guia alimentar para a população...

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MINISTÉRIO DA SAÚDE Brasília — DF 2015 GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA RELATÓRIO FINAL DA CONSULTA PÚBLICA

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Ministrio da sade

braslia dF2015

Guia alimentar para a populao

Brasileira

relatrio Final Da Consulta pBliCa

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO

BRASILEIRA

RELATRIO FINAL DA CONSULTA PBLICA

ministrio da sadesecretaria de ateno sade

departamento de ateno Bsica

Braslia dF2015

2015 ministrio da sade.

esta obra disponibilizada nos termos da Licena Creative Commons atribuio no Comercial Compartilhamento pela mesma licena 4.0 internacional. permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

a coleo institucional do ministrio da sade pode ser acessada, na ntegra, na Biblioteca Virtual em sade do ministrio da sade: .

tiragem: 1 edio 2015 verso eletrnica

Elaborao, distribuio e Informaes:ministrio da sadesecretaria de ateno sadedepartamento de ateno Bsicaedifcio Premium, saF sul, Quadra 2Lotes 5/6, bloco ii, subsoloCeP: 70070-600 Braslia/dFFone: (61) 3315-9031E-mail: [email protected]: dab.saude.gov.br

Coordenao tcnica geral:Patrcia Constante Jaime Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da sade

Elaborao tcnica:ana Luisa souza de Paiva Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da sadeBruna Pitasi arguelhes Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da sadeFernanda rauber Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da sadeGisele ane Bortolini Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da sademnica rocha Gonalves Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da saderenata Guimares mendona de santana Coordenao-Geral de alimentao e nutrio do ministrio da sade

Normalizao:delano de aquino silva editora ms/CGdi

Reviso:Khamila silva e silene Lopes Gil editora ms/CGdi

Diagramao:marcelo s. rodrigues

impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalogrfica

Brasil. ministrio da sade. secretaria de ateno sade. departamento de ateno Bsica.Guia alimentar para a populao brasileira : relatrio final da consulta pblica [recurso eletrnico] / Ministrio

da sade, secretaria de ateno sade, departamento de ateno Bsica. Braslia : ministrio da sade, 2015.1898 p. : il.

modo de acesso: World Wide Web:

isBn 978-85-334-2309-1

1. alimentao. 2. Guia alimentar. 3. Consulta pblica. i. ttulo.

CdU 612.3

Catalogao na fonte Coordenao-Geral de documentao e informao editora ms os 2015/0281

Ttulos para indexao:Em ingls: Food guide for the Brazilian population: final report of the public consultation Em espanhol: Gua alimentar para la poblacin brasilea : informe final de la consulta pblica

SUMRIOAPRESENTAO

1 OBJETIVOS E BREVE HISTRICO

2 PERFIL DOS PARTICIPANTES

3 CARACTERIZAO DAS CONTRIBUIES

4 SNTESE DAS CONTRIBUIES RECEBIDAS

5 COMENTRIOS GERAIS SOBRE ASPECTOS

CONCEITUAIS E PRINCPIOS

5.1 ProPostas aCeitas de mUdana no doCUmento

5.1.1 sobre o conceito de alimentao adequada e saudvel

5.1.2 sobre a educao alimentar e nutricional

5.1.3 sobre a interface de polticas, programas e aes pblicas

5.1.4 sobre o papel do estado referente segurana alimentar e nutricional e o direito Humano alimentao adequada e saudvel

5.1.5 sobre os sistemas alimentares sustentveis

5.1.6 sobre a abordagem de agrotxicos, orgnicos e transgnicos

5.1.7 sobre a questo cultural

5.1.8 sobre a valorizao dos alimentos e preparaes regionais

5.1.9 sobre o custo da alimentao

5.1.10 sobre a incluso da temtica do vegetarianismo

5.1.11 Sobre a atuao do profissional nutricionista

5.1.12 sobre a importncia da qualidade higinico-sanitria

5.1.13 sobre a orientao referente rotulagem de alimentos

5.2 ProPostas ParCiaLmente aCeitas de mUdana no doCUmento

5.2.1 sobre a recomendao de consumo de alimentos industrializados

5.2.2 sobre a temtica das gorduras

5.2.3 sobre a recomendao diria de gua

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MINISTRIO DA SADE

5.2.4 Sobre as informaes de micronutrientes e deficincias nutricionais

5.2.5 sobre a incluso da temtica de atividade fsica

5.3 ProPostas no aCeitas de mUdana

no doCUmento

5.3.1 sobre a incluso da abordagem quantitativa

5.3.2 sobre a incluso da temtica de bebidas alcolicas

5.3.3 sobre as recomendaes de alimentao saudvel por fases do ciclo da vida

5.3.4 sobre o papel do governo na taxao para produtos alimentcios

5.3.5 sobre a incluso de recomendao de produtos diet e light

6 OUTROS ESCLARECIMENTOS

6.1 soBre as estratGias de ComUniCao e diVULGao do GUia

6.2 soBre o ProCesso de traBaLHo Para eLaBorao do GUia aLimentar

6.3 soBre o PBLiCo-aLVo do GUia

6.4 soBre o Uso da CLassiFiCao de aLimentos adotada no GUia aLimentar

6.5 soBre a UtiLiZao de dados da PoF 2008-2009

6.6 soBre o nmero de reFeies e eXemPLos de reFeies

6.7 soBre o ato de Comer e ComensaLidade

6.8 soBre o PaPeL do estado na sUPerao dos oBstCULos

6.9 soBre a eLaBorao de Um Cone Para o GUia aLimentar

REFERNCIAS

ANEXOS

aneXo a minUta da Portaria da ConsULta PBLiCa n 4

aneXo B reLao das institUies PartiCiPantes da ConsULta PBLiCa Por seGmento

aneXo C diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE da rede nUtri

aneXo d diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE da ComUnidade de PrtiCas ministrio da sade

aneXo e diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE da UniVersidade aBerta do sUs Una-sUs

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

aneXo F diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE da UniVersidade de so PaULo - UsP

aneXo G diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE do ConseLHo FederaL de nUtriCionistas - CFn

aneXo H diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE da assoCiao BrasiLeira de sade CoLetiVa aBrasCo

aneXo i diVULGao da ConsULta PBLiCa no SITE do institUto BrasiLeiro de deFesa do ConsUmidor - ideC

aneXo J ContriBUies reCeBidas na ConsULta PBLiCa disPonVeis no SITE do ministrio da sade

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

APRESENTAO o Guia alimentar para a Populao Brasileira, publicado em 2006, apresentou as primeiras diretrizes alimentares oficiais para a populao, acima de dois anos. diante das mudanas sociais e transies demogrficas, nutricionais e epidemiolgicas vivenciadas pela populao brasileira, que resultaram em mudanas no seu padro de sade e nutrio, fez-se necessria a apresentao de novas recomendaes. Baseado nas mais recentes evidncias cientficas e contando com a participao de pesquisadores e tcnicos expertises no assunto, a nova edio do Guia apresenta-se como um instrumento de educao alimentar e nutricional que aborda os princpios e as recomendaes de alimentao adequada e saudvel para a populao brasileira por meio de um conjunto de informaes, anlises e recomendaes sobre escolha, preparo e consumo de alimentos.

a elaborao do novo Guia Alimentar para a Populao Brasileira ocorreu em um processo amplo e participativo, com a realizao de oficinas regionais e consulta pblica disponibilizada na plataforma do ministrio da sade. apresentamos o relatrio Final da Consulta Pblica para compartilhar e divulgar as contribuies recebidas, assim como os respectivos encaminhamentos dados a elas. este documento foi redigido por integrantes do Grupo de trabalho que elaboraram o Guia. o item 1 composto por um breve histrico sobre Guias alimentares e pelos objetivos da Consulta Pblica. No item 2 apresentado o perfil dos participantes, com informaes a respeito do nmero de participantes e o segmento a que pertencem. em seguida, as contribuies recebidas e seus respectivos encaminhamentos esto distribudos em trs partes: na caracterizao das contribuies, na sntese das principais contribuies e nas respostas aos questionamentos identificados na Consulta Pblica.

aproveitamos a oportunidade para incluir, no anexo, os documentos desse processo, tais como: i) minuta de Portaria publicada no dirio Oficial da Unio (DOU); II) Relao das instituies participantes da Consulta Pblica por segmento; III) Divulgao da Consulta Pblica no portal da redenutri espao institucional de comunicao

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MINISTRIO DA SADE

da Coordenao-Geral de Alimentao e Nutrio (CGAN); IV) divulgao da Consulta Pblica no site da Comunidade de Prticas Ministrio da Sade; V) Divulgao da Consulta Pblica no site da Universidade Aberta do SUS UNA-SUS; VI) Divulgao da Consulta Pblica no site Universidade de So Paulo USP; VII) Divulgao da Consulta Pblica no site do Conselho Federal de nutricionistas CFN; VIII) Divulgao da Consulta Pblica no site da Associao Brasileira de Sade Coletiva (Abrasco); IX) Divulgao da Consulta Pblica no site do instituto Brasileiro de defesa do Consumidor (idec).

Consulta Pblica: CP n 04/2014

data de Publicao (doU): 7/2/2014

n 27 doU 7/2/14 seo 1 p. 49

Prazo para recebimento de contribuies: 90 dias

data de encerramento: 7/5/2014

ementa (assunto): GUia aLimentar Para PoPULao BrasiLeira

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

1 OBJETIVOS E BREVE HISTRICO

em 1995, a Food and agriculture organization (Fao) e a World Health organization (WHo) realizaram uma conferncia conjunta, traando diretrizes para o desenvolvimento de guias alimentares. Para o desenvolvimento de um guia alimentar, fundamental a identificao dos problemas de sade pblica mais relevantes na populao estudada e a determinao de quais deles esto relacionados com a alimentao (BARBOSA; SALLES-COSTA; soares, 2006). Guias alimentares tm como objetivo fomentar a educao nutricional e, para tanto, necessrio o uso de termos compreensveis, simples e claros, e que indiquem as modificaes necessrias nos padres alimentares da populao em geral ou, em alguns casos, de segmentos populacionais especficos (BARBOSA; COLARES; SOARES, 2008).

o objetivo da Consulta Pblica foi permitir a ampla divulgao do Guia Alimentar para a Populao Brasileira para receber sugestes ou comentrios de rgos, instituies e da sociedade civil, fomentando um processo abrangente e democrtico, representativo de dilogo, de modo participativo e legtimo. esse processo fundamental para garantir que o documento contemple as demandas da realidade brasileira e esteja em total consonncia com os princpios e as diretrizes do sistema nico de sade (sUs). Assim, a consulta permite intensificar a articulao entre o governo e a sociedade, aumentando a participao pblica na formulao e definio de polticas pblicas.

a Consulta Pblica foi conduzida por meio de uma plataforma web, estruturada especificamente para esta finalidade, na pgina do Ministrio da Sade, e ficou disponvel no perodo de 10 de fevereiro a 7 de maio de 2014. a Consulta Pblica foi aberta populao em geral, buscando-se captar a opinio de todos os que tivessem interesse em se manifestar sobre o documento. Para facilitar a participao, o formato da consulta possibilitou a contribuio por captulos, de maneira livre, sendo includos a justificativa e os dados de identificao dos participantes. Com isso foi possvel realizar

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MINISTRIO DA SADE

a diviso das opinies por temas e dimenses, tornando possvel identificar aqueles mais recorrentes.

a reviso do Guia representa um esforo integrado e cuidadoso, visando atender as diversas contribuies recebidas durante a Consulta Pblica. Para a consolidao das contribuies e a incorporao delas, inicialmente, realizou-se um trabalho de leitura por captulos a fim de se identificar as principais temticas da Consulta Pblica. na leitura observaram-se diversas contribuies repetidas, com pargrafos idnticos, porm com autores diferentes. Para efeito de sistematizao, foram excludas as contribuies repetidas, as registradas como erros, testes, aquelas retiradas pelo autor e/ou em branco. as contribuies foram consideradas aceitas quando atendidas completamente; parcialmente aceitas quando um dos itens no foi atendido ou quando atendidas dentro do possvel; e foram consideradas indeferidas as que no se apresentavam em consonncia com o Guia e/ou no foi possvel atender por motivos esclarecidos no prximo tpico.

o ministrio da sade possui uma Coordenao de Gesto editorial/editora ms, criada em 1998, que tem a responsabilidade de editar livros, manuais, relatrios, peridicos e outros produtos informacionais imprescindveis gesto federal do sistema nico de sade, consecuo de suas atividades, aes e programas desenvolvidos nas esferas estadual e municipal, na sociedade, principalmente considerando-se a inteno da participao e do controle social em relao ao setor Sade. Assim, a verso final do documento foi submetido normalizao e reviso pela editora do ministrio da sade para, posterior, divulgao dele.

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

2 PERFIL DOS PARTICIPANTES

Ao final deste processo foram recebidas 3.125 contribuies de 436 indivduos e/ou instituies diferentes. entre estes, 201 representantes de instituies de ensino; 102 pessoas fsicas; 58 secretarias, departamentos, coordenaes de rgos federais, estaduais e municipais; 53 associaes, conselhos e entidades da rea de alimentao e nutrio e/ou segurana alimentar e nutricional (SAN) e organizaes e instituies sem fins lucrativos; 17 indstrias, associaes e sindicatos de alimentos; entre outros, conforme apresentando no Grfico 1. Os nmeros de contribuies agrupadas de acordo com o perfil do usurio esto demonstrados na Tabela 1 e no Grfico 1.

tabela 1 Quantidade de usurios e contribuies recebidas na Consulta Pblica segundo perfil de usurios Guia Alimentar para a Populao Brasileira, 2014

PERFIL DE USURIOSNMERO DE

USURIOS

NMERO DE

CONTRIBUIES

PERCENTUAL

%

Instituies de ensino 201 278 46%

Pessoa fsica 102 1.227 24%

Secretarias, departamentos, coorde-

naes de rgos federais, estaduais e

municipais

58 350 13%

Conselhos e entidades da rea de alimen-

tao e nutrio e/ou SAN e instituies

sem fins lucrativos

53 1.027 12%

Indstrias, associaes e sindicatos de al-

imentos

17 230 4%

Outros 5 13 1%

Total 436 3.125 100%

Fonte: Plataforma de Consulta Pblica ministrio da sade, 2014.

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MINISTRIO DA SADE

Grfico 1 Percentual de contribuies recebidas na Consulta Pblica segundo perfil de usurios Guia Alimentar para a Populao Brasileira, 2014

Fonte: Plataforma de Consulta Pblica ministrio da sade, 2014.

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

3 CARACTERIZAO DAS CONTRIBUIES

de acordo com o relatrio gerado na plataforma de Consulta Pblica, apresenta-se a seguir a quantidade de contribuies recebidas por captulos do Guia Alimentar para a Populao Brasileira, na tabela 2:

tabela 2 Caracterizao das contribuies recebidas na Consulta Pblica, por captulos do Guia Alimentar para a Populao Brasileira, 2014

CAPTULOS

DO GUIA

CONTRIBUIES NA

CONSULTA PBLICAREPETIDAS

RETIRADAS

(teste, erro, retirado

pelo autor)*

CONTRIBUIES

AVALIADAS

Apresentao 276 103 10 163

Introduo 210 74 3 133

Captulo 1 381 245 4 132

Captulo 2 787 326 7 454

Captulo 3 parte I 483 193 6 284

Captulo 3 parte II 224 23 3 198

Captulo 4 242 81 02 159

Captulo 5 247 69 0 178

Dez passos 203 136 63 04

Para saber mais 72 37 34 01

Total 3.125 1.287 132 1.706

Fonte: elaborado pelos autores.*as questes registradas como teste, erro, retirado pelo autor ou em branco na plataforma da Consulta Pblica no foram includas nas categorias repetidas e avaliadas.

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

4 SNTESE DAS CONTRIBUIES RECEBIDAS

de acordo com as contribuies recebidas na Consulta Pblica, a redao e a linguagem do Guia foram modificadas, de forma a esclarecer alguns conceitos e ideias, revisar termos tcnicos e formais, realizar a reviso gramatical, padronizar os conceitos utilizados, entre outros detalhes, reforando a construo coletiva e participativa do documento. assim, o Guia fornece mais do que informaes, constituindo-se em uma das estratgias para implementao da diretriz de promoo da alimentao adequada e saudvel que integra a Poltica nacional de alimentao e nutrio (Pnam).

Cabe destacar, que o documento se encontra em consonncia com as polticas pblicas atuais e com as recomendaes da organizao mundial da sade (oms), acompanha as mudanas na realidade brasileira, possui informaes confiveis, baseadas em estudos cientficos e constitui-se como uma nova abordagem a ser trabalhada, substituindo a verso anterior.

ao longo do processo de reviso e, aps a Consulta Pblica, a nova proposta foi bastante elogiada e reconhecida por diversos atores. Considerando o atual cenrio de transio alimentar e nutricional, a adoo da classificao dos alimentos, segundo nvel de processamento, foi considerada como mais adequada frente aos desafios de promoo de uma alimentao adequada e saudvel, bem como inovadora pelos diversos atores participantes da Consulta Pblica, como o Conselho nacional de sade, o Conselho nacional de segurana alimentar e nutricional (Consea), abrasco e pelos organismos internacionais relacionados agenda de nutrio (Unicef, Fao e opas), universidades, sociedade civil, profissionais e estudantes. A nova verso do Guia Alimentar para a populao Brasileira foi considerada um avano ao contextualizar a alimentao adequada e saudvel dentro de uma perspectiva cultural, social, econmica, poltica e ambiental, propondo, inclusive,

uma abordagem qualitativa que apoia qualquer profissional envolvido com aes de educao alimentar e nutricional. durante a Consulta Pblica foram recebidas diversas contribuies com elogios e congratulaes sobre a abordagem mais abrangente; o papel do Guia como uma ferramenta para a promoo de sade; o carter inovador para o enfrentamento dos problemas ligados alimentao e nutrio; e a relevncia do contedo apresentado. o reconhecimento e o apoio recebidos, alm das contribuies de melhoria incorporadas, foram fundamentais para consolidar o documento e aprimor-lo.

Quadro 1 sntese dos principais pontos de alteraes e incluses, segundo as contribuies recebidas na Consulta Pblica Guia Alimentar para a Populao Brasileira, 2014

PRINCIPAIS PONTOS DE ALTERAES E INCLUSES

GERAL

Melhorar linguagem e rever termos tcnicos.

Definir o pblico-alvo: populao ou profissional.

Realizar reviso gramatical.

Utilizar imagens, infogrficos e ilustraes ao longo do texto.

Elaborar um glossrio.

Incluir recomendaes para vegetarianos.

Padronizar os termos em todo o Guia.

Reduzir repetio do texto.

Manter o resumo do captulo ao final e suprimi-lo.

Explicar sobre o processo de reviso do Guia e a metodologia utilizada.

APRESENTAO

Incluir polticas de Segurana Alimentar e Nutricional e Direito Humano Alimentao

Adequada.

Destacar as aes de Educao Alimentar e Nutricional no SUS.

INTRODUO

Comentar sobre a importncia do profissional nutricionista.

Resgatar o conceito de alimentao saudvel da Pnan.

Explicar a abordagem qualitativa adotada pelo Guia.

CAPTULO 1 PRINCPIOS

Rever o conceito de sade, alinhando com conceitos mais atuais.

Retirar a palavra espiritual.

Valorizar os alimentos regionais.

Considerar as questes tnica, religiosa, racial e cultural.

Resgatar as diretrizes da Pnan.

Desenvolver o contedo que aborda o sistema alimentar sustentvel e incluir a agricultura

familiar.

continua

17

GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

PRINCIPAIS PONTOS DE ALTERAES E INCLUSES

Abordar a questo dos agrotxicos, transgnicos, orgnicos, agroecolgicos e hidropnicos.

Informar sobre o impacto do consumo de alimentos e de produtos processados.

Alterar o ttulo desse princpio para Educao Alimentar e Nutricional (EAN).

Alterar o princpio para Guias alimentares so baseados em diferentes saberes.

Esclarecer as evidncias utilizadas.

Trocar a palavra disciplina por saberes.

Ressaltar o saber popular, a transmisso intergeracional e incluir a poltica de educao popular.

Retirar a palavra bioativo.

Apresentar o conceito de segurana alimentar e nutricional, soberania alimentar e Direito

Humano Alimentao Adequada (DHAA).

CAPTULO 2 RECOMENDAES GERAIS

Esclarecer o conceito de alimentos adotado.

Alterar o ttulo da recomendao.

Melhorar o conceito de alimentos e resgatar a questo simblica.

Utilizar o termo cozinhar e comida.

Abordar a questo das preparaes culinrias e exemplific-las.

Valorizar as mensagens positivas.

Esclarecer a palavra moderao.

Incluir a recomendao de consumo de leo, sal e acar.

Explicar sobre os temperos industrializados.

Diversificar os tipos de gorduras e adicionar referncias na seo Para Saber Mais.

Diferenciar os tipos de massas, como massa fresca, seca etc.

Rever o destaque dado aos produtos processados e ultrapassados.

Rever o termo pronto para consumo.

Esclarecer as formas de processamento utilizadas para um produto processado e

ultraprocessado.

Incluir a temtica da rotulagem.

Destacar os transgnicos.

Abordar os produtos diet e light.

Esclarecer o conceito e as calorias lquidas de sucos industrializados, refrigerantes, bebidas

aucaradas etc.

Destacar a relao do consumo dos produtos ultraprocessados com a perda de patrimnio

alimentar e cultural.

CAPTULO 3 ALIMENTOS E PREPARAES CULINRIAS

Dividir o captulo em dois.

Abordar os alimentos regionais em todos os grupos.

Esclarecer o conceito de preparaes culinrias e fornecer dicas culinrias ao longo do captulo.

Incluir temperos e ervas.

Inserir a safra em legumes, verduras e frutas.

Esclarecer a questo de outras refeies, no que tange a recomendao de trs refeies.

Incluir o conceito de refeio.

Incluir a fruta em outras refeies.

Esclarecer a importncia do consumo de gua ao longo do dia e incentivar o aumento do seu

consumo.

continua

continuao

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MINISTRIO DA SADE

PRINCIPAIS PONTOS DE ALTERAES E INCLUSES

Acrescentar discusso sobre sustentabilidade ecolgica do planeta e sistemas alimentares sobre

a gua.

Enfatizar o consumo de frutas, legumes e verduras e destacar o aumento desse consumo.

Incluir o caf nesse captulo.

Incluir o aproveitamento integral dos alimentos, no contexto do desperdcio e no no contexto

da fome.

Esclarecer a recomendao do consumo de carnes.

Diferenciar o po feito em casa e o po caseiro dos pes superprocessados.

Excluir recomendao de frequncia sobre o ovo.

Fornecer outros exemplos no grupo dos pescados, alm do peixe.

CAPTULO 4 COMO COMER

Evitar a prescrio de comportamentos.

Incluir a questo de gnero, etnia etc.

Apresentar mais dicas prticas para o dia a dia.

Esclarecer a recomendao sobre no comer entre as refeies.

Exemplificar a alimentao fora do lar.

CAPTULO 5 COMPREENDENDO E SUPERANDO OBSTCULOS

Valorizar as aes coletivas e a responsabilidade compartilhada.

Explicar, para cada obstculo, como o indivduo pode super-lo e o papel do estado.

Inserir propostas de superao dos obstculos, abrangendo a variedade de sugestes e os

exemplos.

Acrescentar obstculo sobre segurana sanitria dos alimentos.

Esclarecer a questo do custo da alimentao.

Ressaltar o papel do governo na regulao (taxao) de impostos de alimentos saudveis e no

saudveis.

Ressaltar a importncia do cuidado na leitura dos rtulos.

Estimular as feiras locais, hortas em casa e comunitrias.

PARA SABER MAIS

Inserir referncias bibliogrficas que embasam as recomendaes e princpios do Guia.

DEZ PASSOS PARA ALIMENTAO SAUDVEL

Esclarecer os dez passos, aperfeioando o texto.

Inserir os dez passos antes do saber mais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

concluso

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

5 COMENTRIOS GERAIS SOBRE ASPECTOS CONCEITUAIS E PRINCPIOS

5.1 ProPostas aCeitas de mUdana no doCUmento

5.1.1 Sobre o conceito de Alimentao Adequada e Saudvel

o conceito de alimentao adequada e saudvel foi revisado e includo no Prembulo, que aborda os princpios norteadores da elaborao do Guia e permeia todas as recomendaes deste documento. refere-se ao conceito adotado na Poltica nacional de alimentao e nutrio (Pnan) (BrasiL, 2012a), contemplando os princpios da segurana alimentar e nutricional (san). assim, a alimentao adequada e saudvel

um direito humano bsico, que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prtica alimentar adequada aos aspectos biolgicos e sociais do indivduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais, ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimenses de gnero, raa e etnia; acessvel do ponto de vista fsico e financeiro; harmnica em quantidade e qualidade, atendendo aos princpios da variedade, equilbrio, moderao e prazer; baseada em prticas produtivas adequadas e sustentveis.

5.1.2 Sobre a Educao Alimentar e Nutricional

o Guia alimentar considerado um instrumento de educao alimentar e nutricional e nessa qualidade respeita os princpios elencados pelo marco de referncia de educao alimentar

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MINISTRIO DA SADE

e nutricional para as Polticas Pblicas, sendo estes aspectos considerados no Prembulo. as discusses sobre sustentabilidade, sistema alimentar, valorizao da cultura alimentar, comida como referncia, promoo da autonomia e autocuidado esto presentes em todo o texto do Guia alimentar. a Pnan tem por pressupostos os direitos sade e alimentao e como tal tem como propsito a melhoria das condies de alimentao, nutrio e sade da populao brasileira, mediante a promoo de prticas alimentares saudvel, a vigilncia alimentar e nutricional, a preveno e o cuidado integral dos agravos relacionados alimentao e nutrio. neste sentido, a Pnan expressa em suas diretrizes a importncia da Promoo da alimentao adequada e saudvel em intervenes amplas que atuem nos determinantes e condicionantes da sade. dentro do rol de estratgias induzidas pela Pnan para promover a alimentao adequada e saudvel, destaca-se a educao alimentar e nutricional (ean). assim, a nova edio do Guia alimentar para todos os brasileiros, sendo que alguns desses sero trabalhadores envolvidos com atividades e aes de educao alimentar e nutricional. tais trabalhadores so de suma importncia para fomentar a discusso do contedo desse material nas comunidades em que estiverem inseridos.

5.1.3 Sobre a interface de polticas, programas e aes pblicas

o Guia ressalta e reconhece a importncia das polticas pblicas e aes intersetoriais para apoiar a educao alimentar e nutricional e a promoo da alimentao adequada e saudvel, como apontado no Prembulo, sendo considerado um instrumento de educao alimentar e nutricional. ainda, o documento ressalta que o Guia alimentar para a Populao Brasileira se constitui em uma das estratgias para implementao da diretriz de promoo da alimentao adequada e saudvel que integra a Poltica nacional de alimentao e nutrio. no contexto intersetorial, destaca-se no Prembulo a Poltica nacional de educao Popular em sade e o Plano de aes estratgicas para o enfrentamento das doenas

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GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAO BRASILEIRA

Crnicas no transmissveis no Brasil para a incluso das prticas de promoo da sade nos processos de trabalho das equipes de sade; a Poltica Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional e a Lei orgnica de segurana alimentar e nutricional para assegurar o direito humano alimentao adequada e saudvel; o marco de referncia de educao alimentar e nutricional e o marco de referncia da educao Popular para as prticas promotoras de sade e da alimentao adequada e saudvel; alm de sinalizar que como estabelece a constituio brasileira, dever do estado garantir o direito humano alimentao adequada e saudvel e, com ele, a soberania e a segurana alimentar e nutricional. ressalta-se que o contedo do Guia contribui para a implementao ou efetivao dessas polticas pblicas, alm de fomentar a atuao organizada de cidados nos espaos pblicos.

5.1.4 Sobre o papel do Estado referente Segurana Alimentar e Nutricional e o Direito Humano Alimentao Adequada e Saudvel

a elaborao desta nova edio do guia alimentar ocorre em meio ao fortalecimento da institucionalizao da Poltica nacional de segurana alimentar e nutricional (Pnsan) (BrasiL, 2010a), constituindo-se como instrumento de educao alimentar e nutricional para apoiar e incentivar prticas alimentares saudveis no mbito individual e coletivo, bem como para subsidiar polticas, programas e aes que visem a incentivar, apoiar, proteger e promover a sade e a segurana alimentar e nutricional da populao, como destacado no Prembulo. Com a proposta de fornecer informaes confiveis sobre uma alimentao adequada e saudvel, o Guia contribui para o empoderamento dos indivduos, no sentido de realizarem escolhas alimentares mais adequadas e, no apenas isso, tambm propiciando uma reflexo sobre os sistemas alimentares, sobre os impactos de suas escolhas e sobre o significado social, econmico, ambiental e cultural das prticas alimentares. o direito Humano alimentao

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adequada (dHaa) consiste no direito de todo ser humano ter acesso fsico e econmico, ininterruptamente, a uma alimentao adequada. a segurana alimentar e nutricional, por sua vez, consiste na realizao do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base as prticas alimentares promotoras de sade que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econmica e socialmente sustentveis (BrasiL, 2006a). ambos os conceitos foram desenvolvidos e desenhados ao longo dos anos a partir da declarao Universal dos direitos Humanos em 1948, assumindo uma inter-relao tal que o direito a uma alimentao adequada no se restringe apenas ao acesso a uma quantidade mnima de calorias ou alimentos, mas est intimamente relacionada com o reconhecimento da obrigatoriedade do estado de prover um rol, indissocivel, de outros direitos humanos.

nesse sentido, garantir o direito alimentao adequada perpassa a garantia de um acesso a uma alimentao que respeite o contexto cultural, social, econmico e ambiental de maneira sustentvel, sem prejudicar ou inviabilizar o acesso a outros direitos fundamentais do indivduo. a san , ento, entendida como base e contexto para a realizao do dHaa. a Pnsan tem entre suas diretrizes, entre outras, a promoo do acesso universal alimentao adequada e saudvel, a promoo do abastecimento e estruturao de sistemas alimentares sustentveis de base agroecolgica e a instituio de processos permanentes de educao alimentar e nutricional. os esforos para promoo da segurana alimentar e nutricional dependem, desta forma, de uma articulao intersetorial que conjugue esforos do setor pblico e sociedade civil organizada para sua realizao. a Poltica nacional de alimentao e nutrio articuladora de diversas aes que contribuem para a san, destacando-se o direito sade e o dHaa. a garantia da san, como exposto, depende de esforos dos diversos setores, sendo que os pontos de ateno da rede de sade so essenciais para a articulao intersetorial nos territrios.

Essas reflexes, associadas s recomendaes prticas do Guia, favorecem a adoo de prticas alimentares saudveis pelos

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indivduos bem como estimulam a atuao organizada deles, a partir da reivindicao de aes pblicas, institucionais e mesmo privadas, que tornem o ambiente mais propcio para a adoo das recomendaes e contribuam para a garantia do direito humano alimentao adequada e saudvel e da segurana alimentar e nutricional.

5.1.5 Sobre os sistemas alimentares sustentveis

A verso final do Guia Alimentar evidencia e fomenta a discusso sobre os sistemas alimentares, reforando, ao longo de todo o documento, a influncia das etapas de produo ao consumo do sistema alimentar. O Guia considera a complexidade e os desafios que envolvem a conformao dos sistemas alimentares atuais para a promoo e a realizao do direito humano alimentao adequada. Um dos princpios do Guia ressalta que a alimentao adequada e saudvel deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentvel, pontuando aspectos fundamentais relativos produo e distribuio dos alimentos, ao impacto social, agricultura familiar, s monoculturas, entre outros. reconhece-se o tema como estratgico e indispensvel para a promoo da alimentao adequada e saudvel e, principalmente, para a garantia da soberania alimentar. destaca-se que a depender de suas caractersticas, o sistema de produo e distribuio dos alimentos pode promover justia social e proteger o ambiente; ou, ao contrrio, gerar desigualdades sociais e ameaas aos recursos naturais e biodiversidade.

o Captulo 2 apresenta recomendaes gerais que orientam a escolha de alimentos para compor uma alimentao nutricionalmente balanceada, saborosa e culturalmente apropriada e, ao mesmo tempo, promotora de sistemas alimentares socialmente e ambientalmente sustentveis. o documento valoriza e fomenta as pessoas a buscarem alimentos orgnicos e de base agroecolgica, pois essas aes apoiam os produtores da agroecologia familiar e nos aproximam de um sistema alimentar mais justo. dessa

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forma, o Guia Alimentar induz uma reflexo sobre o impacto das prticas alimentares dos indivduos e promove a autonomia para escolhas alimentares mais saudveis que podem contribuir para a reestruturao de um sistema alimentar mais social, econmico, cultural e ambientalmente sustentvel.

o Guia alimentar foi elaborado no contexto de duas importantes polticas que contribuem para a segurana alimentar e nutricional: a Poltica nacional de segurana alimentar e nutricional (Pnsan) que possui como diretriz a promoo do abastecimento e da estruturao de sistemas sustentveis e descentralizados, de base agroecolgica, de produo, extrao, processamento e distribuio de alimentos (BrasiL, 2010a) e o Plano nacional de agroecologia e Produo orgnica (Planapo), que possui como uma das atividades a promoo de sistemas justos e sustentveis de produo, distribuio e consumo de alimentos (BrasiL, 2013). reconhece-se o compromisso e o papel do Guia, como instrumento de educao alimentar e nutricional, no fortalecimento e na promoo de sistemas alimentares socialmente e ambientalmente sustentveis, como considerado no Prembulo do documento.

5.1.6 Sobre a abordagem de agrotxicos, orgnicos e transgnicos

este tema foi revisado e ampliado, visando atender as contribuies recebidas. o Guia incentiva, valoriza e recomenda o consumo de alimentos orgnicos e de base agroecolgica e considera fundamental o uso sustentvel do meio ambiente na produo de alimentos, mostrando-se em sintonia com o Plano nacional de agroecologia e Produo orgnica (Planapo), que uma poltica pblica do governo federal criada para ampliar e efetivar aes para orientar o desenvolvimento rural sustentvel (BrasiL, 2013). no Captulo 1, um dos princpios apresentados destaca que a alimentao saudvel deriva de sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentvel. ressalta que

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alimentos orgnicos e de base agroecolgica so alimentos de origem vegetal ou animal oriundos de sistemas que promovem o uso sustentvel dos recursos naturais, que produzem alimentos livres de contaminantes, que protegem a biodiversidade, que contribuem para a desconcentrao das terras produtivas e para a criao de trabalho e que ao mesmo tempo respeitam e aperfeioam saberes e formas de produo tradicionais.

Todavia, reconhece-se que ainda existem desafios e obstculos para o acesso e o consumo desses alimentos pela maioria da populao.

Cabe destacar que a agncia nacional de Vigilncia sanitria (anvisa) coordena as aes na rea de toxicologia no sistema nacional de Vigilncia sanitria, com o objetivo de regulamentar, analisar, controlar e fiscalizar produtos e servios que envolvam riscos sade agrotxicos, componentes e afins e outras substncias qumicas de interesse toxicolgico. alm disso, o ministrio do desenvolvimento agrrio (mda) busca promover a democratizao do acesso terra, a incluso produtiva, a ampliao de renda da agricultura familiar e a paz no campo, contribuindo com a soberania alimentar, o desenvolvimento econmico, social e ambiental do Pas. Cabe destacar que a Comisso nacional de agroecologia e Produo orgnica (Cnapo), formada por integrantes da sociedade civil e do governo federal, aprovou o mrito do Programa nacional de reduo de agrotxicos (Pronara). ressalta-se tambm que o ministrio da agricultura, Pecuria e abastecimento (mapa) o rgo responsvel pela gesto das polticas pblicas de estmulo agropecuria, pelo fomento do agronegcio e pela regulao e normatizao de servios vinculados ao setor. Com a integrao do desenvolvimento sustentvel e da competitividade, o mapa visa garantia da segurana alimentar da populao brasileira e a produo de excedentes para exportao, fortalecendo o setor produtivo nacional e favorecendo a insero do Brasil no mercado internacional.

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5.1.7 Sobre a questo cultural

o Guia destaca a questo cultural, como importante aspecto a ser valorizado na promoo da alimentao adequada e saudvel, como afirmado no item anterior. O conceito de alimentao que subsidia o documento ressalta que esta deve ser referenciada pela cultura alimentar. alm disso, os princpios enunciados no Guia reforam as dimenses culturais e sociais das prticas alimentares, ressaltando um olhar abrangente da relao entre alimentao e sade. O documento reconhece que alimentos especficos, preparaes culinrias que resultam da combinao e preparo desses alimentos e modos de comer particulares constituem parte importante da cultura de uma sociedade. destaca-se tambm que os diferentes saberes utilizados na formulao de guias alimentares so essenciais para assegurar que recomendaes sobre alimentao sejam consistentes, apropriadas e factveis, respeitando a identidade e a cultura alimentar da populao. ainda, os valores culturais so ressaltados como um dos fatores fundamentais na constituio da autonomia para escolhas mais saudveis, afirmando que a adoo de uma alimentao saudvel no se trata somente de uma escolha individual.

o Captulo 2 orienta que a escolha dos alimentos deve ser, alm de outros aspectos, culturalmente apropriada. importante sinalizar que as recomendaes do Guia foram baseadas na alimentao de um quinto dos brasileiros, segundo dados da Pesquisa de oramentos Familiares (PoF) 2008-2009, mostrando o cuidado na elaborao delas, na preservao dessa identidade alimentar e na autonomia dos indivduos. O Guia afirma que torna-se cada vez mais importante que nossas melhores tradies sejam preservadas. dessa forma, so considerados fundamentais, para a preservao da cultura alimentar, o estmulo s habilidades culinrias, as refeies compartilhadas, a produo de alimentos locais, o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, entre outros. neste contexto, outra publicao do ministrio da sade, Alimentos Regionais Brasileiros, contribui fortemente para divulgar e conhecer a imensa variedade de frutas, hortalias, tubrculos e leguminosas

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existentes em nosso pas. o Plano nacional de segurana alimentar e nutricional (2012/2015), elaborado pela Cmara interministerial de segurana alimentar e nutricional tambm possui como uma das diretrizes

assegurar processos permanentes de educao alimentar e nutricional e de promoo da alimentao adequada e saudvel, valorizando e respeitando as especificidades culturais e regionais dos diferentes grupos e etnias, na perspectiva da segurana alimentar e nutricional e da garantia do direito humano alimentao adequada (Caisan, 2011).

Por isso, as recomendaes apontadas no Guia encontram-se em consonncia com esta temtica, e no conjunto de outras polticas e aes, estimulam e valorizam a questo cultural, chamando a ateno para as tradies alimentares locais e para o patrimnio cultural do Pas.

5.1.8 Sobre a valorizao dos alimentos e preparaes regionais

essa temtica foi revisada e enfatizada ao longo dos captulos, com destaque para os captulos 2 e 3. o Guia considera os alimentos e as preparaes das diversas culturas e regies do Pas, reforando a sua valorizao. ainda, enfatiza que tipos e variedades so produzidos localmente, e no perodo de safra, quando sua produo mxima e apresenta menor preo, alm de maior qualidade e mais sabor. Destaca-se que as orientaes especficas sobre como combinar alimentos na forma de refeies, apresentadas no Captulo 3, foram baseadas no consumo alimentar de uma amostra de mais de 30 mil brasileiros com 10 ou mais anos de idade e representativa de todas as regies do Pas, de suas reas urbanas e rurais e dos vrios estratos socioeconmicos da populao, sendo exemplos reais de combinaes de alimentos e refeies.

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No exemplo de caf da manh, destaca-se que A variedade reflete preferncias regionais exemplificadas com o consumo da tapioca, do cuscuz e do bolo de milho. outros alimentos e preparaes regionais citadas so o nosso arroz com feijo, o tutu, o arroz com jambu do Par, o arroz com pequi de Gois e a farinha de mandioca com pequi da amaznia. mais exemplos e uma vasta lista de alimentos presentes em todas as regies brasileiras e tpicos da nossa flora e fauna so apresentados na publicao Alimentos Regionais Brasileiros, que foi lanada em 2014.

5.1.9 Sobre o custo da alimentao

o Captulo 5 do Guia dedicou-se, exclusivamente, a tratar de alguns obstculos e desmistificar algumas ideias em relao alimentao saudvel. Um dos tpicos abordados sobre o custo da alimentao saudvel, comumente assumida como mais cara do que uma alimentao no saudvel. Clculos realizados com base nas Pesquisas de oramentos Familiares (PoF), do instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), mostram que, no Brasil, a alimentao baseada em alimentos in natura ou minimamente processados e em preparaes culinrias feitas com esses alimentos no apenas mais saudvel do que a alimentao baseada em alimentos ultraprocessados, mas tambm mais barata. a impresso de que a alimentao saudvel necessariamente cara decorre do preo relativamente mais alto de alguns alimentos perecveis como legumes, verduras e frutas. embora, individualmente, esses alimentos possam ter preo superior ao de alguns alimentos ultraprocessados, o custo total de uma alimentao baseada em alimentos in natura ou minimamente processados ainda menor no Brasil do que o custo de uma alimentao baseada em alimentos ultraprocessados.

sugestes para aquisio de alimentos a um menor custo incluem: compra de frutas, verduras e legumes da safra; compra em locais onde sejam mais prximos dos produtores, como sacoles e

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varejes ou mesmo diretamente nas feiras de produtores. Pessoas que se alimentam fora de casa podem economizar e assumir uma alimentao mais saudvel se levarem comida de casa ou comerem em locais que oferecem alimentos feitos na hora.O Guia tambm assume como importante o impacto dos consumidores no aumento da demanda por alimentos mais saudveis, como aqueles de base agroecolgica e orgnica, induzindo um aumento na produo, no nmero de produtores e, consequentemente, na reduo dos preos.

Unem-se a esse movimento o estmulo cobrana para instalao de equipamentos pblicos de comercializao de alimentos in natura e minimamente processados a preos acessveis e a criao de restaurantes populares e cozinhas comunitrias. em suma, o Guia defende como saudvel uma alimentao baseada em alimentos in natura e minimamente processados em sintonia com prticas alimentares tradicionais, com sistemas alimentares socialmente e culturalmente sustentveis e com viabilidade econmica para toda a populao.

5.1.10 Sobre a incluso da temtica do vegetarianismo

o Guia reconhece o vegetarianismo como prtica alimentar de uma parcela significativa da populao brasileira e que est em consonncia com os princpios e as recomendaes do documento. esse tema foi revisado, visando contemplar essa parcela da populao. as recomendaes gerais quanto a basear a alimentao em alimentos in natura ou minimamente processados e a evitar alimentos ultraprocessados se aplicam a todos, incluindo os vegetarianos. Cabe destacar, que o Guia no recomenda pores mnimas de alimentos ou grupos de alimentos especficos, possibilitando maior flexibilidade no consumo de diferentes tipos de alimentos e grupos de alimentos. reconhece que o consumo de carnes ou de outros alimentos de origem animal, como o de qualquer outro grupo de alimentos, no seja absolutamente

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imprescindvel para uma alimentao saudvel. Contudo, alerta-se que a restrio de qualquer alimento obriga que se tenha maior ateno na escolha da combinao dos demais alimentos que faro parte da alimentao e Quanto mais restries, maior a necessidade de ateno e, eventualmente, do acompanhamento por um nutricionista, j que orientaes especficas para restrio de alimentos, como a restrio ao consumo de leite ou de trigo, no so tratadas neste Guia.

5.1.11 Sobre a atuao do profissional nutricionista

O Guia reconhece e valoriza a atuao do profissional nutricionista, cabendo lembrar como uma de suas atribuies especficas e atividade privativa, a orientao e prescrio diettica. dessa forma, o documento esclarece que as recomendaes enunciadas so para a toda populao, sendo que alguns sero trabalhadores envolvidos na promoo da sade e segurana alimentar e nutricional, sendo considerado um instrumento de educao alimentar e nutricional, em consonncia com o marco de referncia de educao alimentar e nutricional, destacado no Prembulo. no entanto, destaca-se que imprescindvel que nutricionistas adaptem as recomendaes s condies especficas de cada pessoa, apoiando profissionais de sade na organizao da ateno nutricional. ainda, o Guia sinaliza que quanto mais restries, maior a necessidade de ateno e, eventualmente, do acompanhamento por um nutricionista. Ressalta-se que as oficinas realizadas, durante o processo de Consulta Pblica, foram feitas em parceria com os Conselhos regionais de nutrio e o apoio do Conselho Federal de Nutrio, reforando a importncia desse profissional na construo do material. a participao do nutricionista assumiu funo estratgica para a realizao desse debate. ressalta-se que o Guia alimentar para a Populao Brasileira se constitui em uma das estratgias para implementao da diretriz de promoo da alimentao adequada e saudvel que integra a Poltica nacional

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de alimentao e nutrio, sendo uma poltica fundamental para subsidiar a prtica do profissional nutricionista.

5.1.12 Sobre a importncia da qualidade higinico-sanitria

essa temtica foi revisada e ressaltada ao longo do Captulo 3, apresentando um tpico sobre os Cuidados na escolha, conservao e manipulao de alimentos. o Guia destaca que alimentos no corretamente higienizados, utenslios sujos, insetos e as prprias pessoas podem ser fontes de contaminao. Para assegurar a qualidade da alimentao e evitar riscos de infeces ou intoxicaes, os alimentos devem ser escolhidos, conservados e manipulados de forma correta. sem a pretenso de esgotar as discusses sobre a temtica, as orientaes sobre qualidade sanitria dos alimentos so fornecidas ao final do Captulo 3, de maneira prtica e coerente com as demais recomendaes do Guia.

ressalta-se que a Poltica nacional de alimentao e nutrio tem como uma de suas diretrizes o controle e regulao dos alimentos, entendendo este eixo como fundamental para modificar os determinantes de sade e promover a sade da populao. a preocupao na oferta de alimentos seguros em termos biolgicos, sanitrios, nutricionais e tecnolgicos deve acompanhar toda a cadeia produtiva, desde a produo, passando pelo processamento, comercializao, abastecimento e distribuio. a responsabilidade do estado, com outros setores da sociedade, compreende o fortalecimento e uso dos instrumentos legais para controle desses processos, a adoo de padres de qualidade sanitria, a implementao de ferramentas de anlise, o monitoramento de riscos, entre outros.

as aes de promoo da alimentao adequada e saudvel devem incluir aes que garantam a inocuidade dos alimentos, controlando e prevenindo riscos sade, a partir de um processo educativo, participativo e contnuo no intuito de instrumentalizar

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os indivduos e grupos sociais para escolhas mais adequadas e manejo correto dos alimentos. nesse sentido, o Guia alimentar, enquanto instrumento de educao alimentar e nutricional, vem reforar a importncia da qualidade no apenas nutricional da alimentao, trazendo orientaes prticas sobre a escolha, a conservao e o manejo dos alimentos visando reduzir seus potenciais riscos (biolgicos, qumicos e fsicos) que podem levar ao desenvolvimento de doenas e agravos sade da populao. o Guia assume que uma alimentao saudvel um direito humano bsico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular a uma prtica alimentar adequada aos aspectos biolgicos, entre outros, os quais abrangem tanto os aspectos nutricionais quanto a segurana higinico-sanitria.

5.1.13 Sobre a orientao referente rotulagem de alimentos

esse tema foi revisado e incorporado, principalmente, quando se trata da escolha dos alimentos. o Guia reconhece que a leitura do rtulo dos alimentos, especialmente em relao lista de ingredientes, uma forma prtica de distinguir alimentos ultraprocessados de alimentos processados e minimamente processados, ajudando os indivduos a fazerem escolhas mais saudveis. essa informao foi includa nos captulos 2 e 3 do Guia: Uma forma prtica de distinguir alimentos ultraprocessados de alimentos processados consultar a lista de ingredientes que, por lei, deve constar dos rtulos de alimentos embalados que possuem mais de um ingrediente.; [...] o que pode ser comprovado com a leitura da longa lista de ingredientes informada no rtulo do produto.; e [...] importante consultar o rtulo dos produtos para dar preferncia queles com menor teor de sal ou acar. Considerando que a anvisa o rgo responsvel pela regulao da rotulagem de alimentos no Brasil e que disponibiliza diversos materiais informativos e legislaes que tratam desse assunto, foi includa a publicao Rotulagem nutricional obrigatria (anVisa, 2005) na seo Para saber mais do Guia. essa publicao apresenta a legislao brasileira

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para a rotulagem de alimentos no Pas e discute como algumas informaes obrigatoriamente presentes nos rtulos dos alimentos embalados, como a lista de ingredientes, podem contribuir na escolha dos produtos.

5.2 ProPostas ParCiaLmente aCeitas de mUdana no doCUmento

5.2.1 Sobre a recomendao de consumo de alimentos industrializados

as recomendaes sobre alimentos processados e ultraprocessados foram revisadas, e algumas sugestes foram incorporadas na nova verso. entre elas esto: o termo alimento foi adotado em vez de produto; adoo de recomendaes separadas para alimentos processados e alimentos ultraprocessados; reconhecimento do consumo em pequenas quantidades de alimentos processados, como ingredientes de preparaes culinrias ou parte de refeies baseadas em alimentos in natura ou minimamente processados; e incluso do leite ultrapasteurizado (UHt) como alimento minimamente processado. a ampla reviso do tema tambm fortaleceu a deciso de manter a recomendao de evitar o consumo de alimentos ultraprocessados. recentemente a organizao das naes Unidas para alimentao e agricultura (Fao), em relatrio sobre segurana alimentar e nutricional, reconheceu que o consumo elevado de alimentos ricos em acares, sal e gordura pela populao brasileira reflexo do aumento preocupante no consumo de alimentos e bebidas industrializados e ultraprocessados (Fao, 2014). a venda e o consumo de alimentos ultraprocessados vm aumentando rapidamente no Brasil e no mundo. estudos recentes tm mostrado que esses alimentos ultraprocessados so nutricionalmente desequilibrados, pois, geralmente, possuem elevada densidade energtica, contm grandes quantidades de

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gordura total, gordura saturada, gordura trans, acares livres e sdio, possuem altas cargas glicmicas e contm pouca ou nenhuma fibra, micronutrientes e outros compostos bioativos de proteo, que esto naturalmente presentes em alimentos in natura e minimamente processados. assim, ressalta-se a ampla e reconhecida evidncia que ancora a abordagem do uso da classificao baseada no nvel de processamento proposta na nova verso do Guia alimentar.

5.2.2 Sobre a temtica das gorduras

o Guia apresenta uma abordagem baseada nos alimentos e suas combinaes e preparaes culinrias, e no baseada em nutrientes. de toda forma, considera que se utilizados em pequenas quantidades, leos e gorduras, (independentemente do tipo) no apresentam risco a priori para a sade, principalmente se considerarmos uma alimentao baseada em alimentos in natura e minimamente processados. o Guia no diferencia tipos de carboidratos, protenas e lipdios, mas reconhece a importncia da variedade da alimentao, incluindo todos os grupos de alimentos e dentro de cada grupo, de maneira a contemplar grande oferta de macro e micro nutrientes na alimentao. Um alerta especial dado em relao a alguns alimentos cujo consumo, segundo os dados da PoF, est aumentando na populao. entre os principais motivos que justificam o alerta est a elevada quantidade de gordura saturada desses alimentos. apesar de publicaes recentes terem levantado controvrsias em relao aos malefcios do consumo excessivo de gordura saturada, no h evidncias suficientes que justifiquem assumir posio contrria quela assumida pela organizao mundial da sade (isto , restringir o consumo de gordura saturada a menos do que 10% das calorias totais dirias). segundo o dr. Walter Willet, da Universidade de Harvard, Boston, importante esclarecer que a questo central o que substitui a gordura saturada quando um indivduo reduz a quantidade de gordura saturada da sua alimentao (WiLLett et al., 2014). se a gordura saturada for

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substituda por amido ou acar refinado, presente em alimentos normalmente de elevada densidade energtica, ento o risco de doena do corao permanece o mesmo. no entanto, caso a gordura saturada seja substituda por outro tipo de gordura, como as gorduras insaturadas (presentes principalmente em alimentos in natura e minimamente processados, como os leos vegetais e as castanhas), h diversas evidncias de que o risco ser reduzido.

5.2.3 Sobre a recomendao diria de gua

O tpico gua foi revisado e algumas modificaes foram realizadas, como a supresso da necessidade de sentir sede para beber gua. a importncia de consumir gua destacada no Guia, porm a quantidade diria recomendada no abordada, assim como outras recomendaes especficas, em coerncia com a abordagem qualitativa adotada. o Guia explica que

como a quantidade de qualquer alimento, a quantidade de gua que precisamos ingerir por dia muito varivel e depende de vrios fatores, como idade e o peso da pessoa, a atividade fsica que realiza e, ainda, o clima e a temperatura do ambiente onde vive. importante ressaltar que os seres humanos so capazes de regular de maneira eficiente o balano dirio de gua, de modo que, ao longo do dia, a quantidade ingerida corresponda gua que foi utilizada ou eliminada pelo corpo. o balano dirio de gua controlado por sofisticados sensores localizados em nosso crebro e em diferentes partes do nosso corpo. esses sensores nos fazem sentir sede e nos impulsionam a ingerir lquidos sempre que a ingesto de gua no suficiente para repor a gua que utilizamos ou eliminamos. atentar para os primeiros sinais de sede e satisfazer de pronto a necessidade de gua sinalizada por nosso organismo muito importante.

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Consistente com as recomendaes gerais deste guia, a gua que ingerimos deve vir predominantemente do consumo de gua como tal e da gua contida nos alimentos e preparaes culinrias. a maioria dos alimentos in natura ou minimamente processados e das preparaes desses alimentos tm alto contedo de gua. Quando a alimentao baseada nesses alimentos e preparaes, usual que eles forneam cerca de metade da gua que precisamos ingerir. Essas recomendaes, presentes no Guia, reafirmam a importncia da gua para o bom funcionamento do corpo e de suas funes.

5.2.4 Sobre as informaes de micronutrientes e deficincias nutricionais

O Guia no trata especificamente da temtica de micronutrientes, mas entende que, como instrumento de educao alimentar e nutricional, contribui positivamente para essa questo ao promover a alimentao adequada e saudvel. o Guia reconhece a importncia dos micronutrientes e a expresso das deficincias, recomendando uma alimentao com alimentos in natura ou minimamente processados em especial frutas, verduras e legumes, a qual se aplica a toda a populao e contribui na preveno e no manejo das deficincias nutricionais. Cabe destacar que o Ministrio da Sade desenvolve diversas intervenes para reduzir sua prevalncia, alm de produzir materiais especficos sobre o assunto. Aes para a preveno e o controle de deficincias nutricionais incluem a EAN, a suplementao com micronutrientes e a fortificao mandatria de alimentos.

5.2.5 Sobre a incluso da temtica de atividade fsica

o Guia entende que a atividade fsica representa um dos determinantes de sade, sendo as necessidades nutricionais

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influenciadas pelo nvel de atividade fsica dos indivduos, entre outros aspectos, como apontados ao longo do texto do documento. nos ltimos anos, a discusso sobre as prticas corporais e a atividade fsica tem avanado, sendo contemplada em diversas polticas, programas e materiais em mbito nacional e internacional. a Poltica nacional de Promoo da sade apresenta aes especficas sobre esta temtica, alm da Estratgia Global para a Promoo da alimentao saudvel, atividade Fsica e sade, da oms, que cria oportunidades para promoo da sade e preveno de doenas crnicas no transmissveis. Porm, esta temtica merece ateno e detalhamento, alm de aes especficas, sendo amplamente abordada em outros materiais do ministrio da sade, que promovem e qualificam essa prtica.

5.3 ProPostas no aCeitas de mUdana no doCUmento

5.3.1 Sobre a incluso da abordagem quantitativa

o Guia aborda a alimentao de forma qualitativa e valoriza a combinao de alimentos, sem enfatizar as quantidades. Uma vez que as necessidades nutricionais das pessoas, particularmente de calorias, so muito variveis, dependendo de sua idade, sexo, tamanho (peso, altura) e do nvel de atividade fsica, torna-se invivel definir recomendaes de quantidades universais, como apresentadas no Captulo 3. alm disso, o Guia alimentar, enquanto ferramenta para apoiar aes de educao alimentar e nutricional, para todos os indivduos e profissionais, sendo as orientaes especficas uma responsabilidade do profissional nutricionista. Destaca-se que imprescindvel que nutricionistas adaptem as recomendaes s condies especficas de cada pessoa, apoiando profissionais de sade na organizao da ateno nutricional. dentro dessa lgica, tornam-se mais coerentes e factveis de aplicao, por

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parte do leitor do Guia, recomendaes de carter qualitativo, compreendendo: quais tipos de alimentos devem ser privilegiados, quais devem ser restringidos ou evitados; quais atitudes devem ser estimuladas, como o desenvolvimento de habilidades culinrias, planejamento do tempo, organizao das refeies no contexto das tarefas dirias, escolha dos locais de compra dos alimentos, prticas alimentares saudveis; e quais ambientes mais adequados para a realizao das refeies. ressalta-se que a alimentao uma prtica social que integra diferentes dimenses: biolgica, sociocultural, ambiental, poltica, econmica, ou seja, para alm da necessidade fisiolgica e ingesto de nutrientes, envolve crenas e valores partilhados por determinados grupos, alm das relaes envolvidas no processo de produo, comercializao e consumo de alimentos. o ato de comer tambm envolve tempo e foco, espao e companhia que influenciam o aproveitamento dos alimentos e o prazer proporcionado pela alimentao.

assim, o Guia apresenta uma abordagem qualitativa da alimentao, sem destacar quantidades e pores. Aps a oficina de avaliao da verso atual do Guia, pde-se constatar que as recomendaes baseadas em quantidades e pores ficavam restritas aos profissionais nutricionistas para a prescrio diettica e, nem sempre, conseguem comunicar e contribuir para escolhas alimentares mais saudveis, atingir de fato outros profissionais de sade e ampliar a autonomia da populao. tendo em vista que as necessidades nutricionais individuais so muito variveis, optou-se por no abordar as quantidades e pores neste material e de no padroniz-los para toda a populao. no entanto, no Captulo 3 so apresentados exemplos de refeies saudveis e de combinaes de alimentos para a populao brasileira, alm de imagens ilustrativas.

reconhecemos, contudo, que recomendaes e orientaes com uma abordagem mais quantitativa, em casos especficos, so fundamentais e devem ser realizadas de forma individualizada pelo profissional nutricionista, considerando a realidade social, econmica e cultural dos usurios atendidos. Para esse objetivo, est sendo desenvolvido pelo ministrio da sade o Manual de Planejamento Diettico no SUS para os profissionais nutricionistas que trabalham

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no sUs, que servir de apoio para a orientao e prescrio nutricional a partir das recomendaes do Guia alimentar, levando em considerao no apenas o aspecto nutricional, mas tambm alimentar (escolhas, atitudes, comportamentos, ambientes, entre outros).

5.3.2 Sobre a incluso da temtica de bebidas alcolicas

em relao s bebidas alcolicas, decidiu-se no incluir este assunto devido natureza do Guia, que no estimula o consumo delas. em consonncia com outras polticas de sade, reconhecem-se os efeitos deletrios do lcool e que este considerado uma droga psicotrpica, pois atua no sistema nervoso central, provocando mudana no comportamento de quem o consome, alm de ter potencial para desenvolver dependncia. Cabe ressaltar que o consumo de lcool cultural, sendo legalmente permitido e aceito em quase todas as sociedades do mundo. Porm, diversos estudos apontam para o aumento significativo de seu consumo nos ltimos anos, principalmente entre jovens, com graves consequncias para a sade pblica. o enfrentamento desta problemtica constitui uma demanda mundial: de acordo com a organizao mundial da sade (oms), cerca de 10% das populaes dos centros urbanos de todo o mundo consomem abusivamente substncias psicoativas, independentemente de idade, sexo, nvel de instruo e poder aquisitivo. Reafirmando a preocupao em sade pblica a respeito do consumo abusivo de lcool e outras drogas e buscando subsidiar a construo coletiva de seu enfrentamento, o ministrio da sade possui uma Poltica para a ateno integral ao Uso de lcool e outras drogas (BrasiL, 2004). outra referncia a Poltica Nacional de Promoo Sade, que prev como ao especfica a reduo da morbimortalidade em decorrncia do uso abusivo de lcool e outras drogas, reforando o cuidado referente a esta temtica. alm disso, o consumo de bebida alcolica apontado como um dos determinantes sociais das doenas crnicas no transmissveis (dCnt) no Plano de aes estratgicas para o

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enfrentamento das doenas crnicas no transmissveis (dCnt) no Brasil 2011-2022, sendo previsto como uma de suas principais aes o aumento de impostos dos produtos derivados do tabaco e lcool, com o objetivo de reduzir o consumo deles (BrasiL, 2011).

5.3.3 Sobre as recomendaes de alimentao saudvel por fases do ciclo da vida

as recomendaes do Guia so destinadas a toda a populao brasileira maior de 2 anos, incluindo crianas, adolescentes, adultos e idosos, e tem como objetivo promover a alimentao adequada e saudvel e favorecer escolhas alimentares mais saudveis e sustentveis. outros materiais do ministrio da sade abordam orientaes especficas para as fases do curso da vida e tambm recomendaes para alguns agravos mais prevalentes, como hipertenso, diabetes e obesidade, tais como os Dez passos para uma alimentao saudvel: guia alimentar para crianas menores de 2 anos, Alimentao saudvel para a pessoa idosa: um manual para profissionais de sade, os Cadernos de Ateno Bsica, entre outros.

5.3.4 Sobre o papel do governo na taxao para produtos alimentcios

o Guia, enquanto instrumento de educao alimentar e nutricional (ean), tem como objetivo apoiar escolhas alimentares saudveis pela populao e contribuir para reflexo crtica acerca dos determinantes da alimentao, podendo contribuir inclusive para discusso de polticas pblicas na rea de alimentao e nutrio. o governo federal reconhece a importncia de polticas pblicas de incentivo e apoio comercializao de alimentos saudveis, principalmente obtidos da agricultura familiar, incluindo polticas fiscais como subsdios de alimentos saudveis e taxao de

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alimentos ultraprocessados, tema este, objeto de outras iniciativas que vo alm desse instrumento de ean. entendendo que esta questo deve ser tratada de maneira intersetorial, o ministrio da sade, no mbito da Cmara interministerial de segurana alimentar e nutricional (Caisan), contribuiu na elaborao da estratgia intersetorial de Preveno e Controle da obesidade, que prev polticas de incentivo acessibilidade fsica no mbito das comunidades, como medidas de apoio ao comrcio varejista de hortifrutigranjeiros nos centros urbanos, alm de medidas de regulao de preos e de mercados. Para os estados e os municpios, a estratgia recomenda: a realizao de estudos e pesquisas sobre polticas fiscais, como subsdios de alimentos e taxao de alimentos processados, visando substituir o consumo de alimentos processados e utraprocessados por frutas e hortalias, gros integrais, leguminosas, oleaginosas e peixes; a realizao de consultas e/ou fruns de discusso que oportunizem um debate ampliado sobre os subsdios brasileiros na cadeia produtiva e sobre como o setor econmico pode favorecer a adoo de hbitos alimentares mais saudveis pela populao. espera-se, assim, que o Guia possa contribuir, de maneira positiva, para o incentivo e a implementao de tais polticas e programas, ampliando ainda o escopo dessas aes.

5.3.5 Sobre a incluso de recomendao de produtos diet e light

Como citado em outros tpicos, o Guia ressalta e estimula o consumo de alimentos in natura e minimamente processados, no cabendo a recomendao de produtos especficos. O documento afirma que

alimentos in natura ou minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal, so a base para uma alimentao nutricionalmente balanceada, saborosa, cultural-

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mente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentvel.

devido a sua composio, os produtos diet e light so considerados alimentos ultraprocessados. sinaliza-se que, com frequncia, a reformulao dos produtos no traz benefcios claros. o Guia ainda destaca que o problema principal com alimentos ultraprocessados reformulados o risco de serem vistos como produtos saudveis, cujo consumo no precisaria mais ser limitado. a publicidade desses produtos explora suas alegadas vantagens diante dos produtos regulares (menos calorias, adicionado de vitaminas e minerais), aumentando as chances de que sejam vistos como saudveis pelas pessoas. ressalta-se tambm, que

embora cada aditivo utilizado nesses produtos tenha que passar por testes e ser aprovado por autoridades sanitrias, os efeitos de longo prazo sobre a sade e o efeito cumulativo da exposio a vrios aditivos nem sempre so bem conhecidos.

reconhece-se, no entanto, que produtos diet e light podem compor uma prescrio diettica individualizada, orientada pelo profissional nutricionista, porm no objeto deste Guia.

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6 OUTROS ESCLARECIMENTOS

6.1 soBre as estratGias de ComUniCao e diVULGao do GUia

no ano de 2014, o ministrio da sade concluiu o processo de consolidao das contribuies da Consulta Pblica, finalizao e publicao do Guia Alimentar para a Populao Brasileira. Considerando a diversidade das realidades regionais brasileiras e os diferentes grupos populacionais a quem esse Guia se destina, a prxima etapa envolve o desenvolvimento de estratgias para divulgar e comunicar o contedo deste documento, incluindo a elaborao de outros materiais como manuais, cartazes, folhetos, vdeos e oferta de cursos de formao presenciais e a distncia. alm disso, o ministrio da sade est elaborando um Manual de Planejamento Diettico no Sistema nico de Sade destinado aos nutricionistas que atuam em diferentes servios das redes de ateno sade (Hospitais Gerais e especializados, Policlnicas, Unidades Bsicas de sade, Centros de ateno Psicossocial, residncias teraputicas, Unidades de Urgncia e emergncia, ateno especializada ambulatorial, ateno domiciliar, entre outros) com o objetivo de desenvolver um instrumento para contribuir para ateno da organizao nutricional. o Grupo de trabalho constitudo vem desenvolvendo reunies peridicas para discusso do material e, at o momento, realizou-se uma oficina com profissionais de diversas regies do Pas, que atuam em diferentes pontos de ateno, como tambm uma reunio com consultores da organizao mundial da sade (oms) e da organizao Pan-americana da sade (opas) e uma chamada pblica sobre materiais de planejamento diettico, medidas caseiras e pores de alimentos elaborados por profissionais de sade, universidades, centros de pesquisas, entre outros. outras estratgias previstas referem-se distribuio e ao acesso do Guia por toda a populao e profissionais de sade. A distribuio impressa do Guia, de 60 mil exemplares, ser realizada para todas as Unidades Bsicas de sade, a partir das respectivas secretarias estaduais e municipais

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de sade, alm de ser disponibilizada uma verso on-line, no site do ministrio da sade. a reproduo tambm pode ser realizada pelas prprias secretarias de sade e outros rgos institucionais.

6.2 soBre o ProCesso de traBaLHo Para eLaBorao do GUia aLimentar

o ministrio da sade considera fundamental a transparncia do processo de construo do Guia e o trabalho participativo desenvolvido. Por isso, a descrio do processo de elaborao da nova edio do Guia alimentar para a Populao Brasileira foi incorporado no anexo a do documento, sendo apresentado todas as etapas, os parceiros tcnicos e os participantes das oficinas, alm de incluirmos, neste relatrio, a minuta de Portaria da Consulta Pblica publicada no Dirio Oficial da Unio (DOU), a relao das instituies participantes da Consulta Pblica por segmento e a ampla divulgao da consulta em sites institucionais.

6.3 soBre o PBLiCo-aLVo do GUia

Como afirmado no Prembulo, o Guia se constituiu em um marco de referncia para indivduos e famlias, governos e profissionais de sade sobre a promoo da alimentao adequada e saudvel, sendo elaborado para todos os brasileiros. trata-se de um instrumento de educao alimentar e nutricional, que apoia e estimula prticas alimentares saudveis e subsidia, tanto profissionais que trabalham com ean, como indivduos, a realizarem escolhas mais adequadas, promovendo a autonomia deles.

almeja-se que este guia seja utilizado nas casas das pessoas, nas unidades de sade, nas escolas e em todo e qualquer espao onde atividades de promoo da sade tenham lugar, como centros comunitrios, centros de referncia de assistncia social, sindicatos, centros de formao de trabalhadores e sedes de movimentos sociais.

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Cabe ressaltar, como foi apontado em outros tpicos, que quanto mais restries, maior a necessidade de ateno e, eventualmente, do acompanhamento por um nutricionista. assim, o Guia apresenta as diretrizes alimentares oficiais, abordadas de forma compreensvel e que sejam possveis de serem adotadas por toda a populao e profissionais do Pas.

6.4 soBre o Uso da CLassiFiCao de aLimentos adotada no GUia aLimentar

o Guia Alimentar para a Populao Brasileira um material tcnico que tem como objetivo apoiar escolhas alimentares saudveis pelos indivduos, alm de se configurar em um instrumento para apoiar aes de educao alimentar e nutricional no setor sade e tambm em outros setores. O material baseia-se na classificao proposta pelo ncleo de Pesquisas epidemiolgicas em nutrio e sade, da Faculdade de sade Pblica da Universidade de so Paulo, constituindo um novo sistema de classificao, em que os gneros alimentcios so agrupados com base na natureza e na finalidade do processamento de alimentos, em que sido citado na literatura nacional e internacional e referendado por organismos internacionais, que j adotam essa classificao.

recentemente a organizao das naes Unidas para alimentao e nutrio (Fao), em relatrio sobre segurana alimentar e nutricional, reconheceu que o consumo elevado de alimentos ricos em acares, sal e gordura pela populao brasileira reflexo do aumento preocupante no consumo de alimentos e bebidas industrializados e ultraprocessados, assim como as evidncias cientficas utilizadas na construo do Guia (FAO, 2014). Estudos indicam que o efeito benfico sobre a preveno de doenas advm do alimento em si e das combinaes de nutrientes e outros compostos qumicos que fazem parte da matriz do alimento, mais do que de nutrientes isolados.

Ao enfatizar a classificao de alimentos, segundo seu grau de processamento e no a composio de nutrientes dos alimentos, o

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Guia problematiza o aumento significativo do consumo de alimentos ultraprocessados que favorecem o risco de obesidade, de doenas do corao e de outras doenas crnicas. alm disso, como explicado no Captulo 2, o tipo de processamento empregado na produo de um alimento condiciona o seu perfil de nutrientes, seu sabor e o sabor que ele agrega alimentao, alm de influenciar com quais outros alimentos ele ser consumido, em quais circunstncias (quando, onde, com quem) e, mesmo, em que quantidade. destaca-se que houve excelente aceitao da adoo da classificao dos alimentos segundo nvel de processamento proposta no Guia pelos demais atores participantes da Consulta Pblica, sendo reconhecida como inovadora e adequada pelo Conselho nacional de sade, Conselho nacional de segurana alimentar e nutricional (Consea), associao Brasileira de sade Coletiva (abrasco) e pelos organismos internacionais relacionados agenda de nutrio (Unicef, Fao e opas), universidades, sociedade civil organizada, sociedade civil no organizada e estudantes. Cabe ressaltar, que a classificao adotada possui carter informativo e educativo e no visa normatizar a produo e a comercializao de alimentos. a anvisa, que o rgo responsvel pela regulamentao, controle e fiscalizao de alimentos comercializados no Pas, possui diversas legislaes para este fim e, portanto, apresenta classificaes especficas para diferentes tipos de alimentos. Na seo Para saber mais! possvel ter outras informaes sobre o assunto e as referncias utilizadas.

6.5 soBre a UtiLiZao de dados da PoF 2008-2009

as orientaes e as recomendaes do Guia foram baseadas no consumo alimentar de brasileiros que privilegiam em sua alimentao alimentos in natura ou minimamente processados. o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) foi responsvel pelo estudo anlise do consumo alimentar pessoal no Brasil, resultado de um amplo trabalho que tem por objetivo inferir sobre o perfil de consumo da populao brasileira com 10 anos ou

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mais de idade. esse estudo foi fruto de parceria celebrada com o ministrio da sade que visou investigao de temas de interesse especfico na Pesquisa de Oramentos Familiares (POF 2008-2009) e viabilizou o levantamento de um conjunto de informaes que permitem aprofundar anlises sobre o estado nutricional da populao brasileira. a PoF visa principalmente mensurar as estruturas de consumo, dos gastos, dos rendimentos e parte da variao patrimonial das famlias. o desenho da amostra da ltima PoF foi estruturado de tal modo que propicia a publicao de resultados nos seguintes nveis: Brasil, Grandes regies (norte, nordeste, sudeste, sul e Centro-oeste) e tambm por situaes urbana e rural. entre 2008 e 2009, os dados referentes ao consumo alimentar pessoal foram coletados para todos os moradores com 10 anos ou mais de idade de 13.569 domiclios aleatoriamente selecionados, que corresponderam a uma subamostra de 24,3% dos 55.970 domiclios investigados. desse modo, foram obtidas informaes sobre o consumo alimentar individual de 34.003 moradores. todos os alimentos que esses brasileiros consumiram durante dois dias da semana, em casa ou fora de casa, foram cuidadosamente registrados.

embora pesquisas, anteriores do iBGe, indiquem forte tendncia de aumento no consumo de alimentos ultraprocessados, a PoF 2008-2009 mostra que alimentos in natura ou minimamente processados e preparaes culinrias feitas com esses alimentos ainda correspondem, em termos do total de calorias consumidas, a quase dois teros da alimentao dos brasileiros pesquisados. o nosso arroz com feijo, por exemplo, corresponde a quase um quarto da alimentao. assim, as caractersticas da alimentao brasileira descritas no Guia resultam de anlises da PoF que foram feitas especialmente para apoiar a elaborao do Guia. anlises da PoF mostram ainda que, em seu conjunto, alimentos in natura ou minimamente processados e suas preparaes culinrias apresentam composio nutricional muito superior do conjunto de alimentos processados ou ultraprocessados. a superioridade dos alimentos in natura ou minimamente processados evidente com relao a nutrientes cujo teor na alimentao brasileira, segundo critrios da organizao mundial da sade, considerado

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insuficiente (como fibras e alguns minerais e vitaminas) ou excessivo (como acar ou gorduras saturadas e gorduras trans).

a PoF revela tambm que um quinto da populao brasileira (cerca de 40 milhes de pessoas, se considerarmos todas as idades) ainda baseia sua alimentao em alimentos in natura ou minimamente processados. esses alimentos e suas preparaes culinrias correspondem a 85% ou mais do total das calorias que consomem no dia. as anlises ainda mostram que a alimentao desses brasileiros se aproxima das recomendaes internacionais da organizao mundial da sade para o consumo de protena, de gorduras (vrios tipos), de acar e de fibras e que o seu teor em vitaminas e minerais , na maior parte das vezes, bastante superior ao teor mdio observado no Brasil. destaca-se que pequenas modificaes, como aumento na ingesto de legumes e verduras e reduo no consumo de carnes vermelhas, tornariam o perfil nutricional da alimentao desses brasileiros praticamente ideal. a alimentao desses brasileiros, que so encontrados em todas as regies do Pas e em todas as classes de renda, foi tomada como base para as opes de refeies mostradas no Captulo 3. Uma breve explicao sobre a pesquisa e o uso dos dados para elaborao das orientaes tambm apresentada nesse captulo.

6.6 soBre o nmero de reFeies e eXemPLos de reFeies

o Guia recomenda, no Captulo 3, a diviso em trs refeies principais (caf da manh, almoo e jantar) e pequenas refeies, de acordo com a necessidade do indivduo. o Guia apresenta recomendaes e exemplos de como colocar em prtica as quatro recomendaes gerais e a regra de outro guia, por meio de exemplos, para o consumo nas trs principais refeies e nas pequenas refeies, que podem variar de acordo com a necessidade ou hbito individual. os exemplos de refeies utilizados so reais e foram consumidos pelo grupo de brasileiros, homens e mulheres de todas as regies do Pas, considerando o meio urbano e rural e

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vrias classes de renda, que baseiam sua alimentao em alimentos. de acordo com informaes da PoF, um quinto dos brasileiros baseia sua alimentao em alimentos in natura ou minimamente processados, sendo que neste grupo, 85% das calorias ingeridas so provenientes de alimentos. alm disso, observou-se que esse grupo consome 90% das calorias ingeridas durante o dia em trs principais refeies. o consumo alimentar dessa populao foi utilizado como base para elaborar as recomendaes deste Guia alimentar. os exemplos utilizados, como caf da manh, almoo, jantar e pequenas refeies, so ilustraes que no esgotam as infinitas possibilidades de combinaes de alimentos que podem ser realizadas, mas visam apoiar o entendimento de como adotar as recomendaes desse Guia.Tambm importante destacar o trecho do Guia, que sinaliza essa questo

[...] o leitor deste guia notar que no h destaque nas refeies apresentadas para a quantidade absoluta de cada alimento ou para a quantidade total de calorias nas refeies. esta omisso proposital uma vez que as necessidades nutricionais das pessoas, particularmente de calorias, so muito variveis, dependendo da idade, sexo, tamanho (peso, altura) e nvel de atividade fsica. alm disso, h bastante variabilidade entre as pessoas quanto a como distribuem sua alimentao ao longo das refeies do dia.

dessa forma, considerando a abordagem qualitativa adotada por este Guia, optou-se por no estipular o nmero de refeies que devem ser feitas por toda a populao brasileira, pois esse nmero pode ser muito varivel dependendo da idade, do sexo, das horas de sono, do trabalho etc.

6.7 soBre o ato de Comer e ComensaLidade

o Guia valoriza o ato de comer e suas dimenses, abrangendo os diversos aspectos da comensalidade. assim, as recomendaes abordadas neste captulo trazem reflexes sobre os padres de

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comportamentos atuais e sugestes prticas para a promoo da alimentao adequada e saudvel, com um olhar ampliado. Como um instrumento de educao alimentar e nutricional, que visa apoiar e estimular escolhas mais saudveis, de acordo com a realidade da populao, faz-se necessria a abordagem sobre os comportamentos relacionados ao ato de comer. o Guia no pretende esgotar todas as questes relacionadas com esta temtica, mas deseja ser incorporado vida das pessoas, sem se tornar prescritivo. assim, o documento ressalta que

as trs recomendaes, deste captulo, so para que voc aproveite melhor os alimentos que consome e desfrute de modo mais completo os prazeres proporcionados pela alimentao. as trs recomendaes pedem que se d ao ato de comer grande valor.

6.8 soBre o PaPeL do estado na sUPerao dos oBstCULos

o Guia reconhece o papel do estado e seu compromisso com as polticas pblicas e aes regulatrias, no sentido de que tornem o ambiente mais propcio para a adoo da promoo da sade e da alimentao adequada e saudvel. a elaborao do prprio Guia, seguindo as recomendaes da oms sobre o papel dos governos de fornecer e atualizar as recomendaes sobre alimentao, refora a atuao do estado. todavia, destaca-se o valor para que as pessoas reflitam sobre a importncia que a alimentao tem ou pode ter para suas vidas e concedam maior valor ao processo de adquirir, preparar e consumir alimentos. nesse sentido, o Captulo 5 aborda os obstculos potenciais para a adoo das recomendaes sobre a escolha de alimentos, de maneira propositiva, contribuindo para que elas sejam possveis de serem adotadas e atingveis pela populao. importante ressaltar que, para alm das polticas j implementadas, faz-se necessrio o entendimento e a reflexo sobre o cuidado com a sade e o bem-estar, o resgate de hbitos saudveis e a mudana dos padres atuais para resultar positivamente sobre os

determinantes de sade e nutrio. assim, as recomendaes do Captulo 5 encontram-se em consonncia com as recomendaes do Guia e apresentam os recursos disponveis para que elas sejam adotadas.

6.9 soBre a eLaBorao de Um Cone Para o GUia aLimentar

o Guia alimentar apresenta uma abordagem diferente, baseada na classificao do nvel de processamento dos alimentos e no ato de comer e da comensalidade, que no se enquadra na proposta dos cones usualmente utilizados, os quais tratam de transmitir os conceitos de variedade, dos grupos de alimentos e de proporcionalidade. Os cones ou representaes grficas que acompanham os guias alimentares possuem formas diversas e seu denominador comum que esto de acordo com a cultura de cada um dos pases. reconhece-se que a utilizao de cones em guias alimentares tem sido bastante utilizada e recomendada. Para a construo de um cone para o Guia, sero necessrios uma ampla discusso e o desenvolvimento de uma proposta que consiga traduzir as recomendaes apresentadas em uma imagem grfica, podendo ser fruto de parcerias e trabalhos futuros.

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REFERNCIAS

AGNCIA NACIONAL DE VIGILNCIA SANITRIA; UniVersidade de BrasLia. Rotulagem nutricional obrigatria: manual de orientao s indstrias de alimentos. Braslia, 2005. 2 Verso.

BARBOSA, R. M. S.; COLARES, L. G. T.; SOARES, E. A. desenvolvimento de guias alimentares em diversos pases. Rev. Nutr. [online], v. 21, n. 4, p. 455-467, 2008.

BARBOSA, R. M. S.; SALLES-COSTA, R.; SOARES, E. A. Guias alimentares para crianas: aspectos histricos e evoluo. Rev. Nutr. [online], v. 19, n. 2, p. 255-263, 2006.

BrasiL. decreto n 7.272, de 25 de agosto de 2010. regulamenta a Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006, que cria o sistema nacional de segurana alimentar e nutricional - sisan com vistas a assegurar o direito humano alimentao adequada, institui a Poltica nacional de segurana alimentar e nutricional - Pnsan, estabelece os parmetros para a elaborao do Plano nacional de segurana alimentar e nutricional, e d outras providncias. Dirio Oficial [da Repblica Federativa do Brasil], Poder executivo, Braslia, dF, n. 164, 26 ago. 2010a, seo 1, p. 6.

______. Lei n 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o sistema nacional de segurana alimentar e nutricional sisan com vistas em assegurar o direito humano alimentao adequada e d outras providncias. Dirio Oficial [da Repblica Federativa do Brasil], Poder executivo, Braslia, dF, n. 179, 18 set. 2006a, seo 1, p. 1.

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