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10PERCURSOSESSENCIAISLisboa e Tejo e tudo...
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10PERCURSOSESSENCIAISLisboa e Tejo e tudo...Jos Eduardo AgualusaCristina Castel-BrancoPedro Almeida VieiraDomingos Costa XavierFernando Lus SampaioVirglio Nogueiro GomesMaurcio Abreu
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Outra vez te revejo
Lisboa e Tejo e tudo Transeunte intil de ti e de mim Estrangeiro aqui
como em toda a parte lvaro de Campos | Lisbon revisited (1926)
-
O guia que tem entre mos tem a particularidade
de ser deliberadamente parcial e no exaustivo.
Lanamos um desafio a um nmero restrito
de pessoas para que nos dessem a sua viso sobre
este territrio e que nos traassem pequenos
roteiros de descoberta e prazer. E que, atravs
dos seus olhares e experincias, nos propusessem
caminhos inesperados para a construo de um
territrio que julgvamos cristalizado nos recantos
da nossa memria.
Sigamos ento o desafio que nos proposto, deixemos
para trs alguns conceitos e que os nossos passos
sigam no encalo destes percursos organizados por
temas e aos quais o leitor poder ir acrescentando
as suas descobertas pessoais e preferncias.
A multiplicidade de recantos, paisagens, sabores,
cheiros e experincias transformam o universo
caleidoscpico da regio de Lisboa e Vale do Tejo
num dos mais apetecveis destinos tursticos para
o viajante nacional, assim como dos mais procurados
pelo turismo internacional.
Como nas caixas chinesas, uma viagem traz o apelo
de outra e no todo das partes encontramos o encanto
de todas encerrarem um segredo por descobrir.
INTRODUO
-
LISBOA Cidade cosmopolita, aberta ao mundo, tem conhecido uma notvel
projeco no exterior pela qualidade e
variedade da oferta cultural, gastro
nmica e de lazer. A descobrir tambm
o seu marcante patrimnio edificado.
GRANDE LISBOA Esta regio compreende um vasto territrio a
descobrir por vrios motivos. Desde
Sintra, com os seus palcios e ruelas
histricas, passando por Mafra e o seu
Convento, at costa batida pelas
guas atlnticas, ou por Cascais e a
sua peculiar atmosfera, a Grande Lis
boa uma viagem de sabores e destino
de todo o viajante que queira descobrir
o esprito da paisagem mediterrnica.
COSTA AZUL Praias, extensos areais, portos de pesca, reservas naturais, a
Serra da Arrbida, igrejas e conventos,
lugar onde a serra e o mar se encontram
num harmonioso equilibrio natural.
costa azul
ribatejo
templrios
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lisboa+
oeiras,
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sintra.
amadora/
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vila franca de xira2
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seixal+*
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moita+,
montijo+-
alcochete+.
sesimbra+/
setbal+0
palmela+1
almada+2
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torres novas-*
entroncamento-+
vila nova da barquinha-,
constncia--
abrantes-.
sardoal-/
tomar-0
alcanena-1
ferreira do zzere-2
grande lisboa
lisboa
azambuja,*
salvaterra de magos,+
cartaxo,,
almeirim,-
alpiara,.
chamusca,/
goleg,0
santarm,1
benavente,2
rio maior,3
coruche+3
+
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Aqui se fazem excelentes vinhos, como
o generoso Moscatel.
RIBATEJO Nesta paisagem nica da lezria, onde so criados os touros
bravos, o campino a imagem de
marca desta regio de generosos
solos agrcolas, nomeadamente para a
vinha. A sua herana gastronmica
assinalvel, assim como as paisagens
que se debruam sobre o Tejo.
TEMPLRIOS Com uma histria que os seus edifcios histricos
registam e evocam, como o Convento
de Cristo, esta regio oferece trechos
naturais de grande beleza, onde no
raras vezes se mistura a tradio com
a inovao.
A descobrir o seu patrimnio histrico
que assinala a passagem de judeus
e cristos e as suas festas de ndole
religiosa que congregam a alma destas
paragens.
costa azul
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grande lisboa
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vila nova da barquinha-,
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ferreira do zzere-2
grande lisboa
lisboa
azambuja,*
salvaterra de magos,+
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almeirim,-
alpiara,.
chamusca,/
goleg,0
santarm,1
benavente,2
rio maior,3
coruche+3
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Patrimnio8 9
10PERCURSOSESSENCIAIS
0 1
8 9
Natureza, Parques e Reservas Naturais
TejoEsse desconhecido
Festas Religiosas
Lugares e Tradio
-
8 9
8 8
9 9
10 10
11 11
Cavalo Lusitano e Toiro
Litoral e Praias
Gastronomia
Lazer
Vinhos
-
10 11
-
1 1
A Memria dos RiosJos Eduardo Agualusa
-
bri os olhos e vi trs arco-ris a bri-
lharem, muito bem desenhados, num
cu azul-cobalto. A seguir vi o castelo.
Erguia-se entre escarpas e arbustos,
numa minscula ilha, como se levi-
tasse sobre as guas imveis do rio. Voltei a fechar
os olhos e contei at dez, dando tempo realidade
para dissipar o erro feliz de algum sonho que esti-
vesse sonhando segundos antes de despertar.
Quando reabri os olhos, porm, o castelo conti-
nuava l. Os arco-ris tambm.
Acordara sentado ao volante de um automvel,
e no sabia o que fazia ali. Muito mais preocu-
pante: no me lembrava do meu nome, nem de
um nico pormenor no meu passado.
Qualquer esforo de memria me doa, como
tentar reconstrur um sonho. No um sonho bom,
semelhante ao que colocara aquele castelo no
meio das guas. Antes um pesadelo feito de som-
bras furtivas flundo entre runas.
A
-
Procurei no carro. Devia haver documentos. Uma
carta de conduo, um passaporte. No encontrei
nada. Nem sequer cartes de crdito. No bolso
do casaco, contudo, dei com um grosso mao de
notas de cinquenta euros, e um Iphone. Liguei
o Iphone e consultei os mapas. Vi a minha locali-
zao exacta, assinalada por um circulo palpitante.
Estava diante do Castelo de Almourol.
Abri a pasta das mensagens. S havia uma, de um
telefone bloqueado:
18 horas nas Portas do Sol. Assinado: Salom.
Eram 17:15. Portas do Sol. O nome acordou em
mim um rumor de rvores. Um perfume feliz. Sim,
eu j havia estado ali. Voltei aos mapas. A chave
estava na ignio. Liguei o carro e conduzi at
Santarm.
O Jardim das Portas do Sol abre para o lmpido
prodgio da lezria ribatejana. hora a que che-
guei uma luz muito macia, dourada e fina, adoava
arestas e polia imperfeies. Sentei-me num banco
e esperei, observando, um pouco inquieto, as pes-
soas em redor. Como reconhecer uma mulher
chamada Salom?
O que teria ela a ver comigo?
E o que lhe diria eu?
Desculpe, sabe quem sou?
Castelo de Almourol Portas do Sol
-
Na viagem at Santarm sentira-me apenas ator-
doado. Sentado ali, enquanto o sol sangrava para
alm das muralhas, comecei a experimentar uma
aflio crescente. Pensei em procurar um hospital
ou uma esquadra de polcia. Precisava de ajuda.
Uma pessoa pode sobreviver a tudo menos au-
sncia de si prpria. Foi ento que um garoto dos
seus doze anos se aproximou de mim. Estendeu-
-me um envelope:
Pediram-me para lhe entregar isto.
Agarrei-lhe o brao:
Quem?
O menino olhou-me assustado:
Uma senhora! Apontou para trs de ns, para
alm das rvores, j a escurido, galgando os pas-
seios, avanava sobre o jardim. No a conheo.
Nunca a vi.
Deixei-o ir. Abri o envelope. Retirei um postal. Era
uma reproduo d As Tentaes de Santo Anto,
de Hieronymus Bosch. Descobri que a minha me-
mria parecia funcionar muito bem no que dizia
respeito a informao alheia ao meu prprio ser.
Bastara-me olhar para aquele simples postal, por
exemplo, para recordar uma palestra que ouvira
ou que proferira? sobre a ligao do pintor fla-
mengo a misteriosas escolas esotricas. Achei-me,
no instante seguinte, a comparar As Tentaes de
Santo Anto com O Jardim das Delcias, cujo
original me recordava de ter visto no Museu do
Prado. Talvez eu fosse um crtico de arte. Em qual-
quer caso algum ligado ao mundo da pintura.
S ento li as duas linhas escritas no verso do pos-
tal, a tinta lilz, com uma caligrafia apressada mas
elegante:
Desculpe. Estou a ser seguida (polcia?). Ambos
corremos perigo. Amanh, s 11:30, junto s Tenta-
es. Salom.
Polcia?!
As Tentaes de Santo Anto, Hieronymus Bosch.Museu Nacional de Arte Antiga
-
Eu podia estar a ser seguido pela polcia? Seria,
afinal, um criminoso? Olhei em redor, apavorado.
Vi passar duas raparigas altas, muito loiras, enlaadas
com fervor. Um sujeito baixo, carrancudo, aproxi-
mou-se alguns passos, agachou-se para apertar
os atacadores, sorriu-me ao erguer-se, voltou costas
e desapareceu. Levantei-me e puz-me a caminhar,
em rpidas passadas, com a segurana de quem
sabe para onde vai. No fazia a menor ideia. Achei-
-me assim frente a um belo edifcio, com a fachada
pintada de amarelo, e uma inscrio Casa da Alc-
ova. Senti-me, de sbito, muito cansado. Entrei
e pedi um quarto. O perfume dos lenis, o ar lava-
do, trouxe-me memria minha pobre mem-
ria mutilada o Jacinto, d A Cidade e as Serras,
de Ea de Queiroz, que troca Paris por Tormes,
descobrindo que a vida tem mais brilho onde
menor o fulgor dos lustres e dos cristais. Na ma-
nh seguinte despertei, como Jacinto na sua quinta,
refeito e feliz, mas ainda sem memria de mim
mesmo. Bebi um ch, provei os famosos scones
da casa, despedi-me com um suspiro, entrei no carro
e parti. Eram 10:35 quando estacionei o carro junto
ao Museu Nacional de Arte Antiga.
A senhora que me vendeu o bilhete, entrada,
cumprimentou-me sorrindo. Pareceu-me que sabia
mais sobre mim do que eu prprio.
Diga-me, venho muito aqui?
A minha pergunta surpreendeu-a. Levou um ins-
tante a recuperar o sorriso:
Venha as vezes que quiser, senhor. Recebemos
sempre muito bem quem gosta de arte.
Atravessei os vagarosos sales, passando, indi-
ferente, por prncipes, anjos e mrtires. As Tenta-
es de Santo Anto aguardava por mim numa
das ltimas salas. Aproximei-me do retbulo com
o corao aos saltos. Conhecia muito bem, cada
uma daquelas extraordinrias figuras. Havia uma
Museu Nacional de Arte Antiga
-
cadeira encostada parede. Sentei-me, fechei
os olhos, e esperei que o meu corao serenasse.
Talvez se adormecesse me surgisse em sonhos um
castelo flutuando sobre um rio. Arco-ris. Acor-
daria no castelo, sabendo o meu nome, senhor
do meu destino, um pouco atordoado, depois de
ter sonhado que despertara ali prximo, dentro
de um carro, sem memria alguma de mim.
No consegues atrasar-te - nunca?
Abri os olhos. A mulher minha frente no me era
estranha. Foi s ao erguer-me para a cumprimen-
tar que reparei no brinco, um nico brinco, na
orelha direita, representando duas cerejas muito
rubras. Ento soube que sim, que j a conhecia
vira-a nua. Contemplara longamente, repetida-
mente, os seios pequenos e perfeitos, a cintura
estreita, as longas pernas loiras, os elegantes ps
levitando sobre a relva. ela, em primeiro plano,
no painel central d O Jardim das Delcias, tra-
zendo duas cerejas na cabea. Ali, junto ao outro
Bosch, envergava um leve vestido de seda, azul
celeste, que tanto ocultava quanto revelava o corpo
gil e flexvel.
Nua pareces mais alta.
Salom corou um pouco:
Ainda te lembras?! Ficou sria. Mudou de tom:
Museu Nacional de Arte Antiga
-
Tens a certeza de que ningum te seguiu?
No, ningum me seguiu.
Ela sorriu, apontou para o trptico de Bosch:
Belo trabalho!
Sim, concordei: Belssimo trabalho!
Vamos! Temos de ir
Vamos onde?
A Mafra. Ao Convento de Mafra. Quero mostrar-
-te uma coisa
No. Antes preciso que me respondas a uma per-
gunta.
Se souber responder
Quem sou eu?
Quem s tu?
Estou doente, gemi. No consigo lembrar-me
do meu prprio nome. No sei quem sou.
No te lembras de nada nos ltimos dias?
No.
Mas lembras-te de ns?
No.
Disseste h pouco que te lembravas de mim,
nua.
Ah sim! Isso outra coisa. Olho para ti e vejo uma
figura do Bosch.
-
Salom suspirou:
Sim, disseste-me isso antes. Vrias vezes. Foi o
motivo por que me ofereceste estes brincos. Ainda
no sei se sei o teu nome, lamento. As pessoas que
te conhecem, ou julgam conhecer, conhecem-te
apenas por uma alcunha o Pintor.
O Pintor? Sou pintor, eu?
s uma lenda, querido.
No carro dela, a caminho de Mafra, contou-me
a minha histria. Ou melhor, revelou-me o que, nas
ltimas semanas, descobrira sobre mim. Salom
ouviu falar do meu caso h uns seis meses. No estrei-
to universo do mercado clandestino de obras
de arte falsificaes, originais de provenincia
duvidosa, etc. murmurava-se h muito sobre
a existncia de um pintor excepcional, capaz de
reproduzir detalhes de uma tela, aps olhar para
ela durante alguns minutos. Contudo, o referido
prodgio no saberia o prprio nome, e aps crises
de epilepsia, de que padeceria com frequncia,
apagaria todo o passado recente. Um esquecimento
muito desejado por certos clientes.
Resumindo, concluiu Salom: pode dizer-se que
possuis dois grandes talentos enquanto falsrio:
Convento de Mafra
-
uma memria prodigiosa, e uma absoluta falta
de memria. Alm disso no tens nome nem pas-
sado. No existes.
E tu?, perguntei-lhe: Qual o teu papel?
Salom riu-se:
Eu sou a mulher que se apaixonou por ti.
Como que algum se pode apaixonar por uma
pessoa que no existe?
Apaixono-me mais facilmente pelos sonhos
do que pela realidade. um dos meus melhores
defeitos.
Passava da uma da tarde quando chegmos a Mafra.
Tens fome?
Sim, saber que a minha vida era uma aventura
deixara-me esfomeado.
Ento vamos primeiro ao Convento da Cerveja.
A proposta revelou-se acertada. Devormos, numa
fria de adolescentes, duas generosas pratadas de
ameijoas Bulho Pato e uma garoupa escalada,
na grelha, com manteiga de alho. Conversmos.
Rimos. Finalmente, Salom deu-me a mo e arras-
tou-me at ao Mosteiro. Percorremos sales e mais
sales, e ainda outros sales. Telas antigas. Esta-
tuetas. A reconstruo da cela de um monge.
Espelhos abissais. Comeava a acreditar que talvez
estivessemos andando em crculo, ou que o edi-
fcio fosse infinito, quando finalmente demos
com a Biblioteca do Convento.
Jorge Lus Borges gostaria de ter despertado, aps
a morte, num lugar assim. Impressionou-me a am-
plido. A luz descendo sobre as severas estantes
forradas de livros. Morcegos rodopiavam enlou-
quecidos entre as abbadas.
Salom requereu um livro. Folheou-o com mos
de me, at encontrar a pgina pretendida:
Ora aqui est a frase que eu procurava. Presta
ateno: deste ltimo lote fazia tambm parte uma
tela, assinada pelo pintor flamengo Hieronymus
-
Bosch, representando uma bacanal de negros.
Fechou o volume. Olhou-me muito sria:
Algumas vez ouviste falar em tal tela?
No. Nunca. Existem cerca de quarenta obras
conhecidas de Bosch. Nada que possa ser confun-
dido com uma bacanal de negros.
Tens a certeza?
Certezas, eu? Sou um sujeito que apenas dispe
de acesso a uma parcela do seu crebro
Acredito em ti. Vamos. Daqui a pouco tens um
encontro marcado com o teu passado.
Segui-a sem compreender. Salom no quis escla-
recer-me. Regressmos a Lisboa. Cruzmos a ponte.
Tommos a direco de Setbal. Reconheci a fa-
chada do Mosteiro de Jesus. Um sujeito j de certa
idade, muito magro, barba comprida e desgre-
nhada, estava postado entrada, muito srio, como
se o houvessem erigido ali, no sculo XV, em con-
junto com o edifcio. Abriu um sorriso triunfante
ao ver-me descer do carro:
Mosteiro de Jesus. Setbal
-
Fbio Borges! Estendeu-me a mo, enquanto
se voltava para Salom: ele, sim, Fbio Borges.
Foi um dos meus melhores alunos.
Aquele nome caiu em mim como uma luz. Re-
cordei, numa vertigem, os anos da minha meni-
nice, em Sintra. As visitas ao Castelo dos Mouros.
O javali que encontrmos no quintal. As garga-
lhadas do meu pai. A minha me, cabeceira,
contando-me histrias. A primeira exposio de
aguarelas. As aulas de pintura histrica, com
o Professor Varejo, por alcunha o Dom Quixote.
Atormentou-me logo depois a morte dos meus
pais num desastre de viao. Voltei a sentir a mes-
ma dor aguda, e vi a escurido avanando e cobrin-
do tudo como um fungo. Voltei a viver a queda,
o vazio, o excesso de lcool e drogas, o blsamo
feliz do esquecimento.
Sim, disse. Eu fui Fbio Borges. Infelizmente
continuo sem saber quem sou.
Nessa noite dormimos na Quinta do Patrcio,
junto ao Parque Natural da Arrbida. Salom
Vila de Sintra Castelo dos Mouros. Sintra
-
apresentou-se: 32 anos, lisboeta, doutorada em
histria de arte. Trabalhou durante cinco anos
em Paris, no centro de restaurao do Museu do
Louvre. H alguns meses uma agncia de seguros
contactou-a para confirmar a autenticidade do que
parecia ser o fragmento de um retbulo, at ento
desconhecido, com a assinatura de Hieronymus
Bosch. O referido fragmento fora vendido a um
antiqurio lisboeta por um taxista. Foi ento que
Salom ouviu falar em mim. Algum lhe disse que
eu fizera uma cpia perfeita d As Tentaes
de Santo Anto, encomenda de um prspero
empresrio angolano. O senhor gosta de impres-
sionar os amigos exibindo cpias exactas, nos mais
pequenos detalhes, de telas famosas. Durante
os anos em que estive mergulhado nas drogas, ainda
antes de perder a memria, fiz muitas outras
cpias. Nada de ilegal. Um cidado pode gostar
de ter em casa cpias de telas famosas. No pode
comercializ-las como originais.
Salom foi minha procura por desconfiar de que
tivesse sido eu a criar a Bacanal de Negros. Tal-
vez tenha sido, no me lembro. Continuo a no
me recordar desse perodo em que vagueei, sem
memria, ou entre a memria e o esquecimento,
pintando cpias de telas famosas. Passaram-se trs
meses e no tive ainda nenhuma recada. Instalei-
-me em casa de Salom. Ela continua a investigar
a tela de Bosch. A meno, num documento do
sculo XVIII, a um retbulo tendo por tema uma
bacanal de negros no suficiente para validar
a descoberta. Um bom falsrio ter-se-ia apoiado
numa informao real.
Recuperei entretanto parte da minha identidade.
Salom acha que podemos, juntos, criar uma ofici-
na de restaurao e conservao de pintura antiga.
Parece-me um bom projecto.
A gua de um rio guarda memria da nascente?
Portinho da Arrbida
-
patrimnio 8 9
01
02
03
04 05
06
07
08
09
10
11
templrios
ribatejo
costa azul
grande lisboalisboa
O percurso prope uma viagem por lugares,
monumentos e paisagens que evocam
a histria da nossa identidade cultural.
A viagem por estas regies vasta, repleta
de surpresas e curiosidades e causa, por
vezes, espanto. De Setbal a Tomar o viajante
deve deixarse perder para encontrar,
como sugere Pedro Almeida Vieira, lugares
com histria, peas de arquitectura nicas,
paisagens surpreendentes pela sua beleza.
A melhor maneira de conhecer o esprito
do lugar dispensar o automvel e deixar
que os nossos passos se encaminhem para
a descoberta.
Patrimnio
-
O mundo como um livro, e aquele que no viaja como se apenas lesse a primeira pgina. Se esta mxima de Santo Agostinho constitui um apelo viagem, para se conhecer
o mundo, para enfim viver, no menos verdadeira
e evidente outra frase da poetisa norteamericana
Emily Dickinson: No h melhor fragata que um
livro para nos levar a terras distantes.
Viajar pelo mundo acaba por ser, de facto, semelhante
viagem pelas histrias desvendadas pelos livros.
Mas se os livros essas barcas de palavras nos
transportam para stios mais ou menos distantes,
metendonos o mundo em pginas de papel, no con
seguem substituir as visitas. Porm, tantas vezes,
depois de impelir o nosso esprito a viajar, um escritor
convence em seguida o nosso corpo a levarnos para
esses lugares de eleio, para os admirarmos com
outros sentidos.
De facto, para nos maravilharmos, basta passar uma
bela tarde ou dias agradveis numa praia, num monu
mento, numa zona histrica, numa rea selvagem.
Podemos passear, vaguear, percorrer e calcorrear qual
quer stio e de l sair satisfeitos. No entanto, sendo
certo que os olhos captam as imagens, e os ouvidos,
o nariz e a pele absorvem outras ambincias, por
vezes algo falta. Em tantos casos, faltamnos palavras
para descrever aquilo que sentimos, talvez um guia
que nos ponha na mente aquilo que, sentindo, gosta
ramos de dizer. Propomos, por isso, uma viagem
diferente; uma viagem pelo mundo de uma regio
esplendorosa atravs dos passos dos escritores.
Comecemos ento a viagem pela Arrbida. O poeta
Sebastio da Gama dizia ser bastante, para muita
e muito boa gente, usarse duas pernas vigorosas
e de boa vontade para chegar a esta serra. De l qual
quer um conseguir ver uma paisagem de asfixiante
deslumbre, desde o verde da terra at ao azul do mar,
praias de sonho e preciosidades arquitectnicas e his
tricas, como o Convento e a Capela do Bom Jesus em
seu pleno corao. Mas o visitante sentir, por certo,
outras sensaes se tiver j lido Sebastio da Gama.
Talvez assim aguarde, de propsito, a chegada da noite,
quando, de rosado, comea a arroxearse o horizonte
Convento e Capela do Bom Jesus
Texto Pedro Almeida Vieira
Serra da Arrbida
-
patrimnio 0 1
e a serra se transforma num vulto de sombra parado
a meio do silncio. Talvez, nesse caso, os sentidos
fiquem de atalaia para confirmar se os pios de ave,
como goteiras, piguelingam de quando em quando,
e de onde a onde. E ento, se a lua surgir, haver
esperana de ver o mato a desenhar no cho arabes
cos que j sabemos ler, enquanto o convento empa
lidece. E assim, como nas palavras do poeta, compe
netrados da beleza divina (ou franciscana?) das coisas,
somos a grande porta que se fecha sobre a serra para
a serra dormir, pela noite longa e azulada de estrelas,
na sua, meditao que j dura sculos.
Se a Arrbida sempre fascinou escritores e sobretudo
poetas das terras do Sado Apenas vi do dia a luz
brilhante / L em Tbal no emprio celebrado, assim
escreveu Bocage , no atingiu porm os pncaros
de outra serra, mais a norte. Sim, viajese at serra de
Sintra, onde as Naiades, escondidas / Nas fontes, vo
fugindo ao doce lao, / Onde Amor as enreda branda
mente, / Nas guas acendendo fogo ardente, como
glosou Cames nos Lusadas. Neste trono da vece
jante primavera, nas romnticas palavras de Almeida
Garrett, pode e deve visitarse a Pena e o seu luxu
riante parque florestal, o Castelo dos Mouros, os
palcios da Regaleira e de Seteais, o Palcio da Vila, a
Quinta de Monserrate e o Convento dos Capuchos.
Esta lista est aqui desordenada e omissa de muitos
outros lugares. intencional, porque, na verdade, o
viajante para conhecer as maravilhas de Sintra tem de
se perder, para assim achar. S assim talvez consiga
compreender bem as razes para, h mais de dois s
culos, Lord Byron lhe ter chamado Glorioso den,
e William Beckford sentenciado estar ali um vasto
templo da Natureza.
Mas, enfim, concedamos algum desconto ao exagero
dos romnticos mesmo quando, neste caso, at deti
nham bons e vlidos motivos para tamanha admira
o , e rumemos ainda mais para norte, para Mafra.
Aqui encontraremos tambm fartos motivos de admi
rao. Um convento, que nasceu do ouro e diamantes
do Brasil, em cumprimento de um duvidoso voto de
D. Joo V para ter descendncia embora tudo indi
que que ele pretendeu pagar aos cus a cura da sfilis
Palcio da Pena
-
de que padecera. Uma tapada de frondoso arvoredo,
com mais de mil hectares, zona de caa por excelncia
de reis e que actualmente palco de aces de educao
ambiental e de lazer, integrando tambm um centro
de recuperao do loboibrico. Mas Mafra tem sobre
tudo maior encanto, outro fascnio desde que a pena
do nosso nico Prmio Nobel da Literatura, Jos
Saramago, lhe dedicou um inesquecvel romance.
To belo como o monumento, o Memorial do Convento
acaba tambm por destacar, num dos seus mais belos
captulos, a zona de Pro Pinheiro e Cheleiros, de onde
foi retirada a pedra que se elevou aos cus de Mafra.
E embora essa zona no possua atractivos de grande
relevncia pormenor bem compensado na vizinha
povoao de Negrais, volta de um leito assado no
forno , merece todavia uma visita de honra. De facto,
das suas pedreiras no s dali nasceu o Convento
de Mafra, mas tambm o Aqueduto das guas Livres.
O aqueduto dos nove mil passos ou nove milhas,
a distncia entre a nascente das guas Livres, em Belas,
e Lisboa , tambm j mereceu um romance. Mas no
por causa disso que deve ser visitado. No antigo local
onde ficava uma barragem romana, j o humanista
Francisco dOlanda vira ali a fonte que poderia desse
dentar Lisboa. Mas a obra, velho pecado lusitano,
demorou a ser construda: s a meio do reinado de
D. Joo V se iniciou e, incluindo reservatrios e magn
ficos chafarizes, apenas se concluiu um sculo depois.
Porm, este rio de pedra de 60 quilmetros de compri
mento merece agora uma visita detalhada, desde
a zona das Mes dgua at aos reservatrios da
Patriarcal e das Amoreiras, em Lisboa. Mas no apenas
pelo exterior, mas tambm pelo seu interior, atravs
de visitas guiadas pelo Museu da gua da EPAL.
Contudo, mesmo sendo hoje o mais extenso Monu
mento Nacional de Portugal, a sua parte mais emble
mtica ser sempre a imponente arcaria de alva
pedra que atravessa o vale de Alcntara ao longo de
quase um quilmetro. Concebida por Custdio Vieira
tambm foi responsvel por construir uma mqui
na que fez subir os carrilhes de Mafra , esta arcaria
ficou tragicamente famosa pelos supostos crimes
cometidos por Diogo Alves nos finais dos anos 30 do
Convento de Mafra
Aqueduto das guas Livres
-
patrimnio
sculo XIX embora, na verdade, ele no tivesse sido
enforcado por qualquer assassinato a cometido.
Alis, nem o aqueduto merece tal m fama, antes sim
as admiraes que muitos famosos viajantes estran
geiros teceram ao longo dos ltimos dois sculos.
Por exemplo, o incontornvel Beckford escreveu que
a sua imponncia enche de assombro, o mdico
francs Joseph Carrre disse que a se conjugava
a magnificncia com a beleza, o ousio solidez da
construo, e o sueco Carl Ruders relatou que a ima
ginao no pode elevarse a uma concepo to
sublime como aquela que a realidade apresenta.
Embora desde os anos 70 do sculo passado o Aque
duto das guas Livres tenha perdido a funo de dar
de beber aos lisboetas, a capital temlhe uma dvida to
grande como o maior arco de pedra do Mundo que se
encontra na arcaria do vale de Alcntara. Em menos
de um sculo, desde o final do reinado de D. Joo V, as
suas guas permitiram duplicar a populao lisboeta.
E resistir mesmo ao terramoto de 1755, aquele cata
clismo que dizimou mais de 30 mil vidas e um vasto
patrimnio. E mudou a face de Lisboa. Sem essa cats
trofe, a cidade seria hoje bem diferente talvez mesmo
o pas. Perdeuse o imponente Pao da Ribeira, a pera
do Tejo e uma imensidade de palcios e templos religio
sos, bem como as labirnticas ruas da agora Baixa Pom
balina, onde existiam mais de uma trintena de igrejas.
No entanto, Lisboa continuar sempre a ser, para
o turista, um palco de surpresas, a necessitar de esta
dia prolongada. Para alm dos monumentos, h as
ruas, as praas, as avenidas, as ruelas, os miradouros,
a luz, o cu, o sol, o Tejo um todo que vale mais que
a soma das partes. O turista tem assim que se embre
nhar, sobretudo calcorrear Lisboa de cima a baixo,
do castelo at ao rio, para compreender as palavras
de Fernando Pessoa, no Livro do Desassossego: Mas
amo o Tejo porque h uma cidade grande beira
dele. Gozo o cu porque o vejo de um quarto andar
de rua da Baixa. Nada o campo ou a natureza me
pode dar que valha a majestade irregular da cidade
tranquila, sob o luar, vista da Graa ou de So Pedro
de Alcntara. No h para mim flores como, sob o sol,
o colorido variadssimo de Lisboa.
Baixa Pombalina
-
Escreveu tambm Alberto Caeiro, heternimo de Pessoa
que pelo Tejo vaise para o Mundo / Para alm do Tejo
h a Amrica. No entanto, sigamos percurso inverso,
caminhemos pelo rio acima. Para quem se quiser aven
turar e deslumbrar, tem uma alternativa ao carro ou
ao comboio: embarcar numa viagem romntica pelas
frteis margens do Nilo portugus, segundo as
palavras de Almeida Garrett na sua obra Viagens
na Minha Terra.
Se for esse o caso, tornase paragem obrigatria a
Reserva Natural do Esturio do Tejo, passando pelos
mouches, onde se podem observar flamingos e muitas
outras aves aquticas. Esta viagem pode prolongarse
mesmo at Valada do Ribatejo, no concelho do Cartaxo.
E a h sempre possibilidades de fazer uma passagem
pela aldeia da Palhota. Pequeno aglomerado de cons
trues palafticas, esta aldeia de pescadores origin
rios de Vieira de Leiria que aproveitavam a invernia
para pescarem no Tejo ficou clebre na escrita de
Alves Redol que, no seu romance Avieiros, retrata
a vida destes nmadas do rio, como os ciganos na
terra. Como alternativa ou complemento, podese
ficar pelo corao do Ribatejo e percorrer, na companhia
dos trs romances de lvaro Guerra a chamada
Trilogia dos Cafs , o patrimnio vivo e histrico
de Vila Franca de Xira e suas lezrias.
Se o viajante quiser continuar rio acima, mais para
montante, e cruzarse de novo com os passos da lite
ratura, ento Santarm destino obrigatrio. Riqueza
patrimonial no falta, tendo como ponto forte a arqui
tectura religiosa de estilo gtico. Mas a h que desta
car o claustro do renovado Convento de So Francisco,
palco onde Gil Vicente fez em 1531 um discurso mpar
de humanismo e de tolerncia perante os padres que
acusavam os judeus de serem os responsveis pelo
grande terramoto desse ano.
Se a busca do viajante no for meramente patrimo
nial, sugerese tambm um pequeno desvio, a partir
da Goleg, em direco ao Paul do Boquilobo, uma
rea classificada como Reserva Natural e Reserva da
Biosfera pela Unesco. Mas mesmo a tem um outro
ponto de grande interesse literrio: uma pobre e rs
tica aldeia, com a sua fronteira rumorosa de gua e de
Reserva Natural do
Esturio do Tejo
Convento de So Francisco
Paul do Boquilobo
-
patrimnio
verdes, com as suas casas baixas
rodeadas pelo cinzento prateado
dos olivais, umas vezes requei
mada pelos ardores do Vero,
outras vezes transida pelas gea
das assassinas do Inverno ou afo
gada pelas enchentes. Ou seja,
a aldeia da Azinhaga, a terra
natal de Jos Saramago que, no
seu livro autobiogrfico Pequenas
Memrias, lhe chamou ainda bero onde se comple
tou a minha gestao, a bolsa onde o pequeno marsu
pial se recolheu para fazer da sua pessoa, em bem
e talvez em mal, o que s por ela prpria, calada, secre
ta, solitria, poderia ter sido feito.
Mais para norte, o visitante encontrar tambm mais
rios que alimentam o Tejo e, em particular, uma terra
que dessedentou, com a sua Histria e estrias, mui
tos homens das artes: a cidade de Tomar. Banhada
pelo Nabo, a cidade dos Templrios bero de Fer
nando LopesGraa, um dos mais clebres compo
sitores portugueses do sculo XX, e do historiador
e romancista JosAugusto Frana sempre foi, com
o seu castelo, com o Convento de Cristo, com o seu
rico patrimnio de igrejas e outros faustosos edif
cios, uma fonte de inspirao de escritores.
Embora a vasta regio da bacia do Tejo detenha ain
da muitos mais pontos de interesse e recomendase
ao viajante que se perca para assim poder descobrir ,
Constncia merece surgir aqui como ltima recomen
dao. A antiga vila de Punhete, onde o Zzere abraa
o Tejo, ter sido assim conta a lenda o local onde
Lus de Cames escreveu muita da sua poesia lrica,
inspirado pelas Tgides, as ninfas do Tejo. Aqui, onde
a escultura de Lagoa Henriques coloca o grande poeta
portugus a mirar o vale, o viajante pode aproveitar
o tempo num passeio pelo jardimhorto, onde existem
as 52 espcies de plantas referenciadas nos Lusadas,
bem como visitar o Planetrio de Ptolomeu, num audi
trio ao ar livre. E a, se faz favor, deve agradecer aos
Cus, Natureza e aos escritores todo o manancial
de beleza e arte que, agora e amanh, conseguimos
usufruir e desfrutar.
Convento de Cristo
-
01 ArrbidaCalcorrear a Arrbida, desde Setbal at
ao Cabo Espichel, deve fazerse com
calma, para tudo se poder desfrutar.
Se se optar pelo carro, serpenteiese
ento a estrada, junto s falsias, ou
sigase pelo interior, passando por Palmela
e Azeito. Mas o melhor ser estacionar
e percorrer a p muitas das maravilhas
naturais do Parque Natural. Patrimnio
construdo para ser usufruido no
falta: recomendamse visitas ermida
da Memria e ao convento de Nossa
Senhora do Cabo, no Cabo Espichel, ao
Castelo de Palmela, Quinta da Bacalhoa,
ao Forte de Santiago do Outo e sobretudo
ao Convento da Arrbida e capela do
Bom Jesus, exlibris desta bela serra.Acesso Sesimbra: 382745.83N 90605.19W | Acesso
Palmela: 383413.01N 85423.83W | Acesso Setbal:
383102.62N 85424.24W
02 SintraNo Glorioso den, segundo as
palavras de Lord Byron, no existem
dois, nem trs nem apenas uma dzia
de lugares para se visitar. O viajante,
mesmo perdendose em qualquer
recanto, sair daqui com os sentidos
cheios. Mas sempre conveniente
um percurso romntico para descobrir
a feliz simbiose entre a construo
humana e a criao da Natureza:
o deslumbrante Palcio Nacional da
Pena, e o seu parque botnico, o altivo
Castelo dos Mouros, o enigmtico
Palcio e Quinta da Regaleira, o char
moso Palcio de Seteais, o majesttico
Palcio Nacional de Sintra e o recatado
Convento dos Capuchos.384754.42N 92317.21W
03 MafraLigada intimamente ao reinado
do Rei Magnnimo, D. Joo V, a vila
de Mafra lugar obrigatrio de visita
para quem pretende saber para onde
e por onde escoou muito do ouro
e dos diamantes retirados das minas
do Brasil durante a primeira metade
do sculo XVIII. O grandioso Convento
de Mafra associa sua riqueza patri
monial uma das mais impressionantes
bibliotecas portuguesas. Acoplada
ao convento, a Tapada, usada ao longo
dos sculos por monarcas e nobres
como quinta de recreio e venatria,
agora um centro de actividades
Palmela Sintra
-
patrimnio
de educao ambiental e nicho
de preservao do lobo ibrico.385612.93N 91938.89W
04 Aqueduto das guas LivresPercorrendo cerca de 60 quilmetros de
extenso, com diversas ramificaes, o
mais grandioso Monumento Nacional
de Portugal constitui hoje, perdida a
sua funo de abastecimento de gua
capital portuguesa, uma das mais impo
nentes obras de engenharia portuguesa
anterior Revoluo Industrial. Con
temporneo do convento de Mafra, a
sua origem em Belas localizase prximo
das runas romanas de uma barragem,
o aqueduto aproveita sobretudo as
nascentes chamadas das guas Livres.
Na sua construo participaram os mais
importantes engenheiros e arquitectos
do sculo XVII, nomeadamente Antnio
Canevari, Manuel da Maia, Carlos Mar
del e Custdio Vieira, este ltimo respon
svel pela arcaria do vale de Alcntara.
Em Lisboa, no troo final, tambm se
deve visitar a Me dgua das Amoreiras
e o Reservatrio da Patriarcal (no
subsolo do Prncipe Real), bem como as
dezenas de imponentes chafarizes (Rato,
Esperana, Janelas Verdes, entre outros),
que dessedentaram os lisboetas durante
mais de dois sculos.384345.55N 91011.98W
05 LisboaNa capital portuguesa, so inumerveis
os lugares que merecem uma visita.
Se certo que o terramoto de 1755
e muitos incndios foram destruindo
muito do patrimnio antigo de Lisboa,
aquilo que resta ainda deslumbra
qualquer visitante. Se os Jernimos,
a Torre de Belm e o Padro dos Des
cobrimentos so monumentos de visita
obrigatria na parte ocidental, ser
no corao da cidade que mais se con
seguir descobrir os encantos da Lisboa
antiga. Sugerese uma visita ao Castelo
de So Jorge, depois uma passagem
pela labirntica Alfama, uma descida at
Baixa Pombalina, passando de permeio
pela S, e terminando na zona do Chiado
e do Bairro Alto. Mas no deve o viajante
parar por aqui: deve sim continuar sempre;
visitar os museus, as igrejas, os jardins,
os miradouros. Enfim, deve caminhar,
caminhar... e no perder o Tejo de vista.384227.34N 90811.67W
Lisboa
-
06 Vila Franca de XiraEsta vila ribatejana pode no ter
monumentos imponentes, mas tem
todo um historial de vida, que se acha
em cada recanto das suas ruas, nos
cafs, no Tejo e na sua ligao umbilical
ao mundo taurino. A sua vivncia est
tambm muito ligada ao mundo das
letras, da que seja fundamental uma
visita ao Museu do NeoRealismo
(ver Lazer), onde se podem visitar
exposies e conhecer o esplio dos
principais escritores desta corrente
literria, entre os quais Alves Redol,
Manuel Fonseca e Soeiro Pereira Gomes.385715.45N 85922.74W
07 PalhotaDas vrias aldeias piscatrias que se
foram criando ao longo das margens
do Tejo, por pescadores de Vieira de
Leiria que para aqui vinham enquanto
o mar estava bravio no Inverno , a
aldeia da Palhota, no concelho do Cartaxo,
ficou celebrizada no apenas pelas suas
construes palafticas mas sobretudo
por causa da pena de Alves Redol
no seu clebre romance Avieiros. 390410.35N 84659.48W
08 SantarmConsiderada a Capital do Gtico, pela
imponncia de muitas das suas igrejas
construdas segundo este estilo arqui
tectnico, o antigo povoado romano
chamado Scallabis, sobranceira ao
Tejo, continua a ser uma das cidades
portuguesas com maior riqueza
patrimonial. Para alm da alcova
e muralhas, em Santarm existe um
grande nmero de templos religiosos
de rara beleza, destacandose as igrejas
e/ou convento de Santa Clara, de
Santo Estvo, de So Nicolau, de So
Francisco, de Santa Maria da Alcova,
entre muitas outras.391410.32N 84113.60W
09 AzinhagaFronteira ao paul do Boquilobo, uma
das mais ricas zonas hmidas do pas,
a pequena aldeia da Azinhaga, no
Santarm
-
patrimnio 8 9
concelho da Goleg, pode no possuir
um grande patrimnio arquitectni
co, mas tornouse recentemente um
lugar de culto por ser a terra natal de
Jos Saramago, o nico prmio Nobel
da Literatura em lngua portuguesa.
Alm de um centro da Fundao Jos
Saramago, aqui pode ser visitada a est
tua do escritor no largo da aldeia, obra
em bronze concebida pelo escultor Ar
mando Ferreira. Mais adiante, situase
a pequena casa onde nasceu o escritor
de Memorial do Convento, embora j
bastante alterada.392059.71N 83158.20W
10 TomarNa Cidade dos Templrios, banhada
pelo rio Nabo, so muitos os locais a
serem visitados. O Convento de Cristo,
e a clebre janela do Captulo, so
stios obrigatrios, mas o visitante no
pode deixar de rumar at ao Santurio
da Nossa Senhora da Piedade, ao Con
vento de Santa Iria e igreja da Nossa
Senhora da Conceio e subir at ao
Castelo. Recomendase tambm uma
passagem pela sinagoga e pelo Museu
Fernando LopesGraa, no edifcio
onde o compositor portugus nasceu
em 1906.393613.26N 82446.14W
11 Constncia Na vila que acolhe a entrada do rio
Zzere no Tejo, o visitante pode
usufruir de um povoado inundado
de Histria, onde se respira Lus
de Cames em toda a sua plenitude.
A CasaMemria de Cames local
obrigatrio, bem como o jardimhorto,
onde se replicam todas as plantas
referidas no magistral Os Lusadas.
Para alm do aglomerado urbano, que
merece ser calcorreado, destacase
tambm a beleza da Igreja da
Misericrdia e a Igreja da Nossa
Senhora dos Mrtires.392835.80N 82019.05W
Rio Nabo. Tomar
-
natureza, parques e reservas naturais
Parques e reservas naturais que so o legado
extraordinrio e nico da Natureza onde
podem ser vistos animais e flora no seu
habitat natural defendido das agresses
do homem. Em alguns casos estas reservas
acolhem uma biodiversidade to rara que
foram declarados Patrimnio Mundial,
e a podem ser avistadas aves migratrias,
plantas raras e pegadas de dinossurios.
Nestas reas protegidas o visitante deve
cumprir com todas as indicaes no sentido
da preservao destes habitats e respeito pela
vida animal.
0102
03
04
05
0607
templrios
ribatejo
costa azul
grande lisboa
lisboa
Natureza, Parques
e Reservas Naturais
-
Texto Pedro Almeida Vieira
L avoisier postulou, no sculo XVIII, que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Mas quando visitar uma das sete maravilhas
naturais da regio de Lisboa e Vale do Tejo, esquea
esta teoria da fsicoqumica. Opte antes por se des
lumbrar, tendo sempre em conta que, em reas pro
tegidas, o objectivo conservar... e sobretudo legar s
geraes vindouras toda a beleza para ns ofertada
pela Natureza.
Das montanhas ao mar, passando pelos esturios do
Sado e do Tejo, e at mesmo s profundezas da terra,
em belas grutas, nesta regio o viajante tem muitas
e variadas paisagens de cortar a respirao, que aca
bam por se tornar inspiradoras. E ter, por certo,
a sorte de se cruzar com uma riqueza faunstica
e florstica que jamais esquecer. Aconselhamse as
visitas no perodo primaveril para se usufruir de toda
a fora da Natureza; porm, os sentidos nunca sero
defraudados em qualquer outra poca do ano.
-
natureza, parques e reservas naturais
01 Reserva Natural do Esturio do Sado Apenas uma parte desta rea prote
gida se localiza no concelho de Setbal
estando a restante distribuda nos
municpios de Grndola e Alccer
do Sal. Mas isso no deve ser impe
ditivo de uma viagem por uma das
mais importantes zonas hmidas de
Portugal. Com cerca de 23 mil hecta
res, a Reserva Natural do Esturio do
Sado, criada em 1980, integra zonas
de sapal, de dunas e de guas salobras
que constituem locais de nidificao
e alimentao de mais de 200 espcies
de aves. Sendo uma zona importante
em termos de peixes, anfbios, rpteis
e mamferos, a sua maior riqueza
acaba por ser a clebre colnia
de golfinhos mais propriamente,
de roazescorvineiros.383100.87N 85017.26W
02 Parque Natural da Serra da ArrbidaDominada pela serra da Arrbida
e pelo litoral da parte sul da Pennsula
de Setbal, incluindo o cabo Espichel,
esta rea protegida possui uma das
mais fantsticas paisagens de Portugal,
que no deixa ningum indiferente.
Abrangendo partes dos municpios de
Setbal, Sesimbra e Palmela, o Parque
Natural da Serra da Arrbida, criado
em 1971, ocupa uma rea de cerca
de 18 mil hectares. Existem na regio
vastas zonas que mantm um tipo
de vegetao mediterrnica milenar,
onde se destaca a flora tpica do
garrigue (em solos calcrios) e dos
maquis (em solos siliciosos). Para quem
se quiser aventurar, mas com o devido
cuidado para preservar os habitats
mais sensveis, deve gastar algum tempo
a percorrer a serra do Risco e Vale
do Solitrio. Outro local que merece
visita especial o Cabo Espichel, onde
o mar e as falsias se encontram em
harmoniosa beleza.Acesso Sesimbra: 382745.83N 90605.19W | Acesso
Palmela: 383413.01N 85423.83W | Acesso Setbal:
383102.62N 85424.24W
03 rea de Paisagem Protegida da Arriba Fssil da Costa da CaparicaAbrangendo uma faixa costeira e as
arribas desde a Costa da Caparica
at Lagoa de Albufeira, esta rea
protegida, que se estende ao longo de
mais de 1.500 hectares dos municpios
de Almada e Sesimbra, destacase
sobretudo pela extensa faixa arenosa
associada a um cordo dunar e uma
escarpa fssil. A zona dos Capuchos
a parte mais impressionante, com a
escarpa a atingir cerca de uma centena
de metros. Merecem tambm uma
visita os pinhais dos Medos e da Aroeira,
onde ocorrem a sabinadasareias e a
aroeira, considerados Reserva Botnica
desde 1971. Imediatamente a sul,
encontrase a Lagoa de Albufeira,
tambm classificada como zona hmida
de importncia internacional.383629.39N 91211.53W
04 Parque Natural de Sintra-CascaisEmbora uma vasta zona esteja j domi
nada por floresta extica mas com
alguns ncleos no menos belos por
isso , esta rea protegida, criada em
1981, concentra a sua maior importncia
ecolgica no litoral. As praias da Samarra,
Adraga, Espinhao, Abano e Guia, bem
como o Cabo da Roca, possuem uma
-
diversidade de plantas de dunas
extremamente raras. No corao deste
Parque Natural tambm se pode
encontrar mais de duas centenas
de espcies faunsticas, destacandose
sete diferentes morcegos, a guiade
Bonelli, o falcoperegrino, o gavio,
o aor, o buforeal, o corvomarinho
decrista, o lagartodegua e o toiro.
Alguns dos monumentos e a rea
de Paisagem Cultural de Sintra,
classificada pela Unesco como
Patrimnio Mundial, encontramse
aqui inseridos.Acesso Sintra: 384754.42N 92317.21W |
Acesso Cascais: 384150.46N 92745.92W
05 Reserva Natural do Esturio do Tejo No imenso mar formado pelo rio
quando se abraa com o Atlntico,
o esturio do Tejo no apenas o
maior da Europa Ocidental. Tambm
a se encontra uma das mais belas
e ricas reas protegidas de Portugal.
Abrangendo cerca de 14 mil hectares
de guas estuarinas, incluindo os
mouches da Pvoa, do Lombo do Tejo,
das Garas e de Alhandra, bem como
o sapal de Pancas, esta Reserva Natural,
classificada desde 1980, encontrase
ladeada por pequenas reas de
montado e pinhal manso. Abrangendo
as zonas ribeirinhas dos municpios
de Alcochete, Benavente e Vila Franca
de Xira, aqui existe uma riqueza de
aves quase inigualvel, chegando no
Inverno a contabilizarse mais de 120
espcies de aves, com destaque para
o alfaiate que atinge no esturio
do Tejo cerca de 25% da populao
invernante na Europa , o flamingo,
o gansobravo, o pilritodepeitopreto
e o milherango. Alm dos estatutos
de conservao nacional e comunitrio
uma Zona de Proteco Especial
para aves e um stio da Rede Natura ,
esta Reserva Natural est classificada
como Reserva Biogentica do Conselho
da Europa.384525.35N 85737.50W
06 Reserva Natural do Paul do Boquilobo So apenas 554 hectares, formada
por uma zona hmida na confluncia
do rio Almonda com o grande Tejo,
muito perto da Goleg e a caminho
da Azinhaga. Mas apesar da reduzida
dimenso, esta rea protegida, criada
Esturio do Tejo
Paul do Boquilobo
-
natureza, parques e reservas naturais
em 1980, um paraso para muitas
aves migradoras, incluindo diversas
espcies de patos, galeires, zarro
comum, gaivinadospauis, colhereiro
e piadeira. Nas suas guas, vivem dois
peixes endmicos lusitanos (o ruivaco
e a bogaportuguesa) e cerca de duas
dezenas de espcies de anfbios e rp
teis, alm de mamferos como a lontra,
o toiro e o ratodeCabrera.392434.72N 83134.29W
07 Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros Englobando tambm os planaltos de
Santo Antnio e de So Mamede, esta
rea protegida de rara beleza, tanto
superfcie como no subsolo, devido
s formaes calcrias e peculiar
morfologia crsica, onde proliferam os
poldjes, os campos de lapis, as lapas
e algares, as uvalas e dolinas, bem
como uma complexa rede de cursos
de gua subterrneos, que permitem
uma fauna especfica, nomeada
mente caverncola. Aqui se localiza
tambm os Olhos dgua do Alviela,
uma nascente que constituiu uma das
principais fontes de abastecimento de
gua a Lisboa desde finais do sculo
XIX at meados do sculo XX. Embora
vastas zonas no sejam arborizadas,
encontramse pequenas manchas de
carvalhocerquinho e azinheira, mas
existem raras plantas herbceas, entre
as quais orqudeas e diversas plantas
aromticas, medicinais e melferas.
Em termos de fauna, destacase a
existncia de uma dezena de espcies
de morcegos que vivem em cavernas.
Integrado neste Parque Natural, classi
ficado em 1979, encontrase um Monu
mento Natural: a jazida da Pedreira do
Galinha, na vertente oriental da serra
de Aire, que contm a mais antiga e
longa pista de dinossurios saurpodes
conhecida no Mundo, com uma extenso
Grutas. Serras de Aire e Candeeiros
-
tejo | esse desconhecido 0 1
01
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10
templrios
ribatejo
costa azul
grande lisboalisboa
O Tejo que banha Lisboa e cantado por poetas
continua a guardar alguns segredos que
Cristina CastelBranco nos desvenda. Este
um percurso de rio. Mas nas suas margens
que se encontram os pontos de interesse,
permitindonos uma outra viso da geografia
do lugar. As coordenadas GPS fornecem
os trilhos que nos encaminharo para locais
de grande beleza natural e construda.
Paisagem ribeirinha onde persistem sinais
de actividades industriais, reservas naturais com
aves e flora, assim como algumas construes
que so indissociveis da vida do rio, como
o Aqueduto de Peges ou a Torre de Belm.
Tejo | Esse desconhecido
-
Texto Cristina CastelBranco
N a sua desembocadura, em frente Lisboa, o esturio do Tejo tem cerca de 10.000 hectares e passa por 9 cidades, espraiandose numa baa extraordinria
como imenso espelho de gua donde as cidades se
vem de uma para a outra margem. Virada a Sul,
para o rio, a velha colina de Lisboa foi ncleo de ins
talao humana a depender muito do Tejo, tal como
as outras cidades que se instalaram volta do rio
Loures, Vila Franca de Xira, Alcochete, Montijo,
Moita, Barreiro, Seixal, Almada.
Nestas cidades existem portos fluviais, pesca artesa
nal, salinas, moinhos de mar, uma avifauna diversa
e rica, passeios pblicos ao longo do rio, e uma longa
tradio de atravessamento do rio por barco. Durante
o sculo XX nelas se instalaram indstrias pesadas
que poluram o esturio e reduziram a cadeia alimen
tar a um estreito leque de espcies.
A desactivao destas indstrias no final do sculo
passado, reabre a possibilidade de recuperar o patri
mnio de pesca e de transportes, de lazer e qualidade
visual deste extraordinrio mar interior.
O percurso proposto circula em redor do esturio
e dever ser feito de barco. Iniciase no Cais das Colu
nas e entra para o interior rumo a Vila Franca at
Ponta da Erva, onde se inicia o esturio e o rio alarga
-
tejo | esse desconhecido
ao encontrarse com o rio Sorraia. Desce depois pela
margem sul at Alcochete, para a praia do Samouco,
donde se avistam as colinas de sal, vestgio de uma
intensa actividade de extraco artesanal. Descendo
para o Barreiro pode subirse o rio Coina, que entra
pela terra adentro em direco Serra da Arrbida,
em cenrios que mantm uma paisagem de quintas
dialogando com a arquitectura industrial agora quase
parada.
A grande surpresa que nos espera pertence ao Seixal
entrando pelo rio Tejo uma paisagem de dunas
e pinheiros mansos; a Ponta dos Corvos tem praia
no lado Norte, j sujeita influncia do mar e, no lado
do brao de rio, est o sapal. Antigos moinhos de mar,
fbricas de peixe, e uma vista entre pinheiros e dunas,
virada para as colinas de Lisboa, colocamna no topo
da beleza e da magia do esturio.
A partir desta Ponta o rio estreita e forma um gargalo
com cerca de 2km entre margens altas. a colina
de Almada e as arribas a pique que formam o cenrio
Sul, e o Vale de Alcntara e a serra de Monsanto que
o rematam a Norte. Passase por baixo da ponte
25 de Abril e, a poente, o Tejo encontra o mar. A marca
humana vai at ao Bugio, castelo forte de planta
redonda.
-
01 Ponta da ErvaNa confluncia dos rios Tejo e Sorraia
encontrase a Ponta da Erva, um conjunto
de terrenos totalmente planos e quase
sem rvores que integram a Reserva
Natural do Esturio do Tejo. dos locais
mais interessantes no pas para observao
de aves, durante todo o ano. 384957.65N 85812.07W
02 Salinas de Alcochete Situadas nas margens do rio Tejo, as
Salinas do Samouco, em Alcochete,
testemunham aquela que foi durante
muito tempo uma das principais activi
dades econmicas do concelho a pro
duo de sal. A sua riqueza ecolgica
reconhecida, sendo um excelente local
para observar aves aquticas.384350.37N 9010.17W
03 Rio CoinaEntre o Barreiro e o Seixal
O rio Coina um brao do rio Tejo que
penetra a sul no territrio e nave
gvel na mar cheia. A sua histria
est ligada construo naval durante
os Descobrimentos Portugueses.
Ao navegar pelo sapal do Coina, por
entre ilhotas, possvel observar aves
migratrias, flora diversificada e runas
de moinhos de mar. Um barco da
Cmara do Barreiro oferece viagens
pelo rio acima e apanhase perto
da estao fluvial do Barreiro. 383620.81N 9 35.65W
04 Ponta dos Corvos Entre o Seixal e Almada
A Ponta dos Corvos uma pequena
pennsula localizada no Seixal.
Acessvel a partir de Almada pelo seu
istmo oeste, um local de indiscutvel
valor natural e cultural, onde os
ecossistemas de duna e sapal
coexistem com as runas das fbricas
da seca do bacalhau, os moinhos de
mar, a praia fluvial e as amplas vistas
sobre Lisboa.383858.04N 9651.70W
05 Forte do Bugio O Forte de So Loureno ou Bugio foi
mandado erigir por D. Joo IV para
garantir a defesa da entrada no esturio
do Tejo. De planta redonda, funciona
como um marco no meio do mar,
a assinalar o final do Tejo. Foi destrudo
no terramoto de 1755 e reedificado,
entrando em funcionamento em 1775,
como farol de auxlio navegao,
funo que ainda hoje mantm.
Pode visitarse com autorizao prvia
da marinha Portuguesa.383937.28N 91756.61W
06 Torre de Belm A Torre de Belm foi erguida por volta
de 1500 na margem direita do Tejo,
perto de Belm, para defender
a entrada do porto de Lisboa. A sua
localizao e simblica renascentista
Salinas do Samouco
-
tejo | esse desconhecido
marcam a primeira imagem do Tejo
para quem entra de barco. Encontrava
se dentro de gua e ao ser restaurada
nos anos 60, o processo natural do
movimento das mars foi aproveitado,
numa soluo em que a gua retida
volta da base da Torre, mesmo
na mar baixa, e a torre refletese
no espelho de gua.384129.54N 91256.96W
07 Aqueduto dos Peges Situado perto de Tomar, o Aqueduto
dos Peges foi construdo a pedido
do rei Filipe II pelo arquitecto Filipe
Terzi, com o objectivo de abastecer o
Convento de Cristo, entre 1593 e 1614.
Com cerca de 6 km de extenso e uma
altura mxima de 30 m, pode ser per
corrido livremente, ao longo de uma
plataforma junto caleira da gua. 393611.43N 82513.65W
08 Castelo de Almourol Entre Vila Nova da Barquinha e Cons
tncia erguese imponente no meio do
Tejo o Castelo de Almourol. O alcance
da vista fantstico, explicando a sua
utilizao militar ao longo dos sculos.
Em Almourol pode apanhar uma das
chatas ou picaretes que o levar em
2 minutos at ao castelo.392743.59N 8232.50W
09 Ilha do Lombo A albufeira de Castelo de Bode,
pertencente localidade de Serra
de Tomar, um lugar tranquilo com
uma envolvente sem igual com vistas
serranas. Pode pernoitar nesta ilha
que proporciona diversas actividades
de lazer, entretenimento e aventura.393630.66N 81613.25W
10 Quinta da Boavista Localizada no concelho de Santarm,
num planalto com vista para o rio Tejo,
a Quinta da Boavista essencialmente
uma quinta de produo, com vrios
hectares de terrenos agricultados, olivais,
florestas e pastagens. Destacamse
tambm os coches e os lagares antigos,
a escola equestre e os estbulos. 392889.72N 86261.38W
Torre de Belm
-
lugares e tradio 8 9
05
02
01
04
03
templrios
ribatejo
costa azul
grande lisboa
lisboa
Afastandonos dos grandes centros urbanos
descobrimos um outro territrio digno de ser
conhecido. Lugares que ainda guardam sinais
da sua histria contada atravs dos seus
monumentos, igrejas, capelas e das tradies
de cariz popular por onde perpassa o sentido
de comunidade.
Caso pretenda conhecer zonas mais calmas,
afastandose do bulcio das cidades,
a escolha variada. Basta fugir das vias
rpidas e deambular dolentemente por
estradas secundrias. Descobrir riquezas
patrimoniais e pedaos de Histria.
Lugares e Tradio
-
Texto Pedro Almeida Vieira
D urante as invases napolenicas, no incio do sculo XIX, o general francs Foy, ter dito que Portugal Lisboa e o resto paisagem. No
acredite. Se certo que na capital portuguesa encon
trar muitos motivos para uma prolongada visita,
o viajante tem, na regio de Lisboa e Vale do Tejo,
lugares mais ou menos remotos com uma Histria
para contar e mostrar, atravs de um vasto patrim
nio arquitectnico e humano, que revelam um pas
diversificado que tem, nos seus contrastes, uma das
suas maiores riquezas.
E a escolha desses lugares tornase to difcil que
nenhum guia pode ousar recomendar tudo. Por isso,
embora o viajante possa sempre seguir o percurso
proposto, por cinco vilas e aldeias, talvez seja mais
enriquecedor se, deambulando por entre elas, partir
descoberta, sem mapa e apenas com um objectivo:
ver uma regio com tanto para revelar e surpreender.
-
lugares e tradio 0 1
01 Santo Anto do Tojal Antigamente chamada Santo Antnio
de Santo Anto do Tojal, esta pequena
vila do concelho de Loures, talvez pela
denominao, sempre foi um local
de descanso dos arcebispos de Lisboa.
Com a criao do Patriarcado, durante
o reinado de D. Joo V, o ento
patriarca, D. Toms de Almeida,
decidiu melhorar o seu alojamento,
contratando o italiano Antnio
Canevari que seria o primeiro
director das obras do Aqueduto das
guas Livres. Este arquitecto rgio no
se poupou ento em esforo para
transformar um velho solar num
autntico palcio ao estilo barroco,
com magnficas salas decoradas com
azulejos, e criar uma quinta
sumptuosa, com belos pombais. Para
abastecer o palcio tambm construiu
um aqueduto, anterior ao de Lisboa,
usando as nascentes de Pintus, que
culminou num majestoso chafariz,
defronte a uma imponente praa, que
surge incrustado num palacete anexo,
a lembrar a soluo arquitectada na
Fontana de Trevi, em Roma.
No segundo quartel do sculo XVIII,
aqui benzeramse os sinos do convento
de Mafra, que chegaram a Santo Anto
do Tojal atravs de um brao do rio
Tranco, ento existente. Um evento
que agora evocado todos os anos,
no incio do Outono, com a encenao
de um desfile setecentista e de uma
feira tpica daqueles tempos.www.jfsatojal.pt
385113.11N 90834.51W
02 Manique do IntendenteSe porventura Pina Manique no
tivesse cado em desgraa em 1803,
hoje Manique do Intendente seria um
plo urbanstico mpar em Portugal.
Nos tempos de D. Maria I, aps ter
conseguido um alvar para instituir
uma vila nos terrenos do seu morgado
de Alcoentrinho, o todopoderoso
IntendenteGeral da Polcia pensou a
criar, a suas expensas, uma autntica
vila iluminista. Com a ajuda de um
emprstimo de 32 contos de reis uma
fortuna para a poca clere
promoveu o povoamento do seu
Palcio de Manique do Intendente
-
senhorio, com colonos aorianos, e
pensou mesmo em a localizar um plo
da Casa Pia, que fundara uma dcada
antes. Aprestouse a edificar um
sumptuoso palcio com igreja central
e uma praa monumental, a que
chamou dos Imperadores em honra
de seis imperadores romanos, que
davam o nome a outras tantas ruas
que dali ramificavam. Seria nessa
praa hexagonal, ocupando quase meio
hectare, que se localizariam o edifcio
da Cmara e a cadeia, tendo o
pelourinho no centro. A demisso de
Pina Manique, por presso de Frana,
acabaria por gorar todo este ambicioso
projecto, mesclado de urbanismo
barroco e neoclssico. As obras do
palcio cujo arquitecto, Joaquim
Fortunato de Novais, era um
excasapiano que tivera a oportu
nidade de estudar em Roma nunca
se concluram, e hoje restam apenas
as majestosas fachadas, classificadas
como imvel de interesse pblico.
Manique do Intendente foi perdendo
importncia ao longo do tempo seria
mesmo extinto como concelho em
1836 , mas merece uma visita por
ser o smbolo de um sonho no
concretizado.www.cmazambuja.pt
391315.79N 85337.25W
03 Chamusca Nas margens do Tejo, Chamusca vila
onde a terra e o cu se irmanam.
Nesta regio ribatejana, o forte pendor
agrcola, que tem como seu smbolo
maior a imponente praa de toiros
construda no incio do sculo XX, em
estilo neoarbe , encontra
paralelismo na vasta profuso de
templos religiosos. Para alm de
diversas ermidas das quais se
destaca a de Nossa Senhora do Pranto,
com uma preciosa coleco de azulejos
setecentistas a profunda devoo
religiosa desta vila revelase na
existncia de outras quatro igrejas,
duas das quais construdas por
iniciativa privada em sculos passados.
Acresce ainda o antigo convento de
Santo Antnio, junto ponte metlica
que liga Goleg, construdo no final
do reinado de D. Manuel I, embora
hoje seja um edifcio privado. Antes de
Chamusca
-
lugares e tradio
se subir para o miradouro do Outeiro
do Pranto, o visitante deve tambm
deambular pelo aglomerado urbano,
recomendandose, como ponto de
partida, o Largo 25 de Abril, mais
precisamente o Chafariz da Branca de
Neve uma designao popular desta
fonte para a distinguir, pela maior
dimenso, de outras sete bicas
(os anes), que em tempos remotos
abasteciam a populao local.www.cmchamusca.pt
392134.16N 82850.67W
04 Sardoal Vila com quase meio milnio de
existncia, Sardoal um dos mais
antigos povoados do pas e, por isso,
apesar da reduzida dimenso, mantm
traos patrimoniais que remontam
Idade Mdia. No final do sculo XIV,
aqui se instalou uma ermida que foi
crescendo at se tornar numa
imponente igreja. Mais tarde
construirseia um mosteiro, em honra
da Nossa Senhora da Caridade, a que
se associou um hospital para
aproveitar a qualidade das guas
frreas. No patrimnio religioso
destacase ainda a igreja matriz de So
Tiago e So Mateus, construda no
sculo XV, e a Igreja da Misericrdia,
mandada edificar pelo rei D. Fernando,
com belssimos painis de azulejos.
Num pequeno aglomerado urbano
que mantm ainda uma traa rstica,
a presena dos antigos senhores do
Sardoal, os condes de Abrantes,
salientase de forma imponente.
A Casa Grande, conhecida por Solar
dos Almeidas, um dos exemplos a
visitar. Mas percorrer a vila, calcorrear
os jardins pblicos da Tapada da Torre
e da Praa Nova so outros pontos que
merecem ser desfrutados.www.cmsardoal.pt
393159.96N 80936.72W
05 DornesEncastrada na albufeira de Castelo
de Bode, a pequena vila de Dornes
sede de concelho at 1836, com foral
concedido pelo rei D. Manuel I possui
um manancial de lendas que
remontam aos tempos dos romanos,
dos mouros e dos templrios. Ento
situada num penhasco, a ter sido
construda uma terra pelo general
romano Sertrio, no sculo I a.C.,
tendo depois dado lugar a outra
construda pelos Templrios. Consta
tambm que os mouros tero deixado
enterrados na sua zona ricos tesouros.
A sua igreja, em honra da Nossa
Senhora do Pranto (ou das Dores),
ter sido mandada construir pela
rainha Santa Isabel, em 1285, no local
onde supostamente surgiu a Virgem
Maria com Jesus Cristo morto nos seus
braos. A denominao Dornes advm
mesmo dessa apario, pois o nome
inicial era Vila das Dores.
A construo da barragem de Castelo
de Bode, em 1951, alterou profunda
mente a envolvente da vila, criando
uma pennsula rodeada pela albufeira,
tornando Dornes um local de rara beleza.
Na estrada que liga povoao de Paio
Mendes, ao longo de cerca de trs
quilmetros, encontramse 14
cruzeiros que representam uma
viasacra, realizandose todos os anos,
entre a segundafeira da Pascoela
e Setembro, diversas procisses em
honra de Nossa Senhora do Pranto. www.dornes.eu
394613.27N 81608.22W
-
festas religiosas
0102
05
06
0304
07
templrios
ribatejo
costa azul
grande lisboa
lisboa
A herana popular das manifestaes de f
no deixa de integrar elementos pagos.
Muitas destas festas de cariz religioso esto
intimamente ligadas faina agrcola,
a milagres e pesca, organizandose segundo
um calendrio que muitas vezes marca
o ritmo da vida dessas populaes. Algumas
destas manifestaes tornaramse, pelo
seu impacto e grandeza, em fortes atraces
tursticas, como acontece, por exemplo,
com a festa dos Tabuleiros em Tomar.
Todas estas festas representam grandes
manifestaes de imaginao popular, dignas
da nossa curiosidade.
Festas Religiosas
-
Texto Pedro Almeida Vieira
D eus quer, o Homem sonha e a obra nasce assim escreveu Fernando Pessoa. E se Deus sempre foi, num pas marcadamente catlico, uma fonte de inspi
rao e de auxlio em pocas de angstia e de espe
rana, o Homem procurou sempre retribuir a ajuda
divina, criando manifestaes de f embebidas tam
bm em tradies pags, para que a obra ou seja,
a produo agrcola e pesqueira nascesse.
Hoje, embora muitas das festividades religiosas
tenham j perdido a sua funo primordial, a devo
o que a ainda se manifesta, associada a actividades
recreativas, so motivos suficientes para uma visita.
Sobretudo concentradas na poca estival e durante
a Pscoa, e incidindo muito no secular culto mariano,
nestas festas religiosas encontrarse todo o esplen
dor e aparato que tem atravessado geraes.
-
festas religiosas 8 9
01 Festa de Nossa Senhora do Rosrio de TriaSetbal | Segunda quinzena de Agosto
O ponto mais alto destas festas
a travessia do Sado, depois da reali
zao de uma missa na igreja de So
Sebastio em memria dos martimos
falecidos, sendo a imagem de Nossa
Senhora transportada num barco,
desde a Doca das Fontainhas at
Caldeira de Tria, em companhia
de dezenas de embarcaes engala
nadas. Durante dois dias, a imagem
de Nossa Senhora mantmse em
Tria. Na primeira noite, h uma pro
cisso de velas pela praia, sucedendo
depois bailes e arraiais. No segundo dia,
ainda em Tria, promovese o concurso
de Barcos Engalanados, regressando
todas as embarcaes a Setbal
nessa tarde, passando ainda ao largo
do Hospital do Outo, onde se faz
a habitual saudao dos doentes.www.munsetubal.pt
383128.26N 85335.03W
02 Festa da Nossa Senhora da SadeVila Nogueira de Azeito
Segundo fimdesemana de Setembro
Em honra da graa de Nossa Senhora,
pela sua intercesso durante uma peste
em 1723, esta festa em Vila Fresca de
-
Azeito decorre durante trs dias.
Do ponto de vista religioso, o ponto alto
a procisso solene no domingo
tarde, com a imagem de Nossa
Senhora a percorrer as ruas da
povoao, ao som da banda filarmnica.
Porm, as festividades profanas
marcam terreno, sendo possvel
assistir aqui a provas de cavalhadas
antiga portuguesa, em que os
concorrentes, montados a cavalo,
tentam acertar com um varo numa
argola pendurada num ponto alto. www.munsetubal.pt
383109.81N 90049.69W
03 Festas de
Nossa Senhora da AtalaiaMontijo | ltima semana de Agosto
Remontando a 1507, quando pere
grinos, sobretudo empregados da
Alfndega de Lisboa, acorreram ento
pequena igreja da Atalaia para pedir
proteco de Nossa Senhora, estas
festas ganharam um carcter multi
municipal. Durante sculos, em finais
de Agosto, chegaram a ser mais de 30
as procisses vindas de vrios pontos
da Grande Lisboa que acorriam com
crios, a p ou de barco, at s margens
do Tejo, tendo a igreja beneficiado
de considerveis obras. Actualmen
te, apenas cinco confrarias Quinta
do Anjo, Carregueira, Olhos dgua
(concelho de Palmela), Azia (Sesimbra)
e o Crio Novo da Jardia (Montijo)
mantm a venerao a Nossa Senhora
da Atalaia, chegando vez e dando
trs voltas ao CruzeiroMor, subindo
depois a escadaria at ao santurio,
acompanhados sempre pela imagem de
Nossa Senhora da Atalaia, com desfile
das bandeiras que as identificam. No
domingo, todas as confrarias partici
pam numa procisso colectiva e, nessa
noite, procedese Arrematao das
Bandeiras, que simbolizam promessas
-
festas religiosas
a cumprir. No final, realizamse tpicos
bailaricos nas sedes das confrarias.www.munmontijo.pt
384220.66N 85828.62W
04 Procisso da Nossa Senhora dos NavegantesCascais | 15 de Agosto
Antes de ser terra de reis, Cascais foi
terra e mar de pescadores. E o mar,
embora madre, tambm por vezes
se tornava madrasta. Por isso, a Nossa
Senhora dos Navegantes foi conhecendo
uma grande devoo dos pescadores.
Hoje j so poucos, mas a tradio de
venerar a padroeira mantevese com
uma procisso a percorrer as ruas da vila
at os andores alcanarem as margens
do Atlntico para um passeio martimo
engalanado com as cores garridas que os
homens do mar utilizavam para decorar
os seus barcos. A meio deste percurso,
quando a imagem da Senhora dos Nave
gantes chega Guia, lanada a bno
ao mar, aos pescadores e ao povo de Cas
cais. Esta tradio tem, segundo consta,
as suas razes no sculo XV, quando
a devoo a So Pedro Gonalves foi
sendo progressivamente substituda pela
da Senhora dos Navegantes. A partir
de 1834 teve um interregno de mais de
um sculo, quando as ordens religiosas
foram extintas, mas seria retomada
em 1942 quando se reconstruram os
torrees da Igreja de Nossa Senhora dos
Navegantes.www.cmcascais.pt
384150.23N 92518.20W
05 Procisso dos Fogarus Chamusca | Sextafeira de Paixo
Um dos mais conhecidos actos de devo
o do pas, esta procisso nocturna
sai da igreja do Senhor da Misericrdia,
Festas da Nossa Senhora do Cabo Espichel | PeregrinaesSetembro
Culto que remonta ainda aos tempos do rei
D. Joo I, a romaria da Nossa Senhora do
Cabo Espichel comeou a desenrolarse
sobretudo a partir do primeiro quartel
do sculo XV, quando dois saloios da Caparica
e de Alcabideche ali acorreram aps terem
tido sonhos coincidentes sobre o aparecimento,
naquele promontrio do concelho de
Sesimbra, de uma imagem da Virgem Maria
com o Menino Jesus ao colo. A seria
construda uma pequena ermida.
Em finais do sculo XVII, para melhorar
a organizao das procisses feitas por uma
trintena de freguesias dos actuais concelhos
de Cascais, Sintra, Oeiras, Loures, Odivelas,
Mafra e Lisboa, seria mesmo criada
a Confraria de Nossa Senhora do Cabo,
com estatutos aprovados por bula apostlica.
Sobretudo no sculo XVIII, estas romarias
tornarseiam grandiosas, levando
construo de um santurio, integrando
hospedarias, com sobrados e lojas, e mesmo
de um aqueduto no Cabo Espichel, para
acolher em condies os romeiros com
os seus crios.
O culto ainda hoje se mantm, mas
o momento mais alto ocorre anualmente
na freguesia, de entre as 26 ainda integrantes
da Confraria, que teve a honra de guardar
a imagem de Nossa Senhora do Cabo. Assim,
em Setembro de cada ano decorrem,
na parquia estipulada, diversas cerimnias
religiosas associadas a cortejos, arraiais
e vrios espectculos recreativos, ao longo
de quase duas semanas. Em 2011, as Festas
de Nossa Senhora do Cabo decorreram
na freguesia de Santa Maria e So Miguel,
no concelho de Sintra, e em 2012 realizamse
em LindaaVelha, no municpio de Oeiras.
Confraria Nossa Senhora do Cabo Espichel
Estrada Cabo Espichel
Igreja Nossa Senhora Cabo Espichel,
Santana Castelo
2970340 Sesimbra
Tel: +351 212 680 565
10
-
encabeada por um grupo de mordo
mos levando uma imagem de Cristo
Crucificado, percorrendose as ruas
da vila em companhia dos devotos que,
em silncio, seguram fogarus (velas
acesas colocadas num vaso com pega).
Esta solenidade est tambm muito
associada a um suposto milagre ocor
rido durante as invases napolenicas,
quando as tropas francesas, do outro
lado do Tejo, ameaavam saquear a
pequena vila, tendo um padre apelado
proteco divina, malograndose
assim as intenes dos inimigos, que
pereceram perante uma repentina
subida do caudal do rio. www.cmchamusca.pt
392134.11N 82850.74W
06 Festa da Nossa Senhora da Boa Viagem Constncia | Perodo pascal
Se a vila de Constncia foi perdendo
a sua actividade pesqueira, se os
varinos se extinguiram, a tradio
continua a manifestarse como se tal
no tivesse sucedido. Todos os anos,
desde 1798, durante as festividades
pascais, a vila de Cames engalana
as suas estreitas ruas para preparar
a procisso da segundafeira de
Pscoa em honra da Nossa Senhora
da Boa Viagem. O ponto alto ocorre
nas margens dos rios Tejo e Zzere,
onde se faz a secular bno dos
barcos, bem como de viaturas na
Praa Alexandre Herculano. Em para
lelo, as festas e actividades culturais
invadem a vila, com provas desporti
vas, exposies, concertos musicais
e folclore e, claro, muitas tasquinhas
ao longo das ruas engalanadas. www.cmconstancia.pt
392835.15N 82018.25W
07 Festa dos TabuleirosTomar | Quadrienal, incios de Julho
Porventura, a festa religiosa mais
deslumbrante e grandiosa de Portugal,
a sua gnese provm dos tempos
do paganismo, quando o povo fazia
oferendas a Ceres, deusa romana
da agricultura. Durante o reinado
de D. Dinis, estas festas foram
substitudas por actos de devoo
crist. Embora tenha evoludo ao
longo dos sculos, a tradio mantm
muitas das cerimnias antigas, como
o cortejo da chegada dos Bois do
Esprito Santo (Cortejo do Mordomo),
o Cortejo das Coroas, o Cortejo dos
Rapazes, a Distribuio do Bodo
e sobretudo o Cortejo dos Tabuleiros,
que decorrem em cinco dias diferentes.
Esta ltima cerimnia o ponto alto
das festividades, consistindo num
desfile de raparigas das 17 freguesias
de Tomar, acompanhadas de rapazes,
que transportam os tabuleiros
cestos de vime ou verga ornamen
tados com flores e pes, rematados
ao alto por uma coroa encimada pela
Pomba do Esprito Santo ou pela Cruz
de Cristo , ao longo de um percurso
de cinco quilmetros pelas ruas
engalanadas e com colchas pendentes
das janelas.
Estas festividades tm um cerimonial
complexo, iniciandose no ano anterior
sua realizao, quando o povo de Tomar
convocado para uma reunio pblica,
no Salo Nobre dos Paos do Concelho.
Nessa altura, havendo opinio favorvel
do povo, logo escolhido o Mordomo
e so lanados trs foguetes em sinal
de anncio pblico.www.cmtomar.pt
393613.22N 82446.17W
-
festas religiosas
-
cavalo lusitano e toiro
08
07
05
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06
01
04 03
09
templrios
ribatejo
costa azul
grande lisboalisboa
A histria de um animal quase mtico, o cavalo
lusitano, cruzouse com outro no menos
mtico e ancestral, o toiro. E a histria
de ambos indissocivel do homem que,
desde tempos imemoriais, estabeleceu
laos e rituais de celebrao com estes
extraordinrios animais.
Propomos uma visita s mais importantes
ganadarias. Para isso indicamos as respectivas
localizaes. Para os amantes da festa dos
toiros fornecemos o calendrio das corridas
que se realizam ano aps ano na regio.
Cavalo Lusitano
e Toiro
-
Texto Domingos Costa Xavier
S uposto que tudo se deve excepcionalidade das condies edafoclimticas de toda a regio. Irrealidade ou lenda, certo que j Plnio postulou que os cavalos da Lezria eram to
geis que se supunha que as guas suas mes eram
cobertas pelo vento. bonita a imagem, mas mais
no que, puro testemunho de antanho da funciona
lidade das montadas lusas.
Tal qualidade, bem cedo despertou o desenvolvimen
to das artes equestres, e j em 1318 o mestre Giraldo
redigia a Arte de Alveitaria, livro que bem analisado
se revela todo um tratado de Hipologia.
Continuam os cavaleiros lusos a desenvolver uma
monte de excelncia, a monte de Gineta, o que pos
svel justificar a acumulao de saberes que permitiu
que em 1430 ElRei D. Duarte tenha publicado O livro
da Ensinana do bem cavalgar, obra que abre as
portas equitao superior e arte de lidar toiros
a cavalo.
Trezentos anos depois, Manuel Carlos de Andrade,
redige Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavalaria
livro que hoje se considera tecnicamente superior
aos Princpios da Equitao de Plurinel, durante
anos a quase bblia dos cavaleiros de escola.
Esta simbiose entre cavalos e toiros recua ao ano de
1678, em que Galvo de Andrade publica o Tratado
de Cavalaria e Toureiro, antecipando em cem anos
o andaluz Joseph Daza, por muitos considerado um
-
cavalo lusitano e toiro 8 9
dos primeiros tericos da coisa turica, sobretudo
por desconhecerem o livro de Andrade e de D. Duarte,
j atrs citado.
Continuamos, orgulhosamente, a praticar uma das
melhores equitaes do mundo, clssica e formal nos
conceitos, sobretudo com o que faz a Escola Portu
guesa da Arte Equestre, hoje sediada no Palcio de
Queluz, onde se pode conhecer o Centro Equestre
da Lezria Grande (que Lus Valena superiormente
dirige na proximidade de Vila Franca de Xira), a Escola
Militar de Mafra e a Charanga da Guarda Nacional
Republicana, a nica no mundo que toca a galope.
Quanto ao toiro a histria paralela, mas bem dife
rente. Tudo comea com os bovinos bravios ( os Oros
ou Aurorves) to abundantes no territrio, que justi
ficavam regras para o seu combate, e exemplo de que
assim era, que se atente no teor do decreto rgio (hoje
depositado em Lisboa na Torre do Tombo) que faz
parte do esplio da chancelaria de D. Afonso III, em
que se normaliza a caa de ursos e de toiros na Serra
da Arrbida, com o curioso pormenor de estipular
o nmero de lacaios que cada fidalgo podia levar em
seu squito, curiosamente oito, nmero que equivale
ainda aos componentes dos grupos de forcados que
nas nossas arenas executam as pegas aos toiros.
Depois, com a fixao territorial e as casas de lavoura,
tais bovinos ( um quase subproduto da explorao eco
nmica, face sua rusticidade) assumem a designao
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de Gado da Terra, e , vo sendo utilizados quer na
mera alimentao, quer em primordiais eventos tu
ricos, quer ainda para pagamentos em espcie numa
altura em que o papel moeda no corria como hoje.
Foram tais pagamentos, que do meu modesto ponto
de vista, justificam o incio da Ganadaria de apurada
bravura em Portugal, dado que os lavradores paga
vam a cngrua (tributo devido igreja, em regra
pago no perodo pascal) em cabeas de gado, e os
monges dominicanos (que sabiam ler) com conven
to no Monte da Barca, cerca da vila de Coruche, co
mearam meticulosamente a registar as provenin
cias do que recebiam e os cruzam