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GT: OS PROFESSORES DE CIÊNCIAS SOCIAIS/SOCIOLOGIA NO MUNDO DIGITAL: AS METODOLOGIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS SOCIAIS NA EDUCAÇÃO BÁSICA “Sociologia.DOC – assistir, debater e agir”: análise de uma experiência com a exibição de documentários nas aulas de Sociologia. Autor: José Wilton de Freitas Ramos SEE PB - Secretaria de Estado da Educação da Paraíba

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GT: OS PROFESSORES DE CIÊNCIAS SOCIAIS/SOCIOLOGIA NO MUNDO DIGITAL: AS METODOLOGIAS DE ENSINO EM CIÊNCIAS SOCIAIS NA

EDUCAÇÃO BÁSICA

“Sociologia.DOC – assistir, debater e agir”: análise de uma experiência com a exibição de documentários nas aulas de Sociologia.

Autor: José Wilton de Freitas Ramos SEE PB - Secretaria de Estado da Educação da Paraíba

INTRODUÇÃO

A tecnologia está cada vez mais fazendo parte do ambiente escolar:

usamos computadores, tablets, smartphones, projetores e até mesmo lousas

digitais. São tantos aparelhos e inovações tecnológicas que às vezes temos a

impressão que o televisor ficou obsoleto em meio a tantos outros recursos.

Desde a década de 1990 o trabalho com vídeos se tornou um recurso didático

utilizado com frequência por muitos professores independente da disciplina que

lecionam. Hoje em dia, com o advento da internet e plataformas que permitem

a visualização e compartilhamento de vídeos, o trabalho com essa ferramenta

em sala de aula ficou ainda mais fácil. Porém, para alguns estudantes as

atividades com vídeos em sala de aula, independente do gênero (filme de

ficção, documentário, reportagem, vídeo aula, etc.), é em grande parte visto

como uma atividade de lazer e/ou entretenimento. Cabe ao docente montar

estratégias que permitam o uso do vídeo como uma ferramenta real de

mediação pedagógica para alcançar seus objetivos no processo de ensino-

aprendizagem com suas turmas.

Por outro lado, percebemos que a juventude brasileira enfrenta

problemas de várias ordens, como discriminação, evasão escolar, desemprego,

violência, saúde, segurança, formação profissional, entre outros. A Sociologia,

enquanto ciência que também estuda o comportamento humano em sociedade

trabalha diretamente com as ações dos indivíduos, as interações sociais e com

as dinâmicas que proporcionam mudanças sociais. Infelizmente, ao contrário

de outras disciplinas, não temos laboratórios para apresentarmos nossos

objetos de estudo de forma mais evidente (como por exemplo, o uso do

microscópio para a biologia) para aqueles que ainda não reconhecem nem

dominam os conceitos e campos de estudo da Sociologia, mesmo trabalhando

com livros didáticos, imagens e dados de pesquisas sociológicas.

A partir dessa dupla necessidade, o gênero “documentário” foi escolhido,

pois consegue alcançar os estudantes de forma mais profunda, muitas vezes

investigando e debatendo temas presentes na realidade dos jovens da nossa

escola. Podemos dizer que a disciplina Sociologia oportuniza o trabalho com

documentários. Nesse sentido, trabalhamos de forma didática e incisiva,

contribuindo para o reconhecimento dos objetos de estudos, métodos e formas

de análise dessa jovem ciência.

Ademais, todos os documentários trabalhados proporcionaram ao

mesmo tempo uma formação política e cidadã para os nossos jovens

estudantes.

A SOCIOLOGIA NA SALA DE AULA

Foi através da lei Federal n° 11.684/08 que a Sociologia retornou ao

ensino médio brasileiro após um hiato de cerca de 40 anos. Aos poucos, os

professores da disciplina vêm consolidando seus trabalhos, porém ainda não

existe grande quantidade de debates e pesquisas que discutam metodologias e

didáticas variadas sobre seus conteúdos e temas. Contudo, quem atua em sala

de aula com o componente curricular Sociologia (sem menosprezar ou reduzir

a importância das demais disciplinas) sabe das suas contribuições e funções

singulares, assim como nos afirma Borges e Gusmão (2016):

Dentre as diversas disciplinas do ensino médio a sociologia possui uma função distinta. Sua intervenção se dá de forma que os alunos tenham um contato diferente com sua própria realidade social. Ela é capaz de dar a estes alunos uma formação e compreensão mais crítica desta realidade. Quando estudam as temáticas abordadas pela sociologia, os alunos desenvolvem a capacidade de raciocínio. De acordo com os escritos de Flávio Marcos Silva Sarandy, a disciplina de sociologia contribui para a formação da pessoa humana por meio da negação do individualismo.

Fazer com que os estudantes percebam sua realidade de forma distinta do

senso comum e possibilitar a formação da pessoa humana por meio da

negação do individualismo são ações possíveis após o conhecimento e

exercício de dois princípios epistemológicos fundamentais para a Sociologia:

Estranhamento e Desnaturalização.

Estranhamento é o ato de estranhar no sentido de admiração, de espanto diante de algo que não se conhece ou não se espera; por achar estranho, ao perceber (alguém ou algo) diferente do que se conhece ou do que seria de se esperar que acontecesse daquela forma; por surpreender-se, assombrar-se em função do desconhecimento de algo que acontecia há muito tempo; por sentir-se incomodado ou ter sensação de incômodo diante de um fato novo ou de uma nova realidade; por não se conformar com

alguma coisa ou com a situação em que se vive; não se acomodar; rejeitar. [...] Para desfazer esse entendimento imediato, um papel central que o pensamento sociológico realiza é a desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais. Há uma tendência sempre recorrente de se explicarem as relações sociais, as instituições, os modos de vida, as ações humanas, coletivas ou individuais, a estrutura social, a organização política etc. com argumentos naturalizadores. Primeiro, perde-se de vista a historicidade desses fenômenos, isto é, que nem sempre foram assim; segundo, que certas mudanças ou continuidades históricas decorrem de decisões, e essas, de interesses, ou seja, de razões objetivas e humanas, não sendo fruto de tendências naturais. (MORAES; GUMARÃES, 2010, p. 46-47)

Parte dos jovens ainda tende a desvalorizar a Sociologia enquanto

disciplina do ensino médio por acreditarem que o seu objeto de estudo não é

passível de uma análise científica ou simplesmente por acharem que são fatos

do cotidiano e, portanto, algo muito próximo e inconcebível como ciência.

Dessa forma, é imprescindível o exercício dos princípios epistemológicos

citados para que os discentes possam observar a realidade social com certo

distanciamento e objetividade, passando então a reconhecer a Sociologia como

uma ciência humana com objetos e métodos de pesquisas definidos.

A RELEVÂNCIA DOS TEMAS SOCIOLÓGICOS PARA A FORMAÇÃO

CIDADÃ

O texto contido no artigo terceiro da nossa Carta Magna apresenta como

sendo um dos objetivos da república federativa do Brasil a promoção do bem

para todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação. Infelizmente, não podemos dizer que em

nossa sociedade o princípio fundamental citado da nossa Constituição Federal

seja algo conquistado e vivenciado de forma plena por todos os cidadãos. Nas

escolas, presenciamos no cotidiano diversas formas de manifestações

preconceituosa e intolerantes, principalmente ligadas às questões de gênero.

Professores independente de disciplinas precisam reconhecer o que rege

nossa constituição e lutar por uma escola movida pela prática das boas

relações e do respeito à diversidade assim como nos alerta Romanowski e

Peranzoni (2011):

“A escola regular, enquanto um ambiente plural e segundo a Constituição Federal, deve retratar a sociedade como ela é. Nesse sentido, deve reconhecer que cada indivíduo tem necessidades particulares. Mesmo que a escola seja eminentemente o lugar do coletivo, é fundamental que haja uma reflexão sobre a escola que queremos, onde a educação seja pensada a partir de cada um, visando ao pleno desenvolvimento de todos.” (Romanowski e Peranzoni, 2011)

Diante do exposto e reafirmando que todos devem participar da luta para

uma escola livre do preconceito e da desigualdade, destaco o papel do ensino

de Sociologia nos educandários como peça fundamental nesse processo.

Apesar da nomenclatura, os conteúdos ministrados pela disciplina no ensino

médio envolvem as três áreas das Ciências Sociais, ou seja, Antropologia,

Ciências Políticas e Sociologia. Mesmo não trabalhando especificamente com

textos vistos por discentes da graduação, o professor de Sociologia do ensino

médio pode de forma geral utilizar-se das temáticas, teorias e estudos que

essas áreas oferecem.

É justamente na sala de aula que podemos perceber o quanto nossos

alunos estão arraigados a pensamentos preconceituosos e conservadores que

são passados por gerações.

Tomemos como exemplo a pergunta, “o que é ser homem, e o que é ser

mulher?”, como proposta para se fazer um debate em sala. Esse

questionamento já é o suficiente para aflorar os discursos mais machistas por

parte dos jovens discentes, independente do sexo. Os comentários perpassam

de um “isso não é coisa de mulher” para afirmações ainda mais torpes do tipo,

“mulher tem que apanhar quando merece”. Com as experiências do cotidiano

ficamos cada vez mais convencidos que debater temas como gênero,

orientação sexual, desigualdades sociais, etc. na escola não pode ser visto

como um tabu, mas sim uma necessidade, um dever, uma obrigação docente

para a formação cidadã.

O trabalho do professor de Sociologia deve ser reconhecido como

elemento particular, onde o docente pode e deve utilizar uma série de recursos

para a elaboração de ações pedagógicas que possibilitem e contribuam para

que os jovens assimilem e reconheçam temas sobre cultura, diversidade,

desigualdade de gênero, política, violência e demais conteúdos das Ciências

Sociais. Essas temáticas são propícias ao desenvolvimento de trabalhos

interdisciplinares através das artes com atividades de interpretação cênica,

língua portuguesa e a leitura e escrita, história e cinema, entre outros formatos.

A batalha em busca de uma sociedade mais justa e menos desigual

ainda é árdua e não podemos esmorecer. Considero a escola o espaço

precípuo para uma formação cidadã dos nossos jovens, uma instituição social

promotora do diálogo, do respeito, da alteridade, da ética e da democracia. A

Sociologia no currículo do ensino médio é determinante para essa conquista.

ASSISTINDO OS DOCUMENTÁRIOS E PERCEBENDO A REALIDADE

SOCIAL

É curioso como ainda boa parte dos jovens estudantes do ensino médio

veem a Sociologia como uma ciência que estuda fatos “simplórios” por suas

temáticas estarem presentes de alguma forma em suas vidas cotidianas. Assim

como nos afirma Giddens apud Boemy e Freire-Medeiros, ,a objeção que os

membros leigos da sociedade frequentemente fazem aos postulados da

sociologia é [...] que seus „achados‟ não lhes dizem nada além do que já

sabem – ou, o que é pior, vestem com linguagem técnica o que é perfeitamente

familiar na terminologia de todos os dias‟. Em linhas gerais para Giddens seria

como se a Sociologia fosse uma ciência que aborda o que “todos sabem” com

uma linguagem que ninguém entende. Porém, esse é um ledo engano que os

imperitos caem e acabam não percebendo o caráter cientifico e investigatório

que é inerente a Sociologia. Assim como nos afirma o professor da

Universidade de São Paulo, Sérgio Adorno (NOVO TELECURSO):

As pessoas podem entender as relações entre uns que são conhecidos dos outros. Mas elas não conseguem entender por que socialmente os problemas são gerados. Eu posso entender, por exemplo, que o meu vizinho tem um filho que derivou para o mundo da delinquência. Agora, eu não sou capaz de entender como é que a delinquência é um problema social. Quais são as condições da sociedade que fazem com que, num determinado momento, o crime cresceu e as pessoas ficaram assustadas. Então, o que é a Sociologia? A Sociologia é uma ciência que se propõe a compreender a natureza dos problemas sociais, as suas causas, as suas possíveis explicações e de alguma maneira acenar para o debate público da superação desses problemas, a solução desses problemas.

A Sociologia não é uma ciência da natureza e também não possui

laboratórios dentro da escola, onde os objetos de estudo possam ser

verificados e provados com um simples uso de um determinado aparelho,

como acontece com algumas disciplinas da área citada. É comum ouvirmos

pessoas debatendo e apresentando “teorias” sobre os diversos temas da vida

em sociedade, discursos muitas vezes baseados no senso comum e

fortemente influenciados pelas pré-noções arraigadas e não refletidas.

Consideramos que o documentário pode ser uma porta de entrada para

esses temas em sala de aula, uma vez que esse gênero, por excelência,

captura a dinâmica social, a partir de um tema e de uma ótica dadas, e a

oferece ao público em uma mídia acessível. Nesse sentido, a utilização do

documentário serve como pre-texto para a reflexão crítica, capaz de propiciar

um campo de experiência critica voltado para o conhecimento social.

SALA DE AULA COM SOCIOLOGIA E TICs

As TICs já estão nas salas de aulas independentemente da inciativa do

professor. Contudo, quando esse conjunto de recursos tecnológicos são

utilizados de forma integrada e com objetivo e métodos bem definidos, tornam-

se uma alternativa importante para a mediação pedagógica das disciplinas,

inclusive a Sociologia. Mas precisamos ficar atentos, pois o trabalho do

professor ainda é insubstituível e requer muita atenção e vontade com uso

dessas ferramentas.

É curioso como o trabalho com vídeos pode parecer para alguns

obsoleto e até mesmo algo distante do que muitas vezes consideramos como

um recurso tecnológico. Ademais, boa parte dos jovens adoram vídeos – não

qualquer vídeo, é bom lembrar. A temática, o tempo e o gênero pode também

provocar a rejeição ou aprovação por parte dos estudantes. Sendo assim,

selecionar e escolher o material correto pode ser determinante para uma boa

atividade e consequente aproveitamento das atividades que envolvam o

audiovisual.

Uma reflexão importante que devemos fazer sobre o uso das TICs na aula de

Sociologia é que, além de favorecer a transposição didática, essa ação

também possibilita o contato dos estudantes com aparelhos, conhecimentos

tecnológicos e, especificamente o mais importante para o nosso projeto, o

acesso a documentários a que dificilmente eles teriam acesso, seja por meio

das mídias televisivas, ou até mesmo pesquisa na internet partindo do seu

próprio interesse.

A escolha do gênero documentário reflete nossa intenção de

trabalharmos com um recurso tecnológico que proporcione a motivação dos

estudantes, permita uma aprendizagem significativa e ao mesmo tempo

possibilite o reconhecimento e assimilação dos conteúdos e temas da disciplina

Sociologia.

METODOLOGIA UTILIZADA

Segundo Lima (2012) filmes são poderosos apoios para o professor,

mas a eficácia do recurso depende de atividades planejadas que o

complementem. Independente da proposta metodológica, ensinar Sociologia

para o ensino médio pressupõe disposição para repensar a educação. Nossa

metodologia seguiu a tríade: assistir, debater e agir.

Seleção e exibição dos documentários

Inicialmente trabalhamos a escolha dos documentários tendo como

referência os conteúdos estudados na disciplina, o debate com os estudantes

sobre temas relevantes para o aprendizado e um catálogo de filme que foi

elaborado conjuntamente entre estudantes e professores envolvidos no projeto.

A diversidade dos temas abordados nos vídeos contribuiu para uma maior

dinâmica nas exibições e debates além de permitir que um mesmo filme

pudesse abordar diferentes conceitos e pensadores das Ciências Sociais (ver

anexo 1).

Debate

Em seguida, convidamos especialistas no assunto para fazer parte da

nossa ação pedagógica. Após as definições dos documentários e convidados,

fizemos a exibição dos vídeos na escola de forma aberta para comunidade. Ao

final de cada exibição, o convidado foi entrevistado pelos estudantes no

formato do programa roda viva da tv cultura. Os 20 minutos iniciais para

apresentação do nosso visitante e em seguida a sabatina pelos estudantes,

professores, funcionários e qualquer outra pessoa que esteja participando da

ação durante 50 minutos.

Ação

A ação partiu das reflexões e possíveis mudanças de perspectivas por

parte dos estudantes. O exercício da imaginação sociológica e o

desenvolvimento do estranhamento e a desnaturalização permitiram o

enriquecimento do debate entre os estudantes sobre os temas trabalhados. O

desenvolvimento de ações pedagógicas envolvendo outras disciplinas e áreas

do conhecimento também foi algo possível e executado.

Ademais, planejou-se a produção de materiais de campanha ou

conscientização sobre os temas abordados. Os materiais seriam

confeccionados posteriormente pelos estudantes em parceria com

extensionistas do PROBEX e bolsistas do PIBID através de oficinas.

Leitura, escrita, direitos humanos e diversidade

O projeto também desenvolveu ações de incentivo a atuação e

organização da juventude nos seus processos de desenvolvimento pessoal,

social e de vivência política, ampliando a consciência reflexiva e crítica

possibilitando as tomadas de decisões diante da vida contemporânea. Os

estudantes desenvolveram e aperfeiçoaram habilidades de leitura e escrita

através da elaboração de textos para o jornal da escola em parceria com o

professor de Língua Portuguesa. Ademais, os documentários e debates tiveram

conexão com o projeto da docente de história que abordou a temática dos

direitos humanos em suas aulas e ainda aproveitou da parceria para a

realização de avaliações com os estudantes. Por fim, buscamos dialogar

também com professor de matemática com o intuito de auxiliar os estudantes

na produção de materiais e na interpretação de dados quantitativos presentes

nos vídeos, debates e materiais diversos.

Preparação e desenvolvimento das atividades

Os temas dos documentários escolhidos foram incorporados no nosso

plano com um conjunto de aulas articuladas e propostas de ações pedagógicas

diversas, ordenados sequencialmente de acordo com os bimestres letivos

trabalhados com turmas de 2° ano.

É imprescindível que o educando reflita sobre o contexto social em que

está inserido, se desvencilhe das prenoções e das opiniões assimiladas pelo

senso comum, desnaturalize e estranhe o modelo de pensamento

preconceituoso e tradicional que muitas vezes reproduz na escola. Por isso,

quando necessário, fizemos adaptações em nosso plano de trabalho que

considerem o contexto de vida dos educandos e da comunidade escolar.

Outro fator importante foi o apoio dos colegas da disciplina de Língua

Portuguesa e História, tanto no que diz respeito a possibilidade de trabalho

interdisciplinar, quanto pelo compartilhamento das aulas e participação na

montagem e organização dos ambientes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os debates sobre democracia na escola, formação e participação dos

estudantes, criação de grêmio escolar, gênero, etc., lamentavelmente, nem

sempre são benquistos por partes dos profissionais da educação (gestores,

professores, funcionários) e geralmente estão mais próximos dos conteúdos

das disciplinas da área de humanas, principalmente a Sociologia. Muitos

esquecem o quão importante é a liberdade de expressão e o protagonismo

juvenil para o desenvolvimento de uma nação. A Sociologia tem muito a

contribuir com a formação dos nossos jovens e para que escola seja

democrática e transformadora.

Nossa experiência evidencia que de nada adianta um domínio pleno das

ferramentas oferecidas pelas TICs por parte do docente sem a mínima abertura

para repensar suas práticas e criar novas dinâmicas na sala de aula.

Consideramos que o projeto cumpriu os objetivos e ficou evidente a

importância de aliar o uso das TICs, antes de qualquer coisa, a vontade de

repensar a prática pedagógica e buscar inovar na sala de aula com o intuito de

oferecer novas oportunidades para realizar a mediação dos conceitos e temas.

Nesse contexto, Moran (2017) esclarece que

Nunca tivemos tantas plataformas, aplicativos, recursos nas nossas mãos. Nossa mente é que orienta nossas escolhas, nossa criatividade nos impulsiona para novas práticas. Professores criativos, empreendedores e humanistas conseguem desenvolver projetos colaborativos, motivar os alunos, produzir materiais relevantes, integrar a escola com a vida e com o mundo. As tecnologias são importantes, mas se temos uma mentalidade aberta, acolhedora e criativa conseguiremos encontrar soluções interessantes mesmo com uma infraestrutura precária e desenhar atividades atraentes para uma aprendizagem significativa e emancipadora.

Apesar dos desafios e dificuldades, o trabalho com o gênero

documentário visando a transposição didática dos conceitos e temas da

Sociologia foi algo envolvente, prazeroso e instigante. Um trabalho que se

iniciou com minha curiosidade e posteriormente despertou a curiosidade dos

educandos. O trabalho com o audiovisual me fez lembrar o patrono da

educação brasileira quando disse que:

O vídeo, além do papel de falar de certa coisa através da imagem, deve virar um objeto de curiosidade de educador e do educando enquanto objeto de conhecimento a ser apreendido ou cuja compreensão deva ser apreendida pelos dois. Quanto mais bem-feito, melhor. Mais do que entreter, o vídeo deve ser um objeto desafiador. A prática educativa como processo de conhecimento e não como processo de transmissão de conhecimento é uma coisa linda, porque, enquanto o educando começa a conhecer o objeto proposto, o educador reconhece o objeto no processo de conhecimento que o educando faz; quer dizer no fundo é um ciclo de conhecer, que inclusive confirma o conhecimento. Esse processo é de uma indiscutível boniteza.

Por fim, ressalto que nossos objetivos com o projeto “Sociologia.Doc”,

desde de sua gênese, buscou ir além da transmissão de conhecimento e uso

das tecnologias de informação e comunicação. É importante que o educador

mantenha-se aberto a ajustes necessários e inevitáveis que o contexto do

trabalho com a educação apresenta. A formação pretendida para os alunos do

ensino médio – ou seja, tanto a aquisição de competências e habilidades

quanto o desenvolvimento cidadão – a partir das aulas de Sociologia e uso das

TICs não obterá êxito sem que o educador perceba a realidade em que se

encontra e esteja atento para repensar a escola e trabalhar com os jovens do

século XXI.

REFERÊNCIAS:

BORGES, Adriana Cristina; GUSMÃO, Franceline Priscila; A disciplina de sociologia no ensino médio: uma desnaturalização das relações sociais. Disponível em: <http://www.uel.br/grupoestudo/gaes/pages/arquivos/GT2%20Artigo%20Borges%20e%20Gusmao%20a%20disciplina%20de%20sociologia%20no%20ensino%20medio.pdf>. Acesso em: abr. 2016 BRUZZO, C. O documentário em sala de aula. Ciência e Ensino. Unicamp. p.23- 25, 4 de junho de 1998 FREIRE, Paulo. Pedagogia da tolerância. 5ª ed. – São Paulo: Editora Paz e Terra, 2016, MELO, Cristina Teixeira. O Documentário como Gênero Audiovisual. In. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Salvador/BA – Anais 1 a 5 Set 2002. Disponível em: <http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/42d603d206a5a41bc008104864162b63.pdf> acesso em: abr. 2016 MORAES CESAR, A.; GUIMARÃES DA FONSECA, E. Metodologia de ensino de ciências sociais: relendo as OCEM- Sociologia. In: MORAES, Amaury César. (Coord.). Sociologia: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2010 (Coleção Explorando o Ensino; v. 15). MORAN, José. Tecnologias digitais para uma aprendizagem inovadora, 2017. Disponível em: < http://moran10.blogspot.com.br/> Acesso em: Julho. 2017 NOVO TELECURSO. Sociologia: estudando e entendendo a sociedade. Vídeo aula Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=e0eHVqvAHks> Acesso em: mai.2015 ROMANOWSKI, L. M. L. ; ROMANOWSKI, C. L. ; PERANZONI, V. C. . Educação para diversidade humana: respeito às diferenças e valorização das singularidades Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), 2011. Disponível em: < http://www.efdeportes.com/efd158/educacao-para-diversidade-humana.htm> SALES, E. Historias e documentários: reflexões para o uso em sala de aula. Revista solta a voz, v. 20. n. 2 p. 233-247, 2009

ANEXO

ANEXO 1 - Documentários selecionados

DOCUMENTÁRIOS SINOPSES

LUTAS.doc

Disponível em: http://www.canalcurta.tv.br/pt/series/serie.aspx?serieId=443

“Lutas.doc é uma série de documentários, com reflexões profundas sobre a violência, seus contextos e formas de representação na história do Brasil. A série combina densidade de reflexão com uma linguagem dinâmica e acessível. Grandes pensadores brasileiros, doutores em filosofia, psicologia, economia, história e sociologia, como Eduardo Gianneti, Olgária Mattos, Laura de Mello e Souza e Contardo Calligaris, ao lado de grandes protagonistas políticos, como Lula, Fernando Henrique Cardoso, Marina Silva e Soninha, e livres-pensadores egressos dos movimentos sociais, como Ferrez, Júnior do AfroReggae, João Pedro Stédile e Esmeralda Ortiz, analisam a realidade brasileira em pé de igualdade. A história do país é revista, com um olhar crítico e ousado. Com um ritmo dinâmico e trechos de animação, os episódios procuram levar audiências intelectualizadas e jovens sem grande formação intelectual, do mesmo modo, à reflexão. A série tem codireção de Luiz Bolognesi e Daniel Sampaio.”

Juízo

Disponível em: http://www.revistacinetica.com.br/juizo.htm

Juízo acompanha a trajetória de jovens com menos de 18 anos de idade diante da lei. Meninas e meninos pobres entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico, homicídio. Como a identificação de jovens infratores é vedada por lei, eles são representados no filme por jovens não-infratores que vivem em condições sociais similares. Todos os demais personagens de Juízo – juízes, promotores, defensores, agentes do DEGASE, familiares – são pessoas reais filmadas durante as audiências na II Vara da Justiça do Rio de Janeiro e durante visitas ao Instituto Padre Severino, local de reclusão dos menores

infratores. Juízo atravessa os mesmos corredores sem saída e as mesmas pilhas de processos vistos no filme anterior de Maria Augusta Ramos, o premiado Justiça, e conduz o espectador ao instante do julgamento para desmontar os juízos fáceis sobre a questão dos menores infratores. Quem sabe o que fazer? As cenas finais de Juízo revelam as consequências de uma sociedade que recomenda “juízo” a seus filhos, mas não o pratica.

O riso dos outros

Disponível em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/DOCUMENTARIOS/429921-O-RISO-DOS-OUTROS.html

Existem limites para o humor? O que é o humor politicamente incorreto? Uma piada tem o poder de ofender? São essas questões que o O Riso dos Outros discute a partir de entrevistas com personalidades como os humoristas Danilo Gentili e Rafinha Bastos, o cartunista Laerte e o deputado federal Jean Wyllys, entre outros. O documentário mergulha no mundo do Stand Up Comedy para discutir esse limite tênue entre a comédia e a ofensa, entre o legal e aquilo que gera intermináveis discussões judiciais.

Hiato

Disponível em: http://docverdade.blogspot.com.br/2014/01/hiato-2008.html

Em agosto de 2000 um grupo de manifestantes organizou uma ocupação em um grande shopping da zona sul carioca. O episódio obteve grande repercussão na imprensa nacional e ainda hoje é discutido por alguns teóricos. O filme recuperou imagens de arquivo e traz entrevistas de alguns personagens 7 anos após essa inusitada manifestação.

Bichas

Disponível em: https://filmow.com/bichas-o-documentario-t201254/ficha-tecnica/

Esse filme fala, antes de tudo, de amor. Para ser mais exato: de amor próprio. A palavra BICHA vem sendo usado de forma errada, como xingamento. Quando na verdade, deveríamos tomar como elogio. Ser bicha é correr o risco de ser agredido pela ignorância. Resistimos para nos proteger, resistimos para vencer. Ser bicha é ser livre. Não vamos deixar que nos vençam. Não mesmo! Todos os depoimentos contidos nesse filme são experiências vividas pelos próprios participantes.

Negros no Brasil: brilho e invisibilidade*

Disponível em: http://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/negros-no-brasil-brilho-e-invisibilidade

123 anos depois da abolição da escravatura, o número de brasileiros que se declara preto ou pardo é maior do que o de brancos: o Brasil tem se assumido como um país negro também. O programa discute a situação do negro no Brasil com números que mostram sua necessidade de superar a desigualdade de renda, a pobreza, a violência, ter acesso à educação e encarar o preconceito de frente. O Caminhos da Reportagem mostra a violência e a indignação cantadas no rap de Salvador, histórias de superação de famílias, como a do porteiro que abraçou os livros e hoje é desembargador, a do menino de rua que se tornou professor, a da editora de livros que investe na temática afro e o bando de teatro Olodum, companhia que cria espetáculos a partir da tradição, histórias e temática negra.

Pixo

Disponível em: https://filmow.com/pixo-t51464/

O impacto da pichação como fenômeno cultural na cidade de São Paulo e sua influência internacional como uma das principais correntes da Street Art. O filme participou da exposição Né dans la Rue (Nascido na Rua), da Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, em Paris. O documentário mostra a realidade dos pichadores, acompanha algumas ações, os conflitos com a polícia e mostra um outro olhar sobre algumas intervenções já muito exploradas pela mídia. O filme não traz respostas, mas fornece argumentos para o debate: pichação é arte ou é crime?

Um lugar ao sol

Disponívelem: http://tvbrasil.ebc.com.br/cinenacional/episodio/um-lugar-ao-sol

Com os depoimentos dos moradores de cobertura, o filme propõe um debate sobre insegurança, status e poder. E constrói um discurso sensorial sobre o paradigma arquitetônico e social brasileiro. A partir de um livro que mapeia a elite brasileira, o diretor obteve acesso aos moradores das coberturas. No livro, estão catalogados 125 proprietários, dos quais apenas oito deram entrevistas. Dirigido pelo pernambucano Gabriel Mascaros, Um Lugar ao Sol foi exibido em mais de 40 festivais internacionais, como os de Los Angeles, Miami, CPHdox, Cartagena, Visions du Rèel, Munique, Bafici, Indielisboa, Bratislava e Toulouse, com destaque nas

revistas Variety (EUA) e Cahiers du Cinema (FRA).

ANEXO 2 – Imagens de algumas exibições e debates

SOCIOLOGIA.DOC 1

APRESENTA:

Documentário: O Negro no Brasil

O programa discute a situação do negro no Brasil com números que mostram sua

necessidade de superar a desigualdade de renda, a pobreza, a violência, ter acesso à

educação e encarar o preconceito de frente.

Roda Viva

Após a exibição do documentário teremos uma entrevista/debate com o

doutorando em Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande, Banjaqui

Nhaga.

Doutorando em Sociologia pela UFCG, Banjaque Nhaga - Nosso debatedor

Estudantes e professores de outras disciplinas assistando nossa primeira exibição

Abertura do debate pelo professor Wilton Freitas - Roda Viva

Sabatina com o nosso convidado

Exibição de documentário e reportagem sobre violência urbana

Abertura do debate e fala do Sargento Márcio Brandão que encantou os estudantes com

sua didática e reflexão filosófica.

Divulgação da exibição do documentário, “Juízo”.

Estudantes, professores, convidados e bolsistas do PIBID-Ciências Sociais

Ao final do debate sobre o documentário, “Juízo”.