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1 A Sociologia no vestibular: o caminho da legitimidade pelo enquadramento Alexandre Barbosa Fraga – PPGSA-IFCS/UFRJ 1 [email protected] Thiago Oliveira Lima Matiolli – PPGS/USP 2 [email protected] 1. Introdução A Sociologia é caracterizada, desde a sua gênese, por uma diversidade metodológica, que fica evidente quando se analisa a produção de seus pais fundadores: método comparativo, baseado nas idéias positivistas (Durkheim), método compreensivo (Weber) e método dialético (Marx). Essa heterogeneidade, ao longo da história dessa ciência, não foi reduzida a uma síntese metodológica. Pelo contrário, a multiplicidade de caminhos possíveis de serem tomados para estudar a sociedade é ainda apanágio da Sociologia conforme vivenciada e ensinada atualmente. O mesmo vale para conceitos e teorias, amplamente diversificados e com particularidades em relação às demais ciências. A maior delas é a convivência possível entre esquemas explicativos que não necessariamente se auto-excluem, mas, em alguns aspectos, contrapõem-se e complementam-se. Diferentemente da Sociologia, em muitas áreas, a batalha pela explicação de um fenômeno forja um vencedor, considerado legítimo e cuja explanação goza de uma quase unanimidade. Esse é o caso, na Biologia, por exemplo, da explicação sobre a evolução. Para Lamarck, o alongamento do pescoço da girafa é resultado do hábito que esse animal, que antes teria o pescoço curto, desenvolveu por muito tempo ao se esticar para conseguir alcançar, por necessidade, as folhas no alto das árvores. Já para Darwin, as girafas ancestrais apresentavam pescoços de comprimentos variáveis. Com a mudança do ambiente, houve uma seleção natural das mais bem adaptadas, no caso as de pescoço longo, que passaram essa característica às próximas gerações. Duas teorias da evolução. 1 Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Mestre em Sociologia pelo mesmo Programa. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ. 2 Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP. Mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ. Bacharel em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ. Professor de Sociologia em instituições privadas de ensino.

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1

A Sociologia no vestibular: o caminho da legitimidade pelo enquadramento

Alexandre Barbosa Fraga – PPGSA-IFCS/UFRJ1 [email protected]

Thiago Oliveira Lima Matiolli – PPGS/USP2 [email protected]

1. Introdução

A Sociologia é caracterizada, desde a sua gênese, por uma diversidade

metodológica, que fica evidente quando se analisa a produção de seus pais fundadores:

método comparativo, baseado nas idéias positivistas (Durkheim), método compreensivo

(Weber) e método dialético (Marx). Essa heterogeneidade, ao longo da história dessa

ciência, não foi reduzida a uma síntese metodológica. Pelo contrário, a multiplicidade

de caminhos possíveis de serem tomados para estudar a sociedade é ainda apanágio da

Sociologia conforme vivenciada e ensinada atualmente.

O mesmo vale para conceitos e teorias, amplamente diversificados e com

particularidades em relação às demais ciências. A maior delas é a convivência possível

entre esquemas explicativos que não necessariamente se auto-excluem, mas, em alguns

aspectos, contrapõem-se e complementam-se. Diferentemente da Sociologia, em muitas

áreas, a batalha pela explicação de um fenômeno forja um vencedor, considerado

legítimo e cuja explanação goza de uma quase unanimidade.

Esse é o caso, na Biologia, por exemplo, da explicação sobre a evolução. Para

Lamarck, o alongamento do pescoço da girafa é resultado do hábito que esse animal,

que antes teria o pescoço curto, desenvolveu por muito tempo ao se esticar para

conseguir alcançar, por necessidade, as folhas no alto das árvores. Já para Darwin, as

girafas ancestrais apresentavam pescoços de comprimentos variáveis. Com a mudança

do ambiente, houve uma seleção natural das mais bem adaptadas, no caso as de pescoço

longo, que passaram essa característica às próximas gerações. Duas teorias da evolução.

1 Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ. Mestre em Sociologia pelo mesmo Programa. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ. 2 Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP. Mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ. Bacharel em Ciências Sociais pelo IFCS/UFRJ. Professor de Sociologia em instituições privadas de ensino.

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A segunda, como é de conhecimento geral, substituiu a primeira como a única

explicação válida. Uma teoria se impôs à outra e tomou o seu lugar.

Na Sociologia, as batalhas também existem, o embate é constante, mas parece

ser sem fim e sem vencedores. Voltando a alguns de seus autores clássicos, tanto Marx

quanto Weber produziram análises consideradas centrais no estudo do capitalismo.

Cada qual enfocando o que acreditava ser a essência, a característica distintiva dele.

Quem estava certo? Por mais que se tome partido de um ou de outro, não há

unanimidade formada quanto a isso. Uma das interpretações não é necessariamente

inválida. Os aspectos levantados podem corresponder a duas facetas diferentes do que é

o capitalismo.

Nesse sentido, o limite de qualquer explicação na Sociologia é menos o de novas

teorias derrubarem as anteriores e tomarem seu lugar, como em outras ciências, e mais o

de sua força ou fraqueza argumentativa e de sua capacidade de dar conta da realidade

empírica. As mudanças permanentes na sociedade trazem aos sociólogos o desafio de

buscar novos instrumentais teóricos que as expliquem. Outros fenômenos surgem e

também se transformam, dando origem a novos embates teóricos e metodológicos, que,

por conta de suas especificidades, não chegam a um método de pesquisa científico único

e padronizado e nem a uma interpretação por excelência para cada fenômeno. Para

alguns, isso é um problema que acaba por comprometer o seu status científico. Mas,

para muitos, essa é uma grande qualidade, que não a descaracteriza como ciência. Pelo

contrário, torna-a mais capaz de dar conta da riqueza e complexidade de uma realidade

sempre multifacetada.

Na educação básica, não ter um corpus consensualmente definido e consagrado,

pelo menos não como as demais disciplinas escolares, aparentemente uma desvantagem,

pode se revelar uma vantagem (BRASIL, OCNEM, 2006). Por um lado, há perda de

legitimidade, por conta da indefinição das fronteiras de seus conteúdos, e dúvidas

quanto à sua cientificidade, em vista da diversidade de métodos. Por outro, há maior

liberdade, para os professores, na escolha de perspectivas teóricas e no encaminhamento

dos conteúdos, mesmo que haja um programa concebido de maneira mais ou menos

exógena. Se parece consenso que, na Biologia, não se poder ensinar evolução sem

passar por Darwin e a sua teoria da seleção natural; na Sociologia, é possível, de muitas

maneiras e com diferentes autores, ensinar temas como cultura, desigualdade e trabalho.

No contexto dessa diversidade empírica, metodológica e teórica, e das

singularidades citadas, os sociólogos estão acostumados a observar a Sociologia no

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front, no campo de disputas explicativas, exprimindo-se em teses, pontos de vista,

argumentações e contra-argumentações, nas idéias sendo defendidas, provadas e

rechaçadas. Nesse sentido, causa certo estranhamento ver toda essa imaginação

sociológica, essa vocação discursiva, enquadrada na forma de questões de múltipla

escolha, cobradas em vestibulares de universidades públicas brasileiras.

De fato, as demais disciplinas também têm seus conteúdos enquadrados de

diferentes formas, ao serem cobrados no vestibular, mas essa questão já é vivenciada

por elas há mais tempo. No caso da Sociologia, não. É um susto observar como um livro

inteiro, com suas múltiplas dimensões, transforma-se em uma questão na qual apenas

uma alternativa é dada como certa. Esse susto não é a reação pelo reconhecimento de

uma impossibilidade. Nem vermelho, nem verde, é um sinal amarelo. Indica que é

preciso refletir sobre os limites desse enquadramento.

É justamente esse o objetivo deste artigo. Verificar-se-á como a Sociologia vem

sendo cobrada nas provas do vestibular, situação que já é realidade em, pelo menos,

dezesseis universidades públicas brasileiras e no Exame Nacional do Ensino Médio –

ENEM. O que estará sendo discutido é qual é o impacto de a Sociologia ser cobrada no

vestibular; como isso altera a relação que essa disciplina estabelece com a escola e com

os alunos; e qual é o efeito no processo de sua legitimação.

Nesse sentido, a título de ilustração, vale a pena narrar o caso que nos fez refletir

sobre essas questões. Em um colégio particular da cidade do Rio de Janeiro, a mãe de

um aluno da 1ª série do Ensino Médio enviou uma carta à supervisão e ao professor de

Sociologia da turma de seu filho para pedir a anulação de uma questão do simulado,

com a justificativa de que estaria errada a resposta dada como correta pelo gabarito

oficial da avaliação. Segundo ela, “as respostas para essa disciplina deveriam ser

discursivas, pois ser social abrange muita coisa, e assinalar uma única resposta certa é

muito limitante”. A questão era a seguinte:

Os avanços tecnológicos influenciam os hábitos sociais e morais da família. De que forma é possível perceber essa influência? (A) Os avanços tecnológicos diminuem as distâncias entre os indivíduos, propiciando novos contatos e fazendo a família não ter mais importância na transmissão de valores. (B) Ao diminuir as distâncias e aumentar o fluxo de informações, os avanços tecnológicos acabam por reforçar o preconceito e a rigidez moral das famílias. (C) Os avanços tecnológicos encurtam as distâncias, propiciando o contato com pessoas e hábitos distintos, o que faz da família moderna menos rígida moralmente e a leva a repensar valores antigos. (D) Os avanços tecnológicos enfraquecem o fluxo de informações no mundo e fortalecem a rigidez moral e os antigos valores que regiam a família há um século.

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A opção correta é a letra C. Para a mãe do aluno, essa não poderia ser a resposta,

pois nem todas as famílias modernas são menos rígidas moralmente. Algumas

continuariam sendo. Mas a alternativa certa não fala em todas as famílias. O que está

escrito é que "faz da família moderna menos rígida moralmente". Encontra-se aí uma

especificidade do modo de pensar sociológico, por ser uma ciência generalizadora. O

problema é que a mãe interpretou “família moderna” como o somatório de todas as

famílias individualmente. A Sociologia trabalha de maneira diferente, compreende a

“família moderna” como um tipo ideal3 de configuração de família, que não existe na

realidade em forma "pura", no entanto serve para entendê-la. É uma forma abstrata de

acentuar a realidade. Em vista dessa concepção, a letra C torna-se correta. Esse caso é

bom para pensar as particularidades da Sociologia e os limites desse enquadramento no

vestibular.

2. Entre a liberdade e o enquadramento

Seja no período de reinserção gradativa da Sociologia no Ensino Médio, seja

após o seu retorno como disciplina obrigatória, a liberdade na escolha dos conteúdos e

do aporte teórico e metodológico, por parte dos professores, sempre foi muito grande,

confirmando a diversidade presente na área, vivenciada também em sala de aula. As

próprias Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (OCNEM)

chamaram a atenção para isso: Fica claro que, diferentemente das outras disciplinas escolares, a Sociologia não chegou a um conjunto mínimo de conteúdos sobre os quais haja unanimidade, pois sequer há consenso sobre alguns tópicos ou perspectivas. Se forem considerados uns 10 casos de propostas programáticas de 10 professores, certamente se encontrarão uns dois tópicos comuns, ainda assim não idênticos. (BRASIL, OCNEM, 2006).

Se, por um lado, sempre houve uma liberdade maior do que nas demais

disciplinas já amplamente consolidadas na educação básica; por outro, isso foi

acompanhado pela percepção de uma falta de legitimidade. Desde a obrigatoriedade, o

caminho seguido tem sido o da legitimação, para além da lei. O que significa, na

prática, uma busca por reconhecimento, da qual faz parte, entre as muitas formas

possíveis, a necessária constatação, pela comunidade escolar como um todo, de que a 3 O tipo ideal fornece um caso limitado com o qual os fenômenos concretos podem ser contrastados, facilitando a comparação. “Pela própria razão de isto ser assim, não é quase nunca, em nenhuma oportunidade, provável que se possa encontrar um fenômeno real que corresponda exatamente a um destes tipos idealmente construídos" (WEBER, 2002: 33).

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Sociologia agrega algo de específico à formação discente. Não ser cobrada no

vestibular, por exemplo, parece, aos olhos dos alunos, da direção e dos demais

professores, uma prova de sua menor importância em relação às outras disciplinas.

Esse quadro de liberdade e legitimidade veio, de diversas formas, sendo alterado

nos últimos anos, por conta de, pelo menos, quatro medidas que contribuíram para um

enquadramento, isto é, para a Sociologia ser pensada e ensinada de determinadas

maneiras entre as muitas possíveis. Esse enquadramento, em diferentes níveis, passou a

indicar o que a Sociologia deve ensinar e como. Uma primeira medida nesse sentido foi

a elaboração de documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o

Ensino Médio (1999), as Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN+ Ensino Médio) (2002) e as Orientações Curriculares

para o Ensino Médio (2006), nos quais a Sociologia aparece de maneiras específicas.

Uma segunda medida foi a preparação e divulgação, pelas secretarias estaduais

de educação de alguns estados, de propostas curriculares a serem seguidas, definindo os

conteúdos a estarem presentes nas aulas4. Já uma terceira foi a inclusão, em 2012, pela

primeira vez, da Sociologia no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), ao

permitir a distribuição não de todos, mas de determinados livros, aprovados segundo

diferentes critérios, às escolas públicas brasileiras. E uma quarta medida foi a cobrança

da Sociologia em alguns vestibulares, o que acaba impondo conteúdos e formas de

ensino à educação básica.

Essas quatro possibilidades de enquadramento têm um impacto sobre a

legitimação da Sociologia na educação básica, caminho que vem sendo percorrido por

meio dessas e de outras medidas, mas que depende, sobretudo, da qualidade dos

professores, verdadeiros responsáveis pela Sociologia que, de fato, chega aos alunos. A

presença dessa disciplina no vestibular altera, mesmo que de maneira utilitária, a relação

que ela estabelece com a escola e com os alunos, pois a coloca no mesmo patamar que

as demais disciplinas, no sentido de também desfrutar de uma importância para o

ingresso no ensino superior.

Se, por ser cobrada no vestibular, há um ganho em legitimidade, há, também, um

preço a se pagar: a imposição de conteúdos. Não há uma proposta programática única

para o país, discutida e aprovada por professores. Todavia, Santos (2012), analisando as

diretrizes curriculares de quatorze estados brasileiros, indica a existência de uma base

4 Para uma análise das propostas curriculares de cinco estados do Sudeste e do Sul, ver Moraes (2012). Para uma análise da proposta do estado do Rio de Janeiro, ver Paiva, Campos e Pereira (2012).

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comum entre elas, que poderia servir como ponto de partida para um programa

curricular nacional. Isso depende, para ser possível, da necessária consolidação do

ensino de Sociologia na educação básica, e demanda tempo, para que consensos possam

ser estabelecidos.

No entanto, ainda com esse processo em andamento, diferentes universidades

incluíram a Sociologia em suas seleções de alunos, estabelecendo, para isso, listagens

de conteúdos obrigatórios. Isso acaba formando uma via de mão dupla: temas, conceitos

e teorias, por estarem presentes em sala de aula, passam a ser cobrados no vestibular,

mas, principalmente, temas, conceitos e teorias, por serem cobrados no vestibular,

passam a estar presentes em sala de aula.

Esse segundo caminho tem o potencial de influenciar os currículos escolares,

seja por meio de diferentes políticas de avaliação, entre as quais o ENEM (SOUSA,

2003; SOUSA e ARCAS, 2010), seja por meio dos vestibulares (CUNHA e NETO,

2003), por conta de a necessidade de preparação dos candidatos para essas provas

muitas vezes monopolizar a formação, sobretudo no Ensino Médio. Isso apresenta dois

reflexos práticos, intimamente relacionados: um mais individual, de alteração da

liberdade do professor de Sociologia no seu trabalho cotidiano em sala de aula,

especialmente nas escolas particulares; e outro mais coletivo e institucional, de

modificação do projeto pedagógico e dos materiais didáticos, adaptados e orientados

para a preparação dos alunos às exigências específicas de acesso a cada universidade.

Dessa forma, ser exigida no vestibular pode ser interpretado como uma troca,

por meio de um enquadramento, de liberdade por legitimidade. Mas a questão a ser

pensada é se essa legitimidade vem da simples presença da Sociologia nas provas das

universidades ou se está mais relacionada à forma como é cobrada em cada uma delas.

No caso de essa segunda hipótese ser a mais acertada, torna-se necessário analisar de

que maneira essa disciplina passa a figurar nos vestibulares brasileiros e no ENEM,

assunto a ser investigado nos próximos pontos.

3. A Sociologia nos vestibulares brasileiros

É preciso recorrer à história, para que se possa perceber que a participação, hoje,

da Sociologia no vestibular é menos uma chegada e mais um retorno. A presença inicial

ocorreu com a Reforma Francisco Campos, em 1931, que a incluiu como disciplina

obrigatória no ciclo complementar do ensino secundário, nas três opções de curso, ou

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seja, na preparação ao ingresso nas Faculdades de Direito, de Ciências Médicas e de

Engenharia e Arquitetura, e, também, no curso Normal, para formação de professores

(SANTOS, 2004). Nesse contexto, a Sociologia, como parte desse ciclo complementar,

era preparatória para o vestibular, sendo cobrada nesses exames, segundo Meucci

(2000), em uma prova específica, por meio de questões escritas e de uma arguição oral

sobre um ponto sorteado no momento, privilegiando-se a retórica verbal e o domínio de

uma lista de conceitos sociológicos5.

A Reforma Capanema, em 1942, dividiu o ensino secundário em dois ciclos, o

ginasial e o colegial, e terminou com os cursos complementares. Com isso, a Sociologia

perdeu o seu caráter de disciplina obrigatória e deixou de ser cobrada nos exames de

admissão aos cursos superiores, exigência esta que ficou restrita, então, ao período de

1931 a 1941. O seu retorno aconteceu apenas em 1997, quando foi incluída no

vestibular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mudança possível, segundo

Guimarães (2004), por conta de um fator legal, o ensino de Sociologia no Ensino Médio

estar previsto na Constituição Mineira, promulgada em 1989, e de um fator

científico/acadêmico, a discussão sobre a importância do conhecimento que o aluno

deve trazer consigo para a universidade.

Com exceção da UFU, a volta da Sociologia ao vestibular ocorreu na década

seguinte e está ligada às discussões que levaram à aprovação, em 2006, de sua

obrigatoriedade na educação básica, e, em 2008, de sua inclusão em todas as séries do

Ensino Médio. Como conseqüência disso, é de meados ao final dos anos 2000 que essa

disciplina passa a ser incluída no acesso a algumas universidades públicas brasileiras e

no ENEM. Atualmente, segundo levantamento realizado em dezenas de sites de

processos seletivos, ela está presente diretamente no vestibular de dezesseis

universidades, além de em todas as instituições que utilizam o ENEM como, pelo

menos, uma das etapas de seleção. Para determinar isso, o critério utilizado foi a clara

indicação da presença da Sociologia no edital ou manual do candidato do concurso.

Conforme pode ser consultado em anexo ao artigo, as universidades que cobram

Sociologia no vestibular estão divididas entre as regiões brasileiras da seguinte forma:

na região Norte, são duas: a Universidade do Estado do Amapá (UEAP) e a

Universidade Federal do Pará (UFPA). A Região Nordeste conta com três: a

Universidade de Pernambuco (UPE), a Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e

5 Para uma consulta às provas de Sociologia dos exames vestibulares do Rio de Janeiro nos anos de 1938 e 1940, ver o anexo 3 de Meucci (2000).

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a Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Já na Região Centro-Oeste, há mais

duas: a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Estadual de Goiás (UEG).

Na Região Sudeste, por sua vez, são quatro: a Universidade Estadual de

Campinas (UNICAMP), a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), a

Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Universidade do Estado do Rio de

Janeiro (UERJ). E, para finalizar, na Região Sul, são cinco, todas do estado do Paraná:

a Universidade Estadual de Londrina (UEL), a Universidade Estadual de Maringá

(UEM), a Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO), a

Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e a Universidade Federal do

Paraná (UFPR).

Definidas as instituições nas quais os conhecimentos de Sociologia estão sendo

exigidos para o ingresso no ensino superior, o segundo passo é compreender como isso

está sendo feito. O que precisa ser explorado é se a forma como as questões são

formuladas é a mesma entre esse conjunto de universidades ou se há diferenças

importantes de serem ressaltadas. Nesse sentido, a análise realizada aqui será uma

comparação mais geral, deixando abertas outras possibilidades, como a de estudos sobre

as mudanças e as continuidades da cobrança dessa disciplina em cada um desses

vestibulares específicos ao longo do tempo.

Uma primeira diferença que pode ser notada é quanto ao modelo de organização

da avaliação. Na maioria desses dezesseis vestibulares, a Sociologia é um conjunto de

questões claramente definido enquanto tal. Há uma divisão nítida entre as áreas. Segue-

se o modelo mais tradicional, de compartimentação do saber, de forma que os alunos

identificam exatamente onde termina a prova de uma disciplina e começa a de outra. No

entanto, em seis vestibulares, UnB, UEG, UNICAMP, UERJ, UEL (1ª fase) e UEM (1ª

fase), não há essa separação. Uma perspectiva mais interdisciplinar, ou seja, de diálogo

entre as disciplinas, faz com que a Sociologia apareça na parte de ciências humanas,

sem uma delimitação rígida de fronteiras disciplinares.

A Sociologia aparece majoritariamente sob a forma de questões objetivas,

sobretudo de múltipla escolha. Apenas em quatro vestibulares se apresenta de maneira

discursiva. Isso ocorre, com a participação de todos os candidatos, na UNICAMP, em

uma prova interdisciplinar de Ciências Humanas, e na UFU, em uma prova específica

dessa disciplina. Há também as provas específicas discursivas da UEL (para os

candidatos a um conjunto de determinados cursos) e da UFPR (unicamente para quem

deseja cursar Ciências Sociais).

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Com exceção da UNICAMP, para a qual ainda não é possível, no momento,

discriminar os conteúdos a serem cobrados na Sociologia, que vêm incorporados à

História e à Geografia, os demais quinze vestibulares definiram o programa das provas

dessa disciplina, mesmo que alguns de maneira interdisciplinar (UERJ) ou apontando as

Diretrizes Curriculares Nacionais (UnB). Percebe-se que em metade dessas instituições,

pelo menos, a prova poderia ser entendida como de Ciências Sociais, já que envolve não

apenas Sociologia, mas também Antropologia e Ciência Política.

Uma análise global das provas dessas universidades permite perceber que, seja

de forma objetiva ou discursiva, a Sociologia vem sendo cobrada por três caminhos:

dialogando principalmente com a História, a Geografia e a Filosofia, de maneira

interdisciplinar; exigindo que os candidatos dominem conceitos e teorias pela

interpretação de pensadores específicos da área; e demandando conhecimento do

pensamento sociológico geral sobre determinados temas, sem que para isso seja preciso

identificar autores. Todas as provas não interdisciplinares, ou seja, específicas de

Sociologia, seguem os dois últimos caminhos simultaneamente, ora com questões de um

tipo, ora com questões do outro.

O primeiro caminho é o mais delicado do ponto de vista da legitimação da

Sociologia, pois o fato de ela ser cobrada sob os auspícios da interdisciplinaridade, sem

ter tido o mesmo tempo que as outras áreas para estabelecer a sua disciplinaridade na

educação básica, pode representar uma presença apenas formal, restrita ao edital, sem

que seja mobilizada de fato para a resolução da prova. No entanto, há vestibulares em

que a Sociologia apresenta uma relação produtiva com as demais disciplinas,

configurando-se, de fato, um diálogo interdisciplinar. É o caso das seguintes questões6:

(UEG 2012/2) A abordagem marxista explica a sociedade com base nas estruturas socioeconômicas. Considerando-se essa perspectiva, o fim da escravidão no Brasil, em 1988, foi conseqüência da (A) coragem política da princesa Isabel em extinguir o trabalho escravo. (B) influência dos valores humanitários iluministas na sociedade brasileira. (C) mobilização da Igreja Católica, pela observância dos princípios cristãos. (D) pressão comercial da Inglaterra para expandir o seu mercado consumidor. (UEG 2008/1) A letra da canção acima7, de Max Gonzaga, traz vários elementos comuns tanto para a reflexão sociológica quanto filosófica, entre outras conexões com várias disciplinas. Temas sociológicos, como violência, classe social, consciência, meios de comunicação, e filosóficos, como ética, consciência, projeto e responsabilidade, estão presentes no texto. A concepção do texto sobre consciência corresponde à seguinte proposição:

6 Os gabaritos das questões citadas no texto estarão marcados em itálico. 7 Por limitação de espaço, não é possível apresentar a letra da canção utilizada na questão. Trata-se da música Classe Média, de Max Gonzaga.

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(A) A teoria da consciência de Karl Marx, segundo a qual não é a consciência que determina a vida, mas, ao contrário, é a vida que determina a consciência. Assim, o ser social, tal como a situação de classe, determina a consciência dos indivíduos, que é uma consciência de classe. (B) A teoria das representações coletivas de Durkheim, que são compartilhadas por todos os indivíduos de uma sociedade e expressam a supremacia da sociedade sobre o indivíduo. (C) A abordagem fenomenológica do filósofo Husserl, para quem existem proposições universais e necessárias, derivadas da experiência de classe. (D) A teoria do pensador Descartes, que dá início ao movimento político que mais tarde vai se chamar de “liberalismo”, no qual se depositava no Estado o poder de defesa dos interesses dos indivíduos.

A diferença entre as duas questões interdisciplinares, centradas na teoria

marxista, é a da necessidade ou não de conhecimentos sociológicos anteriores. Na

primeira questão, a Sociologia dialoga com a História, mas não se exigiu que o aluno

soubesse que a abordagem marxista é mais econômica do que cultural e política, pois o

próprio enunciado informava isso. Já na segunda questão, a Sociologia dialoga com a

Filosofia, a partir da interpretação de um texto, mas exige-se o conhecimento prévio

sobre a teoria de autores dessas disciplinas.

O segundo caminho, amplamente utilizado em grande parte desses vestibulares,

coloca como centro da questão o domínio de conceitos e teorias que fazem parte do

pensamento sociológico, principalmente de seus autores clássicos. Muitas vezes não há

a preocupação em fazer uma contextualização, de forma que o aspecto mais acentuado

fica sendo a memorização. Nesse sentido, essa forma de cobrar a Sociologia seria muito

similar aos primeiros modelos adotados, por exemplo, no exame vestibular da

Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1940, no qual era pedida, entre outras

definições, a de fato social8. Algumas questões, objetivas e discursivas, com esse perfil:

(UFMA 2009) Durkheim expõe três características fundamentais para distinguir o fato social. São elas: (A) legitimidade, coerção social, individualidade. (B) coercitividade, exterioridade, generalidade. (C) identidade, universalismo, humanismo. (D) generalidade, solidariedade, anomia. (E) universalismo, legitimidade, generalidade. (UFU 2001/1) A solidariedade tem que existir minimamente para que a sociedade exista. Discuta os conceitos de solidariedade mecânica e orgânica para Durkheim. (UEMA PASES 2004) Os clássicos de Sociologia (Durkheim, Weber e Marx) desenvolveram um aparato conceitual analítico para a interpretação das Sociedades Capitalistas. Dentre as alternativas abaixo, identifique os conceitos básicos que caracterizam, respectivamente, a teorização desses clássicos: (A) Alienação, Anomia, Racionalização. (B) Racionalização, Alienação, Anomia. (C) Anomia, Racionalização, Alienação. (D) Dialética, Classe Social, Interação Social. (E) Classe Social, Consciência Coletiva, Tipo Ideal.

8 Anexo 3 de Meucci (2000).

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Se, na concepção anterior, o importante são os conceitos e as teorias de

sociólogos específicos, o terceiro caminho, tão amplamente utilizado quanto aquele, vai

enfatizar os temas. É cobrado dos candidatos que saibam como a Sociologia concebe,

no geral, determinados objetos, sem que para isso seja preciso identificar autores. Nesse

conjunto de questões, aparecem também conceitos que, de tão utilizados e sob tantas

perspectivas, perderam a ligação com um autor definido e passam a ser cobrados quase

como temas, de forma a exigir menos a memorização de definições exatas. São

temas/conceitos gerais tais como: surgimento da Sociologia, processo de socialização,

cidadania, movimentos sociais, mudanças no mundo do trabalho, preconceito e

discriminação, grupos e instituições sociais, características do capitalismo e uma

infinidade de outros. É o caso das seguintes questões:

(UNICENTRO 2011/2) A respeito dos estudos sobre socialização, está correto o que se afirma em (A) O primeiro grupo social fundamental na socialização é o religioso, representado pela Igreja. (B) O processo de maturação biológica e o desenvolvimento infantil necessitavam de intervenções de adultos, o que sempre será igual, independente das diferenças culturais. (C) O processo de socialização termina quando o indivíduo atinge a maioridade e entra no mercado de trabalho. (D) A sociologia postula a existência de uma natureza infantil que explica a igualdade nas condições de ser criança. (E) A internalização do social e a sua percepção da realidade, como a primeira socialização, ocorrem dentro do grupo familiar, sendo, assim, decorrentes da classe social da família. (UFPR 2009) Quais foram os efeitos da onda do neoliberalismo na década de 90 do século XX sobre o sindicalismo? (UEL 2010) O desenvolvimento industrial posterior à II Guerra Mundial, a ameaça nuclear no período da Guerra Fria e o crescimento dos problemas ambientais explicam, em parte, o destaque alcançado pelo movimento ecologista, o qual se insere em mobilizações identificadas pelo pensamento sociológico sob a terminologia geral de “novos movimentos sociais”. Sobre os novos movimentos sociais, é correto afirmar: I. Constituem suas demandas em oposição à lógica dos aparelhos de dominação, priorizando, em particular, as lutas centrais coletivas. II. Lutam, basicamente, pela conquista de direitos, isto é, avanços institucionais capazes de aportar mudanças relevantes na sociedade. III. Substituíram o movimento operário, que perdeu sua importância histórica diante da redução numérica mundial da classe trabalhadora. IV. Têm como elemento típico a sua subordinação aos partidos políticos e sindicatos, visando controlar o aparelho de Estado. Assinale a alternativa correta. (A) Somente as afirmativas I e II são corretas. (B) Somente as afirmativas II e IV são corretas. (C) Somente as afirmativas III e IV são corretas. (D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. (E) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. Do ponto de vista da legitimação em troca de liberdade, os três caminhos podem

desempenhar um papel importante, ao submeterem a Sociologia a enquadramentos

específicos. O diálogo interdisciplinar contribui para o reconhecimento da Sociologia,

12

desde que as fronteiras não fiquem tão diluídas a ponto de ela nem ser distinguida pelo

candidato. O segundo e o terceiro caminhos também ajudam em sua legitimação, pois

os alunos reconhecem conceitos, teorias e temas vistos em sala de aula. Mas talvez o

terceiro seja o mais adequado, pois ao mesmo tempo em que a Sociologia pode ser

identificada enquanto tal, ela aparece mais afastada da memorização e mais

contextualizada.

Em algumas universidades, esse ciclo de inclusão da Sociologia em provas

específicas, embora tão recente, parece estar chegando ao fim, por conta da adoção

integral ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), como é o caso da UFMA, por exemplo.

Portanto, torna-se de suma importância, pensando para frente, analisar a forma como a

Sociologia vem sendo cobrada no Enem, requisito cada vez mais fundamental para

garantir vaga em uma das instituições públicas de Ensino Superior.

4. A Sociologia no ENEM

Neste ponto, seguem-se dois momentos. Primeiro, uma breve apreciação sobre o

ENEM, seguido de análise das suas provas nos anos de 2009 a 2011, para entender a

forma como a Sociologia vem sendo cobrada no exame.

4.1 – O ENEM

Não é o objetivo aqui resgatar a história do ENEM, desde 1998, quando o

Exame foi criado, nem analisar as alterações na sua estrutura ao longo de mais de uma

década ou ainda a sua funcionalidade e papel dentro da política educacional brasileira.

Busca-se apenas desenhar a concepção do ENEM tal como tomada a partir dos seus

editais, ou demais documentos, como o Manual do Inscrito e a Matriz de Referências

para o ENEM de 2009, que orientou também as provas dos anos seguintes, até hoje.

O ENEM, de 1998 a 2008, apresenta-se não como um exame de conhecimentos

adquiridos pelos alunos ao longo do Ensino Médio, tampouco se assemelha com

avaliações aplicadas em sala de aula. Ele se propõe a ser tomado como uma auto-

avaliação, que indicaria os melhores caminhos a seguir no Ensino Superior e/ou no

mundo do trabalho. Se esses objetivos são contemplados, de fato, dando conta da

complexidade que traduz, não será respondido aqui. Uma outra característica do ENEM

13

a ser ressaltada é o fato de, desde então, o exame estar se consolidando como meio de

acesso ao ensino público superior.

Na sua concepção, o conhecimento será avaliado a partir de cinco competências:

dominar linguagens, compreender fenômenos, enfrentar situações-problema, construir

argumentações e elaborar propostas, que compreendem 21 habilidades.

O ano de 2009 é um momento chave, por dois motivos, para o presente trabalho:

primeiro por ser um ano de mudança na forma do próprio exame e também por ser o

ano em que, como previsto pelo Parecer 22/2008 do CNE/CEB, efetivamente a

sociologia passa a ser obrigatória em, pelo menos, um dos anos do Ensino Médio. Nesse

ano, a concepção mais geral do ENEM parece não se alterar. As cinco competências

continuam orientando a avaliação, agora chamadas de eixos cognitivos. Cada Matriz de

Referência (ciências da natureza, ciências humanas, linguagens e seus códigos, e

matemática) tem 6 competências específicas, que se dividem em 5 habilidades cada.

Mas a sua organização enquanto avaliação foi alterada. Até 2008, a prova

consistia em 63 questões objetivas, mais redação, realizada em um único dia e sem

classificação das questões por área ou matriz de referência. No ano seguinte, a prova

passou a ser composta por 180 questões, divididas em 2 dias, o primeiro com as de

ciências da natureza e ciências humanas e suas tecnologias, e o segundo com

linguagens, códigos e a matemática e suas tecnologias, mais a redação.

4.2 – A sociologia no ENEM

A Sociologia aparece no ENEM sob quatro formas diferentes: a primeira, de

modo indireto ou contingente, para a realização da redação; a segunda, como pano de

fundo ou contextualização para questões de outras matérias, como Geografia, História

ou Filosofia; a terceira, ainda de modo interdisciplinar, aplicada em questões que ficam

na intersecção da Sociologia com outra disciplina; e ainda, a quarta, como uma questão

fechada em torno de um tema sociológico.

No primeiro caso, no uso indireto ou contingente do conhecimento sociológico,

pode-se sugerir que a Sociologia esteja subentendida como uma fonte possível de

conceitos para a redação, como está prescrito no Manual de 2008, retomado no edital de

2009, como uma das competências para realizar a redação: “Compreender a proposta de

redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema,

dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo”. Se assim for, é

14

possível dizer que a Sociologia aparece dessa forma desde o início do ENEM, em 1998,

e mesmo em provas de redação do vestibular. De modo que, para os alunos que já

tivessem aula de Sociologia, antes da obrigatoriedade, os conceitos sociológicos

puderam ter contribuído para a realização da redação.

Nesse sentido, a Sociologia pode auxiliar os alunos na construção desse texto, ao

despertar sua imaginação sociológica, entendida como uma série de dispositivos postos

em prática pelos alunos frente a um determinado fenômeno social ou tema sugerido, que

lhe permite superar o senso comum ao refletir e escrever sobre o que lhe é pedido.

Assim, na redação de 2007 (antes ainda do período tomado aqui como ruptura), após

duas letras de música e uma definição de cultura, o tema era o seguinte:

(ENEM 2007) Todos reconhecem a riqueza da diversidade no planeta. Mil aromas, cores, sabores, texturas, sons encantam as pessoas no mundo todo; nem todas, entretanto, conseguem conviver com as diferenças individuais e culturais. Nesse sentido, ser diferente já não parece tão encantador. Considerando a figura e os textos acima como motivadores, redija um texto dissertativo-argumentativo a respeito do seguinte tema: O desafio de se conviver com a diferença. Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação.

Já em 2011, o tema foi: (ENEM 2011) Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema VIVER EM REDE NO SÉCULO XXI: OS LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Partindo do livro de Tomazi9 (2008), o tema da diferença e da cultura, como o da

tecnologia e o seu papel na vida cotidiana dos indivíduos, são abordados no Ensino

Médio, de modo que aqueles alunos que tiveram algum contato com a Sociologia

puderam lançar mão desse conhecimento para realizar de modo satisfatório a redação.

A contribuição da Sociologia para a redação não é pequena, tendo em vista os

temas sugeridos. Mas pensar que a Sociologia é inserida no ENEM apenas como pano

de fundo para a redação não é suficiente para a reflexão que está sendo proposta neste

texto. Assim, tomando o ponto de ruptura citado acima, serão apresentadas as formas

9 Tomar como parâmetro o livro de Nelson Tomazi foi uma escolha baseada em dois princípios: primeiro, não se quer aqui discutir os conteúdos da Sociologia para o Ensino Médio, mas pensar a forma como ela já é, formal e concretamente, cobrada no ENEM, de modo que em outros exercícios, outros parâmetros podem ser tomados. Infelizmente, como não há espaço aqui para elaborar uma reflexão mais sofisticada, a decisão foi puramente operacional. Segundo, ele foi um dos livros de Sociologia recomendados pelo PNLD 2012, escolhido entre os outros recomendados, novamente, por questões operacionais. O que se faz aqui é um exercício, não se quer estabelecer normativamente critérios para análises do ENEM.

15

como ela passou a ser cobrada nas questões objetivas, a partir do momento em que fica

explícito que a Sociologia é um componente curricular presente na prova do ENEM.

Com relação a questões objetivas, há três outras formas de cobrança, como

exposto acima. A primeira, como um pano de fundo para o desenvolvimento de uma

questão de outra disciplina que seja componente do eixo cognitivo das ciências

humanas: História, Geografia ou Filosofia. É o exemplo da questão número 30 do

caderno azul do ENEM de 201110.

QUESTÃO 30 (ENEM 2011) Os três tipos de poder representam três diversos tipos de motivações: no poder tradicional, o motivo da obediência é a crença na sacralidade da pessoa do soberano; no poder racional, o motivo da obediência deriva da crença na racionalidade do comportamento conforme a lei; no poder carismático, deriva da crença nos dotes extraordinários do chefe. BOBBIO, N. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política. São Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado). O texto apresenta três tipos de poder que podem ser identificados em momentos históricos distintos. Identifique o período em que a obediência esteve associada predominantemente ao poder carismático: (A) República Federalista Norte-Americana. (B) República Fascista Italiana no século XX. (C) Monarquia Teocrática do Egito Antigo. (D) Monarquia Absoluta Francesa no século XVII. (E) Monarquia Constitucional Brasileira no século XIX. Talvez, em um primeiro momento, possa se pensar que esta seja uma questão de

cunho apenas sociológico, afinal há referência às formas de dominação tal como

classificadas por Weber, ainda que, no texto citado, haja referência não aos tipos de

dominação, mas ao conceito de poder11. Porém, olhando com mais cuidado, é possível

perceber que esta é muito mais uma questão de história do que de sociologia e, indo

mais além, não parece mesmo uma questão interdisciplinar, pois não há o uso do

conhecimento produzido por duas disciplinas diferentes para a resolução da questão

(FIORIN, 2008).

O que há é um texto introdutório à questão, que versa sobre um tema da

Sociologia, em que pese não faça referência direta a Weber. Porém, o conhecimento

prévio que está sendo acionado para a resolução da mesma é o de História, e não de

Sociologia. Poder-se-ia pensar que se está acionando também conhecimentos

sociológicos pelo texto introdutório, mas este não pede um saber prévio destes

conteúdos, pois o próprio texto os explica o suficiente para que se resolva a questão. O

que o aluno está precisando conhecer é o funcionamento das repúblicas e monarquias

citadas, para aí sim identificá-las segundo um dos poderes citados. 10 Os gabaritos das questões citadas no texto estarão marcados em itálico. 11 No site http://www.blogtemposmodernos.com.br/2011/10/questoes-de-sociologia-no-enem-2011.html (consultado em 14 de maio de 2012), que faz análise de provas do ENEM, a questão foi classificada como de Sociologia.

16

Então, a questão acima pode mais ser classificada como uma questão de História

do que de Sociologia, ainda que esta esteja sendo um pano de fundo, um ponto de

partida para a contextualização desta questão. Nesse sentido, pode-se ir mais longe

também e imaginar que até questões de Matemática ou de Química podem ser

introduzidas por um texto sociológico. Não se quer, aqui, dizer que isso é ruim ou que é

um reducionismo da Sociologia, mas apenas apontar que ela é cobrada de maneira

heterogênea, sendo a função de contextualização de uma questão apenas uma das

possibilidades.

Outra forma possível é a cobrança da Sociologia em um contexto

interdisciplinar, no qual o tema ou objeto da questão faz referência a duas ou mais

disciplinas. Neste sentido, há muita proximidade entre Sociologia e Geografia em

questões que envolvem o mundo do trabalho, o meio ambiente ou a influência da

tecnologia na dinâmica social, como, por exemplo, na questão 16 do caderno azul de

2011:

Questão 16 (ENEM 2011) Estamos testemunhando o reverso da tendência histórica da assalariação do trabalho e socialização da produção, que foi característica predominante na era industrial. A nova organização social e econômica baseada nas tecnologias da informação visa à administração descentralizadora, ao trabalho individualizante e aos mercados personalizados. As novas tecnologias da informação possibilitam, ao mesmo tempo, a descentralização das tarefas e sua coordenação em uma rede interativa de comunicação em tempo real, seja entre continentes, seja entre os andares de um mesmo edifício. CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006 (adaptado). No contexto descrito, as sociedades vivenciam mudanças constantes nas ferramentas de comunicação que afetam os processos produtivos nas empresas. Na esfera do trabalho, tais mudanças têm provocado (A) o aprofundamento dos vínculos dos operários com as linhas de montagem sob modelos orientais de gestão. (B) o aumento das formas de teletrabalho como solução de larga escala para o problema do desemprego crônico. (C) o avanço do trabalho flexível e da terceirização como respostas às demandas por inovação e com vistas à mobilidade dos investimentos. (D) a autonomização crescente das máquinas e computadores em substituição ao trabalho dos especialistas técnicos e gestores. (E) o fortalecimento do diálogo entre operários, gerentes, executivos e clientes com a garantia de harmonização das relações de trabalho. Pode-se dizer que a Geografia foi a grande disciplina responsável por trabalhar

sobre o tema do mundo trabalho no Ensino Médio até a consolidação da obrigatoriedade

da Sociologia nesse nível de ensino. A intersecção dessas duas disciplinas na análise do

tema também se realiza no mundo acadêmico. De modo que não há por que não se

aceitar que o aluno possa responder à questão acima lançando mão dos conhecimentos

de Sociologia ou Geografia, ou mesmo de ambas.

O mesmo parece ocorrer com a questão número dois da mesma prova.

17

Questão 02 (ENEM 2011) O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga. FRAGA, P. Ninguém é inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado). O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma ambigüidade inerente ao humano, porque as normas morais são (A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas. (B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação. (C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente. (D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter. (E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas jurídicas. Sem entrar na definição estrita do que seria conteúdo de Filosofia, a questão

acima poderia ser respondida seja lançando mão da reflexão sobre cultura ou mesmo

socialização do indivíduo, por parte da Sociologia, seja da reflexão sobre ética e moral

pela qual passa a Filosofia. Indo mais além na relação entre essas duas disciplinas,

questões que façam referência a pensadores como Maquiavel, Hobbes, Locke ou

Rousseau podem requerer conhecimentos da filosofia política, em uma intersecção entre

Filosofia, Sociologia (ciência política) e mesmo História12.

Por fim, há questões que seriam apenas referentes a conteúdos de Sociologia,

isto é, aquelas que, entre questões interdisciplinares, fossem elaboradas de modo que o

aluno respondesse acionando apenas conteúdos sociológicos, como há questões

passíveis de serem respondidas apenas com conhecimento estritamente histórico,

geográfico ou filosófico. Se bem que definir os conceitos estritamente sociológicos não

é tarefa fácil, sem acesso ao que se entende por Sociologia por quem concebe o ENEM.

Assim, partindo de 2000 até 2009, talvez não haja nenhuma questão de

Sociologia na prova do ENEM13. Em 2010, há pelo menos uma que trata da

homossexualidade e da forma que sua condenação toma na sociedade. Há também uma

que se refere à importância das leis para a formação das sociedades a partir de Foucault,

apresentado como filósofo (tal como ele é), e foi considerada como uma questão de

12 A questão 28 da prova amarela de 2010 é sobre o pensamento de Maquiavel; a questão 58 da prova azul de 2009 é sobre o conceito de cidadania em Aristóteles, talvez nem essa seja uma questão apenas de Filosofia, devido ao conteúdo de Ciência Política estudado na formação em Ciências Sociais e que pode ser lecionado em alguns momentos do Ensino Médio, indo além do parâmetro da pesquisa que é o livro do Tomazi. 13 Há duas questões sobre Tocqueville e tradição democrática estadunidense, mas neste caso parecem mais questões de História do que de Ciência Política/Sociologia. Em uma delas, há um texto introdutório que é de Tocqueville, mas não necessariamente a reflexão seja sociológica, e o texto se apresenta mais como um registro de seu tempo, mais que uma reflexão política. E uma outra sobre a formação das cidades no Brasil e na América Latina, que poderiam ser contempladas como questões de Sociologia.

18

Sociologia e Filosofia14. Em 2011, há a questão 30 do caderno azul, apresentada acima,

a questão 21, sobre o papel dos meios de comunicação para uma democracia, e as duas

que seguem:

Questão 18 (ENEM 2011) Na década de 1990, os movimentos sociais camponeses e as ONGs tiveram destaque, ao lado de outros sujeitos coletivos. Na sociedade brasileira, a ação dos movimentos sociais vem construindo lentamente um conjunto de práticas democráticas no interior das escolas, das comunidades, dos grupos organizados e na interface da sociedade civil com o Estado. O diálogo, o conflito e o confronto têm sido o motor do processo de construção democrática. SOUZA, M. A. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: participação e possibilidades daspráticas democráticas. Disponível em: http://www.ces.uc.pt. Acesso em: 30 abr. 2010 (adaptado). Segundo o texto, os movimentos sociais contribuem para o processo de construção democrática, porque (A) determinam o papel do Estado nas transformações socioeconômicas. (B) aumentam o clima de tensão social na sociedade civil. (C) pressionam o Estado para o atendimento das demandas da sociedade. (D) privilegiam determinadas parcelas da sociedade em detrimento das demais. (E) propiciam a adoção de valores éticos pelos órgãos do Estado. Questão 27 (ENEM 2011) Um volume imenso de pesquisas tem sido produzido para tentar avaliar os efeitos dos programas de televisão. A maioria destes estudos dizem respeito às crianças - o que é bastante compreensível pela quantidade de tempo que elas passam em frente ao aparelho e pelas possíveis implicações desse comportamento para a socialização. Dois dos tópicos mais pesquisados são o impacto da televisão no âmbito do crime e da violência e a natureza das notícias exibidas na televisão. GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. O texto indica que existe uma significativa produção científica sobre os impactos socioculturais da televisão na vida do ser humano. E as crianças, em particular, são as mais vulneráveis a estas influências porque (A) Codificam informações transmitidas nos programas infantis por meio da observação. (B) adquirem conhecimentos variados que incentivam o processo de interação social. (C) interiorizam padrões de comportamento e papéis sociais com menor visão crítica. (D) observam formas de convivência social baseadas na tolerância e no respeito. (E) apreendem modelos de sociedade pautados na observância das leis. O que chama a atenção para as duas questões citadas é que versam sobre

conteúdos sociológicos, mas não requerem o uso de um conhecimento prévio da

Sociologia para a sua resolução, tal como na questão 30 citada (o que fez com que fosse

classificada como de história); mas diferente das provas de vestibular vistas no ponto

anterior. Elas se configuram como questões de interpretação de texto, mas de textos

especificamente sociológicos.

Com relação à análise das questões puramente sociológicas, é preciso esclarecer

que, ainda que sejam poucas, apenas 5 de 135 questões de ciências humanas nos últimos

três anos, a Sociologia está presente de modo mais forte quando surge na intersecção

com outras disciplinas na resolução das questões, isto é, de um modo mais

interdisciplinar.

14 Neste ano, também há questões que descrevem tradições indígenas e pedem respostas sobre o tema, que poderiam ser consideradas de Sociologia/Antropologia, mas pelos motivos expostos na nota anterior, não foram consideradas aqui.

19

Ao fim da análise sobre a Sociologia no ENEM, nota-se que ela aparece de

modo heterogêneo, primeiramente como apoio e recurso para a construção das redações,

levando, de maneira livre, o aluno a exercitar sua imaginação sociológica. No entanto,

ficar só neste papel não é suficiente para a consolidação e legitimidade da Sociologia no

exame e no Ensino Médio. Nesse sentido, na prova objetiva, ela também pode ser

cobrada meramente como contextualização para questões de outras disciplinas, quando

seu papel ainda é reduzido. Mas ganha força e legitimidade nas questões

interdisciplinares e nas puramente sociológicas. O problema é que nas questões

“específicas de Sociologia” não é cobrado um conhecimento prévio estritamente

sociológico para a sua resolução. Tornam-se questões de interpretação de textos

sociológicos, e não questões nas quais o aluno tem de acionar saberes pretéritos vistos

em sala de aula.

5. Conclusão

Como visto ao longo do artigo, a discussão sobre a inclusão da Sociologia como

um conjunto de conteúdos e competências a ser cobrado no vestibular não pode deixar

de levar em consideração quatro aspectos de suma importância: 1) A Sociologia tem

especificidades em relação às outras disciplinas, quanto à multiplicidade de métodos e à

falta de uma unidade paradigmática; 2) Não há um conjunto consensual de conteúdos da

Sociologia na educação básica; 3) As demais disciplinas passaram por longos processos

de críticas à maneira como são cobradas e de reformulações para se tornarem os saberes

que são hoje nos processos seletivos. Esse enquadramento é muito recente para a

Sociologia, o que causa um estranhamento inicial; 4) A Sociologia chega ao vestibular

em meio à interdisciplinaridade sem ter tido o mesmo tempo que as outras áreas para

estabelecer a sua disciplinaridade.

Esses quatro aspectos não inviabilizam a Sociologia ser cobrada, mas pedem

uma reflexão sobre a melhor maneira de isso ser feito. Nos vestibulares, três caminhos

estão sendo efetivamente seguidos: o primeiro é o da interdisciplinaridade, em um

diálogo entre diferentes disciplinas, o qual nem sempre torna a Sociologia visível; o

segundo pede aos alunos que dominem conceitos e teorias pela interpretação de

pensadores específicos; e o terceiro que seja conhecido o pensamento sociológico sobre

determinados temas ou conceitos mais gerais, sem que para isso seja preciso identificar

autores.

20

No Enem, excluindo a redação, três caminhos também foram encontrados: o

primeiro opta por fazer a Sociologia dialogar com outra disciplina, mas sem necessidade

de um conhecimento prévio dos temas, teorias ou conceitos sociológicos; o segundo

escolhe, da mesma forma, fazer a Sociologia dialogar com outra disciplina, mas com a

necessidade de conhecimentos prévios de ambas; e o terceiro apresenta um tema mais

sociológico, às vezes na forma de um texto a ser interpretado. Portanto, se nesse

enquadramento há uma troca de liberdade por legitimidade, é preciso definir bem a sua

configuração definitiva, para que não reste dúvida de que o saldo foi, de fato, positivo.

Referências bibliográficas:

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21

PAIVA, Andréa de; CAMPOS, Giselli; PEREIRA, Marcia Menezes. “Currículo Mínimo 2011: considerações sobre um currículo de sociologia para a educação básica”. In: HANDFAS, Anita; MAÇAIRA, Julia Polessa. Dilemas e Perspectivas da Sociologia na Educação Básica. Rio de Janeiro: E-papers, 2012 (no prelo). SANTOS, Mário Bispo dos. “A Sociologia no contexto das reformas do Ensino Médio”. In: CARVALHO, Lejeune Mato Grosso de (Org.). Sociologia e ensino em debate: experiências e discussão de sociologia no ensino médio. Ijuí: Unijuí, 2004. SANTOS, Mário Bispo dos. Diretrizes curriculares estaduais para o ensino de Sociologia: em busca do mapa comum. Revista PerCursos. Florianópolis, v. 13, n. 01, jan./jun., 2012. SOUSA, Sandra M. Z. L. Possíveis impactos das políticas de avaliação no currículo escolar. Cadernos de Pesquisa, nº. 119, julho/2003. SOUSA, Sandra Z.; ARCAS, Paulo Henrique. Implicações da avaliação em larga escala no currículo: revelações de escolas estaduais de São Paulo. Educação: teoria e prática. V. 20, nº. 35, jul.-dez./2010. TOMAZI, Nelson Dácio. Sociologia para o Ensino Médio. Ed. Atual, 2008. WEBER, Max. Conceitos Básicos em Sociologia. São Paulo: Centauro Editora, 2002. ANEXO: Quadro: Universidades nas quais a Sociologia é cobrada no vestibular, de acordo com o edital ou o manual do candidato divulgado por elas

Universidade

Estado Ano em

que começou a

ser cobrada

Tipo de prova em que a Sociologia está presente

Região Norte

Universidade do Estado do

Amapá – UEAP

Amapá 2009 (Vestibular

2010)

1ª fase. Prova específica objetiva: múltipla escolha

Universidade Federal do

Pará – UFPA

Pará 2004 (Vestibular

2005)

1ª fase (até o Vestibular 2010) e 2ª fase (do

Vestibular 2011 em diante, pois o Enem substituiu a 1ª

fase). Prova específica objetiva: múltipla escolha.

Universidade de

Pernambuco – UPE

Pernambuco 2009 (Vestibular tradicional

2010) e 2008

(Vestibular seriado SSA

Fase única em três dias (tradicional) e dois (seriado).

Prova específica objetiva: múltipla escolha

22

Região Nordeste

20081) Universidade Estadual do Maranhão –

UEMA

Maranhão 2004 (Vestibular

2004)

Fase única. Prova específica objetiva: múltipla escolha

Universidade Federal do

Maranhão – UFMA

Maranhão 2008 (Vestibular

2008)

1ª fase. Prova específica objetiva: múltipla escolha

Região Centro-Oeste

Universidade de Brasília –

UnB

Distrito Federal

2009 (Vestibular

2009/1)

Fase única (2ª prova). Prova interdisciplinar objetiva.

Com três tipos de itens: para marcar certo ou errado; de

múltipla escolha; e para responder elaborando um

pequeno texto Universidade Estadual de

Goiás – UEG

Goiás 2007 (Vestibular

2008/1)

1ª fase. Prova interdisciplinar objetiva: múltipla escolha

Região Sudeste

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP

São Paulo 2010 (Vestibular

2011)

1ª fase. Prova interdisciplinar objetiva (múltipla escolha) e 2ª fase. Prova interdisciplinar

discursiva Universidade Estadual de

Montes Claros – Unimontes

Minas Gerais

2009 (Vestibular tradicional 2010/1) e

2010 (Vestibular

seriado PAES 2010)

Fase única. Prova específica objetiva: múltipla escolha

Universidade Federal de

Uberlândia – UFU

Minas Gerais

1997 (Vestibular tradicional 1997/1) e

1998 (Vestibular

seriado PAIES 1998)

Vestibular tradicional: 1ª fase. Prova específica

objetiva (múltipla escolha) e 2ª fase. Prova específica

discursiva

Universidade do Estado do

Rio de Janeiro – UERJ

Rio de Janeiro

2004 (Vestibular

2005)

1ª fase. Prova interdisciplinar objetiva: múltipla escolha

Universidade Estadual de Londrina –

UEL

Paraná 2003 (Vestibular

2003)

Na 1ª fase, prova interdisciplinar objetiva:

múltipla escolha (para todos os candidatos). Na 2ª fase, prova específica objetiva:

múltipla escolha (do

23

Região Sul

Vestibular 2003 ao Vestibular 2011) e específica

discursiva (a partir do Vestibular 2012) (para os

candidatos a alguns cursos) Universidade Estadual de Maringá –

UEM

Paraná 2007 (Vestibular de Inverno

2007)

Fase única em três dias. Em 2007: no 1º dia, prova

interdisciplinar objetiva: múltipla escolha (para todos os candidatos). De 2008 em

diante: no 1º dia, prova interdisciplinar objetiva: questões de alternativas múltiplas2 (para todos os

candidatos). No 3º dia, prova específica objetiva: questões

de alternativas múltiplas (para os candidatos a alguns

cursos) Universidade Estadual do

Centro-Oeste do Paraná –

UNICENTRO

Paraná 2009 (Vestibular tradicional 2010/1) e

2011 (Vestibular

seriado PAC III/2009)

Vestibular tradicional: 2ª fase. Prova específica

objetiva: múltipla escolha (para os candidatos a alguns cursos). Vestibular seriado: Prova específica objetiva:

múltipla escolha (para todos os candidatos que estão no 3º

ano do Ensino Médio) Universidade Estadual do

Oeste do Paraná –

UNIOESTE

Paraná 2008 (Vestibular

2009)

1ª fase. Prova específica objetiva: múltipla escolha

(para todos os candidatos) e 2ª fase. Prova específica

objetiva: múltipla escolha (para os candidatos a alguns

cursos) Universidade

Federal do Paraná – UFPR

Paraná 2006 (Vestibular

2007)

2ª fase. Prova específica discursiva (para os

candidatos ao curso de Ciências Sociais)

1 – O vestibular seriado é aquele cujas provas são realizadas pelo candidato no final de cada ano, ao longo das três séries do Ensino Médio; 2 – As questões de alternativas múltiplas correspondem àquelas que contêm cinco proposições indicadas com os números 01, 02, 04, 08 e 16. A resposta correta será a soma dos números associados às proposições verdadeiras.