guerra, paula (2014) – remember last summer: os festivais enquanto comunidades temporárias de...

REMEMBER LAST SUMMERos festivais enquanto comunidades temporárias de pertença

Paula Guerra

Instituto de Sociologia UP /CEGOTGriffith Center for Cultural Research

19 agosto 2014

1994

20001997

2004 2008 2011 2014

SUMÁRIO

1. A importância dos festivais de música

2. Modalidades de relação social nosfestivais de Verão

3. Perfis de fruição musical nos festivais deVerão

Cartaz Festival Paredes de Coura 1994Fonte: http://www.paredesdecoura.com/

1. A IMPORTÂNCIA DOS FESTIVAIS DE MÚSICA

A música constrói o nosso sentido de identidade através de experiências directas que oferece ao corpo. A identidade é para nós uma matéria ritual, descreve um lugar, um quadro de interacções (Frith, 1996). Assim, a música é a primeira razão de ser da importância dos festivais, pois a sua fruição num contexto espacial definido assume relevância considerável.


O grande trunfo dos festivais reside no facto de serem rhythmic landscapes: pois o ritmo pode ser definido como o "vivido" das experiências musicais, espaço onde executantes e ouvintes partilham a música.

Tendo em conta os dados recolhidos, a música surge como um dos fatores que explica a frequência de festivais. Muitos frequentam os festivais ansiando a atuação de bandas específicas, enquanto outros procuram precisamente conhecer novas bandas.



Na realidade, os festivais assumem-se como oportunidades únicas e especiaispara que pessoas muito diferentes, e em que noutras circunstâncias dificilmentese encontrariam, se cruzem.

Simultaneamente, a partilha da realidade do festival e do gosto pordeterminadas bandas é motivo para o estabelecimento de novas relações. Podemesmo falar-se na formação de comunidades transitórias, assentes numaconsciência de gostos similares e na partilha de experiências.

Fon

te: O

rigi

nal

.


A importância que, de uma maneira geral, os jovens atribuem à convivialidadepode interpretar-se como um signo geracional próprio das culturas juvenis. É emredor das actividades de lazer que a juventude ganha, em certo sentido,especificidade unitária, mas é igualmente a partir da sua frequência a festivaisque melhor podemos compreender as diferentes culturas juvenis e, a partirdestas, a juventude na sua diversidade.

Fon

te: O

rigi

nal

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Muitos dos indivíduos entrevistados apontam o festival como algo completamente à parte e distante das suas vivências quotidianas. O festival surge então como um momento de descontracção e lazer, onde pressões e responsabilidades do dia-a-dia deixam de estar presentes.

Neste sentido, pode considerar-se queos festivais atuam como uma “estruturaemancipatória” ou como um “recursoexperiencial”; os frequentadores podemdeparar-se com novas experiênciasmusicais e sociais, fazer novos amigos eeventualmente experienciar estilos devida ou formas de estar distintas. Osfestivais surgem, por isso, comomomentos e locais de libertação dosconstrangimentos do quotidiano e deconcretização de novas possibilidades.


Fonte: Original.

A ambiência ou atmosfera que envolve o festival são apontadas como um importante aspecto na vivência da experiência do mesmo.

Síntese de indicadores sociográficos e dos gostos musicais dos frequentadores dos festivais de Verão (n.º, %)

Fonte: Guerra, 2010


Paredes de Coura 2011: 110 mil espectadoresMarés Vivas 2011: 60 mil espectadoresOptimus Alive!: 160 mil espectadoresParedes de Coura 2011: 2 milhões de euros na produçãoMarés Vivas 2011: 1,7 milhões de euros na produçãoOptimus Alive!: 6,5 milhões de euros na produção

2. MODALIDADES DE RELAÇÃO SOCIAL NOS FESTIVAIS DE VERÃO

Relativamente à fidelidade ao festival, é possível delinear um sentido de vinculação forte à frequência dos festivais. Na análise por nós feita, cerca de 50% dos respondentes declaram não ser novatos.

Esta asserção poderá relacionar-se com o historial de implantação de alguns dos eventos em Portugal, assim como à sua crescente afirmação como espaços e tempos de lazer distendido em torno da música.


Não obstante esta tendência, percebem-se perfis distintos entre os públicos dos diferentes festivais. O quadro aqui apresentado revela alguns dos motivos que levou os “novatos” a frequentar dois dos mais importantes festivais portugueses.

Identificação das razões que estiveram na base da frequência pela primeira vez dos festivais (%)Fonte: Guerra, 2010

Principal razão para a frequência

pela primeira vez

Paredes de

Coura Sudoeste

Disponibilidade económica do

inquirido 3,8 4,2

Cartaz apelativo 27,1 11,8

Presença de uma banda

emblemática 2,3 1,4

Primeira oportunidade para

frequentar este tipo de eventos 28,6 28,5

Companhia de amigos 13,5 17,4

Tempo de férias 6,0 13,2

Maior e mais conhecido festival

de Verão 12,0 16,0

Ambiência de festa e convívio 3,0 6,9

Outros 3,8 0,7

Total (N) 133 144


1.º Primeira oportunidade para frequentar este tipo de eventos Razão relacionada com uma distribuição etária juvenil dos inquiridos, o que, consequentemente, indica uma condição específica de acessibilidade social a festivais deste género, funcionando os festivais como “rituais de transição” para a vida adulta.

2.º Cartaz apelativoRazão apontada com maior expressão pelos frequentadores do Paredes de Coura, mostrando um público hipoteticamente mais fiel à música

3.º Companhia de amigosRazão mais frequente entre os públicos do Sudoeste.

Também se podem identificar diferentes perfis entre os frequentadores mais assíduos.

Motivos que estão na base da frequência reiterada dos festivais (%)Fonte: Guerra, 2010


Motivos para a frequência do festival Paredes de

Coura Sudoeste

Cartaz e programa 73,9 37,6

Férias 9,8 21,1

Praia e sol 13,6 16,5

Campismo 4,3 4,5

Convívio com amigos e pessoas próximas 29,3 57,1

Conhecer pessoas e viver experiências diferentes 7,6 13,5

Ambiente, liberdade, aventura e diversão 32,6 30,8

Ritual de frequência de festivais de Verão 15,8 12,0

Envolvimento no funcionamento/ organização do festival 2,2 0,8

Disponibilidade económica do inquirido 2,2 4,5

Perfil do festival 6,0 0,0

Outros 2,7 1,5

3. PERFIS DE FRUIÇÃO MUSICAL NOS FESTIVAIS DE VERÃO

Através de uma análise de correspondências múltiplas, identificamos 5 perfis construídos a partir dos 580 inquéritos aplicados aos públicos dos festivais: novatos, ritualistas, veraneantes, conviviais e aficionados.

Cruzamento de questões ativas e questões ilustrativas. As primeiras encerram os motivos para a vinda ao festival (no caso, Paredes de Coura e Sudoeste 2006), os motivos para a preferência de um festival, as diferenças entre o festival em que são inquiridos e outros, as imagens que associam ao festival, o tempo de permanência no festival, as relações de sociabilidade estabelecidas no festival e a avaliação da programação musical do festival. As questões ilustrativas incidem sobre os seguintes eixos: primeira vez que vem ao festival, gostos musicais (através da identificação de estilos musicais e de bandas), as características sociográficas e o festival associado (o festival onde os indivíduos foram inquiridos).

Tratam-se de perfis de fruição musical, cruzando todo um conjunto de variáveis determinantes mas sobretudo relevando que a fruição apela para um «gozar subjetivo», implicando o acionamento da pluralidade dos sentidos humanos. -> análise etnográfica



25 % Novatos

Motivos para vir ao festival

Motivos para a preferência de um

festival

Diferenças entre este festival e outros

O que associa ao festival

Permanência no festival

Relações de sociabilidade estabelecidas

Programação musical do festival

Primeira vez que vem ao festival Sim. (67,61%; VT= 5.38)

Gostos musicais Electro (10,56%; VT= 3,07)

Música Portuguesa (19,01%; VT=

3,75)

Características sociográficas Espanhóis (11,27%; VT=5,11)

Festival associado

Questões activas Legenda: Grau de sobre-

representação - Mais elevado;

Muito significativo +; Muito

significativo; Significativo. As

percentagens apresentadas são

relativas à modalidade na classe.

VT - Valor-Teste

Questões ilustrativas

Vim porque me apetecia vir a um

festival fora de Espanha porque já vai

sendo hora. E penso que este está muito

bem organizado, muito bons concertos,

estou a gostar muito.Entrevistado 10 Públicos SW 2006, 23 anos, Masculino,

Estudante, Frequência Universitária, Corunha

Para já foi a primeira vez. Por

curiosidade, principalmente, falam-me

sempre super bem, então este ano

decidi vir. [de que te falavam?] Sobre os

espectáculos, que eram maravilha, o

parque de campismo. Tudo. O convívio,

a amizade. E é Verão, pronto.Entrevistado 12 Públicos SW 2006, 19 anos, Masculino,

Funcionário dos Correios, 12.º Ano de Escolaridade,

Olhão.

Porque tem muitas bandas que eu

gosto, porque vim com amigos meus, foi

por isso.Entrevistada 23 Públicos SW 2006, 19 anos, Feminino,

Estudante, Frequência Universitária, Oeiras.


É completamente uma vida paralela. Até porque depois da festa aqui normalmente há sempre festas pequeninas no parque de campismo. Então sais daqui, muitas vezes até saio daqui antes de acabar o som porque sei que lá também há, e é muito bom.Entrevistada 6 Públicos SW 2006, 22 anos, Feminino, Estudante, Frequência Universitária, Leiria

É um ritual de férias de ano para ano. Aliás, eu até tenho um colega que há cerca de três anos vem connosco também e nunca soube o cartaz, e vem e às vezes descobre as bandas que vão tocar e isso, por isso não… combinamos sempre antes de saber os cartazes ou mesmo depois dos cartazes já terem saído, mas mesmo nós não sabendo os cartazes, combinamos qualquer coisa.Entrevistado 24 Públicos SW 2006, 29 anos, Masculino, Comerciante, 12.º Ano de Escolaridade, Lisboa

3 % Ritualistas

Motivos para vir ao festival

Motivos para a preferência de

um festival

Diferenças entre este festival e

outros

Dimensão. (37,5%; VT=3,23)

O que associa ao festival Drogas. (87,50%; VT=9,77)

Álcool. (68,75%; VT=7,73)

Ritual. (31,25%; VT=3,48)


Relações de sociabilidade

estabelecidas


Primeira vez que vem ao festival

Gostos musicais Reggae. (25,00%; VT=2,46)

Características sociográficas

Festival associado

Questões activas Legenda: Grau de sobre-representação -

Mais elevado; Muito significativo +;

Muito significativo; Significativo. As

percentagens apresentadas são relativas

à modalidade na classe. VT - Valor-Teste



Primeiro saudades do festival, porque foi dos primeiros festivais a que fui. Depois, sei lá… a música e disponibilidade também. Sei lá… acima de tudo a praia, porque adoro esta praia, acima de tudo música, a diferença de tipos, de estilos de música, e nada mais.Entrevistado 7 Públicos SW 2006, 25 anos, Masculino, Animador de Rua, 9.º Ano de Escolaridade, Palmela

Olha porque eu já tinha cá vindo e gostei muito do ambiente, não foi tanto pelas bandas este ano foi mais pelo ambiente.Entrevistada 20 Públicos SW 2006, 25 anos, Feminino, Trabalhadora Estudante, Frequência Universitária, Lisboa

Olha, basicamente vamos à praia e depois vimos aqui para os concertos.Entrevistada 20 Públicos SW 2006, 25 anos, Feminino, Trabalhadora Estudante, Frequência Universitária, Lisboa

16 % Veraneantes

Motivos para vir ao festival Praia e sol (13,33%; VT=4,01).

Convívio com amigos (23,33%; VT=3,04).

Cartaz e programa (7,78%; VT=3,00).

Motivos para a preferência de

um festival

Localização e ambiência (34,44%; VT=3,92).

Relações de sociabilidade (23,33;%; VT=2,86).

Diferenças entre este festival e

outros

Praia (21,11%; VT= 4,56).

Férias, ruptura quotidiano (15,56%; VT= 4,00).

O que associa ao festival Sol e praia (26,67%; VT=7,67).

Poeira (27,78%; VT=8,07).

Álcool (21,11%; VT=5,26).

Liberdade/Aventura/Evasão (18,89%; VT=4,84).

Desbunda (31,11%; VT= 4,35).

Drogas (21,11%; VT=4,75).


Relações de sociabilidade

estabelecidas


Primeira vez que vem ao festival Não. (72,22%; VT=4,08)

Gostos musicais

Características sociográficas

Festival associado Sudoeste TMN 2006.(95,56%; VT=10,55)

Questões activas Legenda: Grau de sobre-representação - Mais

elevado; Muito significativo +; Muito significativo;

Significativo. As percentagens apresentadas são

relativas à modalidade na classe. VT - Valor-Teste



Bem, estou de férias, vim cá passar um bom momento.Entrevistado 22 Públicos SW 2006, 19 anos, Feminino, Estudante, Frequência Universitária, Oeiras

Pela praia que é bonita, porque não tinha nada para fazer este fim-de-semana e porque estou de férias.Entrevistado 1 Públicos SW 2006, 25 anos, Trabalhador Estudante, Frequência Universitária, Málaga

Pela boa onda do pessoal, curtir, ouvir música, praia, umas mini férias de Verão.Entrevistada 3 Públicos SW 2006, 30 anos, Feminina, Comerciante, 12.º Ano de Escolaridade, Faro

26 % ConviviaisMotivos para vir ao festival Férias (16,00%; VT=2,69).

Motivos para a preferência de um festival Relações de sociabilidade (28,00%; VT=5,88).

Diferenças entre este festival e outros Dimensão (26,00%; VT=7,02).

Tipo de públicos (28,67%;VT=4,97).

Praia (14,67%; VT=3,55).

Férias, ruptura quotidiano (8,00%; VT=2,40).

O que associa ao festival Amigos (39,33%; VT=7,48).

Festa (52,67%; VT=8,21).

Sol e praia (18,00%; VT=5,04).

Boa música (25,33%; VT= 7,12).

Desbunda (17,33%; VT=4,47).

Permanência no festival 4 dias (63,33%; VT=2,88).

Relações de sociabilidade estabelecidas


Primeira vez que vem ao festival

Gostos musicais

Características sociográficas 14-17 (10,00%; VT=2,74), 18-22 (53,33%;

VT=2,78).

Não trabalha (63,33%; VT=2,44).

Festival associado Sudoeste TMN 2006 (62,00%; VT=3,97).

Questões activas Legenda: Grau de sobre-representação - Mais

elevado; Muito significativo +; Muito significativo;

Significativo. As percentagens apresentadas são

relativas à modalidade na classe. VT - Valor-Teste



31 % AficionadosMotivos para vir ao festival Cartaz e programa (78,02%; VT=6,53).

Perfil do festival (6,04%; VT=4,58).Ambiente de liberdade (19,78%; VT=2,83).Ritual de frequência (7,69%; VT=2,77).

Motivos para a preferência de um festival Afinidades musicais (47,80%; VT=8,02).Qualidade do cartaz (17,03%; VT=3,90).

Diferenças entre este festival e outros Cartaz e programação (28,02%; VT=5,03).Características do local (51,10%; VT=8,90).

O que associa ao festival Boa música (35,71%; VT=6,02).Natureza/Verde/Rio (19,78%; VT=5,08).(Características do local.)Simbólica do lugar (12,09%; VT=3,79).Amigos (11,54%; VT=3,59).Organização (10,44%; VT=3,52).

Permanência no festival 6 dias (13,19%; VT=2,55).Aproveitar ao máximo (60,44%; VT=2,59).3 dias (18,13%; VT=3,66).Condições climatéricas (4,40%; VT=2,55).

Relações de sociabilidade estabelecidas Amizade (65,93%; VT=4,29).Nenhumas (5,49%; VT=2,59).

Programação musical do festival Muito boa (36,26%; VT= 8,43):- Cartaz alternativo (14,84%; VT=5,40).- Bandas de qualidade (44,51%; VT=4,52).

Primeira vez que vem ao festival Não (69,78%; 5,69).Gostos musicais Indie rock (36,81%; VT=5,15).Características sociográficas Trabalha (47,25%; VT=3,44).

Técnicos (19,23%; VT=3,05), Especialistas (19,23%; 2,58).Pós-graduação (mestrado) (4,95%; VT=2,56).Curso superior (29,67%; VT=2,55).

Festival associado Heineken Paredes de Coura (91,76%; VT=13,90).

Questões activas Legenda: Grau de sobre-representação - Mais elevado; Muito significativo +; Muito significativo; Significativo. As percentagens apresentadas são relativas à modalidade na classe. VT - Valor-Teste



Conheço esta banda desde antes deles editarem na Europa, que um amigo meu me trouxe de importação. É uma banda que é uma espécie de um spin off dos Queens of the Stone Age, que eu já vi duas vezes e não vi mais por montes de razões. Já por sua vez a banda anterior do guitarrista, o Josh Homme, eram os Kyuss, é considerada neste momento a melhor banda desconhecida dos anos noventa, que é uma banda do chamado stoner rock, mas é um som completamente louco… isto é rock, é bem disposto, é aquilo que o rock’n’roll devia ser e que se perdeu muito. Melhor não há! Gosto de rock alternativo, de grunge…Entrevistado 12 Públicos PdC 2006, 34 anos, Masculino, Engenheiro Químico, Licenciatura, Gondomar

Acho que é uma filosofia de vida, é uma forma de estar na vida, a música julgo que é importante. Quase não sei definir, eu cresci com a música e a música torna-se importante em toda a vivência, na forma como pensamos. Eu julgo que qualquer arte está ligada a uma forma de contestar a realidade. No caso da música… eu não consigo definir, se tirassem a música do mundo, acho que isto era muito estranho não é? Todos nós, se calhar há pessoas que valorizam mais, outras que valorizam menos, mas acho que a música é fundamental. Entrevistado 10 Públicos PdC 2006, 36 anos, Masculino, Professor do Ensino Secundário, Licenciatura, Ponte da Barca

Fon

te: O

rigi

nal

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NOTA CONCLUSIVA

Podemos observar com a apresentação desta tipologia de públicos dos festivais fundada na fruição musical em articulação entre, e numa lógica transversal, a pertinência simbólica, económica, mediática e política da cultura e a dimensão glocalizada dos valores, designadamente nas identidades, hábitos, práticas e estilos de vida. A este respeito, importa ressalvar os esforços tipológicos que dão corpo à pluralidade de públicos de fruição e consumo cultural. Por exemplo, Maria de Lourdes Lima dos Santos encetou um esforço neste sentido aquando da análise dos públicos 2001, ao dividi-los em cultivados, liminares, especializados, retraídos, displicentes e recatados (Santos, 2004). Também Le Bart (2000) na análise que faz aos fãs dos The Beatles distinguiu entre postura de esteta, postura de groupie, postura de criador, postura de imitador, postura de erudito e postura de coleccionador. Tal reforça a ideia que seguimos nesta dissertação e que vai ao encontro da polissemia e mutabilidade – o devir heraclitiano constante.

Fon

te: O

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A arte popular sobreviveu ao aparecimento dos novos média, sendo mesmo possível encontrá-la expressa neles. Na arte popular, as convenções são levadas a cabo de modo a surpreender a audiência com criatividade enquanto que na cultura de massas elas são usadas unicamente como simplificadoras de sentidos. Para além da consideração da polissemia, a questão da disponibilidade, do acesso à arte, é muito importante na compreensão da inserção da arte popular e música popular nos média. A questão da democratização do acesso à música popular é muito relativa na medida em que não tem em conta as divisões operadas em termos classistas e educacionais no seio da sociedade, bem como os diferentes ambientes que se vivem numa sociedade estratificada (Hall & Whannel, 1964); é portanto, necessário não esquecer as figurações e inerentemente os matizes de estrutura presentes na frequência dos festivais em análise, levando-nos a assumir para os seus frequentadores uma condição social tendencialmente homogeneizante e dominante, e recrutada nas classes (altas) médias urbanas.

NOTA CONCLUSIVA


guerra, paula (2014) – remember last summer: os festivais enquanto comunidades temporárias de...

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