de com-positor menor. Não por parte do público, graças a Deus mas da co-munidade musical. Ora é uma ideia falsa.

Existe sempre um elemento emocional genuíno nas suas obras, quer nos momentos mais felizes da sua biografia, quer nos momentos de mais obscuros de dúvida, de in-segurança.

Rachmaninov começa a escre-ver no auge da escola romântica rus-sa, escreve obras de uma genuína curiosidade influenciadas por Boro-din, Glinka, Tchaikovsky, e continua a compor quando Debussy, Ravel e Prokofiev estão no activo.

E há nas últimas obras que es-creve, as danças sinfónicas, a Terceira Sinfonia, um apontar de futuro que só não houve quem não quer ou in-sistir em ter um ouvido selectivo.

Por exemplo um compositor como Samuel Barber, já nos anos cin-quenta percebeu isso e a sua obra aceita e integra o legado de Rachma-ninov.

Não é um artista fácil de encai-xar e por isso nunca se sentiu ampa-rado a não ser pelo público.Em que ponto está a sua carrei-ra?

Estou como quase sempre des-de que comecei, entre o que já con-segui e o que ainda vou conseguir.

Estou sempre de malas feitas, com regras de disciplina e de prepara-ção que imponho a mim mesmo, pron-to para a partir para a próxima etapa.

A minha lista de sonhos e de-sejos nunca está terminada.

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O medo que a arte pode causar

Ciclo Teatro/Música

O ciclo Teatro/Música traz-nos de volta Anne Teresa de Keer-

smaeker, apresenta-nos Katie Mitchell e pergunta-nos se ain-

da queremos ser surpreendidos. Tiago Bartolomeu Costa

DR

The House Taken Over

Há um momento em Partita 2 (sei solo) em que quase parece que per-demos os sentidos. Os movimentos de Anne Teresa de Keersmaeker e Boris Charmatz não têm nem céu nem terra, não pertencem a nenhuma ordem nem obedecem a qualquer categoria. De Keersmaeker, que com esta peça regressa ao Grande Audi-tório da Gulbenkian após ter apre-sentado 3Abschied em 2012, gostaria que pensássemos que dança como anda. Ou seja, que na intensidade da construção há uma margem de erro, no que este tem de perfeição, de as-cetismo, de liberdade que não lhe admitíamos até percebermos que o ritmo, a ordem, a lógica, a crueza de alguns dos seus movimentos, tem origem nas aulas de dança jazz e sa-pateado que teve na MUDRA, a es-cola de Maurice Béjart .

E é por isso, nesta confluência de inusitados encontros, que Partita 2 (sei solo), um dos espectáculos que integra o terceiro ano de programa-ção conjunta do serviço de música da Fundação Calouste Gulbenkian e

do Maria Matos – Teatro Municipal, é, na sua estranheza, a mais radical hipótese de configuração do palco como laboratório de experimenta-ção que podíamos perceber, nos pal-cos que, por razões várias, se enchem de matérias na sua maioria descar-táveis. Os corpos de De Keersma-eker e de Charmatz não são descar-táveis. Nem o de Amandine Beyer, a violinista que desaparece através do movimento da partitura de Bach, es-se terceiro corpo, ausente mas im-possível de não sentir a comandar a nossa respiração. Sâo corpos que, se desaparecem por entre movimentos circulares, parecem esboços de ou-tros movimentos. Dos que intuímos e dos que recordamos.

Estreado em Maio, este encon-tro entre o ascetismo de De Keers-maeker e a carnalidade de Charmatz, é também uma lição sobre o modo de construção de diálogos a partir de palavras que se interrompem. Não é que os bailarinos e coreógrafos fa-lem, mas murmuram, e contam os passos. Mas quando Charmatz esten-

de o braço para segurar o pescoço de De Keersmaeker ou quando Anne Teresa se apoia em Boris para o ul-trapassar, nesses segundos entre a terra e o céu, voltamos a acreditar na dança como o que de mais próxi-mo existe do imaterial. Íamos dizer da fé, se, num repente, tão repente que parece que não existiu, não nos lembrássemos que não há esperança sem memória. Depois de em 2012 De Keersmaeker ter sido Artista na Cidade, em Lisboa, lembremo-nos de Fase, a peça inaugural do seu percur-so, em 1982, quando a voltarmos, agora, a conceber arcos, assumamos, narrativos, dentro de movimentos que parecem criar uma paisagem no interior da tela que é o palco.

Quase que podíamos dizer que é da mesma ordem de ideias, ou do mesmo princípio intencional, que par-te a britânica Katie Mitchell para The House Taken Over, ópera onírica a par-tir de um curto romance de Julio Cortázar que o jornal Libération, na altura da estreia, em Julho, no festival de Aix-en-Provence, apelidou de “huis

CALENDÁRIO

Teatro/Música

13 Set 21h3014 Set 21h30Teatro Maria MatosMarco Martins direcção artística e criaçãoSofia Dias e Vítor Roriz co-criação e interpretaçãoCoro GulbenkianTwo maybe more

04 Out 21h30Teatro Maria MatosJoana SáElogio da Desordem

21 Fev 21h3022 Fev 21h30Teatro Maria MatosAsko Schönberg EnsembleEtienne Siebens maestroKatie Mitchell encenaçãoKitty Whately meio-sopranoOliver Dunn barítonoThe House Taken Over - Vasco Mendonça

01 Abr 19h0001 Abr 21h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianLa Fura dels BausSusanna Mälkki maestrinaAllison Cook meio-sopranoRobin Adams barítonoÀlex Ollé (La Fura dels Baus) encenadorPatrizia Frini directora da reposição da encenaçãoAlfons Flores cenógrafoQuartett - Francesconi

13 Mai 21h0014 Mai 21h00Grande AuditórioAnne Teresa De Keersmaeker coreografia e dançaBoris Charmatz dançaAmandine Beyer violinoMichel François cenografiaAnne-Catherine Kunz figurinosPartita 2 (Sei Solo)

clos misterioso e angustiante”. Não é para menos já que Katie Mitchell, em tudo secundada por uma parti-tura assinada pelo português Vasco Mendonça, é mestre na criação de pontos de encontro entre as arestas afiadas das disciplinas artísticas. A sua estreia em Portugal é um aconteci-mento a todos os níveis entusiasman-te já que nos permite acertar o pas-so com o entusiasmo crescente por um universo que se alimenta dos es-paços vazios que ficam das relações forçadas entre o teatro e o cinema, a literatura e a música, a palavra e o corpo. Mitchell, cujo universo refe-rencial junta W. G. Sebald, Virginia Wolff e Ibsen, criou, escreveu o Le Soir, “uma pequena jóia de concen-tração e precisão” ao extrair da vida dos dois irmãos, Hector e Rosa, na Argentina dos anos 1940, a matéria inflamável através da qual se pode perceber o mal-estar social contem-porâneo. A possessão da casa é me-táfora para a possessão das almas, naturalmente. Do mesmo modo que a partitura de Mendonça permite que Mitchell explore, no palco, zonas de sombra como se expusesse as zonas de sombra da alma humana. Há uma sensação de vertigem, tal como em Partita 2 (sei solo), mas aqui, por força da máquina bem oleada que é o dis-curso de Katie Mitchell, somos toca-dos pela graça que pode ter perder-mo-nos no medo que (alguma)a arte (ainda) pode causar.

O ciclo Teatro/Música, que co-meçou a 6 de Setembro com Two Maybe More, o encontro entre o ci-neasta e encenador Marco Martins e os bailarinos e coreógrafos Sofia Dias e Vitor Roriz a partir de textos de Gonçalo M. Tavares, inclui ainda um concerto de Joana Sá (4 Outu-bro) e Quartett, ópera de Luca Fran-cesconi a partir de Choderlos de Laclos, que marca o regresso dos catalães La Fura dels Baus à Gul-benkian, depois de em 1987 se te-rem apresentado, pela primeira vez em Portugal com Accions, nos Encon-tros ACARTE, momento de desco-berta e, para alguns, profunda revol-ta, com um discurso, ainda hoje (mesmo se domesticado) de revolta, de raiva e de provocação.

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Descobertas e certezas do universo pré-romântico

Ciclo de Música Antiga

Foi em meados da década de cinquen-ta do século XX que se começou a verificar um notável aumento do in-teresse pela produção musical euro-peia anterior ao Romantismo, da qual não existia uma tradição interpreta-tiva chegada até nós de forma conti-nuada. O empenho manifestou-se, sobretudo, no cada vez maior cuidado com que os intérpretes passaram a abordar esse tipo de repertório ao analisar as criações do passado sob uma perspectiva musicológica e de acordo com um consistente estudo científico das fontes históricas. A par-tir de então, a investigação aprofun-dada de manuscritos originais, trata-dos, correspondência, restauro de instrumentos antigos e técnicas espe-cíficas de execução segundo as con-dições acústicas dos locais, além do constante incremento na realização de concertos, passaram a ser prática comum por esse mundo fora com a nada honrosa excepção deste pobre país à beira-mar plantado. No entanto, não foram apenas os modelos desse tempo, a sua recuperação ou a cons-trução actual de cópias fiéis que têm vindo a fazer a diferença: é toda a exi-gência de novas leituras, alicerçadas em vastos saberes, que começou a legitimar a denominada “nova música antiga”, na certeza de que uma obra de arte apenas adquire o seu signifi-cado próprio se forem respeitados o pensamento e a contextualização que lhe deram origem. Caso contrário, ficar-se-á numa periferia claramente redutora daquilo que constituiu o ver-dadeiro trabalho de grandes mestres a viverem em épocas bem distintas como o são a Idade Média, o Renas-cimento, o Barroco e o período clás-sico, todas elas bastante afastadas das principais correntes estéticas que vin-garam em oitocentos.

É esta filosofia que, desde o abrupto e inesperado fim das Jornadas Gulbenkian de Música Antiga de sau-dosíssima memória, tem vindo, pouco

João Chambers, autor do programa Musica Aeterna da Ante-

na 2 traça aqui um roteiro dos concertos que integram aqui-

lo que apelida de “Património musical antigo”.

A exigência de novas leituras, alicerçadas em vastos saberes, começou a legitimar a “nova música antiga”

a pouco, a ser retomada por Risto Nieminen. Analisando a programação para a temporada 2013/2014 sob uma vertente histórica e musicológica, on-de as ainda insuficientes abordagens dos estilos medieval, renascentista e barroco são tristes evidências, sobres-saem os seguintes concertos:

• a 31 de Dezembro, o Te Deum de António Teixeira, um dos compositores enviados a Roma como bolseiros de D. João V, universalmente popularizado através da gravação histórica de Harry Christophers (Coro/Gaudisc), na Igreja de São Ro-que, com o Coro Gulbenkian e o agrupamento Divino Sospiro, de Massimo Mazzeo, dirigidos por Jorge Matta.• a 24 de Fevereiro, o salmo Dixit Dominus, HWV 232, em versão reduzida, de George Frideric Händel e a ópera Dido e Eneias de Henry Purcell, uma das mais pungentes e dramáticas de toda a História da Música Ocidental, pela MusicAeterna Orchestra and Chamber Choir, o mais im-portante colectivo russo espe-cializado em interpretações fi-dedignas, sob a direcção de Teo-dor Currentzis.

Ao contrário de Bach, que ja-mais abandonou o país de origem, Händel optou por uma existência cosmopolita, viajando e trabalhando em várias cidades da Alemanha, de Inglaterra e de Itália. Se a estada em terras transalpinas, ocorrida durante os últimos quatro anos da primeira década de setecentos, foi relativa-mente curta quando comparada com a de alguns dos seus pares, conquan-to de grande importância para a for-mação de um idioma autónomo, já as viagens a Inglaterra revelar-se-iam decisivas na orientação da própria vida profissional. Na realidade, aca-baria mesmo por obter a cidadania

britânica em 1727, permitindo assim ao seu país de adopção legar o mais famoso dos nomes que, exceptuando Purcell, o outro lado da Mancha con-seguiu outorgar à História da Música Ocidental.

Mais conhecido através das ora-tórias e da música instrumental que nos deixou, foi, porém, à ópera que dedicou a maior parte de uma admi-rável actividade criadora quer na qua-lidade de autor e intérprete, quer na de director artístico de diversos te-atros. De facto, por omissão ou juízo precário foram consideradas meno-res não só as peças dramáticas como também a própria concepção estilís-tica a que elas obedeciam, ou seja, o teatro lírico sério. Contudo, e numa omissão que todo o século XIX e a primeira metade do XX negligencia-ram, nenhuma das cerca de seis de-zenas de criações do género que legou para as gerações posteriores seria alguma vez apresentada. Assim, foi apenas a partir de cerca de 1950 que historiadores e musicólogos, no movimento artístico mais fecundo das últimas décadas, proporcionador, ano após ano, da redescoberta de um património até então deturpado ou, simplesmente, negligenciado, apreen-deram aquela especificidade setecen-tista. A subida e descida do pano, uma única vez, no início e no fim das apre-sentações, as rápidas mudanças céni-cas efectuadas à vista dos espectado-res e o papel assumido pela harmonia na amplitude da acção dramática fo-ram, apenas, alguns dos factores de-terminantes para a apreensão dos seus universos lírico e litúrgico.

A relação de Händel com a ópe-ra remonta a 1703, ano em que in-gressou na orquestra do Teatro de Hamburgo, tendo, numa primeira fa-se, integrado o tutti dos segundos violinos e, após alguma experiência entretanto adquirida, ocupado o pos-to de cravista. Porém, dois anos mais tarde, estreou-se na abordagem do

estilo com Almira e Nero e se a pri-meira assinalou um enorme êxito, já a apresentação da segunda saldar-se-ia por um enorme fracasso artístico e financeiro. Efectivamente, este in-sucesso colocou em perigo toda a carreira naquele estilo, embora che-gasse ainda a conceber uma outra tragédia destinada à instituição alemã antes de rumar, em 1706, à Península Itálica. As razões que o levaram a abandonar a cidade hanseática de Hamburgo poderão ser encontradas num convite do ainda príncipe Fer-nando de Médicis, o qual, impressio-nado com um talento precoce, lhe propôs visitar Florença, isto é, a maior escola operática de então.

A permanência de Händel na Península Itálica prolongar-se-ia até 1710, no decorrer da qual estudou e trabalhou em Florença, Nápoles, Ve-neza e Roma, onde conheceu e se relacionou com os mais eminentes mestres da época. A sua influência tornar-se-ia decisiva no trabalho pos-terior que fez pressentir desde as criações puramente instrumentais até às realizações sacras. Assim acontece, por exemplo, na oratória La Resurre-zione, concebida na Cidade Eterna e cuja estreia, dedicada ao Cardeal Gual-terio, ocorreu, a 8 de Abril de 1708, no Palácio Bonelli do mecenas e in-fluente Francesco Maria de Ruspoli.

No decurso da estada em Itália, o saxão regressaria todos os Outonos à corte dos Médicis, tendo sido, porém, em Roma onde laborou mais tempo. Segundo um documento, escrito pelo próprio punho, que sobreviveu até aos nossos dias, chegou ali, pela primeira vez, nos finais de 1706 e no ano seguin-te seria contratado por aquele aristo-crata. Apesar de não ter funções espe-cíficas, tão-pouco um salário fixo, era obrigado a conceber cantatas para se-rem ouvidas todas as semanas, à seme-lhança do que Bach viria a fazer anos mais tarde em Leipzig. Em homenagem ao novo patrono, compôs, em 1708, La Resurrezione, cuja estreia, segundo tes-temunhos da época, se revelou um êxito assinalável. Para essa ocasião es-pecífica foi propositadamente constru-ído um palco em pleno palácio, tendo sido Corelli a dirigir o conjunto, com quase meia centena de instrumentistas, numa apresentação caracterizada por

um grande escândalo. Com efeito, foi Margarita Durastante quem, nesse Do-mingo de Páscoa, desempenhou o pa-pel de Madalena, ou seja, uma verda-deira afronta, tendo em conta o Papa Clemente XI haver interditado as in-térpretes femininas de se apresentarem em público. No entanto, o Marquês de Ruspoli terá pensado que o privilégio de poder escutar a arte daquela já en-tão famosa cantora compensava, so-bremaneira, qualquer eventual censura proveniente da Santa Sé, o que acabaria por acontecer. Numa cidade onde, du-rante as representações operáticas, todos os papéis que cabiam às mulhe-res deviam ser obrigatoriamente de-sempenhados por castrados, o erotis-mo perturbador de um soprano “au-têntico” terá, por certo, causado grande sensação e espanto.

É este espírito que a russa Julia Lezhneva e a Orquestra Barroca de Helsínquia dirigida por Aapo Häkki-nen se propõem apresentar, a 22 de Abril, ao público da Gulbenkian.

Uma semana mais tarde, a 29, a ópera Elena de Francesco Cavalli, dra-ma por música em um prólogo e três actos, com libreto de Giovanni Faus-tini e Niccolo Minato, recuperada, após três séculos e meio de obscu-ridade, pelo já nosso conhecido Le-onardo Garcia Alarcón que se apre-sentará de novo à frente do grupo Cappella Mediterranea.

A 30 de Abril, a Missa de Notre Dame de Guillaume de Machaut pelos Graindelavoix do antropólogo e es-tudioso da etnomusicologia Björn Schmelzer, o qual foi buscar o nome à citação de Roland Barthes “O grão é o corpo na voz que canta, na mão que escreve e no membro que exe-cuta”. Esta sublime obra do medievo tardio, já gravada e a aguardar a edi-ção em CD (Glossa), foi de crucial importância para as criações vanguar-distas do século passado, o que se poderá tornar num motivo acrescido para incentivar à quebra das rígidas e estereotipadas categorias do patri-mónio musical antigo, clássico ou contemporâneo. Duas razões fizeram dela uma peça unitária deveras im-portante: por um lado, considerada como o primeiro ofício religioso po-lifónico a integrar as habituais cinco secções do Ordinário, trata-se de uma sinfonia vocal totalmente ana-crónica; por outro, dotada de textu-ra imponente, singular e arcaica, en-contra-se plena de cromatismos e surpreendentes mutações vocais. Ma-chaut, mencionado como Guilherme de Machado por D. João I no Livro da

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CALENDÁRIO

Ciclo de Música AntigaGrande Auditório

24 Fev 19h00MusicAeterna Orchestra and Chamber ChoirTeodor Currentzis direcçãoSimone Kermes sopranoTobias Berndt barítonoMaria Forsström meio-sopranoNadia Kucher sopranoNatalia Kirillova sopranoValeria Safonova sopranoHändel, Purcell

22 Abr 21h00Julia Lezhneva sopranoOrquestra Barroca de HelsínquiaAapo Häkkinen maestroHändel

29 Abr 19h00Cappella MediterraneaLeonardo Garcia Alarcón maestroJean-Yves Ruf encenaçãoSolistas da Academia Europeia de Música do Festival d’Aix en ProvenceElena - Cavalli

05 Mai 19h00L’Avventura LondonŽak Ozmo viola barroca e direcçãoSandra Medeiros sopranoJoana Seara sopranoMarta Gonçalves flautaJoanna Lawrence violinoNatasha Kraemer violonceloTaro Takeuchi viola de seis ordens e guitarra inglesaDavid Gordon cravoCanções de Amor Portuguesas do século XVIII

Montaria, escreveu-a para o altar ma-riânico da Rouelle, na Catedral de Reims, e dedicou-a à Virgem, tendo sido interpretada, julga-se, como ho-menagem ao irmão e a si próprio após as respectivas mortes. Con-quanto a tenha ornamentado com exuberantes improvisações, Schmel-zer associá-la-á aos próprios cânticos de um missal descoberto naquele imponente templo gótico francês.

Os sete cantores, oriundos de países tão díspares quanto a Bélgica, a França, a Estónia, a Roménia ou os Estados Unidos da América, têm em comum vozes não uniformizadas por um ensino do canto académico, um som original e uma vasta experiência heterogénea. Neste sentido, os Grain-delavoix são, também, o ponto de en-contro de intérpretes que juntam força e erudição ao fito de criar algo de inédito, transpondo, sem esforço, esse repertório e uma genuína expe-riência emocional e inédita para quem os escuta. Ecoando as vozes qual pa-limpsesto várias vezes grafado e crian-do sonoridades que vão além da his-toricidade de diversos estilos, irá, por certo, presentear o público português, em espaço adequado, isto é, num tem-plo católico, com uma experiência artística imediata, emocional e única.

“A mais sedutora e voluptuosa música que se possa imaginar e, inclu-sive, a mais apropriada para enganar a vigilância dos santos e inspirar os delí-rios profanos.” Foi deste modo que, numa das três estadas em Portugal, o romancista e erudito inglês William Beckford se referiu às modinhas, ou cantigas de amor, as quais, na segunda metade do século XVIII, encantaram a corte e a aristocracia portuguesas. As suas origens são ainda dúbias e, tal co-mo ocorre em casos similares, foram surgindo várias alegorias a perdurar através dos tempos. Embora não sub-sista alguma documentação que o pos-sa certificar, a primeira menção surgiu no decurso do reinado de D. Maria I por ocasião da chegada do género pro-veniente de terras de Vera Cruz.

É este repertório, apresentado, com enorme sucesso, no último mês de Julho, por ocasião do XXXV Fes-tival de Música da Póvoa de Varzim e já editado em CD (Hyperion/Andan-te), que, a 5 de Maio, chega ao audi-tório da Gulbenkian através dos so-pranos Sandra Medeiros e Joana Se-ara e do agrupamento L’Avventura London sob a direcção do maestro e alaudista bósnio Žak Ozmo.

Concertos absolutamente a não perder!

Jean-Yves Ruf

Girl listening to a guitar,de Francisco Goya(1799)

Julia Lezhneva

Joana Seara

Anna Prohaska

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Que concertos não

As obras de beneficiação que decorrem no Grande Auditório até Fevereiro de 2014, trazem-nos, de volta, a saudosa e mágica errância das Jornadas Gulbenkian de Música Antiga. A pulveri-zação da temporada por locais simbólicos da capital, muitos deles construídos, entre outras funções, para a fruição musical, desencadeia experiências sensoriais mais intensas do que aque-las que se pode ter num mero auditório.

Embora prefira ouvir este tipo de repertório em instru-mentos da época ou suas cópias fiéis, a excelência da direcção e a grande qualidade desta nova geração de cantores portugue-ses, faz com que a minha primeira escolha incida sobre o con-certo que integra as obras: Suite Orquestral nº 3 BWV 1068, Lobet den Herrn alle Heiden, BWV 230; cantatas BWV 127 e 140, interpretadas pelos Coro e Orquestra Gulbenkian, com Joana Seara (soprano), Fernando Guimarães (tenor), Hugo Oliveira (barítono), dirigidos por Ton Koopman, nos dias 31 de Outubro e 1 de Novembro, na magnífica Igreja de São Roque.

Ainda na Igreja de São Roque, mas no dia 8 de Novembro, não vou querer perder os “Vilancicos sacros inéditos” de D. Pedro de Cristo e de D. Pedro da Esperança, pelo Coro Gul-benkian, dirigido por Jorge Matta.

Quero louvar a iniciativa da FCG em retomar a tradição de uma das cerimónias litúrgicas mais importantes do Portugal de Setecentos, o Te Deum do dia de São Silvestre, ou 31 de Dezembro e, este ano, vamos poder ouvir os magníficos solis-tas Deborah York, Joana Seara, Terry Wey, Fátima Nunes, João Rodrigues, Pedro Cachado, Hugo Oliveira e André Baleiro acom-panhados pela orquestra Divino Sospiro e pelo Coro Gul-benkian.

Já em Fevereiro, no dia 24, não vou mesmo querer perder os MusicAeterna Orchestra and Chamber Choir, dirigidos por Teodor Currentzis, que nos trazem as obras Dixit Dominus, HWV 232 de Georg Friedrich Händel e Dido e Eneias de Henry Pur-cell.

Em Abril, no dia 22, teremos de novo Georg Friedrich Händel, mas num concerto intitulado Resurrezione e dedicado às obras produzidas em Roma. O soprano Júlia Lezhneva e a Orquestra Barroca de Helsínquia, dirigida por Aapo Häkkinen conduzir-nos-ão numa viagem musical até à Cidade Eterna de Händel.

Em Outubro de 2000, numa das saudosas Jornadas Gul-benkian de Música Antiga, tive o privilégio de ouvir pela primei-ra vez, na Sala do Refeitório do Mosteiro dos Jerónimos, a Cappella Mediterranea, dirigida por Leonardo Garcia Alarcón. Será, com enorme expectativa que os irei ouvir, uma vez mais, no dia 29 de Abril, no Grande Auditório, numa interpretação do “drama per musica” Elena, da autoria de Francesco Cavalli, com libreto de Giovanni Faustini e Niccolo Minato, sem dúvida um dos momentos altos desta temporada 2013|2014.

No dia seguinte, 30 de Abril, num espaço tão marcada-mente simbólico como a Igreja de São Roque, vai ter lugar o meu concerto de eleição! Os Graindelavoix, dirigidos por Björn Schmelzer, vão interpretar a Messe de Notre Dame, a primeira missa completa a sobreviver até aos nossos dias, de Guillaume de Machaut. As abordagens etnomusicológica e

performativa tão características deste grupo vocal, vão cer-tamente fazer deste concerto uma sublime experiência para todos os sentidos.

Por último e, já em Maio, mais precisamente no dia 5, o grupo L’Avventura London, dirigido por Zak Ozmo a partir da viola barroca, trar-nos-á um repertório animado composto pelas “modinhas”, canções de amor portuguesas tão caracte-rísticas da segunda metade de Setecentos.

São estas as minhas escolhas, são estes os concertos que não vou querer perder!

Com o Grande Auditório (GA) encerrado para obras torna-se difícil a “circulação” dos espetáculos por outras salas de Lisboa, que poderão tornar diferentes as sensações que se vivem no GA, no entanto, há concertos que são de grande importância e que devem ser (re) vistos, começaria pela Cria-ção de J. Haydn, obra do repertório coral-sinfónico, é já no dia 3 e 4 de Outubro no Mosteiro dos Jerónimos, local mais que apropriado para ouvir e sentir tão bela obra, que levou dois anos a ser composta e celebra a criação do Mundo a partir do Génesis.

Também não quero perder, agora na Culturgest, que ce-lebra os seus 20 anos, a estreia mundial do Magnificat para coro e orquestra, obra de um dos nossos melhores compo-sitores portugueses, António Pinho Vargas, no dia 12 de Ou-tubro.

Toda a programação tem um caracter homogéneo e uma linha central que aposta vivamente na qualidade dos concertos e seus intérpretes, falo do ciclo de piano, em vários concertos como a Integral das Obras para Piano de Rachmaninov (I, II e III), com a particularidade de serem interpretadas por um dos mais conceituados pianistas portugueses, Artur Pizarro. Outros grandes pianistas vão estar presentes, como as irmãs Labèque, o pianista de sempre, o G. Sokolov.

Convém estar muito atento às intervenções da Orquestra e Coro Gulbenkian na Igreja de São Roque com repertório na sua maioria de J.S. Bach. Que melhor se podia querer num tão nobre espaço!

Por este conjunto de propostas torna-se difícil uma esco-lha mais específica de determinado espetáculo pelo que o me-lhor é optar pelo maior número possível seguindo estas suges-tões não ficarão desapontados.

A Fundação Gulbenkian continua a ser uma referência na mú-sica que se faz e ouve em Portugal, neste ano 2013/2014.

Com o Grande Auditório a sofrer várias transformações até Fevereiro de 2014, outros locais acolherão vários espec-táculos da temporada, como o Centro Cultural de Belém, a Igreja de São Roque, a Academia das Ciências de Lisboa, a Basílica de Mafra ou a Culturgest (entre outros).

Outros espaços, com outras acústicas e ambiente pro-piciarão, certamente experiências diferentes, quer aos exe-cutantes, quer aos ouvintes.

São muitas as possibilidades de escolha e, obviamente, as minhas sugestões não são mais do que isso mesmo.

Assim, entendo que os espectáculos que irão ter lugar entre 13 e 21 de Setembro, no âmbito do Festival Cantabile, na Basílica de Mafra e na Academia das Ciências de Lisboa, serão uma boa opção, podendo-se ouvir entre outros Bach, Scarlatti, Telemann e Mozart.

Em 31 de Outubro e 1 de Novembro, na Igreja de São Roque, não deverei perder a Orquestra e Coro Gulbenkian com Ton Koopman, como maestro e cravista notável que é, a dirigir obras de Bach.

Procurarei também não perder o concerto da Orques-tra Gulbenkian com Susanna Mälkki como maestrina, a 30 e 31 de Janeiro de 2014.

As pianistas e irmã Katia e Marielle Labèque são outra escolha, do ciclo de piano, interpretando Stravinsky e Berns-tein, aliando a exímia execução a duas obras marcantes.

Finalmente, outro pianista, o russo Sokolov, com pro-grama a anunciar, mas cuja presença é, só por si, garantia de um concerto excelente.

A época 2013/4 tem várias novidades: a dispersão dos con-certos por várias salas, com as contrariedades inerentes, o novo Maestro Titular, Paul McCreesh e a nova Maestrina, Su-sanna Mälkki, concertos ao domingo e criação de uma orques-tra juvenil portuguesa (que se saudam) e alguns aprofunda-mentos: maior ligação dos Coros, Gulbenkian e juvenis, bem como dos solistas do Festival Cantabile à Orquestra Gul-benkian, da parceria da Orq. Juvenil G. Mahler e da ligação do Teatro à Música. Penso que o actual Director do Serviço de Música, Risto Nieminen, trouxe alguma mudança à programa-ção, que me parece salutar. Infelizmente, continuamos com saudades do antigo ballet e dos programas com as Grandes Orquestras Mundiais.

Esperemos que as obras do Auditório melhorem o am-biente, eliminando as deficiências do ar condicionado e que as expectativas criadas com as restantes nomeações, inovações ou alterações sejam correspondidas.

Na minha perspectiva não se poderão perder: nos Gran-des Intérpretes, a Orquestra Sinfónica da Rádio Bávara, com o magnífico Gustavo Dudamel, a Orquestra Juvenil G. Mahler e a novidade expectante da venezuelana Teresa Carreño Or-questra; no Ciclo de Piano, Artur Pizarro com a Integral de Rachmaninov, o excepcional Sokolov de quem se esperam sempre vários encores, Korioliov, que tenho curiosidade de ouvir pela primeira vez, com as Variações Goldberg e as irmãs Labèque com a Sagração da Primavera para 2 pianos; nos quar-

A primeira coisa que preenchem na agenda são as datas dos concertos que não querem

Ana Anjos MântuaCoordenadora da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves

Carlos Correia MartinsEconomista

Jerónimo MartinsAdvogado

Jorge Galvão VideiraEngenheiro

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vai querer perder? perder. Eis as escolhas pessoais de alguns melómanos para a Temporada 2013/2014

ENRIC VIVES-RUBIO

Orquestra Gulbenkian

tetos de cordas com o Quarteto Borodin para os quartetos de Brahms e Tchaikovsky; na música antiga, a expectativa de apreciar a Orquestra Barroca de Helsinkia e a soprano Julia Lezhneva com obras de Händel.

Nas Músicas do Mundo será interessante assistir ao con-certo da Mísia com um conjunto barroco dirigido por Chris-tina Pluhar.

Para compensar a paragem (por quanto tempo?) do Teatro S. Carlos, teremos de nos contentar com as transmissões das óperas do Met , que são sempre excelentes.

De forma avulsa sublinho, entre muitos outros interessan-tes concertos, o da reabertura do grande auditório com a Orquestra Gulbenkian a tocar a Sinfonia Fantástica de Berlioz, o do pianista Nelson Freire no Concerto nº2 de Chopin com a Orquestra Gulbenkian, o tríptico de Mozart — Sinfonias nºs 39,40 e 41— também com a Orquestra Gulbenkian e a, para mim, desconhecida ópera Quartett de Luca Francesconi com La Furia dels Baus e a Orquestra Gulbenkian.

Sou uma apaixonada pela música antiga e mantenho a nos-talgia daqueles quinze dias intensos que marcavam o início da temporada, em Outubro. Agora já não é assim, os concer-tos de música antiga foram-se dispersando ao longo da tem-porada, a ideia de festa perdeu-se e algumas coisas não vol-tam mais, como a felicidade de ver e ouvir Montserrat Fi-gueras. Mas há que encontrar os tesouros lá onde eles se escondem e, se é preciso escolher um concerto que não

posso mesmo perder este ano, a minha escolha é L’Arpeggiata de Christina Pluhar, em Fevereiro. Curiosamente, tanto ela como Jordi Savall têm andado ultimamente pelas margens do Mediterrâneo num percurso original e ao mesmo tempo semelhante.

Um dos concertos mais fascinantes a que tive o privilégio de assistir nos últimos tempos foi precisamente de L’Arpeggiata, com as tarantellas napolitanas e as vozes de Lucilla Galeazzi e Marco Beasley. Uma festa! Christina Pluhar tem aquela capaci-dade de pegar em músicas com 300 anos, dar-lhe os mais ge-nuinos intérpretes e devolvê-las tão vivas como se fossem aca-badas de criar. Há nisso um caminho de pesquisa e uma visão pessoal que me interessa muito e há sobretudo o grande prazer da música.

Este concerto de Lisboa continua no Mediterrâneo, inclui agora o fado e tem Mísia como convidada. Não sendo o fado o tipo de música que mais me agrada, tenho no entanto muita curiosidade de ver como será a abordagem feita por alguém que vem de um mundo tão diferente. Tenho a certeza que vai ser surpreendente e muito bom.

“Ouver” todos. Quero todos os concertos. Não falhar um. E repetir. Duas vezes A Criação. Melómanos aos Jerónimos (03 e 04.10)! Paul McCreesh já deu cartas nesta obra nomeada-mente em disco.

Preparemo-nos para ser espectadores comprometidos.Prontos a acolher “o elogio da desordem” prometido por Joa-

na de Sá (Maria Matos, 04.10), arrombadora de fronteiras pia-nísticas galgadas há muito por um “Dostoievski transposto pa-ra o piano”, Sokolov de seu nome.

A reabertura do Grande Auditório merece jornada festi-va que vai ser liderada por Joana Carneiro. A festa vai merecer amplo acompanhamento da Antena 2 .

Depois, deixemos crescer um rumor barthesiano até 30.04, dia aprazado para ouvir Graindelavoix em São Roque, igreja talhada para levitar sob as ordens de Bjorn Schmelzer, mago iluminador de Machaut na Missa de Notre Dame. “Ou-ver” hoje o século XIV. E não falhar 29.04, dia do encontro com a sensual Elena de Cavalli , obra bela adormecida há 350 anos e agora resgatada pela Capella Mediterranea de Garcia Alarcón, o maestro comprometido com outras duas noites em São Roque (21 e 22.11) para dirigir o Coro e a Orques-tra Gulbenkian na Missa em Sol de Bach e com o bónus de uma outra missa de G.Giorgi, compositor italiano cuja exis-tência desconhecia e que andarilhou por cá até se finar em 1762 .

E libertar os ouvidos com “ músicas do mundo” . Walde-mar Bastos a 16 de Novembro embala Classics of My Soul com a Orquestra Gulbenkian depois da experiência pioneira com a Sinfonica de Londres (há CD de 2012 com esta orquestra). Mais do que “guitarrista”, Waldemar Bastos é A VOZ de Áfri-ca, voz do mundo passado a música.

Expecatativa alta também para a Primavera que nos trará a integral das obras para piano de Rachmaninov a car-go do magnífico Artur Pizarro e também dos quartetos para cordas de Brahms e Tchaikovsky pelo excelso Quarteto Bo-rodin

E vamos celebrar os 40 anos de Abril no exacto 25 com as Quatro últimas canções de R. Strauss, testamento lírico con-fiado a Emily Magee, soprano que estará neste concerto com o Gustav Mahler Jugendorchester que ainda tem no cartaz três delicadas obras orquestrais de Alban Berg e a monumental sétima sinfonia de Bruckner .

Vale ainda uma regra a aplicar a todos os outros dias des-ta temporada: Melómanos, Uni-vos!

Maria João Pinto RibeiroAssessora na Univerdade Católica

Paulo Alves GuerraJornalista, autor do programa Império dos Sentidos, na Antena 2

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CALENDÁRIO

Festival CantabileEntrada Livre

13 Set 21h00Basílica de MafraFestival CantabileOrquestra GulbenkianCoro Gulbenkian e Coros JuvenisElementos de: Coro da Escola Superior de Música de Lisboa, Coro Peregrinação,Coro Musaico, Coro do Instituto Gregoriano de Lisboa, Coro Viana Vocale, Coro Spatium VocalePaul McCreesh maestroSolistas do Festival CantabileRuth Ziesak sopranoReinhold Friedrich trompeteScarlatti, Telemann, Bach, Bruckner

19 Set 19h30Academia das Ciências de LisboaOrquestra GulbenkianSolistas do Festival CantabileDiemut Poppen viola e direcçãoAlexander Lonquich piano e direcçãoLena Neudauer violinoMozart, César Viana

20 Set 19h30Academia das Ciências de LisboaOrquestra GulbenkianSolistas do Festival CantabileDiemut Poppen viola e direcçãoLena Neudauer violinoBach, Brahms

21 Set 19h30Basílica de MafraOrquestra GulbenkianSolistas do Festival CantabileDiemut Poppen viola e direcçãoLena Neudauer violinoBach, Mozart

Orquestra Gulbenkian

03 Out 21h0004 Out 21h00Mosteiro dos JerónimosCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroSophie Bevan sopranoJeremy Ovenden tenorNeal Davies baixoA Criação - Haydn

31 Out 21h0001 Nov 21h00Igreja de São RoqueCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianTon Koopman maestroJoana Seara sopranoFernando Guimarães tenorHugo Oliveira barítonoJ. S. Bach

10 Nov 17h0011 Nov 21h00Centro Cultural de BelémOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroTrio ArriagaBeethoven, Tchaikovsky

21 Nov 21h0022 Nov 21h00Igreja de São RoqueCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianLeonardo Garcia Alarcón maestroRobin Blaze contratenorFernando Guimarães tenorAlejandro Meerapfel baixoQuito Gato tiorbaJ. S. Bach, Giorgi

28 Nov 21h0029 Nov 19h00Centro Cultural de BelémOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroBenjamin Schmid violinoHenning Kraggerud violino e violaMozart

05 Dez 21h0006 Dez 19h00Centro Cultural de BelémOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroMozart

16 Dez 21h3017 Dez 21h30Igreja de São RoqueCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianMichel Corboz maestroNathalie Gaudefroy sopranoBernarda Fink meio-sopranoTilman Lichdi tenorSebastian Noack barítonoMarcelo Giannini órgãoOratória de Natal I - J. S. Bach

20 Dez 21h3021 Dez 21h30Igreja de São RoqueCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianMichel Corboz maestroNathalie Gaudefroy sopranoBernarda Fink meio-sopranoTilman Lichdi tenorSebastian Noack barítonoMarcelo Giannini órgãoOratória de Natal II - J. S. Bach

16 Jan 21h0017 Jan 19h00Centro Cultural de BelémOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroMiah Persson sopranoMahler, Schubert

23 Jan 21h0024 Jan 19h00Centro Cultural de BelémCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestro

Ann Hallenberg meio-sopranoCarolyn Sampson meio-sopranoEduarda Melo sopranoOrfeu - Gluck/Berlioz

30 Jan 21h0031 Jan 19h00Centro Cultural de BelémOrquestra GulbenkianSusanna Mälkki maestrinaWu Wei chengMahler, Chin

06 Fev 21h0007 Fev 19h00Centro Cultural de BelémOrquestra GulbenkianJosep Pons maestroJavier Perianes pianoRavel, Falla

15 Fev 21h00Grande AuditórioEntrada LivreOrquestra Gulbenkian com o Estágio Gulbenkian para orquestraJoana Carneiro maestrinaR. Strauss, Berlioz

20 Fev 21h0021 Fev 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianJukka-Pekka Saraste maestroJorge Luis Prats pianoRachmaninov, Sibelius

27 Fev 21h0028 Fev 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianPedro Neves maestroEsther Georgie clarineteFreitas Branco, Sérgio Azevedo

06 Mar 21h0007 Mar 19h00Grande AuditórioCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroSusan Gritton sopranoBen Johnson tenorJ. S. Bach, Ana Seara, Mendelssohn-Bartholdy

13 Mar 21h0014 Mar 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroChristopher Maltman barítonoWagner, Brahms/Glanert, Mendelssohn-Bartholdy

20 Mar 19h0021 Mar 19h00Grande AuditórioCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroIestyn Davies contratenorInês Simões sopranoGillian Webster sopranoMhairi Lawson sopranoCatia Moreso meio-sopranoThomas Walker tenorHugo Oliveira barítonoSalomão - Händel

01 Abr 21h0002 Abr 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianLa Fura dels BausSusanna Mälkki maestrinaAllison Cook meio-sopranoRobin Adams barítonoÀlex Ollé (La Fura dels Baus) encenadorPatrizia Frini directora da reposição da encenaçãoAlfons Flores cenógrafoQuartett - Francesconi

15 Abr 19h0016 Abr 19h00Grande AuditórioCoro Gulbenkian, Orquestra Gulbenkian, Coro Infantil da Universidade de LisboaMichel Corboz maestroSandrine Piau sopranoMarie-Claude Chappuis meio-sopranoVincent Lièvre-Picard tenorChristoph Genz tenorAndré Baleiro baixoPeter Harvey baixoMatthias Spaeter alaúdeMarcelo Giannini órgãoPaixão Segundo São Mateus - J. S. Bach

01 Mai 21h0002 Mai 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianLionel Bringuier maestroNelson Freire pianoBrahms, Chopin, Schumann

08 Mai 21h0009 Mai 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianJean-Claude Casadesus maestroDavid Lefèvre violinoChostakovitch, Prokofiev, Ravel, Mussorgsky, Stravinsky

22 Mai 21h0023 Mai 19h00Grande AuditórioOrquestra GulbenkianGeorge Benjamin maestroElin Rombo sopranoTim Mead contratenorVictoria Simmonds meio-sopranoRupert Charlesworth tenorChristopher Purves baixoWritten on Skin - George Benjamin

29 Mai 21h0030 Mai 19h00Grande AuditórioCoro GulbenkianOrquestra GulbenkianPaul McCreesh maestroAnnette Dasch sopranoVirpi Räisänen meio-sopranoNoah Stewart tenorFlorian Boesch baixoDaan Janssens, Beethoven

Grandes Intérpretes09 Fev 19h00Centro Cultural de BelémThomas Hampson barítono

Amsterdam SinfoniettaCandida Thompsonviolino e direcçãoSchönberg, Brahms, Barber, Wolf, Schubert

16 Fev 19h00Grande AuditórioOrfeó Català & Cor de CambraJosep Vila i Casañas maestroMercè Sanchis órgãoMúsica sacra e tradicional de autores catalães. Requiem - Fauré

04 Abr 19h00Grande AuditórioSymphonieorchester des Bayerischen RundfunksCoro GulbenkianGustavo Dudamel maestroStravinsky, Beethoven

24 Abr 19h00Grande AuditórioGustav Mahler JugendorchesterDavid Afkham maestroChristiane Karg sopranoWagner, Berg, Mahler

25 Abr 19h00Grande AuditórioGustav Mahler JugendorchesterDavid Afkham maestroEmily Magee sopranoBerg, Strauss, Bruckner

31 Mai 19h00Grande AuditórioTeresa Carreño OrchestraChristian Vásquez maestroBerlioz, Stravinsky,Rimsky-Korsakov

01 Jun 19h00Grande AuditórioTeresa Carreño OrchestraChristian Vásquez maestroStrauss, Falla, Tchaikovsky

Ciclo de PianoGrande Auditório

03 Mar 21h00Artur Pizarro pianoIntegral - Rachmaninov I

16 Mar 19h00Grigory Sokolov pianoPrograma a anunciar

22 Mar 19h00Katia e Marielle Labèque pianoGonzalo Grau percussãoRaphaël Seguinier percussãoKalakan grupo basco de percussãoStravinsky, Bernstein

08 Abr 19h00Artur Pizarro pianoIntegral - Rachmaninov II

25 Mai 19h00Artur Pizarro pianoIntegral - Rachmaninov III

05 Jun 19h00Evgeni Koroliov pianoVariações Goldberg - J. S. Bach

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Ciclo de Música AntigaGrande Auditório(ver págs. 18/19)

Ciclo Quartetos de CordasGrande Auditório

17 Fev 19h00Quarteto TakácsEdward Dusinberre violinoKároly Schranz violinoGeraldine Walther violaAndrás Fejér violonceloMarc Ramirez contrabaixoMozart, Janá ek, Dvorák

08 Mar 16h00Quarteto DiotimaYun-Peng Zhao violinoGuillaume Latour violinoFranck Chevalier viola

Pierre Morlet violonceloBeethoven, Boulez, Schönberg

08 Mar 21h00Quarteto DiotimaAna Paula Russo sopranoBeethoven, Boulez, Schönberg

09 Mar 16h0009 Mar 21h00Quarteto DiotimaBeethoven, Boulez, Schönberg

04 Mai 19h00Quarteto BorodinRuben Aharonian violinoAndrei Abramenkov violinoIgor Naidin violaIgor Balshin violonceloIntegral dos Quartetos para Cordas de Tchaikovsky e Brahms I

06 Mai 19h00Quarteto BorodinIntegral dos Quartetos para Cordas de Tchaikovsky e Brahms II

07 Mai 19h00Grande AuditórioQuarteto BorodinIntegral dos Quartetos para Cordas de Tchaikovsky e Brahms III

Met Opera LiveGrandes Auditórios da Culturgest e da Gulbenkian (ver págs. 14/15)

Músicas do MundoGrande Auditório

23 Fev 19h00L’ArpeggiataMísia vozVincenzo Capezzuto voz

Christina Pluhar tiorba e direcção artísticaMediterraneo

09 Abr 21h00Le Trio JoubranAsFar

23 Abr 21h00The Gurdjieff Folk Instruments EnsembleMúsica de Georges I. Gurdjieff

Teatro/MúsicaTeatro Maria Matos e Grande Auditório(ver pág. 17) Rising StarsGrande Auditório

09 Mai 21h30Quarteto VoceSarah Dayan violinoCécile Roubin violinoGuillaume Becker violaFlorian Frère violonceloMantovani, Brahms

10 Mai 12h30Leticia Muñoz Moreno violinoAna-Maria Vera pianoBeethoven, Granados, Ravel

10 Mai 14h30Trio Van BaerleGideon den Herder violonceloHannes Minnaar pianoMaria Milstein violaBeethoven, Dvorák

11 Mai 16h00János Balázs Jr. pianoBeethoven, Schubert, Chopin, Dubrovay, Ravel, Liszt

11 Mai 19h00Dionysis Grammenos clarineteKarina Sposobina pianoBassi, Rachmaninov,Fauré, Giacomma,Schumann, Chopin, Sarasate

11 Mai 21h00Pablo Held TrioPablo Held pianoRobert Landfermann contrabaixoJonas Burgwinkel bateriaSchubert, Chopin, Dubrovay, Ravel, Liszt

Remix Ensemble

10 Mar 21h00Grande AuditórioRemix EnsembleCasa da MúsicaPeter Rundel maestroZender

Te Deum em São RoqueIgreja de São Roque

31 Dez 17h00Coro GulbenkianDivino SospiroJorge Matta maestro

Deborah York sopranoJoana Seara sopranoTerry Wey contratenorFátima Nunes contraltoJoão Rodrigues tenorPedro Cachado tenorHugo Oliveira barítonoAndré Baleiro baixoTe Deum - António Teixeira

Solistas da Orquestra GulbenkianGrande AuditórioEntrada Livre

28 Fev 21h30Cristina Ánchel flautaElena Riabova violinoPedro Pacheco violinoLu Zheng violaVaroujan Bartikian violonceloJ. C. Bach, Mozart, Statham, Foote

14 Mar 21h30Bin Chao violinoPedro Pacheco violinoLu Zheng violaVaroujan Bartikian violonceloMarc Ramirez contrabaixoEsther Georgie clarineteVera Dias fagoteJonathan Luxton trompaSchubert

02 Mai 21h30Ana Beatriz Manzanilla violinoJorge Teixeira violinoChristopher Hooley violaJeremy Lake violonceloEsther Georgie clarineteSchubert, Brahms

23 Mai 21h30Alexandra Mendes violinoPedro Pacheco violinoSamuel Barsegian violaLu Zheng violaMaria José Falcão violonceloRaquel Reis violonceloAntónio Esteireiro harmónioDvorák, Rimsky-Korsakov

Prémio Jovens MúsicosCentro Cultural de BelémEntrada Livre

26 Set 19h00Orquestra GulbenkianRui Pinheiro maestroGrande Final do Prémio Jovens Músicos 2013Solistas e programa a anunciar em função dos resultados do concurso

28 Set 19h00Orquestra GulbenkianRui Pinheiro maestroSolista vencedor do Prémio Silva Pereira do Prémio Jovens Músicos 2013 – Jovem Músico do AnoConcerto do Jovem Músico do Ano. Vencedor do Prémio de Composição SPANova obraConcerto a anunciarSinfonia nº 1 - Luís de Freitas Branco

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Le Trio Joubran

MísiaQuarteto

Diotima

Dionysis Grammenos Orfeó Català

Letícia Moreno

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13 Setembrosexta, 21:00h — Basílica de Mafra

Orquestra GulbenkianCoro Gulbenkian e Coros JuvenisPaul McCreesh maestro Solistas do Festival Cantabile Ruth Ziesak soprano Reinhold Friedrich trompete

j. s. bach, telemann, scarlatti, bruckner

19 Setembroquinta, 19:30h — Academia das Ciências de Lisboa

Orquestra GulbenkianSolistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direção Alexander Lonquich piano e direção Lena Neudauer violino

mozart, c. viana, mozart

20 + 21 SetembroOrquestra GulbenkianSolistas do Festival Cantabile Diemut Poppen viola e direção Lena Neudauer violino

Sebastien Klinger violoncelo

sexta, 20 set 19:30h — Academia das Ciências de Lisboa

bach, brahms

bach, mozartsábado, 21 set 19:30h — Basílica de Mafra

Festival Cantabileconcertos de entrada livre(sujeito à lotação disponível)

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