guarulhos espaço de muitos povos

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  • 7/22/2019 Guarulhos Espao de Muitos Povos

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    Conto, cantoeencantocomaminhahistria...

    Espao de Muitos Povos

    Guarulhos

    9 7 8 8 5 7 6 7 3 1 2 2 1

    ISBN 978-85-7673-1 22-1

    1 Antigo campodoPaulistaEsporteClube,atualPraaGetlioVargas;2 Atual RuaCapitoGabriel;

    3 AtualRua7 deSetembro;4 AtualRuaD.PedroII;5 AtualRuaFelcioMarcondes;6 IgrejaMatriz;

    7 EECapistrano deAbreu;8 Atual RuaJooGonalves;9 CemitrioSo JooBatista.

    CentrodeGuarulhosem1940.

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    D:\CIDADES\GUARULHOS\Capa final 2008\Capa Guarulhos elton2009.cdrtera-feira, 28 de abril de 2009 14:53:13

    Perfil de cores: Perfil genrico de impressora CMYKComposio 175 lpi a 45 graus

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    GUARULHOS Espao de Muitos PovosCopyright 2008 by Noovha Amrica

    Editor Responsvel

    Nelson de Aquino Azevedo

    Coordenador Editorial

    Jefferson Pereira Galdino

    Organizadores do Livro

    Elton Soares de Oliveira, Maria Cludia Vieira Fernandes, Glucia Garcia de

    Carvalho, Elmi El Hage Omar, Benedito Antnio Genofre Przia, Sandra Emi

    Sato, William de Queiroz, Mrcio Roberto Magalhes de Andrade, Antnio

    Manoel dos Santos Oliveira, Lcia de Jesus Cardoso Oliveira Juliani, EdsonJos de Barros, Jos Elmano de Medeiros Pinheiro, Caetano Juliani e Vagner

    Carvalheiro Porto.

    Diagramao, Tratamento de Imagens e Capa

    Jefferson Pereira Galdino

    Mapas

    William de Queiroz Laboratrio de Geoprocessamento UnG

    Cesar Cunha Ferreira

    Fotografias

    Maria Cludia Vieira Fernandes, Mrcia Pinto, Alexandre de Paula,

    Elton Soares de Oliveira, Joo Machado, Aparcio Reis (ndio), Jos Maria Muniz

    Ventura, Levi da Silva, acervo de Isabel Borazanian, Glucia Garcia de Carvalho,

    acervo da Casa de Cultura Paulo Pontes, Massami Kishi, acervo do Grupo

    Literrio Letra Viva, acervo da Prefeitura Municipal de Guarulhos e Arquivo

    Histrico de Guarulhos.

    Reviso

    Arte da Palavra

    Sirlene Francisco Barbosa

    Agradecimentos

    A todos que colaboraram com a cesso de dados e fotos para esta publicao,

    especialmente a Maria Genaina de Almeida Reder, Terezinha Missawa

    Camura e Marco Raczka.

    www.guarulhostemhistoria.com.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Guarulhos: espao de muitos povos. 2aed. So Paulo: Noovha Amrica, 2008. (Srie conto, canto e encanto com a minha histria...)

    Vrios organizadoresVrios fotgrafos

    BibliografiaISBN 978-85-7673-122-1

    1. Guarulhos (SP) Histria Literatura infanto-juvenilI. Srie.

    08-11628 CDD-028.5ndices para catlogo sistemtico:

    1. Guarulhos: So Paulo: Estado: Histria: Literatura infanto-juvenil 028.5

    2. Guarulhos: So Paulo: Estado: Histria: Li teratura juvenil 028.5

    2aEdio 2008

    Todos os direitos desta edio reservados Noovha Amrica Editora Distribuidora de Livros Ltda.Rua Monte Alegre, 351 PerdizesSo Paulo/SP CEP 05014-000Telefax: (0xx11) 3675-5488

    Site: www.noovhaamerica.com.brE-mail: [email protected]

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Este livro chega no momento em que os mora-

    dores de Guarulhos anseiam por conhecer a hist-

    ria local, preservar suas tradies culturais e cuidar

    do meio ambiente.

    Perodo mpar na histria, quando surgem falas

    que reivindicam aes de fortalecimento daautoestima das populaes locais, em face ao fen-

    meno massificado da globalizao.

    Certamente, a divulgao da histria, a promo-

    o da cultura e da educao, por exemplo, so fato-

    res que fortalecem o reconhecimento das pessoas.

    Ao resgatar o papel da histria como elemento

    identitrio, esta publicao se reveste de grande

    valor humanitrio, prestando enormes servios para

    a educao e o aprendizado de nossas crianas, jo-

    vens, adultos e para o municpio como um todo.

    Lembramos que em 2010 Guarulhos far 450

    anos de sua fundao e os contedos desta publica-

    o, nas reas de histria natural, histria social,

    aspectos geogrficos e culturais, sero de grande

    valia para as reflexes no aniversrio da cidade.

    Com frequncia, ouvimos dizer que o brasileiro

    no tem memria e no valoriza a histria.

    Contrariando o senso comum, assumimos o

    compromisso de resgatar e divulgar os fatos que nos

    dizem respeito, oferecendo, especialmente s nos-

    sas crianas e jovens, a oportunidade de se apropria-rem do conhecimento histrico local.

    Certamente, as aes que desenvolvemos hoje

    sero o legado que deixaremos para as geraes vin-

    douras.

    Este trabalho traz consigo a mensagem de que

    cada pessoa responsvel pela histria e que est

    em nossas mos compreender o presente e o passado

    e construir um mundo melhor.

    Dedicamos este trabalho memria de bravos

    homens e mulheres que por aqui passaram, viveram

    e ajudaram a construir o municpio de Guarulhos etambm para os que hoje do continuidade a esse

    trabalho e transformam Guarulhos em uma cidade

    mais humana, lembrando que nosso cenrio urbano

    guarda o que temos de melhor: nossa gente, sua

    cultura e sua histria.

    Prefeitura Municipal de Guarulhos

    Secretaria Municipal de Educao

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Vista parcial do centro antigo e da Praa Getlio Vargas, na dcada de 1950.

    Praa Getlio Vargas, Rua Felcio Marcondes, em 2008.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    SumrioIntroduo .......................................................................................................................... 7

    Captulo 1 Aspectos Fsicos e Naturais ........................................................................................ 9

    Captulo 2 Formao Socioeconmica ...................................................................................... 23

    Captulo 3 Mudanas Polticas e Administrativas..................................................................... 51

    Captulo 4 Circuitos Tursticos Patrimnios Culturais e Ambientais ...............................57

    Captulo 5 Guarulhos Diversidade Cultural e Religiosa ..................................................... 85

    Captulo 6 Retrospectiva Histrica ............................................................................................. 97

    Captulo 7 Sistema de Transportes e Rodovias ......................................................................111

    Captulo 8 Esporte e Lazer .........................................................................................................115

    Captulo 9 Educao ....................................................................................................................117

    Captulo 10 Smbolos Municipais ................................................................................................119

    Captulo 11 Os Trs Poderes ........................................................................................................121

    Referncias Bibliogrficas ...................................................................................................................127

    Antiga Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos Rua D. Pedro II, igreja demolida no final da dcada de 1920.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    MINERAO DE OURO INCIO DA EXPANSO URBANA DA CIDADE DE GUARULHOS

    Fonte: Instituto Geogrfico e Geolgico IGG/Secretaria de Agricultura do Estado de So Paulo, 1950.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    uarulhos constituiu-se como aldeia indgena por volta de 1560, mas seu nome, suadata de fundao e at mesmo o nome do padre fundador so alvos de polmica. Pesquisasiniciais apontavam os nomes dos padres Joo lvares, Manuel de Paiva e Manuel Viegas como

    possveis fundadores. Em 1983, a Cmara Municipal votou a Lei no

    2.789/83, oficializando onome do padre Manuel de Paiva como o fundador de Guarulhos.A criao da aldeia de Nossa Senhora da Conceio, atual cidade de Guarulhos, esteve vincu-

    lada, desde o incio, Vila de So Paulo de Piratininga. A iniciativa dos colonizadores portugue-ses ao fundarem vrias aldeias indgenas em So Paulo visava controlar o espao para impedir apassagem dos espanhis que rumavam, por terra, em direo s minas de ouro e prata de Potos,na Bolvia, e tambm para a proteo contra os ataques dos indgenas Tamoio.

    Em 1675, nas terras de So Paulo, a aldeia de Nossa Senhora da Conceio foi elevada condio de distrito; dez anos depois, em 8 de maio de 1685, passou categoria de freguesia.

    Apenas em 24 de maro de 1880 foi elevada condio de vila, emancipando-se de So Paulo,

    ocasio na qual teve seu nome abreviado para Conceio de Guarulhos. A atual denominao,por sua vez, foi assumida em 6 de novembro de 1906, quando ganhou o estatuto de cidade.

    Introduo

    G

    Fundao de So Vicente. Obra de Benedito Calixto.

    Aldeia de tapuias. Johann Moritz Rugendas.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    A origem do topnimo Guarulhos est intimamente relacionadaaos primitivos habitantes do territrio. Os Maromomi foram os pri-meiros povoadores do lugar; expulsos do litoral paulista pelos Tupi,chegaram regio por volta de 1400 da era crist; eram nmades e

    viviam da caa, da pesca e da coleta de frutos. Os Maromomi perten-cem famlia dos indgenas Puri e ao tronco lingustico Macro--J. Em contato com os colonizadores, foram escravizados e, apartir de 1640, passaram a ser chamados de Guarulhos. Entre1560 e 1623, Guarulhos era chamada de Nossa Senhora da Con-ceio dos Maromomi.

    No ano em que Guarulhos completou 448 anos de funda-o, foram observados pelo menos cinco aspectos para com-preender sua histria: seu passado geolgico; os primeiros ha-bitantes; os colonizadores portugueses; os imigrantes europeus,rabes e asiticos e o

    xodo rural brasileiro.Tudo isso somado nosfar entender a histria dacidade, que muito tem arevelar. Alm disso, tam-bm cruzaremos infor-maes sobre economiae globalizao com osacontecimentos locais.

    Este livro descorti-nar o vu sobre nossopassado e nos far enten-der o nosso presente.

    Apresentar nossa cultu-ra e os costumes de nos-so povo, que muito seorgulha de ser o 13omu-nicpio do Pas em nme-ro de habitantes e a pri-

    meira no capital norankingdas 100 maiorescidades do Brasil.

    Mapa com diviso doterritrio brasileiro em

    Capitanias Hereditrias.

    Indgena Puri, aparentandoaos Maromomi. Ilustrao de

    Rugendas.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Aspectos Fsicos e Naturais

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    RECURSOS NATURAIS

    Da economia natural explorao econmica comercial, a existncia de recursos naturais essencial para a fixao de grupos humanos e para o estabelecimento de atividades produtivas ecomerciais. Guarulhos apresenta grandes faixas de terras de baixa qualidade para agricultura,porm possui muitas riquezas minerais em seu subsolo. Um estudo mineralgico da SecretariaEstadual de Agricultura de So Paulo indica a existncia de ouro, pedras, areia, argila (ocre,amarela e vermelha), caolim, quartzito, granito, ardsia e argila refratria. Em sua parte de baixadasencontram-se as terras mais frteis para atividades agropastoris.

    A histria da cidade seria diferente se os recursos naturais fossem outros. Os seres humanos,em sua relao com o meio ambiente, constroem riquezas e desenvolvem habilidades a partir dadisponibilidade da natureza. Nesse sentido, Guarulhos um espao territorial privilegiado emrecursos naturais, fato que possibilitou a existncia de quatro ciclos econmicos correspondentesao processo de povoamento e expanso territorial urbana.

    Serra do Itaberaba Pico do Gil, com 1.438 metros de altitude.

    Palacete Vila Borghese, localizado na Serra da Cantareira, bairro Cabuu,construdo pelo banqueiro paulista Aquiles Lima em data ainda desconhecida,

    certamente antes de 1960.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    LOCALIZAO GEOGRFICAGuarulhos est situada ao nordeste da Re-

    gio Metropolitana de So Paulo (RMSP) e ficaa 17,7 quilmetros do centro da Capital. Den-tre os 39 municpios dessa regio, apontadapelo IBGE como uma cidade industrial. Com320 quilmetros quadrados, um municpio re-lativamente pequeno. Guarulhos tem como li-mites Mairipor e Nazar Paulista (N), SantaIsabel (NE), Aruj (E), Itaquaquecetuba (SE)e So Paulo (S, SW, W e NW).

    No municpio, o Sol e a Lua nascem nolado dos bairros de Morro Grande, Bonsu-cesso e Araclia, na zona leste, e pem-se nolado dos bairros de Vila Galvo, Jardim Vila

    Galvo e Itapegica, na zona oeste. Os bair-ros de Cabuu de Cima, Tanque Grande eCapelinha esto na zona norte e os bairrosde Jardim Nova Cumbica, Pimentas e Itaimna zona sul.

    Guarulhos localiza-se sobre a rea de transi-o entre as zonas tropical e temperada. O Tr-pico de Capricrnio corta o municpio em duas

    partes, de oeste a leste (WE), sentido Vila Galvo Morro Grande. O municpio situa-se entre osparalelos 231623" e 233033" de latitude sul, eentre os meridianos 462006" e 463439" de lon-gitude oeste, ou seja, o municpio encontra-se na

    CIDADES CIRCUNVIZINHAS AO MUNICPIO DE GUARULHOS

    Parque Estadual da Cantareira Cachoeira Cabuu, Guarulhos, 2008.

    LaboratriodeGeoprocessamento

    UnG.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    latitude do Trpico de Capricrnio (2327S), queo cruza na altura do quilmetro 215 da ViaDutra.

    Estrategicamente posicionada no centro doprincipal eixo econmico do Brasil (So Paulo,

    Rio de Janeiro e Minas Gerais), Guarulhos atraiupara seu territrio empreendimentos de alto im-pacto, o que possibilitou o desenvolvimento re-gional e sua insero no modo de produo ca-pitalista no perodo colonial e contemporneo.

    REGIO METROPOLITANA DE SO PAULO

    Represa Tanque Grande, construda em 1958.Foto de 2007.

    LaboratriodeGeoprocessamento

    UnG.

    Represa Tanque Grande,reservatrio afetado pela seca de

    1969.

    fotodePlnioThomaz,de1969.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    H ID R OGR AFIAGuarulhos, assim como os outros munic-

    pios da RMSP, depende de recursos hdricos li-mitados, considerando a grande demanda relati-

    va regio, que possui a economia mais ativa doPas, e sua localizao na regio das nascentes queformam a Bacia do Rio Tiet. Desta forma,Guarulhos possui quantidades de gua superfi-cial e subterrnea que no alcanam 10% das ne-cessidades locais, dependendo do fornecimentodos sistemas produtores Cantareira e Alto Tiet,que captam a gua em regies distantes. Os prin-cipais rios so o Tiet, o Baquirivu-Guau e oCabuu de Cima, sendo este ltimo o nico coma nascente em Guarulhos. As guas nas regies

    de nascentes e mananciais so de boa e timaqualidade, como no caso das represas do Cabuue do Tanque Grande.

    Estudos hidrogeolgicos revelam a existnciade significativos reservatrios de gua no subsolo,especialmente na regio sul do territrio, onde ageologia sedimentar e reconhece-se o AquferoCumbica, como o caso dos bairros ao longo daRodovia Dutra, prximos ao centro, ao aeropor-to, ao Jardim Presidente Dutra e a Cumbica.

    Os corpos dgua passam a ter pssima qua-lidade quando atravessam reas urbanizadas,principalmente devido ao lanamento deefluentes poluidores. Em 2007, a Prefeituraanunciou que seriam iniciadas obras para trata-mento de parte do esgoto.

    Na paisagem da cidade destacam-se os cur-sos dgua Piracema, Pedrinhas, Canal deCircunvalao, Itapegica, So Joo, Queroma-no, Cavalos, Cubas, Japoneses, Cocaia, Taboo,Invernada (ou Cachoeirinha), Capo da Som-bra, gua Suja, Tanque Grande, Lavras, Gua-raau, Taboo (Araclia), gua Chata, Moinho

    Velho, Baquirivu-Mirim, Cocho Velho, Parati--Mirim, Popuca e Botinha. Alguns deles des-

    guam nos rios Baquirivu-Guau e Cabuu deCima, outros diretamente no Rio Tiet, que odestino final das guas drenadas das reas urba-nas de Guarulhos.

    Parte do municpio, em zona rural, aindaapresenta relao com a Bacia Hidrogrfica doRio Paraba do Sul, como o caso dos ribeires

    Tom Gonalves e Itaberaba e dos crregosJaguari e Morro Grande, ambos no bairro doMorro Grande.

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    LaboratriodeGeoprocessamento

    UnG.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Rio Tiet: interface com GuarulhosO Rio Tiet percorre o Estado de So Paulo

    de leste a oeste. Nasce em Salespolis, na Serrado Mar, a 840 metros de altitude e 22 quilme-tros distante do Oceano Atlntico. Como no con-

    segue vencer os picos rochosos rumo ao litoral,ao contrrio da maioria dos rios, que correm parao mar, o Tiet segue para o interior, atravessa aRegio Metropolitana de So Paulo e percorre1.100 quilmetros at o municpio de Itapura,em sua foz no Rio Paran, na divisa com o MatoGrosso do Sul.

    Nessa jornada sinuosa, banha 62 municpiosribeirinhos e seis sub-bacias hidrogrficas (AltoTiet, Sorocaba/Mdio Tiet, Piracicaba/Capivari,Jundia, Tiet/Batalha, Tiet/Jacar e Baixo Tiet),uma das regies economicamente mais ricas dohemisfrio sul. Embora seja apenas um filete degua em Salespolis, recebe a vazo de quase 30pequenos afluentes e vai se tornando um rio volu-moso, com uma longa srie de corredeiras e ca-choeiras.

    Com grande importncia histrica como via depenetrao do povoamento, foi, durante muito tem-po, a nica estrada para o interior do Brasil, servindode caminho para os bandeirantes, que o percorriamem busca de ouro, ndios e novas terras.

    Nesse contexto socioeconmico, o Rio Tiet

    desde os primrdios da colonizao interagiucom o processo histrico e com a expanso ter-ritorial urbana de Guarulhos. No cenrio da co-lonizao portuguesa muito provvel que te-nha sido a via de acesso para as descobertasdas minas de ouro no Ribeiro das Lavras. Noincio do ciclo do tijolo, foi o mais importantecorredor de transporte das olarias e dos portosde areia para atender a demanda da constru-o civil de So Paulo. Funcionava como

    hidrovia. Em uma das citaes historiogrficassobre Guarulhos, consta que o padre Manuelde Paiva navegou, em 1560, sobre o Rio Anhem-bi, antigo nome do Rio Tiet.

    Atualmente, utilizado, em algumas regies,como rio de navegao, j que as construes devrias barragens e eclusas regularizaram seu cur-so. As barragens tambm foram aproveitadas paraa construo de usinas hidreltricas, que forne-cem energia ao Estado de So Paulo.

    C L I M AO municpio de Guarulhos apresenta um

    clima subtropical mido, com temperatura m-dia anual entre 17 C e 19 C; umidade relativado ar mdia anual de 81,1%; precipitao plu-

    viomtrica anual mdia de 1.470 mm e ventosdominantes SE-NO-E-O. (Dados cedidos peloMinistrio da Aeronutica Diviso deMeteorologia.)

    RELEVOA topografia da cidade est expressa na sua

    paisagem. O municpio de Guarulhos est lo-calizado no Planalto Atlntico, possui grandesbaixadas e picos elevados com mais de 1.000metros de altura, onde as altitudes variam en-tre: mxima de 1.438 metros, ao norte, na Ser-ra do Itaberaba (Pico do Gil); mdia de 850metros; e mnima de 660 metros, na foz do

    Laboratrio

    deGeoprocessamento

    UnG.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Crrego Jaguari, divisa com Aruj eSanta Isabel. A parte mais acidentadafica no norte, junto aos limites comMairipor e Nazar Paulista.

    Podemos observar na regio nor-te do municpio que os morros e mon-tanhas so formados por rochas de ori-gem pr-cambriana (grupos So Ro-que e Serra do Itaberaba), tendo comodestaques as serras da Cantareira e doItaberaba.

    J ao sul, onde encontramos o centro e os bairros mais ocupados da cidade, percebemosque o relevo formado por colinas, cujas elevaes no passam de 40 metros de altitude, eplancies, que so reas muito baixas sujeitas s inundaes dos rios Tiet, Cabuu de Cima eBaquirivu-Guau. As colinas so formadas por sedimentos tercirios e as plancies por aluvies

    quaternrios.

    LaboratriodeGeoprocessam

    ento

    UnG.

    Centro de Guarulhos em 1959.1 Atual Rua Joo Gonalves; 2 Cemitrio So Joo

    Batista, antes da construo da biblioteca.

    1

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Laboratrio

    deGeoprocessamento

    UnG.

    Guarulhos Bairros

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    VEGETAOA paisagem antiga de Guarulhos era total-

    mente coberta por vegetao arbrea, arbustivae herbcea. Era formada por vegetao flores-tal, compreendendo a Mata Atlntica; arbustivaou cerrados e cerradinho; herbcea de campos e

    vrzea, junto aos rios.O uso rural, a minerao e a crescente urba-

    nizao da cidade mudaram quase totalmente asituao inicial, restando em maior quantidadea floresta tropical na regio serrana, onde pre-dominam a mata secundria, havendo apenasno Ncleo Cabuu do Parque Estadual da Can-tareira a presena de mata primria, e extensasreas de campos antrpicos.

    Com o crescimento da cidade, restou ape-nas a vegetao da Serra da Cantareira, a maiormata nativa que sobrevive dentro do munic-pio. A Reserva Estadual da Cantareira possuiuma rea de 5.674 hectares, dividida entre azona norte da Capital, parte de Guarulhos,Mairipor e Franco da Rocha. formada porflorestas latifoliadas tropicais, onde vivem

    Casa da Candinha Serra do Bananal, futuro Centro de Preservao da Memria e Cultura Negra.

    serelepes, nhambus, tucanos e outros animais.Quase um tero da extenso do municpio composto por reas de proteo aos manan-ciais, fontes ou nascentes e reservatrios degua que so protegidos por lei.

    Araucria, proximidades daRepresa Cabuu.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    RESERVAS ECOLGICASO municpio de Guarulhos participa da Re-

    serva da Biosfera do Cinturo Verde de So Pau-lo (RBCV), outorgada pela Unesco como patri-mnio mundial. A RBCV fornece servios

    Represa Cabuu.

    FotodeCceroFelipeGuarnieriRib

    eiro.

    ambientais importantes para o controle das ilhasde calor, reduo de enchentes, poluio atmos-frica e produo de gua para Guarulhos pormeio dos seus mananciais da Represa Cabuu e

    Tanque Grande.

    Trilha do Tapiti Parque Estadual da Cantareira, Guarulhos, 2008.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Dados Gerais do Municpio

    Aniversrio da cidade (fundao): 8 de dezembro.

    Distrito: 1675.

    Criao da freguesia: 1685 Denominao dapoca: Nossa Senhora da Conceio dos Guarulhos.

    Criao da vila: Lei no34, de 24 de maro de 1880Denominao da poca: Conceio de Guarulhos.

    Alterao do nome: a Lei no1.021, de 6 de novem-bro de 1906, altera o nome para a denominao atual,Guarulhos.

    Santa Padroeira: Nossa Senhora da Conceio.

    Distrito Jardim Presidente Dutra: foi criado pela Leino3.198, de 23 de dezembro de 1981, com sede no

    bairro do mesmo nome, em territrio desmembrado dodistrito sede do municpio de Guarulhos.

    Prefeito atual: Eli Alfredo Piet (PT).

    rea: 320 km2 (Seade).

    Populao: 1.236.192 (Fonte: IBGE, 2007).

    Densidade demogrfica: 3.857,08 hab/km.

    Latitude do distrito sede do municpio: 231623e 233033 sul.

    Longitude do distrito sede do municpio:462006e 463439 oeste.

    Limites: ao norte com Mairipor e Nazar Paulista; nor-deste com Santa Isabel; ao leste com Aruj; ao sudestecom Itaquaquecetuba; a sul, sudeste, oeste e noroestecom So Paulo.

    Altitudes:mxima 1.438 metros, no Espigo da Serrado Itaberaba (Pico do Gil); mdia 759 metros; mni-ma 660 metros, localizada na foz do Ribeiro Jaguarie com o Rio Jaguari, nas divisas de Guarulhos, SantaIsabel e Aruj; sede 773,14 metros.

    Marco Zero:Praa Tereza Cristina.

    Distncias:So Paulo 17,7 quilmetros; Atibaia 67quilmetros; So Jos dos Campos 75 quilmetros; Riode Janeiro 411 quilmetros; Belo Horizonte 570 qui-lmetros; Braslia 1.050 quilmetros; Santos (Porto)

    90 quilmetros; So Sebastio (Porto) 183 quilmetros.Rodovias:Presidente Dutra (BR-116); Ferno Dias (BR-381); Ayrton Senna (SP-70); Hlio Smidt (SP-19/BR-610);

    Vereador Francisco de Almeida (SP-36).

    Avenidas: Guarulhos; Dr. Timteo Penteado; BrigadeiroFaria Lima; Tiradentes; Presidente Juscelino Kubitschek;Papa Joo Paulo I; Santos Dumont; Monteiro Lobato; EmlioRibas; Salgado Filho; Octvio Braga de Mesquita; JamilJoo Zarif; Presidente Tancredo Neves; Antnio de Souza;Jlio Prestes; Benjamim Harris Hunnicult; Anel Virio, queliga a Vila Galvo ao Parque Cecap e engloba a Av. Pres.

    Humberto de Alencar Castelo Branco e parte da Av. Gua-rulhos. Esta via foi construda no local onde passava aE.F. Sorocabana (ramal Guarulhos), conhecida comoTrenzinho da Cantareira; Av. Pedro de Sousa Lopes,Marginal Baquirivu e Av. Silvestre Pires de Freitas.

    Estradas:do Cabuu, David Corra, do Recreio, Ana Diniz,Tanque Grande ou Sabo, do Sacramento, dos Veigas, doMorro Grande, Albino Martello, do Capuava, Ary JorgeZeitune, das Lavras, gua Chata, Guarulhos-Nazar, Es-trada Velha de Bonsucesso (no bairro Cumbica, Lavras eParque Piratininga e nos municpios de Itaquaquecetuba eMogi das Cruzes), Estrada Velha do Cabuu, no bairro daPonte Grande, Estrada da Parteira, Estrada da Conceio,

    na Vila Sabrina, municpio de So Paulo.

    Adjet ivo ptrio: guarulhense.

    DDD: 11.

    Estao Guarulhos em meados de 1930.

    Estrada Bonsucesso, em Itaquaquecetuba.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    PASSADO GEOLGICO DE GUARULHOSVULCES, TERREMOTOS E MAR

    Quando andamos pela cidade raramenteprestamos ateno nas formas topogrficas dolocal que nos cerca e, geralmente, no vemosmais os rios e suas encostas. Quase tudo se tor-nou urbano.

    A Terra se formou h aproximadamente 4,5bilhes de anos, quando nem os continentesnem os oceanos hoje conhecidos existiam. Asuperfcie do planeta era to quente, devido satividades vulcnicas e aos impactos de meteo-ritos, que a gua no podia nem se condensarna superfcie para formar rios, lagos e oceanos.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Durante a evoluogeolgica da Terra, conti-nentes inteiros surgiram eforam destrudos por v-rias vezes e, assim, as for-mas dos continentes quehoje conhecemos so geo-logicamente recentes.

    Na regio de Guaru-lhos o evento geolgicoreconhecido mais antigocorresponde ao desen-

    vo lv imento de mu itosvulces, que resultou naformao de derrames de

    lavas h pouco mais de1,5 bilho de anos. Masessas lavas formaram-se no fundo de um ocea-no profundo, ou seja, para passar naquela po-ca por onde hoje Guarulhos, somente comum barco. A formao deste oceano deveu-se quebra e separao de um grande conti-nente que hoje no mais existe, e as partes re-sultantes afastaram-se uma da outra, como hojeocorre com a Amrica do Sul e a frica, sepa-radas pelo Oceano Atlntico. Nesse antigo oce-ano, onde hoje est Guarulhos, havia muitos

    vulces. As rochas formadas nesses vulces es-to hoje distribudas principalmente no sopda Serra do Itaberaba (ou do Gil), em Guaru-lhos, mas podem tambm ser observadasmais para nordeste e para sudoeste, at a re-gio de Araariguama, perto do municpio deSo Roque. Entretanto, com as mudanas que

    ocorreram no interior da Terra, esses conti-nentes inverteram seu movimento de distan-ciamento e passaram a deslocar-se um emdireo ao outro. Isso ocorreu h cerca de1,2 bilho de anos, gerando zonas de sub-duo, processo geolgico no qual o fundodo oceano penetra a Terra, quando se formouum arco de ilhas (como o Japo dos dias dehoje), com grandes vulces na superfcie e nofundo do mar, e com grandes terremotos.

    interessante obser-var que as rochas, quan-do submetidas a condi-es de presso e tempe-ratura como estas, sodobradas como um pa-pel, sem que se quebrem;muitos registros dessemetamorfismo, suas do-bras e seus minerais po-dem ser vistos nos arre-dores de Guarulhos.

    Assim, Guarulhos,nesta poca, era comoos Andes so hoje,

    uma grande cadeia demontanhas, com mui-

    tos vulces e terremotos. Acalmados esseseventos ao longo de milhes de anos, a ero-so causada pelas chuvas, ventos, geleiras erios por milhares de anos foi desgastando asmontanhas, levando os materiais erodidos pe-los rios at lagos e mares.

    As chuvas torrenciais levavam grande quan-tidade de pedras, lama e areia das partes maisaltas, acima das escarpas das falhas, para a parteafundada, chamada de bacia sedimentar, geran-do, inicialmente, grandes escorregamentos,cujos depsitos foram retrabalhados por rios,com lagos, pntanos, florestas e matas entre eles.

    Hoje, nas partes mais altas, esses materiais,sedimentos do perodo Tercirio, j foram remo-

    vidos pela eroso, estando preservados quase queexclusivamente nas baixadas.

    Como o tempo geolgico no para, hojepodemos ver os rios erodindo as encostas eespraiando-se, e as lagoas aquelas que aindano foram preenchidas com entulhos entreeles, na regio de Guarulhos. O maior exemplo o Rio Tiet, que originalmente tinha um tra-ado cheio de curvas e hoje est muito alteradopelas obras de engenharia, com uma plancie for-mada por sedimentos recentes, conhecidoscomo aluvies.

    Fumarola vulcnica de fundo ocenico.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    O contorno do relevo atual da cidade remonta a aproximadamente 60 milhes deanos atrs. Nesta poca, a regio do Aeroporto de Cumbica sofreu um grande afunda-mento, configurando o formato atual do municpio.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Formao Socioeconmica

    D e uma aldeia indgena coletora a uma cidade industrial. O que ocorreu para quehouvesse tamanha transformao? A mudana principal ocorreu no modo de organizao social,que passou de uma sociedade nmade para a sedentria. Os primeiros habitantes, os Maromomi,eram nmades, viviam da pesca, da caa e da coleta de frutos; o tempo de permanncia em umlocal era determinado pela colheita.

    Uma cidade industrial caracteriza-se por um tipo de organizao social sedentarizada, quepossui habitaes e atividades econmicas fixas. Guarulhos atualmente possui caractersticasessencialmente urbanas: concentrao densa de populao e farta infraestrutura rede de forne-cimento de gua, coleta de esgoto, gs, eletricidade, telefonia, transporte, escolas, postos desade, reas de lazer, vias de acesso, praas, moradias etc. Qual o caminho percorrido?

    2

    EVOLUO DO VALOR ADICIONADO FISCAL 2000 2005,SETORES ECONMICOS (EM BILHES DE REAIS)

    Fonte: Secretaria Estadual de Negcios da Fazenda (2006).

    D

    ivulgao:PrefeituradeGuarulhos.

    Soldados com ndios. Jean Baptiste Debret.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    O processo de urbanizao e expanso terri-torial da cidade comeou com o ciclo do ouro. Aminerao concentrou a fora de trabalho na re-gio da Serra do Itaberaba, de Bananal, Tanque

    I N D G E N A S M A R O M O M IOS PRIMEIROS HABITANTES

    DE GUARULHOSOs primeiros habitantes do territrio foram

    os indgenas Maromomi, um povo pertencente famlia Puri, do tronco lingustico Macro-J, queeram nmades. A famlia Puri ocupava o imensoterritrio entre a Serra do Mar, o Vale do RioParaba do Sul e a Serra da Mantiqueira.

    Os Maromomi passaram a frequentar a re-gio de Guarulhos por volta do ano 1400 daera crist, aps serem expulsos do litoralpaulista pelos indgenas de lngua tupi-guarani.Segundo os registros, esses indgenas eram h-beis andarilhos, troncudos, muito fortes e de pe-

    quena estatura, o que lhes dava uma aparnciaum tanto distinta dos Tupi.

    Grande e Lavras. Passado o ciclo do ouro, acon-teceu a ocupao das vrzeas da cidade para pro-duo de tijolos cozidos, atividade situada prxi-ma aos rios Tiet, Baquirivu-Guau e Cabuu deCima. A grande expanso da cidade veio com aconsolidao do processo industrial.

    Quanto ao povoamento do municpio,pode-se verificar a presena indgena, dos co-lonizadores portugueses, de etnias africanas, deimigrantes europeus, rabes, asiticos e dos pr-prios trabalhadores rurais brasileiros. Atualmen-te, mais de 40 etnias habitam o municpio deGuarulhos.

    Um dos canais de garimpo de ouro doRibeiro das Lavras.

    Trecho da certido de aldeamento de ndios 1721-1810.

    Arquivo Pblico do Estado de So Paulo.

    Uma famlia de indgenas Puri em viagem smargens do Paraba, outubro de 1815.

    Gravura de Maximilian Alexander Philipp.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Fruto da sapucaia.

    Os Maromomi so citados por todos ospesquisadores da Histria de Guarulhos, po-rm so ilustres desconhecidos. Estudo recen-te feito por Benedito Przia, linguista douto-rado pela Universidade de So Paulo, traz con-tribuies das mais importantes para se conhe-cer a nao Maromomi.

    Os Maromomi eram nmades e viviam dacaa, da pesca e coleta de frutos. A partir de

    1640, aproximadamente, os colonizadoresportugueses passaram a cham-los deGuarulhos, possivelmente devido semelhana fsica e cultural com osparentes que habitavam o litoralnorte do Rio de Janeiro, na fre-guesia de Santo Antniode Guarulhos. O terri-trio dos Guarulhoscompreendia toda a

    rea situada entre a margem do Rio Parabado Sul, os municpios de So Joo da Barra,Itaperuna, Cambuci, So Fidlis e o Estadodo Esprito Santo. Outra hiptese possvel que, com o advento da minerao de ouroem Guarulhos, em 1602, o governador-geraldo Brasil, d. Francisco de Sousa, trouxe paraas minas de ouro paulistas 200 ndios do Es-prito Santo. Das minas de ouro paulistas fa-

    ziam parte as de Guarulhos, descoberta feitapor Afonso Sardi-nha, em 1597.

    Os Maromomino praticavam a agricul-

    tura, pois eram coletores.Mantinham-se com a coleta dopinho, da castanha da sapucaiae do mel silvestre, alm da caae da pesca.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Pinhes, frutos da araucria.

    Viviam em peque-nos grupos, deslocando--se de acordo com a ex-trao das frutas e mo-rando em abrigos provi-srios (tapusas). Porisso, esses grupos cole-tores e, posteriormente,os que no falavam a ln-gua tupi, foram chama-dos de Tapuia. No usa-

    vam redes, preferindo dormir no cho, sobrefolhas. H registros de um contingente de apro-ximadamente 3 mil Maromomi nas imediaesde So Paulo.

    Os missionrios tentaram alde-los, mashouve muita resistncia. Os poucos que foramlevados para as misses fugiram, pois no seacostumaram com uma vida sedentria.

    Mesmo assim, os paulistas tentaram escra-viz-los. Com o abandono das misses, o que

    hoje a cidade de Guaru-lhos se transformou emuma vila portuguesa. Fren-te escravizao, os Ma-romomi tiveram trs atitu-des: aceitar como um malinevitvel, reagir de forma

    violenta ou fugir para oserto. Muitos reagiram deforma violenta e vrias re-

    volt as ocorreram: em1652, atearam fogo na fazenda de Joo Sutil deOliveira; oito anos depois, em 1660, a Cmarade So Paulo registrou uma nova rebelio en-

    volvendo Guarulhos.

    Do idioma falado pelos Maromomi foramconservadas apenas duas palavras: ar, que sig-nifica padre, e Nham nhax muna, que signifi-ca Deus.

    Foi o padre Manuel Viegas quem melhorconheceu o idioma, chegou a traduzir para essa

    lngua o catecismo Tupi, usado nos al-deamentos, e concluiu a gramtica ini-ciada por Anchieta. Confrontandooutros idiomas de povos da regio,como os Puri e os Coroado, chega-mos concluso, pela semelhana queexiste entre eles, que os Maromomipertenciam famlia lingustica Puri.(Benedito Przia.)

    Homem de Capelinha: crnio encon-trado em sambaqui de rio, no Vale doRibeira, revela a cultura mais antigade So Paulo meio homem do mar,meio homem do mato, membro deum povo singular, com traos nomongoloides, semelhante a Luzia.

    Foto

    Eduardo

    Cesar

    Pesquisa

    Fapesp

    112,

    junho

    de

    2005.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Rio Paraba do Sul territrio dos indgenas Guarulhos em Campos dos Goytacazes, RJ.

    Os Primeiros Brasileiros. Como chegaram a Guarulhos?No tempo em que o Brasil ainda no era Brasil, quem eram seus habitantes?

    Quando chegaram? De onde vieram? Como chegaram a Guarulhos?Com certeza, essas quatro indagaes so difceis de responder. Mesmo no tendo

    respostas conclusivas, de forma resumida abordaremos a temtica a partir dos estudosrealizados. Motivo a mais, que com certeza servir de estimulo nossa curiosidade eajudar o aprofundamento de nossas pesquisas. Se voc pensou que foram os portu-gueses, ou mesmo os atuais indgenas, errou.

    De acordo com o pesquisador Eduardo Bueno, a complexa e fascinante questo sobrequem foram os primeiros brasileiros passa, evidentemente, pela indagao primordial:quem foram os primeiros seres humanos a colonizar a Amrica? Sabendo-se que jamaisexistiram, no continente, grandes primatas que pudessem evoluir para a forma humana,arquelogos e antroplogos cedo partiram da premissa de que os primeiros povoadoreshaviam chegado ao novo mundo vindos de outro (ou outros) continentes. Mas de onde e quando?

    Em 1974, no Stio da Lapa Vermelha IV, municpio de Pedro Leopoldo, MG, a equipe da arquelogaAnnette Laming-Emperaire encontrou vrias ossadas, inclusive o crnio de uma mulher, mais tarde batizada

    de Luzia.Luzia teria morrido h cerca de 11.500 anos. O que mais surpreendeu o mundo acadmico foiquando o arquelogo Walter Neves, da Universidade de So Paulo, demonstrou que o crnio encontradotratava-se de uma pessoa com traos negroides, o que foi confirmado pela reconstituio facial feita pelo dr.Richard Neave, da Universidade de Manchester, na Inglaterra, em 1999.

    Segundo Neves (1999) e Pucciarelli (2004) a hiptese melhor documentada na literatura postula que aAmrica foi povoada a partir de duas ondas migratrias. A mais recente foi constituda por populaes asiticas,cujo DNA o mesmo das populaes indgenas atuais. Anterior a esta, houve uma migrao de povos nomongoloides, cujas caractersticas nos remetem aos atuais africanos e aborgines australianos. Esse grupo an-cestral, que tambm povoara a Austrlia, teria chegado ao Brasil possivelmente atravs do Estreito de Bering emuma poca de grandes modificaes na paisagem terrestre por consequncia da ltima glaciao.

    Esse grupo viveu tranquilamente at a chegada da migrao asitica, que ocorreu a partir de oito mil

    anos atrs. Com o tempo, esses primeiros povoadores, em menor nmero, foram sendo assimilados oumortos, o que levou sua total extino.Os primeiros brasileiros a maior parte de hbito coletor percorreram muitas regies do Brasil em busca de

    alimentos e melhores climas. provvel que parte desse grupo tenha se deslocado para o litoral, onde haviamais fartura, tornando-se os homens do sambaqui. Ocuparam todo o litoral sul, sudeste e leste vivendo, sobre-tudo, de coleta de mariscos, peixes e pequena caa. Muitos dos registros das populaes litorneas podem estarsubmersos, pois ocorreram transgresses e regresses do nvel relativo do mar durante o Holoceno, episdio quetem a durao de aproximadamente 12.000 anos (Suguio, 1985).

    As variaes do nvel do mar comearam por volta de 7.000 anos atrs e vm at os dias atuais.Como os Maromomi so supostamente descendentes dessas populaes dos sambaquis, podemos fazer

    uma ligao entre a histria desses primeiros ocupantes de Guarulhos com os primeiros povoadores do Brasil.

    Reproduo docrnio de Luzia.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    CICLO DO OUROCOLONIZAO PORTUGUESA NO

    TERRITRIO GUARULHENSEComprovadamente, a primeira atividade

    econmica/comercial da cidade foi a extraode ouro. A descoberta ocorreu no final do s-culo XVI na Serra do Jaguamimbaba, em 1597,e o feito atribudo a Afonso Sardinha, o ve-lho, estendendo-se at 1812. No incio do s-culo XVII, Geraldo Corra tambm descobriuouro no Rio Baquirivu-Guau e recebeu cartade sesmaria em 1611. Do incio ao fim da mi-nerao foram mais de 200 anos deatividade.

    Toda at ividade econmica

    produtiva induz outras; a ativida-de principal s se realiza satisfa-toriamente se existir comrcio,prestao de servios, agricultu-ra, fora de trabalho, meios detransporte, estradas etc., por issoa produo econmica um atoeminentemente social.

    Quando os colonizadores por-tugueses chegaram antiga Aldeiade Nossa Senhora da Conceiodos Maromomi, vindos da

    Vila de So Paulo, e inicia-ram a extrao de ouro, nadado que existe hoje, em ter-mos de infraestrutura urba-na, havia. Guarulhos, nestapoca, era mata fechada. Oslugares onde atualmente an-

    damos, moramos, trabalha-mos e nos divertimos soobras humanas.

    A caa ao ouro foi o incio doprocesso de expanso urbana da lo-calidade e das atividades comerciais.Os locais onde antes s existiam ma-tas passaram a sofrer interfernciahumana com fins comerciais. Parainiciar a extrao de ouro, o

    minerador precisava dispor derecursos financeiros para ga-rantir o sucesso do empreen-dimento. Escravos, ferramen-tas de trabalho, abertura deestradas, mercrio, transportede carga, alimento, vestirio,

    senzala, armas de fogo, mu-nio e impostos contabili-zavam custos e benefcios.Muito do que se comprava

    era pago em ouro.O garimpo de ouro

    de Nossa Senhora da

    Conceio estava loca-lizado no centro da Vila deSo Paulo de Piratininga, ou

    seja, entre a Vila de So Paulo e assadas para o Rio de Janeiro e Minas

    Gerais. Os mineradores precisaramabrir caminhos para integrar-se Ca-pitania de So Vicente. Guarulhosinterligava-se s atividades da Ca-pitania por trs estradas: um

    Benguela.

    Escravo. JeanBaptiste Debret.

    Ouro em gros, encontra-sena terra em depsito de

    areia ou cascalho. A explo-rao feita com a bateia

    ou por dragagem.

    Veios de ouro em meio a rochade quartzo. So extrados por

    triturao. No stio arqueolgicodo Ribeiro das Lavras verifica-

    -se ouro nas duas formas,quartzo e cascalho.

    Congo.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    caminho pela regio leste, Bonsucesso-Itaqua-quecetuba-So Miguel Paulista; outro pelo ladosul, Ponte Grande-Penha; e pelo lado norte,Cabuu-Santana. Guarulhos, atravs dessesacessos, ligava-se Vila de So Paulo, ao litoralpaulista e carioca, bem como s minas velhasdo serto de Taubat.

    Ouro, caminhos, tropeiros e pousos, Guaru-lhos comeou assim em seu processo econmico.Um dos pousos de tropeiros mais conhecidos daregio leste guarulhense fica na pequena Vila de Bon-sucesso, pouso onde se arranchavam os tropeirosem local que era dotado de gua (Rio Baquirivu--Guau) e vegetao para alimentar animais etc. Nolocal confluem a Estrada das Lavras, Estrada Ve-

    lha de Bonsucesso e a do Caminho Velho. Ostropeiros costumavam descansar apsmarchar de 15 a 20 quilmetros, a 18quilmetros do pouso de Bonsucesso,onde fica o stio arqueolgico do garim-po de ouro do Ribeiro das Lavras.

    De modo geral, em torno dospousos de tropeiros formaram-sepequenos povoados dotadoscom pequeno mercado co-berto com folhas de pin-doba, uma igreja, umapraa e poucas casas.

    Algo muito seme-lhante a Bonsucesso,onde no pequeno largo dapraa existem a Igreja deNossa Senhora de Bonsuces-so, construda em taipa de

    pilo; e a Capela de So Benedito, onde h maisde 250 anos realizada a romaria e a Festa daCarpio. O lugar compe parte do cenrio dociclo do ouro na cidade.

    O mais importante stio arqueolgico, paracompreender os mtodos de minerao de ourono Brasil, encontra-se em Guarulhos. Trata-sedo Stio Arqueolgico do Garimpo de Ourodo Ribeiro das Lavras. Para o gelogo da Uni-

    versidade de So Paulo, Caetano Juliani, ...olocal pode ser considerado um laboratrio portudo que oferece em termos de conhecimentomineralgico, histrico, geolgico e ambiental.

    A minerao de ouro, entre outros fatores,trouxe a Guarulhos duas novas etnias: os colo-

    nizadores portugueses e os negros africanos.Nesse perodo, ndios, brancos e negros, uns

    como escravos e outros como senhores,foram os principais atores da Hist-

    ria da cidade.Cacos de cermica com estilo

    e gravura de influncia africana, ocemitrio de escravos no adroda Igreja da Irmandade deNossa Senhora do Rosriodos Homens Pretos, na RuaD. Pedro II, bem como os

    topnimos Estrada das La-vras, Campo do Ouro, Catas

    Velhas, Crrego dos Entu-lhos etc., existentes na pai-sagem da cidade, dimen-sionam a importncia daminerao em Guarulhos.

    Quilombolas da Conceio dos GuarulhosMartim Lobo Sardinha em 1776 mandava que o sargento-mor Teotnio Jos Zuzarte sem perda de

    tempo convocasse os auxiliares necessrios para dar combate aos quilombolas que se encontravam na

    sada da cidade, na aldeia Pinheiros e Stio da Ponte... Mandava aquela autoridade que o capito-mor

    providenciasse Capites-do-mato e Sertanejos para desinfestar os caminhos.

    Mas, ao que parece, as coisas no iam muito bem. Os quilombolas continuavam desafiando as autori-dades. Da ter sido organizado um plano de propores bem maiores para combat-los. O governadorCunha Meneses enviou ofcio aos capites-mores dos bairros da Penha, Cotia, Santo Amaro, Conceio dosGuarulhos, Cangussu e So Bernardo. No documento dava instrues para que fosse executado um plano devasta envergadura contra os escravos fugidos.(Clovis Moura, 228)

    Escravo trabalhando com a bateia.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Transcrio de trecho da Carta de sesmarias

    Livro I do Arquivo Pblico do Estado.Carta de data de terras de sesmaria de Geraldo Corra dada pelo capito Gaspar Conqueiro, aos 19

    dias do ms de setembro de 1611.

    Em Guarulhos chegaram a existir pelo me-nos seis garimpos de ouro: bairro das Lavras,Catas Velhas, Monjolo de Ferro ou Lavras Ve-lhas do Geraldo, Campo dos Ouros, Bananal e

    Tanque Grande.O ouro tornou-se base monetria internacio-

    nal em 1445 e, justamente por isso, possua signifi-cado especial para o imprio portugus. Neste con-texto colonial, Guarulhos foi um dos locais a com-por o mercantilismo portugus durante a IdadeModerna. As minas de So Paulo, entre elas as deGuarulhos, foram o laboratrio para os bandei-

    rantes paulistas acumularem experincia para as

    Filho de escrava, no escravo. Joaquim doEsprito Santo ou Joaquim Antnio dos Santos,

    apelidado Nh Quim de Ferro, era filho daescrava Josepha, que foi vendida pelo dr. Joolvares de Siqueira Bueno para sua irm, Ana

    Maria de Castro. Teria sido o ltimoremanescente da escravido da Fazenda

    Bananal. Fonte: Guarulhos Sculo XX imagense histrias, autor: Massami Kishi.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Ideia MetalistaO que se convencionou como Idade Moderna ocorreu na Europa, a partir de 1453, com a Tomada deConstantinopla pelos turcos otomanos; no Brasil, a partir da chegada das caravelas de Pedro lvares Cabrala Porto Seguro, no dia 19 de abril de 1500; e em Guarulhos, com a fundao da aldeia, o ciclo do ouro, otrabalho escravo indgena e africano.

    O mercantilismo caracterizou-se como uma poltica de interveno do Estado na economia. A riqueza deum pas era medida pela quantidade de metais preciosos, portanto, a riqueza era entendida como a acumu-lao de ouro e prata. A fim de colocar em prtica a ideia metalista, uma das medidas mais comuns adotadaspelos Estados europeus foi a de estimular a exportao e desestimular a importao. Desse modo, procurava--se favorecer a entrada de metais preciosos e impedir a sua sada.

    (Fonte: Luiz Koshiba e Denise Manzi Frayze Pereira in: Histria do Brasil.)

    Provavelmente aventureiro ingls esteve em Guarulhos, em 1597Em muitos desses crregos encontramos pequenas pepitas de ouro do tamanho de uma noz, e muito

    ouro em p feito areia. Depois disso, chegamos a uma regio bonita onde avistamos uma enorme monta-

    nha brilhante nossa frente.7( p. 116).

    7A montanha brilhante, segundo Teodoro Sampaio, seria a Serra de Itaberaba, um prolongamento da Mantiqueira, entre osmunicpios de Nazar Paulista e Santa Isabel. Itaberaba, em Tupi, quer dizer montanha reluzente. Gabriel Soares de Sousa, emseu tratado descritivo do Brasil, 1587, d testemunho semelhante,... E no h dvida seno que entrando bem pelo sertodesta terra h serras de cristal finssimo, que enxerga o resplendor delas de muito longe. Fonte:As incrveis aventuras e

    estranhos infortnios de Anthony Knivet, Sheila Moura Hue, organizao, introduo e notas. Jorge Zahar Editor.

    Parte da parede de taipa da Casa Grande do bairro das Lavras.

    descobertas e minerao em Minas Gerais. A mi-nerao em Guarulhos e So Paulo antecede em100 anos as descobertas em Minas Gerais.

    Durante os trs primeiros sculos de presen-a colonial portuguesa no planalto paulista, asconstrues de casas, igrejas, cmaras, cadeiasetc., eram feitas em taipa de pilo. A taipa repre-sentava um modo construtivo barato, seguro eduradouro, por isso utilizado pela comunidadelusa, sendo a terra a principal matria-prima.

    Da poca das construes emtaipa de pilo restou pouco emGuarulhos. Em 1685, foi erguidaa Igreja de Nossa Senhora da Con-ceio, atual Igreja Matriz, que

    mantm paredes de taiparevestidas com tijolos e todas asparedes do altar em taipa de pi-lo. No bairro de Bonsucesso, aIgreja de Nossa Senhora de Bon-sucesso foi construda, com essatcnica. No bairro das Lavras, nomeio da mata, resta um pedao de

    parede que os moradores afirmam ser de uma anti-ga senzala, haja vista que h pouco tempo foramretiradas argolas de ferro da referida parede.

    Ao esgotamento das atividades de minera-o de ouro em Guarulhos sucedeu o ciclo dotijolo cozido. Entre essas duas fases, no inciodo sculo XIX, teve destaque a plantao decana-de-acar, direcionada para a produo ecomercializao de cachaa e rapadura, contan-do inclusive com a fora de trabalho escravo.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    Arqueologia em GuarulhosA Arqueologia tem uma funo social bastante importante, pois interage

    com a comunidade desde o momento de localizao de um stio arqueolgicoat o momento em que se integra a ela para o trabalho de Educao Patrimonial.No caso de Guarulhos, mais propriamente no stio arqueolgico do Ribeirodas Lavras, propomo-nos a mostrar como a Arqueologia se faz imprescin-

    dvel para a reconstruo do passado guarulhense. Alm de que o trabalhoarqueolgico tambm nos permite ajudar na preservao, no s dos vest-gios materiais removveis, mas das estruturas macias.

    O trabalho arqueolgico permitir, tomando como exemplo o caso do Ri-beiro das Lavras, uma reconstituio do contexto da minerao, do trabalhonas lavras de ouro pelos trabalhadores indgenas e africanos, conjugando deforma interdisciplinar a pesquisa arqueolgica com a Geologia, GeografiaFsica, Biologia e com a Educao Patrimonial, um dos principais expoentes dotrabalho do arquelogo no Brasil e no mundo.

    Por fim, o intuito final da Arqueologia para a regio de Guarulhosdeve passar pela criao de um espao educativo que possa se cons-

    tituir em uma referncia para pesquisadores, universitrios e estudan-tes da rede estadual e municipal de Guarulhos. A reconstruo daHistria de Guarulhos no somente passa pela importante documen-tao textual deixada por jesutas, viajantes ou historiadores do passa-do, como tambm pelos veios de ouro do Ribeiro das Lavras, e aque a Arqueologia se apresenta como fundamental para se recontaressa histria. Arquelogos Vagner Carvalheiro Porto e Lcia Juliani.

    Caco de cermicaencontrado no stio

    arqueolgico doRibeiro das Lavras.

    bairro das Lavras Guarulhos.

    PrefeituradeGuarulhos

    SecretariadoMeioAmbiente.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Bandeirantes. Obra de Jean Baptiste Debret.

    Entradas e bandeiras busca do ouro e a interface com GuarulhosAs entradas e bandeiras eram expedies colonizadoras feitas pelo interior do Brasil nos sculos XVI, XVII e

    XVIII. As entradas eram expedies de carter oficial, visando conquista da terra e consolidao dodomnio portugus, combatendo as tribos indgenas rebeldes.

    As bandeiras, por sua vez, de carter particular, tinham objetivos nitidamente econmicos. Foram empre-

    endidas, sobretudo por paulistas, para capturar ndios para utiliz-los no trabalho escravo e descobrir jazidasde pedras e metais preciosos. Os bandeirantes, al-guns deles nascidos ou donos de terras em Santanade Parnaba, e suas aes levaram expanso doterritrio brasileiro, ao povoamento do interior e aolevantamento dos recursos naturais. Mas eles tam-bm dizimaram muitas populaes indgenas e ata-caram misses jesuticas para aprisionar nativos.

    Entre os bandeirantes paulistas constatam-se emGuarulhos as presenas do bandeirante Afonso Sardi-nha e de Geraldo Corra, ambos envolvidos diretamentecom a minerao de ouro e a escravido indgena.

    AGRICULTURA EPECURIA EM GUARULHOS

    A atividade em meio rural na cidade passabasicamente por trs momentos. De coletora agricultura de subsistncia e posteriormente comercializao do excedente produzido. Emseu ltimo perodo, com base em dados dispo-nveis, no chegou a constituir um ciclo econ-

    mico nos moldes da pujante agricultura no Es-tado de So Paulo, onde se pode observar opredomnio do plantio de caf, cana-de-acar,soja e laranja, por exemplo.

    Na poca da ocupao indgena, os Maro-momi se restringiam coleta do fruto dasapucaia, do pio da araucria, mel, razes etc. Comodescrito em captulo anterior, os Maromomi

    Produo de hortalias margens do Rio Baquirivu-Guau.

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    so de uma comunidade indgena nmade, queno chegou a desenvolver tcnicas produtivasno tocante a agricultura e muito menos quanto

    a domesticao de animais.Segundo pesquisas, houve uma transio gra-

    dual na qual a economia de caa e coleta coexis-tiu com a economia agrcola: algumas culturaseram deliberadamente plantadas e outros alimen-tos eram obtidos da natureza.

    Sobre a agricultura de subsistncia em Gua-rulhos, no existe data precisa de seu incio. Sa-bemos que desde o comeo da colonizao emSo Paulo as famlias portuguesas viviam da agri-cultura de subsistncia. Em Guarulhos, a pri-meira atividade econmica dos colonizadoresfoi a minerao de ouro. provvel que nasproximidades dos garimpos do municpio, aexemplo do que aconteceu em Minas Geraisdurante o ciclo do ouro, tenham existido plan-taes voltadas para o abastecimento dos tra-balhadores envolvidos na minerao e das res-pectivas famlias proprietrias.

    De modo geral, a agricultura comercial ga-nha fora com a evoluo das tcnicas agrco-las, fator essencial, que possibilitou a produode excedente de mercadorias no meio rural.Com isso, foi possvel a formao de merca-dos de consumo de produtos agropecurios.

    A existncia de muitas olarias e o aumentopopulacional em Guarulhos e So Paulo favo-receu a diversificao da economia local, inclu-sive a ampliao da atividade agrcola: logo aps

    a minerao de ouro, o produto de maior des-taque da agricultura no municpio era a cana--de-acar. No final do sculo XIX chegaram aexistir na cidade 30 engenhos situados nas re-gies de Ituverava, Tapera Grande, Pirapora eBonsucesso. A diversificao aconteceu com acriao de gado, aves, equinos, sunos e caprinos.

    Em 1901, com uma populao de 4 mil pes-soas residentes em Guarulhos, constata-se a quan-tidade de 300 cabeas de gado, 20 caprinos, 100porcos, pouca produo de feijo e arroz e boasafra de milho. Em 1942, com mais de 10 mil ha-bitantes, relatrios apontavam apenas a existnciade 800 cabeas de gado e cultivo de cereais.

    Aps 1950, com o avano da industrializa-

    o e o crescimento urbano da cidade, ganha im-portncia a produo hortifrutigranjeira, tendo frente do processo famlias imigrantes asiticase europeias, principalmente. Ao longo das vr-zeas se percebe a ocupao dos leitos dos rios ecrregos com pequenas glebas para produode hortalias. No sop da Cantareira se obser-

    vam muitas plantaes de chuchu, uva, tomate,entre outras culturas. Entre as vrzeas e a Serrada Cantareira, muitas famlias se dedicam cria-o de porcos e aves. Os produtos hortifru-tigranjeiros de Guarulhos, alm do mercado lo-cal, eram e continuam sendo vendidos no mer-cado da Capital paulista. Segundo dados dadeclarao para o ndice de participao dosmunicpios (Dipam, 2006), atualmente em Gua-rulhos existem apenas 54 unidades produtivasem meio rural.

    Matadouro Municipal inaugurado em 13 de maiode 1929 local atual do Tiro de Guerra.

    Matadouro e Frigorfico Mercantoni, inaugurado

    em 1954 localizado na Av. Monteiro Lobato.

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    CICLO DO TIJOLOCHEGAM OS IMIGRANTES

    ITALIANOS, ALEMES,LIBANESES E JAPONESES

    Ao conversarmos com aspessoas mais idosas sobre aHistria da cidade, muitas selembram das olarias. A ativi-

    dade oleira foi to significati-va que marcou a memria dosmais antigos e a paisagem dacidade. Placas de ruas e tijo-los timbrados com iniciais defamlias proprietrias de ola-rias podem ser um dos cami-nhos para compreender a im-portncia da produo de ti-jolos cozidos na histria e na

    economia locais. O que talvezalguns moradores e mesmopesquisadores no expliquem como comeou, quais as al-teraes ocorridas e as mudan-as que a produo de tijolostrouxe para o desenho arqui-tetnico, a vida cultural e po-ltica da cidade.

    Uma das muitas olarias existentes ao longo da vrzeado Rio Tiet, exploradas na sua maioria por

    imigrantes europeus.

    Reunio na Fazenda Bananal. Da direita para esquerda: Nicola Rinaldi, ArnaldoSantoni, Olegrio Barbosa (dono da fazenda), Juvenal Ramos Barbosa,Jos Luis Prata e Ulisses Tavares. Seis fazendeiros, donos da metade

    das terras do municpio. Foto de 1924.

    Remanescente de olaria no bairro das Lavras, em 2008.

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    A introduo do tijolo como material cons-trutivo, em substituio taipa de pilo, alterou

    a funo das olarias e fez com que Guarulhosreencontrasse seu espao na economia paulista.O uso do tijolo imps alteraes na forma tra-dicional de funcionamento das olarias, que almde telhas, passaram a produzir tijolos cozidos.De poucas unidades artesanais nos bairros da Pon-te Grande, Vila Augusta e Gopouva, o fenme-no se espalhou por todos os cantos do munic-pio, coexistindo duas formas produtivas: a arte-sanal, atravs das olarias, e a industrializada.

    A atividade, alm de todos os significadoshistricos, aconteceu no perodo de transioda escravido para a forma de trabalho assala-riado. A expanso do mercado consumidor,aliada ao conhecimento tcnico dos imigranteseuropeus na rea da construo civil e revolu-o tecnolgica no mundo do trabalho fizeram

    com que o sistema produtivo artesanal das ola-rias sofresse alteraes, tanto na forma de pro-duo de tijolos como no sistema de transpor-te. Em 1911, foi implantada em Guarulhos aprimeira indstria voltada produo de telhase tijolos (Cermica Paulista) e logo em seguidafoi inaugurada a estao do Trenzinho da Can-tareira, ambos em Vila Galvo.

    Sobre a origem das olarias em territriopaulista, uma pesquisadora diz:A primeira no-tcia que se tem a respeito da instalao de umaolaria em So Paulo data de 1575, ano em que ooleiro Cristvo Gonalves requereu CmaraMunicipal terreno para a implantao de um for-no destinado ao cozimento de telhas de barro...;

    ...entretanto no pode haver dvida de que emfins do sculo XVI em torno de 1590 j ha-

    via muitas casas cobertas de telha, pois, em 1593,os oleiros tinham at a sua organizao e o seujuiz de ofcio na povoao. (DAlambert, p. 74.)

    Antes de comear a falar do ciclo do tijoloem Guarulhos, devemos pensar que sem argilano possvel produzi-lo. A argila, pelas quali-dades maleveis e plsticas que possui, desde oincio da Antiguidade era utilizada na Mesopo-tmia e no Egito como material construtivo.

    Argilas so sedimentos minerais normalmenteencontrados prximos aos rios e crregos. Aexistncia de grandes jazidas de argila em Guaru-lhos explica-se pelo relevo da cidade. Guarulhosest localizada no fundo do Vale do PlanaltoPaulista e da Serra da Cantareira, plancie poronde correm os rios Tiet, Cabuu de Cima,Baquirivu-Guau, alm de inmeros crregos e

    ribeires; e, da lavagem do solo, resultou a for-mao argilosa na camada sedimentar.Quanto importncia do tijolo cozido no

    Estado de So Paulo, veja o que diz a pesquisa-dora Clara Correia DAlambert: A expansoferroviria na dcada de 1860 e a imigrao es-trangeira trazem, principalmente, alemes e ita-lianos colaboraram muito para a difuso douso da alvenaria de tijolos no Estado de SoPaulo. As fazendas de caf do interior paulista

    Argila das margens do Rio Baquirivu-Guau.

    Famlias alems bairro Torres Tibagy.

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    foram pioneiras na utilizaodo tijolo em suas instalaes,na primeira metade do sculoXIX. Os cafeicultores impor-taram para as cidades a novi-dade tecnolgica do tijolo,que to bem solucionou pro-blemas tcnicos e construti-

    vos nas suas fazendas.Ao esgotamento das ativi-

    dades de minerao de ouro emGuarulhos sucedeu outro mo-delo de ocupao do espao.O povoamento e as atividades econmicas deslo-caram-se dos morros, nas regies norte e leste da

    cidade, para as reas prximas aos rios Tiet,Cabuu de Cima e Baquirivu-Guau. A partir de1870, a imigrao subvencionada trouxe milharesde imigrantes europeus para o territrio paulista;muitos italianos, alemes, espanhis e portugue-ses vieram para Guarulhos. As condies naturaisexistentes em Guarulhos (gua, argila, madeira,areia e pedra) e a proximidade com a Capital pau-lista possibilitaram o desenvolvimento de um novociclo econmico, baseado no tijolo cozido.Outro fator importantssimo para o ciclo do tijo-lo foi a extrao da cal no territrio paulista,mineral responsvel pela feitura da massa.

    O consumo de tijolos cozidos na regio me-tropolitana, utilizados em galpes industriais, vi-las operrias, pontes, igrejas, prdios, moradias etc.,fez aumentar a demanda, concorrendo para aampliao do nmero de olarias, fbricas e,consequentemente, para a diversificao econ-

    mica constatada na cidade. No bairro da PonteGrande existiu o Porto da Igreja de Nossa Senho-ra da Conceio. Local de escoamento da produ-o de tijolos e areia, via Rio Tiet, para a cidadede So Paulo, propiciou a abertura de novas es-tradas, ampliao do comrcio, incremento do re-banho bovino e grande nmero de engenhos vol-tados para a produo de cachaa.

    Correspondendo ao momento econmico,alm da chegada dos imigrantes europeus, inicia-

    -se a imigrao de turcos, libaneses e japoneses. Ociclo do tijolo, entre outras coisas, trouxe trs ele-mentos novos para o cenrio poltico da cidade, asaber: implantao das primeiras indstrias, o mo-delo assalariado para a remunerao do trabalhoe o aparecimento dos primeiros operrios urba-nos. Na Inglaterra, as oficinas artess precederama indstria; em Guarulhos, o processo industrialfoi antecedido pelas olarias, tambm chamadas deproto-indstrias.

    O ciclo industrial guarulhense comeou a seformar paralelamente ao ciclo do tijolo. Em1911, a primeira fbrica instalada em Guarulhosfoi a indstria Cermica Paulista, no bairro de

    Vila Galvo, que produzia tijolos cozidos e te-lhas. A presena dos povos que chegaram no se-gundo momento da imigrao externa turcos,libaneses e japoneses contribuiu para a Hist-ria local, fato que pode ser constatado nas reas

    Tijolo feito em olarias guarulhenses, de 1884, acervo doMuseu Histrico de Guarulhos, 2008.

    Barco no Rio Tiettransportando tijolos, em 1945.

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    do comrcio, da agricultura e do setor hortifru-tigranjeiro. Em 1950, o ciclo econmico da ci-dade j era considerado industrial, conforme ve-remos a seguir.

    A produo de tijolos guarulhense foi fun-damental para a nova configurao arquitetnicada cidade de So Paulo, expressa em monumen-tos como Museu do Ipiranga, Pinacoteca doEstado, Palcio das Indstrias e Teatro Municipal.Os tijolos cozidos substituram a tradicionaltcnica construtiva da taipa de pilo.

    CICLO INDUSTRIALPROCESSO DE METROPOLIZAO

    Guarulhos faz parte do seleto grupo das

    dez cidades brasileiras responsveis por 25%do Produto Interno Bruto (PIB).

    A cidade conta com mais de 2.890 inds-trias, 11.835 estabelecimentos comerciais, 6.662empresas prestadoras de servios e 54 unida-des produtivas em meio rural (Dipam, 2006).Em 2006, atingiu o 9omaior PIB do Pas, sendoos dez maiores: So Paulo, Rio de Janeiro,Braslia, Manaus, Belo Horizonte, Campos deGoytacazes, Curitiba, Maca, Guarulhos e Du-que de Caxias. Como se deu o processo?

    A expanso econmica e urbana no pero-do industrial da cidade pode ser compreen-dida a partir do estudo que envolve a combi-

    nao de fatores polticos e sociais, e de re-cursos naturais do municpio, aspectos quepossibilitaram a insero da cidade no con-texto do desenvolvimento produtivo local,regional, nacional e mundial, tendo como basea indstria estabelecida.

    Nossa reflexo destaca os efeitos comerciaisda Primeira e da Segunda Guerra Mundial noBrasil e em Guarulhos. Concomitante indus-trializao, ocorreu a implantao da estrada deferro e a ocupao do espao areo para fins

    EMPREGOS FORMAIS SETORES ECONMICOS

    Divulgao:PrefeituradeGuarulhos.

    Pedras utilizadas para calamento de ruas.

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    estratgicos militares, e o embrionrio modalde transporte de carga area, a partir da basearea de Cumbica. Nos dias atuais, analisamosos impactos da poltica neoliberal.

    Para o estudo da evoluo da indstria na ci-dade, bem como a formao do proletariado ur-bano, entre outros aspectos, importante periodizara anlise, e para isso definimos trs momentos.

    Primeiro momento, de 1911 a 1945; segun-do momento, de 1946 a 1989; terceiro momen-to, de 1990 aos dias atuais.

    IN D U STR IAL IZA O:PRIMEIRO MOMENTO PROCESSO

    ECONMICO ENTRE AS

    D U AS GU ER R AS MU N D IA ISNo primeiro momento, de 1911 a 1945, a ci-dade comea seu processo de industrializao em1911, com a implantao da Cermica Paulista em

    Vila Galvo. Entre 1915 e 1945, o municpio avan-a em seu processo fabril, contabilizando 58 uni-dades produtivas, empregando 624 operrios. Im-portante destacar que as primeiras indstrias fo-ram instaladas na regio do centro antigo, no eixoque vai da Vila Galvo ao bairro do Macedo. Emtermos de Brasil, no primeiro censo econmicoposterior Primeira Guerra, realizado em 1920,o levantamento aponta a existncia de 13.336estabelecimentos industriais. Do total, 5.936foram implantados no quinqunio 1915-1919.

    Ao avano da industrializao em Guaru-lhos corresponde, tambm, a implantao doRamal da Tramway Cantareira, trecho ferro-

    virio que trouxe o trem de ferro ao centro de

    Guarulhos, bem como a implantao das pri-meiras fbricas ao longo das imediaes da li-nha da rede ferroviria na cidade. A primeiraindstria a se instalar em Guarulhos foi a Ce-rmica Paulista, em 1911, implantada no bair-ro de Vila Galvo, e as indstrias produtorasde bens de consumo na regio do centro ex-pandido, por onde passava o trem da Canta-reira, posteriormente chamada de Rede Fer-roviria Sorocabana.

    O trem da Cantareira foi to importante paraa industrializao do municpio quanto a Estra-

    da da Conceio no ciclo do ouro, a HidroviaTiet no incio do ciclo do tijolo cozido, ou mes-mo as rodovias Dutra e Ferno Dias, a partir dadcada de 1950. O ramal do trem da Cantareiraem Guarulhos foi um dos principais facilitado-res da indstria nascente. Nos primeiros anosdo sculo XX, Guarulhos se insere no contex-to paulista como fornecedora de produtos paraconstruo civil, produtos agrcolas, aliment-cios e bens de consumo.

    As barreiras naturais (Rio Tiet e a Serra daCantareira) representavam um impedimento aodeslocamento da produo guarulhense, quetinha caminhos de ligao com a Capital porBonsucesso, Penha e Jaan. O Rio Tiet, at1915, era o principal corredor de transporte demercadorias.

    Foto da primeira cermica mecnica,instalada em 1911.

    Parte da parede da primeira fbricade Guarulhos Vila Galvo.

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    A regio da Ponte Grande, localizadaestrategicamente na via de ligao com omercado paulista, em 1912 abrigava 45 das137 casas do municpio e as 12 olarias exis-tentes. Do Porto da Igreja de Nossa Senho-ra da Conceio saam os materiais para oporto da Capital, localizado na atual Pontedas Bandeiras.

    A construo do Ramal da Tramwayat o centro de Guarulhos possibilitou a di-

    versificao da economia local e o desloca-mento do eixo produtivo para outros bairrosda cidade, principalmente para as regies aten-didas pelo trem. Integrando Guarulhos pelaZona Norte da Capital, o trem tornou-se a prin-

    cipal via de transporte de passageiros e de mer-cadorias do municpio.

    Nessa fase aconteceu a implantao de f-bricas de bens de consumo para o atendimentoda demanda criada com a rpida urbanizaoda cidade de So Paulo e para substituio dasimportaes, interrompidas pela PrimeiraGuerra Mundial. A inaugurao da Estao de

    Trem Cabuu, posteriormente denominada deVila Galvo, favoreceu a expanso industrial domunicpio.

    A Cermica Paulista, localizada ao lado daestao de trem da Vila Galvo, segunda maiorempresa do ramo do Estado de So Paulo, eolarias tradicionais transportavam sua produ-o de tijolos e materiais cermicos para aten-dimento da demanda da urbanizao da cidade

    de So Paulo, atravs do trem da Cantareira. APrimeira Guerra Mundial desorganizou o siste-ma de abastecimento dos mercados dependen-tes de produtos da economia europeia.

    Guarulhos, nesse contexto histrico, rece-be investimentos em indstrias, que foram im-plantadas ao longo do ramal do trem da Canta-reira, surgindo assim as primeiras fbricas naregio do centro expandido. Por volta de 1920,sua economia contava com as seguintes empre-sas: Empresa Carbonel de Henrique Carbonel,inaugurada em 1923, tecelagem situada prxi-mo a Estao Guarulhos; mais duas empresasdos srs. Gacomo Candenuto e Evaristo Bi-sognini; duas fbricas de polainas, sandlias eartigos de couro; uma de propriedade de JosSaraceni, situada nas proximidades da Estaode Vila Augusto; uma Fbrica de alpargatas dosr. Cerdam Galvez, tambm na Vila Augusta;Moinhos Reisa, de moagem de gros e fabrica-o de farinha dos irmos Fiza, na Vila Augusta;e um matadouro municipal, de propriedade deGino Montagnani, inaugurado em 1929 no lo-

    cal onde hoje o Tiro de Guerra.Nas palavras do ento prefeito Jos Maur-cio de Oliveira, a Estrada de Ferro foi funda-mental para a expanso urbana do municpio.

    Apesar da falta de comodidade que severifica na Estrada de Ferro do Tramway daCantareira, que diariamente nos d 14 trens, extraordinrio o progresso que esta estra-da trouxe ao municpio no s sede e seusarredores como tambm s estaes vizinhas.

    Fbrica de Tecidos Carbonel,edificada em 1917.

    Porto da Igreja, em 1930 bairro Ponte Grande.

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    Assim que por ocasio da inaugurao doRamal da Estrada de Ferro da Cantareira, a4 de fevereiro de 1915, eram completamentedesabitados os lugares onde hoje floresceme prosperam as estaes de Vila Galvo e

    Vila Augusta, cheias de habitaes, desdecasas operrias at os palacetes luxuosos.(Oliveira Sobrinho, 1920 in: Santos, 2006.)

    Sem corresponder ao desenvolvimento deuma tecnologia nacional, os investimentos in-dustriais foram principalmente de empreen-dedores imigrantes europeus e grandes pro-prietrios agrcolas. Os investimentos de ca-pital estrangeiro, principalmente ingls, con-centraram-se nos setores de servios pbli-

    cos, como transporte ferrovirio, energia el-trica, telefonia etc.

    A imigrao europeia foi o principal fa-tor de crescimento populacional do perodo,constituindo um contingente de fora de tra-balho envolvida nesse primeiro momento daindustrializao. Em Guarulhos, tanto nasolarias como nas indstrias, eram os italianos,portugueses, espanhis, alemes, japoneses,turcos e libaneses que exerciam funes pro-dutivas e comerciais, transformando matria--prima e mercadorias para venda no crescen-te mercado paulista.

    Os efeitos da Primeira Guerra Mundial,alm de induzir ampliaodo parque industrial, acar-retaram tambm em SoPaulo a ecloso de trs gre-

    ves gerais, em que os traba-

    lhadores buscavam soluopara o problema da cares-tia, denunciavam a especu-lao com gneros alimen-tcios e as condies prec-rias de trabalho, gerandogreves em 1917.

    Chegam as primeiras multinacionaisNo incio da dcada de 1930, o estmulo

    industrializao da cidade passou pela edio daprimeira lei, isentando empresrios do pagamentode impostos ao governo municipal, Lei no20, de24/3/1937. No ano seguinte, em 11 de maro de

    1938, chegam ao municpio as primeiras multina-cionais. Tratava-se das fbricas Norton Meyer S.A.e a Harlo do Brasil Indstria e Comrcio S.A., si-tuadas no bairro do Macedo, nas proximidadesda Estao Ferroviria Guarulhos e futuras insta-laes da Rodovia Presidente Dutra. No incio dadcada de 1940 Guarulhos contabilizava apro-ximadamente 58 fbricas, que empregavam 624trabalhadores em atividades industriais.

    O movimento grevista foi duramente re-

    primido pela polcia. No temos informaesse houve a participao de trabalhadores deGuarulhos nas greves gerais de 1917. Nessecontexto de formao e crescimento do pro-letariado urbano, aparece o primeiro movi-mento social de Guarulhos, em 1928, e surgea comisso popular pela regularizao e au-mento do nmero de auto-nibus no trans-porte coletivo.

    A necessidade de fora de trabalho paraconstruo da base area de Cumbica e a ViaDutra, entre os anos de 1944 e 1950, foi atendi-da pela migrao nacional, principalmente nor-destina. A liberao da populao rural e consti-

    AbrasivosNorton Meyer S.A.

    FotoMassami.

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    tuio de um mercado de reserva de trabalha-

    dores nos centros urbanos foi condio impres-cindvel para concretizao da poltica de desen-

    volvimento capitalista brasileira, a partir dos anosde 1930. Alm disso, foi necessria tambm aintegrao do Pas atravs de uma rede de rodo-

    vias que possibilitasse o deslocamento popula-cional para os principais centros urbanos e deinvestimentos governamentais para favorecer amigrao interna.

    As transformaes econmicas e sociaisocorridas nas dcadas seguintes alteraram aconfigurao populacional, com a chegadamacia de imigrantes nacionais, vindos prin-cipalmente do interior de So Paulo, MinasGerais, Paran, Bahia e outros Estados, am-pliando a zona urbana e configurando novosespaos de convivncia, que causaram estra-nhamento aos moradores estabelecidos, gran-de parte imigrantes estrangeiros, e aos guaru-

    lhenses natos.As experincias culturais preservadas namemria de antigos moradores e materializa-das na geografia da cidade demonstram umaapropriao do espao pelos moradores ante-riores ao processo de imigrao interna, mani-festaes e expresses culturais ainda hoje pre-sentes na cidade. Experincias de sociabilidadeque possibilitaram a formao de um sentimen-to de pertencimento vida local.

    A partir da dcada de 1950, quando a popu-

    lao ultrapassou 35 mil habitantes, o fato co-meou a causar estranhamento s famlias maisantigas do municpio. A nova composio socialgerou uma situao conflituosa entre as famliasde imigrao europeia, asitica, libanesa,guarulhenses natos e os imigrantes nacionais. Apresena dos imigrantes nacionais implicou emnovas prticas culturais e hbitos sociais.

    O perodo em anlise abre com a implanta-o da primeira indstria, a Primeira Guerra Mun-dial e a implantao do trem da Cantareira e fechacom a construo da base area de Cumbica. Doismodais de transportes, o sistema Cantareira e aBase Area de Cumbica, modificaram o cenrioda cidade. O primeiro com grande influncia naexpanso da economia local. O segundo, que almda ocupao do vasto espao na Fazenda Cumbi-ca significou tambm a ocupao do espaoareo do municpio, para finalidades militares e

    incio do transporte de carga area, processo quese ampliar com a construo do AeroportoInternacional de Cumbica.

    Os efeitos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) impulsionaram a industrializao do Brasile de Guarulhos. Alm da produo para o mer-cado interno, muitos grupos empresariais brasi-leiros passaram a vender seus produtos para ospases em guerra; com isso, a indstria cresceu.Isso o que veremos nas pginas seguintes.

    Estao Vila Galvo, em 1950.

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    Espao de Muitos Povos GUARULHOS

    Estao Ferroviria de Cumbica Base Area.

    Estrada de Ferro Em 1896, Vereadores

    Discutem a Implantao do TremA partir do final da dcada de 1860, com a im-

    plantao da primeira ferrovia em So Paulo a SoPaulo Railway, em 1868 surge um novo e importanteelemento articulador do desenvolvimento econmico daprovncia, responsvel pelo progresso que marcou pro-fundamente a sociedade paulista e a sua civilizao ma-terial. (D Alambert, p. 7.)

    No final do sculo XIX, em 1896, j se discutia naCmara Municipal de Guarulhos a necessidade de a re-gio ser servida por uma estrada de ferro, ligando Gua-rulhos estao do bairro da Penha. A justificativa recaasobre a farta quantidade de recursos naturais da regio,mais especificamente produo de madeira e pedra,alm da produo de tijolos. Toda a produo estavadirecionada s crescentes edificaes da Capital, justificando a implantao do ramal ferrovirio que se

    efetivou somente em 1915, com a inaugurao do Ramal Guapira Guarulhos, o trem da Cantareira.Existiram seis estaes e uma parada de trem em Guarulhos: Vila Galvo, Torres Tibagy, Gopouva, Vila

    Augusta, Parada Sorocabanos, Estao Guarulhos e Estao Cumbica, na Base Area.O ramal de Guarulhos comeou como uma extenso da Estrada de Ferro da Cantareira, que, aberto em

    15 de novembro de 1910, saa da Estao do Areal e atingia o Asilo dos Invlidos, no Guapira (depoisJaan). Somente em 1913 foi aberta a primeira estao intermediria, Tucuruvi, e aos poucos outras estaespassaram a ser abertas na linha que atingiu Guarulhos, em 1915. Em 1947, a linha teve a bitola ampliada de60 cm para 1 metro, quando esta j atingia o Aeroporto Militar de Cumbica. Em 31 de maio de 1965, otrfego do ramal foi suprimido, um ano depois de o trecho Areal - Cantareira ter sido extinto. Os trilhos foramretirados e logo depois diversas estaes foram demolidas.

    A Estao Guarulhos foi inaugurada em 1915, como terminal do ramal de Guarulhos. A partir da

    primeira metade dos anos 1940, passou a sair de l um ramal na verdade, a continuao da linha paraa Base Area de Cumbica. Esse ramal foi extinto aparentemente junto com o ramal de Guarulhos, em 1965.A Estao Guarulhos foi desativada em 1965, com o ramal.

    A Estao Guarulhos, atualmente, serve de sede para a Guarda Civil Metropolitana, na Praa IV Cen-tenrio, situada no Jardim Santa Francisca. A praa um dos logradouros mais antigas do municpio eabrigava a antiga estao de trem Guarulhos.

    Hoje, a estao no existe, mas as instalaes que ela possua foram restauradas e colocada na praauma locomotiva antiga, da Usina Tamoio, em Araraquara que, segundo consta, foi resgatada pela Prefeitura,que a deixou exposta em frente plataforma da antiga estao. Junto a ela, de um lado, fica a casa queabrigava o chefe da antiga estao de trem e foi restaurada, apresentando-se em perfeitas condies. conhecida como Casa Amarela, que hoje a sede do arquivo municipal.

    Parada Sorocabanos, atual Praa LuizMatheus Maylaski.

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    IN D U STR IAL IZA O:SEGUNDO MOMENTO OFERTA DE

    EMPREGO, EXPLOSO DEMOGRFICA ECRESCIMENTO DESORDENADONo segundo momento, de 1946 a 1989,

    cabe destacar que as indstrias passaram a se ins-talar na regio de Cumbica. Entre muitos fato-res, cinco foram essenciais para o avano da in-dustrializao guarulhense nesse perodo: con-cluso das obras da Base Area de Cumbica;implantao da Estrada de Rodagem Rio - SoPaulo; fora de trabalho disponvel com a maci-a migrao interna; implantao do loteamentoCidade Satlite Industrial de Cumbica, em 1946,pela famlia Guinle; e a disponibilidade de gua

    do Aqufero Cumbica. Esses fatores foram es-senciais para a prxima fase da industrializaoda cidade, sem desconsiderar os demais.

    As obras federais da Base Area de Cum-bica e da Estrada de Rodagem Rio - So Pau-lo, cujo traado atinge a parte mais baixa dacidade, tm concorrido tambm para o pro-gresso crescente que se verifica, principalmen-te pela grande valorizao de propriedades.(Oliveira, 1943 in: Santos, 2006).

    A transferncia da Base Area do Campode Marte, em So Paulo, para Guarulhos, comoparte do Plano Quinquenal de Desenvolvimen-to do governo Getlio Vargas, modificou radi-calmente a vida da cidade. At aquele momen-to as atividades econmicas se davam em terra.

    A chegada do equipamento militar significou

    tambm o incio da ocupao do espao areopara fins militares e comerciais; parte dos pousose decolagens na pista da base area era voltadapara o transporte de carga.

    A implantao do loteamento Cidade Sat-lite Industrial de Cumbica e a respectiva infra-estrutura vinda com a Base Area mudaram oeixo de implantao de indstrias e a logstica nacidade. O eixo produtivo da cidade, que era lo-calizado na Regio Central, definido pela Estrada

    Via Dutra.Antigo caminho Chevrolet.

    Foto da Base Area de Cumbica, trecho da antigarodovia Rio - So Paulo e do loteamento da cidade

    Industrial Satlite de Cumbica, em 1948.

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    de Ferro Sorocabana, trans-fere-se para Cumbica, zo-nas sul e leste, nas proximi-dades da Rodovia Presi-dente Dutra.

    A partir da SegundaGuerra Mundial, investi-mentos do capital estrangei-ro, principalmente norte--americano, impulsionaramo desenvolvimento do se-tor industrial de bens deconsumo durveis e capital,caracterizando uma novafase do processo industrial

    brasileiro. A predominnciado modelo de desenvolvi-mento dependente sobre odesenvolvimento naciona-lista se configurou com oPlano de Metas de Jusceli-no Kubitschek (1956 -1961). Com o lema 50anos em 5, acelera o desen-

    volvimento com a entradamacia de capital estrangei-ro na implantao da cha-mada indstria pesada.

    Guarulhos, nesse contexto histrico, favorecida por sua localizao geogrfica na Re-gio Metropolitana de So Paulo e por estar no prin-cipal eixo industrializado, entre Belo Horizonte, Riode Janeiro e So Paulo. O ciclo industrial, diferente-mente dos ciclos do ouro e do tijolo, que dispu-

    nham de sua matria-prima no prprio municpio,passou a contar com matrias-primas vindas deoutras regies. Para isso, as duas principais artriasrodovirias, a Rodovia Presidente Dutra e a FernoDias, foram tambm importantes fatores de est-mulo industrializao do municpio.

    Alm da localizao no tringulo entre MinasGerais, So Paulo e Rio de Janeiro, o AquferoCumbica foi essencial para o pleno desenvolvi-mento do ciclo industrial na cidade. Nas palavras

    do gelogo dr. Hlio Nbile Diniz: ...a regiode Guarulhos e de Aruj industrializada e neces-sita de grande quantidade de gua para suas ativi-dades e processos. A ausncia de um sistema mu-nicipal efetivo de abastecimento de gua fez comque as perfuraes de poos aumentassem bas-

    tante durante a dcada de 1960. Os aquferos nun-ca antes explorados favoreciam boas vazes.O sucesso do desenvolvimentismo associa-

    do pode ser observado na quantidade e veloci-dade da instalao do parque industrial na ci-dade. Em 1953, eram 27 grandes indstrias; em1956, eram 90 grandes fbricas e 80 pequenas.

    Ao processo de implantao das indstrias degrande porte nas dcadas de 1950, 1960 e 1970correspondeu uma acelerao do processo

    Mapa do loteamento da cidade Industrial Satlite de Cumbica, de 5de novembro de 1945 Implantado pelo Decreto Municipal no14.

    Laboratrio

    deGeoprocessamento

    UnG.

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    GUARULHOS Espao de Muitos Povos

    migratrio para a cidade de Guarulhos, provo-cando profundas mudanas na sua estrutura ur-bana e social. A cidade v multiplicada sua po-pulao, como podemos verificar na tabelademogrfica:

    de, entre outras. Para criao da infraestruturanecessria indstria houve a socializao dosgastos e at financiamento pelo Estado; porm,para a satisfao da demanda surgida pela ocu-pao desordenada, decorrente do processo in-dustrial, os gastos foram assumidos priorita-riamente pelo poder pblico.

    Com o intuito de ordenar o crescimento e ocu-pao do solo, a Lei municipal no1.503, de 1969,define as zonas de expanso urbana da cidade, in-cluindo nela vrios bairros, tais como: Jardim Rosade Frana, Cocaia, Taboo, Cidade Serdio, San-tos Dumont, Jardim Maria Dirce, Jardim Presiden-te Dutra, Vila Nova Bonsucesso, Jardim Leblon,Parque So Miguel, entre outros.

    Em 1950, havia em Guarulhos 35.523 mo-radores; em 1990, a cidade contava 787.866 ha-bitantes. Em 40 anos vieram para Guarulhos752.343 novos moradores. A maioria absolutados novos moradores da cidade foi morar nosloteamentos populares da periferia, reas de ocu-pao e favelas, nas proximidades dos locais detrabalho. Os baixos salrios pagos aos trabalha-dores e as precrias condies dos bairros leva-ram formao de movimentos reivindicatriosde bairros e sindicatos.

    IN D U STR IAL IZA O:TERCEIRO MOMENTO DAS MEDIDAS

    NEOLIBERAIS AOS DIAS ATUAISPerodo que vai de 1990 aos dias atuais; mo-

    mento em que tratamos como a economia dacidade foi impactada pela poltica neoliberal eo quadro atual. Em 1990, algumas grandes em-

    presas faliram e outras se mudaram do munic-pio. Nesse perodo falava-se que a cidade haviadeixado de ser industrial e se tornava uma cida-de de servios. O que aconteceu em Guarulhosreflete uma tendncia mundial das economiasperifricas frente poltica neoliberal nos mar-cos da globalizao.

    Em 1989, na cidade de Washington, repre-sentantes das oito maiores economias do mun-do se reuniram e elaboraram um plano para osFbrica de Casimiras Adamastor S/A.

    FotoMassami.

    ano populao migrantes %1940 13.4391950 35.5231960 101.2731970 235.865 57,51980 532.724 71,31990 787.8662000 1.071.2992007 1.236.192

    Fontes: IBGE/Prefeitura de Guarulhos.

    Conforme observa o economista PaulSinger: ...o desenvolvimento capitalista da eco-nomia brasileira foi profundamente marcadopor esta ampla mobilizao do exrcito indus-trial de reserva, que deu lugar a um abundantesupri