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Estrelas de Nêutrons

Guilherme Frederico Marranghello

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Revisão: João Francisco de BorbaRevisão de conteúdo: Fabricio Ferrari

Projeto gráfico, capa e diagramação: J. I. Venera

Conselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho EditorialConselho Editorial

Dr. André Luis Ramos Soares (UFSM)Dr. Antônio Emilio Morga (UFAM)

Dra. Casimira Grandi (UnTn - Universidade de Trento)Dra. Clara Dornelles (UniPampa)

Dr. José Bento Rosa da Silva (UFPE)Dr. José Roberto Severino (UFBA)Dr. Lourival Andrade Jr. (UFRN)

Dr. Pedro de Souza (UFSC)Drndo. Raquel Alvarenga Sena Venera (Univille)

Msc. José Isaías Venera (Univali)

EditoresIvana Bittencourt dos Santos Severino

José Isaías VeneraJosé Roberto Severino

Rua Lauro Müller, n. 83, centro | Itajaí | CEP. 88301.400Fone/Fax: (47) 30455815

Marranghello, Guilherme Frederico Estrelas de nêutrons / Guilherme Frederico Marranghello. – Itajaí, SC: Casa Aberta, 2014.

76 p. ; il. color. ;

Bibliografia ISBN 978-85- 62459-53-5

1. Estrelas de nêutrons. 2. Astrofísica nuclear. 3. Raios X (Emissão).4. Movimento das estrelas. I. Título.

CDD 523.8 21. ed.

M358

Índices para catálogo sistemático:1. Estrelas : Estrelas de nêutrons 523.8

Ficha catalográfica elaborada por Helka Sampaio - CRB: 5/1432.

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O presente trabalho foi realizado com apoiodo Programa Observatório da Educação, daCoordenação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior – CAPES/Brasil.

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Sumário

Prefácio

1 – Introdução

2 – Evolução Estelar

3 – A História das Estrelasde Nêutrons

4 – Propriedades de Estrelas deNêutrons

5 – Física Nuclear em Estrelas deNêutrons

6 – Experimentos

7 – Alguns Fatos

8 – Considerações Finais

9 – Sites da Internet

10 – Conceitos Úteis

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Prefácio

Graduei-me bacharel em Física pela Universi-dade Federal do Rio Grande do Sul em 1998, mes-mo ano em que iniciei o curso de mestrado em Físi-ca Nuclear, seguido de um doutorado na mesmaárea. Devido às aplicações de meus modelos teóri-cos ao estudo sobre estrelas de nêutrons e o fascínioque estes objetos me despertaram, meu trabalhoevoluiu para estudos astrofísicos, rendendo-lhe o tí-tulo Transição de fase em estrelas de nêutrons e aemissão de ondas gravitacionais para minha tese dedoutorado, em 2003. Entre 2004 e 2005, realizeiestudos de pós-doutorado no Observatório de Nice,na França. Em 2006, continuei minhas pesquisas noInstituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em São Josédos Campos-SP. Desde 2006, trabalho na Universi-dade Federal do Pampa, em Bagé-RS.

Este livro descreve, de forma mais ampla e comuma linguagem mais abrangente, os estudos queforam realizados ao longo de uma, ainda curta,

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carreira. Sendo assim, tem como finalidade popula-rizar e difundir os trabalhos que são realizados den-tro das instituições de pesquisa que, na maioria dasvezes, não chegam ao conhecimento público.

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1 – IntroduçãoNão podemos começar este livro senão fazen-

do-nos uma pergunta: O que são estrelas de nêu-trons? Para responder esta pergunta, devemos fazeruma pequena revisão histórica sobre a física dos cons-tituintes básicos da matéria, o que nos leva à Gréciaantiga. Por volta do ano 450 a.C., Demócrito cha-mou de átomo, que em grego significa indivisível, oelemento mais fundamental da matéria. Nesta épo-ca, Demócrito ainda não imaginava o que deveriaser este elemento, mas tinha certeza que, ao dividir-mos um material em pedaços cada vez menores,deveríamos chegar à algo, tão pequeno e fundamen-tal, que não pudesse mais ser dividido.

Desde esta época, da Grécia antiga, uma daspaixões dos físicos tem sido destruir a matéria empedaços cada vez menores, a fim de encontrar esteconstituinte fundamental da natureza. Mas, Demó-crito ainda teria que esperar até o final do século XIXpara que os físicos encontrassem este constituintefundamental da da matéria, este minúsculo tijolo que

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acreditavam ser a base para toda a física: o átomo.No início do século XX, o físico inglês Joseph

John Thomson, que foi laureado com um prêmioNobel de Física pelo estudo da condução de eletrici-dade em gases, propôs um modelo para o átomoque ficou conhecido como o modelo de Pudim deAmeixas. Nesta época, Thomson já havia descober-to a existência do elétron. Seu modelo atômico des-crevia estas partículas, portadoras de carga elétricanegativa, distribuídas uniformemente dentro de umapasta esférica com carga positiva, daí a semelhançacom um pudim de ameixas.

Ernest Rutherford, outro físico inglês, ex-estudante de Thomson e também vencedor de umprêmio Nobel1, realizou, em 1911, um experimentoque resultou no fim do modelo de Pudim de Amei-xas. Rutherford mostrou que a matéria não deveriaestar distribuída uniformemente como um pudim decarga positiva, mas sim, concentrada em regiõesmuito pequenas, chamadas de núcleo, e rodeadas poruma nuvem com minúsculas partículas de carga nega-tiva. Dividindo o que se acreditava ser indivisível, LordeRutherford formulou um novo modelo no qual umátomo, que possui um tamanho médio aproximada-mente igual a 10-10 metros, tem praticamente toda suamassa, além de toda sua carga positiva, concentradas

1 Rutherford recebeu o prêmio Nobel de Química em1908.

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em uma região aproximadamente igual a10-15 metros.

Figura 1: A evolução dos modelos atômicos desde a ideiade Dalton (esferas rígidas) até o modelo de ErwinSchrödinger.

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-2N3mIMIU1_k/UZZEEa8QbLI/AAAAAAAAAAc/fJq9s9bVG0I/s1600/image%5B31%5D.png

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A Física Atômica ainda estava engatinhandoquando a Física Quântica apareceu revolucionandoas pesquisas e descrevendo modelos cada vez maiselaborados para os átomos. Muitos foram os físicoslaureados com o prêmio Nobel de Física: Max Planck,em 1918, pela formulação do quantum de energia;Niels Bohr, em 1922, por um modelo atômico maiselaborado; Werner Heinsenberg, em 1932, pela cri-ação da mecânica quântica; Erwin Schrodinger e PaulAdrien Maurice Dirac, em 1933, por uma teoria atô-mica extremamente avançada. Entretanto, foi em1935 que o inglês James Chadwick recebeu o prê-mio pela descoberta de uma partícula que não pos-sui carga elétrica e que está presente no núcleo atô-mico, o nêutron. Se o átomo já havia sido dividido,em 1932, quando Chadwick fez a descoberta donêutron, o próprio núcleo do átomo também estavasendo dividido entre prótons e nêutrons.

Agora, eram três os constituintes fundamen-tais da matéria: o elétron, com carga elétrica negati-va, o próton, com carga elétrica positiva, e o nêu-tron, com carga elétrica nula. Desse modo, os ele-mentos do núcleo atômico não podem estar unidospela força elétrica, uma vez que o nêutron não apre-senta carga elétrica e, os prótons, com suas cargaselétricas iguais, se repeliriam. Sendo assim, o prótone o nêutron devem estar ligados dentro do núcleopor uma força de atração mais forte que a força elé-trica de repulsão, o que lhe rendeu exatamente o

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nome de Força Forte. Essa é a força de ligação dosconstituintes do núcleo, mas que, curiosamente, nãoatinge os elétrons. Como físicos adoram criar mode-los para descrever o comportamento da matéria,iniciou-se o período dos modelos nucleares.

Nesta nova era de descobertas sobre as partí-culas nucleares, apareceram outras partículas, me-nos famosas que os prótons, nêutrons e elétrons, masde grande importância nos estudos dos processos fí-sicos que nos cercam. Estas partículas são criadas quan-do duas outras partículas, que podem ser prótons ouelétrons, colidem. Utilizando a famosa fórmula deEinstein para a equivalência entre massa e energia,E=mc², a energia de colisão pode criar diferentes par-tículas. Hoje, conhecemos uma infinidade de partícu-las como os píons, káons, sigmas, lambdas, múons,neutrinos, dentre muitos outros. Um dos físicos maisimportantes na pesquisa sobre a Força Forte foi o ja-ponês, Hideki Yukawa, que também recebeu o prê-mio Nobel de Física, em 1949, por seus trabalhos refe-rentes ao estudo da força nuclear.

Todas estas partículas, as quais acreditávamosserem finalmente os constituintes fundamentais damatéria e que seriam indivisíveis, foram classificadasde acordo com o tipo de força responsável por suainteração com a matéria. Os Hádrons são aquelesque interagem através da Força Forte como os prótonse nêutrons. Como possuem massa, tambéminteragem através da força gravitacional e, quando

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possuem carga elétrica, também interagem por meioda força Coulombiana (como também é conhecidaa força elétrica). Os léptons (elétrons e múons) tam-bém podem interagir através das forças gravitacionale Coulombiana, mas não interagem pela Força For-te, mas sim por meio de uma outra força, que nãopoderia ter outro nome senão Força Fraca, pois amagnitude desta força é extremamente inferior àForça Forte.

Em 1964, quando novamente acreditava-seter encontrado o constituinte fundamental da maté-ria, Murray Gell-Mann e Yuval Ne’eman propuse-ram uma regra para descrever um conjunto de par-tículas elementares. Logo em seguida, Gell-Mann eGeorge Zweig, que trabalhavam de forma indepen-dente, chegaram à conclusão que os Hádrons deve-riam ser constituídos por partículas ainda menores emais elementares que foram chamadas de Quarks.Hoje, são seis os quarks conhecidos, chamados peloseu nome em inglês de: up, down, strange, charm,top e bottom. O próton, por exemplo, é formadopor uma combinação entre dois quarks up e umquark down, enquanto o nêutron é formado por doisquarks down e um quark up.

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Figura 2: As estruturas do próton (esquerda) e do nêutron(direita) como conhecemos hoje por meio da Teoria de Quarks.

Fonte: https://www.sciencenews.org/article/standard-model-gets-right-answer-proton-neutron-masses

Evidências experimentais da existência dosquarks já foram obtidas utilizando técnicas semelhan-tes àquelas utilizadas por Rutherford no início do sé-culo. Atualmente, existem gigantescos aparatos co-nhecidos como colisionadores de partículas nos quaisnúcleos atômicos são jogados uns contra os outroscom a finalidade de estudar as propriedades da ma-téria. Quando esta matéria encontra-se concentradade uma forma tão densa que poderíamos esquecertodo o trabalho realizado anteriormente e falarmosapenas das interações dos quarks. Neste estado damatéria não existiriam nêutrons nem prótons, ape-nas um plasma, ou pasta, de quarks e glúons, quesão os responsáveis pela interação entre dois quarks.

Mas a pergunta que devemos nos fazer é:

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o que toda essa história tem a ver com o estudo deestrelas de nêutrons? O nome estrela de nêutronspode nos dar a falsa impressão de que esta seja umaestrela composta unicamente por nêutrons. Entre-tanto, apesar desta ideia não ser correta, já serve comoprimeira abordagem ao problema, assim como foiidealizada logo após a descoberta do próprio nêu-tron por Landau, ainda em 1932. Este objeto podeser descrito de forma ainda simplificada, porém umpouco mais precisa do que está descrita acima, comoum gigantesco núcleo atômico: uma esfera com apro-ximadamente 10 km de raio e uma massa levemen-te superior àquela do Sol, que possui um raio de700.000 km. Isto faz com que a densidade de umaestrela de nêutrons atinja valores de 1015 g/cm³ (leve-mente superior à densidade encontrada no interior dosnúcleos atômicos) e uma atração gravitacional, em suasuperfície, cerca de 10¹¹ vezes maior do que a atraçãoda gravidade que sentimos na Terra.

Dentro deste gigantesco núcleo atômico, com-posto por cerca de 1057 partículas, encontramos o nêu-tron em grande quantidade, mas também encontra-mos os prótons, os elétrons e até mesmo outros adernos,como as partículas lambda e sigma. Na superfície des-tas estrelas, como a densidade é mais baixa, podemosencontrar núcleos inteiros, como os núcleos de ferro.Da mesma forma, a região central destas estrelas émuito densa devido à pressão exercida pelas camadassuperiores. Caso esta densidade atinja valores críticos

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muito altos, podemos ter em seu interior um caroçoformado por aquele plasma de quarks e glúons que osgrandes colisionadores de partículas desejam estudar.

Figura 3: Estrutura hipotética de uma estrela de nêutrons comum caroço composto por quarks livres envoltos em uma mantade matéria nuclear (nêutrons, prótons, elétrons, muons,sigmas, lambdas e cascatas.) E, por fim, contida em uma finacasca composta essencialmente por átomos de ferroremanescentes da evolução estelar.

Fonte: Desenho elaborado pelo autor.

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2 – Evolução EstelarDe maneira direta e usual diz-se que estrelas

de nêutrons são as cinzas remanescentes, ou um dosprodutos finais da evolução estelar. Na verdade, existeum longo caminho, que pode durar entre 106 e 10¹²anos, que leva a este produto final. O destino finalde uma estrela vai depender basicamente da suamassa inicial, levando a diferentes caminhos quepodem terminar sob a forma de uma Anã Branca,de uma Estrela de Nêutrons ou de um Buraco Ne-gro.

O nascimento de uma estrela ocorre quandouma grande nuvem de gás, formada basicamentede Hidrogênio, começa a se contrair devido à atra-ção gravitacional entre estas moléculas de H2. FoiJames Jeans1 quem determinou o valor da massaque esta nuvem deve ter, para que uma ligeira per-turbação possa dar origem a uma contração mais

1 James Jeans (1877-1946) não deve ser confundido com oator James Jean (1931-1955).

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violenta e a formação de uma estrela. Uma, agoraentão, esfera de H2, que ainda não brilhe como umaestrela, começa a se contrair e fazer com que o cen-tro desta futura estrela fique cada vez mais denso.

Hans Albrecht Bethe desvendou o mistériosobre a produção de energia em estrelas, o que lherendeu um prêmio Nobel em 1967. Quando o gásde Hidrogênio que se encontra na região mais cen-tral atinge uma densidade muito elevada ocorre umprocesso conhecido por fusão termonuclear, pelo qualHidrogênios são fundidos de forma a originar núcleosde Hélio He4. Esse processo de fusão libera uma gran-de quantidade de energia que é capaz de parar o co-lapso do gás e assim dar origem ao nascimento de umaestrela. O brilho que enxergamos são os fótons que,originados nas reações nucleares do interior da estrela,escapam e chegam até nós.

Esse processo segue até o ponto no qual prati-camente todo o gás de Hidrogênio já tenha sido con-vertido em Hélio que, por ter maior massa que oHidrogênio, localiza-se na região mais central da es-trela, enquanto o restante do gás, que não foi utilizadonas reações, localiza-se na região mais superficial. Oque acontece deste ponto em diante não passa de umarepetição desse processo, com uma pequena troca deatores. Agora será o gás de Hélio que vai se contrairaté o ponto no qual um novo processo de fusãotermonuclear terá início, originando elementos cadavez mais pesados como o Carbono C12, o nitrogênio

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N14 e o oxigênio O16. Estes processos devem se suce-der, deixando o interior da estrela com uma estruturade camadas, formato semelhante a uma cebola no qualencontraremos os elementos mais pesados na regiãomais central da estrela e os elementos mais leves emuma região mais superficial.

Durante estes processos de fusão termo-nucle-ar, a estrela se expande e se contrai diversas vezesequilibrando a pressão exercida pela gravitação e aque-la gerada pelas reações. Nestas diferentes etapas deevolução, as estrelas passam a ser conhecidas por gi-gantes e supergigantes vermelhas devido ao seu tama-nho e à mudança de sua cor. Essa mudança da corestá relacionada à temperatura da estrela e, por fim,ao elemento químico que está sendo processado emseu interior.

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Figura 4: Processo de evolução estelar, em ordem da esquerdasuperior até a direita inferior. Em uma primeira etapa, oHidrogênio é transformado em Hélio.Logo após, é a vez do Hélio ser convertido em Carbono,Nitrogênio e Oxigênio. Por fim, elementos mais pesados sãoformados no interior da estrela.

Fonte: Desenho elaborado pelo autor.

Este processo não continua infinitamente, mastermina quando o elemento Ferro é formado na re-gião mais central da estrela. Isso acontece porque a

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fusão de Ferro em elementos mais pesados não é maisexotérmica, mas sim endotérmica, o que significa dizerque estas reações, que até este momento liberavamenergia, sustentavam o colapso das estrelas e nos for-neciam seu espetáculo no céu, agora fazem exatamenteo contrário, elas necessitam de energia para acontecer.Neste momento, em que a estrela deixa de produzirseu combustível, a matéria que está nas camadas maisexternas das estrelas vai colapsar (cair) em direção àregião central composta pelo Ferro.

Quando toda a matéria estelar começa a cairem direção ao caroço de ferro tem origem um dosmais fantásticos e misteriosos eventos da natureza, aexplosão de uma supernova: uma onda de choque seforma a apenas alguns quilômetros da superfície docaroço de Ferro enquanto a matéria, que estava nasuperfície, continua caindo em sua direção. Muitos fe-nômenos acontecem durante uma supernova e mui-tas são as teorias para tentar explicá-las, entretanto, oque acontece no final é bem conhecido: a matéria ex-terna, ao cair sobre o caroço de Ferro, é expelida emuma violenta explosão e se espalha pelo universo que,anteriormente composto por um gás de Hidrogênio, eagora, povoado também por uma pequena fração deHélio, Carbono, Nitrogênio, Oxigênio, Silício entreoutros elementos. Desta forma são produzidos oselementos químicos que, após viajarem em grandevelocidade através do Universo, são encontrados aquina Terra, e do qual somos formados.

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A estrela de nêutrons, propriamente dita, co-meça a nascer quando um caroço de Ferro é formadono interior destas estrelas e assim permanecerá prati-camente intacto após a explosão da supernova. Estecaroço, que é impulsionado a grandes velocidades, cercade 500 a 1000 km/s após a explosão, sofre uma meta-morfose devido à energia liberada em todo esse pro-cesso, fazendo com que os núcleos de Ferro sejam dis-solvidos em prótons, nêutrons, elétrons... E assim teránascido uma estrela de nêutrons com a forma de umgrande núcleo.

Lembramos que o processo de evolução estelardepende da massa da estrela inicialmente formada porH2. Primeiramente, o tempo de evolução destas estre-las será menor quanto maior for a sua massa inicial,isso porque uma maior massa deve gerar uma maiorcompressão da estrela, fazendo com que ela atinja maisrapidamente as densidades críticas para a fusão de ele-mentos químicos mais pesados. Outro fato extrema-mente importante é que o processo descrito até aquidiz respeito apenas às estrelas com massa maior que,algumas vezes, maior que a massa do Sol. Estrelas comoo nosso Sol devem interromper o processo de fusãotermonuclear antes mesmo de atingir o elemento Fer-ro. Estrelas, de pouca massa (< 8 massas solares), queseguem este caminho, terminam sua vida expelindoparte de sua superfície, de maneira menos espetacularque uma supernova e deixando estrelas com massaspróximas à massa do Sol, porém, com um raio de al-

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guns poucos milhares de quilômetros. Estes objetos sãoconhecidos como anãs brancas.

A matéria ficou tão compactada nestas estrelasque a pressão exercida pelos elétrons que a com-põem resiste ao colapso das camadas superiores. Opróprio nome, anãs, descreve seu tamanho, aproxi-madamente igual ao tamanho da Terra. Seu brilhodifere do brilho das estrelas que ainda possuem suafornalha termonuclear ativa (acesa) e, como a corda estrela depende essencialmente da temperaturadesta fornalha, as anãs brancas apresentam umespectro de cores bem distinto de outras estrelas.

Figura 5: O Sol deve passar pelo estágio de gigante vermelhaem 5 bilhões de anos antes de terminar sua vida como umaanã branca. Nesta fase, o Sol será muito maior e a sua atraçãogravitacional deverá engolir os planetas mais próximos dosistema solar, inclusive a Terra.

Fonte: Astro.if.ufrgs.br

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Estrelas com massa maior que 20 vezes a mas-sa do Sol evoluem rapidamente, atingem a etapa fi-nal de sua vida, explodem como uma supernova.Entretanto, devido à sua gigantesca atraçãogravitacional, formam como produto final os famo-sos Buracos Negros, de onde nada pode escapar,nem mesmo a luz.

2.2 Buracos NegrosBuracos negros podem ser divididos em três

categorias: estelares, são os produtos finais da evolu-ção estelar, conforme vimos até aqui, e possuementre 5 e 100 massas solares; buracos negros demassa intermediária podem atingir até cerca de 1000massas solares; ainda existe a classe de buracos ne-gros supermassivos, localizados no centro das galáxi-as, que podem atingir mais de um milhão de vezes amassa solar.

Buracos negros não possuem uma superfície,em seu lugar aparece o que chamamos de horizontede eventos. Como já indica o nome, este horizontedefine a região a partir de onde não recebemos maisinformação do que ocorre em seu interior. Comonão podemos ver um buraco negro diretamente,deve-se inferir sua existência indiretamente. Umaforma de fazer isto é estudando o movimento de pla-netas, estrelas e galáxias que possam estar orbitandoao seu redor. Outra forma bastante interessante de

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descobrir um buraco negro é feita ao observar ma-téria que possa estar caindo em sua direção (antesdo horizonte de eventos) devido à proximidade deuma estrela e, esta sim, emitindo radiação em dife-rentes regiões do espectro2.

Figura 6: Desenho do que deve ocorrer quando a matéria deuma estrela está sendo capturada por um buraco negro eemitindo radiação. Crédito: Nasa/CXC/M.Weiss

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

2 Para saber um pouco mais sobre o espectro de radiação,veja o último capítulo deste livro.

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Figura 7: Intensidade de raios-X, representada em cor falsa,feita pelo Telescópio Espacial Chandra, do qual falaremosposteriormente, de um candidato a buraco negro. Crédito:NASA/SAO/CXC/J.McClintock & M.Garcia

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

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3 – A História dasEstrelas de Nêutrons

A história das estrelas de nêutrons tem seu iní-cio com o físico de maior renome mundial, AlbertEinstein, com o desenvolvimento da Teoria da Rela-tividade Geral. Isto porque não podemos estudarestes objetos com a Teoria da Gravitação Clássica deNewton. Estrelas de nêutrons são objetos tão densosque a sua força gravitacional distorce tão fortementea estrutura do espaço à sua volta, que exige que ascorreções estudadas por Einstein sejam incluídas noscálculos de qualquer uma de suas propriedades. Masa história ainda exigiu mais tempo, e muito desen-volvimento cientifico, para que estes objetos extre-mamente compactos fossem concebidos teoricamen-te pela mente de físicos e astrofísicos. Logo após adescoberta do nêutron, por Chadwick, em 1932,começaram a ser elaboradas as primeiras ideias deque tal objeto pudesse ser o produto final de umaevolução estelar que terminara com a explosão de

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uma supernova. Essa proposta foi feita por WalterBaade e Fritz Zwicky, em 1934, considerando que aenergia adquirida pelo caroço durante o colapso fi-nal de uma estrela era suficiente para impulsionaruma supernova.

Figura 8: Evolução final de uma estrela que, após chegar aoestágio de Gigante Vermelha, explode como uma supernovae deixa uma estrela de nêutrons remanescente. Crédito: NASA/CXC/SÃO

Fonte: Astro.if.ufrgs.br

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Figura 9: Imagem da supernova 1987A registrada pelo satéliteChandra. Crédito:NASA/CXC/SAO/PSU/ D.Burrows et AL.

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

Foi em 1939 que J. R. Oppenheimer, G. M.Volkoff e R. C. Tolman encontraram uma soluçãopara as equações de Einstein que se adequava per-feitamente ao estudo de estrelas de nêutrons. Estasequações descrevem a estrutura de uma estrela esfé-rica na qual a pressão exercida pela gravitação écontrabalançada pela pressão dos nêutrons (dentreoutras partículas) que formam a estrutura interna da

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estrela. Estrelas de nêutrons são mantidas contra apressão exercida pela força gravitacional de formasimilar às anãs brancas, entretanto, ao invés dos elé-trons estarem extremamente compactados, são osnêutrons, prótons e outros hádrons que exercempressão contra o colapso gravitacional. Mais tarde, eaté hoje, ainda existem trabalhos que utilizam as equa-ções de Einstein para obter resultados mais realísticosnos quais a inclusão de características importantes sãoacrescentadas, como a rotação da estrela e a presen-ça de um campo magnético.

Novamente, uma teoria teve que esperar muitotempo por sua confirmação, pois, foi apenas em 1967que o primeiro pulsar foi detectado. Pulsar é o nomeque usamos para falar de uma estrela de nêutronsem movimento de rotação. O nome pulsar está inti-mamente relacionado a esse movimento de rotação.Como um farol que indica o caminho aos navegantes,uma estrela de nêutrons em rotação emite uma luzmuito bem direcionada, sendo detectada na Terracomo pulsos isolados, daí o nome Pulsar. AnthonyHewish havia desenvolvido um novo radiotelescópiopara estudar quasares quando, um mês após ter en-trado em operação, sua estudante, Jocelyn Bell, no-ticiou a detecção de uma fonte de pulsos periódicos.Mais um trabalho que recebeu o prêmio Nobel, em1974. Logo após, foram detectados cerca de 250 pul-sares, durante os anos 70, que agora já ultrapassam onúmero de 1.500 pulsares.

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A história ainda reservou ao ano de 1974 adescoberta de um pulsar que ficou conhecido pelosnomes de seus descobridores, Russel Hulse e JoeTaylor. Este pulsar não está viajando sozinho peloUniverso, ele está orbitando ao redor de outra estre-la, o que chamamos de um sistema binário. Este sis-tema binário obteve notoriedade devido a um estu-do de 20 anos em que foi determinada a reduçãodo período orbital (tempo que uma estrela leva pardar uma volta completa ao redor da outra). O resul-tado mais incrível deste trabalho está no fato destedecaimento concordar com as previsões realizadaspor meio da teoria de Einstein com menos de 1% deerro. Para Einstein, este decaimento é causado pelaemissão de Ondas Gravitacionais, das quais falare-mos mais tarde. Até hoje, esta é a maiorevidência da existência destas ondas, além de umincrível teste sobre a teoria de Einstein. Russel e Taylorforam agraciados com o prêmio Nobel em 1993.

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Figura 10: Os dados obtidos por Russel e Taylor para odecaimento do período orbital, comparados com a previsãoteórica realizada utilizando as equações de Einstein para aperda de energia do pulsar devido à emissão de ondasgravitacionais.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/PSR_B1913+16

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Figura 11: Russel Hulse e Joe Taylor.

Fonte: http://th.physik.uni-frankfurt.de/~jr/physpic groups.html

Até poucos anos, pulsares eram encontradosem sistemas binários nos quais a sua companheirapoderia ser uma anã branca ou uma outra estrelanormal. Recentemente, foi encontrado o primeirosistema binário onde ambas as estrelas foram detec-tadas direta e independentemente como pulsaresativos. O sistema é formado pelos pulsares PSRJ0737-3039A e PSR J0737-3039B que possui umaórbita de apenas 2.4 horas. Esta descoberta, que

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ainda necessita a coleta de dados durante alguns anos,promete dar novo impulso ao estudo de estrelas denêutrons, isto porque ela deverá impôr relevantesconsiderações sobre sua estrutura. Após coletados eanalisados, os dados provenientes deste sistema de-vem ser capazes de nos fornecer uma medida preci-sa da massa e do raio destas estrelas. Atualmente, asmedidas de massa e, principalmente, de raio de pul-sares, possuem uma incerteza muito grande, pois sãomuito difíceis de serem medidos.

Ainda podemos citar outras descobertas rele-vantes, realizadas apor intermédio de diferentes ins-trumentos, como Parkes, na Austrália, Jodrell Bank,em Cambridge, Arecibo, em Porto Rico ou até mes-mo pelo Telescópios Espaciais Hubble e Chandra.Estes objetos incluem o pulsar mais rápido, o pulsarde maior massa ou o de menor raio. Todas estas des-cobertas têm grande relevância no estudo sobre aestrutura interna destes objetos, a qual ainda perma-nece um mistério após tanto tempo de pesquisa.Estas consequências serão discutidas a seguir.

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4 – Propriedades deEstrelas de Nêutrons

Estrelas de nêutrons são objetos que possuemalgumas características bastante conhecidas e outrasque ainda são um mistério para os cientistas. Atual-mente, já conhecemos mais de 1.500 pulsares queestão espalhados pela nossa galáxia e, alguns pou-cos, em sua vizinhança.

Entretanto, estudos mostram que eles devemexistir em um número muito maior, que pode che-gar a 250.000 dentro da Via Láctea, então, porquedetectamos um número tão inferior? A resposta ésimples quando conhecemos algumas das proprie-dades dos pulsares. A primeira delas é a dificuldadeque possuímos de enxergá-los no espectro visível,mesmo com os telescópios mais poderosos. Isto acon-tece porque, diferentemente das estrelas que conhe-cemos, não existe mais nenhum tipo de reação nu-clear (responsável pelo brilho das estrelas) dentro dospulsares. Os pulsares também são fontes muito

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pequenas, lembre-se que um pulsar é cerca de 70.000vezes menor que o nosso Sol. O pulsar JO437-4715é o pulsar mais brilhante, e também o mais próximode nós. Ele está localizado a cerca de 140 parsecs dedistância, o que significa aproximadamente4.200.000.000.000.000 de quilômetros, ou 107 ve-zes a distância entre a Terra e o Sol.

Mas os pulsares são conhecidos por emitiremradiação sob outra forma, principalmente nas faixasde raios-X e de rádio. Entretanto, devido a um cam-po magnético muito forte existente nos pulsares, estaradiação não é emitida em todas as direções, masapenas em uma direção específica determinada pelocampo magnético, como se a radiação fosse águaconduzida por dentro de uma mangueira, que fariamo papel do campo magnético e da radiação. Se girar-mos esta mangueira, da mesma forma que um pulsarestá em rotação, sem levantá-la ou abaixá-la, estare-mos direcionando a água da mesma forma que o cam-po magnético da estrela direciona a radiação. O queacontece então é que o pulsar apenas será detecta-do se este jato de radiação atravessar a Terra ondeestão os detectores.

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Figura 12: Ilustração sobre a estrutura de um pulsar, na qualos eixos de rotação e campo magnético estão desalinhados. Ocone de radiação do pulsar atravessa a Terra, podendo serdetectado.

Fonte: http://www.spaceref.com/news/viewpr.html?pid=2331

Pulsares também emitem radiação em outrasregiões do espectro, como na região dos raios gama.Logo após a descoberta dos pulsares através daradioastronomia, os pulsares de Vela e do Caranguejoforam descobertos por meio do estudo de raios gama.Atualmente, mesmo que já conheçamos mais de 1.500pulsares, apenas sete deles são detectados através des-te tipo de radiação. Um exemplo de como os pulsaresemitem vários tipos de radiação está explicitado na fi-gura abaixo.

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Figura 13: A figura mostra a intensidade da radiação emitidapor três diferentes pulsares nas regiões do espectro de rádio,óptico, de raios-X e gama ao longo do tempo. Crédito: NASA/HEASARC

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

Uma propriedade dos pulsares que somos ca-pazes de determinar por meio de observações, ape-sar de alguns possuírem uma grande incerteza emsuas medidas, é a massa. A maioria dos pulsares

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possuem massas muito próximas a 1.4 vezes a massado Sol. Entretanto, recentemente têm sido desco-bertos pulsares com massas muito maiores e muitomenores que este valor e os pulsares conhecidos atéhoje podem possuir massas que variam entre 1 e 2vezes a massa solar.

Figura 14: As massas de alguns pulsares conhecidos com suasbarras de erro. A faixa vertical marca o centro da distribuição dasmassas dos pulsares próxima a 1.4 massas solares.

Fonte: http://www.astro.washington.edu/users/ben/a510/NSTARS.new.html

Estrelas de nêutrons possuem campos mag-néticos um trilhão de vezes maiores que aqueles en-

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contrados na Terra. Porém, ainda existe uma classede estrelas de nêutrons capazes de gerar camposmagnéticos mil vezes ainda mais fortes. Este tipo deestrelas de nêutrons, cujo estudo alcança todos oslimites da relatividade e da mecânica quântica, sãoconhecidos como Magnetares.

Em março de 1979, duas espaçonaves russasque orbitavam após realizarem uma missão espacialforam atingidos por uma grande quantidade de rai-os gamas. Alguns segundos mais tarde, um satéliteda Nasa que orbitava o Sol também foi atingido. Fi-nalmente, alguns laboratórios americanos, além desete satélites russos, também detectaram a incrívelquantidade de radiação que atravessou o nosso siste-ma solar. Algo assim já era conhecido, entretanto, comuma energia 100 vezes menor e, felizmente, nenhumsatélite sofreu avarias mais graves. Apenas em 1998,Duncan, Thompson e Kouveliotou, após a detecçãode outros eventos, mais fracos que o primeiro e queforam detectados vindos da mesma direção no céu,propuseram um sistema por meio do qual estrelas denêutrons supermagnetizadas pudessem emitir estas ex-plosões de raios gama. Estes objetos ficaram conheci-dos como magnetares e estas explosões de raios gamaseriam consequências de um abalo sísmico ocorridono interior destes objetos, o equivalente a um terre-moto que alcançaria facilmente 20 vezes a força deum abalo sísmico na Terra. Já são 12 os candidatos amagnetares em nossa galáxia ou próximos a ela.

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Segundo os pesquisadores que formulam teo-rias a respeito deste estranho objeto, um magnetardeve evoluir e apagar-se muito mais rápido que umaestrela de nêutrons normal, tornando-se dificilmentedetectáveis e podendo estar, aos milhares, escondi-dos em nosso universo.

Figura 15: Concepção artística de um magnetar e as linhas deseu campo magnético. Crédito: Dr. Robert Mallozzi, Universityof Alabama in Huntsville.

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

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5 – Física Nuclear emEstrelas de Nêutrons

A física nuclear desempenha papel fundamentalno estudo de estrelas de nêutrons. Como já introdu-zimos no início deste livro, podemos encarar estesobjetos como núcleos gigantes, com cerca de 1057

partículas. Sendo assim, devemos esperar que algu-mas das propriedades nucleares também estejampresentes nestas estrelas. É sabido, da física nuclear,que os núcleos de elementos mais leves possuemaproximadamente o mesmo número de prótons enêutrons, entretanto, quanto maior e mais pesadofor o núcleo, maior é a diferença entre a quantidadede prótons e nêutrons, sendo o último, em maiorquantidade. Por isso, é fácil entendermos porque asestrelas de nêutrons possuem este nome, mas valelembrar que prótons, elétrons e outras partículas po-dem estar presentes em seu interior.

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Figura 16: Na figura acima aparecem os núcleos conhecidosrelacionados de acordo com o seu número de prótons Z e onúmero de nêutrons N. A linha que aparece em azulcorresponde a um número igual de prótons e nêutrons Z=N.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Neutron_number

Recentemente, foram encontrados alguns ob-jetos cujas características diferem um pouco daque-las encontradas em estrelas de nêutrons normais.

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O raio destes objetos compactos possui um valorinferior ao raio encontrado para a maioria dos pul-sares. O raio das estrelas de nêutrons não é medidodiretamente, mas sim, determinados a partir deoutras medidas que levam em conta a distância e atemperatura do objeto. O raio inferido, em particu-lar, para a estrela RXJ1856.5-3754, é aproximada-mente igual a 6 km, enquanto estrelas de nêutronscom massa similar a deste objeto (1 massa solar)possuem raios superiores a 10 km. O problemaencontra-se no fato de não ser possível reproduziresta estrutura a partir de modelos teóricos tradicio-nais da física nuclear. A única forma de descrever,teoricamente, uma estrela com tais características,seria admitir que seu interior não é composto porprótons, nêutrons, sigmas ou lambdas, mas sim, com-posto por quarks livres. Na verdade, os quarks quesempre estiveram armazenados em pequeninas sa-colas, em números de 3 para os bárions e 2 para osmésons, estariam agora confinados em uma gigan-tesca sacola com cerca de 1057 quarks. Como osquarks podem ser mais comprimidos do que a ma-téria nuclear ordinária (aquela composta por prótons,nêutrons, elétrons etc.), estrelas formadas unicamentepor quarks devem ser menores do que as estrelas denêutrons que descrevemos até o momento.

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Figura 17: Imagem em cor falsa do pulsar RXJ1856.5-3754,que apresenta características distintas da grande maioria dospulsares conhecidos. Observações feitas pelos telescópiosHubble e Chandra indicam um raio muito inferior ao raio deestrelas de nêutrons. Crédito: NASA/SAO/CXC/P.Slane et al.

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

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6 – ExperimentosUm dos experimentos que mais contribuem

atualmente ao estudo de estrelas de nêutrons é oObservatório Espacial de Raios-X Chandra, um sa-télite cuja órbita ao redor da Terra varia entre 16.000km e um terço do caminho entre a Terra e a Lua.Desenvolvido pela NASA e lançado ao espaço peloônibus especial Columbia, em 23 de julho de 1999,o Chandra foi desenvolvido para observar raios-Xde regiões altamente energéticas, como os remanes-centes de supernovas.

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Figura 18: Telescópio Espacial de Raios-X Chandra. Crédito:NASA/CXC/NGST.

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

O telescópio espacial Hubble ficou mundial-mente conhecido pelas belas imagens do Universo,que nos trouxe ao longo de sua viagem. Lançadoem 1990, o Hubble foi mantido em órbita até o ano2010. Além de belas imagens, o telescópio espacialtambém coletou inúmeros dados e, dentre suas di-versas contribuições, ajudou para o estudo de pulsa-res.

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Figura 19: Telescópio Espacial Hubble. Crédito: NASA

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Hubble_Space_Telescope

Figura 20: Conjunto de antenas que, juntas, formam o “VeryLarge Array Telescope” Crédito: S. Winfrey (U. Michigan),NRAO

Fonte: http://www.vla.nrao.edu/

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O observatório de ondas de rádio VLA (VeryLarge Array) é formado por 27 antenas que se loca-lizam no Novo México, EUA. Trabalhando em con-junto, esse gigantesco detector é um importante ins-trumento na pesquisa sobre os pulsares. Ficou po-pularmente conhecido no filme Contato, dirigido porRobert Zemeckis, adaptado do livro de mesmo nomeescrito por Carl Sagan. Assim como no filme, quan-do o sinal do primeiro pulsar foi detectado, compulsos igualmente espaçados, os cientistas acredita-ram estar recebendo sinais de seres extraterrestres.

Figura 21: Telescópio de Arecibo.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Arecibo_Observatory

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O maior observatório de radioastronomia é oArecibo, localizado em Porto Rico e fundado em no-vembro de 1963, ele possui um refletor esférico com305 metros de diâmetro. Suspenso por torres e ca-bos, a 150 metros de altura está uma plataforma quepesa 900 toneladas. Este detector opera em sinaisque variam de 50 a 10.000 megahertz. O Arecibotambém já estrelou no cinema, ao lado de JamesBond.

Atualmente, uma nova era inicia-se com a cons-trução de detectores de ondas gravitacionais. Comojá vimos antes, estas ondas estão previstas na teoriade Einstein, além de já ter sido obtido evidência desua existência ao analisarmos o pulsar de Hulse eTaylor. Existem diferentes tipos de detectores deondas gravitacionais, sendo divididos em detectoresinterferométricos e de massa ressonante. Ambosdetectores constituem, hoje, juntamente comcolisionadores de partículas, os experimentos nosquais a mais alta tecnologia está envolvida, em que aprecisão de cada componente é importante e levadaao seu limite. Também são alguns dos experimentosde maior investimento financeiro. Albert AbrahamMichelson recebeu o prêmio Nobel pela invençãodo interferômetro, a base para a detecção de ondasgravitacionais, em 1907. Um interferômetro consisteem um feixe de laser, dividido em dois braços que sereencontram, após refletirem em espelhos, antes deatingirem o detector. O detector irá enxergar um

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espectro de interferência que apresentará a soma dasondas provenientes de cada feixe. Se os feixes esti-verem em fase, ou seja, quando as cristas das ondasestão alinhadas, deveremos enxergar uma faixa lu-minosa, caso contrário, quando os feixes estão forade fase, e uma crista alinha-se ao vale da outra onda,deverá ocorrer a anulação da onda e uma faixaescura aparecerá no detector.

O processo de detecção de ondas gravitacionaisfaz uso desta propriedade dos interferômetros. Jun-tamente com os espelhos que refletem o laser, estãopresas grandes quantidades de massa. Quando umaonda atravessa o detector, ela deforma a estruturado espaço, empurrando as massas, de tal forma queo espectro de interferência observado no detectorirá se alterar. Esta alteração do conjunto de faixas deinterferência caracteriza a passagem de uma ondagravitacional.

Figura 22: O feixe é dividido no primeiro quadro, refletidopor cada massa nos quadros seguintes e analisado nofotodetector.

Fonte: Desenho elaborado pelo autor.

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Existem detectores interferométricos na Alema-nha, Japão, Austrália, Itália e EUA. O detector deondas gravitacionais Virgo é uma colaboração fran-co-italiana, localizado em Cascina, na Itália, apenasalguns poucos quilômetros de Pisa. O detector pos-sui dois braços de 3 km cada, mas o feixe de laserviaja várias vezes dentro de um túnel onde é feitovácuo para criar uma distância efetiva maior, umavez que a amplitude das oscilações causadas pela pas-sagem de uma onda gravitacional é proporcional aesta distância.

Figura 23: O Observatório europeu de ondas gravitacionaisVirgo, em Pisa.

Fonte: http://www.nikhef.nl/~vdbroeck/research.html

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Os detectores Ligo estão localizados nos Esta-dos Unidos, em Hanford e Livingston. Cada braçodos detectores possui 4 km de extensão. Sistemasavançados de tecnologia moderna sãoimplementados para reduzir o ruído na leitura dosdados. Os aparelhos destes detectores são bastantesensíveis e podem detectar eventos como terremo-tos ou simples caminhões cruzando uma rua. Paraevitar que algum evento qualquer seja confundidocom a passagem de uma verdadeira ondagravitacional, além de muita tecnologia, deseja-se quea onda seja detectada ao mesmo tempo por, no mí-nimo, dois detectores. Além disso, ainda devem serverificados quaisquer eventos que possam ter ocor-rido no mesmo instante em que a onda foi detecta-da, como, por exemplo, a explosão de umasupernova.

Figura 24 e 25: Os dois locais onde se encontram osinterferômetros laser para a detecção de ondas gravitacionaisLIGO, nos EUA.

Fonte 1: http://physicsworld.com/cws/article/news/2008/jan/16/cosmic-explosion-but-no-gravitational-wavesFonte 2: http://www.scientificamerican.com/article/gravitational-wave-ligo/

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O pioneiro no desenvolvimento de um equi-pamento para a detecção de ondas gravitacionaisfoi Joseph Weber que projetou e construiu o pri-meiro detector de ondas gravitacionais em 1965.Entretanto, seu projeto não foi baseado nainterferometria de Michelson, mas, sim, no quechamamos de massa ressonante. A ideia é, aomesmo tempo, genial e simples. Basta construiruma barra imensa que, ao ser atravessada por umaonda gravitacional, terá seus modos de oscilaçãoexcitados, como são excitados os modos de vibra-ção de um sino ou de um xilofone, e sua defor-mação detectada por sensores como os que ve-mos nas fotos a seguir. Weber acreditou ter detec-tado ondas gravitacionais, mas, infelizmente, aideia da detecção foi errônea.

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Figura 26: Joseph Weber acreditou ter detectado a passagemde uma onda gravitacional com sua barra ressonante cobertade detectores.

Fonte: http://www.scientificamerican.com/article/gravitational-wave-ligo/

Em 1965, o detector de Weber trabalhava emtemperatura ambiente, o que não ocorre atualmente.Os detectores mais modernos estão resfriados a tem-peraturas inferiores a 1 K (inferiores a -272°C). A ideiade barras ressonantes também foi praticamente des-cartada, dando início a uma nova geração de detectores,de forma esférica. No Brasil, a pesquisa sobre ondasgravitacionais está principalmente relacionada aodetector de esfera ressonante Mario Schenberg. A

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antena brasileira para detecção de ondas gravitacionaispossui uma esfera de 65cm de diâmetro, feita de umaliga de Cobre e Alumínio, pesa cerca de uma toneladae deverá ser resfriada a uma temperatura de 20 mK.Duas outras antenas idênticas à brasileira são o mini-GRAIL, na Holanda e SFERA, na Itália.

Figura 27: Foto do detector Mario Schenberg, localizado noestado de São Paulo. Acima da esfera pode-se ver o sistemade massas que diminuem a vibração do sistema.

Fonte: http://www.das.inpe.br/graviton/portugues.html

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Figura 28: Esquema do detector Schenberg onde a esfera demetal está inserida em uma câmara criogênica e suspensa porum sistema de amortecimento de vibrações.

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Laser_Interferometer_Space_Antenna

São vários experimentos espalhados pelo mun-do inteiro que procuram detectar as ondasgravitacionais. São experimentos no Brasil, Itália, Ale-manha, EUA, Japão e Austrália, mas nenhum tãoespetacular, ousado e promissor como o projeto dointerferômetro espacial LISA, que em inglês quer di-zer (Antena Espacial Interferométrica a Laser). Esteprojeto pretende colocar três naves espaciais, sepa-radas por uma distância fixa de 5.000.000 km, for-mando um gigantesco interferômetro. Como adistorção causada pela passagem de uma onda

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gravitacional é proporcional ao tamanho do percur-so do feixe de laser, teoricamente, estas oscilaçõesdevem ser mais facilmente visualizadas pelo LISA.Entretanto, é fácil imaginar a dificuldade de realizarum projeto tão ousado.

Figura 29: Desenho de como as três espaçonaves devemalinhar-se, formando o maior interferômetro jamais construído,orbitando ao redor da Terra.

Fonte: http://www.examiner.com/article/lisa-hopes-to-detect-gravitational-waves-for-the-first-time

Um sistema que deve ser detectado pelo LISA éo sistema binário RX J0806.3+1527, detectado pelotelescópio espacial Chandra, que mostra que a varia-ção de intensidade do espectro de raios-X varia comum período de 321.5 segundos. Isso implica que estesistema é formado por duas anãs brancas que estãoorbitando uma em volta da outra, a cada 5 minutos.

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Este tempo de órbita significa que estas estrelas estãoseparadas por apenas 150.000 km (um quinto da dis-tância entre a Terra e a Lua). De acordo com a teoriade Einstein, assim como o pulsar de Hulse e Taylor pro-duz ondas gravitacionais, este tipo de sistema tambémo produz, liberando grandes quantidades de energiatransportadas pelo universo com a mesma velocidadeda luz. Conforme o sistema perde energia, ele se apro-xima, diminuindo a distância e o tempo orbital. Obser-vações no espectro óptico e de raios-X indicam que operíodo de rotação deste sistema está diminuindo cer-ca de 0.0012 segundos a cada ano, o que significa umaredução da órbita de quase um metro por dia. A figuraabaixo mostra os dados coletados pelo Chandra, alémde uma imagem de como deveríamos ver este sistemamuito importante para o estudo das Ondas Gravita-cionais.

Figura 30: À esquerda, dados obtidos pelo Chandra queindicam a possível emissão de ondas gravitacionais pelosistema binário, à direita. Crédito: NASA/CXC/GSFC/T.Strohmayer; GSFC/D. Berry

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

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7 – Alguns Fatos

Figura 31: O pulsar Vela em cor falsa. Créditos: NASA/PSU/G.Pavlov et al

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

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A figura anterior mostra o Pulsar Vela. Jatosde partículas altamente energéticas podem ser vistosjuntamente com dois arcos que devem ser formadosdevido a uma onda de choque, causada pela fugade partículas. Os jatos de elétrons ou pósitrons, quesão as antipartículas dos elétrons, têm sua origem nacombinação entre uma grande velocidade de rota-ção e um intenso campo magnético presentes naestrela. Estes jatos alcançam cerca de 5 trilhões dequilômetros.

Figura 32: Pulsar do Caranguejo. Crédito: NASA/CXC/ASU/Je NASA/HST/ASU/J.

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

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Existem registros, que datam de 1054, feitospelos chineses sobre uma estrela que apareceu no céu,com brilho incrivelmente intenso, com tamanho pró-ximo ao da Lua e que era visível mesmo durante o dia,num período de três meses. Mais tarde, este evento foiidentificado como uma supernova. O remanescente,ou seja, os restos deste evento, foi identificado comoo pulsar do Caranguejo. A imagem mostra uma com-binação de imagens feitas pelos telescópios Hubble eChandra. Na imagem pode-se visualizar jatos de par-tículas aceleradas pelo pulsar, além de anéis queemitem luz no espectro dos raios-X.

Figura 33: Aglomerado de Westerlund, à esquerda e, emdetalhe, um pulsar ali encontrado. Crédito: NASA/CXC/UCLA/M.Muno et al.

Fonte: http://chandra.harvard.edu/

A imagem revelada no espectro óptico, à esquer-da, do Westerlund 1, mostra um aglomerado densode jovem estrelas, muitas com massas aproximadamen-

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te iguais a 40 massas solares. Alguns astrônomos acre-ditavam que repetidas colisões entre estes objetosteriam levado à formação de um buraco negro demassa maior que 100 massas solares. Uma pesquisarealizada com o observatório Chandra, conformemostra a figura à direita, não encontrou evidênciasdeste tipo de buraco negro, o que os pesquisadoresdo Chandra encontraram foi uma estrela de nêu-trons (CXO J164710.2-455216), uma descobertaque pode revolucionar o estudo sobre a formaçãode buracos negros de massas estelares. Afinal de con-tas, se uma estrela de nêutrons pode ser formada naexplosão de uma supernova cuja estrela original pos-suía uma massa igual a 40 massas solares, qual deve-rá ser a massa de uma estrela para que um buraconegro seja formado?

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Figura 34: Sistema binário viajando pelo Universo, em corfalsa. Crédito: Andy Fruchter

Fonte: http://www.jb.man.ac.uk/pulsar/Education/Tutorial/tut/node53.html

A figura acima mostra um sistema binário for-mado por um pulsar e uma anã branca. Este sistemase desloca pelo universo com grande velocidade, cri-ando a onda de choque que podemos observar comouma curva que parece unir as estrelas. Apesar desempre falarmos em estrelas esféricas, é fácil imagi-nar que objetos com uma física tão complexa nãopodem ser exatamente esféricos e muito menos

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possuir uma estrutura homogênea devido às reaçõesnucleares turbulentas que ocorrem em seu interior.Quando ocorre a explosão de uma supernova, estacaracterística se manifesta lançando, devido à con-servação de momento, as estrelas de nêutrons rema-nescentes em uma determinada direção, a grandesvelocidades. O pulsar mais rápido conhecido é oB1508+55 que se move para fora de nossa galáxiaa cerca de 1100 km/s, conforme foi recentementemedido pelo VLBA, um conjunto de rádio telescópi-os espalhados desde o Havaí até as Ilhas Virgens.

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8 – ConsideraçõesFinais

Após descrevermos o aspecto evolutivo dasestrelas, falamos sobre o esforço que vem se reali-zando para detectar pulsares, obter novos dados eanalisá-los. Lembramos que a existência das estrelasde nêutrons foi prevista em 1932, logo após a des-coberta do nêutron. Cálculos mais profundos foramrealizados ainda em 1939 e, apenas em 1967, foidetectado o primeiro pulsar, quase que por acaso.

Foi possível ver, ao longo deste pequeno livro,que para estudar estrelas de nêutrons, precisamoster conhecimento de astrofísica, mecânica quântica,física nuclear, relatividade geral e restrita, eletro-magnetismo e muito mais. Quando consideramostambém a detecção de sinais destes objetos precisa-mos ter conhecimento de eletrônica, física de estadosólido, criogenia, computação e muito mais.

Os avanços tecnológicos obtidos na constru-ção de satélites e dos detectores de ondas

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gravitacionais, seja os interferométricos ou de massaressonante, são de grande relevância. E com esteavanço, desvendamos cada vez mais mistérios sobreas estrelas de nêutrons e pulsares, sem esquecer, éclaro, dos dados sobre anãs brancas e buracos ne-gros, que estão sempre caminhando lado a lado como desenvolvimento de física de estrelas de nêutrons.

Após a descoberta do nêutron, em 1932, e ahipótese de que estrelas de nêutrons seriam as cinzasremanescentes da vida fabulosa e brilhante de umaestrela que explodiu em uma poderosa supernova,estes objetos só poderiam ser imaginados e descritoscomo a morte das estrelas. Mas, inúmeras descober-tas científicas ao longo destes últimos 70 anos nosmostraram que ainda existe muita vida nesta fase fi-nal da evolução estelar. São cerca de 22 milhões deanos em que as estrelas ainda irradiam beleza e, mis-teriosamente, nos fornecem informações sobre oUniverso e a vida aqui, em nosso pequeno planetaTerra.

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9 – Sites da InternetO leitor pode encontrar mais informações, mais

técnicas, fotos ou animações em vídeo, utilizando al-guns sites da internet. O site do telescópio espacialChandra (http://chandra.harvard. edu) possui informa-ções sobre estrelas de nêutrons, anãs brancas, buracosnegros e outros assuntos relacionados à pesquisa de-senvolvida neste centro de detecção de raios-X. O lei-tor ainda pode visitar os sites dos detectores de ondasgravitacionais para obter mais detalhes sobre os proje-tos em desenvolvimento (http://www.virgo.it), ou o sitedo telescópio espacial Hubble, no qual podem ser en-contrados vídeos sobre os seus 15 anos de atividade.

O site do departamento de astronomia da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (http://astro.if.ufrgs.br) possui um hipertexto que descrevedetalhadamente o processo de evolução estelar.

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10 – Conceitos ÚteisNa física, como na matemática, existem nú-

meros muito grandes e também muito pequenos queexigiriam diversas linhas apenas para escrevê-los, porisso, uma notação simplificada foi desenvolvida, comomostram as igualdades abaixo:

0,1 = 10-1 0,01 = 10-2

1,0 = 100 10 = 10¹100 = 10²Por exemplo, uma estrela de nêutrons possui

aproximadamente1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

00000000000000000000000000000000 = 1057

partículas.Algumas destas unidades também receberam

nomes especiais como:106 = mega 10³ =quilo10-3 = mili 10-6 = micro10-9 = nanoQuando falamos das dimensões de um núcleo,

usamos frequentemente as medidas do tamanho emfermis (10-15).

O que é o espectro eletromagnético? Podemos

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enxergar luz azul, amarela, vermelha... A luz pode serfacilmente compreendida como uma onda, na qual amudança da cor desta luz está relacionada à suafrequência ou comprimento de onda. Mas, tambémexiste luz que não enxergamos, isto simplesmente por-que nossos olhos não têm capacidade de decifrar luzescom comprimentos de onda muito grandes ou muitopequenos, como, por exemplo, a região do infraver-melho. Aparelhos especiais, como vemos na TV, pelosquais câmeras especiais fazem imagens noturnas, tra-duzem as informações colhidas para que nossos olhospossam enxergá-las.

Desta mesma forma, estrelas que não emitemradiação na região do espectro visível são captadas portelescópios especiais como o Chandra, pelo qual as in-formações captadas são traduzidas para nossa com-preensão. Veja, abaixo, as diferentes regiões do espec-tro eletromagnético:

Figura 35: Espectro eletromagnético

Fonte: http://andre-godinho-cfq-8a.blogspot.com.br/2013/06/espectro-eletromagnetico.html

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O autor doutorou-se em Física pelaUFRGS onde trabalhou com Estrelas deNêutrons e Ondas Gravitacionais.Aprofundou os estudos durante dois está-gios pós-doutorais, um no Observatório deNice, na França e outro no INPE, em SãoJosé dos Campos. Desde 2006 é profes-sor da Unipampa, em Bagé.

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