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Avenida Presidente Vargas, 417/9º. andar, sala 909 CEP 20071-003 - Rio de Janeiro – RJ CNPJ: 10.269.919/0001-39 Email: [email protected] GT 05 Relações de Trabalho no Mundo Rural ASSALARIAMENTO RURAL NA PRODUÇÃO DE FRUTAS NA REGIÃO DO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO Camilla de Almeida Silva 1 Guilherme José Mota Silva 2 Resumo: O objetivo deste artigo é analisar como a produção frutas destinadas à exportação na região do polo Petrolina/PE-Juazeiro/BA, se estabelece sob uma lógica de flexibilização, intensificação, e precarização do trabalho. Percebemos como a partir de relações de trabalho típicas de um contexto fabril a dinâmica capitalista torna funcional a produção de frutas no semiárido brasileiro para consumo nos mercados externos. Do ponto de vista metodológico, privilegiamos uma análise de dados qualitativa, dedicando-nos a análise de documentos e realização de entrevistas semiestruturadas. Palavras-chaves: Agricultura irrigada; Relações de Trabalho; Mulheres 1 Mestranda em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS/UFCG). E-mail: [email protected]. 2 Mestrando em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS/UFCG). E-mail: [email protected].

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Avenida Presidente Vargas, 417/9º. andar, sala 909 CEP 20071-003 - Rio de Janeiro – RJ

CNPJ: 10.269.919/0001-39 Email: [email protected]

GT 05 – Relações de Trabalho no Mundo Rural

ASSALARIAMENTO RURAL NA PRODUÇÃO DE FRUTAS NA REGIÃO DO

SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

Camilla de Almeida Silva1

Guilherme José Mota Silva2

Resumo:

O objetivo deste artigo é analisar como a produção frutas destinadas à exportação na região do

polo Petrolina/PE-Juazeiro/BA, se estabelece sob uma lógica de flexibilização, intensificação,

e precarização do trabalho. Percebemos como a partir de relações de trabalho típicas de um

contexto fabril a dinâmica capitalista torna funcional a produção de frutas no semiárido

brasileiro para consumo nos mercados externos. Do ponto de vista metodológico,

privilegiamos uma análise de dados qualitativa, dedicando-nos a análise de documentos e

realização de entrevistas semiestruturadas.

Palavras-chaves: Agricultura irrigada; Relações de Trabalho; Mulheres

1 Mestranda em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal

de Campina Grande (PPGCS/UFCG). E-mail: [email protected].

2 Mestrando em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal

de Campina Grande (PPGCS/UFCG). E-mail: [email protected].

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1. Introdução

Este trabalho é fruto das pesquisas realizadas no âmbito do mestrado em Ciências

Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS/UFCG) sobre as relações de

trabalho assalariado rural na produção de frutas em larga escala para exportação, atentando,

especialmente, às questões de gênero e trabalho e ação coletiva.

O lócus da pesquisa é o polo Petrolina/PE-Juazeiro/BA, localizado na região

Submédia da Bacia do Rio São Francisco, entre os estados da Bahia e de Pernambuco.

Figura 01 – Localização do Polo Petrolina/PE-Juazeiro/BA

Fonte: Silva, 2001.

A região3, formada por um total de oito municípios, os quais: Casa Nova, Curaçá,

Sobradinho e Juazeiro, na Bahia; e Lagoa Grande, Orocó, Petrolina e Santa Maria da Boa

Vista, em Pernambuco, concentra uma população de 742.759 habitantes, de acordo com os

dados do Censo/IBGE 2013, em uma área de 35.436,857 Km².

3 A Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina e Juazeiro foi instituída pela lei

complementar nº 113, de 19 de setembro de 2001, e regulamentada pelo decreto nº 4366, de 9 de setembro de

2002.

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Marcada pela aridez dos solos e pelas chuvas escassas e irregulares (a média

pluviométrica anual é de 350 mm4), a região tem na agricultura irrigada a sua principal

atividade econômica, desde pelo menos, os anos 1980.

Este artigo tem como objetivo discutir, diante do processo de modernização das bases

de produção agrícola na região em questão, como foram se estabelecendo dinâmicas de

trabalho rural vinculadas à produção de frutas de alto valor agregado (como a uva, por

exemplo) para exportação.

Assim, o artigo divide-se em três partes, além desta introdução e das considerações

finais. Primeiramente, nos deteremos às discussões acerca do processo de modernização

agrícola e transformação das bases produtivas, apontando a expansão dos capitais industriais

sobre as áreas rurais e as consequências desse processo para a região do polo de fruticultura

irrigada Petrolina/PE-Juazeiro/BA.

Em seguida abordaremos as relações de trabalho, apontando as principais

características, quem são os/as trabalhadores/as, e quais as condições desse trabalho ao qual

estão submetidos/as. Por fim, faremos menção à contratação das mulheres na produção de

frutas (sobretudo da uva de mesa), por que se contratam as mulheres e quais as características

desses contratos.

2. Perspectiva metodológica

As pesquisas foram desenvolvidas amparadas na pesquisa qualitativa, por

considerarmos mais adequada ao universo proposto. De acordo com Minayo,

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas

ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja,

ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e

atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos

e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis

(MINAYO, 1998, p.21).

No entanto, não desprezaremos a utilização de dados quantitativos (do IBGE, do

DIEESE, dos próprios questionários aplicados, etc.) pois entendemos que a utilização

conjunta dessas duas formas de abordagem podem trazer grandes contribuições e

enriquecimento das perspectivas no desenvolvimento da pesquisa de campo.

4 Os dados encontram-se especificados no Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Sertão do

São Francisco – Pernambuco, 2011.

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A pesquisa de campo se deu a partir de observação direta das atividades desenvolvidas

nas unidades produtivas, e de entrevistas semiestruturadas com a finalidade de captar

informações a partir das experiências (individuais e coletivas) e interpretações cotidianas do

trabalho na fruticultura. Além disso, realizamos uma vasta pesquisa documental no âmbito

dos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais.

3. O processo de modernização agrícola e a região do SMSF

O processo de “modernização” agrícola vem chamando a atenção de pesquisas e

estudos nas ciências sociais brasileiras nas últimas décadas, conforme destacam alguns

pesquisadores (HEREDIA; PALMEIRA; LEITE, 2010; LEITE, 2013; MARTINS, 2006), no

sentido de caracterizar as transformações ocorridas no processo de produção no campo.

Contudo, foi a partir dos anos 1970 também baseada na política de modernização

agrícola promovida pelo regime militar, que essa questão começou a ser tratada com uma

maior intensidade, tendo em vista uma perspectiva que demarcava a existência de uma

agricultura, “moderna” ou “capitalista”.

Nesse sentido as práticas agrícolas deveriam estar se apropriando das inovações

tecnológicas para a consolidação de um movimento de relativização das “barreiras naturais”

que se colocavam diante do seu novo modo de produção, cada vez mais intensivo

(MARTINS, 2006).

No caso da modernização agrícola brasileira, mais especificamente, Martins (2006)

aponta que a expansão dos capitais industriais sobre as áreas rurais se deu, sobretudo,

mediante a conciliação entre os interesses da grande propriedade agrícola com aqueles da

manutenção das circunstâncias locais de domínio e desigualdades sociais, culminando numa

espécie de “modernização conservadora”.

Dessa forma, a linha de pensamento que desenvolvemos neste trabalho tende a

compreender a relação de transformação da base econômica da região Submédio São

Francisco (SMSF), envolvendo a relação entre agricultura e indústria a partir de uma

apropriação de determinadas características da produção industrial, expressas sobretudo pela

mecanização dos instrumentos de trabalho, pela inserção de capacitações técnicas e pelo uso

crescente de produtos agroindustriais.

Assim, a fruticultura se integrou às dinâmicas de produção e trabalho próximas às

industriais, e com isso o trabalho no meio rural deixou de corresponder somente a atividades

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agrícolas, passando a incorporar outras atividades, antes percebidas apenas como atividades

essencialmente urbanas. Cresceram nas áreas rurais, junto às agroindústrias escritórios,

galpões de empacotamento, câmaras para refrigeração de frutas e o fluxo de automóveis,

principalmente, os de grande porte.

Tais transformações, acarretadas pelo processo de “modernização” das dinâmicas

produtivas agrícolas (ainda que “conservadora”) implicaram, sobretudo, nas modificações das

relações de trabalho tradicionais desenvolvidas na região. Se por um lado esse processo gerou

uma série de danos irreparáveis do ponto de vista social, a partir da expropriação da terra e da

proletarização do ribeirinho (nativo da região), por outro, gerou milhares de postos de

trabalho para homens e mulheres. No entanto, não podemos perder de vista quais as condições

desse trabalho.

4. Relações de trabalho: flexibilização, intensificação e desigualdades

O crescimento da agricultura “moderna” revelou uma variedade de efeitos decorrentes

desse processo, incluindo o assalariamento permanente, a intensificação dos processos de

migração em direção à mancha de “desenvolvimento” econômico e no âmbito das unidades

produtivas rurais, novas dinâmicas de produção, gestão e fiscalização das forças de trabalho.

Apesar de grande parte da produção do SMSF ser consumida pelo mercado interno,

em grande medida a dinâmica do mercado de trabalho e a própria lógica do trabalho, são

baseadas com relação ao mercado externo e os períodos de exportação. Observamos isso,

sobretudo, a partir das análises dos dados mensais de emprego formal, divulgados pelo

Programa de Disseminação de Estatísticas do Emprego (PDET) do Ministério do Trabalho e

Emprego.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do

Ministério do Trabalho e Emprego faz o acompanhamento mensal das admissões e

desligamentos dos empregos formais no Brasil. No gráfico abaixo observamos a dinâmica do

mercado de trabalho formal na agropecuária nas microrregiões de Juazeiro e Petrolina, ao

longo do ano de 2014.

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Gráfico 01 – Admissões e desligamentos de trabalhadores na agricultura nas microrregiões de Juazeiro e

Petrolina no ano de 2014

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

Jan

Fev

Mar

Ab

r

Mai

Jun Jul

Ago Se

t

Out

No

v

Dez

Admissões Desligamentos

Fonte: CAGED, 2014.

Com relação às admissões, podemos perceber que elas começam a ampliar a partir do

mês de maio, alcançando seu auge em julho e tendo novamente uma ascensão no mês de

setembro. Essa dinâmica foi observada na análise dos dados dos últimos cinco anos, não

sendo, portanto, específica do ano de 2014.

Com relação aos desligamentos, observamos que eles crescem significativamente no

mês de novembro, alcançando quase 8 mil demissões e encerramentos de contratos, neste mês

no ano de 2014. Entre o final do mês de outubro e início de novembro se encerra a safra da

uva no SMSF, o que explica a ampliação do número de postos de trabalho encerrados nos

últimos meses de cada ano.

Por sua vez, a ampliação das contratações entre os meses de maio e julho possui

também relação direta com o período de safra da uva, destinada à exportação nos meses de

setembro e outubro. Os meses que antecedem a janela de exportação, ou seja, que antecedem

o período de colheita são os períodos onde o processo produtivo da uva mais demanda mão de

obra. A elevação nas contratações que acontecem no mês de setembro, está vinculada ao

processo de colheita e ao trabalho nos packing houses, que são galpões destinados a

higienização, seleção e empacotamento dos frutos.

Diante disso, observamos que apesar dos frutos exportados corresponderem a apenas

20% da manga e uva produzidas no SMSF, a dinâmica de contratação e desligamento, e as

relações de trabalho estão intimamente relacionadas com as demandas internacionais.

Percebemos, por exemplo, como os períodos de expansão da contratação de mão de obra

coincidem aos períodos de exportação, como o perfil dos trabalhadores contratados está

vinculado as exigências de qualidade e estética do consumidor internacional, e além disso

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como as relações de trabalho, o controle, intensidade, flexibilização de jornada e direitos estão

também vinculadas a esse processo.

A flexibilização do trabalho é algo marcante na fruticultura irrigada. A expansão da

contratação no período de safra evidencia que grande parte dos trabalhadores assalariados nas

produções de manga e uva exercem outras atividades profissionais durante a entressafra, no

primeiro semestre do ano.

Alguns trabalhadores, inclusive, possuem, propriedades rurais ou são filhos de

pequenos proprietários rurais e como juntamente com encerramento da safra se inicia o

período de chuvas no sertão, a partir da segunda quinzena de dezembro, esses trabalhadores

retornam para produzir em suas terras.

Evidenciamos com isso que a contratação temporária se torna funcional à dinâmica de

trabalho exigida pela fruticultura. Diante de um grande contingente de mão de obra disponível

e da ampliação da demanda em apenas alguns períodos específicos do ano as empresas optam

por realizar contratos de safra com os trabalhadores.

Utilizando-se de contratos por tempo determinado as grandes empresas chegam a

dobrar o seu quadro de funcionários no período de safra. Contratos de trabalho por safra ou

contratos de experiência garantem as empresas a disponibilidade da mão de obra e o

rebaixamento dos seus custos com encargos trabalhistas.

Os/as trabalhadores/as, sobretudo as mulheres, combinam a suas vidas profissionais

entre o trabalho assalariado agrícola no período de safra e atividades urbanas, como o trabalho

doméstico, nos períodos de entressafra. A utilização de contratos de safra ou de experiência

além de restringir o acesso à direitos pelos trabalhadores, como por exemplo o acesso ao

fundo de garantia, ainda os/as coloca sob grande instabilidade, contribuído para situações de

exploração e assédio.

Conforme apontam os dados da Embrapa (2010) e do Anuário da Agricultura

Brasileira (Agrianual, 2012), os custos com mão de obra nas produções de manga e uva

representam respectivamente 38% e 55% dos custos totais de produção, isso levando em

consideração os anos em que as plantas encontram-se em seu auge de produtividade.

Diante disso, percebe-se que para alcançar os padrões de qualidade exigidos pelo

mercado externo e os índices de produtividade é necessário um grande custo de mão de obra.

Por sua vez, buscando rebaixar os custos e otimizar a rentabilidade da mão de obra as

empresas instituem formas de gestão do trabalho que pressupõe um maior controle sobre o

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ritmo e intensidade das atividades produtivas, sobretudo daquelas realizadas manualmente,

onde está inserida predominantemente a força de trabalho das mulheres.

Como forma de estimular uma maior produtividade, as empresas estabelecem metas de

produção diária que devem ser alcançadas pelos/as trabalhadores/as. Esse sistema de metas é

largamente aplicado, entretanto conforme apontado por Selwyn (2010) e Leite (2013), varia

de acordo com cada empresa e, principalmente, com a atividade e as espécies de fruto que é

cultivado.

O sistema de metas pode, inclusive, variar dentro uma mesma empresa de acordo com

a espécie de uva na área produzida. Por exemplo, existem espécies de uva onde as bagas são

mais próximas e o tamanho do cacho é menor; esse formato dificulta a atividades como o

raleio e o pinicado e, portanto, o sistema de meta, levando em consideração o quantitativo de

bagas e cachos exigidos são diferenciados com relação à outras espécies, em que os cachos

são mais arejados, por exemplo.

Entretanto, a partir das entrevistas realizadas com trabalhadores e trabalhadoras rurais

percebemos, basicamente, dois tipos de metas: uma meta de produção diária que não está

atrelada a qualquer bonificação pecuniária, mas que deve ser alcançada pelos trabalhadores, e

um outro tipo de meta que está vinculado ao pagamento por produção.

Tem dois tipos de produção, tem aquela produção que você não vai ganhar nada só

terminou ali e fuga. Que aí a gente diz: “dê uma produção pra gente ir pra casa

cedo”. Aquele que você terminou e tá livre para ir pra casa, pra descansar. [...] E tem

a outra que é a questão do dinheiro, né, você faz tantos cachos por dia, faz tantas

plantas e o que fizer passando daquela meta você vai ganhar um extra. [...] Isso fica

cansativo porque você acaba puxando muito, por que além de você fazer aquela

meta que eles impõem ali, e que já é alta, aí você quer ganhar uma coisa a mais você

vai fazer ali por fora. Muitas vezes a pessoa desiste, prefere trabalhar o dia todo

normal porque as vezes é muito cansativo (Magda Alane, 27 anos. Entrevista

realizada em Petrolina/PE, 09 de julho de 2015).

Apesar de possuírem contratos de trabalho que estabelecem uma jornada de trabalho

44 horas semanais, reafirmada inclusive na cláusula 41ª da convenção coletiva de trabalho da

categoria, as empresas estabelecem metas diárias para atividades como poda, amarrio,

desbrota, pinicado, raleio, colheita.

Nos casos em que essas metas não estão atreladas a qualquer tipo de adicional salarial

os trabalhadores as cumprem diante da pressão exercida pelos fiscais de campo e também

pelo receio de serem vistos como preguiçosos ou incapazes, e dessa forma não terem seus

contratos prorrogados ou não serem empregados pelas empresas nas próximas safras.

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Além disso, o estabelecimento das metas possibilita que o trabalhador encerre a sua

jornada de trabalho mais cedo e possa descansar, tendo em vista que o transporte entre a

fazenda e a residência dos trabalhadores é realizado pela empresa e só acontece ao fim da

jornada de trabalho. Além disso, intensificar as atividades no período da manhã reafirma a

garantia de que o trabalho poderá ser realizado apenas no período da manhã, quando o sol e o

calor são menos intensos.

Existe também a prática de estabelecer metas vinculadas aos ganhos salariais. Dessa

forma, são estabelecidas metas diárias para as atividades de modo que a cada planta, galho ou

cacho trabalhado a mais, o trabalhador receba uma bonificação.

Tem empresa que dá essas gratificações já pra incentivar o trabalhador a produzir

mais, né? Vamos supor que ele tivesse com cem trabalhadores só batendo a meta do

dia e ele reduzisse isso para setenta e dá o prêmio de produtividade ele vai ter

setenta trabalhador produzindo pelos cem, e isso existe, é exatamente o incentivo.

Inclusive tem um ex-delegado que é conhecido meu lá, ele me disse ontem: “eu

recebi mil e quatrocentos e cinquenta reais!”, mas ele chega cinco e meia na empresa

e trabalha as vezes até a noite, mas ele já é “coroa”, sabe? E ele está se esforçando

bastante para bater essas metas (Daniel Araújo Saldanha, 34 anos. Entrevista

realizada em Petrolina/PE, 05 de agosto de 2015).

Em nossas entrevistas e atividades percebemos que os trabalhadores a partir do

trabalho por meta conseguem auferir salários bem superiores ao piso da categoria para o ano

de 2015 (R$ 816,00). Por várias vezes conhecemos trabalhadores que alcançavam

remunerações entre 30% e 40% superiores ao piso salarial da categoria. Assim, o período de

safra é aproveito pelos/as trabalhadores/as como uma boa oportunidade de ampliar seus

rendimentos, entretanto isso acontece à custa de grande esforço físico.

As metas aparecem, portanto como objetivos mínimos diários, sendo a remuneração

adicional estabelecida por cada unidade produzida que supere a meta. Observamos que os

valores estabelecidos para algumas atividades são extremamente altos e exigem grande

esforço dos trabalhadores para serem alcançados, com por exemplo o pinicado ou raleio de

mais de 600 cachos por dia.

Além disso, a remuneração adicional, em geral, é calculada unitariamente a partir do

preço da diária, ou de outro valor estabelecido pelo gerente de campo ou técnico agrícola.

Nesse sentindo, levando em consideração que o valor atual da diária de um trabalhador rural é

R$ 27,20 e tomando uma situação hipotética onde o trabalhador tem como meta diária ralear

600 cachos de uva, cada cacho que ralear além dos 600 lhe renderá R$0,045. Ou seja, caso ele

raleie 100 cachos acima da meta seu ganho diário será apenas de R$ 4,50.

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Quando esse valor unitário é estabelecido de maneira arbitraria pelos superiores e em

um valor inferior ao calculado a partir da diária, os ganhos dos/as trabalhadores/as tornam-se

ainda menores. Como no caso relatado por Daniel, delegado sindical do STR de Petrolina:

A intenção de toda empresa é produzir mais com menos trabalhador. Mais mão de

obra com menos trabalhador, e a busca é essa e com isso o trabalhador sofre. Eles

tem uma questão também de prêmio produtividade. Só que não se paga como deve,

não se paga como deve, tipo, se eu tenho uma meta de 27 plantas que é em torno da

diária que está hoje, 27 plantas por dia, aí vai sair em torno de um real né, cada

planta. Se eu fizer 54? Eu teria outra diária, mas eu não tenho uma diária, tenho meia

diária. Então, nisso o trabalhador é lesado. Ele não paga a produtividade como

deveria (Daniel Araújo Saldanha, 34 anos. Entrevista realizada em Petrolina/PE, 05

de agosto de 2015).

Os/as trabalhadores/as perdem, portanto, o controle sobre a sua produtividade quando

não sabem exatamente o valor específico para a produção que ultrapassa a meta diária. Além

disso, como a remuneração é mensal, os cálculos dos ganhos se tornam ainda mais difíceis.

Isso levanta a suspeita entre os trabalhadores de estarem sendo lesados, contudo raros são os

casos de contestação desses valores por parte dos trabalhadores, isso deve-se, sobretudo, pelo

medo de alguma represália.

Outro fator que foge do controle dos trabalhadores é o cálculo da produção diária.

Quando se trata de atividades como amarrio e poda, onde a unidade de cálculo é por planta a

contagem fica mais fácil, entretanto quando se trata das atividades que são desenvolvidas no

próprio cacho a contagem se torna um pouco mais complicada. Apesar da tentativa em manter

uma quantidade padrão de cachos por planta, os/as trabalhadores/as precisam ficar bastante

atentos para contabilizar a sua produção.

Além dos fiscais de campo que acompanham grupos de, em média, quinze

trabalhadores, algumas empresas possuem ainda fiscais designados para contar, ao final de

cada turno, a produtividade de cada trabalhador e avaliar se algum serviço deve ser refeito.

Percebemos, assim, como o sistema de metas aplicado pelas empresas representa um forte

processo de ampliação da intensidade do trabalho, aumentando os lucros empresariais a partir

da aplicação de mais trabalho num mesmo período de tempo.

Tomamos como intensidade do trabalho a ideia apresentada por Dal Rosso (2015):

Chamamos de intensificação os processos de quaisquer natureza que resultam em

um maior dispêndio das capacidades físicas, cognitivas e emotivas do trabalhador

com o objetivo de elevar quantitativamente ou qualitativamente os resultados. Em

síntese, mais trabalho (DAL ROSSO, 2015, p. 23).

A partir da definição colocada por Dal Rosso podemos perceber como as dinâmicas de

intensificação do trabalho dizem respeito não apenas a ampliação do dispêndio das

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capacidades físicas, mas podem estar relacionadas também à intensificação do uso das

capacidades afetivas e cognitivas dos trabalhadores.

Atentamos ainda para o fato de que a intensificação não se traduz apenas do ponto de

vista quantitativo, mas também diz respeito a elevação qualitativa da atividade realizada.

Nesse sentido não podemos perder vista que a intensificação do trabalho na fruticultura

corresponde a esses dois fatos, pois a manutenção do padrão de qualidade é fundamental para

comercialização do fruto.

Ao fim e ao cabo, os sistemas de metas estabelecidos pelas empresas revelam como as

dinâmicas de superexploração capitalista se estabelecem a partir de contextos de precarização

do trabalho aproveitando-se da desregulação do trabalho e das fragilidades dos contratos

sazonais. O sistema de metas garante, a partir da expansão da mais-valia absoluta, a

rentabilidade da produção.

5. Por que se contratam as mulheres?

Diante do contexto de modernização da produção agrícola, e da conformação de um

mercado de trabalho vinculado à ascensão da fruticultura entre o final dos anos 1980 e início

dos anos 1990, percebemos que a força de trabalho feminina se tornou bastante significativa,

sobretudo, nas atividades vinculadas ao cultivo da uva de mesa.

Nesse período, Selwyn (2010) aponta que as mulheres já ocupavam cerca de 65% da

força de trabalho empregada na produção de uva para exportação. No começo dos anos 2000,

a maior parte dos postos de trabalho continuou sendo ocupado por mulheres. Contudo, tem se

percebido uma redução gradual no número de mulheres empregadas em contratos

permanentes, ou seja, as mulheres tem cada vez mais entrado nas estatísticas do trabalho

temporário, em período de safra para a execução de atividades específicas.

Ao analisar os dados apresentados pelo Cadastro Geral de Empregados e

Desempregados (CAGED) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para as admissões

no ano de 2014 na microrregião de Petrolina/PE5, percebemos uma intensificação na

5 Compõem a Microrregião de Petrolina/PE os seguintes municípios: Afrânio, Cabrobó, Dormentes, Lagoa

Grande, Orocó, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Terra Nova.

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contratação de mulheres durante a safra6, que compreende o período entre os meses de maio e

julho, período que tem início a produção de uva de mesa para exportação.

Percebemos também um outro pico de contratação especificamente no mês de

setembro, quando a janela de mercado internacional está aberta para exportação brasileira,

quando a força de trabalho das mulheres é associada ao setor de armazenamento e embalagem

de frutas (manga e uva) para exportação. Essa é a época que os packing houses tornam-se

espaços de concentração de trabalho massivamente femininas em atividades associadas à

delicadeza (lavagem e manuseio dos frutos) e à “arrumação”.

Gráfico 02 – Admissões no setor de agropecuária por sexo - Microrregião de Petrolina/PE, 2014

Fonte: MTE/CAGED, 2014

Antes, porém, é necessário explicitar ainda que a inserção das mulheres no mercado de

trabalho aqui se expressa em termos de uma divisão sexual do trabalho sobre o qual o capital

incorpora, única e exclusivamente para seus fins, saberes e funções femininas, histórica e

culturalmente construídas, tornando precárias as condições de trabalho nesse mercado, a partir

de construções seculares de desigualdades de gênero e subordinação feminina.

Analisando o trabalho no processo produtivo da uva, a partir de uma análise do

Agrianual, Leite (2013) aponta que dentre as atividades mais onerosas no processo produtivo

estão o raleio (com tesoura) e o pinicado, representando, respectivamente, 28% e 16% dos

custos de mão de obra com tratos culturais.

6 Aqui nos referimos a safra para exportação, quando a produção frutícola é intensificada entre os meses de maio

e outubro, repercutindo no quantitativo de emprego. No Vale do São Francisco, a produção para o mercado

interno é contínua e podemos encontrar numa mesma empresa desde áreas de produção que estão sendo

plantadas, quanto áreas que estão em etapa de colheita.

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Desse modo, levando-se em consideração que tais atividades são essenciais para a

produção de uvas finas de mesa, e que estas somam as etapas de trabalho onde há uma maior

concentração de força de trabalho feminina; considerando-se a representação do somatório de

um percentual de 44% desse custo total da produção, defendemos a tese de que o trabalho das

mulheres é importante no processo produtivo, sobretudo, diante da necessidade de redução

dos custos totais empregados em mão de obra com a produção.

Amparados na argumentação de Selwyn (2010, p. 60) apontamos algumas razões que

podem trazer contribuições que evidenciem porque o trabalho feminino está associado à

redução de custos com a mão de obra para a produção. Assim, primeiramente enfatizamos que

nas unidades produtivas os empregadores tendem a atribuir diferentes atividades para as

mulheres e para os homens, redefinindo o trabalho qualificado das mulheres como “natural”,

isentando-as de melhores remunerações.

A qualificação das mulheres para o trabalho na fruticultura não se traduz na

valorização de um tipo de trabalho que requer habilidades “específicas”, lapidadas ao longo

das experiências de vida e trabalho (duplas jornadas), e nem tampouco está associada ao fator

de acréscimo salarial, mediante gratificações extra, ou até mesmo carreira profissional

(KERGOAT, 1986; KERGOAT, 1989).

Em segundo lugar, associa-se as mulheres ao trabalho temporário com uma frequência

e relativa facilidade por parte das empresas porque na maior parte dos casos são ainda as

principais responsáveis pelo cuidado com a casa e com a família.

Além disso, as mulheres são mais direcionadas ao trabalho temporário não apenas por

uma questão de “facilidade” para se adequarem a esse tipo de trabalho, levando em

consideração a dupla jornada de trabalho mas, sobretudo, diante da demanda das empresas

(principalmente as grandes) por um trabalho “específico” e pontual no processo produtivo,

sendo raramente aproveitadas nas outras atividades com caráter permanente, que por sua vez,

são mais direcionadas aos trabalhadores homens (ou à virilidade e versatilidade que se espera

dos trabalhadores homens).

E por fim, a subordinação das mulheres nos espaços de trabalho à figura “do chefe”,

“do encarregado”, “do fiscal” (reparem que as denominações estão todas no masculino, e

dessa forma foram expressas em todas as entrevistas realizadas) não se justifica apenas diante

de um “menor incomodo” em presença de uma supervisão excessiva. A dominação

masculina, sobretudo, no sistema capitalista está para além disso.

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Conforme Fischer (2012), o patriarcalismo se afirma como um sistema de exploração

que se expressa essencialmente no terreno econômico. E como um sistema de dominação,

assume um caráter histórico, sujeito à condições específicas em cada tempo e lugar. Ou seja,

[...] a organização da sociedade da produção e do consumo; a política, a legislação e

a cultura; as relações interpessoais e, consequentemente, a personalidade são

marcadas pela violência e pela dominação que tem sua origem na cultura e nas

instituições do patriarcalismo (FISCHER, 2012, p. 28)

Além dos argumentos apresentados, pontuamos ainda um quinto elemento ao qual

associamos a superexploração do trabalho feminino à redução de custos com a produção

frutícola: entendemos que a partir da possibilidade do assalariamento (permanente ou

temporário), as mulheres encontram uma saída, que soa como “liberdade”, a partir da

possibilidade de receberem seu próprio salário, e com isso talvez sejam ainda mais

vulneráveis à exploração.

Na pesquisa, a maior parte das trabalhadoras rurais e delegadas sindicais com as quais

dialogamos associavam sua autonomia financeira exclusivamente ao trabalho assalariado na

fruticultura. Entre aquelas que estavam no trabalho temporário, na entressafra necessitavam

buscar outras fontes de renda. Entre os mais citados: o trabalho doméstico remunerado por

diária ou de cuidadoras de crianças. Aquelas que possuem filhos em idade escolar frisaram o

programa federal Bolsa Família como uma importante renda complementar.

A rotina das atividades e a divisão sexual do trabalho na produção de frutas para

exportação faz com que boa parte das trabalhadoras não vislumbrem um outro tipo de

trabalho senão aqueles aos quais já estão vinculadas, sob a alegação de que “não tem estudo”,

ou que “só aprenderam a fazer isso”. No entanto, nenhuma dessas mulheres que possuem

filhos/as em idade adulta, os/as querem trabalhando na mesma atividade laboral que elas.

6. Considerações finais

Produzir frutas em pleno semiárido brasileiro parece ser algo inviável do ponto de

vista natural e biológico. Por sua vez, produzir frutas no semiárido brasileiro para consumo

nos Países Europeus e nos Estados Unidos parece algo ainda menos coerente se direcionarmos

nossas lentes a um racionalismo econômico simplista, apenas.

Diante disso, não podemos pensar o desenvolvimento do capitalismo apenas como

desenvolvimento de forças produtivas e avanços técnico e científicos que tornam possível a

produção de frutas de clima temperado no semiárido brasileiro. É necessário compreender

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também que o desenvolvimento capitalista forja e é forjado por relações sociais e dessa forma,

produzir uva e manga à milhares de quilômetros de distância do seu local de consumo pode

ser rentável e funcional à dinâmica de acumulação do capital.

Para tanto, a construção social dessa viabilidade econômica se faz a partir da

ampliação dos mecanismos de exploração do trabalho através dos contratos sazonais, da

contração de mulheres e não valorização de suas qualificações profissionais, da flexibilização

das jornadas, da intensificação e precarização das condições de trabalho e diversos outros

mecanismo que buscam ampliar a exploração reduzindo os custos de reprodução social da

força de trabalho.

Entretanto não podemos pensar que esses padrões de exploração se estabelecem sem

contradições e resistência. Os trabalhadores não são polos passivos ante a dinâmica de

exploração capitalista, eles resistem cotidianamente às distintas formas de exploração do

trabalho, seja através da ação política institucionalizada, como a convenção coletiva de

trabalho negociada entre Sindicatos dos Trabalhadores Rurais e Patrões, desde 1994, quer seja

nas ações cotidianas de insubordinação às exigências do trabalho.

Referências bibliográficas

DAL ROSSO, S. Mais trabalho: a intensificação do labor na sociedade contemporânea. São

Paulo: Boitempo, 2015.

FISCHER, Izaura Rufino. O protagonismo da mulher rural no contexto da dominação.

Fundação Joaquim Nabuco. Recife: Ed. Massangana, 2012.

HEREDIA, Beatriz; PALMEIRA, Moacir; LEITE, Sérgio Pereira. Sociedade e economia do

“agronegócio” no Brasil. In: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 25 n° 74, 2010.

KERGOAT, Danièle. “Em defesa de uma sociologia das relações sociais: Da análise crítica

das categorias dominantes à elaboração de uma nova conceituação”. In: O sexo do trabalho.

Paz e Terra: Rio de Janeiro, 1986.

KERGOAT, Danièle. Da divisão do trabalho entre os sexos. Tempo social, 1(2):73-103, 1989.

LEITE, Ângelo Antônio Macêdo. O desenvolvimento da viticultura irrigada na região de

Juazeiro-BA e Petrolina-PE: o trabalho na contramão do discurso dominante (tese de

doutorado). São Carlos: UFSCAR, 2013.

MARTINS, Rodrigo Constante. Modernização e relações de trabalho na agricultura brasileira.

In: AGRÁRIA, São Paulo, Nº 4, pp. 165-184, 2006.

SELWYN, Ben. Gender Wage Work and Development in North East Brazil. In: Bulletin of

Latin American Research, v. 29, n. 1, Londres, 2010.