guia prático de primeiros socorros parte 02

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Problemas do S IS teHJí\CL digestivo 106 1. DIARRÉIA Eliminação anormal de fe- zes de consistência alterada (líquidas ou amolecidas), em quantidade e freqüência maiores que o habitual, ge- ralmente acompanhada de aumento dos movimentos in- testinais (hiper-peristaltis- mo). Caso haja presença de muco (catarro) e sangue, com dor abdominal intensa e persistente, ou febre e cala- frios, denomina-se disenteria. Esta em geral representa uma doença mais grave, de- vendo ser obtida avaliação médica imediata. Na diarréia a passagem do alimento através dos intestinos torna-se anormalmente rápida, impedin- do adequada digestão e absorção. O tempo talvez se- ja insuficiente até para a absorção de água e sais mi- nerais, quando então se faz necessária a reposição de líquidos e sais minerais (sódio e potássio). A falta de potássio no organismo pode provocar câimbras mus- culares e cansaço. Fezes moles em bebês alimentados apenas com lei-

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Page 1: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02

Problemas do S IS teHJí\CL digestivo

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1. DIARRÉIA

Eliminação anormal de fe­zes de consistência alterada (líquidas ou amolecidas), em quantidade e freqüência maiores que o habitual, ge­ralmente acompanhada de aumento dos movimentos in­testinais (hiper-peristaltis-mo). Caso haja presença de muco (catarro) e sangue, com dor abdominal intensa e persistente, ou febre e cala­

frios, denomina-se disenteria. Esta em geral representa uma doença mais grave, de­vendo ser obtida avaliação médica imediata.

Na diarréia a passagem do alimento através dos intestinos torna-se anormalmente rápida, impedin­do adequada digestão e absorção. O tempo talvez se­ja insuficiente até para a absorção de água e sais mi­nerais, quando então se faz necessária a reposição de líquidos e sais minerais (sódio e potássio). A falta de potássio no organismo pode provocar câimbras mus­culares e cansaço.

Fezes moles em bebês alimentados apenas com lei-

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

te materno são normais e não devem ser confundidas com a verda­deira diarréia. No entanto, se ocorre mudança dos hábitos intesti­nais do bebê, essa situação deve ser avaliada.

A diarréia pode ser aguda (breve) ou crônica (se ocorre por mais de quatro semanas).

Os casos agudos devem-se geralmente às seguintes causas: • Infecções por vírus (Rotavírus, etc. ) - é uma das mais comuns. • Infecções por bactérias (Shigella, Salmonella, Escherichia coli, Vi-

brio cholerae). • Infecções por protozoários (giárdia, ameba, e t c ) . • Infecções por Vermes (áscaris, estrongilóides, e t c ) . • Processo inflamatório do intestino grosso (colite) ou do delga­

do (enterite). • Problemas alimentares (má absorção de açúcares, por exemplo). • Uso abusivo de laxantes ou

outras medicações (para obesi­dade ou diabetes).

• Influência do meio am­biente sobre o organismo, so­bretudo o calor excessivo.

• Toxinas. • Problemas emocionais

(emoções súbitas, estresse, diarréia psicogênica).

• A "diarréia do viajante" ocorre em 5 0 % dos turistas. Está ligada à fadiga, a mu­danças bruscas de clima e, sobretudo, à alimentação.

A diarréia crônica é acarre­tada por distúrbios intestinais ou tumores, que devem ser tratados para que o sintoma desapareça.

Apesar dessas possibilidades, na maioria das vezes a diarréia é um processo benigno e auto-limitado, curando-se apenas com uma boa hidratação e mudança do hábito alimentar.

Os sintomas mais comuns incluem: dor abdominal tipo cólica, neces­sidade freqüente e urgente de ir ao banheiro (urgência fecal) e evacua­ção involuntária (incontinência fecal). Podem ainda estar associados: febre, perda importante de peso e vermelhidão no tronco e no rosto.

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PRIMEIROS SOCORROS

A evolução da doença e suas conseqüências variam caso a caso, podendo após uns poucos dias, se persistente, conduzir à desidrata­ção, desnutrição e falência de órgãos e sistemas fundamentais ao funcionamento do organismo. Caso haja evacuações muito freqüen­tes (10 a 20 evacuações diárias), com fezes claras e líquidas, poderá tratar-se de um caso de cólera, o que demanda avaliação médica ur­gente, devido ao risco de desidratação e morte.

Sinais associados que indicam necessidade de avaliação médica da diarréia:

• Dor abdominal constante durante seis horas ou mais. • Vômitos seguidos há mais de 12 horas. • Febre contínua. • Sinais de desidratação, como diminuição da urina, boca seca,

olhos fundos. • Sonolência anormal.

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Prevenção a) Lave bem as mãos antes de manipular alimentos e utensílios de co­

zinha, ou atender as necessidades de crianças, principalmente recém-nas­cidos. Mamadeiras, chupetas e demais utensílios de alimentação devem ser man­tidos tão estéreis quanto possível.

b) Os alimentos devem ser bem lava­dos com água fervida ou tratada.

c) Só use alimento recém-preparado ou com conservação adequada (sobre -

j tudo frutas e hortaliças cruas, quando I estiver em viagem).

d) Use somente água de boa qualida­de (tratada) e filtrada (segurança du­pla), devendo ser fervida sempre que houver desconfiança quanto à sua qua­lidade; por exemplo, nos casos de en­

chentes, ou se não houve limpeza recente da caixa d'água. e) Não compartilhe toalhas, esponjas ou roupas.

O que fazer O tratamento objetiva permitir que o organismo se recupere da

infecção ou intoxicação, ao mesmo tempo que se evita a desidrata-

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

ção. Deve-se procurar reduzir a freqüência dos movimentos intesti­nais em 24 horas, embora as fezes possam permanecer moles por cin­co a sete dias.

• Em casos de diarréia infantil, é im­portante manter, sempre que possível, o uso do leite materno, caso a criança ainda esteja sendo amamentada.

• Dê muito líquido (cerca de lOOml por evacuação para crianças pequenas, 200ml para juvenis e 350ml para adul­tos), além da necessidade diária de líqui­do para a idade. Deve ser suficiente para produzir urina abundante e clara. Para adultos, sempre que possível use soro: Pedialyte 90, Hidrafix 90 ou o soro da CEME distribuído em postos de saúde. Para crianças que não aceitam o soro, ofereça suco de fruta (goiaba, maçã, caju, água de coco) diluído, coado e não ado­çado, ou sopas, caldos e canjas, ou ainda gelatina preparada com soro reidratante.

• Se o paciente estiver vomitando, faça-o beber o líquido em go­les pequenos, no máximo uma xícara de café por vez, com a freqüên­cia possível (a cada 10 ou 15 minutos). Dê preventivamente a me­dicação para vômito (Trimebutino), conforme descrito na seção so­bre vômitos.

• Se a pessoa apresentar dor abdominal em cólica, utilize bolsa de água quente aplicada à barriga, para possibilitar alívio. Tal dor pode ser indicativa de gases. Pode-se usar também a medicação descrita no capítulo de flatulência. Recomenda-se carvão ativado, que atua aumentando a adsorsão de toxinas, o que pode ajudar a diminuir os gases e as cólicas.

• Havendo suspeita de diarréia toxigênica, pode ser utilizado um inibi­dor de encefalinas gastrointestinais (Tiorfan®). Pelo efeito redutor da hi-per-secreção intestinal, causada por toxinas bacterianas, pode ajudar a di­minuir o processo diarréico e a perda de líquidos e água.

• Prefira alimentos leves, de fácil digestão: papa de arroz branco com batata, purê de batata sem leite, cenoura sem o miolo, macar­rão, maçã sem casca, banana-maçã ou banana-prata (ricas em potás-

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PRIMEIROS SOCORROS

sio), biscoito de polvilho salgado ou de água e sal (cream cracker), torradas, fubá, farinha de arroz, mandioca cozida, legumes cozidos (chuchu, man-dioquinha, batata, cenoura, abobrinha), ovo cozido, carnes magras, peixes e aves sem pele e grelhados, entre outros.

O que não fazer • Não dar medicamentos que blo­

queiem a diarréia (Imosec®, Elixir Pare-górico®, Atroveram®), pelo risco de man­ter, dentro do organismo, materiais e bac­térias que ele está procurando eliminar, com o risco de disseminação da infecção

I para outras áreas do corpo. J • Não dar cosméticos fecais, substân-

" * — : — c i a s que apenas transformam a evacua­ção de líquida em pastosa, numa alteração meramente do aspec­to, sem resolver o problema. Um exemplo são as suspensões de Caulim com Pectina®.

• Não dar refrigerantes e alimentos como feijão (pode-se oferecer o caldo), verduras cruas ou alimentos ricos em fibra (repolho, brócoli, couve-flor, couve, aveia), frutas laxativas (mamão, pêra, laranja, amei­xa), pão e alimentos integrais. Evitar doces, mel e açúcar em excesso.

• Evite bebidas com cafeína (café e chocolate) - podem estimu­lar o trabalho do intestino. Evite alimentos gordurosos, embutidos, fritos ou com grande quantidade de manteiga, margarina, azeite ou óleo. Diminua ou elimine leite, iogurte e queijos durante cinco a se­te dias, pois a intolerância à lactose pode se instalar durante o epi­sódio diarréico, agravando-o.

2 . CÓLICAS INTESTINAIS

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Dor tipo constritiva (em aperto), com momentos de maior inten­sidade, seguidos de acalmia, correspondente aos intervalos entre as contrações intestinais. Pode apresentar deslocamento durante a cri­se. Exemplo: a dor se inicia em um dos lados e se desloca para o cen­tro do abdome.

Pode estar associada a vários quadros, como:

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

• Alergias alimentares, quando a reação alérgica desencadeia os movimentos de contração.

• Flatulência (gases), causada por má digestão ou alimentos deteriorados.

• Diarréia ou disenteria, infecciosa ou não. • Obstipação intestinal (prisão de ventre). • Doenças neurológicas intestinais (geralmente em crianças). • Doenças autoimunes intestinais, como doença de Crohn ou re-

tocolite ulcerativa. • Infecções intestinais bacterianas (colite pseudomembranosa), pa­

rasitárias (verminoses e protozooses) ou virais (infecção por rotavírus). • Uso de medicamentos laxantes, irritantes intestinais ou inibi­

dores de enzimas. • Outras doenças intestinais (pólipos, câncer de cólon, diverti-

culite, endometriose, e t c ) . • Intoxicação por metais pesados, em especial o chumbo.

Uma vez que se suspeite da associação com alguma doença, esta deve ser pesquisada e corrigida, dentro do possível, simultaneamen­te à sintomatologia dolorosa ou quando esta estiver controlada.

Conduta em relação à dor • Compressas aquecidas sobre o abdome, com temperatura que

não provoque queimaduras. • Massagens sobre o abdome com óleo levemente aquecido, ini­

ciando no canto inferior direito, subindo reto até as costelas, pros­seguindo para a esquerda, e descendo para o canto inferior esquerdo (trajeto semelhante a um "U" invertido), o que ajuda na eliminação de gases.

• Analgésico por via oral, do tipo acetaminofen (Tylenol 750® ou Dôrico 750®) ou dipirona (Magnopyrol®). Pode-se usar um que contenha antiespasmódico combinado (Buscopan composto®), se as cólicas persistirem após o uso do Dôrico®. Mas convém lembrar que o uso repetido de antiespasmódico resulta em piora da função eliminatória intestinal, por inibir o peristaltismo.

• Diminuir o uso de açúcar, massas e outros alimentos fermentá­veis, substituindo o açúcar por adoçantes dietéticos à base de Stévia (indicada inclusive para cólicas do lactente), de maneira a diminuir a fermentação, produção de gases e cólicas.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Persistindo muitos gases, usar Luftal® ou Espasmo-Silidron®, na dosagem de uma gota por quilo, até o máximo de 60 gotas.

3 . VÔMITO, NÁUSEA E CINETOSE

O vômito consiste na expulsão violenta de parte ou da totalidade do conteúdo gástrico através da boca e/ou nariz, podendo ou não ser associado à sensação de náusea. E devido a grandes contrações do es­tômago, acompanhadas de liberação da válvula do esôfago (cárdia).

A náusea ou ânsia é a sensação desagradável que precede o vômi­to, embora nem toda náusea determine esta ocorrência, já que exis­tem situações onde ela é passageira.

Já a cinetose é a situação em que náusea e vômito ocorrem quando o paciente faz viagens sob condições específicas, que variam caso a ca­

so. Para alguns pacientes são os veículos apertados, ou odores liga­dos à viagem, ou o tipo de veículo, tal como navios ou aviões. E mui­to comum em crianças, embora ocorra também em adultos.

O vômito pode ser causado por várias condições:

• Gastroenterite (infecção do P aparelho digestivo com diarréia,

vômito e febre acima de 38°C). • Refluxo do estômago para o esôfago por alteração na válvula

que controla a passagem (pode ocorrer normalmente nas crianças de até 15 meses ou pessoas adultas com hérnia de hiato).

• Traumatismo craniano (batida na cabeça). • Infecção virai do sistema digestivo (geralmente acompanhada

de febre e diarréia). • Bloqueio da válvula que controla a saída do alimento do estômago

para o intestino delgado (em crianças recém-nascidas, devido a malfor­mações congênitas; em adultos, por cicatrizes de úlceras estomacais ou duodenais), ou outros bloqueios do intestino (como apendicite).

• Excessos alimentares. • Infecções graves, como meningite, ou generalizadas, como sep­

ticemia. 1 1 2

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CAPÍTULO IO

• Envenenamento ou intoxicação por planta, veneno, medica­mento ou comida.

• Em algumas pessoas, a estimulação causada pela movimentação ao viajar de carro, avião ou navio (como dissemos anteriormente, na definição de cinetose ou enjôo do movimento).

• Hepatite na fase inicial da doença. • Bulimia (compulsão para comer). • Verminose.

São sinais de gravidade do quadro de vômito: • Ausência de urina por mais de oito horas. • Aparecimento de vestígios de sangue no vômito. • Dor abdominal persistente por mais de quatro horas. • O paciente vomita um fluido claro mais de três vezes ou apre­

senta vômitos esverdeados. • A pessoa se mostra confusa ou delirando, ou então muito

prostrada. • O pescoço do paciente está rígido ou teve ferimento abdominal

recentemente.

Os vômitos podem levar à desi­dratação mais rápido que a dianéia. Entretanto, se o vômito for ocasio' nal, ou mesmo freqüente mas pou­co abundante, pode não ter ne­nhuma conseqüência séria para o paciente, embora represente des­conforto para ele e para a família.

Tratamento Deve levar em conta as causas e

condições listadas anteriormente, Sempre que possível, analisá-las e corrigi-las.

• Dê medicamentos para parar o vômito, apenas se for possível descartar as possibilidades acima e não for possível a análise médica a curto prazo. Prefira medicações com baixo índice de efeitos cola­terais, como a Trimebutina (Debridat®).

• Enquanto não oconer a consulta, só use alimentos em pequenas quantidades, leves e de fácil digestão, a intervalos de 20 ou 30 minutos.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Dê soro caseiro ou pronto (Pedialyte® 90 ou Hidrafix® 90) em pouca quantidade, com freqüência.

• Caso a vítima tenha sofrido traumatismo craniano, mas esteja consciente, evite sua movimentação enquanto não for possível a

avaliação da coluna vertebral e do crânio. • Se a pessoa atendida estiver incons­

ciente, após avaliar rapidamente a colu-na(ver pág. 238), mantenha-a de lado, para evitar que o vômito seja aspirado para os pulmões.

• Caso haja suspeita de intoxicação ou envenenamento, o paciente deve ser removido imediatamente para que se proceda lavagem gástrica e uso de antí­dotos adequados.

• Caso o vômito ocorra rotineiramen­te ao viajar (cinetose), deve-se usar pre­ventivamente medicação adequada (co­

mo Dramim® ou Plamet®) cerca de qua­tro horas antes do início da viagem. Estar alerta ao fato de que al­guns desses remédios causam sonolência.

4 . AZIA OU DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

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É a sensação dolorosa (ardência) causada pelo retorno do ácido produzido no estômago para o esôfago (órgão em forma de tubo que conduz o alimento da boca ao estômago). Esse retorno pode causar danos à mucosa (revestimento macio semelhante à parte interna da bochecha) que recobre todo o aparelho digestivo, produzindo feri­das. Esses machucados são chamados de esofagite (inflamação do esôfago). Geralmente se descreve a azia como uma sensação de queimação atrás do peito, que sobe para a garganta ou pescoço. Po­de ocorrer também a sensação do alimento retornando à boca (fe­nômeno conhecido como regurgitação). Essa sensação pode durar em torno de duas horas e piora com o consumo de mais alimentos. E um problema que afeta cerca de 1/3 da população, ocasionalmen­te, e até 10% diariamente.

Pode ocorrer como conseqüência de hábitos errados, obesidade,

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

ou acompanhando outras doenças do aparelho digestivo superior (como úlceras e hérnia de hiato).

Entre as mudanças de hábitos que podem trazer melhora para a azia, citamos:

Mudanças de regime alimentar • Evitar doces concentrados (especialmente chocolates), café,

alimentos mentolados, gorduras ou frituras, molhos picantes, condimentos (pimenta, picles, mostarda, catchup, molho in­glês, etc.) e tomate. Podem causar azia por relaxarem a válvula que impede o retorno do ácido do estômago ao esôfago. Dar pre­ferência a vegetais, legumes, frutas ^ e verduras, pois são de fácil diges­tão e estimulam o intestino.

• Evitar o uso de líquidos com as re­feições (água, chá, suco, refrige­rante); usá-los somente duas ho­ras após a refeição. Líquidos inge­ridos com as refeições diluem o ácido gástrico, atrasam a digestão, promovem fermentação e excesso de gases, levando à azia, queima­ção e desconforto.

Mudanças na forma de se alimentar • Não se alimentar duas ou três horas antes de deitar. • Diminuir o volume das refeições (comer menos por vez, vá­

rias vezes). • Não comer depressa. A primeira fase da digestão se inicia na

boca, quando a saliva mistura-se com o alimento. Mastigar bem e com calma; se eliminarmos esta fase e forçarmos o estômago com alimento mal mastigado, teremos uma digestão lenta e maiores chances de azia.

Mudanças de hábitos de vida • Procurar emagrecer até estar no máximo 5 % acima do peso ideal. • Evitar o uso de bebidas alcoólicas. • Parar de fumar. • Não deitar ou abaixar-se logo após as refeições.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Elevar a cabeceira da cama, colocando sob a mesma um apoio que a erga 15 ou 20cm.

• Quando se deitar de lado, procure fazê-lo do lado esquerdo. • Não usar roupas apertadas na cintura. • Corrigir a constipação intestinal, utilizando bastante fibras ve­

getais na alimentação. Isso também facilita o controle do peso. • Evitar exercícios físicos que comprimam excessivamente o

abdome. • Mudança do hábito de automedicação, evitando drogas que

contenham cafeína, bloqueadores do cálcio (remédio para pressão alta ou angina), anticolinérgicos e teofilina (usados na asma). Alguns remédios podem causar irritação da mucosa esofágica, como o alendronato (antiosteoporose), AAS® e ou­tros antiinflamatórios, cloreto de potássio, quinidina e alguns antibióticos, quando deglutidos com pouca água ou se o pa­ciente não está em posição adequada (ereto ou sentado). Evi­te sempre dar remédios a pessoas reclinadas.

• Fazer uso correto das medicações prescritas pelo médico (inter­valos e prazos corretos).

Como avaliar se os esforços estão sendo eficientes Se a azia não cede com alterações dos hábitos de vida, ou se ela

prosseguir apresentando-se duas ou mais vezes por semana, procure ajuda médica (clínico geral ou gastroenterologista). Pode estar ocorrendo alguma alteração que necessite ser investigada. O objeti­vo maior é evitar complicações: estreitamento ou sangramento do esófago, ou esófago de Barrett (transformação de sua mucosa, que aumenta em muito o risco de câncer).

Tratamento Oconendo melhora e sendo leves os sintomas, alguns medicamen­

tos podem ser recomendados. Antiácidos melhoram os sintomas do re­fluxo; associados ao alginato, parecem mais eficazes. Prefira sempre an­tiácidos que não causem obstipação intestinal. Procinéticos, como a metoclopramida (Eucil), Trimebutina (Dèbridat®), bromoprida (Di-gesan retard®) e domperidona, aceleram o esvaziamento do estômago, melhoram o funcionamento do esófago e fortalecem a válvula esófa­go-gástrica. Diminuem o retorno de suco gástrico e reduzem a azia. Os mais eficazes são a Trimebutina e as formas retard dos medicamentos.

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

Outros medicamentos eficazes são os que diminuem a acidez do (cimetidina, ranitidina, fa-estômago, como os anti-histamínicos H2

motidina), ou os bloqueadores da acidez estomacal (omeprazol, lanzoprazol, pantoprazol e rabeprazol). Sendo me­dicações caras e que demandam orien­tação mais específica, recomendamos sempre o uso sob prescrição médica.

Quanto mais intensa e freqüente a dor, mais potente deve ser o tratamen­to, uma vez que este problema é, via de regra, crônico e recidivante. Alguns casos, devido às doenças associadas, necessitam de tratamento cirúrgico (convencional ou laparoscópico).

5 . EMPACHAMENTO OU MÁ DIGESTÃO

Empachamento é a sensação de estômago cheio logo no início da refeição, ou a sensação de que o processo digestivo não está sendo adequado. Também é chamado de estufamento. Pode ser agravado pelo hábito de deglutir ar (aerofagia) e uso de bebidas gasosas.

Está, na maioria das vezes, associado a doenças que ocasionam al­terações na movimentação do trato gastrointestinal, tanto do estô­mago como do intestino, na absorção de nutrientes, ou na produção de enzimas digestivas.

Situações e doenças onde ocorre: • Gastrite - Doença inflamatória do estômago, em especial a que

é causada pela presença da bactéria Helicobacter pylori no órgão, o que retarda seu esvaziamento. Vale o mesmo raciocínio para a infla­mação do duodeno, ou duodenite.

• Ulcera gástrica ou duodenal - Um passo além da gastrite/duo-denite, onde a lesão se tornou mais profunda, formando um "bura­co" na mucosa.

• Após cirurgias do estômago para tratamento de obesidade ou cânceres gástricos; ou em defeitos congênitos, que levem à ocorrên­cia de um estômago hipodesenvolvido.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Doença do refluxo gastroesofágico • Situações onde ocorram dores intensas (por exemplo, cólicas

renais ou câncer). • Efeito de substâncias químicas, como as usadas em quimiote­

rapia para câncer; cigarro; álcool; vários medicamentos, como nar­cóticos (remédios para dor), anticolinérgicos (para asma ou diar­réia), bloqueadores de canais de cálcio (para pressão alta) e pílulas anticoncepcionais.

participam na digestão de gorduras. • Parasitoses -verminoses (estrongiloidíase) ou protozooses (giar-

díase, doença de Chagas), por alterarem a motilidade intestinal ou atrapalharem a digestão e absorção de gorduras.

• Doenças pancreáticas que afetam a produção de enzimas diges­tivas (pancreatite, mucoviscidose, câncer, cálculos).

• Alterações da motilidade estomacal por viagem, mudanças ali­mentares, excessos alimentares (na quantidade e/ou tipo de alimen­to usado, como excesso de gorduras ou proteínas), refeições apressa­das, alimentos mal mastigados.

• Diabetes, por seu efeito degenerativo dos neurônios que coor­denam a motilidade intestinal.

• Doenças infecciosas de variados tipos, como AIDS, tuberculo­se e outras de efeito agressivo sobre o organismo (consumptivas), que reduzem a produção de enzimas digestivas.

• Combinações alimentares inadequadas para alguns (como aba­caxi e amidos, alimentos fast-food, banana e cereais, melão e melan-

• Estresse e ansiedade, por contribuírem para aumentar o tempo de esvaziamento gástrico e diminuir os movimentos da vesícula biliar.

• Outras alterações da vesícu­la biliar, como inflamação (cole-cistite) ou pedras (cálculos), por diminuírem a liberação de sais biliares pelo órgão.

William

• Doenças do fígado (hepati­te, cirrose), que podem reduzir a produção dos ácidos biliares

(substâncias enzimáticas que

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

cia usados próximos à refeição). Cabe a cada pessoa procurar entender como os alimentos se compor-tam em seu processo digestivo pessoal.

• Deficiências de absorção gástrica de nutrientes, como na anemia perniciosa.

• Hábitos estranhos em que as pes­soas ingerem substâncias não digeríveis, como o cabelo, formando agregados es­tomacais que ocupam o espaço destina­do aos alimentos (bezoares).

Atenção: Sintomas gastrointestinais, descritos nesta seção (azia, má digestão, náuseas), sobretudo se em presença de perda do apetite, indisposição e emagre­cimento, podem estar associados ao cân­cer gástrico. Qualquer sintoma que per sista por algumas semanas, depois de tomadas as medidas aqui su­geridas, deve ser avaliado pelo médico.

O que fazer • Coma menores quantidades, mais vezes ao dia. • Pare de comer ao primeiro sinal de saciedade, quando sentir que

ainda pode comer mais um pouco. A produção de suco gástrico con­tinua por mais alguns minutos, o que aumentará o volume dentro do estômago. Se parar de comer apenas quando sentir completa sacie­dade, após alguns minutos poderá ocorrer mal-estar.

• Coma bem no desjejum, visto que é rara a ocorrência de empa-chamento após esta refeição.

• Durante as refeições, coma primeiro as verduras, depois as proteínas. • Se os derivados do leite causarem cólicas intestinais ou diarréia,

pense em intolerância à lactose (açúcar do leite). Passe a usar produ­tos sem lactose, como leite e queijo de soja (tofu).

• Faça as refeições com pessoas a quem aprecie; trate de assuntos agradáveis e coma com calma, de modo que este momento seja pra­zeroso e atue como fator de diminuição do estresse.

• Tome líquido entre, e não durante as refeições. Evite líqui­dos gasosos ou alimentos fermentados. Eventualmente use sucos de frutas.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Mastigue bem os alimentos. Estando divididos em partículas menores, os alimentos serão mais facilmente digeridos e absorvidos.

• Evite comidas gordurosas ou combinações de gorduras e proteí­nas, porque retardam o esvaziamento gástrico e demoram mais para ser digeridas.

• Evite todos os alimentos que possam atrapalhar o funcionamen­to dos esfíncteres digestivos, tais como chocolate, álcool, café, chá­mate ou chá-preto.

• Evite hábitos que atrapalhem a digestão correta, tais como es­forço físico intenso após as refeições, uso de roupas justas, soneca após o almoço.

• Pare de fumar, uma vez que o fumo age negativamente sobre o trato digestivo.

• Evite hábitos que possam levar ao acúmulo de gases estomacais - gomas de mascar; segurar objetos com os dentes, como pontas de

canetas ou lápis; comer rapidamente; conversar durante as refeições.

• Aumente o uso de lactobacilos (presentes na coalhada, no iogurte e no yakult e similares), para melhorar o processo digestivo intestinal.

• Se necessário, use agentes pró-cinéticos, como bromoprida (Pla-met®) ou Trimebutina (Debridat®) antes das refeições. Pode-se associar enzimas (Sintozima® ou Digecap® enzimático).

• Se desejar, acrescente alguns vegetais ditos digestivos à sua dieta, tais como jenipapo, mangaba, abacaxi, mo­rango, hortelã, alfafa, alfavaca.

• Procure orientação médica para análise mais detalhada de seus sintomas.

6. FLATULÊNCIA (GASES INTESTINAIS)

E um problema muito freqüente, afetando quase um terço dos bra­sileiros, sendo mais comum nas mulheres que nos homens. Uma das razões é o maior controle dos intestinos realizado pelo sexo femini­no por razões culturais, o que resulta em acúmulo dos gases. Ocorre

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

mais em pessoas de 40 a 49 anos, sobretudo nas classes sócio-econô-micas C, D, E (razões alimentares?).

Ocorre mais nas regiões Nordeste e Sul (talvez por diferenças na dieta entre as várias regiões) e em cidades pequenas, com menos de dez mil habitantes (fato este ainda não explicado).

A maioria das pessoas recone a remédios caseiros para tratar dos gases e muitos confundem medicamentos antiácidos e antiespasmódicos com medicações antigases. Esses remédios agem destruindo ou diminuindo as bolhas gasosas intestinais, mas não atacam a origem do problema.

Infelizmente, a não ser quando causa cólicas e dores, o problema é tratado mais como um mau hábito ou falta de educação do que co­mo problema de saúde, sendo motivo de riso ou piadas (diferente­mente de outros países, onde o embaraço social resultante pode che­gar a causar a auto-segregação e isolamento de quem tem dificulda­des nessa área).

O problema demanda atenção médica quando excessivo, quando provoca dores ou desconforto no relacionamento social. Também pode ser sintoma de doenças relativamente comuns, como a vermi-nose, ou potencialmente graves, como a síndrome do cólon irritável.

Normalmente existe pequena quantidade de ar no intestino (80 a lOOcc, em média), produzido pela população de bactérias que vi­vem das sobras alimentares. Em algumas situações (desvios ali­mentares, uso de medicações para diabetes, dietas ou antibióti­cos), pode ocorrer atuação excessiva dessas bactérias, causando aumento de gases. Estes, quando em volume normal, são libera­dos/trocados aos poucos, ao urinar, ao evacuar, ao se fazer exercí­cio (14 a 18 emissões diárias).

Entendendo o problema dos gases intestinais Flatulência - E o acumulo de ar ou gases no estômago ou intesti­

nos, gerando desconforto físico e/ou social. O incômodo pode ocor­rer durante a movimentação dos gases no organismo (através de có­licas ou ruídos) ou quando são eliminados pela boca ou reto.

O que origina os gases • Produção intestinal metabólica ou bacteriana, decorrente de

alimentação ou patologias. • Deglutição de ar (aerofagia - conversar durante as refeições

agrava o problema).

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PRIMEIROS SOCORROS

• Difusão sangüínea dos gases da respiração. • Uso de bebidas gasosas (refrigerantes, cerveja e champanhe).

Principais gases • Hidrogênio (H2) - Vem da fermentação bacteriana (má diges­

tão, excesso de açúcares, má combinação alimentar). • Metano (CH4) - Produzido pela degradação bacteriana dos di­

versos alimentos. • Nitrogênio (N2) - Vem do ar deglutido e da difusão sangüínea. • Dióxido de carbono (CO2) - Vem da difusão sangüínea, da

acidificação dos bicarbo­natos e da produção bac­teriana.

Alimentos que mais provocam gases:

Feijão, lentilha, grão-de-bico, ervilha, batata-doce, repolho, couve, no­

li zes, excesso de fibras, lei-I te e derivados, doces, fri­

turas, bebidas gaseifica­das. Isso varia de acordo com a pessoa.

Outras causas • Engolir ar (por tensão ou nervosismo). • Mascar chicletes, prisão de ventre, falta de exercícios físicos.

Excluída alguma doença mais grave pelo médico, pode-se usar medicações que auxiliem na fragmentação das bolhas -Dimeticona (Luftal® ou Finigás® lgt/kg, de seis em seis horas, até o máximo de 60 gotas) - , e medicação que estimule o esva­ziamento gástrico e o funcionamento intestinal fisiológico (co­mo a Trimebutina (Debridat®).

No caso das leguminosas (feijões em geral), lavá-las bem na vés­pera, cobri-las com água e deixá-las no congelador durante a noite, desativa em grande medida a sua capacidade formadora de gases. Prepará-las normalmente após descongelamento.

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO CAPÍTULO IO

7 . AFTA

A afta é um pequeno machucado na superfície de revestimento da boca, doloroso, mais freqüente em áreas como soalho da boca, língua, porção interna do lábio e bochechas. É rara no céu da boca e na gen­giva próxima aos dentes. Pode ser verme- ^ lho-vivo ou ter urna placa branca no cen­tro e sangrar. E uma ferida considerada limpa, pois não se detecta em seu interior nenhum microorganismo, como bactéria ou fungo. Surge na maioria das vezes em pessoas aparentemente saudáveis, e não provoca febre nem mau hálito.

Geralmente é recidivante (apresenta períodos de cura e após algum tempo torna a ocorrer). O tamanho mais co­mum é em torno de 0,2 a 0,3cm de diâmetro (são lesões pequenas), podendo ser única ou múltipla, com dor provocada (por alimentos ou manipulação) ou espontânea. Feridas maiores na boca não são aftas comuns e devem ser rapidamente avaliadas por profissional com experiência em estomatología (estudo das doenças da boca), tal como um dermatologista, otorrinolaringologista ou dentista.

Esta condição, que não pode ser chamada de doença porque tem di­versas causas, atinge entre dois e três bilhões de pessoas no mundo (20% a 50% da população mundial), e devido às múltiplas associações que apresenta, ainda demanda bastante investigação científica.

A ocorrência de aftas se inicia na adolescência, fase em que a pressão social cresce, e se agrava na faixa dos 30 a 40 anos, quando há maior preocupação com a estabilidade financeira e familiar. Com o avanço da idade a tendência do problema é diminuir, e por vezes desaparecer por completo. Existe a idéia de que esteja relacionado ao estresse, embora aspectos nutricionais (deficiências vitamínicas: B12 e ácido fólico; de sais minerais: ferro e zinco; e proteicas); infecciosos (bacterianos: sífilis; virais: herpes, mononucleose; parasitários: giardíase); psicossomáticos; hormonais (nas mulheres, em conexão com tensão pré-menstrual); alérgicos (alimentos/remédios); hereditários; ou a soma/interação des­ses fatores, tenham sido sugeridos por estudos científicos.

Importantes são ainda os traumas locais decorrentes de aparelha­gem ortodôntica, próteses mal-adaptadas, dentes malformados ou

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PRIMEIROS SOCORROS

mal-posicionados, causando mordidas freqüentes no mesmo local. Tendo em vista a grande população de bactérias e fungos que so­

brevivem dos restos alimentares na boca, tem-se observado que em pessoas com o sistema imunológico afetado (cirurgias de recupera­ção demorada, AIDS, cânceres, doença de Behcet), é freqüente o aparecimento de áreas ulceradas na boca, compatíveis com afta, on­de ocorre a presença oportunista desses microorganismos.

Algumas causas menos comuns são a quimioterapia e radioterapia (tratamentos para o câncer), falta de higiene oral, líquen plano oral,

uso de álcool ou fumo, pênfigo vulgar (doença onde o próprio organismo fabrica anticorpos contra as mucosas), câncer bu­cal e boca seca (quando não se produz sali­va suficiente; devido à respiração bucal; efeito colateral de alguns medicamentos; radioterapia nas regiões da cabeça e pesco­ço, ou resultado de desidratação).

Evolução e tipos clínicos das aftas • Geralmente se inicia com uma sensa­

ção de formigamento, anestesia ou incômo­do na mucosa da boca (lembra a evolução do herpes labial).

• Dentro de 24 a 48 horas surge um ponto avermelhado ou uma pápula (bolinha achatada) na área onde os sintomas apareceram.

• Pouco a pouco o centro da lesão vai ficando esbranquiçado ou amarelado e então surge ali a ferida. Inicialmente é mais profunda, mas com a cicatrização vai-se tornando mais rasa.

• Dependendo da causa básica, e da freqüência de aplicação dos agentes agressivos, a afta desaparece em sete a dez dias, mesmo sem tratamento (que pode acelerar a cura). A rapidez da cicatrização também varia de acordo com o tipo de afta. Citamos os mais comuns:

Ulceração aftosa comum - E a forma mais comum (80% dos ca­sos). São feridas pequenas que surgem de uma vez, em surtos, va­riando de uma a cinco. Saram sem deixar cicatriz.

Periadenite mucosa necrótica recidivante - E uma inflamação que afeta o tecido atingido, podendo se repetir freqüentemente. Costumam ser de tamanho maior, em menor número (uma ou duas lesões), e podem durar meses. A cura ocorre com formação de cicatriz.

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

Ulceração herpetiforme (que tem a forma de herpes) - Aparecem muitos machucados de tamanho menor, extremamente dolorosos (quando ocorrem em crianças pequenas, geralmente dificultam a ali­mentação). Habituais na ponta da língua e assoalho da boca, mas po­dem oconer no céu da boca e na garganta. Saram sem deixar cicatriz.

Tratamento Varia de caso a caso, sempre com o objetivo de aliviar sintomas,

prevenir o aparecimento de novas aftas através da descoberta das cau­sas e diminuir a gravidade do surto (e as complicações associadas).

Agentes agressivos, como o bicarbonato de sódio, devem ser usa­dos apenas em bochechos ou gargarejos, nunca aplicados direta­mente sobre a lesão, pois destroem os terminais nervosos responsá­veis pela detecção da dor, e também os tecidos saudáveis da muco­sa (áreas de cicatrização), fazendo a afta demorar ainda mais a desaparecer.

A higiene bucal é fundamental • Use escova de dentes macia ou

ultramacia. Se quiser torná-la mais macia, coloque-a de molho em água morna antes da escovação.

• Se a escova incomodar, use um cotonete para a limpeza dentária.

• Use creme dental não abrasivo ou solução de bicarbonato de sódio (veja abaixo).

• Retire e limpe as dentaduras e próteses entre refeições (reduza o uso até a completa cicatrização).

• Enxágüe a boca (sete vezes ao dia) antes e depois de cada refei­ção e ao deitar, com uma das seguintes soluções (gargarejar antes de cuspir, não engolir):

a) Bicarbonato de sódio: 1 colher de chá, dissolvido em 2 xíca­ras de água.

b) Agua oxigenada, água, soluções de bochecho tipo Cepacaína® (1 parte de cada): misturar em um copo na hora do uso, deixar na boca ou bochechar durante um minuto e meio. Cuspa e enxágüe com água.

• Depois de bochechar 15 a 20 minutos antes das refeições, procure 125

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PRIMEIROS SOCORROS

utilizar alguma substância analgésica, como pomadas ou soluções conten­do benzocaína (Colubiazol®) ou lidocaína (Xilocayna® pomada 5%).

• Depois de bochechar, após a higiene bucal que se segue à refei­ção, e ao deitar, procure aplicar nas lesões, com cotonete, substân­cias antiinflamatórias em solução, tais como a benzidamida (Flogo-ral®) ou cetilpiridínio (Cepacaína®) ou tirotricina (Malvatricin®); ou bocheche novamente, utilizando soluções antissépticas à base de Clorhexidina (geralmente manipuladas em farmácias odontológi­cas, a 0,2%; Duplak®; Plak Out® ou Periogard Chlorohex®).

• Mantenha a área bucal hidrata­da, usando líquidos com freqüên­cia; prefira os gelados por serem menos dolorosos. Ou bocheche com soro fisiológico (misture uma colher de chá de sal em um litro de água morna; ou use a solução distri­buída em postos de saúde). Ume-deça os lábios com vaselina ou manteiga de cacau.

• Use dieta rica em proteínas e vitaminas. Prefira alimentos pouco salgados e de consistência macia ou pastosa. Evite alimentos picantes e condimentos. Mastigue-os lenta­

mente para evitar uma possível lesão da mucosa bucal. Beba líquidos durante as refeições, se necessário, em pequena quantidade, para umedecer os alimentos e facilitar a deglutição. Aos alimentos sólidos, acrescente algum líquido (molhos não picantes, maionese, iogurte). Procure chupar pedaços de gelo ou balas (use todos os artifícios pos­síveis para aumentar a produção de saliva e manter a boca úmida).

• Havendo muita dor, pode ajudar o uso de analgésicos orais à ba­se de acetaminofen (Dôrico 750®). Evite o uso de ácido acetilsali-cílico (Aspirina® ou AAS®) ou dipirona (Anador®), já que ambos podem ser causa de aftas do tipo alérgico em pessoas que reajam a estas substâncias.

Evite: • Escova dental dura, áspera ou velha - as cerdas perdem a dire­

ção e podem arranhar a lesão).

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PROBLEMAS DO SISTEMA DIGESTIVO

CAPÍTULO IO

• Produtos comerciais para gargarejos que contenham álcool ou que provoquem ardência duradoura. Caso deseje usar algo, prefira os de uso infantil. ^

• Fio dental durante as crises. f • Frutas cítricas (laranja, limão, tan­

gerina, acerola, kiwi e tomate) e seus sucos; também refrigerantes ou água com gás. Prefira sucos de pêssego, ameixa, maracujá, caju, pêra (são mais neutros e não costumam causar dor).

• Alimentos duros, ásperos, quentes ou muito temperados.

• Lamber os lábios (pode aumen­tar a secura na boca e provocar ra­chaduras).

• Uso de antiinflamatórios com corticóide, sem prescrição. Se a lesão for causada por herpes, o uso desses medicamentos pode pio­rar e disseminar as lesões. Se indicados, serão prescritos pelo mé­dico, inclusive como injeções aplicadas sob a ferida. Outras opções de uso exclusivamente médico, são a talidomida (pode causar mal­formações ao feto), ou o laser com efeito cicatrizante.

• Tratamento com chás ou ervas, que em geral não tem bom re­sultado, representa gasto financeiro e demora no início de um trata­mento efetivo.

Quando ir ao médico • Sempre que ocorrerem aftas que demorem a cicatrizar (20 a

30 dias). • Fumantes e pessoas que usam bebidas fortes, como uísque e vod­

ka, que apresentem aftas com freqüência, especialmente se elas ci­catrizam com cor esbranquiçada (correm o risco de desenvolver tu­mores malignos na boca).

• Presença de lesões que aparecem depois do início de alguma medicação.

• Ocorrência de lesões que sejam mais dolorosas que o esperado, ou que sempre retornem no mesmo lugar.

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Problemas do sistema nervoso

1 . CEFALÈIA (DOR DE CABEÇA)

É um sintoma ou condição muito comum e que afeta mi­lhares de pessoas diariamente. Suas causas podem ser suspeita­das pela área afetada, pela asso­ciação a outros sinais e sinto­mas, ou ainda pelos horários e

v hábitos ligados à sua oconência. j f l p : 4|HPÍ Começaremos tentando des-

T crever os locais mais acometidos: Face - Região frontal (testa)

ou regiões malares (maçãs do rosto). Sugere sinusite, especialmente se a dor piora ao se abaixar a cabeça, ou se ao deitar aparece sen­sação de secreção escorrendo pela garganta. Outras possibilidades são problemas oculares: miopia, astig­matismo, glaucoma.

Hemicrania - Quando um lado da cabeça é aco­metido. Pode ocorrer por tensão ou enxaqueca.

Nuca ou a parte de trás da cabeça - Pode ser de origem muscular, tensional ou enxaqueca.

Outra abordagem é através dos tipos mais comuns de cefaléia. Existem mais de 100 tipos.

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO CAPÍTULO II

Iniciaremos pela enxaqueca. Estima-se que atinja até um quinto da população mundial, sendo responsável por mais de 9 0 % dos ca­sos de dor de cabeça. A crise pode du­rar de quatro a 72 horas, com vômi­tos e/ou náuseas, sensibilidade a sons e luz, dor geralmente unilateral, pul­sátil ou latejante, moderada a inten­sa, e piora com esforços físicos.

Doença crônica, talvez determina­da por falha genética. Se um dos pais a apresenta, existe 4 0 % de chance de a pessoa também ter. Se ambos - pai e mãe - têm, o percentual sobe para 70%. Pode piorar com alimentação -a substância causadora varia de acor­do com a pessoa, incluindo derivados lácteos, carnes processadas, como presunto e salame, carnes verme­lhas, café em excesso, adoçantes artificiais e frutas como banana e laranja. Estresse e variações de altitude também pioram a dor.

Essa anomalia desequilibra os níveis de serotonina (neurotrans-missor que funciona como barreira contra a dor). E mais freqüen­te entre as mulheres, pois os hormônios femininos podem agir co­mo inibidores dos mecanismos de defesa contra a dor, e costuma ser acompanhada por náuseas, sensibilidade à luz e aversão a odo­res e ao barulho.

A interação com hormônios explica por que em geral tem início na adolescência, e também o fato de ser menos freqüente na gravi­dez e menopausa, quando os níveis estrogênicos diminuem.

O controle dos sintomas é uma meta alcançável e é possível per­seguir o objetivo de ter crises cada vez menos severas (enfoque em tratamento e prevenção).

Outro tipo de cefaléia é a forma tensional. A crise pode durar de 30 minutos a sete dias, sem vômitos ou náuseas (pode ocorrer dimi­nuição do apetite). Ocorre sensibilidade à luz ou aos sons, mas não a ambos simultaneamente, como na enxaqueca. A dor é fraca a mo­derada, concentrada em ambos os lados da cabeça e pode ser descri­ta como se houvesse uma faixa justa apertando o crânio. Não é pul­sátil e não piora com o esforço.

Uma outra forma, felizmente mais rara, é a cefaléia em salvas ou

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PRIMEIROS SOCORROS

surtos (descrita como rajadas de dores muito fortes, que se alternam com momentos de menor intensidade, geralmente ao redor de um dos olhos e têmporas).

Tratamento Para os casos simples e corriqueiros de dor de cabeça, é comum

que as pessoas usem analgésicos de venda livre na farmácia. Algu­mas precauções devem ser tomadas nestes casos:

• Se você tem problemas estomacais (gastrite, azia ou úlcera), evite as medicações que contenham ácido acetilsalicílico, cafeína ou outros antiinflamatórios, porque podem melhorar a dor de cabe­ça às custas de dor de estômago.

• Se você tiver doença de fígado (hepatite, cirrose), evite medi­cações com paracetamol, pois o seu uso pode causar piora do proble­ma hepático.

Lembre-se que o uso de medicações para dor de cabeça deve ser feito apenas se a dor não for muito

freqüente (menos de duas vezes por semana), não for muito severa e não estiver causando incapaci­dade, afetando o trabalho ou le­vando-o a perder o tempo dedica­do à família.

Caso ocorra dor repetitiva, in­tensa ou incapacitante, associada à sensação de estar com o pesco­ço duro, febre, problemas visuais, fraqueza de um lado do corpo ou formigamento nas pernas ou bra­

ços, falta de fôlego, tontura, dor­mência, alterações na fala, confusão ou sonolência, náusea ou vô­mito persistente, ou ainda se a cefaléia começou após batida na ca­beça, atividade física, crise de tosse ou atividade sexual, ou ainda após os 50 anos de idade, faça-se consulta médica o mais breve possível (com neurologista ou médico experiente em cefaléia).

O uso excessivo de medicações para dor pode levar à chamada cefaléia rebote, com melhora leve das dores, que logo retornam mais intensas.

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO CAPÍTULO II

Tratamento sem medicamentos • Tente fazer exercícios de relaxamento, alongamento, massagem

localizada em pontos dolorosos ou pontos de relaxamento. • Observe o efeito de compressas com gelo, em geral bastante efi­

cazes. Procure aplicá-las o quanto antes após o início da cefaléia. Aplique não somente na área dolorosa; coloque-as atrás do pescoço, testa e têmporas.

• Uma alternativa às compressas geladas é o uso de calor, com bolsas de água quente e toalhas quen­tes umedecidas; pode relaxar a mus­culatura e aumentar a circulação sangüínea.

• Descanse num quarto escuro e si­lencioso. Um sono rápido, um breve co­chilo, podem dar ao cérebro a chance de recuperar o funcionamento normal.

Como prevenir a cefaléia? • Reduzir o estresse é um requisi­

to básico. • Se você trabalha sentado por lon­

gos períodos, faça alongamentos a ca­da 45 minutos.

• Durma o suficiente para sentir-se descansado.

• Pratique exercícios físicos que lhe sejam prazerosos, e com regularidade.

• Faça as refeições regularmente e nas horas certas. Sempre reserve tempo para o desjejum e o almoço, pelo menos 15 minutos.

• Registre e analise suas cefaléias. Anote fatos simples, como a hora em que começou a dor, intensidade da mesma, o que você co­meu naquele dia, em que parte da cabeça a dor foi mais intensa, o que sentiu antes de a dor ocorrer (cheiros? luzes brilhantes?), quan­tas horas dormiu na noite anterior e outras circunstâncias estres-santes que poderiam ter causado a cefaléia. Analise o que você fez para se livrar da dor, e se foi bem-sucedido ou não. Estabelecendo uma análise-padrão das cefaléias, você e seu médico poderão des­cobrir as possíveis causas. Na próxima consulta compartilhe estas informações com ele.

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PRIMEIROS SOCORROS

2 . CONVULSÃO

Csrtoon Estúdio I

132

Pode ser caracterizada por queda abrupta, perda súbita da cons­ciência, movimentos desordenados da musculatura corporal, brus­cos e involuntários (agita-se todo o corpo, com batimentos da cabe­

ça, braços e pernas, e a face fica como que retorcida, simulando expressões faciais agressivas, com olhos revira­dos para cima). Início súbito, au­mento da atividade glandular com salivação abundante e vômitos. Muitas vezes ocorre relaxamento de esfíncteres, com micção e evacuação involuntárias.

Como um curto-circuito, a con­vulsão é gerada por descargas elétri­cas desordenadas dos neurônios (ve­ja adiante o mecanismo neurológico das convulsões).

O termo correto é crise epiléptica, mesmo que a pessoa não sofra de epilepsia. Para alguém ser conside­rado epiléptico, é necessário haver mais de uma crise.

A ocorrência varia muito com a idade, comprometendo por vol­ta de 1 % da população, com índices maiores na infância (2% a 5 % das crianças já sofreram convulsão causada por febre).

Após a crise, a pessoa sente dores musculares, mal-estar, dor de cabeça, dificuldade de concentração e sonolência. Em alguns casos há fraturas por causa da contração muscular, ou devido a quedas e traumatismo durante a crise convulsionai.

Com relação à freqüência, cerca de 2 0 % a 4 0 % dos epilépticos apresentam menos de uma crise por ano, 10% a 20% entre uma a 12 crises, e entre 4 0 % e 70%, mais de uma crise por mês. Do total de pacientes, aproximadamente 4 0 % são portadores apenas de epilep­sia, enquanto os demais têm distúrbios comportamentais, neuroló­gicos e intelectuais concomitantes.

As crises epilépticas podem ser controladas, na maioria dos pa­cientes, com medicamentos simples. E importante não apenas o correto atendimento da emergência; depois de prestado o socorro, mantenha a pessoa sob acompanhamento para descobrir as causas,

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO

Mecanismo da convulsão • Há um desequilíbrio na pro­

porção de moléculas estimulantes e inibitórias no cérebro.

• Os neurônios começam a transmitir informações desorgani-zadamente. Essas mensagens che­gam à medula.

• Neurônios medulares passam as ordens de contração para os músculos, gerando a convulsão.

As variações de sintomas dos pacientes são explicáveis pela varie­dade de locais do cérebro que podem ser a origem do foco convulsi-vante, possibilitando crises generalizadas em toda a superfície cere­bral, e que atingem todo o corpo, ou crises parciais, que envolvem apenas uma região do cérebro, tendo efeito em apenas uma parte do corpo. Dependendo da área cerebral afetada, a pessoa não entra em convulsão, mas experimenta outras reações, como dormência em partes do corpo, alucinações (raios ou bolas coloridas), audição de sons, como zumbidos bastante fortes, sinos e ruídos, fortes contra­ções musculares, salivação, perda de consciência e torção da cabeça enquanto os olhos se voltam para o lado oposto. A pessoa sente um profundo mal-estar, suor em excesso, rubor na face ou palidez.

Possíveis causas de convulsão (crise epiléptica) Cerebrais - Tumores, acidentes, malformação cerebral em crianças

pequenas (diversos tipos, como seqüela de parto, cicatrizes que ficam depois de infecções cerebrais, cisto), seqüelas de derrame cerebral (atro­fia após infarto), epilepsia, anoxia (falta de oxigenação no cérebro).

Não cerebrais - Uso de drogas (álcool, cocaína, crack, ecstaxy), crises de abstinência de drogas, alterações metabólicas, febre muito

CAPÍTULO II

previnir novas crises e educar o paciente a não interromper a medi­cação sem controle médico. Como as crises são imprevisíveis, o tra­tamento tem que ser contínuo, ao menos por um período de dois a quatro anos. Se"as crises continuarem apesar dos remédios, o trata­mento deve prosseguir, e a decisão de sua interrupção deve ser to­mada pelo especialista na área.

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PRIMEIROS SOCORROS

alta, intoxicações por diversas substâncias químicas (como pestici­das contendo brometo de metila), eclâmpsia (doença hipertensiva da gravidez), picada de aranha (viúva-negra).

Prevenção A prevenção da epilepsia e, portanto, das crises epilépticas, liga-se

diretamente às condições de vida e à assistência médico-sanitária: cuidados pré-natais e de parto às gestantes, cumprimento do calendá­rio de vacinações nas crianças, controle de doenças infecciosas e pa­rasitárias e seus sintomas (mormente toxoplasmose, rubéola e outras de impacto cerebral para o feto), cuidados com a febre em crianças. São medidas que podem evitar o surgimento da doença na infância.

O controle da hipertensão arterial sistêmica e do alcoolismo, e a prevenção do uso de drogas, entre outros, contribuem para a profi­laxia na idade adulta.

Uma vez instalada a doença (definida como a ocorrência de no mínimo duas crises epilépticas de qualquer tipo, em qualquer mo­mento da vida), o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, significam a prevenção de crises, do estigma e das seqüelas físicas, profissionais e sociais.

Como agir com uma pessoa em crise • Manter a calma, tranqüilizando quem quer que esteja testemu­

nhando a crise. • Deitar o paciente de lado (para evitar

que aspire secreções ou vômito para os pulmões).

• Afrouxar as roupas, retirando as que estive-

J

rem em excesso (as contrações musculares aumentam a tempera­tura corpórea), em es­pecial a roupa ao redor do pescoço, como a gravata, para evitar di­ficuldades de respira- m h

ção. Retire do corpo da pessoa todos os objetos que possam machucá-la, como pulseira, cola­res, óculos.

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO CAPÍTULO II

• Colocar entre os dentes um lenço ou outro pano grande dobrado na forma de uma gravata, que não possa ser engolido pelo paciente, para impedir que ele morda a língua ou os lábios. A mano-bra deve ser cuidadosa, evitando que quem socone seja mordido. Caso os den-tes estejam cerrados, pela contração das mandíbulas, não tente separá-los; aguarde um intervalo entre as convulsões.

• Não segure a vítima, deixe-a debater-se, protegendo-lhe a cabeça e os mem­bros, forrando as áreas que possam trau­matizar-se; afaste os objetos próximos para

que ela não se machuque. • Não tente reanimá-la, jogando

água ou dando-lhe algo para beber ou cheirar (vinagre, álcool ou amo­níaco). Evite sacudidas, não dê tapas (não confunda com crise histérica).

• Não tenha medo da saliva, ela não transmite nenhuma doença. Não segure a língua do paciente, ele não a engolirá.

• Não administre líquidos ao pa­ciente durante ou após a crise. Ele

poderá ter nova crise e engasgar-se com o que lhe for dado, ou vomitar o que foi engolido.

• Durante a convulsão, observe as partes do corpo que estão apre­sentando movimentos convulsivos, para relatar posteriormente ao médico.

• Não utilize respiração artificial, a menos que o paciente não respire depois de cessadas as convulsões, ou se tiver aspirado água ou secreções.

• Após cessada a crise, mantenha a pessoa deitada e faça-lhe a hi­giene. Se necessário, tranqüilize-a ao recobrar a consciência; orien-tando-a quanto ao tempo e espaço e confirmando que ela se man­tém respirando bem. Permita que descanse ou durma em algum lo­cal tranqüilo até que esteja pronta a retomar as atividades, ou ofe­reça-lhe ajuda para levá-la para casa, se não se sentir segura no lu-

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PRIMEIROS SOCORROS

gar onde se encontra. Algumas pessoas sentem-se confusas após a crise.

• Transporte-a com segurança, depois de cessada a crise, para que receba atend mento especializado.

• Chame um médico ou ambulância, caso a crise ultrapasse três minutos, ou ocorram crises múltiplas (crises com intervalos). O atendimento será presta­do no local onde está ocorrendo a con­

vulsão. Não transporte o paciente no momento da crise, a não ser que esteja corren­do risco de vida (serão necessárias várias pessoas, devido à força das contrações musculares). Se ele esti­ver ferido, for diabético ou tratar-se de gestante, peça ajuda imediata. Nas convulsões de crianças peque­nas pode ser efetuado o transporte, desde que atendidas as medidas de segurança.

3 . ALGUMAS VERDADES SOBRE O TRATAMENTO DAS CRISES EPILÉPTICAS

1

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• Nem todos os pacientes conseguem ter suas crises totalmente controladas, mesmo tomando medicamentos. Há casos onde são ne­cessárias cirurgias especiais para acabar com as crises.

• Existem medicamentos que funcionam melhor em certos tipos de crises epilépticas e outros em tipos diferentes de crises. Portanto, é importante escolher o medicamento e a dose certa para cada pa­ciente, o que requer paciência do doente e dos familiares.

• Muitos pacientes dizem estar usando os remédios de forma cor­reta, quando não o estão. E importante conversar sobre isso com o paciente e seus familiares. O uso incorreto de medicamentos (pular doses ou usar em intervalos errados), é uma causa importante de prosseguimento das crises. Pode ocorrer também interação entre vá­rios remédios, prejudicando o controle das convulsões. E fundamen-

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO

CAPÍTULO II

tal que outras medicações sejam usadas somente com o conheci­mento do neurologista que está coordenando o tratamento.

• Muitos pacientes apresentam efeitos adversos com os medica­mentos antiepilépticos. E importante conhecer esses efeitos colate­rais para ajudar o paciente. Em termos práticos, a principal forma de evitar efeitos adversos é começar com dose baixa e ir aumentando-a. Ainda assim, muitos pacientes sofrerão efeitos adversos com o uso prolongado desses medicamentos.

4 . CONVULSÃO FEBRIL INFANTIL

Devido à grande preocupação dos pais com este tópico, resolve­mos destacar e ampliar alguns itens adicionais:

• A convulsão febril é um proble­ma da criança de pouca idade; é ra­ro ocorrer após os seis anos.

• As chances de se repetir aumen­tam quando há associação com histó­ria familiar de epilepsia, crise prolongada (mais que três a cinco mi­nutos) e ocorrência antes do primeiro ano de vida.

• A convulsão febril tem caráter benigno, mas aumenta o risco de desenvolvimento de epilepsia mais tarde.

• A porcentagem de crianças que apresentam convulsão febril é de no máximo 5 % (aumenta com a idade e, segundo alguns estudos, é maior em meninas).

• A ocorrência da convulsão não está ligada a um tipo específico de infecção, nem à intensidade da febre, mas à rapidez com que a temperatura aumenta.

• O desenvolvimento intelectual e psicossocial de crianças com história de convulsão febril não difere do desenvolvimento de outras crianças, desde que a convulsão não se mantenha por mais que cinco alO minutos. Além disso, não foi observada diferença significativa no desenvolvimento entre as crianças com convulsão febril do tipo sim­ples e as com convulsão do tipo complexo. Estudos anteriores que in­dicavam alterações podem estar errados devido ao fato de que avalia­vam crianças hospitalizadas, geralmente com quadros mais graves.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Nem sempre está indicada a terapia anticonvulsivante frente a um episódio único. O ideal é inicialmente observar, identificar ade­quadamente as causas da febre e acompanhar a criança, pois quase três quintos dos casos não repetem o episódio convulsivo.

• Caso seja instituído tratamento, não será necessariamente por toda a vida. Estatisticamente, 75% a 8 8 % dos pacientes que tenham estado livres de crises por um período de três a quatro anos, e não tenham recorrência ao suspender o tratamento, não voltam a apre­sentar crises posteriores.

• Alguns fatores associados ao prognóstico favorável são o desen­volvimento psicomotor normal, inteligência normal, ausência de outros sinais neurológicos, crise inicial ocorrida depois dos dois anos de idade, pouca freqüência de crises, somente um tipo de crise, boa resposta ao tratamento, e rápida melhora do EEG (eletroencefalo-grama) com o tratamento.

5 . TONTURAS E VERTIGENS

38

A tontura é uma sensação ilusória de que o corpo, mesmo imóvel, esteja em movimento em relação ao ambiente, ou de que o ambiente este­ja se movendo em relação ao corpo.

Pode se manifestar de diversas ma­neiras: sensação de atordoamento, flu­tuação, impressão de que está sendo desviado para um lado, impressão de que vai cair, afundamento ou elevação em relação ao solo, dificuldade de an­dar, com debilidade passageira nas per­nas, dor de cabeça, sensação de proxi­midade de desmaio, falha na visão ou

desorientação no espaço, confusão mental, entre outros. Se a sensação apresentar caráter giratório, é cha­mada de vertigem (ocone a impressão de que o ambiente gira ao redor). Pode estar ou não associada a náuseas.

Pode ter caráter agudo, súbito, intenso (no caso de infecções ou mudança de medicamentos), ou mais leves, repetindo-se ao longo do tempo (quando associada a infecções crônicas do ouvido médio, tumores ou doenças vasculares no cérebro).

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO CAPÍTULO II

Tem várias causas, a maior parte relacionadas com o fato de que o ouvido interno é um consumidor voraz de energia e depende de suprimento adequado e constante de glicose (açúcar) e oxigênio. Qualquer fator que impeça a chegada ou o consumo adequado des­ses elementos, é gerador de tontura. Exemplos:

• Estresse, pela liberação de adrenalina que altera a circulação local. • Queda de taxas de açúcar no sangue (hipoglicemia), relaciona­

da geralmente a atividade física intensa ou jejum. • Uso de medicações: alguns antibióticos injetáveis (por afetarem

o ouvido interno); anti-hipertensivos (na fase de adaptação aos mesmos, pela queda mais intensa que o desejável na pressão arterial, no caso dos diuréticos, ou efeito colateral direto sobre idosos, no ca­so dos bloqueadores de canais de cálcio); ansiolíticos (dose excessi­va ou inadaptação ao medicamento).

• Alterações bruscas da pressão baro métrica, tais como em emersão muito rápida de mergulhos de profundidade (doença descompressiva) e nos aviões.

• Uso de drogas ilícitas: colas, solven­tes, aerossóis, crack ou LSD.

• Labirintopatia ou doença do labi­rinto. Localizado no ouvido interno, o labirinto é um órgão composto por um conjunto de células sensoriais e mem­branas especializadas, localizadas no interior de ambos os ossos temporais. Responsável tanto pelo equilíbrio quanto pela audição, através da recep­ção, codificação e transmissão de infor­mações para o cérebro, sobre sons e des locamentos do corpo, e cuja disfunção provoca os sintomas de ton­tura e vertigem. Pode apresentar-se como crise labiríntica, com abrupta alteração do labirinto, quando os sintomas são acentuados, podendo estar presentes também outros sintomas, como diminui­ção da audição, zumbido e pressão no ouvido, dores na nuca, náu­seas, mal-estar, palidez, suor frio, palpitação, medo, ansiedade, an­gústia, sensação de morte iminente; ou na forma de alguns dos sin­tomas acima, contínuos. A labirintopatia pode ser de causa infec­ciosa (gripe ou processo inflamatório que atinja o ouvido) ou de

William/Heber

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PRIMEIROS SOCORROS

140

outras origens (tumores afetando a área, pós-traumatismos crania­no, cervical ou mandibular, etc.) .

• Doenças associadas: diabetes tipo 2, hipertensão arterial, proble­mas metabólicos - hipo/hiperglicemia, hipo/hipertireoidismo, aumen­to de colesterol/triglicérides, obesidade - Doença de Parkinson, Doen­ça de Menière, isquemia cerebral transitória (dename isquémico).

• Traumas sonoros, por exposição a sons de alta intensidade. Causas tão amplas incidem em qualquer faixa etária, de recém-

nascidos a idosos, com diferentes graus de intensidade e freqüência. Afetam mais idosos (por doenças associadas à tontura) e mulheres (provável relação com flutuações hormonais). Os sintomas podem ser leves ou chegar a alterar de forma intensa a rotina diária: prejuí­zo do equilíbrio, quedas, dificuldade de orientação no espaço e, por vezes, acidentes mais graves (raramente há risco de vida).

Nas crianças, o diagnóstico de vertigem é feito através de indí­cios observados principalmente pelos pais: queda do rendimento escolar, dificuldade de aprendizado, distúrbios da linguagem escrita e falada, dificuldade em praticar alguns tipos de brincadeiras (an­dar de bicicleta, pular amarelinha, pular elástico e brincadeiras que requeiram controle postural mais elaborado), facilidade para cair ou retardo no desenvolvimento psicomotor, sendo estes sinais, iso­ladamente ou em conjunto, indicativos de problemas no labirinto.

A labirintite é cada vez mais comum em jo­vens, por relação direta com o sistema emo­cional: ansiedade, depressão, estresse, agita­ção constante, sobrecarga física e mental.

Prevenção • Coma bem pela manhã, menos no al­

moço e menos ainda no jantar. • Evite jejum prolongado (maior que

três horas). • Fracione a dieta ao longo do dia em

até cinco refeições. Mantenha a quantida­de habitual de comida, mas divida-a em maior número de refeições.

• Evite o uso de carboidratos de absorção rápida, como açúcar e mel, por provocarem um aumento abrupto de insulina no san­gue, bastante prejudicial ao labirinto. Prefira adoçantes.

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PROBLEMAS DO SISTEMA NERVOSO

CAPÍTULO II

• Restrinja o uso de massas e alimentos gordurosos, para prevenir dificuldades digestivas.

• Coma lentamente e mastigue bem os alimentos. • Abandone completamente a ingestão de bebidas alcoólicas

e o fumo. • Diminua o uso de café e bebidas cafeinadas: chá-mate, chá-pre-

to, alguns refrigerantes. • Reduza o uso de sal e alimentos condimentados. • Ingira sempre grande quantidade de água (8 a 12 copos por dia,

para adultos). • Faça uso intensivo de frutas, legumes e verduras. • Mantenha vida ativa. Pratique algum esporte ou exercício ae-

róbico de baixo impacto, cinco dias por semana. Comece com 10 minu­tos e acrescente cinco minutos por semana, até atingir 30 minutos diá­rios; evite tanto a inatividade quanto atividades muito intensas, que levem ao esgotamento.

• Procure relaxar e combater o es­tresse. Tenha momentos especiais para o lazer.

• Procure o médico antes de usar qualquer medicamento. Algumas das substâncias usadas no tratamento de tonturas podem piorar outras formas; remédios para outras doen­ças podem ser tóxicos ao ouvido. Além de medicamentos, pode-se indicar reabilitação vestibular (conjunto de manobras/exercícios que melhoram os sintomas), ou cirurgias nos casos mais severos.

O tratamento efetivo depende do diagnóstico das causas, mas po­de-se conseguir melhora acentuada ou cura em 9 0 % a 9 5 % dos ca­sos, de acordo com a gravidade e a causa envolvida. Deve ser reali­zado em três etapas, sempre sob supervisão médica:

Tratamento dos sintomas, visando aliviar a tontura. Alguns me­dicamentos disponíveis são:

Moduladores de fluxo sangüíneo Vasodilatadores

' 141

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PRIMEIROS SOCORROS

Bloqueadores de canais de cálcio Anticonvulsivantes Antidepressivos Sedativos

Cada um desses medicamentos age em local diferente, apresentando diferentes indicações. Outro aspecto é a idade do paciente. Uma droga que funciona bem no jovem, pode ser contra-indicada para o idoso.

Nenhum medicamento é isento de efeitos colaterais, portanto procure avaliação médica (neurologista ou otorrinolaringologista).

O tempo de tratamento medicamentoso vai depender da causa da doença e da sensibilidade individual; pode ser indicado repouso, segundo a necessidade do paciente.

Tratamento da causa, após investigar o problema que gerou a doença do labirin­to. O tratamento sintomático alivia os sintomas, mas eles podem voltar se sua origem não for tratada.

Está baseado na investigação dos fatores de risco, que são os problemas metabólicos, infecciosos, reumáticos e anatômicos. De­pois de um intenogatório clínico, onde o médico procura encontrar causas do pro­blema, serão feitos exames para detectar alterações que levam ao sintoma de verti­gem ou tontura. Tais exames são de audi­ção e equilíbrio, de sangue e radiológicos.

Após a determinação da causa inicia-se o tratamento, que pode ser feito pelo

otorrinolaringologista ou outro especialista médico, dependendo do problema apresentado.

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Reabilitação do labirinto ou tratamento fisioterápico da tontura, que pode ser utilizado associado ou não a medicamentos. Quando a tontura for de difícil controle (como no caso de obstrução circulatória no idoso), a reabilitação é o tratamento de escolha, apresentando bons resultados em 80% dos casos. Além de apresentar resultados efetivos, não necessi­ta de aparelhos especiais, é de fácil realização e pode ser feita em casa.

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L O

Cólicas menstruais e TP

1 . CÓLICAS MENSTRUAIS

Também chamadas de dis-menorréia. Dor caracterizada por espasmos, localizada no baixo ventre, que aumenta progressivamente de intensi­dade, diminui, desaparece e retorna, e que é provocada pela contração das fibras musculares do útero. Com o acúmulo de sangue dentro do mesmo, existe o aumento da liberação de uma substân­cia chamada prostaglandina, que é uma das respon­sáveis pelas contrações uterinas. Pode ser ainda pro­vocada pela formação de pequenos coágulos de san­gue da própria menstruação, que têm dificuldade de passar pelo colo do útero. As contrações teriam a função de facilitar a expulsão do sangue.

Nem todas as mulheres têm cólicas menstruais, mas a maioria das que as têm apresentam ciclos mens­truais onde não ocorre a ovulação. Isto equivale a di­zer que se a mulher tem dismenorréia, existe boa chance de apresentar dificuldade para engravidar.

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PRIMEIROS SOCORROS

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As causas da dismenorréia são várias: alterações da quantidade de hormônios, endometriose, etc. As vezes não é possível determinar a causa. Para uma correta identificação, é necessário o exame gineco­lógico e, provavelmente, o exame ultrassonográfico, para afastar ou­tras doenças ginecológicas que possam ser responsáveis pelas dores, mesmo em mulheres jovens.

Crendices como não lavar a cabeça no período menstrual, restri­ção de atividade, não tomar banho, restrição alimentar e outras, de­vem ser abandonadas.

Como prevenir Se a investigação cuidadosa não determina uma causa, sugere-

se o tratamento da Tensão Pré-Menstrual (veja o capítulo especí­fico) e o uso das medicações indicadas para a crise, de forma pre­ventiva, dois ou três dias antes da data prevista para o início da menstruação.

Baseia-se na identificação da causa em si. Para aliviar as dores, sugerimos alguns passos:

• Fazer exercícios — O exercício reduz as cólicas menstruais e melhora o hu­mor (maior tolerabilidade à dor). O ideal é praticar exer­cícios moderados, como ca­minhar, andar de bicicleta ou nadar (preferência por água bem morna, como em

1 estações termais ou piscinas térmicas), ou ainda exercícios

localizados que trabalhem o tônus muscular da pelve, membros in­feriores e superiores e atuem internamente no organismo, ajudando a reduzir as cólicas menstruais.

• Calor local, com bolsas de água quente, ajudam a aliviar as có­licas menstruais ao aumentarem a temperatura local, ativando a cir­culação e relaxando as fibras musculares.

• Se após os exames para pesquisa das causas, a opção for pelo uso

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CÓLICAS MENSTRUAIS E T P M CAPÍTULO 12

de medicação analgésica ou anti-contraturante, sugerimos as que bloqueiam as prostaglandinas ou têm efeito anti-contraturan-te/analgésico, sempre que possível em combinação. Exemplos: Algi-Danilon® (antihitlamatório e analgésico), Fymnal® (antiinflamató-rio e anti-contraturante), Tandrilax® (antiinflamatório, anti-con­traturante e analgésico) e Dorflex® (anti-contraturante e analgési­co), nas doses adequadas para a idade e peso.

• Caso haja necessidade, outra opção medicamentosa são os con­traceptivos orais; melhoram os sintomas pelo bloqueio dos desequi­líbrios hormonais, e previnem a gravidez.

2 . TENSÃO PRÉ-MENSTRUAL ( T P M )

É também denominada síndrome pré-menstrual (SPM), pois não se conhece uma causa única. Condição muito freqüente, afeta mu­lheres de todo o mundo (um pouco mais intensamente nos países industrializados). Ocorre geralmente nos 10 dias anteriores ao iní­cio da menstruação, podendo variar de 2 a 15 dias. Quase 2 0 % das mulheres com síndrome pré-menstrual não ficam totalmente livres dos sintomas da TPM, enquanto uma porcentagem um pouco me­nor apresenta ciclos irregulares (períodos menores que 26 dias ou maiores que 34) .

Podem estar associados proble­mas como distúrbio do humor ou de personalidade, diabetes e transtornos alimentares, como anorexia (perda de apetite) ou bulimia (compulsão para comer o máximo possível, seguida de vô­mitos provocados).

Uma entre 10 mulheres sofre de sintomas pré-menstruais severos, com perda de rendimento escolar ou laboral. Quatro em cada cinco têm algum desconforto físico ou mental (leve, moderado ou inten­so) no período pré-menstrual.

Para se fazer o diagnóstico é preciso que a mulher possua os sinto­mas da TPM na maioria dos ciclos e não apenas em alguns. Tais pro-

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PRIMEIROS SOCORROS

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blemas são variados; já foram listados mais de 150 sintomas, dentre os quais citamos:

• Sinais e sintomas de natureza física, como dores de cabeça (ti­po enxaqueca), dor pélvica, dores nas juntas, sonolência, sensação

de aumento de volume dos seios, ganho de peso (retenção de líquido), disten­são do abdome, piora ou surgimento de acne, enjôos, náuseas, tonturas, dor ab­dominal tipo cólica, modificações do hábito intestinal.

• Sinais e sintomas de natureza psi-co-emocional, como depressão, sensa­ção de falta de energia, cansaço, difi­culdade de concentração, alteração do ritmo do sono (insónia ou sonolência), nervosismo, ansiedade, mudanças súbi­tas de humor (choro fácil), deprecia­ção da auto-imagem, agressividade, mau humor, comprometimento do de­sempenho sexual, alterações de cunho alimentar, com desejo intenso de con­sumir doces, especialmente chocolate.

Não são necessários todos os sintomas para que se caracterize a tensão pré-menstrual, mas deve haver claro surgimento ou predomínio desses sinais e sintomas nos dias que ante­cedem a menstruação. A intensidade e qualidade dos sinais e sintomas encontrados são muito variáveis de mulher para mulher, desde uma simples imtação, até a incapacitação completa por uma semana ou mais, todos os meses, ficando nervosa sem motivos aparentes. E impor­tante entender que o desconhecimento da TPM pode afetar relacio­namentos sociais ou conjugais, interferindo na vida das pessoas. Para se ter certeza de que a mulher sofre de síndrome pré-menstrual, o mé­todo para diagnóstico é o acompanhamento diário por no mínimo dois ciclos, anotando-se todos os sinais e sintomas da paciente, observando se os mesmos desaparecem quando chega a menstruação.

A importância de avaliação mais complexa, deve-se ao fato de que se opta por iniciar o tratamento resolvendo os sintomas mais in­tensos ou que causem mais incômodo à paciente.

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CÓLICAS MENSTRUAIS E T P M CAPÍTULO 12

Aceita-se hoje que a SPM seja um distúrbio resultante do dese­quilíbrio (flutuação acentuada) dos dois principais hormônios femi­ninos (alto índice de progesterona em relação ao estrogênio) na se­gunda fase do ciclo menstrual, após o décimo segundo dia do ciclo. Esta é a época que vai da ovulação até a ocorrência da menstruação. Ocorreria queda da produção da serotonina (um dos neurotransmis-sores cerebrais, importante no humor e no comportamento das pes­soas). Se a mulher já estiver com os índices de serotonina baixos, devido a fatores externos e emocionais, como estresse, separação e dificuldades no trabalho, as mudanças serão mais profundas e suas conseqüências mais acentuadas.

Estas alterações no funcionamento cerebral podem ser resistentes a correções nutricionais ou vitamínico-minerais. Devem ser muito seletivos os tratamentos de suplementação, que eventualmente po­dem resultar em piora. Caso se deseje atuação nessa área, recomen­dam-se a seguir alterações dietéticas.

Para reduzir ou prevenir a TPM, procure observar estes hábitos: • Diminua a ingestão de cafeína e álcool. As teínas (cafeína,

teobromina, e t c ) , contidas no café, chocolate, chimarrão, chá-ma-te, alguns refrigerantes e várias medicações, podem aumentar a an­siedade e a instabilidade emocional. Já o álcool pode provocar do­res de cabeça, fadiga e depressão.

• Diminua o uso de sal, não só nos temperos mas também aquele oculto nas conservas, enlatados, azeitonas, etc. - particularmente na segunda metade do ciclo (pe­ríodo de cerca de duas semanas antes do início menstrual para mulheres com ciclos de 28 dias). Isso ajuda a reduzir o inchaço causado pela retenção de água pe­lo corpo.

• Coma alimentos ricos em cálcio, o que ajudará a reduzir o inchaço e a variação de humor.

• Faça exercício, pois ajuda a reduzir as cólicas menstruais e me­lhora o humor. O ideal é praticar regularmente exercícios modera-

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PRIMEIROS SOCORROS

dos, como caminhar (30 a 40 minutos, três a cinco vezes por sema­na), andar de bicicleta, nadar ou outras atividades aeróbicas.

Por que o esporte melhora a TPM? Porque faz com que a mulher se livre de tensões emocionais. Ao se realizar exercícios físicos aeró-bicos, é liberada uma substância chamada endorfina, produzida pe­lo organismo e responsável pela sensação de bem-estar (redução do estresse e diminuição da ansiedade e depressão).

• Aumente o consumo de carboidratos complexos, açúcares de absorção mais lenta por requererem digestão mais demorada: massas

ção da ingestão de produtos lácteos (leite e derivados) e de proteí­nas, especialmente as de origem animal. Contudo, um tipo espe­cial de gordura pode ser útil, o ácido cis-linoléico, encontrado em alguns óleos, como os de girassol e oliva.

Tratamento Infelizmente muitas mulheres tentam se acostumar com o proble­

ma, sem buscar tratamento, embora eles existam, abordando sinais e sintomas específicos:

• Quem ganha muito peso (após a ovulação a mulher retém mais líquido) deve usar diuréticos.

• Para quem sente nervosismo, pode ser receitado um ansiolítico

e pães integrais, batata, mandioca. Diminua o uso de carboidratos

I simples, sobretudo açúcar e mel. I Isso reduzirá a fadiga e as varia­

ções de humor. • Para elevar os níveis de vita­

minas no organismo, em vez de usar comprimidos, aumente o uso de vegetais, frutas, legumes, cereais e leguminosas (sobretu­do integrais), e demais fontes de vitaminas A , PJ6, C e D . Existem teorias atribuindo a piora da TPM à diminuição das mesmas.

Wi'.ia-n

• Também deve ser feito ajus­te dietético com aumento da in­gestão de fibras, redução de gor­

duras saturadas animais e limita-

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CÓLICAS MENSTRUAIS E T P M CAPÍTULO 12

(tranqüilizante leve), como Benzodiazepínicos ou Buspirona, Bus-par®, etc. (Requer avaliação pessoal do médico.)

• Nos casos mais graves de depressão, angústia e acessos de fúria, pode-se adotar antidepressivos: Prozac®, Tolrest®, Survector® e ou­tros (aumentam a quantidade de serotonina cerebral), que também requerem acompanhamento médico.

• Uma quarta opção é a suplementação contínua e uniforme de hormônios, como a progesterona, embora a eficácia do tratamen­to seja discutível.

• Outra opção mais radical é o uso de um outro hormônio, o GNRH, que quando administrado causa inibição da progestero­na e do estrógeno, sendo geralmente eficaz, embora difícil e drás­tico, pois causa uma menopausa artificial. Poucas mulheres têm indicação para esse tratamento, e elas precisam receber suple­mentação controlada de estrógeno para evitar osteoporose e doenças cardíacas.

• A última opção é o uso de inibidores da prolactina ou de outros hormônios (bromo-criptina, espirolac-tona, e t c ) , desde que sejam corrigi­dos quaisquer dis­túrbios de ciclos.

• Para alguns ca­sos envolvendo de­pressão, pode ser necessária a ava­liação conjunta de psicólogos e psi­quiatras.

• Nos casos gra­ves, felizmente ra­ros, pode vir a ser recomendada a in­terrupção da mens­truação e retirada do útero e dos ovários.

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Febre, dor de dente, coceira, desidratação e soluço

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1 . FEBRE

Febre não é doença e, por isso, não deve necessaria­mente ser combatida. Ela in­dica que algo não vai bem no organismo, como se fosse um alarme. Em si mesma a febre não deve ser temida, mas en­tendida. O importante é ana­lisar o que a está causando.

O ser humano, em estado normal, mantém uma tempe­ratura constante próxima de

37°C, independente das condi­ções ambientais. Essa regulação perfeita da temperatu­ra é mantida por um termostato (dispositivo destinado a manter a temperatura constante), situado em uma área do cérebro chamada hipotálamo. E o hipotálamo que recebe as informações das variações de temperatu­ra do corpo pelas vias nervosas e sangüíneas; e respon­de, corrigindo-as por vias nervosas e hormonais, atra­vés do envio de mais sangue para áreas que estejam frias, ou produzindo contrações dos músculos (cala­frio) para aumentar a produção de calor.

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

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CAPÍTULO 13

A febre consiste no aumento de temperatura do corpo, altera o equilíbrio normal e resulta em alterações das mensagens no hipotá-lamo. Consiste na elevação da temperatura do organismo acima da média normal, que é entre 35,5 e 37°C . Via de regra, o paciente se apresenta com as extremidades frias, concentrando-se o calor na ca­beça e no tronco. Em geral é resultado de uma reação de defesa con­tra fatores externos (bactérias, vírus, traumatismos, queimaduras, e t c ) ; mais raramente, de fatores internos (ansiedade, angústia, trau­mas psíquicos).

Como se produz a febre? A ocorrência de fatores agressivos, em especial os de natureza física, tem como resposta um ataque por parte dos glóbulos brancos (ou leucócitos) aos microorganismos invasores. Os glóbulos brancos, que são parte das células de de­fesa do organismo, aderem aos agentes patogênicos, ingerindo-os posteriormente. No decorrer desse processo, os leucócitos libe­ram uma substância chamada "pirógeno endógeno", que sinaliza ao termostato hipotalâmico, induzindo o aumento de temperatu­ra e produzindo febre.

Pesquisas científicas demons­traram que febres moderadas (no máximo até 39°C) têm pa­pel positivo na proteção do or­ganismo, já que a febre é induzi­da pela penetração de microor­ganismos no corpo, os quais em situação normal encontram temperaturas ótimas para cres­cimento. Os cientistas admitem que, na maioria dos casos, a febre perturba o desenvolvimento desses agentes, pelo aumento de temperatura corporal.

Até 39°C ocorre um aumento da resposta imunológica pela me­lhora da capacidade das células de defesa, tanto de combater os in­vasores como de migrar para o local da infecção, e também da ação dos anticorpos. Por isso, febres de até 39°C devem ser tratadas ape­nas na medida em que causem incômodo ao paciente.

A temperatura também pode subir se a pessoa sofrer aquecimen­to excessivo devido a exposição demorada ao sol, que é chamada de insolação. A diferenciação se faz pela história do paciente e pelo fa-

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PRIMEIROS SOCORROS

to de estar com as extremidades quentes (ver capítulo 14, pág. 173). Consideramos o paciente com febre quando a temperatura corpó­

rea axilar exceder 37,8°C. Entre 37 e 37,8°C se diz que o paciente está subfebril. Além da elevação de temperatura, pode ocorrer au­mento da sudorese e uma sensação de indisposição geral, com sono­lência e irritabilidade.

O temor associado à ocorrência da febre em geral relaciona-se com a possibilidade de convulsões febris, mas deve-se entender que essas convulsões, via de regra, ocorrem em crianças com mais de seis meses e menos de cinco anos de idade, e dependem não

da ou valorizada como sinal de vitalidade, nem se deve relacionar sua intensidade com a gravidade da infecção. Não é verdade que, quanto mais forte a febre, mais perigosa é a infecção, já que mesmo as mais corriqueiras e banais podem apresentar febre alta e persis­tente. Tampouco é certa a idéia contrária: se o organismo consegue desencadear febres altas, sua capacidade de reação é maior do que a de uma pessoa que raramente tem febre.

Uma última razão para que a febre seja encarada com equilíbrio (nem pavor, nem descaso) é que nas primeiras 24 a 48 horas é mui-

tanto da intensidade da fe­bre, mas da rapidez com que ocorre a elevação (ver capí­tulo específico sobre con­vulsões, pág. 137).

Em relação à febre infan­til, se a criança tiver seu es­quema de vacinação em dia (incluída a vacina contra a meningite), estará protegi­da da maioria das infecções perigosas e o mais provável é que ao ela apresentar fe­bre, esteja em curso uma virose que na maioria das vezes evoluirá bem, mesmo com tratamento simples.

Embora não deva ser te­mida, a febre também não

deve ser estimada, estimula-

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

CAPÍTULO 13

to difícil, mesmo para o médico, saber a causa da febre. Assim, não se justificam medidas intempestivas, como a administração de anti­bióticos ou outros remédios que não estejam claramente indicados.

Orientações básicas • Administre o antitérmico (remédio para febre) habitual. Crian­

ças não devem tomar ácido salicúico (aspirina) em infecções virais agu­das, inclusive gripes e resfriados. Use acetaminofen (Dôrico®) ou di-pirona (Magnopyrol®), na dose adequada para o peso.

• Vômitos durante a elevação de temperatura são comuns e me­lhoram com a queda da temperatura, sem necessidade de outros me­dicamentos. Caso deseje administrar alguma medicação, utilize dra-mamine (Dramim®) ou Trimebutina (Debridat®).

• Na infecção virai comum da infância, observamos que a crian­ça gradualmente recupera o nível de atividade quando a temperatu­ra volta ao normal - ao contrário das infecções graves, onde a pros­tração é progressiva. O paciente adulto em geral tolera bem infec­ções virais leves.

• Contate o médico se a febre não ceder ou surgirem sinais/sinto­mas de agravamento: vômitos per­sistentes, "falta de ar", prostração.

Para reduzir a febre e diminuir o mal-estar, podem ser utilizados os seguintes recursos terapêuticos:

a) Remoção do excesso de rou­pas/agasalhos, deixando a pessoa febril bem à vontade. Se o pacien­te se queixar de frio, cobri-lo; se sentir calor, descobri-lo.

b) Transportar o paciente para ambiente arejado e fresco.

c) Banho de imersão em água morna por 15 minutos. Banho frio pode piorar a febre. Não sendo possível, optar por chuveiro de pou­ca intensidade (duchas podem piorar a sensação dolorosa).

d) Repouso em posição confortável e redução da atividade física.

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PRIMEIROS SOCORROS

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e) Aumento do uso de líquidos - água, chás, sucos, refrigerantes - tanto em quantidade como em freqüência, evitando a desidrata­ção. Entenda como normal a diminuição do apetite; procure ofere­cer ao paciente os alimentos de que mais gosta.

Se a febre persistir, procure o médico, pois somente ele poderá orientar o diagnóstico das causas e receitar medicações específicas.

Doenças que comumente causam febre e seus sintomas Meningite - Inflamação das membranas que envolvem o cérebro,

causada por infecção bacteriana ou virai. Geralmente acompanha­da de vômito e dor na nuca.

Faringite e amigdalite - Infecção da garganta ou amígdalas. Via de regra acompanhada de dor e dificuldade para engolir. Caso o pa­ciente apresente alteração de voz, pode ser associada à laringite.

Gastroenterite — Infecção do trato digestivo. Geralmente asso­ciada à diarréia.

Infecção urinária - Infecção do trato urinário. Pode ocorrer alte­ração de cor da urina. Geralmente ocorre dor ao urinar.

Caxumba - Infecção virai que afeta principalmente as glândulas salivares. Pode ocorrer dor ao engo­lir e dor nas bochechas.

Infecções virais - Gripes e res­friados produzem febre e podem apresentar como complicação ou­tras infecções do trato respiratório.

Otite - Infecção do ouvido, ge­ralmente após resfriado ou gripe. Pode levar à redução da audição no lado afetado, se ocorrer rompimen­

to do tímpano (membrana do ouvi­do que vibra ao receber o som).

Sinusite - Infecção das cavidades existentes nos ossos do rosto, destinadas a aquecer e filtrar o ar que inspiramos. Pode decorrer de complicação de resfriado/gripe, ou em caso de alergia.

Pneumonia - Infecção do pulmão. Pode ser causada por bactéria (faz-se necessário usar antibiótico) ou vírus (quando não se deve usar antibiótico). Deve ser tratada apenas sob acompanhamento médico. Pode decorrer de complicações da gripe.

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

CAPÍTULO 13

Sarampo - Doença infecciosa virai com presença de pequenos pontos vermelhos pelo corpo; iniciam pela cabeça e rapidamente descem em direção aos pés. Segue-se descamação da pele.

Rubéola - Doença infecciosa virai também acompanhada de pe­quenos pontos vermelhos pelo corpo, podendo ser confundida com o sarampo. Em geral acompanhada de inchaço dos gânglios na par­te posterior do pescoço. A descamação é mais fina e menos intensa que no sarampo.

Catapora - Doença infecciosa virai igualmente acompanhada de pequenos pontos vermelhos pelo corpo, mas com formação de peque­nas bolhas; estas, ao se romper, formam crostas. Coceira é comum.

2 . D O R DE DENTE

Devido ao incômodo que causa e à habitual intensidade da dor e ao risco de complica­ção infecciosa, tanto para áreas adjacentes como à distância (exemplo: infecção das válvu­las do coração), vamos abordar medidas básicas para o con-trole inicial da crise dolorosa, enquanto se encaminha o pa­ciente ao dentista.

Causas mais freqüentes da dor de dente

Embora se atribua a maioria das dores dentárias às cáries, es­tas não são a única possibilidade. Podemos entender isto com facilidade, se analisarmos o dente como uma parte viva do organismo, composta de porção de proteção (es­malte e gengivas), porção de sensibilidade (dentina e canal pulpar) e porção de sustentação (cavidade óssea).

Não devemos esquecer as estruturas que rodeiam a boca (seios maxilares, articulações), as quais podem produzir dores que se irra­diam para os dentes, causando uma "falsa" dor de dente, ou ainda a inflamação das gengivas (gengivite).

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PRIMEIROS SOCORROS

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Sempre que a dentina ficar exposta, por desgaste do esmalte pro­vocado por escovação com muita pressão, ou por retração da gengi­va, ou desgastada pelo hábito de ranger os dentes (bruxismo), ou ocorrer infeção do canal (pulpite), haverá dor.

Lembramos ainda os traumatismos dentários; extrações e cirurgias (que podem causar dor) e encaixe dentário imperfeito (dente fora do lugar ou torto), que pode levar à dor no momento da mordida ou na articulação da mandíbula.

Como identificar causas de dor dentária • Ao olhar a área afetada, é visível algum ponto enegrecido ou

perfuração no dente? • Ocorre dor apenas quando se morde sobre a área afetada? o-** Possivelmente exista uma cárie ou obturação quebrada. • Ocorrem acessos de dor intensa ou os dentes na área sinto­

mática são muito sensíveis ao calor ou frio, e a dor permanece por vários minutos?

^ • Foi submetido a uma obtura­ção (restauração dentária), dolo­rosa mesmo quando não morde?

o**- Provavelmente uma lesão de canal.

• Apresenta febre e um ou mais dentes da área dolorosa pa­recem mais altos que os demais?

Grande possibilidade de abs­cesso, com chance de que a infecção se espalhe e ocorra perda do dente.

• Ocorre dor somente quando come algo frio ou doce, desapare­cendo após alguns segundos?

Provavelmente ocorreu deterio­ração da obturação. A dentina ou a raiz do dente ficaram expostas. Em todas as situações descritas é

imprescindível a análise de um profissional de saúde, de preferência dentista. Na ausência do dentista, um médico pode avaliar a neces­sidade de prescrever antibiótico (para casos de abscesso) ou um analgésico potente.

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

CAPÍTULO 13

MÊm. Dor de dente x analgésico Alívio da dor é sempre o pri­

meiro objetivo a ser alcançado, e os analgésicos costumam atuar satisfatoriamente contra a dor de dente. Se tomados sem abuso e por curto período, qua­se não surtem efeitos colate­rais. Dê preferência ao parace-tamol (Tylenol® 750/Dôrico® 750). Uma opção é a dipirona (Magnopyrol®); mas algumas pessoas apresentam alergia a esse medicamento. Pode-se ainda usar analgésicos associa­dos a alguma substância que au mente a sua ação; por exemplo, Excedrin® (Paracetamol + Cafeína) ou Lisador® (Dipirona + Prometazina).

Ao usar analgésico, lembre-se não apenas dos efeitos colaterais. O maior risco é que seu uso dê ao paciente a impressão de que o trata­mento resolutivo pode ser adiado, até levar ao comprometimento ir­reversível do dente ou à disseminação de uma infecção tolerada por muito tempo.

Outro ponto fundamental é que o uso de antiinflamatórios, como a aspirina, deve ser feito apenas sob supervisão do profissional de saúde. Eles podem contribuir para espalhar uma infecção localizada, ou aumentar o sangramento e retardar a coagulação e cicatrização nos procedimentos dentários, como na extração.

Jamais deve ser colocado qualquer tipo de comprimido junto ao dente dolorido, pois ocorrerá queimadura química na gengiva ou bochecha, aumentando os problemas a resolver.

Outras medidas possíveis • Caso a cárie apresente cavidade, deve ser limpa com mecha de

algodão enrolada num palito. A seguir, preencha a cavidade com "cera para dor de dente" (não permita contato com as mucosas, pa­ra evitar lesão), ou com óleo de cravo. Cubra-a com algodão.

• Use bolsa de água quente ou gelo (o que melhorar os sintomas) sobre o lado dolorido do rosto.

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PRIMEIROS SOCORROS

Pontos preventivos • Diminua a agressão aos dentes ao limitar o uso de açúcar e fa­

zer higiene adequada após a ingestão de alimentos. A mamadeira açucarada, sobretudo à noite, pode prejudicar os dentes da criança.

das gengivas). Ela é composta por uma colônia de bactérias que usam o açúcar e restos alimentares acumulados nesses locais. Evite também o tártaro (placa bacteriana mineralizada) através de higie­ne dentária cuidadosa e freqüente, com escovação adequada (segun­do orientação de seu dentista) e uso de fio dental.

• Vá ao dentista para aplicações regulares de flúor (importante na remineralização, o flúor fortalece os dentes contra os ataques de áci­dos produzidos pelas bactérias); use cremes dentais fluorados.

3 . COCEIRA OU PRURIDO

A coceira é uma sensação muito semelhante à dor. Pode ser um dos primeiros sinais de alarme quando a pele está sendo agredida.

Essa sensação desagradável é percebida e transmitida pelas mesmas terminações nervosas responsáveis pela percepção e transmissão da dor. Poderíamos dizer que a coceira é uma dor em menor escala. Diferentemente da sensação dolorosa, a percepção da coceira desperta, em lugar de uma reação de fuga (como acon­tece automaticamente com a dor de uma queimadura), a tentati-

Prefira alimentos não cario-gênicos, como derivados do leite, frutas (maçã, la­ranja, pêra, pêssego, ce­noura, frutos carnosos) e legumes crus. Eles são "de­tergentes", ou seja, possibi­litam a auto-limpeza, re­movem restos alimentares presos aos dentes, ajudam a desenvolver os maxilares e massageiam a gengiva.

• Combata a placa bac­teriana (película transpa­rente na superfície dos

dentes e ao redor da linha

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

Possíveis causas de coceira Doenças da pele - A coceira é o sinal mais comum das doen­

ças que acontecem na pele. E um importante sinal de grande nú­mero de doenças dermatológicas, tais como: dermatites; micoses (infecções por fungos); alergias, tanto causadas por agentes lo­cais (dermatites de contato), como causadas por agentes à dis­tância (alergia a remédios, a alimentos); infestações como esca-biose (sarna), pediculose (piolho), ftiríase (chato), pulicose

159

CAPÍTULO 13

va de atritar a área estimulada, visan­do instintivamente remover a fonte de estímulo.

Ocorre, porém, que ao friccionar a pele, o ato da coçadura se toma agres­sivo à mesma. Esfregar a área acaba provocando sensação dolorosa de pe­quena intensidade, indicando que al­guma área da pele foi destruída. Essa dor de pequena intensidade acaba sen­do menos desagradável que a sensação pruriginosa, razão por que muitas vezes o paciente só pára de coçar-se quando sente dor. Logo, a coceira a curto pra­zo é maléfica para o organismo, pois \ rompe a barreira de proteção da pele, o que explica por que ocorrem tantas infecções como efeito secundá­rio de doenças pruriginosas.

A longo prazo, a coceira desencadeia um ciclo vicioso na seguin­te seqüência: estímulo prurigênico (ato de coçar), resposta prolife-rativa da pele (aumento de sua espessura), mais estímulo à coceira.

Se o paciente usa unhas compridas, a lesão tende a ser mais intensa, por se tornar maior e mais profunda, e aumenta o ris­co de infecção.

Devido à lesão da pele, pode ocorrer como resposta direta ou se­cundariamente à infecção, um processo inflamatório, que se con­funde em termos de coloração (com a vermelhidão da causa da co­ceira), e edema (inchaço provocado pelo agente agressor e pela co­çadura). O aumento da circulação, causado pelo processo inflama­tório, também pode aumentar a sensação de coceira.

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PRIMEIROS SOCORROS

160

(reação alérgica a pulgas); e muitas outras doenças dermatológi­cas, como líquen e psoríase.

• • Além das alterações cia peie, as doenças sistê­micas ou gerais também podem ter na coceira um sinal freqüente. A pele, sendo um órgão muito importante na constituição geral do in­divíduo, é afetada por várias doenças sistêmicas, como: diabetes mellitus; hipertireoidismo; hepatite; distúrbios psicossomáticos; in­flamação crônica dos rins; abuso de drogas (cocaína, morfina); cor­rimento vaginal (causando prurido genital), etc.

Fatores agravantes ou desencadeantes Muitas vezes a causa principal, que iniciou o processo, mantém-

se desconhecida, mas a coceira pode ser agravada por uma série de fatores:

Condições ambientais - Temperaturas muito altas ou muito bai­xas, por interferirem na circulação do sangue da pele, podem atuar no aparecimento ou piora da coceira. Locais muito secos ou com ex­cesso de umidade desempenham o mesmo papel.

Agentes locais - Cosméticos, produtos de higiene pessoal, bijuterias, bem como o manuseio de produtos químicos, devem ser avaliados cui-

- - ^ dadosamente, evitando-se substân­cias suspeitas e realizando-se testes de contato se a situação persistir.

Causas emocionais - Situações de tensão ou estresse podem con­tribuir para o aparecimento ou piora da coceira.

•. - A própria pressão/fric­ção causada pelo uso de roupas ásperas, sintéticas ou de banda­gens elásticas, ou ainda a compo­sição química do tecido ou dos corantes nele contidos, podem atuar como agravantes ou desen­

cadeantes do prurido. Consumo de álcool - Por sua ação que dilata os vasos sangüíneos

da pele, pode interferir no aparecimento ou na intensidade da co­ceira. Também pela ação na circulação é que se explica como agem o frio e o calor, desencadeando o prurido.

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

161

CAPÍTULO 13

Prevenção de complicações • Evite coçar as áreas afetadas - lembre-se que o ato de coçar é

uma agressão em pequena escala. Evite agredir mais a área já afe­tada. Se a coceira for muito inten­sa, tente apenas pressionar ou es­fregar suavemente o local. Nunca use as unhas.

• Conserve as unhas sempre limpas e aparadas para diminuir o risco de lesões mais extensas e intensas, com maior possibilida­de de infecção.

• Ao primeiro sinal de infec­ção/inflamação da pele procure um dermatologista, uma vez que algumas doenças apresentam dis­seminação para outras áreas do corpo ou para outras pessoas.

• Evite os fatores desencadean­tes/agravantes, como extremos de calor ou frio, umidade ou secura. Dê preferência a roupas leves, claras, de fibras naturais. Cuidado na se­leção de cosméticos ou produtos de higiene pessoal. Algumas essên­cias podem desencadear alergias pelo cheiro ou por aumentarem a sensibilidade da pele ao sol.

O que fazer • Caso haja suspeita de agente infeccioso (bacteriano ou parasi­

tário, como sarna e piolho), procure isolar os objetos de uso pessoal, de modo a evitar a transmissão para outras pessoas.

• Mantenha higiene sem excessos. O uso abusivo de sabonete resseca mais a pele, piorando a coceira. Prefira banhos frios e rápi­dos. Seque-se usando toalhas macias, sem atritar muito (quanto mais fricção, pior a coceira).

• Suspenda o uso de substâncias tópicas que possam estar presen­tes em cremes hidratantes, perfumes, antissépticos, etc.

• Não use qualquer medicação local, sem prévia análise pelo der­matologista, para determinar se será necessária a coleta de algum material da pele para exames.

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PRIMEIROS SOCORROS

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• Se a coceira for muito intensa, opte pelo uso de compressas geladas com soro fisiológico.

• Se o prurido atrapalhar o sono, use um anti'histamínico (Polarami-ne® 6mg ou Agasten® comprimido); o uso desses medicamentos durante o dia não é recomendado, por provoca­rem sonolência.

• Procure um dermatologista o mais rápido possível, para exame adequado e tratamento.

4 . DESIDRATAÇÃO

É a perda excessiva de água pelo organismo, acompanhada da per­da de sais minerais e orgânicos. Situação muito comum no Brasil, onde todos os anos milhares morrem por causa disso, principalmen­te crianças e idosos. Mesmo sendo uma doença grave, é de fácil pre­venção e é tratável, desde que se reconheçam logo os sintomas e se tomem os cuidados necessários.

A gravidade é maior nas faixas extremas de idade, devido às di­ferenças na quantidade de água que existe no organismo (em adul­tos, 6 0 % do peso corporal; crianças têm 75%; idosos do sexo mas­culino apresentam 53%, e mulheres idosas, 46%, em média). Nas crianças, qualquer perda de água corpórea afetará mais rapidamen­te seu peso e metabolismo. Já no idoso a ingestão de água é menor. Como as crianças se desidratam mais facilmente, e o idoso está sempre com uma deficiência relativa, é preciso estar alerta para evitar o problema.

Em média, perdemos 2,5 litros de água por dia, pela urina, fezes, suor e respiração. Para manter equilíbrio constante, é preciso inge­rir no mínimo o mesmo volume de líquidos, todos os dias. Acostu­me-se a beber água antes de ter sede, pois ela é muito importante para o organismo. O transporte de nutrientes e gases e a excreção dos produtos resultantes do metabolismo dependem da água. Ela também desempenha papel vital na regulação da temperatura, pela evaporação do suor.

A desidratação costuma ocorrer quando a criança (ou adulto) tem

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

diarréia, sobretudo aquela acompanhada de vômitos. Pode ainda ser causada por sudorese excessiva, como quando ocorre febre prolon-gada (aumento da perda de água pelo suor e pela respiração), ou em casos de exposição prolongada ao sol ou outra fonte de calor inten­so, ou ainda diante de exercícios intensos e continuados. Algumas doenças favorecem a ocorrência de desidratação, tais como queima­duras, diabetes mellitus, diabetes insípido e uso de diuréticos.

Constituem sinais de desidratação: • Saliva grossa. • Língua (boca) e pele seca (perda da elasticidade da pele for­

mando "pregas" quando pinçada). • Olhos fundos e sem brilho ou fontanela (moleira) afundada em

crianças pequenas. • Cor da pele pálida. • Urina em pequeno volume e escura, ou ausência de urina (na

criança pequena, fralda seca por mais de três horas). • Sensação de fraqueza ou prostração, que vai piorando com o de­

correr do tempo. • Em estágios mais avançados, podem ocorrer cãibras nas pernas,

pela perda de sais minerais. • Progredindo a situação, podem ocorrer tonturas e desmaios, de­

vido à queda de pressão por causa da desidratação (quadros graves).

Cuidados para prevenir a desidratação (tanto para quem é sau-dável quanto para quem apresenta alguma condição que pode evo-luir para diarréia):

• Ingerir líquidos várias vezes ao dia. A temperatura ideal para in­gestão da água ou líquidos é de 4 a 10°C (levemente fria para me­lhorar a aceitação). O volume de 250ml (1 copo médio) a cada ho­ra seria ideal (evitando-se a proximidade da refeição, possibilita a ingestão tranqüila de 10 a 12 copos por dia). A água ingerida deve ser de boa qualidade e filtrada (em viagem, preferir água mineral). Desconfiando-se de sua qualidade, deve ela ser fervida, principal­mente nos casos de enchentes ou caixas d'água limpas há muito tempo. Quando estiver na praia, piscina ou outras atividades expos­tas ao sol, ingira bastante líquido. Isso vale especialmente para as crianças (lembre-se também de não deixá-las ao sol forte por muito tempo). Outras opções para complementar a hidratação: uso de

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CAPÍTULO 13

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PRIMEIROS SOCORROS

água de coco (opção muito boa para crianças que não aceitam so­ro), ou "água de arroz", que também ajuda a combater a diarréia.

• Dar atenção especial à higiene pessoal: lavar bem as mãos x após ir ao banheiro, antes de pegar

alimentos ou lavar e preparar mama­deiras; manter chupetas, mamadeiras e todos os utensílios usados no pre­paro do alimento do bebê o mais es­téreis possível. Cuidados especiais no manuseio adequado e higiênico dos alimentos. Não consumir ali­mentos sob duvidoso estado de con­servação. Por exemplo, alimentos perecíveis que tenham ficado fora da geladeira, ou cuja data de validade não seja clara. Lavar bem frutas e ve­getais antes de consumi-los.

• Usar roupas leves, preferencial-' i i i ~ r?

mente de aigodao. Evitar roupas com poliéster ou fibras sintéticas, pois atrapalham a transpiração normal.

• Manter as crianças em ambientes arejados e ventilados, evitan­do exposição ao sol nos horários em que a radiação ultravioleta é mais forte (entre as 9 e as 15 horas).

• Não compartilhe toalhas, esponjas ou roupas.

164

Avaliando o grau de desidratação A avaliação deve ser rápida, precisa e objetiva, para evitar demo­

ra no início do tratamento. Avaliar quais as causas que levaram à desidratação (conforme descrito acima), vendo o que é possível fa­zer para corrigi-las.

E importante perguntar o tipo e quantidade de líquidos e alimen­tos ingeridos durante o quadro, assim como os alimentos que o pa­ciente recebia antes de ficar doente.

Um dos aspectos mais importantes para avaliar a gravidade da de­sidratação e o resultado do tratamento é a redução do peso corpo­ral, comparando o peso antes das perdas anormais de água e sais mi­nerais com o do momento da avaliação, especialmente em crianças.

Nem sempre ocorre a importante avaliação de outros sinais, colo­cados na tabela a seguir.

Page 60: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02

FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

Sinal/sintoma observado Intensidade da Desidratação l 9 Grau

Perda de peso Adulto: até 3 % Criança: até 5 %

Mucosas Secas

Olhos Umidade preservada com lágri­ma presente e pouco encovados

Pulso Presente

Pressão arterial Normal

Urina Normal ou pouco diminuída

Pele Seca e com elasticidade pouco diminuída

* Crianças menores de 1 ano Moleira normal ou pouco baixa

Sinal/sintoma observado Intensidade da Desidratação 2 e Grau

Perda de peso Adulto: de 3 a 5 % Criança: de 5 a 10%

Mucosas Muito secas

Olhos Pouca lágrima, olhos encovados

Pulso Fraco e rápido

Pressão arterial Ligeiramente baixa

Urina Diminuída

Pele Bastante seca e com elasticidade alterada

* Crianças menores de 1 ano Moleira funda

165

CAPÍTULO 13

Page 61: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02

PRIMEIROS SOCORROS

Sinal/sintoma observado Intensidade da Desidratação 3 e Grau

Perda de peso Adulto: de 5 a 7% Criança: de 10 a 15%

Mucosas Muito secas

Olhos Pouca lágrima, olhos muito encovados

Pulso Muiro fraco ou ausente

Pressão arterial Baixa

Urina Muito diminuída ou ausente

Pele Elasticidade muito alterada (pastosa)

* Crianças menores de 1 ano Moleira muito funda

166

O que fazer em caso de desidratação • Sendo leve a desidratação, é possível apenas o tratamento oral,

com reposição dos líquidos e sais minerais através da ingestão de so­ro reidratante (soro caseiro ou comercial).

• Se a desidratação se tornar intensa, pode ser necessário dar so­ro por via nasogástrica (cateter que vai pelo nariz até o estômago), ou mesmo por via sangüínea (endovenosa), se com administração gota a gota pela sonda se mantiver o vômito, ou se existir alteração que atrapalhe a administração oral, como aftas. Estas duas formas devem ser realizadas em clínicas ou hospitais, mantendo-as até que o grau de hidratação se normalize.

• Para evitar a ocorrência de casos graves de desidratação, é ideal que a pessoa que apresente alguma das situações acima des­critas, capazes de levá-la à desidratação, seja tratada como num caso leve, mesmo que ainda esteja hidratada (atuação preventiva).

• Podem ser utilizados sopas, caldos, canjas, chás, sucos de fruta (goiaba, maçã, caju, água de coco - diluídos, coados e não adoça­dos), água do cozimento do arroz, leite e iogurte, como um acrés­cimo ao soro reidratante, de acordo com a aceitação do mesmo.

Page 62: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02

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CAPÍTULO 13

• Devem ser evitados os refrigerantes por conterem quantidades elevadas de açúcares e poucos sais minerais. Evitar também a admi­nistração contínua de bebidas energéticas tipo Gatorade, pois possuem elevadas concentrações de açúcares e sais minerais, supe­riores às necessidades, além de vitaminas, corantes e outros adi­tivos, que retardam a saída da água do estômago, atrapalhando a sua absorção.

• Agua deve ser dada, de pre­ferência, mantendo os demais alimentos. Pode ainda ser admi­nistrada a gelatina preparada com o soro reidratante.

• A solução de reidratação oral (SRO) adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), deve ser utilizada junto com outros líquidos ou soluções comerciais como Pedialyte®90 ou Hidrafix® 90.

• A dosagem de reposição deve ser de 50 a lOOml da SRO para cada evacuação diarréica ou episódio de vômito nas crianças peque­nas; 150 a 200ml para crianças maiores (aproximadamente a dose de 50ml/kg para crianças) e 350ml para adultos.

• O total calculado deve ser administrado em doses fracionadas, em colheradas (três colheres de chá por quilo/hora) ou em peque­nos goles, num período de quatro a seis horas.

• Caso ocorram eventos desidratantes nesse período, deve ser repetido o cálculo para uma segunda fase de reposição de duas a três horas.

• Após a reposição dos líquidos e sais minerais perdidos, deve-se iniciar uma fase de manutenção, administrando-se o dobro da dosa­gem anterior para cada ocorrência causadora de desidratação. Por exemplo: criança de dois anos que evacuou seis vezes nas últimas 12 horas, deve receber nas primeiras quatro horas óOOml de soro (lOOml vezes seis), e depois, após cada evacuação, mais 200ml.

• E importante notar que esse tratamento deve ser suficiente para permitir que a urina eliminada pelo paciente seja abundante e clara.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Dê preventivamente a medicação para vômito Trimebutina (Debridat®), como descrito no capítulo específico.

• Faça o paciente chupar pedaços de gelo para aliviar a sensação de boca seca, caso esteja ocorrendo vômito e ele sinta muita sede mas não consiga tomar grande volume por vez.

• Cuide da higiene oral, pois o ressecamento bucal pode produzir mau hálito e facilitar as cáries.

• Use creme hidratante para a pele. • Procure detectar e eliminar as causas da desidratação, como vô­

mitos, diarréia e febre.

Como fazer o soro caseiro

Para cada copo d'água fervida, 02 colheres de café de açúcar e uma colher de chá de sal. Ofereça livremente.

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5 . SOLUÇO

O soluço é um fenômeno complexo. Consiste na contração invo­luntária e espasmódica do diafragma (principal músculo da respira­ção, que separa a cavidade torácica do abdome). Assim se produz o início do movimento inspiratório, o qual subitamente é detido pelo

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FEBRE, DOR DE DENTE, COCEIRA, DESIDRATAÇÃO E SOLUÇO

CAPÍTULO 13

fechamento da glote, com a produção de ruído ca­racterístico.

Essas contrações mus­culares podem ser desen­cadeadas por:

• Estimulação direta ou indireta dos nervos que acionam o diafragma. Co­mo esses nervos passam próximos ao esófago, qual­quer alteração no mesmo provoca estimulação direta da inervação diafragmáti-ca. E o que acontece com a presença de refluxo do es­tômago para o esófago, tu­mores ou lesões traumáticas. A estimulação indireta ocorre pela com­pressão de algum órgão sobre o diafragma (distensão excessiva do es­tômago/intestino por gases, distensão do estômago por exagero ali­mentar, compressão abdominal na fase final da gravidez, e t c ) .

• Deficiência de elementos que constituem os fluidos orgânicos (geralmente associada à deficiência de potássio).

• Distúrbios do equilíbrio ácido-básico (acidose/alcalose) e hidro-eletrolítico (desidratação), que podem acontecer também na insufi­ciência renal crônica.

• Estresse (susto). Mecanicamente, a dinâmica do soluço tem certa similaridade

com o vômito, na medida em que o movimento decorrente do mes­mo também ocorre no sentido inverso do normal para o trato gas­trointestinal, sendo de baixo para cima. O trânsito digestivo acon­tece de cima para baixo.

Devido à imaturidade do trânsito gastrointestinal, o soluço ocor­re com bastante freqüência em crianças, diminuindo a sua incidên­cia por volta dos três ou quatro anos. No paciente diabético, por al­terações da movimentação gastrointestinal, o soluço é freqüente. Além disso, toda circunstância que provoca azia (ver capítulo espe­cífico, pág.114), pode causar soluços.

Outra situação paradoxal com relação ao soluço, é que movimen-169

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PRIMEIROS SOCORROS

tos voluntários, agradáveis e repetitivos do diafragma (como quan­do se solta uma gargalhada), podem se transformar nos movimentos incômodos e involuntários do soluço.

O que fazer A chave do problema é a correção da causa determinante do

soluço. • Combater o refluxo gastro-esofágico (veja o capítulo sobre azia). • Combater o excesso de gases abdominais (veja o capítulo sobre

gases e flatulência). • Caso haja suspeita de deficiência de potássio, fazer a reposi­

ção do mesmo por meios alimentares (tomate, laranja ou banana) ou medicamentosos, sob orienta­ção médica.

• Se presente, corrigir a desi­dratação (veja o capítulo sobre desidratação).

• Acalmar o paciente e colo­cá-lo em posição confortável, de modo que não haja pressão sobre o abdome (deitado com a cabeça elevada, ou sentado).

• Encaminhá-lo para avaliação médica caso o soluço persista de­pois dessas correções iniciais. Pro­vavelmente existam problemas mais complexos subjacentes ao sintoma.

170

Page 66: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02

S E Ç Ã O

Primeiros Socorros em Situações Específicas

Capí tu lo 14 - INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE

E HIPOTERMIA 173

Cap í tu lo 15 - PICADAS D E COBRA, INSETOS E ARACNÍDEOS 199

Cap í tu lo 16 - INTOXICAÇÕES, ENVENENAMENTOS E REMOÇÃO

D E CORPOS ESTRANHOS 2 1 5

Cap í tu lo 17 - FRATURAS, LUXAÇÕES E TRAUMATISMO 225

Cap í tu lo 18 - TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR 2 3 8

Cap í tu lo 19 - FRATURA D E CRÂNIO E TRAUMATISMO

CRANIOENCEFALICO 2 4 2

CapítUlO 20 - O QUE FAZER EM CASO DE CHOQUES 2 4 8

Cap í tu lo 21 - PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA

(TÉCNICAS D E RESSUSCITAÇÃO) 2 5 2

Page 67: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02
Page 68: Guia Prático de Primeiros Socorros Parte 02

Insolação (fueiniadurcís > câncer de pele e hipotermia

1.INSOLAÇÃO E INTERMAÇÃO

Ambas são agressões ao or­ganismo causadas pela ação prolongada do calor, sendo que a insolação se deve à ação direta dos raios solares sobre a pessoa, enquanto a intermação ocorre com a ação do calor, tanto de origem solar indireta (locais abrigados, como audi­tórios ou áreas fechadas expos­tas ao sol), quanto por outras fontes, como aquecedores, sau­nas, fundições, padarias, caldeiras. Ocorrem sobretudo após esforços musculares intensos.

São mais sensíveis a estas condições as crianças (especialmente bebês) e idosos (ambos por terem di­ficuldades de regulação da temperatura corpórea), gestantes, trabalhadores em áreas expostas ao calor (vigilantes/seguranças) ou ao calor úmido com bai­xa ventilação, pessoas usando roupas pesadas ou que retenham a umidade ou até pessoas na praia, por muito tempo sob o guarda-sol em horários de pico (entre 10 e 16 horas).

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PRIMEIROS SOCORROS

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Como se manifestam De maneira brusca, com: • Intensa falta de ar; às vezes a vítima parece sufocada, com a res­

piração acelerada e difícil. • A vítima cai, fica desacordada e pálida. • Temperatura elevada do corpo e extremidades (o que a diferen­

cia da febre, onde as extremidades são frias). • Extremidades arroxeadas.

De maneira lenta com: • Dor de cabeça. • Enjôos (náuseas) e vômitos. • Tonturas. • Rosto avermelhado. • Pele quente e seca. • Não há suor, ou a sudorese é retida nas vestimentas, criando um

micro-clima úmido. • Pulso rápido. • Temperatura elevada do corpo e extremidades. • Podem ocorrer concomitantemente queimadura e desidratação

pela perda de sais no suor, ou em casos mais intensos, convul­sões, delírio, coma e mesmo a morte.

Tome com rapidez as seguintes providências: • Coloque o paciente em lugar fresco e ven­

tilado, se possível com sombra, ou em ambien­te refrigerado.

• Mantenha a cabeça do paciente mais alta que 0 corpo.

• Retire a roupa que for possível. Afrouxe ou abra as restantes.

• Compressas frias j^J na cabeça (fronte),

pescoço, abdome e demais dobras (axilas, cotovelos e joelhos); devem ser renovadas com freqüência.

• Dar líquidos abundantemente, em es­pecial soro reidratante (ver no capítulo 13,

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

pág. 168). Não dê qualquer ti­po de bebida alcoólica.

• Friccione e eleve pés e pernas.

• Mantenha o paciente em repouso até a normalização dos sintomas. Na recuperação, oriente o uso de roupas leves e claras e alimentação leve e de fácil digestão.

• Converse bastante com o paciente para manter-se informado do seu estado de consciência e da evolução do caso.

• Qualquer socorro ao paciente que sofreu insolação e interma-ção tem o objetivo de baixar a temperatura do corpo, de modo pro­gressivo e contínuo até que se normalize (entre 36 e 37°C). Meça-a a cada 15 minutos, para evitar o resfriamento excessivo e repentino do corpo.

• Caso ocorra queimadura solar, proceda segundo as orientações do capítulo sobre o assunto, lembrando-se de avaliar sua intensi­dade e a possível necessidade de avaliação médica.

• Se ocorrer perda de consciência ou queimadura grave, ou outra reação mais intensa, o paciente deve ser avaliado por médico o mais breve possível.

• Use proteção na cabeça e na nuca ao estar ao sol. Aplique protetor solar fator no mínimo 15 ou maior, 30 minu­tos antes de expor-se ao sol; use prote­ção física, como boné ou chapéu.

• Use roupas folgadas, de algodão fi­no, permeável ao ar e de cores claras.

• Alimentação leve com hortaliças e frutas. Beba muita água, soro reidratante, sucos de frutas e demais lí­quidos. Beba aproximadamente três litros de líquidos ao dia.

• Evite trabalhos expostos ao sol nas horas de muito calor (entre 10h e 16h ou das l l h às 17h, no horário de verão).

• Planeje atividades em ambientes ventilados ou em espaços ar-175

CAPÍTULO 1 4

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PRIMEIROS SOCORROS

borizados, onde ocorre estabilidade da temperatura ambiente e re­dução do risco de insolação ou intermação.

2 , QUEIMADURAS

Queimaduras são lesões produzidas por ação de agentes físicos térmi­cos (frio ou calor), tais como eletricidade, raios solares, fogo, vapo­res; ou agentes químicos (produtos corrosivos): ácidos ou álcalis fortes.

Qualquer queimadura, mesmo uma simples queimadura solar, po­de complicar, levando a um estado de choque; assim, merece trata­mento cuidadoso. Os objetivos básicos do tratamento são:

• Interromper o ciclo de agressão ao organismo. • Evitar o estado de choque. • Evitar contaminação. • Controlar a dor. • Encaminhar o paciente estabilizado para controle médico, com

o objetivo de prevenir as conseqüências da queimadura.

Conduta imediata • Retirar a pessoa do contato com a

causa da queimadura. Se a causa são agentes químicos, lavar a área queimada com bastante água à temperatura am­biente, retirando a roupa que tenha en­trado em contato com a substância. Se o agente é o fogo, apagar de forma ade­quada (extintor apropriado, areia, água) ou abafar com cobertor. Caso o fogo se­ja em você mesmo, tente rolar no chão para apagar as chamas. Não deixar que o queimado corra, para não atiçar o fogo.

Retirar objetos em contato com a pele (relógios, anéis, pulseiras), des-de que não estejam grudados. Em caso de queimadura por vapor (ex­plosão de caldeira) ou gases, remover o paciente para área aberta e ventilada. Nas queimaduras por eletricidade, desligar a corrente elétri­ca na chave geral de força; se não for possível, mova a vítima sem con­tato direto com ela, separando-a do contato elétrico através de um mau condutor de eletricidade (cabo de vassoura, pedaço de tecido for­te, cinto de couro, luvas).

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER P E PELE E HIPOTERMIA

• Verificar sinais vitais (em especial respiração e batimento car­díaco) e nível de consciência. Se anormais, proceda reanimação cardiorrespiratória, conforme exposto no capítulo 21, págs. 255 a 262. Toda queimadura que produz alteração de sinais vitais (queda de pressão; aumento de temperatura, respiração e pulso) e sintomas sistêmicos (tontura, palidez,'visão turva, náuseas), deve ser conside­rada grave e encaminhada à avaliação médica.

• Prosseguir interrompendo o ciclo de agressão ao organismo, mergulhando se possível apenas a área afetada em água limpa até aliviar a dor, pela transferência de calor da área queimada para a água; ou removendo a substância química que esteja agredindo a pe­le. Preferir água parada (balde, lagoa, piscina), para diminuir a dor causada pelo atrito da água corrente. Caso nenhum desses meios es­teja disponível, pode-se usar compressas frias úmidas, trocadas a ca­da três ou cinco minutos. Não romper bolhas nem retirar roupas queimadas aderidas à pele. Mesmo que as bolhas estejam rompidas, pode-se colocá-las em contato com a água. Importante é remover o agente agressor, seja ele o calor ou substância química.

• Se a pessoa estiver consciente, sem náuseas ou vômitos, ini­ciar simultaneamente o combate à desidratação e ao choque, dando-lhe toda água que conseguir beber. Não haverá problema ainda que o paciente seja submetido logo à cirurgia, devido à ra­pidez com que a água é absorvida. Faça-o, porém, de forma lenta e cuidadosa. Não dê outros líquidos, por terem absorção mais lenta ou por necessitarem digestão (lei­te, chás ou álcool).

• Combater o "choque de queimadu­ra" (envio da parte líquida do sangue às áreas queimadas, o que pode seqüestrar do cérebro, coração e rins o volume de sangue necessário para mantê-los funcio­nando normalmente). Evitar a queda da pressão arterial, deitando a vítima e mantendo-a assim até ser transportada. Colocar a cabeça e o tórax do paciente um pouco mais baixos que o restante do corpo. Elevar braços e pernas da vítima, o que diminuirá a chance de retenção de líquido fora das partes vitais do corpo.

• Combater o choque neurogênico (causado pela dor), dando

Cartoon Estúdio

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CAPÍTULO 1 4

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PRIMEIROS SOCORROS

Cartoon Eslúdi

analgésicos precocemente ao paciente, uma vez que o início de sua ação demora até 30 minutos. Pode-se usar acetaminofen (Dorico®) líquido (1 gota/kg de peso, até o máximo de 55 gotas), ou dipirona (Magnopyrol®) líquida (1 gota/kg de peso, até o má­ximo de 40 gotas). Evitem-se aspirina e outros antiinflamatórios não hormonais no queimado, por suas propriedades anticoagulan­tes, facilitadoras do sangramento durante os curativos. Não ha­vendo melhora da dor, no atendimento médico este fato deve ser frisado, para que se use um analgésico mais potente, como um de­rivado de morfina (exceto se houver queimadura de área respira­tória). Outra opção para os casos de dores persistentes é o uso de EMLA (pomada anestésica), mas só após a estabilização do pa­ciente e em queimaduras simples. O controle da dor liga-se tam­bém à recuperação, já que ela diminui a ação dos sistemas de de­

fesa do organismo e atrasa a cicatriza­ção, por aumentar os gastos de ener­gia do paciente.

• Evitar a contaminação, não apli­cando substâncias estranhas (pasta den­tal, pó de café, óleo, manteiga) e utili­zando panos e compressas limpas e água pura no atendimento da queimadura.

• Tente quantificar a extensão da queimadura; quanto maior a área queimada, mais grave o caso. E possí­vel ter-se uma idéia imediata da ex­

tensão da queimadura pela observação da área afetada, mediante o seguinte gráfico (veja esquema abaixo):

Toda a cabeça - 9% Todo o pescoço - 2 % Cada membro superior - 9 % Cada membro inferior - 18% Parte dianteira do tronco - 13% Parte traseira do tronco - 13% Genitais - 1 % Cada nádega - 2 ,5%

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

Um adulto com mais de 10% do corpo queimado deve ser consi' derado um caso grave; acima de 25%, tem grande chance de apre­sentar o "choque dos queimados" e pode morrer se não receber ra­pidamente socorro médico especializado.

Outra dica simples é que se a área afetada pela queimadura for maior que a da palma da mão, a vítima deve receber assistência qua­lificada depois de prestados os primeiros socorros.

Esta regra não é válida para crianças, pelo grande desvio que po­de Ocorrer em função das diferentes idades. Toda queimadura em criança deve ser avaliada por médico, devido ao potencial de de­formidades futuras com o crescimento.

• Embora menos prioritária que a classificação da extensão de área atingida, pode ser feita uma classifi­cação quanto à profundidade da quei­madura, conforme segue:

a) Primeiro Grau Lesão superficial, provocando inchaço e vermelhidão da pele, que pode iniciar quase de imediato nos casos de agentes físicos, e que se in­tensifica até 12 a 24h após a queimadura, pela ação de fatores inflamatórios. Decli­na então e cede lugar a uma coloração vermelho-escura, a qual pode descamar depois de três a sete dias, com coceira ou não, sem formar bolhas. Costuma ocorrer muita dor, mesmo em repouso, pela irrita­ção das terminações nervosas da pele. Em casos extensos pode haver aumento de temperatura, aceleração do pulso e mal-estar geral. A ci­catrização ocorre sem deixar sinal, exceto se houver exposição ao sol no período descamativo, quando pode deixar manchas.

b) Segundo Grau - Lesão mais profunda, provoca a formação de bolhas sobre a base avermelhada do primeiro grau. Estas aparecem desde pouco depois da agressão térmica até 12h depois, devido à des­truição de células da pele. Formam-se com líquido de cor clara (cor­responde ao plasma) e que pode turvar-se em caso de infecção. Ocor­rendo muitas bolhas ou lesões extensas, pode haver perda importan­te de líquido e plasma nessas áreas. Os sintomas persistem por mais

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PRIMEIROS SOCORROS

tempo que no primeiro grau. A dor é mais intensa nas primeiras 24h, e mantém-se até a recuperação parcial da pele (cerca de uma sema­na). Pode ocorrer cicatriz em caso de infecção. Na ausência desta, ci­catriza-se em geral só com manchas correspondentes às bolhas.

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c) Terceiro Grau - Toda a pele é afetada, sendo atingidos gordura, músculos, tendões e até órgãos internos do corpo. As lesões são pro­fundas, formando tecido com necrose de coagulação, de coloração acastanhada a preta, com secreção (em caso de infecção) ou não, en­durecidas devido à coagulação dos tecidos. Pela destruição dos filetes nervosos, a área com necrose dói pouco ou nada, sendo dolorosa a área circundante (queimadura de segundo ou primeiro grau). Entenda-se que as lesões se somam, sendo maior a intensidade no ponto de maior agressão, diminuindo excentricamente (de dentro para fora), ou seja, 3 2 grau no centro, 2 2 e l 2 em volta. O paciente apresentará queima­duras em vários graus, simultaneamente, em áreas diferentes.

A avaliação da profundidade da queimadura deve ser refeita em 48 a 72 horas. Pode ocorrer sub-avaliação inicial, devido aos aspec­tos agudos do caso.

• Mesmo que pequenas ou superficiais, queimaduras em algumas áreas devem ser consideradas potencial­mente graves, por serem muito doloro­sas (olhos, órgãos genitais), ou pela possibilidade de defeitos posteriores (dobras: virilhas, pescoço, dedos, mãos, pés), ou ainda por sugerirem queima­duras internas da área respiratória (queimadura de face, lesão de supercí-lios, pestanas e pêlos nasais, depósito de fuligem na garganta, fuligem no ca-tano, história de queimadura em am­biente fechado, que facilita aspiração de fumaça ou vapor superaquecidos).

• Tomadas as medidas iniciais du­rante o período em que se aguarda o transporte por ambulância ou veículo

grande, levar o paciente para atendi­mento médico, com a área queimada protegida por toalha ou pano limpo molhado, mantido úmido durante o transporte. Ao encami-

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

nhar o paciente, fornecer os detalhes de como se processou a quei' madura, para sugerir rapidamente os exames necessários. Por exem­plo, em queimaduras que se seguem a explosões, serão necessárias ra­diografias. É importante informar sobre doenças associadas (diabetes, pressão alta) e há quanto tempo tomou vacina anti-tetânica (se há mais de 10 anos, é necessário repetir).

Lista de "nãos" importantes • Não fure as bolhas que se formarem. Mesmo lesada, a pele da

bolha ainda é uma proteção ao organismo. • Não tente retirar nada que tenha se grudado à pele (roupas ou ob­

jetos como pulseiras, relógios ou anéis). Deixe que eles se desprendam com o resfriamento (devem receber resfriamento especial), ou posterior­mente sejam retirados sob anestesia. Tracioná-los certamente causará mais dor ao paciente.

• Não aplique pomadas, líquidos, cremes, pastas dentais, pó de café, óleo, manteiga ou outras substâncias sobre a queimadura. Elas podem com­plicar o tratamento e só devem ser usadas sob indicação médica.

• Não demore a solicitar auxílio e transporte. Se o caso for mais simples do que inicialmente avaliado, será prestada assistência no local e orientados os passos seguintes. Se real­mente se justifica o chamado, o paciente será conduzido à unidade de queimados mais próxima. Não retarde o transporte. Assim que o quadro clínico permitir, envie o paciente para análise mais acurada.

• Não resfrie o paciente além do necessário. Tente sempre resfriar apenas a área queimada. A diminuição geral da temperatura do cor­po (hipotermia) é uma situação que pode trazer danos ao paciente. Procure medir com freqüência a temperatura, até a chegada de so­corro especializado. Caso o paciente diga que já não sente dor (isto pode indicar que a área de queimadura se estabilizou, parou de agre­dir as fibras nervosas vizinhas), tente interromper o resfriamento por algum tempo para ver se ele ainda é necessário. Reinicie ime­diatamente se a dor retornar.

CAPÍTULO 1 4

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• Não tente neutralizar a ação ácida ou alcalina das queimaduras químicas, porque a reação de neutralização libera calor, podendo so­brepor à queimadura química uma queimadura térmica.

• Após a estabilização dos sinais vitais, se a área total afetada for menor que a palma da mão e não corres­ponder a áreas nobres ou muito sensíveis, talvez o paciente possa ser mantido ape­nas com cuidados locais, analgésicos por via oral Paracetamol (Tylenol® ou Dôri-co® 750), limpeza com antissépticos (Po-vidine® ou Clorhexedine®) e uso apenas de medicações tópicas depois de passado o período doloroso (Elocom® ou Steroni-de® pomada).

Manter a situação sob acompanhamen­to cuidadoso por 48 a 72h, uma vez que le­

sões não aparentes na avaliação inicial podem se desenvolver por até 24 a 36 horas depois do acidente. Acompanhar com cuidado o volu­me e cor da urina do paciente; se ocorrer diminuição da urina ou seu escurecimento, pode estar acontecendo desidratação, ou "choque do queimado", ou lesão renal.

Atentar também para a idade do paciente: crianças menores de 2,5 anos e adultos com idade superior a 65 anos apresentam pior prognóstico.

Situações especiais a) Queimadura por produtos químicos Aplicação de água na pele se reveste de importância ainda maior,

tanto em quantidade (remoção do produto) como em rapidez (dimi­nuir a extensão da lesão). Deve-se manter água correndo sobre o fe­rimento, mesmo enquanto a roupa é removida. Quando a lesão for causada por produtos químicos industriais, pode haver necessidade de técnicas diferentes de primeiros socorros, as quais devem ser do conhecimento de todos os funcionários, que devem orientar os pro­cedimentos necessários ao ser prestado o socorro.

Geralmente as lesões por álcalis são mais graves que as causadas por ácidos, porque penetram mais rápida e profundamente; por isso neces­sitam lavagem com água abundante durante pelo menos 30 minutos (nos olhos, requerem pelo menos oito horas de irrigação contínua).

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CAPÍTULO 1 4

b) Queimadura por choque elétrico A passagem da corrente elétrica pelo corpo da pessoa tem conse­

qüências que podem ser mais ou menos graves, dependendo da in­tensidade da corrente elétrica, da resistência e da voltagem. Pode le­var a queimaduras locais de limites bem definidos ou de grande ex­tensão, atingindo geralmente os tecidos mais profundos. Pode ocor­rer parada respiratória por contrações dos músculos que participam da respiração; é vital analisar este aspecto já no primeiro instante.

Atenção: o acidente com eletricidade po­de oferecer risco de vida também para quem tenta soconer a vítima. Antes de to­cá-la, desligue a corrente elétrica na chave geral de força; cada segundo de contato com a eletricidade diminui a possibilidade de sobrevivência da vítima. Se isso não for possível, separe a vítima do contato com a conente utilizando um mau condutor de eletricidade (cabo de vassoura, pedaço de tecido forte, cinto de couro, luvas, e tc ) .

Se a vítima apresentar parada respirató­ria ou cardiorrespiratória, efetuar atendi­mento conforme detalhado no capítulo 21 (págs. 255 a 262). Se os sinais vitais estive­rem normais, proceder aos cuidados para queimaduras e prevenção do estado de choque.

Deve ser sempre considerada como tendo maior gravidade, uma vez que pode determinar desequilíbrio nas reações metabólicas do organismo, alterações renais e lesões à distância da área de contato (destruindo músculos, nervos e vasos sangüíneos). E necessário es­perar de dois a três dias para que a lesão se defina melhor, possibili­tando diagnóstico com menos erros.

c) Queimaduras em crianças Devem sempre ser consideradas de maior gravidade - elas têm a pe­

le mais fina, uma imunidade menos preparada, maior dificuldade de li­dar com a dor; há maior dificuldade em determinar a porcentagem de área queimada; apresentam maior superfície corporal em relação ao peso (o choque ocone com mais facilidade e o gasto energético é pro­porcionalmente maior que o do adulto) e maior quantidade de água

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corporal (o que acelera a movimentação de fluidos na formação de in­chaços, e significa maior tendência à compressão por queimaduras cir­culares); devido ao menor tamanho, as lesões respiratórias são poten­cialmente mais graves. Por todas essas razões, é prudente manter crian­ças queimadas internadas por até 24 horas para melhor observação; ge­ralmente necessitam de reposição de líquidos, por via oral ou venosa.

Prevenção de queimaduras para adultos e crianças Anualmente 1 % da população mundial sofre algum tipo de quei­

madura, desde as mais simples, do tipo "sair da praia feito camarão" (o que estatisticamente causa muito mais queimaduras do que as fes­tas de São João), até as mais perigosas, causadas por imprudências, como jogar álcool sobre as brasas do churrasco. As crianças são as maiores vítimas e respondem por 5 0 % dos acidentes domésticos -

atos banais, como enfiar o dedo na tomada, morder o fio do abajur, cor­rer pela cozinha e tomar um banho de água fervendo da panela.

Isso explica por que a maior fre­qüência de queimaduras ocorre na infância, até os cinco anos de idade. O pico de incidência se dá entre o primeiro e o segundo ano de vida, pois nessa idade a criança começa a andar e adquire liberdade, mas ain­da sem noção de perigo, o que a tor­na uma vítima fácil dos acidentes.

As crianças se queimam mais em casa, na presença ou proximidade de

um adulto, com líquidos superaqueci­dos (água ou óleo). Isso demonstra que os adultos precisam tomar consciência do risco de acidentes domésticos. Outras queimaduras são ocasionadas por inflamáveis (álcool, fluidos de limpeza). Já os aciden­tes com bujões de gás vitimam tanto crianças como adultos.

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Algumas noções importantes. • Conscientizar-se de que a cozinha é um dos lugares mais perigo­

sos da casa. Requer-se atenção redobrada em presença de outras pes­soas, sobretudo crianças, quando se está cozinhando.

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

• Cozinhar preferencialmente nas bocas de trás do fogão, man­tendo as panelas e frigideiras com os cabos para dentro, de modo que as crianças não consigam alcançá-los mesmo que acidentalmen­te atingidas por algum movimento brusco.

• Não estoque alimentos, especialmente biscoitos ou guloseimas, em armários ou prateleiras próximos ao fogão, porque as crianças podem tentar usá-lo como degrau.

• Mantenha o fogão nivelado para evitar derramamento de ali­mentos; ensine as crianças a não abrirem a tampa do forno nem usá-la como degrau para alcançar alimentos.

• Não coloque líquido quente próximo da quina da mesa ou da pia, evitando assim que seja atingido involuntariamente por adul­tos ou crianças.

• Cuidado no transporte de líquidos quentes, para não colidir com outro adulto ou criança.

• Mantenha fósforos e isqueiros fora do alcance de crianças, ensine-lhes a função destes, por volta dos seis anos.

• Instale cuidadosamente o gás e troque periodicamente suas manguei­ras condutoras. Não deixe que as mesmas passem por trás do forno. Se sentir cheiro de gás ou suspeitar de vazamento, abra janelas e portas para a entrada de ar fresco e chame a com­panhia de gás ou o Corpo de Bombei­ros para análise. Não acenda fósforo nem ligue interruptor de energia elétrica.

• Não use extensões elétricas de forma inapropriada, de modo a evitar sobrecarga de eletricidade, que pode dar origem a choques, queimaduras elétricas e incêndios.

• Coloque o berço a uma distância segura de vaporizadores ou to­madas elétricas. Proteja as tomadas assim que a criança começar a engatinhar.

• Verifique a temperatura da água do banho antes de colocar o be­bê. Comece com água fria e acrescente água quente até que atinja a temperatura desejada (para evitar queimaduras também na mãe).

• Ao aquecer a mamadeira, pingue algumas gotas no dorso da mão 185

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para verificar a temperatura; se utilizar o forno de microondas, lembre-se de agitar várias vezes o frasco, ou de misturar o alimento com uma colher, uma vez que esse procedimento aquece o centro do conteúdo,

sem distribuir uniformemente o calor. • Manuseie itens quentes sob prote­

ção (luvas isolantes) e utilize utensí­lios que protejam o usuário de respin­gos aquecidos.

• Revise periodicamente instalações elétricas e áreas onde estejam guardadas substâncias químicas, de forma a ter cer­teza de que se encontram nas melhores condições possíveis.

• A queimadura deve ser encarada co­mo uma doença prevenível através de campanhas nas escolas e comunidades,

com métodos sistemáticos de aconselhamento e treinamento dos pais, profissionalmente orientados, e orientações às crianças quanto a comportamentos que previnam esse trauma.

3 . QUEIMADURAS SOLARES

Este assunto merece consideração es­pecífica, devido ao grande impacto que vêm adquirindo nas últimas décadas as queimaduras solares sobre o ser humano. As agressões do sol têm sido responsabi­lizadas por uma série de doenças, como: câncer de pele; diminuição das defesas orgânicas e da pele (o que explica o au­mento de algumas doenças no verão, tais como herpes e micoses); envelheci­

mento da pele (com o aparecimento ou piora das rugas e de manchas e lesões ásperas); insolação (já aborda­da na seção de sinais e sintomas) e queimaduras solares, que são a face imediatamente visível do excesso de exposição solar.

Por outro lado deve-se aproveitar as propriedades benéficas do sol (reações fotobiológicas), especialmente para a fixação do cálcio nos ossos; desde crianças, com auxílio dos raios solares na prevenção do

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

Como identificar a queimadura solar Os sinais da queimadura solar são comuns às demais queimaduras: Primeiro Grau — Ocorrem vermelhidão e ardência nas áreas afe­

tadas, às quais se seguem descamação e às vezes manchas, que po­dem ser de coloração mais clara ou mais escura que a pele não atin­gida. Podem significar apenas ressecamento da pele (temporário) ou cicatriz epidérmica (que pode até desaparecer na primeira vez em que ocorre a queimadura, mas com a repetição das agressões pode se transformar em mancha permanente).

Segundo Grau - Ocorre a formação de bolhas, de variados tama­nhos e formatos, de acordo com a intensidade da agressão solar, ge­ralmente acompanhadas de mal-estar e sintomas gerais (já descritos na seção sobre queimaduras). Em geral a área afetada é relativamen­te grande. Costuma sobrepor-se a áreas com queimaduras de primei­ro grau, apresentando dor ou ardência local. Podem ser necessários analgésicos potentes.

As queimaduras solares não atingem o terceiro grau, uma vez que a agressão se distribui por áreas relativamente maiores, não se con­centrando intensamente em pontos isolados.

Da mesma forma que nas demais queimaduras, é importante ava-

CAPÍTULO 1 4

raquitismo (doença em que ocorre amolecimento e deformidade ós­sea), até adultos maduros (após os 40 anos), para a prevenção e tra­tamento da osteoporose (enfra­quecimento dos ossos). Ativida­des físicas praticadas ao sol aju­dam a diminuir a depressão (pe­lo aumento de endorfinas) e o estresse (pela redução da con­centração da melatonina cere­bral e liberação da adrenalina acumulada nos músculos em momentos de tensão).

É importante encontrar o equilíbrio entre tempo de expo­sição e grau de proteção, de acordo com o tipo de pele da pessoa e a atividade que ela de­senvolve.

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liar a extensão de área afetada. A gravidade do caso, nas queimadu­ras solares, também se relaciona com a porcentagem de área de pe­le afetada, o que implica em alterações de suas funções de proteção e regulação térmica.

Pessoas com mais de 10% da superfície do corpo afetada (ver ca­pítulo anterior, pág. 178 - como calcular essa área), mesmo ape­nas com vermelhidão e dor, devem ser consideradas como queima­das graves e avaliadas por médico com a maior brevidade possível. Se a área total afetada é menor do que 10%, os objetivos iniciais são a estabilização dos sinais vitais e o controle da dor, conforme descrito a seguir:

• Meça os sinais vitais a cada hora, com atenção especial à pres­são e temperatura (o paciente pode estar desenvolvendo uma rea­ção de intermação, descrita na seção de sinais e sintomas).

• Forneça muito líquido, de preferência à temperatura ambiente (água, sucos, soro reidratante) ou ligeiramente morno (chás), para acelerar-lhe a absorção.

• Coloque o paciente em lo­cal com temperatura ambiente de no máximo 22 a 25°C (para evitar que transpire e perca lí­quidos), ou então na área com a

I melhor ventilação possível. • Mantenha a cabeça mais al­

ta que o corpo e retire toda a rou­pa que for possível, afrouxando ou abrindo as demais. Eleve pés e pernas, para evitar inchaço e au­mentar a circulação do sangue em áreas nobres, como cérebro,

coração e rins. • Compressas frias nas áreas com dor. Conforme frisado na seção

sobre queimaduras, a dor pode significar que existe calor armazena­do naquela área específica e que esteja mantendo o processo de agressão em atividade. Tome cuidado para não resfriar em demasia o paciente.

• Mantenha o paciente em repouso relativo, reduzindo suas ati­vidades, em especial enquanto apresentar dor.

• Dê analgésico como o paracetamol por via oral (Tylenol®/Dô-

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA CAPÍTULO 1 4

para rico® 750 para adultos e 1 gota por kg - máximo de 55 gotas crianças), enquanto houver dor.

• Passado o período de dor expontânea, caso exista vermelhidão ou dor à movimentação, podem ser utilizados antiinflamatórios Nimesulida (Nisulid®, Scaflan®) a cada 12 horas, para acelerar a recuperação.

• Durante o período doloroso, pode ser aplicado EMLA® creme nas áreas mais sensíveis, fazendo a oclusão (pro­teção da área), como explicado nas orientações de uso do medicamento.

• Após cessar a dor, aplique po­mada antiinflamatória tópica (Ste-ronide® ou Elocom®) nas áreas avermelhadas ou que se mantenham sensíveis ao toque (mesmo que sem dor espontânea), duas a três vezes ao dia, por sete a 10 dias, ou enquanto existirem sintomas locais.

• Em geral não é necessário curativo nas queimaduras de pri­meiro grau.

• Nas queimaduras de segundo grau, é importante não romper as bolhas, a não ser que apresentem no seu interior líquido de aspecto purulento. Neste caso é aconselhável que a remoção das mesmas se­ja feita por médico, aproveitando o momento para coleta de mate­rial para exame, uma vez que provavelmente será necessário o uso de antibióticos para o tratamento da infecção, sugerida pelo apare­cimento da secreção com pus.

• Também nas queimaduras de segundo grau pode haver dor in­tensa, que necessite de analgésico mais potente, oral ou injetável, receitado por médico (codeína ou similares) .

• Após o período inicial de 72 horas da queimadura de segundo grau, quando as bolhas começam a murchar, o tecido desvitalizado (teto de bolhas e crostas) pode ser removido a critério médico.

• Tanto antes da remoção das crostas (para proteger as bolhas) como depois de sua retirada (para proteger a pele), deve ser realiza­do curativo frouxo (sem compressão) no local afetado.

• Queimaduras solares de segundo grau mais extensas podem ne­cessitar do uso de corticosteróide por via oral ou injetável.

189

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PRIMEIROS SOCORROS

• Para todos os casos, deve-se evitar exposição ao sol até a queda da crosta ou descamação, e subseqüente normalização da coloração da pele. Enquanto a pele continuar rosada, persiste o risco de que ocorram manchas após nova exposição ao sol.

• Desaparecendo a sintomatologia local, fazer uso de filtro solar, de potência adequada para o tipo de pele, a fim de evitar que a es­timulação dos raios ultravioleta produza manchas cicatriciais.

' en ção dos danos solares • Evitar exposição ao sol no horário de emissão mais intensa de

raios ultravioleta (das 9 às 16h), planejando atividades protegidas do sol, tanto no trabalho (pescadores, trabalhadores agrícolas e da construção civil), como no lazer.

• Quando isso não for possível, utilizar proteção física (bonés, chapéus e roupas leves que cubram ao máximo possível a pele ex­posta ao sol), físico-química (protetores solares de acordo com o ti­po de pele - veja abaixo como escolher - tais como Spectraban®, Helioblock®, Episol®), aplicados nas áreas expostas (não cobertas pela roupa) e química (uso de medicamentos por via oral para pre­venção dos danos solares, tais como beta-caroteno, vitamina E ou

C, ou mesmo a nimesulida (Nisulid® ou Scaflan®) oral, tomados uma ou duas horas antes da exposição solar) .

• Programe-se para a exposição solar gradual, de modo a estimular suave­mente a pigmentação da pele, o que constitui proteção natural contra os efeitos nocivos do sol. Aumente grada­tivamente as horas de exposição, tanto no lazer quanto se tiver de assumir ati­vidade profissional ao ar livre, que de­mande muito tempo de exposição.

• Mantenha hidratação cuidadosa, tan­to oral - com ingestão de muito líquido -como cutânea, através do uso abundante

de cremes e loções. Faça-o antes e após a exposição ao sol, para diminuir o risco de insolação e melhorar o efeito dos protetores solares.

• Não esqueça a proteção de áreas especiais, como lábios (pelo

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

uso de bastões labiais fotoprotetores - Helioblock® lips ou Spectra-ban®) e orelhas, que também devem receber os filtros solares.

• Proteja os olhos usando óculos de sol que bloqueiem radiações UVA e UVB (radiações ultravioleta A e B aumentam o risco de catarata).

• O cabelo também sofre os danos das radiações ultravioleta. O efeito de protetores capilares é pouco comprovado. A melhor prote­ção é usar chapéu, preferentemente de abas largas.

• Prefira atividades ao sol que impliquem em movimento, pois as­sim a exposição se torna mais distribuída, sem se concentrar em al­gumas áreas, diminuindo a chance de queimaduras.

Dicas para escolha e uso de filtros solares • O fator solar é um indicativo do tempo que podemos permane­

cer ao sol sem sofrer queimadura. Assim, a análise depende do co­nhecimento pessoal de como são as reações de cada um. Por exem­plo, se sem protetor solar você sofre queimadura em 10 minutos, sig­nifica que com um protetor de fator 5 poderá permanecer 50 minutos ao sol antes de sofrer queimadura.

• A água do mar, a transpiração e a quantidade de protetor aplicado, podem afetar significativamente o índice de proteção e o período de ação do mesmo. O adulto necessita em média de 250g de protetor por semana, com um fator equivalente a 15. As normas do FDA (agência que controla os medicamentos nos Estados Unidos) estabelecem que os produtos à prova de água devem supor­tar 80 minutos dentro d'água, enquanto os resistentes à água, apenas 40 minutos. No entanto, estes valores são testados em condições ideais, prevendo unicamente a imersão, o que nunca acontece, já que ao entrar na água a pessoa sempre se movimen­ta. E altamente recomendável aplicar de novo os protetores solares após sair da água. Na maior parte dos casos, os índices referidos para os protetores solares aplicam-se apenas aos UVB. O fator 15 filtra cerca de 94% da radiação UVB, sendo este o mínimo aceitável. Pode haver necessidade de filtros mais potentes para alguns tipos de pele, ou uso de filtros que atuem protegendo também a faixa de UVA.

Á

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CAPÍTULO 1 4

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PRIMEIROS SOCORROS

• O uso do filtro solar deve ser iniciado em casa, em pequena área da pele, três dias antes da exposição ao sol, para testar possí­veis alergias. Evite o uso de marcas que contenham PABA (ácido para-amino-benzóico) ou oxibenzona, por serem mais alergêni-cos. Evite também os que contenham etanol (álcool) - são irri­tantes e ressecam a pele. Opte pelo uso de cremes ou loções, por serem mais hidratantes, exceto se você tiver acne, quando deve preferir gel ou spray.

• Para melhor proveito do uso de filtro solar, aplique-o sem pres­sa, sobre pele seca ainda sem transpiração, 20 a 30 minutos antes de se expor ao sol. Isso permitirá que ele se distribua mais uniforme­mente nas secreções da pele. Ao chegar à praia, repita a aplicação do protetor solar. Não é necessário massagear - o filtro não precisa penetrar na pele. Espalhe-o uniformemente.

• Escolha a potência do seu filtro solar de acordo com a tabe­la abaixo:

C O R DE

PELE

C O R DOS

OLHOS

C O R DOS

CABELOS

TENDÊNCIA A

SOFRER QUEIMA­

DURA SOLAR

CAPACIDADE

DE PROTEÇÃO

Leitosa ou Branca

Azuis ou Verdes

Branco ou Ruivo

Muito Freqüente

Nula ou Pequena

= OU >

que 30

Clara Azuis ou Verdes

Louro ou Castanho claro

Freqüente Pequena ou Moderada

= ou > que 25

Morena Verdes ou Cas­tanhos

Castanho escuro

Pouco Freqüente

Rápida = ou > que 20

Negra Casta­nhos

Preto Quase nunca Rápida e Intensa

= ou > que 15

orientações adicionais • O bronzeamento com cremes auto-bronzeadores contendo di-

hidroxiacetona (DHA) não confere proteção, apenas uma colora­ção uniforme da superfície da pele. Não é recomendável bronzear-se utilizando lâmpadas ultravioleta: são nocivas e o bronzeado não

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INSOLAÇÃO, QUEIMADORAS, CÂNCER DE PELE g HIPOTERMIA

tem o mesmo efeito protetor que o obtido gradualmente, através dos cuidados descritos acima.

• Antes e depois do período de exposição ao sol, evite o uso de perfumes e águas de colônia, especialmente se contêm substâncias ácidas e almíscar; provocam alergias e o aparecimento de manchas (aumentam a sensibilidade da pele ao sol). Se planeja expor-se ao sol e lhe forem receitados medicamentos, fale com o médico sobre possíveis efeitos secundários ou contra-indicações da exposição so­lar. Vários remédios, como tetraciclinas, oxicans e hipérico, podem apresentar reações quando a pessoa se expõe ao sol.

• Crianças são mais sensíveis ao excesso de sol, pois sua pele é mais fina. As crianças com menos de um ano de idade é extrema­mente desaconselhada a exposição solar. Basta expor lOcm2 da sua pele (preferência para a área das fraldas, para evitar as dermatites comuns a esta área) a um sol moderado durante 5 minutos por dia, para que sintetizem dose suficiente de vitamina D. Se a criança estiver cansada, indisposta ou com a pele muito ver­melha, convém que nes­se dia não se exponha mais ao sol.

• Em montanha, os cuidados devem ser os mesmos que os da praia. Quanto maior a altitu­de, mais intensos são os raios ultravioleta; por­tanto, exige-se atenção especial com filtros e protetores. O mesmo se aplica à neve, por sua alta capacidade de refletir os raios ultra­violeta ( 8 5 % de reflexão). Isso explica por que, mesmo embaixo do guarda-sol, a pessoa pode sofrer queimadura solar. A água re­flete 5 % dos raios ultravioleta; a areia, 17%; e o vidro, 25%. Me­rece atenção o fato de que 8 0 % dos raios ultravioleta passam através das nuvens. Por isso, mesmo em dias nublados deve-se usar protetor solar. Não se deixe enganar pelo vento, por estar

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CAPÍTULO 1 4

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PRIMEIROS SOCORROS

dentro d'água, em barco ou colchão: apesar da sensação de fres­cor, os riscos se mantêm.

• Após tomar sol, trate a pele de forma especial. Tome uma du­cha quase fria para eliminar resíduos dos protetores solares, do suor e do sal. Enxugüe-se sem esfregar e aplique um hidratante específi­

co para depois do sol, com substâncias refrescantes e suavizantes. Beba muita água e sucos de frutas, para recuperar os líquidos perdidos e evitar o envelheci­mento da pele.

• Os efeitos da exposição excessiva ao sol acumulam-se e as conseqüências negativas podem surgir anos mais tar­de. Faça uso cuidadoso do sol; diminua o risco do câncer de pele.

4 . CÂNCER DE PELE

Sendo um dos mais comuns no mun­do e com probabilidade de 90% de cura, se o diagnóstico é feito no início, o cân­

cer de pele é mais freqüente nas pessoas de pele, olhos e cabelos claros, com dificuldade para bronzear-se; por­tanto, mais sujeitas a sofrerem queimaduras solares.

Outras causas: histórico de câncer de pele na família, imunida­de baixa por doença e medicamentos, exposição profissional ao sol, raios X, raios ultravioleta, arsênico, outros produtos químicos. Pode afetar quem possui grande quantidade de pintas, queimadu­ras ou cicatrizes antigas, que apresentam ulcerações freqüentes.

Alguns dos sinais característicos da doença: • Lesão nodular, de coloração avermelhada ou escura, com cres­

cimento lento mas progressivo. • Pinta ou mancha na pele, de crescimento progressivo, que apre­

sente coceira, sangramento freqüente ou mudança em suas caracte­rísticas (alterações nos limites da pinta, simetria, coloração, tama­nho, espessura, consistência).

• Lesão de pele que não cicatriza espontaneamente em um mês. Os três tipos básicos de câncer de pele, responsáveis por mais de

9 0 % dos casos, são: 194

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

Carcinoma basocelular - 80% dos casos. Nódulos ou caroços ró­seos endurecidos, de crescimento lento, progressivo. Pode apresen­tar uma ferida central que não cicatriza, ou mancha que cresce con­tinuamente, com perda da elasticidade local.

Carcinoma espinocelular — nódulo ou caroço róseo de cresci­mento progressivo, que freqüentemente apresenta úlcera na superfí­cie. Pode disseminar-se através dos linfonodos (ínguas) ou espalhar-se pelo corpo (metástases).

Melanoma maligno - o menos freqüente, mas de conseqüências mais devastadoras. Uma pinta ou mancha de crescimento progressi­vo que muda suas características, de modo repentino ou no decor­rer do tempo (cor, aspecto, tamanho, limites da pinta, simetria, es­pessura, consistência). Grande chance de espalhar-se rapidamente.

O tratamento sempre é cirúrgico, com retirada total ou parcial da lesão, sob anestesia local. Em estado avançado, a operação pode exi­gir internação e anestesia geral.

O médico avaliará a necessidade de tratamentos complementares, como quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, hormonoterapia. Outro procedimento possível é a crioterapia, ou tratamento pe­lo frio. Consiste na aplicação local de nitrogênio.

5 . HIPOTERMIA

Definida como injúria cor­poral extensa devida ao frio. Difere do congelamento, que em geral ocorre em partes, so­bretudo extremidades. A tem­peratura central do corpo baixa aos 35°C.

Ocorre quando o organismo perde mais calor do que produz. De­ve-se à exposição ao frio intenso, ou à exposição contínua ao frio, ainda que moderado. Progride em estágios que, se não controlados, podem levar a vítima à morte.

São mais susceptíveis idosos, crianças, pessoas desidratadas ou al­coolizadas, pacientes com algum tipo de imobilização ou alterações

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CAPÍTULO 1 4

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PRIMEIROS SOCORROS

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de sensibilidade (choque, coma ou problemas psíquicos). Pode ocor­rer em desportistas que sofram soterramento sob avalanche de neve; quando um ferido fica exposto por muito tempo ao frio, vento e ne­

ve; ou por afogamento.

Estágios da hipotermia • Tremores/calafrios (pela de­

tecção do hipotálamo, de que houve diminuição brusca de tem­peratura da pele em até 1°C). O objetivo dos tremores é gerar ca­lor através da atividade muscular. Este estágio é fisiológico e acon­tece freqüentemente em pessoas sãs, mas pode ser o primeiro sinal de hipotermia, com os sintomas seguintes instalando-se entre 90 minutos a algumas horas.

• Apatia, sensação de cansaço, perda de interesse e ânimo pela

atividade em curso, indiferença a ordens ou informações. A pele sé apresenta fria, seca e arrepiada.

• A medida que se aprofunda a hipotermia, a pessoa começa a apresentar movimentos pesados, como que embriagada, com perda de coordenação motora e pausas na atividade efetuada, durante as quais se mantém encolhida e tremendo (lentificação).

• Confusão mental, seguida de perda da consciência e coma su­perficial com resposta a estímulos dolorosos.

• Diminuição dos batimentos cardíacos, com risco de arritmias (anormalidades no ritmo das batidas do coração) quando a tempe­ratura baixa até 30°C.

• Diminuição da freqüência respiratória, com respiração su­perficial.

• Morte por falência metabólica generalizada, levando à parada cár-dio-respiratória. As enzimas celulares precisam de temperatura míni­ma para atuarem, a qual varia de pessoa para pessoa. Existem relatos de pacientes cuja temperatura caiu até 16°C, e que se recuperaram.

Fatores predisponentes para ocorrência de congelamento de por­ções do corpo ou hipotermia:

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INSOLAÇÃO, QUEIMADURAS, CÂNCER DE PELE E HIPOTERMIA

CAPÍTULO 1 4

• Uso de roupa inadequada para o clima, ou molhada por muito tempo. A roupa de algodão pode ser pior, porque o algodão não retira o suor e a pele úmida per­de 25 vezes mais calor que a pe­le seca. Em atividades ao ar li­vre aconselha-se várias cama­das de roupa e proteção para a cabeça, orelhas e demais extre­midades. Prefira roupas de lã virgem, que secam de dentro para fora, ou tecidos sintéticos apropriados ao frio.

• Exposição ao vento - pro­cure trabalhar ou ter lazer em área protegida.

• Contato com objetos frios ou metal - procure sempre trabalhar protegido por luvas.

• Desidratação. • Aterosclerose (obstrução de vasos sangüíneos, ocorre em pa­

cientes com colesterol elevado). • Fadiga, esgotamento físico. • Uso de medicações, como sedativos ou Fenergan®. • Alcoolismo - doses de álcool no sangue entre 300 a 400mg/dl,

podem produzir hipotermia. • Esporte ou trabalho na água, sem a proteção de roupas espe­

ciais. Em água a 15 graus, a permanência por cinco minutos é sufi­ciente para provocar hipotermia, uma vez que a perda de calor den­tro da água é cerca de 32 vezes superior à perda que se produz em contato com o ar.

Tratamento • Retire a vítima da área exposta ao frio e ao vento. Se possí­

vel, transporte-a para local aquecido ou isole-a do chão, se esti­ver ao ar livre.

• Estimule-a a se movimentar; a atividade física produz calor. • Troque a roupa molhada por roupa seca. • Aqueça a vítima gradualmente, envolvendo-a em cobertores e

não friccionando nenhuma área, uma vez que o frio aumenta a fra-

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PRIMEIROS SOCORROS

gilidade da pele. Coloque tecidos aquecidos por bolsas de água quente na nuca, tronco, axilas (nunca em contato direto com a pe­

le). Cuidado especial deve ser to­mado se a vítima estiver incons­ciente. A temperatura resultan­te deve ser sentida com cuidado, para evitar queimadura. Não proceda aquecimento acelerado, colocando-a em água morna, nem a ponha em contato com cobertores elétricos.

• Inicie o aquecimento pela porção central do organismo -tronco, pescoço, cabeça e pelve.

• Mantenha medidas fre­qüentes de pulso, respiração e pressão arterial.

• Caso haja sinais de altera­ções cardíacas ou suspeita de

outros problemas associados, encaminhe o paciente para avalia­ção médica.

• Só inicie alimentação depois que a vítima estiver completa­mente consciente (não tente alimentar alguém inconsciente). Pro­cure dar líquidos quentes de alto conteúdo energético ou soluções isotônicas aquecidas.

• Em situações de emergência, aqueça a vítima com o calor do próprio corpo, abraçando-a.

• Evite bebidas alcoólicas, pois não produzirão aquecimento ade­quado. Na verdade, elas provocam mais perda de calor e promovem a perda de líquidos.

• Em casos de afogamento ou de hipotermia com parada cár-dio-respiratória, devido ao efeito protetor que a queda da tempe­ratura tem em relação ao cérebro, pode ser estendido o tempo de ressuscitação para até 30 minutos, ou até que a temperatura cen­tral caia a 30°C.

• Avalie a possibilidade de transportar o paciente para melhor atendimento sempre que ele não apresentar melhora nas primeiras duas horas.

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Picadas de cobras, insetos e aracnídeos

1 . PICADA DE COBRA

Antes de abordarmos este assunto, relembremos os prin­cípios básicos para qualquer tipo de primeiros soconos:

• Não provocar nenhum ti­po de lesão adicional.

• Atuar de forma prática e rápida.

• Não fazer algo que não te­nha comprovada eficácia médi­ca e científica.

O acidente ofídico ocorre em todas as regiões e esta­dos brasileiros, sendo um sé­rio problema de saúde quan­do não atendido de forma correta.

Ocorrem geralmente mais casos nos meses de se­tembro a março, pelo aumento da atividade produti­va humana nos trabalhos do campo, e das atividades de lazer. Nesse período as serpentes apresentam maior atividade, devido à reprodução e pela melho­ra das condições de temperatura.

Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 7 5 % dos casos notificados são atribuídos às serpentes do gê­nero Bothrops (jararaca); 7% ao gênero Crotalus

199

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PRIMEIROS SOCORROS

(cascavel); 1,5% ao gênero Lachesis (surucucu); 3 % a serpentes não peçonhentas (consideradas sem veneno, do tipo constritiva, como a jibóia), e 0 ,5% provocados por Micrurus (coral).

Cerca de 70% dos pacientes são do sexo masculino, pelo fato de o ho­mem desempenhar com mais freqüência atividades de trabalho fora da moradia, ou porque os adolescentes masculinos têm mais atividades junto à natureza, onde os acidentes ofídicos habitualmente oconem.

Em aproximadamente 5 3 % das notificações, a idade dos aciden­tados situou-se entre 15-49 anos. No Brasil são notificados anualmen­te cerca de 20 mil acidentes, embora se estime que este número seja maior, devido à menor comunicação dos casos no Norte e Nordeste.

Apresentam mortalidade média em torno de 0,43%, mais fre­qüente nos acidentes com cascavel.

Apesar de todo o progresso científico, muitas pessoas ainda crêem na eficácia do torniquete ou em medidas como cortar a lesão e su­gar a ferida, o que no passado trouxe tantos danos permanentes e se­veros (inclusive com perda de membros), ou mesmo a morte de muitas pessoas.

Medidas iniciais • Aja calmamente e procure transmitir tranqüilidade ao pacien­

te. Mantenha-o hidratado e aquecido. • Monitore os sinais vitais. Se possível, guarde a urina do pacien­

te em frascos separados a cada micção. Alguns venenos afetam os

contrário das orientações de hemostasia, evite levantar a área afetada). • Caso haja hemorragia, faça hemostasia através de compressão

local ou à distância.

rins, e pode ser importante ter idéia de como estava o sistema renal do paciente no início do processo; se

j isso não for possível, pelo menos, I meça o volume urinado.

• Mantenha o paciente o mais

William

imóvel possível. Se a picada ocoreeu numa perna (70% dos casos) ou mão/antebraço (13%), imobilize o membro atingido. Procure manter o membro mais baixo que o corpo, para dificultar a progressão do veneno (ao

2 0 0

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

• Após realizar hemostasia, procure resfriar a lesão e a área ao re­dor da mesma (compressas úmidas frias ou com gelo) para diminuir a dor, retardar um pouco a progressão do veneno e diminuir os efei­tos inflamatórios no local.

• Utilize o momento de hemostasia e compressas para limpar a le­são. Lembre-se que a boca da cobra contém bactérias. Essa limpeza diminuirá a chance de ocorrer infecção secundária. Tome as provi­dências indicadas para lesões perfurantes, lembrando-se de pergun­tar sobre a vacina antitetânica.

• Providencie transporte para o hospital mais próximo, sempre mantendo a vítima o mais imóvel possível. Faça contato com o Centro de Investigações Toxicológicas (CIT) mais próximo, para as orientações necessárias.

• Se a cobra tiver sido capturada (morta ou viva), leve-a junto com o paciente ao pronto atendimen- ^ to, para acelerar a identificação do tipo de veneno. Contudo, não perca tempo nem se arrisque a levar pica­das, tentando capturá-la.

• Não há motivo para pânico. O tratamento feito até três horas após a picada, na maioria das vezes, tem o mesmo nível de eficácia que o reali­zado em menor tempo.

• Dos sintomas que ocoreem (dor, edema, hemorcagia e equimose), como socorrista pode-se atuar sobre a dor. Ad-ministre de imediato acetaminofen (Dôrico® ou Tylenol®), enquanto se prepara o transporte do paciente. Não dê antiinflamatório para reduzir o inchaço (um dos sintomas), pois isso pode fazer piorar a hemonagia (que pode ser conseqüência do veneno), aumentando as manchas roxas (equi­moses), por sangramento interno. As manchas podem decoreer do efeito do veneno, e ser pioradas pelo uso de antiinflamatório. O socorrista deve acompanhar o paciente para manter o atendimento e informar ao médi­co sobre medidas tomadas e a evolução do caso.

Procedimento adicional para alguns casos Se aparecerem bolhas e o socorro ainda estiver distante, perfure-

as com material completamente estéril, de forma a esvaziá-las (su-201

CAPÍTULO 15

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PRIMEIROS SOCORROS

gerimos agulha de insulina, por ser fina, estéril e mais fácil de se ob­ter). O veneno botrópico se concentra nas bolhas. Não remova a pele. Faça curativo especialmente protetor neste local.

Cartoon Estúdio

2 0 2

Não faça de Jeito nenhum! • Não entre em pânico, porque a sua preocupação se transfere pa­

ra o paciente. • Não fure a pele em torno da picada ou acima da mesma. Isto

não faz com que o veneno saia. As perfurações somente agem co­mo lesões adicionais, aumentando a chance de que ocorra infecção secundária.

• Não tente chupar o sangue no local da picada, por várias razões: a) Primeiro, é importante lembrar que a boca é o lugar mais con­

taminado do organismo, com presença de bactérias, fungos, etc. b) Em segundo lugar, lembre-se que o contato com sangue pode

transmitir doenças ao socorrista (conforme descrito no capítulo 1), e deve ser evitado sempre que possível.

c) A difusão do veneno nos tecidos é bastante rápida. Mesmo que não levássemos em conta os fatores anteriores, não deveríamos chu­par o sangue do ferido por ser isto inútil.

d) Por fim, devemos evitar qualquer procedimento que atrase o so­corro efetivo. Todos os procedimentos indicados devem ser feitos en­quanto se obtém, prepara e efetua o transporte da vítima ao hospital mais próximo.

• Não faça torniquete. Existem várias razões para isto:

a) Se o acidente for botrópico (jarara­ca) ou laquésico (surucucu), só piora os efeitos locais do veneno, tornando mais difícil a cicatrização a longo prazo.

b) Se for crotálico (cascavel) ou micrú-rico (coral), a disseminação do veneno é tão rápida que torna a ação do torniquete inútil, até porque dificilmente a vítima ou o socorrista terão idéia correta do tem­po que decorreu desde a picada.

c) O risco de complicação pelo blo­queio circulatório do membro soma-se aos do acidente ofídico. Ou seja, aos efeitos do veneno acrescentam-se as lesões das células

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

que ficam sem nutrição e oxigênio, atrapalhando o combate ao ve­neno ou às bactérias que penetraram nas lesões.

• Não dê cachaça, querosene ou qualquer outro remédio casei­ro. Não dê alimentos ao paciente. Durante o transporte, ou por efeito do veneno, podem surgir náuseas/vômitos, com o risco de que a vítima se engasgue. Se o paciente sentir sede, dê-lhe água ou outro líquido morno, doce, de fácil absorção pelo organismo (chá, chocolate, e t c ) .

• Não coloque qualquer tipo de emplastro sobre o local da pica­da. Este, como orientamos acima, deve ser limpo cuidadosamente. Não existem substâncias capazes de "chupar o veneno".

• Não movimente o doente. O uso da musculatura fará com que o veneno se espalhe mais depressa. Não existe fundamento científi­co na idéia de que através do calor da musculatura se consiga quei­mar ou consumir o veneno.

• Não aplique soro precocemente, sem orientação e supervisão médica, por algumas razões:

a) Algumas pessoas podem ter reação alérgica à proteína dos ani­mais usados na produção do soro; por isso, tal aplicação deve ser feita só em ambien­te capaz de atender com segurança um eventual choque anafilático.

b) Até 7 5 % dos pacientes que recebem algum soro antiofídico, e quase 100% dos pacientes que recebem 70ml ou mais, de­senvolvem a doença do soro (reação de natureza imune que se manifesta, geral­mente após um período de incubação de sete a 24 dias, com febre, ínguas, dores nas juntas e músculos, e erupção averme­lhada ou urticariforme). Este conjunto de sintomas costuma ser observado mesmo nos indivíduos que recebem pela primeira vez a aplicação de soro. Nos indivíduos reinjetados, ou seja, naque­les que já receberam soro entre 12 dias a quatro meses antes, desen­volve-se a forma acelerada da doença, cujo período de incubação é de apenas dois a seis dias.

c) Com o uso repetido de soro em acidentes ofídicos, pode ocor­rer perda de eficácia pela produção de anticorpos. Assim, o enfoque

203

CAPÍTULO 15

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PRIMEIROS SOCORROS

científico busca analisar a gravidade do caso e usar o menor volume possível de soro; obtém-se o resultado desejado e diminui-se o risco de síndrome do soro ou a formação de anticorpos contra as substan­cias neutralizantes do veneno da cobra.

d) Não se tendo certeza do tipo de acidente (a qual muitas vezes só advém ao longo do tempo, pelo tipo de sintoma), usa-se o soro múltiplo, com antivenenos de vários tipos. Nem sempre esse soro terá a eficácia desejada, tornando necessário o uso de grandes quantidades.

2 0 4

Tipos de acidente ofídico pelos sintomas e efeitos do veneno • Acidente por jararaca, combóia, urutu - principalmente locais,

com dor e inchaço, pois a ação do veneno é sobretudo local. As ve­zes, após algum tempo surgem bolhas no local da picada ou ao redor da mesma, sangramento das gengivas ou do nariz (por alterações do mecanismo de coa­gulação) e presença de sangue na uri­na, que se segue a uma diminuição ou parada do funcionamento dos rins. São casos graves, nos quais é destruído mui­to tecido, inclusive músculos na área da picada, que liberam mioglobina, le­siva para o rim. Diante dessas altera­ções pode ocorrer queda persistente da pressão, o que, com o passar do tempo, pode levar ao choque (este, mais as al­terações renais, definem tais casos co­

mo da maior gravidade). • Acidente por surucucu - muito semelhante ao da jararaca, mas

pode ter alguns efeitos sistêmicos, tais como batimentos cardíacos mais lentos, queda de pressão, diarréia e vômitos.

• Acidente por cascavel (boicininga) - principalmente efeitos orgânicos à distância; quase sem efeitos locais, ou às vezes com a sensação de anestesia local. Fechamento dos olhos devido à queda das pálpebras, visão dupla, paralisia ocular, dores musculares, incha­ço no local e urina avermelhada, uma vez que o veneno tem efeitos mais definidos nos nervos, atrapalhando-lhes o funcionamento e le­vando à fraqueza muscular. O efeito sobre os rins é igual ao da jara-

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

raca, pela destruição muscular, liberação da proteína do músculo (mioglobina) e obstrução do funcionamento renal, que é a maior causa de óbito nos acidentes ofídicos.

• Acidente por cobra-coral - semelhante ao da cascavel, mas com maior rapidez na instalação dos efeitos, com queda das pálpebras e visão turva, podendo ser suficientemente intenso para provocar pa­rada dos músculos respiratórios. Tratando-se de uma cobra pequena, a quantidade de veneno injetada é menor, sendo mais comuns os aci­dentes graves em crianças.

Prevenção E importante lembrar que: • As cobras vivem em lugares quen­

tes, úmidos e escuros. Evite colocar as mãos em tocas, montes de lenha, cupinzei­ros , ou em locais onde não possa ver o que está tocando; se for extremamente necessá­rio fazê-lo, use luvas de couro compridas.

• As cobras se alimentam principal­mente de pequenos roedores e anfí­bios. Onde houver rato, pode haver cobra! Combata a presença de ratos na sua vizinhança; mantenha limpos terrenos e quintais.

• As picadas de cobra costumam atingir as pessoas dos joelhos para baixo - 7 0 % dos casos são no membro inferior. Ande sempre calçado ao caminhar pela natureza; se o local for muito agreste, use botas.

• As cobras geralmente fogem do ser humano, atacando apenas quando são tocadas ou pisadas acidentalmente. Cuide onde está pi­sando e caminhe de forma atenta. A cascavel procura avisar os descui­dados usando seu guizo ou chocalho.

• Algumas cobras têm hábitos aéreos, sendo predadoras de pássa­ros. Tome cuidado e esteja atento ao subir em árvores.

• A maioria das cobras venenosas têm hábitos noturnos, tanto para evitar predadores como para alimentar-se com mais facilidade. Evite atividades em áreas com pouca visibilidade, ou junto à natureza, em horários próximos ao pôr-do-sol ou após o mesmo.

• As cobras também têm inimigos naturais, dos quais fogem, 205

CAPÍTULO 15

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PRIMEIROS SOCORROS

ou que as utilizam como alimento. Proteja ou crie gansos, emas, seriemas e corujas.

2 . REAÇÕES AO CONTATO COM INSETOS E ARACNÍDEOS

De forma inovadora, desejamos abordar neste capítulo não apenas os artrópodes peçonhentos, conforme costuma acontecer, mas tam­bém as demais reações ocorridas na interação do ser humano com estes pequenos seres vivos. Alguns dos assim chamados venenosos, não inoculam peçonha, mas causam reações alérgicas.

Dividiremos os acidentes decorridos deste contato em alérgicos, peçonhentos, infecciosos e mistos.

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Reações alérgicas São acidentes causados por agentes da fauna, onde a extensão da

ação é basicamente definida pelo organismo afetado, o que explica as grandes variações entre acidentes de diferentes indivíduos, pela variedade de graus de sensibilidade pessoal às substâncias estranhas envolvidas.

Podem ser causadas por muitos agentes: insetos (pernilongo, pulga, formiga, percevejo, abelha, vespa), aracnídeos (aranha, escorpião, car­rapato) ou outros artrópodes (la­craia, centopeia).

A intensidade da reação pode va­riar num amplo espectro, desde rea­ções leves como pápulas (pequenos caroços na pele) com coceira; lesões mais intensas, disseminadas pelo corpo; até uma reação anafilática e choque, com risco de vida (morrem 30 a 50 pessoas anualmente em de­corrência de choque anafilático por

picada de abelha, nos EUA) . A causa da reação vai desde a saliva anestésica do artrópode (per­

nilongos e pulgas), produtos de excreção (baratas e barbeiros), ou outros produtos liberados como forma de defesa (caranguejeira).

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

207

CAPÍTULO I J

Outra forma de reação a produtos de artrópodes ocorre quando são usados como alimento (camarão, lagosta e siri). Todos os frutos do mar são altamente alergênicos.

O tratamento da reação alérgica aos artrópodes depende de sua intensidade:

Casos leves (coceira ou pápulas localizadas) - uso de anti-hista-mínico oral Loratadina (Claritin®) ou Cetirizina (Zyrtec®), lim­peza do local da picada, associado a um corticóide tópico potente (Betaderm® ou Elocom®) aplicado na lesão três vezes ao dia. Ca­so a reação seja controlada com estas medidas, não é necessário encaminhamento ao pronto atendimento.

Casos moderados (coceira intensa, com lesões difusas por várias áreas do corpo e pontos de pus) ou casos graves (sintomas dos casos moderados, acrescidos de falta de ar/sensação de sufocamento), de­vem receber o mesmo tratamento dos casos leves e encaminhamen­to para análise médica o mais breve possível.

A prevenção das alergias causadas por insetos demanda algumas medidas, em especial nos casos que se repitam com freqüência ou se mantenham com pouca melhora:

• Usar inseticida diariamente nos ambientes infestados. Entrar nos mesmos somente após quatro horas da pulverização, para evitar alergias respiratórias.

• Quando estiver em área aberta (campo ou beira-mar), usar repelentes de insetos, preferentemente à base de dietiltoluamida (Autan®, Off®). Apli­que-os também nas roupas, para au­mentar o tempo de efeito. Reaplicar o repelente sempre que necessário ou quando os insetos começarem a atacar de novo. Usar vestuário que proteja bem dos insetos e não os atraia (man­gas compridas, tecidos que não rete­nham muito o suor, cores neutras). Para prevenção de outras picadas de insetos (carrapatos, percevejos, pulgas), usar Nedax® loção em to­do o corpo, nos locais onde haja infestação.

• Quando aplicar inseticida nos quartos, não se esqueça dos rodapés e estrados de camas, pois o inseto pousa aí durante o dia e sobe à noite.

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PRIMEIROS SOCORROS

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• Calafetar frestas de assoalhos e de paredes, eliminando os es­conderijos dos insetos.

• Não ter plantas ou água estagnada em casa ou na vizinhança, para não criar insetos.

• Colocar regularmente desinfetantes nos ralos de chuveiros e banheiros.

• Manter animais domésticos regu­larmente higienizados contra pulgas.

• Aparar e escovar as unhas diaria­mente, mantendo-as curtas, para evitar lesões e infecções em caso de coceira.

• Evitar tudo que possa atrair insetos, como cores (branca, cinza e vermelha), plantas polinizáveis ou que retenham água (bromélias, por exemplo), alimen­tos não protegidos (atraem baratas e for­

migas), tecidos animais (lã, camurça, cou­ro e similares), calor, suor e perfumes.

• Para pessoas com alergia à picada de pernilongo, uma opção adicional é o uso diário de um comprimido do Complexo B Roche (tomar após o desjejum). O complexo B é excretado pelo suor, atuando como repelente de pernilongos. A opção pela marca Roche deve-se ao fato de ser este um dos poucos que não têm vitamina BI2 , não causando aumento de apetite ou piora da acne.

3 . ACIDENTES COM INOCULAÇÃO DE VENENO

Ocorrem quando o artrópode injeta substância estranha em quan­tidade suficiente para agir nos sistemas orgânicos mesmo à distância do local da picada. Diferentemente dos acidentes alérgicos, a gravi­dade do caso se relaciona mais à quantidade de veneno introduzida, o que torna os acidentes com crianças mais graves, já que a quanti­dade de peçonha por quilo de peso corporal é proporcionalmente maior que no adulto.

Podem ser causados por aranhas, lagartas (taturanas), escorpiões, ou mesmo abelhas e vespas, quando em número suficiente para in­jetar quantidade efetiva de veneno.

Devido à maior especificidade de casos, a abordagem deste grupo se baseia no tipo de agente:

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

Armadeira - aranha de cor marrom acin­zentada, com manchas claras formando pares no dorso do abdome, muito agressiva, que gosta de viver em locais pouco iluminados (sob os móveis, em fendas, sob cascas de ár­vores, na bainha das bananeiras, e t c ) . Sua picada causa dor imediata e persistente. Po­dem ocorrer vômitos, dor de cabeça, agita­ção, salivação intensa, febre, e em casos mais graves, suor e vômitos, devido à ação tóxica sobre os nervos periféricos.

Tarântula ou aranha de jardim - de cor marrom acinzentada, apresenta um dese­nho em forma de seta no abdome. Não é agressiva e prefere viver ao ar livre (cam­pos e gramados). A picada causa pouca dor local e leves manifestações alérgicas, mais de caráter descamativo.

Aranha Marrom -com abdome em for­

ma de caroço de azeitona, vive sob cascas de ár­vores, nas residências, atrás de móveis, nos só­tãos e garagens. Não agressiva, causa acidentes por se esconder em roupas e sapatos, picando a vítima quando apertada contra o corpo. No mo­mento da picada causa pouca ou nenhuma dor local. Com o passar do tempo, após 12 a 24 ho­ras, ocorrem na área afetada: dor tipo queima- ^ ção, inchaço, vermelhidão, vesículas, bolhas e equimose (restritos à área da picada). Em crianças ou indivíduos susceptíveis ( 3 % dos ca­sos), podem ser necessários cuidados especiais devido à ocorrência de hemólise (rompimento das células sangüíneas). São sinais de alerta: diminuição da quantidade da urina e "alteração de sua cor

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CAPÍTULO 15

Ajt*anh&S Anualmente ocorrem cerca de cinco mil acidentes, divididos en­

tre os seguintes agentes:

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PRIMEIROS SOCORROS

(vermelha ou acastanhada), sinalizando a ocorrência de alterações renais. Depois de alguns dias a área da picada pode transformar-se em ferida de difícil cicatrização (demora até dois meses para fecha­mento completo).

I ijeira - aranha peluda, de cor m^^^S^j^StgF'-'' I marrom-escuro, não agressiva (chega a ser

cr acia co r.3 anima c = ;st 1 is :ão) Gostu-j ia vi 't. era tocas, sob pedras. Quando se I sente ameaçada, libera pêlos do abdome; ! estes causam irritação ou grgia a muco­

sa dos olhos e nariz, ou na pele.

Viúva-negra - aranha de cor avermelhada, com desenho em forma de ampulheta no ven­tre, não agressiva, só pica como forma de de­fesa. Vive geralmente em árvores e plantas. Sua picada provoca dor imediata, intensa, que se irradia rapidamente para os gânglios regio­nais (ínguas), podendo levar a contrações musculares e mesmo convulsão. Causa suor, dor e endurecimento da parede abdominal, alterações circulatórias (aumento da pressão arterial, diminuição do ritmo cardíaco), vô­mitos, e até choque neurogênico, pela dor ou pelo próprio veneno.

2 1 0

Escorpiões Têm hábitos noturnos. Durante o dia es­

condem-se sob cascas de árvores, pedras e dentro de casa, principalmente em sapatos. Diferenciam-se pela cor, existindo o preto (reação mais leve, geralmente local, com dor ou reação alérgica) e o amarelo ou marrom avermelhado (ambos são mais gra­ves, causando muita dor local, com irradia-

^ ção, suor, vômitos, e até mesmo choque). Como explicamos antes, é um acidente perigoso, sobretudo para

crianças abaixo de 20 quilos.

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

CAPÍTULO 15

Lagartas venenosas ou taturanas São a fase larval das borboletas ou

mariposas. Possuem pêlos ou espículos simples ou em forma de arbustos, por onde secretam veneno causador de coceira, queimadura e dor intensa.

Merecem destaque especial as lagar­tas do gênero Lonomia, de cor mar-rom-claro a esverdeado, com manchas amarelo-escuro. Apresentam listras de coloração castanho-escuro ao longo do corpo e espinhos no dorso, não ultrapassam seis a sete centímetros. O destaque se prende ao fato de que podem causar reação hemorrá­gica com insuficiência renal, havendo relatos de casos fatais.

Vespas e abelhas O acidente é considerado como

peçonhento quando existe ataque maciço, com dezenas a centenas de picadas. Uma vez que o veneno tem ação direta de liberação de mediado­res inflamatórios e alérgicos, pode causar reações por todo o corpo, le­vando à necessidade de internação para observar e sedar o paciente.

Prevenção A prevenção de acidentes peçonhentos pode ser feita com alguns

cuidados simples: • Limpeza periódica da área em volta da residência, removendo

materiais que possam prover esconderijos para alojamento e prolife­ração dos insetos, tais como lenha, tijolos, pedras; mantendo devi­damente aparado o gramado (evitar ou remover folhagens densas).

• Cuidados de higiene das residências, evitando deixar alimentos ou lixo expostos à atração de insetos ou seus predadores peçonhentos.

• Vedação da soleira de portas e colocação de telas nas janelas. • Para os que vivem no campo, a criação de aves domésticas au­

xilia no controle desses insetos na área à volta da casa, uma vez que as aves são predadoras de escorpiões e aranhas.

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PRIMEIROS SOCORROS

• Não colocar a mão ou o pé em locais onde não seja possível vi­são completa (buracos, cupinzeiros, montes de pedra ou lenha).

• Não colocar calçados ou roupas antes de sacudi-los e virá-los, verificando se existe algum inseto aderido neles.

• Uso de vestuário de proteção (calçados e luvas) quando traba­lhar em áreas de risco.

• Evite contato com lagartas, olhando atentamente para as folhas ou troncos das árvores.

2 1 2

Tratamento Devido à possibilidade de efeitos graves, todo acidente peçonhento

deve ser rapidamente avaliado por médico, com ocasional revisão em 72 horas. Pode haver a necessidade de internação para acompanha­mento da função renal, tratamento do choque e uso de analgésicos mais potentes. A ação do socorrista objetiva diminuir a dor e o inchaço.

Deve-se proceder de imediato • Retirada do aparelho inoculador de veneno (ferrão ou espícu-

la) nos casos de picada de vespa, abelha, taturana, usando uma pinça para não ter contato com o veneno.

• Dar analgésico Acetaminofen (Tylenol® ou Dôrico® 750). • Limpeza do local da picada,

com água e sabão ou algum antisséptico (Povidine®).

• Cobrir com pomada anes-tísica (EMLA®).

• Aplicação de gelo local (compressa fria e seca), para diminuir a dor e o edema.

• Se possível, capture e transporte o agente causador do acidente, cuidando para não sofrer picadas adicionais.

• Encaminhar o paciente para avaliação médica e exa­

mes clínicos (sangue e urina), e revisão da vacina de tétano (se a última aplicação foi há mais de 10 anos, deve ser repetida).

Em casos de urgência, ligar para o Hospital Vital Brasil, para

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PICADAS DE COBRAS, INSETOS E ARACNÍDEOS

A M - Tel.: (0xx92) 622-1972/633-3241/622-1838 - Ramal 232 B A - Tel . : (0xx71) 387-3414/387-4343/387-3425 C E - Tel . : (0xx85) 255-5050/255-5012 E S - Tel . : (Oxx27) 381-2400 G O - Tel . : (0xx62) 291-4350 M G - Tel . : (0xx31) 239-9308/239-9223/239-9224/224-4000 M S - Tel . : (0xx67) 787-3333 M T - Tel . : ( 0 x x 6 5 ) 3 2 1 - 1 2 1 2 P A - Tel. : (0xx91) 249-6370/249-5395 - PABX 249-2323 P B - Tel . : (0xx83) 224-6688/216-7007 P B - Tel . : (0xx81) 421-5444/421-5477 - Ramal 192 (para ambos) P R - Tel . : (0xx41) 148 (Emergencia) 333-3434 - Ramais 203 (coordenador)/234

R J - Tel . : (0xx21) 573-3244 R N - Tel . : (0xx84) 653-3555 R S - Tel . : (0xx51) 223-6417/223-6110/217-9203/223-6050/223-6207 S C - Tel . : (0xx48) 331-9535/331-9173/331-1520/331-9535 S P - Tel . : ( O x x l l ) 5012-5311/5011-5111 - R a m a i s 250/251/252/253

4 . CONSEQÜÊNCIAS INFECCIOSAS ORIUNDAS DE ARTRÓPODES

O pior e mais freqüente mal que os insetos causam à saúde humana é a ação como vetores carreadores de ou­tros seres vivos que causam doenças.

E o caso, por exemplo, da mosca doméstica, que pousa no lixo e em ou­tros lugares contaminados e depois pousa nos alimentos, trazendo sujeira e micróbios. Assim, ela pode causar diversas doenças, como a disenteria.

Outros exemplos de doenças transmitidas por insetos são a ele­fantíase (filariose), malária (palu­dismo), febre amarela, doença de Chagas, borreliose, leishmaniose e dengue.

CAPÍTULO 15

orientação (Oxxl 1 813-8142), ou para o Centro de Informações To­xicológicas (CIT) do seu Estado:

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PRIMEIROS SOCORROS

Medidas de proteção • Em caso de viagem para áreas endêmicas ou se residir nessas regiões,

certifique-se de manter atualizada a vacina contra febre amarela. t i m * m ^ * A o v i a J a r P a r a a r e a s endêmicas de

doenças transmitidas por insetos, pro­cure hospedar-se em locais que dispo­nham de ar condicionado, para dimi­nuir a chance de contágio.

• Caso o item anterior não seja possível, use mosquiteiros, preferen­cialmente impregnados com insetici­das permetrina (Nedax®).

• Use repelente de dietiltoluamida na pele durante todo o dia, uma vez que alguns transmissores picam du­rante o dia (febre amarela) e outros à

" —' y tarde e à noite (malária). Programe sua atividade para evitar os momentos de maior atividade dos insetos.

• Use roupas que diminuam a área corporal exposta às picadas de insetos (calças e camisas de manga comprida) sempre que possível, e aplique repelentes do tipo permetrina (Nedax®) ou deltametrina (Deltacid Plus®).

• Use inseticida em aerossol no local onde for dormir, aplicado de preferência com ele fechado, três a quatro horas antes de deitar.

Efeitos mistos do contato com artrópodes Podem ocorrer ao mesmo tempo vários efeitos do contato com ar­

trópodes. Alguns exemplos: • Alergia à saliva do pernilongo, causando coceira e pápula imedia­

ta, e possibilidade de transmissão de malária, dengue ou leishmaniose. • Alergia aos pêlos da caranguejeira e reação à sua picada (nos ra­

ros casos em que acontecem ambas as situações). • Alergia às fezes do barbeiro e transmissão da doença de Chagas. • Reação alérgica local à picada do carrapato e transmissão de

borreliose.

Há outras combinações possíveis, e este aspecto é frisado aqui pa­ra ressaltar que há razões para se fazer o combate e prevenção de doenças causadas direta ou indiretamente por artrópodes.

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