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VIII Encontro da ANDHEP Políticas Públicas para a Segurança Pública e Direitos HumanosGT12 Políticas Públicas e Direitos Humanos 28 a 30 de abril de 2014 São Paulo SP Faculdade de Direito da USP ISSN: 2317-0255 Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255 2621

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  • VIII Encontro da ANDHEP

    Polticas Pblicas para a Segurana Pblica e Direitos Humanos

    GT12

    Polticas Pblicas

    e Direitos Humanos

    28 a 30 de abril de 2014

    So Paulo SP

    Faculdade de Direito da USP

    ISSN: 2317-0255

    Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

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  • 1. Introduo:

    O presente artigo parte da pesquisa desenvolvida no mbito do Mestrado

    em Direitos Humanos da Universidade Federal de Pernambuco, cujo objeto de estudo

    a poltica pblica de abrigamento para mulheres em situao de violncia domstica.

    Tal objeto foi escolhido a partir das inquietaes surgidas ao desempenhar a

    funo pblica de Secretria Especial da Mulher de Caruaru, rgo responsvel pela

    elaborao, promoo e articulao de polticas pblicas para mulheres.

    A Prefeitura de Caruaru, atravs da Secretaria Especial da Mulher, tem

    articulado diversos servios municipais em parceria com os governos estadual e

    nacional, na perspectiva do Pacto Federativo e da descentralizao poltico-

    administrativa do Estado com vistas a proteger a cidadania e enfrentar a violncia

    contra mulher.

    A Prefeitura conta com o Centro de Referncia da Mulher, unidade da

    Secretaria Especial da Mulher, cuja finalidade oferecer atendimento psicolgico,

    jurdico e social mulher vtima. Ao verificar que estas mulheres esto em risco

    iminente de morte, a Delegacia da Mulher e o Centro de Referencia da Mulher Maria

    Bonita acionam o Ncleo Estadual de Abrigamento e as mulheres so includas no

    sistema de abrigamento, cujo principal instrumento a Casa Abrigo.

    Nas reunies de equipe da Secretaria Especial da Mulher, as profissionais

    que atuam no Centro de Referncia da Mulher relatam inmeras dificuldades e

    desafios que envolvem o servio de abrigamento, como por exemplo, a recusa da

    mulher ao ingressar no abrigamento mesmo estando em situao altamente

    vulnervel, passando pelo distanciamento do trabalho, da famlia, da comunidade e

    de outros territrios e espaos que antes frequentava at vivenciar o perodo do

    abrigamento.

    A experincia poltica profissional neste espao de gesto orientou ento a

    escolha do objeto, por compreender que os estudos sobre o abrigamento de mulheres

    vtimas de violncia podem contribuir para uma melhor compreenso da situao das

    mulheres abrigadas e tambm das dificuldades de ingresso e permanncia nesse

    instrumento, considerando que ele no o ideal, mas ainda apresenta-se necessrio e

    fundamental para preservar as vtimas.

    Nessa direo, refletimos que a pesquisa acadmica pode contribuir de forma

    significativa para compreendermos todos os fenmenos que envolvem tal questo.

    Para alm dessa curiosidade epistemolgica e social, compreendemos que pesquisa

    enriquece tambm a nossa atuao e o entendimento tcnico das polticas pblicas de

    gnero.

    A Casa Abrigo para Mulheres Vtimas de Violncia Domsticae os Direitos Humanos

    ELBA RAVANE ALVES AMORIM/ UFPE PPGDHANA MARIA BARROS/ UFPE PPGDH

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  • Nesse sentido e com base nessa contextualizao, o presente artigo visa

    apresentar os resultados da primeira etapa dessa pesquisa maior, e nesta fase, foi

    realizada uma pesquisa bibliogrfica tendo como meta do texto: apresentar as

    concepes da casa abrigo para as mulheres vtimas de violncia e refletir se

    possvel na estrutura atual de abrigamento, possibilitar a proteo sem a violao de

    direitos das vtimas.

    Buscamos relacionar trs conceitos consolidados nas Cincias Humanas:

    feminismo, violncia e polticas pblicas. A partir da foi desenvolvida uma reviso de

    literatura a partir de autoras que desdobram seus estudos com foco nas questes aqui

    trazidas.

    Lakatos, destaca que Nesse tipo de artigo, o autor faz anlise de cada

    elemento constitutivo do assunto e sua relao com o todo.1 O autor completa: Artigos cientficos so pequenos estudos, porm, completos, que trata de uma questo verdadeiramente cientifica [...] Apresentam o resultados de estudos ou pesquisas e distinguem-se dos diferentes tipos de trabalhos cientficos pela sua reduzida dimenso e contedo.2

    2. Violncia Contra Mulher e Direitos Humanos:

    Heleieth Saffioti destaca que para discutir conceitualmente a violncia

    necessrio fazer uma releitura dos Direitos Humanos, isso porque o conceito de

    violncia na perspectiva dos Direitos Humanos que parece apropriado, violncia

    poderia ento ser entendida como[...] todo agenciamento capaz de viol-los.3 E

    continua: A violncia de gnero, inclusive em sua modalidade familiar e domstica,

    no ocorre aleatoriamente, mas deriva de uma organizao social de gnero, que

    privilegia o masculino.4 Para autora o patriarcado [...] representa uma estrutura de

    poder baseada tanto na ideologia quanto na violncia.5

    No tocante violncia contra mulher, podemos ento dizer que a mesma

    decorre da desigualdade de gnero, fruto do sistema patriarcal. A fora fsica, o

    pblico, a propriedade, o sustento da prole, o poder de deciso posto para o campo

    masculino e a doura, o privado, o cuidado com a prole, a submisso posto para o

    campo do feminino. Nesse processo, a violncia praticada pelo homem contra mulher

    foi naturalizada e o poder do homem se estabeleceu e se perpetua atravs do uso da

    violncia, ancorada hegemonicamente na cultura brasileira.

    1 LAKATOS, E.M., Marconi, M. de A. Fundamentos de metodologia cientfica. 3.ed. So Paulo: Atlas, 1991. p. 263. 2 LAKATOS, E.M., Marconi, M. de A. Fundamentos de metodologia cientfica. 3.ed. So Paulo: Atlas, 1991. p. 261. 3 SAFFIOTI, Heleieth. Gnero, patriarcado e violncia. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2004. p. 76 4 SAFFIOTI, Heleieth. Gnero, patriarcado e violncia. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2004. p. 81 5 SAFFIOTI, Heleieth. Gnero, patriarcado e violncia. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2004. p. 58

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  • No patriarcado a violncia contra mulher um direito, porque a mulher no

    considerada humana e sim coisa, res, propriedade do patriarca. O patriarcado constitui

    uma ideologia ainda presente na sociedade contempornea, como destaca Heleieth

    Saffioti:

    [...] a base material do patriarcado no foi destruda, no obstante os avanos femininos, quer na rea profissional, quer na representao no parlamento brasileiro e demais postos eletivos polticos. Se na Roma antiga o patriarca tinha direito de vida e de morte sobre sua mulher, hoje o homicdio crime capitulado no Cdigo Penal, mas os assassinos gozam de ampla impunidade6

    Para Noberto Bobbio, os Direitos Humanos [..]so coisas desejveis, isto ,

    fins que merecem ser perseguidos e apesar de sua desejabilidade, no foram ainda

    todos eles (por toda a parte e em igual medida) reconhecidos7, o direito das mulheres

    de uma vida livre da violncia algo a ser perseguido internacionalmente.

    A violncia contra mulher constitui grave violao aos Direitos Humanos e

    por muito tempo polticas pblicas que enfrentassem essa violncia estiveram fora

    das agendas do poder pblico.

    O conceito trazido por Maria Amlia Teles e Mnica de Melo bastante

    elucidativo no que concerne a violncia de gnero. Segundo as autoras:

    O conceito de violncia de gnero deve ser entendido como uma relao de poder de dominao e de submisso da mulher. Ele demonstra que os papis impostos s mulheres e aos homens, consolidados ao longo da histria e reforados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relaes violentas entre os sexos e indica que a prtica desse tipo de violncia no fruto da natureza, mas sim do processo de socializao das pessoas.8

    J em 1949, Simone de Beauvoir chamava ateno para construo cultural

    legitimadora da violncia contra mulher:

    A magia feminina foi profundamente domesticada dentro da famlia patriarcal. A mulher permite que a sociedade integre nela as foras csmicas. Na sua obra Mitra-Varuna, Dumzil assinala que, na ndia como em Roma, o poder viril afirma-se de duas maneiras: em Varuma e Rmulo, nos Gandara e nas Lupercas esse poder agresso, rapto, desordem, hybris; ento a mulher apresenta-se como um ser que preciso raptar, violentar; as sabinas raptadas estreis, fustigam-nas correias de pele de bode, compensando pela violncia um excesso de violncia.9

    A Lei Maria da Penha o resultado de um consrcio composto por entidades

    e movimentos de mulheres, feministas e de juristas para estudar e elaborar uma

    6 SAFFIOTI, Heleieth. Gnero, patriarcado e violncia. So Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2004. p. 104. 7 BOBBIO, Norberto. A Era do Direito. Nova Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 9 reimpresso. p. 15/16 8 TELES, Maria Amlia de Almeida. MELO. Mnica. O que violncia Contra Mulher. So Paulo: Brasiliense, 2003.p.18. 9 BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Lisboa: Quetzal, 2009.p. 286/287

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  • minuta de Projeto de Lei que estabelecesse mecanismos para coibir, punir e prevenir a

    violncia contra mulher, aprovada por unanimidade pelo Congresso Nacional e

    assinada em 7 de agosto de 2006 pelo presidente Luiz Incio Lula da Silva.10

    E hoje o Brasil possui uma legislao especifica sobre violncia contra

    mulher, a Lei Maria da Penha. O artigo 5 da Lei assim a tipifica:

    Para os efeitos desta Lei, configura violncia domstica e familiar contra a mulher qualquer ao ou omisso baseada no gnero que lhe cause morte, leso, sofrimento fsico, sexual ou psicolgico e dano moral ou patrimonial11.

    De acordo com a pesquisa realizada em 2013 pelo Data Popular e Instituto

    Patrcia Galvo, entrevistados e entrevistadas acreditam que a casa, ou seja, o

    ambiente privado, apresenta maior risco de violao a integridade das mulheres: 7 em

    cada 10 entrevistados acreditam que a mulher sofre mais violncia dentro de casa do

    que em espaos pblicos.12

    Foram entrevistados 1.501 brasileiros/as maiores de 18 anos, em 100

    municpios de todas as regies do pas, entre os dias 10 e 18 de maio 2013.13 O

    resultado da pesquisa aponta que para 86% dos/as entrevistados/as as mulheres

    passaram a denunciar mais os casos de violncia domstica aps a Lei Maria da

    Penha14, a pesquisa aponta ainda que 57% acreditam que com a Lei os agressores

    foram mais responsabilizados15 e 2% da populao nunca ouviram falar da Lei Maria

    da Penha.16 O processo de mobilizao para a promulgao de uma legislao que

    tipificasse a violncia contra mulher, corroborou para o conhecimento da existncia da

    Lei.

    importante destacar que todas as vezes que as mulheres saem s ruas e

    exigem do Estado (latus sensus) aes que ponham fim a violncia contra mulher,

    estamos dizendo, essa realidade mutvel, que queremos mudanas. Quando uma

    Lei promulgada e uma Poltica Pblica criada, h uma mudana de paradigma. A

    10CORTS, Iris Ramalho (et all). Lei Maria da Penha: do papel a vida. Comentrios Lei 11.340/206 e sua incluso no ciclo oramentrio. CFEMEA. Braslia, 2010. 11 CORTS, Iris Ramalho (et all). Lei Maria da Penha: do papel a vida. Comentrios Lei 11.340/206 e sua incluso no ciclo oramentrio. CFEMEA. Braslia, 2010. 12BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/ p.5 13BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/ p.5 14BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/p.5 15BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/ p.45 16BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/ p.5

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    http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/

  • Lei torna pblico aquilo considerado privado, a poltica pblica torna possvel a

    mudana do que at ento era considerado natural, demonstrando que a violncia

    contra mulher no da natureza, no divino, cultural e precisa ser enfrentada.

    3. Casa Abrigo: Instrumento da Poltica Pblica de Enfrentamento Violncia Contra Mulher:

    A Casa Abrigo constitui um instrumento da Poltica Nacional de Enfrentamento

    a Violncia Contra Mulher. Convm destacar que a poltica para mulher no Brasil no

    resultado na concesso dos governos e sim resultado do dilogo entre movimentos

    feministas e governos, aliado a uma conjuntura governamental favorvel.

    Assim, quando polticas pblicas de enfrentamento a violncia contra mulher

    so institudas h uma ruptura com a histria at ento vigente, marcada por tabus e

    invisibilidade dessa violncia. Para Celi Regina A questo da violncia contra mulher,

    sempre foi tratada no Brasil como um tema tabu, restrito a esfera privada.17

    somente na dcada de 80, a partir da Carta das Mulheres, que a pauta

    reivindicatria para que o Estado crie instrumentos formais para atender as mulheres

    brasileiras entra no debate pblico de maneira organizada e como uma das bandeiras

    prioritria:

    Em dois pontos a carta apresentou originalidade em relao aos demais documentos do perodo. O primeiro refere-se questo da violncia contra mulher, expresso numa detalhada proposta de defesa da integridade fsica e psquica das mulheres, redefinindo o conceito de estupro e sua classificao penal, apenando o explorador sexual e solicitando a criao de delegacias especializadas no atendimento da mulher em todos os municpios do territrio nacional.18

    No entanto, as reivindicaes dos movimentos se concentravam na defesa da

    criao de Delegacias.

    Poltica pblica pode ser compreendida como a forma da administrao

    pblica materializar os direitos. Martha Ferreira Santos Farah destaca que Poltica

    pblica pode ser entendida como um curso de ao do Estado, orientado por

    determinados objetivos, refletindo ou traduzindo um jogo de interesses. Um programa

    governamental, por sua vez, consiste em uma ao de menor abrangncia em que se

    desdobra uma poltica pblica.19

    17 PINTO, Celi Regina. Uma histria do feminismo no Brasil. Editora . So Paulo: Perseu Abramo, 2003. p. 80 18 PINTO, Celi Regina. Uma histria do feminismo no Brasil. Editora . So Paulo: Perseu Abramo, 2003. p.75 19 FARAH, Marta Ferreira Santos . Gnero e polticas pblicas. Disponvel em http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n1/21692.pdf. Acesso em 28/01/2014

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    http://www.scielo.br/pdf/ref/v12n1/21692.pdf

  • Note-se que a poltica pblica pode mudar de acordo com os governos, talvez

    por essa razo, a histria das Casas Abrigo no Brasil so marcadas por criao,

    fechamento e reabertura, conferindo-lhe fragilidades e precariedades.

    Para Martha Farah, a ao do Estado pode provocar impactos diferentes na

    relao desigual entre homens e mulheres. Vejamos o que ela traz:

    As aes governamentais, as polticas pblicas e os programas desenvolvidos por governos podem exercer um papel importante diante deste quadro de desigualdades: Podem reforar as desigualdades, o que ocorre, em geral, pelo fato de os governos e as agncias estatais no estarem atentos s desigualdades de gnero. E, mais que isto, em decorrncia tambm de a prpria sociedade no estar atenta a estas desigualdades. Mas as aes governamentais, as polticas pblicas, podem tambm contribuir para a reduo da desigualdade de gnero.20

    A autora destaca que a colocao da temtica nas agendas dos governos

    recente e apresenta as divergncias de concepo que a circunda:

    De um lado, uma nfase eficincia e uma certa funcionalizao da mulher, vista como um instrumento do desenvolvimento, como potencializadora de polticas pblicas, pelo papel que desempenha na famlia. De outro, uma nfase em direitos, na constituio da mulher como sujeito. Assim, a exemplo dos distintos vetores presentes na agenda de reforma do Estado o da eficincia e o da democratizao tambm na agenda de gnero h uma tenso entre diferentes perspectivas (esta tenso clara em relao relao entre movimentos e Estado e, sobretudo, em relao concepo de focalizao).21

    Compreendemos que no que concerne a poltica pblica que busque superar

    as desigualdades entre homens e mulheres, os instrumentos governamentais devem

    perseguir a perspectiva feminista. Isso perpassa por considerar a mulher enquanto

    sujeito de direito e protagonista da sua histria.

    Os organismos de polticas pblicas para as mulheres devem, portanto,

    primar pela busca incansvel pela implementao de polticas pblicas capazes de

    promover os direitos humanos das mulheres, dentre estes, o direito uma vida livre da

    violncia. Isso porque a via institucional pode e deve enfrentar essa questo at muito

    tempo tratada como algo privado. Na contemporaneidade o movimento feminista no

    nega os espaos institucionais, prope que sua ao seja radicalmente

    transformadora da estrutura de Estado neofamilista e mercadolgica. Para Tatau

    Godinho:

    20FARAH, Marta Ferreira Santos . Polticas Pblicas e Gnero. Disponvel em http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//cidadania/conselhos_e_coordenadorias/coordenadoria_da_mulher/Politicas_Genero_2.pdf. Acessado em 29/01/2014 21 FARAH, Marta Ferreira Santos . Polticas Pblicas e Gnero. Disponvel em http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//cidadania/conselhos_e_coordenadorias/coordenadoria_da_mulher/Politicas_Genero_2.pdf. Acessado em 29/01/2014

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    http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/conselhos_e_coordenadorias/coordenadoria_da_mulher/Politicas_Genero_2.pdfhttp://ww2.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/conselhos_e_coordenadorias/coordenadoria_da_mulher/Politicas_Genero_2.pdfhttp://ww2.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/conselhos_e_coordenadorias/coordenadoria_da_mulher/Politicas_Genero_2.pdfhttp://ww2.prefeitura.sp.gov.br/cidadania/conselhos_e_coordenadorias/coordenadoria_da_mulher/Politicas_Genero_2.pdf

  • A reivindicao de que o poder pblico, de que as instituies do Estado desenvolvam polticas voltadas superao das desigualdades entre mulheres e homens tem sido uma caracterstica do feminismo contemporneo.

    [...] Afinal, no se trata de uma ao setorial; o que se defende que a perspectiva da superao da desigualdade entre mulheres e homens deve ser parte constitutiva da ao poltica como um todo22

    importante destacar que as polticas pblicas para as mulheres exigem

    organismos especficos, com estruturas capazes de proporcionar a disputa interna e

    colocar na centralidade do governo o enfrentamento a todas as formas de opresso.

    Para Tatau Godinho:

    Tal proposta parte de alguns pressupostos importantes: primeiro, que a existncia de um organismo coordenador, articulador e centralizador de tais polticas essencial para a construo de uma coerncia do programa de governo orientado s mulheres; em segundo lugar; da importncia de sua alocao em um lugar estratgico dentro da estrutura do governo, da a defesa prioritria de uma secretaria de governo; e em terceiro lugar, que sua capacidade tambm dependeria, o que evidente, dos instrumentos e do oramento disponveis para sua ao.23

    Para a autora [...] uma poltica feminista deve se orientar, antes de tudo, para

    o desenvolvimento de polticas de carter permanente que alterem as condies de

    desigualdade e ampliem as bases de autonomia das mulheres.24

    A Poltica Nacional de Enfrentamento Violncia contra as Mulheres, instituda

    em 2005 pelo Governo Lula, elaborada a partir das deliberaes da I Conferencia

    Nacional de Polticas para as Mulheres25, considera a mulher protagonista do processo

    de ruptura com a violncia, o Estado tem a obrigao de fortalecer as mulheres para

    que elas possam romper com o ciclo de violncia.

    Ciclo esse que ocorre em trs fases: a primeira fase onde inicia-se as tenses

    no relacionamento, pode haver nesse perodo agresses verbais, crises de cimes,

    ameaas, destruio de objetos etc. Na segunda fase as agresses agravam. H

    descontrole e destruio, uma fase marcada pela violncia fsica por exemplo. Aps,

    no que podemos chamar de terceira fase ou Lua de Mel, o agressor demonstra

    remorso, teme perder a companheira, busca o perdo.26

    22GODINHO, Tatau. Poltica Feminista como Ao de Governo. in. Polticas para as Mulheres em Fortaleza: Desafios para a Igualdade. Org. VIANA, Raquel. ALVES, Maria Elaene Rodrigues. Fortaleza: 2008. p. 111 23GODINHO, Tatau. Poltica Feminista como Ao de Governo. in. Polticas para as Mulheres em Fortaleza: Desafios para a Igualdade. Org. VIANA, Raquel. ALVES, Maria Elaene Rodrigues. Fortaleza: 2008. pp.112/113 24GODINHO, Tatau. Poltica Feminista como Ao de Governo. in. Polticas para as Mulheres em Fortaleza: Desafios para a Igualdade. Org. VIANA, Raquel. ALVES, Maria Elaene Rodrigues. Fortaleza: 2008. p. 116. 25 BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Com todas as mulheres, por todos os seus direitos. Braslia: maro, 2010.p. 147 26 SOARES, Brbara M. BRASIL. Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Enfrentamento a Violncia contra a Mulher. Braslia: Secretaria de Polticas para as Mulheres, 2005. p.23/25.

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  • A Poltica Nacional estabelece os conceitos, os princpios, as diretrizes e as

    aes de preveno e combate violncia contra as mulheres, assim como de

    assistncia e garantia de direitos s mulheres em situao de violncia27.

    Convm destacar que o conceito de enfrentamento na Poltica Nacional de

    Enfrentamento Violncia Contra as Mulheres, diz respeito implantao de polticas

    amplas e articuladas que respondam a complexidade da violncia. Para tanto,

    necessrio articular as reas de sade, educao, segurana pblica e justia,

    assistncia social, compreendendo seu carter transversal.

    Em 2007, o Presidente Lula lanou o Pacto Nacional pelo Enfrentamento

    Violncia Contra a Mulher [...] acordo federativo entre o governo federal, os governos

    dos estados e dos municpios brasileiros para o planejamento de aes que visem

    consolidao da Poltica Nacional de Enfrentamento Violncia contra as Mulheres

    por meio da implementao de polticas pblicas integradas em todo territrio

    nacional.28

    Os 27 estados aderiram ao Pacto. A adeso em Pernambuco ocorreu em, 02

    de agosto de 2008, a Cmara Tcnica composta por Organismos de Polticas paras

    as Mulheres, Secretaria de Defesa Social, Secretaria de Desenvolvimento Social,

    Secretaria de Sade, Defensoria Pblica, Ministrio Pblico, Polcia Civil, Governos

    Municipais.29

    Em 2007, a Secretaria da Mulher de Pernambuco (SecMulher), assumiu para si

    a responsabilidade de oferecer o servio de abrigamento. Assim a Rede de Casas-

    Abrigo em Pernambuco foi estadualizada. No mesmo ano, levantamento realizado

    pela SecMulher apontou a necessidade de implantao de seis Casas-Abrigo.30

    Em 2008, recursos do Tesouro Estadual permitiram a aquisio de um imvel

    no Serto Central e a reforma de um imvel na regio Metropolitana do Recife. Em

    parceria com o governo local no Serto, mais outra Casa-Abrigo foi instalada. Ainda

    em 2008, com recursos provenientes de uma Emenda Parlamentar do Deputado

    Federal Paulo Rubem Santiago ao Oramento da Unio a SecMulher captou recursos

    para mobiliar as seis Casas-abrigo.31

    27BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12. 28 BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Pacto de Enfrentamento a Violncia. Disponvel em http://spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2011/pacto-nacional Acessado em 13/04/2014 29BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Pacto de Enfrentamento a Violncia. Disponvel em http://www.spm.gov.br/subsecretaria-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres/pacto/estados/pernambuco Acessado em 13/04/2014 30 PERNAMBUCO, Secretaria da Mulher. 8 de maro Anurio da Secretaria Estadual. Ano 05. 2011. p.135 31 PERNAMBUCO, Secretaria da Mulher. 8 de maro Anurio da Secretaria Estadual. Ano 05. 2011. p.135

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    http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2011/pacto-nacionalhttp://www.spm.gov.br/subsecretaria-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres/pacto/estados/pernambucohttp://www.spm.gov.br/subsecretaria-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres/pacto/estados/pernambuco

  • Em 2009, mais dois imveis foram locados pela SecMulher para funcionar a

    Casa Abrigo da regio Agreste e mais uma na regio Metropolitana do Recife.32 Em

    2010, a SecMulher iniciou as negociaes com um governo local da regio

    metropolitana para obter um terreno para construo de uma Casa-Abrigo modelo.33

    De 2009 a fevereiro de 2012, Pernambuco contabilizou o abrigamento de 417

    mulheres e 630 crianas34.

    No Brasil, em 2003 havia 42 casas-abrigo, at 2009 eram 68.35 Na Inglaterra

    e em Gales na dcada de 70 j existiam 150 abrigos para mulheres em situao de

    violncia,36 demonstrando que a rede de proteo naquele pas mais antiga e que a

    violncia contra mulher um fenmeno global.

    O Plano Nacional de Polticas para as Mulheres 2013/2015, estabelece como

    linha de ao a ampliao e fortalecimento da rede de servios especializados de

    atendimento as mulheres vtimas de violncias.37 Considera-se servios

    especializados de atendimento as mulheres vtimas, as Casas-Abrigo38, Centros de

    Referncia39, Centros de Reabilitao e Educao do Agressor, Juizados de Violncia

    Domstica e Familiar contra a Mulher, Defensorias da Mulher40.

    A Casa Abrigo mais um instrumento que tambm resulta da luta histrica do

    Movimento de Mulheres pelo fim da violncia contra mulher. Com assinatura em

    1984 pelo Brasil da Conveno sobre eliminao de todas as formas de discriminao

    contra mulher aprovada pela ONU em 197941 o Estado Brasileiro se comprometeu

    internacionalmente a criar instrumentos para atender a mulher vtima e coibir

    violncia.

    Apesar da primeira Casa Abrigo ter sido criada em 1986, um ano aps a

    criao da primeira Delegacia da Mulher, o instrumento aqui analisado no estava no

    32PERNAMBUCO, Secretaria da Mulher. 8 de maro Anurio da Secretaria Estadual. Ano 05. 2011. p.135 33 PERNAMBUCO, Secretaria da Mulher. 8 de maro Anurio da Secretaria Estadual. Ano 05. 2011.p.135 34

    PERNAMBUCO, Secretaria da Mulher. CEDIM-PE faz reunio ampliada e debate CPMI da violncia. Disponvel em http://www.portaisgoverno.pe.gov.br/web/secretaria-da mulher/exibir_noticia?groupId=30863&articleId=1428597&templateId=31823. Acesso em 09/10/12. 35 BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Plano 2013/2015. p. 147 36 ALBUQUERQUE, Zlia. As Aes Educativas na Casa-Abrigo para as Mulheres em situao de Violncia em So Lus/MA. Universidade Federal do Maranho. Programa de Mestrado em Educao. So Lus, 2011. p.71 37 BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Plano 2013/2015 p.44 38BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12. p. 13. 39BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12. p.10. 40BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12. p.3. 41 BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12. p.3.

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    http://www.portaisgoverno.pe.gov.br/web/secretaria-da%20mulher/exibir_noticia?groupId=30863&articleId=1428597&templateId=31823http://www.portaisgoverno.pe.gov.br/web/secretaria-da%20mulher/exibir_noticia?groupId=30863&articleId=1428597&templateId=31823http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12

  • foco das discusses acadmicas e polticas.42

    Na dcada de 90 ocorreu um processo de crescimento do nmero de Casas

    Abrigo, nota-se, que a existncia desse instrumento marcada fortemente por

    fechamentos desses espaos e reaberturas.43 O que aponta para uma inconsistncia

    da poltica pblica e uma falta de compreenso que o instrumento necessrio para o

    Estado e no pode continuar a ser apenas parte das polticas de governos, estando a

    merc do grau de simpatia dos/as gestores/as.

    Lenira Silveira destaca a importncia do instrumento ao analisar a poltica de

    enfrentamento violncia contra mulher, como equipamento indispensvel frente a

    ineficincia do Estado em instituir mecanismos de proteo [...] os abrigos ainda se

    constituem como um mal necessrio, diante das inconsistncias das polticas

    pblicas para mulheres. Muitas vezes servem apenas para encobrir a ineficincia do

    Estado em oferecer outras respostas s mulheres, numa perspectiva de proteo

    sua vida e aos seus direitos.44

    A Lei 11.340/2006, Lei Maria da Penha, institui diversos mecanismos na

    perspectiva de garantir o direito vida e a vida livre da violncia, dentre as medidas,

    esto s inovadoras medidas protetivas, a mesma Lei no artigo 35, inciso II, institui a

    casa abrigo como mecanismo para garantir a preservao da vida das vtimas de

    violncia domstica:

    Art. 35. A Unio, o Distrito Federal, os Estados e os Municpios podero criar e promover, no limite das respectivas competncias: I - centros de atendimento integral e multidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situao de violncia domstica e familiar; II - casas-abrigos para mulheres e respectivos dependentes menores em situao de violncia domstica e familiar; III - delegacias, ncleos de defensoria pblica, servios de sade e centros de percia mdico-legal especializados no atendimento mulher em situao de violncia domstica e familiar; IV - programas e campanhas de enfrentamento da violncia domstica e familiar; V - centros de educao e de reabilitao para os agressores.

    A morosidade do Poder Judicirio para analisar as medidas protetivas que

    poderiam garantir a vida das vtimas um problema, assim, o Poder Executivo para

    suprir a ineficincia do Judicirio, insere as mulheres na poltica de abrigamento.

    O sistema de abrigamento em Pernambuco foi institudo em 2009 pela Lei n

    13.977/2009. A Lei estabelece os requisitos para ingressar no sistema incluindo neste

    42 SILVEIRA, Lenira Politano da. Servios de Atendimento a mulheres vtimas de violncia. Disponvel em http://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdf 43SILVEIRA, Lenira Politano da. Servios de Atendimento a mulheres vtimas de violncia. Disponvel em http://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdf 44 SILVEIRA, Lenira Politano da. Servios de Atendimento a mulheres vtimas de violncia. Disponvel em http://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdf

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    http://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdfhttp://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdfhttp://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdf

  • a Casa Abrigo, merecendo destaque dois elementos: um de ordem subjetiva e outro

    de ordem objetiva, a necessidade da mulher se encontrar em risco iminente de morte

    e de ser encaminhada pela Secretaria Executiva da Secretaria Estadual da Mulher de

    Pernambuco.45 Consideramos que o risco iminente de morte um elemento de ordem

    subjetiva, eis que no h nada, nenhuma lei, nenhum conceito normativo que

    descreva o que vem a ser o risco iminente de morte, essa verificao se d atravs

    da compreenso dos/as profissionais da rede de abrigamento.

    Nos termos da Lei, Casa Abrigo um servio de carter temporrio, com o

    objetivo de oferecer moradia protegida, funciona em local sigiloso e atendimento

    integral a mulheres em risco iminente de morte em razo da violncia domstica.46

    Casas Abrigo para mulheres em situao de violncia j existiam, antes da Lei

    Maria da Penha e da Lei n 13.977/2009. Novas casas so criadas a partir da

    promulgao dos postulados citados. O grande desafio desenvolver estudos que

    corroborem para que esse instrumento cumpra com o que se prope, garantindo

    direitos e no signifique a perpetuao da inrcia ou da morosidade dos demais

    instrumentos da Poltica de Enfrentamento a Violncia.

    Paula Prates em sua dissertao elaborou perfil sociodemogrfico e

    psicossocial de mulheres abrigadas, a pesquisa investigou 72 mulheres no perodo de

    2001/2005, ou seja, anterior a Lei Maria da Penha. A pesquisa apontou que as

    mulheres que abandonaram o abrigo, assim fizeram por no se adaptaram ou por

    compreenderam que o abrigo no atendiam as suas demandas, dentre as mulheres

    transferidas para outro abrigo, verificou-se que isso ocorreu devido o agressor ter

    localizado a Casa Abrigo, ou, a mulher ter rompido com alguma regra da Casa

    Abrigo.47

    Ao apontar a sada da Casa Abrigo devido o autor haver identificado o local,

    convida estudiosas/os, profissionais e gestores/as a refletir sobre a necessidade de

    buscar mecanismos que para alm da sigilosidade assegure a segurana e a vida da

    vtima, o que exige que o funcionamento da Casa Abrigo seja uma prioridade e uma

    responsabilidade dos Organismos de Poltica para as Mulheres e dos servios de

    segurana pblica, pois, sem condies para garantir a segurana da vida das

    vtimas, dos profissionais e do local, acaba reafirmando-se a superioridade do

    agressor.

    Zlia Souza de Albuquerque, em dissertao desenvolvida na Universidade do

    45Lei do Estado de Pernambuco n 13.977/2009. 46 BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12 47 PRATES, Paula. Violncia domstica e de gnero: perfil sociodemogrfico e psicossocial de mulheres abrigadas. Disponvel em www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6136/tde.../PaulaPrates.pdf . Acesso em 13/12/2013. p.108.

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    http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf.%20Acessado%20em%2009/10/12

  • Federal do Maranho, destaca que:

    As casas-abrigo, so destinadas ao acolhimento de mulheres e filhos(as) em situao de violncia domstica e sob risco de vida. Com funo de proteger e amparar, as casas-abrigo deve proporcionar condies de anlise integral da problemtica, para que a mulher possa se libertar do ciclo da violncia e conseguir uma mudana qualitativa de vida.48

    Verifica-se do conceito apresentado pela pesquisadora, que para alm da

    garantia da vida, a Casa Abrigo tem a finalidade de provocar processos de rupturas

    com situao da violncia e mudana da qualidade de vida das mulheres. O que

    exige que a poltica de abrigamento se relacione com outras, como educao, sade,

    emprego e renda.

    Zlia Souza de Albuquerque destaca que dentre as aes programticas a

    serem desenvolvidas pelas casas esto as atividades educativas, de sade e de

    lazer.49 A pesquisa desenvolvida aponta que a Casa Abrigo de So Luiz do Maranho

    tem cumprido seu objetivo, aponta tambm que parte das mulheres abrigadas opta

    por no cumprir o prazo mximo de 90 dias, devido a sentimentos de

    aprisionamento.50

    As mulheres abrigadas no podem receber visitas, no podem possuir

    telefone e na maioria das vezes so retiradas da cidade onde vivem prejudicando

    seus laos afetivos e vnculos sociais. Compreende-se que tais medidas so

    necessrias para garantir o direito vida, no entanto, no podemos deixar de

    questionar a situao. Embora o ingresso na Casa Abrigo no seja uma imposio do

    Estado, ou seja, a mulher pode recusar o abrigamento, presente o risco iminente de

    morte e sem que o poder pblico lhe apresente outro mecanismo para que sua vida

    seja assegurada, fica a cidad sem opo, restando-lhe ingressar no abrigamento,

    enquanto o agressor permanece livre.

    Ana Lcia de Leo Dagord, que desenvolveu pesquisa na Casa Abrigo Viva

    Maria, em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, aponta que mais de 80% das mulheres

    abrigadas tem de 20 a 39 anos e 69% tem apenas o primeiro grau incompleto51 o que

    reflete a baixa escolarizao, elemento que dificulta a qualificao profissional e a

    falta de autonomia econmica, dificuldades que no so determinantes para a

    48 ALBUQUERQUE, Zlia. As Aes Educativas na Casa-Abrigo para as Mulheres em situao de Violncia em So Lus/MA. Universidade Federal do Maranho. Programa de Mestrado em Educao. So Lus, 2011. p. 71 49 ALBUQUERQUE, Zlia. As Aes Educativas na Casa-Abrigo para as Mulheres em situao de Violncia em So Lus/MA. Universidade Federal do Maranho. Programa de Mestrado em Educao. So Lus, 2011. p.76 50 ALBUQUERQUE, Zlia. As Aes Educativas na Casa-Abrigo para as Mulheres em situao de Violncia em So Lus/MA. Universidade Federal do Maranho. Programa de Mestrado em Educao. So Lus, 2011. P.82 51 DAGORD, Ana Lcia de Leo. Viva Maria dez anos. Porto Algre, 2005, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponvel em http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3851/000393928.pdf?sequence=1. Acesso em 21/10/12. p. 49

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    http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/3851/000393928.pdf?sequence=1

  • violncia, mas, que parece ser um indicador que dificulta a sada do ciclo de violncia

    e que aumenta a vulnerabilidade da situao de risco iminente de morte, sendo a

    Casa Abrigo a nica alternativa para sair da linha de fogo. Convm destacar que de

    acordo com a pesquisa da Data Popular e Instituto Patrcia Galvo apenas 32% da

    populao conhecem a Casa Abrigo52.

    O encaminhamento para a Casa Abrigo deve ser a ltima medida, pelas

    razes discorridas acima. A Poltica Nacional de Abrigamento preconiza o conceito de

    abrigamento:

    [...] diz respeito gama de possibilidades (servios, programas, benefcios) de acolhimento provisrio destinado a mulheres em situao de violncia (violncia domstica e familiar contra a mulher, trfico de mulheres, etc) que se encontrem sob ameaa e que necessitem de proteo em ambiente acolhedor e seguro. O abrigamento, portanto, no se refere somente aos servios propriamente ditos albergues, casas-abrigo, casas-de-passagem, casas de acolhimento provisrio de curta durao, etc), mas tambm inclui outras medidas de acolhimento que podem constituir-se em programas e benefcios (benefcio eventual para os casos de vulnerabilidade temporria) que assegurem o bem-estar fsico, psicolgico e social das mulheres em situao de violncia, assim como sua segurana pessoal e familiar.53

    Profissionais dos mais diversos servios que compem a rede de

    enfrentamento a violncia contra mulher devem esgotar as possibilidades de

    assegurar s mulheres em risco iminente de morte a sada do ciclo de violncia, a

    segurana e proteo vida, primando para que a mulher no necessite sair do

    convvio familiar e comunitrio, sendo a Casa Abrigo medida derradeira pelas

    implicaes apontadas por alguns dos estudos aqui destacados, ademais,

    precisamos repensar o modelo de Casa Abrigo, para que a passagem por esse

    instrumento possa significar o recomeo e fortalecimento da cidadania das mulheres

    e no o sentimento de injustia e aprisionamento.

    4. Consideraes finais:

    Optamos por chamar de consideraes e no de concluses por essa ser a

    primeira etapa de um estudo mais aprofundado. A partir das reflexes realizadas com

    base nos estudos aqui apresentados destacamos que a Casa Abrigo ainda no um

    instrumento pblico consolidado tal como ocorre com as Delegacias Especializadas.

    52BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. Disponvel em http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/ p.39 Acessado em 13/04/2014 53 BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Diretrizes Nacionais para o Abrigamento. Disponvel em http://www.spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2011/abrigamento p. 15. Acessado em 13/04/2014

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    http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2011/abrigamento%20p.%2015

  • Verifica-se ainda que o nmero de Casas-Abrigo aumentou com a criao

    dos Organismos Nacional e Estadual de Polticas para as Mulheres, o que ocorreu a

    partir de 2003, ampliou-se a partir da o nmero de atendimentos, verificando-se a

    partir dos dados de Pernambuco que o nmero de crianas que permanecem na

    Casa-Abrigo no perodo de abrigamento das mes quase o dobro em relao ao

    nmero.

    O abrigamento marcado pelo sentimento de aprisionamento, eis que, a

    mulher afasta-se do convvio da famlia, amigos, trabalho e comunidade, da a maior

    necessidade do ingresso na Casa-Abrigo ser medida ltima.

    A Casa-Abrigo necessria, porm, sua maior utilizao decorre da

    inoperncia dos demais instrumentos da rede de abrigamento, tal como a morosidade

    do Poder Judicirio em analisar as medida protetivas.

    A Poltica de Abrigamento precisa aprofundar a articulao com a poltica de

    segurana pblica, para que a necessidade de sigilosidade no acabe por reafirmar a

    superioridade do poder letal do agressor.

    A poltica de abrigamento precisa articular-se com a poltica de sade,

    educao, qualificao profissional a fim de garantir que o abrigamento signifique o

    recomeo e o fortalecimento das mulheres.

    O redirecionamento da poltica de abrigamento apresenta-se como

    necessrio, assim, o aprofundamento de mecanismos que busque ouvir as mulheres

    abrigadas e desabrigadas e pesquisas que estudem a poltica, podem corroborar para

    um modelo capaz de garantir os Direitos Humanos das mulheres em situao de risco

    iminente de morte.

    Referncias Bibliogrficas:

    ALBUQUERQUE, Zlia. As Aes Educativas na Casa-Abrigo para as Mulheres em situao de Violncia em So Lus/MA. Universidade Federal do Maranho. Programa de Mestrado em Educao. So Lus, 2011. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Lisboa: Quetzal, 2009. BOBBIO, Norberto. A Era do Direito. Nova Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 9 reimpresso. BRASIL, Percepo da Sociedade Sobre Violncia e Assassinatos de Mulheres. http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/ BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Com todas as mulheres, por todos os seus direitos. Braslia: maro, 2010.

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    http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/http://www.compromissoeatitude.org.br/para-70-da-populacao-a-mulher-sofre-mais-violencia-dentro-de-casa-do-que-em-espacos-publicos-no-brasil/

  • BRASIL, Presidncia da Repblica. Secretaria Especial de Polticas para as Mulheres. Termo de Referncia: Enfrentamento Violncia contra as Mulheres. Disponvel em http://www.sepm.gov.br/convenios/tr-enfrentamento-da-violencia.pdf. Acessado em 09/10/12. BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Pacto de Enfrentamento a Violncia. Disponvel em http://spm.gov.br/publicacoes-teste/publicacoes/2011/pacto-nacional Acessado em 13/04/2014 BRASIL, Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia da Repblica. Plano 2013/2015.

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    http://www.mpdft.mp.br/pdf/unidades/nucleos/pro_mulher/lenira.pdf

  • 1. Introduo

    Imbudos pela certeza de que o homem, por sua existncia em si, tem o direito ao

    respeito por sua humanidade, fomentamos atravs do tempo histrico os Direitos Humanos. Em que pese a fundamentao poltica, filosfica e a relevncia do conceito de

    Direitos Humanos para a sociologia e demais cincias polticas, abordaremos de forma

    singela, aspectos jurdicos destes direitos, especificamente ao direito educao e a sua

    relevncia para a obteno de outros direitos fundamentais. Propiciar o direito educao est muito alm de dispor em textos legais,

    expresses como: a educao, direito de todos e dever do Estado, Carta Magna (1988),

    como tambm, a educao, dever da famlia e do Estado, Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional (Lei n 9.394/96).

    Todavia, quando nos deparamos com os textos legais vigentes, necessrio

    termos a clareza de que estamos diante de mudanas recentes e bruscas, vez que as

    referidas disposies legais foram resultados de reivindicaes morais, polticas e sociais

    cumuladas por sculos, pois como afirma Adelaide Alves Dias (2007), nas terras brasileiras

    do perodo colonial ao republicano contemporneo, a educao tem como um dos seus

    principais desafios a excluso.

    Para a compreenso desta excluso observemos o conceito de cidadania e sua

    relao histrica com a educao. Como nos demonstra Jos Murilo de Carvalho (2010), o

    advento da educao popular contribuiu com a cidadania ao permitir s pessoas terem o

    conhecimento dos seus direitos e se organizarem para lutar por eles. Em seu trabalho, o

    autor tambm nos remete aos ordenamentos legais que proibiam os analfabetos de

    escolherem os representantes polticos, por meio do voto, deixando assim, margem,

    quase a totalidade dos homens brasileiros, situao na qual as mulheres j se encontravam.

    Somente, na dcada de 30, nestes mais de 500 anos de histria do Brasil, que as

    mudanas no cenrio mundial trouxeram consigo um espao para o voto feminino e a

    possibilidade de exerccio de outros direitos; bem como aos analfabetos, a oportunidade

    facultativa de escolherem seus representantes, advinda somente em 1985, por meio da

    Emenda Constitucional n 25. Estas transformaes, principalmente nas trs ltimas dcadas, trouxeram tona o

    fenmeno da globalizao. Termo definido por Boaventura Sousa Santos (2005),

    empregado genericamente como crise global da civilizao, incidindo sobre as diferentes

    reas do social, abrangendo desde os sistemas produtivos, financeiros, tecnolgicos,

    informativos e de comunicao; da eroso do Estado Nao e fortalecimento da sociedade

    civil, ao crescimento significativo das desigualdades sociais e das diferentes movimentaes

    fronteirias de pessoas fsicas ou jurdicas.

    Polticas Pblicas de Recuperao de Aprendizagem e a interface daEducao como Direito Humano um pressgio de liberdade

    Ivani de Lourdes Marchesi de Oliveira Milady Aparecida Andrade

    (UNESP)

    Anais do VIII Encontro da ANDHEP ISSN: 2317-0255

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  • Aida Maria Monteiro Silva (2001) nos alerta que embora a essncia dos Direitos

    Humanos incluam os direitos dos cidados, estes extrapolam as condies legais e as

    fronteiras territoriais, s quais definem a cidadania e a nacionalidade, por decorrem do

    reconhecimento da dignidade ntima a todo ser humano.

    Esta igualdade anunciada na intimidade de todos, faz com que humanidade recorra

    histrica e culturalmente democracia que, por si, presume ser a portadora da igualdade

    diante da lei, da igualdade no uso da palavra e da igualdade de condies socioeconmicas

    bsicas e do poder de opo.

    Em sntese e respectivamente, para Aida Silva (2001), estas igualdades tem como

    fim a aplicao concreta da Lei, seja para proteger ou para punir igualmente a todos,

    objetivando efetivar a participao pblica e poltica, por meio da palavra, visa tambm

    garantir a dignidade humana, meta a ser atingida com a correta implementao de Polticas

    Pblicas e programas de ao do Estado. Ao escopo deste estudo nos ateremos s

    Polticas Pblicas que permeiam o direito, a segurana pblica e a educao.

    Entretanto, o que temos atualmente no cenrio da educao um paradoxo no

    qual as previses de leis e as polticas pblicas carregam discursos de incluso

    educacional, mas as prticas e as vivncias nas escolas e em suas salas de aulas so

    excludentes ao ponto de viabilizar as realidades das contravenes e infraes legais na

    vida de crianas e adolescentes.

    Observando dados da vida escolar de alunos da Rede Pblica Estadual de Ensino

    do Estado de So Paulo, disponibilizados pela Diretoria de Ensino Regio de Franca,

    possvel verificar que os alunos internos da Fundao CASA - Arcebispo Dom Helder

    Cmara, ano 2013, no encontraram, desde a Educao Infantil, as garantias de fato do

    Estado, face ao direito educao, sade, ao lazer obtendo apenas a efetivao da

    matrcula em uma instituio de ensino.

    Assim, observaremos que o direito educao, no ofertado em sua plenitude, ao

    invs de propiciar a liberdade e a autonomia destes adolescentes, corrobora sim, para o

    cerceamento de suas liberdades.

    2. Polticas Pblicas Educacionais

    O homem, desde a sua concepo no ventre materno, e principalmente aps seu

    nascimento, conta com os Direitos Humanos, que segundo Flvio Pinheiro (2008), so

    prerrogativas a todo indivduo frente aos rgos do Poder, para preservar sua dignidade

    como ser humano. Previnem e probem possvel interferncia indevida do Estado em reas

    especficas da vida individual. Asseguram a prestao de determinados servios por parte

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    2639

  • deste mesmo Estado a fim de satisfazer as necessidades bsicas, que reflitam as

    exigncias fundamentais, de cada ser humano.

    Importante ressaltarmos que, estas e outras concepes, adotadas hoje como de

    Diretitos Humanos, so frutos do perodo ps II Guerra Mundial, decorrente da

    conscientizao do homem das atrocidades de que foi, e capaz de promover por meio do

    seu amplo poder de destruio.

    Em contrapartida a este poder destrutivo, em 10 de dezembro de 1948, a

    Assembleia Geral das Naes Unidas, em Paris, proclamou a Declarao Universal dos

    Direitos Humanos, atravs da Resoluo 217 A (III), que dentre as afirmaes relevantes,

    disps em seu artigo XXVI a importncia do direito a instruo, que:

    1- Todo ser humano tem direito instruo. A instruo ser, gratuita, pelo

    menos nos graus elementares e fundamentais. A instruo elementar ser

    obrigatria. A instruo tcnico-profissional ser acessvel a todos, bem

    como a instruo superior, esta baseada no mrito.

    Assim, Dias (2007) atenta para o fato de que tais referncias, no importante

    documento legal acima mencionado, nos possibilitam pensar a temtica do direito

    educao intimamente relacionada prpria evoluo dos Direitos Humanos.

    E, aps 45 anos da Declarao Universal dos Direitos Humanos, a educao

    despontou com maior relevncia no cenrio do direito, com o debate sobre o tema

    Educao em Direitos Humanos tratado na Conferncia Mundial sobre Direitos Humanos,

    em Viena, no ano de 1993 que disps:

    79. Os Estados devero erradicar o analfabetismo e devero direcionar o

    ensino para o desenvolvimento pleno da personalidade humana e para o

    reforo do respeito pelos Direitos Humanos e liberdades fundamentais. A

    Conferncia Mundial sobre Direitos Humanos apela a todos os Estados e

    instituies que incluam os Direitos Humanos, o Direito Humanitrio, a

    democracia e o primado do direito como disciplinas curriculares em todos os

    estabelecimentos de ensino, formais e no formais.

    80. A educao em matria de Direitos Humanos dever incluir a paz, a

    democracia, o desenvolvimento e a justia social, conforme definidos nos

    instrumentos internacionais e regionais de Direitos Humanos, a fim de

    alcanar uma compreenso e uma consciencializao comuns, que

    permitam reforar o compromisso universal em favor dos Direitos Humanos.

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  • O trecho destacado do documento demonstra um despertar para o germe de

    transformao que o ensino possui quando este alcana a primazia de consciencializao

    comum em prol dos Direitos Humanos.

    Ademais, num contexto histrico conturbado o homem que atingiu o grau altssimo

    de destruio, tornou-se tambm, protagonista de mudanas defensoras de sua existncia

    com dignidade.

    Para Dias (2007), no sculo XX a temtica da educao como direito social e

    humano ganha visibilidade e passa a estar presentes em protocolos de intenes,

    declaraes, acordos internacionais; em contrapartida o novo ordenamento econmico e

    social do capital internacional, os ajustes neoliberais face a globalizao agravaram os

    problemas sociais dentre eles a pobreza, as doenas, o desemprego, o narcotrfico e o

    analfabetismo.

    Segundo a autora, neste mesmo contexto foram organizados movimentos

    internacionais e nacionais visando o reconhecimento dos direitos civis, polticos,

    econmicos, sociais e ambientais, ou seja, movimentos sociais e aes de governos

    visando o reconhecimento dos direitos humanos, entre eles, o direito educao.

    A educao tornou-se um campo de fomentao de Polticas Pblicas, seja por

    meio de leis internacionais, por constituies dos pases e outros arcabouos legais.

    Polticas Pblicas, no sentido apreendido por Marta Arretche (2005), constitui-se no

    direcionamento decidido pelo grupo que detm o poder de faz-lo, sendo o poder, a

    competncia de deciso do governo.

    Conforme apontado por Oliveira (2012), o entendimento de Estado como instituio

    de estvel permanncia que d sustentao sociedade, planeja e organiza programas,

    aes, polticas e os implementam, tendo como direcionamento o saneamento de

    necessidades apontadas pelos grupos sociais; como tambm pode ser para a preveno de

    problemas, compensao de dificuldades ou recuperao/reabilitao dos grupos e/ou

    pessoas.

    Desta forma, as leis vm para auxiliar na organizao das polticas, das verdades,

    dos paradigmas a serem adotados pela sociedade, atribuindo aos cidados, competncias a

    serem exercidas no seu meio social.

    Oliveira (2012) participa da mesma concepo de que a compreenso de cidados

    como sendo os que nascem na sociedade de um mesmo pas, organizado nas dimenses

    temporais, sociais, polticas e culturais com padres iguais so critrios que por si s

    incluem e excluem, podendo ser esta uma das causas das crueldades face aos que no

    esto dentro dos pressupostos de referncia, padres, escalas organizadas, verdades.

    Busca o homem assim, justificar seus atos cruis para com a natureza, os deficientes, os

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    2641

  • loucos, os estrangeiros, os que so diferentes no ritmo de aprendizagem e para os que

    infringem as leis.

    Michel Foucault (1984) demonstra que a ordem, a disciplina, a hierarquia, o vigiar,

    no sculo XVIII, tornam-se presentes na sociedade em diversos lcus nos hospitais, nos

    exrcitos, nos presdios e no ambiente escolar, que como consequncia, adotou

    mecanismos de padronizao, elitizao, recompensas, tornando possvel o controle dos

    corpos que se moldam, e quando no moldados, so punidos e/ou expelidos por no se

    tornarem dceis.

    Os mecanismos de controle e disciplina adotados pela sociedade, tem como cerne

    a expulso e/ou punio daqueles que no contribuem para a eficincia do aparelho de

    manuteno do poder nas mos de quem o exerce, seja nas macroesferas, ou nas

    microesferas. Assim, o homem que no consegue exercer a cidadania, que no segue os

    esteretipos das verdades ou que infringem os preceitos legais no resta nada a ser feito a

    no ser puni-lo em corpo e alma, para que talvez aps o xito da aplicao das penas possa

    ocorrer seu retorno para o social.

    Observemos que as escolas dos sculos XVIII at os dias atuais privilegiam a

    existncia de salas repletas de alunos, dispostos em fileiras, recebendo por horas

    informaes por um ser que acredita possuir maiores verdades que devem ser

    transmitidos, propiciando a repetio de gestos, de falas e de pensamentos, moldando os

    alunos para atingirem o ideal estabelecido. Todavia, neste ambiente que mais se assemelha

    a uma fbrica onde ao fim da esteira ter um produto final a ser apresentado, no se adqua

    a essncia do homem e a sua individualidade (OLIVEIRA, 2012).

    Por meio de estudos voltados a desvendar a aquisio e assimilao do

    conhecimento pelas pessoas, diferentes percepes se despontaram no meio educacional,

    defendendo a necessidade de se respeitar a influncia direta de diferentes fatores na

    construo do saber.

    Cada ser humano se relaciona e interage com diferentes meios e seres, como

    tambm interage com diferentes informaes e tecnologias, adquirindo seus prprios

    conhecimentos e realiza suas escolhas (CAVICCHIA, 2010). Ou seja, o conhecimento no

    algo a ser adquirido atravs de um nico mtodo, de uma mesma proporo e ritmo ou de

    simples repeties mecnicas, no sendo apenas um fator determinado por atributos

    biolgicos ou psquicos.

    Ao voltarmos nossa ateno para as crianas e adolescentes que tiveram a

    oportunidade de percorrer o caminho escolar, vislumbramos que esta construo da

    aprendizagem pode ser interrompida por diversos fatores intrnsecos e extrnsecos que

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  • coadunam em escolhas, que por vez encaminham estas crianas e jovens aos atos

    denominados infracionais (Lei n 8.069/90).

    O Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) dispe que o ato infracional a

    conduta descrita como crime ou contraveno penal, assim, definida pelo Cdigo Penal,

    praticada por pessoas menores de 18 (dezoito) anos de idade.

    A estes menores a prpria lei estabelece medidas scioeducativas a serem

    aplicadas por autoridade competente, a fim de promover a ressocializao e a reparao do

    ato quando possvel.

    3. Polticas Pblicas reeducativas, mas e as educativas?

    A ressocializao faz-se necessria uma vez que a criana e/ou o adolescente foi

    autor ou coautor de ato contrrio lei que rege a sociedade atual. No nos aprofundaremos

    neste trabalho no entendimento do conceito criana ou de adolescente para as diversas

    cincias, mas ressaltamos que no meio jurdico ocorreram mudanas significativas sobre

    este entendimento, que culminaram na aprovao da Lei n 8.069/90.

    O cenrio que antecedeu as mudanas introduzidas pelo Estatuto da Criana e do

    Adolescente era o do Direito do Menor, ou tambm conhecido como Doutrina da Situao

    Irregular, enraizada no Decreto n 17.943-A de 12 de outubro de 1927, mais conhecido

    como Cdigo dos Menores.

    A essncia do decreto, de acordo com Andr Custdio (2008) produzia uma viso

    estigmatizada de infncia e juridicamente era aprisionada nos conceitos positivistas

    clssicos da menoridade. O conceito de menor, da forma que era empregado, legitimava

    as polticas de controle social, vigilncia e represso por parte das Polticas Pblicas.

    Desta forma, a Doutrina da Situao Irregular, juntamente com a ideologia da

    segurana nacional corroborava a centralizao da gesto pblica, contribuindo com uma

    atuao estatal autoritria, restritiva e no participativa em relao aos menores de 18 anos.

    Neste contexto, a criana e o adolescente tornavam-se objetos de interesse jurdico

    quando praticavam infraes, ou por sua condio de excluso social, ou seja, o menor em

    situao de risco (abandonado ou delinquente), o esteretipo decorrente do preconceito

    social, aquele que traz a tona o problema do menor que necessita ser controlado por meio

    de assistencialismo e/ou represso policial.

    Custdio (2008) nos rememora que somente na dcada de 1980 ocorreu uma

    conscientizao de que a Doutrina da Situao Irregular demonstrava-se insuficiente para

    abarcar a realidade brasileira, pois no correspondia com o esprito em prol da

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  • democratizao anunciada e bradada pelos movimentos sociais, selada com a promulgao

    da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, em 05 de outubro de 1988.

    A adoo no Brasil da Teoria da Proteo Integral, foi ao encontro dos princpios

    propostos pela Organizaes da Naes Unidas (ONU) e antecedeu a Conveno

    Internacional dos Direitos das Crianas, de 20 de novembro de 1989, oficialmente

    promulgada no pas pelo Decreto n 99.710, de 21 de novembro de 1990. (CUSTDIO,

    2008).

    Tal mudana de doutrinas promoveu um processo de convergncia dos rumos do

    ordenamento jurdico, poltico e institucional, ao ponto de clamar por novos planos,

    programas, projetos, aes, ou seja, novas Polticas Pblicas por parte do Estado o qual

    ainda se mostra aparentemente confuso, quando no arcabouo legal opta pela Proteo

    Integral, mas na prtica no se desvencilha dos paradigmas da Situao Irregular.

    A Doutrina da Proteo Integral reconhece a criana e o adolescente como sujeitos

    de todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana e, ainda, sujeitos de direitos

    especiais decorrentes da condio mpar de serem pessoas em desenvolvimento, que

    produzem, reproduzem e interagem reciprocamente.

    neste contexto que a referida Lei n 8.069/90 Estatuto da Criana e do

    Adolescente foi organizado, defendendo a universalizao dos direitos sociais, dependentes

    de prestaes positivas da famlia, da sociedade e do Estado, que tm o dever de assegurar

    a efetivao dos direitos fundamentais.

    Dentre estes direitos esto a vida digna, a liberdade, a proteo e a educao.

    Porm, as crianas e os adolescentes que praticaram condutas desaprovadas pela

    sociedade e em desencontro com a lei, antes de terem a sua liberdade restrita pelo Estado,

    em diversos episdios de suas vidas tiveram seus direitos tolhidos.

    Em trabalho de pesquisa realizado pelo Conselho Nacional de Justia (CNJ) (2012),

    foram entrevistados 1.898 adolescentes internos, dos 320 estabelecimentos de internao

    existentes no Brasil; quanto ao aspecto escolaridade, a ltima srie cursada por 86% deste

    grupo estava englobada no Ensino Fundamental, no concluindo sequer a formao bsica

    obrigatria. A idade mdia do total de adolescentes entrevistados de 16,7 anos e na maior

    percentagem destes adolescentes a ltima srie cursada foi a quinta e a sexta srie do

    Ensino Fundamental, correspondente atualmente ao sexto e stimo ano do Ensino

    Fundamental, realidade constatada tambm na regio Sudeste do pas.

    O trabalho do Conselho Nacional de Justia (2012) demonstra ainda que na regio

    Sudeste, os adolescentes interromperam seus estudos na mdia dos 14 anos de idade.

    Outro apontamento relevante do Conselho Nacional de Justia o fato de que os

    adolescentes internos, na regio Sudeste do Brasil, em sua maioria, praticaram ato

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  • infracional contra o patrimnio (roubo); o segundo ato infracional mais praticado o trfico

    de entorpecentes. Todavia, se faz necessrio ponderar as especificidades da realidade do

    municpio de Franca onde o trfico de entorpecentes se destaca como o motivador das

    internaes.

    Ao observarmos o Estatuto da Criana e do Adolescente, constatamos que as

    entidades que desenvolvem programas de internao tm como dever a promoo da

    escolarizao e a profissionalizao dos adolescentes privado de liberdade. Assim,

    deparamos com um dos maiores desafios da educao, reeducar aquele que quando em

    liberdade interrompeu ou teve interrompido seu processo de aprendizagem.

    Retomemos para o lcus deste trabalho, o municpio de Franca, interior do Estado

    de So Paulo, que de acordo com o censo 2010 contava com 318.640 habitantes, e que em

    setembro de 2007 recebeu duas Unidades do Centro de Atendimento Socioeducativo ao

    Adolescente Fundao CASA Arcebispo Dom Helder Cmara. Trata-se de uma Unidade

    Internao com capacidade para receber 82 adolescentes (10 em atendimento inicial, 16 em

    internao provisria e 40 em internao) e outra Unidade Repblica com capacidade de

    receber 20 adolescentes.

    As unidades de Franca adotam o denominado Modelo Pedaggico Contextualizado,

    estruturado no processo intereducativo do modelo pedaggico amigoniano1, escrito pelo ex-

    padre amigoniano Gerardo Bohrquez Mondragon.

    Em apertada sntese, de Marina Almeida (2010) e Gerardo Mondragon (2009) o

    Modelo Pedaggico Contextualizado composto por fases sendo elas: 1 fase Motivao:

    perodo de 45 dias em que o adolescente passar por consultas (mdicos e psiclogos), no

    qual ter o histrico de sua vida levantado junto com membros da famlia, formando um

    diagnstico polidimensional; 2 fase Reconhecimento: perodo de aproximadamente 12

    semanas que visar levar o jovem a compreender que ao mesmo tempo sujeito de direitos

    e de deveres, atravs da vivncia da internao; 3 fase Aprofundamento: o adolescente

    permanece interno e d continuidade na conscientizao dos seus atos, como tambm

    participa de Oficinas e recebe orientao vocacional; 4 fase Projetos de Vida: o

    adolescente realiza visitas externas famlia, participa de cursos e so estimulados a

    procurar trabalho e 5 fase Repblica: os adolescentes permanecem em uma casa

    inserida na comunidade, ou seja, fora da Unidade de Internao, e saem para trabalhar e

    retornam noite.

    De acordo com os seus implementadores, a adoo deste modelo tem como eixos

    a integrao do adolescente na sociedade, atravs do uso dos servios pblicos e de

    1 Congregao Amigoniana ou Congregacin de Religiosos Terciarios Capuchinos de Nuestra Seora de ls

    Dolores, fundada por Dom Luis Amig e Ferrer, em 1889, tendo como um dos propsitos trabalhar na

    reeducao de adolescentes privados de liberdade.

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  • parcerias, como tambm busca estimular a reflexo dos internos medida que vo

    percorrendo as fases que lhes so propostas e que pertence ao seu Plano Individual de

    Atendimento.

    O Plano Individual de Atendimento e o acesso ao ensino formal ministrado pela

    Secretaria Estadual de Educao so previstos como direitos dos adolescentes internos da

    Fundao, como disposto no artigo 15, incisos XV e XVI da Portaria Normativa n 224/2012

    Regimento Interno dos Centros de Atendimento de Internao e de Semiliberdade da

    Fundao CASA/SP.

    Conhecedores de alguns pontos das Unidades da Fundao CASA, em Franca,

    nos aproximemos do direito ao ensino, previsto para ser promovido dentro da instituio, e

    voltemos nossa ateno para a trajetria escolar dos adolescentes, antes de serem

    internos.

    Tendo como base os registros da Diretoria de Ensino Regio de Franca2, ano

    base 2013, salas de aulas da Unidade de Internao Casa de Franca foi possvel constatar

    que existiam cinco salas de aulas multisseriadas, a N 1, turma A, referente ao Ensino

    Fundamental, Ciclo I (1 ao 5 ano); a N 2, turmas A, B e C, referentes ao Ensino

    Fundamental, Ciclo II (6 ao 9 ano) e o N 3, turma A, referente ao Ensino Mdio ( 1 ao 3

    ano). Em sua maioria estes alunos percorreram suas trajetrias escolares estudando em

    escolas das Redes Municipais de Ensino e na Rede de Ensino do Estado de So Paulo.

    Os dados obtidos pela observao sobre o percurso escolar dos alunos/ internos da

    sala N1 j seriam suficientes para alimentar uma pesquisa parte, pois, dos quatro alunos

    matriculados, trs foram classificados como portadores de deficincia intelectual, em alguma

    fase dos estudos, e todos so jovens na faixa etria de 18 anos, mas que ainda no

    conseguiram completar a fase de alfabetizao.

    Dados alarmantes, pois, a redao do artigo 32 da Lei n 9.394/96, a Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional, alterada pela Lei n 11.274/06, o Ensino

    Fundamental obrigatrio possui a durao de 9 anos, iniciando-se ao 6 anos de idade,

    vislumbrado o trmino aos 17 anos, e, no caso em tela, os alunos possuem uma trajetria

    que j ultrapassou este tempo estimado para a concluso dos Ciclos I e II, sem terem

    atingido a alfabetizao e sem terem atingido uma formao profissional, s vsperas de

    serem liberados para o retorno social.

    Porm, ultrapassar os 9 anos previstos em lei para o trmino do Ensino

    Fundamental, no a realidade exclusiva dos adolescentes da sala N1, os alunos

    matriculados nas salas N2, que integram as turmas A, B e C, tambm apresentam uma

    2 Banco de dados do Sistema PRODESP Secretaria da Educao Cadastro de alunos Ficha do aluno por R.A.

    (Registro do aluno).

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  • defasagem idade-srie3 nos estudos. Suas trajetrias escolares esto marcadas por

    transferncias de salas de aulas, transferncias de escolas, retidos para cursarem

    novamente a srie, dado ao baixo rendimento escolar, retidos por baixa frequncia e por

    abandonos aos estudos.

    Tendo como ponto de partida a data de nascimento dos jovens matriculados nas

    salas N2, possvel constatar que em 2013 estavam cursando o Ciclo II (6 ao 9 ano do

    EF): 23 alunos de 18 anos de idade, 31 alunos de 17 anos e 24 alunos de 16 anos, que pelo

    fluxo escolar, previsto legalmente, deveriam estar cursando o Ensino Mdio e se preparando

    para ingressarem em um curso de nvel superior.

    Por fim, na sala N3, no ano de 2013, os alunos matriculados no Ensino Mdio eram:

    31 alunos de 18 anos, 14 alunos de 17 anos e 3 alunos de 16 anos, num total de 54 alunos

    que foram matriculados, todos sem concluir o Ensino Mdio.

    A defasagem idade-srie observada nestes alunos matriculados nas salas

    organizadas na Fundao CASA j apresentaram os desvios nas trajetrias escolares, em

    sua maioria nas sries iniciais do Ciclo I do Ensino Fundamental, correspondente poca a

    primeira, segunda, terceira e quarta srie, pois de acordo com a faixa etria destes meninos,

    como j disposto na mudana para o Ensino Fundamental de 9 anos a concluso prevista

    para o Ciclo II seria o ano de 2006.

    Em continuidade a esta observao, constatamos que as retenes por rendimento

    ou por frequncia tendem recorrncia e em alguns casos a se agravarem na figura do

    abandono da escola, quando da trajetria no Ciclo II do Ensino Fundamental. Tambm

    ainda possvel apreendermos que a defasagem atinge um grau severo a ponto destes

    alunos recorrerem modalidade de Educao de Jovens e Adultos, como uma alternativa

    para terminarem os estudos do Ensino Fundamental.

    Aqui faz necessrio recorrermos s disposies da Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional na qual prev em seu artigo 37 a educao de jovens e adultos ser

    destinada queles que no tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino

    fundamental e mdio na idade prpria.

    extremamente relevante apontarmos que, em alguns casos, estes adolescentes

    se dirigem Educao de Jovens e Adultos como um ltimo refgio para comprovarem que

    esto dando continuidade nos seus estudos, uma vez que sua trajetria escolar se agrava,

    pois se j no encontravam cabida nas escolas antes de serem recolhidos Fundao

    CASA, quando retornam da internao sociedade, a aceitao ainda menor.

    3 A taxa de distoro idade-srie o clculo de quantas crianas esto acima da idade ideal em uma

    determinada srie. O conceito de defasagem idade-srie usado a porcentagem de alunos defasados dois anos

    ou mais, observando a frmula/clculo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio

    Teixeira (INEP) 2006.

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  • Corroborando com o observado relatamos sucintamente o caso de Y que aos 16

    anos, aps a internao retornou aos seus estudos fora da Fundao CASA, na Escola

    Estadual X, prxima de sua residncia num bairro perifrico de Franca. Em certa ocasio o

    docente A solicitou a presena da Diretora da Escola B, na sala a fim de repreender o

    comportamento de Y. B repreendeu verbalmente Y na frente de todos e ordenou que o

    mesmo deixasse a sala de aula, obtendo a recusa. Assim, B afirmou que chamaria a Polcia

    Militar para Y e este imediatamente correu rumo a porta da sala de aula onde se encontrava

    a Diretora, derrubando-a, forando sua sada do local e pulando o muro da escola. Desde

    ento, B inconformada por ter sido derrubada por Y busca a transferncia deste para outra

    escola. Na tentativa de contato com a me de Y, para inform-la da transferncia, B obteve

    como resposta que toda e qualquer violncia sofrida por Y seria devolvida em dobro para B.

    Diante da dimenso do caso foi necessria a interferncia do Supervisor de Ensino e da

    Dirigente Regional de Ensino, a fim de viabilizar uma vaga em outra Escola Estadual para Y.

    Porm, como a infmia de Y chegou antes dos papis do pedido de transferncia regular,

    a Diretora B2 da nova escola e o vice-diretor se demonstram inconformados e buscam

    mecanismos para no aceitar a transferncia de Y, que enquanto isso permanece com sua

    trajetria escolar suspensa.

    Tal verdica e breve saga de um egresso da Fundao CASA, cnscio do valor de

    sua liberdade como um direito humano, mas inabilitado de viver para a mesma, demonstra o

    descompassos e os atropelos na luta pelos direitos primordiais do ser humano, a liberdade,

    diante da desassistncia do Estado deste e dos demais direitos.

    Sobre esta trajetria dos homens infames, Ligia Mori Madeira (2010) nos relata a

    investigao sobre apoio a egressos do sistema penitencirio no Brasil, a partir do estudo

    das produes legislativas, das polticas pblicas e da criao de programas de apoio

    surgidos no pas, ps dcada de 90.

    Em seus estudos a autora situa historicamente a tentativa do Brasil em humanizar o

    sistema penitencirio, visando incorporar os regramentos internacionais de proteo aos

    Direitos Humanos, especialmente as Regras Mnimas de Tratamento dos Reclusos (1977),

    editada pela Organizaes da Naes Unidas. Assim, de acordo com Madeira (2010), o pas

    passa a conceder legalmente garantias aos presos como: assistncia material, educacional,

    social, religiosa e sade, porm deste arcabouo de direitos o destaque ser para o

    trabalho e a educao, pois tais direitos, de responsabilidade do Estado objetivam prevenir o

    crime e orientar o retorno convivncia em sociedade.

    Promover o acesso ao trabalho um dos focos dos programas de apoio a egressos

    do sistema penitencirio, mas esta tarefa tambm encontra barreiras significativas, seja

    pelas dificuldades destes homens em se reconhecerem capazes, uma vez que, inicialmente,

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  • so totalmente desassistidos de documentos, alimentao, roupas, moradia e outros itens

    de sobrevivncia, como tambm no apresentam qualificaes profissionais, devido ao

    histrico de trabalho na informalidade, ocupaes consideradas desqualificadas e a baixa

    escolaridade.

    Estas caractersticas dos egressos so agravadas, segundo os apontamentos de

    Madeira (2010) pela infmia que lhes so atribudas pela sociedade dificultando ainda mais

    os desafios que estes homens j carregam e os que enfrentam ao retornarem para o seu

    ambiente que em muitas vezes lhes oferecer a reincidncia como se fosse a nica

    oportunidade.

    Ser necessria a promoo de um rompimento com estes meios, com a vida que

    at ento se sabe viver e procurar novas possibilidades, seja na famlia, na religio ou no

    trabalho muitas vezes precrio, informal, porm honesto.

    Isto posto, percebe-se que o egresso consegue dimensionar que a consequncia

    para pobres envolvidos com a criminalidade a morte ou o aprisionamento, caso no conte

    com apoio de redes de assistncia, ou se no trilhar o caminho denominado por Madeira

    (2010) como converso, que pode ser religiosa, pelo trabalho, pela famlia.

    Como apontado nos estudos de Madeira (2010), os ex-presidirios adultos, salvo

    raras excees, possuem histricos de vida de desestrutura familiar, expulso e fracasso

    escolar, alm de pssimas condies econmicas, que resultaram em envolvimentos

    criminais o que se assemelha em muito, aos histricos dos alunos matriculados nas salas da

    Fundao CASA - Arcebispo Dom Helder Cmara.

    Pautados nos estudos de Michel Foucault de que a escola teria a funo de

    transformar as crianas em indivduos dceis para subsidiarem as fbricas, o que nessas

    trajetrias de vidas j foi um insucesso, restaria como alternativa a priso, desassistidos que

    foram, conforme visto, dos Direitos Humanos fundamentais. Tambm esta no lhes modifica

    a desadaptao e a inabilidade social, emocional, profissional, restando a eles urgncia de

    amparo de programa, de rede de instituies. Assim indubitvel que as Secretaria de

    Estado da Justia e da Defesa da Cidadania e a Segurana da Educao do Estado de So

    Paulo, como tambm as Secretarias Municipais de Franca (talvez do pas) necessitam

    urgentemente reorganizar e promover a integrao de suas Polticas Pblicas, a serem

    aplicadas as estes adolescentes estigmatizados que necessitam de apoio e da converso

    para amenizarem as marcas da infmia.

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  • Referncias

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    em: 16 nov. 2013.

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    Braslia, 1988. Disponvel em:

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