guia completo de armaduras medievais

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Guia completo de armaduras medievais

MalhasAs armaduras de malha foram possivelmente as mais usadas em toda a histria. Seus primeiros achados datam do sc. IV a.C. e esto associados ao povo celta. Os romanos, na seqncia, fizeram largo uso das malhas enquanto durou seu imprio, deixando-as de herana para os povos medievais que aperfeioaram este tipo de armadura ao seu maior grau. Por toda a Idade Mdia as armaduras de malha foram usadas, atingindo seu auge no sc. XIII quando o cavaleiro se envolvia literalmente dos ps a cabea em anis de ferro interligados. Historicamente, a existncia de malhas com anis cujas extremidades esto apenas juntadas (sem nenhuma solda ou rebite) duvidosa. Existem poucos exemplos que sobreviveram, sendo peas das mais antigas ou referentes a reparos em campos de batalha. Todas as outras peas de autenticidade comprovada contm anis rebitados ou slidos (soldados ou extrados por completo de uma chapa). De fato, somente esses anis conferem s malhas seu poder de proteo num combate real. A Guilda comeou a fazer seus projetos em anis rebitados, embora ainda oferea peas nos no autnticos anis juntados. sobre a nomenclatura Existe muita confuso associada nomenclatura desta armadura. O termo popular em ingls chainmail um pleonasmo, uma vez que mail do francs maille, do latim macula que significa malha dava nome armadura em sua poca. No sc. XVIII, o termo mail acabou se desvirtuando e passou a denotar qualquer tipo de armadura,

fazendo surgir nomes medonhos como chainmail, scalemail e platemail, totalmente equivocados. No portugus o problema continua. O conhecido cota de malha vem tambm do francs cotte de maille que significa vestido/veste de malha. Sendo assim, pode-se usar o termo para dizer das peas no formato de tnica ou camisa (hauberk e haubergeon), mas no para dizer da trama ou do tipo de armadura. Falar algo como este cavaleiro trajando uma tnica de cota de malha um equvoco. Ou use uma tnica de malha ou apenas uma cota de malha.

TramasExistem diversas tcnicas para se unir os anis de ferro, so o que damos o nome de trama da malha. a trama, juntamente com o tamanho e espessura dos anis, que dar as caractersticas de peso, resistncia, expansibilidade e flexibilidade da pea. Os armoreiros medievais sabiam disso quando escolheram a trama 4 por 1 como sendo a padro para suas armaduras. mais detalhes

4 por 1 significa cada argola passa por outras 4. a trama europia mais simples e tambm a mais eficiente. Apresenta tima expansibilidade e pouco peso, que no restringem os movimentos do guerreiro. Outras malhas possveis so as 6 por 1, 8 por 1 etc. Embora mais densas e teoricamente mais resistentes, pecam pela falta de mobilidade e peso excessivo. Na prtica, sempre podemos diminuir o tamanho das argolas de uma trama 4 por 1, melhorando sua resistncia, no lugar de optar por uma 6 por 1 com o mesmo tamanho.

Historicamente essas assertivas se verificam. Quase todas as malhas autnticas so 4 por 1, com pouqussimos exemplos 6 por 1 no totalmente verificados. Deve-se ter em mente que estamos falando de anis slidos/rebitados que so dezenas de vezes mais resistentes do que os juntados. No fosse o caso, diminuir o tamanho das argolas nem sempre seria a melhor opo.

Vale mencionar que armaduras de malha tambm existiram no Japo feudal, com tramas com simetria triangular bem diferentes das europias, como a 3 por 1 e a 6 por 1 oriental.

Hauberk/HaubergeonAt o sc. XIII a principal armadura do cavaleiro era a tnica de malha. Descia at a altura dos joelhos, com mangas compridas terminadas em mitenes (luvas), trazendo s vezes uma coifa (capuz) de malha incorporada. A estas tnicas damos o nome de hauberk. Com o desenvolvimento das armaduras de placas nos sculos seguintes, o hauberk foi reduzindo de tamanho e se tornou o haubergeon, uma camisa descendo at abaixo do quadril com mangas do comprimento. Estas so as cotas (vestes) de malha. mais detalhes

Na Roma antiga, malha era a armadura padro dos soldados antes do aparecimento da lorica segmentata. Se parecia com um haubergeon mas sem mangas e trazia uma camada dupla na regio dos ombros. Seu nome era lorica hamata. Seguindo a linha histrica, no incio da Idade Mdia sc. VIX a lorica hamata sobe at a altura dos quadris, ganha mangas de cerca da metade do comprimento e perde a dupla camada nos ombros. Esta cota de malha comumente associada ao povo escandinavo e recebe o nome de birnie. Pode-se reparar que esta camisa se enquadra muito bem em um haubergeon, mas historicamente colocamos este depois do hauberk enquanto que o birnie antes.

CoifaA coifa o capuz feito de malha com o intuito de proteger a cabea e o pescoo. Durante os sc. XIXIII costumava ser integrada ao hauberk, depois disso comeou a ser vista separadamente, com um manto que descia at os ombros. mais detalhes

Por volta do sc. XII as coifas receberam uma melhoria: a venteira. Tratava-se de uma tira de malha anexada lateral da abertura da face que, quando presa outra extremidade, cobria o queixo (por vezes a boca tambm) deixando somente a parte superior do rosto exposta. A venteira possivelmente continha um forro que ajudava a malha a ficar moldada corretamente enquanto servia de acolchoamento para diminuir o impacto no maxilar.

CalasAs calas so as protees de malha para as pernas, podendo ser na forma de meies compridos, subindo at a coxa, ou uma faixa de malha que d a volta pela perna, presa atrs por amarras de couro. Por volta do sc. XIII, as calas comearam a aparecer incorporadas com um sapato tambm de malha.

MantoO manto era uma pea feita para proteger o pescoo, os ombros e eventualmente a parte superior do peito e das costas. Achados histricos datam do sc. XV e XVI, principalmente de origem germnica. Como mostrado na ilustrao, a trama no

radial, mas apresenta emendas de 45, alm de uma fenda nas costas (fechada por cordes de couro) para deixar passar a cabea.

CamalO camal tem a mesma finalidade do manto a proteo da parte superior do corpo com a diferena de que afixado ao elmo (muito comum aos bacinetes). O mtodo tradicional de afixao se d por meio de anilhas, conforme mostrado na imagem.

Cota de PlacasUsando a definio de Bengt Thordeman (Armour from the Battle of Wisby), a cota de placas a armadura cujo reforo est rebitado principalmente do lado de dentro de uma cobertura de pano ou couro. Este tipo de armadura surgiu em meados do sc. XIII para dar uma ajuda em proteo aos hauberks de malha, com placas possivelmente de ferro rebitadas sob a sobrecota dos cavaleiros. Embora j usada desde a segunda metade do sc. XII pelos cruzados para impedir um super-aquecimento da malha sob o sol do oriente e tambm para evitar sujeira e ferrugem a sobrecota nesta poca era somente uma espcie de poncho largo sem mangas descendo at os joelhos.

Sobrecota ReforadaNo seno em 1250 que temos o primeiro exemplo de reforo aplicado sobrecota, mostrado em grandes rebites formando duas fileiras horizontais na efgie de St. Maurice na Catedral de Magdeburg. Os rebites provavelmente estariam segurando placas verticais a dar a volta por todo o torso do fidalgo. O segundo exemplo mais antigo a escultura de um cavaleiro dormindo entalhada no altar do Monastrio Wienhausen, por volta de 1280. Neste, a sobrecota mostra tanto os rebites quanto delineada pelas placas afixadas por baixo. mais detalhes Sr. Thorderman e o sr. Nicolle levam a crer que a idia das cotas de placas foi roubada dos povos da sia Central, que bem pode ter ocorrido no contato dos germnicos com os mongis quando estes invadiram a Silesia em 1240. Alguns cronistas descrevem como os alemes ficaram aterrados com as armaduras dos trtaros. Seja qual foi a origem, a verdade que uso de sobrecotas reforadas se manteve, principalmente entre os pases nrdicos, at a metade do sc. XIV quando as sobrecotas reforadas ou no deixaram de existir. Isto no significa que o desenvolvimento e evoluo das cotas de placas foi interrompido e j no incio do sc. XIV comearam a aparecer os chamados gibes de placas.

Gibo de PlacasO gibo de placas era um colete, geralmente de couro, em cuja parte interna se afixavam as placas. Era vestido por sobre a cota de malha mas ficava oculto sob a sobrecota. Seu uso se espalhou rapidamente pela europa durante a primeira metade do sc XIV. Seu reforo se dava por placas verticais, horizontais ou por ambas. No geral, as placas no abdome e nas costas eram mais estreitas do que as do peito. Por volta da metade do sc. XIV vamos perceber uma tendncia no aumento do peitoral e uma predominncia em placas horizontais, so os primeiros sinais das armaduras de placas.

mais detalhes

Pelo fato do gibo estar quase sempre escondido nas ilustraes e esculturas de poca, hoje temos muita dificuldade em acompanhar a evoluo desta pea de armadura, tendo que recorrer s poucas figuras e efgies nas quais a fenda lateral da sobrecota mostrada em detalhe. O problema ligeiramente diminudo durante o segundo quarto do sc. XIV quando a frente das sobrecotas passa a chegar somente at a cintura ou quadris, e possvel ver a parte inferior dos gibes aparecendo. Entretanto, as placas que os protegem ainda se encontram por trs do couro, e um estudo da disposio dos rebites fornece muitas vezes as nicas pistas da quantidade, geometria e posicionamento das mesmas.

Os achados arqueolgicos em Wisby so a maior fonte de informao nos gibes de placas. Foram encontradas 24 cotas distintas, completamente restauradas pelo sr. Thordeman. Sua anlise, juntamente com a extrada das figuras, revela duas vertentes de evoluo. A primeira, j citada, leva para um aumento do peitoral e placas horizontais protegendo o abdome e quadril. A segunda leva para uma diminuio sistemtica das placas at formar um colete inteiro forrado de lamelas afixadas com pequenos rebites, as chamadas brigandinas.

Armaduras de PlacasAs armaduras de placas so, na verdade, um termo geral para uma enorme famlia de armaduras. Qualquer pea que possa ser descrita principalmente como uma ou mais placas de metal sem qualquer tipo de cobertura ou forro para uni-las pode entrar nesta famlia. Pelo fato do metal estar exposto e reluzir a luz do sol, o termo armaduras brancas igualmente usado para denomin-las. exceo dos elmos, que so usados desde muito antes, as armaduras de placas comearam a aparecer, embora muito raramente , no sc. XIII na forma de cotoveleiras, joelheiras e talvez semi-grevas. No sc. XIV se desenvolvem as protees de placas para os membros, cobrindo braos, pernas e ps completamente. Mas somente o sc. XV pde contemplar a definitiva figura do cavaleiro em armadura reluzente. Abordar todas as formas e variaes, bem como o desenvolvimento e histrico das armaduras brancas um trabalho muito extenso e no cabe, por hora, neste breve texto. Apresentamos, assim, uma lista das principais peas que compem uma armadura de placas do final da Idade Mdia, que est longe de ser completa.

Elmo

A proteo da cabea se dava por meio de um elmo, que podia ser tanto aberto quanto fechado. Durante toda a Idade Mdia uma enorme variedade de elmos surgiu e um bom nmero destes caiu em desuso. Um dos que mais obteve sucesso neste processo foi o bacinete mostrado na imagem que comeou no sc. XII como um elmo de topo arredondado, passando pelo cervelire no sc. XIII e ganhando sua forma mais conhecida no sc. XIV, antes de receber melhorias no XV. Geralmente era acompanhado de um camal e uma viseira, que podia ser mvel ou fixa.

CouraaA couraa a armadura de placas que protege o torso do homem-de-armas. Embora desde a segunda metade do sc. XIV j podemos encontrar um peitoral sob uma cobertura de pano ou couro, somente no incio do sc. XV que esta proteo toma o seus moldes caractersticos. Geralmente composta de um peitoral e um dorsal (placas sobre o peito e costas) e uma escarcela (lamelas que cobrem o abdome). Outras placas (chamadas tasset) poderiam ser presas na extremidade da escarcela para uma maior proteo das coxas.

GrevasSo a armadura que protege a parte inferior da perna do joelho ao tornozelo. No incio, possivelmente sc. XIII, as semi-grevas eram apenas uma placa que cobria a canela, presa atrs por tiras de couro e fivelas. No fim do sc. XIV uma outra placa adicionada protegendo a panturrilha, e temos ento as grevas totalmente desenvolvidas.

ManoplasAt o sc. XIV as manoplas eram luvas de malha, geralmente com duas divises: uma para o polegar e outra para os dedos restantes, mas durante a primeira parte do sc. XIV ocorrem melhorias, quando pequenas placas de metal so afixadas sobre uma luva de couro, e os povos medievais dedicam este sculo para testar todas as diversas maneiras de se fazer isso. A partir de 1350 surgem as manoplas ampulhetas (mostrada na imagem) que parecem ser bem recebidas e se estabelecem como tipo padro. Entretanto, o sc. XV ainda veria outros avanos, como as placas dos dedos totalmente articuladas sem mais a necessidade de um fundo de couro para segur-las.

Espaldar

O espaldar a armadura que cobre os ombros. Sua origem est ainda nos gibes de placas do sc. XIV, quando pequenas placas de metal eram presas na parte superior do gibo. Evoluiu para um grupo de lamelas articuladas encimadas por uma placa semiesfrica (ilustrao), e no sc. XV receberia mais placas para a proteo da escpula (foto). Para diferenciar as duas verses, a primeira menor recebe o nome de espaldarete enquanto que a segunda, completa, se chama propriamente espaldar.

BraosA armadura para os braos , na verdade, um conjunto de peas que evoluram separadamente e j no incio do sc. XV estavam acopladas por meio de lamelas articuladas com rebites.

A primeira pea a aparecer, em meados do sc. XIII, a cotoveleira, que no incio tratava-se de uma nica placa cnica presa por tiras diretamente sobre a manga do hauberk. Por volta do comeo do sc. XIV aparecem os canhes (placas tubulares) do brao e do antebrao que, neste perodo, so no formato de calha e protegem apenas a parte externa do membro. Durante este sculo, tanto o canho do brao ou braal quanto o canho do antebrao ou antebraal ganham uma placa adicional de modo a envolver completamente o membro. Em cerca de 1350, as cotoveleiras ganham a asa: uma placa no formato de leque que servia para deflectir golpes que acertariam a parte interna do cotovelo. Conforme o sc. XIV vai terminando, todas essas peas vo se unindo para uma proteo completa do brao.

PernasA armadura das pernas muito parecida com a dos braos. Temos uma joelheira, que se desenvolveu desde o sc. XIII e adquire asa por volta da metade do sc. XIV, e temos um coxote (placa que protege a coxa) que surge aps 1350, primeiro como uma nica placa, depois com uma adicional para proteger a parte posterior da coxa. Mais a diante, uma semi-greva curta seria suspendida da joelheira, por lamelas articuladas, e poderia ser presa na greva mais abaixo, para uma completa proteo das pernas.

EscarpeEscarpe o nome que se d ao sapato encouraado. Desde o sc. XIII algumas peas de ferro foram colocadas sobre a malha para cobrir a parte superior do p. Ao fim do sc. XIV, o progresso na armoraria permitiu a fabricao de escarpes envolvendo totalmente os ps, e logo no incio do sculo seguinte j era comum ver os cavaleiros adicionando uma ponta longa e curva na frente do escarpe (imagem) para este no escapar do estribo no ato de cavalgar.